Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

146
1199900471 . "" I 11111111" 1111111111111111111111111 Importância e Evolução Crítica do Mercado de Capitais no Brasil e a Situação dos Acionistas Minoritários Banca Examinadora: Prof. Orientador: Jacob Ancelevicz Prof.: José Evaristo dos Santos f<.' , Prof.: Milton H. Monte Carmello

Transcript of Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Page 1: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

1199900471. "" I 11111111" 1111111111111111111111111

Importância e Evolução Crítica do Mercado de Capitais no

Brasil e a Situação dos Acionistas Minoritários

Banca Examinadora:

Prof. Orientador: Jacob Ancelevicz

Prof.: José Evaristo dos Santosf<.' ,

Prof.: Milton H. Monte Carmello

Page 2: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS

DE SÃO PAULO

CLAUDIOMIR MARTIN BERTÉ

Importância e Evolução Crítica do Mercado de Capitais no

Brasil e a Situação dos Acionistas Minoritários

Dissertação apresentada ao Curso dePós-Graduação da FGV/EAESP - Áreade Concentração: AdministraçãoContábil e Financeira, como pré-requisito para obtenção do título demestre em Administração.

Orientador: Prof. Jacob Ancelevicz

mm<,

1111111'11 WIIII1199900471

SÃO PAULO

1998Fundaç<lo Getulio Vargs5Esçola de Adminlstraç.ao

G V de Empresas de SA,., PsuloBlhllofP.ea

Page 3: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

BERTE, Claudiomir Martin. Importância e Evolução Crítica do Mercado de

Capitais no Brasil e a Situação dos acionistas Minoritários. São Paulo :

EAESP/FGV, 1978, 142 p, (Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de

Pós-Graduação da EAESPfFGV, Área de Concentração: Administração

Contábil e Financeira).

Resumo: Relaciona aspectos da economia de mercado e o mecanismo preço na

alocação eficiente de recursos na economia, além dos conceitos de poupança e

investimento. Destaca o papel do sistema financeiro e do mercado de capitais

no desenvolvimento econômico. Traça a evolução crítica do mercado

financeiro e de capitais no Brasil. Analisa a situação dos acionistas

minoritários e as práticas abusivas por parte dos controladores. Discute uma

maior democratização do poder nas sociedades anônimas através do aumento

do número de ações com direito a voto nas empresas.

Palavras-Chave: Acionistas Minoritários - Alocação de Recursos - Controladores

Crescimento Econômico Democratização Desenvolvimento

Desenvolvimento Econômico - Eficiência - Investimento - Mercado

Mercado Financeiro - Mercado de Capitais - Poupança - Práticas Abusivas -

Preço - Sistema Financeiro - Sociedades Anônimas.

Page 4: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

SUMÁRIO DOS CAPÍTULOS

1. INTRODUÇÃO 01

1.1. Definição do Problema 01

1.2. Objetivos do Estudo 03

1.3. Metodologia Utilizada 05

1.4. Estrutura do Trabalho 06

2. ECONOMIA DE MERCADO, POUPANÇA E

INVESTIMENTO 08

2.1. Economia de Mercado 08

2.2. Preços e Mercados 10

2.3. Poupança e Investimento 13

2.3.1. Poupança 14

2.3.2. Investimento 17

3. SISTEMA FINANCEIRO, MERCADO DE CAPITAIS E

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

3.3. Sistema Financeiro e Desenvolvimento Econômico

21

21

23

27 .' '1._'.i

3.1. Desenvolvimento Econômico

3.2. Função do Sistema Financeiro

Page 5: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

3.4. Componentes do Sistema Financeiro 30

3.4.1. Instrumentos Financeiros 31

3.4.2. Instituições Financeiras 33

3.4.3. Mercado Financeiro 34

3.5. Mercado de Capitais 36

3.6. Mercado Acionário e Desenvolvimento Econômico 39

3.7. Ambiente para um Mercado Acionário Desenvolvido 43

4. EVOLUÇÃO DO MERCADO FINANCEIRO E

ACIONÁRIO NO BRASIL 46

4.1. Os Primórdios do Mercado 46

4.2. As Reformas dos Anos 60 54

4.2.1. Lei do Mercado de Capitais 61

4.3. O Crescimento Econômico dos Anos 70 e o "Boom" da Bolsa 64

4.3.1. Lei das Sociedades por Ações e a Nova Lei do Mercado de Capitais 70

4.4. A Recessão dos Anos 80 72

4.5. O Plano Real e a Atualidade 84

4.6. Aspectos que Dificultaram o Desenvolvimento 96

Page 6: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

5. ACIONISTA MINORITÁRIO 103

5.1. Definição e Importância dos Minoritários 103

5.2. Regulamentação do Mercado de Capitais e Proteção ao

Acionista Minoritário 108

5.3. Práticas Abusivas Contra os Minoritários no Brasil 117

5.3.1. Casos de Abusos Contra os Minoritários 120

5.4. A Necessidade de Democratização do Poder nas Sociedades

Anônimas 125

6. CONCLUSÃO 133

7. BIBLIOGRAFIA 136

Page 7: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

1 -INTRODUÇÃO

1.1 - Definição do Problema

Historicamente, o Brasil tem demonstrado problemas sociais crescentes. A

piora na distribuição de renda juntamente com saúde e educação de baixa

qualidade, além de injustiças sociais alarmantes, fazem do país um dos piores do

mundo em desenvolvimento humano e condições sociais. Estes e outros

problemas, até mesmo culturais, levam a uma democracia "mascarada" no país,

pois o controle por parte de poderosos grupos torna-se fácil em um ambiente onde

o povo, pela sua formação deficitária, não consegue ter uma visão holística e

conhecimentos suficientes para uma participação efetiva nas decisões.

Esta falta de democracia também faz parte do ambiente empresarial, onde

pequenos grupos ou até mesmo pessoas conseguem o controle absoluto de

empresas com uma pequena parcela do capital integralizado, em detrimento da

participação efetiva de outros sócios. A participação deficiente da maioria dos

sócios e até mesmo da sociedade e governo no controle, fiscalização e

acompanhamento das operações da organização acabam facilitando as práticas de

atos abusivos por parte dos controladores.

Um dos grandes prejudicados nesta atmosfera é o mercado de capitais, na

medida em que tais abusos influenciam negativamente nos resultados das

empresas, aumentando os riscos do investimento em ações. Agregado a sensação

de impunidade, isto gera desconfiança e afasta os potenciais interessados por estes ~,

títulos, principalmente o grande público.

Page 8: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Outros fatores também corroboraram para a histórica pouca contribuição do

mercado de capitais no desenvolvimento econômico e social brasileiro. A forte

atuação do estado no financiamento privado até recentemente, tanto direta como

indiretamente, além das freqüentes instabilidades econômicas, são vistos como

responsáveis por grandes distorções em nossa economia, além de inibir o

crescimento e importância do setor financeiro privado.

Como resultado temos um mercado de capitais moderno em termos

tecnológicos, mas ainda incipiente na capitalização das empresas se comparado

com o tamanho da economia. A própria crise econômica e financeira atual é em

parte decorrente da vulnerabilidade de nosso mercado de capitais, fortemente

dependente de capital especulativo internacional.

Por outro lado, a partir do início da década de 90, com a privatização de

empresas estatais e, mais recentemente, com a estabilização da economia, criam-

se as condições pelas quais o Estado reduz gradativamente sua participação na

mobilização e alocação de recursos na economia brasileira. A nova configuração

ambiental exige que o setor privado seja responsável por esta intermediação.

Em uma economia moderna, o crescimento econômico depende de um setor

financeiro eficiente, que estimule e reuna a poupança doméstica, atraia o capital

estrangeiro de longo prazo e faça a alocação eficiente destes recursos no setor real

da economia.

Neste sentido, a modernização do mercado de capitais no Brasil torna-se

imperativo, na medida que almejamos também uma modernidade econômica e

social. Segundo Velloso, "O conceito de modernidade é uno: não existe

modernidade econômica dissociada da modernidade sociaJ...qualquer discussão

sobre o mercado de capitais deve levar em conta a necessidade de pensá-lo dentro

2

Page 9: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

de um conceito moderno. Com efeito modernizar o mercado de capitais implica

modernizar sistematicamente o país, e vice-versa. Pode-se dizer com segurança

que a implementação de um capitalismo popular no Brasil passa pela necessária

preparação do mercado de capitais para esta nova realidade."

Nota-se nos parágrafos acima, as palavras "crescimento econômico" e

"desenvolvimento econômico". O que procuramos, neste trabalho, é o segundo

conceito, já que podemos ter, como já tivemos na história do país, um alto

crescimento econômico com desenvolvimento social negativo. É claro que o

crescimento ajuda a suportar o desenvolvimento. Mas quando pensamos no bem-

estar da maioria da população, que achamos dever estar acima de qualquer estudo

científico, devemos também levar em consideração o desenvolvimento da

sociedade como um todo.

1.2 - Objetivos do Estudo

A legislação que regula as Sociedades por Ações no Brasil permite a emissão

de até 2/3 de ações sem direito a voto em uma companhia aberta. Como resultado,

o controle gerencial de uma empresa pode ser excercido com apenas 1/6 do

capital financeiro integralizado. Ao nosso ver, este consentimento facilita uma

excessiva concentração de poder nas organizações, tendo como conseqüência uma

participação pouca efetiva dos acionistas não controladores.

A não participação acaba por reduzir a fiscalização das operações, oferecendo

liberdade aos controladores e administradores para atuar de acordo com interesses

pessoais, resultando nas várias formas de abusos contra os minoritários.

I VELLOSO. João Paulo dos Reis (coordenador). O Real e o Futuro da Economia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1995.2 VELLOSO. João Paulo dos Reis (coordenador). O Real c o Futuro da Economia. Rio de Janeiro: José Olympio. 1995.

3

Page 10: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Consequentemente, perdas financeiras em decorrência de aplicações em ações

destas empresas acabam por gerar descrédito no mercado acionário, afastando os

investidores e contribuindo para a pouca popularização deste tipo de investimento

no Brasil. O próprio mercado financeiro, deste modo, acaba não contribuindo

efetivamente para o desenvolvimento econômico e social brasileiro.

O objetivo deste trabalho, primeiramente, é descrever e ressaltar a

importância de uma eficiente intermediação financeira para o desenvolvimento

econômico de um país, além de analisar a evolução do mercado financeiro e de

capitais no Brasil, o que acaba explicando em grande parte as dificuldades e

limitações atuais.

Posteriormente, outra característica a ser discutida é o grau de democratização

do poder nas sociedades anônimas brasileiras e a necessidade de uma maior

participação dos acionistas minoritários nas decisões e controle das empresas,

principalmente com o intuito de reduzir abusos de poder por parte de

controladores. Com esta expectativa e com o propósito de modernizar o mercado

de capitais brasileiro, discutiremos a necessidade de mudança na legislação das

sociedades anônimas, no sentido de coibir a possibilidade de lançamento

excessivo de ações sem direito a voto nas empresas abertas.

A preocupação do estudo não é necessariamente em cima de uma solução

imediata para os problemas brasileiros atuais. É, isto sim, baseado em um modelo \ ..

genérico, que busca contribuir para complementar outras necessidades de

evoluções e desenvolvimentos de nosso país a longo prazo.

....

A democracia nas empresas, por exemplo, deve ser ancorada por uma

evolução social em termos de conhecimento, educação e cultura de democracia,

ainda muito precários em nossa sociedade. Já o desejo de uma participação efetiva

da população no investimento em ações requer primeiramente uma melhora na

4

Page 11: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

distribuição da renda, para que pelo menos estas pessoas tenham a possibilidade

de poupar.

Portanto, concomitantemente com o desenvolvimento do mercado de capitais,

necessitamos desenvolver também aspectos humanos e sociais no Brasil.

1.3 - Metodologia Utilizada

A metodologia usada foi do tipo dissertação de análise teórico-empírica, onde

a partir da exposição do problema e sua contextualização, são discutidas propostas

hipotéticas que possam alavancar o desenvolvimento e evolução do referido tema,

sempre baseado no devido suporte em pesquisa bibliográfica, opiniões de

especialistas e casos práticos.

A bibliografia utilizada foi composta essencialmente de livros de história,

economia, finanças, além de outros específicos da área de mercado de capitais,

legislação do mercado acionário e proteção ao minoritário. Foram também

pesquisados artigos de jornais e revistas e estudos específicos de profissionais da

área.

Tentou-se, apesar das limitações em termos de disponibilidade, discorrer

sobre fatos reais que trouxessem maiores evidências empíricas ao assunto. Neste

ponto, a exposição de casos práticos de abusos contra minoritários ficou limitada

pelo aspecto não público deste tipo de informação.

Em complemento foram considerados algumas práticas de outros países,

principalmente o caso dos Estados Unidos, que possuem um mercado de capitais

de eficiência considerável.

5

Page 12: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

1.4 - Estrutura do Trabalho

Para situarmos nosso estudo em um contexto mais amplo, discutiremos

inicialmente, no segundo capítulo, aspectos da economia de mercado e sua função

como eficiente alocadora de recursos para o bem estar social. O mecanismo do

preço também é de fundamental importância neste processo de alocação eficiente

e será rapidamente revisto. Já os conceitos de poupança e investimento requerem

um estudo mais minucioso, pois são essenciais no processo de alocação eficiente

de recursos e, consequentemente, para o crescimento e desenvolvimento

econômico, finalizando o capítulo.

No terceiro capítulo, destacaremos o papel do sistema financeiro e do

mercado de capitais no desenvolvimento econômico. Iniciando com uma breve

descrição de desenvolvimento econômico e suas metas econômicas, para

posteriormente enfatizaremos a função do sistema financeiro e seus componentes,

além de seu inter-relacionamento com o desenvolvimento econômico. O capítulo

será finalizado com uma breve explanação conceitual do mercado de capitais e o

papel do mercado acionário como elemento de sustentação no desenvolvimento

econômico , além de alguns comentários a respeito de pré-condições para o

funcionamento de um mercado de capitais eficiente.

Para entendermos e situarmos melhor a atualidade do sistema financeiro e do

mercado acionário brasileiro, traçaremos no capítulo quarto um exaustivo

histórico e evolução crítica do desenvolvimento do mercado financeiro e de

capitais no Brasil, as dificuldades encontradas e algumas perspectivas e

expectativas. A contextualização do mercado financeiro e de capitais é processada

paralelamente ao desenvolvimento econômico brasileiro, devido a alta

interdependência entre ambos.

6

Page 13: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

o capítulo é dividido em sub-períodos, por julgarmos mais inteligível a

separação das diferentes fases de evolução. O primeiro período estuda os

primórdios do mercado financeiro e de capitais no Brasil, iniciado formalmente no

século XIX. O segundo trata das reformas fundamentais dos anos 60, quando a

legislação sobre o mercado acionário teve grande impulso. O terceiro relaciona o

"milagre" do crescimento brasileiro dos anos 70, que culminou com o "boom" da

bolsa e a necessidade de mais reformas fundamentais da legislação. O quarto traz

a recessão e a hiperinflação dos anos oitenta, juntamente com a volta da

democracia e uma gama de problemas políticos e econômicos. No último período,

busca-se analisar o Plano Real e a atualidade brasileira em termos econômicos,

financeiros e até sociais, finalizando o capítulo com um estudo das principais

dificuldades encontradas para o desenvolvimento do mercado financeiro e de

capitais no Brasil.

O capítulo quinto é reservado à análise dos acionistas minoritários e a

necessidade da democratização do poder nas sociedades anônimas. É iniciado

com a fundamentação da importância dos acionistas minoritários para o

desenvolvimento do mercado acionário e a regulamentação de proteção destes no

Brasil. Na seqüência, tentaremos ressaltar as práticas abusivas contra os não

controladores no Brasil e suas conseqüências negativas para o mercado. Neste

contexto, refletiremos sobre a relação 1/3 de ações com direito a voto e 2/3 de

ações sem direito a voto, o que a nosso ver (e a princípio) causa concentração de

poder e facilita os abusos e desmandos dos controladores nas sociedades

anônimas, argumentando também da necessidade de democratização do poder nas

sociedades anônimas e na própria sociedade brasileira.

As principais conclusões do trabalho estão no sexto capítulo, com a

bibliografia pesquisada a seguir.

7

Page 14: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

2 - ECONOMIA DE MERCADO, POUPANÇA E INVESTIMENTO

2.1 - Economia de Mercado

A função básica de uma economia é alocar recursos - matéria-prima, mão-de-

obra, conhecimentos administrativos, equipamentos - com os objetivos de

produzir e distribuir bens e serviços à sociedade de uma forma eficiente.

A organização desta economia pode ser feita de diferentes formas. Duas?

grandes correntes foram defendidas por ideologias antagônicas neste século,

principalmente até a queda do comunismo na União Soviética e. países do leste

europeu. O grande diferenciador destas teorias, em termos econômicos, está no

grau de atuação do estado nas decisões de alocação dos recursos. Na primeira

delas, chamadas de "economias centralmente planificadas", o estado é o

responsável pelas decisões relativas ao tipo de produto e serviço a ser oferecido,

suas quantidades, preço, distribuição, etc. Na segunda, as "economias

capitalistas", as próprias forças do mercado atuam no sentido de estabelecer e

satisfazer as necessidades da população nas questões acima.

As economias centralmente planificadas, baseadas em grande parte nas idéias

de igualdade vindas de Marx e seus seguidores, pregavam a centralização das

decisões como forma de combater a injustiça gerada pela divisão de classes que a

revolução industrial originou. Esta centralização das decisões econômicas (oi

adotada após a primeira guerra mundial por diversos países, liderados pela União • ,,"

Soviética, que encontraram no estado autoritário o único meio para suportar tais

valores na prática. As idéias de uma revolução liderada pelo proletariado, de Karl

Marx, acabaram portanto não acontecendo, mas o princípio da centralização de

decisões de suas teorias foi aplicado. Com a derrocada do comunismo no final da

8

Page 15: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

década de 80 e a divulgação dos resultados econômicos e SOCIaISnegativos

advindos do mesmo, o descrédito na eficiência do princípio da economia

centralmente planificada como alocador de recursos econômicos foi inevitável.

Deste modo acreditamos na supremacia da liberdade econômica e a crença de

que as necessidades da população são melhor identificadas e atendidas pela

grande capacidade sensitiva do mercado. A microeconomia aplicada geralmente

tende a gerar uma macro estabilidade e eficiência econômica, principalmente

através do mecanismo preço, como veremos a seguir.

Porém, apesar de mais eficiente, a liberdade econômica generalizada está

longe de ser totalmente perfeita. Na prática observa-se vários tipos de distorções e

desajustes deste modelo, desde o poder excessivo de alguns grupos, que acabam

monopolizando o mercado e eliminando a concorrência, até a imperfeição na

distribuição de renda.

Ao nosso ver, a radicalização na adoção de qualquer dos modelos é

prejudicial. A total liberalização na atuação das forças de mercado pode levar a

conseqüências desastrosas para a sociedade, assim como a excessiva centralização

das decisões.

Mas talvez tenhamos aprendido com os dois modelos em funcionamento neste

século. "O laissez-faire está sepultado, como também o está o regime comunista

ortodoxo. Se o primeiro gerou o mercantilismo, o segundo gestou o superestado

burocrático. No entrechoque, os dois lados aprenderam. Na convivência,

intercambiaram conhecimentos, surgindo daí indícios de uma democracia mais

estável e menos viciada, capaz de se preservar e se perpetuar nos aspectos

fundamentais: o econômico e o político ...nele, a intervenção do poder político

sobre a economia é uma exceção e não uma regra ...com a evolução recente,

9

Page 16: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

nasceu a doutrina do liberalismo ético, que coloca em primeiro plano, na escala de

valores, a liberdade econômica e a liberdade política."

o meio mais convincente, portanto, para buscarmos urna eficiente e digna

vida para as pessoas é a adoção de urna economia de mercado acrescida de

controles democráticos SOCIaiSe governamentais, com o objetivo de evitar

concentrações excessivas de poder e outras distorções do sistema liberal. É justo

observar que a intervenção somente deve ser exercida quando realmente

justificável. Caso contrário, se distorções não existirem, deve-se dar liberdade de

atuação às forças de mercado.

2.2 - Preço e Mercados

No modelo capitalista de economia, onde o mercado é quem determina quais

produtos e serviços serão produzidos e em que quantidade, o preço atua corno um

dos principais sinalizadores, garantindo a eficiente alocação dos recursos.

Na medida em que a demanda por um produto ou serviço é maior que a

oferta, seu preço tende a subir, gerando maior potencial de lucros para as

empresas e estimulando assim sua produção. A maior produção leva a satisfação

desta demanda específica, reequilibrando seu preço. O contrário também é

verdadeiro, onde um excesso de oferta leva a um declínio de preço e,

consequentemente, da margem de lucro das unidades produtivas, desestimulando

seu fornecimento. O resultado é um equilíbrio natural, onde as necessidades dos

consumidores tendem a ser eficientemente atendidas por este jogo de forças.

, BARCELLOS. Sérgio. Apresentação. In: GRIMSTONE. Gcrry et aI. Prívanzação, Mercado de Capitais e Democracia: arecente experiência internacional. Rio de Janeiro: Correio da Serra. 1988.

10

Page 17: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

o mercado, através do princípio do preço, também distribui renda e recursos

financeiros. A renda é determinada basicamente pela contribuição de cada

unidade econômica para a produção. Urna maior produtividade, inovação e

sensibilidade às necessidades dos consumidores é recompensada com lucros mais

elevados, maiores salários e outros beneficios econômicos. Já os recursos

financeiros, são alocados de acordo com o potencial de retorno do investimento

proposto. Este potencial de retorno é geralmente determinado pela taxa de

contribuição do negócio à sociedade.

De acordo com as definições e funções acima, podemos distinguir diferentes

tipos de mercado. Rose' relaciona três tipos essenciais de mercado dentro do

sistema econômico: mercado de fatores, mercado de produtos e mercado

financeiro.

No mercado de fatores, os consumidores vendem trabalho, habilidades

administrativas e outros recursos para os produtores que oferecem o maior preço.

O mercado de fatores, portanto, faz a alocação dos fatores da produção e distribui

renda em forma de salários, aluguéis e outros meios para os donos dos recursos

produtivos.

O mercado de produtos é responsável pela alocação das mercadorias geradas

pelos meios de produção. Assim, os consumidores usam a maior parte de sua

renda concebida no mercado de fatores para comprar os produtos e serviços

ofertados pelo mercado de produtos.

Já o mercado financeiro canaliza a poupança da renda não consumida por

unidades econômicas superavitárias, para unidades deficitárias que necessitam

fundos adicionais.

, ROSE. Pctcr S. Moncy and Capital Markets. Third Edition. Homewood, 1989.

11

Page 18: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Dentro dos três mercados citados acima, há diferentes unidades econômicas

interagindo. Estas unidades são classificadas, segundo Kidwel-, em três grupos

fundamentais: família, empresa e governo.

A renda familiar geralmente provem de salários e é consumida em produtos e

serviços duráveis e não duráveis, além do pagamento de empréstimos e aluguéis.

As empresas vendem produtos e serviços com o objetivo de conseguir

receita, tendo gastos com salários, compra de estoques e outros custos de

produção, além de ocasionalmente investir em novos prédios e equipamentos. Já o

governo obtém receita principalmente através de tributos, consumindo grande

parte em forma de serviços públicos, como segurança, saúde, educação e outros.

Cada unidade econômica trabalha dentro de um orçamento imposto pela

receita do período. Para um período dado, qualquer das unidades está entre as três

situações orçamentárias possíveis; orçamento balanceado, onde as receitas são

igualadas as despesas, orçamento superavitário, onde as receitas excedem as

despesas, ou orçamento deficitário, com as despesas ultrapassando as receitas.

Estas situações orçamentárias nos levam a dois outros importantes conceitos

para nosso estudo; poupança e investimento. Poupança e investimento estão

ligados ao incentivo e alocação de recursos financeiros gerados pelas situações de

desequilibro orçamentário.

5 KIDWELL. David. PETERSON. Richard & BLACKWELL. David. Fmanclal Institutions, Markcts, and Mune)'. Fifth Edition,Dryden Press. 1993.

12

Page 19: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

2.3 - Poupança e Investimento

Poupança e investimento são essenciais em uma economia de mercado, na

medida em que participam e influenciam decisivamente no crescimento e, mais

abrangentemente, no desenvolvimento econômico.

Cooper- corrobora com estas idéias, afirmando que poupar e investir são

importantes por pelo menos duas perspectivas: crescimento e estabilidade

econômica. Apesar de o crescimento econômico depender também de fatores

como características sociais, políticas e culturais, assim como disponibilidade de

recursos naturais e outros fatores econômicos, uma das principais influências é o

investimento, que por outro lado é influenciado fortemente pela poupança.

Além disto, poupar e investir são também importantes para a estabilidade

econômica, pois se o volume desejado de poupança exceder o volume de

investimentos, haverá insuficiente demanda para o total de produção de uma

economia. Como resultado, a produção será reduzida, a renda e o emprego

diminuirão e, consequentemente, a poupança declinará. Em contraste, se os

investimentos desejados excederem a poupança desejada, haverá excesso de

demanda por produtos e serviços, aumentando assim o preço dos mesmos. A

estabilidade econômica portanto é resultante deste equilíbrio que a poupança e o

investimento proporcionam.

Os conceitos de poupança e investimento podem ser melhor entendidos na

pequena estória do pescador solitário': "Este pescador naufragou seu barco e

acabou sozinho em uma ilha. Sua alimentação dependia da pesca, que era

constante e igual as suas necessidades. Ou seja, seu consumo diário de peixe era

exatamente igual a quantidade pescada. Imaginou que poderia construir uma rede

"COOPER. S. Kerry & FRASER. Donald R. The Financiai Marker Place. Sccond Edition. Addison-Wesley. 1986.

13

Page 20: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

de pescar que o capacitasse aumentar a produção por hora trabalhada, reduzindo a

carga de trabalho para manter o volume de produção necessária ao seu consumo.

Porém, para que pudesse dedicar todo um dia de trabalho na confecção da rede,

teria que reduzir seu consumo de peixe no dia anterior, de modo que parte da

pesca pudesse ser consumida no dia seguinte, quando não haveria pescaria." O

primeiro ato, ou seja, a abstenção do consumo para a construção da rede, constitui

um ato de poupança. O segundo ato, a utilização dos recursos poupados para

produção de um bem de capital, no caso a rede de pescar, é encarado pelos

economistas como um ato de investimento.

Os dois conceitos serão discorridos separadamente a seguir, juntamente com

os principais aspectos influenciadores de ambos.

2.3.1 - Poupança

Poupança em economia é a parcela de renda não consumida, uma abstenção

do consumo da renda corrente ou parte dela. A razão desta poupança é a

expectativa de que a renúncia do consumo presente reverta em uma capacidade de

consumo futuro de valor superior. Trata-se portanto de uma alocação de consumo

no tempo, uma a opção pelo consumo futuro em detrimento do consumo presente.

Diversas razões podem influenciar nas decisões de poupar de cada unidade

econômica, gerando também classificações variadas entre diferentes autores.

Keynes- destaca que a taxa de poupança de uma sociedade depende

7 SANTOS, João R, R, dos, Mercado de Capitais no Brasil- A Evolução Recente, In: CASTRO, Hélio 0, P. de (coordenador),Introdução ao Mercado de Capitais. Rio de Janeiro: IBMEC, 1979, pg. 16.x Citado por OLIVEIRA, M. I.M.A. pg.25.

14

Page 21: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

fundamentalmente do nível de renda da população, crescendo em termos

absolutos e relativos na medida em que há maior poder de compra das pessoas.

Já a hipótese do "ciclo de vida", de Modiglianiv, conclui que a taxa de

poupança será afetada pela idade e pela taxa de crescimento da população, pois as

pessoas acumulam poupança durante seus anos produtivos com o objetivo de

sustentar seus padrões habituais de consumo durante os anos de velhice ou

aposentadoria. Sendo assim, a taxa média de poupança tende a ser maior em

sociedades em que o peso relativo da população em idade de trabalhar for maior.

Outra hipótese é o da renda permanente, de Milton Friedman-, Ele defende

que as unidades familiares tendem a consumir certa proporção de sua renda

permanente ou daquela renda que esperam ganhar durante um futuro previsível,

mantendo o nível de consumo com variações transitórias de renda. A taxa de

poupança, neste caso é fixada com uma expectativa de longo prazo.

Para Oliveira, a poupança é induzida fundamentalmente por três fatores": pela

capacidade de poupar, pelo desejo de poupar e pelas oportunidades de poupar. A

capacidade de poupar depende basicamente do nível de renda dos indivíduos,

tendo maior potencial de poupança as pessoas de renda mais elevada. O desejo de

poupar refere-se as motivações que levam ou não o indivíduo a adiar o consumo,

como segurança e expectativa de melhoria dos padrões de vida, sendo

dependentes de fatores variados como cultura, idade, situação familiar e outros. Já

as oportunidades de poupar estão relacionadas às opções de aplicação financeira

que o mercado oferece. Estas opções ou instrumentos, possibilitam ao poupador

aplicar suas reservas na expectativa de reave-Ias futuramente com valor superior.

"OLIVEIRA, Miguel Delrnat. Introdução ao Mercado de Ações. Rio de Janeiro: CNBV. 1984. pg. 21.10 OLlVEIRA.M.D. I.M.A. pg.24." Citado por OLIVEIRA. M. I.M.A. pg.25.11 Citado por OLIVEIRA. M. I.M.A. pg.25.11 Citado por OLIVEIRA, M. I.M.A. pg.26.14 Citado por OLIVEIRA, M. I.M.A. pg.26.

15

Page 22: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Neste caso, quanto mais desenvolvido o mercado financeiro, maior a taxa de

poupança potencial.

É possível que cada uma das teorias anteriores tenham algum aspecto

influenciador na poupança de uma dada sociedade, assim como é possível

implementar ações específicas que estimulem os indivíduos ao retardamento do

consumo.

Em países com hábito elevado de poupança, o próprio desejo de poupar da

população estimula o mercado a desenvolver oportunidades de poupança, como

diferentes opções de aplicação em termos de prazo, risco, volume, liquidez e

rendimentos. Por outro lado, a própria oferta de novas opções acaba estimulando

ainda mais o desejo de poupar, resultando em um processo de retroalimentação e

desenvolvimento do mercado.

Em outros países, principalmente os menos desenvolvidos, há razões que

dificultam tanto o estímulo ao hábito de poupar, como também o surgimento de

opções de investimentos pelo mercado.

o hábito de consumir, gerando a baixa poupança nos países em

desenvolvimento, é explicado por Duesemberry- pelo chamado efeito

demonstração; "Seguramente, uma das razões mais fortes para que não se

verifiquem hábitos de poupança nos países pobres é que nas comunidades menos

desenvolvidas as pessoas tendem a copiar o padrão de consumo das mais

desenvolvidas. É o chamado "efeito demonstração", um fenômeno criado pela era

das comunicações. Por isso, nos países menos desenvolvidos, as aspirações de

consumo das pessoas independem , de certa forma, da capacidade produtiva do

país. Tal atitude faz com que mesmo as classes de renda mais elevada pouco

I~ OLlVEIRA,M.D. I.I\1.A. pg.24.If, Citado por OLIVEIRA. M. I.I\1.A. pg.26.

16

Page 23: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

contribuam para a poupança nacional. Nessas comunidades, a propensão ao

consumo é mais elevada do que a normal."

Outro importante fator que contribui para o reduzido índice de poupança nos

países menos desenvolvidos é o baixo nível de renda da população em geral, na

medida que as famílias necessitam uma parcela maior da renda para o consumo de

bens essenciais, sobrando menos para a poupança. As comuns instabilidades

políticas e econômicas nestes países também podem influenciar.

A taxa de poupança, deste modo, é resultante de uma complexa composição

de fatores, sendo difícil quantificar com exatidão o grau de influência de cada

ação isoladamente.

Acreditamos porém, que o mercado financeiro pode exercer uma importante

função de estímulo à poupança, na medida em que oferece, ao poupador em

potencial, uma maior gama de opções de aplicação, de acordo com as diferentes

preferências e necessidades individuais.

2.3.2 - Investimento

Não menos importante do que poupar, é o modo como esta poupança está

sendo empregada, o que chamamos de investimento. Investimento refere-se a

construção ou compra de ativos reais, quais sejam, prédios, equipamentos

produtivos e outros, resultando em aumento do estoque de riqueza.

Aqui podemos diferenciar o investimento individual do investimento social;

quando um indivíduo compra um imóvel, ele está investindo em bens particulares.

Há porém apenas e somente uma transferência de propriedade em termos sociais,

17

Page 24: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

não caracterizando investimento para esta. O estoque de riqueza da sociedade não

foi aumentado, logo não houve investimento social.

"Sob a óptica do indivíduo, investir é empregar recursos, próprios ou de

terceiros, com o objetivo de obter ganhos em um determinado período. No sentido

macroeconômico, ou seja, sob o prisma da comunidade como um todo,

investimento é toda aplicação de recursos próprios ou de terceiros (poupança de

outros países) que contribua para a formação de capital novo, isto é, para

aumentar o estoque de bens produtivos. Este estoque não incluí apenas capital

físico, mas também humano ... Este é o sentido macroeconômico do investimento.

Quando um país desvia recursos da produção ou compra de bens de consumo para

a produção de bens de capital, ele está poupando e investindo. Está aumentando o

estoque de capital; capital real e não financeiro, capital no sentido de instrumentos

de produção, utilizados pelo homem, ou da própria qualificação do homem para

produzir; capital no sentido de um bem, que não se destina ao consumo imediato,

que não satisfaz diretamente necessidades humanas, mas que serve para produzir

outros bens e serviços exigidos pela comunidade"."

Estes investimentos macroeconômicos somados é que definem o crescimento

econômico, ou a chamada expansão da capacidade de uma economia.

Em economias capitalistas, premissa básica deste trabalho, onde tanto a

poupança como o investimento dependem em grau considerável de iniciativas

individuais, os empresários assumem posição importante nas decisões de investir.

Neste sentido é importante a identificação dos principais fatores influenciadores

destas decisões.

"OLIVEIRA. M. I.M.A. pgs.21-23.

18

Page 25: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Segundo Fisher«, em suas decisões de investimento os empresários

consideram três importantes questões; o seu capital próprio inicial disponível, as

oportunidades particulares de investimento, além das facilidades em termos de

mercado para emprestar e tomar recursos emprestados.

Nesta visão, os países menos desenvolvidos possuem dificuldades em ter uma

taxa de investimento satisfatória para suas necessidades de crescimento. O baixo

número de empresários que possuem capital inicial próprio para iniciar um

negócio é em parte resultado da injusta distribuição de renda na sociedade, onde

poucos detém grande parcela do capital financeiro. Estes muitas vezes não

possuem habilidade, conhecimento e motivação para investir. Outra dificuldade

destas sociedades é a baixa possibilidade de associação com outros empresários,

por vezes caracterizadas por questões culturais de poder e soberania.

Já as oportunidades de investimento costumam apresentar grande potencial

em economias em desenvolvimento, com uma variedade de alternativas a serem

exploradas. Mas em sua dimensão individual, o empresário tende a considerar

somente as alternativas que possuem afinidades pessoais em termos de

conhecimento, experiência, recursos disponíveis, preferência, além de outras.

As oportunidades limitadas de mercado em emprestar e tomar recursos

emprestados pelo pouco acesso ao mercado de capitais impõem também

limitações ao nível de investimento nos países menos desenvolvidos, na medida

em que grandes projetos tornam-se inviáveis pela impossibilidade de seu

financiamento. Na falta de fontes de financiamento, devemos considerar não

somente volume, mas também as características de prazo e risco demandados pelo

investimento. Projetos de longa maturação necessitam de prazos com a mesma

IR Citados por OLIVEIRA. M. I.M.A. pgs.26.

19

Page 26: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

característica para sua continuidade. O mesmo acontece com as características de

risco e retorno.

Por outro lado, a ineficiência alocativa do mercado financeiro disponibiliza

recursos que nem sempre encontram aplicações mais produtivas.

É nestas condições que o estímulo a uma maior eficiência da intermediação

financeira de uma economia pode atuar positivamente no estímulo ao

investimento, assim como na poupança, principalmente nos países menos

desenvolvidos, impulsionando o desenvolvimento econômico.

20

Page 27: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

3 - SISTEMA FINANCEIRO, MERCADO DE CAPITAIS E

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

3.1 - Desenvolvimento Econômico

Desenvolvimento econômico, em termos simplistas, é a busca da

minimização dos problemas e da maximização dos benefícios recebidos pela

população com o objetivo de melhorar as condições de vida das pessoas. "O

desenvolvimento econômico é um fim e também um processo em que fatores de

ordem cultural, social, econômica, institucional e política se inter-relacionam de

um modo complexo."> É um tanto difícil a mensuração, na prática, do

desenvolvimento econômico, pois é necessária a avaliação de vários fatores,

muitas vezes subjetivos e intangíveis. A importância de cada fator também pode

variar entre diferentes culturas.

Porém, algumas variáveis são fundamentais para o bem estar de qualquer

sociedade, as quais os economistas responsáveis procuram a melhor adequação.

Em um esforço generalista, poderíamos relacionar 5 grandes metas

econômicas que estariam ligadas ao desenvolvimento econômico»:

a) Alto nível de emprego - O custo social de um desemprego estrutural é

elevado para qualquer sociedade, principalmente nos países em

desenvolvimento, que geralmente não possuem programas sociais de

amparo ao desempregado.

19 ROSE. P.S. M.C.M. pg. 32. traduzido pelo autor da dissertação.lO IBM EC. Mercado De Capitais c Desenvolvimento Econômico. Rio de Janeiro: IBMEC. 1977, pg. 25.li WANNACOTT. Paul. Economia. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil. 1982. pg.9

21

Page 28: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

b) Estabilidade de preços - A inflação geralmente prejudica a classe

assalariada, causando concentração de riqueza, além de induzir a uma

especulação improdutiva, prejudicar a comparabilidade nos preços e

desestabilizando a economia como um todo.

c) Eficiência - A eficiência econômica faz com que a sociedade seja melhor

atendida em suas necessidades, tanto a nível de produtos/serviços

oferecidos, como também em termos de custo de produção e preço. A

eficiência eleva também a competitividade externa, outro importante fator

de desenvolvimento econômico.

d) Distribuição eqüitativa de renda - É uma questão de justiça que as

pessoas tenham um padrão de vida semelhante, ou pelo menos

oportunidades iguais. Muitas economias, tanto as chamadas

desenvolvidas como mais profundamente as subdesenvolvidas, possuem

grandes desigualdades sociais, principalmente pela distribuição de renda

acentuadamente desigual. Qualquer economia ou governo deveria ter

como princípio fundamental a redução das desigualdades.

e) Crescimento - O crescimento econômico com índice próximo ao

crescimento populacional é condição quase que essencial para a

manutenção do nível de renda da sociedade. O crescimento geralmente

acaba tendo forte influência nas outras metas econômicas anteriores,

principalmente relativo ao emprego.

Para fins deste estudo, tratamos crescimento econômico de maneira especial,

as vezes até usando-o como sinônimo de desenvolvimento, apesar de enfatizarmos

que crescimento por si só não gera necessariamente desenvolvimento. Apesar

disso, o crescimento econômico é condição quase que essencial para que haja

desenvolvimento de um modo mais amplo, principalmente em economias

22

Page 29: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

subdesenvolvidas, onde a renda per capita é baixa. Mello reforça este argumento,

dizendo que "o desenvolvimento econômico pode ser visto e medido de várias.

formas, mas parece haver um consenso quanto a sua característica principal: um

crescimento na produção de bens e serviços da economia obrigatoriamente

superior ao crescimento populacional.'>

Acreditamos também que a democracia seja outra importante meta

econômica a ser perseguida para uma economia desenvolvida. As forças de

mercado atuam mais eficientemente se for lhes delegado liberdade em suas

decisões individuais, além do controle que uma sociedade democrática pode

exercer contra excessos de poder de minorias. A democracia também faz parte do

direito da sociedade em expressar seus anseios, sendo tanto mais justas as

decisões quanto maior o número de participantes. Ou, como expressa Ricupero=,

colocar o "poder nas mãos de muitos, para que os poucos não consigam beneficios

superiores" .

Porém, a democracia não pode ser restrita unicamente a um sistema político

democrático. A estrutura em si, somente, não garante que os conceitos

democráticos sejam exercitados na prática. É necessário também que as pessoas

que dela participam tenham condições educacionais e de conhecimento para

participar efetivamente.

3.2 - Função do Sistema Financeiro

A intermediação financeira de um determinado país é basicamente organizada

e desempenhada pelo sistema financeiro, que é uma parte integral do sistema

22 MELLO. Pedro Carvalho de. In: CASTRO. Hélio o. P. de (coordenador). Introdução ao Mercado de Capitais. Rio de Janeiro :IBMEC, 1979. pg.25." RICUPERO. Rubens. Opinião Econômica. Folha de São Paulo. São Paulo, 16 ago. 1997. pg.2-2.

23

Page 30: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

econômico. Apesar do mercado acionário ser classificado, por alguns autores,

como um simples canalizador de recursos, não intermediando o processo,

consideramos a intermediação neste trabalho em seu sentido amplo, englobando

todos os agentes que de alguma forma participam no elo de ligação entre

poupadores e investidores.

A nível macro, o propósito principal do sistema financeiro é transferir fundos

das unidades superavitárias para as deficitárias de maneira eficiente, com o menor

custo possível e com o mínimo de inconveniência, seja para investimentos ou para

consumo.

Mais especificamente, o sistema financeiro exerce uma fundamental tarefa de

transformação financeira. Esta transformação pode ser enfocada sob quatro óticas

diferentes=; transformação de ativos fixos em ativos líquidos ou disponíveis,

transformação dos prazos das operações, transformação das magnitudes de capital

e transformação de riscos.

Os ativos fixos podem ser transformados em ativos líquidos em uma

companhia, pela emissão de obrigações no mercado financeiro, na busca de

recursos para aumentar seu capital de giro. Estas mesmas obrigações podem ser

negociadas no mercado secundário, transformando-se em ativos de boa liquidez

para seus proprietários. Os ativos fixos passam a ser representados por ativos de

boa liquidez e o dinheiro é transferido para a empresa, aumentando seu capital de

giro e o volume de suas transações.

A tarefa de transformação dos prazos das operações se dá quando há

conflito de interesse entre tomadores e ofertadores de recursos. O mercado

secundário garante que os papéis emitidos a longo prazo ou sem prazo definido

sejam negociados a qualquer momento pelo comprador original e a qualquer

24

Page 31: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

futuro detentor desse título, sem risco de perda do principal e rendimentos até o

momento da revenda.

o intermediário financeir? também é capaz de transformar magnitudes de

capital, captando recursos de milhares de pequenos investidores, consolidando e

tomando possível o financiamento de grandes projetos de investimento. A

caderneta de poupança pode ser relacionada como um grande exemplo de

transformação de magnitudes de capital.

Por fim, os mercados financeiros possuem também a tarefa de

transformação de risco. Pela combinação de projetos e pela diversificação da

carteira de ativos dos investidores, o mercado financeiro consegue reduzir o nível

médio de risco a ser assumido pelos poupadores.

A tarefa de transformação financeira possibilita a dinamização da

intermediação dos recursos em uma economia, na medida em que os diferentes

desejos de emprestadores e tomadores são adaptados as necessidades de cada uma

das partes.

A nível micro, porém, podemos destacar outras funções do sistema

financeiro», como poupança, riqueza, liquidez, crédito, pagamentos, rISCO e

política.

A opções de investimentos em títulos, ações e outros instrumentos financeiros

possibilitam lucratividade e pouco risco para a poupança. Esta é assim canalizada

para o mercado financeiro, gerando investimentos para que mais produtos e

serviços possam ser produzidos no futuro..~,

H OLIVEIRA, M. I.M.A. pg.3425 ROSE, P.S. M.C.M ..

25

Page 32: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Para os que escolheram poupar, os instrumentos financeiros também são

essenciais para preservar a riqueza ou o poder de compra destes fundos, na

medida que rendem juros e correção monetária.

o sistema financeiro também oferece Iiquidez. A compra de um instrumento

de longo prazo pode ser facilmente convertido em dinheiro a qualquer tempo no

mercado, com baixo risco de perda.

o fornecimento de crédito para necessidades de investimentos ou

simplesmente gastos correntes é outra função importante. Os indivíduos podem

facilmente contratar empréstimos ou financiamentos no mercado para aquisições

imediatas com o objetivo de pagamento futuro.

O sistema também proporciona mecanismos para facilitar pagamentos nas

compras de produtos e serviços. Cheques, cartões de crédito, cartões de débito e

outros serviços, servem para tornar mais fácil a compra.

Em termos de risco, o sistema financeiro oferece seguros contra a vida, saúde,

casualidades, entre outros. Por outro lado, o mercado monetário e de capitais é

também usado para a redução de fISCOS, através da diversificação de

investimentos.

Finalmente, o sistema financeiro é usado como um dos principais meios para

o gerenciamento da política econômica governamental. Através principalmente

da taxa de juros e do câmbio, o governo pode corrigir ou redirecionar aspectos

indesejáveis da economia.

Tanto as tarefas de transformação como as outras funções destacadas e

desempenhadas pelo sistema financeiro exercem atividades importantes para a

26

Page 33: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

economia e a sociedade, facilitando e agilizando a vida das pessoas, empresas e

governo, impulsionando o desenvolvimento econômico.

3.3 - Sistema Financeiro e Desenvolvimento Econômico

Os conceitos de poupança e investimento, como visto no capítulo anterior, são

básicos para qualquer discussão sobre desenvolvimento econômico, pois os

mesmos possibilitam o aumento real do capital produtivo de uma economia. Não

menos importante é o Sistema financeiro, que age como um elemento de estímulo

e sustentação neste processo, tanto em relação a poupança como ao investimento.

Poupança e investimento geralmente são conduzidos por diferentes pessoas

ou unidades econômicas. O simples ato de poupar de uma das partes não garante

que estes fundos sejam aplicados no setor real da economia e adicionem valor a

sociedade.

O sistema financeiro pode trabalhar positivamente nos dois sentidos,

estimulando a poupança e transferindo recursos poupados para investimentos.

Neste sentido, um sistema financeiro eficiente pode contribuir para o

crescimento e desenvolvimento econômico de três formas:

-Estimulando o crescimento da taxa de poupança do país;

-Aumentando a proporção da poupança dirigida para investimentos; e

-Tomando mais eficiente a alocação deste recursos no setor real da economia.

O sistema financeiro pode estimular a expansão do volume líquido da

poupança privada voluntária do país oferecendo atraentes opções de prazo,

27

Page 34: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

liquidez, risco e retorno desejados pelos detentores de renda, diminuindo assim a

preferência pelo consumo imediato. Outro estímulo é através da liquidez

proporcionado pelos papéis, fazendo com que os indivíduos não mais necessitem

manter reserva pessoal de caixa. A reserva é aplicada no sistema financeiro e

somente em caso de necessidade é resgatada, fazendo com que a poupança

produtiva do sistema seja expandida.

Além disso, à medida que o setor financeiro se desenvolve, é provável que o

retorno real sobre a poupança também aumente, pois um sistema financeiro mais

competitivo reduz as taxas de intermediação. Um maior retorno sobre a poupança

também acaba induzindo a um menor consumo presente, aumentando assim a taxa

de poupança.

Um sistema financeiro eficiente pode também aumentar a poupança dirigida

para investimentos. Se não forem suficientemente desenvolvidas, as instituições

financeiras poderão falhar na captação do montante potencial de poupança, assim

como desviar dos investimentos grande parte desta poupança. Em mercados

financeiros subdesenvolvidos, as pessoas podem alocar parte de seus recursos

para instrumentos passivos que não podem ser usados diretamente para

investimentos físicos. Aplicações em ouro ou, como foi o caso brasileiro no

passado, aplicações em moeda forte como o dólar, acabam não contribuindo para

o crescimento econômico e geralmente acontecem por descrédito do mercado

financeiro ou da própria economia.>

Finalmente, a poupança precisa ser alocada para investimentos, uma vez que

os fundos necessários para diversos investimentos estão geralmente além da

capacidade de qualquer investidor individual. Na medida em que consegue reunir

26 BEKAERT. Geert. GARCIA. Márcio & HARVEY. Campbell. P.M.C.C.E.

28

Page 35: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

a poupança de várias unidades individuais, os intermediários financeiros

possibilitam a realização de projetos de grande escala.

Por outro lado, esta alocação de recursos precisa ser eficiente, para projetos de

investimento ou empresas que agreguem maior valor à economia. O sistema

financeiro, através dos mercados financeiros organizados e a livre atuação de suas

forças, pode ser, e tem sido, um modo eficaz de proceder à canalização dos

recursos para alternativas socialmente mais desejáveis de investimento,

permitindo que haja maior eficiência quando da transformação desses fundos

mobilizados em capital real. Isto geralmente ocorre de dois modos=:

a)Por uma alocação mais eficiente de um dado total de riqueza, através de

mudanças na sua composição e propriedade obtidas via intermediação entre

os diversos possuidores de ativos, o que ocasiona um fortalecimento da

produtividade do estoque existente de capitais; e

b)Pelo incentivo a uma alocação mais eficiente de novos investimentos, de

usos menos produtivos para usos mais produtivos, através da intermediação

entre poupadores e investidores, ou seja, uma transferência de recursos para

os setores produtivos onde existe grande capacidade empresarial.

Basicamente, as decisões para uma alocação eficiente são resultantes da taxa

de contribuição do negócio a economia. Projetos ou empresas com grande

demanda de mercado possuem potencial de retomo maior, sendo preferidos pelos

investidores. O mercado financeiro possui maiores condições de avaliar as

alternativas mais rentáveis de investimento se comparado com investidores

individuais, devido a operarem com grandes volumes de investimento e a

necessidade de especialização e acompanhamento para administrá-los.

27 MELLO. P.c. In: CASTRO. H.O.P. I.M.C. pg.27.

29

Page 36: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Em resumo, o sistema financeiro essencialmente contribui para o

desenvolvimento econômico incentivando a poupança e alocado eficientemente o

montante poupado na economia. Com maior poupança haverá maior potencial de

investimento, impulsionando o crescimento econômico. A alocação mais eficiente

dos recursos também faz com que a economia satisfaça melhor as necessidades da

população e seja mais justa na distribuição de renda e bem estar social.

Torna-se fundamental deste modo a preocupação pela eficiência,

credibilidade e aceitação do sistema financeiro pela sociedade, este como

ferramenta propulsora do desenvolvimento econômico e social.

3.4 - Componentes do Sistema Financeiro

A função de transferir recursos das unidades superavitárias para as deficitárias

não era necessária no passado, pois geralmente acontecia diretamente entre as

partes envolvidas. Porém esta conexão entre agentes tomadores e ofertadores de

recursos no mercado tornou-se importante na medida em que a complexidade

deste processo aumentou consideravelmente. Ao mesmo tempo em que os

aspectos "reais" se tornaram mais complexos, os aspectos financeiros

necessariamente tiveram uma evolução no mesmo sentido - o aspecto real de um

empréstimo, por exemplo, é a postergação pelo emprestador da oportunidade de

consumir no presente com a expectativa de consumir mais no futuro, já o aspecto

"financeiro" do empréstimo envolve a criação do instrumento financeiro.

Além desta maior complexidade, o número das unidades econômicas foram

expandidas e a conexão direta entre os agentes tornou-se mais difícil, mais cara e

até mesmo impossível de ser realizada sem a ajuda de instituições especializadas. ~

2' CODIMEC. Balanço Social do Mercado de Capitais. 1988. pg. 10.

30

Page 37: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Com o crescimento do número e a complexidade destas instituições, houve a

necessidade de regulamentação do mercado para seu melhor funcionamento. O

desenvolvimento desta regulamentação se deu em etapas e lugares diversos,

determinando o atual sistema financeiro mundial, onde encontramos grandes

diferenças em termos de grau de atuação e complexidade dos mercados nos

diferentes países.

Apesar das diferenças entre países, o sistema financeiro possui basicamente

três componentes>: Instrumentos financeiros, Instituições financeiras e Mercados

financeiros.

3.4.1 - Instrumentos Financeiros

Os instrumentos financeiros são as evidências documentadas dos direitos e

obrigações, contendo as características do acordo entre as partes. São também

conhecidos por ativos financeiros. Ativo financeiro é um documento legal

reconhecido pelo mercado, que possibilita ao proprietário reclamar sua troca por

um ativo real, ou como acontece na maioria dos casos, sua troca por outro ativo

financeiro. Porém, estes direitos e deveres podem geralmente ser negociados antes

de sua maturação, assegurando assim outra importante função do mercado

financeiro que é a liquidez dos títulos.

Apesar de existirem muitas variações em termos de instrumentos

financeiros, os mesmos podem ser classificados em três categorias diferentes,

segundo Rose"; dinheiro, títulos de dívida e patrimônio líquido. Dinheiro

29 ROSE, P.S. M.eM ...111 COOPERo S. Kerry & FRASER. Donald R. The Financiai Market Place. Second Edition. Addison-Wesley, 1986.J1 ROSE. P.S. M.eM.

31

Page 38: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

representa um ativo financeiro que é geralmente aceito na compra por produtos e

serviços de uma determinada sociedade.

Os títulos de dívida são instrumentos que não possuem nenhum tipo de

direito de propriedade na companhia por parte de seu detentor e são fixos em

termos de prazo e valor de resgate, possuindo prioridades de recebimento sobre os

proprietários no caso de venda dos ativos por falência ou encerramento das

atividades. Geralmente podem ser negociados a qualquer data no mercado

secundário. Este tipo de financiamento é preferível à empresa dependendo de sua

situação e características de investimentos. A construção de um edificio, por

exemplo, com o objetivo de vender seus apartamentos após o término da obra

seria aparentemente melhor financiado por títulos de dívida, na medida que a data

de entrega do prédio e do retorno do investimento é definido.

Já o patrimônio líquido, caracterizado principalmente por ações de

empresas, representa ao detentor o direito de propriedade na organização

emitente, proporcionalmente ao número total de títulos emitidos. As ações

possuem direito sobre os lucros e eventual venda dos ativos da companhia, porém

sem data especificada para reclamação do valor investido, a não ser através da

venda à terceiros no mercado secundário. Além disto o titular do direito pode,

dependendo de sua posição de poder e da característica do título, participar do

controle administrativo da mesma. No caso, os equipamentos e toda a estrutura

necessária a construtora do edifício seria melhor financiada por patrimônio

líquido, já que serão recursos necessários "indefinitivamente" à empresa. Os dois

exemplos são apenas generalizações, não sendo necessariamente recomendável

em todas as ocasiões.

32

Page 39: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Podemos citar ainda um quarto tipo de ativo, que são as debêntures, mais

caracterizadas por um título de dívida, porém, podendo o titular muitas vezes

exercer o direito de conversão em ação na data de resgate.

Outra possível classificação de instrumentos financeiros é a distinção entre

ativos financeiros monetários e ativos financeiros não-monetários". Ativos

financeiros monetários são o papel-moeda em poder do público, mais os

depósitos à vista nos bancos comerciais. Ativos financeiros não-monetários são

os demais títulos, como letras de câmbio, letras imobiliárias, depósitos de

poupança, certificados de depósitos a prazo, entre outros.

3.4.2 - Instituições Financeiras

Das instituições financeiras fazem parte os estabelecimentos que cnam e

negociam os instrumentos financeiros, facilitando assim o fluxo de recursos entre

os participantes. São caracterizadas pelo fato de instrumentos financeiros

constituírem habitualmente a principal porção de seus ativos, além de suas

atividades estarem concentradas e seus lucros derivados de operações com

instrumentos financeiros. As instituições financeiras que operam no sistema

financeiro, de acordo com a classificação anterior, podem também ser definidas

em dois grupos: instituições bancárias ou monetárias e as instituições não-

bancárias ou não-monetárias.

As instituições monetárias são caracterizadas por sua capacidade de criação

de moeda. A criação de moeda é feita pelo Banco Central, pelo simples ato de

emitir papel-moeda e também pelos bancos comerciais, na medida em que

recebem depósitos à vista. A criação de moeda pelos depósitos à vista acontece

J2 OLIVEIRA, M. I.M.A. pg.30.

33

Page 40: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

34

em decorrência destes mesmos depósitos serem emprestados a novos tomadores.

Estes por sua vez, depositarão em outros bancos, repetindo o processo. Assim,

pelo efeito chamado multiplicador, um depósito transforma-se em vários outros de

menor porte, tornando os meios de pagamento várias vezes superior ao montante

inicial, caracterizando o mecanismo da criação do papel escrituraI.

As instituições financeiras não-monetárias não estão autorizadas a receber

depósitos à vista, não possuindo portanto o poder de criar moeda. Estão aqui

classificados os bancos de investimentos, bancos de desenvolvimento,

companhias seguradoras, corretoras de valores, e outros.

3.4.3 - Mercado Financeiro

o mercado financeiro representa o lugar ou mecanismos onde os instrumentos

financeiros são negociados, determinando o volume de crédito disponível, fixando

as taxas de juros e os preços dos títulos.

Dentro do mercado financeiro, o fluxo de fundos pode ser dividido em

segmentos distintos, dependendo das características e necessidades dos diferentes

grupos. Medeiros= classifica o mercado financeiro em quatro submercados

específicos, os quais utilizaremos como base para nosso estudo:

Mercado de Crédito: Onde são efetuados os financiamentos a curto e médio

prazo ao consumidor e empresas. No Brasil atuam neste mercado basicamente os

bancos comerciais e as companhias financeiras.

D WANNACOTT, Paul. Economia. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1982. pg.9.1. RICUPERO. Rubens. Opinião Econômica. Folha de São Paulo, São Paulo. 16 ago. 1997. pg.2-2 ..15 MELLO. P.c. In: CASTRO, H.O.P. I.M.C. pg. 25.1(, MELLO. P.c. In: CASTRO. H.O.P. I.M.C. pg. 27..17 ROSE, P.S. M.eM. pg.7 ..1' OLIVEIRA. M. I.M.A. pg.34.1') MEDEIROS. Paulo de Tarso. O Que é o Mercado de Ações? Rio de Janeiro, Simposium Consultoria e Serviços Técnicos, 1987.

Page 41: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Mercado de Capitais: Responsáveis pelos financiamentos a médio e a longo

prazo deempresas, inclusive de prazo indeterminado, como é o caso das ações,

além das construções habitacionais à pessoas físicas. As instituições financeiras

não-monetárias são basicamente responsáveis por este mercado.

Mercado Monetário: Onde são realizadas as operações de curto e curtíssimo

prazo do Tesouro Nacional e bancos comerciais. Este mercado é responsável

também por servir como um instrumento de política monetária, onde o Banco

Central pode atuar sobre o nível de liquidez da economia. No caso de redução da

liquidez, vendendo títulos públicos. No caso de aumento de liquidez no mercado,'"

comprando-os.

Mercado Cambial: Opera na conversão de moeda estrangeira pela nacional e

vice-versa. Efetuada por instituições autorizadas, basicamente compra divisas de

exportadores e vende a importadores.

Para Rose=, a divisão mais importante dentro do mercado financeiro é a

distinção entre mercado monetário e mercado de capitais. O mercado monetário é

designado para financiamentos de curto prazo (período menor que um ano), onde

indivíduos e instituições com excesso de fundos temporários encontram

tomadores com necessidades temporárias de recursos. Uma das principais funções

do mercado monetário é financiar capital de giro de empresas, além do governo e

especuladores financeiros. Já o mercado de capitais opera a longo prazo,

conforme conceituação de mercado de capitais anterior.

Há porém outras classificações:

a) Mercado financeiro para operações que envolvem títulos de renda fixa e

mercado de capitais para operações que envolvem títulos de renda variável.

.0 ROSE, P.S. M.c'M.

35

Page 42: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

b) Mercado financeiro e mercado de capitais, sendo que o primeiro faria o papel

de intermediador de recursos e o segundo atuaria como canalizador, sem a

necessidade de intermediação."

Independentemente das classificações, cada segmento do mercado financeiro

representa, de alguma maneira, um mercado distinto, com características

específiclls. São, assim, isolados em certo grau pelas diversidades nas preferencias

dos investidores, pelas diferentes regras e regulamentações e pelo próprio

funcionamento e seus determinantes. Porém, quando juros, preço, liquidez ou

qualquer variável sofrer alteração em um determinado segmento, outros

segmentos do mercado financeiro são também afetados de alguma forma. Isto

significa que apesar do sistema financeiro ser conjugado em vários mercados

diferentes? há forças que trabalham para a interdependência entre eles.

Pela classificação de Medeiros, o mercado de capitais, onde está inserido o

mercado acionário, caracterizado aqui como operante a longo prazo,

principalmente no financiamento das empresas, possui atenção especial neste

estudo, em concordância com os objetivos iniciais do trabalho.

3.5 - Mercado de Capitais

o mercado de capitais engloba operações de financiamento a longo prazo,

utilizáveis para o financiamento de capital de giro e, principalmente, ativos

imobilizados necessários ao surgimento e desenvolvimento das companhias, além

de financiar investimentos governamentais e de pessoas físicas.

Neste mercado, são utilizados basicamente 2 tipos de instrumentos

financeiros, conforme classificação anterior: títulos de dívida e ativos de

36

Page 43: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

patrimônio líquido. A partir disto, podemos também diferenciar dois mercados

específicos dentro do mercado de capitais; mercado de renda fixa, que engloba

os títulos de dívida, e o mercado acionário, onde as transações com ativos de

patrimônio líquido são efetuados.

Historicamente, as operações com títulos de dívida a longo prazo no Brasil

ficaram quase que restringidas ao fornecimento por órgãos estatais e também a

financiamentos internacionais. Por este motivo, o mercado de capitais é utilizado

muitas vezes para representar unicamente as operações no mercado de ações.

Dentro do mercado de ações, que é objeto principal do estudo, há dois

segmentos importantes e complementares; mercado primário e mercado

secundário de ações.

o mercado primário de ações trata do lançamento inicial de títulos no

mercado, havendo a transferência direta de recursos dos investidores para as

empresas. Sua principal função é levantar capital para suportar investimentos,

tanto para novas empresas ou negócios, como para as já existentes. É no mercado

primário, portanto, que a poupança transforma-se em investimento. A subscrição

pode ser feita integralmente pelos atuais sócios, ou através de novos acionistas, o

que caracteriza uma emissão pública.

No mercado secundário, acontecem as transações de títulos entre

investidores, não havendo portanto transferência direta de recursos para as

empresas. Sob o ponto de vista econômico, não há aumento de recursos para

financiar novos investimentos. Sua principal finalidade é propiciar liquidez aos

investidores.

Deve-se salientar que o funcionamento do mercado primário depende

fundamentalmente do mercado secundário, pOIS os ativos dificilmente

37

Page 44: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

encontrariam colocação em seus lançamentos primários se não contassem com a

liquidez do mercado secundário posteriormente. Os investidores somente aplicam

suas poupanças em ativos com possibilidade de venda futura.

Nas emissões do mercado primário o lançamento público de ações é feito por

instituições especializadas, geralmente sem a utilização dos serviços das Bolsas de

Valores. Porém, segundo Medeiros", nada impede que a colocação das ações se dê

em leilão, realizado em bolsa. Tal procedimento, entretanto, é pouco comum.

Por outro lado, a maioria das transações realizadas no mercado secundário são

efetivadas nas Bolsas de Valores, que desta maneira tornam-se instituições de

grande importância como elemento meio na negociação.

As Bolsas de Valores são associações civis sem fins lucrativos. Seu

patrimônio é representado por títulos patrimoniais que pertencem às sociedades

corretoras membros. Possuem autonomia financeira, patrimonial e administrativa,

mas estão sujeitas à supervisão da Comissão de Valores Mobiliários e obedecem

às diretrizes e políticas emanadas do Conselho Monetário Nacional.

Os objetivos e atividades das Bolsas de Valores são":

1. Manter local adequado para o encontro de seus membros e para a

realização, entre eles, de transações de compra e venda de títulos e valores

mobiliários em mercado livre e aberto, organizado e fiscalizado pelos

próprios membros e pelas autoridades monetárias;

., MEDEIROS. P.T. O.Q.M.A. pg.62." MEDEIROS, P.T. O.Q.M.A. pg.62."CASAGRANDE NETO, Humberto. Abertura de Capital de Empresas no Brasil: um enfoque prático. 2. ed., São Paulo:Atlas. 1989. pg. 21.

38

Page 45: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

2. Criar e organizar os meIOS materiais, os recursos técnicos e as

dependências administrativas adequadas à pronta, segura e eficiente

realização e liquidação das operações efetuadas no recinto de negociação;

3. Organizar, administrar, controlar e aperfeiçoar o sistema e o mecanismo

de registro e liquidação das operações realizadas;

4. Estabelecer sistema de negociação que propicie e assegure a continuidade

das cotações e a plena liquidez ao mercado de títulos e valores

mobiliários;

5. Fiscalizar o cumprimento, pelos seus membros e pelas sociedades

emissoras de títulos e valores mobiliários, das disposições legais e

regulamentares, estatutárias e regimentais, que disciplinam as operações

em Bolsa, aplicando aos infratores as penalidades cabíveis;

6. Dar ampla e rápida divulgação à operações efetuadas em seu pregão;

7. Assegurar aos investidores completa garantia pelos títulos e valores

negociados.

O eficiente funcionamento das Bolsas de Valores tomam-se assim essenciais

para o mercado secundário desempenhar suas funções de liquidez, esta

fundamental para o próprio funcionamento do mercado acionário.

3.6 - Mercado Acionário e Desenvolvimento Econômico

Dos diferentes segmentos do mercado financeiro vistos anteriormente, o

mercado de ações é um dos principais sustentadores do desenvolvimento

econômico, na medida que atua no financiamento de médio e longo prazo na

39

Page 46: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

econorma, contribui para a repartição da propriedade e pode incentivar a

democratização do poder nas empresas e na própria sociedade.

Além das funções de desempenhadas pelo mercado financeiro já citadas

anteriormente, como conversão de ativos fixos em ativos líquidos, transformação

dos prazos das operações, transformação dos montantes de capital e

transformação de riscos, os quais o mercado de ações possui importância

fundamental, o mesmo é responsável ainda por outras funções não menos

importantes. Além de agilizar o processo de transferência de recursos, facilitando

as atividades de poupança e investimento através da criação de ativos

padronizados, como a ação, acaba exigindo a divulgação de informações das

empresas, aumentando a transparência do negócio e ocasionando um maior fluxo

de informações a respeito da oferta e demanda de recursos. Isto acaba reduzindo o

custo desta informação, dinamizando o mercado e tornando-o mais eficiente,

aumentando consequentemente a eficiência do sistema econômico.

o mercado de ações é importante até mesmo em aspectos relacionados a

inovações e saltos tecnológicos. Segundo Sir John Hicks (Nobel de Economia)«, a

revolução industrial teve de aguardar a revolução financeira, na medida que o

surgimento dos mercados de capitais permitiram financiar projetos de longa

maturação, sem prejuízo da liqüidez oferecida aos poupadores. "Apesar de a

maioria das inovações que constituíram a revolução industrial estarem disponíveis

muito antes de sua deflagração, somente após a consolidação do mercado de

capitais sua difusão tornou-se possível."

Outra função reconhecida do Mercado de Ações é sua tendência em

democratizar o poder e o capital. A possibilidade de um grande número de

,. ROCCA, Carlos Antônio (coordenador). Mercado de Capitais e a retomada do crescimento econômico. São Paulo: FIPE,1998. pg. 5.'j IBMEC. Mercado De Capitais e Desenvolvimento Econômico. Rio de Janeiro: IBMEC. 1977, pg. 25.'ó MELLO, r.c. I.M.C. pgs. 31·32.

40

Page 47: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

pessoas comprar ações de urna companhia e, consequentemente, participar corno

proprietário da mesma, permite urna maior pulverização da riqueza e do controle,

distribuindo renda e diluindo o poder na empresa e na própria sociedade.

Mello relaciona algumas razões que confirmam a tendência do mercado

acionário em democratizar o capital e o poder, além de outros aspectos de suporte

ao desenvolvimento econômico-:

a) A capitalização das empresas VIa mercado acionário induz a uma

participação ativa do poupador nos riscos e nos resultados da atividade

produtiva, ao invés de somente receber juros corno nos empréstimos;

b) A existência de ações permite que o valor do patrimônio das empresas

seja representado e repartido por várias parcelas, possibilitando a

participação ativa de um grande número de pessoas na propriedade e urna

maior flexibilidade de transmissão dos direitos.

c) A pulverização da propriedade acionária pode conduzir diretamente

(através de investidores individuais) ou indiretamente (através de

investidores institucionais) a uma maior participação social nos lucros

gerados pelo desenvolvimento advindos do crescimento das empresas;

d) A distribuição da propriedade de ações de uma empresa constitui um

instrumento flexível capaz de aproximar mais facilmente o fator trabalho

do fator capital, seja diretamente (empregados acionistas das empresas)

ou indiretamente (através de fundos de pensão);

"7 ROCCA, Carlos Antônio (coordenador). Mercado de Capitais e a retomada do crescimento econômico. São Paulo: FIPE,1998. pg.5."" ROCCA, C.A. M.C. pg. 6."9 MELLO, P.c. I.M.C. pgs.33-35.

4\

Page 48: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

e) A transferência da propriedade e mesmo a programação da distribuição de

riqueza do país através de impostos sobre o capital, podem ser facilitadas

pela existência de ações, principalmente por permitirem que estas

transferências não interfiram na administração e eficiência das empresas.

Isto vale também no caso de morte ou aposentadoria de seus

proprietários. Estes objetivos ficam mais difíceis de serem alcançados

quanto maior for a concentração da propriedade de ações.

f) A abertura do capital das empresas e a transformação de unidades

familiares em empresas com parcelas de capital em poder do público, em

situações em que a forma jurídica constitui um empecilho a maximização

dos lucros e outros objetivos de eficiência, pode ser agilizada com o

mercado de ações. Não somente pela pressão do público em atingir

objetivos de eficiência através de uma administração mais profissional,

mas também mais sujeitas à divulgação pública de suas atividades.

g) Maior abertura social através da desvinculação da figura do empresário da

do capitalista. Também, os projetos de grande viabilidade econômica e

financeira, introdutores de novas tecnologias tanto no tocante ao produto

final quanto no que diz respeito ao processo de produção, podem ser

levados adiante por meio do levantamento de recursos no mercado

acionário. Esta oferta de capital de risco incentiva o aproveitamento e

concretização de novas idéias pelos elementos empreendedores da

sociedade.

h) O mercado de ações pode ser um instrumento, dentro do quadro da

política governamental, que concorre para o encaminhamento da solução

de diversos problemas econômicos, mesmo quando estes interessam mais

vivamente à sociedade corno um todo do que ao mercado propriamente

42

Page 49: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

dito. O mercado acionário, ao atuar como um instrumento de

capitalização da empresa privada nacional, pode enrijecer -sua estrutura de

capital, capacitando-a a enfrentar mais facilmente os embates ocasionados

por uma reversão conjuntural no mercado de produtos e/ou na oferta de

crédito, servindo pois como instrumento auxiliar de grande valia no

combate anti-inflacionário a médio e longo prazos.

i) No tocante a convivência entre formas de captação forçada de recursos (e

sua aplicação) e formas voluntárias, devemos ter em mente que, com a

agilidade do mercado acionário no aporte de recursos para as empresas do

setor privado, evita-se a expansão, de forma exagerada, de linhas oficiais

de crédito subsidiado, que, se de um lado podem constituir um elemento

positivo como acelerador do processo de desenvolvimento, de outro

podem resultar também em um maior grau de imperfeição no mercado.

Como veremos no capítulo quinto, além dos aspectos sociais positivos já

destacados resultantes de uma atuação ~j~çiente do mercado acionário, uma maior

democracia nas empresas pode também estimular uma melhoria do nível de

qualidade gerencial das mesmas.

3.7 - Ambiente para um Mercado Acionário Desenvolvido

Se por um lado a importância de um mercado de ações desenvolvido é crucial

para o bem estar das pessoas, por outro, nem sempre é fácil a estruturação, ou até

mesmo adaptação, de um modelo que contribua de maneira eficaz para a

economia e o desenvolvimento de uma sociedade. "As ineficiências e limitações

de um mercado de capitais provém, fundamentalmente, da natureza distorcida da\(

estrutura social e econômica do país em questão, e constituem um problema

43

Page 50: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

generalizado no mundo atual. Apenas quando esses desequilíbrios e desigualdades

são atacados de um modo efetivo e coerente, aproximando mais os custos

privados e sociais, começaríamos a ter alguma confiança no sentido de que a

existência de um mercado de capitais trará uma contribuição positiva e eficiente

ao desenvolvimento do país em questão.">

Para que o mercado de ações desempenhe eficientemente suas funções,

devem ser cumpridas certas precondições, tanto na órbita político-institucional

quanto na econômica. Na órbita política-institucional, é necessária uma

organização institucional dotada de instrumentos legais adequados para o

funcionamento apropriado do mercado de ações. Além disso, esse mercado

geralmente necessita graus razoáveis de estabilidade e de política que forneçam

condições para a existência de um regime de propriedade privada. Como é um

mercado extremamente sensível à confiança do público quanto ao seu correto e

fidedigno funcionamento, requer um quadro de boa conduta legal, ética e

comercial da parte de suas instituições e agentes, além de uma oferta ampla,

precisa e atualizada de informações. Por fim é necessário uma política

governamental explícita, com firmeza de convicções e estabilidade. 51

Na órbita econômica, deve haver um certo grau de monetização para permitir

um volume grande e relativamente constante de poupança financeira. Um

conjunto diversificado e especializado de instituições bancárias e outros

intermediários financeiros também se torna indispensável para que haja

complementação das atividades específicas do mercado de ações. Do lado da

demanda é preciso uma presença significativa de indivíduos e instituições no

mercado, para os quais seja vantajoso aplicar suas poupanças em ativos não-

físicos a preços variados. Do lado da oferta, é necessário a disponibilidade de um

;0 IBMEC. M.C.D.E. pg.87.;1 MELLO. P.c. I.M.C. pgs. 3 I ·32.

44

Page 51: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

volume relativamente grande de títulos e obrigações, tanto em estoque disponível,

quanto na emissão regular de novas ações e títulos. Finalmente, é imprescindível a

existência de um grande número de compradores e vendedores que estejam

dispostos a transacionar periodicamente, mantendo a vitalidade e velocidade na

negociação de ações e outros ativos financeiros.

Os países em desenvolvimento, como o Brasil, caracterizam-se por uma

escassez relativa de capital e pela geração de um pequeno volume de poupança,

além de sua alocação geralmente ineficiente. A expansão do mercado acionário

pode ser um dos mecanismos para superar tais barreiras.

Particularmente no Brasil, temos um mercado acionário emergente, com

grande potencial de crescimento. Nossa legislação evoluiu nos últimos anos, mas,

em nossa opinião, necessitamos ainda adaptações que melhor satisfaçam as

peculiaridades de nossa cultura. É neste sentido que discutiremos a evolução do

mercado financeiro e de ações no Brasil, situando a atualidade no contexto

histórico para posteriormente refletirmos sobre a necessidade de adaptações que

contribuam efetivamente para o desenvolvimento de nossa economia e sociedade.

45

Page 52: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

4 - EVOLUÇÃO DO MERCADO FINANCEIRO E ACIONÁRIO NO

BRASIL

4.1 - Os Primórdios do Mercado

A estrutura atual do sistema financeiro é recente no Brasil. Ate o início do

século XIX, não existiam instituições financeiras organizadas, mas apenas

indivíduos exercendo as funções de banqueiros ou corretores.

No início do século XIX, o primeiro fato relevante relacionado ao mercado de

capitais acontecia. "Em 10 de outubro de 1808, D. João VI constituía o Banco do

Brasil, e oferecia à subscrição da colônia o capital deste, no valor total de 1.200

contos de réis. A emissão foi considerada um fracasso, pois apenas 100 contos de

réis foram integralizados. A integralização do restante custou enorme esforço,

como o oferecimento, inclusive, de títulos nobiliárquicos aos maiores

subscritores. "52

Este foi o primeiro lançamento de ações à oferta pública que se tem notícias

no Brasil, sendo o primeiro banco a operar oficialmente no país e podendo

também ser considerada como a primeira instituição financeira oficial. O Banco

do Brasil foi criado com objetivo de realizar e facilitar a circulação dos fundos

considerados necessários ao atendimento das despesas do Estado. A emissão das

ações em si foi considerada um fracasso. Já o banco, após ser "quebrado" pela

Família Real e fechado posteriormente em 1929, foi restabelecido por Viscondes

de Mauá em 1951 e incorporado novamente ao estado em 1953. Desde então,

nunca perdeu sua posição de liderança, apesar dos escândalos financeiros sofridos.

52 CASAGRANDE NETO, H. A.C.E.B.

46

Page 53: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Criado com o objetivo de "gerar fundos para manter a corte no Brasil, o banco

logo passou a emitir mais do que arrecadava. A seguir, começaram os desfalques,

os desvios e o "extravio" do dinheiro. Em vez de proceder a rigoroso inquérito,

como aconselhava a salvação da instituição, o governo impôs o silencio pela

violência aos que davam curso aqueles boatos" y O Banco do Brasil, e a própria

cultura das instituições financeiras já começavam, assim, distorcidas no país.

Algum tipo de regulamentação do mercado de capitais já começava a ser

desenvolvida no século passado. Em 1845 a atividade do corretor foi

regulamentada através do decreto n." 417, com objetivo principal de evitar a

interferência de um numero irrestrito de pessoas no mercado de títulos. Os

"Corretores Oficiais de Fundos Públicos" passaram a ter cargos vitalícios,

mediante nomeação do Ministro da Fazenda. Em 1850, entrou em vigor o Código

Comercial Brasileiro, que juntamente com a Lei n." 3.150, de 4 de novembro de

1882, deram suporte as sociedades anônimas até 1940.

Já em 1876 era decretada a cotação de títulos em pregão", sendo o mesmo

regulamentado no ano seguinte". Este foi considerado o marco inicial do

funcionamento da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. A regulamentação não

provocou modificações imediatas no movimento da Bolsa, tendo efeito apenas em

1878, quando houve aumento significativo nas transações de títulos e de

companhias participantes.»

Em relação ao sistema bancário, em 1850 haviam três bancos comerciais no

Brasil, com ativos totais representando menos de 5% do PIB. Nesta década foi de

fato criado o sistema bancário comercial, desenvolvendo-se porém vagarosamente

até o final do império.

'.1 Folha de São Paulo. Historia do Brasil. 2. Edição, 1997. pg. 94.5. Lei 11. 6132 de 1.87655 Lei 11. 6.635 de 1.8775(, OLIVEIRA. M. !.M.A.

47

Page 54: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Em 1889/90, especialmente após o advento da República Velha e a década de

maior inflação que o Brasil experimentou até os anos 60, a legislação bancária foi

liberalizada e muitos bancos foram criados. Praticamente sem controle por parte

do governo e com a ajuda de uma hiperinflação, os mesmos expandiram de

maneira desordenada, em mais de cinco vezes seus depósitos e créditos.

Na década seguinte, várias tentativas foram feitas, auxiliadas por grandes

contribuições oficiais, no sentido de compensar as grandes perdas que os bancos

nacionais sofreram devido a seus empréstimos e investimentos mal sucedidos,

prejudicados também por uma forte crise e deflação entre os anos de 1898-1902. "

Os bancos estrangeiros, em sua maioria britânicos, que começaram a operar

no Brasil na década de 1850, não participaram da expansão desordenada de

crédito acima, não participando também das dificuldades posteriores. A expansão

destes foi rápida neste período, sendo que detinham mais de 40% do ativo de

todos os bancos comerciais do país em 1912.

Voltando ao mercado acionário, um fato histórico acompanhou o período

inflacionário de 1889-1894. "O encilhamento", como ficou conhecido este

período, aconteceu após uma alta repentina do mercado de ações, levando a uma

subjacente e desenfreada criação de empresas, a maioria das quais nunca

funcionou na prática, ou então cedo entrou em falência. Estes acontecimentos

resultaram em grandes prejuízos para o Tesouro, bancos e pessoas físicas, tendo

como fruto uma década de desordens financeiras e uma retração do mercado para

títulos de empresas." Acabaram também acarretando um alto descrédito no

mercado acionário.

57 GOLDSMITH. R.W. B.1850-1984;. GOLDSMITH, R.W. B.1850-1984

48

Page 55: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

A regulamentação continuou a ser desenvolvida. Em 1897, foi expedido o

Decreto n. 2.475, que constituiu a espinha dorsal da Legislação brasileira sobre

Bolsas e Corretores. Porém, esta legislação levava em conta somente a Bolsa e

Corretores do Distrito Federal, omitindo atuações em outros estados. Somente em

1939~9 a legislação tornou-se mais afirmativa, passando a reger todas as

instituições bolsísticas do país, instituindo o monopólio da negociação em pregão

público, pelos corretores, dos títulos da bolsa. No entanto, mesmo depois dele,

elas continuaram sendo entidades públicas com ingerência dos governos estaduais

em suas administrações, mudando somente com as reformas de 1964.

No período entreguerras, o sistema bancário conheceu uma expansão rápida e

bastante tranqüila. O número de bancos aumentou de algumas dezenas em 1914

para 200 em 1937 e 500 em 1945. Os empréstimos e depósitos também

aumentaram, passando de uma relação de 12% do PIB para aproximadamente

30% no mesmo período. Porem, praticamente ainda inexistiam opções de

financiamento a longo prazo, ficando o mercado financeiro limitado

fundamentalmente ao mercado monetário.

O mercado de ações continuava a ser um dos segmentos menos desenvolvidos

da estrutura financeira do país. O número de empresas registrada na Bolsa de

valores do Rio de Janeiro diminuiu de cerca de 300 em 1913 para menos de 250

em 1945. Os negócios eram sempre concentrados em algumas poucas ações. As

do Banco do Brasil representavam cerca de 1/5 e o grupo restante em torno de

uma dúzia.

A terceira República, de 1945 a 1964, foi marcada por problemas políticos,

inflação galopante e dificuldades com o balanço de pagamentos, tendo surgido

inúmeras mudanças nas diretrizes econômicas e na administração, que não

~9 Decreto n. 1.344 de 1939

49

Page 56: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

possuíam consistência e racionalidade econômica segundo Goldsmith=.

Entretanto, elas permitiram e, até certo ponto, favoreceram o crescimento e a

industrialização rápidos, apesar de terem sido quase responsáveis pela destruição

do sistema financeiro não-monetário. A evolução das instituições financeiras foi

influenciada fortemente pela aceleração da inflação, que no último ano do período

atingia 100%.

Os bancos comerciais que já operavam no Brasil tiveram uma situação

protecionista nesta fase, contribuindo também para o subdesenvolvimento do

setor. "A regulamentação que limitava a entrada de novos bancos, a limitação da

taxa de juros, as taxas de inflação moderadas (padrão brasileiro), o monopólio de

depósitos à vista e a reduzida demanda de crédito criaram as condições para seu

monopólio no sistema financeiro brasileiro.õ Como resultado, este período

caracterizou-se por uma retração dos intermediários financeiros de um modo

geral. A relação entre o ativo das instituições financeiras e o PIB reduziu-se de

72% em 1945 para 34% em 1964.62

Porém, as pressões ambientais impulsionaram o desenvolvimento de outros

intermediários financeiros. "A escassez de fundos e o aumento da taxa efetiva de

juros foram forças poderosas no sentido de transpor as barreiras legais e as

práticas monopolistas que impediam o desenvolvimento de outros intermediários

financeiros.'> Os consórcios, por exemplo, foram os precursores de ativos

financeiros com correção monetária, na medida que os preços das quotas pagas

eram reajustados automaticamente conforme o aumento nos preços dos bens.

Já o surgimento das sociedades de crédito, financiamento e investimento, que

captavam através de aceites cambiais e da colocação de letras de cambio no

"O GOLDSMITH, R.W. B.1850-.1984'" MONTORO FILHO, André Franco. Moeda e Sistema Financeiro no Brasil. Rio de Janeiro: IPEAlINPES, 1982. pg.75.62 GOLDSMITH. R.W. B.1850-19846) MONTORO FILHO, A.F. M.S.F.B. pg.84.

50

Page 57: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

mercado, surgiram com a pretensão de atuar com ações, mas praticamente

limitaram-se ao financiamento a curto prazo no início. Isso mudou porém com a

Portaria n." 309 de 1959 do Ministério da Fazenda, que permitiu as financeiras

emitirem títulos cuja taxa de juros era livre na prática, dada a natureza do

instrumento; a letra de câmbio.

As letras de cambio eram vendidas com deságio no mercado de capitais. Com

a substituição dos juros por deságio, foi possível contornar a Lei de Usura- e

elevar os valores das taxas de juros.

Para Castro, a letra de câmbio foi um instrumento importantíssimo para o

mercado de capitais brasileiro; "embora a participação da letra de câmbio no total

de haveres financeiros não-monetários não seja grande no momento, não se deve

subestimar sua importância histórica por vários fatores: primeiro, este título,

durante algum tempo, constituiu a alternativa mais modernizante no Mercado de

Capitais brasileiro; e segundo, este título estava ligado ao financiamento

específico do consumo de certo tipo de produto que tem tido marcante

importância no processo de industrialização brasileiro desde a segunda metade da

década de 50, ou seja, bens de consumo duráveis, cuja demanda é fortemente

afetada pela disponibilidade de crédito. Além disso, até o advento dos bancos de

investimento, as financeiras foram a única fonte privada de empréstimos a médio

prazo para investimento industrial. "(,;

A organização dos bancos de desenvolvimento, a princípio por iniciativa dos

governos estaduais e posteriormente por parte do governo federal (BNDE), em

1951, representou também uma inovação importante em termos de mercado de

capitais. A principal função do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

". Ver capitulo 4.5 - Aspectos que Dificultaram o Desenvolvimento.,,; CASTRO. Hélio O. P. de. In: CASTRO. Hélio O. P. de (coordenador). Introdução ao Mercado de Capitais. Rio de Janeiro :IBMEC 1979.pg.43

51

Page 58: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

foi a realização de empréstimos a médio e longo prazos a empresas privadas,

centralizando o processo de financiamento a setores industriais de base.

Permaneceu, porém, voltado para a solução dos problemas de infra-estrutura

econômica.

Ate o inicio da década de 60, portanto, o mercado financeiro brasileiro ficou

praticamente limitado ao mercado monetário de curto prazo, com poucas opções

de longo prazo no mercado de capitais, com exceção de algumas agencias

governamentais, no caso principalmente do BNDE e bancos de desenvolvimento

estaduais. O setor privado ficou ainda sem um fluxo de recursos a prazos

adequados.

Em se tratando especificamente de ações, não houve significativa

contribuição na canalização de recursos para as empresas através do mercado

acionário. "The capital market was practically non-existent. Stock exchange

operations were to remain at an undeveloped stage up till 1964, with trading

restricted to a handful of stocks. The debentures market was completely unknown.

There was no motivation for traditional family-owned concerns to go public, since

there was effectively no such thing as a primary stock market that could provide

them with long-term funds. On the other hand, companies' financiai statements by

no means provided potential investors with a true picture of their circumstances.

The ease with which foreign currencies could be bought, and the widespread use

of bills of exchange, allied to the public's almost total ignorance of this kind of

investment, relegated stock exchanges to an insignificant role in the financial

system as a whole."»

Oliveira coloca também que "a estrutura empresarial brasileira,

preponderantemente familiar, a legislação subsequente, a natureza da economia e

M, COSTA. Roberto I. da. Brazll's Experiencc in Creating a Capital Market. São Paulo: Bovcspa. 1985.

52

Page 59: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

a mentalidade ligada à sociedade agrária contribuíram sobremaneira para o atraso

na implantação de um eficiente e sadio mercado de capitais, onde a poupança

popular pudesse ser mobilizada na criação de um grande sistema de apoio às

empresas'> neste período.

Por este motivo, a maioria das empresas financiaram seus crescimentos

através do reinvestimento dos próprios lucros, como afirma Montoro Filho=; "o

principal papel dos intermediários financeiros era o de prover recursos para

capital de giro, pois o capital fixo era financiado pelo reinvestimento de lucros."

Ele continua, afirmando que a situação de subdesenvolvimento do mercado

financeiro brasileiro foi basicamente contornada por outras formas de

financiamento. "O reinvestimento de lucros, o investimento estrangeiro direto, o

crédito dos bancos comerciais e de agências oficiais, e ainda as despesas

governamentais, todas ajudadas pela inflação, foram capazes de prover as

necessidades de financiamento para o crescimento do produto nacional.'> A

economia encontrou assim formas de satisfazer suas necessidades sem recorrer ao

sistema financeiro, segundo Montoro Filho.

Costa discorda das afirmativas acima. Para ele, a precariedade do sistema

financeiro veio a piorar ainda mais a situação econômica do inicio dos anos 60:

"High inflation rates lasting for long periods, combined with a 12% ceiling on

interest rates, led to a violent process of financial disintermediation ... companies

found themselves in a situation ofworsening decapitalization .. .it even added new

difficulties to an already precarious economic situation.">

Algum reflexo na inflação também pode ter sido causado pelo

subdesenvolvimento do mercado de capitais neste período. "O aumento na

(,7 OLIVEIRA, M. I.M.A. pg. 215.(,8 MONTORO FILHO, A.F. M.S.F.B. pg. 72.(,0 MONTORO FILHO. A.F. M.S.F.B. pg.79.711 COSTA, R.1. B.E.C.C.M. pg. 24/25 ,

53

Page 60: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

necessidade de financiamento das empresas privadas, conjugado com a

insuficiência de recursos fornecidos pelo sistema financeiro, induziu as empresas

a tentarem gerar internamente estes recursos, aumentando seu mark-up e,

portanto, elevando os preços ... é claro que, como conseqüência deste esforço e da

reação das demais unidades econômicas, a taxa de inflação havia de subir. ""

o que podemos notar e considerar é que as afirmativas acima estão corretas se

analisarmos diferentes períodos. Durante os anos 50 por exemplo, o modelo

econômico era extremamente introvertido, com a substituição de importações

sendo acelerada e recebendo todo tipo de incentivos. O modelo era dirigido para a

produção doméstica das indústrias de bens de consumo não-duráveis, que não

requeriam elevados montantes de capital fixo, nem grandes necessidades de

financiamento de capital de giro, sendo assim baixa a demanda por crédito. Neste

período, portanto, a ausência de um suporte do mercado financeiro talvez não

tenha criado grandes dificuldades ao crescimento econômico.

Mas com as transformações e novas características do desenvolvimento

brasileiro no início dos anos 60, podemos supor que esta ausência acabou

prejudicando ainda mais o crescimento da economia até o início do governo

militar em 1964.

4.2 - As Reformas dos Anos 60

O início dos anos 60 apresentou uma das fases mais conturbadas para a

política e a economia brasileira. Em termos políticos, os diversos problemas

acabaram resultando no golpe de 1964, com a ditadura militar governando o país

pelos subsequentes 21 anos. No lado econômico, a década iniciou com uma

" MONTORO FILHO. A.F. I\1.S.F.8. pg.87

54

Page 61: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

elevada estagnação, sendo que o produto real per capita depois de elevada taxa de

crescimento em 1961, mostrou tendência decrescente, acusando variações

negativas em 1963 e 1965, e nula em 1964.

A estagnação econômica foi, fundamentalmente, fruto de um processo global

de ajustamento a novas condições econômicas, da transição de um modelo de

crescimento baseado na substituição de importações para outro que se baseava na

criação e crescimento de mercados internos e externos para os bens industriais

produzidos domesticamente. O Brasil já havia praticamente esgotado suas

possibilidades de substituição de importações no final dos anos 50, pois a maioria

dos bens de consumo, pelo menos os não-duráveis, já estava sendo produzida

internamente.

Com as novas condições econômicas as necessidades financeiras se invertem,

pois para sustentar a produção de bens duráveis e de capital é necessário maior

volume de financiamento, devido a maior relação capital/produto e maior

necessidade de investimento inicial requeridas por estes produtos. Antes, com a

fase de substituição de importações de bens de consumo não-duráveis, as

necessidades de financiamento eram limitadas, podendo basicamente serem

atendidas por recursos próprios.

Nota-se também que o sistema financeiro brasileiro não acompanhou o

crescimento real da economia; os ativos do sistema financeiro representavam 70%

do PIB em 1948 e apenas 55% em 1963". Em 1965 somente 2,9% da poupança'

nacional bruta foi canalizada através do sistema financeiro, parcela pequena se

comparado com outros países latino-americanos (média de 10 a 15%).71

"GOLDSMITH, R,W, R.1850-198471 MONTORO FILHO, AF, M.S.F.R. pg,79,

55

Page 62: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

As novas características de desenvolvimento brasileiro, juntamente com a

queda no investimento estrangeiro direto que também corroborou para maior

demanda interna de recursos, tornaram praticamente inviáveis a manutenção do

sistema financeiro da época. "A transformação da estrutura produtiva na direção

da constituição de grandes plantas industriais concentradas, com menor numero

de unidades, mas que necessitam substanciais volumes de recursos, requereu uma

reorganização do processo de intermediação financeira e de geração de fundos.

Tornou-se necessário captar de muitos e transferir para algumas unidades. Nestas

circunstâncias, o desafio colocado ao sistema financeiro a partir do início dos anos

60 foi o de aumentar o volume de recursos no mercado e cnar melhores

mecanrsmos para a transferência de fundos, o que requeria uma completa

reformulação do processo de intermediação financeira ...as autoridades

governamentais estavam convencidas de que o sistema financeiro era um dos mais

importantes setores na sua estratégia de crescimento e redução da inflação.

Decidiram que o governo deveria intervir na economia para garantir a rápida

expansão do sistema financeiro e para aumentar sua eficiência." 7.

Uma série de medidas saneadoras foram implantadas em vários setores da

atividade econômica neste pequeno espaço de tempo no sentido de "modernizar o

país", assim como estabelecidas importantes ações para o desenvolvimento do

mercado financeiro no Brasil.

Para dar suporte ao mercado financeiro e de capitais, três importantes leis

foram promulgadas neste período:

I. Lei n." 4.380/64 criou o Banco Nacional da Habitação, o Sistema

Financeiro da Habitação e instituiu a correção monetária.

7. MONTORO FILHO, A.F. M.S.F.R. pgs. 82/88

56

Page 63: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

lI. Lei n." 4.595/64, chamada Lei da Reforma Bancária, dispôs sobre a

política e as instituições financeiras monetárias e bancárias,

institucionalizando o Sistema Financeiro Nacional e criando o Conselho

Monetário Nacional, além do Banco Central do Brasil.

1II. Lei n." 4.728/65, Lei do Mercado de Capitais, disciplinou o mercado de

capitais, estabelecendo medidas para o seu desenvolvimento.

Estas três leis, além de outras ações, reformaram radicalmente o setor

financeiro brasileiro, prevendo e orientando seu o desenvolvimento. As principais

características das reformas e seus resultados foram":

a) Criação de diversos intermediários financeiros não-monetários com áreas

de atuação definidas, onde os recursos captados por um segmento de

mercado eram canalizados para atividades econômicas específicas, não

podendo fluir livremente para outros setores econômicos. Como exemplo,

temos o Sistema Financeiro de Habitação, que atuava em atividades de

construção civil;

b) Ampliação e diversificação da pauta de ativos financeiros oferecidas aos

investidores, criando oportunidades e estimulando a poupança;

c) Desenvolvimento do mercado de ações, especialmente do sistema de

bolsas de valores;

d) Fusões e incorporações entre bancos comerciais visando à racionalização

da rede de agências bancárias e à busca de economia de escala;

"OLIVEIRA. M. I.M.A. pg, 55

57

Page 64: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

e) Aumento do número de órgãos de fomento, tais como bancos regionais e

estaduais de desenvolvimento econômico, contribuindo para empréstimos

de longo prazo;

f) Adoção de uma política monetária de combate à inflação, de cunho

monetarista e que a princípio se mostrou do tipo gradualismo rápido,

quase tratamento de choque e, posteriormente, de gradualismo lento, até

1974.

g) Extensão do princípio da correção monetária a outros setores,

envolvendo poupança, empréstimos, dívidas, aluguéis, balanços de

empresas, seguros salários e taxa de câmbio.

h) Instituição do método de minidesvalorização da moeda, tornando pouco

atraente à especulação com a taxa de câmbio e reorientando as poupanças,

antes mantidas em dólares, para os mercados financeiros.

o sistema financeiro brasileiro, com tais medidas, recebe um impulso enorme

em termos de modernização, sendo considerado bastante desenvolvido para o

padrão econômico da época.

Algumas das medidas merecem destaque especificamente na modernização

do mercado de capitais. A partir de 1964 o Governo começou a emitir títulos

chamados ORTN, Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional, cujo o valor era~.f,'

ajustado conforme a taxa de inflação. Este princípio de correção estendeu-se

posteriormente a outros títulos, introduzindo um esquema de indexação de grand~

alcance de haveres e obrigações, aumentando a procura por títulos. "O problema

básico da modernização do Mercado de Capitais brasileiro foi justamente tornar

atraente a remuneração do capital financeiro aplicado em um contexto

inflacionário, sem que o Governo desejasse liberar totalmente as taxas de juros ... e

58

Page 65: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

para reviver o mercado brasileiro de títulos governamentais foi fundamental a

adoção de remuneração real dos títulos, o que foi obtido com o principio de

correção monetária.'>

As cadernetas de poupança são um desenvolvimento posterior do mercado,

com grandes vantagens para o poupador, pois alem de gozar de incentivo fiscal,

pagavam juros, correção monetária e possuíam liquidez próxima a de depósitos

bancários. A partir disso, verificou-se o sucesso crescente dos depósitos em

caderneta de poupança, que juntamente com as letras mobiliarias, eram

mecanismos destinados a carrear fundos para o financiamento da industria da

construção civil.

Em 1966 as atividades dos bancos de investimento, das sociedades de crédito

imobiliário e das associações de poupança e empréstimo também foram

regulamentadas. Nessa época também entraram em funcionamento as sociedades

distribuidoras de títulos e valores mobiliários, criados pela Lei n04.728, que

complementariam a atuação das sociedades corretoras na captação de poupanças.

Pela estrutura leve, proliferaram de forma excepcional, até que o Banco Central

limitou a concessão de novas cartas patentes.

A criação do FGTS, PIS e PASEP, contribuíram significativamente no

suporte de projetos de investimentos, pelas suas características de poupança

forçada. A criação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, depósito feito

pelas empresas proporcionalmente aos salários pagos aos funcionários, visava a

poupança no sentido de suportar financiamentos em construção civil e tamb~m

possibilitar ao empregado a aquisição de casa própria. Já os recursos coletados

através do PIS e PASEP seriam depositados em um fundo, com os objetivos de

1(, CASTRO, H.O.P. de. I.MC. pg.43

59

Page 66: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

suportar projetos de natureza social, formar uma poupança para o empregado em

caso de necessidade urgente ou para ser utilizado como aposentadoria.

Estimulou-se também, com as reformas, a entrada de capitais estrangeiros,

repassados às empresas por bancos comerciais, de investimento, BNDE e bancos

estaduais e regionais de desenvolvimento. Os bancos de investimentos tornaram-

se importantes a partir do fim da década de 60, tanto na área de investimentos

diretos (mercado de ações), como no financiamento e repasse de recursos a médio

e longo prazos para as empresas.

O decreto-lei n." 427, de janeiro de 1969, declarou nulas as notas promissórias

e letras de cambio não registradas no Ministério da fazenda, reduzindo a

atratividade destes instrumentos no mercado paralelo, bastante difundidos na

época. "Recursos abundantes foram, portanto, ou transferidos para os vários

segmentos do Mercado de Capitais oficial, onde, em virtude da adoção da

correção monetária, seriam por sua vez garantidos contra a depreciação do poder

de compra da moeda no mercado de títulos de renda fixa, ou atraídos para o

mercado de títulos de renda variável, já alavancado por uma série de incentivos

fiscais">

Portanto, grandes transformações ocorreram neste período. As instituições e

instrumentos financeiros mudaram mais significativamente do que no século

precedente em sua estrutura, alem de se diversificar, resultando na criação de umaI

superestrutura das instituições e instrumentos financeiros mais ampla com relação

a grandeza da economia, e muito mais variada do que em quase todos os países !

subdesenvolvidos.

77 CASTRO. H.O.P. de. '-Me pg. 46

60

Page 67: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Consequentemente, os ativos das instituições financeiras aumentaram de 47

para 90% do PIB.7SObserva-se também um aumento no grau de concentração dos

bancos comerciais, os quais se diversificaram, oferecendo todo tipo de

instrumentos financeiros. "Entre 1965 e 1972, a participação dos cinco maiores

bancos nos depósitos de todos os bancos comerciais aumentou de 19 para

30% ... em parte, esse foi o resultado da política governamental de favorecimento a

concentração, pois o governo considerou os grandes bancos como mais eficientes,

financeiramente mais sólidos, cobrando juros mais baixos, e mais fáceis de

controlar. "79

Em relação ao mercado acionário, importantíssimas decisões foram tomadas

para sua modernização. Além de vários incentivos, como a criação dos fundos

157, que inicialmente permitiam a pessoas físicas aplicarem 10% do imposto de

renda devido em fundos de ações, foram reformulados os fundos mútuos de

investimentos, além da modernização do funcionamento das bolsas de valores e

das sociedades corretoras.

Porém o maior avanço ficou por conta da legislação. A Lei n." 4.728/65,

citada anteriormente, teve reflexos positivos fundamentais, sendo considerada

como uma avançada legislação para a época, a qual destacaremos em tópico

específico a seguir.

4.2.1 - Lei do Mercado de Capitais

O ano de 1965 representa um marco no processo de desenvolvimento do

mercado de capitais brasileiro. A Lei n." 4.728/65, também conhecida como Lei

7SGOLDSMITH, R.W. B.1850-198479GOLDSMITH, R.W. B. 1850-1984. pg.381

61

Page 68: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

de Mercado de Capitais, fez parte da ampla reformulação do sistema financeiro

efetuada a partir de 1964.

Os três objetivos básicos da Lei n." 4.728/65, chamada Lei do Mercado de

Capitais, segundo Castro") foram:

a) Estabelecimento de padrões de conduta para os participantes do Mercado

de Capitais, naturalmente bastante sensíveis à confiança do público;

b) Criação de novas instituições e o fortalecimento das existentes, e

c) Concessão de incentivos à companhias que procedem à abertura de

capital.

Ficou evidenciado a preocupação com o acesso do público a informações

fidedignas sobre as emissões e as empresas, assim como a proteção de

investidores contra fraudes e manipulações, tentando assim gerar maior confiança

das pessoas no mercado de capitais e estimulando sua participação.

Em relação a criação de novas instituições, conferiu-se ao Conselho

Monetário Nacional a responsabilidade de estabelecer regras quanto à organização

e determinação das firmas-membro das bolsas de valores, cujo número foi

substancialmente aumentado, sendo o Banco Central um órgão auxiliador nos

programas de modernização. As bolsas de valores mantiveram suas autonomias

administrativa, financeira e patrimonial, porém supervisionadas pelo Banco

Central e sujeitas as normas baixadas pelo Conselho Monetário Nacional.

Já os corretores de valores, pessoas físicas, foram transformados em

sociedades corretoras, viabilizando seu desenvolvimento, alem da definição das(t.ji.

so CASTRO, H.O.P. de. I.Me pg.47

62

Page 69: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

instituições componentes do sistema de distribuição de valores mobiliários e a

obrigação da exclusividade das mesmas.»

Foram instituídos os bancos de investimentos, com o objetivo de prover

financiamentos a médio prazo e organizar operações de underwriting, alem da

criação das distribuidoras de títulos e valores mobiliários.

A concessão de incentivos às companhias que procedem à abertura de capital

foi estabelecida através de incentivos fiscais diferenciados favorecendo acionistas

das companhias de capital aberto em relação às fechadas.

Definiu-se também sociedades anônimas de capital aberto de acordo com

critérios do Banco Central. Estas sociedades foram obrigadas a manter parte de

seus capitais em poder do público de tal modo que, inicialmente, 20% do capital

fosse disseminado entre, pelo menos, 500 acionistas, cada um possuindo 100

ações, e no máximo 1% do capital. O propósito era aumentar o coeficiente

mínimo de disseminação no decorrer do tempo.

Observa-se portanto, uma considerável evolução em termos de

regulamentação e incentivo ao mercado acionário neste período. A bolsa de

valores foi modernizada, fundos mútuos foram regulamentados e um sistema de

incentivos fiscais foi implementado. A partir daí, observou-se um grande

crescimento no volume das transações no mercado acionário.

Por outro lado, com o golpe militar deste período, talvez tenhamos perdido

espaço no campo da democratização das instituições e da própria cultura

democrática da sociedade.

RI MEDEIROS, P.T. O.Q.M.A.

63

Page 70: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

4.3 - O Crescimento Econômico dos Anos 70 e o "Boom" da Bolsa

No final dos anos 60, a economia brasileira iniciou um dos maiores saltos

desenvolvimentistas de todos os tempos, perdurando por mais de uma década. A

taxa de crescimento do PIB entre os anos de 1968 e 1980 ficaram em média acima

de 8% anuais, bem acima dos padrões mundiais."

o mercado financeiro não somente acompanhou, como superou este

crescimento. O ativo de todas as instituições financeiras em relação ao PIB era de

aproximadamente 50% em 1969, aumentando para 80% em 1975 e reduzindo-se

para 68% em 1980. Os bancos comerciais praticamente acompanharam a

evolução do PIB em termos de crescimento de seus ativos no período, reduzindo

portanto a participação em relação as demais instituições financeiras. Observou-se

também uma maior concentração neste setor, sendo que o número de

estabelecimentos diminuiu de 162 em 1971 para 90 em 1980."

Já o mercado acionário presenciou um dos mais espetaculares aumentos nos

preços e volume de títulos negociados, e do número de investidores e

intermediários financeiros no final dos anos 60 e início dos 70. Mas com o

"boom" da bolsa em 1971, que representou um dos episódios mais dramáticos da

evolução recente do mercado de capitais, e a reaceleração do processo

inflacionário a partir de 1974, sérios problemas foram encontrados na prática,

havendo quase que um retrocesso em termos de eficiência da intermediação

financeira no Brasil no complemento deste período.

As experiências com o "boom" e a alta da inflação "colocaram em relevo e

acentuaram a tendência de nossa economia a operar mais com dívidas do que com

capital de risco, isto é, capital dos sócios ou acionistas. Essa tendência teve como

"2 FUNDAÇÃO Getúlio Vargas. Conjuntura Econômica. Vol. 52, n. 3, Março de 1998.B] GOLDSMITH, R.W. B.1850-1984

64

Page 71: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

conseqüência direta a elevação do nível de endividamento da empresa nacional.

No que diz respeito ao setor público, passou-se a observar forte concentração da

poupança nacional sob a égide do setor governo, que, direta ou indiretamente,

começou a decidir sobre a alocação da maior parte da poupança nacional. Quanto

ao segmento privado do setor financeiro, a própria política adotada pelas

autoridades monetárias favoreceu a concentração das decisões, com o surgimento

dos grandes conglomerados financeiros.':

A reaceleração do processo inflacionário foi, principalmente, conseqüência da

combinação dos efeitos da "crise do petróleo" e fatores conjunturais internos,

como a expansão dos meios de pagamento, determinando dificuldades intensas

com o balanço de pagamentos do país. O próprio princípio da correção monetária

generalizada pode ser visto com um incentivador da cultura inflacionaria

brasileira, que perdurou por vários anos e atingiu níveis insuportáveis

posteriormente, prejudicando o desenvolvimento econômico-financeiro mais

recente e colaborando no aumento da concentração de renda.

Já o "boom da bolsa" teve início em 1970, com a alta rápida e contínua dos

preços das ações e dos volumes negociados no Brasil, durando até maio de 1971,

quando o processo de queda de preços e volume aconteceu vertiginosamente

durante um curto período de tempo, provocando uma fase depressiva nos anos

seguintes. O volume de negociações em relação ao PIB saiu de 9% em 1971 para

1,8% em 1980.

A fase de alta, fruto de uma série de instrumentos de incentivo à transferência

de recursos financeiros para o mercado acionário em um curto período de tempo,

além do baixo nível de preços relativos das ações no inicio do período e de

tendências favoráveis nos lucros das empresas, trouxe para as Bolsas de Valores

'" OLIVEIRA, M. I.I\1.A. pg. 58.

65

Page 72: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

milhares de investidores com volumes significativos, porém sem preparo para o

mercado. O volume de negociações em relação ao PIB saiu de 0,35% em 68 para

9% em 1971, já o valor de mercado das ações registradas na bolsa de valores do

Rio de Janeiro aumentou de 4 para mais de 40% do PIB entre os anos de 1968 e

1971." Já a relação preço/lucro para uma amostra de 33 ações (das mais

transacionadas) atingiu, em junho de 1971, o elevado nível de 30; em países

desenvolvidos, poucas vezes o citado indicador superou 20.'"

Na fase de baixa, os mesmos investidores em pânico sumiram do mercado. À

medida que as avaliações dos investidores tendessem a adaptar-se à expectativa

realistas sobre o desempenho futuro da economia e das empresas, a queda,

também rápida, e que efetivamente sobreveio, tornava-se inevitável. A relação

preço/lucro citado acima reduzira-se a 13,3 em junho de 1972 e os preços em

1973 retornaram aos níveis de 1969." A queda que se sucedeu ao grande boom já

deveria ser esperada pelo próprio movimento de alta acelerada e características de

especulação desestabilizante.

Tais fatos isoladamente prejudicaram em muito o mercado acionário,

principalmente porque o efeito de tais experiências é tornar o pequeno investidor

avesso às operações em bolsa, comprometendo o futuro desenvolvimento do

mercado. O saldo positivo foi o fato de que um significativo volume de recursos

foram canalizados para o fortalecimento das empresas. Porém, por um curto

período de tempo.

"O desempenho do mercado acionário ilustra ainda a dificuldade de se criar

um efetivo mercado para a obtenção de recursos de prazo mais longo para as

empresas .... os recursos a longo prazo extensivos às empresas permanecemt·

.5 GOLDSMITH. R.W. 8.1850-198486 VITAL, Sebastião Marcos, NESS Jr., Walter L. O Progresso do Mercado Brasileiro de Capitais: Uma Avaliação Crítica. Revistade Administração de Empresas. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, Maio/Ago. de 1961. pg.687 VITAL. S.M., NESS Jr, P.M.B.C pg.6

66

Page 73: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

vinculados a tradicionais fontes crediticias.t'v É neste sentido que os bancos de

desenvolvimento tiveram participação fundamental no processo de crescimento

econômico do período.

Os bancos oficiais de desenvolvimento tornaram-se um importante

componente do sistema de instituições financeiras, com seus ativos avançando de

5 para 9% entre 1965 e 1980 em relação as demais instituições e triplicando em

relação ao PIB, passando de 2,1 para 6,2%. A partir de 1967, 13 estados criaram

seus próprios bancos de desenvolvirnento.v O próprio BNDE (hoje BNDES) foi

um importante agente de financiamento. Sua principal fonte de recursos tem sido

o Imposto de Renda, e suas aplicações estão voltadas especialmente para a

provisão de capital fixo e de giro para empresas industriais públicas e privadas.

Por outro lado, "o BNDE voltou-se mais para as empresas privadas nacionais,

especialmente para as pequenas e médias, e àquelas que pertencem a setores

industriais básicos. Seu modo de operar continuou, no entanto,

predominantemente através dos empréstimos e muito pouco aplicando em

ações.'>

Já os bancos de investimento, com a depressão sofrida pelo mercado de ações,

voltaram-se para a sua função de financiadores. Captavam recursos diretamente

no mercado através dos recibos e certificados de depósitos, além de repasses

provenientes do exterior ou de instituições financeiras públicas internas como o

BNDE, que é o principal fornecedor de fundos. Porém a intensificação da

inflação, segundo o mesmo autor, prejudicou o desempenho dessas instituições,

considerados seus objetivos originais, por dois fatores: '1

a)Provocou o encurtamento dos prazos nas operações com recursos próprios;

"" CASTRO, u.o.r. de. I.MC pg.50.9 GOLDSMITH. R.W. B.1850-19849<1 OLIVEIRA. M. I.M.A. pg.59'1 OLIVEIRA, M. I.M.A. pg. 59

67

Page 74: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

b)Criou uma concorrência desigual entre os seus instrumentos de captação (os

recibos e os certificados de depósito) e os títulos do governo e cadernetas

de poupança, que combinam garantia do governo (segurança praticamente

total), liquidez total, e rentabilidade elevada, com a correção monetária

plena. A combinação destes três elementos elimina o bom senso do

mercado e induz a uma série de distorções.

Os Bancos de Investimento voltaram a se movimentar em 1977, na área de

investimentos, efetuando diversos lançamentos públicos de ações. Um dos

motivos foi o declínio da taxa de inflação, que favoreceria uma melhor

competitividade de seus papéis.

Em relação a regulamentação do mercado de capitais, a necessidade de

revisão do funcionamento e políticas do sistema financeiro nacional após os

problemas do mercado acionário no início dos anos 70 tornou-se essencial. "Ficou

claro que as Bolsas de Valores não tinham estrutura técnica e tecnológica para

suportar volumes tão grandes de negócios e que os empresários financeiros, tanto

quanto os demais, não estavam preparados para o mercado de ações. Os órgãos

reguladores e controladores não eram capazes para a sua tarefa e a legislação

mostrou falhas ridículas." n As duas principais leis publicadas (6.404 e 6.385) que

reformularam a legislação do mercado de capitais serão vistas no final deste sub-

capítulo.

Além da preocupação com a reformulação da legislação, foram incentivadas a

participação de investidores institucionais, objetivando propiciar maior grau de

estabilidade ao mercado. "As aplicações das reservas das companhias seguradoras

foram disciplinadas em 1973. Reformularam-se as normas relativas aos fundos

mútuos de investimento e aos fundos 157. Em 1975 foram criadas as sociedades

n OLIVEIRA, M. I.M.A. pg.56

68

Page 75: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

de investimento voltadas à captação de investimentos estrangeiros. Este esforço

completou-se com a regulamentação da aplicação das reservas das entidades de

previdência privada, ocorrida em 1978. Os incentivos fiscais continuaram a ser

utilizados para estimular o investimento em ações.'>

As novas regulamentações modernizaram o mercado, levando a um novo

reaquecimento das negociações. Porém, a maior parte da renda poupada foi

destinada para as cadernetas de poupança, que passaram a representar 15,5% das

instituições financeiras no final dos anos 80, contra 2,4% em 19649>. "Esses ativos

financeiros, por suas características, vieram a se mostrar excelente oportunidade

de acumular poupança para o pequeno investidor. Combinando garantia do

governo com correção monetária pós- fixada e oferecendo a seu possuidor liquidez

imediata a qualquer momento, as cadernetas se constituíram numa excelente

oportunidade para as pessoas de baixa renda e que, até então, praticamente só

tinham como alternativas o entesouramento ou o consumo. Todavia, com a

intensificação da taxa de inflação, especialmente no ano de 1976, elas atraíram

também os grandes investidores, distorcendo assim seus objetivos iniciais. Com a

inflação ascendente, sua rentabilidade, em termos nominais, passou a ser motivo

de especulação. Com os demais ativos financeiros tendem a sofrer negativamente

o impacto da inflação, a expansão dos títulos com correção monetária pós-fixada

passava a conquistar poupanças que poderiam estar aplicadas em outras

alternativas. ",,,

Um dos maiores beneficiados destas transformações foi o setor de construção

civil, pois tanto a caderneta de poupança, como as letras imobiliárias foram

mecanismos destinados a esse fim. Com a rápida urbanização brasileira, este setor

O] MEDEIROS, r.T. O.Q.M.A. pg. 17o> GOLDSMITH, R.W. 8.1850-19849; OLIVEIRA, M. I.M.A. pg.60

69

Page 76: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

foi pressionado por novas habitações, assim como sua importância ao nível de

emprego.

o mercado acionário acabou, por conseqüência, sendo prejudicado, na medida

em que parte dos investidores acabaram realocando suas poupanças para as

cadernetas de poupança. As emissões de ações representaram 3% do PIB em

1967, caindo para 2% em 1980. Já as negociações continuavam fortemente

concentradas em algumas companhias, particularmente grandes empresas mistas

(em 1975, as 5 ações mais negociadas representava 78% do total). ""

Como saldo positivo, principalmente com a publicação da Lei das Sociedades

por Ações e da Nova Lei do Mercado de Capitais, a regulamentação do mercado

acionário sofreu profundas alterações neste período.

4.3.1 - Lei das Sociedades por Ações e Nova Lei do Mercado de Capitais

Em dezembro de 1976 foi promulgada a Lei 6.404 (lei das sociedades por

Ações) e a Lei 6.385 (nova lei do mercado de capitais), esta criando a Comissão

de Valores Mobiliários. As modificações efetuadas decorreram em grande parte

das lições aprendidas com o intenso processo de alta e subsequente estagnação das

ações. "A atuação das autoridades do governo em geral, e do Banco Central, em

particular, durante o processo de alta mostrou-se deficiente, o que foi atribuído em

parte à inexperiência e em parte à falta de especialização. Ademais, identificou-se

a ocorrência de práticas abusivas com investidores e acionistas. Por outro lado, o

crescimento apresentado pelo mercado desde 1965 passou a justificar a instituição

de um órgão especializado para regular o mercado.?»

% GOLDSMITH, R.W. B. 1850-1984 pgs. 424, 42597 MEDEIROS, P.T. O.Q.M.A. pg.17.

70

Page 77: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

71

A criação da Comissão de Valores Mobiliários foi de fundamental

importância para o desenvolvimento do mercado, possuindo amplos poderes para

disciplinar e incentivar o investimento em ações. A CVM assumiu e ampliou

funções anteriormente desempenhadas pelo Banco Central na área de regulação,

tanto a nível de empresas como de intermediários.

Seus objetivos, segundo o artigo 4. da Lei 6.385, são":

1. Estimular a formação de poupança e sua aplicação em valores mobiliários;

2. Promover a expansão e o funcionamento eficiente e regular do mercado de

ações e estimular as aplicações permanentes em ações do capital social de

companhias abertas sob controle de capitais privados nacionais;

3. Assegurar o funcionamento eficiente e regular dos mercados da bolsa e do

balcão;

4. Proteger os titulares de valores mobiliários e os investimentos do mercado

contra as emissões irregulares de valores mobiliários e contra os atos

ilegais de administradores e acionistas controladores das companhias

abertas, ou de administradores de carteira de valores mobiliários;

5. Evitar ou coibir modalidades de fraude ou manipulação destinada a criar

condições artificiais de demanda, oferta ou preço dos valores mobiliários

negociados no mercado;

6. Assegurar o acesso do público a informações sobre os valores mobiliários

negociados e às companhias que os tenham emitido;

7. Assegurar a observância de práticas comerciais eqüitativas no mercado de

valores mobiliários;

Page 78: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

8. Assegurar a observância, no mercado, das condições de utilização de

crédito fixadas pelo Conselho Monetário Nacional.

Já a Lei das Sociedades Anônimas reformulou e modernizou as regras de

funcionamento das companhias, principalmente no tocante a proteção aos

acionistas minoritários. As principais inovações serão discutidas no próximo

capítulo, onde trataremos especificamente sobre regulamentação e proteção ao

acionista minoritário.

Com as duas leis, "definiram-se com maior precisão diversas das práticas

nocivas ao interesse do acionista e do público investidor e foram aperfeiçoados os

instrumentos para coibi-las. Deu-se ainda ênfase ao aspecto preventivo, com a

ampliação do grau de divulgação de informações por parte das companhias e dos

participantes do mercado ...buscou-se, dessa forma, reduzir os fISCOS do

investimento em ações àqueles inerentes ao desempenho das empresas e ao

comportamento da economia. "YY

Por outro lado a Comissão de Valores Mobiliários tratou de fiscalizar e

proteger o acionista minoritário, desempenhando um papel respeitável no

mercado, apesar de não conseguir evitar a continuação de abusos de poder nas

empresas.

4.4 - A Recessão dos Anos 80

Após um longo período de alto crescimento econômico sob um governo

militar, os anos 80 praticamente foram um contraste do período anterior, tanto em

termos políticos como econômicos.

OH Citado em CASAGRANDE NETO, H. A.C.E.R.YY MEDEIROS, P.T. O.Q.M.A. pg. 17

72

Page 79: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Em termos políticos, a década foi marcada inicialmente pelo fim do regime

militar em 1985, após um período de ditadura superior a 20 anos. Logo após a

eleição indireta para presidente, porém, o eleito Tancredo Neves vem a falecer,

causando um grande choque na população brasileira, que o tinha com símbolo da

democracia. Outro fato marcante foi a promulgação da nova constituição em

1988, que veio solidificar a democracia no país. Como último acontecimento

político relevante deste período, tivemos o primeiro "Impeachment" de um

Presidente eleito, após o escândalo de Collor em 1992.

Já em termos econômicos, os problemas foram tantos que muitos economistas

referem-se aos anos 80 como a década "perdida". Uma sucessão de vários planos

econômicos heterodoxos de combate a inflação sem sucesso acarretaram grandes

perdas econômicas e sociais. A característica deste período foi, portanto, de um

agudo contraste entre o otimismo do retorno à democracia e os graves sintomas de

instabilidade na economia.

Para Lamounier=, a chamada "década perdida" se deu fundamentalmente por

uma combinação de circunstâncias adversas, num momento de passagem do

governo militar ao civil e a morte do presidente eleito antes mesmo de assumir. O

potencial de conflito social aumentou significativamente, enquanto que a

capacidade dos sistemas econômico e político para acomodar tais tensões

decrescia de maneira não menos acentuada, havendo um declínio da capacidade

macrosocial de escolher e fixar um rumo capaz de suplantar a crise. Isto aconteceu

devido a uma dispersão do poder entre setores amplamente conflitantes, impasses

institucionais que não podiam ser rompidos sem violação às regras básicas do

jogo político e também à momentânea coexistência de visões alternativas de

caráter global, nenhuma delas capaz de persuadir completamente a sociedade.

100 LAMOUNIER, Bolivar. De Geisel a Collor: o balanço da transição. São Paulo: Editora Sumaré. 1990.

73

Page 80: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Se por um lado a transição foi um processo negociado, reduzindo os custos

sociais de uma eventual violência política, de outro deixou ambigüidades graves

ao primeiro governo civil, dificultando a sedimentação da nova legitimidade.

Porém, antes mesmo da transição para a democracia em meados da década, a

economia brasileira já demonstrava graves problemas. "Forçado por crescentes

dificuldades em seu ambiente externo, a partir do choque dos preços do petróleo

em 1973, o país foi aos poucos deixando de lado a retórica de "potência

emergente" até confrontar-se, nos anos 80, com a crise fiscal, o estancamento

econômico e a constante elevação do patamar inflacionário?-«, com o conseqüente

agravamento das condições sociais.

Supostamente o Brasil era um país que aprendera a conviver com a inflação,

graças à indexação e as minidesvalorizações cambiais, mas ela atingiu níveis

dramáticos; "teve uma inflação média anual de 32 por cento entre 1968 e 1979,

mas também apresentou uma taxa média anual de crescimento de 9 por cento ...

em 1979, contudo, a inflação chegou a 77 por cento e nos primeiros anos da

década de 80 virtualmente todos os economistas concordavam que a inflação

brasileira, apesar da indexação, estava fora de controle. É que a inflação de três

dígitos estava causando sérias distorções na economia.?»

o intervalo de seis meses para o reajuste do salário mínimo causara grandes

perdas de renda real para os trabalhadores, as discrepância nas taxas de indexação

agravaram-se, havendo também a necessidade, para financiar o déficit do setor

público e manter recursos no país, de emissão de títulos públicos (ORTNs) que

asseguravam maior retorno do que qualquer outro instrumento financeiro.

Poupanças privadas cada vez em maior quantidade foram canalizadas para esse e

101 LAMOUNIER. Bolívar. G. C. Pg.9.102 SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Castelo a Tancredo. Tradução Mário Salviano Silva. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. pago533

74

Page 81: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

outros papéis governamentais, reduzindo o capital disponível para investimentos

produtivos, já que a especulação financeira era a mais rentável atividade no Brasil.

Além do descontrole na inflação, o índice de crescimento econômico nos três

primeiros anos mostrou-se negativo em média. Uma das causas principais da

estagnação econômica foi a virtual anulação do setor público como agente

propulsor do crescimento econômico. "Acometido pela crise fiscal, pressionado

pelos encargos do endividamento externo e interno e por crescentes pressões

redistributivas, o Estado não conseguiu desempenhar, nos anos 80, o papel de

indutor do desenvolvimento que o caracterizou desde os anos 30." ]l)J

o ministro Simonsen, principal assessor do Presidente Figueiredo na época,

tentou antecipar os problemas, identificando e relatando em 1979 os grandes

problemas brasileiros, pois a crescente pressão sobre o balanço de pagamentos

não deixava ao país outra opção a não ser desacelerar a economia. Mas seu

argumento não foi aceito por políticos e empresários, que preferiram as promessas

da continuação de crescimento de Delfim Neto, que optou por não fazer qualquer

tipo de ajustamento as novas condições.

Porém, pelo agravamento da situação e por pressões externas, a recessão foi

inevitável posteriormente e várias medidas ortodoxas de contenção da atividade

econômica foram implementadas dois anos mais tarde. A crise da dívida iniciada

pelo México em 1982, com a participação do Brasil em seguida, corroborou para

os problemas. A decisão mexicana exerceu um imediato efeito de contaminação

sobre os fluxos de empréstimos bancários privados para o Brasil, determinando a

necessidade do acordo com o Fundo Monetário Internacional em 1983.

"O remédio consistia simplesmente na aplicação de sua fórmula ortodoxa:

reduzir a taxa de expansão da base monetária, apertar o crédito, diminuir o déficit

75

Page 82: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

do setor público, fazer desvalorizações mais freqüentes, eliminar subsídios e

restringir aumentos salariais.":»

Porém o acordo não foi cumprido, aSSIm como outros assinados

posteriormente, agravando ainda mais os problemas econômicos. A inflação

triplicou entre os anos de ]983 e 1984, impulsionada por grandes déficits do

governo federal e do balanço de pagamentos, além dos problemas recessivos

internacionais, originando grandes aumentos no pagamento dos juros sobre a

dívida externa

o PIB recupera-se em 84, mas a inflação continua a acelerar-se. A indexação

tornara-se um incentivo para a especulação financeira. "Como os instrumentos de

dívida do governo eram indexados pagando adicionalmente juros, os investidores

preferiam aplicar em papéis oficiais do que em empreendimentos produtivos,

onde os riscos eram mais elevados. Entretanto o governo tinha que manter altas

taxas de juros, a fim de financiar o déficit do setor público.t'<

Em 1985, após a eleição do civil Tancredo Neves para a Presidência da

República e seu posterior falecimento, as dificuldades econômicas continuavam

crescentes. "Embora a economia tivesse apresentado notável crescimento (8,3 por

cento) em 1985, os economistas de Sarney, vice que assumiu a Presidência,

estavam preocupados com a taxa de inflação de 222 por cento. Tendo evitado o

FMI e suas fórmulas ortodoxas, eles estavam determinados a desenvolver seu

próprio plano para reverter a inflação que ameaçava disparar sem controle." 10"

Devido a sucessão de fracassos nas tentativas de estabilização anteriores e a

consciência de que a inflação havia adquirido inércia, evoluiu-se do tratamento

r

103 LAMOUNIER, B. D.G.C. pg,21.104 SKIDMORE, T. R.C.T. pago 460lOS SKIDMORE, T. R.C.T. pago 488101, SKIDMORE, T. R.C.T. pag.537

76

Page 83: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

convencional, centrado em políticas fiscal e monetária, para os chamados choques

heterodoxos.

Foi assim que em fevereiro de 1986, o plano cruzado entrou em ação. Foi o

pnmeiro programa heterodoxo de estabilização da nova república. "O Plano

Cruzado continha todos os ingredientes típicos da terapêutica heterodoxa-

inercialista: congelamento de preços e taxa de câmbio, reforma monetária com

desindexação e "tablitas", reajustes salariais pelo salário real médio,

acompanhado de abono e de gatilho. Com o argumento de se facilitar a

remonetização da economia no período pós-choque, implementou-se uma política

monetária expansionista?=

A reforma monetária radical teve as seguintes características principais:v-

a) O cruzeiro seria substituído pelo cruzado na proporção de 1 .000 por 1

b) A indexação seria abolida

c) As hipotecas e o aluguéis seriam congelados por um ano, e os preços, por

prazo indeterminado

d) O salário mínimo seria reajustado pelo seu valor médio nos últimos seis

meses mais um abono de 8 por cento.

Congelado os preços e com os consumidores fortalecidos pelos aumentos

reais de salários, logo após o plano vieram a tona os indicadores de excesso de

demanda, ágio na compra de mercadorias e a falta de produtos no mercado. O

Brasil estava agora, além da inflação inercial, com a inflação induzida pela

demanda, chegando a um índice de 20% mensal após 14 meses de plano.

107 LAMOUNIER. B. D.G.C. pg.5 I10" SKIDMORE. T. B.C.T.

77

Page 84: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Outro problema surgira em junho de 1986. "Apesar do êxito inicial do

governo fazendo cair verticalmente a inflação, os empréstimos a longo prazo não

haviam recomeçado. O problema era a incerteza do investidor. Com a inflação,

quanto mais longo o prazo do empréstimo maior o risco. O Brasil resolvera o

problema após 1964 indexando virtualmente todos os empréstimos. Extinta a

indexação, o emprestador ficou sem proteção, suspendendo todas as decisões

financeiras de longo prazo e reduzindo a concessão de empréstimos necessários

para financiar os investimentos e por conseqüência o crescimento econômico. Um

último sintoma de incerteza no mercado financeiro era o ágio que o dólar

comandava no mercado "paralelo?">

É a partir do surgimento desses problemas que nasce o Plano Bresser em

junho de 1987. Visava evitar a aceleração da inflação, a desorganização da

atividade produtiva e a emergência de uma crise cambial. O novo choque

impunha um congelamento temporário de preços e uma nova regra salarial,

levando em conta a inflação média trimestral. A indexação foi mantida para o

mercado financeiro e as políticas monetária e cambial procuraram calibrar juros e

câmbio à inflação corrente. Após a inflação cair para 3% no mês seguinte ao

plano, voltou a 20% doze meses depois.

Outra tentativa surgiu em janeiro de 1989, com o Plano Verão. Foi como uma

re-edição do Plano Cruzado, com algumas novidades e acompanhado também de

promessas de austeridade fiscal e monetária. Com a política de juros altos, acabou

gerando enorme entrada de "hotmoney" do exterior, provocando uma expansão

monetária imprevista. A inflação, que era de 70% antes do plano, caiu para 3,6~1l1:~'

no mês seguinte à sua publicação, mas voltou a 20% cinco meses depois.

1119 SKIDMORE. T. B.C.T. pg. 543

78

Page 85: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Após três tentativas frustradas de estabilização econômica, o Governo Sarney

apenas gerenciou a economia até o final de seu mandato, de modo a assegurar a

realização das eleições presidenciais diretas e evitar a eclosão de um processo

hiperinflacionário aberto.

Com a eleição de 1989, Fernando Collor de Mello iniciou sua gestão em 1990

pretendendo mudar o rumo do Brasil, tentando "modernizar" a economia e

iniciando um processo de abertura internacional.

Sua primeira medida para conter a inflação foi o plano Collor, decretado no

dia 16 de março de 1990. O plano gerou muita controvérsia pela sua ousadia e

despreparo da equipe econômica. Continha cinco elementos fundamentais::»

1. Uma reforma monetária, com o retorno do cruzeiro como unidade

monetária nacional e o bloqueio de cerca de 70% dos ativos financeiros

em poder do setor privado, transformados em depósitos junto ao Banco

Central, resgatáveis a partir de setembro de 1991, em 12 parcelas mensais

IgUaIS;

2. Uma abrangente reforma administrativa, com extinção de vários órgãos da

administração direta, indireta e estatais e com a promessa de redução

significativa nos gastos com pessoal na administração pública;

3. Uma reforma tributária, que consistiu na imposição de um tributo "once

and for all" na riqueza financeira do setor privado e na eliminação das

operações ao portador, aumentando com isto a base tributária;

4. Uma substituição do regime cambial de taxas fixas administradas

diariamente pelo Banco Central por um regime de taxas "flutuantes" de

câmbio;

79

Page 86: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

5. Uma política de rendas, baseada no congelamento de preços e na

prefixação de salários, aluguéis e outros rendimentos.

Houve também maiores facilidades nas importações, onde a abertura da

economia elevou a participação dos bens internacionais no produto real, criando

as condições necessárias para que a taxa cambial pudesse funcionar como uma

âncora, estabilizando o nível geral de preços.

A alegação do bloqueio dos ativos financeiros foi a necessidade de tirar da

economia pelo menos Cr$ 4 trilhões, sem o qual não seria possível evitar a

hiperinflação. Os índices de preços beiravam 84% ao mês, principalmente pela

injeção permanente de moeda no fim do governo Sarney, que exagerou no

aumento da base monetária para manter a economia aquecida.

Sem sucesso com o primeiro, o Plano Collor II veio dez meses e meio depois,

após a volta da inflação e o fracasso da política monetária. Basicamente voltou-se

para o congelamento de preços e salários, como em 1986, além de alteração na

estrutura do mercado financeiro, como o fim das aplicações em overnight.

Esta última foi considerada durante anos o símbolo máximo da tão criticada

ciranda financeira, que era a concentração das aplicações financeiras no

curtíssimo prazo, intermediada pelo governo. "O fato dos investidores estarem já,~,..;.

há algum tempo posicionados em aplicações de curto prazo traz implicações nada

agradáveis à política econômica. A poupança em prazos curtos não é direcionada

para investimentos produtivos, que necessitam de recursos com perfil mais longo.

A queda dos investimentos produtivos diminui a oferta de produtos, faz cair a

renda e provoca incertezas quanto ao futuro. As empresas também ficam

estacionadas no curtíssimo prazo, esperando definições mais claras. E a ciranda

vai se reproduzindo em escala crescente. Assim, o objetivo do governo ao acabar

110 LAMOUNIER. B. D.G.C. pg55

80

Page 87: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

com o overnight é a procura do alongamento de prazo das aplicações financeiras;

é a busca desesperada de um horizonte um pouco mais longo para que as

modificações necessárias viabilizem-se. "111

Porém, devido a sérias acusações de corrupção, sonegação e formação de

quadrilha, o Presidente Collor perde o cargo através de "impeachment" em 30 de

dezembro de 1992, após grande mobilização nacional de estudantes e da

sociedade exigindo sua cassação. A chamada "era Collor se configura como o

mais negro capítulo da história política do Brasil."»

Em relação ao mercado financeiro neste período, seu desenvolvimento

continuou sendo fortemente influenciado pelos acontecimentos políticos e

econômicos.

As várias tentativas para acabar com a inflação através de planos de

estabilização, sempre com juros altíssimos, pouco estimularam o mercado de

capitais. A poupança foi concentrada no mercado monetário de curto prazo, além

do mercado cambial, solução que a maioria escolheu com o objetivo de precaução

contra a desvalorização diária da moeda. Até mesmo parte dos recursos de

investimento produtivo foram deslocados para o curto prazo, principalmente

títulos governamentais, que possuíam retorno financeiro excepcional. "A corrida

para essas aplicações foi tão veloz no fim do governo passado que, na década de

70, o M1 (papel-moeda mais depósitos à vista nos bancos) representava 13% do

Produto Interno Bruto, e os títulos públicos federais apenas 6% do PIB. Na

medida que a inflação aumentava, essa proporção alterou-se. Em 1989, o M1

passou a 2% (ninguém queria ficar com dinheiro), e os títulos federais pularam

para 130/0."111

111TAMER, Alberto. Os Novos Caminhos do Mercado Financeiro. 2. Ed. São Paulo: Saraiva, 1991. Pg. 13112Folha de São Paulo. HS pg.281.111TAMER. A. N.C.M.F. 2. Ed. Pg. 32

81

Page 88: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

As instabilidades macroeconômicas e os planos de estabilização prejudicaram

o retorno no mercado acionário. Uma pesquisa dos professores Paula Leite e

Sanviccnte= demonstrou que esta insegurança prejudicou o desempenho geral de

carteiras diversificadas, aumentando os riscos e ampliando os tipos de riscos.

Rocca também comprovou o aumento da volatilidade do mercado acionário

brasileiro neste período, sendo que a volatilidade média entre 1986 e 1993 foi a

segunda maior do mundo, entre os 35 países pesquisados, perdendo somente para

a Argentina.

Esta volatilidade demonstrou alguns excessos. Com a euforia do Plano

Cruzado, houve um processo muito forte de alta nos preços a partir de 1985. O

volume de emissões também aumentou, praticamente dobrando em relação ao PIB

(de 1% em 1985 para 2% em 1986). Porém, com o insucesso no processo de

estabilização da economia, o mesmo índice de volume de emissões caiu para 0,5%

em 1987, com pequena recuperação até 1993. Os preços também voltaram ao

patamar anterior.

Outro processo de alta dos preços, desta vez menor, ocorreu em 1988. Porém

a queda foi ainda mais acentuada posteriormente, permanecendo sem recuperação

nos anos seguintes, até plano Collor, em 1990.

O Plano Collor também trouxe abalos para o mercado acionário, apesar de ter

livrado os investidores em ações do bloqueio imposto aos cruzados novos. Em um

primeiro momento, as aplicações em Bolsa sofreram a incidência do IOF, que

pôde ser pago pelos cruzados novos bloqueados no Banco Central, além da

incidência do imposto de Renda sobre os ganhos de capital realizados nesse

mercado, tributados à alíquota de 25%. Porém, o brutal enxugamento de moeda na

economia determinado pelo plano Collor 1 detonou um processo feroz de baixa

'I' LEITE. Hélio de Paula & SANVICENTE. Antônio Zoratto. Planos de Estabilização e Instabilidade nos Mercados Acionários.

82

Page 89: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

das ações. Caiu 63% de 13 a 29 de março de 1990. "A conjuntura recessrva

espelhada no aumento do número de concordatas e falências, a invasão do Kwait

pelo Iraque e a aceleração da inflação não indicavam um ambiente favorável para

as empresas, fazendo suas ações despencarem no mercado.":

Já a decretação do plano Collor 2 trouxe para o mercado de ações uma alta de

36% em apenas um dia. "Sem dúvida, a crescente insegurança com os rumos da

economia faz com que o mercado de ações tenha sua atuação bastante

comprometida e sofra com movimentos abruptos de alta e baixas.":»

É nestas circunstâncias de incerteza, planos de estabilização e encurtamento

de prazos que o mercado acionário sobreviveu neste período dos anos 80, sendo

procurado mais por alguns especuladores de curto prazo, prejudicando seu

desenvolvimento. Em lugar das ações, investimentos em títulos de curto prazo

eram os preferidos. Mesmo com o fim do overnight, pelo Plano Collor lI, outras

opções financeiras ganharam destaque, como os fundos de renda fixa.

Em média, as emissões de ações ficaram em um patamar irrisório de 1,0 % do

PIB. O número de companhias abertas decresceu de 1.075 no período de 1980/84

para 985 no período de 1985/89. A própria intermediação financeira como um

todo foi baixa neste período, sendo que o crédito doméstico ao setor privado foi

de 20% do PIB. Em comparação com outras economias, ganhou apenas da

Nigéria, Zimbábue, Colômbia e Argentina em uma amostra de 40 países.v

Como resumo, podemos concluir que as situações de instabilidade e

desconfiança geradas pelos sucessivos planos de estabilização na economia

prejudicaram o desenvolvimento do mercado financeiro e de capitais neste

Revista de Administração de Empresas. São Paulo: Fundação Getúlio Vargas, Abr./Jun. 1991 pg.25115 TAMER, A. N.C.M.F. 2. Ed. Pg.101/102110 TAMER, A. N.C.M.F. 2.'Ed. Pg.I01/102li? ROCCA, C.A. M.C.R,C.E.

83

Page 90: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

período, afastando investidores internos e externos. Além destes problemas, o

mercado financeiro como um todo sofreu um forte descrédito com o confisco dos

depósitos feito pelo Plano Collor.

4.5 - O Plano Real e a Atualidade

Após um período de sucessivas tentativas de estabilização política e

econômica, o Brasil demonstra sinais de otimismo no início da década de 90.

Passada a grande decepção com Fernando Collor, primeiro presidente eleito

através de eleições diretas após o golpe de 64 e primeiro também a sofrer

Impeachment, Itamar Franco assume a presidência do país no final de 1992.

Juntamente com Fernando Henrique Cardoso, seu Ministro da Fazenda e posterior

sucessor (atual presidente), inicia um plano de estabilização da moeda de relativo

sucesso até o presente. Além disso, Itamar Franco consegue assegurar uma das

sucessões presidenciais mais tranqüilas da história brasileira.

o Plano Real teve início com a troca de moeda em 1. de julho de 1994. Foi

precedida pela criação da "Unidade Real de Valor" em maio de 1993, um

indexador para preços e salários que posteriormente transformou-se na própria

moeda, o real. O principal objetivo da URV foi recompor a estrutura de preços

relativos da economia.

O Real faz parte de uma safra de planos bem sucedidos de combate a inflação

na América Latina, inseridos em um período de prosperidade da economia

mundial. A superoferta de capitais internacionais nos anos 90 ajudou a financiar a

queda da inflação. Antes do Plano Real no Brasil em 1994, México, Peru,

Argentina e Chile executaram programas bem-sucedidos com as mesmas

premissas.

84

Page 91: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Os planos são baseados na redução de alíquotas de importação e

sobrevalorização da moeda nacional, convivendo com mercado de capitais de alta

liquidez. A fixação da taxa de câmbio combinada com a liberalização das

importações servem como freio automático à alta dos preços dos bens

comercializáveis com o exterior. Os juros altos também atuam como

desestimulador da demanda.

O Brasil foi além, não só acelerando a redução tarifária programada pelo

governo Collor e acertada com os parceiros do Mercosul, como também deixando

que a cotação do dólar caísse 15% em relação ao real. O país aproveitou uma

conjuntura de excesso de ingresso de hotmoney internacional, conseqüência

principalmente da recessão americana de 1991, que provocou uma redução das

taxas de juros mundiais, fazendo com que investidores procurassem maiores taxas

de juros em países emergentes.

Por outro lado tais medidas tendem a gerar algumas distorções

macroeconômicas. Quando um país incentiva as importações, cresce seu déficit

nas contas externas, que precisa ser coberto com financiamentos internacionais.

Porém, a hipótese implícita do modelo da âncora cambial é que não faltariam

capitais estrangeiros para financiar os déficits nas transações correntes externas

dos países em desenvolvimento que estabilizassem suas moedas e implantassem

reformas neoliberais, por mais extravagantes que fossem tais déficits.

Algumas experiências alteraram um pouco as expectativas positiva iniciais do

plano. "A crise mexicana de dezembro de 1994 ensinou duas lições: a) déficits

externos em conta corrente além de 2% do PIB não são sustentáveis por muito

tempo; b) o capital estrangeiro que interessa atrair são os investimentos diretos e

os financiamentos a longo prazo; os investimentos de carteira a curto prazo, que

voam de um país para outro guiados pelos diferenciais de taxas de juros, pouco

85

Page 92: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

servem aos países em desenvolvimento: com a mesma agilidade com que entram,

saem à primeira suspeita de desvalorização cambial.?» A crise da Ásia, do Japão e

mais recentemente da Rússia acentuou ainda mais as preocupações, obrigando os

técnicos governamentais a tomarem medidas para segurar o ataque especulativo

ao dólar, freando o crescimento econômico.

Segundo Sader, "o Plano Real, como modelo econômico, é um plano de

estabilidade financeira baseada em altas taxas de juros, que atraem enormes

quantidades de dólares para o país... Não é uma estabilidade ancorada num

desenvolvimento econômico que, ao expressar a força da nossa economia,

pudesse determinar a paridade com o dólar pela equiparação das duas

economias.":» Além disso, "está assentada numa massa de recursos especulativos

que circulam pelos mercados desregulados, especulando principalmente com juros

e o cambio, e que têm colocado os governos como reféns."»: O problema é que a

estabilidade não depende somente do comportamento de nossa economia, mas de

uma estabilidade sistêmica, reduzindo drasticamente as margens de liberdade do

governo na implementação de políticas públicas.

De fato, estamos ainda com preocupantes indicadores macroeconômicos. Os

juros altos e uma dívida pública crescente, o real sobrevalorizado com constantes

déficits na balança comercial, a vulnerabilidade externa com um passivo de curto

prazo elevado estão gerando muitas críticas ao modelo brasileiro. As condições

sociais se agravam, com o baixo crescimento econômico e o alto desemprego,

além de poucos investimentos em educação e saúde.

Por outro lado, apesar dos problemas, tivemos grandes avanços na economia

brasileira se compararmos ao período anterior. Hoje possuímos finalmente uma

li" VELLOSO, J.P.R. R.F.E. pg.19119 SADER, Emir et a!. O Brasil do Real. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1996. pg. 14120 SADER, Emir et al. B.R. pg. 28

86

Page 93: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

moeda estabilizada e gradativamente estamos evoluindo para uma perspectiva e

visão de mais longo prazo.

Mas não somente o Brasil e a América Latina vem passando por

transformações. Um processo de abertura e internacionalização dos mercados

mundiais, conhecido por globalização, vem ocorrendo desde a década passada,

causando profundas mudanças em termos de transações comerciais e financeiras

entre países. O sistema financeiro mundial, acompanhando este processo, sofreu e

está sofrendo grandes ajustes.

A globalização faz com que o crescimento das transações financeiras

internacionais seja muito mais intenso do que o das operações domésticas. O

mercado financeiro foi e está sendo afetado pelo denominado risco do país, blocos

e países com características semelhantes, assim como a economia como um todo

está mais dependente de fatores exógenos.

As principais tendências identificadas no sistema financeiro internacional

são:»:

a) globalização dos mercados financeiros e de capitais, com aumento de

participação dos países emergentes;

b) redução dos custos de transação e operação ininterrupta, instantânea e

integrada dos mercados internacionais, viabilizadas pelas novas

tecnologias de informática e telecomunicações;

c) intensificação da concorrência entre as bolsas de valores, multiplicando-se

as fusões, os reposicionamentos estratégicos, as revisões de estrutura

patrimonial e de forma de organização;

121 ROCCA. C.A. M.C.R.C.E. pg. 13

87

Page 94: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

d) adoção de inovações em ritmo cada vez mais acelerado pelo sistema

financeiro internacional, impulsionadas pela desregulamentação de

instituições e produtos financeiros, visando a redução de custos;

e) alterações profundas no modo e nos processos pelos quais o sistema

financeiro desempenha suas funções de mobilização e alocação de

recursos e de administração de riscos;

f) aprofundamento do processo de desintermediação financeira, através do

qual uma proporção crescente das operações se dá diretamente entre

tomadores e investidores, levando a um crescimento do mercado de

capitais mais acelerado que o da intermediação financeira tradicional.

Com a globalização, aspectos positivos e negativos para o mercado de capitais

são observados, segundo Velloso.v-

Aspectos Positivos:

1. Melhoria dos padrões técnicos de análise: fundamentalista e técnica

2. Melhoria dos padrões técnicos de revelação de informação. A consciência

de que informar é preciso e informar bem é ainda mais importante.

3. Acesso a uma escala de capitais que não está disponível nos mercados

periféricos.

4. Melhoria dos padrões éticos de comportamento de intermediários,

investidores institucionais e companhias abertas: parte-se do conceito d~<

que a médio prazo os mais éticos são recompensados.

122 VELLOSO. J.P.R. R.F.E pg.85

88

Page 95: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

5. Possibilidade de parceria entre nacionais e estrangeiros. A globalização

permitiu não só a entrada de grandes players nos mercados locais, como

também está viabilizando associações que, antes, ou não eram

interessantes ou não eram viáveis.

6. A criação de novos referenciais para avaliação do comportamento de

diferentes mercados e seus protagonistas (intermediários, investimentos e

companhias).

Aspectos Negativos:

1. Excessivo grau de dependência do comportamento dos mercados

principais ou mercados líderes.

2. A transferência de liquidez dos mercados secundários locais para os

mercados centrais - desestímulo à intermediação local.

3. Aumento do risco nos balanços de pagamentos em função dos

comportamentos dos capitais financeiros (volatilidade).

4. Aumento do grau de dependência de capitais externos. A poupança passa a

ser muito dependente dos fluxos externos.

5. Diminuição do grau de convivência e, até mesmo, sobrevivência dos

mercados que não atingiram alto grau de competência.

6. Mercados tornarão mais fácil o acesso a capitais de companhias de maior

porte, favorecendo assim a concentração.

É dentro deste contexto de estabilização econômica do país e da América

Latina, juntamente com a globalização dos mercados mundiais que o sistema

financeiro vem evoluindo no Brasil.

89

Page 96: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Neste sentido, uma das primeiras medidas de caráter estrutural deste período

para o sistema financeiro foi adotada em 1994. Dentro do processo de

internacionalização da economia, foram regulamentadas pela Resolução n. 2.099,

de 17/08, do Conselho Monetário Nacional, as normas que iriam reger, a partir de

1995, o Sistema Financeiro brasileiro, segundo o Acordo de Basiléia,

enquadrando o mercado financeiro aos padrões internacionais de liquidez,

definidos em julho de 1988, em acordo assinado na cidade de Basiléia, na Suíça.

As mudanças previstas pela Resolução n. 2.099 se dividem, basicamente, em

quatro anexos. O Anexo I apresenta as regras de funcionamento, transferência e

reorganização das instituições financeiras; o H especifica os limites mínimos de

capital e patrimônio líquido; o IH disciplina a instalação e o funcionamento das

dependências das instituições financeiras autorizadas pelo BC; e o IV fixa as

novas regras de determinação do patrimônio líquido ajustado, que passa a ser

calculado de acordo com o grau de risco da estrutura dos ativos de cada

instituição. m

Em relação ao mercado, depois da estabilização da moeda e o fim da inflação,

o setor financeiro se reorientou para a expansão do crédito no início do plano em

1994. Os consumidores iniciaram uma corrida aos financiamentos, impulsionados

pelo sentimento de maior poder de compra. Porém, muitos endividaram-se acima

da capacidade, gerando altos índices de inadimplência. Obrigado a tomar medidas

de contenção de consumo, o governo restringiu o crédito e aumentou as taxas de

recolhimentos compulsórios.

Além disso, muitas instituições financeiras tiveram outro problema. "Com a

estabilização, o sistema bancário defrontou-se com a virtual eliminação das

12.1 CIDADE, Marcelo., Retrospectiva 94, São Paulo: ANDIMA, 1995, pg.23

90

Page 97: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

receitas inflacionarias, que representavam cerca de 35% das receitas totais dos

bancos privados, e 70% da dos estatais. "12'

A inadimplência citada anteriormente, somada ao aperto monetário, aos

recolhimentos compulsórios e o fim do ganho inflacionário levaram a intervenção

e liquidação de diversas instituições financeiras, inclusive dois grandes bancos -

Econômico e Nacional. O acordo da Basiléia e a existência de instituições

desenquadradas ao mesmo provocaram e ainda provocam ondas de fusões e

aquisições. A própria procura por menores custos tem impulsionado fusões e

aquisições na indústria bancária, sendo utilizadas também como veículo para a

atuação destas em vários segmentos do mercado financeiro.

Diante da ameaça concreta de a crise se alastrar para os demais segmentos da

sociedade, o Governo tratou de criar mecanismos capazes de reverter o quadro. A

Equipe econômica adotou medidas preventivas, como a flexibilização do

compulsório, a criação do seguro bancário e a implantação do Proer - Programa

de Estímulo, Reestruturação e fortalecimento do Sistema Financeiro. Este último

com o objetivo claro de reduzir o número de instituições atuantes no sistema

financeiro e fortalecer as remanescentes.

O mercado financeiro viveu assim um período dificil logo após a

estabilização, com um rigoroso ajuste para enfrentar iniciativas que alternaram

estímulo e desestímulo ao influxo de capitais externos, e a uma política monetária

altamente contracionista, além do ambiente de estabilização de preços.

Por outro lado, com a reestruturação, várias instituições financeiras sem

habilitação para competir no novo cenário brasileiro e mundial deixaram de

existir, fortalecendo assim o sistema.

12' ROCCA, CA M.CR.CE. pg.17

91

Page 98: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

No mercado acionário, houve grande entrada de recursos externos até o

terceiro trimestre de 1994, conseqüência da credibilidade do plano. Porém, foi

interrompida no final deste mesmo ano com as crises do México e da Argentina,

além de medidas restritivas do Governo ao capital externo. As taxas elevadas de

juros reais corroboraram também para a atratividade de ativos de renda fixa.

Em abril de 1995 o programa de privatização revigorou o mercado acionário.

Porém sua lentidão aliada aos altos juros e a ameaça de tributação do capital

estrangeiro impediu que as Bolsas compensassem as fortes perdas do início do

ano.

Em 1997, a crise asiática prejudicou ainda mais o mercado acionário, com

conseqüências desastrosas também para a economia como um todo. Com a

insegurança mundial, o Governo brasileiro foi obrigado a intervir no mercado para

proteger o Real, aumentando os juros e freando novamente a economia.

Em relação a legislação, a Lei 6.404 sofreu reformas em maio de 1997.

Motivado pela necessidade de ajustar a legislação societária ao processo de

privatização e realinhamento empresarial, principalmente no setor financeiro,

foram adotadas inovações que compatibilizam flexibilidade para permitir

transferências de controle acionário e reorganizações societárias com normas de

proteção ao acionista minoritário. Segundo Veirano & Simões=, "Embora não se

possa a rigor afirmar que as alterações na Lei hajam alargado os direitos, dos',I

minoritários, esses direitos ao novo quadro legislativo, embora às vezé~n até

reduzidos em certas áreas, ganharam maior efetividade, como instrumentos de

proteção das minorias contra abusos da maioria, reduzindo ao mesmo te~o a

latitude para o uso indevido desses direitos, como forma de pressão para obter

melhores valorizações para participações minoritárias."

125 VElRANO, Ronaldo Camargo & SIMÕES, Paulo C. G, Estudo Setorial. Setembro 1997, pg, 17

92

Page 99: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Segundo os mesmos autores, as principais mudanças na lei foram:

1. Ações preferenciais possuem direito a dividendos no mínimo 10% maiores

do que os atribuídos as ações ordinários.

2. Alterações nas regras de fixação do preço de emissão em aumentos de

capital, de modo a evitar a diluição injustificada da participação dos

antigos acionistas, ainda que tenham direito de preferência para

substituição das ações decorrentes do aumento.

3. Possibilita a convocação da Assembléia Geral ou convocação de

Assembléia destinada à instalação do Conselho Fiscal por acionistas

representando 5% do capital social, independentemente da condição de

votante ou não votante das ações.

4. Foi revogada a Lei Lobão, que teve por objetivo excluir o direito de

retirada em casos de fusão e incorporação, porém com algumas ressalvas.

5. Autoriza o estatuto da companhia a prever que o reembolso das ações se

faça pelo valor econômico das ações, a ser apurado em avaliação, quando

este for inferior ao valor do patrimônio líquido.

6. Desaparece a obrigatoriedade de comprar as ações dos minoritários pelo

mesmo preço pago pelas ações de controle.

7. Deu-se maior importância ao Conselho Fiscal, porém criando também

penalidades para seus membros.

8. Cria mecanismos para que a CVM celebre acordos com envolvidos em

atos ilícitos por ele investigados, com o objetivo de corrigir os efeitos

lesivos ou obter colaboração e informações de determinados indiciados.

93

Page 100: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Apesar dos esforços na modificação da legislação, que na realidade foi muito

mais para atender interesses econômicos imediatos, como de costume, não houve

ainda um substancial e sustentado desenvolvimento do mercado financeiro

brasileiro. Para Rocca=, "os avanços estão muito ligados ao ciclo de privatização

e à entrada de investidores estrangeiros nas bolsas nacionais. O mercado

secundário de ações tem apresentado nos últimos anos grande valorização e

excepcional crescimento do volume de transações e de liquidez. Entretanto, esse

movimento foi acompanhado de enorme concentração em ações emitidas por um

pequeno grupo de empresas estatais em vias de privatização. A grande maioria

das centenas de empresas abertas listadas permanecem com níveis irrisórios de

volume e liqüidez, comprometendo a adequada formação de preços. Mesmo o

nível de transparência e a qualidade das informações disponíveis ainda guardam

distância significativa dos observados em mercado desenvolvidos. Apesar dessa

ativação do mercado secundário, verifica-se a ausência de dinamismo no mercado

primário de ações e debêntures ...As empresas têm captado no mercado de capitais

apenas uma pequena fração dos seus recursos. Além disso, o número de

companhias abertas tem declinado desde o início da década de 80, registrando-se

um crescimento - tímido - nos últimos dois anos."

As empresas, em detrimento do mercado acionário, têm preferido a emissão

de "bônus" e "notes" no exterior, o crédito bancário e os financiamentos do

BNDES para se financiar. Um dos agravantes é o enorme volume de recursos

destinados pelo sistema financeiro para o financiamento da dívida pública,

recursos estes que poderiam estar sendo direcionados para o financiamento do

setor produtivo. Outro agravante, segundo Rocca=, são as desvantagens das

companhias abertas em relação aos próprios custos de abertura da companhia,

além das desvantagens fiscais, pela maior transparência e fiscalização destas.

12" ROCCA,CA M.C.R.C.E. pg.Zíl

94

Page 101: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

A maior demanda na participação do mercado de capitais como suporte à

economia nesta fase é evidente. Segundo Joelmir Beting= "A retomada do

crescimento, a partir da estabilização patrocinada pelo Plano Real, embarca em

novos padrões de financiamento da economia ... : I) poupança privada deve

substituir a poupança pública na liderança do processo; 2) o sistema bancário

cederá passagem cada vez maior ao mercado de capitais; 3) a poupança externa

das multis e o capital de risco dos fundos estrangeiros terão peso maior que os

empréstimos da banca internacional (dívida externa). A nova era do capitalismo

brasileiro começa pela reestruturação do setor financeiro, passa pela

modernização e ampliação do mercado de capitais e alcança a expansão

geométrica dos investidores institucionais."

Em resumo, o Brasil conta hoje com um sistema financeiro até certo ponto

desenvolvido em termos de legislação e instituições. As bolsas de valores estão

modernizadas e integradas, até certo ponto dependentes do mercado externo, com

capacidade de suportar elevados níveis de negócios. A regulamentação também é

relativamente eficiente.

Porém, há ainda um grande potencial a ser desenvolvido, pois o mercado

ainda é incipiente se comparado ao tamanho da economia, a relação empresa-

acionista minoritário tem sido difícil, os órgãos reguladores se encontram

desaparelhados para as tarefas que lhe são atribuídas, existe excessiva

concentração dos negócios em poucas ações e investidores de peso, alto risco e

variabilidade, além de subsistir uma desconfiança e pouca credibilidade do grande

público para o investimento em ações. Há ainda unanimidade na pequena taxa de

poupança interna necessária para o crescimento econômico nesta fase de

estabilização econômica e inserção mundial.

127 ROCCA, C.A. M.C.R.C.E. pg.20izs BETING, Joelmir. Opinião Econômica. O Globo. Rio de Janeiro, 24 jul. 1997 pg. 36.

95

Page 102: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Neste sentido, é fundamental um trabalho para recuperar a confiança do

grande público neste mercado, historicamente prejudicado por abusos e pouco

respeito ao acionista minoritário. Sem a participação da população e uma maior

democratização do mercado acionário no sentido de reduzir abusos de poder,

dificilmente teremos sua efetiva contribuição ao desenvolvimento do país.

4.6 - Aspectos que Dificultaram o Desenvolvimento

As causas que dificultaram o desenvolvimento do mercado de capitais no

Brasil são muito amplas e complexas, merecendo um estudo específico para a

cobertura do tema. No entanto tentaremos, além do já exposto anteriormente na

evolução do mercado financeiro e de capitais, enfatizar e ressaltar alguns outros

acontecimentos que merecem destaque.

o retardamento do desenvolvimento do mercado financeiro e de capitais até

os anos 60 é atribuído por Oliveira>, principalmente, pela vigência de duas leis

promulgadas em 1933:

a) Lei de Usura=, na qual estabelecia o teto máximo da taxa nominal de

juros em 12% ao ano, e

b) A impossibilidade da correção dos débitos pela variação cambial ou

variação do preço do ouro.:» Eram, assim, proibidos contratos indexados.

Estas leis acarretavam taxas de juros reais negativas para índices de inflação

superiores a 12% ao ano. Para Castro, "os controles sobre taxas de juros, ainda

que contornados por instrumentos tais como taxas de administração, tem efeito

'29 OLIVEIRA, M. LM.A. pg. 52.'11l Decreto n. 22.626, de 7 de abril de 1933.)1' Decreto n. 23.501. de 27 de novembro de 1933.

96

Page 103: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

prejudicial sobre os mercados de ativos financeiros e reais, já que levam ao

surgimento de um mercado paralelo de fundos que opera com custos de

informação e intermediação muito mais altos do que em regime de taxas de juros

livres. "132

Uma das decorrências foi a tendência de encurtamento dos prazos na

economia, desestimulando intermediários financeiros a operar a prazos longos. As

empresas financiavam suas necessidades de investimento a longo prazo através de

sucessivos financiamentos de curto prazo, o qual tornava-se mais caro,

desestimulando assim o crescimento. A ausência de recursos a prazos adequados

ao financiamento de projetos de longa maturação era parcialmente solucionada

pelo setor público através de emissões descontroladas de moeda que, por um lado,

davam cobertura ao déficit do governo e, por outro, intensificavam a inflação.

Posteriormente, principalmente pela extensa modificação que sofreu o

mercado de capitais brasileiro na segunda metade da década de 60, outros

impactos negativos da época podem estar relacionados a atualidade.

Castro relaciona a segmentação e a concentração como prejudicial. "Hoje

critica-se a excessiva segmentação do mercado. De fato, esta segmentação parece

ser artificial, como indica a formação de grupos financeiros horizontais. Se a

segmentação formal não tivesse de ser mantida, os grupos poderiam diminuir

certos custos de organização ... Além de grupos financeiros, ocorre, ainda, na

economia brasileira, um processo de concentração de instituições de mesma

especialização. Este processo é muito notável no caso dos bancos comerciais.

Alguns alegam haver certas economias de escala na operação de bancos

comerciais que explicam o processo, mas é preciso que as autoridades públicas

132 CASTRO, H.O.P. de. J.MC pg.41

97

Page 104: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

estejam sempre atentas ao acúmulo de poder econômico, mormente no caso dos

bancos, que constituem um setor onde não há livre entrada.">

Medeiros coloca a excessiva participação do governo como um fator

negativo. "A participação do governo no sistema financeiro é parte de nossa

história econômica: o Banco do Brasil e a Caixa Econômica têm suas raízes num

passado já distante. O que é relativamente novo é o grau e a variedade da

interferência governamental. Além das naturais funções de regulamentação e

fiscalização do mercado, atua o governo como empresário financeiro, controlando

diversas instituições. Ademais, direciona montante expressivo dos recursos que

fluem pelo sistema financciro.t'»

Fioravante também expressa preocupação com a excessrva atuação

governamental no mercado; "a intermediação de recursos é gravemente

prejudicada pela inusitada assimetria de um grande tomador de recursos (governo

federal) em relação aos demais. Esta assimetria costuma existir em qualquer país,

mas é particularmente acentuada no Brasil devido a três motivos: i) o elevado

poder discricionário do governo sobre o mercado financeiro, largamente

exercitado ao longo dos últimos planos econômicos; ii) a total influência do

Executivo Federal sobre o Banco Central, fazendo com que esta instituição via de

regra forneça liquidez primária aos títulos emitidos pelo Tesouro; iii) o demasiado

voraz apetite do governo pelas poupanças doméstica e externa (leia-se um déficit

público não compatível com a capacidade existente de financiamento a preços

estáveis)." ,,;

O fato de a maior parcela da poupança nacional estar concentrada nas mãos

do Governo ou sob sua orientação é visto como um elemento de distorção no

'" CASTRO. H.O.P. de. I.Me pg. 54'" MEDEIROS, P.T. O.Q.M.A. pg.25.m FIORAVANTE, Moacyr e FARIA, Lauro Vieira de. A Última Década: ensaios da FGV sobre o desenvolvimento brasileiro nosanos 90. FGV. RJ. 1993. pg.264

98

Page 105: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

sistema, afetando negativamente as forças de mercado e a descentralização de

decisões na alocação de recursos.

A parcela de poupança administrada pelo setor privado também se encontra

altamente concentrada sob a tutela de um pequeno número de grupos financeiros,

fruto do modelo de desenvolvimento da economia brasileira adotado no pós-

guerra, fortalecendo os grandes conglomerados e a forte participação estatal. O

governo, com a maior parte da poupança nacional, devido aos incentivos e até

mesmo a poupança forçada, canalizou estes recursos para setores específicos,

enquanto que os grandes conglomerados financeiros dificultaram a

democratização do capital, que em conjunto geraram distorções no sistema.

Já na década de 80, os problemas econômicos giraram em torno do

ajustamento externo e da estabilização interna. A ênfase residiu nas políticas

macroeconômicas de curto prazo, pois as preocupações mais largas com

crescimento econômico, mudança estrutural e com justiça social foram soterradas

nas violentas flutuações conjunturais que assolaram a economia brasileira nos

últimos anos. Concomitantemente a esta conjuntura, o mercado financeiro e de

capitais sofreu também fortes impactos negativos.

"Pelo menos desde a década de 80, alta volatilidade macroeconômica,

elevadas taxas de inflação e de juros, acompanhadas de fechamento da economia,

insegurança jurídica e alto grau de regulamentação, retardaram e distorceram

dramaticamente o desenvolvimento do sistema financeiro. Sua operação em

ambiente de alta inflação, combinada com sua utilização predominante para o

financiamento do setor público, gerou um superdimensionamento da rede de

agências bancárias, com impactos deletérios sobre custos e sistemas operacionais.

Ao mesmo tempo, foi comprometida sua funcionalidade quanto ao suprimento de

99

Page 106: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

crédito ao setor privado, cujo saldo em relação ao PIB atingiu apenas 20,5% em

1993 - uma das menores taxas do mundo">

Em relação especificamente a inflação esta acaba afetando a taxa de juros,

encurtando os prazos das operações, dificultando o desenvolvimento do mercado

de ações e induzindo a aplicações em títulos guarnecidos pela correção monetária,

orientando as poupanças para o mercado de crédito. Um dos exemplos de que a

alta inflação fizesse com que investidores fugissem do investimento em ações foi

o Overnight. "O over tornou-se uma verdadeira instituição nacional, desde o

empresário até a dona de casa, todo mundo sabia pelas rádios e televisões qual era

a taxa do over ... todos tentavam proteger-se de alguma forma ...as empresas

preferiam investir no mercado financeiro, onde o retorno era mais rápido e

líquido, que em suas atividades produtivas.?:>

Os vários planos econômicos para a estabilização da economia trouxeram

também efeitos negativos ao mercado acionário, principalmente pelo maior risco

atribuído a estes investimentos. Conforme estudo comparativo de dois períodos -

entre fevereiro de 1968 até fevereiro de 1985 e de março de 1985 a fevereiro de

1991 - , constata-se que "o mercado, se tornou mais instável com os planos de

estabilização tendo sido prejudicado o desempenho geral de carteiras

diversificadas com o aumento de riscos e a ampliação dos tipos de

risco ...tomando-se, pois, a carteira diversificada do índice Bovespa como uma

oportunidade admissível de investimento, esses resultados poderiam indicar que

os investidores teriam sofrido perdas de bem estar: com risco maior, estariam

ainda obtendo o mesmo retorno médio.">I. '

1)(, ROCCA. CA M.CR.CE. pg. 16137 TAMER, A. N.CM.F. 2. Ed. Pg.33I)" LEITE, H & SANVICENTE, A. PELMA pg.25

100

Page 107: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

A confiabilidade do mercado financeiro brasileiro também foi abalada com os

planos de estabilização. "O segundo plano simplesmente acabou com o over com

uma única penada. Sem dúvida, o mercado financeiro brasileiro não é muito

estável. Em um dia, milhões de cruzeiros estão investidos em uma aplicação. No

dia seguinte, 80% destes recursos foram bloqueados, e, depois de onze meses, a

regra de sua remuneração foi alterada."> A promessa de devolver o dinheiro

confiscado com juros e correção não foi cumprida, até porque a correção foi

extinta.

No caso do mercado de capitais, a falta de "disclosure" influencia na perda da

liquidez da maioria dos papéis e levam à concentração das negociações nos mais

líquidos. "O descaso e a forma com que o governo vem divulgando as decisões

relativas às privatizações das empresas desses setores vêm se constituindo num

desrespeito ao acionista minoritário ...o simples anúncio de privatização de

empresas, sem os devidos esclarecimentos quanto à estrutura futura que elas terão

ou à forma como se realizará esse processo, contribui ainda mais para gerar um

clima de incerteza e especulações."> As próprias privatizações poderiam ter sido

usadas para diminuir o poder de grandes grupos econômicos e democratizar o

capital acionário. Mas foi preferido privatizar grandes empresas com a venda do

controle a um grupo específico, concentrando ainda mais o poder e transferindo

monopólios estatais para monopólios privados.

Além da deficiência na "disclosure", outro fator de desrespeito aos acionistas

minoritários, que geram descrédito no mercado de ações, prejudicando seu

desenvolvimento são os escândalos financeiros. "O Proer surgiu para socorrer

instituições financeiras em dificuldades, mas acabou sendo usado para sanear,

lJ9 T AMER, A. N.C.M.F. 2. Ed. Pg. 47'"" AMARAL Jr., Homero, RODRIGUES, Gregorio M. "Disclosure às avessas. Folha de São Paulo, São Paulo, 15 out. 1997 pg.

2-2.

101

BIUllUlttA ('. • T

i\HhL A.

Page 108: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

com dinheiro público, bancos falidos pelas falcatruas dos seus donos."> Em

alguns casos em detrimento do acionista minoritário, que foi crucificado em nome

do saneamento do sistema financeiro.

As afirmações de Cantidiano reforçam as idéias de que é necessário reduzir

abusos contra minoritários; "qualquer imperfeição desse mercado não se esgota,

apenas, entre aquelas pessoas que diretamente estiverem envolvidas naquela

relação jurídica, ao contrário, qualquer imperfeição que surja no mercado de

capitais afeta a credibilidade e confiabilidade do mercado. Ela tem uma

abrangência portanto muito maior, que pode levar o próprio mercado a ser

depreciado e, portanto, a não poder cumprir adequadamente a sua função. ",,,

Com o intuito de diminuir estes citados escândalos e gerar maior confiança do

mercado de capitais, trataremos no capítulo a seguir especificamente das questões

ligadas aos acionistas minoritários e a necessidade de democratização do poder

nas sociedades anônimas.

'" Folha de São Paulo. HB pg.288."2 ESCOLA DE MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Sociedade Anônima. I Ciclo de Conferências paraMagistrados. São Paulo, IBCB, 1993, pg. 209

102

Page 109: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

5 - ACIONISTA MINORITÁRIO

5.1 - Definição e Importância dos Minoritários

A expressão minoria não se refere meramente a uma noção quantitativa, mas

a uma relação de poder nas organizações, não correspondendo necessariamente ao

número de pessoas ou ações. Neste sentido, maioria significa controlador, quem

dirige a sociedade enquanto a minoria, por diversas razões, está afastada do poder.

Na maioria das vezes, os chamados minoritários são, em termos quantitativos, a

quase maioria dos acionistas.

"Minoria é afinal uma posição - eventual ou não - que o acionista atravessa;

pode-se dizer que o acionista não é minoria, mas está em minoria. Situação,

ademais, que pode ser eventual, pois que ele pode - por aquisição de novas ações,

por acordo de votos ou mesmo por pressão contratual (fornecimentos,

financiamentos, etc.) - tornar-se maioria ou dela participar.?«

Acionista minoritário portanto é considerado neste trabalho como todo

acionista que não participa do controle da companhia, tanto possuindo ações

ordinárias como preferenciais. Ter o controle pode significar a própria gestão, a

escolha dos gestores ou a participação na escolha dos gestores da empresa.

Há diferentes tipos de controle acionário nas sociedades anônimas. Berle &

Means= citam cinco tipos, representando diversas formas de controle e da

influência da propriedade acionária sobre o mesmo:

''1 BULGARELLI. Waldirio. A Proteção às Minorias na Sociedade Anônima. São Paulo. Pioneira. 1977. pg. 24.'H BERLE. Adolf & MEANS. Gardiner. in Barrionuevo Filho. Arthur. A separação entre propriedade acionária e controleadministrativo - revisitando os clássicos. Revista de Administração de Empresas. Rio de Janeiro. v.27.n.4. out./dcz. 1987.

103

Page 110: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

1. Controle através da propriedade quase completa - a propriedade se

concentra nas mãos de um indivíduo ou de um pequeno grupo e, portanto,

o controle está inteiramente nas mãos desses proprietários.

2. Controle majoritário - neste outros acionistas que não estão no controle

também fazem parte da empresa. Porém, a maioria das ações ainda estão

com o controlador. Aqui a propriedade é mais dispersa e a separação entre

o controle e a propriedade começa a se desenvolver, pois algumas decisões

de grande relevância podem requerer mais do que uma simples decisão

majoritária.

3. Controle através de mecanismos legais sem propriedade majoritária -

a maior parte das ações não está com o controlador ou o grupo

controlador. Há diferentes formas de manter o controle sem deter a

maioria de suas ações, mas a que mais nos interessa é através da emissão

de ações sem direito a voto, muito difundido no Brasil.

4. Controle minoritário - por existir uma grande dispersão da propriedade

das ações, um indivíduo ou grupo está em condições de dominar uma

empresa pela sua participação acionária, mesmo sendo esta minoritária.

5. Controle administrativo - a propriedade das ações está extremamente

dispersa e nenhum grupo de acionistas tem condições de controlar os

negócios da empresa, geralmente permitindo a auto perpetuação da

administração, que geralmente recebe procuração dos menos interessados.

o tipo de controle de maior relevância para nosso estudo é o terceiro

controle através de mecanismos legais sem propriedade majoritária. Este é

bastante difundido nas organizações brasileiras, devido principalmente a nossa

104

Page 111: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

legislação admitir a emissão de ações sem direito a voto. Como já vimos e

veremos adiante, isto acaba gerando distorções no sistema.

o quarto tipo de controle - controle minoritário - poderia vir a predominar no

Brasil caso todas as ações das companhias tivessem direito a voto e se

possuíssemos uma maior participação da população no mercado acionário. Este é

o modelo que tentaremos discutir e sugerir para o ambiente das empresas, pois

geralmente separa os proprietários da administração, tornando esta profissional,

além de democratizar o poder nas organizações.

Tanto a posição do acionista minoritário como a do acionista majoritário é

exercido por diferentes tipos de investidores. Há basicamente 3 diferentes tipos de

aplicadores em ações: as pessoas físicas, as pessoas jurídicas e os investidores.'; N:''', t~~.·.:·

institucionais. As pessoas físicas não representam muito no total de investimentos

em ações no país, principalmente se compararmos com mercados mais

desenvolvidos, onde há grande participação popular, possuindo portanto um

enorme potencial de crescimento. As pessoas físicas geralmente não detém o

controle de organizações, a não ser em empresas familiares.

As pessoas jurídicas ou empresas na maioria das vezes investem em outras

empresas como forma de influenciar na administração, ou até mesmo adquirir o

controle total da mesma. Portanto, investem com o propósito principal de adquirir

controle. Este é o caso do grande movimento nas Bolsas brasileiras atualmente,

com a privatização das estatais.

Já os investidores institucionais representam os grandes aplicadores

regulares no mercado acionário brasileiro, representando quase a totalidade dos

105

Page 112: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

investimentos normais. Os investidores institucionais podem ser classificados em

três grupos=:

I. Mecanismos organizados com o fim de coletar e investir recursos no

mercado. Como exemplo, temos os fundos mútuos de investimento em

ações.

2. Instituições cujas atividades normais geram caixa disponível para

investimento de médio e longo prazos. Nestes, podemos citar as entidades

de previdência privada e as seguradoras.

3. Fundos sob controle de órgão governamentais, que destinam parcela de

seus recursos ao mercado de ações, como é o caso do Fundo de

Participação Social.

Os três tipos de investidores acima podem participar ou não da gestão da

empresa, dependendo de sua posição acionária. O controle majoritário por um

grupo específico pode até ser democrático, desde que a estrutura acionária do

controlador também o seja. Como exemplo, podemos ter uma única empresa

controladora, desde que esta se caracterize por um controle democrático. Isto não

aconteça, porém, quando o acionista majoritário é do tipo pessoa física. Este vai

ter o controle absoluto da organização.

Mas afinal, porque o minoritário é importante?

Para operar produzindo riqueza, a empresa precisa de recursos. Para crescer,

precisa de mais recursos. Estes podem ser gerados: a) pelas operações produtivas

da empresa, via retenção de lucros; b) pelo aumento do volume de endividamento,

recorrendo ao capital de terceiros; ou c) através de novos aportes de recursos por

parte dos acionistas existentes ou novos acionistas.

W MEDEIROS. P.T. O.Q.I\1.A. pg.56.

106

Page 113: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

A geração interna de recursos é limitada pelo que o mercado, onde a empresa

vende seus produtos, permite alcançar. Mesmo empresas muito lucrativas podem

não conseguir financiar suas necessidades adicionais apenas através de recursos

internos, principalmente durante conjuntura econômica de inflação.

o recurso ao endividamento também tem limites. Na medida em que cresce o

volume relativo de capitais de terceiros na estrutura de capital da empresa, o risco

de delinqüência aumenta. Com o maior risco do não recebimento dos fundos

emprestados, os fornecedores de capital passarão a aumentar o custo do dinheiro

(juros) ou, em último caso, se recusarão a emprestar.

Deste modo, o aporte de novos recursos via subscrição de ações permite às

empresas reequilibrar sua estrutura de capital, mantendo o nível de endividamento

em proporções adequadas. Cria-se uma base sólida, permitindo então desenvolver

novos projetos e garantir seu crescimento.

Este novo aporte de recursos depende fundamentalmente da participação dos

minoritários. Podem ser os atuais acionistas injetando recursos ou, na

impossibilidade, novos acionistas que acreditem nos resultados futuros da

empresa. Para o mercado acionário portanto, os minoritários possuem importância

fundamental, pois sem estes a própria definição de sociedade anônima ficaria

descaracterizada. Sem a figura do acionista minoritário, não haveria quem pudesse

participar com recursos na empresa sem que houvesse a transferência de controle

desta para os novos investidores.

Por outro lado, os minoritários ficam em posição de desigualdade, por não

participarem diretamente das decisões da empresa. Apesar de haver igualdade

formal entre minoritários e majoritários, reconhece-se que há um certo "plus",

pela detenção do controle. "Face ao que se deve dar aos demais, pela inferioridade

107

Page 114: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

da sua posição, meios legais para a sua defesa, utilizáveis na exata medida do

eventual uso abusivo do poder dos controladores."»

É neste sentido que a legislação de proteção aos acionistas minoritários é

variada e gera grandes discussões nos diferentes países. Sua aplicação com maior

ou menor intensidade dependerá das características de cada mercado financeiro.

No Brasil, tivemos uma grande evolução neste sentido nos últimos anos. Na

prática, porém, questiona-se seu efetivo funcionamento.

5.2 - Regulamentação do Mercado de Capitais e Proteção ao Acionista

Minoritário

Conforme comentamos no início do trabalho, as forças de mercado atuam na

busca da eficiência na economia e em qualquer dos mercados especificamente,

sendo fundamental para seus funcionamentos. Porém, não devemos esperar pela

total perfeição da atuação destas forças, sendo justificado a intervenção, seja

através de legislação ou da atuação de órgãos reguladores, com o objetivo de

corrigir tais distorções do sistema. Resende corrobora, dizendo que "o mercado

competitivo é um poderosíssimo instrumento de transmissão de informações e de

alocação de recursos. Ao que tudo indica, imbatível como forma de organização

para a criação de riqueza ...entretanto, longe de ser o resultado do livre jogo de

forças, trata-se de uma construção tão pouco natural quanto sofisticada. Requer,

portanto, um arcabouço jurídico e institucional específico e em permanente

revisão." '"'

Regular o mercado, para Eizirick, "consiste na atividade do Estado ou de

entidades auto-reguladoras, com poderes delegados em lei, no sentido de editar

,.(, BULGARELLI, w. P.M.S.A. pg.25

108

Page 115: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

normas de conduta para os participantes, bem como de fiscalizar seu

cumprimento ...em regra, tais normas implicam limitação à liberdade contratual,

quer a nível de seus direitos de propriedade e têm por objetivo fazer com que o

mercado apresente eficiência alocacional, isto é, fazer com que o processo de

colocação de recursos se dê a custos mais reduzidos, com maior retomo

possível. "I~X

No mercado de capitais, há diversos participantes, que atuam com objetivos

específicos. Os principais são as empresas, os intermediários financeiros, os

investidores e os profissionais de mercado. A regulamentação deste mercado visa

proteger, principalmente, o elo mais fraco, na maioria das vezes o pequeno

investidor. Este pode vir a ser prejudicado pela capacidade dos grandes

investidores de influenciar o mercado ou por possuírem informações

privilegiadas, além do poder dos grupos controladores em obter beneficios diretos

e indiretos nas empresas. Procura-se deste modo reduzir os riscos associados ao

investimento em ações que são inerentes ao comportamento do mercado e aos

resultados da empresa.

Porém, não se pode querer exagerar na proteção. Esta não deve ser entendida

como paternalismo. "Procura-se evitar abusos contra os investidores, mas não os

proteger de seus próprios erros."!"

Conforme visto em capítulo anterior (capítulo 4), a regulamentação do

mercado de capitais brasileiro se deu em etapas, com grandes avanços após a

segunda metade do século 20. Porém, foi a Lei das Sociedades Anônimas, em

1976, juntamente com a criação do Conselho de Valores Mobiliários e suas

regulamentações, que deram o grande suporte a este mercado até a atualidade.

147 RESENDE, André Lara. A Mão Invisível na Política. Folha de São Paulo, 28 de out, 1997, pg. 1-214" ESCOLA DE MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Sociedade Anônima. I Ciclo de Conferências paraMagistrados. São Paulo, \BeB, 1993, pg. 2091~9 MEDEIROS, P.T. O.Q.M.A. pg. 167

109

Page 116: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Esta reforma teve inspiração nas regulamentações e práticas de vários outros

países, sendo o modelo americano o principal int1uenciador em nossa lei.

Apesar do mercado americano ser um dos mais desenvolvidos do mundo,

muitos autores condenaram esta quase que imitação do modelo de legislação

daquele país, argumentando que necessitávamos de um modelo próprio, de acordo

com nossa realidade. Sem dúvida, "o transplante de um sistema financeiro já

desenvolvido pode ser rejeitado se a sociedade que o recebe não dispuser do nível

de padrões éticos requeridos para seu funcionamento, de capacidade de imposição

de normas a todos os membros do sistema e não dispuser de mecanismos de

punição aos recalcitantes.">

Para Bulgarelli, não houve a necessária discussão e fundamentação na adoção

de algumas normas, além do não fortalecimento de órgãos reguladores

específicos. "Resolveu-se uma reformulação global, inserindo-se uma série de

novidades, sem muito método e sistematização, copiando-se aqui e ali, sem levar

em conta nossa realidade. País ainda muito suscetível de burlas no setor

econômico, sem tradição de eficiência (ao contrário dos Estados Unidos, de onde

a maioria desses institutos novos foram importados), é de se temer a sua adoção

entre nós, prevendo-se na melhor das hipóteses a sua não utilização, ficando na lei

apenas como excessos ou demasias.">

Além da legislação, o próprio modelo de desenvolvimento da época trouxe

ambigüidades. Criou-se uma contradição aparente entre os objetivos do I e 11

PND, de fortalecer a grande empresa - o que vale a inclinar-se ao controlador.ré

de fortalecer o mercado de capitais de risco, por meio de medidas assecuratórias

aos minoritários para salvaguarda de seus direitos e do seu investimento. Na

tentativa de fortalecer os dois lados contraditórios, preferiu-se fortalecer a

ISO IBMEC. Mercado De Capitais e Desenvolvimento Econômico. Rio de Janeiro: IBMEC, 1977 pg.44

110

Page 117: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

empresa, mesmo em detrimento de certos direitos dos acionistas. Reforçou-se

assim o aspecto "institucional" das companhias, instituição como um grupo social

intermediário entre o Estado e o indivíduo, algo que é superior e independente dos

membros que a compõem. I"

De fato, gerou-se uma legislação contrária a democracia nas organizações.

Na medida em que admite 2/3 das ações emitidas sem direito a voto nas empresas,

facilita a concentração do poder. Neste ponto, Carvalhosa= coloca que a Lei 6.404

não pode ser alinhada na concepção democrática da sociedade anônima, em que o

voto é o principal instrumento de participação social. Ela caracteriza-se como

eminentemente oligárquica, com predomínio dos grandes acionistas em

detrimento dos minoritários. Adotou-se, neste sentido, o institucionalismo

germânico da empresa, segundo o qual os controladores e seus administradores

deveriam gerir a companhia sob sua própria responsabilidade, no interesse comum

dos seus interessados.

Se por um lado nossa legislação não demonstrou preocupação efetiva com a

democracia no controle das empresas, tentou-se "compensar" através da proteção

ao acionista minoritário.

A Lei 6.404/76 conferiu vários direitos aos não controladores. A nível geral, a

regulação do mercado busca atingir dois objetivos básicos:v-

a) Promover a ampla divulgação de informações fidedignas a respeito das

empresas e de seus valores imobiliários; e

151 BULGARELLI, W. P.M.S.A. pg.29.152 BULGARELLI, W. P.M.S.A.151 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei das Sociedades Anônimas: Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. São

Paulo, Saraiva, 1997.15. MEDEIROS, P.T. O.Q.M.A.

111

Page 118: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

b) Impedir o emprego de práticas não eqüitativas, no mercado e na

empresa.

A primeira classificação dos direitos dos acionistas são entre próprios ou

inderrogáveis,' os quais são intocáveis tanto por parte do estatuto como pela

assembléia geral, ou derrogáveis, que variam também em função do tipo ou classe

de ação.

Os direitos, que nem o estatuto social nem a assembléia geral podem lhe tirar,

segundo Oliveira= são:

a)Participar dos lucros sociais;

b)Participar do acervo da companhia, em caso de liquidação;

c)Fiscalizar, na forma prevista por lei, a gestão dos negócios sociais;

d)Preferência para subscrição de ações, partes beneficiárias conversíveis em

ações, debêntures conversíveis em ações e bônus de subscrição;

e)Retira-se da sociedade nos casos previstos em lei, mediante o reembolso do

valor de suas ações.

Já conforme a natureza, os direitos podem ser classificados como patrimoniais

e instrumentais. Pelos direitos patrimoniais o acionista tem direito de recebimento

de dividendos, participação no acervo da companhia, por ocasião da liquidação,

etc .. Os instrumentais são conferidos para que o acionista controle os primeiros,

como o direito de voto, tomar conhecimento de informações, além de outros.

As principais proteções aos acionistas minoritários pelas diversas instâncias

da lei, segundo Medeiros'»:

I;; OLIVEIRA, M. I.M.A. pg.167

112

Page 119: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

l)A concessão do direito de preferência na subscrição de aumentos de capital;

2)As normas que regulam a fixação do preço de emissão;

3)A obrigatoriedade do pagamento de um dividendo mínimo pela empresa;

4)0 direito de recesso (direito de retirada) quando, em certas instâncias, a

empresa agir de forma potencialmente prejudicial aos interesses dos

minoritários;

5)A possibilidade de aquisição de voto pelas ações preferenciais, se a

companhia ficar mais do que três exercícios sem pagar dividendos, e

enquanto perdurar tal situação;

6)A regulação de situações de conflito de interesse, com a definição dos

deveres dos administradores e do acionista controlador;

7)0 direito de o acionista questionar a administração nas assembléias gerais,

de solicitar a instalação do conselho fiscal, ou de participar do conselho de

administração (se detentor de pelo menos 20% do capital social).

Especificamente no que respeita ao acionista de companhias abertas, a lei

determina, segundo o mesmo autor:

a)Ampla divulgação de informações econômico-financeiras;

b)A divulgação de fatos relevantes ocorridos na vida da empresa;

c)Torna obrigatória a existência de conselho de administração;

d)Requer a contratação de auditoria independente;

156 MEDEIROS. P.T. O.Q.M.A. pg. 168.

113

Page 120: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

e)Obriga a extensão aos acionistas minoritários proprietários de ações com

direito a voto das mesmas condições de que desfrutou o acionista

controlador, no caso de alienação do controle da companhia.

Já em relação ao investidor no mercado, a Lei n. 6.404 e a Lei n. 6.385

buscam proteger o acionista contra práticas não eqüitativas como=:

1)Criação de condições artificiais de mercado;

2)Negociação com base em informações privilegiadas;

3)Distribuição de ordens de negociação de forma a alocar aos profissionais de

mercado aquelas realizadas aos melhores preços.

Outra garantia aos investidores é o Fundo de Garantia das Bolsas. Este fundo

provem de contribuições das sociedades corretoras e tem por objetivo ressarcir

perdas sofridas por investidores em operações com ações, decorrentes de

cumprimento infiel de ordem dada às corretoras ou de irregularidade na custódia

de ações.

O órgão responsável pela fiscalização da aplicação na prática das normas

citadas acima é a Comissão de Valores Mobiliários, que possui poderes para atuar

e punir os participantes do mercado. A atuação da CVM no mercado norteia-se

por alguns principios básicos: estímulo à auto-regulação, alto nível de padrões

éticos dos intermediários e ampla e pronta divulgação de informações. As próprias

bolsas de valores exercem uma função auto-reguladoras e auxiliam a CVM. ."

Velloso critica, porém, a atuação dos órgãos fiscalizadores do mercado. "No

Brasil, uma das faces mais corroídas do Estado diz respeito aos órgão reguladores.

Estes não tem sido capazes de implementar políticas, fiscalizá-Ias e desenvolvê-

1;7 MEDEIROS. P.T. O.Q.M.A. pg.168.

114

Page 121: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

las ...assim como no caso do Banco Central, a CVM necessita de um

revigoramento total. Este processo de revitalização requereria a desejada e

necessária independência para normatizar, fiscalizar e regular. ..para evitar

intervenções bruscas e anti-liberais.">

Muitos autores criticam também as legislação, argumentando que os

minoritários não tiveram a proteção necessária. Por outro lado, mesmo algumas

leis, na prática, acabaram não funcionando, tanto pela não fiscalização e

desrespeito, como por artificios legais.

De todo modo, os minoritários ainda têm muito a caminhar até serem tratados

como em outros países. A legislação ajuda os controladores, a começar da

estrutura de capital, que permite que dois terços do capital sejam constituídos por

ações preferenciais sem direito a voto. Neste ponto até que houve uma certa

evolução, pois as próprias ações ordinárias ao portador também não tinham direito

a voto antes de 1990. O artigo 112 negava o exercício do voto às ações ao

portador. A Lei n. 8.021 de 1990, democratizou um pouco o capital, eliminando as

ações ao portador, abalando o sistema de hegemonia absoluta dos controladores.

Algumas outras tentativas de democratização do capital foram feitas. Houve

proposta em 1991 para aumentar para 60% o mínimo de ações ordinárias nas

companhias. Além disso, "este projeto, que tratava de maneira correta aspectos

fundamentais da legislação vigente, visava reconhecer os direitos da cidadania

econômica, ou seja, as prerrogativas de intervenção e fiscalização efetivas, pelosj'.

acionistas preferenciais e ordinários em minoria, da gestão, administração e

política da companhia, bem como da formação, destinação e distribuição dos seus

I;X VELLOSO. J.P.R. R.F.E pg.80.

115

Page 122: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

resultados.":» Porém o anteprojeto não foi aprovado e as esperanças de uma maior

democratização e participação não se efetivaram.

Algumas outras medidas recentes provocaram uma certa involução em termos

de proteção ao minoritário. Em 1995 a Medida Provisória n. 1.179 suspendeu o

direito de retirada dos acionistas de instituições financeiras beneficiadas com o

Proer, nos casos de fusão, cisão, incorporação e formação de grupo societário,

além do caso de transferência de controle. No mesmo sentido, o Projeto de Lei n.

1.564 de 1996 eliminou o direito de recesso, no caso de cisão, e condicionou o

exercício do direito de retirada, no caso de fusão e incorporação, à inexistência de

cotação das ações respectivas em Bolsa ou no "mercado de balcão" organizado.

Este último abrangendo também empresas.

Novamente prejudicou-se o acionista para priorizar necessidades econômicas

de curto prazo, no caso a facilidade do processo de privatização. Carvalhosa

afirma que este tipo de prática é comum no Brasil; "no âmbito da legislação das

sociedades anônimas prevalece a execução da política macroeconômica do

Estado, em detrimento dos interesses da companhia e dos acionistas, afetando e

adiando, assim, indefinidamente a formação de um efetivo mercado de capitais no

PaÍs."I(,Cl

Nos Estados Unidos, os acionistas não-controladores podem fazer valer seus

interesses no sentido de obter uma indenização, por ocasião de uma cessão deI

controle, correspondente à diferença de preço entre a venda de suas ações e a das

ações dos ex-controladores. Já na França, nenhuma transação que tenha por objeto

um bloco acionário de controle pode fazer-se fora da bolsa, sendo que o

"" CARVALHOSA, M. C.L.S.A. Introdução.16ClCARVALHOSA, M. C.L.S.A. Introdução.

116

Page 123: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

adquirente fica obrigado a adquirir, ao preço da cessão, todas as quantidades de

ações que lhe forem apresentados.""

A emenda Hauly, porém, aperfeiçoou o projeto anterior, garantindo maioria

aos acionistas minoritários no Conselho Fiscal da sociedade, reduzindo também

de 3 para 2 anos, caso não sejam distribuídos dividendos, para que as ações

preferenciais passem a ter direito a voto, além das ações preferenciais terem

direito a um valor 10% superior aos dividendos das outras ações.

Em resumo, evoluímos bastante no terreno da legislação de proteção ao

acionista minoritário no Brasil na últimas décadas. Porém ainda não identificamos

na prática uma conduta confiável por parte dos controladores, principalmente em

empresas nacionais, que venha a respeitar o pequeno investidor e esteja sempre

voltada para os reais interesses da organização. Ainda presenciamos muitos casos

de abusos de poder por parte dos controladores, gerando grande descrédito no

mercado acionário, assunto que trataremos a seguir.

5.3 - Práticas Abusivas Contra os Minoritários no Brasil

A discussão em relação as práticas abusivas contra os minoritários foi

acentuada com a restruturação dos bancos, ainda em prática no Brasil, onde

acionistas minoritários reclamam de prejuízos sofridos em decorrência de atos

ilícitos por parte dos controladores.

Mas este problema não é recente no Brasil. Segundo Bulgarelli, "não que os

problemas acarretados pela posição de inferioridade das minorias, perante

maiorias todo-poderosas e que abusam do poder majoritário em seu próprio"'-

"" COMPARATO. Fábio Konder. O Poder de controle na sociedade anônima. 2. edição atualizada. São Paulo: Revista dos

Tribunais. 1977.

117

Page 124: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

interesse, fossem tão recentes, eis que de há muito haviam sido detectados na

prática e discutidos na doutrina, se bem que poucos fossem os que chegassem aos

nossos tribunais.">:

Há diferentes tipos de abusos que acabam prejudicando os minoritários.

Traduzem-se, via de regra, em várias manobras, como a alta remuneração dos

administradores, a não-distribuição de dividendos por exercícios seguidos, pela

política de grupo, jogando com as sociedades dele componentes, o desvio de

recursos, a utilização de ativos em benefícios próprios, a não divulgação de

informações fidedignas, etc ..

São modalidades do exercício abusivo do poder, segundo o artigo 117 da Lei

das Sociedades Anônimas=:

a)orientar a companhia para fim estranho ao objeto social ou lesivo ao

interesse nacional, ou levá-la a favorecer outra sociedade, brasileira ou

estrangeira, em prejuízo da participação dos acionistas minoritários nos

lucros ou no acervo da economia nacional;

b)promover a liquidação de companhia próspera, ou a transformação,

incorporação, fusão ou cisão da companhia, com o fim de obter, para si ou

para outrem, vantagem indevida, em prejuízo dos demais acionistas, dos

que trabalham na empresa ou dos investidores em valores mobiliários

emitidos pela companhia;

c)promover alteração estatutária, emissão de valores mobiliários ou adoção de

políticas ou decisões que não tenham por fim o interesse da companhia e

visem a causar prejuízo a acionistas minoritários, aos que trabalham na

162 BULGARELLI, W. P.M.S.A. pg.3.ló) BULGARELLI. W. Manual das Sociedades Anônimas. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1980. pg.203

118

Page 125: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

empresa ou aos investidores em valores mobiliários emitidos pela

companhia;

d)eleger administrador ou fiscal que sabe inapto, moral ou tecnicamente;

e)induzir, ou tentar induzir, administrador ou fiscal a praticar ato ilegal, ou,

descumprindo seus deveres definidos nesta Lei e no estatuto, promover,

contra o interesse da companhia, sua ratificação pela assembléia geral;

f)contratar sua companhia, diretamente ou através de outrem, ou de sociedade

na qual tenha interesse, em condições de favorecimento ou não eqüitativas;

g)aprovar ou fazer aprovar contas irregulares de administradores, por

favorecimento pessoal, ou deixar de apurar denúncia que saiba u devesse

saber procedente, ou que justifique fundada suspeita de irregularidade.

Infelizmente no Brasil, temos uma história bastante rica de casos de abusos de

poder dos controladores que resultaram em perdas aos investidores minoritários,

como veremos a seguir. Podemos destacar diversos problemas ligados ao nosso

mercado financeiro que respondem em parte por estes acontecimentos, desde a

concentração de renda, aspectos culturais de aversão a democracia, deficiências

judiciárias, etc .. Já vimos também as perdas ao mercado acionário conseqüentes

destes problemas.

Mas a questão fundamental que este trabalho pretende discutir é a facilidade

que a legislação permite para controlar uma sociedade anônima no Brasil, onde o

poder de controle pode ser exercido com uma pequena parcela do capital. Isto ao

nosso ver acaba gerando uma concentração de poder excessiva que poderia•.~~explicar parte dos problemas dos abusos contra os minoritários, além de outros'

problemas de ineficiência administrativa e econômica.

119

Page 126: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

5.3.1 - Casos de Abusos Contra os Minoritários

Ternos um histórico bastante rico no Brasil a respeito de fraudes em empresas

abertas, que acabaram gerando perdas aos acionistas minoritários. Vamos aqui

relacionar alguns destes casos, tentando relacionar informações a respeito dos

respectivos acontecimentos. O objetivo é apenas de ilustração, pois ternos grandes

limitações na busca de informações mais completas relativas aos casos, estas

dificilmente disponíveis.

Caso Banco Nacional:

O caso do banco nacional foi um dos mais recentes escândalos financeiros no

Brasil, com seus acionistas prejudicados pela queda das ações, além da posterior

transferência dos ativos do banco para o Unibanco.

A principal fraude comprovada no Nacional foi na contabilidade do mesmo.

O banco já estava quebrado cinco anos antes da intervenção governamental em

1995. Mesmo assim continuou operando, sendo considerado um dos maiores

bancos em volume de depósitos graças as contas fictícias e balanços inflados.

Apresentou receitas fictícias de US$ 16,9 bilhões entre julho de 1988 e junho de

1995.

Segundo laudo pericial do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia

Federal, analisado pelo jornal Folha de São Paulo de 1. de junho de 1998, a

"fraude é o único termo aplicável às práticas deliberadas de manipulação efetuada

nos demonstrativos financeiros do Nacional"

120

Page 127: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Os balanços foram legitimados por pareceres da empresa de auditoria KPMG.

Segundo o mesmo laudo citado anterior, "muitos lançamentos de valores

significativos, efetuados de forma manual e sem suporte documental, não foram

detectados pela KPMG."

Sérios conflitos de interesse também foram identificados, sendo que 11 ex-

funcionários da empresa de auditoria trabalhavam no banco, além de o mesmo

auditor da ser o responsável pela auditoria do banco por mais de 20 anos, prática

não permitida em outros países.

Em resumo do jornal folha de São Paulo, 5 itens fundamentais foram

identificados nesta fraude:

I)Nacional era listado entre os maiores bancos do país, por volume de

empréstimos, porque seus balanços eram maquiados. Entre julho de 88 e

junho de 95, apresentou balanços com receitas fictícias de US$ 16,9

bilhões.

2)Pequenas empresas deixaram de pagar seus empréstimos. Em vez de

considerar esses créditos como prejuízo, o banco manteve 652 contas

fictícias e passou a postergar os vencimentos, acrescendo juros e correção.

Inflava a carteira de crédito e sua receita.

3)0 Nacional operava com contabilidade centralizada na matriz. Muitos

lançamentos fictícios eram feitos de forma manual, sem o suporte de

documentos.

4)As agências não sabiam que seus números eram manipulados: a partir de -

91, as contas fictícias representaram a maior parte das operações de

crédito.

121

Page 128: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

5)A fraude era gerenciada na Controladoria e operacionalizada pelos

diretores.

Posteriormente, não houve fusão dos bancos. Houve simplesmente alienação

dos bens, com o banco praticamente deixando de existir. O valor patrimonial ficou

inferior, com os acionistas sendo tratados como se não existissem, além de não

haver assembléia de acionistas para autorizar o negócio.

Caso Perdigão:

No dia 15 de julho de 1997 foi divulgado no Diário Oficial extrato da ata da

sessão de julgamento do Inquérito Administrativo n. 7/94, da Comissão de

Valores Mobiliários, onde tratava de irregularidades relacionadas com atos de

controle e gestão das empresas Perdigão S/A Comércio e Indústria, Perdigão

Agro-industrial S/A e Perdigão Alimentos S/A, nos período que abrange os

exercícios sociais de 1990, 1991, 1992 e 1993.

Pela decisão, foram condenados, com direito a recurso, Flávio Brandalise e

Saul Brandalise Júnior, principais sócios controladores da empresa, pelas

seguintes infrações previstas na Lei 6.404/76:

a) "favorecimento de outra sociedade em prejuízo da participação dos

acionistas minoritários nos lucros ou no acervo da companhia" (alínea "a"

do parágrafo 1. do artigo 117).

b) "adoção de políticas ou decisões que não tenham por fim o interesse da

companhia e visem a causar prejuízo a acionistas minoritários" (alínea "c"

do parágrafo 1. do artigo 117).

122

Page 129: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

c) "sem prévia autorização da assembléia geral ou do Conselho de

Administração, tomar por empréstimo recursos ou bens da companhia, ou

usar, em proveito próprio, de sociedade em que tenha interesse, ou de

terceiros, os seus bens, serviços ou créditos" (alínea "b" do parágrafo 2. do

artigo 154).

d) infração ao princípio de "cuidado e diligência do administrador de

companhia em suas funções, que todo homem ativo e probo costuma

empregar na administração dos seus próprios negócios" (artigo 153).

e) irregularidades nas informações do Relatório da Administração sobre

investimentos da companhia em sociedades controladas e coligadas e as

modificações ocorridas durante o exercício (artigo 243).

Estas e várias outras irregularidades foram detectadas pela CVM na gestão da

Perdigão na época, o que levou também à penalidades a outros envolvidos. A

empresa de auditoria Justus Auditores Independentes S/C foi uma das envolvidas.

Posteriormente ao ocorrido, a Perdigão encontrou-se em sérias dificuldades

financeiras, resultando em grandes perdas aos detentores de ações da empresa, até

culminar com a transferência de controle e gestão para um "pool" de empresas,

hoje com uma administração profissional.

Caso Othon:

Em 5 de março de 1996 foi divulgado no Diário Oficial extrato da ata da

sessão de julgamento do Inquérito Administrativo n. 9/94, que trata de

irregularidades no relacionamento financeiro entre a Rio Othon Palace Hotel S.A.,

123

Page 130: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

seu acionista controlador Hotéis Othon S.A., e empresas vinculadas, nos

exercícios sociais de 1991, 1992 e 1993.

Foram condenados por infringirem os artigos 117 parágrafo 1., alínea "f' e

155, inciso II da Lei 6.404/76, com direito a recurso, Álvaro Brito Bezerra de

Mello, Arthur Brito Bezerra de Mello e Paulo Brito Bezerra de Mello, acionistas

controladores da Rio Othon Palace Hotel S.A. por:

"Assinarem os aditamentos aos contratos de arrendamento e/ou contratos de

empréstimos de mútuo concedidos por esta sociedade à Hotéis Othon S.A. e

a outras empresas do Grupo Othon, sem a observância de condições

estritamente comutativas entre as sociedades, sem pagamento compensatório

adequado, e em condições divergentes das que prevaleciam no mercado ou

que a companhia contrataria com terceiros, tudo em detrimento dos

acionistas minoritários."

Neste caso também outros responsáveis foram condenados.

Caso Eberle:

Em 27 de outubro de 1997 foi divulgado no Diário Oficial extrato da ata da

sessão de julgamento do Inquérito Administrativo n. 7/93, que trata de abuso de

poder e descumprimento do dever de diligência dos gestores.

Foram condenados os acionistas controladores Lew Ceitlin, Pedro Ceitlin e

João Berton, por infração na Lei 6.404/76:

124

Page 131: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

a) "favorecerem a Hércules SIC e Hércules SIA, em detrimento dos

acionistas minoritários da Eberle S.A." (artigo 117, parágrafo 1., alínea

"a").

b) "não terem sido diligentes no exercício de suas funções" (artigo 153).

5.4 - A Necessidade de Democratização do Poder nas Sociedades

Anônimas

Uma legislação adequada é essencial para a proteção ao minoritários e

pequenos investidores em qualquer mercado financeiro. Porém, a simples

previsão de penalidades ao fraudadores em lei não vem conseguindo diminuir

substancialmente os abusos no Brasil. Em nossa opinião, o que de fato precisamos

é a democratização do poder nas sociedades anônimas.

Democracia aliás não é necessária somente no ambiente empresarial. Deve ser

um conceito chave em qualquer discussão na busca do desenvolvimento de

qualquer sociedade. Não podemos admitir que as decisões relativas ao futuro de

toda um população de um país fique restrita a um seleto e determinado grupo de

pessoas. Qual é a garantia de que este determinado grupo isoladamente decida em

favor das reais necessidades e demandas do grupo sem, pelo menos, um controle

efetivo destes? Não se pode correr este risco

Emir Sader, em artigo da Folha de São Paulo= pergunta se o Brasil de hoje,

pós real, está mais ou menos democrático. Sua avaliação é negativa por diversas

razões: "o tema da democracia passou a estar ausente da pauta das elites

dominantes desde que elas conseguiram impor a prioridade na questão do déficit

fiscal, em lugar da justiça social...a questão da reforma do Estado, por exemplo, . (-,

125

Page 132: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

não está associada à da sua democratização ...os partidos estão mais debilitados,

assim como o Congresso, o Judiciário, os sindicatos, as associações populares, os

movimentos sociais - todos construídos ou reconstruídos com tanta luta e esforço

nos combates contra a ditadura." Para o autor, éramos mais democráticos logo

após o fim do regime militar e estamos experimentando uma involução neste

sentido.

Já Maria da Conceição Tavares 165 explica que historicamente nunca tivemos

uma real democracia de massas. "No Brasil, as grandes massas nunca tiveram um

destino minimamente claro via acesso à propriedade da terra, à educação e a uma

relação salarial estável e progressiva, que forma os instrumentos mais importantes

de incorporação em qualquer sociedade moderna. Todos os países centrais

trataram de estimular esses caminhos de integração, não apenas para expandir os

respectivos mercados internos, mas para aumentar a própria capacidade de defesa,

por meio da formação de povos e cidadãos ... Do ponto de vista da sociedade

construímos um país que só obteve êxito do ponto de vista do capital. Durante

décadas crescemos mais do que todos, ora com democracia formal, ora com

ditadura, mas nunca com democracia de massas ... Os economistas, mesmo os da

sociedade civil descontente, ficam buscando um "modelo", quando a situação

social e a crise internacional não permitem "modelos", mas sim requerem opções

e políticas claras a favor do povo."

No lado econômico, podemos ter a democracia com um fator causal de

eficiência e desenvolvimento econômico. O estudioso David Stark afirma que

"não há oposição entre democracia e eficiência econômica no esforço para reduzir

as desigualdades sociais ...a democracia ajuda a promover a eficiência

16> SADER, Emir. Brasil 1997: mais ou menos democrático, Folha de São Paulo, São Paulo, 17 julho 1997, pg. 1-4165 TA VARES, Maria da Conceição. A Crise Mundial e o Brasil. Folha de São Paulo. São Paulo. 21 junho 1998. pg. 2-5

126

Page 133: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

econômica."> •. Não é diferente no mercado de capitais e no controle e gestão de

empresas.

Discutindo sobre a capacidade das empresas amencanas na quebra de

paradigmas e adaptação aos novos tempos, características que faltam as empresas

nacionais e teimam em segurar o desenvolvimento destas, Luís Nassif= coloca

que uma das dificuldades "é a incapacidade crônica da empresa e da burocracia

brasileira em compartilhar poder e espaço. A falta de tradição democrática criou

bloqueios enormes a qualquer forma de ação conjunta e de partilhamento de poder

que caracterizam as sociedades democráticas. Para muitos empresários, ainda hoje

soam inadmissíveis as possibilidades de fusão ou mesmo de associações com

sócios minoritários." Segundo o jornalista, outro problema é a falta de tradição em

avaliação do valor das empresas brasileiras por causa de décadas de inflação

elevada, além de pouca liquidez do mercado acionário. Se isto acontecesse o

empresário, no momento de uma fusão, raciocinaria apenas na valorização dos

ativos e não mais do seu poder de ingerência sobre a mesma. O mesmo completa

dizendo que "ainda hoje, muitos empresários se valem das empresas para ganhos

paralelos - por exemplo, criando empresas próprias, que fornecem para a própria

empresa-mãe. Deixam de lado o negócio principal, pelo acessório."

Em outro artigo Nassif= coloca que "o modelo acionário mais moderno é o

que permite o compartilhamento de poderes e a separação nítida entre gestão e

propriedade. Numa ponta tem-se os investidores, aplicando o seu dinheiro e

exigindo resultados. Na outra, executivos, gerindo a companhia através de pactos

firmados anualmente com os investidores." Os executivos são permanentemente

avaliados, assim como todo o raciocínio em termos de aumento de capital, fusões

e aquisições, pela melhoria da performance da companhia com o objetivo último

1('(, STARK. David. Democracia Ajuda Eficiência (entrevista). Folha de São Paulo, São Paulo. 23 outubro 1997. pg. 1-6167 NASSIF. Luís A Capacidade de Caminhar no Caos. Folha de São Paulo. São Paulo. 06 julho 1997 pg. 2-3

127

Page 134: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

de valorização da ação. É o modelo ideal, pelo fato de uma parte fiscalizar a outra

e reduzir substancialmente a possibilidade de qualquer parte obter ganhos

indiretos com a companhia. Todos os ganhos da companhia precisam ser

explicitados e distribuídos democraticamente por todos os acionistas.

Mas ao contrário, segundo Comparato, "há um movimento de concentração

sem par. ..na economia brasileira e aqueles casos de empresas dirigidas por

acionistas com 30, 35 % do poder de voto, vão desaparecendo com muita

rapidez.">' Segundo a CVM, em 1987 os controladores em média detinham 70%

das ações com direito a voto em empresas de capital aberto.

É neste ponto que criticamos a legislação das Sociedades Anônimas

brasileira. Na medida em que possibilita o lançamento de dois terços de ações

preferenciais sem direito a voto nas empresas, está contribuindo para a

concentração do poder . Possibilita que o controle absoluto da companhia possa

ser exercido por um indivíduo ou grupo com apenas 16,7 % do capital total da

companhia. Muitos estudiosos e profissionais criticam a legislação que ampara

esta relação, no sentido que a concentração de poder acaba facilitando práticas

abusivas.

Carvalhosa afirma que "um terço de votantes frontalmente contraria os

objetivos governamentais de crescente participação dos acionistas nas decisões e

nos destinos das empresas de que participam. Se tornam portanto investidores

cada vez mais distantes das assembléias gerais.">

Bulgarelli chama atenção para o fato nas seguintes palavras; "é realmente

constrangedor que não se tenha seguido as advertências de outros países, como a

16& NASSIF, Luís. Democracia nas Empresas. Folha de São Paulo, São Paulo, 27 abril 1997, pg. 2-316. ESCOLA de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro. Sociedade Anônima. I Ciclo de Conferências para Magistrados. São

Paulo: IBCB. 1993, pg. 45.17fl CARVALHOSA, Modesto. Debate Sobre a Reforma das S/A. Palestra Proferida na Associação dos Advogados de São Paulo

em 25/08/75, pg. 14.

128

Page 135: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Inglaterra, por exemplo, onde o Parlamento, o Ministério do Comércio (Board of

Trade) e a própria Bolsa de Londres olham com desconfiança e vigiam a emissão

das ações sem direito a voto ..."J7i

Eliane Penha da Silva diz que "As ações preferenciais(sem direito a voto)

reduzem o interesse dos administradores da empresa na evolução do seu valor de

mercado, já que as ações negociadas não interferem no controle acionário. Ao

mesmo tempo, os investidores concentram suas atenções nos possíveis

movimentos especulativos do mercado, negligenciando o desempenho das

empresas ...se o que estivesse em jogo fosse o controle das empresas, uma situação

dessas jamais ocorreria?=

Velloso diz que a questão do "direito a voto dos acionistas preferencialistas

não deve ser entendida somente no contexto do poder inerente à eleição de um

conselho de administração, ou no poder de decidir questões vitais de uma

empresa. Também é uma questão de eficiência alocacional dos recursos de uma

economia. Ora, quantas empresas não seriam mais eficientes se tivessem maior

"fiscalização de seus acionistas"? Quantas empresas não teriam evitado projetos

de diversificação desastrosos se essa matéria fosse analisada e votada por um

número maior de acionistas? Também no caso do direito a voto e a maior

participação dos acionistas na vida das empresas, vale a idéia de modernidade.

Não podemos desejar que existam capitalistas, sem o ônus e beneficio de serem

capitalistas. O ônus é o risco inerente aos ativos. O beneficio deveria ser a

compensação econômica que advém de resultados, dividendos e investimentos

que as empresas realizam. E os resultados advêm de decisões relevantes que em

princípio deveriam ser participadas por todos os acionistas."!»

i7i BULGARELLL W. P.M.S.A. pg.85.172 MUDANÇAS Necessárias. Conjuntura Econômica. Rio de Janeiro, novembro 1995, pg.41.m VELLOSO, J.P.R. R.F.E pg.81.

129

Page 136: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Alguns especialistas já propuseram mudanças na lei, como o ex-presidente da

CVM, o professor Ary Osvaldo Mattos Filho. Mas a resistência a mudança por

parte do empresariado é muito grande. A carta do IBRE, na revista Conjuntura

Econômica ilustra bem esta dificuldade, com as seguintes palavras: "Cumpre

destacar a aversão ao risco de perda do controle acionário que caracteriza o

empresariado nacional- resquício da tradição de empresa familiar fechada'>

Celso Pinto= coloca que "tentativas no passado recente para mudar essa regra

esbarraram na resistência das empresas, especialmente das controladas por

grupos familiares. Nas regras vigentes, como os minoritários não representam

ameaça aos controladores nem têm um poder fiscalizador mais eficaz, são tratados

como sócios de segunda classe por muitas empresas. São lembrados apenas

quando se precisa de mais dinheiro."

Finalmente, para demonstrar que a discussão não é exclusiva no Brasil, e

também para suportar as idéias de maior democratização do poder, Brealey &

Myers colocam que "a NYSE tem tradicionalmente apoiado o princípio de "um

voto por cada ação" ...mas a NYSE esta a ser pressionada por empresas que

querem impedir ofertas públicas de aquisição hostis, através da concentração do

direito de voto numa classe de ações que possam ser detidas por pessoas de

confiança. Estas empresas pensam que merecem proteção contra os "raiders de

empresas" e os "piratas de aquisições". Por outro lado, talvez estes "piratas"

capturem apenas os navios mais lentos; muitos investidores pensam que os

especíalistas das ofertas públicas de aquisição atacam principalmente as

administrações "entrincheiradas", que não estão a zelar devidamente pelos

interesses dos seus acionistas.'?«

IH NA ROTA do Capital. Conjuntura Econômica. Rio de Janeiro. março 1996. pg. 6.m PINTO. Celso. Os Minoritários Reagem. Folha de São Paulo. São Paulo. novembro 1996. pg.17(, BREALEY. Richard A. & MYERS. Stewart C. Principies de Finanças Empresariais. 3. Edição. McGraw-Hil1. 1988. pg. 315.

130

Page 137: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

A título de ilustração, é oportuno relatar também algumas curiosidades sobre

o mercado acionário dos Estados Unidos. Cerca de 20% da população norte-

americana investe na bolsa de Valores diretamente em ações ou através de fundos.

A sua capitalização alcança 20% do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano,

que é de US$ 4,5 trilhões. No Brasil, a participação dos investidores na Bolsa não

ultrapassa 5% do PIB, que é de apenas de US$ 300 bilhões.

"Outra característica: o investidor norte-americano rejeita com veemência

ações sem direito a voto (preferenciais), pois considera-se lesado se não puder

votar. Ele quer participar das decisões da empresa de uma forma ou de outra, nem

que seja voto vencido. O controle da maioria das empresas de capital aberto é bem

diluído, e os acionistas vigiam de perto o desempenho de sua diretoria. Um

resultado fraco, uma prova de incapacidade ou uma informação divulgada

erroneamente ou sonegada podem provocar a demissão de toda a diretoria ou

levar a um processo judicial. Transpondo isso para a negociação da nossa dívida

interna com os bancos internacionais, podemos dizer que, se aqui sofremos

desgastes, lá os banqueiros enfrentam problemas ainda maiores, pois têm de

prestar contas religiosamente a seus acionistas, que são os investidores médios

norte-americanos, desde a viúva, a dona de casa até o dono da farmácia da

esquina. E a imprensa dá um grande poder de verbalização e de protesto a esses

investidores; sem contar a ação direta e muito ativa dos parlamentares que os

representam ...quando se compara a situação dos Estados Unidos com a do Brasil,

onde o acionista pouco manda, podemos concluir que temos um longo caminho a

tri lhar." 177

É nestas circunstâncias que defendemos uma mudança específica na Lei das'

Sociedades por Ações, com o objetivo de aumentar a percentagem mínima de

ações com direito a voto. O objetivo é que tal medida aumente o interesse dos

Page 138: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

acionistas minoritários na gestão da empresa, diminuindo assim a liberdade dos

controladores em administrar em benefícios próprios ou de grupos.

É claro que não se mudam os hábitos da população de um país simplesmente

por decreto. Espera-se que concomitantemente a sociedade brasileira evolua em

termos culturais e desenvolva suas capacidades de coesão, democracia e

participação. Por outro lado, espera-se também que os eternos problemas

econômicos de instabilidade, além da distribuição de renda do país, sejam

definitivamente resolvidos, para assim termos uma maior participação do grande

público no mercado de ações brasileiro, e que este contribua efetivamente para

uma economia doméstica mais sólida e mais desenvolvida.

" ,

177 TAMER. A. N.C.M.F. 2. Ed. Pg. 83-84

132

Page 139: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

6 - CONCLUSÃO

Os objetivo básico do estudo foi caracterizar a importância do sistema

financeiro para a economia e a sociedade do país, além de estudar sua evolução e

situação atual no Brasil, principalmente do mercado acionário, propondo a

alternativa de incentivar a democratização do poder nas empresas como forma de

desenvolver este mercado e alavancar o desenvolvimento econômico.

O Brasil pós estabilização está encontrando grandes dificuldades econômicas

e sociais. Os maiores problemas estão centrados na ausência de crescimento

econômico sustentado, elevação do endividamento interno e externo, déficit na

balança comercial com outros países, desemprego, concentração de renda e

agravamento das condições sociais.

O crescimento econômico, ingrediente básico nestas circunstâncias de crise

para alavancar o desenvolvimento da economia, dependerá fortemente da

elevação dos investimentos. Basicamente, os investimentos de uma economia

podem advir do exterior, através do interesse de empresas, governo e órgãos de

outros países ou alavancados internamente, através da poupança doméstica.

O investimento exterior no Brasil foi abundante nos anos seguintes ao Plano

Real, mas estancaram com o agravamento da atual crise. Somente com o retorno

da credibilidade e normalidade da economia é que poderemos voltar a ter o

ingresso de recursos externos.

Já a poupança doméstica é baixa no Brasil para poder ancorar um

desenvolvimento sustentado. Vimos algumas razões no texto que determinam a

reduzida taxa de poupança de países em desenvolvimento, entre elas um mercado

l7R KLlKSBERG, Bernardo. Desigualdade e Crescimento Econômico. Folha de São Paulo, São Paulo. 30 novembro 1997. pg. 2-2179 FIORAVANTE. M., FARIA. L. U.D. pg.262

133

Page 140: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

de capitais ineficiente. Como complemento a esta dificuldade, a incapacidade do

Tesouro e a própria mudança de paradigmas econômicos levou o setor público a

se afastar da posição central assumida desde o pós-guerra na mobilização e

alocação dos recursos e investimentos na economia brasileira.

o sistema financeiro privado, especialmente o mercado de capitais, deve

assumir o papel estratégico para a retomada do crescimento e desenvolvimento

econômico brasileiro. Pode contribuir tanto a nível de maior credibilidade para

atrair capital externo como, e mais importante, determinar uma contribuição

efetiva do mercado interno na sustentação do crescimento. Já vimos no

desenvolvimento deste trabalho, a importância de um mercado de capitais

desenvolvido para a economia de um país, tanto a nível de uma maior taxa de

poupança e alocação como em aspectos sociais e democráticos. Na medida que

democratiza o capital e o poder das sociedades anônimas, o mercado de capitais

pode contribuir também para um avanço na própria cultura democrática do país.

Porém, isto não poderá se concretizar se repetirmos no futuro todo nosso

histórico de escândalos financeiros e abusos contra investidores, principalmente

acionistas minoritários. A desconfiança que estes escândalos geram no mercado

financeiro e de capitais faz com que os pequenos poupadores procurem outras

formas de investimento ou prefiram o próprio consumo. No caso de investidores

externos, simplesmente procurarão países com um mercado mais confiável.

Por outro lado, é pouco provável que uma legislação mais protecionista ao

pequeno investidor cessará às várias formas de abusos vistos na práticas do

mercado brasileiro. Uma regulamentação muito abrangente geralmente acaba por

gerar involuções e ineficiências. O que se espera para o mercado acionário

brasileiro é uma maior participação dos acionistas, dar oportunidade de voto para

que eles mesmos tenham condições de fiscalizar suas empresas.

134

Page 141: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

Neste sentido, a legislação das sociedades anônimas atual está privilegiando e

amparando os controladores para que continuem exercendo a posição de líderes

absolutos e intocáveis. Não é necessária a participação diária na empresa por parte

dos minoritários, é claro, mas formas e oportunidades de controle e acesso a

informações no sentido de evitar atos que não sejam para o bem da organização

como um todo.

Na medida que 2/3 das ações não possuem direito a voto, torna-se fácil para

uma pessoa ou grupo ter o controle majoritário e gerir a organização de acordo

com seus interesses. Por isso acreditamos que a reformulação na legislação das

sociedades anônimas brasileira no sentido de aumentar o número mínimo de ações

com direito a voto nas sociedades anônimas torna-se fundamental e propício para

suportar o crescimento e desenvolvimento econômico, gerar maior eficiência

econômica, incentivar o desenvolvimento de outros mercados dentro do mercado

financeiro e contribuir para democratizar o capital e o poder nas empresas e na

própria sociedade brasileira.

Com o objetivo de avançar com estas idéias, sugerimos um estudo específico

sobre à concentração de poder nas empresas brasileiras, através da identificação

da proporção de ações com direito a voto em relação ao total de ações, além de

uma pesquisa de campo para analisar o grau de democratização na tomada de

decisões empresariais no Brasil. Este estudo complementaria os aspectos teóricos

discutidos nesta dissertação.

135

Page 142: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

7 - BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

1. AMARAL, Jr., Homero, RODRIGUES, Gregorio M. "Disclosure" às avessas.Folha de São Paulo, 15 out. 1997

2. BARCELLOS, Sérgio. Apresentação. In: GRIMSTONE, Gerry et aI.Privatização, Mercado e Democracia: a recente experiência internacional.Rio de Janeiro: Correio da Serra, 1988.

3. BEKAERT, Geert, GARCIA, Márcio & HARVEY, Campbell. O Papel dosMercados de Capitais no Crescimento Econômico. Illinois: InstitutoCatalyst, 1995.

4. BERLE, Adolf, MEANS, Gardiner. in BARRlOUNUEVO Filho, Arthur. ASeparação entre Propriedade Acionária e Controle Administrativo -revisitando os clássicos. Revista de Administração de Empresas, Rio deJaneiro, v. 27, n. 4, out./dez. 1987.

5. BETING, Joelmir Opinião Econômica. O Globo. Rio de Janeiro, 24 jul. 1997

6. BREALEY, Richard A. & MYERS, Stewart C. Princípios de FinançasEmpresariais. 3. Edição, McGraw-Hill, 1988.

7. BUENO, Ricardo. Escândalos Financeiros no Brasil. 2. Edição, Petrópolis:Vozes, 1982.

8. BULGARELLI, Waldirio. A Proteção às Minorias na Sociedade Anônima.São Paulo: Pioneira, 1977.

9. BULGARELLI, Waldirio. Manual das Sociedades Anônimas, 2. Edição,São Paulo: Atlas, 1980.

10. CARV ALHOSA, Modesto. A Nova Lei das Sociedades Anônimas: SeuModelo Econômico. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

11. CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei das Sociedades Anônimas: ;Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. São Paulo, Saraiva, 1977.

12. CARVALHOSA, Modesto. Debate Sobre a Reforma das S/A. Palestra '.Proferida na Associação dos Advogados de São Paulo em 25/08/75.

136

Page 143: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

13. CASAGRANDE NETO, Humberto. Abertura de Capital de Empresas noBrasil: um enfoque prático. 2. ed., São Paulo: Atlas, 1989.

14. CASTRO, Hélio O. P. de. In: CASTRO, Hélio O. P. de (coordenador).Introdução ao Mercado de Capitais. Rio de Janeiro: IBMEC, 1979.

15. CERVO, Amado Luiz. Metodologia Científica: para uso dos estudantesuniversitários. 3. Ed., São Paulo, McGraw-Hill do Brasil, 1983.

16. CIDADE, Marcelo. Retrospectiva 94. São Paulo: Andima, 1995.

17. CNBV. Introdução ao Mercado de Ações, 1984

18. CODIMEC. Balanço Social do Mercado de Capitais, 1988.

19. COMPARATO, Fábio Konder. O Poder de Controle na SociedadeAnônima, 2. Edição, São Paulo, Revista dos Tribunais, 1977.

20. COOPER, S. Kerry & FRASER, Donald R. The Financiai Marketplace.Secon Edition, Addison- Wesley, 1986.

21. COSTA, Roberto I. da. Brazil's Experience in Creating a Capital Market.São Paulo: Bovespa, 1985.

22. DELAMAIDE, DarreI. O Choque da Dívida. Rio de Janeiro: Record, 1984.

23. ESCOLA DE MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.Sociedade Anônima. I Ciclo de Conferências para Magistrados. São Paulo: IBCB, 1993.

24. FIORAVANTE, Moacyr, FARIA, Lauro Vieira de. A Última Década:ensaios da FGV sobre o desenvolvimento brasileiro nos anos 90. Rio deJaneiro: Fundação Getúlio Vargas, 1993

25. FOLHA de São Paulo. História do Brasil. 2. edição, 1997.

26. FRANCIS, Jack Clark. Investments: Analysis and Management. FifthEdition, Mcgraw-Hill, 1991.

27. FUNDAÇÃO Getúlio Vargas. Conjuntura Econômica. Vol. 52, n. 3, mar.1998.

28. FUNDAÇÃO Getúlio Vargas. Conjuntura Econômica, out. 1995.

29. FUNDAÇÃO Getúlio Vargas. Conjuntura Econômica, novo 1995.

137

Page 144: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

30. FUNDAÇÃO Getúlio Vargas. Conjuntura Econômica, mar. 1996.

31. FUNDAÇÃO Getúlio Vargas. Conjuntura Econômica, abr. 96.

32. GADELHA FILHO, Geraldo de Lima. A Relevância ou Irrelevância dosDividendos Face a Legislação Societária Brasileira. São Paulo,EAESPIFGV, 1985(Dissertação de Mestrado).

33. GOLDSMITH, Raymond W. Brasil 1850-1984: Desenvolvimento Financeirosob um Século de Inflação. São Paulo: Harper & Row do Brasil, 1986.

34. IBMEC. Mercado De Capitais e Desenvolvimento Econômico. Rio de.Taneiro : IBMEC, 1977.

35. KEYNES, .Tohn Maynard. General Theory of Employment, Interest andMoney. London, 1949

36. KIDWELL, David , PETERSON, Richard & BLACKWELL, David.FinanciaI Institutions, Markets, and Money. Fifth Edition, Dryden Press,1993.

37. KLIKSBERG, Bernardo. Desigualdade e Crescimento Econômico. Folha deSão Paulo, São Paulo, 30 novo 1997.

38. LAMOUNIER, Bolívar. De Geisel a Collor: o balanço da transição. SãoPaulo: Sumaré, 1990

39. LEITE, Hélio de Paula, SANVICENTE, Antônio Zoratto. Planos deestabilização e Instabilidade nos Mercados Acionários. Revista deAdministração de Empresas. São Paulo : Fundação Getúlio Vargas,abr.ljun.1991.

40. LORIE, James H. & HAMILTON, Mary T. The Stock Market: Theoriesand Evidence. Irwin, 1973.

41. LUNARDELLI, Amoldo. Política de Dividendos na Pequena e Grandeempresa no Brasil e Sua Influência na Bolsa de Valores. São Paulo,EAESP/FGV, 1974 (Dissertação de Mestrado).

42. MEDEIROS, Paulo de Tarso. O Que é o Mercado de Ações? Rio deJaneiro, Simposium Consultoria e Serviços Técnicos, 1987.

43. MELLO, Pedro Carvalho de. In: CASTRO, Hélio O. P. de (coordenador).Introdução ao Mercado de Capitais. Rio de .Taneiro : IBMEC, 1979.

138

Page 145: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

44. MONTE CARMELLO, Milton Huppert. A Bolsa de Valores de São Paulo -Um Estudo de Suas Origens, Evolução e Perspectivas de Integração noMercado de Valores Globalizado. São Paulo: EAESP/FGV, 1997. 233 p.(Tese de Doutorado apresentada ao Curso de Pós-Graduação da EAESP/FGV.Área de Concentração: Administração Contábil e Financeira).

45. MONTORO FILHO, André Franco. Moeda e Sistema Financeiro no Brasil.Rio de Janeiro: IPEA/INPES, 1982.

46. NASSIF, Luís. A Capacidade de Caminhar no Caos. Folha de São Paulo,São Paulo, 06 jul. 1997.

47. NASSIF, Luís. Democracia nas Empresas. Folha de São Paulo, São Paulo,27 abr. 1997.

48. OECD. Capital Markets Study. Paris, 1967.

49. OLIVEIRA, Miguel Delmat Barbosa de. Introdução ao Mercado de Ações.Rio de Janeiro, CNBV, 1984.

50. PINTO, Celso. Os Minoritários Reagem. Folha de São Paulo, novo 1996.

51. REZENDE, André Lara. A Mão Invisível na Política. Folha de São Paulo, 28out. 1997

52. RICUPERO, Rubens. Opinião Econômica. Folha de São Paulo, São Paulo,16 ago. 1997

53. ROCCA, Carlos Antônio (coordenador). Mercado de Capitais e a retomadado crescimento econômico. São Paulo: FIPE, 1998.

54. ROSE, Peter S. Money and Capital Markets. Third Edition, Homewood,1989.

55. SADER, Emir. Brasil 1997: mais ou menos democrático. Folha de SãoPaulo, São Paulo, 17 jul. 1997

56. SADER, Emir et al. O Brasil do Real. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1996.

57. SCHWARTZ, George P. Shareholder Rebellion. New York: lrwin, 1995.

58. SAYAD, João. Mulheres Bonitas. Folha de São Paulo, São Paulo, 05 ago.1996.

139

Page 146: Importância eEvolução Crítica do Mercado de Capitais no ...

59. SILVA, Adroaldo Moura da. Evolução Recente da Economia Brasileira.Estudos Econômicos, IPE - USP, vol. 9, n. 3.

60. SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Castelo a Tancredo. Tradução MárioSalviano Silva. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

61. STARK, David. Democracia Ajuda Eficiência (entrevista). Folha de SãoPaulo, São Paulo, 23 de out. 1997

62. TAMER, Alberto. Os Novos Caminhos do Mercado Financeiro. 2. Edição,São Paulo: Saraiva, 1991.

63. TAVARES, Maria da Conceição. A Crise Mundial e o Brasil. Folha de SãoPaulo, São Paulo, 21 jun. 1998.

64. VEIRANO, Ronaldo Camargo, SIMÕES, Paulo C. G. Estudo Setorial. set.1997.

65. VELLOSO, João Paulo do Reis (Coordenador). O Real e o Futuro daEconomia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1995.

66. VITAL, Sebastião Marcos, NESS Jr. , Walter L. ° Progresso do MercadoBrasileiro de Capitais: uma avaliação crítica. Revista de Administração deEmpresas. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, mai 1961.

67.WALD, Amoldo. O Mercado de Capitais. Rio de Janeiro: Apec, 1970.

68. WANNACOT, Paul. Economia. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1982.

140