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João Lucas Gomes de Souza Silveira Influência do ambiente nos padrões de coocorrência de duas espécies de aves congêneres em um fragmento florestal no nordeste brasileiro Natal (RN) Março de 2018

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João Lucas Gomes de Souza Silveira

Influência do ambiente nos padrões de coocorrência de

duas espécies de aves congêneres em um fragmento

florestal no nordeste brasileiro

Natal (RN)

Março de 2018

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João Lucas Gomes de Souza Silveira

Influência do ambiente nos padrões de coocorrência de

duas espécies de aves congêneres em um fragmento

florestal no nordeste brasileiro

Dissertação de mestrado apresentada

junto ao Programa de Pós-Graduação

em Ecologia da UFRN, requisito para

obtenção do título de Mestre em

Ecologia

Orientador: Prof. Dr. Mauro Pichorim

Natal (RN)

Março de 2018

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson

- Centro de Biociências - CB

Silveira, João Lucas Gomes de Souza.

Influência do ambiente nos padrões de coocorrência de duas espécies de aves

congêneres em um fragmento florestal no nordeste brasileiro / João Lucas Gomes de

Souza Silveira. - Natal, 2018.

44 f.: il.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de

Biociências. Programa de Pós-Graduação em Ecologia.

Orientador: Prof. Dr. Mauro Pichorim.

1. Coexistência - Dissertação. 2. Coocorrência - Dissertação. 3. Ocupação -

Dissertação. I. Pichorim, Mauro. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III.

Título.

RN/UF/BSE-CB CDU 574

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RESUMO

Uma das principais explicações para a alta diversidade de espécies tropicais é a

possibilidade de coexistência de espécies com nichos similares. Estudos de coexistência

investigam como espécies se organizam no espaço e no tempo, focando também nas

interações entre elas e delas com o ambiente. Embora a competição interespecífica

pareça explicar sozinha os padrões de coocorrência, características ambientais podem

ter o mesmo poder de explicação. Assim sendo, identificar os fatores que influenciam a

coexistência de espécies é essencial para elucidar mecanismos de regulação de

comunidades. Criar modelos teóricos que incorporam estimativas de detecção e

ocupação de espécies possibilita a avaliação simultânea de múltiplas hipóteses sobre os

padrões de ocorrência de espécies. Estimativas de ocupação de áreas por uma ou mais

espécies vem sendo cada vez mais usadas como ferramenta na modelagem da dinâmica

dessas espécies, guiando também estratégias de monitoramento e ações de manejo. Esse

estudo focou em duas espécies de Passeriformes Conopophaga cearae e Conopophaga

melanops para melhor compreender os padrões de uso do espaço pela ornitofauna na

Mata Atlântica potiguar. Conduzimos nossas amostragens na RPPN Mata Estrela, litoral

sul do RN, através de pontos de escuta visitados em duas estações distintas: seca

(setembro, outubro e novembro de 2016) e úmida (maio, junho e julho de 2017). Além

da ocorrência das espécies, também registramos algumas características ambientais em

cada unidade amostral, foram elas: tipo de habitat, abertura de dossel, acúmulo de

serrapilheira, densidade vegetal e diâmetro das árvores na altura do solo. Para esclarecer

os dados coletados em campo, criamos e testamos modelos de ocupação estática e

condicional no programa MARK. Através dos modelos de ocupação estática

observamos que a abertura de dossel é a covariável mais relevante para C. melanops e

também para C. cearae, junto do acúmulo de serrapilheira e a densidade vegetal. Por

esse motivo inferimos que a plasticidade de nicho de C. cearae parece contribuir

bastante para a coocorrência. A modelagem de ocupação condicional apontou que as

características ambientais (tanto a sazonalidade quando condições estruturais de cada

habitat) são relevantes para a escolha de áreas a serem ocupadas por essas espécies e o

efeito da interação entre elas é irrisório, vide SIF ~ 1. Concluímos, pois, que modelos de

ocupação podem esclarecer preferências ambientais, bem como padrões de interação

entre espécies e assim aprimorar estratégias de conservação e manejo.

Palavras chave: Coexistência, coocorrência, ocupação estática, ocupação condicional,

Mata Estrela, MARK, Conopophagidae.

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ABSTRACT

One of the main explanations for the high tropical species diversity is the possibility of

coexistence between species with similar niche. Coexistence studies investigate how

species are organized in time and space, also focusing on the interactions between them

and with the environment. Although the interspecific competition seems to explain

alone the co-occurrence patterns, environmental characteristics may have the same

power of explanation. Therefore, identifying which factors influence species

coexistence is essential for elucidating community regulation mechanisms. Creating

theoretical models that incorporate species detection and occupancy estimates allows

one to simultaneously evaluate multiple hypotheses about the species occurrence

patterns. Occupancy estimates have increasingly been used as a tool in modelling

species dynamics, also guiding monitoring strategies and management actions. This

study focused on two Passeriformes species Conopophaga cearae e Conopophaga

melanops for a better understanding on the space usage patterns by the ornithofauna at

the North-eastern Brazilian Atlantic Forest. Our assessments were conducted at the

RPPN Mata Estrela, south coast of RN state, via point sight/sound censuses, visited

over two distinct seasons, a dry one (September, October and November 2016) and a

wet one (May, June and July 2017). Besides the species occurrence, we also registered

some environmental characteristics at the assessment sites: habitat type, canopy

aperture, litter accumulation, plant density and diameter of threes at ground level. To

clarify the field collected data, we created and tested static and conditional occupancy

models in the program MARK. With the static occupancy models we observed that the

canopy aperture is the most relevant covariate to C. melanops and also for C. cearae,

along with the litter accumulation and plant density. Thus we suppose that the niche

plasticity of C. cearae seems to contribute significantly for the species cooccurence.

The conditional occupancy modelling pointed that environmental characteristics (both

seasonality and habitat structural conditions) are relevant for the choice of areas by

these species and the interaction between them is whimsy, vide SIF ~ 1. We conclude,

therefore, that occupancy models can clarify species environmental preferences, as well

as patterns of interaction between them and thus improve conservation and management

strategies.

Keywords: Coexistence, co-occurrence, static occupancy, conditional occupancy, Mata

Estrela, MARK, Conopophagidae.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 1

MÉTODOS .................................................................................................................................. 6

Espécies foco ............................................................................................................................. 6

Figura 1 ................................................................................................................................ 8

Figura 2 ................................................................................................................................ 8

Figura 1 ................................................................................................................................ 9

Área de estudo e procedimentos em campo .............................................................................. 9

Figura 2 .............................................................................................................................. 11

Figura 3 .............................................................................................................................. 13

Figura 4 .............................................................................................................................. 13

Processamento de dados ......................................................................................................... 14

Análise de ocupação estática (uma espécie e uma estação) ............................................... 14

Análise de ocupação condicional (coocorrência) ............................................................... 16

RESULTADOS .......................................................................................................................... 18

Ocupação estática (uma espécie e uma estação) .................................................................... 18

Tabela 1 .............................................................................................................................. 19

Tabela 2 .............................................................................................................................. 20

Tabela 3 .............................................................................................................................. 21

Tabela 4 .............................................................................................................................. 21

Tabela 5 .............................................................................................................................. 21

Figura 7 .............................................................................................................................. 22

Figura 8 .............................................................................................................................. 23

Figura 9 .............................................................................................................................. 23

Ocupação condicional ou coocorrência ................................................................................. 24

Tabela 6 .............................................................................................................................. 26

Tabela 7 .............................................................................................................................. 27

DISCUSSÃO .............................................................................................................................. 27

AGRADECIMENTOS .............................................................................................................. 32

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 33

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INTRODUÇÃO

O gradiente latitudinal de diversidade de espécies é uma questão recorrente em

pesquisas ecológicas. Por muito tempo cientistas procuram explicações para a relação

inversa entre a latitude e a biodiversidade em áreas tropicais e temperadas, sendo que

alguns deles focaram nas razões evolutivas e outros na manutenção da biodiversidade

(Phillips, et al., 1994). De modo geral, a alta diversidade de espécies tropicais já foi

relacionada com a quantidade de energia disponível (Currie, 1991), predação espécie-

específica (Janzen, 1970), complexidade estrutural do ambiente e respectiva oferta de

nichos (Went, 1940). Contudo, Klopfer e MacArthur (1961) sugeriram que o fator

principal para o aumento da diversidade de aves na região tropical seria a possibilidade

de coexistência de espécies similares. As espécies tropicais toleram maior sobreposição

de nicho, o que as tornam mais tolerantes à presença de outras espécies com requisitos

ambientais e ecológicos similares (Klopfer & MacArthur, 1961).

Estudos de coexistência investigam como espécies se organizam em

comunidades, no espaço e no tempo (MacArthur, 1972; Chesson, 2000). Segundo

Siepielski e McPeek (2010), interações diretas e indiretas entre espécies coexistentes

têm guiado estudos que investigam quais delas são capazes de persistir na presença de

outras e quais não são. Aquelas que persistem podem ser consideradas coexistentes

(MacArthur, 1972; Chesson, 2000). Com o tempo, trabalhos como o de Hutchinson

(1959) e Chesson (1991) ganharam força e corroboraram a conclusão de que espécies

precisam ser, em algum aspecto, diferentes para que possam coexistir. Diferenças que

levam a vantagens ou desvantagens perante os vários processos denso-dependentes, que

regulam a abundância populacional, promovem a coexistência (Siepielski & McPeek,

2010). Ou seja, espécies coexistem porque apresentam vantagens demográficas quando

são raras e desvantagens quando comuns. Essas vantagens demográficas possibilitam

sua persistência enquanto as desvantagens demográficas impedem que elas excluam

outras espécies (Siepielski & McPeek, 2010). Desse modo, identificar os fatores que

influenciam a coexistência de espécies permite que sejam desvendados os mecanismos

de regulação das comunidades biológicas.

Além da coexistência, existe também a possibilidade de coocorrência de

espécies. Leibold e McPeek (2006) usam o termo quando duas ou mais espécies são

encontradas juntas, mas não coexistem. Há muito tempo, vários estudos assumem que

espécies encontradas juntas estão coexistindo, mas apenas alguns dispõem de evidências

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empíricas ou experimentais adequadas (ver Leibold & McPeek, 2006). A diferença

entre as terminologias implica que algumas dessas espécies coocorrentes podem estar

em um processo lento de extinção estocástico, sendo excluída competitivamente ou

mantida no local por movimentos migratórios de uma população fonte.

Enquanto espécies com nichos similares coexistirem numa mesma área

geográfica, a diversidade biológica será mantida (Chesson, 2000). Além disso, é a

própria diferença entre nichos, mesmo sendo mínima, que garante a estabilidade entre

espécies simpátricas (Levine & HilleRisLambers, 2009). Quando duas ou mais espécies

ecologicamente similares ocupam um mesmo ambiente, há grande probabilidade de elas

competirem por algum recurso. A competição interespecífica é um dos grandes fatores

responsáveis pela estruturação de comunidades ecológicas (Rosenzweig, 1995). Estudos

realizados nos trópicos sugerem que ela está presente na maioria dos casos (Connell,

1983; Schoener, 1983). Segundo Walter (1988), a competição entre espécies pode levar

à extinção do competidor mais fraco ou forçá-lo a selecionar diferentes maneiras de

explorar um recurso e possibilitar a coexistência. Espécies simpátricas estão sujeitas à

exclusão, evasão e até extinção por causa de interações competitivas, principalmente

espécies que compartilham nichos ecológicos similares (Arlettaz, 1999). Desvincular a

relevância potencial da competição para a ocorrência de espécies torna-se, portanto,

uma tarefa difícil. Quanto mais alta for a biodiversidade dentro de um sistema, mais

altas serão as probabilidades de que duas ou mais espécies tenham seus nichos

sobrepostos a ponto de competirem por um recurso comum. Contudo, nos casos cujos

recursos não são limitantes ou os competidores tenham plasticidade de nicho em relação

à exploração dos mesmos, a competição é atenuada e a coexistência torna-se plausível

(Schoener, 2009; Toft, 1985). Isso posto, é possível afirmar que a coexistência dentro de

uma comunidade depende da plasticidade de hábitos das espécies (Oliveira, 2015).

Embora a competição aparentemente explique sozinha os padrões de

coocorrência de várias espécies, características do habitat podem ser mais importantes

para a coexistência de algumas espécies do que interações interespecíficas diretas

(Estevo, et al., 2017). Um exemplo disso é a relação entre a heterogeneidade na

disponibilidade de recursos e a persistência de um maior número de espécies (Tilman,

1982). Recurso alimentar é, geralmente, tido como um fator limitante para aves (Brown

& Sherry, 2006) e está diretamente relacionado às características estruturais do

ambiente. Seastedt e MacLean (1979) propuseram que aves respondem à composição do

habitat em uma área, e não à disponibilidade de recurso propriamente dita. Outras

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evidências foram testadas e surgiu a “hipótese de pistas estruturais”, que indica mais

uma estratégia de escolha de habitat, onde aves adotam estrutura e composição de

habitat como indicadores para densidade de presas (Smith & Shugart, 1987).

De acordo com Begon, et al. (2007), uma comunidade está estruturada quando

espécies e nichos estão alocados de maneira não aleatória, diferente do que seria

esperado caso as interações ecológicas fossem nulas. Estudos ecológicos de

comunidades vêm questionando os padrões de coocorrência observados para entender se

acontecem através de fatores previsíveis ou por ação do acaso (Chesson, 2000; Gotelli

& Graves, 1996; Silvertown, 2004). Assim sendo, é possível usar modelos nulos

baseados em aleatorizações de dados empíricos para estimar padrões na ausência de

respectivos mecanismos ecológicos (Gotelli & Graves, 1996; Simberlof, 1984).

Também é possível criar modelos teóricos que incorporam variáveis explanatórias (ou

covariáveis), como o tipo de habitat, com o intuito de determinar sua respectiva

importância para os padrões de coocorrência (Steen, et al., 2014). Atrelado a isso, criar

modelos que incorporam estimativas de detecção e ocupação de espécies possibilita a

avaliação simultânea de múltiplas hipóteses. O teste dessas hipóteses ajuda a elucidar os

padrões de ocorrência simultânea de espécies similares e se isso ocorre mais ou menos

frequentemente do que o esperado pelo acaso (MacKenzie, et al., 2004).

As áreas de uma paisagem onde uma ou mais espécies foco são encontradas tem

importância considerável em estudos ecológicos (MacKenzie & Royle, 2005).

Estimativas de ocupação por uma ou mais espécies vem sendo cada vez mais usadas

como ferramenta na modelagem da dinâmica dessas espécies, guiando também

estratégias de monitoramento e ações de manejo (MacKenzie, et al., 2002; 2003;

Mazerolle, et al., 2007). Uma das vantagens desse tipo de ferramenta é assumir a nossa

capacidade de detectar espécies como imperfeita (MacKenzie, et al., 2002; 2003;

MacKenzie & Royle 2005; Richmond, et al., 2010). Quando uma espécie não é

registrada em uma área amostral, ela pode simplesmente não ter sido percebida ou estar

realmente ausente. A detecção imperfeita gera vieses (como a subestimativa de espécies

inconspícuas ou arredias, por exemplo) que podem ser evitados por meio de visitas

múltiplas aos locais de amostragem de forma a permitir estimativas de detectabilidade

(Cerqueira Jr, 2009; MacKenzie, et al., 2002).

Como dito acima, a região tropical abriga alta biodiversidade e grande parte dela

está inserida no Brasil, conhecido por seus ecossistemas megadiversos, dentre os quais

se destaca a Mata Atlântica. Esse domínio morfoclimático é composto por vários tipos

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de formações florestais e ecossistemas (ver Brasil, 2010). Abrange maior parte da costa

leste do continente sul-americano e está inserido no Brasil, Paraguai e Argentina

(Câmara, 2005). Do pouco que ainda resta, a porção ao norte do rio São Francisco é a

mais impactada e fragmentada, com apenas 2% de sua extensão original (CEPF, 2001).

A Mata Atlântica é considerada um dos 25 hotspots de prioridades conservacionistas

(Myers, et al., 2000). Dentre outros fatores, essa classificação se justifica por sua alta

fragmentação, quantidades elevadas de endemismos e espécies ameaçadas, sendo uma

das áreas mais importantes do mundo para ações de conservação (Pinto, et al., 2006).

Além disso, também existe diferença considerável de hábitats e nichos entre fragmentos

litorâneos e aqueles localizados no interior do continente. É importante ressaltar que a

Mata Atlântica nordestina recebe influência da biota amazônica e das porções sul e

sudeste da Mata Atlântica brasileira (Tabarelli, et al., 2006; Batalha-Filho, 2013),

constituindo um sistema único, com diversas espécies endêmicas e cerca de metade

(417 espécies) da ornitofauna presente no domínio Mata Atlântica (Tabarelli & Santos,

2004). Outra característica da região litorânea brasileira é a presença de planícies

arenosas extensas cobertas por vegetação pioneira, conhecidas como Restinga. Um dos

aspectos mais representativos da vegetação da Restinga é o padrão gradativo que

compreende diferentes fitofisionomias entre a costa e o interior do continente (Araújo,

1992). Sob uma ótica mais abrangente, que caracteriza regiões morfoclimáticas, a

Restinga pode ser classificada como Floresta Tropical Sazonalmente Seca, com

ocorrência em regiões de alta temperatura e com precipitação anual inferior a 1800 mm

(Murphy & Lugo, 1986). Esse tipo de floresta é estruturalmente mais simples que a

Floresta Atlântica devido a um dossel mais baixo e menor área basal (Woodward,

2009).

O Rio Grande do Norte possui cerca de 340 mil hectares de sua área inseridos no

domínio Mata Atlântica, o que equivale a 6,5% da extensão do estado (Brasil, 2010).

Mas além da fragmentação dos remanescentes desse tipo de vegetação, onde as

manchas dificilmente apresentam 50 ha de extensão e a maioria é inferior a 10 ha

(Pinto, et al., 2006), a soma das áreas protegidas por unidades de conservação é de

apenas 0,55% da Mata Atlântica potiguar (Brasil, 2010). De posse desse tipo de

informação, o Ministério do Meio Ambiente identificou diversas áreas potiguares como

sendo prioritárias para criação de novas unidades de conservação, ações de recuperação

e criação de mosaicos e corredores ecológicos (Brasil, 2010). Dentre essas áreas

apontadas como prioritárias está a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN)

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Mata Estrela (Portaria IBAMA nº 20, de 30/03/2000), maior fragmento de Mata

Atlântica do estado. Além disso, é foco de estudos para a criação de um corredor

ecológico que conecte todos os remanescentes de restinga arbustivo-arbórea (inclusos

no domínio Mata Atlântica) no litoral do estado, desde Baía Formosa até Natal

(Develey & Goerck, 2009; Brasil, 2010).

O presente trabalho consistiu em investigar os padrões de ocupação e

coocorrência das espécies Conopophaga melanops (cuspidor-de-mascara-preta) e

Conopophaga cearae (chupa-dente-do-nordeste), em um fragmento de Floresta Tropical

Sazonalmente Seca que abrange manchas de Restinga também. Morfologicamente

similares e taxonomicamente aparentadas, ambas são insetívoras, ocorrem em matas

úmidas e forrageiam em estratos baixos. De acordo com o padrão observado por

Leyequién, et al. (2007), a razão entre o tamanho do corpo de duas espécies é

inversamente proporcional a intensidade da competição entre elas. Assim sendo,

podemos considerar essas espécies de Conopophaga como potenciais competidoras,

pois apresentam dimensões bastante similares. São duas espécies pouco estudadas e

apresentam requisitos ecológicos parecidos, portanto, são foco adequado para estudos

de coocorrência e uso de espaço.

As hipóteses testadas pelo nosso estudo foram: (1) As espécies estudadas

apresentam afinidades distintas com os tipos de habitat – esperamos que as

probabilidades de ocupação e detecção de ambas espécies mudem de acordo com

habitat. Nossa predição é que C. melanops ocupe mais pontos de Mata Atlântica e C.

cearae esteja mais associada às áreas típicas de Restinga. (2) A sazonalidade influencia

diretamente os padrões de ocupação dessas espécies – é sabido que a abundância de

artrópodes está diretamente relacionada à precipitação (Pinheiro, et al., 2002) e que o

tamanho da área usada condiz com a oferta de recursos. Esperamos que, durante a

estação seca (menor disponibilidade de recursos), as espécies aumentem as respectivas

áreas de uso afim de atender suas demandas de recursos. (3) As espécies coocorrem,

pois a forma como interagem com o ambiente é mais relevante do que as interações

entre elas – o padrão de ocupação de cada espécie é influenciado por covariáveis

ambientais diferentes. Esperamos que as características ambientais apresentem maior

relevância que a presença de outra espécie na explicação dos padrões observados em

campo.

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MÉTODOS

Espécies foco

Conopophaga melanops (Figura 1) e Conopophaga cearae (Figura 2) pertencem

à família Conopophagidae (chupa-dentes e cuspidores), Aves de pequeno porte que

vivem a pouca altura no interior de matas, nas partes mais densas e escuras (Sick, 1997;

Del Hoyo, et al., 2014). Quando forrageiam, geralmente o fazem em voos rápidos ao

chão para capturar insetos e depois retornam ao poleiro de origem (Sick, 1997; Sigrist,

2013; Del Hoyo, et al., 2014). A dieta dessas espécies é baseada em pequenos

artrópodes e inclui aranhas, besouros (Coleoptera), gafanhotos (Orthoptera), baratas

(Blattodea), entre outros (Del Hoyo, et al., 2014). Todos os membros dessa família

permanecem em pares durante o ano, mas não são aves sociais e não se juntam a bandos

mistos (Del Hoyo, et al., 2014). Estudos sobre aves insetívoras de ambientes

temperados mostraram que elas realizam um controle descendente (top-down control)

sobre a herbivoria, limitando a biomassa de artrópodes (Van Bael, et al., 2003). Esse

controle das aves sobre a herbivoria de artrópodes é essencial, uma vez que reduz os

danos foliares e a mortalidade de plantas, além de afetar positivamente a biomassa

vegetal (Mantyla, et al., 2010). Assim sendo, aves insetívoras tanto de ambientes

temperados quanto tropicais tem um papel chave no funcionamento dos ecossistemas

que integram.

O cuspidor-de-máscara-preta (Conopophaga melanops) (Figura 1) mede entre

10,5 e 13 cm de comprimento e pesa, em média, 20 g (Del Hoyo, et al., 2014). É uma

espécie endêmica da Mata Atlântica, ocupando regiões de encosta, geralmente abaixo

dos 250 m de altitude. O dimorfismo sexual é bastante acentuando (Figura 1), visto que

o macho tem coloração cinzenta nas partes inferiores do corpo, máscara preta e o topo

da cabeça castanho. A fêmea apresenta coloração laranja-ferrugínea e estrias brancas

acima dos olhos. Pode ser encontrada em matas secundárias e também em bordas de

capoeiras e alimenta-se basicamente de insetos (Clements, 2005; Sigrist, 2013).

Forrageia a baixas alturas, tanto no interior quanto nas bordas dos fragmentos onde

ocorre e nidifica nos estratos mais baixos. É composta por três subespécies: C.

melanops melanops que ocorre entre o Espírito Santo e Santa Catarina; C. melanops

perspicillata que ocorre no litoral leste entre Sergipe e Bahia; e C. melanops nigrifrons

que está associada à costa nordestina, desde a Paraíba até Alagoas (Del Hoyo, et al.,

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2014). Esta última sub-espécie é considerada vulnerável segundo a lista brasileira de

espécies ameaçadas (Portaria MMA 444/2014).

O chupa-dente-do-nordeste (Conopophaga cearae) (Figura 2) mede entre 11,5 e

14 cm de comprimento e pesa entre 16 e 27 g (Whitney, et al., 2016). Ocorre no Brasil

oriental, em matas secas, de galeria, mesófilas e também em matas úmidas. A coloração

parda é predominante em ambos os sexos, mas apresenta ventre e maxila

esbranquiçados. O macho dispõe de um tufo pós-ocular branco vistoso, enquanto a

fêmea apresenta tufos cinzentos ou castanhos na cabeça. Assim como C. melanops,

forrageia nos estratos mais baixos, sozinha ou em casais, tanto no interior quanto nas

bordas de fragmentos. Essa espécie nidifica próximo ao solo e tem comportamento

vocal mais ativo em horários crepusculares (Sick, 1997; Souza, 2004; Sigrist, 2013).

Até pouco tempo atrás era considerada como subespécie de C. lineata, junto com mais

outras duas subespécies (Del Hoyo, et al., 2014). Todavia, foi elevada à condição de

espécie plena recentemente (Batalha-Filho, et al., 2014). Encontra-se classificada como

“Em Perigo” de acordo com a última lista brasileira de espécies ameaçadas (Portaria

MMA 444/2014).

As distribuições espaciais dessas espécies são sobrepostas em algumas partes,

sendo C. melanops mais comum em áreas úmidas próximas à costa, enquanto C. cearae

avança mais para o interior em áreas mais secas (Figura 3). As amostragens desse

estudo foram conduzidas na RPPN Mata Estrela, área de ocorrência conhecida de ambas

espécies (pers. obs.), embora a distribuição considerada pela IUCN indique a ocorrência

apenas de C. cearae (Figura 3).

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Figura 1: Espécimes adultos da espécie Conopophaga melanops (cuspidor-de-máscara-

preta). Macho a esquerda e fêmea a direita. Fotos de Ciro Albano (macho) e Roberto

Torrubia (fêmea). Macho fotografado em Murici/AL e a fêmea em Paraty/RJ. Fonte:

acervo digital do Wikiaves (http://www.wikiaves.com.br/278262&t=s&s=10972&p=12

e http://www.wikiaves.com.br/892786&t=s&s=10972&p=21, acessados em janeiro de

2018)

Figura 2: Espécimes adultos da espécie Conopophaga cearae (chupa-dente-do-

nordeste). Macho a esquerda e fêmea a direita. Fotos de Ciro Albano, ambas feitas no

município de Guaramiranga/CE. Fonte: acervo digital do Wikiaves

(http://www.wikiaves.com.br/1754452&t=s&s=11981, acessado em janeiro de 2018).

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Figura 1: Mapa do Brasil com ênfase nas distribuições espaciais de C. melanops e C.

cearae, em laranja e branco, respectivamente. No destaque observa-se a posição da

RPPN Mata Estrela, próxima à fronteira entre Rio Grande do Norte e Paraíba. Fonte:

portal virtual da IUCN (http://maps.iucnredlist.org/map.html?id=22703415 e

http://maps.iucnredlist.org/map.html?id=22728504, acessados em dezembro de 2017).

Mapa: Roney Paiva.

Área de estudo e procedimentos em campo

A RPPN Mata Estrela (6,38° S, 35,02° W) (Figura 4) pertence à Destilaria Baía

Formosa e está localizada no município de Baía Formosa, Rio Grande do Norte. Trata-

se do maior remanescente de Mata Atlântica do estado, com 2.039,93 ha. Além desse

tipo de formação, o fragmento também abrange manchas de Restinga e Manguezal, e

por estar ao norte do rio São Francisco, é considerado parte do Centro de Endemismo

Nordestino (ver Tabarelli & Santos, 2004). Devido a sua proximidade com a cidade de

Baía Formosa, o remanescente está sujeito à fragmentação e outros impactos constantes

como supressão vegetal, poluição com resíduos sólidos, caça e compactação do solo

(principalmente nas trilhas mais acessíveis). Além de ser o maior remanescente de Mata

Atlântica do estado, a relevância da área de estudo se justifica também pelo registro de

espécies-chave, que carregam certo apelo conservacionista como os rapinantes Buteo

brachyurus e Micrastur ruficollis, e as migrantes Coccyzus euleri e Charadrius

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semipalmatus, (Olmos, 2003). Existem também, segundo moradores do entorno da

RPPN, relatos de espécies-chave representantes de outros grupos, incluindo capivaras

(Hydrochoerus hydrochaeris) e tatu-canastra (Priodontes maximus).

Usando o software Qgis (Quantum GIS Development Team, 2009), geramos

uma camada de pontos espaçados a cada 200 m sobre um “shapefile” da RPPN Mata

Estrela (Figura 4). Dentre eles, sorteamos 40 na Mata Atlântica e outros 40 na Restinga,

totalizando 80 pontos para registro das espécies foco. Cada uma das unidades amostrais

consistiu em um ponto de escuta, onde atraímos as espécies foco com iscas vocais

(arquivos de áudio baixados da biblioteca virtual disponível no site www.xeno-

canto.org) espécie-específicas. A finalidade dessas iscas vocais foi de maximizar a

detecção das espécies foco, dada sua preferência por sítios densos e escuros.

Escolhemos separar os pontos com intervalos de 200 m para que as iscas vocais não

fossem ouvidas nos pontos adjacentes e indivíduos fossem atraídos para áreas que

comumente não ocupam, garantindo independência entre às unidades amostrais. As

iscas vocais foram reproduzidas durante 1 min com 4 min de espera subsequente para o

registro das respostas (visual ou auditiva). Ao fim desses 5 min, o processo era repetido,

com a reprodução da isca para a outra espécie. A ordem de reprodução das iscas foi

alternada entre as visitas para evitar possíveis vieses de afugentamento de uma espécie

caso houvesse alguma relação de dominância entre elas.

De acordo com a descrição das espécies na literatura (Sick, 1997; Sigrist, 2013;

Del Hoyo, et al., 2014), elencamos e medimos algumas covariáveis ambientais para

testar nossas hipóteses sobre os padrões de ocorrência das mesmas. Foram elas: abertura

média de dossel (dossel), acúmulo médio de serrapilheira (serrapilheira), densidade

média da vegetação (densidade vegetal) e diâmetro médio das árvores na altura do solo

(mdas). Através da tomada dessas medidas, buscamos identificar a relevância das

variáveis escolhidas para cada espécie. Para medir a abertura do dossel foram feitas

fotos na altura do solo (usando uma câmera Nikon D3200, lente Nikon 18-55 mm), as

quais foram processadas e analisadas no software ImageJ (Abramoff, et al., 2004) e

indicaram a porcentagem de área coberta em cada ponto. O acúmulo de serrapilheira foi

medido com uma régua de 30 cm inserida através da serrapilheira até o solo formando

um ângulo de 90° com o mesmo; para estimar a densidade vegetal contamos todas as

plantas lenhosas com diâmetro na altura do solo superior a 3 cm, num raio de 5 m;

usamos trenas de tamanhos variados para medir a última covariável, usando a mesma

área de 5 m de raio, citada anteriormente.

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Figura 2: Imagem aérea da RPPN Mata Estrela (6,38° S, 35,02° W), localizada no

município de Baía Formosa, no litoral sul do RN. Em destaque estão as 80 unidades

amostrais (pontos de escuta) nas quais reproduzimos as iscas vocais. Mapa: Roney

Paiva.

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Utilizamos cinco subamostragens em cada ponto de escuta para o cálculo das

covariáveis, sendo uma referente ao próprio ponto de escuta e as outras quatro a 50 m

deste, formando um plano cartesiano (Figura 5, estrelas). Além disso, essas

subamostragens foram dividas novamente em 5 pontos de amostragem. Medimos 4

pontos no entorno e 1 no centro, distantes 5 m do ponto central em direções opostas

(Figura 5, círculos). Nesses pontos foram tomadas as medidas de dossel e serrapilheira.

As medidas de densidade vegetal e mdas foram tomadas numa área com 5 m de raio nos

pontos referentes às subamostragens. Geramos assim, médias de 25 valores para as duas

primeiras covariáveis (dossel e serrapilheira), em cada ponto de escuta. Utilizamos a

média dos valores de cada uma das cinco subamostragens para calcular a média geral,

em cada ponto de escuta para as medidas de densidade e diâmetro. As covariáveis

dossel e serrapilheira foram medidas tanto na estação seca quanto na estação úmida,

visto que são mais suscetíveis aos efeitos da sazonalidade, como constatado no estudo

de Costa et al. (2016). As covariáveis densidade vegetal e mdas foram medidas uma

única vez, pois o período entre estações não é suficiente para que ocorram mudanças

significativas.

Para inserirmos a sazonalidade em nossas amostragens, fizemos campanhas de

campo nas estações seca (entre os meses de setembro e novembro de 2016) e úmida

(entre maio e julho de 2017) de acordo com os dados do monitoramento pluviométrico

estadual (De Oliveira, 2012) (Figura 6). Visitamos, em média, oito pontos a cada dia,

sendo pelo menos cinco durante a manhã e outros três à tarde. Em cada estação, cada

um dos 80 pontos de escuta foi visitado três vezes na estação seca e outras três na

estação úmida, totalizando 6 ocasiões de amostragem. Seguindo orientações de

MacKenzie (2006), optamos por um desenho amostral com poucas repetições em um

maior número de sítios, ideal para evitar que a ocupação de espécies pouco comuns seja

subestimada. A preocupação com o número de visitas às unidades amostrais também é

importante para que os investimentos em tempo, recursos e esforço sejam otimizados.

Tivemos, assim, um esforço médio de 30 dias de campo para cada estação (cerca de 10

dias por ocasião).

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Figura 3: Esquema de pontos visitados para amostragens das covariáveis ambientais na

RPPN Mata Estrela. Estrelas representam as subamostragens onde foram tomados os

dados de densidade vegetal (dveg) e diâmetro médio das plantas na altura do solo

(mdas). Círculos representam locais onde foram medidos o acúmulo de serrapilheira

(ser) e a abertura de dossel (dos).

Figura 4: Precipitação mensal acumulada no município de Baía Formosa, litoral sul do

RN, nos anos 2016 e 2017. Dados coletados no posto Destilaria Vale Verde. Fonte:

EMPARN. Disponível em: http://187.61.173.26/monitoramento/monitoramento.php.

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Processamento de dados

Incorporamos também a relevância de covariáveis ambientais e a detecção

imperfeita de indivíduos em modelos teóricos com o intuito de testar se essas espécies

têm plasticidade de nicho suficiente para coexistir. De maneira mais específica, usamos

modelos de ocupação estática para investigar separadamente efeitos do ambiente

(habitat, sazonalidade e características estruturais) e modelos de ocupação condicional

para avaliar a importância de interações interespecíficas nos padrões de coocorrência

dessas duas representantes da família Conopophagidae.

Análise de ocupação estática (uma espécie e uma estação)

Utilizamos o programa MARK (White & Burnham, 1999) para gerar modelos de

ocupação estática (uma espécie e uma estação), os quais incorporam dois processos

estocásticos. O primeiro é a probabilidade de uma unidade ou sítio amostral estar

ocupada pela espécie foco, representada por ᴪ (Psi) (Gerber, et al., 2017). Essa

modelagem assume que o status de ocupação das unidades amostrais não muda entre

amostragens. Quando a espécie foco ocupa uma unidade amostral, ela pode ou não ser

detectada (Gerber, et al., 2017). Esse é o segundo processo estocástico, representado por

p – probabilidade de detecção da espécie foco. Todavia, a não detecção da espécie foco

pode significar também que ela está ausente da unidade amostral. Assim sendo, os

parâmetros estimados nesse tipo de modelagem expressam uma relação de dependência

quando p nos dá suporte para estimar Psi.

Esse tipo de modelagem utiliza o histórico de detecção obtido por meio de

visitas múltiplas às unidades amostrais para estimar a detectabilidade da espécie foco e

a proporção de sítios ocupados por ela. As estações (seca e úmida) e a estrutura de

habitat predominante nos pontos amostrados (mata e restinga) foram incluídas no

histórico de registros por meio de grupos – Mata Atlântica durante a estação seca,

Restinga durante a estação seca, Mata Atlântica durante a estação úmida e Restinga

durante a estação úmida. O uso de covariáveis de grupo (estação e habitat) nos permitiu

testar o efeito da sazonalidade e do tipo de ambiente, uma vez considerado o

pressuposto de constância no status de ocupação das unidades amostrais dentro dos

intervalos que chamamos de estação. Outra vantagem do uso de grupos é a

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possibilidade de testar o efeito das estações numa modelagem idealizada para uma

estação.

Por meio desta modelagem, partimos da hipótese inicial de que a ocupação de

cada espécie estava sob efeito aditivo das covariáveis de grupo habitat (mata e restinga)

e estação (seca e úmida) e das covariáveis individuais de cada ponto dossel (dos),

serrapilheira (ser), densidade vegetal (dveg) e diâmetro médio das plantas na altura do

solo (mdas). Para a detecção, consideramos apenas a influência aditiva das covariáveis

de grupo (habitat e estação). Portanto, o modelo inicial (global) teve a seguinte

estrutura: Psi(habitat+est+dos+ser+dveg+mdas) p(habitat+est). A partir deste modelo, testamos

hipóteses alternativas (versões mais simples) por meio de restrições das covariáveis

especificadas com o objetivo de verificar qual conjunto de covariáveis teve maior

influência sobre as estimativas de ocupação e detecção. Ainda com relação ao modelo

global, testamos a sobredispersão dos dados (c-hat) por meio de 1000 aleatorizações

(bootstrap) realizadas no programa PRESENCE, como indicado por MacKenzie e

Bailey (2004).

Ranqueamos os modelos criados de acordo com seus respectivos valores de

AICc (Critério de Informação de Akaike ajustado para pequenas amostras), sendo os

menores valores referentes aos modelos candidatos mais bem ajustados aos dados. O

Delta AICc (ΔAICc) é a diferença entre o AICc do modelo que melhor se ajustou aos

dados coletados e os demais, significando uma medida de distância entre os modelos.

Segundo Burnham e Anderson (2002), modelos com ΔAICc menor ou igual a 2 são

semelhantes quanto ao seu ajuste aos dados, sendo incerta a importância relativa destes

para a estimativa dos parâmetros. Um último índice também pertinente à ordenação de

modelos é o peso dos AICc (wi) de cada modelo. O wi é uma medida relativa da

importância de cada modelo em relação ao conjunto total de modelos candidatos.

Para a construção do conjunto final de modelos, realizamos todas as

combinações possíveis das covariáveis sobre os parâmetros do modelo global. Em

seguida, eliminamos os modelos com parâmetros não informativos seguindo

recomendação de Arnold (2010). As estimativas finais foram obtidas por meio da média

dos modelos (model averaging), que consiste em uma média ponderada da estimativa de

cada parâmetro com base no peso de cada modelo (ver Burnham & Anderson, 2002).

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Análise de ocupação condicional (coocorrência)

Ainda no programa MARK, modelamos também a coocorrência das espécies

foco por meio de modelos de ocupação condicional de acordo com Richmond et al.

(2010). Os parâmetros estimados nesse tipo de modelagem são similares aos dos

modelos de ocupação de uma espécie, contudo, a construção do histórico de registros é

um pouco diferente. Nessa modelagem, os registros de ambas as espécies são

considerados em pares por visita, onde a primeira espécie é considerada dominante

(espécie A) e a seguinte é subordinada (espécie B). A ocupação é subdividida para cada

espécie e situação, sendo PsiA a probabilidade de ocupação da espécie A quando apenas

ela está presente, PsiBA a probabilidade de ocupação da espécie B quando a espécie A

também está presente, e PsiBa a probabilidade de ocupação da espécie B quando A está

ausente. O parâmetro de detecção p representa a detectabilidade de cada espécie (pA e

pB) quando elas não estão no mesmo sítio. O parâmetro r representa as probabilidades

de detecção das espécies quando ambas estão presentes no mesmo sítio, onde rA é a

probabilidade de detecção da espécie A quando ambas estão presentes, rBA é a

probabilidade de detecção da espécie B quando ambas estão presentes e A é detectada, e

rBa é a probabilidade de detecção da espécie B quando ambas estão presentes e A não é

detectada.

Modelos de ocupação condicional estimam o Fator de Interação de Espécies

(Species Interaction Factor – SIF), uma razão do quão provável é a coocorrência de

duas espécies em comparação com uma relação de independência entre elas (Richmond,

et al., 2010). Através do valor estimado de SIF, podemos assumir três possíveis

cenários: SIF > 1 indica que existe alguma forma de agregação, como se a presença de

uma espécie facilitasse a presença da outra; SIF < 1 indica que as espécies se evitam por

algum motivo, seja por competição, predação, etc; SIF = 1 indica que as espécies

ocorrem de maneira independente (Richmond, et al., 2010).

Embora esta modelagem assuma a dominância de uma espécie sobre a outra

(Richmond, et al., 2010), não identificamos indícios de dominância entre as espécies

estudadas. Portanto, para atender a essa particularidade da modelagem, assumimos que

a espécie dominante foi aquela com maior ocupação na RPPN Mata Estrela dada pela

modelagem simples (uma espécie) realizada anteriormente. Esta modelagem indicou

maior ocupação de unidades amostrais por C. melanops, sendo assim, usamos o

histórico com C. melanops na posição de espécie dominante e C. cearae como

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subordinada. Não usamos a modelagem de ocupação condicional sugerida por

MacKenzie et al. (2004), que não considera relação de dominância entre as espécies,

devido seu uso limitado para a modelagem de covariáveis individuais dos sítios.

Nossa hipótese inicial foi similar à da modelagem de ocupação estática, ou seja,

a probabilidade de ocupação de ambas espécies depende do efeito aditivo tanto das

covariáveis de grupo quanto individuais. Nessa modelagem condicional usamos apenas

as covariáveis identificadas como as mais relevantes pelos modelos de ocupação

estática, e assumimos que a probabilidade de detecção é influenciada apenas pelo efeito

aditivo das covariáveis de grupo. Desse modo, o modelo inicial foi

PsiA≠PsiBA≠PsiBa(est+habitat+dos+ser+dveg) pA≠pB

(est+habitat) rA≠rBA≠rBa(est+habitat). A partir deste

modelo, apenas igualamos determinados parâmetros de ocupação e detecção com a

intenção de testar hipóteses alternativas de dependência dos mesmos. Portanto, os

modelos gerados a partir da proposta inicial não alteraram a influência das covariáveis

em cada conjunto dos parâmetros de ocupação (Psi) e detecção (p e r). Sendo assim, os

parâmetros Psi sempre foram mantidos sob a influência aditiva de estação, habitat,

dossel, serrapilheira e densidade vegetal e os parâmetros p e r foram mantidos sob a

influência aditiva de estação e habitat. A partir do ranqueamento e seleção dos modelos

gerados testamos se a ocupação e detecção de uma espécie dependem da presença da

outra.

Para a construção do conjunto final de modelos de coocorrência, optamos por

criar modelos a partir de nossas hipóteses biológicas. A modelagem de ocupação

condicional usa mais parâmetros do que a modelagem de ocupação estática, portanto, a

análise de todas as combinações possíveis criaria a possibilidade de serem construídos

modelos sem significado biológico. Neste sentido, testamos determinadas hipóteses em

cada modelo gerado a partir do modelo global. Inicialmente verificamos se a

probabilidade de detecção da espécie B independe da detecção da espécie A quando

ambas ocupam os sítios (rBA=rBa). Em seguida, testamos se a probabilidade de detecção

da espécie A depende da presença da espécie B (pA=rA). Também verificamos se a

probabilidade de detecção de ambas espécies independe da presença ou detecção da

outra, embora diferentes entre si (rBA=rBa=pB e pA=rA). Por fim, testamos o modelo nulo

com probabilidades de detecção iguais entre as espécies, independentemente da

presença de ambas no local (rBA=rBa=pB=pA=rA). Com relação aos parâmetros de

ocupação, testamos se as probabilidades foram iguais entre as espécies com ou sem a

presença de ambas no local (PsiA=PsiBA=PsiBa) e se a probabilidade de ocupação da

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espécie B é a mesma quando a espécie A está presente ou ausente (PsiBA=PsiBa). O

conjunto final de modelos compreendeu a combinação de todas as propostas de

modelagens de detecção e ocupação citadas acima.

RESULTADOS

Ocupação estática (uma espécie e uma estação)

Nos 80 pontos amostrados, registramos a presença de C. melanops em 28 (23 na

mata e 5 na Restinga) e C. cearae em 21 (10 na mata e 11 na Restinga). Em 10 pontos

(8 na mata e 2 na Restinga) registramos a ocorrência mútua das espécies. O teste de

ajuste indicou que o modelo global construído para ambas as espécies não apresentou

sobredispersão dos dados (median c-hat inferior a 1) e por isso mantivemos c-hat = 1. A

partir do modelo global, criamos 256 modelos para cada espécie. Após a exclusão de

modelos com parâmetros não informativos, esse número caiu para 44 (C. melanops) e

25 (C. cearae) modelos. Todavia, considerando apenas os modelos que integraram 95%

dos pesos do AICc (wi), obtivemos 11 modelos para C. melanops e 16 para C. cearae

(Tabelas 1 e 2). As modelagens de ambas espécies tiveram dois modelos com ΔAICc

2.

A importância das covariáveis capazes de afetar a proporção de áreas ocupadas

(Psi) e a detectatbilidade (p) diferiu entre as espécies estudadas (Tabela 3). Para estimar

o parâmetro de ocupação de C. melanops, as covariáveis dossel e estação foram as mais

importantes, sendo que o peso acumulado (Σwi) dos modelos contendo tais covariáveis

foi, respectivamente, 0,97 e 0,89 (Tabela 3). Para a detecção, a covariável habitat foi a

mais importante (Σwi = 0,63). No caso de C. cearae, as covariáveis presentes nos

melhores modelos dossel (Σwi = 0,45), estação (Σwi = 0,40), densidade vegetal (Σwi =

0,31) e serrapilheira (Σwi = 0,29) para o parâmetro de ocupação (Tabelas 2 e 3) e foram

estação (Σwi = 0,52) para o parâmetro de detecção.

Observamos diferentes intensidades do efeito das covariáveis individuais sobre a

ocupação das espécies. A covariável dossel afetou negativamente a ocupação de C.

melanops (β = -34,74) e C. cearae (β = -4,38) (Tabela 4, Figura 7). As covariáveis

densidade vegetal e serrapilheira afetaram positivamente a probabilidade de ocupação

de C. cearae (Tabela 4, Figuras 8 e 9). A probabilidade de detecção de ambas espécies

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sofreu influência positiva de covariáveis distintas: C. melanops foi mais influenciada

pelo habitat, enquanto para C. cearae a estação foi mais importante (Tabela 4).

Através da média dos modelos, verificamos que C. melanops apresentou padrão

de maior probabilidade de ocupação durante a estação seca, com preferência aparente

pela fisionomia de Mata (Tabela 5). De maneira similar, a probabilidade dessa espécie

ser detectada foi maior nos pontos de Mata do que nos de Restinga, em ambas estações

(Tabela 5). C. cearae também apresentou maior probabilidade de ocupação na estação

seca, porém não houve preferência aparente entre habitats (Tabela 5). Embora baixa,

percebemos detectabilidade dessa espécie levemente maior na estação seca, tanto na

Restinga quanto na Mata (Tabela 5).

Tabela 1: Modelos de ocupação para uma espécie (Mackenzie, et al., 2002) aplicados a

Conopophaga melanops em um fragmento florestal do nordeste do Brasil. A

probabilidade de detecção (p) foi estimada a partir da estação (est) e o tipo de vegetação

(habitat), enquanto a probabilidade de ocupação (Psi) considerou também, a abertura

média do dossel (dos), o acúmulo médio da serrapilheira (ser), a densidade vegetal

média (dveg) e o diâmetro médio na altura do solo (mdas). AICc = Critério de

informação de Akaike, ΔAICc = diferença de AICc em relação ao melhor modelo, wi =

peso relativo do modelo, K = número de parâmetros. * Modelo global. ** Modelo

constante. Embora os modelos em destaque tenham wi baixos, foram apresentados para

efeito comparativo com os demais.

Modelo AICc ΔAICc wi K

Psi(est+dos) p(habitat) 284,96 0,00 0,41 5

Psi(est+habitat+dos) p(.) 286,51 1,55 0,19 5

Psi(est+dos) p(est+habitat) 287,11 2,15 0,14 6

Psi(est+habitat+dos) p(est) 288,67 3,71 0,06 6

Psi(dos) p(est+habitat) 289,38 4,41 0,04 5

Psi(dos) p(habitat) 290,16 5,20 0,03 4

Psi(est+dos+ser) p(.) 290,34 5,38 0,03 5

Psi(est+dos) p(.) 290,46 5,49 0,03 4

Psi(habitat+dos) p(est) 291,81 6,84 0,01 5

Psi(est+dos+mdas) p(.) 292,57 7,60 0,01 5

Psi(est+dos) p(est) 292,58 7,62 0,01 5

Psi(est+habitat+dos+ser+mdas+dveg) p(est+habitat)* 293,59 8,63 0,01 10

Psi(.) p(.)** 324,50 39,54 0,00 2

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Tabela 2: Modelos de ocupação para uma espécie (Mackenzie, et al., 2002) aplicados a

Conopophaga cearae em um fragmento florestal do nordeste do Brasil. A probabilidade

de detecção (p) foi estimada a partir da estação (est) e o tipo de vegetação (habitat),

enquanto a probabilidade de ocupação (Psi) considerou, além dessas covariáveis já

citadas, a abertura média do dossel (dos), o acúmulo médio da serrapilheira (ser), a

densidade vegetal média (dveg) e o diâmetro médio na altura do solo (mdas). AICc =

Critério de informação de Akaike, ΔAICc = diferença de AICc em relação ao melhor

modelo, wi = peso relativo do modelo, K = número de parâmetros. * Modelo global. **

Modelo constante. Embora os modelos em destaque tenham wi baixos, foram

apresentados para efeito comparativo com os demais.

Modelo AICc ΔAICc wi K

Psi(dos) p(est) 209,71 0,00 0,24 4

Psi(est+ser+dveg) p(.) 210,50 0,79 0,16 5

Psi(dos+mdas) p(est) 211,82 2,11 0,08 5

Psi(est+dos) p(.) 211,88 2,18 0,08 4

Psi(ser) p(est) 212,40 2,70 0,06 4

Psi(est+ser+mdas+dveg) p(.) 212,67 2,96 0,06 6

Psi(est) p(.) 212,73 3,02 0,05 3

Psi(habitat+dveg) p(est) 213,00 3,30 0,05 5

Psi(dveg) p(est) 213,97 4,26 0,03 4

Psi (.) p(est) 213,98 4,28 0,03 3

Psi(dos) p(.) 214,24 4,53 0,03 3

Psi(est+mdas) p(.) 214,74 5,03 0,02 4

Psi(est) p(habitat) 214,83 5,13 0,02 4

Psi(habitat) p(est) 216,09 6,38 0,01 4

Psi(.) p(est+habitat) 216,09 6,38 0,01 4

Psi(dos+mdas) p(.) 216,33 6,62 0,01 4

Phi(est+habitat+dos+ser+mdas+dveg) p(est+habitat)* 216,54 6,84 0,01 10

Psi(.) p(.)** 217,43 7,72 0,01 2

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Tabela 3: Soma dos pesos dos AICc dos modelos (Σwi) com cada covariável nos

parâmetros de detecção (p) e ocupação (Psi) de duas espécies da família

Conopophagidae em um fragmento florestal do nordeste do Brasil

Parâmetro(Covariável) Σwi

C. melanops C. cearae

p(estação) 0,27 0,52

p(habitat) 0,63 0,04

Psi(estação) 0,89 0,40

Psi(habitat) 0,27 0,07

Psi(dossel) 0,97 0,45

Psi(serrapilheira) 0,04 0,29

Psi(densidade vegetal) 0,01 0,31

Psi(média diâmetro altura do solo) 0,02 0,18

Tabela 4: Estimativa do valor de Beta (β) e respectivos erros padrões (EP) dos

parâmetros mais relevantes na modelagem de ocupação e detecção de duas espécies de

Conopophaga em um fragmento florestal do nordeste brasileiro. Os valores de β são

referentes aos melhores modelos nos quais aparecem as covariáveis.

C. melanops C. cearae

Covariável β EP Covariável β EP

Psi(dos) -34,74 12,92 Psi(dos) -4,38 4,02

Psi(est) 1,60 0,65 Psi(est) 8,31 3,86

p(habitat) 1,63 0,58

Psi(ser) 3,76 2,65

Psi(dveg) 2,26 1,48

p(est) 1,06 0,43

Tabela 5: Estimativas e respectivos erros padrões (EP) dos parâmetros de ocupação

(Psi) e detecção (p) de duas espécies de Conopophaga em um fragmento florestal do

nordeste do Brasil. As estimativas foram obtidas pela média de modelos de ocupação

estática, mostrados nas tabelas 1 e 2.

Parâmetro C. melanops C. cearae

Estimativa EP Estimativa EP

(Psi) Mata Seca 0,32 0,13 0,99 0,15

(Psi) Restinga Seca 0,25 0,14 0,98 0,17

(Psi) Mata Chuva 0,11 0,10 0,68 0,41

(Psi) Restinga Chuva 0,08 0,09 0,68 0,41

(p) Mata Seca 0,43 0,07 0,09 0,03

(p) Restinga Seca 0,23 0,15 0,09 0,03

(p) Mata Chuva 0,42 0,08 0,06 0,03

(p) Restinga Chuva 0,23 0,15 0,06 0,03

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Figura 7: Efeito da abertura de dossel sobre a probabilidade de ocupação de C.

melanops e C. cearae em um fragmento florestal no nordeste do Brasil. Estimativas

feitas a partir da média dos modelos de ocupação para uma espécie (Mackenzie, et al.,

2002). Essa covariável indica quão aberto é o dossel nas unidades amostrais, de modo

que um dossel totalmente fechado é representado por 0.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4 0,45 0,5 0,55

Pro

bab

ilid

ad

e d

e O

cup

açã

o (

Psi

)

Abertura de dossel

Conopophaga melanops

Psi (Mata Seca)

Psi (Restinga Seca)

Psi (Mata Chuva)

Psi (Restinga Chuva)

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4 0,45 0,5 0,55

Pro

bab

ilid

ad

e d

e ocu

paçã

o (

Psi

)

Abertura de dossel

Conopophaga cearae

Psi (Mata Seca)

Psi (Restinga Seca)

Psi (Mata Chuva)

Psi (Restinga Chuva)

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Figura 8: Efeito do acúmulo de serrapilheira sobre a probabilidade de ocupação de C.

cearae em um fragmento florestal no nordeste do Brasil. Estimativas feitas a partir da

média dos modelos de ocupação para uma espécie (Mackenzie, et al., 2002). Essa

covariável é uma medida do volume de serrapilheira acumulada durante as estações seca

e úmida e em ambos habitats.

Figura 9: Efeito da densidade vegetal sobre a probabilidade de ocupação de C. cearae

em um fragmento florestal no nordeste do Brasil. Estimativas feitas a partir da média

dos modelos de ocupação para uma espécie (Mackenzie; et al., 2002). Essa covariável é

uma contagem dos espécimes vegetais lenhosos em uma área com raio de 5 metros.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Pro

bab

ilid

ad

e d

e ocu

paçã

o (

Psi

)

Acúmulo de serrapilheira (cm)

Psi (Mata Seca)

Psi (Restinga Seca)

Psi (Mata Chuva)

Psi (Restinga Chuva)

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300 325

Pro

bab

ilid

ad

e d

e ocu

paçã

o (

Psi

)

Densidade vegetal

Psi (Mata Seca)

Psi (Restinga Seca)

Psi (Mata Chuva)

Psi (Restinga Chuva)

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Ocupação condicional ou coocorrência

Com base nos modelos construídos para o teste das hipóteses predefinidas sobre

a coocorrência das espécies, encontramos três modelos bem ajustados (ΔAICc < 2, Σwi

= 0,72, Tabela 6). O melhor modelo (wi = 0,36) considerou PsiA=PsiBA=PsiBa (Tabela

6). Isto significa que a probabilidade de ocupação da espécie A (C. melanops) foi igual

a probabilidade de ocupação da espécie B (C. cearae), estando A presente ou ausente.

Em outras palavras, as probabilidades de ocupação das duas espécies foram iguais e a

presença de C. melanops não interferiu na probabilidade de ocupação de C. cearae. Esse

melhor modelo também considerou que as probabilidades de detecção foram diferentes

entre as espécies (pA≠pB e rA≠rBA=rBa) e também que não existe dependência entre elas

com relação à detecção (pA=rA e pB=rBA=rBa). Isto é, C. melanops apresentou detecções

iguais nas situações com (rA) e sem (pA) a presença de C. cearae. Além disso, C. cearae

também não apresentou detecções diferentes em função de C. melanops (pB=rBA=rBa). O

segundo modelo (wi = 0,19, Tabela 6) repete as inferências relativas à detecção feitas

pelo primeiro modelo, mas difere deste ao sugerir que a probabilidade de ocupação

varia entre espécies (PsiA≠PsiBA=PsiBa), mas ainda sem a influência de C. melanops (A)

sobre C. cearae (B), pois PsiBA foi igual a PsiBa. Por fim, o terceiro modelo (wi = 0,17,

Tabela 6) mantém a igualdade entre as probabilidades de ocupação (PsiA=PsiBA=PsiBa),

porém sugere que a detectabilidade dessas espécies difere de acordo com a presença de

sua congênere (pA≠rA e pB≠rBA=rBa). O Fator de Interação de Espécies (SIF)

considerando a média entre os modelos (model averaging) indicou ausência de

dominância ou qualquer interação direta entre as espécies tanto na Mata como na

Restinga em ambas estações (SIF entre 0,99 e 1,00).

A soma do wi dos modelos que consideram nula a influência de C. melanops

(espécie A) sobre a detecção de C. cearae (espécie B) (pB=rBA=rBa) foi Σwi = 0,62,

enquanto os modelos opostos (pB≠rBA≠rBa) apresentaram Σwi = 0,17 (Tabela 6).

Outrossim, os modelos assumindo ausência de interferência de C. cearae (B) sobre a

detecção de C. melanops (A) (pA=rA) apresentaram Σwi = 0,71 e a soma do peso dos

modelos que indicam interação entre as espécies (pA≠rA) foi Σwi = 0,28 (Tabela 6). A

diferença do Σwi entre modelos com e sem a interação entre espécies foi mais

expressiva com relação ao parâmetro de ocupação. Modelos que apresentaram

PsiBA=PsiBa e, portanto, assumiram ausência de interferência de C. melanops (A) sobre a

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ocupação de C. cearae (B) somaram Σwi = 0,92, já os modelos que consideram a

interação (PsiBA≠PsiBa) tiveram Σwi = 0,08 (Tabela 6).

A ausência de interação entre as espécies também pôde ser conferida a partir das

estimativas dos parâmetros por meio da média dos modelos. A detectabilidade de C.

cearae (espécie B) se mostrou independente da presença e detecção de C. melanops

(espécie A), com as estimativas de pB, rBA e rBa muito próximas nos mesmos hábitats e

estações (Tabela 7). Do mesmo modo, verificamos que a detectabilidade de C.

melanops (A) foi independente da presença de C. cearae (B) uma vez que as estimativas

dos parâmetros pA e rA também foram muito próximas (Tabela 7). As poucas diferenças

detectadas indicam apenas que houve maior probabilidade de detectar C. melanops nos

pontos de Mata, especialmente durante a estação seca (Tabela 7). Além disso, C. cearae

foi mais detectada durante a estação seca, com pouca diferença entre habitats (Tabela

7). A probabilidade de ocupação de C. cearae não foi condicional à presença de C.

melanops, visto que os valores de PsiBA e PsiBa foram bastante similares em um mesmo

habitat e estação (Tabela 7). Além disso, ficou claro que a proporção de áreas ocupadas

por essa espécie é maior na região de Restinga, principalmente no período seco (Tabela

7). Quanto à C. melanops, identificamos também maior probabilidade de ocupação em

áreas de Restinga, bem como maior proporção de áreas ocupadas durante a estação seca

(Tabela 7). Em suma, o modelo médio mostrou que esses parâmetros são

incondicionais. Observamos, pois, que não existiu relação de dependência nem

dominância entre essas espécies.

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Tabela 6: Modelos de ocupação condicional (Richmond, et al., 2010) usados para

investigar o padrão de coocorrência de C. melanops (dominante) e C. cearae

(subordinada) em um fragmento florestal do nordeste do Brasil. Em todos os modelos

os parâmetros de ocupação (Psi) foram estimados sob influência das covariáveis

mais relevantes de acordo com a modelagem de ocupação para uma espécie

(Tabelas 1 e 2) (estação+habitat+dossel+serrapilheira+densidade vegetal),

enquanto que os parâmetros de detecção (p e r) foram estimados sob influência dos

grupos (estação+habitat). * Modelo global. (.) indica que os parâmetros são constantes

e os efeitos das covariáveis são nulos. AICc = Critério de informação de Akaike, ΔAICc

= diferença de AICc em relação ao melhor modelo, wi = peso relativo do modelo, K =

número de parâmetros.

Modelo AICc ΔAICc wi K

PsiA=PsiBA=PsiBa pA=rA pB=rBA=rBa 501,33 0,00 0,36 12

PsiA,PsiBA=PsiBa pA=rA pB=rBA=rBa 502,61 1,28 0,19 18

PsiA=PsiBA=PsiBa pA,rA pB,rBA=rBa 502,80 1,47 0,17 14

PsiA,PsiBA,PsiBa pA=rA pB=rBA=rBa 504,46 3,13 0,07 19

PsiA=PsiBA=PsiBa pA,rA pB,rBA,rBa 504,76 3,43 0,06 15

PsiA=PsiBA=PsiBa pA=rA pB,rBA,rBa 505,16 3,83 0,05 14

PsiA,PsiBA=PsiBa pA,rA pB,rBA=rBa 506,29 4,96 0,03 20

PsiA,PsiBA=PsiBa pA=rA pB,rBA,rBa 506,58 5,26 0,03 20

PsiA,PsiBA=PsiBa pA,rA pB,rBA,rBa 507,23 5,90 0,02 21

PsiA,PsiBA,PsiBa pA=rA pB,rBA,rBa 509,80 8,48 0,01 21

PsiA,PsiBA,PsiBa pA,rA pB,rBA=rBa 510,04 8,72 0,00 21

PsiA,PsiBA,PsiBa pA,rA pB,rBA,rBa * 511,28 9,95 0,00 22

PsiA,PsiBA=PsiBa pA=rA=pB=rBA=rBa 513,53 12,21 0,00 15

PsiA,PsiBA,PsiBa pA=rA=pB=rBA=rBa 515,92 14,59 0,00 16

PsiA=PsiBA=PsiBa pA=rA=pB=rBA=rBa 523,32 22,00 0,00 9

PsiA,PsiBA=PsiBa(.) p

A=rA(.) pB=rBA=rBa

(.) 542,03 40,70 0,00 4

PsiA,PsiBA,PsiBa(.) p

A, rA(.) pB,rBA,rBa

(.) 547,05 45,72 0,00 8

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Tabela 7: Estimativa e respectivo erro padrão (EP) dos parâmetros de ocupação (Psi) e

detecção (p e r) de C. melanops (A) e C. cearae (B) em um fragmento florestal do

nordeste do Brasil. As estimativas foram obtidas pela média de modelos de ocupação

condicional mostrados na Tabela 6.

Parâmetr

o

Estação seca Estação úmida

Mata Restinga Mata Restinga

Estimativ

a EP

Estimativ

a EP

Estimativ

a EP

Estimativ

a EP

PsiA 0,29 0,14 0,73 0,38 0,07 0,08 0,66 0,45

PsiBA 0,52 0,37 1,00 0,01 0,39 0,45 0,98 0,09

PsiBa 0,52 0,37 1,00 0,01 0,39 0,45 0,99 0,04

pA 0,34 0,21 0,08 0,11 0,30 0,19 0,07 0,11

pB 0,14 0,08 0,16 0,11 0,06 0,04 0,06 0,05

rA 0,45 0,09 0,10 0,10 0,39 0,10 0,08 0,10

rBA 0,11 0,04 0,12 0,05 0,04 0,03 0,05 0,02

rBa 0,11 0,04 0,13 0,05 0,04 0,03 0,05 0,02

PsiA: probabilidade de ocupação da espécie A quando apenas ela está presente; PsiBA:

probabilidade de ocupação da espécie B quando a espécie A também está presente;

PsiBa: probabilidade de ocupação da espécie B quando A está ausente; pA: probabilidade

de detecção da espécie A quando apenas ela está presente; pB: probabilidade de

detecção da espécie B quando apenas ela está presente; rA: probabilidade de ocupação

da espécie A quando ambas espécies estão presentes; rBA: probabilidade de detecção da

espécie B quando ambas espécie estão presente e A é detectada; rBa: probabilidade de

detecção da espécie B quando ambas espécies estão presentes e A não é detectada.

DISCUSSÃO

A covariável de grupo estação foi a mais relevante para entendermos o padrão

de ocupação tanto de C. melanops quanto de C. cearae (∑wi = 0,87 e 0,40,

respectivamente), mostrando que o efeito da sazonalidade sobre a escolha de áreas por

essas espécies foi maior do que o tipo de habitat (Tabela 3). Nossos resultados

apontaram um efeito positivo da estação seca no parâmetro de ocupação dessas

espécies, independente do habitat (Tabela 4). Dessa maneira, podemos inferir que C.

melanops e C. cearae ocupam mais áreas durante a estação seca, equivalente ao período

com menor disponibilidade de recursos (Pinheiro, et al., 2002; Anu, et al., 2009),

similar ao encontrado por Enoksson e Nilsson (1983) em um estudo sobre o tamanho do

território e a densidade populacional da espécie Sitta europaea. Os pesquisadores

descobriram que essas aves defendem territórios maiores quando a disponibilidade de

recurso alimentar é menor. Em casos de secas atípicas, com duração ou severidade

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28

maiores do que o comum, provavelmente observaremos uma expansão das áreas

ocupadas por essa espécie.

Dentre as covariáveis individuais, que se referem às características estruturais de

cada sítio amostrado, a abertura de dossel (dos) se mostrou a mais relevante para a

presença de C. melanops e C. cearae. A ocupação de ambas as espécies foi maior nos

sítios com dossel mais fechado, independente de estação ou ambiente (Tabela 3).

Segundo consta na literatura, espécies do gênero Conopophaga têm preferência pelas

partes mais escuras dos ambientes onde ocorrem (Sick, 1997; Del Hoyo, et al., 2014),

portanto faz sentido que ocupem mais pontos com menor abertura de dossel, vide

influência negativa da covariável dossel para a estimativa do parâmetro de ocupação de

ambas espécies (Tabela 4). Constatamos que a diferença entre o efeito das covariáveis

individuais foi bem mais atenuada no caso de C. cearae (Tabela 3). Por esse motivo,

podemos assumir que as características estruturais elencadas são um fator menos

restritivo para essa espécie do que para C. melanops. Ademais, a quantidade de

covariáveis individuais relevantes para C. cearae foi maior: dossel, densidade vegetal e

serrapilheira (Tabela 3). Essa espécie prefere, além de regiões mais escuras, áreas mais

densas (Sick, 1997; Sigrist, 2013; Del Hoyo, et al., 2014), o que justifica as duas

primeiras covariáveis individuais. Portanto, C. cearae ocupa mais áreas onde há menor

abertura de dossel (dos) e maior densidade vegetal (dveg) (Tabela 4). Constatamos

ainda um efeito positivo do acúmulo de serrapilheira (ser) na probabilidade de ocupação

dessa espécie (Tabela 4, Figura 8). Segundo a literatura, ela nidifica (utiliza material do

substrato para a construção do ninho) e forrageia no chão (Sick, 1997; Sigrist, 2013; Del

Hoyo, et al., 2014). Logo, sítios que oferecem maior disponibilidade desses recursos

apresentam maior probabilidade de serem ocupados por C. cearae.

Corroborando com nossa hipótese de que as espécies têm preferências

ambientais distintas, os modelos de ocupação estática apontaram que a ocupação de C.

melanops foi maior nos pontos identificados como Mata Atlântica do que na Restinga

(Tabela 5). Podemos assumir, portanto, que C. melanops tem maior afinidade com áreas

estruturalmente típicas de Mata Atlântica. Ademais, essa espécie foi registrada em

maior número de pontos durante a estação seca, nos dois habitats (Tabela 5). Nossa

segunda hipótese inferia que a sazonalidade exerce influência direta sobre a ocupação

dessas espécies e também foi corroborada. Verificamos que ambas as espécies têm

ocupação maior em condições de menor disponibilidade de recursos, durante a estação

seca (Tabela 5). De acordo com Amorim et al. (2009), a pluviosidade está relacionada à

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biomassa de artrópodes, portanto é possível afirmar que há menor disponibilidade de

recursos em períodos secos. Padrão similar ao de estudos como o de Marshall e Cooper

(2004), que observaram Vireo olivaceus (juruviara-boreal) utilizando áreas menores

quando a disponibilidade de recursos era maior. De maneira similar, Schoepf et al.

(2015), observaram uma redução de mais de 40% do território defendido por fêmeas de

Rhabdomys pumilio (rato-listrado-africano) quando lhes era fornecido recurso

alimentar.

Em contrapartida, observamos um padrão diferente para C. cearae, a qual

ocupou de maneira semelhante os dois habitats e não exibiu preferência pelos pontos de

Restinga, o que era esperado em função do que se conhece na literatura sobre as

preferências ambientais da espécie (Sick, 1997; Del Hoyo, et al., 2014). Todavia, a área

ocupada durante a estação seca foi maior (Tabela 5), confirmando a hipótese de maior

ocupação quando os recursos estão mais escassos. Trata-se de uma espécie mais difícil

de ser encontrada na área de estudo, aparentemente a proporção de unidades amostrais

em que C. cearae ocorre é alta tanto na Mata Atlântica quanto na Restinga, mas sua

inconspicuidade dificulta sua detecção (a detecção desta espécie foi sensivelmente mais

baixa). Por esse motivo, as estimativas de ocupação podem ter ficado comprometidas,

visto que a não detecção não exclui a possibilidade de ocupação naquela área. Na

verdade, a alta probabilidade de ocupação pode ser resultado do viés gerado pela

ausência de registros em vários pontos. Cabe ressaltar que o parâmetro de ocupação não

é uma medida de densidade (MacKenzie, 2006), o fato de C. cearae ocupar mais sítios

não significa que ela é mais abundante do que C. melanops na área, implica apenas que

ela tem menos restrições de uso dos diferentes habitats. Atrelado a isso, a influência de

um maior número de covariáveis ambientais (Tabela 4) indica que essa espécie dispõe

de maior plasticidade de nicho do que sua congênere.

A estimativa de detectabilidade da modelagem de ocupação condicional resultou

padrões coincidentes com os resultados dos modelos de ocupação estática (Tabelas 5 e

7). Em ambas, C. melanops apresentou maior probabilidade de ser detectada nos pontos

de Mata Atlântica, em especial durante a estação seca. Por sua vez, C. cearae foi mais

detectada na estação seca, independente do habitat. A modelagem de ocupação

condicional apontou três hipóteses alterativas para explicar o padrão de registros

encontrado. De modo geral, essas hipóteses nos indicam que não existiu relação de

dependência entre as espécies, a presença de uma não interferiu na ocupação ou

detecção da outra. O fato do peso acumulado dos modelos (Σwi) que assumem ausência

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de interação entre as espécies ser maior do que a dos modelos que consideram as

interações importantes (Tabela 6) também respalda esse argumento. Observamos, pois,

o que Richmond et al. (2010) chamam de relações incondicionais de ocupação e

detecção, ou seja, a presença de uma espécie não interfere nos padrões de ocupação e

detecção de outra. Além disso, o valor de SIF ~ 1 indica que as espécies em questão não

estão se evitando, tampouco se agregando, elas apenas coocorrem. Concordamos com

Estevo et al. (2017), quando eles sugerem que a partição de nicho atua como um

importante mecanismo que possibilita a coexistência de espécies aparentadas quando

interações diretas não são relevantes. Portanto, nossos resultados indicam que, nesse

contexto, as características do ambiente são mais importantes para a presença dessas

espécies do que as interações diretas entre elas. Desse modo enfatizamos a importância

de incorporar variáveis explanatórias (covariáveis, no caso) em modelos teóricos,

principalmente para averiguar padrões de coocorrência de espécies (Steen, et al., 2014).

Fatores como a competição atenuada por diferenças comportamentais, diferença

de preferências por um tipo de habitat e tendência à territorialidade podem exercer

efeito regulador mais forte em uma espécie do que nas demais. Quando isso acontece,

tornam possível a coexistência (MacArthur, 1958). A partir desse raciocínio, nosso

estudo indica que características do habitat podem ter relevância maior do que

interações interespecíficas diretas na explicação dos padrões de coocorrência de

algumas espécies. O presente estudo foi realizado com duas espécies de aves

congêneres, mas a literatura dispões de outros estudos que também investigaram

espécies aparentadas e simpátricas de outros grupos, incluindo cobras (Steen, et al.,

2014), salamandras (MacKenzie, et al., 2004), pequenos carnívoros (Nagy-Reis, et al.,

2017) e aves de chão (Estevo, et al., 2017).

Evidências empíricas coletadas para efetivamente testar se espécies coocorrem

sob algum mecanismo são muito escassas (Siepielski & McPeek, 2010). Acreditamos

que nossos resultados sirvam também para instigar estudos parecidos e assim preencher

essa lacuna de conhecimento. Quando focamos em preferências de habitat e padrões de

coocorrência de maneira simultânea, conseguimos definir os efeitos do habitat e

melhorar as inferências sobre a interação de espécies, evitando o viés da detecção

imperfeita, graças aos modelos de ocupação. Portanto, nosso estudo serve como

incentivo para o uso de novas metodologias em atividades de conservação, com o

intuito de aumentar a eficácia das mesmas e talvez reduzir demandas de esforço, tempo

e recursos.

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Assim como no trabalho de Estevo et al. (2017), os padrões de ocupação dessas

espécies estão associados a diferentes preferências de habitat e também ao efeito da

sazonalidade sobre as mesmas. Embora tenham demandas ecológicas similares, essas

espécies demonstram potencial coexistência (SIF ~ 1). Acreditamos que as diferentes

restrições ambientais sejam uma razão mais relevante para a coexistência dessas

espécies do que as interações diretas entre elas. É importante enfatizar a importância da

plasticidade de nicho de C. cearae para a coocorrência dessas espécies. A competição

por um recurso é atenuada quando um competidor passa a explorar outros recursos

(Schoener, 2009; Toft, 1985) - a potencial competição com C. melanops é menos

provável quando C cearae prefere pontos com maior densidade vegetal e acúmulo de

serrapilheira, ao invés de pontos com dossel mais fechado, apenas. Constatamos

também que essas duas espécies são difíceis de serem detectadas, o que pode ser um

viés significativo em estudos de levantamento de espécies, inclusive pode ser também o

motivo para a inserção de ambas em categorias de ameaça na lista nacional de espécies

ameaçadas (Portaria MMA 444/2014).

Dada a importância das características estruturais do ambiente (especialmente a

abertura de dossel e a densidade vegetal) na ocupação das espécies foco desse estudo,

impactos como a fragmentação de habitat, corte seletivo de madeira e queimadas

merecem atenção especial. Além desses impactos, a contaminação por resíduos

(descarte indevido de lixo) e caça foram frequentemente registrados durante nossas

amostragens. A própria fragmentação de habitats, ao reduzir a oferta de recursos, força a

competição entre espécies e acelera ainda mais potenciais processos de exclusão

competitiva. Diante dessa perspectiva, estratégias para garantir a permanência e

perpetuação dessas e de outras espécies tornam-se mais onerosas e laboriosas. Nosso

estudo indicou, porém, que características do ambiente podem assumir um papel tão

importante quanto interações ecológicas diretas nos padrões de coocorrência de

espécies. O tipo de modelagem usada aqui pode, inclusive, aprimorar estratégias de

manejo de espécies ameaçadas. Por fim, estudos que buscam identificar preferências

ambientais, além de padrões de interação entre espécies deveriam ser mais difundidos e

incentivados.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço ao Grupo Farias por me permitir o acesso à RPPN Mata

Estrela para que eu pudesse realizar minhas amostragens; e a CAPES por fomentar todo

o meu processo de mestrado. Agradeço também a todos que compõem o Departamento

de Ecologia da UFRN, professores e colegas, pelas trocas de saberes e construção do

conhecimento.

Sou especialmente grato a minha família que sempre me apoiou e incentivou a

resistir e superar os desafios que surgiram durante esses dois anos de mestrado. Estendo

tal gratidão aos amigos (principalmente os membros do Laboratório de Ornitologia da

UFRN) que também foram essenciais na superação dos meus desafios. A Mauro, meu

orientador e grande amigo, direciono o mais sincero “obrigado”, por ser um exemplo de

que vale a pena investir na vida acadêmica.

Agradeço a Cláudia, minha psicóloga, por ter me ajudado tantas vezes a

organizar meus pensamentos e ideias. Sem sua ajuda eu ainda pensaria que se preocupar

com saúde mental é “frescura”.

Por último expresso minha gratidão a toda a ornitofauna da RPPN Mata Estrela,

que precisou conviver comigo durante esse período e ajudou a amadurecer tanto pessoal

quanto cientificamente.

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