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Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de Goiânia ITGT Curso de Pós-Graduação Lato Sensu com vistas a Especialização na Abordagem Gestáltica Parceria com a Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC-GO E Quando o Paciente Desiste de Viver? Uma Pesquisa Fenomenológica com Gestalt- Terapeutas Heloisa Tavares Dias Goiânia, 2020

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Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de Goiânia – ITGT

Curso de Pós-Graduação Lato Sensu com vistas a Especialização na Abordagem Gestáltica

Parceria com a Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC-GO

E Quando o Paciente Desiste de Viver? Uma Pesquisa Fenomenológica com Gestalt-

Terapeutas

Heloisa Tavares Dias

Goiânia, 2020

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Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de Goiânia – ITGT

Curso de Pós-Graduação Lato Sensu com vistas a Especialização na Abordagem Gestáltica

Parceria com a Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC-GO

E Quando o Paciente Desiste de Viver? Uma Pesquisa Fenomenológica com Gestalt-

Terapeutas

Heloisa Tavares Dias

Trabalho de Conclusão de Curso pelo Instituto de

Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de

Goiânia (ITGT) como requisito parcial à

conclusão do curso de Pós-Graduação Latu-Senso

em Gestalt-terapia chancelado pela Pontifícia

Universidade Católica de Goiás.

Orientadora: Mariana Costa Brasil Pimentel

Goiânia, 2020

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“O sentido pertence ao ‘sentidor', a quem considero aquele que sente a dor.”

Karina Okajima Fukumitsu

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Agradecimentos

Meu primeiro agradecimento é à Jesus, por suas infinitas bençãos em minha existência.

Por sua graça de clarear os caminhos escuros em que me encontrei no consultório e na vida.

Pelo dom que me deu de sentir, acolher e cuidar de dores.

Agradeço minha família, que com palavras e olhares de admiração me impulsionaram

a chegar até aqui. Ao meu psicoterapeuta Danilo Vaz por seu exemplo de ser sereno. E Mariana

Brasil, que mais uma vez me deu colo quando preciso, mas sempre ensinando que quem escolhe

o caminho e dá os passos sou eu.

Finalizo me agradecendo também, por ter acreditado e feito tanto para chegar aqui.

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SUMÁRIO

O Sentimento do Terapeuta Frente ao Paciente Que Desiste de Viver..........................07

Metodologia ....................................................................................................................... 13

Participantes ...................................................................................................................... 13

Local, Materiais e Instrumentos ...................................................................................... 14

Procedimentos e Análise dos Dados ................................................................................ 15

Resultados e Discussão ..................................................................................................... 16

Sentimentos da psicoterapeuta em atendimentos com demanda suicida .................... 16

Ajustamentos da psicoterapeuta no manejo de seus sentimentos em casos suicidas .. 19

Habilidades técnicas utilizadas com pacientes em vivências de suicídio ..................... 21

Lidar com a possibilidade de morte do paciente ............................................................ 24

Considerações finais.......................................................................................................... 25

Referências......................................................................................................................... 27

ANEXO A .......................................................................................................................... 31

ANEXO B .......................................................................................................................... 33

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E Quando o Paciente Desiste de Viver? Uma Pesquisa Fenomenológica com Gestalt-

Terapeutas1

And When Does the Patient Give Up Living? A phenomenological research with Gestalt-

Therapists

Heloisa Tavares Dias2

Mariana Costa Brasil Pimentel3

RESUMO

No ano de 2016 o suicídio foi considerado a segunda maior causa de mortes entre os jovens,

ficando atrás somente dos acidentes de trânsito. Falar de suicídio é falar sobre a dualidade vida

e morte, e busca findar um sofrimento. A Gestalt-terapia apresenta o psicólogo como um

facilitador diante deste indivíduo. O objetivo deste trabalho foi compreender como gestalt-

terapeutas se sentem diante de um paciente que desiste de viver, utilizando a pesquisa

fenomenológica por meio do método de Giorgi (2010). Foram entrevistadas quatro gestalt-

terapeutas que tiveram ou estavam com casos clínicos de ideação e/ou tentativa de suicídio. A

partir da análise dos dados foi possível encontrar quatro categorias, sendo elas: Sentimentos da

psicoterapeuta em atendimentos com demanda suicida; Ajustamentos criativos da

psicoterapeuta no manejo de seus sentimentos em casos suicidas; Habilidades técnicas

utilizadas com pacientes em vivências de suicídio; e Lidar com a possibilidade de morte do

paciente. Conclui-se que as participantes foram afetadas emocionalmente pelos pacientes, no

entanto conseguem se ajustar, dando também suporte a eles e respeitando sua decisão mesmo

que esta seja morrer.

Palavras-chave: Suicídio, Gestalt-terapia, Pesquisa Fenomenológica.

ABSTRACT

In 2016, suicide was considered the second leading cause of death among young people, behind

only traffic accidents. In order to approach the suicide topic, urderstanding duality of life and

death, and the aiming to end with suffer is needed. Gestalt-therapy presents the psychologist

as a facilitator before this individual. The objective of this work is to understand how gestalt

therapists feels in front of a patient who gives up living, using phenomenological research

through the method of Giorgi (2010). Four gestalt therapists who had or had had clinical cases

ofideationand / orattempted suicide were interviewed. From the analysis of the data it was

possible to find four categories, which are: Psychotherapist's feelings in visits with suicidal

demand; Psychotherapist's creative adjustments in handling her feelings in suicidal cases;

Technical skills used with patients experiencing suicide; Deal with the possibility of death of

the patient. It was concluded that the participants were emotionally affected by the patients,

how ever they managed to adjust, also giving support to them and respecting their decision

even if it was to die.

Keywords: suicide, Gestalt therapy, phenomenological research.

1 Trabalho apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de especialista em Gestalt-Terapia, do

Curso de Pós-graduação Lato Sensu do Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia

(ITGT). 2 Psicóloga Clínica, cursando especialização em Gestalt-Terapia pelo ITGT. E-mail:

[email protected] 3 Psicóloga, Especialista em Gestalt-Terapia pelo ITGT, Mestre em Psicologia –

pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Go), professora-supervisora do ITGT. E-mail:

[email protected]

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E Quando o Paciente Desiste de Viver? Uma Pesquisa Fenomenológica com

Gestalt-Terapeutas

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), nos últimos cinco anos houve

aumento no número de países com estratégias de prevenção ao suicídio, reflexo da publicação

feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS), na qual foi apresentada um relatório sobre o

tema. No entanto, ainda é registrada uma morte a cada 40 segundos no mundo em decorrência

de suicídio. Vale ressaltar ainda que, segundo o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom

Ghebreyesus, com políticas voltadas para a prevenção é possível evitar a morte de alguém por

suicídio, entretanto, é preciso maior envolvimento e interesse dos governos por esses planos de

ações (ONU, 2019).

Em 2016, o suicídio foi apontado como a segunda maior causa de mortes entre jovens

de 15 a 29 anos, ficando atrás dos acidentes de trânsito. A taxa global varia de 10,5 a 30 a cada

100 mil pessoas, sendo que 79% acontecem em países de baixa e média renda. Os meios mais

utilizados para o ato são enforcamento, arma de fogo e envenenamento (ONU, 2019). Esse alto

índice de suicídio e os diversos meios que podem ser utilizados para que o ato aconteça, levam

a vários questionamentos acerca de qual o sentindo de se matar, o que significa e o que leva

alguém a fazer isso. É então que se percebe que quando se trata de pacientes com ideações

suicidas nunca se tem todas as respostas, uma vez que envolvem dois extremos, vida e morte

(Fukumitsu, 2013).

Mesmo diante de tantas informações, é como se todas as estratégias e conhecimentos

ainda não fossem suficientes para reduzir o índice de suicídios no mundo. Nem sempre será

possível salvar, no entanto o profissional da psicologia é um dos responsáveis pelo

acolhimento, colocando-se a serviço de seu semelhante e podendo através de seu trabalho

preservar vidas. Nem todos os comportamentos humanos serão entendidos, porém vale o

esforço para sua compreensão (Fukumitsu, 2013). Quando se fala em suicídio é preciso estar

atento às variações, evitando assim enquadramentos, uma vez que são diversos os motivos que

levam as pessoas a pensarem ou tentarem se matar (Angerami-Camon, 1992).

Para Fukumitsu (2013), falar sobre a morte é como falar sobre o desconhecido, o que

pode gerar medo, pois além de se tratar de uma incógnita, é ter que enfrentar o fim dos projetos,

o fim da vida. É importante considerar ainda o lado daqueles que ficam, afinal, a morte de uma

pessoa amada afeta e também gera dor, e viver o luto é como descarregar a bateria psíquica

daquele que ficou. Quando se fala daqueles que ficaram, o terapeuta está incluso.

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Santos e Kovács (2007) comentam sobre como é estar diante de pacientes com ideações

suicidas, uma vez que isto leva o profissional a entrar em contato com suas angústias e

incertezas, podendo então ficar mobilizado. Jamison (2010) destaca que o suicídio é uma morte

como nenhuma outra. Aquele que fica não lida somente com a ausência daquele que se foi,

mas encontra-se também na companhia de culpa, infinidade de perguntas e o questionamento

de se poderia ter feito algo mais.

Faz-se necessário então compreender melhor como os psicólogos lidam com pacientes

com ideações ou tentativas de suicídio. Segundo pesquisa realizada por Zana e Kovács (2013),

na qual o público investigado foi psicólogos, cujo objetivo era compreender melhor como eles

lidam com pacientes com ideações e/ou tentativas de suicídio na prática clínica, foi possível

perceber que é improvável não se envolver e ser afetado por aquele que está ali a sua frente,

falando até mesmo de como pretende morrer. Assim, falar de suicídio é abordar um tema que

instiga vários sentimentos contraditórios e desordenados dentro do ser humano (Fukumitsu,

2013).

Fukumitsu e Scavacini (2013) referem que trabalhar com demandas de suicídio envolve

encarar temas de medo, agonia, perda de sentido, entre outros. Santos e Kovács (2007)

explicam que atender pacientes que planejam ou já tentaram se matar mobiliza emocionalmente

o profissional, podendo este ser tocado por angústias e diversos questionamentos. Sabe-se

então que quando alguém busca a terapia, busca receber cuidado. Do lado oposto há também

uma outra pessoa, que é o terapeuta, aquele que oferece o cuidado. Sendo assim, o vínculo e o

envolvimento acontecem, logo, a mobilização do profissional se torna inevitável (Ribeiro,

2013).

Esta pesquisa tem como fundamentação teórica a abordagem gestáltica e é com este

viés que a relação psicoterapeuta-paciente será abordada. A Gestalt-terapia tem como um de

seus alicerces filosóficos o Existencialismo Dialógico de Martin Buber, no qual valoriza a

relação inter-humana, dessa forma, a nossa essência se entrelaça com a do outro e desse contato

verdadeiro surge o encontro. Buber (1974) apresenta duas apreensões da realidade nesse

encontro, sendo uma a postura EU-ISSO, que se trata de uma relação objetivada, ou seja, a

busca de algo, um meio para um fim. E a EU-TU, que é o encontro genuíno, sem busca de

troca. Vale lembrar que a primeira não deve ser vista de maneira negativa, uma vez que

utilizada de maneira equilibrada com a segunda pode auxiliar a compreensão do ser.

Assim, na relação terapêutica, o terapeuta orienta-se a partir de uma postura dialógica

por esta ser centrada no encontro, podendo encontrar aqui um possível poder curativo. Para

Hycner (1995), a realidade dessa vivência é maior do que somar os seres nela envolvidos, ou

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seja, é mais do que simplesmente somar o EU-TU e o EU-ISSO, mas sim olhar para essa

relação em sua totalidade. Assim, a relação entre paciente e terapeuta é compreendida como

uma dimensão ontológica, considerando que é possível ir ao encontro do outro e conhecer suas

vivências.

Nesse sentido, o terapeuta não está ali como um corretor de comportamentos do cliente,

mas sim como um facilitador no processo de reflexão acerca do que gera no indivíduo aquela

vontade de tirar a própria vida. Sendo assim o objetivo é refletir sobre a possibilidade de

aprender com as situações problematizadoras ao invés de eliminar o sofrimento. O foco durante

as sessões de psicoterapia passa a ser levar o paciente a encontrar as respostas de seus conflitos,

buscando sempre o equilíbrio e a melhor maneira para lidar com seus dilemas. Assim, é

possível levar o indivíduo a uma ampliação da awareness4, levando-o a tomar consciência de

qual o motivo ou situação que tem lhe provocado a vontade de cometer suicídio como recurso

para solucionar seus problemas (Fukumitsu, 2013).

Ao auxiliar o paciente a perceber novas possibilidades de lidar com seu sofrimento, a

psicoterapia gestáltica favorece o desenvolvimento de ajustamentos criativos funcionais, isto

é, contribui para o desenvolvimento da capacidade do ser em se regular diante das

circunstâncias conforme suas possibilidades e necessidades de maneira unificada e respeitosa

com o meio. Os ajustamentos criativos podem ser disfuncionais quando essa tentativa de

atender as necessidades resulta em conflitos e distorções de percepções e sentimentos do

indivíduo em seu ambiente. O mesmo era funcional, porém em uma determinada circunstância

se cristalizou, ficando assim inerte (Frazão & Fukumitsu, 2015).

É uma busca por acolher o outro, compreendê-lo e estar com ele, sem julgamentos.

Entende-se ainda que na abordagem gestáltica, o psicoterapeuta não entra como um ativador

de mudanças ou adequação de comportamentos, até mesmo em casos de pacientes com

ideações suicidas. Com o olhar gestáltico, o terapeuta se torna um facilitador para promover a

reflexão sobre aquele ser que está diante dele e que quer aliviar sua dor com a morte. Ou seja,

objetiva-se olhar o todo, compreender o campo, sem desconsiderar é claro o sofrimento do

paciente, mas olhando para o que gera conflito naquele momento (Fukumitsu & Scavacini,

2013).

É válido lembrar que o cuidado terapêutico é exercido por um ser que também é

humano e carregado de histórias, assim como o paciente e seus familiares. Desse modo é

4 Awareness refere-se a tomada de consciência, objetivando que o paciente passe a integrar o que ele faz, como

faz e onde quer chegar, se aceitando e se valorizando (Yontef, 1993).

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possível fazer uma relação do papel do terapeuta com o que Hycner (1995) chama de curador

ferido, que se trata da capacidade de aproximação que o psicoterapeuta tem diante de seu

paciente, uma vez que, nessa relação estão envolvidos dois seres que possuem suas dificuldades

e sofrimentos, sendo assim pode-se considerar que mesmo os dois possuindo feridas, um é

capaz de cuidar o outro. Assim, o psicoterapeuta exerce uma função que precisa ser praticada

com competência e dedicação, afinal, é importante que o profissional saiba fazer a

diferenciação entre o que é seu conteúdo e o que é do outro. Pois, seu trabalho implica em

acolher demandas que talvez não estejam resolvidas em sua própria vida.

Fukumitsu (2014) relata que o terapeuta, não somente diante de um comportamento

suicida, mas em todos os seus atendimentos e demandas, precisa ser empático diante do

sofrimento humano, ou seja, aproximar-se da dor ou da alegria do outro. Em casos em que

aconteceu o suicídio e o psicoterapeuta precisou encarar a perda de seu paciente, podem estar

presentes a sensação de fracasso e impotência. Tudo isso pode ser gerador de ansiedade e

colocar o terapeuta na fantasia de que a partir de agora ele tem o dever de salvar o outro, a

qualquer custo. Porém, é sábio compreender que apesar da dor de perder um paciente, não se

pode viver pelo outro.

Outro ponto importante a considerar é apontado por Leopoldo e Silva (1998) ao expor

que se tratando de atendimentos a pacientes com ideações ou tentativas de suicídio

questionamentos no que diz respeito a ética e ao sigilo também são levantados. Para Fukumitsu

(2005 a quebra do sigilo é necessária quando o paciente é um potencial suicida, já que ele

precisa ser acompanhado diariamente por alguém, seja familiar, amigo ou até mesmo

internação, logo o sigilo é quebrado uma vez que a vida daquela pessoa corre risco.

A quebra do sigilo neste caso é resguardada pelo Conselho Federal de Psicologia

(2005), ao orientar a conduta profissional, Especificamente sobre o sigilo terapêutico, nos

artigos 6º, 9º e 10° do Código de Ética, nota-se que o mesmo é uma forma de proteção das

informações e acontecimentos que o paciente relata ao seu terapeuta nos atendimentos. Logo,

o psicoterapeuta precisa estar ciente disso, compreendendo que em casos onde se faz necessário

repassar alguma informação a quem de direito, é preciso estar atento para que seja dito somente

o necessário (Conselho Federal de Psicologia, 2005). Fukumitsu e Scavacini (2013) apontam

ainda para a importância de o psicoterapeuta fazer o contrato terapêutico com o paciente,

alertando-o que caso haja risco de morte é permitido a quebra de sigilo e a busca por suporte

externo ao alertar algum membro da família ou cuidador.

Assim, para que esse processo aconteça da melhor forma possível e garantindo o

acolhimento e suporte ao paciente, é preciso seguir todos os caminhos da dimensão ética do

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encontro terapêutico. Esse paciente é um ser humano, e quando se trata do homem fala-se de

um mistério, uma dimensão transcendente. Para que possa se abrir é preciso que ele se sinta

acolhido e compreendido na sua maneira singular de ser. Acolher esse ser em sua totalidade

incluiu suas experiências, crenças, espiritualidade, desejos, medos e outros. É essa genuína

aceitação que permitirá o encontro no setting terapêutico (Frazão & Fukumitsu, 2015). A

verbalização de um contrato também pode ser importante, sendo neste apontados horários e

informações sobre faltas (Frazão & Fukumitsu, 2014). Segundo Rosa (2008), este contrato seria

também uma forma de se criar vínculo e promover o contato entre os dois envolvidos da

relação.

Considerando tamanha relevância do tema, realizou-se um levantamento da literatura

na base de dados da Biblioteca Virtual em Saúde de Psicologia (BVS-PSI). A busca foi feita

na língua portuguesa, utilizando os descritores e combinações a seguir: suicídio e Gestalt-

terapia; comportamento suicida e psicólogo; comportamento suicida e psicologia;

comportamento suicida e psicoterapia, comportamento suicida e Gestalt-terapia. Foram

encontrados inicialmente 20 artigos e 16 teses que se aproximavam da temática estudada,

porém utilizados como norteadores apenas 4 artigos e 1 tese (Fukumitsu, 2014; Fukumitsu &

Scavacini, 2013; Senna et al, 2004; Zana & Kovács; 2013; Santos & Kovács; 2007). Na

pesquisa geral feita na base de dados, os temas encontrados foram diversos, como por exemplo

manejo terapêutico diante de situações de crise, ideações e tentativas de suicídio, vivências de

familiares de pacientes que cometeram suicídio, fatores de risco e proteção. No entanto, foram

selecionados aqueles que mais se aproximavam da temática abordada, isto é que retratassem o

impacto emocional ou como os psicoterapeutas lidam diante de pacientes que relatam a

desistência de viver.

No artigo “O psicoterapeuta diante do comportamento suicida”, Fukumitsu (2014)

buscou a partir de um levantamento bibliográfico, apresentar ferramentas que possam ser úteis

aos psicoterapeutas frente a pacientes com comportamentos suicidas. Apontou que nesses

processos terapêuticos é preciso: verificar fatores de risco e de proteção, investigando

motivações para que o paciente queira manter-se vivo e o auxilie na responsabilidade

existencial por sua vida; abertura para trabalhar com outros profissionais, de maneira

multidisciplinar; disponibilidade afetiva para acolher o sofrimento humano. Afirmou ainda a

importância do psicoterapeuta lidar tanto com a impotência diante de algumas circunstâncias,

quanto com a onipotência, ao assumir sua potência no processo psicoterapêuticos com clientes

com comportamento suicida.

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Em “Suicídio e manejo psicoterapêutico em situações de crise: uma abordagem

gestáltica”, Fukumitsu e Scavacini (2013) buscaram apresentar relações entre o suicídio e a

Gestalt-terapia, focando na compreensão dos mecanismos neuróticos e no manejo em situações

de conflitos e crise suicida, expondo aos psicólogos possíveis instrumentos a serem utilizados

em atendimentos. Além disso, buscam trazer um olhar humanizado ao tema, dando suporte ao

profissional que se depara com pacientes em desesperos existenciais, e tal crise pode ser uma

forma de ambos olharem para novas possibilidades e crescimento. Concluíram que o

profissional pode ser levado a questionamentos sobre sua responsabilidade e competência, por

isso a importância em falar sobre esse tema desde a formação acadêmica, uma vez que ele não

tem o poder de salvar vidas, mas pode sim auxiliar o paciente na ampliação de suas

possibilidades.

Senna et al.(2004). no artigo “Suicídio: diversos olhares da psicologia” discorrem sobre

o tema suicídio visando três ângulos, sendo eles a Psicanálise, a Fenomenologia e a Análise do

Comportamento. Em todas as três há o olhar para o paciente, sua vida, seus direitos e sua

família, claro que em cada abordagem há seu nível de relevância para cada um desses aspectos

do ser. Chega-se ao entendimento de que mais importante que a abordagem é o papel e o

acolhimento terapêutico. Tratando-se então desses atendimentos com demanda suicida, se faz

presente na vivência do profissional alguns questionamentos e sentimento de responsabilidade

sobre a vida do outro. Além disso, conclui-se também sobre a relevância da família e o contrato

terapêutico

Zana e Kovács (2013), em “O psicólogo e o atendimento a pacientes com ideação ou

tentativa de suicídio”, realizaram uma pesquisa qualitativa, na qual buscavam compreender

como psicólogos lidam com pacientes suicidas em sua prática clínica, além de investigarem

questões éticas envolvidas. Participaram do estudo três psicólogos clínicos e observou-se que

o suicídio mobiliza o profissional de maneira pessoal e profissional. Além disso, a quebra do

sigilo, neste caso é permitida pois envolve um risco ao paciente, podendo assim auxiliar na

prevenção de uma vida, porém também pode resultar na quebra do vínculo entre paciente e

terapeuta. Portanto, frisa-se a importância de que os Conselhos de Psicologia discutam sobre o

manejo clínico diante dessas demandas.

Por fim, Santos e Kovács (2007) apresentaram na tese “A primeira hora: as dificuldades

e desafios dos profissionais de psicologia em tratar e compreender pacientes com ideação ou

tentativa de suicídio” as possíveis dificuldades e necessidades dos profissionais de psicologia

no manejo clínico com pacientes suicidas. Entrevistaram cinco psicólogas e após a análise dos

dados as autoras observaram a importância da discussão da temática suicídio ainda na

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graduação de psicologia, além da necessidade de supervisão e psicoterapia individual com a

intensão de elaborar os conteúdos pessoais que se esbarram naqueles trazidos pelos clientes.

A vivência como psicóloga clínica, colocou a pesquisadora em contato com os mais

diversos temas, queixas e experiências de seus pacientes. O suicídio, até então apenas

conhecido por ela através dos livros ou estudos de casos com colegas de profissão, passou a

ser tema de sessão dentro de seu consultório. Isso a motivou pesquisar e compreender melhor

sobre como os psicólogos se sentem quando escutam que seu paciente desistiu de viver e

encontra na morte o fim de suas aflições psicológicas. Com isso, viu-se a necessidade de

acolher e poder conhecer um pouco mais acerca de como esses profissionais se sentem diante

de casos com ideação ou tentativa de suicídio

Considerando então o tema suicídio e como o profissional da saúde mental pode ser

afetado, viu-se necessário realizar uma pesquisa objetivando compreender como é a

experiência de gestalt-terapeutas ao atenderem pacientes que relatam ter desistido de viver e

encontram no suicídio uma possibilidade de resolução do sofrimento psíquico.

Objetiva-se especificamente saber como esses profissionais se sentem diante do

paciente que planeja e/ou relata sobre sua ideação suicida; quais estratégias utilizam para com

esses pacientes; e quais ajustamentos criativos utilizam para lidar com seus próprios

sentimentos enquanto profissional.

Metodologia

Esta é uma pesquisa qualitativa fenomenológica, que buscou alcançar as experiências

vividas das participantes e qual a relação delas com o fenômeno pesquisado (Giorgi, 2010).

Participantes

Participaram desta pesquisa quatro psicólogas5, residentes no estado de Goiás. Para a

seleção das colaboradoras, foram considerados os seguintes critérios de inclusão e exclusão:

serem psicólogos atuantes na clínica, tendo como referencial teórico-metodológico a

abordagem gestáltica, com um ano ou mais de experiência, podendo estar ou não cursando pós-

graduação nesta abordagem, residindo no Estado de Goiás e estarem ou terem tido algum caso

clínico com demanda de ideação e/ou tentativa de suicídio. Para preservar suas identidades, as

participantes foram identificadas com os nomes fictícios: Ana, Maria, Paula e Luiza.

Ana tem 26 anos de idade, mora em Goiânia, é casada, possui 2 anos de formação em

Psicologia, atua como psicóloga clínica há 2 anos e meio (considerando seu estágio na

5 Todas as participantes voluntárias foram do sexo feminino.

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graduação que também foi na área clínica), está em formação na abordagem gestáltica e

possuía, no momento da coleta de dados, pacientes com a demanda suicida.

Maria tem 25 anos, mora em Anápolis-GO, é solteira, graduada em Psicologia há 2

anos, atua na área clínica há 1 ano e 8 meses, está em formação em Gestalt-terapia e, também,

possuía casos clínicos com demandas de suicídio no momento da entrevista.

Paula tem 52 anos, residente de Goiânia, é casada, tem 26 anos de formação em

Psicologia e 25 anos de atuação clínica. Possui formação em Gestalt-terapia, mestre em

Filosofia Política e atende, atualmente, pacientes com demanda suicida.

Luiza tem 32 anos, reside em Goiânia, é solteira, graduada em Psicologia há 12 anos e

atua na clínica há aproximadamente 9 anos. Possui formação na abordagem gestáltica e na

abordagem Sistêmica em Atendimento de Casal e Família, além de estudar o tema suicídio

desde 2011. É servidora pública da prefeitura de Aparecida de Goiânia-GO atuando no

ambulatório de saúde mental, e em consultório particular, recebendo, em ambos os contextos,

casos com demanda suicida, no momento da pesquisa.

Local, Materiais e Instrumentos

A entrevista com a Ana aconteceu em sua residência, sendo este local escolhido pela

mesma por lhe ser mais confortável, mantendo assim a preservação do sigilo durante a coleta

dos dados, já que estavam presentes apenas a pesquisadora e a colaboradora.

Após a primeira entrevista, é válido ressaltar, que devido ao aumento acelerado de casos

e a disseminação global da doença COVID-19, foi declarado pela OMS estado de Pandemia,

sendo assim, as entrevistas seguintes aconteceram de maneira virtual, utilizando para tanto o

programa Skype. Dessa forma, as participantes Maria, Paula e Luiza foram entrevistadas

individualmente e com horários agendados antecipadamente.

Foi utilizado também um smartphone para a gravação em áudio das entrevistas,

notebook, pen drive, impressora, cartuchos de tinta para a impressão, folhas de papel A4,

lapiseira, grafite, borracha e marca texto.

Ao início de cada encontro, a pesquisadora leu o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE – Anexo A), na qual esclareceu os objetivos da pesquisa e questões éticas

envolvidas, posteriormente as entrevistadas assentiram com sua participação. A Ana assinou o

termo presencialmente, ficando com uma cópia do TCLE e as demais deram seu consentimento

virtualmente.

Posteriormente foi realizado um Questionário Sociodemográfico (Anexo B) com

intenção de coletar dados pertinentes à pesquisa como nome do participante, sexo, data de

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nascimento, idade, estado civil, profissão, ano de formação, especialização e ano de conclusão,

tempo de formação, experiência profissional na área clínica e se já trabalhou com demanda

suicida, e finalmente, fez-se a entrevista semiestruturada com a pergunta disparadora: Como é

para você estar diante de um paciente que relata estar desistindo de viver?

Procedimentos e Análise dos Dados

Por tratar-se de pesquisa com seres humanos, este estudo respeitou as Resoluções do

Conselho Nacional de Saúde (CNS) 510/16 e 466/12, sendo assim enviado e aprovado pelo

Comitê de Ética da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás) por meio da

plataforma Brasil e está identificado pelo número 28780620.5.0000.0037. Após aprovação, a

pesquisadora buscou profissionais da área de psicologia que atuassem na área clínica e que já

tivessem atendido pacientes com ideação suicida. Essa busca se deu por divulgação em grupos

de psicólogos na rede social WhatsApp. Teve-se assim pessoas interessadas como a Ana e

indicações como Maria, Paula e Luiza, de colegas que pudessem se adequar aos critérios de

inclusão e exclusão estabelecidos, assim, as voluntárias receberam uma mensagem de áudio da

pesquisadora para convite formal e posterior agendamento de um encontro presencial e/ou

online, para realização da entrevista.

As entrevistas tiveram duração média de uma hora e foram gravadas e transcritas na

íntegra pela pesquisadora para posterior análise dos dados, utilizando o método

fenomenológico de Giorgi (2010). Assim, tratou-se de uma entrevista que aconteceu em uma

zona interrelacional, possibilitando a comunicação livre entre os envolvidos.

A análise fenomenológica das entrevistas seguiu os objetivos propostos por Giorgi

(2010) que consistem em alcançar as experiências vividas das participantes e relacioná-las com

o fenômeno pesquisado. Este método tem como finalidade a essência dos fenômenos descritos

na entrevista, partindo de quatro passos. O primeiro advém da transcrição, em que é feita

também a leitura na íntegra e busca-se a compreensão do todo. Em seguida, partindo do

entendimento da totalidade, busca-se identificar as unidades significativas, olhando por uma

perspectiva psicológica e focando no fenômeno pesquisado. A terceira etapa trata-se de extrair

o caráter psicológico compreendido nas unidades significativas. E para finalizar, a última fase

se refere à sintetização dessas unidades de sentindo apresentando as declarações do participante

da pesquisa.

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Resultados e Discussão

Após a análise de dados, foi possível chegar a quatro categorias compostas pelas

unidades de sentido de cada entrevista, foram estas: Sentimentos da psicoterapeuta em

atendimentos com demanda suicida; Ajustamentos criativos da psicoterapeuta no manejo de

seus sentimentos em casos suicidas; Habilidades técnicas utilizadas com pacientes em

vivências de suicídio; e Lidar com a possibilidade de morte do paciente. Estas categorias

permitem a compreensão dos objetivos gerais e específicos da pesquisa, quais sejam:

compreender como é a experiência de gestalt-terapeutas ao atenderem pacientes que relatam

ter desistido de viver e encontram no suicídio uma possibilidade de resolução do sofrimento

psíquico, além de descrever como essas profissionais se sentem diante do paciente suicida;

quais estratégias técnicas utilizam para com esses pacientes; e quais ajustamentos criativos

utilizam para lidar com seus próprios sentimentos enquanto profissionais.

Vale lembrar, que todas as falas contribuíram para a compreensão da totalidade da

experiência das entrevistadas, no entanto foram selecionadas as de maior relevância para os

objetivos aqui propostos. Outro ponto importante, é que os trechos expostos não seguem a

ordem cronológica dos discursos.

Sentimentos da psicoterapeuta em atendimentos com demanda suicida

Essa categoria buscou apresentar como as entrevistadas se sentem ao se deparar com a

demanda de suicídio de seus pacientes. Ana conta a seguir o desafio de estar diante de um

paciente que relata ter desistido de viver: Viver essa situação é algo muito desafiador

realmente, porque eu fico me questionando sabe “Como que a vida dessa pessoa pode ter

perdido tanto o sentido ao ponto dela encontrar no suicídio uma saída?

Quando se trata de atendimentos com intenções suicidas, é preciso estar preparado para

entrar no universo do paciente, sendo este desconhecido e carregado de angústias. Ou seja, ir

ao encontro desses pacientes é deparar-se com uma reponsabilidade desafiadora e geradora de

estresse (Botega, 2015).

Abaixo é apresentada uma fala da Paula para representar a mobilização emocional da

psicoterapeuta ao se deparar com a demanda suicida:

Como que eu vou dizer isso (...) sei que é uma coisa muito doída, porque de algum modo eu já

sofri isso. Eu não estou dizendo uma depressão, mas acho que talvez uma depressão leve. (...) E

um outro ponto, uma outra questão é que a pessoa que não quer mais viver, ela tem uma energia

muito pesada, então assim, a minha energia também de esvai nesses atendimentos.

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Em relação aos sentimentos daquele que acolhe o paciente, Botega (2015) afirma que

esse acolhimento ao paciente suicida faz com que o psicólogo use seu principal instrumento de

trabalho, que são os canais de sua sensibilidade. Podendo assim acionar memórias, vivências e

sentimentos. Aqui em sua fala podemos compreender um pouco de suas emoções. Neste caso

específico, percebe-se uma redução de energia da psicoterapeuta. A mesma relata ser doído

lidar com o tema e conta que em alguns momentos os sentimentos da paciente se esbarram em

sua história pessoal.

A seguir Maria também demonstra o que Hycner (1995) chama de curador ferido:

Por que que eu fiquei estranhando no começo? Porque eu achava que a minha história estava

resolvida, assim, sabe, que estava tudo ok. Só que aí à medida que eu fui tendo contato com os

pacientes, com as histórias deles e tendo a disponibilidade de olhar para a minha história, aonde

que tocava, porquê que tocava exatamente, eu percebi que a minha não estava tão resolvida

assim.

Compreendendo a possibilidade do encontro de histórias de vida entre psicoterapeuta e

paciente, Hycner (1995) afirma que nesse encontro o cuidador pode se ver em um confronto,

onde de um lado tem pontos pessoais e de outros pontos profissionais, sendo colocado

constantemente de frente a algumas questões que talvez não queira encarar, ou que encare, mas

que não estejam resolvidas no âmbito pessoal. Desse modo, é relevante que o terapeuta se

esforce para que o foco não seja a cura de suas feridas no setting terapêutico, mas é justamente

desse esforço que pode vir o fortalecimento de seu self e assim uma possível ampliação de sua

contribuição dentro do processo de desenvolvimento do paciente.

Paula relata sobre o medo que terapeutas iniciantes sentem ao se depararem com a

demanda de suicídio.

Agora isso aí (...) de sentimentos do terapeuta, isso para muita gente, principalmente quando se

está começando, as pessoas têm muito medo. Medo de falar sobre a morte, que é uma coisa muito

complicada, muito difícil. Medo de explorar esses sentimentos, que são muito dolorosos.

Sentimento esse que é compreensível e advém até mesmo de nossa fragilidade humana,

uma vez que quando o paciente chega ao consultório o psicoterapeuta não sabe o que virá, e

até que ponto o estado emocional do paciente pode causar no profissional uma desordem

(Hycner, 1995).

Além do medo, na entrevista com Paula, foi percebido também como a sua experiência

pessoal lhe favorece a ir ao encontro do cliente:

Acho que eu sou um tipo de pessoa que não vive muito na rasura, então esses sentimentos muito

profundos parecem que são muito conhecidos meus, sabe? Então quando uma pessoa chega,

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coisa difícil que é, porque eu sei o tanto que é ruim e o quanto é doído, isso que é mais difícil.

Eu tenho plena noção da dificuldade da pessoa, da dor daquela pessoa, então isso sim me

impacta.

Paula vai ao encontro do paciente, a partir do que pode se chamar de postura dialógica,

sendo a inclusão um dos aspectos para que a mesma seja alcançada. Jacobs (1997)

parafraseando Buber, esclarece a respeito dessa inclusão, informando que se trata da troca de

lados, onde o terapeuta passa a sentir o lado do paciente, podendo assim vivenciar com maior

clareza a vivência que o outro lhe traz. Lembrando que esse ir ao encontro do outro não tira do

terapeuta a sua condição e nem exclui de suas próprias experiências. Trata-se de um ir e voltar.

Somente um olhar atento para essa postura pode auxiliar a viver uma relação dialógica.

Para Luiza, quando ela se depara com a temática de suicídio, relembra que atualmente, a

sua forma de lidar com a morte a deixa tranquila para acolher o desejo do outro de morrer:

Então, hoje é muito tranquilo. Mas eu acho que é muito tranquilo para mim pela forma como eu

lido com a morte. (...) Não é que é tranquilo entender que uma pessoa quer morrer, mas eu

consigo entender que nem sempre as coisas saem do jeito que a gente espera e que muitas vezes

a gente se vê encurralado.

Fukumitsu (2012) escreve que quando alguém olha a morte do outro, pode a partir disso

confirmar a própria morte, tendo assim ideia de sua finitude. Morrer é uma consequência do

nascer, sendo essas duas condições, vida e morte, um fato. Não escolhemos nascer e nem temos

o poder de viver eternamente, mas podemos fazer o melhor em cada uma dessas fases.

Luiza traz, assim como Paula, como a sua experiência pessoal também lhe favorece na

compreensão do suicídio e consequentemente, acolhimento do paciente:

Uma coisa foi levando a outra. E aí as coisas começaram com a perda do meu pai. Muita coisa

aconteceu com a perda dele e aí que vem de porque eu comecei a estudar o suicídio. O meu pai

se matou. E na perda dele eu comecei a tentar entender o que poderia ter acontecido para ele

ter tido essa decisão. Hoje eu tenho uma visão muito diferente. Com o tempo assim eu fui

construindo.

Percebe-se que, aqui a vivência do paciente também se esbarra na história de vida da

terapeuta. E nessa fala, nota-se que ao invés da mobilização, encontramos uma compreensão

da possibilidade de morte. Botega (2015) fala que o psicoterapeuta ao atender um paciente com

demanda suicida está automaticamente se permitindo recordar vivências e sentimentos.

Especificamente com essa participante a mesma acessou seu passado em seus atendimentos,

porém estes se apresentavam organizados. Ajustamento esse que poderá ser compreendido

melhor na próxima categoria apresentada.

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Ajustamentos da psicoterapeuta no manejo de seus sentimentos em casos suicidas

Essa categoria demonstrou quais foram as formas que as colaboradoras desenvolveram

para lidar com os seus próprios sentimentos ao se depararem com a demanda suicida do

paciente. A participante Luiza demonstra ajustar-se através de sua relação com a espiritualidade

e com a psicoterapia individual:

A visão que a gente tem de morte é muito diferente depois de ter passado por algumas perdas e

eu consegui, junto com a religião, entender de uma forma muito diferente. (...) Eu tinha uma

terapeuta maravilhosa na época, que estava comigo há um tempo, me deu um suporte que foi

importantíssimo para eu conseguir acessar essas coisas, olhar de uma forma diferente, inclusive

para entender que tudo bem se a pessoa decide morrer.

Considerando então esse dinamismo de sentimentos, vale olhar também para essa

potencialidade de mudança do ser, seja ele o que cuida, seja ele o cuidado. Logo, considera-se

que ambos os envolvidos nessa relação são seres que estão inseridos em um ambiente e se

ajustam da forma como conseguem para sobreviverem. Esse ajustar-se pode ser sinal de

possível interação com o meio (Frazão & Fukumitsu, 2015). Considerando sua capacidade de

autorregulação, percebe-se a importância do ajustamento criativo de suas experiências

pessoais.

Segundo Frazão e Fukumitsu (2015), o ajustamento criativo é atender as exigências e

necessidades do meio. Percebe-se aqui que tanto a psicoterapia individual quanto a

espiritualidade foram formas de ajustamentos criativos que Luiza utilizou para lidar com

demandas de suicídio em sua prática clínica. Assim, fica evidente que o terapeuta também

sofre, sendo assim considerado oportuno a relevância de sua terapia pessoal. Fernandes e Maia

(2008) abordam que o psicoterapeuta além de psicólogo é também uma pessoa. Dessa forma

falam sobre como alguns desses profissionais passaram por situações de abandono, perdas e

outras possíveis situações traumáticas durante sua vida. Além disso, relatam que não somente

o passado desses profissionais pode ter sido conturbado, mas também o seu presente,

mostrando ainda que até mesmo seus atuais pacientes podem trazer demandas e histórias com

potencial de abalo psíquico.

Ao ser questionada sobre a forma como lida com os atendimentos com demanda suicida,

Paula relata que:

No tempo imediato, rezar, pedir, falar com Deus para cuidar dessa pessoa e também me ajudar

a ajudá-lo, é uma outra forma. Às vezes, as minhas terapias, os meus suportes, as trocas com os

colegas, isso também ajuda, porque às vezes você tem um caso, e aí você conversando com um

colega sobre aquele paciente que está te preocupando te ajuda, então essas são as estratégias.

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E, às vezes, eu mando mensagem para a pessoa para saber como que ela está, porque aí eu me

acalmo também.

Em relação à espiritualidade, Pinto (2009) descreve que esta pode ser uma profunda

reflexão da existência do ser, até mesmo no sentindo da vida, dessa forma considera que o

homem possui essa dimensão espiritual na estrutura de sua personalidade. Giovanetti (2004)

aponta ainda que espiritualidade se trata da possibilidade do ser em transcender e mergulhar

em si mesmo.

Fica claro que, além da espiritualidade, Paula também se ajusta quando se permite fazer

trocas a respeito do caso com outros profissionais, quando investe em sua terapia pessoal ou

até mesmo quando decide mandar mensagem para saber como o paciente está.

Fukumitsu (2013) corrobora ao apontar que alguns manejos no processo que envolve

morte, podem ser: receber e oferecer apoio de familiares e amigos, psicoterapia e lugar de

pertencimento na religião. Entretanto, vale ressaltar que o ajustar-se criativamente é dinâmico

e singular, ou seja, essas necessidades podem mudar no decorrer do tempo.

No recorte abaixo Maria expõe sua singularidade, demonstrando que se ajusta de uma

maneira diferente das participantes citadas anteriormente, além da psicoterapia individual, ela

inclui estudo, supervisão e a arte:

Foi muito esforço, estudo, leituras, terapia e supervisão (...). Tudo isso para mim é como arroz

com feijão, eu preciso me alimentar de tudo isso. E aí, nesses casos eu deixava sempre o meu

celular no toque, pois até mesmo de madrugada, eu ficava me perguntando ‘E se esse paciente

me ligar e eu não atender? E se depender de mim?’. Mas através de muito trabalho, supervisão

e terapia, eu fui percebendo que estava fazendo o que eu podia. (...) tenho a mente muito fértil,

e aí você vai me contando uma história e vai vindo metáforas na minha cabeça, eu vou criando

todo um universo aqui (...). Minha supervisora falou ‘Usa a metáfora. Se está aí na sua cabeça

é do entre, usa a metáfora.’ No meu caso eu não consigo falar se não for através da arte. (...)

Fui me ajustando assim, música, escrita, leitura sabe, essa é minha forma de ajustamento.

Além do ajustamento criativo para lidar com a demanda de suicídio, Maria utiliza a arte

tanto para se ajustar criativamente para lidar com a demanda de suicídio como no encontro

terapêutico com o paciente. Esse movimento artístico com a oportunidade de ser experenciado

junto com o mundo subjetivo do sujeito pode trazer à tona os sentimentos fundamentais do ser,

utilizando imagens e não apenas a verbalização (Vasconcellos & Giglio, 2007). Neste exemplo

citado anteriormente, percebe-se que não apenas o paciente pode se expressar assim, mas

também o psicoterapeuta, como é o caso da Maria. Pode-se então considerar estas leituras e

outras formas de artes interligadas com a capacidade de utilização de metáforas. Técnicas estas

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que foram sendo amadurecidas através de suas supervisões. Frazão e Fukumitsu (2015)

explicam que a utilização da metáfora se dá por vários meios, sendo eles trechos de livros,

poesias ou outras histórias que façam sentido dentro da experiência do paciente.

Uma outra forma de ajustamento alcançado na pesquisa foi a racionalização do papel do

psicoterapeuta e de seus sentimentos. A seguir Ana traz uma reflexão sobre isso: Fui me

apoiando na minha racionalidade nesse momento né, e não na inquietação da minha emoção,

para que eu pudesse realmente me ajustar.

A mesma ajustou-se olhando racionalmente para sua ação naquele cenário, e não para a

inquietação de suas emoções. É válido olhar e viver os sentimentos, no entanto Ana encontrou

um equilíbrio e buscou como alternativa a racionalidade. Botega (2015) esclarece que nenhum

dos envolvidos no acolhimento e suporte do paciente, incluindo o psicólogo, devem encarregar

da responsabilidade pela vida do mesmo. Afirma que até mesmo os profissionais da área de

saúde mental têm seus limites em prever ou tratar o suicídio.

Habilidades técnicas utilizadas com pacientes em vivências de suicídio

Considerando que diversos podem ser os mecanismos utilizados pelos profissionais da

psicologia em seus atendimentos, é apresentado aqui algumas técnicas adotadas pelas

entrevistadas em casos de ideação e/ou tentativa de suicídio. Para Fukumitsu (2012) é preciso

compreender que o trabalho do psicoterapeuta é servir, não apresentar soluções ou dizer o que

o paciente deve fazer.

Como já apontado, a participante Paula demonstrou sua postura dialógica. Na vinheta a

seguir ela reafirma essa postura, demonstrando aqui sua habilidade técnica no manejo de casos

suicidas praticando a presença: Eu não costumo ter nenhuma estratégia ‘eu vou fazer assim,

vou fazer assado’. O que eu vou fazer é estar com ele, presente, ouvi-lo e tentar entender.

Para Jacobs (1997), a presença, que junto com a inclusão já abordada, é um outro pilar

da postura dialógica, refere-se a um despir-se de preocupações externas e até mesmo técnicas

para que o terapeuta esteja totalmente naquele seu lugar de cuidar e estar com o outro.

Uma outra estratégia encontrada na pesquisa foi o contrato não suicida, ou também

conhecido como contrato de vida. Na pesquisa, foram encontrados dois posicionamentos a

respeito desse método, sendo um a favor e outro contra, como mostra abaixo:

Paula: E às vezes, quando a pessoa está muito mal, eu faço um pacto por exemplo: ‘Vamos

combinar uma coisa? Você combinou comigo, estamos em tratamento, então combina comigo

até a próxima semana você vai ficar vivo.’ Então essa é uma estratégia que às vezes eu uso

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quando a pessoa está muito deprimida, entendeu? Mas é um artifício para que ela se mantenha

viva.

Luiza: Não faço contrato de vida, de jeito nenhum, tenho horror de fazer esse tipo de

contrato, porque a decisão dele ficar vivo não pode ser por mim, tem que ser por ele.

O mesmo diz respeito ao compromisso que o paciente faz com o terapeuta em não desistir

da própria vida em um momento de crise, mas sim buscar ajuda (Fukumitsu & Scavacini,

2013). Nota-se então pontos de vista diferentes, ressaltando ainda a singularidade de cada

terapeuta frente à demanda suicida. No primeiro discurso, Paula, quando considera que o

paciente se encontra em um estado muito grave, opta por fazer um contrato de vida. Já Luiza

acredita que o paciente tem que querer viver por ele, não pela terapeuta. Vale lembrar que,

apesar dos posicionamentos serem diferentes, em ambas as entrevistas o objetivo do terapeuta

é acolher o paciente, seja ele decidindo permanecer vivendo ou até mesmo respeitando sua

decisão em morrer.

Um outro dado encontrado na pesquisa foi a quebra do sigilo. Segue um trecho que

exemplifica esse momento:

Paula: Digo para a pessoa o que eu vou fazer. Eu digo o que acho na sessão, por exemplo, ‘Estou

achando que você está muito para baixo, está muito depressiva, você está muito desanimada da

vida, então eu vou ligar para os seus pais, ou eu vou ligar para o seu marido, sua irmã. Enfim,

quem quer que seja que eu tenha, porque eu não quero que você fique sozinha.’ E muitas vezes

na sessão a gente até conversa sobre isso.

Ainda que o paciente opte por tirar a própria vida, e mesmo que ele tenha esse direito, é

estabelecido no início do processo o contrato terapêutico, em qualquer demanda, não somente

em casos de suicídio. Neste momento, busca-se informar ao paciente sobre o sigilo de suas

informações, assegurando sua não exposição. No entanto, fica explícito também que em casos

de risco a vida do mesmo o sigilo será quebrado. Dessa forma, são avisados os familiares ou

pessoas mais próximas que zelam pelo bem estar do paciente (Frazão & Fukumitsu, 2015).

Paula se comunica com o paciente avisando que ela irá quebrar o sigilo, dando assim a

possibilidade que ele mesmo o faça ou podendo contar com o auxílio dela. Mesmo quando isso

acontece a comunicação entre terapeuta e paciente continua transparente, ou seja, o paciente é

avisado e pode dar seu consentimento (Frazão & Fukumitsu, 2015). Na fala de Luiza percebe-

se também isso:

Inclusive, com essa paciente teve uma situação que ela estava em uma crise muito grave, e eu fiz

uma coisa que eu nunca imaginei que faria (...) eu assinei a internação dela. Eu, em um momento

que ela estava muito grave, quando assim, em 6 meses ela deve ter tentado se matar umas 8

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vezes, e aí chegou uma hora que eu falei ‘eu não sei mais o que fazer, eu vou pedir a internação

dela’, e eu fiz isso. E ela me cobrou isso. Eu achei que ela nunca mais voltaria no consultório e

ela voltou, e falou ‘eu voltei para te dizer que você me disse que eu tinha direito, mas você

mandou me internar’. E aí que vem a diferença porque eu falei para ela ‘olha, você tem o direito

de morrer, mas eu não vou ser cúmplice, porque eu como terapeuta e como pessoa não vou

carregar a sua morte comigo. (...) estou aqui para te dizer que você realmente tem direito e se

você quiser eu vou caminhar com você.’ E isso faz muita diferença na relação, porque não é que

eu apoio que ela se mate. Eu não apoio realmente, mas eu não vou dizer que ela não tem direito,

porque ela tem direito.

Luiza explica então que não apoia o paciente se matar, mas considera que isso é um

direito dele. Reconhecer isso faz a diferença na relação terapêutica. A mesma optou pela

internação, uma vez que buscou minimizar os prejuízos na vida do paciente, conforme orienta

o Conselho Federal de Psicologia (2005).

Outra abordagem técnica percebida nas entrevistas foi a investigação do campo6. Os

trechos a seguir exemplificam isso:

Ana: Penso, ‘Ok, o que eu posso contribuir para que a vida dessa pessoa tenha mais sentido?’,

e aí dentro disso eu penso em estratégias, avaliar o que está acontecendo dentro do contexto

dessa pessoa, no campo mesmo sabe, como que está a relação dela com ela mesma.

Paula: Olha só, eu acredito que sempre existe uma razão. Algo aconteceu, dentro ou fora da

vivência daquela pessoa, que fez ou faz com que ela não queira mais viver. Então nesses casos

eu procuro entender quais são as razões. Que razão? A gente tem que buscar o que é que leva

essa pessoa a ter desistido da vida.

Pinto (2015) relata que o ser só existe se o mesmo estiver inserido em um ambiente,

consequentemente ele precisa se ajustar ao campo em que está inserido. Vemos então a

necessidade de olhar para o campo do paciente e através disso acessar uma possível

compreensão de em quais aspectos de sua existência a morte foi sendo vista como solução. Em

ambas as falas é notório a relevância de compreensão do todo em que o paciente já viveu ou

esteja vivendo, ou seja, sua história de vida e seu campo. Frazão e Fukumitsu (2013) explicam

que quando se olha para um todo, tanto os conflitos quanto as possíveis soluções podem ser

encontradas nele. Assim, afirmam que não há como isolar um elemento para compreender um

fato, mas sim olhar para a completude do evento.

6 Campo é a compreensão da totalidade de fatores que influenciam determinados comportamentos da pessoa em

relação ao ambiente em está inserida (Rodrigues, 2013).

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Lidar com a possibilidade de morte do paciente

Lidar com decisão do paciente, seja ela de continuar vivo ou morrer, foi um outro ponto

encontrado na pesquisa. Abaixo algumas falas que remetem a isso:

Ana: Por mais que eu me sinta impotente, eu tenho feito tudo que eu posso, dentro do que eu sei

que são as minhas possibilidades. (...) Porque se o paciente vem a se suicidar, a gente também

tem que respeitar a decisão dele, que foi uma escolha, por mais que eu tenha tentado fazer tudo,

eu tenho a plena consciência de que eu tentei fazer tudo que estava ao meu alcance nesse

momento. Se chegar no momento em que quer suicidar mesmo, temos que respeitar, por mais

que a gente sofra.

Maria: Fui trabalhando até chegar à possibilidade do meu luto em relação a possibilidade de

um paciente meu vir a cometer a tentativa ou até conseguir.

Acolhendo então e compreendendo este paciente, chega-se à ideia que Fukumitsu (2014)

descreve, de que o terapeuta não consegue viver pelo paciente, logo, cada um vive suas

expectativas, suas alegrias e suas dores. A partir disso percebe-se que, mesmo que o

psicoterapeuta não queira ver o seu paciente se matar, ele precisa acolher sua decisão, seja ela

de viver, seja de morrer.

Considera-se nos resultados a liberdade do ser. A seguir uma fala expressando essa ideia:

Luiza: Eu posso não saber o motivo que fez com que a pessoa tomasse essa decisão, mas é uma

decisão que ela tem o direito de tomar, e é uma coisa que eu falo para todos os meus pacientes

que são suicidas: ‘Você tem o direito de morrer. Eu não vou falar que você não tem porque você

tem’.

Recordando a perspectiva existencialista, nota-se que o ser é responsável por si, suas

escolhas e as consequências, independentemente de qual situação seja. Dessa forma, o paciente

com demanda suicida, por mais que seja considerado um quadro extremo, é encarregado pela

maneira como enfrenta as circunstâncias (Schneider, 2006). Assim, Filho (2013) explica que o

homem é um ser livre, porém assumindo seus riscos e também se comprometendo com a

responsabilidade moral sobre aqueles em que divide o seu espaço. Desse modo, até mesmo a

responsabilidade do profissional tem limite. O sentir-se responsável pela salvação do outro,

fazendo o seu melhor enquanto terapeuta, aliado ao respeito pela decisão desse paciente, se for

morrer, é um paradoxo, mas que pode ser capaz de trazer segurança e tranquilidade (Botega,

2015).

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Considerações finais

A pesquisa apresentada visou discutir a experiência de gestalt-terapeutas diante da

demanda de suicídio, tendo como base teórica de argumentação os conceitos gestálticos,

especificamente, visou compreender como os gestalt-terapeutas se sentem quando estão diante

de um paciente que relata estar desistindo de viver. Conclui-se que as participantes foram

afetadas emocionalmente pelos pacientes, no entanto conseguem encontrar formas para se

ajustarem, dando também suporte a eles e respeitando sua decisão mesmo que esta seja morrer.

Não é fácil atender demandas suicidas. Foram encontrados diversos sentimentos, como

por exemplo, a sensação de estar sendo desafiado, medo, impotência e até tranquilidade,

demonstrando assim a singularidade da experiência de cada participante.

Outro ponto relevante foi compreender como as psicoterapeutas se ajustam

criativamente, afinal elas se mobilizam, logo precisam se regular para que façam o seu papel

de cuidadora. Os ajustamentos mais encontrados foram a busca pela espiritualidade, terapia

pessoal, supervisão, compartilhamento de experiências com outros profissionais e a arte.

Já em relação às estratégias a serem utilizadas com os pacientes em ideação e/ou tentativa

de suicídio, várias são as possibilidades. Nota-se a relevância da postura dialógica, destacando-

se a importância da presença e da inclusão. Sendo assim, a terapeuta presente deve se despir

de todas as crenças, ideias e preocupações, para de fato estar por inteiro e entregue ao paciente.

Ainda olhando para o dialógico, na inclusão é preciso ir ao encontro do outro, acessar seu

mundo. Trata-se da prática do ir e vir. Vale lembrar também da importância do acolhimento,

da aceitação do paciente e da disponibilidade para caminhar com ele genuinamente em suas

experiências. Além de buscar fortalecer e integrar a rede de suporte do paciente, como a família,

visa-se mostrar que o processo terapêutico pode sim auxiliar o ser que está em vivências

suicidas, mas que o contato e apoio de familiares ou outras pessoas de seu convívio podem ser

de fundamental importância no processo.

É importante destacar ainda que a maioria das entrevistas aconteceram durante a

pandemia relacionada a doença COVID-19, desse modo, destaca-se que esta pesquisa só foi

possível devido a possibilidade da realização de entrevistas online, via videoconferência, o que

pode ampliar as possibilidades de estudo e pesquisa no país, aumentando o alcance de

participantes, inclusive para pesquisas qualitativas.

Por fim, e considerando os resultados obtidos, espera-se que se possa contribuir científica

e academicamente no direcionamento de psicoterapeutas iniciantes, e até mesmo com aqueles

mais experientes, demonstrando a realidade vivida do encarar a demanda suicida na clínica,

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transmitindo ainda novas possibilidades para encarar o ofício da prática psicoterapêutica.

Constata ainda que todas as participantes voluntárias foram do sexo feminino, levantando o

questionamento das possibilidades de diferenças vividas por psicoterapeutas homens, podendo-

se assim sugerir futuras pesquisas com participantes do sexo masculino. Além de se sugerir a

ampliação da pesquisa para outras abordagens teórico metodológicas.

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Referências

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ANEXOS

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ANEXO A

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário (a), do Projeto de

Pesquisa sob o título O sentimento do terapeuta frente ao paciente que desiste de viver. Meu

nome é Heloisa Tavares Dias, sou psicóloga, pós-graduanda em Gestalt-terapia pelo Instituto

de Treinamento e Pesquisa de Gestalt-terapia de Goiânia, supervisionada pela Ms. Mariana

Costa Brasil Pimentel. Após receber os esclarecimentos e as informações a seguir, no caso de

aceitar fazer parte do estudo, este documento deverá ser assinado em todas as folhas e em duas

vias, sendo a primeira de guarda e confidencialidade do pesquisador responsável e a segunda

ficará sob sua responsabilidade para quaisquer fins.

Em caso de dúvida sobre a pesquisa, você poderá entrar em contato com a

pesquisadora responsável através do número (62) 98199-4511, ligações a cobrar (se

necessárias) ou através do e-mail [email protected]. Em caso de dúvida sobre a

ética aplicada a pesquisa, você poderá entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa

(CEP) da PUC Goiás, telefone: (62) 3946-1512, localizado na Avenida Universitária, N° 1069,

St. Universitário, Goiânia/GO. Funcionamento: das 8 às 12 horas e das 13 às 17 horas de

segunda a sexta-feira. E-mail: [email protected]

O CEP é uma instância vinculada à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP)

que por sua vez é subordinada ao Ministério da Saúde (MS). O CEP é responsável por realizar

a análise ética de projetos de pesquisa, sendo aprovado aquele que segue os princípios

estabelecidos pelas resoluções, normativas e complementares.

Pesquisadoras: Heloisa Tavares Dias e Mariana Costa Brasil Pimentel.

O motivo que nos leva a propor essa pesquisa é compreender como a possível

mobilização dos psicoterapeutas que já tiveram ou estão com demandas de suicídio no

consultório pode afetar o profissional de psicologia visando melhorar as práticas clínicas e a

prestação de serviço à população.

Tem por objetivo compreender como os psicológicos clínicos se sentem quando estão

diante de relatos de ideação e/ou tentativa de suicídio.

O procedimento de coleta de dados se dará por meio de uma entrevista semiestruturada,

com duração de aproximadamente uma hora, podendo ser realizada no consultório da

pesquisadora ou do participante, tendo sido acordado por ambas as partes antecipadamente.

Riscos: A presente pesquisa oferece o risco de mobilizar conteúdos emocionais do

participante e/ou uma possível dificuldade do mesmo quanto a se posicionar sobre o tema em

questão. Assim, pode vir a acarretar transtornos emocionais ou desconfortos em decorrência

de sua participação. Para evitar e/ou reduzir os riscos de sua participação, será oferecido o

apoio necessário para suprir danos imateriais, estejam eles ligados, de forma direta ou indireta,

à pesquisa. Como providência imediata a tais riscos, ressalta-se que pesquisadora em questão

é uma profissional da psicologia, atuando na clínica, declarando-se apta para acolher e dar

suporte imediato em quaisquer circunstâncias de desconforto e/ou adversidade relacionada ao

âmbito emocional. O participante tem a liberdade de interromper a entrevista a qualquer

momento sem nenhum prejuízo. Assim, se você sentir qualquer desconforto é assegurado

assistência imediata e integral de forma gratuita, para danos diretos e indiretos, imediatos ou

tardios de qualquer natureza para dirimir possíveis intercorrências em consequência de sua

participação na pesquisa.

Benefícios: Esta pesquisa terá como benefícios acolher possíveis inquietudes e

indagações, ou dificuldades dos psicoterapeutas perante atendimentos com temas de suicídio.

Podendo oferecer oportunidades de reflexões sobre sua prestação de serviço.

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Não há necessidade de identificação, ficando assegurados o sigilo e a privacidade. Caso

você se sinta desconfortável por qualquer motivo, poderemos interromper a entrevista a

qualquer momento e esta decisão não produzirá qualquer penalização ou prejuízo.

Você poderá solicitar a retirada de seus dados coletados na pesquisa a qualquer

momento, deixando de participar deste estudo, sem prejuízo. Os dados coletados serão

guardados por, no mínimo, 5 anos e, após esse período os arquivos digitais serão deletados e

os físicos incinerados. Se você sofrer qualquer tipo de dano resultante de sua participação na

pesquisa, previsto ou não no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, tem direito a

pleitear indenização.

Após a conclusão, apresentação e realização das possíveis correções solicitadas pela

banca avaliadora, você irá receber o artigo por e-mail.

Você não receberá nenhum tipo de compensação financeira por sua participação neste

estudo, mas caso tenha algum gasto decorrente do mesmo este será ressarcido pelo pesquisador

responsável. Adicionalmente, em qualquer etapa do estudo você terá acesso ao pesquisador

responsável pela pesquisa para esclarecimentos de eventuais dúvidas.

Declaração do Pesquisador

O pesquisador responsável por este estudo e sua equipe de pesquisa declara que

cumprirão com todas as informações acima; que você terá acesso, se necessário, a assistência

integral e gratuita por danos diretos e indiretos oriundos, imediatos ou tardios devido a sua

participação neste estudo; que toda informação será absolutamente confidencial e sigilosa; que

sua desistência em participar deste estudo não lhe trará quaisquer penalizações; que será

devidamente ressarcido em caso de custos para participar desta pesquisa; e que acatarão

decisões judiciais que possam suceder.

Declaração do Participante

Eu,___________________________________________________________________,

abaixo assinado, discuti com a Heloisa Tavares Dias e/ou sua equipe sobre a minha decisão em

participar como voluntário (a) do estudo O sentimento do terapeuta frente ao paciente que

desiste de viver . Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos

a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de

esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas

e que tenho garantia integral e gratuita por danos diretos, imediatos ou tardios, quando

necessário. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu

consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo

ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido.

Goiânia, ______, de _______________ de ______.

_______________________________________

Assinatura do participante

_______________________________________

Assinatura do pesquisador

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ANEXO B

QUESTIONÁRIO SOCIODEMOGRÁFICO

Identificação do Participante

• Nome Completo:

• Sexo:

• Data de Nascimento:

• Idade:

• Estado Civil:

• Endereço:

Identificação Profissional

• Profissão:

• Ano de formação:

• Possui ou cursa alguma especialização?

- Em que?

- Ano de conclusão:

• Qual o tempo de atuação na área clínica:

• Está ou já esteve com algum paciente com demanda de suicídio?

Pergunta Disparadora

“Como é para você atender um paciente que lhe conta que irá tirar a própria vida?”