IMPORTÂNCIA DA MONITORIZAÇÃO TERAPÊUTICA DA DIGOXINA”
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DÉBORA ALVES
“IMPORTÂNCIA DA MONITORIZAÇÃO TERAPÊUTICA DA DIGOXINA”
UNIVERSIDADE DO VALE DO SAPUCAÍPOUSO ALEGRE – MG
2012
DÉBORA ALVES
“IMPORTÂNCIA DA MONITORIZAÇÃO TERAPÊUTICA DA DIGOXINA”
UNIVERSIDADE DO VALE DO SAPUCAÍPOUSO ALEGRE – MG
2012
Artigo apresentado ao Curso de Farmácia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade do Vale do Sapucaí como requisito para a obtenção do título de Bacharel, sob orientação do Prof. Msc. Maurílio Pacheco-Neto.
Alves, Débora.
Importância da Monitorização Terapêutica da Digoxina/ Débora Alves
Pouso Alegre: UNIVAS, 2012.
20 f.
Trabalho de Conclusão de curso (Graduação) - Faculdade de Ciências
da saúde da Universidade do Vale do Sapucaí, UNIVAS. Curso de Farmácia,
2012.
Orientador: Prof. Msc. Maurílio Pacheco Neto.
1. Digoxina. 2. Efeitos Tóxicos. 3. Monitorização Terapêutica de Fármacos. I. Título
ALVES, Débora. Importância da Monitorização Terapêutica da Digoxina. 2012.
Artigo – Curso de FARMÁCIA. FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE “DR.
JOSÉ ANTONIO GARCIA COUTINHO”. Universidade do Vale do Sapucaí. Pouso
Alegre. 2012.
RESUMO
A digoxina, medicamento usado no tratamento de Insuficiência Cardíaca e na Fibrilação Atrial, possui ação inotrópica e também propriedades parassimpaticomiméticas. Digitálico extraído da dedaleira Digitalis lanata, obteve sua importância para o tratamento da insuficiência cardíaca devido suas propriedades farmacológicas, porém possui um índice terapêutico baixo, tornando-se um medicamento com probabilidade de manifestar interações e provocar intoxicações. O presente trabalho teve como propósito realizar uma pesquisa no setor de cardiologia do Hospital das Clínicas Samuel Libânio, localizado na cidade de Pouso Alegre, Minas Gerais, buscando como objetivos verificar os casos de intoxicação causados pela digoxina e ressaltar a importância da monitorização terapêutica no diagnóstico e no acompanhamento dos pacientes que fazem seu uso. Foram avaliados através dos prontuários médicos e pelo sistema eletrônico do hospital 69 pacientes que faziam uso de digoxina onde 7 apresentaram intoxicação. Em nenhum dos casos foram analisados a concentração plasmática da digoxina e para diagnóstico foram realizados apenas exames básicos. Considerando o estreito índice terapêutico, a variabilidade da concentração plasmática e o uso concomitante com outros fármacos que interagem significamente com a digoxina, é necessário um rigoroso monitoramento dessa droga e dos pacientes que a utilizam.
Palavras-chave: Digoxina. Efeitos tóxicos. Monitorização terapêutica de fármacos.
4
ALVES, Débora. Importance of Therapeutic Monitoring of Digoxin. 2012. Artigo –
Curso de FARMÁCIA. FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE “DR. JOSÉ
ANTONIO GARCIA COUTINHO”. Universidade do Vale do Sapucaí. Pouso Alegre.
2012.
ABSTRACT
Digoxin, a medication used to treat Heart Failure and in the Atrial Fibrillation, have action inotropic and also parasympathomimetics properties. Extracted digitalis from foxglove Digitalis lanata, obtained importance for the treatment of heart failure due yours pharmacological properties, but has a low therapeutic index, marking it a medicine with probability of manifest interactions and cause poisoning. This study had like purpose to realize a search in the field of cardiology at the Hospital das Clinics Samuel Libânio, located in the city of Pouso Alegre, Minas Gerais, searching like objective verify the cases of poisoning caused by digoxin and emphasized the importance of therapeutic monitoring in the diagnosis and in thee monitoring of patients who use it. It were assessed through medical records and the electronic system of hospital, 69 patients who were using digoxin where 7 had intoxication. In neither case that were analyzed the plasma concentration of digoxin and for diagnostic it were performed only basis test. Considering the narrow therapeutic index, the variability of plasma concentrations and the concomitant use with other drugs that interact significantly with digoxin, is necessary a rigorous monitoring of this drug and of the patients who use it
Key words: Digoxin. Toxic. Therapeutic drug monitoring.
5
LISTA DE TABELAS
1 Tabela 1- Características da população de estudo......................................................14
2 Tabela 2- Fármacos utilizados concomitantes com a digoxina com interação
potencial...........................................................................................................................15
6
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................6
2 DIGOXINA..................................................................................................................7
2.1 Farmacocinética e mecanismo de ação...................................................................7
2.2 Digoxinemia e toxicidade..........................................................................................8
2.3 Monitorização terapêutica.....................................................................................10
3 METODOLOGIA....................................................................................................13
4 RESULTADOS........................................................................................................14
5 DISCUSSÃO E CONCLUSÃO..............................................................................16
6 REFERÊNCIAS.......................................................................................................18
7
1 INTRODUÇÃO
Dentre as várias classes de medicamentos, aqueles que possuem o índice
terapêutico baixo apresentam alta probabilidade de manifestar interações e provocar
intoxicações. Índice terapêutico é uma medida que relaciona a dose da droga necessária
para produzir o efeito desejado com a que produz um efeito indesejado. Medicamentos
com índice terapêutico baixo possuem uma margem estreita entre dose terapêutica e
dose tóxica. (RANG; DALE; RITTER, 2001).
Segundo Santos (1999 apud HAAS e YONG, 2001) a digoxina é um glicosídio
cardíaco potente, age inotrópicamente possuindo propriedades
parassimpaticomiméticas, sendo a droga de escolha no tratamento de insuficiência
cardíaca e também no tratamento da fibrilação atrial. A Digoxina possui índice
terapêutico baixo e apresenta frequentemente manifestações tóxicas em pacientes que
fazem o seu uso, principalmente em idosos e pacientes portadores de outras patologias.
Dificilmente se consegue controlar e diagnosticar os efeitos tóxicos de um
medicamento, principalmente os que possuem dose terapêutica baixa. A maioria dos
hospitais brasileiros não possui controle de entrada de pacientes com intoxicação por
medicamentos. O diagnóstico de intoxicação nem sempre é feito nos serviços de
emergência, onde os pacientes são internados e tratados sintomaticamente, sem possuir
um diagnóstico (OGA, 2003).
Após a internação, o paciente ainda enfrenta outra dificuldade, a falta de
monitoramento terapêutico. Se os hospitais adotassem o sistema de monitoramento do
fármaco, poderiam evitar intoxicações em pacientes que fazem o uso contínuo de
medicamentos de índice terapêutico baixo e diminuir os riscos de complicações e até
mesmo óbitos naqueles pacientes que já apresentam sinais de intoxicação. A
monitorização terapêutica tem como finalidade a determinação sistemática ou periódica
do fármaco em fluídos biológicos, assegurando a eficácia sem o risco de intoxicação,
sendo utilizada também para correção de dose (OFUSHI et al., 2007).
2 DIGOXINA
A digoxina é um glicosídio cardíaco potente, sendo a droga de escolha no
tratamento de insuficiência cardíaca. Recomenda-se o uso de digitálicos em pacientes
sintomáticos com insuficiência cardíaca predominantemente sistólica e em pacientes
com ritmo de fibrilação atrial e frequência ventricular elevada, mesmo sendo
assintomáticos (GUIMARÃES et al., 2002).
Os digitálicos foram extraídos das folhas da dedaleira Digitalis purpurea, e
tiveram sua primeira descrição científica pelo médico e botânico William Withering, em
1785. Withering descreveu os efeitos terapêuticos e tóxicos da dedaleira e recomendou
seu uso em pacientes cardiopatas (FIGUEIREDO e MACHADO, 2010).
Os fármacos digitálicos, em especial a digoxina, estão entre os mais prescritos
no tratamento da insuficiência cardíaca devido suas propriedades singulares. A digoxina
tornou-se o digitálico mais prescrito por possuir propriedades farmacológicas eficazes e
permitir a mensuração do seu nível sérico (ROCHA et al., 2006).
A insuficiência cardíaca é uma incapacidade do coração de realizar suas
funções de forma adequada, ou seja, ele é incapaz de bombear o sangue a uma taxa
satisfatória para atender as necessidades metabólicas tissulares. Segundo Barrreto et al.
(2001 apud CLELAND et al., 2008), a insuficiência cardíaca é responsável por um alto
índice de mortalidade e morbidade no mundo.
2.1 Farmacocinética e mecanismo de ação
Após administração oral, a digoxina é absorvida pelo estômago e, em maior
parte pelo intestino. Sua distribuição inicial vai do centro para os compartimentos
periféricos, levando aproximadamente de 6 a 8 horas. Sua meia vida varia de acordo
com cada indivíduo, por isso sua dosagem deve ser individualizada. A principal via de
eliminação é por filtração glomerular e secreção tubular. De acordo com Santos (1999
apud HAAS e YONG, 2001) a digoxina possui estreita faixa entre os intervalos
terapêuticos e tóxicos, com isso, deve-se avaliar o seu uso até que o efeito terapêutico
seja alcançado.
A digoxina possui ação inotrópica positiva, onde inibe o transportador ligado a
membrana da bomba de sódio, o Na+/K+ ATPase, fazendo com que haja um acumulo de
sódio intracelular e perda de potássio nas células cardíacas, resultando no aumento das
contrações. Em consequência realiza efeito cronotrópico negativo, sendo que diminui a
velocidade de condução e aumenta a despolarização espontânea, diminuindo o débito
cardíaco (NETO, 2004).
Os digitálicos apresentam propriedades que os distinguem de outras drogas
inotrópicas positivas, pois possuem a capacidade de modular a ativação neuro-
hormonal, reduzir a atividade simpática, estimular a ação vagal e aumentar a
sensibilidade dos reflexos barorreceptores e cardiopulmonares (GUIMARÃES et al.,
2002).
Agindo sobre todos os tecidos excitáveis, a digoxina também pode afetar
outros órgãos, como o músculo liso e o sistema nervoso central. No sistema nervoso
central pode aumentar o fluxo simpático, que sensibiliza o miocárdio e exagera os seus
efeitos tóxicos. (KATZUNG, 2010).
2.2 Digoxinemia e toxicidade
Por possuir um índice terapêutico baixo, a digoxina apresenta frequentemente
manifestações tóxicas em pacientes que fazem o seu uso e deve ser monitorada pela
dosagem do seu nível sérico. Segundo Gheorghiade et al. (2012), é de suma importância
a monitorização dos níveis séricos da digoxina para permitir um efeito terapêutico
adequado e evitar riscos de intoxicações.
O nível sérico da digoxina, também conhecido como digoxinemia, deve ser
analisado seguindo critérios rigorosos. Para assegurar a qualidade e a eficácia da
dosagem da digoxinemia, a coleta deve ser feita de forma correta, evitando assim riscos
de ocorrer resultado falso negativo. A amostra deve ser colhida após oito horas da
última dose do medicamento, tempo necessário para que ocorra uma redistribuição do
8
nível sérico no organismo (PERVAIZ et al., 2006). A digoxinemia pode ser avaliada
sempre quando houver suspeita de intoxicação, não é utilizada para aferir a eficácia da
digoxina. Os níveis séricos da digoxina no adulto variam de 0,8 a 2,0 ng/ml, mas para
evitar níveis terapêuticos tóxicos, o intervalo terapêutico ideal seria de 0,5 a 0,9 ng/ml,
porém, mesmo os níveis séricos estando dentro do intervalo terapêutico podem ocorrer
intoxicações (JUILLIERÈ e SELTON-SUTY, 2010).
A dosagem ideal de digoxina ainda não foi especificada, mas estudos
realizados mostram uma dosagem inicial recomendada para não atingir nível sérico
tóxico. De acordo com Bocchi et al. (2009), comumente é prescrito a dosagem de
0,25mg/dia ou 0,125mg/dia, mas esta dosagem pode ser menor em idosos, mulheres e
pacientes que apresentam insuficiência renal.
O emprego de doses menores em pacientes idosos é de grande importância
devido à fisiologia do seu organismo, ainda mais se tratando de um medicamento de
intervalo terapêutico estreito. As condições patológicas do idoso, tais como a presença
de insuficiência renal, intensificam as reações adversas e interações medicamentosas,
geralmente pelo acúmulo de fármacos no organismo (SIMÕES e MARQUES, 2005).
A intoxicação por digoxina é um problema comum devido sua estreita faixa
terapêutica e alguns exames são solicitados para ajudar no seu diagnóstico como ECG e
função renal, mas é através do nível sérico que poderemos diagnosticá-la. Pacientes
idosos e portadores de outras patologias, como insuficiência renal crônica e doença
pulmonar obstrutiva crônica são mais susceptíveis a essa intoxicação. Os idosos
apresentam nível sérico, para uma mesma dose de digoxina, duas vezes maior que os
jovens (CUNHA et al., 1998).
A intoxicação também pode ser provocada por interações com outros
medicamentos, interações com ações mecânicas e também fatores predisponentes de
alguns pacientes. Conforme Osés et al. (2003), fármacos como a propafenona,
espirolactona, amiodarona, verapamil e alguns fatores predisponentes como a
hipocalemia e o hipotireoidismo aumentam os índices de intoxicação. Comorbidades
como doença pulmonar obstrutiva crônica e insuficiência renal podem agravar os casos
de intoxicação.
Sua toxicidade pode precipitar arritimias, sendo que algumas delas podem ser
parecidas com as arritimias para as quais a digoxina está sendo usada. A intoxicação por
digoxina pode promover arritimias graves e fatais (NETO et al., 2007). As arritimias
são geradas pelo aumento da atividade simpática provocadas pela alta concentração de
9
digoxina, porém não é a única manifestação de intoxicação, também são observadas
alterações gastrointestinais, visuais e neurológicas. Náusea, vômito, diarréia, anorexia,
cefalgia, confusão e visão colorida são sintomas comuns apresentados por pacientes
intoxicados (BARROS, 2008).
Considerando o estreito índice terapêutico, a variabilidade da concentração
plasmática e o uso concomitante com outros fármacos que interagem com a digoxina, é
necessário um rigoroso monitoramento dos pacientes que fazem seu uso.
2.3 Monitorização terapêutica
Dificilmente se consegue controlar e diagnosticar os efeitos tóxicos de um
medicamento, principalmente os que possuem dose terapêutica baixa. A maioria dos
hospitais brasileiros não possui controle de entrada de pacientes com intoxicação
medicamentosa e grande parte é desprovida de laboratórios de análises toxicológicas,
dificultando o controle das intoxicações. Segundo Cunha (2011), a digoxina é utilizada
sem indicação, sua monitorização é inadequada e alguns pacientes apresentam
digoxinemia tóxica ou subterapêutica.
A fim de controlar e aprimorar a individualização de doses através da
determinação de concentrações séricas de um fármaco foi desenvolvido o
monitoramento terapêutico de fármacos. Segundo Kang e Lee (2009), a TDM
(Therapeutic Drug Monitoring) é a prática clínica onde sua função é analisar a
concentração de um fármaco na corrente sanguínea a fim de assegurar a eficácia
terapêutica do mesmo, sendo utilizada principalmente na monitorização de
medicamentos com intervalo terapêutico baixo.
A monitorização terapêutica de fármacos surgiu na década de 70, no entanto
não é uma técnica muito usada devido a vários fatores, dentre eles podemos citar a falta
de recursos tecnológicos, financeiros e humanos nos hospitais e também porque muitos
não acreditam na sua eficácia. Muitos médicos acreditam que através do conhecimento
da bioquímica da droga e analisando o perfil clínico do paciente poderiam realizar o
ajuste do fármaco sem a necessidade de realizar o seu monitoramento (SHENFILD,
2001). Devido essa falta de adesão à monitorização terapêutica de fármacos, o agravante
de casos de intoxicações por medicamentos com índice terapêutico baixo intensifica
10
ainda mais, já que muitas dessas drogas possuem efeitos tóxicos similares aos sintomas
pelo qual estão sendo usadas.
É desnecessária a aplicação da TDM para todos os fármacos, ela é indicada
apenas para alguns fármacos que possuem características singulares. De acordo com
Neto (1999, apud JOHNSTON e HOLT et al., 2008), para utilizar a TDM os fármacos
devem apresentar as seguintes características:
Apresentar correlação entre efeito terapêutico da droga e sua concentração;
Apresentar índice terapêutico baixo;
Diferenças metabólicas significativas entre indivíduos;
Eficácia terapêutica da droga difícil de ser distinguidos dos efeitos adversos.
Diminuir os riscos de intoxicação e otimizar o efeito terapêutico dos fármacos
são alguns benefícios da TDM, mas ela também pode ajudar na seleção do fármaco,
auxiliar no ajuste de dosagem e também, aquele que a aplica, pode oferecer orientações
ao paciente como horário de utilização do medicamento, interações com outros
medicamentos e até mesmo com alimentos, incentivando o paciente a adesão do
tratamento. A prática da monitorização terapêutica só tende a proporcionar benefícios
ao paciente, assegurando a eficácia da farmacoterapia e reduzindo o índice de
intoxicações (OFUSHI et al., 2007).
A TDM é aplicada em alguns grupos de fármacos que apresentem
características específicas, dentre eles podem citar alguns antibióticos,
anticonvulsivantes, imunossupressores, broncodilatadores, antidepressivos,
quimioterápicos, e fármacos cardiovasculares, em especial a digoxina (SUTHAKARAN
e ADITHAN, 2006).
Para a determinação das concentrações séricas dos fármacos e realização de
estudos dos mesmos, a TDM utiliza vários tipos de métodos analíticos, sendo na
maioria com equipamentos automatizados, aplicando os métodos adequados para a
determinação de cada fármaco individualizado, onde os mais utilizados são: os
imunoensaios enzimáticos, cromatografia líquida de alta eficiência, cromatografia
gasosa, espectrofotometria, fluorimetria e cromatografia em camada delgada
(SUTHAKARAN e ADITHAN, 2006).
Através da aplicação da TDM pode-se estabelecer o efeito da digoxina no
organismo, evitando a ocorrência de intoxicação. De acordo com Brunton et al. (2010),
11
a intensidade e incidência da intoxicação por digoxina caíram nas ultimas décadas e a
monitorização do seu nível sérico foi significante para a contribuição dessa queda.
12
3 METODOLOGIA
O estudo foi devidamente cadastrado na Plataforma Brasil e submetido ao
Comitê de Ética em Pesquisa da Univás, onde foi aprovado sob o número CAAE
01333812.8.0000.5102. O estudo foi desenvolvido no setor destinado à internação de
pacientes cardiológicos do Hospital das Clínicas Samuel Libânio (HCSL). Excluiu-se
do estudo os pacientes menores de 18 anos e portadores de necessidades especiais.
Foram coletados dos prontuários do pacientes apenas os dados necessários para a
conclusão do trabalho, conforme relatado nos resultados.
A coleta de dados foi feita através da consulta manual dos prontuários dos
pacientes e também através do software TASY, software de gestão hospitalar disponível
na unidade de cardiologia do HCSL. Após a coleta, os dados foram digitalizados,
armazenados em documento do Excel e submetidos à análise estatística.
13
4 RESULTADOS
Entre 01 de janeiro e 31 de dezembro de 2001 foram atendidos 975 pacientes
no serviço de cardiologia do HCSL, entre os quais 69 (7,1%) utilizavam a digoxina.
A população avaliada foi classificada segundo as categorias: sexo, idade, dose
de digoxina, diagnóstico inicial e casos de intoxicação, conforme a Tabela 1.
T a m b é m f o r a m i n c l u í d o s n o e s t u d o o s m e d i c a m e n t o s q u e p o s s u e m i n t e r a ç ã o
significante com a digoxina nos quais aumentam o grau de sua toxicidade. Todos os
pacientes que utilizavam digoxina também tomavam algum medicamento
potencialmente interferente, onde dos 69 casos, 53 pacientes utilizavam o furosemida
concomitante com a digoxina, sendo que nos 7 casos de intoxicação 6 pacientes faziam
Tabela 1. Características da população de estudo
População Pacientes da clínica cardiológica do HCSL
Casuística 69
Sexo (M / F) a 33 (47,83%) / 36 (52,17%)
Idade b 66,4 (22 - 91) anos
Dose b 0,151 (0,063 - 0,250) mg/dia
Indicação Insuficiência cardíaca e/ou obstrutiva (25 - 36,2%)
FA crônica (15 - 21,7%)
FA crônica + IC (22 - 31,9%)
FA crônica em ACO (2 - 2,9%)
Taquicardia sinusal/atrial (2 - 2,9%)
MCPD por bradiarritimia (1 - 1,4%)
FA de alta resposta ventricular + Fluter (1 - 1,4%)
Cardiomiopatia descompensada (1 - 1,4%)
Casos de intoxicação a 7 (10,1%)
aValores absolutos, percentual entre parênteses.bValores expressos como média, intervalo entre parênteses.
14
uso deste diurético. Outros medicamentos também eram prescritos juntamente com a
digoxina conforme Tabela 2.
Durante o estudo foram encontradas várias comorbidades que alteram a farmacocinética
da digoxina. Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) representava 10% dos 69
pacientes analisados, contudo o hipotireoidismo (8,7%) e a doença renal (7,2%) foram
as que mais chamaram atenção, pois estavam presentes em 2 dos 7 casos de intoxicação.
Foram encontradas outras comorbidades, porém não possuem interação significativa
com a digoxina.
5 DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
A digoxina é prescrita amplamente em casos de insuficiência cardíaca e
fibrilação atrial. No levantamento dos fármacos utilizados em associação com a
digoxina, observou-se o uso concomitante de fármacos potencialmente interferentes
Tabela 2. Fármacos utilizados concomitantes com a digoxina com interação potencial
Furosemida a 53 (76,81%)
Espirolactona a 38 (55,7%)
Amiodarona a 8 (11,59%)
Hidroclorotiazida a 5 (7,2%)
Diltiazem a 2 (2,9%)
aValores absolutos, percentual entre parênteses.
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como o furosemida, espirolactona, amiodarona, hidroclorotiazida e diltiazem, onde
ambos alteram a farmacocinética da digoxina potencializando seu efeito tóxico.
Foram encontrados 7 casos de intoxicação por digoxina, onde desses casos 6
pacientes faziam uso de furosemida e 2 possuíam comorbidades interferentes, como a
doença renal crônica e o hipotireoidismo. Dentre os casos de intoxicação a maioria
evoluiu para um prognóstico satisfatório, essa melhora se deu através da diminuição da
dose ou suspensão da digoxina, porém houve 1 caso que evoluiu para óbito após o
paciente entrar em choque cardiogênico e fibrilação atrial de baixa resposta. Neste caso,
em um dos campos do atestado de óbito, a intoxicação foi apontada como uma possível
causa de morte.
Em todos os casos de intoxicação encontrados foram realizados apenas exames
básicos como ECG e função renal para diagnosticar a intoxicação, e em casos raros,
onde o paciente apresentou sintomas neurológicos, eles eram submetidos à tomografia.
No entanto, em nenhum dos casos foram analisadas as concentrações plasmáticas da
digoxina, desta forma o perfil da digoxinemia é desconhecido, sendo que os
diagnósticos de intoxicação são realizados empiricamente através da experiência clínica
e dos exames básicos.
Por não realizar a monitorização terapêutica e os pacientes apresentarem
arritimias semelhantes para as quais a digoxina está sendo usada, os casos de
intoxicações podem passar despercebidos e com isso a proporção de casos toxicológicos
causados por digoxina pode estar sendo subestimados na unidade. Não há registros de
intoxicação por digoxina no hospital, onde os casos foram encontrados após uma
pesquisa minuciosa nos prontuários dos pacientes.
Uma das medidas corretivas utilizada para a intoxicação por digoxina é a
suspensão do seu uso, porém, em alguns casos, após melhora do quadro, o paciente
retorna a fazer seu uso com a mesma dosagem ou dosagem menor. Entretanto a
concentração plasmática da digoxina não é analisada aumentando o risco de o paciente
apresentar uma nova intoxicação.
A monitorização terapêutica da digoxina possui funções importantes na hora de
diagnosticar a intoxicação e acertar dosagens, onde o farmacêutico é primordialmente
necessário para executá-la. O farmacêutico atua juntamente com outros profissionais,
como os médicos, implementando e monitorizando a terapêutica medicamentosa a fim
de obter a eficácia do tratamento.
16
Através deste estudo podemos dizer que a digoxina é um fármaco seguro,
porém pode apresentar intoxicação, e devido a esta intercorrência deve ser bem
monitorada. A monitorização terapêutica da digoxina é de suma importância, pois
através dela conseguiremos monitorizar e detectar interações farmacológicas e com
outros interferentes, ajustar posologia, individualizar a farmacologia, melhorar a adesão
ao tratamento e principalmente diagnosticar e prevenir intoxicação, garantindo a
segurança do paciente que faz seu uso.
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