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Impactos de derramamentos de óleo na ecologia marinha Diretrizes de boas práticas para gestão de incidentes e profissionais de resposta a emergências

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A associação global da indústria de óleo e gás para assuntos sociais e ambientais

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Relatório 525 da IOGP

Data de publicação: 2015

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Todas as fotos fornecidas são cortesia de Jon Moore, salvo outra indicação.

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Essa publicação faz parte da série Guia de boas práticas da IPIECA-IOGP, que resume as visões atuais sobre boas práticas para diversos temas de prontidão e resposta de derramamentos de óleo.A série visa ajudar a alinhar atividades e práticas de indústria, informar partes interessadas e atuarcomo uma ferramenta de comunicação para promover conscientização e educação.

A série atualiza e substitui a bem estabelecida 'Série de relatórios de derramamento de óleo' daIPIECA publicada entre 1990 e 2008. Ela trata de temas que são amplamente aplicáveis aos setoresde exploração e produção, além de atividades de envio e transporte.

As revisões estão sendo realizadas pelo projeto de indústria em conjunto (JIP) de resposta aderramamentos de óleo da IOGP-IPIECA. O JIP foi criado em 2011 a fim de implementaroportunidades de aprendizado com relação a prontidão e resposta a derramamentos de óleo apóso incidente de controle de poço no Golfo do México ocorrido em 2010.

A série de relatórios originais da IPIECA será progressivamente substituída após a publicação dosdiversos títulos nessa nova série Guia de boas práticas durante 2014 e 2015.

Observação sobre boas práticas

O termo 'boas práticas', no contexto de um projeto de indústria em conjunto (JIP), é umadeclaração de diretrizes, práticas e procedimentos reconhecidos internacionalmente que permitemque a indústria de óleo e gás tenha um desempenho aceitável quando o assunto é saúde,segurança e meio ambiente.

As boas práticas para um determinado tópico mudarão ao longo do tempo diante de avanços de tecnologia, experiência prática e compreensão científica, além das mudanças nos ambientespolítico e social.

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Prefácio

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IMPACTOS DE DERRAMAMENTOS DE ÓLEO NA ECOLOGIA MARINHA

Índice

Prefácio 2

Introdução 4

Ecossistemas marinhos e óleo 4

Finalidade desse documento 6

Óleo no ambiente marinho 7

Composição e características do óleo 7

O destino do óleo 9

Evaporação 10

Espalhamento e movimento 10

Dissolução 11

Dispersão 11

Emulsificação 11

Sedimentação 12

Afundamento 12

Deposição na costa 13

Foto-oxidação 14

Biodegradação 14

Impactos ecológicos e recuperação 15

Exposição a óleo e mecanismos de efeito 15

Fatores que influenciam os impactos do óleo 17

Sazonalidade 17

Função ecológica das principais espécies 17

Fatores de modo de vida 18

Saúde e condição 18

Impactos de longo prazo e recuperação 18

Impactos dos derramamentos de óleo 20na vida marinha

Plântcon 20

Vida no fundo marinho 21

Peixes e seus estoques 26

Mamíferos marinhos 30

Répteis marinhos 33

Aves 34

Habitats costeiros e linha de costa 37

Gerenciamento de resposta 39ao derramamento de óleo e o impacto potencial

Análise de benefício ambiental líquido 40

Os benefícios e impactos da aplicação 41de dispersantes

Avaliação de danos de derramamento 44de óleo — principais atividades

Referências e leituras complementares 46

Manuais e documentos de orientação 46

Literatura sobre destino e efeitos 47

Sites úteis 51

Agradecimentos 52

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Introdução

Serviços ecossistêmi-cos do ambientemarinho; é benéficopara todos que o marpermaneça limpo,produtivo e saudável.

Ecossistemas marinhos e óleo

O ambiente marinho é uma rede dinâmica e diversa de habitats e espécies interligadas porprocessos ecológicos e físicos complexos que interagem com humanos e suas atividades em muitosníveis. Os habitats marinhos e suas comunidades associadas são muitas vezes agrupados emecossistemas, como, por exemplo, oceano aberto, mar profundo, recifes de corais, marismas,costões rochosos, etc., embora todos estejam conectados, e impactos em um ecossistema possamafetar outros. A estrutura e a função do ecossistema são características importantes ao avaliar osimpactos. Os muitos benefícios que o homem desfruta desses habitats e comunidades sãochamados de serviços ecossistêmicos. Entre os mais óbvios, estão os peixes, os mariscos e outrosalimentos que consumimos, e os benefícios recreativos e estéticos do mar. Além disso, muitascomunidades costeiras têm grandes vínculos espirituais e culturais com o mar. No entanto, há muitos outros serviços menos óbvios.

O plâncton das áreas oceânicas desempenha um papel crucial na manutenção de nossa atmosferaao transferir o carbono para o mar profundo. As áreas de alto-mar e mar profundo também sãoonde muitos peixes que capturamos para alimentação, mas a abundância e a produtividadeaumentam muito em águas mais rasas e mais próximas a áreas costeiras. Zonas úmidas costeiras ealguns ecossistemas de águas rasas, incluindo marismas, manguezais, kelps e bancos de gramasmarinhas são bastante produtivos, fornecendo boa parte do material orgânico para os ecossistemas

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de águas rasas que os cercam. Eles também proporcionam alimento e abrigo para peixes jovens emuitas outras espécies, protegem a costa contra tempestades e inundações, e retém sedimentos eresíduos orgânicos de origem terrestre. Manguezais e recifes de corais também fornecem materiaisde construção e a indústria farmacêutica cada vez mais desenvolve novos produtos a partir daenorme diversidade de espécies marinhas.

A biodiversidade (isso é, variedade de vida) é, por si só, uma característica valiosa dessesecossistemas uma vez que aumenta a complexidade das cadeias alimentares e outros processosecológicos, algo que, por sua vez, aumenta sua resiliência a impactos antropogênicos e naturais. A maioria das cadeias alimentares no mar inclui um conjunto de produtores primários (isso é, plantase algas, incluindo o fitoplâncton, que obtém sua energia da luz solar ou organismos que usam aenergia química das chaminés no mar profundo), bactérias (que se alimentam principalmente decarbono orgânico dissolvido), herbívoros (zooplâncton, invertebrados do fundo do mar e certospeixes), carnívoros, necrófagos e parasitas (uma ampla variedade de animais) e decompositores(especialmente bactérias e fungos). A biodiversidade e outros serviços ecossistêmicos são refletidosnos regimes normativos nacionais e internacionais que reconhecem a necessidade da conservação e proteção de importantes habitats e espécies. Isso inclui a designação de áreas protegidas.

Óleos minerais (isso é, petróleo) são derivados de materiais de plantas e animais que viveram hámilhões de anos e foram modificados ao longo do tempo por calor e pressão subterrânea. Em muitoslocais, esses reservatórios subterrâneos de óleo são conectados à superfície por feições geológicastais como falhas ou domos de sal e, em algumas áreas, escapes naturais (seeps) ocorrem através doleito marinho. Esses escapes naturais estão presentes nos oceanos há milhões de anos, e organismosmarinhos evoluíram para desenvolver mecanismos moleculares que possibilitam sua biodegradação,desintoxicação dessas substâncias e sua incorporação na cadeia alimentar. Há níveis de backgroundde hidrocarbonetos petrogênicos (consulte a Caixa 1 na página 7) na água e em sedimentos, que são maiores em algumas áreas do que em outras, dependendo da presença desses escapes naturaisde óleo. Desde a revolução industrial, esses níveis naturais vêm aumentando devido às emissõesaéreas, ao run-off e às descargas oriundas do transporte marinho. O Conselho Nacional de Pesquisados EUA estima que cerca de metade do óleo que acaba nos oceanos todos os anos tem origemantropogênica, sendo que o restante vem dos escapes naturais (seeps).

Grandes derramamentos de óleo são raros, mas podem resultar em impactos adversos significativose de longo prazo. A escala dos impactos dos derramamentos pode variar de mínimo (por exemplo,após derramamentos de óleos mais leves em mar aberto), com poucos ou nenhum efeito queduram apenas algumas horas ou dias, até significativo (por exemplo, grandes quantidades de óleopesado entrando em contato com habitats úmidos abrigados) com efeitos de longo prazo.Derramamentos maiores podem causar mais danos do que os menores, mas o nível de impactovaria consideravelmente dependendo do óleo e do tipo de incidente, condições locais (comoestação do ano, clima e local) e os recursos presentes.

O desenvolvimento de exploração de óleo em ambientes polares e em águas profundas geradiversos desafios para a ciência e para a resposta a derramamentos de óleo. Plantas e animais emecossistemas de águas frias tendem a viver mais e crescer mais lentamente do que aqueles emclimas e águas mais quentes, e a taxa de muitos processos biológicos é relativamente baixa.A persistência do óleo, que é um fator importante na recuperação dos habitats, também podeaumentar nas maiores latitudes. Em geral, presume-se que a recuperação de derramamentos deóleo levará mais tempo, mas isso depende de muitos fatores. Estudos mostraram que micróbiospresentes em ecossistemas de água fria podem degradar o óleo rapidamente quando não há outras condições limitantes.

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IMPACTOS DE DERRAMAMENTOS DE ÓLEO NA ECOLOGIA MARINHA

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Os esforços de resposta a derramamento de óleo são projetados de forma ampla para remover acontaminação do óleo, melhorar sua biodegradação e evitar que ele chegue a partes mais sensíveisdo ecossistema, mas podem causar ainda mais danos ao meio ambiente. Em algumas situações, énecessário considerar as vantagens e desvantagens e avaliar os benefícios ambientais líquidos dasopções de resposta. A ciência pauta a avaliação de riscos ao meio ambiente e a gestão de operações,incluindo decisões de resposta a derramamento de óleo. Nosso conhecimento é baseado no amplocorpo de evidências de estudos de derramamentos anteriores e pesquisa experimental.

Finalidade desse documento

A finalidade desse documento é fornecer uma visão geral sobre como derramamentos de óleopodem afetar recursos e funções ecológicas marinhas e quão rapidamente esses recursos e funçõespodem se recuperar. Ele é baseado em evidências científicas documentadas, inclui referências paraestudos específicos e visa a comunidade de resposta como um todo, composta por operadores,governos, empresas e o público.

A primeira seção, com o título Óleo no ambiente marinho, descreve as propriedades dos óleosminerais e processos físicos pelos quais óleos derramados passam que são relevantes para osimpactos ecológicos no mar. Destaca-se as propriedades e processos que afetam a persistência do óleo, uma vez que eles provavelmente influenciarão os efeitos de longo prazo.

A seção sobre Impactos ecológicos e recuperação fornece uma descrição geral dos mecanismos e fatores que normalmente afetam os derramamentos de óleo em recursos marinhos e suas taxasde recuperação.

A terceira seção, Impactos dos derramamentos de óleo na vida marinha e vida selvagem associada,descreve alguns dos impactos mais comuns de derramamentos de óleo nas formas de vidaassociadas a diferentes ecossistemas, incluindo referências para estudos de caso relevantes.

A seção com o título Gerenciamento de resposta ao derramamento de óleo e o impacto potencialleva em conta boas práticas na resposta ao derramamento e como ela é projetada para minimizardanos ambientais (isso é, maximizar o benefício ambiental líquido das técnicas de resposta).

A quinta seção, com título Avaliação de danos de derramamentos de óleo — principais atividades,resume algumas das principais abordagens e requisitos de uma avaliação de danos e omonitoramento necessário para descrever a recuperação.

Por fim, a seção Referências e leituras complementares fornece uma lista de importantes referênciase publicações relevantes.

A série Guia de boas práticas IPIECA-IOGP (GPG) inclui vários outros títulos que também podem ser de interesse do leitor, em especial o GPG com título Impactos de derramamentos de óleo emlitorais (IPIECA-IOGP, 2015a) que fornece uma abordagem mais detalhada sobre o destino e osefeitos de derramamentos de óleo marinho em recursos costeiros. Outros títulos com relevânciadireta tratam de assuntos como análise de benefício ambiental líquido (IPIECA-IOGP, 2015b) e o uso de dispersantes, tanto na superfície do mar (IPIECA-IOGP, 2015c) quanto abaixo da superfície(IPIECA-IOGP, 2015d). Para uma discussão sobre os impactos dos derramamentos de óleo emambiente terrestre, lagos e rios ver o GPG sobre resposta em terra (IPIECA-IOGP, 2015e).

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IMPACTOS DE DERRAMAMENTOS DE ÓLEO NA ECOLOGIA MARINHA

Óleo no ambiente marinho

Composição e características do óleo

Óleos crus são misturas complexas de hidrocarbonetos, com pequenas quantidades de outroscompostos (consulte a Caixa 1) e elementos que normalmente incluem enxofre e outros elementostraço. Produtos refinados, da gasolina ao betume, também são constituídos principalmente dehidrocarbonetos e são produzidos a partir do óleo cru por meio de diversos processos de refinopara alcançar as características físicas e químicas desejadas.

Hidrocarbonetos podem ser classificados em muitos grupos diferentes com base em sua estruturaquímica, mas as características que são mais relevantes para seu destino no ambiente marinho são seus pesos moleculares e pontos de ebulição (normalmente estreitamente relacionados) e suasolubilidade na água e biodisponibilidade (também estreitamente relacionadas). Os compostoscom os mais baixos pesos moleculares normalmente apresentam os mais baixos pontos de ebuliçãoe são voláteis em baixa temperatura ambiente. Muitos desses compostos podem apresentartoxicidade aguda (consulte a Caixa 2 na página 9), mas evaporam tão rapidamente na superfície do mar ou na costa que sua contribuição para os impactos marinhos é normalmente baixa. Seliberados em águas profundas, eles colaboram mais para a toxicidade, embora esses compostos de baixo peso molecular normalmente apresentem rápida biodegradação. Na outra ponta dabalança, hidrocarbonetos de alto peso molecular (por exemplo, asfaltenos, um dos principaiscomponentes do betume) possuem um alto ponto de ebulição, são resistentes à biodegradação e bastante persistentes. Eles também podem ser cronicamente tóxicos mas, em geral, são menosbiologicamente disponíveis devido principalmente à sua baixíssima solubilidade na água. Entreesses dois extremos existe uma grande variedade de hidrocarbonetos, muitos dos quais podemcausar impactos biológicos.

Hidrocarbonetos: hidrocarbonetos verdadeiros contêm apenas carbono e hidrogênio. Óleos crustambém contêm uma proporção de outros compostos orgânicos que são principalmente carbono ehidrogênio, mas com um pouco de nitrogênio, enxofre e oxigênio. Para fins desse documento, o termohidrocarboneto é usado genericamente para incluir todos esses compostos orgânicos.

Hidrocarbonetos aromáticos: responsáveis pela maior parte da toxicidade no óleo e possuem um oumais anéis de benzeno:l Benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos (compostos BTEX) possuem um anel e são relativamente

solúveis na água, mas também são voláteis (baixíssimo ponto de ebulição).l Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) possuem dois ou mais anéis:

l derivavos de alquil substituído e naftaleno são compostos de dois anéis e possuem solubilidade na água e volatilidade moderada;

l compostos de três e quatro anéis são levemente solúveis na água e não são voláteis (alto ponto de ebulição); e

l compostos com cinco ou mais anéis são efetivamente insolúveis na água e possuem um altoponto de ebulição.

Grupos de óleos 1 a 5: a indústria do óleo classifica os óleos em cinco grupos com base em sua gravidadeespecífica; do grupo 1, com gravidade específica baixíssima (inferior a 0,8; por exemplo, querosene) até o grupo 5, com gravidade específica muito alta (igual ou superior a 1,0; por exemplo, betume). Esseagrupamento é útil ao discutir o destino e a persistência de derramamentos de óleo.

Hidrocarbonetos petrogênicos, pirogênicos e biogênicos: derivados diretamente de óleos minerais, da queima incompleta de combustíveis fósseis e de processos biológicos, respectivamente.

Caixa 1 Tipos e grupos de óleo

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Avaliar a toxicidade de compostos de hidrocarbonetos (consulte a caixa 2 na página 9) não é umatarefa simples e envolve diversos fatores. No entanto, hidrocarbonetos aromáticos, especialmenteHPAs, tendem a apresentar maior toxicidade do que outros grupos de hidrocarbonetos. Suasconcentrações (como HPAs totais ou compostos de HPA individuais) são muitas vezes analisadas emonitoradas na água, sedimentos ou tecidos animais como um indicador da contaminação tóxica.Muitos aromáticos de baixo peso molecular possuem solubilidade relativamente alta na água e,dessa forma, elevada biodisponibilidade, mas baixa persistência. Eles podem ser responsáveis pelamaior parte dos efeitos narcóticos que causam impactos agudos. De maior preocupação são algunsdos HPAs de peso molecular intermediário que são menos solúveis, no entanto, mais persistentes, e tão altamente tóxicos que as pequenas quantidades que se tornam biodisponíveis têm opotencial de causar impactos crônicos de longo prazo. Mesmo compostos aromáticos de pesomolecular alto, como asfaltenos, podem causar alguns efeitos crônicos em um organismo se estiverestritamente associado a um resíduo de alcatrão por tempo suficiente.

Os HPAs podem entrar no ambiente marinho por diversas fontes, não apenas por derramamentosde óleo. A deposição atmosférica de partículas derivadas da combustão incompleta do carvão, óleo e muitos outros materiais resultam em cargas significativas de HPAs pirogênicos para osecossistemas naturais.

As propriedades de um óleo são uma função de seus compostos. As principais propriedades físicassão a densidade (ou gravidade específica), a viscosidade, o ponto de fluidez (a temperatura acimada qual ele vai fluir); e as principais propriedades químicas são os teores de aromáticos, cera easfalteno. Produtos de óleo leve possuem baixa densidade e viscosidade, e muitas vezes alto teoraromático, de forma que são altamente tóxicos, no entanto, têm pouca probabilidade depersistência na maioria dos ambientes. Óleos crus pesados e combustíveis possuem densidade eviscosidade relativamente alta e maior probabilidade de persistência, mas ainda podem ser tóxicosdependendo de sua composição. Todas essas propriedades podem mudar depois que o óleo foiderramado (consulte O destino do óleo nas páginas 9-14).

Definições de terminologia relacionada à toxicologia são apresentadas na caixa 2 na página aseguir. No entanto, deve-se observar que os principais efeitos ambientais de derramamento de óleoocorrem normalmente devido ao recobrimento físico ou asfixia de plantas e animais, especialmenteem habitats costeiros, e não por causa da toxicidade do óleo.

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alcano cicloalcano benzeno

1 anel: tolueno 2 anéis: 2-metilnaftaleno 3 anéis: antraceno 5 anéis: benzo(a)pireno

Figura 1 Exemplos da estrutura dos compostos químicos nos óleos crus

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IMPACTOS DE DERRAMAMENTOS DE ÓLEO NA ECOLOGIA MARINHA

O destino do óleo

Logo que o óleo é derramado no ambiente marinho, ele é sujeito a diversos processos naturais,conhecidos como 'intemperismo', que mudam suas características de forma rápida e progressiva e o redistribuem em outras partes no meio ambiente. A importância de cada processo sobre odestino do óleo depende de onde o derramamento de fato ocorre (Isso é, condições ambientais) e do tipo de óleo (isso é, as propriedades físicas e químicas descritas nas páginas 7 a 8).O mecanismo e a escala de efeitos ecológicos são significativamente influenciados pelo destino do óleo. Os principais processos de intemperismo são descritos nas páginas 10-14.

Vulnerabilidade e sensibilidade ao óleo: a vulnerabilidade descreve a probabilidade de um recurso serexposto ao óleo. A sensibilidade presume que o recurso está exposto ao óleo e descreve o efeitorelativo de tal exposição. Dessa forma, um coral de mar profundo pode ser sensível mas não vulnerávela um derramamento de óleo na superfície, enquanto uma alga marinha de um costão rochoso pode servulnerável mas não sensível.

Toxicidade é o potencial ou capacidade inerentes de um material causar efeitos adversos emorganismos vivos; a toxicidade aquática é o efeito de substâncias químicas em organismos aquáticos.Uma vez que qualquer substância pode ser tóxica, o organismo específico e sua exposição à substânciasempre devem ser levados em conta.

Exposição é a combinação da duração da exposição à substância química e da concentraçãoda substância.

A rota de exposição é a maneira pela qual o organismo é exposto à substância, incluindo ingestão(diretamente ou no alimento), absorção por guelras ou contato com a pele.

A magnitude de um efeito tóxico depende da sensibilidade de um organismo às substâncias químicas,mas também é uma função tanto da concentração quanto da duração da exposição à substância.

Toxicidade aguda e crônica: a toxicidade aguda envolve efeitos nocivos em um organismo por meio de exposição única ou de curta duração. A toxicidade crônica é a capacidade de uma substância, oumistura de substâncias, causar efeitos nocivos ao longo de um período prolongado, normalmente apósexposição contínua ou repetida, às vezes durante toda a vida do organismo exposto. Efeitos crônicos eagudos podem ser de baixa ou alta magnitude, no entanto, muitas vezes implicam em baixa magnitudee podem ser sutis e de difícil detecção.

A biodisponibilidade é o tempo que uma substância química fica disponível para absorção por umorganismo e, com relação a derramamentos de óleo, é estritamente relacionada à sua toxicidade e àtaxa de biodegradação.

Bioacumulação ocorre quando um organismo absorve um substância tóxica em seus tecidos em umataxa superior àquela na qual a substância é perdida.

Efeitos letais e subletais: um efeito letal resulta na morte de um organismo, enquanto um efeitosubletal resulta na redução de uma função biológica ou de saúde, como, por exemplo, seu crescimento,capacidade de reprodução ou a condição de sua pele.

Biomarcador: esse termo possui dois usos bastante diferentes, ambos relevantes neste documento:

i) um parâmetro fisiológico ou bioquímico subletal específico que é usado como um indicador deexposição a um contaminante (por exemplo, HPAs) em um animal; ou

ii) um composto de hidrocarboneto encontrado no óleo que foi originalmente produzido pelosorganismos vivos e está em sua maior parte inalterado (às vezes chamado de 'fóssil molecular') e é usado na análise de hidrocarbonetos para classificar um determinado óleo de forma única (isso é, 'uma impressão digital').

Caixa 2 Toxicologia

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evaporaçãoemulsi�cação

dissolução dispersão

sedimentação biodegradação

oxidação

espalhamento

espalhamento

Evaporação

A maior parte dos óleos frescos contém uma proporção de hidrocarbonetos de baixo pesomolecular com um baixo ponto de ebulição (por exemplo, alcanos com menos de 12 átomos decarbono e os compostos BTEX). Quando liberados no mar ou na costa, a evaporação desseshidrocarbonetos na atmosfera começa imediatamente, influenciada pela temperatura ambiente e movimento do ar. Esse processo aumenta progressivamente a viscosidade do óleo derramado,além de reduzir o volume e a toxicidade aguda do óleo restante. Se o óleo permanecer nasuperfície por muitas horas ou dias, esse processo de intemperismo pode deixar um resíduopegajoso de toxicidade relativamente baixa. A proporção de óleo restante pode variar de quasenenhum a quase todo o óleo originalmente derramado. Por exemplo: 10 toneladas de gasolinaderramadas em um mar tropical em um dia de verão ameno (25 °C) evaporariam completamenteem menos de três horas e levariam apenas seis horas para evaporar no mar do Ártico em um diaameno de inverno (5 °C); no entanto, nas mesmas condições, um óleo combustível pesado(por exemplo, Bunker C) perderia apenas 20% e 15% de seu volume, respectivamente, porevaporação após quatro dias (Fonte: NOAA, 2015).

Espalhamento e movimento

Se um óleo é derramado na superfície do mar, ele vai se dispersar, mesmo sem nenhummovimento de marés ou ventos. A taxa de espalhamento depende do ponto de fluidez eviscosidade do óleo: óleos leves vão se espalhar rapidamente, em qualquer temperatura do mar,mas óleos pesados vão se espalhar mais lentamente e permanecer espessos por mais tempo,especialmente em oceanos gelados onde isso também pode reduzir a taxa de dispersão(consulte abaixo). Qualquer animal ou ser vivo que precise ir até a superfície para respirar serávulnerável a uma mancha de óleo, e a velocidade e a direção dos ventos e marés influenciarão a distância e o alcance do espalhamento da mancha.

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Figura 2 Processos de intemperismo de óleo

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IMPACTOS DE DERRAMAMENTOS DE ÓLEO NA ECOLOGIA MARINHA

A medida em que a maior parte do óleo se espalha e se move, ele também começa a sefragmentar rapidamente, resultando num mosaico com a formação de diversas manchas.A espessura do óleo muitas vezes se torna irregular, com áreas espalhadas de óleo mais espessoseparadas por grandes áreas de óleo muito fino (camada) ou água clara.

Dissolução

Embora a maioria dos hidrocarbonetos tenha uma baixa solubilidade na água (incluindo água domar) a ponto de que podemos defini-los efetivamente como insolúveis, alguns dos hidrocarbonetosaromáticos menores, como benzeno e tolueno, são relativamente solúveis. Dessa forma, quando oóleo é derramado no mar, uma pequena proporção se dissolve: a quantidade e a taxa de dissoluçãodepende da composição e da viscosidade do óleo. Essa fração solúvel na água tem um impactodesproporcional nos organismosmarinhos, estando mais biodisponíveldo que outros hidrocarbonetos enormalmente mais agudamentetóxica. Altas concentrações desseshidrocarbonetos são normalmentelimitadas à água na área mais próximaao ponto do derramamento e ocorrerápida diluição no sentido vertical e lateral. A biodegradação dehidrocarbonetos solúveis na água é normalmente rápida.

Dispersão

A ação das ondas, ou outra agitação do óleo na (ou dentro) água, resultará na formação de gotículasde óleo que são misturadas na coluna de água; quanto maior for a agitação, maior é o potencial demistura. A maior parte do óleo na maioria dos derramamentos, sejam na superfície ou no fundo domar ou depositado no litoral, termina sendo dispersa. Gotículas maiores misturadas na coluna deágua sobem para a superfície da coluna de água rapidamente, mas pequenas gotículas boiammenos e não voltam para a superfície; elas são misturadas no sentido horizontal e vertical na colunade água. A extensão e a profundidade da mistura dependem da ação das ondas e das correntesmarinhas. Esse processo pode expor a vida marinha que fica na subsuperfície à contaminação. No entanto, assim como com hidrocarbonetos dissolvidos, as concentrações do óleo disperso sãomais altas na área mais próxima ao derramamento, seja uma mancha de superfície ou uma plumaascendente de subsuperfície, e reduzem rapidamente a medida em que o óleo é dispersado daorigem. No caso de manchas de superfície, a flutuabilidade das gotículas de óleo significa que amistura vertical em direção às águas mais profundas ocorre mais lentamente do que a misturalateral, e concentrações elevadas são normalmente limitadas aos primeiros metros da superfície.Gotículas de óleo dispersas possuem uma grande área de superfície e isso facilita a biodegradaçãopor micróbios (consulte a página 14). A eficácia da biodegradação de gotículas de óleo é umbenefício essencial do uso de dispersantes químicos para melhorar o processo de dispersão natural.

Emulsificação

Gotículas maiores de óleo disperso vão boiar rapidamente e podem prender gotículas de água do mar dentro da mancha de superfície para formar uma emulsão de água em óleo. Dessa forma, a maioria dos óleos vai incorporar água progressivamente ao serem misturados em condiçõesturbulentas (isso é, em mares moderadamente agitados ou agitados). Quanto maior for o efeito de

Essa foto mostra óleo doderramamento daGuerra do Golfo de 1991,se espalhando ao sul daságuas do Kuwait sob ainfluência de ventos emarés. Boa parte do óleo atingiu a costa daArábia Saudita, e umpouco havia percorridomais de 500 km de suaorigem. Processos deintemperismo alteraramprogressivamente aspropriedades do óleo.

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mistura, mais água é incorporada na emulsão, aumentando assim o volume da emulsão; emalgumas circunstâncias, o volume de emulsão de água em óleo pode ser até cinco vezes superior ao volume de óleo originalmente derramado.

As emulsões podem ser estáveis ou instáveis e ter características físicas bastante diferentes do óleooriginal. Emulsões estáveis normalmente possuem um alto teor de água (às vezes, superior a 70%)e, em geral, são altamente viscosas. Elas podem permanecer estáveis por diversas semanas e sãocoloquialmente chamados de 'mousse de chocolate’ (ou, às vezes, simplesmente 'mousse') devido a sua consistência e cor normalmente marrom avermelhado. A formação de uma mousse estávelpode reduzir significativamente a taxa de dispersão e outros processos de destino. Em condiçõescalmas e quentes (por exemplo, após chegar à praia), a mousse pode ser quebrada em seuscompostos de óleo e água, mas algumas emulsões ainda são altamente persistentes. Uma emulsãoinstável pode se decompor após diversos dias ou pode persistir por pouco tempo (por exemplo,24 horas). Emulsões instáveis normalmente retêm a cor do óleo original, isso é, marrom ou preto.

Sedimentação

O destino e os efeitos de óleo disperso são significativamente influenciados pela quantidade desólidos suspensos (sedimentos finos e outras partículas) presentes na coluna de água. Gotículas de óleo dispersas podem se ligar a sólidos suspensos e mudar suas características físicas. Gotículasquimicamente dispersas podem apresentar menor probabilidade de se ligar do que as fisicamentedispersas até o dispersante sofrer biodegradação. A deposição desses sólidos suspensos no fundodo mar pode ocorrer, onde estes podem então ser incorporados aos fundos lamosos comsedimentação ativa ou mais amplamente distribuídos como agregados irregulares (flocos) departículas de óleo ou uma combinação de ambas. No pior dos casos, onde as concentrações degotículas de óleo e sedimentos suspensos são elevadas, uma grande deposição de partículascontaminadas pode resultar em sedimentos do fundo marinho com muito óleo, podendo persistirpor anos e ter efeitos de longo prazo. Um exemplo notável ocorreu em dois estuários da costanoroeste da França após o derramamento de óleo do Amoco Cadiz em 1978 (consulte a página 25).Felizmente, tais condições são incomuns e a maior parte do óleo disperso é amplamente distribuídae biodegradada antes que possa ser incorporada ao sedimento do fundo. No entanto, a presençade flocos desprendidos de partículas com óleo (isso é, material floculento formado pela agregaçãode partículas de sedimentos e óleo suspenso) pode resultar na exposição dos filtradores a altasconcentrações de hidrocarbonetos.

Afundamento

O afundamento é normalmente discutido junto com a sedimentação (descrita acima), mas, sob umaperspectiva ecológica, é bastante diferente uma vez que não produz plumas ou flocos de partículas

com óleo. O afundamento ocorre se o óleo derramado for mais denso que a água do mar e pode resultar em acúmulos bastantepersistentes que ficam no fundo do mar e às vezessão enterrados. A área afetada do fundo marinhoé normalmente inferior àquela afetada pelasedimentação do óleo disperso, mas o óleoafundado pode causar o recobrimento por longoprazo e levar a perda de habitats. Não há muitosóleos tão densos, mesmo depois de muitointemperismo. No entanto, alguns óleos bastantedensos, incluindo óleos do grupo 5 (consulte a

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Em alguns locais dacosta da Louisiana,durante o incidente do poço de Macondoque ocorreu no Golfodo México em 2010, o óleo se misturou àareia na zona de arre-bentação, afundandoe formando “tapetes”de óleo no infralitoralraso e na parte inferiorda zona entre-marés.

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IMPACTOS DE DERRAMAMENTOS DE ÓLEO NA ECOLOGIA MARINHA

caixa 1) e alguns outros que podem degradar a uma alta densidade, podem afundar em algumascircunstâncias. Por exemplo, a areia levada pelo vento pode às vezes ser depositada no óleoflutuante, fazendo com que ele afunde, e camadas da água doce na superfície do mar perto de riosou blocos de gelo podem reduzir a densidade da água do mar, permitindo que o óleo afunde.Resíduos de óleo queimado podem ser mais pesados do que a água do mar e, dessa forma,suscetíveis a afundar. Embora tais circunstâncias não sejam comuns, o óleo derramado muitas vezeschega na costa em praias arenosas e se mistura com a areia na zona de arrebentação, resultando naformação de bolas ou camadas de alcatrão na zona do infralitoral raso perto da praia. Mais uma vez,esses podem ser persistentes e fornecem uma possível fonte de contaminação de longo prazo(crônica), embora a toxicidade do óleo esteja em grande parte presa na matriz de alcatrão de formaque possui biodisponibilidade bastante limitada.

Deposição na costa

Os processos descritos acima reduzem progressivamente a quantidade de óleo em uma mancha desuperfície, assim é possível que um derramamento de óleo offshore resulte apenas em pequena ounenhuma quantidade de óleo chegando à costa. No entanto, a maioria dos derramamentos grandesou moderados resultam em, no mínimo, certa contaminação da costa, que pode afetar todo oconjunto de habitats e espécies presentes abaixo do nível de maré alta e, às vezes, acima dela.

Processos físicos e químicos naturais continuarão a degradar o óleo e gradualmente removê-lo, mas a velocidade da remoção varia significativamente e depende de diversos fatores. A persistênciaserá maior em lugares que estão protegidos contra a ação das ondas e do movimento das águas,mas, na verdade, apenas uma pequena ação das ondas é necessária para remover o óleo. Resíduosque permanecem por mais de um ou dois anos normalmente são encontrados apenas em locaismuito abrigados ou onde foi enterrado em grandes profundidades. Para obter mais informaçõessobre o destino do óleo na linha de costa, consulte o Guia de boas práticas IPIECA-IOGP sobre osimpactos de derramamentos de óleo na costa (IPIECA-IOGP, 2015a).

Em algumas situações, processos naturais podem removero óleo na costa muito rapidamente. A fotografia acimamostra um litoral exposto por ondas em Milford HavenWales, onde o óleo cru do derramamento do Sea Empressem 1996 recobriu a areia e as pedras numa espessura demuitos centímetros em algumas áreas. Depois de doismeses (à direita superior), a maior parte do óleo havia sidoremovida pela ação das ondas e limpeza manual; dentro de um ano, não havia mais óleo visível. Em outras situações(à direita), o óleo na costa pode persistir por muitos anos,como mostrado por esse resíduo de alcatrão espessoproveniente de um derramamento no Golfo Pérsico.

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Foto-oxidação

Hidrocarbonetos expostos à luz ultravioleta (UV) podem ser fotoquimicamente oxidados para formaroutros compostos. Esse é normalmente um pequeno componente do processo de intemperismo,mas os HPAs são especialmente sensíveis. Estudos laboratoriais de alguns compostos descobriramque os produtos resultantes podem ser mais tóxicos do que os compostos parentais, em grandeparte porque são mais solúveis na água. Esse aumento de biodisponibilidade também eleva opotencial de biodegradação. O nível ao qual a luz UV tem qualquer efeito sobre óleos integrais ou sobre a toxicidade geral no ambiente natural em um assunto ainda em investigação.

Biodegradação

Bactérias marinhas evoluíram para produzir enzimas que permitem que elas utilizemhidrocarbonetos do óleo cru como uma fonte de alimentos. Ao metabolizar hidrocarbonetos, elas crescem e se multiplicam e, por sua vez, se tornam uma fonte de alimentos para outrosorganismos. É através desse processo natural que a maior parte do óleo de um derramamento sofrebiodegradação, e a energia e os materiais contidos nele são retornados para a cadeia alimentar. A degradação exige oxigênio, nutrientes e elementos traço adequados e sua taxa dependeprincipalmente da proporção da área de superfície em relação ao volume de óleo, ou seja, gotículasfinas dispersas vão degradar rapidamente, enquanto uma mancha espessa ou uma mancha de óleona costa vai degradar lentamente. Grandes moléculas de hidrocarbonetos não são biodegradadasprontamente e podem persistir por muitos anos; entre elas, estão alguns HPAs que sãopotencialmente tóxicos, mas possuem solubilidade extremamente baixa na água e, dessa forma,podem apresentar uma biodisponibilidade bastante limitada. Alguns dos maiores hidrocarbonetos,como os asfaltenos (usados para asfalto rodoviário), são tão resistentes à biodegradação que umacamada de piche pode permanecer por centenas de anos, mas sendo efetivamente inerte. Bactériasque podem degradar o óleo estão presentes em toda parte, embora nem sempre em grandesdensidades, de forma que pode haver um espaço de tempo antes de se multiplicarem o bastantepara que sua atividade seja mensurada. Taxas de biodegradação podem ser limitadas pelasconcentrações de nutrientes disponíveis que os micróbios exigem para multiplicar e crescer. A falta de oxigênio também pode ser um fator limitante em algumas situações, especialmente em sedimentos lamosos. Baixas temperaturas reduzem a taxa de biodegradação, mas não muito.Estudos recentes de situações em mar profundo no Golfo do México mostram que as bactériasestão adaptadas para as condições estáveis de 5 °C de temperatura e podem degradar o óleorapidamente se este estiver devidamente disperso.

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IMPACTOS DE DERRAMAMENTOS DE ÓLEO NA ECOLOGIA MARINHA

Impactos ecológicos e recuperação

Exposição a óleo e mecanismos de efeito

Conforme descrito na seção anterior, o óleo derramado pode ser distribuído para diversos habitatsdiferentes e em diferentes formas. Em algumas condições raras e graves, depósitos de óleospesados persistentes em áreas na linha de costa ou fundo marinho podem resultar na perda delongo prazo de habitats naturais, mas pode haver muitos outros efeitos possíveis da exposição aoóleo. Dependendo de onde e como um organismo vive, ele pode ser exposto ao óleo em diversasformas e os mecanismos de efeito também podem variar. Para os animais e plantas dos ambientescosteiros e os que vivem ou passam algum tempo na superfície do mar, os maiores impactos sedevem provavelmente ao recobrimento, embora possam também ser expostos e afetados deoutras maneiras. Por exemplo: animais que respiram o ar podem inalar hidrocarbonetos voláteis ouingerir óleo com seu alimento ou ao limpar as penas; alguns animais e plantas podem absorverhidrocarbonetos através da pele ou outras superfícies; e muitos animais possuem membranasmucosas sensíveis que vão reagir à exposição direta ao óleo. Na coluna de água, hidrocarbonetosdissolvidos podem ser absorvidos por meio de guelras ou outros tecidos expostos, enquantogotículas dispersas de óleo podem ser coletadas e ingeridas por animais que se alimentam porfiltros. Animais e plantas que vivem sobre o fundo marinho em áreas rasas (epibiota) podemtambém ser expostos a óleo dissolvido e disperso, mas se o óleo ficar incorporado ao sedimento,ele ficará disponível para um conjunto maior de animais que vivem ali.

Os efeitos físicos do recobrimento dos organismos incluem redução da capacidade de se alimentar,mover, respirar ou se reproduzir, ou uma perda do controle térmico. Se hidrocarbonetos foreminalados, ingeridos, absorvidos ou de outra forma entrarem em contato com os tecidos internos de um organismo, eles podem apresentar diversos outros efeitos. A toxicidade química doshidrocarbonetos pode causar ruptura da parede celular e danos às funções celulares no nívelmolecular. Se a dose (valor ou concentração) e a duração da exposição aos hidrocarbonetos tóxicosforem altas o suficiente, o organismo pode morrer; do contrário, ele pode apresentar alguns efeitossubletais ou permanecer sem ser afetado. Um efeito comum em muitos invertebrados marinhosexpostos ao óleo é a narcotização temporária, a ponto de pararem de se alimentar e não reagiremnormalmente a estímulos. Isso pode resultar na morte se o animal se afastar do seu habitat nativoou for comido por predadores. Efeitos subletais de derramamentos de óleo que foram estudadosem alguns animais incluem efeitos sobre a taxa de crescimento, capacidade reprodutiva(por exemplo, motilidade de espermatozoides, taxa de sucesso dos ovos), atividade fisiológica(por exemplo, taxa de alimentação e reação a estímulos), danos a tecidos (por exemplo, ulceraçõesna pele, deformidades larvais) e danos genéticos (por exemplo, formas alteradas de DNA).

Nos últimos anos, estudos de ecotoxicologiade células e sistemas bioquímicos emanimais e plantas também identificaramdiversos indicadores de efeitos subletais,chamados coletivamente de biomarcadores,que podem indicar exposição do animal a determinados contaminantes, incluindoPAHs. Entre os exemplos, estão: o nível deatividade de sistemas de enzimas celularesque protegem as células ao degradarcompostos químicos potencialmentenocivos (um indicador amplamenteestudado); a presença de metabólitos deHPAs na bile; e o nível de estabilidade decertas organelas celulares que também estão

Essas lapas foramnarcotizadas por óleode toxicidade agudado derramamento do Sea Empress de 1996em Milford Haven,País de Gales. A gran-de redução na suapopulação teve umefeito devastador emtoda a comunidadedos costões rochosos.Para obter mais infor-mações sobre osimpactos de derra-mamentos de óleo,consulte o IPIECA-IOGP, 2015a.

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envolvidos em detoxificação. Ao indicar a exposição, esses biomarcadores podem ser usados nomonitoramento ambiental como sistemas de alerta sobre possíveis danos ao meio ambiente.Em estudos de derramamento de óleo, esses métodos podem fornecer evidências complementarespara outros estudos ecológicos e ecotoxicológicos para descrever a extensão e a magnitude dosefeitos. No entanto, deve-se levar em consideração que outras condições podem induzir essesbiomarcadores de forma que seus níveis por si só não são evidências confiáveis de exposição aoóleo. Além disso, evidências de exposição não necessariamente indicam danos.

Boa parte de nossa compreensão dos efeitos toxicológicos (letais e subletais) agora vem de estudosde laboratório onde animais e plantas podem ser mantidos em condições controladas comdiferentes tipos de óleo e concentrações. Embora tais estudos tenham sido valiosos, é importanteobservar que é quase impossível replicar condições de campo realistas de forma adequada,incluindo habitat, processos ecológicos e a diluição contínua do óleo ao longo do tempo. Dessaforma, validar a verdadeira escala dos efeitos toxicológicos no campo é difícil, e interpretar seusignificado ecológico é ainda mais complexo. Diversos modelos computacionais foramdesenvolvidos usando um conjunto de dados laboratoriais e de campo para descrever a magnitudee a escala geográfica de efeitos toxicológicos no ambiente marinho. Resultados validados às vezescorrespondem àqueles dados empíricos, mas é necessário ter muita cautela e compreensão sobreas limitações do modelo ao chegar a conclusões.

A extensão à qual um animal, planta ou habitat será afetado pelo recobrimento dependerá daquantidade de óleo que o cobre, além de outros fatores descritos abaixo. Da mesma forma, adosagem e a duração da exposição a hidrocarbonetos são fatores críticos que afetam o nível deefeitos tóxicos que os hidrocarbonetos podem ter em um organismo. Concentrações de óleodisperso logo abaixo de uma mancha de superfície no mar aberto podem alcançar níveis que podemser altamente tóxicos se persistirem, mas a duração é normalmente curta a medida em que a manchase move e o óleo disperso é diluído. Concentrações do óleo em sedimentos de um litoral com óleopodem permanecer altas em algumas áreas dos sedimentos por mais tempo. As concentrações deóleo numa poça de maré do supralitoral com um pedaço persistente de piche podem ser baixas, mas os efeitos crônicos podem persistir por muitos anos. Cada situação terá diferentes efeitos emorganismos individuais e, dependendo da escala e da distribuição da contaminação, todos os efeitosindividuais podem ou não se combinar até um efeito em nível populacional ou perda de serviçosecossistêmicos. Tais impactos também são uma função das características da população,comportamento e conectividade. Todos esses fatores determinam a resiliência da população. Para obter mais informações sobre esse tópico, consulte o IPIECA-IOGP, 2015a.

Além dos efeitos diretos do óleo descritos acima, há muitos outros efeitos indiretos potenciais. Se um derramamento de óleo resultar na redução da população de uma determinada espécie, é possível que isso tenha consequências para populações de outras espécies na mesma cadeiaalimentar, acima ou abaixo. Da mesma maneira, o espaço físico deixado em aberto por uma espécieafetada pode ser ocupado por outra espécie oportunista, e quaisquer carcaças fornecem uma fonte de alimento de curto prazo para outros. As interações ecológicas complexas no nível decomunidade podem levar a muitos possíveis efeitos (consulte a seção sobre Impactos na vidamarinha e vida selvagem associada nas páginas 20–38 para obter exemplos). Também é possívelque efeitos indiretos de derramamentos de óleo tenham impactos a nível mais amplo deecossistemas, embora a possibilidade ainda esteja sob avaliação.

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IMPACTOS DE DERRAMAMENTOS DE ÓLEO NA ECOLOGIA MARINHA

Fatores que influenciam os impactos do óleo

Está claro que os impactos de um derramamento de óleo dependem amplamente dascircunstâncias. O volume de derramamento é um fator e não necessariamente o mais importante.Tipo e fonte de óleo, ação das ondas, profundidade de água, a quantidade de sedimentos na água,ventos e marés, temperatura e quão próximo o derramamento está da costa podem fazer adiferença entre um impacto não detectável e um impacto grave em muitos recursos. A combinaçãodesses fatores físicos e químicos também determinará quais habitats são expostos ao óleo e de queforma; por exemplo, uma mancha de óleo na superfície da água, uma nuvem de gotículas de óleonos primeiros metros da coluna de água, um floco de partículas com óleo no fundo marinho, umapluma de óleo subindo a coluna d’água depois de uma liberação no fundo, um recobrimento deóleo na linha de costa.

É característica do ambiente marinho que muitas espécies tendem a se agregar em interfacesfísicas, entre terra e mar (litorais), ar e água (superfície do mar) ou onde o gelo entra em contatocom a água. O óleo também tende a se concentrar nessas interfaces. Se o óleo chegar na costa,também serão importantes outros fatores ambientais, tais como ação das ondas, inclinação, tipo de substrato e a presença de características que trapeiem o óleo. Sua influência sobre a persistênciado óleo na costa será uma das considerações mais importantes sobre os impactos de longo prazo.Elas são descritas mais detalhadamente no IPIECA-IOGP, 2015a.

Além desses fatores ambientais, muitos fatores ecológicos e biológicos também influenciam asensibilidade, a resiliência e o poder de recuperação das espécies. Muitos desses podem ter efeitosem nível de comunidades e ecossistemas. Exemplos são fornecidos na seção sobre Impactos dosderramamentos de óleo na vida marinha e vida selvagem associada nas páginas 20–38.

Sazonalidade

A maioria das espécies passa por estágiossazonais em seu comportamento ou biologia (por exemplo, migração, reprodução e desova),especialmente em regiões temperadas e polares.Esses diferentes estágios podem afetarsignificativamente o quão vulneráveis elas são a um derramamento de óleo. A sazonalidademuitas vezes resulta na presença ouconcentração de uma determinada espécie ou estágio de vida em uma área ou um habitatem certo tempo do ano. Uma vez que ovos ejovens tendem a ser mais sensíveis que adultos(em parte porque possuem maior razãosuperfície/volume), as agregações sazonaispodem ser vulneráveis a derramamentos.

Função ecológica das principais espécies

Como mencionado na introdução, algumas espécies desempenham um papel essencial na ecologiade suas comunidades. Algumas espécies (por exemplo, mangues, plantas de marismas e corais)criam um habitat do qual muitas outras espécies dependem. Outras espécies podem ter um papelessencial como predadores, herbívoros, necrófagos e bioturbadores (remobilizando os sedimentosdo fundo). Um efeito relativamente pequeno em uma dessas espécies (às vezes chamadas deespécies-chave) podem ter um efeito sobre o resto da comunidade.

Abaixo: pequenas tordas-anãs, como a maioria dos pássa-ros do Ártico, sãoaltamente sazonaisem sua biologia ecomportamento. Elesmigram para o norte,para o Ártico, na pri-mavera para se repro-duzir em grandescolônias e se alimen-tam de pequenoscrustáceos do gelo.No inverno, elesmigram para o sul, no norte do Atlântico.

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Fatores de modo de vida

Há diversas características biológicas que podem fazer com que uma espécie seja mais ou menosapta para se recuperar rapidamente de um derramamento de óleo. Entre eles, estão longevidade(tempo de vida), estratégia e capacidade reprodutiva (especialmente o tamanho da prole), potencialde mobilidade/dispersão (por exemplo, estágios juvenis planctônicos), taxa de crescimento, modode alimentação e distribuição geográfica. Dessa forma, se um derramamento afetar uma populaçãode uma espécie que vive muito tempo, com crescimento lento, poucos descendentes por ano erestritos a uma pequena área, a recuperação pode ser lenta mesmo se o impacto for moderado. Por outro lado, a população de uma espécie com características opostas provavelmente vai serecuperar rapidamente, mesmo se um grande número de indivíduos forem mortos pelo óleo. Tais espécies são consideradas resilientes. Algumas espécies com tais características podem seroportunistas, aproveitando as condições de estresse que atrapalham as espécies menos resilientes, e podem colonizar e dominar o habitat rapidamente. Na verdade, o aumento notável de taisespécies é uma indicação de que um impacto ocorreu. Conforme a contaminação diminui e asespécies afetadas recolonizam a área, a comunidade vai recuperar gradualmente seu equilíbrionatural, às vezes por meio de uma série de estágios sucessionais. Entre os exemplos de espéciesoportunistas (discutidos detalhadamente na próxima seção), estão as algas verdes efêmeras emcostões rochosos e algumas espécies de poliquetas de sedimentos inconsolidados.

Saúde e condição

Organismos, populações e até mesmo comunidades e ecossistemas que já estão sob estresse poroutra causa podem ser afetados de forma particularmente severa por um derramamento de óleo.Esse é o conceito de 'impacto cumulativo'. Aves marinhas migratórias, por exemplo, serão maissensíveis aos efeitos do óleo se não se recuperarem do clima extremo durante sua jornada.Múltiplos derramamentos de óleo no mesmo local também reduzem progressivamente a condiçãoe a resiliência das comunidades e do ecossistema, resultando em impactos de longo prazo.

Além do já mencionado, algumas espécies são simplesmente mais resistentes a impactos dacontaminação do óleo do que outras, em função de sua anatomia, fisiologia, comportamento eoutros aspectos de sua complexa biologia. Consulte a seção nas páginas 20 a 38 para obter exemplos.

Impactos de longo prazo e recuperação

Não obstante os impactos de múltiplos derramamentos no mesmo local (indicados em Saúde econdição, acima), a maioria dos derramamentos de óleo é de pequenos vazamentos de consequêncialimitada. Além disso, para a maioria dos derramamentos de óleo significativos, os impactos ecológicossão limitados em magnitude e duração, com alguns poucos efeitos detectáveis durando mais de um ou dois anos. Mesmo no caso de grandes derramamentos, a maioria dos habitats marinhos epopulações que foram expostos ao óleo se recuperam rapidamente, e quaisquer impactos de longoprazo são normalmente limitados a áreas relativamente pequenas. Onde impactos de longo prazoforam descritos, a causa principal é a persistência do óleo, normalmente na forma de resíduospesados ou incorporado aos sedimentos lamosos, e muitas vezes em habitats abrigados (protegidosda ação das ondas). Onde não houver a persistência do óleo (por exemplo, na maioria das outras áreasafetadas pelo derramamento), a recuperação é normalmente rápida e limitada apenas pela velocidadede processos naturais. Outras causas de possíveis efeitos de longo prazo incluem uma respostaexcessivamente agressiva (por exemplo, danos físicos ao habitat causados pela atividades de limpeza),mortalidade significativa de uma espécie de tempo de vida longo (isso é, espécie que levam muitotempo para se reproduzir e retornar aos níveis populacionais anteriores ao derramamento) e outrosfatores que reduzem no lento recrutamento da população afetada (por exemplo, populações que sãogeograficamente isoladas). Exemplos de cada um desses casos são fornecidos na seção a seguir.

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IMPACTOS DE DERRAMAMENTOS DE ÓLEO NA ECOLOGIA MARINHA

Qualquer que seja a magnitude ou a escala do impacto, a recuperação natural ocorrerá, emborahaja um debate contínuo sobre quanto tempo o processo leva em muitas situações. Reconhecer as etapas iniciais da recuperação é tarefa relativamente simples, mas muitas vezes é difícil descreveras etapas posteriores de forma precisa. Na maioria dos casos, é difícil estabelecer quando arecuperação está concluída e os cientistas normalmente são conservadores em suas análises. Umdesafio significativo é que não há uma definição amplamente aceita de recuperação ou recuperado.Tradicionalmente, e em uma boa medida até hoje, populações e comunidades são descritas emtermos da abundância e/ou biomassa de cada uma das espécies reconhecíveis. Dessa forma, alógica sugere que a recuperação pode ser descrita simplesmente como o retorno a níveis debiomassa ou abundância pré-existentes para cada espécie. No entanto, é conhecido que osrecursos biológicos e muitos fatores ambientais que caracterizam os habitats biológicos estão emum estado de fluxo contínuo e bastante imprevisível. Por essa razão, não se pode esperar que umrecurso afetado necessariamente volte ao que era antes do derramamento; da mesma forma, não é possível prever exatamente como o recurso em questão seria caso não tivesse sido afetado peloderramamento. Definições atuais de recuperação muitas vezes se referem à função ecológica e/ouecossistêmica pela espécie/população/comunidade no ambiente como um todo. Duas dessasfunções que são amplamente reconhecidas como sendo importantes para as comunidades eecossistemas são a biodiversidade (a variedade de vida) e a produtividade (a quantidade de matériabiológica criada por unidade de tempo).

material orgânico solto

buracos e tocas

serapilheira, incluindo fragmentos de folhas

serapilheira, incluindo fragmentos de folhas

raízes vivas

raízes afetadas

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Local A, cenário 1: derramamento de óleo

Local A, cenário 2: sem derramamento

Local B, área de referência

Figura 4 Exemplo de flutuações naturais na função ecológica em dois locais próximos e ospossíveis impactos de um derramamento de óleo, com recuperação subsequente, em um deles

Figura 3 Duas amostras de sedimento retiradas de um manguezal após um derramamento de uma refinaria no Panamá em 1986

Os locais A e B possuem diferentescaracterísticasambientais, de formaque medições da função ecológica nãopodem ser diretamen-te comparadas emnenhum determinadoponto no tempo; noentanto, tendênciasgerais em função sãosimilares, possibilitan-do alguma avaliaçãoda recuperação.

Óleo de um derrama-mento da refinaria noPanamá afetou man-guezais e penetrou nosedimento. Essa conta-minação persistente se tornou uma fonte decontaminação crônicapor óleo que afetou umrecife de coral próximopor alguns anos após o ocorrido.

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Impactos dos derramamentos de óleo na vida marinha

Plântcon

O termo plâncton inclui micróbios (bactérias, etc.), o fitoplâncton (algas pequenas, muitas vezesunicelulares) e o zooplâncton (principalmente crustáceos pequenos, mas também águas-vivas eoutros animais), além de esporos, ovos e larvas de outras plantas e animais (algas, invertebrados e peixes). As densidades do plâncton são maiores nas águas costeiras onde concentrações denutrientes são suficientemente altas para sustentá-los e perto de populações de adultos. Essagrande biomassa difusa está na base da maioria das cadeias alimentares marinhas.

Organismos planctônicos são relativamente sensíveis a efeitos tóxicos de exposição ahidrocarbonetos, especialmente a frações solúveis na água e pequenas gotículas de óleo, e estudoslaboratoriais descreveram um amplo conjunto de efeitos agudos, crônicos e subletais em diversasespécies e estágios de vida. No entanto, a maioria dos estudos do plâncton marinho identificou umrápido retorno à composição e densidades normais da comunidade depois que concentrações deóleo na água retornaram aos níveis iniciais. Sua capacidade de recuperação rápida se deve a curtostempos de geração, à produção de grandes números de ovos e juvenis, distribuição em grandesáreas e rápida troca de água. Poucos estudos descreveram os efeitos sobre densidades de espéciesplanctônicas que durassem mais de poucos dias ou semanas. Por exemplo, estudos após onaufrágio do petroleiro soviético Tsesis em 1977, durante o qual 1.000 toneladas de óleocombustível de classificação média vazaram no Mar Báltico, mostraram que a biomassa dozooplâncton diminuiu significativamente perto do acidente durante os primeiros dias depois doderramamento, mas foi restabelecida dentro de cinco dias. A contaminação do zooplâncton poróleo foi registrada por mais de três semanas e foi sugerido que um aumento de curto prazo naprodução primária e na biomassa do fitoplâncton na área afetada ocorreu devido a diminuição dastaxas de alimentação do zooplâncton.

Possíveis preocupações com certas espécies e estágios de vida vulneráveis permanecem. Algumasespécies de peixes possuem populações geneticamente isoladas que desovam em locaisespecíficos e possuem ovos ou larvas planctônicos que podem ser vulneráveis. Se um grandederramamento ocorreu na mesma área e na mesma época da desova ou do desenvolvimento pós-desova, é possível que haja mortalidade significativa entre ovos ou larvas. Devido ao grandenúmero de ovos produzidos pela maioria dos peixes e à pequena proporção que precisa sobreviverpara manter os estoques adultos, ainda é pouco provável que um derramamento tenha umimpacto perceptível na população de peixes. Um exemplo recente de tal preocupação envolveAtuns do Atlântico no Golfo do México; é sabido que eles desovam na área que se sobrepõe

O plâncton varia detamanho. Aquelesperto da superfície sãovulneráveis e sensíveisa concentrações eleva-das de hidrocarbone-tos sob uma manchade óleo. No entanto,durante a maioria dosderramamentos emáguas oceânicas, aexposição do plânctoné de curto prazo e arecuperação é rápida.

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IMPACTOS DE DERRAMAMENTOS DE ÓLEO NA ECOLOGIA MARINHA

parcialmente à região do mar afetada pelo óleo liberado pelo blowout no poço de Macondo em2010, mas depositam ovos que boiam na superfície. Estudos laboratoriais na Austrália mostraramque hidrocarbonetos podem afetar o desenvolvimento de embriões de atum, fornecendo umpossível mecanismo de efeitos. No entanto, os resultados publicados de estudos de campo queinvestigaram atuns no Golfo do México não apresentaram evidência de efeitos.

Vida no fundo marinho

Sedimentos, com diversas composições de lama, areia e cascalho, integram a maior parte doshabitats do fundo marinho em áreas offshore, enquanto fundos rochosos e de matacões são maiscomuns perto da costa. A diversidade de habitats é tão grande quanto aquela encontrada em terra.Alguns habitats são dominados, ou até mesmo formados, por certas espécies ou grupos deespécies (por exemplo, kelps, bancos de gramíneas, bancos de mexilhões e recifes de corais).Bancos de algas e gramas marinhas são encontrados apenas em águas relativamente rasas onde há luz suficiente (isso é, no máximo algumas dezenas de metros), mas comunidades animais estãodistribuídas em todas as profundidades.

A vulnerabilidade das comunidades do fundo marinho ao óleo de derramamentos na superfíciedepende principalmente da profundidade da água, uma vez que concentrações ecologicamentesignificativas de óleo dissolvido ou disperso de manchas de superfície raramente chegam a mais de 10 metros de profundidade. Além disso, é incomum que altas concentrações permaneçam num determinado local do fundo por muito tempo. A medida que a mancha se move e sofreintemperismo ao longo do tempo, diminui ainda mais o potencial para que as concentrações dehidrocarbonetos possam ter efeitos tóxicos mesmo atingindo fundos rasos. Por exemplo, naGuerra do Golfo em 1991, o óleo liberado no norte do Golfo Pérsico foi para o sul até águas sauditase passou diretamente sobre recifes de corais rasos sem efeitos detectáveis.

Blowouts submarinos podem ter maior potencial para impactos no fundo marinho em águasprofundas dependendo das circunstâncias. Durante o derramamento de óleo no poço de Macondo,no Golfo do México, dispersantes químicos foram aplicados na cabeça de poço para melhorar adispersão e aumentar a biodegradação do óleo. Estudos demonstraram que correntes de águasprofundas transportaram gotículas de óleo disperso acima do fundo marinho por váriosquilômetros. No entanto, as concentrações de óleo eram baixas; o amplo monitoramento da plumasubmarina identificou níveis de hidrocarbonetos voláteis de no máximo 1,2 ppm (partes pormilhão) logo após um raio de 1 km. da cabeça de poço, e níveis inferiores a 0,1 ppm em distâncias

Bancos de gramínease “kelps” tambémcrescem em águasrasas e são caracteri-zados por alta biodi-versidade e produtivi-dade. As plantas nãosão especialmentesensíveis a altas con-centrações de hidro-carbonetos, mas muitos dos animaisque vivem nesseshabitats são, incluin-do peixes jovens.

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superiores a 20 Km. Os valores equivalentes para semi-voláteis (compostos orgânicos que podemevaporar em temperaturas ambientes, mas apenas lentamente) foram inferiores a 0,5 ppm nomáximo e inferiores a 0,01 ppm em distâncias superiores a 10 km. Dessa forma, peixes ecomunidades bentônicas podem ter sido expostos a concentrações elevadas, mas há poucasevidências de que o óleo disperso tenha contaminado os sedimentos marinhos. Estudoslaboratoriais e evidências empíricas indicam que, se os dispersantes não tivessem sido usados, mais óleo teria chegado à superfície e a exposição do fundo marinho poderia ter sido reduzida, masos impactos nos recursos costeiros e na superfície teriam sido maiores. Uma análise de benefícioambiental líquido (consulte a seção com título Gerenciamento de resposta de derramamento de óleoe o impacto potencial nas páginas 39–43) concluiu que a relação ideal (trade-off) era adequada,embora essa não seja uma opinião universalmente aceita. Outras circunstâncias que podem resultarem contaminação do fundo marinho em águas profundas incluem derramamentos de óleo de altadensidade que sofrem intemperismo e afundam, como descrito nas páginas 12–13.

No improvável evento de concentrações elevadas de óleo na água chegarem ao fundo marinho,quaisquer organismos diretamente expostos à coluna de água ficarão vulneráveis, incluindo plantase animais que vivem na superfície do fundo marinho, conhecidos coletivamente como epibiota, e quaisquer animais que escavem de modo a puxar ativamente a água para suas tocas ou tecidosatravés da alimentação ou irrigação. A maioria dos outros animais que vive no sedimento estaráparcialmente protegida, exceto se o óleo for significativamente incorporado no sedimento, algoque só acontece em certas circunstâncias (consulte Sedimentação na página 12).

A epibiota de águas rasas pode ser vulnerável aconcentrações de óleo perto do fundo, mas muitos serãorelativamente insensíveis até mesmo a altas concentrações,uma vez que a duração da exposição é geralmente curta. Os efeitos do óleo nas macroalgas, como os kelps e muitasoutras espécies que dominam os substratos consolidadosem águas rasas são pequenos devido ao seu revestimentomucilaginoso que resiste à absorção de óleo. Muitosinvertebrados sésseis, mesmo alguns que se alimentam porfiltração ou que capturam partículas da coluna da água eassim acumulam gotículas de óleo prontamente, comoesponjas e ascídias, também sobreviverão aparentementenão afetados pelas elevadas concentrações. Pode ser queesses animais sejam temporariamente afetados por uma alta

dose aguda de hidrocarbonetos (como mencionado na seção Impactos ecológicos e recuperação, naspáginas 15–19) mas não morrerão. Mexilhões são outro exemplo: eles coletam prontamente o óleo

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Habitats bentônicosem profundidadesabaixo de 10 a20 metros possuempouca ou nenhumavulnerabilidade aoóleo disperso dederramamentos de superfície.

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Uma alta diversidadede vida marinha tam-bém é encontrada no mar profundo.Ela não é vulnerável a derramamentos de superfície, mas há potencial paraexposição aos hidro-carbonetos por derra-mamentos abaixo da superfície.

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IMPACTOS DE DERRAMAMENTOS DE ÓLEO NA ECOLOGIA MARINHA

da coluna de água e o acumulam em seus tecidos, mas são resistentes aos efeitos tóxicos. Diversosefeitos subletais em seu crescimento, reprodução e outros efeitos nos tecidos foram descritos, masdepois que o óleo se vai e seus tecidos ficam limpos (um processo chamado de depuração que podelevar meses), eles normalmente sobrevivem bem, sem efeitos detectáveis nas populações.

No entanto, alguns grupos de animais bentônicos são sensíveis a até mesmo a curtas exposições de concentrações relativamente baixas de hidrocarbonetos na água, incluindo bivalves que vivementerrados e pequenos crustáceos chamados de anfípodes.

Alguns bivalves filtradores que vivem emsedimentos na região costeira reagirão a uma dose de óleo na água ao se ejetaremdos sedimentos. Depois de algunsderramamentos no litoral, grandes númerosde bivalves afetados (por exemplo, ameijôase berbigões) foram transportados para o

litoral e depois se concentraram na zonaentre-marés. Alguns bivalves podem viver por muitos anos ou décadas, e se umaproporção significativa de sua população for perdida, eles podem levar certo tempopara se recuperarem. Outros animaisbentônicos que puxam a água para suas tocase foram levados para praias depois dederramamentos incluem ouriços do mar ecaranguejos da espécie Corystes cassivelaunus.

Alguns anfípodes (dos quais há um grande número de espécies adaptadas para uma grandevariedade de habitats) também são filtradores, e muitos estudos relataram impactos em suaspopulações relacionados a derramamentos. Alguns anfípodes são muitas vezes usados comoorganismos de testes em estudos de toxicidade de sedimentos uma vez que foram identificadoscomo bons indicadores de contaminação. Anfípodes de águas rasas de regiões tropicais etemperadas normalmente têm tempo de vida mais curto com várias gerações por ano, de formaque a recuperação de suas populações é normalmente rápida. No entanto, durante oderramamento de óleo do Amoco Cadiz em 1978, houve uma queda significativa e relativamentelocalizada nas densidades previamente altas de um anfípode tubícula (Ampelisca), e consequentealteração no restante da comunidade. Foram necessários 15 anos para as altas densidades deanfípodes retornarem aos seus níveis normais, e, para uma estrutura de comunidade similar àquelapresente antes do derramamento ser restabelecida.

Impactos nas populações costeiras de anfípodes e de bivalves que vivem enterrados foramrelatados após muitos derramamentos próximos à costa, mas muitas vezes houve outros efeitosdetectáveis nas comunidades bentônicas. Até certo ponto, isso pode ocorrer devido às dificuldadeslogísticas de amostragem e existência de dados pré-derramamento para comparação, mas esse nãofoi o caso no derramamento do Sea Empress de 1996 no sudoeste do País de Gales, Reino Unido,onde havia diversos programas de monitoramento em andamento por vários anos. Cerca demetade das 72.000 toneladas de óleo cru derramado foram dispersas natural e quimicamente, e estudos do fundo marinho demonstraram drásticas reduções nas densidades de pequenoscrustáceos (anfípodes e cumáceos) nas áreas próximas ao acidente, mas nenhum outro efeitodetectável foi identificado nas comunidades bentônicas. Estudos de monitoramento demonstraramum padrão claro de recuperação de anfípodes ao longo de um período de cinco anos, com

Um grande númerode berbigões, amei-jôas e outros animaisenterrados se ejeta-ram de sedimentosno infralitoral rasodepois da exposição a elevadas concentra-ções de óleo na águadurante o derrama-mento de óleo do Sea Empress em1996. Alguns foramlevados para praiasnas proximidades.

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densidades similares aos níveis de pré-derramamento em 2000. Grandes números de bivalves e ouriços foram levados para algumas praias, mas estudos pós-derramamento identificaram quegrandes populações sobreviveram. Não houve evidência de contaminação persistente pelo óleocru, mas recentes estudos forenses dos sedimentos em Milford Haven identificaram concentraçõesdetectáveis do óleo combustível pesado que também foi derramado do petroleiro. Até hoje, não houve estudos para avaliar se essas concentrações possuem qualquer toxicidade crônica.

Impactos relevantes ocorreram em organismos bentônicos emalguns derramamentos, onde a combinação de dose e duração da concentração de óleo na água foi suficiente para causarmortalidades. Um exemplo ocorreu em 1996, onde a barcaça-tanque de North Cape naufragou na costa de RhodeIsland, nos EUA, liberando cerca de 3100 metros cúbicos de óleopara aquecimento doméstico, um produto relativamente leve. Um grande número de juvenis de lagosta, ameijôas e outrasespécies também morreram pela exposição a altas concentraçõesde óleo naturalmente disperso. A maioria dos impactos ocorreuem áreas perto da costa com no máximo alguns metros deprofundidade. Lagostas adultas não foram significativamenteafetadas uma vez que migravam para águas mais profundas para o inverno quando o derramamento ocorreu; dessa forma, eraesperado que o suprimento de larvas de lagostas para recuperação

da população também não seria afetado. Ainda assim, com quase três milhões de juvenis de lagostaslevadas para a costa, quase um quinto destas entre dois e sete anos, estimou-se que a recuperaçãopoderia levar muitos anos. Um programa de recuperação dos estoques foi realizado, mas estudosdemonstraram que a recuperação não ocorreu exatamente como esperado devido à grandeexploração pela atividade de pesca e outros impactos. A recuperação das ameijôas também deverialevar vários anos e um programa de restauração para diversas espécies foi executado.

Recifes de corais tropicais também foram afetados pelos derramamentos de óleo, e os efeitos de duração mais longa ocorreram onde houve a mortalidade dos próprios corais. No entanto, a sensibilidade varia entre as espécies de corais e, novamente, a maioria parece não serespecialmente sensível ao aumento de curto prazo nas concentrações de óleo. Recifes emprofundidades de mais de 10 metros provavelmente não terão uma exposição ao óleo de umderramamento de superfície que cause impactos significativos. Às vezes, outros invertebrados quevivem nos recifes são afetados mais do que os corais, e outras vezes não há impactos registrados.Um dos derramamentos tropicais mais bem estudados ocorreu em uma refinaria no Panamá em 1986, onde 38.000 toneladas de óleo cru médio de um tanque de armazenamento rompido

Grandes números deseres marinhos quevivem em águas rasasforam mortos peloóleo de aquecimentodoméstico natural-mente disperso doderramamento deNorth Cape de 1996.

Recifes de corais tro-picais podem formaramplas áreas de ele-vada biodiversidadeem águas rasas, ondepodem ser vulnerá-veis e sensíveis a der-ramamentos de óleo.

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IMPACTOS DE DERRAMAMENTOS DE ÓLEO NA ECOLOGIA MARINHA

afetaram os recifes de corais de águas rasas no infra e mediolitoral. Isso causou danos significativosaos corais, em profundidades de cerca de seis metros, e a recuperação foi lenta devido aos efeitoscrônicos do óleo desprendido dos sedimentos com muito óleo em um manguezal próximo.

No estudo TROPICS de 1984, um experimento de campo de grande escala foi realizado paracomparar os efeitos do óleo quimicamente disperso com aqueles do óleo não dispersado.Os resultados mostraram redução de curto prazo (um ano) na cobertura de corais e de outrosinvertebrados e peixes territoriais na área do óleo dispersado. Houve também reduções menores na cobertura de corais a curto prazo na área de óleo não disperso, mas a cobertura posteriormenteaumentou em ambas as áreas. Isso ocorre em contraste a impactos mais óbvios e de longo prazoem manguezais na área de óleo não disperso.

Em situações nas quais quantidades significativas de óleo são incorporadas aos sedimentoslamosos, ou onde um resíduo oleoso que tenha afundado forme uma camada no fundo marinho,ele pode persistir por anos uma vez que a biodegradação pode ser lenta devido à falta de oxigênio.A toxicidade de óleo pode afetar a comunidade bentônica dos sedimentos e uma camada de óleono fundo pode também agir como uma barreira para a colonização. Com o tempo, a toxicidadereduzirá a medida em que o óleo sofre intemperismo, embora certa toxicidade possa continuarpresa abaixo da superfície. O caso do derramamento de óleo do Amoco Cadiz em 1978 é o exemplomais grave registrado. Concentrações de óleo em sedimentos argilosos de dois estuários atingiramaltos níveis e poliquetas oportunistas se tornaram dominantes por alguns anos até a toxicidade dossedimentos ser reduzida. Também ficou demonstrado que o óleo causou danos em tecidos e teveoutros efeitos subletais em uma espécie de linguado, os quais ainda eram evidentes depois de oitoanos. Outros exemplos, com concentrações mais baixas nos sedimentos e impactos menos graves,incluem bancos de gramíneas de águas rasas afetados pelo derramamento do Exxon Valdez de1989, e sedimentos em profundidades relativamente maiores (30 metros) afetados peloderramamento do Tsesis de 1977 no Mar Báltico. Exemplos de impactos de óleo afundado incluemo derramamento do Haven, em 1991, em Gênova, na Itália, onde grandes quantidades de resíduosqueimados a partir das explosões e incêndios na embarcação chegaram fundo marinho e formaramuma camada sólida que foi então parcialmente colonizada por epibiontes. Estudos tambémencontraram evidência de efeitos tóxicos subletais em tecidos de linguados a partir de amostrascoletadas na área. No entanto, esse não é um exemplo representativo do impacto de resíduos quepermanecem após uma queima in-situ controlada de óleo derramado, onde o óleo flutuante écontido e queimado em uma área mais ampla resultando em baixas concentrações de resíduosespalhados que podem alcançar os sedimentos de fundo.

Comunidade bentônicas em mares polares possuem claras diferenças em relação aquelas em mares mais quentes, uma vez que há uma maior proporção de espécies de vida longa ecrescimento lento. A falta de estudos de caso significa que é difícil fazer previsões confiantes sobre os impactos de óleo que atinja esses habitats, mas estudos de comunidades bentônicas desedimentos inconsolidados durante o experimento de derramamento de óleo da Ilha de Baffin(consulte a página 42) identificaram efeitos muito limitados do óleo disperso ou não disperso, sem efeitos detectáveis depois de dois anos na área mais afetada. Alguns autores sugerem quecomunidades bentônicas em mares polares podem ser tão sensíveis quanto aqueles em climastemperados; no entanto, se houver impacto, a recuperação pode ser prolongada pelos processosecológicos mais lentos. Um estudo do derramamento de óleo diesel do Nella Dan em 1987 na área australiana da Antártida indicou que esse incidente levou a altas taxas de mortalidade emcomunidades de invertebrados de habitats rochosos no infra e médio litoral rasos. As comunidadesda zona entre marés se recuperaram rapidamente, mas as comunidades de animais que vivemassociados aos talos dos kelps apresentaram alguns efeitos de longo prazo. Sete anos após oderramamento, a estrutura da comunidade destes talos nas amostras de áreas com muito óleomostrou níveis moderados de recuperação, incluindo as populações de espécies sensíveis.

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Da mesma forma, comunidades bentônicas também são caracterizadas por espécies que vivemmuito tempo e podem levar bastante tempo para se recuperar dos impactos de um derramamento.Estudos no Golfo do México após o incidente do poço de Macondo, em 2010, identificaram áreasde contaminação de sedimentos nas proximidades da cabeça de poço no primeiro ano após oevento, juntamente com redução de diversidade das comunidades bentônicas naquelas áreas naépoca e um pequeno número de corais de águas frias em condições precárias. No entanto, amaioria dos corais de águas frias pareceu não ter sido afetada pelo incidente e evidências sãoatualmente muito limitadas para se chegar a conclusões sólidas sobre os efeitos de longo prazo do derramamento ou para traçar conclusões sobre os impactos de vazamentos no fundo.

Peixes e seus estoques

Esta seção se concentra nos peixes, mas alguns moluscos e crustáceos que são componentesregulares das pescarias também são discutidos. A maioria dos crustáceos e moluscos sãoimportantes em comunidades bentônicas e são discutidos acima. Um número relativamente baixode espécies de peixe contribui para pescarias comerciais, mas todos desempenham um papelimportante em uma ou mais cadeias alimentares do ecossistema. A maioria, mas não todos, podemser enquadrados em um de três agrupamentos ecológicos: pelágicos, demersais ou bentônicos.l Peixes pelágicos, que incluem anchovas, arenques, atuns e lulas, vivem em águas oceânicas,

normalmente se alimentando de plâncton e outros peixes pequenos, e tendem a apresentar alta mobilidade. Muitos são migratórios, movendo-se para diferentes áreas em diferentes épocasdo ano ou em diferentes etapas do seu ciclo de vida.

l Peixes demersais, incluindo o bacalhau, o vermelho, o bodião e muitos tubarões, passam a maiorparte de suas vidas próximo ao fundo, onde encontram a maior parte de seu alimento, mastambém se movem pela coluna d’água. Eles não têm tanta mobilidade quanto as espéciespelágicas, e embora alguns sejam migratórios, a maioria passa longos períodos na mesma área.

l Peixes bentônicos, incluindo todos os linguados, bagres, peixe-cabra e a maioria dos mariscosvivem associados ao fundo, e raramente nadam subindo a coluna d’água. Eles também sãonormalmente menos ativos do que peixes pelágicos e demersais, e muitos possuem fortesligações comportamentais com um determinado local.

Outros agrupamentos ecológicos úteis são os peixes anádromos e catádromos, incluindo o salmão,o esturjão e a enguia, que migram para água doce ou para o mar, respectivamente, para desovar.Esses agrupamentos são relevantes ao considerar a vulnerabilidade a diferentes situações dederramamento de óleo.

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IMPACTOS DE DERRAMAMENTOS DE ÓLEO NA ECOLOGIA MARINHA

Como descrito acima para a vida associada ao fundo, a probabilidade de peixes ou moluscos ecrustáceos serem expostos a hidrocarbonetos solúveis na água ou gotículas de óleo dispersas de um derramamento de óleo na superfície depende muito da profundidade da água na qual elesvivem. É por essa razão que muitos países normalmente só permitem a pulverização de dispersantesquímicos em uma mancha de superfície em águas com profundidades superiores a 10 a 20 metrossem a necessidade de um estudo detalhado de recursos marinhos específicos. A lógica por trás dissoé que a maior dispersão do óleo nas águas profundas provavelmente não afetará as populações depeixes ou outros recursos importantes nessas áreas; por exemplo, espécies bentônicas e demersaisficarão abaixo das profundidades que concentrações elevadas de óleo provavelmente irão alcançar,enquanto peixes pelágicos evitam águas de superfície para reduzir o risco de serem pegos por aves marinhas e têm tanta mobilidade que há pouca probabilidade de serem expostos a altasconcentrações por longos períodos de tempo. Além disso, há certas evidências de estudos comsalmões contaminados e experimentos de laboratório que peixes podem detectar (usandoreceptores de paladar sensíveis na linha lateral ao longo de seus flancos) e vão evitar a águacontaminada com óleo; no entanto, há também evidências de que outros estímulos vão anular taispadrões de evitação. Quaisquer que sejam as razões, fica claro que a probabilidade de ocorrermortalidade de peixes por derramamentos de óleo em mar aberto é baixa, independentemente de dispersantes químicos serem usados ou não; não há registros publicados de mortalidadesignificativa de peixes em áreas offshore e muito poucos em áreas costeiras abertas.

Conforme considerado na seção da vida no fundo marinho (páginas 21-26), blowouts submarinospodem fazer com que peixes de águas profundas sejam expostos a concentrações dehidrocarbonetos, mas o potencial de efeitos tóxicos não é conhecido. Sabe-se pouco sobre abiologia de peixes de águas profundas e sua resposta à contaminação de hidrocarbonetos.O monitoramento durante o vazamento no fundo de Macondo em 2010 mostrou uma plumasubmarina em diluição cerca de 300 m acima do leito do mar, com concentrações de óleochegando a cerca de 1 ppm pouco acima de 1 km da cabeça do poço e menos de 0,1 ppm a 20 km,embora esses níveis tenham se sustentado enquanto o vazamento continuava. Dados sobre osefeitos de derramamentos de óleo do Ártico em peixes são muito limitados para fornecer muitasinformações sobre o potencial de recuperação e a vulnerabilidade relativa. Estudos de toxicidadeindicam que espécies do Ártico exigem um período maior de tempo para apresentar efeitosassociados com exposições ao óleo, mas sua sensibilidade é similar àquela de espécies temperadas.

O risco de exposição aumenta se um derramamento ocorrer em águas rasas e em qualquer outrasituação onde a taxa de diluição das concentrações de óleo seja limitada (por exemplo, em lagoas,estuários e baías). Outros fatores, descritos na seção do destino do óleo (páginas 9-14) também vão afetar as concentrações disponíveis de óleo disperso e dissolvido. Muitas espécies de peixesdemersais e bentônicos são adaptadas a viver em habitats de águas rasas, enquanto muitas outras se movem para águas rasas para reprodução e/ou desova. Algumasespécies são territoriais, especialmente na época reprodutiva, eapresentam pouca probabilidade de fugir mesmo se puderem. Algumasespécies migratórias passam por habitats costeiros rasos em grandesnúmeros em determinadas épocas do ano, tornando-as mais vulneráveisa um derramamento se coincidirem. Os estágios juvenis de muitospeixes, incluindo muitas espécies comerciais, são concentrados emhabitats de águas rasas como bancos de algas, kelps e manguezais onde alimentos são abundantes e podem se esconder de predadores.Essas áreas de berçário são muitas vezes destacadas em mapas desensibilidade a derramamento de óleo para auxiliar sua proteção portomadores de decisões de respostas a incidentes. Testes de toxicidadeem laboratório mostraram que ovos, larvas e juvenis de peixes, assimcomo com outros animais, são normalmente mais sensíveis ahidrocarbonetos do que adultos.

Para a maioria das espé-cies de peixes, os indiví-duos de cada estágio devida ocorrem num habi-tat diferente. Juvenis depeixes de muitas espé-cies passam seus primei-ros meses em habitatsvegetados rasos (menosde 10 metros) para evi-tar predadores. Essasáreas serão vulneráveisa hidrocarbonetos naágua por um derrama-mento de superfície.

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Dessa forma, um derramamento próximo à costa que resulte em concentrações elevadas econstantes de hidrocarbonetos em águas litorâneas tem maior risco de efeitos tóxicos naspopulações de peixes. Tais derramamentos ocorreram, por exemplo, no acidente com a barcaçaFlorida em 1969 na Baia de Buzzards, em Massachusetts, que ocorreu durante uma tempestade,resultando em 570 toneladas de óleo de aquecimento doméstico número 2 que se misturaram comas águas rasas costeiras e na morte de diversos peixes pequenos (não comerciais) e invertebradosbentônicos. O naufrágio do Amoco Cadiz em 1978 na região da Bretanha, na França, liberou221.000 toneladas de óleo cru leve em águas costeiras e matou um grande número de bodiões

Figura 5 Mapa de sensibilidade ambiental do norte da Califórnia. A área destacada em azul é conhecida como uma área de berçário para bodiões jovens — para obter mais detalhes, consulte o site da NOAA sobre Mapas de índice de Sensibilidade Ambiental (ESI)

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IMPACTOS DE DERRAMAMENTOS DE ÓLEO NA ECOLOGIA MARINHA

e galeotas. Estudos de população de peixes indicaram que uma classe etária de juvenis de solhas e linguados (ambos peixes achatados) foi perdidos em no mínimo uma área, mas não houveevidências de impactos subsequentes nos estoques pesqueiros. O derramamento do North Capede 1996, descrito na página 24, também resultou na morte de peixes.

Nenhum dos derramamentos acima, ou nenhum outro descrito na literatura disponível, resultouem impactos significativos nos estoques naturais de peixes comerciais. Isso não deve surpreender;mesmo no pior caso possível de um grande derramamento coincidindo com uma desova numaárea geograficamente isolada, seria extremamente improvável que uma proporção importante doestoque de adultos ficasse exposto a uma dose letal contínua de hidrocarbonetos. Embora sejamais provável que um número significativo de ovos, larvas e juvenis morram, a estratégiareprodutiva dos peixes possibilita grandes perdas de jovens, e qualquer redução ocorrida nosnúmeros de juvenis não seria detectável em relação ao nível natural das flutuações populacionais.

No entanto, o destino dos arenques do Pacífico no Alasca após o derramamento do Exxon Valdez de1989 inicialmente convenceram algumas pessoas de que os derramamentos de óleo podem terimpactos sérios sobre a pesca. Os arenques do Pacífico depositam seus ovos nos kelps em áreascosteiras rasas, e algumas dessas áreas de desova ficaram expostas ao óleo do derramamento doExxon Valdez. Quatro anos mais tarde, quando essa geração se juntaria aos estoques adultos, houveum colapso do estoque de arenque e o derramamento de óleo foi considerado por muitos como acausa óbvia. Depois de muitos anos de pesquisa, foi mostrado de forma inequívoca que doenças euma nutrição inadequada da população de arenques eram as causas e que o derramamento deóleo quase que certamente não teve um efeito significativo.

O impacto de derramamentos de óleo em populações locais de peixes menos móveis e mariscos foidescrito em casos raros; no entanto, a recuperação é normalmente rápida, exceto caso orecrutamento for lento, a espécie viva por muito tempo ou haja contaminação de óleo persistente econtínua. Por exemplo, altas concentrações de óleo na água do derramamento do Braer, em 1993,resultaram em uma completa perda de pequenos peixes costeiros territoriais (laibeque e peixe-carneiro-europeu) nas imediações do local do acidente, mas a recolonização começou depois de umano. Depois do derramamento de óleo da Guerra do Golfo, em 1991, os estoques de camarões naArábia Saudita diminuíram de forma dramática para 25% de seus níveis antes da guerra, devido a umproblema de desova. O derramamento foi considerado como a causa provável, mas um mecanismopara a falha não foi determinado,embora haja muitas teorias. O efeitofoi localizado, uma vez que a atividadepesqueira do Kuwait teve anosrelativamente bons em 1992 e 1993.Por outro lado, no Golfo do México,após o incidente com o poço deMacondo em 2010, estudos sobrebancos de gramas marinhas de águasrasas não identificaram efeitos do óleona abundância de juvenis, exceto poralgumas indicações de que elespodem ter se beneficiado dainterrupção da atividade de pesca.Neste incidente, a eficácia da respostasubmarina e offshore provavelmentefaria uma contribuição significativapara a proteção das populações depeixes nas águas costeiras rasas.

A mortalidade debodiões-reticuladosocorreu devido aconcentraçõesexcessivamente altas de óleo na água perto donaufrágio durante o derramamento do Braer de 1993.

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Efeitos subletais do óleo em peixes e moluscos foram descritos em experimentos laboratoriais e em amostras coletadas de áreas afetadas por derramamentos de óleo. Efeitos descritos a partir de experimentos incluem diversos impactos na reprodução (por exemplo, eclosão dos ovos,sobrevivência de larvas e anormalidades no desenvolvimento larval), funções fisiológicas (porexemplo, nado e taxas de alimentação), danos a tecidos (por exemplo, doenças de pele e contagensde células sanguíneas), indicadores de biomarcador de exposição e muitos outros. No entanto, deve-se notar que estudos laboratoriais podem não reproduzir de forma fiel as concentrações deóleo e durações de exposição normalmente encontradas no campo, e que apenas alguns dos efeitosmencionados aqui foram identificados como ocorrendo no campo após derramamentos reais.Evidências bioquímicas (biomarcadores) de exposição ao óleo foram mostradas em muitas espéciesapós diversos derramamentos, mas evidências de danos significativos em peixes ficaram muitolimitadas à histopatologia (danos aos tecidos) de linguados e outras espécies bentônicas que foramexpostas cronicamente a resíduos de óleo persistentes. Por exemplo, estudos recentes de killifish emmarismas afetados por óleo no incidente do poço de Macondo em 2010 mostraram certas evidênciasde efeitos sobre a morfologia dos tecidos, embora um outro estudo na Louisiana não tenhaencontrado diferenças entre as áreas com ou sem óleo quanto à composição de espécies,abundância ou tamanho dos peixes dessas marismas dois a três anos após o derramamento.

Impactos indiretos nas populações de peixes por meio de redução de disponibilidade de alimentossão outra consideração, especialmente se a presa principal (por exemplo, anfípodes) de um peixeou de qualquer outro estágio de vida dele tenha sido gravemente afetada por um derramamento.Tais impactos não teriam sido descritos ou detectados quando comparados com a variação naturale seriam, dessa forma, relativamente leves se estivessem ocorrendo.

De uma perspectiva de atividade de pesca, uma das maiores preocupações com um derramamentode óleo é o potencial de impregnação ou tainting, quando hidrocarbonetos absorvidos pelos tecidosdo peixe ou moluscos podem ser sentidos (odor e sabor). O processo de impregnação (tainting)ocorre com níveis muito baixos de hidrocarbonetos nos tecidos. Ele causa um gosto desagradávelque torna o peixe não comestível e, dessa forma, não adequado para o mercado. Isso pode resultarem perdas econômicas para a indústria da pesca, mas não afeta populações ou sua função ecológica.Nos peixes, os hidrocarbonetos são normalmente metabolizados dentro de dias ou semanas e osestoques voltam a ficar sem impregnação, com tempos maiores ocorrendo em peixes gordurososcomo o salmão. Em crustáceos e moluscos, que não são capazes de metabolizar hidrocarbonetosprontamente, o processo é mais lento e a impregnação pode persistir por meses ou até anos.

Mamíferos marinhos

Os mamíferos marinhos, incluindo cetáceos (baleias e golfinhos), focas, peixes-boi e lontras, sãodifíceis de serem estudados devido a relutância compreensível dos pesquisadores em capturá-losou de machucá-los de alguma forma no processo de coleta de informações. Dessa forma, dadosempíricos sobre os efeitos de derramamentos são limitados, e muitos são baseados em observaçõesremotas e análise de indivíduos mortos. No entanto, para a maioria dos mamíferos marinhos, onúmero de registros de animais mortos devidamente atribuídos a impactos de derramamentos deóleo tem sido pequeno. Muitos dos estudos mais detalhados sobre os mamíferos marinhos foramrealizados no Alasca após o derramamento de óleo do Exxon Valdez em 1989.

A exposição a óleo líquido na superfície do mar ou na costa é o principal risco, e os mamíferosmarinhos que estão mais vulneráveis, se um derramamento ocorrer na área onde vivem, são aslontras e, em menor escala, as focas. Mesmo pequenas quantidades de óleo vão sujar rapidamente o pelo das lontras e afetar suas propriedades de isolamento térmico e repelência da água. A medidaque o animal tenta se limpar, ele também pode ingerir óleo, algo que pode causar danos em tecidos

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IMPACTOS DE DERRAMAMENTOS DE ÓLEO NA ECOLOGIA MARINHA

The sensitivity of orca,dolphins and othercetaceans to oil spillsappears to be small.

internos. Após o derramamento do Exxon Valdez, no mínimo mil lontras foram vistas com óleo e 871 lontras mortas foram recolhidas. A recuperação da população foi complicada porque, comotodos os mamíferos, a população regional é composta de muitas populações locais, cada qual comsua própria dinâmica populacional e social, e cada uma sujeira a fatores ambientais locais. Algumaspopulações locais se recuperaram em alguns anos, enquanto outras levaram mais tempo ou, nomínimo em uma área, caíram ainda mais por razões que não estão claras e que podem não estarrelacionadas ao derramamento. Evidências de estudos de biomarcadores de exposição contínua daslontras aos HPAs, até nove anos após o derramamento, foram vinculadas por alguns pesquisadoresaos resíduos de óleo persistente na zona entremarés, mas esses resíduos não possuem maistoxicidade biodisponível o suficiente para teralgum efeito ecológico significativo. Lontrastambém foram uma fonte de preocupação em outros derramamentos; por exemplo, oderramamento do Braer de 1993 ao largo das Ilhas de Shetland, por meio de impactosdocumentados do derramamento que foramrelativamente limitados. As populações delontras europeias podem ser menos vulneráveisa derramamentos marinhos uma vez que elasdependem mais de água doce.

Focas, leões do mar e outros pinípedes não contam com pelos longos para isolamento, emboraa maioria das focas tenha pelo curto que pode ser sujo pelo óleo. Seus corpos são então

relativamente insensíveis ao óleo, especialmente no caso das espécies que passam a maior parte de seu tempo na água. No entanto, todos os pinípedes passam parte de seu tempo na costa, muitasvezes agregados em áreas de reprodução bemestabelecidas, onde seriam mais vulneráveis aqualquer óleo que entre em contato com acosta. A contaminação por um óleo viscosopode, dessa forma, sobrecarregar quaisquerindivíduos que tenham azar o suficiente deserem afetados. Cadáveres recobertos de óleode um pequeno número de focas,especialmente filhotes, foram identificados emalguns derramamentos, mas não o suficientepara apresentar algum efeito significativo sobreas populações. Em alguns casos, autópsiasidentificaram que os animais já estavam mortos

Esquerda: muitaslontras vivem nacosta, e seu peloabsorve rapidamentequalquer óleo naágua ou na costa.

Abaixo: pinípedes,como esses lobosmarinhos daNova Zelândia, se arrastam para oslitorais para descan-sar entre períodos de alimentação.

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por outras causas antes de ficarem recobertos com o óleo.Um efeito subletal mais comum dos derramamentos de óleo em pinípedes vem da exposição de áreas sensíveis da pele(membranas mucosas) a hidrocarbonetos na superfície da águaquando o óleo ainda está fresco. Observações de animais comfocinhos e olhos inflamados e escorrendo foram relatadas apósdiversos derramamentos, embora a incidência natural de doençasrespiratórias possa complicar a interpretação. O derramamento do San Jorge, em 1997 no Uruguai, levou à contaminação de umaimportante colônia de lobos marinhos, com preocupações sobreos impactos e possível perturbação por técnicas agressivas delimpeza da costa. Embora o derramamento tenha levado a mortesde cerca de 5.000 filhotes, essa taxa estava dentro da variação demortalidade natural e por captura. O uso de limpeza com baixatecnologia minimizou o risco de maior contato de animais com o óleo e de fuga (na qual focas adultas podem esmagar e matarfilhotes) devido à presença de humanos (Mearns et al., 1999).

Baleias e golfinhos foram observados na área de diversos vazamentos de óleo, mas evidências deimpactos nesses animais são limitadas e, em sua maioria, circunstanciais. Isso não significa que osimpactos não ocorreram, mas que, se eles ocorreram, eles foram muito sutis para detecção.Possíveis caminhos de exposição ao óleo são similares àqueles dos pinípedes (isso é, contato com a pele, contato com as mucosas (olhos e espiráculo), inalação de hidrocarbonetos, recobrimento de estruturas de alimentação (em baleias de barbatanas), ingestão de óleo durante a alimentação e ingestão de presas contaminadas. Embora seja possível imaginar situações que resultem em umimpacto significativo através desses caminhos de exposição, a probabilidade de que tal cenárioocorra é baixa. Experimentos mostraram que a pele dos cetáceos é insensível ao contato com óleo eque o processo de cura natural dos cortes na pele também não é afetado. Evidências experimentaistambém sugerem que as barbatanas podem ficar obstruídas nas piores situações, mas que elas selimpam sozinhas rapidamente. A probabilidade de um cetáceo (até mesmo algumas baleias debarbatana) ingerir uma quantidade suficiente de óleo para causar danos subletais ao seu sistemadigestivo ou apresentar uma carga corporal tóxica é baixa, e autópsias de cetáceos nãoencontraram evidências de óleo em seus intestinos. Da mesma forma, os teores de hidrocarbonetosnas presas provavelmente não atingirão quantidades suficientes para serem tóxicos para umcetáceo, e a maioria seria metabolizada rapidamente. Alguns HPAs podem se acumular nos tecidosdas baleias antes de serem de fato metabolizados, assim como com todos os vertebrados. Por fim, a inalação de vapores de hidrocarboneto e seu contato com as membranas mucosas pode ocorrerperto da fonte no momento de um derramamento de superfície quando o óleo está fresco e asconcentrações de hidrocarbonetos voláteis são temporariamente altas, mas a probabilidade de umcetáceo receber uma dosagem suficiente para resultar em um impacto tóxico é baixa.

A evidência mais sólida de que a mortalidade relacionada a derramamentos de óleo pode ocorrerem mamíferos marinhos foi publicada após o derramamento do Exxon Valdez em 1989.Pesquisadores que estudam grupos de orcas relataram reduções importantes (33 e 41%) nosnúmeros de indivíduos de dois grupos que foram observados nas proximidades do derramamento.O monitoramento contínuo identificou que os dois grupos não acompanharam os aumentos depopulação mostrados por outros grupos do Alasca. No entanto, outros pesquisadores levantaramdúvidas sobre a probabilidade de efeitos diretos do derramamento de óleo e sugeriram que umacombinação de outras causas seria o mais provável, incluindo morte por pescadores, idadeavançada e os níveis de outros contaminantes. Não houve uma conclusão clara sobre esse debate.Mais recentemente, pesquisas na Louisiana indicaram que uma população de golfinhos que vivemem uma das baías afetadas pelo óleo do incidente do poço de Macondo em 2010 apresentavam

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Os filhotes de algu-mas espécies de focaspassam muitos diasou semanas em terraantes de estarem preparados paranadar e são poten-cialmente vulneráveisa qualquer óleo quechegue na área.

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IMPACTOS DE DERRAMAMENTOS DE ÓLEO NA ECOLOGIA MARINHA

saúde debilitada e sugeriram que o derramamento foi o fator causal. No entanto, enquanto opresente documento é elaborado, as evidências ainda são limitadas. Revisores destacaram diversosfatores de dúvida, juntamente com a ausência de uma via de exposição convincente e ummecanismo pelo qual o óleo do derramamento poderia ter causado os efeitos descritos.

Outros mamíferos que correriam possíveis riscos num derramamento de óleo incluem dugongos,peixes-boi e ursos polares. Dados empíricos sobre sua vulnerabilidade, sensibilidade ou potencialde recuperação são quase que inexistentes, embora evidências disponíveis mas limitadas sugiramalgum potencial para preocupação. Dugongos e peixes-boi vivem em águas rasas e se movemlentamente, de forma que seriam vulneráveis e podem também apresentar alguma sensibilidade.

A perturbação causada pela atividade de resposta a derramamento de óleo, especialmente pelotráfego de barcos, poderia afetar o comportamento de alguns mamíferos marinhos por meio deruídos, ou poderia aumentar o potencial de ferimentos por colisão com barcos, se os trabalhosocorrerem perto das áreas onde se alimentam ou descansam.

Répteis marinhos

Tartarugas são potencialmente vulneráveis a óleo quando entram em contato com ele na superfíciedo mar ou na costa. Fora da época de reprodução, adultos e jovens passam relativamente poucotempo na superfície, mas, uma vez que eles respiram ar, precisam ir à superfície em intervalos.Quando estão na superfície, podem ficar oleadas e, em na pior das hipóteses, podem ser recobertas,embora haja poucas evidências para sugerir que sua pele seja sensível. Tartarugas não são gregáriase são amplamente distribuídas, de forma que impactos são altamente improváveis de resultar emefeitos ao nível de população. Elas estão sob maior risco durante a época de reprodução quandofêmeas adultas chegam na costa, normalmente a noite, e se arrastam para o topo de uma praiaarenosa para depositar seus ovos. Essa é uma atividade altamente sazonal, potencialmenteenvolvendo grandes números de fêmeas retornando para a mesma praia ao mesmo tempo.Os ninhos são enterrados no fundo da areia, de forma que ovos são amplamente protegidos contracontaminação (exceto por uma grande contaminação com óleo leve fresco), mas os recém-nascidos

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Tartarugas recém-nascidas serão vulne-ráveis a qualquer óleoque chegue na praiaao sair de seus ninhose rastejar até o mar.

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serão muito mais vulneráveis. A eclosão dos ovos e o movimento dos recém-nascidos pela praia sãosincronizados para reduzir perdas por predadores, mas isso os tornará muito mais vulneráveis àcontaminação por óleo se esse evento coincidir com um derramamento. Os juvenis são muito maissensíveis à toxicidade do óleo do que os adultos, passam mais tempo na superfície do mar e podemingerir pequenas bolas de alcatrão. Relatos de mortes de tartarugas jovens foram feitos após algunsderramamentos de óleo, e autópsias desses indivíduos encontraram óleo e bolas de alcatrão emseus intestinos. Efeitos sobre os níveis populacionais locais seriam teoricamente possíveis sehouvesse um impacto grave na área de nidificação de tartarugas na época de reprodução, masnenhum efeito assim foi relatado ainda.

Cerca de 450 tartarugas vivas contaminadas por óleo, especialmente as tartarugas Kemps Ridley,foram recolhidas no mar durante o incidente do poço de Macondo em 2010, embora um númeromaior tenha sido afetado. A maioria delas foi recolhida para centros de limpeza para reabilitação,sendo posteriormente soltas. No momento da elaboração do presente documento, ainda não sesabe se o derramamento teve algum impacto de longo prazo significativo nas populações detartarugas no Golfo do México.

Outros répteis incluem iguanas marinhas, crocodilos, jacarés e cobras marinhas, que ocupam asuperfície do mar, águas rasas e litorais. Há possíveis rotas para exposição ao óleo, mas poucasinformações sobre os efeitos do óleo devido a poucos estudos.

Aves

O óleo pode afetar as aves por três vias, ou seja, pela contaminação física de suas penas, que poderesultar em hipotermia e redução na capacidade de movimentação, alimentação etc.; por meio deingestão de óleo durante a limpeza e impermeabilização que fazem nas penas ou consumindoalimentos contaminados; e por transferência de óleo para ovos e juvenis, que pode resultar naredução de sobrevivência. Imagens perturbadoras de aves marinhas mortas ou debilitadas, comsuas penas cobertas de óleo, foram o legado de diversos derramamentos e, em algumas ocasiões,os números de mortes confirmadas de aves chegaram a dezenas de milhares. Como o númeroregistrado de aves oleadas vivas e mortas é inevitavelmente subestimado, especialmente paraderramamentos em locais remotos, o impacto real não pode ser descrito de forma precisa; contudo,dados adicionais às vezes estão disponíveis a partir de programas de monitoramento de populaçãoem algumas áreas. Pesquisas sobre os efeitos subletais mais sutis da contaminação por óleo,incluindo os impactos crônicos do óleo, também forneceram mais informações nos últimos anos.

A vulnerabilidade e a sensibilidade das aves e suas populações aderramamentos varia significativamente entre espécies e estágios davida, e, até certo ponto, sua vulnerabilidade é baseada na quantidadede tempo que elas passam na superfície da água. Muitas avesmarinhas, como trinta-réis, atobás e pardelas e aves costeiras comoostraceiros, maçaricos e batuíras passam pouco ou nenhum temposobre a água. Os números de mortes dessas espécies porderramamentos de óleo, em relação às populações locais, sãonormalmente baixos. No entanto, os alcídeos (da família Alcidae, queincluem araus e tordas-mergulheiras), patos do mar e mergulhões,que passam a maior parte de sua vida na água, apresentam maiorprobabilidade de serem contaminados por óleo se uma mancha de

superfície chegar na área onde estão presentes. Por isso, populações dessas espécies que seagregam na água em determinados locais e épocas do ano, são destacadas em mapas desensibilidade ao óleo. Entre os exemplos notáveis, estão as agregações de alcídeos perto de colônias

Aves que repousamna água são vulnerá-veis a manchas deóleo. Muitas avesmarinhas se agregam,especialmente duran-te a época de repro-dução, e até mesmoum pequeno derra-mamento pode resul-tar em alta mortalida-de se ocorrer nestemomento e local.

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IMPACTOS DE DERRAMAMENTOS DE ÓLEO NA ECOLOGIA MARINHA

de reprodução, especialmente no início da primavera antes das aves maduras sexualmente voltarempara suas áreas de nidificação, e perto do fim da época de reprodução quando jovens que não voame adultos que estão trocando de penas se preparam para sua migração para as áreas oceânicas.Alguns patos do mar e mergulhões formam concentrações antes de iniciar migrações de longadistância entre áreas de reprodução no verão nas altas latitudes e áreas de inverno mais quentes, eem determinados pontos intermediários de reabastecimento. Um grande número de patos negros,um pato do mar, costumam fazer uma parada para se alimentar na Baía de Carmatrthen na costa sul do País de Gales durante a primavera e o outono. A Baía foi gravemente afetada durante oderramamento do Sea Empress em fevereiro de 1996, perto do início do período de migração, e4.700 indivíduos dessa espécie foram encontrados recobertos de óleo. Essa era cerca de metade da população na Baía na época, e quase 5% da população no Reino Unido naquele inverno.O monitoramento anual da espécie a cada novembro mostrou números amplamente reduzidos por dois anos, mas um retorno aos níveis pré-derramamento após três anos. Eles também foramobservados se alimentando em áreas que haviam sido afetadas pelo derramamento, sugerindo que havia um bom suprimento de bivalves e poliquetas dos quais se alimentam.

A maioria dos estudos pós-derramamento documentaram a recuperação de populações regionais de aves para os níveis pré-derramamento dentro de cinco anos a partir de um impacto severo, masimpactos de com tempos maiores também foram relatados. Para qualquer espécie que tenha umaninhada de no máximo uma ou duas aves por par reprodutor por ano, é provável que a recuperaçãode uma grande mortalidade dure certo tempo, exceto caso as condições ambientais (habitat,disponibilidade de alimentos, pressão de predadores etc.) sejam ideais. Haverá uma preocupação emespecial para as perspectivas de longo prazo de uma população afetada por um derramamento de

Os alcídeos, comoesses papagaios-do-mar e araus(extrema esquerda e centro), passammuito tempo na águae são, dessa forma,vulneráveis e sensí-veis a manchas deóleo. Alguns alcídeosnidificam em grandescolônias e se agre-gam na água em certos períodos doano. Colônias de pinguins (esquerda)também são alta-mente vulneráveis a derramamentos de óleo.

Esquerda inferior:aves aquáticas, comoesse ostraceiro, nãoficam na água, sendomenos vulneráveis acontato direto comóleo. Números demortes são relativa-mente baixos e arecuperação é rápida.

Direita inferior: garças e outras avesse empoleirando num peixe com óleo na Baia deGuanabara, perto do Rio de Janeiro.

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óleo se a espécie já estiver ameaçada. Duas espécies de tordas-miúdas (tordas-miúdas de Kittlitz e tordas-miúdas-marmoradas) foram afetadas peloderramamento de óleo do Exxon Valdez de 1989 e 1.100 carcaças foramrecuperadas. No momento do derramamento, as tordas-miúdas de Kittlitz jáestavam incluídas na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN e ambasespécies foram classificadas como em perigo mais recentemente, compopulações em declínio na maior parte de suas áreas de ocorrência. Oderramamento teve um impacto pequeno, porém ecologicamente significativo,sobre as populações regionais de ambas espécies na época, mas ficou logoaparente que outros fatores apresentavam maior impacto e não está claro se a mortalidade pelo derramamento teve algum efeito residual.

A recuperação das populações de aves também é altamente influenciada porcomportamentos complexos específicos das espécies. Entre os fatores

importantes, estão agrupamentos de subpopulação, territórios, aves retornando para a mesma área ano após ano e aves que não se reproduzem. Isso pode resultar na lenta recuperação de uma população em uma área com muitos ninhos vagos, enquanto a população em uma áreapróxima se recupera rapidamente e os ninhos são rapidamente reocupados; pode ser que nãotenha efeito aparente nos números de reprodução porque ninhos vagos são imediatamentetomados por aves à espera.

Experimentos demonstraram que a contaminação de ovos por óleo pode reduzir a sobrevivência de embriões e o sucesso da incubação. Foi sugerido que isso pode ter um possível impacto naspopulações de aves, mas observações de campo sugerem que isso teve uma significância ecológicalimitada. Outros estudos demonstraram que pequenas quantidades de óleo, incluindo iridescências,na plumagem de uma ave podem danificar a delicada estrutura das penas e sua função, incluindo ade impermeabilização. O efeito direto de uma leve contaminação por óleo na função da plumagemprovavelmente não resultará em mortalidade, mas as aves podem passar muito tempo extra selimpando com o bico; isso gera uma perda de tempo que poderia ser gasta em outras atividades etambém resulta na ingestão de óleo. Algumas espécies, como muitas gaivotas, possuem sistemasdigestivos bastante robustos, mas outras podem ser sensíveis a pequenas quantidades de óleo.Os possíveis efeitos de óleo ingerido são diversos e podem ser letais dependendo da quantidade e da toxicidade. Diversos estudos descreveram os efeitos na função do sistema digestivo, danos aórgãos, anemia e efeitos sobre a reprodução, incluindo a postura dos ovos e a taxa de sucesso deincubação. Embora as aves metabolizem e quebrem as moléculas dos contaminantes doshidrocarbonetos, os HPAs também podem se acumular em seus tecidos por um período de tempo,algo que pode resultar em efeitos imunológicos. No entanto, efeitos subletais da ingestãoprovavelmente não persistem por mais de uma estação do ano.

A ingestão de óleo também pode ocorrer durante a alimentação,especialmente por aves que se alimentam de mexilhões e outros bivalvesque concentram contaminantes de hidrocarbonetos em seus tecidos, e por necrófagos e aves de rapina que são atraídas para animais na costa que estejam mortos ou moribundos. Essa é uma possível causasignificativa de mortalidade para algumas espécies, mas efeitos subletaisnão devem persistir exceto caso haja uma fonte crônica de contaminação.Onde resíduos persistentes de óleo permaneçam nos litorais frequentadospelas aves, há potencial para exposição crônica por meio da ingestão depresas contaminadas. Alguns estudos após o derramamento de óleo deExxon Valdez em 1989 ligaram evidências bioquímicas de exposição ahidrocarbonetos (biomarcadores) em algumas aves a resíduos persistentes

de óleo na costa em algumas áreas de matacões. O ostraceiro preto ou o pato arlequim, que

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Algumas aves mari-nhas, como essasandorinhas do mar,fazem ninhos e des-cansam em locais queseriam vulneráveis aperturbação pela ati-vidade de resposta aum derramamento.

Pelicanos marrons serecuperando apósserem limpos durantea resposta a um der-ramamento de óleoem Coatzacoalcos, no México, em 2005.

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IMPACTOS DE DERRAMAMENTOS DE ÓLEO NA ECOLOGIA MARINHA

forrageiam entre os matacões na zona entre marés, são mais prováveis a sofrer exposição a contatos crônicos com óleo por meio da ingestão de presas contaminadas. Contudo, outros estudos demonstraram quecontatos com essas fontes foram reduzidos para níveis baixíssimos dentrode dois a três anos e que os riscos de efeitos ecologicamente significativoseram pequenos. A população regional do pato arlequim havia retornadoaos níveis pré-derramamento em 1993, e, embora a população doostraceiro preto estivesse em queda, não havia diferença na taxa desucesso reprodutivo entre áreas com óleo e sem óleo em 1991.

Efeitos indiretos em populações de aves por meio de impactos nadisponibilidade de alimentos foram sugeridos para algumas espéciesapós certos derramamentos, mas essa permanece como uma possibilidade teórica para os cenáriosde pior caso. Embora seja possível ocorrer uma redução localizada e grave nos recursos alimentaresde uma ave, a extensão limitada e a irregularidade considerável na distribuição dos efeitos doderramamento de óleo implicam que é improvável que isso ocorra em uma proporção significativada área de alimentação diária de uma ave. A perturbação por atividades extensas de limpeza dederramamento de óleo, no entanto, pode afetar o comportamento de alimentação de aves emáreas úmidas e, dessa forma, atrapalhar sua capacidade de se alimentar de forma eficiente. Emclimas frios, as reservas de energia de algumas aves, especialmente de espécies migratórias, pode já ser bastante baixa.

Habitats costeiros e linha de costa

Impactos de derramamentos de óleo em litorais são tratados mais detalhadamente no Guia de boas práticas IPIECA-IOGP sobre o assunto (IPIECA-IOGP, 2015a). Algumas das principaiscaracterísticas são resumidas abaixo.

Litorais são compostos de uma grande variedade de tipos de habitat, cada um sendo caracterizadopor uma diferente comunidade de plantas e animais. A maioria das áreas lamosas abrigadas édominada por plantas, especialmente marismas, halófitas ou manguezais, dependendo do clima. As algas tendem a dominar os costões rochosos protegidos, enquanto que os invertebradosdominam nos costões expostos às ondas. Em regiões polares, muitos litorais são empobrecidos deespécies em comparação com aqueles em regiões temperadas devido aos efeitos físicos do gelo do mar, enquanto recifes de corais protegem alguns litorais tropicais do mar aberto. Muitas aves,peixes e mamíferos também utilizam habitats litorâneos devido à disponibilidade de alimentos,substratos, nutrientes e abrigo.

Habitats e espécies litorâneos serão vulneráveis a qualquer derramamento de óleo na costa, mas,como mencionado anteriormente, a escala do impacto e a taxa de recuperação será amplamentedefinida pela persistência e condição do óleo, que por si só está amplamente correlacionada com a exposição às ondas (consulte a página 17). Dessa forma, impactos em litorais expostos sãonormalmente de curto prazo uma vez que o óleo é geralmente removido rapidamente pelomovimento da água e a recuperação das espécies afetadas é uma função de processos ecológicosnaturais. No entanto, a remoção natural do óleo de litorais protegidos é mais lenta e, em locais ondehá substratos lamosos na zona entre-marés que são dominados por marismas ou manguezais,resíduos de óleo podem persistir por anos, causando impactos de longo prazo. Exemplos depersistência de longo prazo do óleo incluem marismas e sedimentos lamosos na Baia de Buzzards,em Massachusetts, atingida pelo derramamento da barcaça Florida de 1969; marismas no Estreito deMagellan, no Chile, atingido pelo derramamento do Metula de 1974; e planícies de maré abrigadas emarismas na costa do Golfo da Arábia Saudita, atingida pelo derramamento da Guerra do Golfo de

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Pato arlequim se ali-menta de mexilhões e outros invertebra-dos no litoral. Se apresa estiver contami-nada com óleo, opato pode ter contatocrônico. A extensão a qual isso teve umimpacto nas popula-ções de patos arle-quins na enseada de Prince WilliamSound após o derra-mamento do ExxonValdez de 1989 aindaestá em debate.

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Exemplos de litoraiscom óleo (no sentidohorário a partir daesquerda superior);rochoso; sedimentos;manguezais; e marismas.

1991. Alguns resíduos de óleo ainda estão presentes em partes daqueles litorais, especialmente naArábia Saudita. Cada um representa uma pequena fração da quantidade que foi derramada e umapequena fração da área que foi originalmente afetada com óleo. Além disso, os resíduos restantes de óleo normalmente desenvolvem uma crosta com alto grau de intemperismo e resistente àbiodegradação, que apresenta toxicidade bastante limitada ou não está disponível para a maioriados organismos que vivem nessas áreas.

Embora todas as espécies da zona entre marés possam ser afetadas pela contaminação por óleo,algumas são muito mais sensíveis do que outras. A maioria das algas marinhas, por exemplo, énaturalmente protegida por um revestimento mucoso resistente ao óleo, enquanto plantas demarismas são facilmente recobertas e manguezais podem ser mortos pelo óleo viscoso que cobreuma proporção significativa dos poros de respiração e das raízes aéreas. A sensibilidade de muitosanimais interlitorâneos é similar àquela descrita para animais do fundo do mar resultante de óleo na água (consulte Vida no fundo do mar nas páginas 21-26), mas a contaminação física por óleodireta é um caminho de exposição adicional que pode causar asfixia de mecanismos dealimentação, obstrução de tocas e exposição a altas concentrações de hidrocarbonetos em umaduração relativamente longa com possíveis efeitos subletais e letais. Estes últimos são ilustrados por lapas, um grupo de moluscos gastrópodes comum em costões rochosos na maioria das regiões:estudos demonstram que mesmo pequenas quantidades de óleo fresco nos pés de uma lapacausam narcotização, de forma que o animal se solta da rocha e subsequentemente morre dedessecação ou predação. Em alguns derramamentos, isso resultou em reduções significativas naspopulações locais seguidas de rápido crescimento de algas verdes oportunistas (consulte exemplosno documento IPIECA-IOGP, 2015a). A recolonização pelas lapas a partir de suas larvas planctônicasocorre rapidamente, mas a recuperação plena da comunidade normalmente é alcançada em dois atrês anos, podendo levar cinco anos ou mais em casos envolvendo contaminação grave.

Caranguejos que fazem tocas são comuns em muitos litorais sedimentares tropicais e subtropicais,especialmente em manguezais. Derramamentos de óleo podem ter impactos graves nessaspopulações, além das tocas criarem um caminho para o óleo chegar abaixo da superfície, deixandoresíduos persistentes.

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IMPACTOS DE DERRAMAMENTOS DE ÓLEO NA ECOLOGIA MARINHA

A resposta a derramamentos de óleo é uma tarefa de múltiplas facetas e pode envolver operaçõesde grande escala com muitas possíveis influências no ambiente marinho. Ações de resposta podemincluir mudanças significativas no gerenciamento de muitos recursos marinhos locais; por exemplo,a interrupção temporária da pesca e outras atividades que têm efeitos prolongados sobre essesrecursos. A experiência de respostas a derramamentos anteriores mostrou que é possível causardanos com tratamentos inadequados (o termo 'tratamento' é usado aqui para incluir todas astécnicas de limpeza) e que muitos impactos potenciais foram associados com a mobilização de umgrande número de profissionais, veículos e embarcações. No entanto, muitas lições difíceis foramaprendidas e abordagens, técnicas, tecnologia, gestão e planejamento modernos para resposta aderramamentos de óleo são agora altamente avançados. A necessidade contínua por profissionaistreinados e experientes também está sendo tratada, e planos modernos de contingência aderramamentos de óleo incluem regimes de treinamento como um componente essencial.Documentos de orientação de boas práticas, incluindo aqueles disponíveis na presente série,fornecem informações sobre planejamento, gestão de derramamentos e o uso adequado dediversas técnicas de tratamento. Embora ainda haja muitos desafios, as respostas adequadaspodem reduzir significativamente os impactos de um derramamento de óleo.

Muitos dos impactos mais sérios associados com a resposta a derramamentos se devem a limpezasde ambientes costeiros realizadas incorretamente. Embora a remoção do óleo seja benéfica, alguns métodos de remoção podem causar impactos de longo prazo e só devem ser colocados em prática após uma análise minuciosa. Os possíveis danos podem incluir a remoção ou distúrbiofísico de substratos, danos aos sistemas de raízes de plantas, contato do óleo com o sedimento,dispersão do óleo para outros habitats e danos a habitats adjacentes usados para acesso. Os fatoresprincipais que determinam a escala de impactos são o tipo de habitat, a escala da atividade delimpeza e a longevidade das espécies afetadas. Habitats que são mais sensíveis a danos físicos são aqueles sedimentares protegidos e dominados por vegetação — por exemplo, marismas emanguezais. Esses e outros impactos potenciais da limpeza da costa são discutidos mais a fundo no Guia de boas práticas IPIECA-IOGP sobre os impactos de derramamentos de óleo em litorais(IPIECA-IOGP, 2015a).

Gerenciamento de resposta ao derramamento de óleo e o impacto potencial

Muitas comunidadesde marismas, comoestas com óleo de um derramamento de oleoduto em 1989,crescem em sedimen-tos lamosos e podemsofrer danos ao serempisoteadas durante a limpeza de derra-mamentos.

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Entre as técnicas de tratamento offshore com possível efeito sobre a ecologia marinha, estão o uso de dispersantes (consulte as páginas 41-42) e a queima in-situ controlada. Esta última foiaplicada em manchas offshore quando é possível manter o óleo espesso o bastante para sustentar a queima, incluindoderramamentos sobre o gelo. Ela produz grandes volumes defumaça, com implicações sobre a qualidade do ar, que se dissiparapidamente e não deve ter impactos significativos quando atécnica é implementada devidamente. Resíduos de queima podemflutuar ou afundar dependendo das características do óleo. Estudosmostraram que resíduos queimados são menos tóxicos para a biotaaquática do que o óleo que sofreu intemperismo, mas, quandoafunda (como mencionado na página 25 em relação aos impactosdo derramamento do Haven de 1991 na Itália), ele pode recobrirorganismos bentônicos que entram em contato direto com eles.

Há uma potencial toxicidade crônica por metais pesados e HPAs de alto peso molecular restantesnesses resíduos, mas a evidência disponível sugere que eles ficam, em sua maior parte, presosdentro da matriz de resíduos e têm baixa biodisponibilidade. Mais informações estão disponíveis no Guia de boas práticas IPIECA-IOGP sobre queima in-situ controlada (IPIECA-IOGP, 2015f).

Atividades de restauração podem ser consideradas as últimas etapas de uma resposta aderramamentos de óleo. Embora a recuperação natural de um habitat gravemente afetado iráocorrer, a melhoria desses processos por meio de restauração pode ser adequada se a taxa derecuperação natural for considerada muito demorada. Métodos diretos de restauração foramdesenvolvidos com sucesso para certos habitats com espécies dominantes que são estruturantes,especialmente em habitats de manguezais e marismas. Estes são considerados maisdetalhadamente no documento IPIECA-IOGP, 2015a. Também, se obteve certo sucesso com arestauração de recifes de corais e bancos de algas.

Outras atividades de resposta a derramamentos que possuem relevância à ecologia marinha sãotratadas nos Guias de boas práticas IPIECA-IOGP sobre prontidão de resposta para vida selvagem(IPIECA-IOGP, 2014a) e de avaliação da linha de costa (SCAT; IPIECA-IOGP, 2014b).

Análise de benefício ambiental líquido

Durante a resposta a um derramamento de óleo, muitas decisões operacionais são tomadas pelosprofissionais de gestão de incidentes para selecionar ações que vão remover ou tratar o óleo ereduzir os danos gerais ou as ameaças de danos nos recursos afetados. Algumas dessas açõespodem ter implicações significativas para o meio ambiente e para recursos socioeconômicos. Uma análise de benefício ambiental líquido (NEBA) é um processo que considera de formaobjetiva os possíveis prós e contras ambientais das opções de tratamento/limpeza viáveis e oscompara com um cenário de não resposta. Às vezes, isso pode resultar em decisões que exigemuma relação ideal (trade-off) entre diferentes preocupações ambientais e socioeconômicas. Noentanto, um objetivo essencial será minimizar os impactos de longo prazo ao identificar situaçõesque possam resultar na persistência do óleo e avaliar opções de resposta para reduzir esses riscos.Não há uma metodologia única ou ferramenta de NEBA que seja adequada, ou sequer apropriada,para aplicação em todas as situações, mas as etapas básicas de avaliação podem ser resumidasconforme apresentado na tabela 1, de acordo com o Guia de boas práticas IPIECA-IOGP sobre ouso de NEBA no desenvolvimento de uma estratégia de resposta (IPIECA-IOGP, 2015b).

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Um exemplo de queimain-situ controlada. Paraobter mais informaçõessobre esse tópico, consulteo IPIECA-IOGP, 2015f.

Elas

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IMPACTOS DE DERRAMAMENTOS DE ÓLEO NA ECOLOGIA MARINHA

Os benefícios e impactos da aplicação de dispersantes

Dispersantes são agentes químicos que, quando aplicados de forma adequada ao óleo flutuante,vão melhorar sua dispersão em pequenas gotículas na coluna de água, reduzindo assim aquantidade de óleo de superfície. O óleo disperso é rapidamente diluído para níveis queapresentam um baixo risco de toxicidade e facilitam a biodegradação (consulte O destino do óleonas páginas 9–14). Estudos também mostraram que dispersantes reduzem a adesão do óleo aossedimentos, rochas e biota. Ao reduzir significativamente a quantidade de óleo na superfície, hánormalmente um risco menor de contaminação física dos organismos na superfície e litorais etc. e, basicamente em muitas situações, um menor potencial para resíduos de óleo persistentes.Ambos desses benefícios, especialmente o segundo, reduzirão o potencial de impactos de longoprazo. No entanto, ao melhorar a dispersão e a diluição do óleo na parte superior da coluna d’água, haverá concentrações elevadas de hidrocarbonetos temporariamente. A realização de umaNEBA para a aplicação proposta do dispersante deve, dessa forma, avaliar se tal resposta podefornecer uma redução significativa no óleo de superfície, se a redução vai diminuirsignificativamente o potencial de óleo persistente e os impactos no habitat e nos organismos de superfície e do litoral e, e se o aumento da concentração de óleo na água apresenta riscossignificativos para peixes, mariscos e outros seres aquáticos. Normas para uso de dispersantesnormalmente pré-autorizam o uso de produtos aprovados em águas mais profundas (porexemplo, 10 a 20 metros); é necessária autorização especial para uso em águas rasas se forconsiderado que os benefícios podem superar os impactos.

Tabela 1 Etapas típicas de NEBA envolvidas no processo de planejamento da contingência

Etapa de NEBA Descrição

Avaliação dos dados A primeira etapa é considerar o provável local do derramamento e para onde a pluma do óleo irá dispersar sob a influência das correntes e dos ventos — hádiversos modelos de análise de trajetória de óleo para embasar isso. Também, é útil saber como um óleo irá intemperizar a medida em que se espalha. Isso fazparte da avaliação dos dados disponíveis.

Previsão dosresultados

A segunda etapa é avaliar o que provavelmente será afetado pelo óleo derramadose nenhuma resposta for realizada. Isso pode incluir os recursos ecológicos offshore,perto da costa e na linha de costa, juntamente com os recursos socioeconômicas.

A eficiência e a viabilidade do kit de ferramentas de resposta também devem seranalisadas. Isso cobre as técnicas de resposta, os aspectos práticos de sua utilizaçãoe quanto óleo eles podem recuperar ou tratar. Se áreas sob ameaça incluíremhabitats costeiros sensíveis a óleo, o papel da resposta de derramamento de óleono mar é evitar ou limitar que o óleo derramado atinja esses habitats. A experiênciaprévia pode ajudar a avaliar quais técnicas de resposta de derramamento de óleoprovavelmente serão eficazes. Considerações operacionais e pragmáticas devemformar uma parte bastante importante do processo de NEBA aplicado a todas astécnicas de resposta viáveis.

Equilíbrio da relação ideal

As vantagens e desvantagens das possíveis opções de resposta são levadas emconta e analisadas em relação aos impactos socioeconômicos e ecológicos de cada uma para compreender e equilibrar a relação ideal.

Selecionar asmelhores opções

O processo é concluído com a adoção de técnicas de resposta dentro de planos de contingência de derramamento de óleo que minimizem o impacto de possíveisderramamentos no meio ambiente e promovam a recuperação e restauração maisrápidas da área afetada.

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A Figura 6 ilustra o processo de biodegradação para óleo derramado após a aplicação dedispersante na superfície da mancha.

Três grandes experimentos de campo foram realizados na década de 80 para comparar os efeitos de óleo não disperso e quimicamente disperso em áreas perto do litoral — isso é, o Ártico e climastemperados e tropicais. O primeiro foi o projeto do derramamento de óleo da Ilha de Baffin (BIOS;1980-83) na parte leste do Ártico do Canadá. O segundo foi o experimento de Searsport (1981) noMaine, na costa nordeste dos EUA. O terceiro foi o estudo de TROPICS (1984) na Costa caribenha do

Panamá (ilustrada na Figura 7). Cada estudoincluiu levantamentos pré e pós-derramamentodos habitats e comunidades, além deconcentrações de hidrocarbonetos na água,sedimentos e biota. Além das diferenças dehabitats (de fundos e litorais afetados pelo geloaté manguezais e recifes de corais), houvediferenças em alguns dos objetivos e nodesenho amostral dos três experimentos. No entanto, todos concluíram que a aplicaçãode dispersantes poderia reduzir a contaminaçãopor óleo na costa e não resultaria em impactossignificativos no infralitoral ou emcontaminação persistente dos sedimentos. O monitoramento de longo prazo continuoupor alguns anos após os estudos,especialmente para o estudo TROPICS, ondelevantamentos mais recentes descreveram apersistência de óleo e impactos associados emmanguezais por até 25 anos em áreas queforam afetados pelo óleo não disperso.

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4-6 semanas1-2 dias

Gotículas dispersas se diluem na

coluna d’água.

Bactérias nas proximidades gotículas dispersas.

Presença bacterianaaumentam e a rápida

biodegradação ocorre.

Biodegradação continua,

eliminando a toxicidade.

Micro-organismos voltam para o uso antes

do derramamento.

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CA-IO

GP,

201

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Figura 6 O processo de biodegradação típico para aplicação de dispersantes

barca de entrega de óleo

barreira de contenção

�oresta de mangue embarcação de monitoramento

lançamentos

bancos de algas

recife de corais m

nível médio da maré alta

Figura 7 O estudo de TROPICS de 1984 mostrou alguns dos possíveis benefícios do uso de dispersantes

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IMPACTOS DE DERRAMAMENTOS DE ÓLEO NA ECOLOGIA MARINHA

Durante o derramamento do Sea Empress em 1996, uma grande operação de pulverização dedispersante melhorou bastante a dispersão de uma proporção significativa das 72.000 toneladasde óleo cru leve. Estima-se que cerca de metade do óleo foi dispersado na coluna de água, emcomparação com cerca de um quinto ou menos se o dispersante não tivesse sido aplicado. As concentrações elevadas de óleo na água resultaram em impactos para a vida no fundo marinho (consulte as páginas 21-26), mas a recuperação desses recursos foi rápida e não houvecontaminação persistente de sedimentos do infralitoral. Estima-se que a combinação de dispersãoquímica e natural evitou que possíveis 120.000 toneladas de emulsão chegassem à costa, em vezdas 10.000 a 15.000 toneladas. A operação com dispersante foi um fator essencial na redução dovolume da contaminação na costa e sua dispersão geográfica.

A aplicação de dispersantes no fundo é uma técnica relativamente nova que foi usada durante o incidente com o poço de Macondo em 2010 no Golfo do México. Ela dispersou uma grandequantidade de óleo que, de outra forma, teria chegado à superfície e poderia ter causadoimpactos maiores à vida da superfície e nos ambientes costeiros. Estudos sobre o destino do óleo na coluna de água demonstraram que a biodegradação por bactérias ocorria rapidamente,reduzindo assim significativamente o potencial para resíduos persistentes na água ou emsedimentos. Estão sendo realizadas pesquisas sobre o destino do óleo do derramamento.

Mais informações sobre o assunto podem ser encontradas nos Guias de boas práticas IPIECA-IOGPsobre a aplicação de dispersantes, tanto na superfície quanto no fundo; consulte os documentosIPIECA-IOGP 2015c e 2015d, respectivamente.

O uso de dispersantes foi um grande fator para a redução do volume e dispersão geográfica do óleo no litoral após o naufrágio do Sea Empress em 1996.IT

OPF

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Derramamentos de óleo no mar podem ser eventos de grande publicidade que podem resultar em impactos ambientais e afetar as vidas de muitas pessoas. É compreensível que indivíduos eorganizações se interessem em saber que danos foram causados e quanto tempo levará para sua recuperação. A maioria dos países conta com normas e políticas que exigem certo nível deavaliação do impacto nos estoques de peixes comerciais e na pesca, ar, água e sedimentos, áreasdesignadas para conservação da natureza, espécies protegidas e saúde humana. No entanto,embora agências governamentais possam contar com programas de monitoramento de qualidadeambiental para avaliação de rotina, eles não serão elaborados para incidentes de poluição emgrande escala. Documentos de orientação que tratam sobre como realizar uma avaliação de danosde um derramamento de óleo estão disponíveis para alguns países e regiões, e a OrganizaçãoMarítima Internacional e o Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas desenvolveram, emconjunto, um documento internacional de orientação (IMO/UNEP, 2009). Alguns dos requisitosfundamentais são descritos abaixo.

A obtenção de bons dados de linha de base pré-derramamentopode ser desafiadora sob os pontos de vista logístico e financeiro.A maior prioridade é coletar dados de pré-derramamento sobre acontaminação com hidrocarbonetos. Para muitos derramamentos,normalmente há potencial para coletar amostras da água,sedimentos e biota (especialmente de espécies comerciais) antes do impacto no caminho esperado do óleo. Também, éimportante coletar amostras do óleo de origem quando estáfresco, no início do derramamento, e em intervalos em diferenteshabitats enquanto ocorre o intemperismo. É necessário contarcom procedimentos rigorosos de amostragem para óleos, e deóleo nas águas, sedimentos e biota para garantir que não hajacontaminação de outras fontes. Além disso, o manejo e transportesubsequente de amostras para laboratórios para análise precisaestar em conformidade com rigorosos procedimentos de cadeiade custódia. Será útil identificar e acessar quaisquer dados pré-existentes da área. Dados ambientais podem ser acessadosatravés de ferramentas on-line como a Bibliografia GeoespacialMarinha IPIECA (http://mgb.ipieca.org).

Dados biológicos de linha de base pré-impacto e pré-derramamento também serão valiosos,especialmente se foram coletados ou atualizados há menos de um ano antes do derramamento. No entanto, o nível de flutuações naturais para muitas populações e comunidades pode serconsiderável, de forma que dados antigos podem ter valor limitado. Para espécies afetadas por

mudanças de longo prazo, podem havertambém linhas de base móveis a seremlevadas em conta. Também será útil contarcom fotos de habitats e comunidadespróximas de pontos fixos recentes pré-impacto e pré-derramamento,especialmente imagens áreas de marismase manguezais.

Informações sobre a distribuição econcentrações de óleo, ao longo doderramamento, serão essenciais paraqualquer avaliação de impacto a fim de

Dados de pré-derra-mamento sobrecomunidades mari-nhas que foram afe-tadas por um derra-mamento são muitasvezes limitados ouinexistentes. Dessaforma, biólogoscomeçam o processode coleta de informa-ções de áreas comóleo o mais rápidopossível como partede uma avaliação de impacto.

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Avaliação de danos de derramamento de óleo —principais atividades

O mapeamento da dis-tribuição do óleo deum derramamento éuma parte essencialda avaliação dedanos. Muito dissopode ser feito comreconhecimento aéreo.Fotografias aéreas decomunidades comóleo também podemfornecer informaçõesvaliosas sobre suaextensão e condição.

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IMPACTOS DE DERRAMAMENTOS DE ÓLEO NA ECOLOGIA MARINHA

proporcionar evidências de exposição. Isso é muitas vezes fornecido por reconhecimento aéreo,um programa de amostragem (como mencionado acima, incluindo amostragem da coluna d’água,litoral e sedimentos) e levantamentos de distribuição de óleo na linha de costa. Estes últimos sãorealizados usando a Técnica de avaliação de limpeza na linha de costa (SCAT), que é projetadaespecialmente para fornecer suporte operacional para a resposta na costa, mas também podefornecer informações valiosas sobre a possível exposição da vida litorânea ao óleo. Para obter mais informações sobre o SCAT, consulte o documento IPIECA-IOGP, 2014b. Uma vez que muitosestudos sobre efeitos ecológicos são necessariamente limitados a pequenas áreas, as informaçõesmais amplas sobre distribuição de óleo também podem aumentar sua representatividade.

Algumas das evidências mais claras deimpactos de derramamentos de óleo emanimais e plantas são transitórias, e incluemseres mortos, bivalves mortos na costa,plantas enegrecidas ou esbranquiçadas e a colonização por oportunistas. Registros e fotos devem ser armazenados logo queesses impactos ocorrerem e antes dasevidências desaparecerem. Seres mortosdevem ser coletados e armazenados deforma adequada para possível análiseposterior. Para obter mais informaçõessobre como preparar e responder a umincidente com fauna oleada, consulte oGuia de boas práticas IPIECA-IOGP sobreprontidão para resposta a vida selvagem(IPIECA-IOGP, 2014a).

Objetivos definidos de modo claro são essenciais para um estudo de avaliação de danos bemorganizado. Isso deve incluir uma definição do escopo (geográfico, duração, escala do estudo e endpoints) e decisões se a avaliação vai se concentrar em limites definidos, comparações com linhas de base, comparações com áreas de referência ou tendências ao longo do tempo.É importante considerar a possibilidade realista de que mesmo um estudo detalhado pode nãofornecer provas estatísticas se houve, ou não, um impacto. Onde os danos forem evidentes,recomenda-se estabelecer escalas de tempo de recuperação, mas essa pode se tornar umaatividade em aberto caso um ponto final não seja definido. Um objetivo fundamental de váriosestudos será avaliar o mérito de pedidos de compensação.

Limitações logísticas e orçamentárias implicam que será necessária certa priorização dos recursosecológicos que devem ser avaliados. Depois de escolhidos, o design do estudo deve então serbaseado nos objetivos definidos. Para qualquer recurso em particular, haverá muitas técnicaspossíveis, medições, áreas e tipo de amostragem a serem levados em conta.

Onde um estudo identificar evidências de um impacto, também será necessário estabelecer ummecanismo realista (as vias) pelas quais o derramamento poderia ter causado esse dano.

Uma vez que programas de amostragem química e biológica são muitas vezes realizados pordiferentes laboratórios ou profissionais, é importante que os programas sejam desenvolvidos emconjunto e que a coordenação seja mantida. Isso não é sempre fácil de ser feito, mas, para a linha de costa, informações detalhadas sobre a distribuição do óleo a partir de um programa SCAT podemfornecer um conjunto de dados comuns e úteis que reúne estudos e auxilia na sua elaboração.

O registro de observa-ções de fauna oleada éum aspecto importantede uma avaliação dedanos. Essa tartarugaoleada foi encontradapor profissionais de limpeza durante o derramamento doEstrella Pampeanade 1999 na Argentina.

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IOSC: www.ioscproceedings.org/loi/iosc

IPIECA: www.ipieca.org/library

ITOPF: www.itopf.com/knowledge-resources

NOAA: http://response.restoration.noaa.gov/publications

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Agradecimentos

Este documento é da autoria de Jon Moore (CALM) sob as orientações do Grupo de Trabalhosobre Impactos.

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