IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA POTENCIALIZAÇÃO COGNITIVA DO ... · Essas premissas da filosofia...

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1 Universidade Candido Mendes Pós-Graduação “LATO SENSU” Instituto A VEZ DO MESTRE IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA POTENCIALIZAÇÃO COGNITIVA DO ALUNO Maria Beatriz Porciuncula Porangaba Costa Orientador Profª Carly Machado Rio de Janeiro, fevereiro de 2010

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Universidade Candido Mendes

Pós-Graduação “LATO SENSU”

Instituto A VEZ DO MESTRE

IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA

POTENCIALIZAÇÃO COGNITIVA DO ALUNO

Maria Beatriz Porciuncula Porangaba Costa

Orientador

Profª Carly Machado

Rio de Janeiro, fevereiro de 2010

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Universidade Candido Mendes

Pós-Graduação “LATO SENSU”

Instituto A VEZ DO MESTRE

Curso: Psicopedagogia

IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA

POTENCIALIZAÇÃO COGNITIVA DO ALUNO

Maria Beatriz Porciuncula Porangaba Costa

Esta monografia tem por objetivo relatar o melhor

aproveitamento cognitivo do aluno, valendo-se o professor

de interagir com o mesmo na sua parte afetiva.

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Agradecimentos

Aos meus pais, Alva e Marcello, ao meu irmão

Marcello, ao meu marido Ednilson e a minha grande

paixão, minha filha, Carolina, que nos momentos mais

difíceis me apoiaram e incentivaram a prosseguir e

conquistar mais uma história em minha vida.

A minha amiga Andréa, pelo apoio e estímulo.

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Dedicatória

A minha mãe Alva, uma pessoa sábia e amiga,

grande incentivadora pela ajuda e pelo interesse.

Ao meu marido, Ednilson, companheiro em todas

as horas.

A minha linda filha, Carolina, fonte de inspiração.

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Resumo

Pesquisando o desenvolvimento do ser humano na sua aprendizagem

escolar, procurei enfocar um maior grau de aprendizagem para o mesmo. A

ênfase foi dada a construção de vínculos afetivos como um recurso a mais para

favorecer uma boa cognição por parte do aluno. Escola-família não podem

caminhar separadas. Isso foi constatado no desenvolvimento cotidiano na

escola e no aparecimento dos resultados pedagógicos, aumentados,

consubstancialmente no favorecimento de uma boa aprendizagem. Forças

negativas como a não humanização dentro da instituição escolar, falta de

flexibilidade e respeito ao ser cognoscente comprometem um melhor e maior

grau de aproveitamento escolar dentro da instituição. Falta de diálogo, excesso

de autoridade não permite o diálogo para o fim que todos almejam: um clima

mais participativo, respeitoso e humanizado. A maior afetividade movendo todo

esse mecanismo provou, que somente a partir de um maior vínculo emocional

os resultados aparecerão.

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Metodologia

Este trabalho trata-se de uma pesquisa essencialmente teórica descritiva

destinada a confirmar os dados citados através de leitura de livros, revistas,

artigos de periódicos.

Os principais autores utilizados na realização deste trabalho foram:

Piaget, Vygostsky e Wallon.

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Sumário

PÁG.

Introdução ................................................................................................ 8

Capítulo I

COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM USANDO-SE COMO FOCO A AFETIVIDADE .........................................................................................

11

Capítulo II

AFETIVIDADE-CONCEITOS BÁSICOS PARA UM MELHOR APROVEITAMENTO EDUCACIONAL ....................................................

19

Capítulo III

AFETIVIDADE, ESCOLA, FAMÍLIA E APRENDIZAGEM ........................

30

Referências Bibliográficas ....................................................................... 41

Índice ....................................................................................................... 44

Folha de Avaliação .................................................................................. 45

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Introdução

A procura por um maior e melhor aproveitamento escolar vem sendo

analisada, constantemente por pesquisadores trazendo um novo e

importantíssimo enfoque para o problema.

Um dos itens que mais colaborou para que o resultado melhorasse

sensivelmente foi o vínculo criado entre educando e educador numa maior

aproximação dos mesmos: o primeiro bem mais acolhido pelo segundo através

do conhecimento do seu ‘ EU ‘ que abrange o ser humano e não, somente o

aluno.

O ser cognoscente passou a ocupar juntamente com o educador um só

corpo.

Sabemos da importância da “educação” na formação de seus membros

(desde o maternal até o final de suas vidas universitárias).

A potencialização cognitiva do aluno aumenta na proporcionalidade da

maior aproximação entre ambos.

Sabemos que desde o nascimento o ser humano pode ter a sua

potencialidade aumentada, não só pela parte genética como também, através

do estudo dos conhecimentos. E mais do que tudo isso todo aprendizado

proporcionado ao aluno com uma grande gama de afetividade através do elo

emoção (amor, atenção, compreensão dos problemas, adaptação do mesmo

ao meio ambiente etc.) produzem um grau bem maior de aproveitamento.

O objetivo de um resultado mais eficiente mostrou-nos que os métodos

empregados teriam de sofre transformações importantes.

Não se pode ignorar, hoje em dia, a união de forças, o congraçamento

dos membros da “família – escola“ para atingir um maior aproveitamento da

aprendizagem.

O lado “humano“ do aluno tem que ser observado, não só pelo enfoque

pedagógico, mas, também pelo emocional.

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Pais, letrados ou analfabetos, professores que passaram a educadores

humanizaram-se. A escola com novos métodos, novos currículos,

administração mais presente, reuniões e acompanhamento mais direto dos

alunos com informações aos responsáveis etc. apresentaram um melhor

desempenho para o resultado final: maior rendimento escolar, elo mais estreito

entre educador e educando, objetivos alcançados com uma maior aproximação

entre todos.

Uma nação só se constrói e se torna mais poderosa quando os níveis

educacionais (alfabetização, maior freqüência escolar, formação técnica e

universitária) de seus cidadãos aumentam.

Esse é o objetivo que pesquisadores, pedagogo, psicólogos,

psicopedagogos, mestres tais como Piaget, Vygotsky, Wallon etc. trouxeram

com suas experiências para uma mudança psicopedagógica.

Família, escola, aprendizagem um trinômio que só cresce quando o fator

afetividade passa a ser incorporado ao currículo.

Para um melhor rendimento educacional (cognitivo e aprendizado)

constatamos no capítulo I através da orientação de profissionais balizados e

profundamente interessados que o resultado final na meta de conduzir o ser

cognocente ao pleno, ou a um melhor aproveitamento, obteve um índice bem

maior no saldo final, quando juntamente com os métodos pedagógicos e toda a

estrutura escolar envolvendo o mesmo o fator afetividade incorporou-se ao

cotidiano da escola.

Constatando o real valor da afetividade no processo educacional,

percorremos no capítulo II os caminhos para chegarmos aos meios pelo qual

esse processo se solidificou. Uma mudança na orientação pedagógica trouxe-

nos uma nova escola. A “transformação” do “professor” no “educador”, e a

participação da família nos movimentos escolares, conhecimento do “ser

humano” do aluno com todas suas nuances e características pessoais são

alguns desses tão importantes meios para alcançar uma vitoriosa trajetória.

Os caminhos vislumbrados para a finalização do trinômio escola-família-

afetividade que abordei tem como arremate no capítulo III o desdobramento

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desses três fatores. A família que caminha junto ao educador e a forma como

esse se manifesta em sala de aula e fora dela contribuem para que surjam

resultados mais promissores no aproveitamento dos educandos. A diminuição

do grau de reprovação escolar, a maior procura em número de vagas nas

escolas mostra um quadro mais promissor e otimista, mostrando-nos que “só o

amor constrói”.

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Capítulo I.

COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM USANDO-SE COMO

FOCO A AFETIVIDADE

Cognição “é o tratamento da informação: a manipulação de símbolos a

partir de regras” (Saltini, 1995, p.75).

Levando-se em consideração que o tratamento dado a informação

através do uso de símbolos e regras forma o caminho cognitivo, não podemos

encará-lo como sendo o meio mais direto, para juntamente, com o aprendizado

transformar-se naquilo chamado de “educação”.

A pessoa que se propõe a levar o aluno para começar a trilhar a sua

trajetória estudantil é o chamado “professor“ que ensinava a “ler e escrever”.

Para aquele aluno seria o suficiente?

A partir dos sete anos a criança era encaminhada à escola. Seu

aproveitamento aparecia pelas “notas” apresentadas. O ambiente escolar era

calmo, tranqüilo. O respeito aos mestres, ao próprio prédio, bem como a

administração eram notórios. Havia admiração, carinho e orgulho pelo local

onde se estudava.

O ambiente familiar era mais unido (pai-mãe-irmãos, etc). O profissional

muito menos competitivo. As oportunidades de trabalho eram oferecidas em

número bem maior.

Os horários escolares eram mais elásticos. A criança permanecia na

escola por mais tempo.

Este quadro, com o decorrer do tempo foi-se transformando. A

“educação” passou a ser encarada com um contexto mais abrangente onde o

ser humano “aluno“ e os conceitos filosóficos sofreram alterações, tais como

não poder separar os processos cognitivos e afetivos para um melhor

aproveitamento educacional.

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Segundo Descartes, criador da afirmação filosófica “Penso logo existo“,

assumiu a hierarquia em que o pensamento nas infâncias do raciocínio

humano tem valor de excelência; “Quanto mais uma razão cultivado se consagra

ao gozo da vida e da felicidade tanto mais o homem se afasta do verdadeiro

contentamento” (Kant, 1960, p. 123).

É sua, também a afirmativa de que se Deus tivesse feito o homem para

ser feliz não o teria dotado de razão. Considerava as paixões como

“enfermidades da alma“. Estabelecia com essas reflexões uma hierarquia entre

a razão e as emoções.

Essas premissas da filosofia surgem até os dias de hoje sob metáforas:

“Não aja com o coração”, “coloque a cabeça para funcionar”, seja mais

racional, parecendo que para serem tomadas decisões corretas a pessoa deve

livrar-se dos próprios sentimentos e emoções. Em nome de uma resolução

sensata, despreza-se, anula-se a dimensão afetiva.

Por décadas estudaram-se separadamente as teorias psicológicas dos

processos cognitivos e afetivos. Esta temática deu-nos uma visão parcial e

distorcida da realidade refletindo-se no modelo educacional ainda vigente.

Segundo Jean Piaget (1896 – 1980), biólogo e epistemólogo suíço, a

afetividade e a cognição não podem existir como aspectos funcionais

separados. Em suas diferentes naturezas, são inseparáveis.

Toda ação e pensamento, representado pelas estruturas mentais

formam um aspecto cognitivo e a afetividade um aspecto afetivo representado

por uma estrutura energética. Estados afetivos sem elementos cognitivos e

comportamentais puramente cognitivos não existem.

Para Piaget é funcional na inteligência o papel da afetividade. Usa a

explicação para esse processo por meio de uma metáfora: ”a afetividade seria

como a gasolina que ativa o motor de um carro, mas não modifica sua

estrutura“ (2001, p.5).

As influências da interação social, no desenvolvimento cognitivo;

determinadas ideologias, religião, classe social, sistema econômico, presença

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ou ausência de escolarização, características da linguagem, riqueza ou

pobreza do meio etc., aborda a questão da cultura. A Teoria de Piaget pouco

se remete a fatores dessa ordem o que a limita. Piaget pensa o social e suas

influências sobre os indivíduos pela perspectiva ética. O indivíduo deve querer

ser cooperativo.

Piaget defende o ideal democrático. Procura demonstrar que a

democracia é condição necessária ao desenvolvimento e a construção da

personalidade. Trata-se de uma defesa de caráter científico.

Frequentemente surgem teorias sobre cognição limitando-se a pensar a

inteligência somente sob seus aspectos lógicos e biológicos, sem lembrar seu

caráter social. Quando pensamos o social limitamo-nos a analisar processos de

educação escolar ou de aquisição de linguagem. A dimensão ética está sempre

presente uma vez que qualquer relação interindividual pressupõe regras.

Integrar essas regras ao próprio processo de desenvolvimento foi um mérito de

Piaget, embora sua teoria corra o risco de pretender demonstrar o que era na

verdade pressuposto: o valor ético da igualdade, da liberdade, da democracia.

O valor dos direitos humano.

O psicólogo Lev Semenovich Vygostsky (1896 – 1934) autor que

produziu sua obra nos anos 20 e 30 deste século e poderia ser atualmente

considerado um cognitivista propõe uma unificação das dimensões afetivas e

cognitivas do funcionamento psicológico que muito se aproxima das tendências

contemporâneas.

“Quando associado a uma tarefa que é importante para o indivíduo, quando associado a uma, tarefa que, de certo modo, tem suas raízes no centro da personalidade do indivíduo, o pensamento realista dá vida a experiências emocionais muito mais significativas do que a imaginação ou o devaneio. Consideremos, por exemplo, o pensamento realista do revolucionário ao contemplar ou estudar uma situação política complexa. Quando consideramos um ato de pensamento relativo à resolução de uma tarefa de importância vital para a personalidade, torna-se claro que as conexões entre o pensamento realista e as emoções são frequentemente muito mais profundas, fortes, impulsionadoras e mais significativas do que as conexões entre as emoções e o devaneio” (Vygostsky 1987, pág.348).

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Utilizando como instrumento pessoal de pensamento e ação no mundo o

indivíduo, através do material cultural, torna-o seu. Formam-se indivíduos

absolutamente únicos, com trajetórias pessoais singulares e experiências

particulares em sua relação com o mundo e com as outras pessoas.

Vygosttsky mostra claramente unificação entre as dimensões cognitivas

e afetivas do funcionamento psicológico.

“A forma de pensar, que junto com o sistema de conceito nos foi imposta pelo meio que nos rodeia, inclui também nossos sentimentos. Não sentimos simplesmente: o sentimento é percebido por nós sob a forma de ciúme, cólera, ultraje, ofensa. Se dizemos que desprezamos alguém, o fato de nomear os sentimentos faz com que estes variem, já que mantêm uma certa relação com nossos pensamentos” (1996, p. 139).

Vygostsky distinguia, no significado das palavras dois componentes:

(aquele referente ao sistema de relações objetivas que se forma no processo

de desenvolvimento da palavra) – o significado e o sentido (referente ao

significado da palavra para cada pessoa), formando as experiências individuais

que se traduziam em vivências afetivas.

“No próprio significado da palavra, tão central para Vygostsky encontra-se uma concretização de sua perspectiva integradora nos aspectos cognitivos e afetivos do funcionamento psicológico humano” (Oliveira, 1992, p. 57).

Vygostsky assumia uma posição contrária a de Piaget sobre a idéia da

internalização. Afirmava que a psicologia deve muito à Piaget que revolucionou

o estudo da linguagem e do pensamento das crianças.

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”Piaget foi o primeiro pesquisador a estudar sistematicamente a percepção e a lógica infantis; além do mais, trouxe para seu objeto de estudo uma nova abordagem de amplitude e ousadia incomuns. Em vez de enumerar as deficiências de raciocínio infantil, em comparação com os adultos.

Concentrou-se nas características distintas do pensamento das crianças, naquilo que elas têm e não naquilo que lhes falta” (Vygostsky, 1987, p. 9).

Estudando as características do pensamento infantil e seus estágios de

desenvolvimento, Piaget observava que a criança concentrava-se naquilo que

elas têm e não naquilo que lhes falta.

Foi dado o primeiro passo para a grande descoberta de Vygostky - da

maior importância para o processo ensino aprendizagem que é seu estudo

sobre a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). Atribuiu papel

preponderante às relações sociais, criando a corrente pedagógica que se

originou de seu pensamento. O chamado sóciointeracionismo.

Segundo Henri Wallon (1879 – 1962), filósofo, médico e psicólogo

francês, a questão de sujeito apresenta-se como próprio núcleo da teoria.

Consiste numa tentativa de historiar o caminho que leva a indiferenciação

simbiótica. É a descrição de um processo de individuação realizado através da

contradição com os outros sujeitos. É pela interação que o sujeito se constrói,

pela interação dialética, vale dizer, contraditório. Isto se dá dentro do quadro de

uma dupla determinação a que Wallon dá o nome de “inconsciente biológico e

inconsciente social” (1986, p.107).

O sujeito individual é precedido por um organismo estruturado, de

maneira a lhe abrir possibilidades e a lhe impor limites e igualmente antecedido

por um acúmulo cultural que estrutura sua consciência, pois começa lhe

impondo as formas de sua língua.

Ele será sempre um sujeito datado, preso às determinações de sua

estrutura biológica e de sua conjuntura histórica.

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Em relação à sua cultura particular, entretanto, ele pode até certo ponto

transcende-la precisamente pelo acesso às demais culturas. A relação do

sujeito com os outros sujeitos, e, por conseguinte, com seu produto cultural,

será sempre uma relação contraditória, por sua própria natureza impelida à

explosão. Na oposição ao outro e seus produtos o sujeito simultaneamente se

constrói e se liberta.

Quase nada no sujeito humano, não é histórico, sim culturalmente

determinado, nem individualmente variado diria um Walloniano diante de sua

afirmação explícita que nada há de absoluto na razão humana. A evolução do

pensamento, que separa o sincretismo infantil da capacidade categorial do

adulto, se dá no sentido da diferenciação conceitual, que dependerá da maior

ou menor quantidade de conceitos prontos que a cultura tenha a lhe oferecer.

Surge a indagação, inevitável, em forma da necessidade de qualificar o

pensamento em duas modalidades uma operatória e outra discursiva,

desigualmente sujeitas à determinação cultural.

Henri Wallon integra inteligência e afetividade na perspectiva genética,

integradas. No plano da inteligência a evolução da afetividade depende das

construções realizadas, bem como a evolução da inteligência depende das

construções afetivas. Admite, no entanto, que, ao longo do desenvolvimento

humano existem fases em que predominam o afetivo e fases em que

predominam a inteligência.

Afetividade e inteligência evoluem ao longo do desenvolvimento,

construídas e desenvolvidas à medida que o indivíduo se desenvolve. As

necessidades afetivas vão se tornando cognitivas nesse movimento.

Os aspectos afetivos e cognitivos dependendo da atividade alternam-se

em termos de predominância. Não se trata da exclusão de um aspecto em

função do outro, mais de um jogo de alternâncias em que um se oculta para

que o outro possa emergir, havendo complementaridade entre ambos e não só

oposição entre o aspecto afetivo e o cognitivo. “A rigor, a relação entre a emoção

e a razão é de filiação, e ao mesmo tempo de oposição” (Galvão, 1995, p. 97). ”A

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razão nasce da emoção e vive da sua morte” (Dantas, 1992, p. 85). Ilustra a

relação entre emoção e razão.

É na ação sobre o meio humano, e não sobre o meio físico, que deve

ser buscado o significado das emoções. Na escola, um espaço onde as

emoções estão presentes. O professor tem um papel essencial no

desenvolvimento afetivo da criança.

Sabendo-se que educar é desenvolver a inteligência conjuntamente com

a emoção, a escola não pode ignorar a vida afetiva de seus alunos.

Diante dos relatos dos grandes mestres, aqui mencionados, Piaget,

Vygostsky, Wallon etc., percebemos, que de há muito tempo a discussão entre

afetividade e aprendizagem já ocupava o universo educacional.

Com as modificações que o mundo, a sociedade vem enfrentando a

figura do “professor” passou a ter um maior desdobramento para que um

melhor aproveitamento escolar fosse adquirido.

As mudanças surgidas com o “pseudo-desenvolvimento” ocasionaram

mudanças importantes na concepção do “aprendizado“.

Surgiu um novo aluno criado infelizmente, pelas maiores dificuldades

que o “progresso“ formou.

O ambiente familiar desagregado, pais alcoólatras, mãe provedora do

lar, afastando-se da criança por diversas circunstâncias, trabalho fora do lar,

grande número de horas passadas fora causando afastamento dos filhos, não

podendo acompanhar as tarefas escolares, etc. Enorme concorrência

profissional, fazendo com que os empregos cada vez mais escasseiem,

levando os dois (pai e mãe) a se afastarem dos lares para conseguirem

“manter a família”.

A violência surgida, com a maior expansão dos meios de comunicação

que levaram o educando a transformar-se num ser diferenciado, portador de

inúmeros problemas (drogas, carência emocional, maior facilidade de acesso a

todos os meios de comunicação).

Isso tudo trouxe uma nova perspectiva para o “ensino”.

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Na busca para tentativa da resolução dos inúmeros problemas acima,

chegou-se a conclusão que o “ser aluno” não poderá ser olhado de forma

isolada, nem impessoal.

A afetividade tornou-se indispensável para o binômio cognição-

aprendizagem.

Somente através de uma observação direcionada aquele “aluno carente”

e não encarado como um todo, o educador tentará suavizar seus problemas,

afim de que o mesmo tenha o maior aproveitamento educacional.

Surge então a “substituição” do professor para o educador, aquele que

além de ministrar a aprendizagem deverá ter um maior elo com seus “alunos”,

para que haja uma relação mútua de confiança e amizade.

Um aluno criando um vínculo afetivo com professor de determinada

matéria terá, certamente, um maior aproveitamento.

O atendimento psicológico educacional tem como objetivo, realizar e

desenvolver o afetivo da criança, executando um plano de intervenção

“estimulação” por meio de matérias diversificadas e jogos visando o processo

de equilíbrio cognitivo e o desenvolvimento afetivo da criança.

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Capítulo II.

AFETIVIDADE - CONCEITOS BÁSICOS PARA UM

MELHOR APROVEITAMENTO EDUCACIONAL

Pesquisando autores como Wallon, Piaget, Vygotsky, Saltini, artigos

sobre aproveitamento educacional, novos métodos adotados pela escola,

revistas pedagógicas, percebemos uma mudança qualitativa no processo de

ensino/aprendizagem com uma visão inovadora sobre todas as tecnologias,

trazendo mostras de “conceitos básicos para um melhor aproveitamento

educacional”, o qual vem se aprimorando cada dia mais, através da afetividade.

A psicopedagogia assumiu um enfoque terapêutico na necessidade de

contribuir na questão do fracasso escolar apresentando um caráter

reeducativo.

O estudo do processo de aprendizagem e a preocupação em refazê-lo

passou entre os anos 80 e 90, a tratar dos sintomas apresentados pelos alunos

com problemas de aprendizagem.

A psicopedagogia passa a ser vista como uma ciência independente da

psicologia e da pedagogia.

Nasce da necessidade de resolver problemas que não tinham obtido

êxito positivo nos métodos usados tradicionalmente.

Analisando o seu objeto de estudo com mais clareza e fidelidade a

psicopedagogia se preocupa em analisar todas as faces que o ser cognoscente

apresenta.

Pelo vínculo estabelecido entre psicopedagogos e ser cognoscente

haverá uma maior abertura para que o processo começado entre ambos

obtenha o sucesso esperado e de forma integrada.

Além do direito à formação da cidadania a educação escolar é

necessária para a formação do aluno. Este não deverá passar pela escola. É

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preciso que aprenda através de um processo educativo que o prepare para

aprender a aprender.

Para a vida em sociedade a educação é uma exigência. A aprendizagem

é um processo contínuo e não cessa quando a criança sai da escola.

“Professores há aos milhares. Mas professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor.

Educador, ao contrário não é profissão; é vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança“ (Alves, 1986, p. 16).

Sabendo-se da importância da relação educador / aluno almejando um

maior aproveitamento escolar, tornou-se necessário compreender que a

missão do educador é “orientar” este aluno para a vida em sociedade.

Os conceitos de “aproveitamento escolar” foram se modificando a

medida que os fracassos escolares foram aumentando. Essa transformação

apareceu em uma sociedade que se modifica constantemente trazendo novos

enfoques para a chamada “ESCOLA”.

Para “enfrentar” todas as mudanças que foram se apresentando no

caminho da preparação escolar desse “novo” aluno, que surge e que não pode

ser “ignorado”, a escola exigiu um profundo estudo, uma nova maneira de agir.

A principal figura que interage junto ao aluno é o educador.

A figura do educador que se propunha a ministrar conhecimentos

escolares (ler e escrever), foi se modificando devido às novas condições

apresentadas pelos alunos.

O educador, o “mestre” teria que se moldar as circunstâncias

introduzidas pelas mudanças na sociedade, no âmbito familiar, no próprio meio

escolar.

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A vida cotidiana, brutalmente modificada; conflitos em todos os âmbitos:

familiar, no meio ambiente, nos apelos que os meios de comunicação

expandem encaminhou o processo educacional para uma nova vertente.

Novas instalações, modernidade por todos os lados, aparelhagens

atualizadas introduzidas em sala de aula, nada trouxe melhor resultado do que

a mudança comportamental do principal elemento ligado à criança.

O aluno que ingressa na escola carregando toda sua bagagem pessoal

torna-se alvo de um maior estudo. Este precisa ser encarado de uma forma

mais humana, sendo melhor observado individualmente.

“A relação afetiva vai buscar as suas componentes menos no domínio intelectual do que ao domínio da subjetividade. É verdadeiramente no plano da sensibilidade que se deve procurar a natureza profunda das relações professor-aluno mais do que no plano da atividade intelectual” (Mauco, 1968, p.145).

Encarados como objeto de conhecimentos o estudo sistematizado dos

afetos e sentimentos deverá ser incorporado no cotidiano de nossas escolas,

articulando as relações intrínsecas entre cognição e afetividade no campo da

educação.

É na ação sobre o meio humano e não sobre o meio físico que deve ser

buscado o significado das emoções.

O ser humano é formado a medida que participa das diversidades dos

processos sociais.

A escola já não pode mais ignorar a vida afetiva de seus alunos. A

escola é um espaço onde as emoções estão presentes no desenvolvimento

afetivo da criança; o professor tem um papel essencial.

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Dentre os diversos autores que trabalharam sobre o tema, combinando

aspectos da psicologia com a educação, surge Henri Wallon, educador e

médico francês,que viveu de 1879 a 1962.

Para Wallon, a emoção estaria relacionada ao componente biológico do

comportamento humano, referindo-se a uma reação de ordem física. Já a

afetividade teria uma significação mais ampla, na qual se inserem várias

manifestações – das basicamente orgânicas (primeiras expressões de

sofrimento e de prazer que a criança experimenta, como a fome ou a

saciedade) às manifestações relacionadas ao social (sentimento, paixão,

emoção, humor, etc. )

Assim, a afetividade poder ser conceituada como todo o domínio das

emoções, dos sentimentos das emoções, das experiências sensíveis e,

principalmente, da capacidade de entrar em contato com sensações, referindo-

se às vivências dos indivíduos e às formas de expressão mais complexas e

essencialmente humanas.

Criador da Epistemologia Genética, Piaget (1896-1980) reconheceu que

a afetividade é o agente motivador da atividade cognitiva. Para Piaget,a

afetividade e a razão constituiriam termos complementares: a afetividade seria

a energia, o que move a ação, enquanto a razão seria o que possibilitaria ao

sujeito identificar desejos,sentimentos variados ,e obter êxito nas ações.

Para Vygotsky (1896-1934), o desenvolvimento pessoal seria operado

em dois níveis: o do desenvolvimento real ou efetivo referente às conquistas

realizadas e o do desenvolvimento potencial ou proximal relacionado às

capacidades a serem construídas.

Vygotsky é considerado, muitas vezes, cognitivista por ter se

preocupado principalmente com os aspectos do funcionamento do

pensamento. Entretanto questionava o dualismo entre as dimensões afetivas e

cognitivistas quando menciona que a psicologia tradicional peca em separar os

aspectos intelectuais dos afetivos-volitivos.Vygotsky afirmava que “os

processos pelos quais o afeto e o intelecto se desenvolvem estão inteiramente

enraizados em suas inter-relações e influências mútuas”.

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O medo demonstrado em situações novas que surgem, responder

algumas perguntas, apresentar um trabalho, a ansiedade diante de uma prova

e a não aceitação pelo grupo são as principais emoções que surgem em sala

de aula.

”O que determina que os conflitos sejam destrutivos ou construtivos não é sua existência, mas sim a forma como são tratados. ...problemas dos alunos também precisam ser tratados” (Johnson e Johnson, 1995, p. 39)

Os conflitos do cotidiano, valiosos na construção de um espaço

autônomo de reflexão e ação devem ser transformados por uma escola de

qualidade, permitindo aos alunos uma ampla e variada exposição de conflitos

pessoais e sociais.

Os sentimentos, as emoções e os valores devem ser encarados como

objetos de conhecimento.

“A afetividade contém a impressão subjuntiva da qualidade do objeto que eles despertam no ser humano: alegria, tristeza, amor, paixão e tantos outros. Podem depender tanto do meio externo, também podem ser afetados por motivos subjetivos de conteúdo psicológico” (Pinto, 2002, p.38).

No desenvolvimento mental da criança existe um paralelo, entre o

cognitivo e o afetivo, ou seja, uma relação direta entre a inteligência e a

afetividade.

O interesse e a vontade demonstradas pela criança na expansão das

estruturas que a mesma dispõe para alcançar as funções cognitivas, amplia-se

através da afetividade.

Na construção da inteligência o afeto é fundamental.

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Encaramos, hoje, problemas como “falta de preparo dos educadores,

comportamento indesejável de parte dos alunos, mudanças na sociedade,

atitudes dos professores nocivas à afetividade. Para encará-los temos que

analisar que o educador nem sempre está preparado ou tem elementos para

trabalhar a dimensão afetiva na sala de aula. Não tem instrumentos para

“notar” os diversos sinais emitidos pelos alunos.Torna-se impotente diante de

inúmeras situações que lhes escapam ao controle.Terminam perdidos em sala

de aula.

As manifestações apresentadas pelo aluno “rebelde” apresentam-se sob

forma de rebelião sistemática contra a autoridade instituída, o uso da droga, a

violência, a falta de limites.

Embora ameacem a autoridade do educador tais atitudes nada mais são

do que “dizer que o aluno não está satisfeito.” Ao educador cabe descobrir

essa insatisfação, aquilo que “esconde atrás da indisciplina do aluno” e as

causas que geram para tentar solucioná-las.

A escola não consegue acompanhar as profundas transformações na

mudança da sociedade brasileira. O aluno não é mais aquele sujeito passivo,

silencioso e obediente, se, por um lado esse era o aluno “ideal”, hoje surge

aquele que participa ativamente, surgindo até como indisciplinado, pois não se

limita a sentar em sala de aula tentando “aprender” as matérias, torna-se

participativo, questionador, circula pela sala, impõe sua presença nas diversas

atividades. Precisa ser acompanhado. Nota-se sua predominância no meio

social mais elevado.

Por outro lado o “aluno” que vem de um meio totalmente diferente ainda

preocupa mais, esse que infelizmente predomina no nosso país. Surgindo das

classes mais empobrecidas, que não tem meios de provê-lo nas suas mínimas

necessidades, essa criança chega à escola com fome, com profundas mazelas

emocionais. Ao contrário de seu colega melhor favorecido procura se ocultar

em sala de aula. Sua timidez o inibe, não o deixa alcançar um melhor nível no

seu aprendizado escolar.

Todas essas alterações procuraram formar um novo caminho.

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Muitos fatores concorrem para isso: novos valores na sociedade: o

respeito, o limite, o conceito de liberdade provocam dificuldades no ministrar o

“ensino”.

Identificamos aí o fenômeno do individualismo hoje existente. Sem

considerar a coletividade a valorização de si mesmo.

Outro motivo, pais excessivamente tolerantes não impondo limites para

seus filhos. Aos educadores “cabe” tentar enfrentar problemas tão complexos.

Sua atitude muitas vezes é interpretada como nociva à afetividade

dificultando as relações educativas. Certos gestos do educador trazem o

distanciamento em relação ao aluno: agressão verbal, através de palavras ou

gestos. Reprimem o aluno, impedindo o mesmo de falar, circular em sala de

aula, ou ao diagnosticar o “futuro fracasso escolar”.

Tal procedimento é mais do que suficiente para confirmar a necessidade

de uma formação afetiva na relação educativa (aluno-professor) bem como a

estagnação do sistema educacional não havendo mudanças significativas fez

surgir nos últimos 20 anos profundos estudos e diferentes rumo a serem

alcançados.

A educação da afetividade leva as pessoas a se conhecerem e a

compreenderem melhor suas próprias emoções e as das pessoas com quem

interagem no dia a dia.

Conteúdos de natureza afetiva transformam os objetos de conhecimento

estudantil da mesma forma que a matemática e língua são vistos como objetos

de conhecimento a serem aprendidos.

“Integrar o que amamos com o que pensamos é trabalhar, de uma só vez, razão e sentimentos; supõe elevar este último à categoria de objetos de conhecimento dando-nos existência cognitiva, ampliando assim seu campo de ação” (Moreno, 1998, p. 12).

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Os conceitos de amor, carinho, compreensão, respeito, amizade,

solidariedade, atenção e companheirismo constituem o núcleo central da

representação de afetividade, sendo que amor e respeito destacam-se.

Avaliando-se a concepção de “afetividade dos professores” a afetividade

surge como um sentimento, uma atitude, um estado e uma ação, que nasce na

interação entre os seres humanos.

É vista também como instrumento de relação sujeito-mundo. Constitui

uma dimensão integrada à personalidade do indivíduo, e como tal não pode ser

desenvolvida. Esse sentimento é intra-subjetivo e traduz uma relação de si

para consigo. Também representa uma atitude, quer dizer, uma disposição

interna para compreender, respeitar, proteger, tomar cuidado, ajudar, dialogar,

escutar, aceitar e desejar a proximidade do outro. Esse sentimento inscreve-se

nas interações sociais mediante a expressão humana de proteção de cuidado e

de solidariedade entre outros. A atividade como um estado há de ser avaliada

nas três dimensões do vínculo do sujeito: consigo mesmo, com o outro, com o

universo. Se o sujeito está ligado ao outro existe uma troca.

A existência de um fio de uma conexão propõe que a afetividade

profunda entre os seres humanos tem por regra a reciprocidade.

A criação de vínculos entre educadores e alunos na importância da

afetividade permite a criação de vínculos entre eles. Cria um clima de

confiança, de respeito mútuo, de amizade, de compreensão das necessidades

dos alunos e da expressão sincera dos sentimentos. Uma vida afetiva na

escola aumenta o interesse pelos estudos, melhora a aprendizagem cognitiva e

reduz as taxas de abandono de fracasso escolar.

Na relação educativa, a afetividade evidencia conseqüências positivas e

negativas:

Conseqüências positivas: os alunos tornam-se mais calmos e tranqüilos,

participam das aulas, constroem uma imagem deles mesmos como seres

humanos capazes e importantes. Os resultados no campo educativo são

positivos. Os alunos alcançam aprendizagens significativas.

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Conseqüências negativas: os alunos baixam a auto-estima

desinteressam-se pelos estudos, manifestam dificuldades de relacionamento.

Enfim, o fracasso escolar.

Na seqüência de destaques para um maior aproveitamento educacional

o educador apresenta diversas e novas características pessoais, pedagógicas

e educativas, profissionais.

Torna-se humano, próximo ao aluno, paciente, seguro, maternal,

humilde, estudioso, confiante, respeitoso, aberto às críticas e ao diálogo que é

importantíssimo. Coloca-se a disposição deles para ajudá-los. Busca o saber

escolar com a realidade do aluno. Seu prazer em ensinar propicia encontros e

trocas afetivas. Aumenta o envolvimento do aluno nos trabalhos em grupo e na

participação coletiva das decisões.

Esses procedimentos ajudam na construção da cidadania dos alunos.

A mentalidade aberta, a responsabilidade e o entusiasmo são atitudes

necessárias ao “novo professor”, que escuta os alunos, respeita seus

diferentes pontos de vista e reconhece os próprios erros.

Os saberes teóricos não são suficiente para o exercício da atividade

profissional. Embora exista a necessidade de construir competências, há,

paralelamente, a necessidade de trabalhar a dimensão afetiva.

O estabelecimento de relações afetivas entre professor e alunos em um

clima de respeito e confiança cria um vínculo entre esses dois sujeitos.

Se existe um clima de respeito e amizade em sala de aula o aluno

poderá exprimir seus sentimentos naturalmente.

“Você pode fazer melhor”! “Você é capaz”! São exemplos de condutas

verbais que mostram por parte do educador estímulo, respeito e ajuda. Saber

ouvir, outro ponto em que o educador de forma compreensiva e empática,

procura que os alunos se expressem e revelem seus problemas tentando

compreender sua realidade.

Com a simples expressão do olhar o educador pode transmitir

pensamento e sentimentos, tanto positivos quanto negativos. As dificuldades

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do aluno devem ser detectadas pelo professor para que ele o ajude nas

soluções.

“É importante ressaltar o papel do professor na escola. Ele não pode ser aniquilado nem sequer deixado de lado. Na educação o aluno é obrigado a fazer sem o menor interesse, sendo que os seus interesses nunca são considerados” (Saltini, 1999, p.65).

Segundo o pensamento de Piaget o principal objetivo da educação seria

criar homens capazes de inventar coisas novas e não apenas meros

repetidores daquilo que outras gerações fizeram.

A criança deseja e necessita ser amada, aceita, acolhida e ouvida para

que possa despertar para a vida da curiosidade e do aprendizado.

A postura do educador se manifesta na percepção e na sensibilidade

dos interesses das crianças que em cada idade diferem em seu pensamento e

modo de sentir o mundo.

O papel do educador deve ser o de incitar a pesquisa e de fazer tomar

consciência dos problemas, e não o de ditar a verdade. De fato, é preciso não

esquecer que uma verdade imposta deixa de ser uma verdade.

Um educador não deverá jamais deixar uma dúvida de lado ou uma

pergunta esquecida. Não há assunto que não possa ser tratado, conversado ou

pesquisado. A vida na escola deverá ser palpitante, atualizada e ligada ao

interesse cotidiano.

As contribuições de Wallon, Piaget e Vygotsky estão sendo retomadas

pelos educadores para entender a percepção intuitiva de pais e professores de

que as experiências e os laços afetivos influenciam os processos de ensino-

aprendizagem.

A afetividade também é concebida como o conhecimento construído

através da vivência, não se restringindo ao contato físico, mas à interação que

se estabelece entre as partes envolvidas, na qual todos os atos comunicativos,

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por demonstrarem comportamentos, intenções, crenças, valores, sentimentos e

desejos, afetam as relações e, consequentemente, o processo de

aprendizagem.

Perceber o sujeito como um ser intelectual e afetivo, que pensa e sente

simultaneamente, e reconhecer a afetividade como parte integrante do

processo de construção do conhecimento, implica um outro olhar sobre a

prática pedagógica, não restringindo o processo ensino-aprendizagem apenas

à dimensão cognitiva.

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Capítulo III.

AFETIVIDADE, ESCOLA, FAMÍLIA E APRENDIZAGEM

Não podemos ignorar que o mecanismo de aprendizagem, do qual toda

criança deve participar e ter um aproveitamento real e não parcial não tem só

uma vertente.

Para a criança que bem pequena já é encaminhada à creche, às vezes

são grandes as dificuldades, isto por que o afastamento da criança de sua

mãe, do seu meio social e do seu mundinho podem trazer senão bem

observados, “traumas ou vitórias” conforme as situações apresentadas.

Há uma grande diferença entre o que desejamos e o que realmente

temos na realidade escolar. Fatores como a instabilidade emocional dos

educandos, o seu meio familiar tão heterogêneo e a dificuldade de

aprendizagem mostram que novas formas têm que ser buscadas e

encontradas novas metodologias.

Para Bossa “é comum na literatura os professores serem acusados de

se isentarem de sua culpa e responsabilizar o aluno ou sua família pelos

problemas de aprendizagem” (1994, p. 14).

Chegou-se a conclusão de que os métodos de ensino têm que ser

mudado, bem como o procedimento dos educadores utilizando o afeto, o amor

e a atenção como seus grandes aliados para transformar o processo ensino

aprendizagem.

Responsável pela transmissão de um saber consagrado, útil a

manutenção de uma ordem e trabalho sociais a escola pode contribuir para o

fortalecimento de um saber restrito, infelizmente, a poucos.

Existe hoje em dia, uma maior complexidade no sistema escolar.

Com projetos públicos educativos homogêneos, anteriormente, a escola

era regulada de maneira firme, contrastando com propostas atuais

heterogêneas e diversidade de expectativas e aspirações dos educandos.

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A escola não consegue conciliar suas antigas funções de educar,

selecionar e socializar. Perde seu papel organizador apesar de continuar como

uma instituição do saber e da produção de conhecimentos. Pouco preparada

para enfrentar os desafios que surgem, a escola se enfraquece enquanto

agência de socialização.

A escola constitui um contexto diversificado de desenvolvimento e

aprendizagem, isto é, um local que reúne diversidade de conhecimentos,

atividades, regras e valores que é permeado por conflitos, problemas e

diferenças (Mahoney, 2002). É nesse espaço físico, psicológico, social e

cultural que os indivíduos processam o seu desenvolvimento global, mediante

as atividades programadas e realizadas em sala de aula e fora dela (Rego,

2003).

A escola é uma instituição social com objetivos e metas determinadas,

que emprega e reelabora os conhecimentos socialmente produzidos com o

intuito de promover a aprendizagem e efetivar o desenvolvimento das funções

psicológicas superiores.

Marques (2001) destaca que a função da escola no século XXI tem o

objetivo precípuo de estimular o potencial do aluno, levando em consideração

as diferenças socioculturais em prol da aquisição do seu conhecimento e

desenvolvimento global. Sob este prisma, ele aponta três objetivos que são

comuns e devem ser buscados pelas escolas modernas:

a) estimular e fomentar o desenvolvimento em níveis físico, afetivo,

moral, cognitivo, de personalidade;

b) desenvolver a consciência cidadã e a capacidade de intervenção

no âmbito social;

c) promover uma aprendizagem de forma contínua, propiciando, ao

aluno, formas diversificadas de aprender e condições de inserção no mercado

de trabalho. Isto implica, necessariamente, em promover atividades ligadas aos

domínios afetivo, motor, social e cognitivo, de forma integrada à trajetória de

vida da pessoa.

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Em síntese, a escola é uma instituição em que se priorizam as

atividades educativas formais, sendo identificada como um espaço de

desenvolvimento e aprendizagem. O currículo, no seu sentido mais amplo,

deve envolver todas as experiências realizadas nesse contexto. Isto significa

considerar os padrões relacionais, aspectos culturais, cognitivos, afetivos e

sociais e históricos que estão presentes nas interações e relações entre os

diferentes segmentos. Dessa forma, os conhecimentos oriundos da vivência

familiar podem ser empregados como mediadores para a construção dos

conhecimentos científicos trabalhados na escola.

Uma melhor relação educativa entre professores e alunos pode melhorar

substancialmente à aprendizagem dos conteúdos escolares.

Quando o professor sem perder de vista a condição do aluno como ser

humano (filho, irmão, amigo etc.) se esmera em considerar esse aluno

ajudando-o no seu melhor aproveitamento escolar, evidencia-se a relação,

importantíssima, família-escola. Relação essa que segundo Paro, tem um

distanciamento que não deveria ser tão grande, pois, a escola

“não assimilou quase nada de todo o processo da psicologia da educação e da didática, utilizando métodos de ensino muito próximos e idênticos aos de senso comum predominantes nas relações familiares” (2000, p.16).

Uma vez que a escola atual, segundo Paro, é bastante parecida com a

escola que os pais freqüentaram estes não deveriam ficar tão distantes do

sistema educacional, bem como o professor apesar de admitir a necessidade

da participação dos pais na escola não sabe como encaminhá-la.

“Parece haver, por um lado, uma incapacidade de compreensão por parte dos pais, daquilo que é transmitido na escola, por outro lado, uma falta de habilidade dos professores para promoverem essa comunicação” (ibidem, p. 68).

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A família, presente em todas as sociedades, é um dos primeiros

ambientes de socialização do indivíduo, atuando como mediadora principal dos

padrões, modelos e influências culturais (Amazonas, Damasceno, Terto &

Silva, 2003). É também considerada a primeira instituição social que, em

conjunto com outras, busca assegurar a continuidade e o bem estar dos seus

membros e da coletividade, incluindo a proteção e o bem estar da criança. A

família é vista como um sistema social responsável pela transmissão de

valores, crenças, idéias e significados que estão presentes nas sociedades. Ela

tem, portanto, um impacto significativo e uma forte influência no

comportamento dos indivíduos, especialmente das crianças que aprendem as

diferentes formas de existir, de ver o mundo e construir as suas relações

sociais.

É por meio das interações familiares que se concretizam as

transformações nas sociedades que, por sua vez, influenciarão as relações

familiares futuras, caracterizando-se por um processo de influências

bidirecionais, entre os membros familiares e os diferentes ambientes que

compõem os sistemas sociais, dentre eles a escola, constituem fator

preponderante para o desenvolvimento da pessoa.

As mudanças na estrutura, organização e padrões familiares sofrem

transformações tecnológicas, sociais e econômicas. A família constitui a

unidade dinâmica das relações de cunho afetivo, social e cognitivo que estão

imersas nas condições materiais, históricas e culturais próprias que geram

modelos de relação inter-pessoal e de construção individual e coletiva.

A estrutura familiar e a sua constituição afetam a elaboração do

conhecimento e as formas de interação no dia a dia das famílias.

É a principal responsável pelas transformações sociais ocorridas ao

longo do tempo, dando aos poucos um papel importantíssimo na construção da

pessoa, sua personalidade e sua inclusão no mundo social e do trabalho.

Portanto, as transformações tecnológicas, sociais e econômicas

favorecem as mudanças na estrutura, organização e padrões familiares e,

também, nas expectativas e papéis de seus membros. E a constituição e a

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estrutura familiar, por sua vez, afetam diretamente a elaboração do

conhecimento e as formas de interação no cotidiano das famílias. Ela é a

principal responsável por incorporar as transformações sociais e

intergeracionais ocorridas ao longo do tempo, com os pais exercendo um papel

preponderante na construção da pessoa, de sua personalidade e de sua

inserção no mundo social e do trabalho (Távora, 2003).

No ambiente familiar a criança aprende a administrar e resolver conflitos,

a controlar as emoções, a expressar os diferentes sentimentos que constituem

as relações inter-pessoais, a lidar com as diversidades e adversidades da vida

( Wagner, Ribeiro, Arteche & Bornholdt, 1999). Essas habilidades sociais e sua

forma de expressão, inicialmente desenvolvidas no âmbito familiar, têm

repercussões em outros ambientes com os quais a criança, o adolescente ou

mesmo o adulto interagem, acionando aspectos salutares ou provocando

problemas e alterando a saúde mental e física dos indivíduos (Del Prette & Del

Prette, 2001).

As atividades individuais e coletivas dos membros familiares estão

ligadas retratando novas relações que se estabelecem na sociedade. Existem

inúmeras combinações, formas de interação transformando a família, que deixa

de ser uma instituição privada uma vez que, individual e coletivamente seus

membros estão ligados e se influenciam mutuamente. Pais e mães que provêm

o lar através de seus trabalhos. Novas alianças têm se formado modificando a

estrutura familiar independente da “tradicional”, recasados, monoparentais,

homossexuais etc. O próprio conceito de família e a configuração dela têm

evoluído para retratar as relações que se estabelecem na sociedade atual. Não

existe uma configuração familiar ideal, porque são inúmeras as combinações e

formas de interação entre os indivíduos que constituem os diferentes tipos de

famílias contemporâneas.

Esta família com os novos “arranjos” que vão surgindo transmite valores

culturais de uma geração para outra provocando a valorização do potencial dos

seus membros e sua evolução e atualização, dentre as quais a socialização da

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criança, onde os papeis de pai, mãe, irmãos, esposa, marido etc. soa

evidenciados.

Buscando nova estabilidade nas relações a família procura manter o

bem estar de cada um.

Essas mudanças podem funcionar tanto como forças propulsoras ou

inibidoras no desenvolvimento e criação de seus filhos.

Brigas, conflitos, desrespeito, rompimento, podem causar problemas

futuros na criança. Já um ambiente feliz com relações satisfatórias entre seus

membros torna-se fonte de apoio e de alegria para a criança que ali convive.

Portanto, a família, hoje, não é mais vista como um sistema privado de

relações ao contrário, as atividades individuais e coletivas estão intimamente

ligadas e se influenciam mutuamente. O que ocorre na família e na sociedade é

sintetizado, elaborado e modificado provocando a evolução e atualização dela

e de sua história na sociedade.

Neste processo contínuo de busca por estabilidade, as famílias contam

ou não com o suporte de uma rede social de apoio, que permite a elas

superarem (ou não) as dificuldades decorrentes de transições do

desenvolvimento (Dessen & Braz, 2000). Independente das que ocorrem no

âmbito familiar, elas são produtoras de mudanças que podem funcionar como

aspectos propulsores ou inibidores do desenvolvimento, influenciando, direta

ou indiretamente, os modos de criação dos filhos. No entanto, a principal rede

de apoio da família é oriunda das próprias interações entre seus membros.

Contatos negativos, conflitos, rompimentos e insatisfações podem gerar

problemas futuros, particularmente nas crianças. Por outro lado, relações

satisfatórias e felizes entre marido e esposa constituem fonte de apoio para

ambos os cônjuges, sobretudo para a mulher.

A família pode também ser considerada como responsável pela

transmissão de um patrimônio econômico e cultural (Bourdieu,1999). Nela a

identidade social do indivíduo é moldada. Através de seus descendentes a

família transmite um nome, uma cultura, um estilo de vida moral, ético e

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religioso. Cada família é responsável por uma maneira singular de vivenciar

esse patrimônio (Lahire, 1997).

Os laços afetivos formados dentro da família, particularmente entre pais

e filhos, podem ser aspectos desencadeadores de um desenvolvimento

saudável e de padrões de interação positivos que possibilitam o ajustamento

do indivíduo aos diferentes ambientes de que participa.

A tarefa de se construir uma parceria na relação família-escola de ordem

afetiva e moral, faz-se necessária uma vez que a escola não sustenta nem

nunca tentou, substituir a família em sua posição de substituta, na função

educadora, bem como não lhe caberá assumir uma postura de resistência e

rivalidade, mesmo considerando a possível ignorância e incapacidade da

família para sozinha educar e socializar.

Portanto a escola necessita manter uma relação de cooperação com a

família para conhecer as dinâmicas e o universo sócio-cultural de seus alunos,

respeitá-los, compreende-los para conseguir um maior desenvolvimento

educacional.

Na parceria com a família as condutas do filho com aproveitamento

escolar, relacionamento com professores, colegas, valores, respeito às regras

aparecem.

Essa parceria tem que ser entendida como uma relação de cooperação

conforme conceito de Piaget nas palavras de Menin.

“Cooperação para Piaget é operar com... é estabelecer trocas equilibradas com os outros, sejam estas trocas referentes a favores, informações materiais, influências...” (1996, p. 52).

O que significa tornar paralelos os papéis de pais e professores na

relação escola-família conforme o sentido piagetiano, é que os mesmos tem as

possibilidades de exporem suas opiniões, ouvindo os professores sem receio

de serem avaliados, criticados, trocando pontos de vista.

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Colocam-se um no lugar do outro não apenas trocando favores.

“A cooperação, em seu sentido mais prodigioso, o de supor afetos, permitir as escolhas, os desejos, o desenvolvimento moral como construção dos próprios sujeitos, um trabalho constante com estruturas lógicas e a relação de confiança (Tognetta, 2002, p. 84).

Ao final das chamadas reuniões de pais, às vezes extensas sem

planejamento adequado não tem proporcionado abertura para o início de uma

proposta de parceria. A ausência dos pais, sua falta de interesse nas mesmas

pela vida escolar das crianças.

Queixas e lamentações não resolvem! Os problemas surgidos não

encontram as famílias preparadas para resolvê-los ou enfrentá-los, dando-lhes

soluções.

“Uma ligação estreita e continuada entre professores e os pais leva, pois, a muita coisa mais que a uma informação mútua: este intercâmbio acaba resultando em ajuda recíproca e, frequentemente, em aperfeiçoamento real dos métodos. Ao aproximar a escola da vida ou das preocupações profissionais dos pais, e ao proporcionar, reciprocamente, aos pais um interesse pelas coisas da escola, chega-se até mesmo há uma divisão de responsabilidade...” (Piaget, 1972/2000, p. 50).

É função inicial dos professores transferirem a construção dessa

parceria para a família, o que traz a mesma, sentimentos de ansiedade,

vergonha e incapacidade, uma vez que não são especialistas em educação.

Tal comportamento resulta no afastamento da família.

Conscientizando a escola do papel que possui na construção dessa

parceria, a intervenção pedagógica é no sentido de considerar a necessidade

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da família possibilitando-lhes a reconstrução da auto-estima para que não se

sintam acusados e sim compreendidos, e não rejeitados pala instituição escola.

Fazê-los sentir-se reconhecidos e fortalecidos como parceiros nesta relação.

“Se toda pessoa tem direito a educação, é evidente que os pais também possuem, o direito de serem senão educados, ao menos informados e mesmo formados no tocante à melhor educação a ser proporcionado a seus filhos” (ibidem, p. 50).

É importante que haja um entrelaçamento entre escola, família e

aprendizagem para que a trajetória do educando siga com sucesso sua

caminhada que vai da educação infantil ao ensino médio e daí em diante para

sua completa formação.

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Conclusão

Estamos vivendo momentos de grandes e rápidas mudanças em que

podem ocorrer desencontros sociais e educacionais.

É essencial, na vida escolar, a construção de uma escola mais humana

e de qualidade para todos.

A formação do professor teve que ter seus limites ampliados não se

limitando a ser o condutor, o elemento que privilegiaria, apenas, a formação do

aluno e sim o elemento, que, de forma contínua e relevante constrói o processo

de reflexão que muito contribui para a educação e formação plena do ser

humano afetivo, cognitivo e sociocultural.

Um melhor aproveitamento escolar constantemente enfocado por

pesquisadores fez surgir novos e importantíssimos enfoques para a solução

desses problemas.

O vínculo criado entre educando e educador propiciando uma maior

aproximação entre ambos foi um dos itens que melhor colaborou para a

obtenção de melhores resultados, abrangendo, não só, o aluno, mas o ser

humano.

Como um recurso facilitador do ensino da aprendizagem a afetividade

aparece propiciando o desenvolvimento de certas capacidades e habilidades

que só serão possíveis com a união de sentimentos e ensinamentos

pedagógicos.

Não existe mais espaço para a escola que exclui, reduz e limita.

Seja pelo trabalho dos professores, pelas condições do trabalho dos

mesmos, pelos altos índices de repetência, pela evasão escolar.

A linguagem é o principal objetivo para que haja uma comunicação

socialmente construída e transmitida culturalmente.

Conseguimos apreender que o conteúdo e as representações sociais da

afetividade com os elementos que as constituem são o núcleo central dessas

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representações a saber: respeito, amizade, afeto, solidariedade, atenção,

companheirismo.

Superando obstáculos, o ser cognoscente de acordo com sua

capacidade cognitiva, apesar de possíveis falta de habilidades físicas, se bem

motivado, será capaz de aprender e mobilizar recursos pessoais positivos.

Esperamos que essa escola transformadora consciente do seu papel

político na luta contra as desigualdades sociais atinja o objetivo de um ensino

eficiente capacitando seus alunos nas conquistas culturais e nas

reinvindicações sociais.

Apesar de vastíssimo esse novo campo educacional não podemos ter a

pretensão de esgotar, Com essa pesquisa, as soluções e sim procurar apontar

novos caminhos para a construção de uma escola mais humana e de melhor

qualidade para todos.

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Índice

PÁG.

Introdução ................................................................................................ 8

Capítulo I

COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM USANDO-SE COMO FOCO A AFETIVIDADE .........................................................................................

11

Capítulo II

AFETIVIDADE-CONCEITOS BÁSICOS PARA UM MELHOR APROVEITAMENTO EDUCACIONAL.....................................................

19

Capítulo III

AFETIVIDADE, ESCOLA, FAMÍLIA E APRENDIZAGEM ........................

30

Conclusão ................................................................................................ 39

Referências Bibliográficas ....................................................................... 41

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Universidade Candido Mendes

Pós-Graduação “LATO SENSU”

Projeto A VEZ DO MESTRE

Curso: Psicopedagogia

FOLHA DE AVALIAÇÃO

IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDAE NA

POTENCIALIZAÇÃO COGNITIVA DO ALUNO

Maria Beatriz Porciuncula Porangaba Costa

Orientador(a):Prof.(a) Carly Machado

Avaliado por:

Conceito: