Informação IERGS | Educação 2016/1

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O conhecimento está no corpo "Aprendizagem multidimensional: para a Psicopedagogia, aprender ultrapassa os limites do corpo"

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EXPEDIENTE

Revista Informação Educação IERGS – Instituto Educacional do

Rio Grande do Sul

Diretoria Geral: Saul HoegenDiretoria de Pós-Graduação: Silvana Hoegen

Jornalista: Jonas Amar (MTB/RS 14.065)Arte: Alice Fogliatto

Marketing: Danielle Siqueira

[email protected]

Editorial Um salto de desenvolvimento foi dado na última década no campo da educação. Trata-se de um indício claro que o setor vem se modificando, ramifican-do-se e atraindo profissionais oriundos de diversas áreas do conhecimento. Afinal, educadores já não atuam apenas em escolas. Eles potencializam empresas, ONGs e projetos sociais, o que exige uma formação mais refinada e específica.

Tal conjuntura expõe um cenário compatível com o setor: existem carên-cias na educação. Este é o olhar interdisciplinar da edição 2016 da revista Informa-ção Educação, do IERGS. Um olhar de dentro para fora e de fora para dentro, onde os paradigmas da educação mostram novas maneiras de educar e educar-se. Um olhar que desvenda, vigia e deseja o melhor a professores e estudantes.

O mercado é formador de demandas importantes na sociedade, mas ele não é a única dimensão a ser levada em conta. A educação tem outro papel e outra função social. O processo de aprender se constitui em uma atitude de busca, de construção científica e de crítica ao conhecimento que é produzido. Ao professor, nesse mercado, também cabe ser aluno, comunicador, assessor, empreendedor e vigilante, mas acima de tudo, um educador.

Boa leitura.

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ENTREVISTA

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A Educação a Distância está fora dos padrões tradicionais de ensino, o que reforça o desenvolvimento de um sujeito mais autônomo na buscapor conteúdos.

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Gabriel Baldo Batista é Mestre em Educação com ênfase em Estudos Culturais, co-ordenador do polo de apoio presencial IERGS Porto Alegre, da UNIASSELVI EAD – Centro Universitário Leonardo da Vinci. O professor está à frente de mais de 10 mil estudantes universitários e atua no desenvolvimento de estratégias para um processo de ensino-aprendizagem diferenciado entre professor-tutor e estudantes da modalidade a distância.

IERGS - A Educação a Distância é um desafio maior aos estudantes?

Gabriel B. Batista - A educação por si só é um desafio, seja presencial ou a distância. E propor novas perspectivas e abordagens na relação entre sujeito e aprendizado também é um desafio constante e um predicado a todos que atuam com educação. Aprender é um processo dialógico por natureza e ne-nhum conhecimento faz sentido por si sem diálogo. Penso que o que se altera na EAD são as formas de realizar esses diálogos. O tempo e o espaço envolvi-dos no processo de aprendizagem po-dem ser flexibilizados, mas isso não al-tera as formas fundamentais de como o aprender se desenvolve.

O estudante é sujeito da sua própria aprendizagem na metodologia EAD?

G.B. - Costumamos pensar na EAD como uma modalidade que altera as relações entre sujeito e aprendizagem. Estudan-tes tendem a ser mais ativos com os conteúdos, sem esperar passivamente a mediação do professor-tutor. Contu-do, a presença do mediador é essencial e é o diferencial do nosso modelo. Con-sidero, sim, o estudante um sujeito que estabelece diferentes vínculos com o conhecimento, relações novas e ativas e, sob determinados aspectos, que de-senvolve habilidades de autonomia.

Há mais autossuficiência em aprender no EAD?

G.B. - A Educação a Dis-tância está fora dos pa-drões tradicionais de ensino, o que reforça o desenvolvimento de um sujeito mais autônomo na busca por conteúdos. Mas o processo de apren-dizagem não se restringe apenas à leitura. A me-diação do professor se faz necessária, tanto pre-sencial ou virtualmente, transformando essas leituras em significados, em aprendizado útil para o indivíduo e para a so-ciedade.

Estudos EAD, com aula presencial uma vez por semana, destacam-se nesse processo?

G.B. - O modelo com encontro presencial semanal mediado pelo professor-tutor proporciona as condições para o debate, a discussão e os diálogos. São momentos em que os conteúdos fazem sentido e se estabelecem com as práticas sociais que envolvem o uso desses conhecimentos. Os modelos de ensino que mesclam ambien-tes virtuais com atividades presenciais e em grupo proporcionam novas perspecti-vas educativas, elevam as formas tradicio-nais de ensino presencial e incentivam as possibilidades do EAD em suas questões de mobilidade e gestão do tempo.

Estudar uma disciplina por vez causa im-pactos no aprendizado geral?

G.B. - Com certeza. Entre as dificuldades de educadores contemporâneos está a re-alização efetiva de exercícios interdiscipli-nares, pois o estudo compartimentalizado de certos conteúdos torna o desafio maior.

Devemos, primeiramente, pensar os cur-rículos como unidades de aprendizado, in-terligados em suas disciplinas e conteúdos. Algumas ferramentas vêm sendo criadas no sentido de abordagens diferenciadas na Graduação UNIASSELVI, como o Seminá-rio Interdisciplinar, onde os conteúdos das disciplinas devem ser trabalhados de forma conjunta para a análise de determinado problema de pesquisa. Trata-se de um pri-meiro passo, mas é uma tentativa significa-tiva para uma interdisciplinaridade efetiva.

Estudantes advindos do EAD encontram um cenário social diferenciado?

G.B. - O ótimo desempenho dos estudantes das modalidades EAD tem refletido nas ava-liações nacionais como o ENADE, em provas de seleção de concursos públicos e com im-pactos positivos no mercado de trabalho. O aluno de EAD é, na maioria dos casos, um sujeito que lida melhor com a gestão do tempo e com a necessidade de comporta-mentos autônomos na gestão e na solução de problemas. Estas características vêm sendo reconhecidas pela sociedade de ma-neira crescente e se tornando diferenciais para alunos graduados e pósgraduados na modalidade a distância.

A quê se atribui o sucesso da modalidade EAD?

G.B. - O sucesso do EAD pode ser considera-do um processo global, principalmente por proporcionar uma flexibilização na gestão do tempo e dos espaços. Hoje no Rio Grande do Sul temos o maior polo de graduação em

EAD do Brasil, como re-flexo das transformações que vêm ocorrendo em todo o País. O diferencial da modalidade é a entre-ga de todos os aspectos que envolvem o projeto de EAD, desde a seleção dos docentes até a or-ganização sistêmica das atividades que envolvem logística, treinamento, capacitação, estrutura física, localização e, prin-cipalmente, uma equipe especializada em ajudar a desenvolver a Educa-ção Superior.

Coordenador Gabriel Baldo Batista, no polo IERGS

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muito tempo, a educação se preocupou com uma mente desconectada de um corpo vivo. Assim, de maneira empre-endedora, a Psicopedagogia defende uma aprendizagem múltipla, que pas-sa também pela educação através do corpo. “Os problemas de aprendizagem são multicausais, mas a aprendizagem é multidimensional e o conhecimento está no corpo, na interação”, reforça a doutora e membro da Associação Bra-sileira de Psicopedagogia – Seção Rio Grande do Sul (ABPp-RS).

Nas cavernas da Serra da Capivara (no Piauí) é possível obser-var desenhos rupestres, ainda cedo no período da pré-história, com cenas de pessoas em roda, saltando e se comu-nicando com o corpo. É como se nossos antepassados tentassem reproduzir os sentimentos de uma boa caça ou o medo provocado por um predador.

Até hoje, nas mais diversas maneiras possíveis, o corpo recria a função de ensinar. “Se perguntarmos a uma criança qual a melhor hora na escola, ela provavelmente dirá que é a hora do recreio. É nesse momento que ela corre, brinca, se movimenta e cria sua própria história. E tudo isso é aprender”, defende a doutora em Psico-pedagogia Neusa Hickel.

Desde o princípio, a aprendi-zagem passa pelo corpo. Da motrici-dade fetal à maturidade plena. E, por

O conhecimentoestá no corpo

Aprendizagem Multidimensional: para a Psicopedagogia,aprender ultrapassa os limites do cérebro

Do ponto de vista social, o corpo nos permite criar formas de in-tegração e expressão individual e co-letiva. É através dele que criamos arte, pintura, dança, música, fotografi a e ou-tras incríveis formas de manifestação. E na educação, trabalhar com aptidões é também movimentar conhecimento. “A Educação Física é a disciplina mais interdisciplinar do currículo. É através dela que o professor pode desenvolver conteúdos de História, Biologia, Quí-mica, Artes, Filosofi a e o que mais for interessante. É uma matéria que une o técnico ao lúdico e realmente cativa o aluno”, pondera Tracy Freitas, professo-ra-tutora dos cursos de Educação Física no IERGS/UNIASSELVI.

O corpo acumula experiências, adquire novas agilidades, automatiza movimentos e gera programações ori-ginais ou culturais de comportamento.

A aprendizagem é multidimensional e o conhecimento está no corpo, na interação

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Nesse sentido, a ludicidade encontra espaço no imaginário e na construção do conhecimento da criança. “A palavra mágica é brincar, pois constitui ao mes-mo tempo a subjetividade e a objetivi-dade do aprender e ensinar”, reforça a psicopedagoga Hickel.

Para a professora Tracy, o ser humano é um ser corporal e, através do corpo, ele recebe, transmite e se comunica da forma mais natural possí-vel. Jogos e brincadeiras estão entre as atividades relacionadas ao desenvolvi-mento infantil, que têm signifi cado bem mais amplo, pois representam uma for-ma única para a criança expressar seus

A palavra mágica é brincar, pois constitui ao mesmo tempo a subjetividade e a objetividadedo aprender e ensinar

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sentimentos, percepções e avaliações de si e do seu meio. “Através do corpo podemos desenvolver e absorver diver-sos conhecimentos. A pessoa que tem o conhecimento corporal se expressa melhor e se desenvolve cognitivamente com mais facilidade”, aconselha.

É preciso superar o paradig-ma da educação unilateral para aderir a uma integral, múltipla. Trata-se de uma necessidade social e humana, que enfa-tiza o respeito à diferença e à cultura. Assim, educa-se com o que é mais hu-mano no humano: o corpo.

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Quando se aprende a voltar para a Terra quase tudo fica sob controle. Isso não me atrapalha. De vez em quando acontece e acontece do nada. Eu me sinto feliz. Isso ocorre porque se tem a imaginação fértil. É comum em pessoas que têm influência na arte, por exemplo, em alguém que gosta de ler, desenhar e es-crever. Isso influencia muito nas minhas viagens para a Lua.

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ATENÇÃOÉ preciso ouvir e escutar oprocesso de aprendizagem

A descrição que a estudante Bruna Hein de Oliveira, de 16 anos, fez do que vive no primeiro ano do Ensino Médio é parte da realidade das salas de aula. E ela não está sozinha nas suas “viagens”, provando que as paredes há muito já não são obstáculos à mente.

Ana Paula Teixeira concorda com a Bruna. Ela é estudante de Peda-gogia na Graduação IERGS/UNIASSEL-VI, e professora da rede estadual há 10 anos. Na Escola E.E.M. Roque Gonzáles, em Porto Alegre, Ana percebe que a atenção dos alunos é matéria rara e frá-gil por uma questão também tecnoló-gica. “Alunos vivem em um mundo glo-balizado, onde tecnologia e informação

estão presentes. São alunos questiona-dores, dinâmicos, que precisam encon-trar na escola um ambiente desafi ador e criativo, caso contrário, o desinteresse é grande e a atenção é limitada. Isso in-terfere no comportamento em sala de aula. Devemos utilizar tecnologia, mas a favor da aprendizagem, proporcionan-do momentos importantes na constru-ção do conhecimento e incentivando a pesquisa”, comenta Ana.

Esses efeitos envolvem-se mais com o fenômeno da “audição sele-tiva”, que funciona bem quando se fala algo que é do interesse, mas que fun-ciona mal quando dizem algo que não se quer fazer. Na verdade, ouvir não é

o mesmo que escutar. Ouvir refere-se aos sentidos da audição e como eles infl uenciam no processo de aprendi-zagem. Escutar, por outro lado, requer mais que ouvir, é prestar atenção e en-tender.

Evidentemente, a ausência de uma dessas percepções em qualquer grau pode causar desvios no processo de aprendizagem se não acompanha-da de maneira clínica e pedagógica. Para a fonoaudióloga e psicopedagoga Alessandra Engler, esses panoramas demandam atenção ainda cedo, duran-te a infância, já que tendem a desen-cadear outras condições de bloqueio elevado no futuro. “Os problemas de

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Bruna

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fala são os primeiros que aparecem e podem aumentar de tal forma que se transpõem para a escrita e perpassam a discalculia [difi culdades de cálculo], dislexia [difi culdades de leitura], disgra-fi a [difi culdades com a linguagem escri-ta] e a disortografi a [difi culdades com a grafi a], por exem-plo. É preciso um olhar mais apurado para que as difi cul-dades de trocas não se agravem e virem distúrbios”, diz a es-pecialista.

A mes-tra em educação e pedagoga Cris-tina Cavalcanti aponta para outro coefi ciente deter-minante na perda de atenção dos estudantes. Para ela, é preciso repensar também a formação acadêmica do professor no desafi o de ensinar. “Um fator importante é a mo-tivação para o trabalho, pois é através de novas experiências que professores

podem ministrar aulas fantásticas e promover a construção de aprendiza-gens coletivas com seus alunos. Para os estudantes, a percepção é a de que a educação ocorre nos mais diferentes espaços, sejam eles formais ou não”,

completa a professo-ra convidada da Pós-Graduação IERGS.

Alternativas para estimular a motiva-ção dos alunos exis-tem, mas nem sem-pre são palpáveis ou fáceis. De acordo com a psicóloga Andréa Abs De Agosto, é pre-ciso doação de am-bos os lados. “Como professores, temos a obrigação de tornar-mos as aulas interes-santes, provocar nos-

sos alunos à refl exão. Para ser ouvido, o professor tem que mostrar interesse real no assunto, ser apaixonado pelo tema, trazer o conteúdo e provocar o questionamento do estudante na busca de ir além. Isso faz com que se apren-

Para ser ouvido, o professor tem que mostrar interesse real no assunto, ser apaixonado pelo tema, trazer o conteúdo e provocar o questionamentodo estudante na busca de ir além

da e apreenda o conteúdo, faz com que ele se interesse, que pense na aplicação daquele conteúdo na sua vida pessoal e profi ssional”, conclui a professora convi-dada da Pós-Graduação IERGS.

É importante estimular o papel do pedagogo e do professor no acompa-nhamento personalizado de cada aluno para direcioná-lo adequadamente. Sob um projeto escolar coletivo, podem-se detectar alterações comportamentais e facilitar medidas preventivas de apoio e resgate do aluno. A atenção deve envol-ver todos os responsáveis no processo de aprendizagem, mas sem excessos de cobrança em relação à capacidade do aluno, o que é muito frequente no am-biente familiar e educacional.

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podem ministrar aulas fantásticas e da e apreenda o conteúdo, faz com que

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Em todos os tempos existiram contadores de história e, como toda arte, essa também possui suas técnicas, enri-quece o mundo interior e acumula conheci-mentos preciosos para a qualidade de vida. Além disso, a contação de histórias desen-volve o hábito de ouvir e amplia o prazer de ler.

Todos podem trabalhar e desen-volver a narrativa com as particularidades que lhe são adequadas. Quem confi rma isso é a estudante de letras da faculdade IERGS/UNIASSELVI, Kimberlly Centeno Kila. A jovem promove aulas de cidadania na ONG Geração de Samuel, criada pelos seus próprios pais, no Bairro Restinga, em Porto Alegre. No projeto educativo, ela incentiva a fala e a leitura a um público bem especial, composto por adolescentes de 14 a 17 anos.

“Por mais que eles estejam lendo na Internet, há uma perda de foco, pois há muita coisa disponível. Eles fi cam sem a lei-tura de um livro específi co e é importante ter outros contatos para conseguir escrever bem. Estamos vendo eles saírem dali para o primeiro emprego, então eles têm de sa-ber se portar, têm de saber falar e escrever bem também”, orienta a futura professora, que organiza ofi cinas em conjunto com os adolescentes, que inclusive já montaram seus próprios livros. Quem também aproveita os bene-fícios da contação de histórias é um público ainda bastante inocente: os 150 pequeninos do Centro Infantil Ser Criança, de Porto Ale-gre. Desde o berçário, as professoras utili-zam fantoches, aventais de feltro, gravuras e diferentes recursos para contar histórias às crianças de zero a cinco anos, diz a di-

Contos sempre encantaram povos em todo o mundo. Transmitidas de geração em geração por séculos, as his-tórias são efetivamente formas de ensinar e aprender

“Na terra dos sonhos...”... da contação de histórias

retora Susana Fogliatto, estudante da Pós IERGS/UNIASSELVI em Gestão Estratégica de Pessoas com ênfase em Coaching.

“O mundo das crianças ainda não foi totalmente infl uenciado pelos adultos e é muito baseado na imaginação. A história é uma forma que se encontra de não blo-quear o lado infantil e valorizar a criativida-de. Na medida em que tu contas uma histó-ria, tu favoreces que ela imagine tudo isso”, garante a diretora.

No Centro, todos que atuam em sala de aula recebem qualifi cação para contar histórias. E as famílias também inte-gram o processo. A partir dos quatro anos de idade, os pequenos levam livros para que os pais os leiam em casa, enquanto as professoras fazem atividades paralelas em sala. O objetivo é trabalhar a imaginação, estruturação de texto e o gosto pela leitura.

Professora-tutora no IERGS, a mestre em educação e pedagoga Viviane Guidotti refere-se à contação de história como um método que deve estar presente na prática pedagógica do professor, desde a educação infantil até os anos iniciais do Ensino Fundamental, mas com um diferen-

A contação envolve a interação entre professor e alunos, permeada pelo imaginário, criatividade, expressão e sentimentos

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cial importante: “É um recurso que po-tencializa a construção de um ambien-te escolar motivador, refl exivo, crítico e lúdico, tanto para os alunos quanto para os professores. Mas a contação de história não é o mesmo que ler uma história. A contação envolve a intera-ção entre professor e alunos, permeada pelo imaginário, criatividade, expressão e sentimentos”, pondera a mestre. Tal interação também refl ete em outras áreas, diz a diretora do Ser Criança. Para ela, uma das principais vantagens dos contos está ligada, acre-dite, com a matemática: “a contação de histórias é muito importante no desen-volvimento do gosto pela leitura, pois remete para a linguagem. Mas também tem infl uência na matemática. Uma das maiores difi culdades das crianças não são as contas em si, mas a compreensão do que está sendo solicitado. E o que faz com que a criança tenha uma boa inter-pretação de texto é a leitura. E a conta-ção de histórias é o primeiro passo para estimular esse desejo. A base de tudo está na educação infantil”, estimula Su-sana.

Para que a contação tenha sucesso é fundamental que o profes-sor considere a escolha da história e a faixa etária dos alunos, assim como a diversidade, seus conhecimentos, curiosidades e as necessidades da sua turma, lembra a mestre Viviane. “Desta forma, o planejamento da aula se torna essencial para promover um momento signifi cativo de ensino e aprendizagem”, enfatiza. Os resultados de uma conta-ção de história organizada e tranquila é um ambiente acolhedor que alunos e professores desfrutam juntos.

O mundo das crianças ainda não foi totalmente infl uenciado pelos adultos e é muito baseado na imaginação

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Era uma vez... a mágica de contar histórias Contar história é mais uma possibilidade de se criar vínculos afe- tivos, transmitir valores, estimular a aprendizagem e desenvolver a imaginação.

Para começar a história, o contador pode se utilizar de alguns recursos: cantar uma música, ler um poema, acender uma vela, tirar um pequeno objeto de um baú ou simplesmente sentar-se em silêncio;

Um bom contador de histórias tem que ter sempre várias delas na ponta da língua. Recomenda-se que o contador aprenda a ideia central da histó-ria. Um bom contador é fi el à história, usando suas próprias palavras, com naturalidade e de um jeito só seu;

A voz assume grande importância no ato de contar histórias. Uma narra-tiva interessante envolve a todos e se aproveita de recursos vocais, com sons mais graves e mais agudos, falando mais alto e mais baixo, usando as onomatopeias para exemplifi car os sons de vento, chuva e relógio, por exemplo. As variações vocais dão movimentos à palavra e ritmo à narra-tiva;

Música e instrumentos musicais podem ser usados para complementar a narrativa, estimulando a audição de maneira diferente do texto;

O olhar do contador estabelece um vínculo com seus ouvintes. O olho no olho é fundamental para fi sgar seus ouvintes;

A postura corporal também é muito importante. Manter a coluna ereta e interpretar as formas de animais e objetos dão o toque fi nal na narrativa lúdica.

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desenvolve a criticidade tão necessária no sujeito. Ou seja, não existe mode-lo ideal, existem formas de ensinar de acordo com a clientela, disponibilidade ou não de materiais para enriquecer o processo de ensino aprendizagem. So-ma-se a isso a autonomia intelectual do professor e sua proposta de trabalho e quais objetivos se quer atingir”, reforça a mestre.

PALAVRA-CHAVE: INTERATIVIDADE

Se as principais formas de co-municação e informação têm funciona-do em vias duplas, onde todos emitem conteúdo, por que na educação deveria ser diferente? Pesquisas da Fundação Telefônica Vivo em parceria com o Ibope e USP mostram a tendência das esco-las a adquirir ou substituir os materiais didáticos tradicionais pelos chamados Recursos Educacionais Abertos (REA).

Não é difícil entender o por-quê da adoção de novos recursos. São ferramentas que facilmente ganham a preferência dos alunos, como Douglas Gonçalves, de 16 anos. O jovem é estu-dante do Ensino Médio regular estadual e sem dificuldades responde qual a sua preferência de pesquisa e estudo: “Só busco na Internet. O Info Escola é um

“POR QUE EDUCADORES PRECISAMIR ALÉM DO DATA SHOW”

O título do livro de Ana Pra-do (Geekie Publicações) traz uma forte orientação sobre como a evolução tec-nológica afeta o ensino. Afinal de con-tas, o acesso à informação mudou e os alunos substituíram as enciclopédias pelos sites de buscas. Portanto, é pre-ciso estar atento a isso também em sala de aula.

O surpreendente é que a troca do quadro negro por lousas eletrônicas e o giz por apresentação em Power-Point são consideradas transformações superficiais. A verdade é que o modelo continua igual, tradicional, com o pro-fessor no centro das atenções e os estu-dantes do outro lado, passivos numa via de mão única. Agora imagine o impacto disso em uma realidade onde 77% dos brasileiros com idade entre 9 e 17 anos são usuários da Internet¹.

Em linhas gerais, a atenção dos estudantes espalhou-se pelo www e o panorama vigente mostra que o modelo tradicional da escola não é o ideal para eles. Quem pactua com essa perspectiva é a mestre em Pedagogia, a professora do IERGS/UNIASSELVI Ma-ria Elizete Inácio. “O modelo tradicional não é o ideal, pois ele só ensina a me-morizar e não a pensar e refletir, nem

“ “O modelo tradicio-nal não é o ideal, pois ele só ensina a memorizar e não a pensar e refletir

dos sites mais completos que conheço para pesquisa, e lá também aparecem vá-rias opções que mostram outras pergun-tas do meu interesse”, garante o jovem.

Se as novas gerações aprendem e se comunicam na Internet em velocida-de “banda-larga”, cabe aos professores aceitar essa nova perspectiva com entu-siasmo. “Sinto que a categoria professo-ral não está se atualizando como deveria, no sentido da autonomia intelectual e das tecnologias. Percebe-se que se está muito arraigado à concepção tradicional, não querendo sair da zona de conforto. O professor, às vezes por comodismo ou por não saber manusear artefatos tecno-lógicos, não corresponde aos anseios dos alunos em articular a realidade deles com os conteúdos ministrados em sala. É ne-cessário o ensino tradicional, mas a for-ma como isso está sendo feito é que não atrai mais nosso aluno”, defende a mestre Maria Elizete Inácio.

¹Os dados são do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento daSociedade da Informação (CETIC.br).

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GOOGLE DRIVEAjuda na comunicaç ã o de professores e estudantes. Pode ser usado como pontapé inicial para a inserç ã o da tec-nologia na sala de aula. Permite criar e compartilhar textos, tabelas e apresen-taç õ es com os alunos. També m é pos-sí vel editá -los em conjunto, facilitando a execuç ã o de trabalhos escolares e a resoluç ã o de dú vidas.

EDUCAÇÃO DIGITAL | LIBRAZUKAEstudantes de Ciência da Computação desenvolveram o aplicativo Librazuka, que ensina de maneira simplifi cada a Língua Bra-sileira de Sinais (LIBRAS) para ouvintes. A ideia é facilitar a comunicação com pessoas que têm defi ciência auditiva e de fala. O aplicativo apresenta módulos teóricos (alfabeto, números e gramática) e jogos que auxiliam na fi xação do conteúdo, além de dois dicionários (Ordem Alfabética e Confi guração de Mão) e opção com realidade aumentada. É gratuito!

www.librazuka.com.br

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Já que a inserç ã o da tecnologia na educaç ã o em breve nã o será mais uma questã o de escolha, a boa notí cia é que os educadores nã o precisam começ ar do zero. Existem alternativas sendo exploradas e com bons resultados. Conheça algumas delas:

QEDUFeito para melhorar a gestã o de escolas. O QEdu permite o acompanhamento e comparaç ã o de desempenho das escolas, evoluç ã o dos ní veis de escolaridade, con-trole de contas e geraç ã o de documentos importantes para a escola.

W PENSARPermite ao gestor planejar e organizar o funcionamento de sua instituiç ã o, com economia de tempo e recursos. Possui í ndices de desempenho em tempo real, controle de contas, reduç ã o de proces-sos burocrá ticos e integraç ã o dos seto-res acadê mico, pedagó gico e fi nanceiro da escola.

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MAIS-QUE-PERFEITOA norma padrão não está sozinha em sala de aula. As variações do

português falado existem e devem ser preservadas

“Chicrete”, “praca”, “broco” e “pranta”. Se você teve arrepios em pensar no som dessas palavras, você pode estar diante de casos de preconceito linguístico. O “erro” de por-tuguês que imediatamente associamos a esses termos é, na verdade, um desvio da ortografi a ofi cial. Mas como os profes-sores agem quando esses pequenos assombros entram sala adentro?

Para a mestre em linguagem, interação e processos de aprendizagem, professora Patrícia Loureiro, a variação linguística precisa ser preservada, pois é parte da origem e do meio onde o sujeito está inserido. “Há regras em sala de aula que geram confl itos internos no aluno. Então cabe ao professor ser um mediador, fazendo com que ele busque o certo sem dar as respostas certas. Essa mediação vai mostrar que o chicré pode não estar errado em casa, mas pode ser inadequado em outros ambientes. Há sempre uma comuni-cação por trás desses desvios. O problema está no preconcei-to”, reforça a tutora da Graduação e professora convidada da Pós-Graduação IERGS.

Na verdade, essas palavras não estão erradas, acre-dite. Quando faladas com R no lugar de L, elas sofrem um fe-nômeno fonético que já contribuiu antes para a formação da própria língua portuguesa padrão como a conhecemos hoje. Esse fenômeno é o rotacismo natural da língua. Muitas pala-vras antigas em latim transformaram o L em R no português, mas permaneceram com L em francês e em espanhol. Quer exemplo?

LATIM: plagaFRANCÊS: plageESPANHOL: playaPORTUGUÊS: praia

É importante ressaltar que a ortografi a ofi cial é fru-to de gestos políticos, foi determinada por decreto, sofreu in-vestimentos profundos e é também resultado de negociações econômicas e ideológicas. Já as variações da fala são natu-rais e constroem o que linguistas chamam de Português Não Padrão, que não muda em nada a sintaxe nem a semântica dos enunciados. “Erro” mesmo são aqueles casos individuais quando a forma pronunciada não encontra nenhum registro nas variedades do português do Brasil.

Até a variação no sistema de formação de plurais é um fato bem explicado pelo Portu-guês Não Padrão como um enxugamento das re-dundâncias da “marca de plural”, o que já ocorre nas formas padrões de outras línguas, por exemplo.

E x a t a m e n t e igual ao nosso dia a dia, a sala de aula também está repleta de casos interes-santes. Ronaldo Gonçal-ves da Silva é um jovem graduando de Letras do IERGS/UNIASSELVI e um amante dos estudos da Língua Portuguesa. Para ele que já atua no ensi-no, é preciso agir naturalmente diante casos de variação da fala. “Professores se deparam com muitos casos diferentes e é preciso estar preparado para isso, pois temos de incen-tivar o aluno e tentar mostrar a ele a experiência da norma de várias maneiras. Na escrita, precisamos respeitar a forma padrão, mas na fala não há erro”, transmite o professor.

“ “Cabe ao pro-fessor ser um mediador, fa-zendo com que ele busque o certo sem dar as respostas

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Professora Patrícia Loureiro, no polo IERGS

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Mitos sobre o preconceito linguístico

“A língua portuguesa falada no Brasil apre-senta uma única unidade”Essa afirmação acaba com a inegável varie-dade linguística brasileira e exclui qualquer pessoa que não fale no modo dessa “unida-de” que nunca existiu.

“Português é muito difícil”O português não é difícil. Crianças de cincos anos conseguem falar português. A dificul-dade está no estudo da gramática.

“O certo é falar assim porque se escreve as-sim”Nenhuma língua do mundo se fala do jeito que se escreve ou se escreve do jeito que se fala. Até porque a escrita surgiu para tentar representar a fala.

“O domínio da norma culta é um instrumen-to de ascensão social”Se isso fosse verdade, os professores de por-tuguês ocupariam o topo da pirâmide social, econômica e política do país. O preconceito está mais ligado a questões sociais e regio-nais do país.

“Só em Portugal se fala bem português”Esse mito está relacionado a uma visão de inferioridade. Os portugueses também têm falas que fogem a sua própria regra, o que é comum em todas as línguas.

“Pessoas sem instrução falam errado”Não é verdade. Todas as pessoas falam dife-rentes umas das outras. Culturalmente, va-loriza-se as falas dos povos mais desenvol-vidos. É uma questão de social e não de erro.

“Pessoas sem instrução falam errado”Não é verdade. Todas as pessoas falam dife-rentes umas das outras. Culturalmente, va-loriza-se as falas dos povos mais desenvol-vidos. É uma questão de social e não de erro.

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E não há erros, mesmo. O que existe são diferen-ças. Infelizmente, o preconceito linguístico está presente na sociedade e é reforçado pela própria norma padrão, transmitida nos programas de rádio e TV, nos jornais, re-vista e livros, que pretendem ensinar o que é “certo” e o que é “errado”, igual ao que ocorre em gramáticas norma-tivas e livros didáticos. Ao assumir a “superioridade” de uma norma so-bre a outra, também surge o desprestígio e com ele as classificações de “pobre”, “engraçado”, “feio” e “burro”. E língua não é nada disso. Ela é viva. “O professor deve co-nhecer a realidade do aluno e a pessoa deve ser tratada como pessoa. Quem está sentado do outro lado também pode me trazer conhecimento e eu vou aprendendo com essa criança. É com o tempo que a gente vai descobrindo que tipo de professor tem de ser. Hoje pode ser mediador, mas amanhã tradicional, tecnicista ou liberal”, defende a mestre Patrícia.

É preciso esforços para estimular uma postura mais flexível nos ambientes escolares. Críticas sobre os preconceitos e o exercício da tolerância tornam a escola mais respirável e democrática. “Não é uma tarefa tão fácil, leva bastante tempo e depende mais do professor querer inserir esse aluno. Mas também não é tarefa impossível”, reforça o professor Ronaldo.

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EAD uma educação para todos A Educação a Distância está entre nós há muito tempo, mas nunca esteve tão forte, bem estruturada e ca-pacitando tantos educadores com tec-nologia e atenção para um processo de ensino-aprendizagem realmente múlti-plo e efi caz.

Certamente a evolução tecno-lógica tem papel fundamental na matu-ração das metodologias EAD, mas outro fator também é determinante para essa realidade: o desejo de aprender. Cursos mais dinâmicos, inovadores e responsá-veis com as realidades sociais impulsio-nam o papel de educadores, ampliando suas possibilidades de saberes e de estímulo no desenvolvimento da edu-cação. Surgem, com isso, outros univer-sos para especialização, que refl etem saberes inéditos da Psicopedagogia e Neuropsicopedagogia; da criatividade como fator básico de desenvolvimento; docências aplicadas a práticas inovado-ras, assim como conhecimentos que se aprofundam na gestão escolar e proces-sos de coordenação pedagógica.

Todas essas perspectivas são campos modernos de estudos na edu-cação continuada, mas há muito neces-sárias para a sociedade. Para a espe-cialista Luz Mary Padilha Dias, vivemos momentos de grandes transformações e a educação precisa acompanhar as discussões atuais em torno delas para se conseguir o mais importante de tudo, que é trazer o aluno da rua para a esco-la. “A tecnologia é uma grande aliada do professor na contribuição com essas re-fl exões, pois coloca à disposição várias oportunidades de formação e isso é de suma importância para todo esse com-plexo cotidiano que assola, amedron-

ta e limita nossas ações educativas. A parceria EAD e professor é viável e de notável resultado”, reforça a tutora da Graduação e professora convidada da Pós-Graduação IERGS.

Ana Paula Barbosa Mene-zes percebeu na modalidade EAD uma chance de impulsionar o seu aprendiza-do, vislumbrando novas formas de en-sino. “O EAD, além de oferecer diversas especializações, permite ter fl exibilida-de nos estudos, com uma modalidade que me oportuniza estar sempre em busca de conhecimento e adaptando a minha rotina diária. É imprescindível a atualização dos profi ssionais de edu-cação, pois a tecnologia está crescendo a cada dia e precisamos estar sempre acompanhando, afi nal, a motivação e o futuro das nossas crianças na educa-ção são responsabilidades profi ssionais nossas”, defende a estudante da Pós em Educação do IERGS.

A educação fi nalmente chegou para todos. Especializar-se de forma presencial já é possível com a dedica-ção de um encontro por semana, com o acompanhamento fi el de especialistas, mestres e doutores em ciências educa-cionais. Aos que preferem ainda mais fl exibilidade para o aprendizado, o mer-cado oferece modalidades que exigem apenas um encontro por mês em sala, reforçando os estudos através de mate-riais didáticos específi cos. Aos adeptos das modalidades on-line, basta esforço e conexão com a internet para ampliar consideravelmente suas possibilidades de instrução.

Ensinar é um processo que en-volve um diálogo constante. Aprender não é diferente. O que difere hoje são as múltiplas formar de comunicação e todas existem para ampliar o conheci-mento.

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