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Impacto do Excesso de Oxigénio na Remoção Biológica de Fósforo em Estações de Tratamento de Águas Residuais
A remoção biológica de Fósforo é um processo de tratamento complexo,
uma vez que grande parte do metabolismo ocorre no interior das células,
recorrendo a substrato e produtos aí armazenados. Este metabolismo
baseia-se no consumo anaeróbio de ácidos gordos voláteis, e subsequente
armazenamento, sob a forma de poli-hidroxi-butirato, e cuja energia e
equivalentes redutores são fornecidos pela degradação de polifosfatos e
glicogénio acumulados internamente. Durante condições anóxicas e
aeróbias, o poli-hidroxi-butirato armazenado é oxidado, sendo utilizado para
o crescimento celular, para consumo de fosfatos do meio líquido, para
formação de glicogénio e para manutenção celular. A remoção efectiva de
fósforo é obtida quando o seu consumo aeróbio é maior que a soma da sua
concentração no afluente e do que é libertado em anaerobiose.
A estabilidade e eficiência dos processos de remoção biológica de fósforo
podem ser perturbadas por vários factores. Está documentado que a
deterioração da eficiência da remoção biológica de Fósforo, ocorre
regularmente, em algumas Estações de Tratamento, aquando afluências
elevadas de águas pluviais (após tempestades e chuvas fortes), ou períodos
de baixa carga, como por exemplo os fins-de-semana, em algumas zonas. O
fenómeno é atribuído à reduzida carga orgânica afluente nestas ocasiões.
Nestes casos, a ETAR recebe, temporariamente, esgoto com baixa
concentração, e elevadas cargas hidráulicas. Assim, afluências prolongadas
de águas pluviais, afectam negativamente os processos de remoção
biológica de fósforo. Não é ainda claro, que a diminuição da eficiência se
deva à inibição das bactérias responsáveis pela remoção de Fósforo, ou se é
a baixa concentração de matéria orgânica no afluente. Uma redução
temporária da eficiência da remoção biológica de Fósforo em vários estudos
(Temmink et al. 1996) foi explicada devido a um parcial ou total
esgotamento de poli-hidroxi-butirato armazenado no interior das bactérias.
Nestes estudos, é recomendado o ajuste dos tempos de arejamento para
evitar o consumo desnecessário de poli-hidroxi-butirato armazenado e/ou
manter um valor mínimo deste composto nas células, adicionando uma
fonte externa de carbono que não o afluente a tratar, de forma a combater
os efeitos negativos na eficiência da remoção biológica de Fósforo.
Alguns artigos referem um aumento regular de fósforo à saídas das ETAR’s,
após períodos de baixa carga orgânica afluente, que resulta num “input”
elevado de nitratos nos tanques anaeróbios, e consequente redução da
eficiência da remoção biológica de Fósforo. Esta redução, observada
frequentemente nas ETAR’s com lamas activadas com remoção biológica de
Fósforo, que, temporariamente possuem períodos de fraca afluências em
termos de carga orgânica, pode ser explicada pela seguinte hipótese:
A principal causa da redução da eficiência da remoção biológica de Fósforo,
aquando cargas orgânicas afluentes baixas, é o excesso de oxigénio nos
reactores biológicos. Este excesso, pode ser resultados de afluências
pluviais (caracterizadas pelas elevadas concentrações de oxigénio
dissolvido), ou de um sistema de arejamento dos reactores que funcione
apenas por tempos de arranque e paragem. O excesso de oxigénio conduz a
alterações na concentração interna (a nível celular) de compostos
fosfatados, com especial ênfase para o poli-hidroxi-butirato, que, neste
caso, pode ser parcial ou totalmente esgotado. Uma vez que a velocidade
de assimilação de fosfatos é controlada cineticamente pela quantidade de
poli-hidroxi-butirato na biomassa, o seu esgotamento conduz a uma redução
eficiência da remoção biológica de fósforo. Após o restauro das condições
normais de afluência, a libertação de fósforo pela biomassa não é afectada,
sendo, no entanto, a velocidade de assimilação de fosfatos do meio líquido
muito baixa, resultando numa redução eficiência da remoção biológica de
fósforo.
Resultados laboratoriais confirmam esta hipótese, ou seja, o excesso de
Oxigénio no afluente (aquando afluências elevadas de águas pluviais ou
períodos de baixa carga orgânica) resultam numa redução eficiência da
remoção biológica de fósforo. È claramente demonstrado, que esta redução
resulta da inibição de assimilação de fosfatos do meio líquido, devido ao
esgotamento de poli-hidroxi-butirato na biomassa e/ou da saturação, a nível
celular, de poli-fosfatos, uma vez que a sua concentração, como ficou
demonstrado em ensaios laboratoriais, influencia também a assimilação de
fosfatos do meio líquido.
Adicionando, artificialmente, fontes de carbono (acetato, soro de queijo, etc)
ao afluente, ocorre a libertação pela biomassa de fosfatos, mas que, no
entanto, não podem ser novamente assimilados na sua plenitude, uma vez
que o poli-hidroxi-butirato (a falta dele a nível celular) limita a assimilação
destes.