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Rio de Janeiro, ano XX, outubro de 2015, nº 197
Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva – Estadual Rio de Janeiro (SOBED-RJ)Rua da Lapa, n° 120, salas 309 a 311, Lapa, Rio de Janeiro, RJ. CEP: 20021-180
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BO LET IMinformativo
NOTÍCIAS
fonte: USP
Os fatos sobre a fosfoetanolamina
Fosfoetanolamina não é remédio
A Universidade de São Paulo (USP) foi envolvida, nos últimos
meses, na polêmica do uso de uma substância química, a
fosfoetanolamina, anunciada como cura para diversos tipos de
USP divulga comunicado sobre a substância fosfoetanolamina
cânceres. Por liminares judiciais, a Universidade foi obrigada a fornecer o produto para os que a solicitam. Em respeito
aos doentes e seus familiares, a USP esclarece:
Essa substância não é remédio. Ela foi estudada na USP como um produto químico e não existe demonstração
cabal de que tenha ação efetiva contra a doença: a USP não desenvolveu estudos sobre a ação do produto nos seres vivos,
muito menos estudos clínicos controlados em humanos. Não há registro e autorização de uso dessa substância pela
Anvisa e, portanto, ela não pode ser classificada como medicamento, tanto que não tem bula.
Além disso, não foi respeitada a exigência de que a entrega de medicamentos deve ser sempre feita de acordo
com prescrição assinada por médico em pleno gozo de licença para a prática da medicina. Cabe ao médico assumir a
responsabilidade legal, profissional e ética pela prescrição, pelo uso e efeitos colaterais – que, nesse caso, ainda não são
conhecidos de forma conclusiva – e pelo acompanhamento do paciente.
Portanto, não se trata de detalhe burocrático o produto não estar registrado como remédio – ele não foi estudado
para esse fim e não são conhecidas as consequências de seu uso.
É compreensível a angústia de pacientes e familiares acometidos de doença grave. Nessas situações, não é
incomum o recurso a fórmulas mágicas, poções milagrosas ou abordagens inertes. Não raro essas condutas podem ser
deletérias, levando o interessado a abandonar tratamentos que, de fato, podem ser efetivos ou trazer algum alívio.
Nessas condições, pacientes e seus familiares aflitos se convertem em alvo fácil de exploradores oportunistas.
A USP não é uma indústria química ou farmacêutica. Não tem condições de produzir a substância em larga escala,
para atender às centenas de liminares judiciais que recebeu nas últimas semanas. Mais ainda, a produção da substância
em pauta, por ser artesanal, não atende aos requisitos nacionais e internacionais para a fabricação de medicamentos.
Por fim, alertamos que a substância fosfoetanolamina está disponível no mercado, produzida por indústrias
químicas, e pode ser adquirida em grandes quantidades pelas autoridades públicas. Não há, pois, nenhuma justificativa
para obrigar a USP a produzi-la sem garantia de qualidade.
Os mandados judiciais serão cumpridos, dentro da capacidade da Universidade. Ao mesmo tempo, a USP está
verificando o possível envolvimento de docentes ou funcionários na difusão desse tipo de informação incorreta. Estuda,
ainda, a possibilidade de denunciar, ao Ministério Público, os profissionais que estão se beneficiando do desespero e da
fragilidade das famílias e dos pacientes.
Nada disso exclui, porém, que estudos clínicos suplementares possam ser desenvolvidos no âmbito desta
Universidade, essencialmente dedicada à pesquisa e à ciência
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ÍNDICE
2
BOLETIM SOBED-RJ, ano XX, outubro de 2015, nº 197
GESTÃO 2014 - 2016
presidente RONALDO TAAM
vice-presidente LUIZ ARMANDO RODRIGUES VELLOSO
1ª secretária LILIAN MACHADO SILVA
2ª secretária PAULA PERUZZI ELIA
1º tesoureiro FLAVIO ABBY
2º tesoureiro JOÃO CARLOS DE ALMEIDA SOARES
PALAVRAS DA PRESIDÊNCIA Dr. Ronaldo Taam
página 1 NOTÍCIAS página 2 PALAVRAS DA PRESIDÊNCIA
página 3 REVISÃO SISTEMÁTICA COM META ANÁLISE: RISCO DE HEMORRAGIA GASTROINTESTINAL PÓS POLIPECTOMIA EM PACIENTES RECEBENDO ANTIPLAQUETÁRIOS, ANTICOAGULANTES E MEDICAMENTOS TIENOPIRIDINAS
página 10 RESIDÊNCIA MÉDICA EM ENDOSCOPIA
A programação científica da SOBED-RJ sofreu pequena alteração em relação aos meses tradicionalmente
utilizados. Houve reunião em julho e não ocorrerá em novembro. Essa opção surgiu pelos seguintes fatos: a primeira
segunda-feira de novembro é feriado, a indisponibilidade de agenda da Casa de Saúde São José para a segunda semana e
a proximidade com a SBAD se a sessão fosse transferida para a terceira semana.
A reunião de dezembro está mantida e será baseada em discussão de casos clínicos. Programem-se para
participar.
A SOBED Nacional, dando continuidade à sua campanha de prevenção do câncer de cólon e reto, realizou novo
mutirão, dessa vez na cidade de Goiania, em outubro. A SOBED-RJ participou e tem apoiado essa importante atividade.
O relacionamento com os planos de saúde parece se tornar cada vez mais difícil à medida que a situação
econômica do país permanece instável. Alguns membros do grupo Unidas adotaram a tabela CBHPM em sua versão que
não contempla o pagamento do procedimento diagnóstico somado a algum terapêutico realizado. A Petrobras enviou
recente comunicado informando tal medida. O agendamento de uma reunião com o grupo Unidas tem sido tentado,
inclusive através da Câmara Técnica do CREMERJ, porém sem resposta até o momento. A tabela acordada com o grupo
Unidas está desatualizada e não é empregada por todos os seus membros.
A situação da Unimed não se modificou e novas resoluções podem surgir após a assembléia da cooperativa.
A SulAmérica compareceu à reunião da COMSSU do CREMERJ e uma reunião especifica com a Endoscopia
Digestiva será realizada para corrigir distorções de tabela entre alguns colegas.
Peço aos colegas que as dificuldades enfrentadas sejam relatadas para que a SOBED-RJ possa se organizar e
propor soluções.
página 9 CASO CLÍNICO DO MÊSpágina 8 PRÓXIMOS EVENTOS
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RESUMO
INTRODUÇÃO
Em pacientes submetidos à colonoscopia
com polipectomia, as recomendações atuais são a
s u s p e n s ã o t e m p o r á r i a d e m e d i c a ç õ e s
antiplaquetárias e anticoagulantes. As evidências
c i e n t í f i c a s q u e c o n c e r n e m o m a n e j o
periprocedimento destas medicações são escassas.
OBJETIVOS
Realizar revisão sistemática e meta-análise
para determinar o r isco de sangramento pós
polipectomia em pacientes em uso de medicações
antiplaquetárias e anticoagulantes.
MÉTODOS
Foi feita uma busca no Pubmed, Scopus, Web
of Science, Biosis and Proceedings First desde 1970
a 2015. Sangramento pós polipectomia foi definido
como hemorrag ia exter ior izada ou queda da
hemoglobina de pelo menos 2 g/dL.
RESULTADOS
De 1490 artigos identificados, nós incluímos
3 artigos e 1 resumo com pacientes em uso de
aspirina e/ou AINE, 1 artigo sobre warfarin, 2
resumos sobre c lopidogrel , e 2 art igos sobre
clopidogrel com aspirina e/ou AINE.
E n q u a n t o a t a xa d e s a n g ra m e n t o p ó s
polipectomia imediata em uso de aspirina e/ou
AINE não foi superior (OR = 1.1, 95% CI 0.7–1.9, P =
0 . 7 ) , o r i s c o d e s a n g ra m e n t o ta rd i o e s t e v e
aumentado (OR = 1.7, 95% CI 1.0–2.4, P = 0.0009, I2
= 60%) mas tornou-se não significativo com a
exclusão de um estudo. Houve um risco elevado de
sangramento tardio em uso de clopidogrel (OR =
9.7, 95% CI 3.1–30.8, P = 0.0, I2 = 0). Houve risco
aumentado de sangramento tardio em pacientes
em uso de clopidogrel+ aspirina e/ou AINE (OR =
3.4, 95% CI 1.3–8.8, P = 0.01, I2 = 0). Baseado em um
único estudo sobre warfarin, a taxa de sangramento
tardio foi elevada. Não existe evidência em relação
ao sangramento pós polipectomia e uso de novos
agentes anticoagulantes.
CONCLUSÕES
O uso de aspirina ou AINE não aumenta o
r i s c o d e s a n g r a m e n t o p ó s p o l i p e c t o m i a .
Clopidogrel e warfarin devem ser descontinuados
no período periprocedimento para prevenir a
ocorrência de sangramento pós polipectomia.
INTRODUÇÃO
O número de procedimentos endoscópicos
está aumentando nos EUA, devido ao crescente uso
da colonoscopia para rastreamento e prevenção do
câncer colorretal. O aumento no número de exames
endoscópicos está, não surpreendentemente,
a s s o c i a d o c o m a u m e n t o d o n ú m e r o d e
c o m p l i c a ç õ e s , i n c l u i n d o s a n g r a m e n t o s e
hemorragias. A taxa estimada de sangramento pós
colonoscopia foi 0.1% e 0.6%. Este risco pode
aumentar duas vezes quando uma polipectomia é
realizada. Eventos hemorrágicos na endoscopia
d i a g n ó s t i c a ( c o m o u s e m b i ó p s i a ) e e m
p r o c e d i m e n t o d e c o l o c a ç ã o d e s o n d a d e
gastrostomia endoscópica são relativamente raros
(< 1%) nos adultos com uma contagem plaquetária
normal e sem coagulopatia. O uso simultâneo de
medicações antiplaquetárias e anticoagulantes,
particularmente no grupo mais idoso que mais
provavelmente é submetido à procedimentos,
pode também contribuir para o número crescente
de complicações hemorrágicas. No entanto, a
contribuição exata desses agentes ao risco de
sangramento é incerta. A questão comum colocada
por médicos assim como pacientes é como abordar
essas medicações no período periprocedimento.
Infelizmente, existem poucos estudos sobre esse
tópico, e recomendações são baseadas em opiniões
de “experts” ao invés de estudos objetivos. Além
d o m a i s , c o m o d e s e nv o l v i m e n t o d e n o v o s
anticoagulantes, que dispensam monitorização
REVISÃO SISTEMÁTICA COM META ANÁLISE: RISCO DE HEMORRAGIA GASTROINTESTINAL PÓS POLIPECTOMIA EM PACIENTES RECEBENDO
ANTIPLAQUETÁRIOS, ANTICOAGULANTES E MEDICAMENTOS TIENOPIRIDINAS
Alimentary Pharmacology and Therapeutics, 42: 949–956 951, 2015 John Wiley & Sons Ltd, D. Shalman and L.B Gerson
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sanguínea, também muitas dúvidas surgem visto
que não existem estudos abordando seu manejo no
periprocedimento. O principal objetivo desta
revisão sistemática e metanálise foi determinar
taxas de sangramento associadas com o uso de
drogas antiplaquetárias e anticoagulantes pós
polipectomia realizada em exame de colonoscopia.
MATERIAIS E MÉTODOS
Uma revisão sistemática e meta-análise de
e s t u d o s r e l e v a n t e s c o m p a r a n d o t a x a s d e
hemorragia pós polipectotmia (HPP) em pacientes
e m u s o d e d r o g a s a n t i p l a q u e t á r i a s e
anticoagulantes comparadas à pacientes controle
submetidos à polipectomia que não estavam em
u s o d e s t a s m e d i c a ç õ e s . N ó s s e g u i m o s a s
recomendações PRISMA para seleção das revisões
sistemáticas e meta-análises.
CRITÉRIOS DE SELEÇÃO
Foram incluídos estudos randomizados
controlados ou observacionais (coorte e caso
controle) que preenchiam critérios de inclusão:
d i s p o n íve l em in g lês , ex p o s içã o c la ra m ente
definida e avaliada à drogas antiplaquetárias e
a n t i c o a g u l a n t e s ( i n c l u i n d o a s p i r i n a , a n t i -
i n f l a m a t ó r i o s n ã o e s t e r o i d a i s ( A I N E S ) ,
tienopiridinas, heparina, heparina de baixo peso
molecular, warfarin, inibidores diretos de anti-
trombina e diretos do fator Xa) ; e avaliada a
p r e s e n ç a o u a u s ê n c i a d e s a n g ra m e n t o p ó s
p o l i p e c t o m i a ( d e f i n i d a c o m o p r e s e n ç a d e
s a n g r a m e n t o e x t e r i o r i z a d o c o m m e l e n a ,
hematoquezia, e/ou queda de hemoglobina de pelo
menos 2g/dl). O sangramento pós polipectomia foi
definido como imediato se ocorreu durante o
procedimento e tardio se ele ocorreu após o
procedimento (30 dias na maioria dos estudos).
Quando os estudos relataram sangramento em
pacientes fazendo uso de uma ou mais de uma
droga antiplaquetária ou anticoagulante,os dados
foram analisados separadamente para cada uma
das drogas. Estudos com pacientes uti l izando
te ra p i a co m b i n a d a co m m a i s d e u m a d ro ga
antiplaquetária foram incluídos (por exemplo
aspirina + clopidogrel) quando o mesmo fornecia
d a d o s d e ta l h a d o s s o b re ca d a d ro ga . Fo ra m
excluídos estudos realizados com pacientes que
n ã o e s t a v a m u s a n d o a d r o g a n o d i a d o
procedimento e estudos onde os pacientes usavam
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a s d r o ga s m a s fo ra m s u b m e t i d o s a p e n a s à
colonoscopia sem polipectomia.
F O N T E D E I N F O R M AÇ Õ ES E EST R AT ÉG I A D E
PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
Foi realizada uma pesquisa bibliográfica
incluindo as fontes Pubmed, SCOPUS, Web of
Science e Cochrane desde 1970 até 20 de janeiro de
2015, com a ajuda de bibliotecário médico com
ex p e r t i s e , p a ra i d e nt i f i ca r to d o s o s a r t i go s
relevantes neste tópico (observar informação de
suporte da lista de termos de busca). Também foi
analisado o índice de citação a fim de identificar
resumos/abstracts recentes de dados ainda não
publicados. Subsequentemente, os dois autores
revisaram, independentemente, títulos e resumos
de estudos identificados no intuito de exclusão de
trabalhos que não atendiam ou não respondiam a
pergunta de interesse da pesquisa, baseado em
critérios de inclusão e exclusão pré especificados.
O texto completo dos artigos restantes, quando
d i s p o n í v e i s , f o r a m n o v a m e n t e ,
independentemente, revisados para determinar se
continham informação relevante.
PROGNÓSTICOS
O objetivo primário foi a incidência de
hemorragia pós polipectomia, tanto definida como
imediata (ocorrendo durante o procedimento)
como tardia (ocorrendo dentro de 30 dias após o
procedimento). Objetivo secundário era realizar
análise comparando pacientes com sangramento
gastrointestinal e pacientes sem sangramento
gastrointestinal, levando em conta as seguintes
variáveis: idade do paciente, gênero, tamanho do
p ó l i p o , t i p o d e p o l i p e c t o m i a ( a l ç a f r i a ,
polipectomia com alça quente, biópsia à frio,
fórceps) e/ou comorbidades incluindo doença
renal e/ou cardíaca. Análise foi feita por paciente e
não pelo número de polipectomias feitas por
paciente.
AVALIAÇÃO DE QUALIDADE
Foi usada a escala de Newcastle-Ottowa
(NOS) para avaliar a qualidade de estudos caso-
controle. Medidas abordadas incluíram adequação
da definição do caso, representatividade dos casos,
seleção e definição dos controles, comparabilidade
dos casos e controles, identificação de exposição e
taxa de não resposta. Dois revisores acessaram as
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medidas de qual idade e d iscrepâncias foram
detalhadas.
ANÁLISES ESTATÍSTICAS
Para calcular o risco de hemorragia pós
polipectomia (HPP) nos pacientes em uso de drogas
a n t i p l a q u e t á r i a s e a n t i c o a g u l a n t e s , f o r a m
uti l izadas as seguintes comparações a f im de
calcular odds ratio:
Usuários das drogas com HPP/ Total de usuários
das drogas
--------------------------------------------------------------
--
Não usuários das drogas com HPP/ não usuários
das drogas
A o d d s r a t i o p a r a h e m o r r a g i a
gastrointestinal foi calculada baseada em dados
brutos de cada estudo utilizando modelo de efeitos
f ixos (Meta-anál ise compreensiva versão 3.0;
Biostat Inc, Englewood, NJ, USA) pelo método de
DerSimonian e La ird. A heterogeneidade dos
pacientes foi analisada usando a estatística Q
Cochran e quando havia heterogeneidade nós
a v a l i a m o s a q u a n t i d a d e c o m m e d i d a I 2 ( a
percentagem de var iab i l idade tota l dev ida à
heterogeneidade real entre estudos) com p < 0,1
considerado como significante. Quando possível,
foram analisados subgrupos para avaliar variáveis
e nt re o s p a c i e nte s co m e s e m s a n g ra m e nto
utilizando diferenças padronizadas em médias. Nós
acessamos viés de publicação se mais de 10 estudos
foram incluídos por inspeção visual de filtros de
gráficos para assimetria e por cálculo de valores de
p de bi caudal utilizando correlação de Begg e
Mazundar e Egger's.
RESULTADOS
De 1442 artigos e 48 abstracts/resumos
identificados usando nossa estratégia de busca,
nove estudos que aval iaram risco de HPP em
colonoscopia preencheram nossos critérios de
inclusão e foram finalmente incluídos . As análises
incluíram quatro estudos de pacientes em uso de
aspirina ou AINE durante a polipectomia (três
artigos e um abstract/resumo) um artigo sobre
pacientes em uso de terapia com warfarin no dia do
procedimento, dois abstracts de estudos com
pacientes em terapia com clopidogrel e dois com
p a c i e nte s e m te ra p i a d u p l a a nt i p l a q u e tá r i a
(clopidogrel com a maioria dos pacientes também
utilizando aspirina ou AINE). Nenhum estudo de
outras combinações preencheu nossos critérios de
inclusão. Também, nenhum estudo sobre efeito de
inibidores diretos de drogas anti-trombina ou
inibidores do fator Xa na taxa de sangramento
gastrointestinal pós polipectomia foi incluído.
CARACTERÍSTICAS DOS ESTUDOS INCLUÍDOS
Terapia com aspirina ou AINE
Q u a t r o e s t u d o s r e t r o s p e c t i v o s c a s o -
controle relataram em 5226 pacientes submetidos
à colonoscopia com polipectomia em uso de terapia
antiplaquetária, incluindo um abstract e três
manuscritos publicados. Nenhum dos estudos
descreveu a dose de aspirina ou de AINE. Um total
de 59 pacientes em 1489 (3.9%) em uso de terapia
antiplaquetária desenvolveu HPP comparado com
104 de 3650 (2 .8%) não usuár ios de terapia
antiplaquetária. A presença de HPP imediata foi
descrita em dois estudos e a HPP tardia em todos os
quatro estudos. Usando modelo de efeitos fixos,
não existe um aumento no risco de HPP imediata
(odds ratio, OR = 1.1, 95% IC 0.9–1.9, p = 0.7, I2 = 0).
Todos os quatro estudos descreveram o risco de
HPP tardia dentro de 30 dias. Utilizando um modelo
de efeito fixo, houve aumento no risco de HPP
tardia (OR = 1.7, 95% IC 1.1–2.4, p= 0.009) mas havia
uma heterogeneidade signif icativa ( I2 = 60%;
Figura 2). Usando o modelo de efeito randomizado,
houve um aumento discreto no risco de HPP tardia
(OR = 2.0, 95% IC 1.0–4.0, p= 0.05). Quando o
estudo de Pan e cols. foi excluído devido ao
pequeno número de pacientes com eventos de
sangramento, a OR foi reduzida para 1,5 para
ambos os modelos (95% CI 0.9–2.2 ́ para modelo de
efeitos fixo) e não foi mais significativo (p= 0.06)
c o m h e t e ro g e n e i d a d e re d u z i d a ( I 2 = 3 6 % ) .
Anál ises de subgrupos foram planejadas por
diferenças em média de idade, tamanho do pólipo,
tipo de pólipo e outros fatores para sangramento
versus coortes sem sangramentos mas houve dados
insuficientes a fim de realizar quaisquer análises de
subgrupos.
Terapia com Warfarin
Havia apenas um estudo no Japão relatando
taxas de HPP em pacientes com warfar in no
momento do procedimento. O estudo foi ensaio
c o n t r o l a d o p r o s p e c t i v o d e 7 0 p a c i e n t e s
randomizados com pólipos colorretais até 10 mm
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de tamanho para polipectomia com alça fria versus
polipectomia convencional. Dosagens de warfarin
não foram relatadas, mas a média de INR foi de 2,3
no grupo convencional e 2,4 no grupo de alça à frio
no momento do procedimento. Ambas as taxas, a de
HPP imediata e tard ia foram e levadas , mais
co m u m e nte co m p o l i p e c to m i a co nve n c i o n a l
comparada ao uso de alça à frio. A taxa de HPP
i m e d i a t a fo i 2 3 % ( 8 / 3 5 ) p a ra p o l i p e c t o m i a
convencional comparada a 6% [2/35 para alça à frio
(p = 0.04)]. As taxas de HPP tardia foram de 0% com
alça a frio e 14% (5/35) no grupo convencional (p =
0.03). Devido à falta de quaisquer outros estudos
com pacientes em uso de terapia com warfarin,
meta-análises não foram passíveis de realização.
Estudos com clopidogrel
Dois estudos retrospectivos caso-controles
p u b l i c a d o s c o m o “ a b s t r a c t s ” d e r e u n i õ e s ,
r e l a t a r a m 3 6 1 6 p a c i e n t e s s u b m e t i d o s à
colonoscopia com polipectomia, dos quais 95 (3%)
estavam em uso de clopidogrel no momento da
polipectomia. Nenhum dos estudos descreveu a
dosagem de clopidogrel. A presença de hemorragia
pós polipectomia imediata foi apenas descrita em
um estudo com pequeno número de pacientes,
realizado por Grossman e cols. A taxa de HPP
imediata foi de 4% em uso de clopidogrel (3/70)
comparada à 0,3% (8/2380) para não usuários
(p=0.003, teste exato de Fisher). Baseado em dois
“abst racts” re latando HPP tard ia , 4/95 (4%)
pacientes em uso de clopidogrel desenvolveram
HPP tardia comparado com 19/2780 (0.6%) para
não usuários. Utilizando um modelo fixo de efeitos
a OR foi de 9.7 (95% CI 3.1–30.8, p=0.0) sem
heterogeneidade (I2 = 0). O segundo estudo definiu
a HPP tardia como sangramento dentro de 15 dias
pós polipectomia.
Clopidogrel associado a aspirina e/ou terapia com
AINE
Dois estudos relataram taxas de HPP tardia
em 3352 pacientes submetidos à colonoscopia com
polipectomia dos quais 260 (8%) estavam em uso de
clopidogrel no momento da polipectomia. No
estudo de Feagins e cols. , 78% dos pacientes
estavam também usando aspirina e 10% AINE. No
estudo de Singh e cols., 54% dos pacientes estavam
em uso de aspirina e 8% da coorte tomavam AINE. A
HPP imediata, avaliada apenas no estudo de Singh,
não foi significativa entre as coortes utilizando
clopidogrel + AINE/aspirina quando comparados
aos pacientes sem clopidogrel [taxas de 3/142 (2%)
vs. 26/1243 (1%), p = 1.0]. O total de 6/260 (2%) em
uso de terapia combinada de clopidogrel + outro
a n t i p l a q u e t á r i o d e s e n v o l v e u H P P t a r d i a ,
comparado com 18/3092 (0 .6%) sem uso de
clopidogrel. Utilizando dados destes dois estudos,
a OR para HPP tardia aumentou em 3.4 vezes na
coorte de pacientes em uso de terapia combinada.
(modelo fixo de efeitos 95% IC 1.3–8.8, p= 0.01) sem
heterogeneidade (I2 = 0%). Entretanto, as taxas
calculadas podem ser menores do que esperadas
visto que proporção de ambas coortes não estava
em uso de terapia combinada.
QUALIDADE DO ESTUDO
Utilizando escores de Newcastle–Ottowa
para estudos caso-controlados, o escore médio
para estudos com drogas antiplaquetárias foi 6,5
(variando de 4–8) impl icando em estudos de
qualidade moderada. O escore dos dois “abstracts”
incluídos para terapia com clopidogrel foi 6 para
ambos estudos. O escore para dois estudos que
a v a l i a r a m c l o p i d o g r e l + o u t r a t e r a p i a
antiplaquetária foi 6 em ambos estudos (Tabela 4).
DISCUSSÃO
A Soc iedade Americana de Endoscopia
Gastrointestinal (ASGE) recomenda realização de
procedimentos endoscópicos em uso de aspirina e
outros agentes antiplaquetários. Os consensos
recomendam considerar interrupção temporária
destes agentes antes de procedimentos de alto
risco, incluindo polipectomia. Nossa meta-análise
não demonstrou risco aumentado de HPP imediata
em pacientes em uso de drogas antiplaquetárias
mas houve um aumento discreto no risco de HPP
tardia. Nenhum dos estudos forneceu informações
em relação à dose. Consequentemente, nossa
análise concorda com a atual recomendação da
sociedade. O consenso atual da ASGE recomenda
i n t e r r u p ç ã o t e m p o r á r i a d e a g e n t e s t i p o
t i e n o p i r i d i n a s a n t e s d e p r o c e d i m e n t o s
endoscópicos de alto risco mas a manutenção para
procedimentos endoscópicos de baixo risco, como
biópsias.
Dois estudos retrospectivos caso-controle
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publicados em “abstracts”, mostraram um risco
aumentado de HPP tard ia em pac ientes que
estavam em uso de clopidogrel. Dados sobre a
terapia dupla antiplaquetária são limitados. Em
nossa análise, o risco de HPP tardio para pacientes
em uso de terapia combinada de clopidogrel com
o u t r o a g e n t e a n t i p l a q u e t á r i o , f o i e l e v a d o
c o m p a r a d o a o s p a c i e n t e s q u e n ã o u s a v a m
clopidogrel. No entanto, apenas só dois estudos
foram analisados. Ambas as publicações foram
limitadas pelo fato de nem todos os pacientes
e sta re m e m u s o d e te ra p i a co m b i n a d a e a s
informações em relação à HPP para pacientes
u t i l i z a n d o a m b o s a g e n t e s c o m p a r a d o s a o
clopidogrel isolado não foram fornecidas.
Baseado nestas informações, seria prudente
interromper o c lopidogrel se o card io log ista
ass istente concordar e manter a terapia com
aspirina durante o procedimento. Existe apenas um
estudo que examinou o risco de sangramento na
terapia com warfarin comparando a polipectomia
convencional ou com alça fria. Não houve estudos
comparando taxas de sangramento nos pacientes
em terapia crônica com warfarin comparando a
controles. Devido ao alto risco de HPP observado
neste estudo quando comparado ao r isco da
população geral, a condução de um estudo seria
a nt i ét i ca . D e sta fo r m a , o wa r fa r i n d eve s e r
suspenso antes de procedimento pelo consenso
atual e se o paciente tem escore de risco CHADS
( e s c o r e d e r i s c o p a r a p r e d i ç ã o d e e v e n t o s
cerebrovasculares em pacientes com fibrilação
atrial) de 2 ou menos. Em pacientes com alto risco
de eventos t romboemból icos , inst i tu ição de
terapia ponte com heparina deve ser empregada
c o n f o r m e r e c o m e n d a ç ã o d o s c o n s e n s o s . A
introdução de novos agentes orais anticoagulantes
incluindo apixaban, dabigatran e r ivaroxaban
(Xarelto®), traz novos desafios ao endoscopista que
realiza polipectomia. Existem poucas informações
sobre o uso destes novos agentes. Em estudo
retrospectivo caso-controle realizado em 2014
comparando o uso de apixaban ao warfarin em
p a c i e n t e s s u b m e t i d o s a u m a v a r i e d a d e d e
procedimentos ambulatoriais, os riscos de eventos
tromboembólicos e hemorrágicos 30 dias após
procedimento não diferiram significativamente
entre os grupos. No entanto, taxas de sangramento
associadas com procedimentos gastrointestinais
n ã o f o r a m f o r n e c i d a s . E m o u t r o e s t u d o ,
retrospectivo, comparando usuários de dabigatran
e warfarin submetidos à vários procedimentos
a m b u l a t o r i a i s , t a x a s d e s a n g r a m e n t o
periprocedimento não diferiram entre os grupos,
mas novamente taxas de HPP não foram fornecidas.
Mais informações em relação às taxas de HPP para
p a c i e n t e s u t i l i z a n d o n o v o s a g e n t e s
anticoagulantes seriam úteis para determinar o
manejo destes agentes.
E x i s t e m vá r i a s l i m i ta ç õ e s d e s ta m e ta
análise. A primeira limitação foram os poucos
dados disponíveis para avaliar HPP em pacientes
em uso de medicações atuantes na agregação
plaquetária e na coagulação. A maioria dos estudos
identificados possuía pacientes temporariamente
s e m m e d i c a ç ã o p o r 3 a 7 d i a s a n t e s d a
po l ipectomia . Outra l imi tação fo i a fa l ta de
informação em relação à dosagem destes agentes.
Outros r i scos potenc ia is para HPP inc lu indo
habil idade do endoscopista e/ou tamanho do
pólipo não foram fornecidos nos estudos incluídos.
Em resumo, uso de terapia antiplaquetária
n ã o m o st ro u u m a u m e nto n o r i s c o d e H P P,
enquanto o uso crônico de terapia tienopiridina
esteve associado com risco aumentado de HPP
imediata e tardia. Estes resultados suportam a
manutenção de terapia antiplaquetária durante
polipectomia e interrupção temporária de terapia
de clopidogrel e anticoagulantes.
Traduzido por Yolanda Faia Manhães
Tolentino, Rodrigo S Dias, Priscila
Pollo Flores e Viviane Fittipaldi
BOLETIM SOBED-RJ, ano XX, outubro de 2015, nº 197
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CASO CLÍNICO DO MÊS
Paciente 72 anos, masculino, em pós-operatório de esofagectomia distal, gastrectomia parcial,
linfadenectomia e piloroplastia por neoplasia de esôfago. Evoluiu 15 dias após intervenção com quadro de tosse
persistente e febre sendo realizada tomografia de tórax que evidenciou deiscência de anastomose esôfago-
gástrica com coleção mediastinal (foto 1). Realizada endoscopia digestiva alta que confirmou diagnóstico (foto
2).
Como se tratava de uma fístula não drenada e pelo alto risco de deslocamento da prótese (tratamento
endoscópico de escolha para fistulas por deiscência de anastomose) por não ancoramento distal, optou-se por
realização de terapia endoscópica a vácuo com colocação de esponja sintética intracavitária dentro da ferida
promovendo oclusão local e aspiração contínua através de aplicação de pressão subatmosférica, que possibilita
drenagem e fechamento simultâneo da fistula. O sistema deve ser trocado a cada 3-4 dias, acompanhado de
inspeção do interior da cavidade. A terapia termina quando há formação e um tecido de granulação estável.
Realizado colocação de sistema de aspiração (foto 3) com troca da esponja a cada 3-4 dias num total de
quatro procedimentos (foto 4). Finalizado fechamento da fistula com injeção de cola de fibrina para possibilitar
oclusão mais rápida devido a gastroparesia importante apresentada pelo paciente no pós-operatório.
O paciente foi reavaliado seis dias após o último procedimento através de tomografia computadorizada
que evidenciou fechamento total da fístula e da coleção mediastinal (foto 5), sendo liberada dieta oral, com boa
evolução clínica, recebendo alta 3 dias após.
HOSPITAL QUINTA D´ORDra. Lilian Machado, Dra. Gláucia Freitas, Dra. Cynthia Miranda
Figura 1
Figura 2 Figura 3
Figura 4
BOLETIM SOBED-RJ, ano XX, outubro de 2015, nº 197
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Figura 5
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Janeiro, RJ. CEP: 20230-130
CONTATOS(21) 3207-1000www.inca.gov.br
RESPONSÁVEISGustavo Francisco de Souza e MelloAlexandre Dias Pelosi
Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva – Estadual Rio de Janeiro (SOBED-RJ)Rua da Lapa, n° 120, salas 309 a 311, Lapa, Rio de Janeiro, RJ. CEP: 20021-180
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