III Missao Solidaria Guine Bissau Dez 2011- Jan 2012

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1 III Missão Solidária Guiné Bissau 2011/2012 Associação AFECTOS COM LETRAS A III Missão Solidária representou um desafio em várias vertentes. Um grupo de 14 pessoas de distintas formações e vivências que na sua maioria não se conhecia. Duas delas de nacionalidade holandesa, mais de metade nunca tinha estado em África e, apenas 6, já conheciam já a Guiné Bissau. Dois dias antes da partida, uma altercação interna - apelidada de tentativa de golpe de estado por uns ou de protesto militar por melhores salários por parte de outros - deixou-nos em suspenso até ao último dia, quanto à realização da viagem. Mas no dia 28 de Dezembro, os 14 voluntários estavam no aeroporto cheios de expectativa e vontade de partir. As notícias que abriram telejornais em Portugal não demoveram ninguém. Embora a chegada ao Hotel Coimbra tenha sido já perto das 4:30 da manhã no dia 29 às 8:00 estava tudo a postos para descarregar o contentor de 40 pés que enviámos para Bissau no final de Novembro. Foi uma manhã cansativa mas muito compensadora. Os bens foram divididos em lotes conforme o destino: Varela, Djoló, Cumura, Quinhamel, Ingoré e Casa Emanuel. Depois do almoço partimos para Varela onde já chegámos na noite cerrada. A picada continua sinuosa e demorada mas a ponte de madeira já foi substituída por uma de ferro, na certa mais resistente, mas com muito menos encanto. Os três dias seguintes foram passados na Creche de Varela. Entrega de brinquedos e termos para as refeições das crianças. Montagem do material didáctico oferecido para a Creche, apetrechamento das salas de aula com mesas e cadeiras levadas no

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III Missão Solidária Guiné Bissau 2011/2012Associação AFECTOS COM LETRAS

A III Missão Solidária representou um desafio em várias vertentes. Um grupo de 14 pessoas de distintas formações e vivências que na sua maioria não se conhecia. Duas delas de nacionalidade holandesa, mais de metade nunca tinha estado em África e, apenas 6, já conheciam já a Guiné Bissau.

Dois dias antes da partida, uma altercação interna - apelidada de tentativa de golpe de estado por uns ou de protesto militar por melhores salários por parte de outros - deixou-nos em suspenso até ao último dia, quanto à realização da viagem.

Mas no dia 28 de Dezembro, os 14 voluntários estavam no aeroporto cheios de expectativa e vontade de partir. As notícias que abriram telejornais em Portugal não demoveram ninguém.

Embora a chegada ao Hotel Coimbra tenha sido já perto das 4:30 da manhã no dia 29 às 8:00 estava tudo a postos para descarregar o contentor de 40 pés que enviámos para Bissau no final de Novembro. Foi uma manhã cansativa mas muito compensadora. Os bens foram divididos em lotes conforme o destino: Varela, Djoló, Cumura, Quinhamel, Ingoré e Casa Emanuel.

Depois do almoço partimos para Varela onde já chegámos na noite cerrada. A picada continua sinuosa e demorada mas a ponte de madeira já foi substituída por uma de ferro, na certa mais resistente, mas com muito menos encanto.

Os três dias seguintes foram passados na Creche de Varela. Entrega de brinquedos e termos para as refeições das crianças. Montagem do material didáctico oferecido para a Creche, apetrechamento das salas de aula com mesas e cadeiras levadas no

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contentor, pintura do símbolo dos Afectos com Letras na parede da Creche, organização das salas de aula.

Com as crianças, foi tempo de jogar à bola, à cabra cega, de cantar canções de roda, jogar matraquilhos, vestir e despir bonecas. E colo. Dar muito colo, muitas festinhas, entrelaçar muitos dedos, receber e dar muitos miminhos.

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Em Varela, visitámos o centro de saúde e percebemos as suas necessidades, estivemos nas Tabancas e presenciámos as suas carências. Conhecemos o Leo que pediu 12 equipamentos para adultos e 12 para crianças para incentivar a prática de desporto,o espírito de equipa e competição saudável entre as crianças na Tabanca. Fomos aos campos onde as mulheres andavam com os filhos às costas, sob um sol ardente, na apanha do arroz enquanto os miúdos de 6 ou 7 anos tomavam conta das vacas ali ao lado.

Fomos até ao Senegal de piroga, numa passagem rápida pela fronteira militar e, do mercado local, trouxemos os legumes para o almoço. Um almoço bem merecido depois de uma viagem dura numa picada cheia de buracos.

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No regresso a Bissau, paragem em Ingoré para visita ao Centro Nutricional e à Maternidade. Ali entregámos vários caixotes de leite em pó, papas, cereais, medicamentos, roupinhas de bebé, banheiras, colchões, etc. No centro nutricional conhecemos as 5 crianças que ali se encontram internadas. Como são pequenas e frágeis...

Nos dias seguintes, a nossa presença em Djoló vai encher-nos a alma. À nossa chegada, as crianças cantam, representam um pequeno teatro, recitam poesia, agradecem aos Afectos com Letras a ajuda que tem sido dada. Para quem já conhece a Escola, fica o conforto de ver os meninos chamar-nos pelo nome e de nos abraçarem tão forte, tão forte, que parece nunca nos terem largado desde a nossa última ida à escola em Abril.

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Temos três dias de acompanhamento médico às crianças e familiares, aplicação de flúor pelo dentista que integra o grupo,entrega de escovas e pastas dentífricas, formação em saúde oral, distribuição de material escolar, pinturas faciais, ensaio de músicas e danças, workshops de artes marciais, leitura de contos e muito, muito mais.

É dada uma missa pelo Padre Nuno, que integrou a III Missão Solidária e a afluência de pequenos e graúdos é enorme. Uma missa na escola, com tambores e cantares em crioulo, traz um brilho especial aos olhares do grupo. Ali vive-se um momento de união com a comunidade local que nos faz acreditar que vale a pena todo o trabalho feito nos últimos dois anos

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Somos convidados a assistir a um espectáculo de danças e cantares tradicionais de algumas das principais etnias da Guiné Bissau que, pela sua cor e beleza, nos faz esquecer o cansaço acumulado por horas e horas de trabalho.

Tivemos uma missão especial a que não pudemos falhar. As crianças da Creche do Carriço, em Pombal, juntaram alguns dos seus brinquedos e pediram-nos que os entregássemos na ala pediátrica do hospital Simão Mendes em Bissau. Todas as crianças internadas nas enfermarias do hospital receberam um brinquedo e ficou, para além da tristeza associada ao contexto em que se encontram, uma pequena dose de alegria pelo miminho levado de tão longe e de crianças tão pequenas que se lembraram deles.

Em Bissau visitamos a Aldeia SOS onde deixamos brinquedos e sumos para as crianças que ali vivem. O mesmo fizemos na Casa Emanuel onde somos recebidos por crianças ávidas de abraços, colo e carinho.

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No Hospital de Cumura, onde se encontram internados doentes com lepra e HIV, deixamos um carregamento de águas e trocamos contactos com o Padre Vítor, medico português ali em serviço há 5 anos, para eventual envio de médicos em regime de voluntariado.

Somos recebidos no dia 5 de Janeiro pela Primeira Secretária da Embaixada Portuguesa na Guiné Bissau a quem apresentamos o nosso trabalho e os nossos projectos e, a 6 de Janeiro, o Ministro da Educação Guineense concede-nos uma audiência, antes da nossa partida para o Sul do País. Este encontro foi para nós da maior importância. Ficamos a conhecer pela voz do executivo o que tem sido feito e os projectos a curto/médio prazo para combater a

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iliteracia na Guiné Bissau. O empenho na defesa da língua portuguesa, na alfabetização de adultos, no combate ao absentismo infantil, no incentivo à formação de qualidade para professores, na construção de escolas em todo o País, são notícias que recebemos com agrado e esperança num futuro bem mais risonho para as crianças da Guiné Bissau. Insistimos, neste encontro, na necessidade de apostar no ensino de qualidade e em português desde o pré-primário, como meio de fortalecer as competências das crianças para vingar ao logo da sua vida estudantil.

Cantanhez, a 15 km da fronteira da Guine Conacri, fica a mais horas de picada que de km reais de Bissau. São 4 horas para fazer 38 km no meio de uma mata tropical húmida imponente. Somos recebidos com simpatia e toda a Tabanca se junta em roda para, connosco, ver um espectáculo de danças tradicionais. Ficamos alojados em três cabanas da Tabanca, convertidas em turismo rural e sentimos, nessa noite, o que é viver na Guiné profunda. Num quarto há um morcego, nos outros coabitam connosco aranhas enormes ou lagartos desconhecidos. Os sons da rua entram pelo colmo da palhota e o barulho dos macacos (ou chimpanzés?) embala o nosso cansaço. A higiene é feita à luz de foco e a água ali corre fria e por um fio.

Pelas 5 da manha saímos para ir ver o acordar dos chimpanzés no meio da selva. É uma sensação única estar, no escuro a captartodos os sons da selva e, aos primeiros raios de luz, ouvir os chimpanzés a comunicar entre si, a bater com as mãos no peito e no chão e a saltar de ramo em ramo, a preparar mais um dia.

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No último dia, em Quinahmel, deixamos um carregamento de sumos para as crianças da Missão Católica ali existente e visitamos o consultório dentário que funciona nas instalações.

A III Missão solidária viveu muitas emoções, sofreu da habitual sensação de impotência perante as nossas limitações, comoveu-se com os agradecimentos e o trabalho realizado, fortaleceu laços com os guineenses e entre si, viveu com garra as poucas horas de sono e as muitas de trabalho, e veio da Guiné Bissau com a sensação que levou alguma ajuda mas regressou com muito mais de lá.

Temos a agradecer a todas as pessoas que permitiram a realização desta Missão. Foram muitas mas queremos agradecer especialmente:

. Ao Miguel do Hotel Coimbra em Bissau que ofereceu o alojamentoe pequeno-almoço aos 14 voluntários;

. Ao incansável Manuel Neves que nos acolhe (sempre) como filhos e se preocupa dia e noite com o nosso bem estar e sucesso da Missão;

. A todas as empresas portuguesas (Unicer, Delta, E.Leclerc, Sidel) que nos deram produtos alimentares, bebidas e outros bensque fizeram nascer sorrisos e gratidão nas crianças guineenses que apoiamos;

. Ao Colégio Rainha Santa que nos ofereceu as mesas e cadeiras que vão, por muitos anos, levar as letras e a educação às crianças de Djoló e de Varela.

. Ao Manuel Henriques que ofereceu material didáctico e centenas de brinquedos para as crianças da Creche.

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. Ao Dr. António Rocha e ao Laboratório Udifar pelos medicamentos e leite em pó que tão importantes foram para o trabalho dos médicos que integraram a Missão;

. À Escola Secundária do Padrão da Légua que nos ofereceu o projector que deixámos na Escola de Djoló e que vai permitir às crianças verem filmes e documentários, muitos deles pela primeira vez na vida;

. A cada um dos amigos dos Afectos com Letras que, a título particular, se deslocaram a um ponto de recolha que tivemos de Setembro a Novembro espalhados pelo País para deixar bens que encheram o contentor;

. Aos Romeiros de São Miguel, Açores que nos enviaram os bens angariados em São Miguel e que em boa hora se associaram a nós;

- À Cláudia Monteiro, à Lara Guerreiro, à Irene Benzinho, ao Prof. Alcario, ao Hugo Charrão, ao MOJU, à Câmara de Albufeira, à UALG, que simpaticamente foram pontos de recolha dos bens a enviar;

. E claro, a todos os elementos que integraram esta III Missão Solidária - Marta Rosa, Marta Dias de Castro, Evaristo Moura, Nuno Santos, Mónica Costeira, Pedro Esteves, Anne Marie Rogers, Kendra Rogers, Cesaltina Bastos, Isadora de Grave, Fausto Abreu, Sofia Barros, Ana Baptista e Madalena Santos - pela dedicação, paciência, compreensão e carinho com que encaram este projecto e o programa pesado que lhes foi imposto.

A todos, um enorme agradecimento!

Joana Benzinho

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Impressões de quem integrou a III Missão Solidária

Marta Dias de Castro Alguém me disse um dia “ir à Guiné Bissau é uma aventura: primeiro estranha-se e depois entranha-se”. Na altura ouvi mas não percebi. Hoje entendo: tenho a Guiné entranhada nos meus pensamentos, no meu quotidiano e na forma como conduzo a minha vida. A oportunidade de fazer parte da III Missão fortaleceu o meu carinho pelas pessoas, permitiu soltar a criança que há dentro de mim, possibilitou voltar a sentir o cheiro daquela terra e sobretudo concretizou a minha enorme vontade de ajudar quem mais precisa: as crianças, pois são elas o futuro daquela nação. É tão simples ser feliz: basta uma bola, uma caneta, uma música, um puzzle, uma pintura na cara, um colo, uma festinha na mão, uma breve troca de olhares ou um pedacinho de melancia.Só posso agradecer esta experiência e pedir que os meses que se avizinham passem rapidamente para poder embarcar noutra missão e volte a vivenciar novas experiências. Na minha consciência fica sempre o mesmo lema: “A minha missão ficará cumprida quando uma das muitas crianças que ajudamos conseguir vencer na vida”.

Evaristo Moura FragosoNesta passagem quero reprovar. Quero repetir para aprender o outro, para aprender o eu. Quero voltar e quero voltar a sentir: sentir os afectos.

Mónica CosteiraSenti-me no meio do nada e no meio de tudo. Envolta por toda a Natureza, por toda aquela gente, senti-me parte daquela imensidão virgem e diversificada. Apercebi-me, encantada, como tudo e todos estamos interligados...Os abutres fizeram-me lembrar a podridão e fatalidade da vida...os pirilampos cintilando fizeram-me lembrar contos de fadas e a possibilidade de encontrar esperança e felicidade em coisas simples e nuas...Fiquei imediatamente seduzida pelo genuíno e puro sorriso das crianças...todas elas, sedentas de amor, ansiavam furiosamente pelo nosso carinho.Presenciei também a tristeza e injustiça da pobreza, miséria e fome versus a felicidade e alegria que um simples e puro gesto pode trazer a alguém que vive com pouco e, talvez por isso, valoriza esse pouco como sendo muito.

Pe. Nuno Santos11 Dias. Um país – Guiné Bissau. Uma ONGD - Afectos com Letras. 14 pessoas. Uma experiência para a vida.Tratou-se da minha primeira 'missão' em África (já tinha estado no Egito e em Cabo Verde mas só em férias). Esta foi uma experiência curta mas verdadeiramente marcante - pelo 'sucesso' e também pelo que foi menos conseguido. Não esquecerei a presença, os sorrisos, as nossas incapacidades, os nossos limites, as nossas ajudas (e desajudas) - nas diversas acções que concretizamos. Não esquecerei o que demos de útil e de inútil, nem o que fizemos com competência e dedicação.Para que tudo acontecesse muito devemos uns aos outros pelo espírito de grupo e principalmente pelo rosto deste voluntariado - Joana Benzinho. Hoje sabemos mais do que os nomes e identificamos mais do que as caras porque estivemos juntos e partilhamos um espaço de tempo e de terra (e isso responsabiliza-nos no cuidado e na amizade).

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Ana BaptistaGuiné-Bissau: nunca um país me tinha causado tantas sensações ao mesmotempo... Parti bastante mentalizada da sua grave situação, mas a realidade com que me deparei foi ainda pior. Se, por momentos, somos invadidos de um grandesentimento de frustração e impotência e que só apetece virar as costas, imediatamente a simpatia e gratidão daquele povo e o "je ne sais quois" daquela terra nos fazem pensar precisamente o contrário - num país que infelizmente pouco tem, o pouco que nos parece que façamos pode significar muito e, olhando agora para trás, é mesmo essa a sensação que tenho ao relembrar os sorrisos que conseguimos espalhar naquelas crianças! Uma experiência inesquecível, a repetir, e que é claramente uma mais-valia para aquele País!

Pedro EstevesSem duvida a melhor experiencia da minha vida, um Povo que nos tem muito para ensinar, apesar de se julgar o contrário.Mais importante do que o que levámos foi sem dúvida o que trouxemos... Cresci enquanto Homem... Obrigado a todas as pessoas da Guiné Bissau que me fizeram ver a Vida, a Sociedade, a Humanidade de uma outra forma!

Madalena SantosFoi uma experiência bastante gratificante a todos os níveis: alegria, partilha, doação, gratuidade. Fica a certeza de que, quando damos um pouco de nós, ficamos todos mais ricos. Estou feliz por sentir que nas nossas crianças ficou um pouquinho de cada um de nós. Já tenho saudades!!!

Marta RosaQuestionam com frequência: Porquê a Guiné? E porquê regressar? E eu terei que responder: Porque não? Porque quando preparamos a viagem sentimo-nos unidos pela amizade, pela inter-ajuda e pela esperança de contribuir para o bem-estar de outros. Porque quando chegamos o calor da noite de uma África esquecida dá-nos as boas vindas com um fabuloso luar - interrompido apenas na avenida principal, agora totalmente iluminada. O alvoroço típico da cidade desta vez não nos recebeu. Não receando a escuridão de Bissau mas talvez as incertezas políticas; mas guardou-se para os restantes dias, quando nos abraçou com novas amizades e muitos sorrisos... e abraços que retribuímos o melhor que pudemos, nunca esquecendo a generosidade de tantos portugueses que, como nós, quiseram ajudar. Obrigada - disse-nos o Ministro da Educação guineense, a Fá, o Baldé, disseram-no as Irmãs, os Padres, as mães e os pais dos meninos e disseram-no todos os meninos... e dizemos nós, também: Obrigada!

Anne-Marie VermuntThrough discussions regarding our work with my colleague Tina, I was made aware of the mission to Guinea-Bissau and when I spoke about it to my youngest daughter Kendra, she immediately said she also wanted to go. We had never been to Africa, so we didn’t really know what to expect.When we left Bissau the morning after unloading the container, I was reminded of my road trip from Mumbai/Bombay to Goa. It felt very similar, yet very unreal. Guinea-Bissau (or at least the part that we saw) is a beautiful country with a lush vegetation, beautiful beaches and very friendly people. It

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could be heaven on earth, but circumstances have left it one of the poorest countries in the world.Passing out all the collected supplies and toys felt in a way rewarding, yet also left me with a feeling of inadequacy. There is so much still lacking and what we do is a mere drop on a hot plate...I would have loved to speak with the locals and ask them how they feel about their lives, their country, etc., but unfortunately, I don’t speak Portuguese and certainly no Creole. This was my first trip to Africa, but it will certainly not be my last.(TRADUÇÃO)Durante algumas conversas sobre trabalho com a minha colega Tina, tive conhecimento da Missão à Guiné Bissau e quando falei sobre o assunto com a minha filha mais nova, Kendra, ela imediatamente disse que também gostaria de ir. Nunca tínhamos estado em África portanto não sabíamos o que realmente íamos encontrar.Quando deixámos Bissau, na manhã após a descarga do contentor, lembrei-me da minha viagem de Mumbai/Bombay para Goa. Senti-me de forma semelhante, mas muito irreal. Guiné Bissau (ou pelo menos a parte que vimos) é muito bonita com uma vegetação luxuriante, bonitas praias e pessoas muito simpáticas. Poderia ser o céu na terra mas as circunstâncias tornaram-no num dos países mais pobres do mundo.Oferecer os bens e brinquedos recolhidos foi gratificante mas também deixou um sentimento de desadequação. Continua a faltar tanta coisa e o que fizemos é apenas uma gota sobre chapa quente. Gostaria de ter conversado com os locais e perguntar -lhes o que pensam sobre as suas vidas, o seu país, etc mas infelizmente, não falo português e muito menos crioulo. Esta foi a minha primeira viagem a África mas seguramente não será a última.

Sofia Barros e Fausto AbreuTrazemos da Guiné memórias inesquecíveis, daquelas que inspiram e enriquecem.Movidos por um ideal, entendemos, porém, ser perigosamente inebriante a vontade de tanto querer ajudar. Para que haja consistência e eficácia, é preciso observar, conhecer, comunicar. Só assim logramos uma noção mais fiel às necessidades reais e garantimos que a ajuda chega aos que mais precisam. A educação, de facto, merece especial enfoque: por quebrar o ciclo de pobreza e subdesenvolvimento e por criar jovens adultos educados que serão os líderes do futuro. Quem sabe se de uma cadeira (vinda de um contentor para lá do mar) na Creche de Varela emergirá um futuro ministro no país. Este projecto, por tudo o que reúne de belo, está lá para ficar, e para crescer (e nós com ele), ao som de batuques intemporais.

Cesaltina Bastos e Isadora de GraveParticipámos nesta missão solidária por acreditar que através da educação se abrem as portas do futuro às crianças guineenses. Partilhamos com este grupo entusiasta e fraterno a vontade de facilitar o acesso dos menos favorecidos à educação e somos felizes ao dar o nosso contributo para que essas crianças tenham tempo de serem meninos.Como diz o poeta Tony Tcheka, "Guiné sou eu, Guiné somos todos, mesmo depois da esperança".