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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM Turismo e Recreação nas Praias do Baixo Rio Negro - Uma Avaliação Retrospectiva de Impactos Ambientais Mauro do Nascimento Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em Biologia Tropical e Recursos naturais, do convenio INPA / UFAM, como parte dos requisitos para obtenção do titulo de Mestre em CIÊNCIAS BIOLOGICAS, área de concentração em Ecologia. MANAUS – AM 2005.

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM

Turismo e Recreação nas Praias do Baixo Rio Negro - Uma Avaliação

Retrospectiva de Impactos Ambientais

Mauro do Nascimento

Dissertação apresentada ao programa de

Pós-Graduação em Biologia Tropical e

Recursos naturais, do convenio INPA / UFAM,

como parte dos requisitos para obtenção do

titulo de Mestre em CIÊNCIAS BIOLOGICAS,

área de concentração em Ecologia.

MANAUS – AM 2005.

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM

Turismo e Recreação nas Praias do Baixo Rio Negro - Uma Avaliação

Retrospectiva de Impactos Ambientais

Mauro do Nascimento

ORIENTADOR: Prof. Dr. Bruce Walter Nelson

Dissertação apresentada ao programa de

Pós-Graduação em Biologia Tropical e

Recursos naturais, do convenio INPA / UFAM,

como parte dos requisitos para obtenção do

titulo de Mestre em CIÊNCIAS BIOLOGICAS,

área de concentração em Ecologia.

MANAUS – AM 2005.

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Mauro do Nascimento

Turismo e Recreação nas Praias do Baixo Rio Negro – Uma Avaliação

Retrospectiva de Impactos Ambientais / Mauro do Nascimento, 2005

110p. : il.

Dissertação – INPA/ UFAM

1. Turismo 2. Recreação 3. Avaliação Retrospectiva de Impactos Ambientais

4. Praias fluviais 5. Rio Negro

CDD 19.ed.36370098113

Sinopse: As atividades de turismo e recreação desenvolvidas nas praias da margem esquerda do baixo rio Negro, entre a comunidade Arara e foz do Igarapé Tarumã Açu, foram estudadas com os objetivos de avaliar quanto estas atividades são direta ou indiretamente responsáveis pelos impactos ambientais, além de descrever a situação da qualidade ambiental deste trecho do rio Negro. Os temas turismo e meio ambiente, com as suas principais formas de interação e impacto, constituem o capitulo introdutório juntamente com uma caracterização do clima, geologia, geomorfologia e vegetação da área de estudo. O desmatamento e outras agressões sobre a vegetação constituem o maior impacto. Em segundo lugar aparece o lixo como importante forma de degradação ambiental. Outras formas de impacto também foram observadas e sua ocorrência pode ser atribuída tanto às ações dos moradores locais como dos visitantes. Nos capítulos finais, apresenta-se uma metodologia para avaliação da qualidade ambiental, de fácil aplicação em espaços naturais sujeitos a atividades de recreação e turismo, organizado ou não. Seu uso poderá nortear ações de manejo importantes para a conservação do ambiente a da atividade. Palavras chaves: turismo e recreação em espaços naturais, tipos de impactos, avaliação de impactos, praias fluviais do baixo rio Negro, metodologia de avaliação de qualidade ambiental.

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Dedicatória:

A Valmor e Erna, os meus pais.

Leonardo, Álvaro, Eduardo e

Gustavo meus filhos.

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Agradecimentos:

A elaboração de uma tarefa como a de realizar um curso de mestrado é árdua, mas

torna-se prazerosa quando se conta com a ajuda de parentes, amigos e instituições que nos

apóiam, assim gostaria de prestar meus mais profundos agradecimentos aos meus pais –

Valmor e Erna, meus filhos – Leonardo, Álvaro, Eduardo e aquele que ainda não chegou,

mas que já me estimula. Para Eloiza um muito obrigado quer pelas sugestões e pelo

enorme apoio durante muitos anos.

Ao meu orientador professor Bruce Walter Nelson grato por ter confiado em mim e

ter me dado à liberdade de trabalhar com minhas propostas, muito obrigado.

Aos professores e demais colaboradores do curso de mestrado do INPA, pessoas

cujo convívio pude desfrutar por todo este período e que agora homenageio e agradeço.

Aos colegas de curso por terem tornado este meu caminho mais suave devido ao

seu companheirismo, pois um sonho só se realiza quando não se sonha só.

As instituições responsáveis pela criação e manutenção do curso o Instituto

Nacional de Pesquisa da Amazônia - INPA, a Universidade Federal do Amazonas –

UFAM, muito obrigado e agradeço também a Fundação de Amparo a Pesquisa do

Amazonas – FAPEAM pela bolsa concedida.

Aos coordenadores do Projeto BioTupé obrigado pelo apoio e providenciais

caronas.

E finalmente aos meus amigos que fiz durante este período, pessoas que muito me

ajudaram a suportar as mudanças que ocorreram e em especial a Eliete que hoje assume

um papel muito importante em minha vida a todos, muito obrigado.

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ÍNDICE

Índice figuras 2

Índice de quadros e tabelas 5

Resumo: 6

Abstract: 7

Apresentação 8

1. Introdução 10

1.1. Turismo e Recreação 10

1.2. Áreas de estudo e suas formas de uso. 14

1.3. Turismo e Impactos Ambientais 22

1.4. Uso Turístico e Qualidade Ambiental 30

2. Objetivo geral 42

2.1. Objetivos Específicos 42

2.2. Questões: 43

3. Materiais e métodos 44

3.1. Formas de medição e avaliação dos impactos: 47

3.2. Beleza Cênica 50

3.3. A área de estudo 51

3.3.1. Aspectos naturais – condições gerais 51

3.3.2. As áreas de praia e o uso de imagens de satélite 55

4. Resultados e discussão 59

4.1. Uso do solo 59

4.1.1. O desmatamento 63

4.1.2. Uso turístico e recreativo 65

4.2. Formas mais freqüentes de acesso às praias 66

4.3. Os impactos 72

4.4. Fatores de geração de danos 89

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4.5. Relação entre a forma de uso recreativo e a intensidade de danos ambientais 90

4.6. Beleza cênica e quantidades de impactos 95

4.7. Método de avaliação de impactos simplificado 96

5. Conclusões e recomendações 98

5.1 Quanto aos impactos 98

5.2 Quanto à forma de avaliação de impactos 100

6. Bibliografia: 106

7. Anexos 109

Formulário 01. Utilizado para caracterização da área. 109

Formulário 02. Utilizados para identificação e quantificação dos impactos. 111

Formulário 03. Utilizado para identificar as formas e intensidade de uso da área. 113

Formulário 04. Utilizado para identificar as infra-estruturas, equipamento e serviços em cada área. 114

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Índice figuras

Figura 01. Fluxograma representando a relação entre a exploração turística e a ecologia ... 9

Figura 02. Praia do Tupé, um dos locais mais procurados nos finais de semana................ 14

Figura 03. Picos de cheias no rio Negro no município de Manaus ..................................... 15

Figura 04 – Mapa do baixo rio Negro apresentando a localização dos perfis, áreas de deposição e blocos neotectônicos. ....................................................................................... 16

Figura 05 – Cortes transversais esquemáticas no baixo rio Negro...................................... 17

Figura 06 – Mapa da hidrografia da área urbana de Manaus. ............................................. 18

Figura 07 – Quadro demonstrativo dos limites de balneabilidade. ..................................... 19

Figura 08 – Quadro demonstrativo dos resultados de balneabilidade nas praias da área urbana de Manaus................................................................................................................ 20

Figura 09 – Modelo resumido das inter-relações entre atividade turística e impactos sobre os elementos ambientais ...................................................................................................... 24

Figura 10 – Modelo de interação entre a atividade turística e os impactos sobre o solo. ... 26

Figura 11 – Modelo de interação entre as atividades turísticas e prováveis impactos sobre a vegetação. ............................................................................................................................ 27

Figura 12 – Modelo de interação entre a atividade turística e os impactos sobre a fauna. . 29

Figura 13 – Modelo de interação entre a atividade turística e provável impactos sobre os recursos hídricos e a fauna aquática. ................................................................................... 30

Figura 14 – Ciclo de vida das destinações turísticas ........................................................... 31

Figura 15. Erosão da margem, possivelmente provocada pela retirada da vegetação para construção do centro de visitantes ao fundo – praia do Tupé - Manaus. / setembro 2003.. 35

Figuras 16 e 17 - Lixo abandonado por visitantes (Cachoeira Dois de Novembro, rio Machado, rio Juruazinho, respectivamente Machadinho do Oeste / RO) (agosto / 2002) .. 36

Figura 18 – Abrigo para acampamento improvisado – Pimenta Bueno / (RO) (julho / 2001)............................................................................................................................................. 38

Figura 19 – Exemplos de construções que degradam a paisagem – praia de Paricatuba, margem direita do rio Negro (setembro / 2003) .................................................................. 39

Figura 20 - Mapa de localização da área de estudo – área em destaque seta no fragmento de imagem ................................................................................................................................ 45

Figura 21 - Exemplo de praia com a presença de falésia ao longo da costa. Pria do Tupe. 47

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Figura 22 - Carta estratigráfica da Bacia do Amazonas. ..................................................... 54

Figura 23 - Detalhe de imagem apresentando uma área de praia (praia do Tupé) .............. 55

Figura 24 - Construção de moradia característica como segunda residência edificada em Reserva de Uso Sustentável Tupé – contrariando a legislação vigente............................... 56

Figura 25 - Mapa de localização das praias visitadas e outras localidades ......................... 57

Figura 26 - Imagem apresentando o trecho 01 iniciando no igarapé Tarumã-Açu ate praia do seu................................................................................................................................... 59

Figura 27 - Imagem apresentando o trecho 02, com inicio na praia do seu Zé finalizando na ponta do Tatuquara. ............................................................................................................. 60

Figura 28 - Imagem apresentando o trecho 03, da ponta do tatuquara ate a foz do Igarapé Tatu...................................................................................................................................... 61

Figura 29 - Imagem apresentando o trecho 04, compreendido entre a foz do Igarapé Tatu e a do Igarapé Caiaué. ............................................................................................................ 61

Figura 30 - Imagem apresentando o trecho 05 estendendo-se entre a foz do Igarapé Caiaué e a foz do igarapé Arara....................................................................................................... 62

Figura 31. Condições quanto aos níveis de desmatamento na margem esquerda do Baixo rio Negro.............................................................................................................................. 64

Figura 32. Embarcação regional denominada de recreio é a mais utilizado em passeios organizados, estas estão ancoradas na Praia do Tupé.......................................................... 67

Figura 33. Embarcação particular neste caso utilizada por famílias e/ou por pequenos grupos de visitantes, podem ser encontradas em praias movimentadas ou em locais isolados. ............................................................................................................................... 68

Figura 34 – Mapa da Freqüência de Uso das praias do Baixo rio Negro / setembro 2004 . 69

Figura 35- Exemplo de placa de orientação presente na entrada do centro de visitantes da RDS do tupé ........................................................................................................................ 71

Figura 36 - Vidro e plástico a maior contribuição em termos de lixo praia do Tupé / Setembro 2004..................................................................................................................... 74

Figura 37 - Copos e pratos descartáveis lixo abandonado pelas barracas “restaurantes” que exploram a praia do Tupé. Julho / 2004 .............................................................................. 75

Figura 38 - Lixo presente à beira d’água pela disposição linear provavelmente carregado pelo rio Praia do Tupé / setembro 2004............................................................................... 75

Figura 39 - Plantas (palmeiras) retiradas para servirem como elementos de decoração em festa realizada na praia costa Caiaué / Setembro 2004........................................................ 76

Figura 40 - Detalhe da festa organizada na praia onde se utilizaram plantas nativas como elementos de decoração costa do Caiaué / Setembro 2004 ................................................. 77

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Figura 41 - Bosqueamento outra forma de impacto sobre a vegetação e sobre o solo. Praia costa do Arara / setembro de 2004. ..................................................................................... 78

Figura 42 - Restos de fogueira utilizada para queima de lixo, praia de Livramento / Setembro 2004..................................................................................................................... 79

Figura 43 - Restos de fogueira típica para o preparo de alimentos “churrascos”, praia do Arara / Setembro 2004......................................................................................................... 80

Figura 44 - Inscrições feitas sobre parede da falésia, local praia do Tupé / Março 2004 .. 81

Figura 45 - Inscrições feitas sobre parede da falésia, local praia do Tupé / Março 2004 ... 81

Figura 46 - Processos erosivo associados a retirada da cobertura vegetal em terrenos com declividade acentuada. Local praia do Tupé / Julho 2004................................................... 83

Figura 47 - Processo erosivo sobre faixa de areia. Local praia costa do Caiaué / Setembro 2004 ..................................................................................................................................... 84

Figura 48 - Tentativa de contenção de processo erosivo com o uso de sacos de areia. Local Praia do Tupé / julho 2004 .................................................................................................. 84

Figura 49 - Erosão de encosta de falésia local praia do Tupé / março 2004 ....................... 85

Figura 50 - Erosão sobre faixa de areia com a completa remoção do material. Local praia do Tupé / Março 2004 ......................................................................................................... 85

Figura 51 -Trilha ligando a área de praia a parte alta (roçados) local costa do Tatu / setembro 2004 ..................................................................................................................... 86

Figura 52 - Construção residencial improvisada utilizando-se restos de matérias de construção local costa do Tatu / setembro 2004.................................................................. 87

Figura 53 - Construção comercial observa-se os improviso de material na construção e a desorganização no uso do espaço. Local praia do Tupé / março 2004................................ 88

Figura 54 - Construção residencial de temporada (férias) construída em uma Unidade de Conservação de uso Direto. Local praia do Tupé / março 2004.......................................... 88

Figura 55 - Tipos de impactos e sua freqüência, para as praias do Baixo rio Negro / setembro 2004 ..................................................................................................................... 89

Figura 56 – Impactos e presença de habitação para as praias do Baixo rio Negro / setembro 2004 ..................................................................................................................................... 90

Figura 57– Mapa segundo níveis de impactos observados nas praias do Baixo rio Negro / setembro 2004 ..................................................................................................................... 92

Figura 58 - Mapa dos níveis de impactos ambientais observados por praia ou trechos do Baixo Rio Negro / setembro 2004 ....................................................................................... 94

Figura 59 - Relação entre o número de impactos e a beleza cênica por praia..................... 95

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Índice de quadros e tabelas

Tabela 01 - Distâncias, forma de acesso, periodicidade de uso e existência de serviços nas praias visitadas............................................................................................................. 66

Tabela 02 – Características das praias do Baixo rio Negro quanto à presença de habitação, infra-estrutura e quantidade total de impactos............................................................. 70

Tabela 03 - Praias e impactos ambientais observados nas praias do Baixo rio Negro em setembro / 2004 ........................................................................................................... 72

Tabela 04 – Praias do Baixo Rio Negro e respectiva quantidade de lixo ordenado segundo a relação lixo pela extensão, setembro 2004. .............................................................. 74

Tabela 05 – praias do Baixo rio Negro com presença de restos de fogueira, setembro / 2004..................................................................................................................................... 79

Tabela 06 - Ocorrência de processos erosivos e habitação por praia do baixo rio Negro / setembro 2004 ............................................................................................................. 82

Tabela 07 – distribuição das quantidades de impactos por praia do Baixo rio Negro segundo a condição de habitada ou não. ..................................................................... 91

Tabela 08 – Resultados das avaliações de beleza cênica e quantidade de impactos por praia do baixo rio Negro / setembro 2004 ............................................................................ 96

Quadro 01. Proposta de questionário para avaliação simplificada de qualidade ambiental em áreas de uso recreativo ou turístico...................................................................... 103

Quadro 10 – Indicadores de qualidade ambiental segundo o método de avaliação simplificado ............................................................................................................... 104

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Resumo:

O foco deste estudo foram as atividades de turismo e recreação desenvolvidas nas

praias da margem esquerda do baixo rio Negro, entre a comunidade Arara e a Foz do

Igarapé Tarumã Açu. Os objetivos principais foram de avaliar quanto estas atividades são

direta ou indiretamente responsáveis pelos impactos sobre o meio ambiente e descrever a

situação da qualidade ambiental deste trecho do rio Negro. Uma revisão bibliográfica sobre

os temas turismo e meio ambiente, e suas principais formas de interação e impacto -- sobre

o solo, a vegetação, a fauna e os recursos hídricos -- constituem o capítulo introdutório.

Foram também revisados trabalhos sobre o clima, geologia, geomorfologia e vegetação da

área de estudo. Este conjunto de informações ajudou a definir ações de campo que

possibilitaram a avaliação retrospectiva de impactos ambientais. O desmatamento para a

agricultura e para outras formas de uso da terra, bem como outras agressões sobre a

vegetação, constituem o maior impacto. São conseqüências do uso agrícola e outras formas

de uso do solo. Em segundo lugar o lixo aparece como importante forma de degradação

ambiental. Os moradores, os visitantes e a deposição pelo rio são as fontes de lixo, nesta

ordem de importância. O problema do lixo é agravado pela ausência de coletores e ações

de limpeza regulares e completas. Outras formas de impactos também foram observadas e

sua ocorrência pode ser atribuída tanto às ações dos moradores locais como dos visitantes.

Estes impactos são menores em freqüência e intensidade, mas no conjunto apresentam um

efeito importante na degradação da paisagem. As praias do baixo rio Negro, quando

observadas na sua totalidade, ainda são satisfatoriamente preservadas -- e, portanto ainda

atraentes, -- embora alguns pontos apresentem condições mais preocupantes, pois

apresentam quantidades significativas de impactos e pouca ou nenhuma infra-estrutura que

possibilite amenizar estes impactos. Nos capítulos finais, apresenta-se uma metodologia

para avaliação da qualidade ambiental de fácil aplicação em espaços naturais sujeitos a

atividades de recreação e turismo, organizada ou não. Seu uso poderá nortear ações de

manejo importantes para a conservação do ambiente e da atividade.

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Abstract:

This study examined tourism and recreation on the beaches of the left margin of the

lower Rio Negro, between the mouth of the Tarumã-Açu and the village of Arara. The

main objectives were to examine the degree to which these activities are directly or

indirectly responsible for environmental impacts, and to describe the environmental quality

of this section of the Rio Negro is shores. The Introduction includes a review of tourism

and recreation with regards to their impacts on soil, vegetation, fauna and water resources.

Prior studies that describe the climate, geology, geomorphology and vegetation of the

study area were reviewed. This background information helped to define field data

collection procedures that led to a retrospective evaluation of environmental impacts.

Deforestation for the purposes of agriculture and other land uses, as well as alterations of

vegetation, were the most extensive type of impact. Litter and trash were the second most

important form of environmental impact on the beach areas. The sources of this detritus,

in order of importance, were local residents, visitors, and transport and deposition by the

river. The trash and litter problem was much aggravated by the absence of trash bins and

lack of regular and complete cleanup efforts. Other types of impact could also be

attributed to both residents and visitors. Though of lesser intensity and frequency, when

summed together, they constituted an important contribution to degradation of the

landscape. Overall, the beaches of the lower Rio Negro are still in a satisfactory state of

preservation – and therefore still able to attract visitors – but some individual sites are in a

worse state, with higher levels of impact and little or no mitigating infrastructures. The

final chapter presents a simplified and easily applied method for evaluating environmental

quality in natural spaces subjected to tourism and recreation, organized or otherwise. Its

use should allow wiser management of these activities and consequently improved

environmental conservation.

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Apresentação:

O município de Manaus atualmente apresenta um representativo crescimento da

atividade turística, que tem na exploração dos atrativos naturais e culturais do município

seu principal potencial. Ao mesmo tempo, a população local explora os mesmos locais

para realizar suas atividades recreativas. Entre estes atrativos, as praias fluviais espalhadas

ao longo do baixo rio Negro tem sido um dos locais mais explorados.

O fato preocupante é saber se estas áreas estão realmente adequadamente

preparadas para receber o contingente populacional e as atividades econômicas associadas

que serão desenvolvidas. Deve-se avaliar também, se as formas como as atividades são

realizadas estariam gerando danos ao meio ambiente, que futuramente possam acarretar a

redução da qualidade ambiental e conseqüentemente da atratividade local, e assim a

supressão das praias fluviais como locais para a prática de turismo e recreação.

Uma avaliação de impacto ambiental de caráter retrospectivo nestas praias é

fundamental, tanto para identificar a situação atual das localidades, bem como para

identificar as áreas já degradadas e os elementos naturais mais danificados. Para isto,

propõe-se a utilização de um método de avaliação baseado em três elementos básicos: a)

caracterização do espaço explorado; b) descrição da forma de uso ou exploração; e c)

quantificação dos danos observados.

Os indicadores escolhidos para caracterizar os danos são: a presença e a quantidade

de lixo, a alteração da cobertura vegetal, a erosão das margens e encostas, o uso de fogo, as

pichações ou vandalismo, e a presença de construções irregulares ou em desarmonia com a

paisagem.

A relação existente entre a ecologia e o turismo fica evidente quando se define os

objetos de interesse dos dois ramos do conhecimento. Se, por um lado, a ecologia procura

o entendimento das relações existentes entre os seres vivos (inclusive o homem e suas

atividades econômicas) e os elementos ambientais, do outro o turismo tem nos elementos

ambientais um importante atrativo para o desenvolvimento da atividade. Como todo tipo

de atividade realizada pelo homem tem algum tipo de conseqüência para o meio ambiente,

pode-se concluir que conhecer as relações entre atividades econômica e meio ambiente é,

sem duvida, um componente importante dos estudos da ecologia.

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Turismo Ecologia

utiliza estuda

Elementos naturais como atrativos

Relação entre seres vivos e o ambiente

gera

Degradação Mudanças ambiental no ambiente

identifica

Figura 01. Fluxograma representando a relação entre a exploração turística e

a ecologia

O fechamento deste estudo dá-se com a elaboração de propostas que visem garantir

a sustentabilidade da exploração turística e recreativa de praias fluviais, além de fornecer

subsídios para ações de planejamento pelas autoridades competentes. Resumidamente, este

estudo apresenta três grandes linhas de abordagem. A primeira corresponde à

caracterização dos ambientes de praia e das infra-estruturas, equipamentos e serviços

disponibilizados para os visitantes em cada praia; a segunda linha de trabalho constitui-se

na aplicação de um modelo de avaliação de impactos ambientais retrospectiva, procurando

quantificar o nível de danos ambientais que estão sendo ocasionados pelas atividades

turísticas e recreacionais nestes ambientes; o terceiro enfoque procura apresentar uma

proposta de manejo para reduzir os danos, proporcionando assim uma redução do impacto

ambiental.

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1. Introdução

1.1. Turismo e Recreação

O turismo ocupa hoje papel relevante na economia mundial, situando-se entre os

três maiores produtos geradores de riqueza – 6% do PIB global – só perdendo para a

indústria do armamento e do petróleo (RODRIGUES, 1999 p 17). No Brasil, o turismo

como fenômeno social começou depois de 1920, surgindo vinculado ao lazer; nunca teve

cunho de aventura ou educativo como na Europa. A partir de 1950, grandes contingentes

passam a viajar. Apesar de ser principalmente um turismo de massa, não beneficia o total

da população. Acreditam os especialistas que apenas 30% da população brasileira pode

fazer turismo (BARRETO, 1995 p 56)

Duas colocações feitas pela autora são importantes. A primeira é o caráter de lazer

ou recreativo do turismo brasileiro, também típico de Manaus e de sua população. A

segunda é o quanto da população estaria apta para realizar a atividade turística ou

recreativa. Aplicando-se a proporção de 30%, para a população de Manaus, teríamos um

contingente de mais de 500.000 pessoas aptas para a prática do turismo ou de recreação. É

lógico que este contingente todo não freqüenta as praias fluviais habitualmente. Os

motivos são vários: opção por outros destinos, precariedade dos meios de acesso, ou as

condições de infra-estrutura e serviços oferecidos aos visitantes nas praias.

No entanto, estes números apontam para a existência de uma demanda significativa,

meio milhão de habitantes que poderiam constituir-se em usuários habituais das praias do

rio Negro, como destino turístico ou para o lazer diurno, em um nível bem maior do que é

observado hoje, desde que estes locais sejam preparados (infra-estrutura e serviços) e com

as condições ambientais preservadas. Se tal situação ocorrer, poderá representar um

expressivo acréscimo na geração de renda e emprego, tanto para a população residente nas

margens do rio como na cidade de Manaus.

Diante desta massa de usuários locais em potencial, é importante e necessário

avaliar os efeitos de turismo recreação sobre o meio ambiente, principalmente nas praias

do baixo rio Negro, e com isso assegurar a manutenção e sustentabilidade da atividade e do

ambiente. O número de definições quanto ao fenômeno turismo é grande, mas como o

objetivo aqui não se constitui numa revisão do termo, optei por apresentar apenas algumas

condições mínimas que aparecem na grande maioria dos entendimentos sobre o termo na

maioria dos autores consultados e também nas definições oficiais da Organização

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Internacional do Turismo (OIT) e da EMBRATUR – Agencia Brasileira de Turismo, estes

elementos caracterizam a atividade, sem que venham a constituir um conceito.

Desta forma, o fato turístico ocorrerá sempre que: (1) houver um deslocamento para

fora do local habitual de residência, por um período de tempo superior a 24 horas; (2) gere

renda no local de destino, ou seja, que o dinheiro gasto tenha sido obtido no local de

residência do turista e não no local visitado; (3) que a motivação deste deslocamento

(viagem) seja espontânea, visando satisfazer as necessidades do viajante como

entretenimento, conhecimento, etc; e (4) que não gere relação de trabalho remunerado no

local da vista.

Para MATHIESON & WALL (1992, p 14), o turismo é composto de três elementos

básicos:

1- Um elemento dinâmico que envolve o deslocamento para o local / destino

selecionado;

2- Um elemento estático que envolve a permanência no destino;

3- Um elemento resultante da composição dos dois elementos anteriores, o qual

preocupa-se com os efeitos sobre os subsistemas econômico, social e ambiental que estão

em contato direto ou indireto com o turista.

A recreação pode ser entendida como atividades realizadas durante o período de

lazer1. Os elementos são os mesmos do turismo, mas sem deslocamentos grandes e nem

permanência por tempo prolongado. Normalmente é realizada dentro dos limites do

próprio município. Nada impede que uma mesma área seja utilizada simultaneamente,

tanto por turistas como por pessoas nativas que busca apenas satisfazer sua necessidade de

recreação, o que justifica a inclusão dos dois conceitos ou atividades neste estudo.

O turismo e a recreação ao ar livre têm outros dois aspectos básicos em comum.

Primeiro, ambos exigem a instalação de equipamentos para seu funcionamento; segundo,

fornecedores e demandantes interagem para produzir um padrão de consumo turístico ou

recreativo. Estes padrões geram impactos ambientais, sociais e econômicos, e necessitam

de ações de planejamento e administração (MATHIESON & WALL 1992, p 8).

Para satisfazer as necessidades diárias de recreação, os indivíduos usam instalações

próximas da sua casa ou do local de trabalho e por períodos pequenos, durante o dia. A

1 Lazer: é o tempo que resta depois de cumpridas as condições de trabalho e repouso, e após serem completadas as tarefas pessoais e domésticas necessárias. Pode também ser entendido como tempo livre. Normalmente é representado pelos finais de semana, feriados e períodos de férias (MATHIESON & WALL 1992, p 8).

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recreação com duração de um dia (domingo ou feriado) pode exigir um deslocamento para

as franjas da área urbana ou para a zona rural, mas sempre dentro do alcance fácil de casa.

Este tipo de atividade não requer a permanência durante a noite (MATHIESON & WALL

1992, p 9).

CERRO (1993, p 15) afirma que o turismo não se distribui de forma homogênea ou

aleatória pelo espaço, mas, pelo contrário, sua localização é de caráter pontual ou zonal e

responde claramente a uma série de fatores. Este conjunto de fatores são o que pode ser

chamado de produto turístico, ou seja, o resultado obtido com a soma de atrativos

turísticos, equipamentos (serviços de alimentação e hospedagem) e infra-estrutura. Cada

um destes elementos contribui de forma própria tanto na formação do produto como

também na sua manutenção.

Os atrativos turísticos podem ser definidos como sendo a característica de uma

localidade que influencia na escolha do visitante por um destino, em detrimento de outro.

Este componente do produto turístico é sem duvida o mais importante, pois é em função

dele que são implantados os outros componentes (equipamentos de hospedagem e

alimentação e outras infra-estruturas). E vai ser esta adequação do local para o recebimento

do visitante2 que ira acarretar nas alterações espaciais mais importantes, como a

implantação de edificações e retirada da cobertura vegetal, entre outras.

Os atrativos turísticos, tanto os naturais quanto os culturais, constituem-se na

matéria prima ou no principal recurso explorado pelo turismo. Assim, o seu uso deve ser

orientado pelos mesmos princípios que são empregados para os demais recursos naturais,

podendo ser considerado até mesmo como um recurso natural não renovável, ou pelo

menos cuja recuperação é difícil e onerosa.

O potencial de uma área natural constituir-se em um atrativo turístico ou recreativo

depende de seu caráter paisagístico, ou seja, da beleza cênica local. Portanto, a manutenção

da atratividade requer a manutenção desta beleza. A preservação dos atrativos naturais

estará condicionada diretamente à forma e à intensidade com que este recurso é utilizado.

Desta forma, pode-se afirmar que todo e qualquer fator que altere as características naturais

do atrativo, e conseqüentemente prejudique a sua beleza natural, deva ser entendido como

dano ambiental.

Outro fator, que creio apresentar uma forte influência na distribuição e na

manutenção dos locais de uso turístico ou recreativo é a condição ambiental da área. Creio

2 Este termo será empregado doravante para representar tanto o turista como o morador local em recreação.

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que esta condição ambiental seja diretamente afetada por dois fatores: um é a capacidade

que a área tem em suportar os impactos gerados pela atividade (resistência) e de retornar a

sua condição anterior após ter sofrido algum dano (resiliência). A segunda condição seria a

capacidade em sustentar a exploração (capacidade de suporte). Esta teria um caráter mais

administrativo, uma conseqüência da existência de um plano de uso turístico ou recreativo

para estas localidades. Em outras palavras, a qualidade ambiental destas áreas passa

obrigatoriamente pela necessidade de se estabelecer um programa de manutenção e

conservação.

A existência de infra-estrutura e serviços voltados para a manutenção destes locais

tem como resultado a redução dos impactos sobre o ambiente. Assim, a área passa a ter a

possibilidade de exploração mais intensa e prolongada. A importância dos equipamentos e

da infra-estrutura na conservação dos atrativos pode ser enfatizada como na colocação de

WAHAB & PIGRAM (1997, p 285), quando afirmam ser necessário proporcionar infra-

estrutura em áreas com potencial de turismo, a fim de encorajar a colonização e de outras

atividades econômicas para proporcionar um crescimento em harmonia com o turismo.

Um sistema de limpeza e coleta de lixo nas praias é fundamental para a conservação da

área.

As infra-estruturas e serviços avaliados neste estudo são aqueles que tem como

finalidade a preparação e adequação da área para o uso turístico ou recreacional. São

aquelas consideradas como mitigadoras de impactos, pois qualquer outro tipo de infra-

estrutura (estradas, rede de energia, etc) e oferta de serviços (hotel, restaurante, camping,

etc.), além do impacto gerado pela sua própria implantação, gera um fluxo maior de

visitantes resultando em maior impacto ambiental.

O turismo, muitas vezes, é apontado como uma alternativa econômica capaz de

conciliar desenvolvimento e conservação ambiental. Porém, isso só irá ocorrer se a

implantação da atividade for acompanhada por ações que amenizem os impactos

ambientais. Agindo-se desta forma o turismo pode ser considerado como uma forma de

apoio à conservação ambiental, pois, ao contrario das demais atividades econômicas, o

turismo depende exclusivamente da existência de um ambiente preservado para sua

existência. Quando a atividade desenvolve-se fora de controle ou com pouco apoio técnico

e científico, ocorrem impactos ao local explorado. Como conseqüência, teremos a perda da

atratividade turística ou recreativa e conseqüente abandono desta área por parte dos

visitantes.

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1.2. Áreas de estudo e suas formas de uso.

A área de estudo compreende as praias formadas ao longo do baixo rio Negro,

dentro do município de Manaus. Estas áreas podem ser definidas como Praias de

Estiagem – ou seja, faixas de areia que aparecem em lugares ao longo da base das falésias

(encostas íngremes situadas ao longo da margem do rio) e ao longo das margens do

sistema de drenagem. São depósitos de sedimentos compostos por areia de quartzo,

derivada do retrabalhamento (erosão) da Formação Alter do Chão (FRANZINELLI &

IGREJA, 2002 p 265)

Foto: Mauro do Nascimento

Figura 02. Praia do Tupé, um dos locais mais procurados nos finais de semana.

Os mesmos autores apontam a margem sul (ou margem direita) do baixo rio Negro

como a que apresenta os depósitos mais proeminentes. Segundo eles, isso ocorre devido,

principalmente, à ação dos ventos que são predominantemente de nordeste. Este mesmo

motivo fez com que a margem escolhida para a realização deste estudo fosse a margem

esquerda (norte) do rio Negro, diminuindo a possibilidade de encontrar detritos (lixo), que

não foram produzidos pelos visitantes, mas sim conduzidos pelo vento.

Muitas destas praias só são expostas durante o curto período de estiagem, entre os

meses de novembro e dezembro, quando o nível das águas do rio está baixo, já que os

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meses de junho e julho correspondem aos meses de cheia, conforme gráfico a seguir

(Figura 03).

Fonte: CPRM/AM 2002 - in Geo Manaus (2002, p 113)

Figura 03. Picos de cheias no rio Negro no município de Manaus

Estas praias apresentam dimensões muito variáveis, tanto em largura como em

extensão, e estas medidas podem variar de um ano para o outro em função do próprio

regime de cheia e vazante do rio. Como exemplos destas dimensões, FRANZINELLI &

IGREJA (2002, p 264) relatam “a Praia da Ponta Negra situada na margem norte a

aproximadamente 15 km do centro de Manaus, apresenta cerca de 02 km de comprimento

e a Praia Grande, na margem sul, apresentando 12 km de extensão, 200m de largura e 16 m

de altura está situada a cerca de 70 km a montante de Manaus.”

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Fonte: Franzinelli & Igreja (2002, p 266)

Figura 04 – Mapa do baixo rio Negro apresentando a localização dos perfis,

áreas de deposição e blocos neotectônicos.

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Fonte: Franzinelli & Igreja (2002, p 265)

Figura 05 – Cortes transversais esquemáticas no baixo rio Negro.

A utilização dos ambientes de praias do rio Negro confunde-se com a própria

historia da cidade, “Em 1840, Araújo Amazonas em seu Dicionário Topográfico, Histórico

e Descritivo da Comarca do Alto Amazonas, descreve a vila como aprazível e salubre –

onde não se conhecem moléstias. As que aqui chegam degeneram... na vila que se

denominou Alfama do Rio Negro. A vida era rotineira e tranqüila: os locais,

principalmente os gentios, passavam a maior parte do tempo em banhos de rio – o asseio é

uma qualidade inata dos nativos – e as atividades da cidade concentravam-se nos bailes e

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festas de igreja, durante o inverno (períodos de enchente dos rios) e em passeios nos lagos

e praias, durante o verão (períodos de vazante)” (GEO MANAUS 2002, p 25).

Esta prática sobrevive até os dias atuais somando-se aos moradores locais os

turistas que, embora em número bem menor, também procuram estes locais como um dos

principais atrativos turísticos da região. A grande diferença é que, no presente, estes locais

de banho encontram-se distantes do centro urbano, pois os principais cursos d’água que

cortam a cidade de Manaus encontram-se poluídos e suas margens habitadas.

A área urbana de Manaus abrange quatro bacias hidrográficas, todas contribuintes

da grande bacia do rio Negro. Duas bacias encontram-se integralmente dentro da cidade –

do igarapé de São Raimundo e do igarapé do Educandos – e duas parcialmente inseridas na

malha urbana – do igarapé do Tarumã-Açu e do rio Puraquequara (GEO MANAUS 2002,

p 68)

Fonte: IBAM / DUMA sobre dados da Prefeitura, extraído de GEOMANAUS (2002, p 69)

Figura 06 – Mapa da hidrografia da área urbana de Manaus.

A avaliação da balneabilidade vem sendo feita pela prefeitura de Manaus em

algumas praias dentro da área urbana do município. As principais praias do rio Negro sob

monitoramento em Manaus estão localizadas nos seguintes trechos: Ponta Negra; Porto de

São Raimundo no bairro de São Raimundo; Praia do Amarelinho no bairro do Educandos;

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e Porto da Ceasa. (GEO MANAUS, 2002 p 79). Veja resultados do monitoramento da

Prefeitura, na figura 09.

Neste caso, é importante destacar que é a cidade, e não a atividade turística, a fonte

de contaminação; por esta razão as praias que irão compor este estudo localizam-se

predominantemente fora da área urbana. Somente assim será possível isolar o fator

“turismo e recreação” como elemento gerador de impactos.

Dos dados apresentados pelo estudo GEO MANAUS, cabe destacar os que foram

levantados na praia da Ponta Negra, pois esta praia encontra-se a montante da área urbana,

embora em área com relativa ocupação residencial. De acordo com os critérios da

CONAMA (Figura 07) e os dados no GEO MANAUS (Figura 08), dois dos cinco pontos

de coleta ao longo da Praia de Ponta Negra tiveram águas impróprias para banho durante o

ano 2001. As maiores concentrações foram encontradas no período de águas baixas e

perto do Hotel Tropical.

Limites de coliformes fecais por 100mL por categoriaCategoria Porcentagem do Tempo Limite de

Coliforme Fecal (NMP/100ml)

Limite de E. coli

(UCF/100ml) Própria

Excelente 250 200 Muito Boa 500 400 Satisfatória

Valor máximo em 80% ou

mais do tempo 1000 800 Imprópria

Superior ao valor indicado em 20% do tempo

1000 800

Superior ao valor indicado na última amostragem

2500 2000

Fonte: Resolução CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente - nº 274/00 em www.cetesb.sp.gov.br/agua/praias/resolução274.htm (em dez/2003)

Figura 07 – Quadro demonstrativo dos limites de balneabilidade.

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Janeiro Fevereiro Março

Abr

il

Maio Junho Julho Agosto

Sete

mbr

o

Outubro Novembro DezembroPontos de coleta

16 24 31 7 14 21 7 21 4 2 9 18 21 30 18 25 2 9 16 21 30 2 13 20 27 25 4 8 15 26 31 6 12 19 26 3 10 31

Ponta Negra / Tropical Hotel Ponta Negra Rampa Bar Itapoã Ponta Negra /escada do Anfiteatro Ponta Negra/ Anfiteatro Ponta Negra / Prainha Tarumã / Cachoeira Alta Educandos / Amarelinho Educandos / Ponta Branca Porto de São Raimundo Porto CEASA Parque Samauma 1 Parque Samauma 2

Coliformes fecais abaixo de 1.000 NMP/100ml Coliformes fecais acima de 1.000 NMP/100ml Dados não disponíveis Fonte: IBAM/DUMA, sobre dados da SEDEMA E COVISA, 2002, in GEOMANAUS (2002, p. 80)

Figura 08 – Quadro demonstrativo dos resultados de balneabilidade nas praias da área urbana de Manaus

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Considerando que os pontos de coleta menos contaminados estão, no máximo, 2 km

a jusante do hotel, ao longo da praia da Ponta Negra, pode-se supor que as águas do rio

Negro apresentam uma boa capacidade de resistência a estes elementos poluentes e que a

fonte da contaminação esteja associada com o Hotel.

As características físico-químicas das águas do rio Negro com pH muito baixo, são

responsáveis pela rápida diminuição dos índices de coliformes; possivelmente o baixo pH

iniba o crescimento e proliferação de certas bactérias, permitindo que algumas de suas

praias apresentem condições satisfatórias de uso (GEO MANAUS 2002. p 79). Com uma

vazão media de 30.000 m³/seg (MEADE et al., 1991 apud FRANZINELLI & IGREJA,

2002, p 263), ocorrera também uma rápida diluição das fezes e também dos coliformes.

As áreas de estudo estão situadas a montante da área urbana do município. Se

considerarmos que estes fatores físicos, químicos e hidrológicos atuam em todo o curso do

rio, é possível afirmar que a contaminação por coliformes não seja (no caso do rio Negro)

uma fonte de impacto importante para as praias. Esta afirmação se baseia principalmente

no fato que estas localidades estão distantes do centro urbano e também por apresentarem

concentrações de pessoas em curtos períodos, como o compreendido por um final de

semana, em alguns casos com menos de 12 horas de duração.

Uma avaliação de balneabilidade em outros locais de uso recreativo deve

considerar a poluição da água, principalmente se a área apresentar um pequeno volume de

água, velocidade de renovação baixa e alguma fonte de contaminação (despejo de esgotos).

Pequenos lagos e rios que atravessem áreas povoadas são exemplos destes tipos de

ambientes.

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1.3. Turismo e Impactos Ambientais

1.3.1 Avaliação de Impactos Ambientais

Segundo JAIN (1981) apud ALMEIDA (2002, p. 112) a “avaliação de impacto

ambiental é o estudo das prováveis mudanças nas características sócio-econômicas e

biofísicas do ambiente que possam resultar de uma ação proposta ou já em curso”.

Há uma boa quantidade de bibliografia referente às fontes de impacto sobre o

ambiente natural, gerada pela atividade de turismo e recreação. Porém, grande parte destes

estudos faz referência a formas e intensidades de uso distintos das que observamos nas

praias do rio Negro, ou estudaram ambientes ecologicamente diferentes.

O importante aqui é lembrar que toda ação humana com relação ao meio ambiente

tem efeitos negativos ou positivos – impactos ambientais. Deste modo, as atividades de

turismo e recreação também geram impactos. Logicamente, estes têm escalas de magnitude

bem menores do que as que podem ser observadas em grandes obras de engenharia. A

magnitude pode ser entendida como a medida de gravidade da alteração do valor de um

elemento ambiental. Desta forma, magnitude é a soma dos valores determinados para os

atributos extensão, periodicidade e intensidade dos impactos (ALMEIDA, 2002, p 116).

O mesmo autor define estes atributos da seguinte forma:

Por extensão entende-se como tamanho da área afetada pela atividade e que sofre

algum tipo de impacto. Neste caso, a unidade básica de referencia escolhida é a mesma

definida para o estudo (praias na margem esquerda do baixo rio Negro compreendido entre

o Igarapé Tarumã e Arara).

A periodicidade refere-se à duração do impacto em comparação com a duração do

fato gerador do impacto, por exemplo, impacto permanente quando este permanece mesmo

depois que o local não é mais utilizado.

A intensidade é definida pela quantificação da ação impactante.

Para CHRISTOFOLETTI (2002, p. 142) uma avaliação de impactos ambientais

deve seguir as seguintes etapas: a) delimitar a área a ser estudada e definir o problema; b)

identificar os efeitos ambientais mais prováveis; c) predizer a magnitude dos impactos

prováveis; d) avaliar a significância dos impactos ambientais prováveis para cada

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alternativa de desenvolvimento; e e) comunicar os resultados da avaliação, incluindo

recomendações sobre as melhores alternativas.

Para que seja possível avaliar os impactos ambientais sobre cada elemento do

modelo apresentado acima, se faz necessário estabelecer um conjunto de indicadores de

impactos que melhor apontem os prováveis impactos, tanto diretos como indiretos, gerados

pela atividade de turismo e recreação nas praias do baixo rio Negro. Tendo em vista as

peculiaridades deste tipo de atividade (turismo e recreação), nem todos os indicadores que

normalmente são propostos pelos métodos já conhecidos de avaliação de impactos são

possíveis de serem medidos ou são pertinentes à atividade. Assim uma das tarefas deste

estudo será a de identificar quais os indicadores de impacto que melhor caracterizem os

efeitos sobre o meio ambiente.

MATHIESON & WALL (1992, p 93) afirmam que o crescimento do turismo

inevitavelmente acarreta modificações no meio ambiente. Destacam também as

dificuldades conceituais e metodológicas para a avaliação de impactos ambientais gerados

pela atividade turística. Citam como principais problemas:

• Pesquisas sobre impactos gerados pelo turismo geralmente concentram-se em

questões como: qualidade do solo, ar ou água.

• Muitos estudos referentes a efeitos do turismo sobre o meio ambiente levam em

consideração um único componente ambiental.

• Pesquisas feitas em vários ambientes como na América do Norte e Inglaterra tem

ênfase em aspectos regionais. Na África, o enfoque é sobre a vida selvagem, no

Mediterrâneo, o principal elemento estudado é a água e sua qualidade, o que

dificulta a comparação entre estes estudos, tendo em vista as particularidades dos

diferentes ambientes e da intensidade e duração da atividade turística.

Muitas das pesquisas sobre os impactos gerados pelo turismo são recentes e limitados a

uma análise dos fatos após a sua ocorrência e como tais, apresentam problemas

metodológicos para sua investigação. Tais problemas incluem:

• As dificuldades em se distinguir as mudanças geradas pelo turismo e aquelas

provocadas por outras atividades.

• A falta de informação relativa a condições antes do advento do turismo e,

conseqüentemente, a falta de uma base ou referencial contra as quais as mudanças

podem ser medidas.

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• A escassez de informação referente aos números, aos tipos e aos níveis de

tolerância dos diferentes poluentes, e das espécies de flora e fauna. Concluem que

isto torna impossível reconstruir o ambiente em relação a vários níveis de uso, tanto

no passado como no presente.

• A concentração das pesquisas sobre os recursos primários, em particular as praias e

montanhas, como sendo ecologicamente sensíveis.

FFoonnttee:: aaddaappttaaddoo ddee MMAATTHHIIEESSOONN && WWAALLLL ((11999922,, pp 113311))

Figura 09 – Modelo resumido das inter-relações entre atividade turística e

impactos sobre os elementos ambientais

A figura 09 apresenta um modelo conceitual que mostra as interações propostas

entre o turismo e os elementos ambientais. Pode-se notar que todos os elementos são

afetados tanto de forma direta como indireta. Assim, quando da elaboração de estudos que

visem apontar impactos ambientais gerados pelo turismo, é fundamental que todos os

elementos sejam contemplados no estudo.

Em muitos casos, a intensidade dos impactos pode ser considerada pequena quando

o estudo é efetuado em uma escala local ou pontual. Porém, se somarmos todos os pontos

(praias) que são utilizadas ao longo do rio Negro, pode-se deduzir que a quantidade e

SOLO

VEGETAÇÂO

ATIVIDADE TURISTICA

FAUNA

AGUA

GEOLOGIA

AR

24

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intensidade dos impactos ampliam-se proporcionalmente com a ampliação da área

estudada, tornando-se assim uma fonte de impacto bastante significativo e tendendo a

resistir enquanto não cessarem os causadores dos danos ou até que ocorra uma ação de

controle e manejo destas áreas.

Em outro trabalho CENDRERO (1989, p. 372) aponta os principais problemas

gerados pelo turismo observado em uma área do litoral espanhol.

• Desenvolvimento anárquico do turismo.

• Desenvolvimento urbano industrial desregulado, interferindo freqüentemente

entre si ou com o turismo, e ocupando até mesmo terra agrícola.

• Dano ou destruição de habitats e ou áreas de procriação de várias espécies (aves

aquáticas, peixes, moluscos, etc.).

• Interferência nos processos geomorfológicos costeiros, como o transporte de

sedimento.

• Destruição de ambientes valiosos, sensíveis e ou em extinção como: campos de

dunas e barreiras costeiras, falésias, por causa de construções ou por super

exploração; estuários, áreas de contato água terra firme (praia) e áreas alagadas

litorâneas que são afetadas por aterros, drenagem ou restauração; deltas, recifes,

mangues, campos de algas, e costas arenosas também são afetadas por várias

ações.

Salvo algumas diferenças pertinentes ao tipo de ambiente marítimo, estes exemplos

do litoral marinho são perfeitamente ajustáveis para as características dos ambientes

fluviais.

1.3.2 Impactos sobre o Solo

O modelo a seguir representa como a atividade turística atinge o solo em duas

principais formas de impactos uma sobre a matéria orgânica resultando na alteração da

quantidade de nutrientes disponíveis neste solo. Outro aspectos do solo afetado é o físicos

entre eles a compactação o que resulta em mudanças quanto a permeabilidade e

conseqüentemente um aumento na ação erosiva da água sobre este solo.

Estes fatos são observados principalmente nos locais onde ocorre um fluxo muito

grande de pessoas e veículos e com forte intervenção sobre a cobertura vegetal. Estes

25

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impactos são relativamente fáceis de serem avaliados, pois seus efeitos, são bem visíveis,

principalmente os processos erosivos. Nos outros casos, como a compactação do solo ou a

redução da fertilidade, só é possível de ser avaliada com monitoramento e análises

laboratoriais.

Como o aumento da erosão do solo é uma conseqüência do uso turístico e

recreativo de uma área, representa o dano mais significativo, e os demais tipos de danos

estão associados com a erosão, a constatação de processos erosivos acentuados serve como

indicador dos demais impactos.

ATIVIDADE TURÍSTICA

FFoonnttee:: MMAATTHHIIEESSOONN && WWAALLLL ((11999922,, pp 113311))

Figura 10 – Modelo de interação entre a atividade turística e os impactos sobre

o solo.

Embora o modelo - figura 10 - proposto não identifica as ações humanas que

causam os impactos pode-se afirmar que o transito de pessoas, tanto a pé quanto com uso

Solo Relevo Geologia

Matéria orgânica Compactação do solo +

_

Porosidade Organismos Temperatura Umidade Run-off e Drenagem

+ +_

_

_

Nutrientes +

+

_

Erosão Possíveis impactos + Positivos - Negativos - - - Impacto questionável

26

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de automóveis, é o principal causador de compactação. Com relação à perda de nutrientes

este pode ser relacionado com a retirada da camada superficial de liteira que cobre o solo.

1.3.3 Impactos sobre a vegetação

O uso de uma determinada área com a finalidade turística, dependendo da

intensidade e da forma com que é utilizada pode, acarretar em impactos sobre a vegetação

com alterações que podem variar desde o leve pisoteio de pequenas plantas à total remoção

da cobertura vegetal. Em cada caso este impacto pode ser avaliado também, levando-se em

consideração o tamanho da área afetada e o tipo de vegetação que esta sendo impactada,

considerando-se a sua resistência e capacidade de recuperação. O modelo a seguir

apresenta os impactos que a atividade turística pode ocasionar sobre a vegetação.

ATIVIDADE TURISTICA

VEGETAÇÃO _

FFoonnttee:: MMAATTHHIIEESSOONN && WWAALLLL ((11999922,, pp 113311)) Figura 11 – Modelo de interação entre as atividades turísticas e prováveis

impactos sobre a vegetação.

Porcentagem de cobertura

Taxa de crescimento

Composição das espécies

Estrutura de idades (regeneração)

+

+ _

Possíveis impactos + Positivos

- Negativos

27

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COPPOCK (1982 p. 273); MATHIESON e WALL (1992 p. 101); LEUNG e

MARION (1997 p. 197); AL SAYED e AL LANGAWI (2003, p. 228) apresentam uma

série de problemas referentes a danos provocados pela atividade turística sobre a

vegetação, que podem variar de um simples galho quebrado ou uma árvore riscada, à total

remoção da vegetação. A utilização de imagens de satélite pode ser uma ferramenta útil

para identificar grandes áreas desmatadas, porém pequenas áreas e danos menores nas

árvores e / ou em pequenas plantas só podem ser observadas e quantificadas em campo.

Este tipo de dano pode ser atribuído ao número de visitantes e à falta de um trabalho de

conscientização do visitante. A retirada de plantas com valor ornamental, bem como a

inscrição de nomes e outros dizeres, são comuns em ambientes naturais. Constituem

impactos não apenas estéticos, pois podem por em risco a saúde da planta e alteram a

composição da comunidade vegetal.

1.3.4 Impactos sobre a fauna

Este tipo de impacto apresenta uma certa dificuldade em ser avaliado, (COPPOCK

1982, p. 273), pois necessita de um tempo de observação longo e da formação de uma

equipe de especialistas com múltiplas aptidões. Contudo, alguns destes impactos podem

ser estimados indiretamente. Indicadores como lixo e restos de comida, o grau de

preservação da vegetação, e tamanho da área utilizada podem ser empregados como

indicadores indiretos.

Os distúrbios sobre a fauna local têm um peso importante na avaliação dos

impactos ambientais gerados pela atividade turística em um ambiente natural. Entre estes

distúrbios segundo REYNOLDS & BRAITHWAITE (2001, p. 35), podem ser citados:

aprisionamento ou morte dos animais; destruição de hábitat; mudança na composição da

vegetação; reprodução de plantas diminuída; mudança na estrutura da vegetação; poluição;

emigração animal; reprodução animal reduzida: habituação; distorção na dieta animal;

comportamento estereotipado; comportamento social aberrante; depredação aumentada;

modificação de padrões de atividade; estrutura de comunidade alterada. Outro trabalho que

também aborda os efeitos da atividade turística sobre a fauna, principalmente sobre

pássaros, é o de IKUTA e BLUMSTEIN (2003), identificando impactos e propondo ações

de manejo para estas questões.

28

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ATIVIDADE TURISTICA

FAUNA

_ _+

FFoonnttee:: MMAATTHHIIEESSOONN && WWAALLLL ((11999922,, pp 113311))

Figura 12 – Modelo de interação entre a atividade turística e os impactos sobre

a fauna.

1.3.5 Impactos sobre os recursos hídricos

O uso dos recursos hídricos para a recreação ocorre desde a Antiguidade, podendo

ser encontrado relatos em livros de historia, como o das famosas termas romanas ou em

balneários europeus famosos, principalmente no Mediterrâneo. Como já foi visto

anteriormente, a população de Manaus também tem no rio Negro sua principal área de

recreação aquática. A análise da balneabilidade das águas pode indicar não só a qualidade

da água como identificar o agente poluidor.

O modelo apresentado a seguir aponta os principais impactos que este ambiente

sofre pela ação do turismo.

Distúrbios Alteração do habitat Mortandade

Mudanças na população

Composição de Espécies

_

+

+ Possíveis impactos + Positivos

- Negativos

29

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ATIVIDADE TURISTICA

Fonte: MATHIESON & WALL (1992, p 131)

Figura 13 – Modelo de interação entre a atividade turística e provável

impactos sobre os recursos hídricos e a fauna aquática.

1.4. Uso Turístico e Qualidade Ambiental

Para FARIAS e CARNEIRO (2001, p. 11), “o aspecto mais crítico para o

desenvolvimento do turismo é a estabilidade da atividade turística em altos padrões de

desempenho”. Ou seja, manter a atividade em funcionamento pleno sem que isso resulte

em danos ao meio ambiente. Em outras palavras, garantir a sustentabilidade econômica e

ambiental da atividade.

As autoras reforçam também a necessidade do planejamento como forma de reduzir

a possibilidade de danos ao ambiente e a do decréscimo da demanda naturalmente

observado após a implantação das atividades turísticas ou recreativas em uma localidade. ,

O freqüente decréscimo do turismo em determinado local - resultante ou não de um

modismo3 passageiro - pode ser minimizado se o processo tiver sido planejado e as

diversas variáveis (social, econômica e ambiental) incluídas no sistema, tiverem sido

analisadas e trabalhadas de modo a gerar condições melhores, mais estáveis e duradouras

de exploração.

3 O termo Modismo aplicado ao Turismo representa o fenômeno que se observa em certos locais, que por algum tempo atraem muitos visitantes e que sem motivo aparente é rapidamente abandonado e substituído por outro.

Nutrientes

AGUA

Outros poluentes

Patogênicos

Crescimento de Plantas aquáticas

Oxigênio dissolvido Fauna aquática

_ _ _

_

+ _ _ _

Possíveis impactos + Positivos

- Negativos

30

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Fica claro que o fluxo turístico para uma localidade sofre grande variação como,

por exemplo, o modismo, destacado pelas autoras acima. Mas o fator que leva a uma

perda mais rápida de visitantes é, sem duvida, a queda na qualidade ambiental. O que é

mais preocupante é que esta queda na qualidade do meio ambiente é diretamente

proporcional ao aumento do fluxo de pessoas que utilizam a área. Ou seja, quanto maior o

número de visitantes em um determinado local, maior será o risco de geração de impactos

sobre o meio ambiente.

Rejuvenescimento

Fonte: BUTLER (1980), in RUSCHMANN (2003).

Figura 14 – Ciclo de vida das destinações turísticas

O ciclo de vida de uma destinação turística como está representado na figura 14

leva em conta as características tanto da localidade como do próprio visitante (perfil

comportamental e quantidade de visitantes).

1.4.1 Capacidade de Carga Turística

Muitas propostas para a manutenção da qualidade ambiental e da atratividade

turística de uma localidade enfatizam a adequação (estruturação) para o recebimento de

visitantes. Outras abordagens são (1) o completo isolamento ou interdição da área a ser

preservada, e (2) a limitação do número de usuários levando-se em consideração uma

relação com a área ocupada, o tempo de permanência e as condições mínimas de gestão e

manutenção, também conhecida como capacidade de carga turística. Esta ultima forma de

manejo de áreas naturais, que apresenta vantagens e desvantagens, pode ser uma opção

Tempo

Investimento

Exploração

Estagnação

Núm

ero

de tu

rista

s

Consolidação

Desenvolvimento Declínio

31

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para a mitigação dos impactos nas áreas de praia, como as do baixo rio Negro. Daí a

importância de se determinar à capacidade de carga que estas praias podem suportar, e

quais as infra-estruturas e serviços que possibilitem a redução dos impactos e a

manutenção da atividade, evitando fases de estagnação e declínio.

Capacidade de suporte ou carga é um conceito intrínseco ao conceito de

sustentabilidade. Originalmente, em ecologia, capacidade de suporte significa o tamanho

máximo estável de uma população, determinado pela quantidade de recursos disponíveis e

pela demanda mínima individual (PRATO 2001, p. 322). Capacidade de carga turística é

definida convencionalmente como o número de visitas que uma área pode sustentar, sem a

degradação dos recursos naturais e das experiências dos visitantes. Definições mais novas

de capacidade de carga para áreas protegidas, tais como parques nacionais e áreas

desabitadas, estão centradas na acessibilidade ao recurso natural e nos impactos

decorrentes da visitação, e consideram características biofísicas da área (solos, topografia e

vegetação), fatores sociais (localização e modo de viagem, tempo de uso, tamanho de

grupo, e comportamento do visitante), e políticas administrativas (restrições de uso e

visitação) como mais importante para determinar a capacidade de carga e o número de

visitas (PRATO 2001, p. 322). Do ponto de vista de segurança e estabilidade em longo

prazo para o ecossistema, ou população, manter a capacidade de suporte em seu nível

máximo oferece poucas garantias frente às incertezas ambientais (FARIAS e CARNEIRO,

2001, p. 54).

No caso da atividade turística, utiliza-se o termo "capacidade de carga" em

substituição a capacidade de suporte, porém com o mesmo sentido, ficando evidente que a

capacidade de suporte é a quantidade de turistas que uma área pode receber sem causar

danos ambientais significativos. Desta forma, pode-se concluir que capacidade de carga é

um indicador importante para avaliação de impacto ambiental. A industria do turismo pode

beneficiar-se com o acesso prévio à informação quanto aos possíveis problemas

ambientais, como os que podem ocorrem quando a capacidade de carga é excedida.

Infelizmente, uma definição elementar de capacidade de carga, como um simples

número aproximado de visitantes, é inadequado em quase todos os casos, por que esta

capacidade é determinada por muitos fatores inter-relacionados. A determinação da

capacidade de carga turística e a avaliação da importância de diferentes recursos encontram

os seguintes obstáculos, aqui apresentados resumidamente (MANNING e DOUGHERTY

1995, p.31).

32

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1- O turismo depende de muitos atributos ambientais;

2- Os impactos da atividade humana sobre o meio ambiente podem ser graduais e muitos

afetam várias partes do sistema com diferentes taxas;

3- A sensibilidade de um ambiente depende em parte das relações entre um ambiente e

outro; e

4- Diferentes tipos de uso criam diferentes impactos.

Fixar uma determinada capacidade de carga em um determinado local onde há a

exploração turística pode não funcionar, sem uma avaliação das ações de manejo e gestão

da área. Para tanto um trabalho efetivo de conscientização deve ser desenvolvido tanto com

os visitantes como com os responsáveis pela exploração da área.

Para muitos, a definição de um número limite de visitantes em um local (que não

esteja dentro de uma unidade de conservação) pode ser visto como uma interferência nos

negócios na visão dos empreendedores e como um cerceamento no direito de ir e vir na

ótica do visitante. A capacidade de carga, portanto, baseia-se na quantidade de visitantes

que a área recebe, e este número de visitantes esta diretamente ligado com a acessibilidade

do local e da sua distancia em relação ao centro emissor da demanda. Este indicador torna-

se importante, pois quanto maior o número de visitantes que uma localidade receber maior

será o risco da localidade apresentar algum tipo de dano ao meio ambiente, ou seja, quanto

mais próximo à praia estiver do centro emissor de visitantes, neste caso da Cidade de

Manaus, maior será o número de pessoas deslocando-se para lá. Desta forma acredita-se

que nestas praias haverá um maior impacto ambiental.

Além da quantidade de visitantes, é importante considerar que tipo de fluxo

turístico ocorre. HOLDER (1991, p. 280 apud RUSCHMANN 2003, p. 95) formulou a

“teoria da autodestruição do turismo” e, baseando-se nas características dos visitantes,

definiu as quatro fases do ciclo de desenvolvimento do turismo. (com se vê na já citada

figura 16)

1ª fase. Local distante e exótico que oferece descanso, sossego e relaxamento,

refugio para os ricos que lá vivem isolados da população local;

2ª fase. Atrai pessoas de classe média, que vem mais para imitar os ricos do que em

busca de descanso. Constroem-se mais equipamentos e facilidades para atrair mais turistas.

O local perde sua característica de refúgio paradisíaco e inicia-se uma série de

transformações com as seguintes conseqüências: a população local transforma-se em

empregados do turismo, abandonando a agricultura se o novo rendimento for maior que o

33

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anterior; os turistas ricos vão embora; o aumento do número de turistas torna inevitável a

interação com os moradores locais, o que gera uma série de conseqüências na maioria das

vezes negativas; a maior oferta de serviços gera um aumento da oferta em relação à

demanda, o que acarreta na deterioração do produto e dos preços.

3ª fase. Os equipamentos para o turismo de massa atraem pessoas de poder

econômico e de padrões e comportamentos sociais inferiores, conduzindo à degradação

social do meio turístico.

4ª fase. Quando a localidade perde sua atratividade e decai social e

economicamente, os turistas “fogem”, deixando atrás de si equipamentos turísticos

abandonados, as praias e/ou local desordenado, e uma população residente que não

consegue mais voltar ao modo de vida anterior.

Provavelmente algumas praias do rio Negro já atingiram uma destas quatro fases,

principalmente as duas ou três primeiras. Em visitas a duas praias (Tupé e Paricatuba, as

duas mais procuradas) realizadas com o objetivo de proporcionar um conhecimento prévio

do ambiente a ser estudado, pude constar que ambas não oferecem alternativas de

hospedagem, mas concentram a oferta de alimentos e bebidas, consumidas em quantidade.

Grande número de visitantes estavam com elevado grau de embriagues, característica da

fase três na escala HOLDER de degradação de atratividade. Visitantes com este tipo de

comportamento tendem a dar pouca atenção a questões como qualidade ambiental do local.

Desde que este ofereça o mínimo dos serviços que necessitam (alimento e bebidas), o local

estará dentro dos seus padrões de qualidade.

Os fatores que levam a degradação não estão obrigatoriamente ligado a capacidade

de suporte, mas sim dependem da capacidade em manter um padrão de qualidade nos

serviços que resultem na manutenção de um rendimento e lucratividade sem que o mesmo

venha associado ao crescimento da demanda. Em outras palavras não deve-se estimular a

popularização do local. O principal fator de declínio em atrativos turísticos é a

massificação do local.

34

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1.4.2 Lixo: problema estrutural ou cultural?

Os principais impactos que normalmente estão associados à quantidade e qualidade

dos visitantes é a abundância de lixo e outros dejetos gerados por estes, e a forma irregular

como alguns serviços são prestados ou ate mesmo a falta destes. Estes fatos foram

observados por WONG (1998 p. 93): “As conseqüências do desenvolvimento não

planejado no ambiente litorâneo são muitas: aumento do uso da faixa de terra frontal à

praia, degradação da cobertura natural de árvores, com sua remoção, áreas alagadas são

aterradas, água e praia são poluídas através de esgotos mal tratados, edificações mal

planejadas gerando erosão”.

Foto: Mauro do Nascimento

Figura 15. Erosão da margem, possivelmente provocada pela retirada da

vegetação para construção do centro de visitantes ao fundo – praia do Tupé -

Manaus. / setembro 2003

O autor aponta ainda a poluição no litoral como um problema crítico ocasionado

pela convergência de barcos de visitantes e a concentração de vendedores, que tendem a

gerar muito lixo na praia. Estas observações foram feitas estudando-se dois

empreendimentos turísticos em praias oceânicas no sudeste asiático.

35

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Foto: Mauro do Nascimento

Foto: Mauro do Nascimento Figuras 16 e 17 - Lixo abandonado por visitantes (Cachoeira Dois de

Novembro, rio Machado, rio Juruazinho, respectivamente Machadinho do Oeste /

RO) (agosto / 2002)

No seu estudo de práticas de recreação relacionadas com água nos EUA

SMARDON (1988, p. 140) conclui: “Ao longo de rios recreativos e outras áreas de

36

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recreação aquática e de áreas selvagens, a disposição de lixo é um problema sério e

crescente, e um perigo de saúde humana potencial”. Ele ressalta que a disposição

imprópria de lixo pode causar contaminação biológica ou enriquecimento de nutrientes de

rios e outros corpos de água. A severidade deste problema está em parte relacionada com

fatores ecológicos como clima, tipo de solo, vegetação e a freqüência de inundação.

A redução ou eliminação do impacto gerado pelo despejo inapropriado de detritos e

outros resíduos originam outro desafio para administradores do recurso e o público geral.

A origem deste desafio está vinculada a questões que vão de condições estruturais, como a

existência de coletores de lixo e ou serviços de limpeza, passando por questões que

envolvem a conduta do visitante. A ausência de estruturas de limpeza não justifica a

presença de lixo nos locais de visitação. Da mesma forma, a presença lixeiras não garante a

limpeza.

Além de esteticamente desagradável, o lixo e os outros resíduos sólidos constituem

um perigo potencial à saúde humana, porque criam uma provisão de comida e abrigo para

insetos e outros animais. O lixo pode também ocasionar um desequilíbrio quanto à

comunidade e populações da fauna local. Este desequilíbrio é ocasionado pelo

favorecimento ou prejuízo a uma determinada espécie ou grupo de espécies. Resguardando

as devidas diferenças ambientais quanto aos ambientes apresentados neste referencial e o

da área de estudo, é possível que, no caso das praias do rio Negro, alguns ou a totalidade

destes problemas também podem ser observados em níveis diferenciados de intensidades.

1.4.3 Carência de equipamento e a degradação visual

O impacto ocasionado pela atividade turística em ambientes naturais apresenta

também uma relação direta com a falta de infra-estrutura apropriada. Quando uma área é

utilizada por um grupo de pessoas, sem que esta área tenha sido preparada para isso, os

visitantes e as pessoas que explorem algum tipo de comercio ou serviços tendem a

improvisar as condições mínimas para satisfação das suas necessidades. Por exemplo, se

uma determinada área não apresenta um espaço apropriado para camping, a tendência é

que os visitantes improvisem este espaço. A mesma coisa se dá com relação à falta de

sanitários ou de locais para deposito de lixo. A figura 18 representa bem uma desta formas

de improvisação com a construção por parte dos freqüentadores de um abrigo, que além de

ocupar grande parte da área próxima ao rio ainda gera danos sobre a vegetação e ao solo.

37

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Foto: Mauro do Nascimento

Figura 18 – Abrigo para acampamento improvisado – Pimenta Bueno / (RO)

(julho / 2001)

A presença de uma estrutura mínima, contendo alguns equipamentos básicos como

sanitários, locais para preparo de alimentos e coleta de lixo entre outros, é fundamental

para o conforto dos visitantes e assim gerar menos riscos de impactos ambientais,

evitando-se os improvisos e garantindo-se o uso adequado do local.

SYME, FENTON e COAKES (2001) listam as condições mínimas necessárias para

promover a satisfação dos visitantes em diversos tipos de ambientes. Desta forma, torna-se

importante avaliar entre as praias do rio Negro quais apresentam as condições mínimas de

infra-estrutura e serviços para os visitantes e as condições em que são prestados. Os

elementos a serem avaliados incluem a coleta e o destino do lixo, as instalações sanitárias,

as áreas de camping e as estruturas de acesso (locais apropriados para atracação de

embarcações).

A forma como a atividade turística se organiza para explorar um atrativo, como foi

visto, apresenta uma série de impactos, principalmente sobre os elementos naturais.

Entretanto, existem outras formas de desfigurar a paisagem: a maneira como o espaço é

apropriado e as características das edificações para suprir a demanda de serviços

(principalmente bares e restaurantes, etc). A recomendação de que construções sejam

integradas ao ambiente natural nem sempre é observado, o que resulta em estruturas não

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padronizados e aglomerados em determinados pontos, ocasionando um impacto visual

negativo para o ambiente.

Foto: Mauro do Nascimento

Figura 19 – Exemplos de construções que degradam a paisagem – praia de

Paricatuba, margem direita do rio Negro (setembro / 2003)

A foto apresentada na figura 19 é um exemplo do efeito indesejável da exploração

desordenada ou sem critérios de determinados locais, a quantidade exagerada de

comerciantes e a falta de padronização das construções poluem visualmente a praia o que

acaba resultando na freqüência de visitantes, pouco ou nada, preocupados com a qualidade

dos serviços ou do ambiente.

As mudanças na paisagem podem também estar associada com as mudanças na

forma de uso do solo, ou seja, alterações quanto à forma de uso tradicional, quer seja

agropecuária ou extrativista, para uma paisagem com aspectos urbanos, concentração de

residências e ate mesmo com o loteamento (fragmentação) da área em pequenas

propriedades, transformando o ambiente natural em um condomínio de veraneio. Segundo

MATHIESON e WALL (1992 p. 126), a construção de segundas residências para uso nos

períodos de férias ou finais de semana tem aumentado nos últimos anos, principalmente em

áreas do interior com fácil acesso aos grandes centros urbanos, nas áreas do litoral e

regiões com belezas cênicas expressivas e alta atratividade.

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Este quadro que se aplica perfeitamente para as praias do rio Negro. Embora esta

ainda não seja uma realidade local, há potencial para que isto venha a ocorrer.

Os autores advertem para as possíveis conseqüências desta situação:

1- retirada da vegetação para implantação de acessos e para edificação de

residências, gerando distúrbios sobre a fauna e desestabilização do solo;

2- depósito de lixo e outros resíduos humanos em rios e lagos, reduzindo a

qualidade da água e as oportunidades de recreação;

3- quando localizada junto a um ambiente onde se desenvolvem atividades de

recreação, como margens de lagos, ilhas, orlas de rios, a extremidade de floresta ou de

ladeiras, pode diminuir a visibilidade destes atrativos e o valor estético daquela localidade

em particular, ficando evidente que houve pequena preocupação com desígnios

esteticamente harmoniosos na maioria dos processos de implantação de segunda

residência.

A transformação desta área em um espaço de segunda residência (área de veraneio)

é uma tendência para a região. Tal fato pode não ser uma realidade no momento, porém,

muitas áreas estão sendo exploradas por empreendimentos turísticos regulares, tais como

hotéis de selva, restaurantes ou outro tipo de atividade. A identificação e quantificação das

áreas com suas respectivas formas de uso -- residencial, de exploração turística ou como

unidade de conservação -- serão importantes para identificar quantas áreas encontram-se

livres e, portanto, passíveis de serem exploradas de forma ocasional, ou seja, sem nenhuma

ou com pouca orientação, assim sendo, sujeitas a danos e degradação ambiental.

1.4.5 Impacto ambiental gerado pela atividade turística e recreativa – definição

Na literatura existe uma quantidade grande de definições sobre impacto ambiental,

entretanto poucas são específicas para avaliar os efeitos da atividade turística e recreativa,

principalmente dentro dos moldes como se observa nas praias do rio Negro. No caso

observado, as atividades, principalmente recreativas, são desenvolvidas em ambientes

naturais sem que haja um projeto estabelecendo as estruturas necessárias para o seu

desenvolvimento, com isso possibilitando determinar as relações de causa e efeito nas

quais se baseia a maioria dos métodos de avaliação de impactos.

Da mesma forma, como há necessidade de se adequar um modelo de avaliação de

impacto mais específico para o uso turístico e recreativo, é preciso definir o significado de

40

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“impacto ambiental”, quanto ao uso turístico e quanto à manutenção do patrimônio

turístico. Esta necessidade se dá devido às especificidades da atividade e também devido às

variações existentes quanto às condições ambientais de cada local explorado.

O que se encontrou nas áreas estudadas foi uma quantidade de situações que,

isoladamente ou em conjunto, alteram a qualidade do atrativo. Estas situações prejudicam

seu potencial para uso recreativo, quer pela existência de elementos que podem por em

risco a saúde ou a segurança do visitante -- tais como o lixo abandonado ou a

contaminação dos mananciais d’água -- ou por ocorrerem fatores que prejudiquem a beleza

cênica e que desta forma afastem os visitantes, que irão procurar locais mais conservados.

Partindo destas observações, é possível considerar como impactada pela atividade

turística e recreativa, toda localidade que apresente o total ou parte dos seus elementos

naturais (solo, água, fauna e vegetação), bem como as suas condições estéticas (beleza

cênica), afetadas direta ou indiretamente pela ação da atividade turística ou recreativa,

acarretando assim a redução ou perda da sua atratividade ou condição de uso. Os agentes

de impacto turístico podem ser caracterizados como sendo todas as ações que acarretem

em alterações ambientais e que tenham como causa ou conseqüência às formas de uso

turístico ou recreativo ou das adequações que o local passe para possibilitar o uso, por

exemplo, a retirada da vegetação para implantação de área de camping ou de

estabelecimento comercial à beira da praia.

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2. Objetivo geral

Este estudo foi desenvolvido com o objetivo de avaliar como as atividades turísticas

e de recreação, realizadas em algumas praias do baixo rio Negro dentro do Município de

Manaus, afetam a qualidade ambiental, gerando a perda da atratividade turística. Também

pretende apresentar um conjunto de indicadores de impactos ambientais que possibilitem

(1) avaliar impactos de forma retrospectiva, (2) descrever os efeitos deste tipo de atividade

sobre o meio ambiente e (3) contribuir com a manutenção destas atividades em uma

relação sustentável com o meio ambiente.

2.1. Objetivos Específicos

Este objetivo maior pode ser desmembrado em outros objetivos mais específicos

que são:

Mapear os principais pontos (praias) utilizadas pela população da cidade de Manaus

na prática de turismo e recreação;

Caracterizar os ambientes naturais das praias, suas formas de uso recreativo e

turístico;

Avaliar a intensidade das intervenções no meio ambiente, buscando indicar ações

preventivas, corretivas ou que compensem os impactos negativos causados pela atividade

turística;

Identificar aspectos críticos nas praias que representem riscos potenciais à atividade

turística e ao meio ambiente;

Desenvolver modelo retrospectivo de avaliação de impactos ambientais, apropriado

para as situações típicas de turismo e recreação, oferecendo aos responsáveis pela atividade

um instrumento capaz de identificar os principais agentes causadores de danos ao meio

ambiente; e

Sugerir técnicas de manejo capazes de garantir a sustentabilidade da atividade.

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2.2. Questões:

Com a concretização destes objetivos acredita-se que as seguintes questões serão

respondidas:

Qual a realidade das praias do rio Negro em relação a características de uso

recreativo, oferta de equipamentos, infra-estrutura e qualidade ambiental?

Quais as praias mais utilizadas e porquê?

Quais os fatores que mais geram danos ao ambiente, prejudicando a atratividade

turística e as condições de uso das praias?

Existe relação direta entre a forma de uso recreativo e a intensidade de danos

ambientais? A existência de infra-estruturas pode amenizar estes danos?

É possível avaliar a qualidade ambiental das praias com a aplicação de um método

de avaliação de impactos simplificado?

As respostas representam um conjunto de informações que constituirão um retrato

da real situação dos ambientes de praia, e também das condições de uso turístico e

recreativo destes locais.

43

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3. Materiais e métodos

Resumindo o que foi exposto na introdução (referencial teórico), os fatores que

afetam o ambiente de praia podem ser subdivididos em três grupos: (1) forma e intensidade

de uso, (2) existência e condição da infra-estrutura e de ocupação da área e (3) quantidade

e tipos de danos observados. Para avaliar cada um destes grupos foram desenvolvidas

visitas de campo com a identificação, caracterização e avaliação de cada um dos grupos.

Formulários no formato de lista de checagem (“checklist”) foram empregados, conforme

modelo em anexo.

O período de coleta de dados ocorreu no mês de setembro de 2004, com a

finalidade de levantar aspectos estruturais, caracterizar as feições naturais das praias e

quantificar os danos gerados pela visitação.

O primeiro passo foi um mapeamento das praias existentes ao longo do rio Negro

dentro do Município de Manaus. Para isso foi utilizada uma imagem do satélite Landsat

TM no período das águas baixas (janeiro / 2003). A mesma imagem serviu de base para a

avaliação do nível de desmatamento. Uma carta topográfica (DSG/IBGE) na escala

1:100.000 foi utilizada em campo para localização dos pontos de coleta. Com uso de GPS,

plotou-se nestes mapas as praias do rio Negro com as dimensões de cada área

(comprimento). Utilizando os dados quanto ao uso e impactos elaborou-se o mapa de

áreas de risco ambiental.

A área escolhida para este estudo compreendeu-se por um trecho da margem

esquerda do Rio Negro a montante da cidade de Manaus, que se estende da foz do igarapé

Tarumã Açu até as proximidades do arquipélago das Anavilhanas (foz do Igarapé Arara),

conforme pode ser observado na Figura 20.

O segundo passo foi obter as informações necessárias para identificar quais praias

estão mais vulneráveis quanto à degradação ambiental e conseqüentemente a perda da sua

atratividade turística. Neste grupo foram levantados e quantificados os seguintes aspectos:

• Tempo de permanência de visitantes na área

• Tipos de atividades desenvolvidas na área

• Forma de acesso

• Presença de comércio ambulante ou fixo

44

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fr

id

co

Fonte Imagem LANDSAT, Bandas 345, 10/2001

Fonte PRODES/INPE ,2003

Figura 20 - Mapa de localização da área de estudo – área em destaque seta no

agmento de imagem

Os aspectos referentes à infra-estrutura e equipamentos existentes também foram

entificados na visita de campo. Neste caso foram identificados os seguintes aspectos

nsiderados como endógenos ou específicos de cada área.

Coletores de lixo

Sanitários

Porto ou atracadouro

Água

Energia

Acessos – trilhas

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• Hotel

• Restaurante

• Sistemas de sinalização e informação

• Programas de manutenção e conservação

• Existência de moradores fixos

• Distancia de Manaus (centro emissor de visitantes)

Quanto aos danos observados em cada praia, foram avaliados na forma de presença

ou ausência, e quantificados dependendo do caso. Foram levantados os seguintes fatores de

impactos.

• Danos totais à vegetação (retirada da cobertura vegetal)

• Danos parciais à vegetação (pisoteio, retirada de plantas ornamentais, etc.)

• Lixo

• Lançamento de esgoto

• Restos de fogueira

• Inscrições ou pichações em árvores, rochas ou outros locais.

• Erosão de encostas e margens

• Construções irregulares

• Padrão das edificações (desarmonia com o ambiente)

• Presença de dejetos humanos

• Trilhas sociais (irregulares)

A coleta de dados quanto à quantidade de danos foi realizada por um

caminhamento ao longo da praia, segundo o modelo normalmente utilizado para

levantamento e avaliação utilizado em trilhas. Dependendo da morfologia de cada praia o

levantamento estendeu-se para as áreas além dos limites da praia, adentrando-se também

na área com cobertura vegetal. Por exemplo, nas praias com falésias (figura 21), foi

realizada a contagem dos impactos somente ao longo da extensão da praia, sendo que nas

áreas de terras altas foi avaliada apenas a condição quanto a desmatamento e uso do solo.

Nas praias com a topografia predominantemente plana, ou seja, onde ocorre o

contato direto da vegetação com a faixa de praia houve uma avaliação mais detalhada

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estendendo-se além da faixa de areia. Ou seja foram avaliados também as condições nas

áreas ainda com vegetação ou com outro tipo de uso do solo.

Autor Mauro do Nascimento

Figura 21 - Exemplo de praia com a presença de falésia ao longo da costa. Pria

do Tupe

3.1. Formas de medição e avaliação dos impactos:

Quanto aos indicadores utilizados no levantamento de campo, os impactos foram

considerados da seguinte forma:

A) Impacto sobre a vegetação - Foi observado se ocorreu a retirada da

vegetação arbórea original, avaliada na forma de presença ou ausência

do impacto. Foram consideradas como retirada total da vegetação a área

que não apresentar mais nenhum indivíduo (árvore), e como retirada

parcial da vegetação quando for constatada a eliminação de apenas

alguns indivíduos. Indícios de retirada de plantas ornamentais (orquídeas

e bromélias), pisoteio e danos a plantas tais como galhos quebrados,

devem ser anotados também.

B) Impacto sobre o solo (erosão). Neste caso identificaram-se dois

indicadores: (1) a presença de processos erosivos de encostas e margens

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do rio (faixa de areia), indicada pela ocorrência de canais de escoamento

d’água ou pelo aparecimento de desmoronamento de margens; e (2) a

ocorrência de afloramento de raízes ou a exposição do solo em função da

retirada da camada de matéria orgânica (liteira). Qualquer um destes

pode indicar a incidência de danos sobre o solo na área. 4

C) Lixo. A questão do lixo é importante quando se trata da perda da

atratividade e neste caso a quantidade de resíduos é tão importante

quanto o tipo de resíduos abandonados nas praias. Esta avaliação se dá

através da contabilização (soma) da quantidade de resíduos (latas,

garrafas, etc.) encontradas ao longo do trecho avaliado, em seguida este

valor é dividido pela distancia percorrida, o que possibilita a obtenção de

um valor relativo entre quantidade de lixo e a extensão de praia.

D) Lançamento de esgoto: pode ser avaliado pela presença e ausência deste

tipo de impacto, que se obtém caminhando ao longo do trecho avaliado.

E) Restos de fogueira: a presença de carvão, e estruturas que indiquem que

houve a utilização de fogo quer para o preparo de alimento para a

queima de lixo ou simplesmente para diversão. Neste caso deve-se

somar a quantidade de restos de fogueira que forem observadas.

F) Inscrições ou pichações em árvores, rochas ou outros locais. Com o

caminhamento ao longo do trecho a ser avaliado deve ser quantificado

(quando possível) o número de inscrições ou outros danos observados.

Caso a quantidade seja grande, pode-se avaliar apenas pela presença ou

ausência deste.

G) Construções irregulares e padrão das edificações (desarmonia com o

ambiente). Neste caso, consideram-se como construção irregular àquelas

que são edificadas em áreas inapropriadas, tais como encostas (risco de

erosão) próximas ou sobre cursos d’água, etc.. Quanto a desarmonia

com o ambiente, observa-se se a construção destaca-se demasiadamente

na paisagem quer pela localização ou pelos materiais e cores utilizadas.

4 A ocorrência de processos erosivos pode ser tanto um fator natural, o que normalmente tem uma

incidência e um efeito menor e pode ser observada áreas com ou sem ação humana, contudo a presença de erosão em locais com evidente ação humana, tais como trilhas e desmatamento evidencia claramente que tal fenômeno foi acelerado ou ocasionado por este tipo de ocupação

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H) Presença de dejetos humanos. Procurar por excrementos de origem

humana ou por indicativos de sua presença. Deve ser procurado em

locais mais afastados tais como interior da vegetação ou em locais com

pedras.

I) Trilhas sociais (irregulares). Estas trilhas só são fáceis de serem

identificadas em locais onde existem trilhas devidamente demarcadas, e

as trilhas irregulares são originadas pela ação dos usuários na tentativa

de encurtar caminhos (atalhos) ou para acessar locais diferentes dos

planejados na construção da trilha. No caso de locais onde não existam

trilhas regulares, as trilhas sociais podem ser identificadas por

características como: são curtas, com dimensões irregulares, não tem

destinos claros ou definidos, tendem a serem retilíneas e não são

sinalizadas.

J) Impacto sobre a água. Foi considerado como indicador de impacto a

presença na área de algum tipo de lançamento de esgoto, quer

proveniente de sanitários instalados na praia ou pelo uso dos sanitários

das embarcações que estejam ancoradas no local. Caso seja possível a

identificação visual de algum outro tipo de impacto este deverá ser

anotado (por exemplo, manchas de óleo, lixo, etc.).

K) Fauna: Para avaliar as condições quanto a impactos sobre a fauna são

necessários períodos longos de observação, além do conhecimento

profundo da constituição da comunidade animal que habita a área a ser

estudada. Uma forma indireta de avaliar a existência de impactos sobre

a fauna utiliza indicadores indiretos: a presença de alguns elementos que

se sabe que podem afetar o comportamento ou a composição da fauna

local. Neste caso pode ser utilizado a presença de trilhas sociais as quais

permitem que os visitantes adentrem a floresta com isso ampliando os

efeitos da visitação para além da área de praia e assim contribuindo para

um maior contato com a fauna local.

Além das trilhas, outro indicador avaliado é a presença de restos de

alimentos. Consulta aos moradores locais quanto a mudanças observadas

também contribuem na avaliação e finalmente a observação direta da

presença visual de algumas espécies comuns à área.

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L) O somatório de presenças dos indicadores acima representará a

quantidade de danos ambientais observados por uma determinada

extensão de praia. Em outras palavras, quantos tipos de danos são

observados para cada metro de praia.

O passo seguinte foi à elaboração de um quadro resumo onde estão representadas

todas as praias estudadas com as respectivas caracterizações e os valores obtidos para os

indicadores de impactos ambientais.

A partir desta matriz foi possível realizar comparações e cruzamentos de dados a

fim de identificar possíveis relações existentes entre os fatores (variáveis) estudados. Por

fim, com os dados disponíveis foi possível classificar as praias em uma de três categorias:

praias melhores estruturadas, praias mais utilizadas e praias mais preservadas ou menos

impactadas. Estes elementos também foram utilizados para elaboração dos mapas.

3.2. Beleza Cênica

Este é um indicador subjetivo, pois beleza é um critério particular. Para quebrar

esta condição, procurou-se transformar os critérios de avaliação em elementos

mensuráveis, preenchendo o quadro abaixo. Atribuem-se os valores de 10 pontos para

bom, cinco pontos para o conceito regular e para o conceito mau dois pontos e soma-se a

pontuação para obter o score de cada praia.

Item\ Nota Bom (10)∗ Regular (5)∗ Má (2)∗

Dimensão

Vegetação local

Conservação e limpeza

Conjunto paisagístico

Subtotais TOTAL

• Dimensão: mais de 300 m – Bom; 100 a 299 m – regular; menos de 100 m – má.

∗ Os valores entre parênteses correspondem a pontuação para cada uma das avaliações, assim cada praia terá uma nota final expressa em valores numéricos

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• Vegetação local - mais de 70% da área preservada – bom; entre 50 a 70% - regular;

menos de 50% da vegetação preservada – má.

• Conservação e limpeza: sem presença de lixo ou imperceptível – bom; com pouco

lixo –regular; muito lixo visível – má.

• Conjunto paisagístico. Neste caso avaliar os seguintes fatores: quantidade de

construções, visibilidade da extensão de praia, quantidade de elementos naturais

visualmente significativos, cor da areia e granulometria da areia. Dependendo da

quantidade destes elementos a situação pode ser considerada como bom, regular ou

má.

3.3. A área de estudo 3.3.1. Aspectos naturais – condições gerais

O trecho do rio Negro que foi avaliado apresenta uma extensão aproximada de 38

km. Esta área apresenta características geomorfológicas variadas, com diferentes tipos de

margens. Dois principais tipos são observados. A) costas altas são constituídas por faixa

de areia com largura variável e em seguida um paredão constituído de arenitos, concreções

lateríticas e/ou solos de coloração avermelhada. B) outra feição de costa é formado por

uma faixa de areia e por terras baixas na seqüência, que podem ou ser cobertas por matas

alagadas (igapó).

A região do município de Manaus apresenta clima Equatorial Quente e Úmido,

enquadrado do tipo “Af” na classificação de Köppen. Apresenta-se praticamente sem

inverno, pois a temperatura média para o mês mais frio é sempre superior a 18ºC. Chove

durante todo o ano, com precipitação superior a 60mm nos meses mais secos, que em

Manaus corresponde ao mês de setembro. A amplitude térmica entre a média do mês mais

quente e o mais frio não excede 5oC, indicando isotermia. A temperatura média anual

observada na região de Manaus é de 26,7ºC, com extremos diurnos médias de 23,3ºC e

31,4ºC.

A região apresenta duas estações, marcadas pela variação na quantidade de chuvas:

A estação chuvosa, inverno na concepção local, ocorre entre os meses de novembro e

junho, período em que as temperaturas são mais amenas. A estação seca, denominada

regionalmente como verão, ocorre no período de julho a outubro, marcado também por

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temperaturas mais altas, podendo atingir extremos de mais de 40ºC, no mês de setembro, o

mais quente do ano.

A precipitação média anual é 2.286mm. O período de maior precipitação vai de

dezembro a maio, mas o pico das cheias do rio ocorre em junho e julho, associado com o

regime pluviométrico de afluentes mais distantes do Negro e do Solimões. O período mais

seco, de vazante, corresponde aos meses de outubro a dezembro.

Para o rio Negro em Manaus a amplitude de variação anual é de aproximadamente

10m e a cota da média de máximas anuais é 27,74 m sobre o nível do mar. O nível da cheia

é bastante previsível, com desvio padrão de apenas 1,15m. A descarga média anual do rio

Negro é de 30.000 m3/seg (MEADE et al., 1991 apud FRANZINELLI e IGREJA, 2002).

A máxima variação do nível de cheia do rio Negro é de 14 m (TRISCIUZZI, 1979. apud

FRANZINELLI e IGREJA, 2002) atingindo uma altura de 28 m acima do nível do mar.

Quanto à cobertura vegetal podem-se identificar duas formações típicas do bioma

amazônico: as florestas de terra firme (aqui incluindo a campinarana) e a de igapó. As

florestas de terra firme observadas na área de estudo são caracterizadas por florestas

ombrófilas densas não aluviais, (Veloso et al, 1991 apud Nelson B.W. e Oliveira A. A.,

2001). Por outro lado às matas de igapó são as formações vegetais que cobrem as planícies

de alagamento ao longo dos rios de grande porte caracterizados por não apresentarem

sedimentos em suspensão. No sistema de classificação de VELOSO et al. (1991), os igapós

não são distinguidos das várzeas e são denominadas florestas ombrófila densa aluvial

(VELOSO et al, 1991 apud NELSON e OLIVEIRA, 2001). Contudo na literatura

científica, a denominação de várzea é empregada quando as florestas são inundadas por

águas barrentas e a de igapó quando são inundadas por águas pretas ou transparentes

(PIRES, 1974 e PRANCE, 1979 apud NELSON e OLIVEIRA, 2001).

As áreas de floresta de terra firme foram descritas em vários locais na proximidade

de Manaus. A composição e a estrutura desta vegetação sofre influência dos tipos de solo e

do relevo, sendo definidos quatro sub-tipos de florestas em toposseqüência: platô, vertente,

campinarana e baixio. Na floresta de platô, o solo é mais argiloso, bem drenado e o dossel

encontra-se a 35 – 40 m com muitas palmeiras no sub-bosque. Na vegetação de vertente

observa-se o dossel entre 25 e 35 m. Esta formação constitui-se em uma vegetação de

transição entre o platô e o baixio. Na formação de baixio há uma variação influenciada

pelo tempo e nível de encharcamento de igarapés, com árvores de dossel situadas entre 20

e 35 m, um dossel mais aberto e com poucas árvores emergentes. São comuns árvores com

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raízes escoras e adventícias e as áreas encharcadas e abertas podem ser dominadas por

palmeiras. Na floresta de campinarana que pode estar situado entre a vertente e o baixio, o

solo é arenoso, há alta penetração de luz, e alta densidade de epífitas. Principalmente sobre

indivíduos de macucu (Aldina heterophylla), e grande acúmulo de serrapilheira. Apresenta

árvores com dossel de 15-25m e poucas de grande porte. O sub-bosque é denso de

arvoretas e arbustos. Quanto a vegetação de igapó, esta se constitui por uma vegetação

adaptada a longos períodos de alagamento, sendo algumas palmeiras (como Astrocaryum

jauari) as plantas mais características destes ambientes.

Hidrologicamente a área é banhada pelo rio Negro e alguns de seus afluentes, entre

eles os igarapés do Tarumã Açu, Tarumã Mirim, Tupé, Tatu, Caiaué e Arara. O nome

Negro é oriundo da coloração escura da água originada pela grande quantidade de acido

húmico dissolvido, com pH ácido, em torno de 4,2. Os ácidos húmicos se originam da

decomposição da matéria orgânica, como as raízes, folhas e madeira. Os tributários drenam

áreas de rochas acidas dos escudos das Guianas ou terrenos arenosos derivados destes tipos

de rochas. Para SIOLI (1991) a origem das águas pretas está associada com a ocorrência de

solos podzólicos. Neste tipo de solo, a matéria orgânica é rapidamente decomposta,

transformada em húmus de onde provem o ácido húmico que é facilmente dissolvido pela

água da chuva, circula pelo interior do solo e finalmente emergindo à superfície como

pequenas nascentes.

As quantidades de sedimentos transportadas pelo rio Negro é muito pequena. De

acordo com MARTINELLI et al. (1988, apud FRANZINELLI e IGREJA, 2002), o rio

Negro transporta 0,057 x 108 t anualmente de sedimentos enquanto que o rio Amazonas

transporta 2,46 x 108 t.

Como pode ser observado na figura 22, geologicamente a área estudada apresenta

um pacote sedimentar bem caracterizado formado por depósitos continentais do Cretáceo -

- constituídos por argilas avermelhadas, arenitos, siltitos, e argilitos da Formação Alter do

Chão – que são sobreposta por depósitos terciários da formação Solimões. Estas estruturas

cobrem outras rochas sedimentares da bacia. A Formação Solimões é responsável pela

presença de terraços de páleo-várzea de idade pleistocênica que ocorrem ao sul do rio

Negro, enquanto a margem norte dominada pela Formação Alter do Chão é formada por

interflúvios tabulares alternadas com colinas esculpidas. Mineralogicamente, os solos que

dão origem às praias sãos compostos de areia quartzosa, argila de caolim e concreções de

plintita e gipsita.

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Fonte Boletim de geociências da

PETROBRÁS, nº 01, vol 08, 1994.

Figura 22 - Carta estratigráfica da Bacia do Amazonas.

A geomorfologia da área de estudo apresenta várias feições morfológicas que são

controladas pelo leito rochoso e pelas ações tectônicas, e da morfologia do canal fluvial.

As feições observadas e que tem interesse para o estudo são: barras de areia (praias), terra

firme e igapó. As praias são resultado da deposição recente de areias de quartzo ao longo

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do curso do rio, estas praias são tipicamente situadas aos pés dos paredões (falésias) ou

isoladas ao longo da costa. Igapó são áreas planas que são periodicamente alagadas. Seus

solos são constituídos por depósitos de sedimentos finos como argila, silte e areias finas e

grande quantidade de matéria orgânica oriunda da queda de fragmentos da vegetação que

cobre estas áreas. As áreas de terras firmes podem ser caracterizadas como superfícies

planas à ligeiramente onduladas, seccionadas pelos canais de drenagem que cortam a área.

Estas áreas podem ser apontadas como os principais divisores d’águas da região.

3.3.2. As áreas de praia e o uso de imagens de satélite

Utilizando-se uma imagem de satélite de janeiro de 2003 (período de águas baixas),

figura 26, foi possível identificar e mapear os bancos de areia (praias) que aparecem na

área de estudo. Neste caso as praias aparecem nas imagens como faixas de cor branca ou

rosa claro, conforme pode ser observado no recorte de imagem (figura 23) onde é possível

ver um trecho da praia do Tupé.

Figura 23 - Detalhe de imagem apresentando uma área de praia (praia do Tupé)

As principais dificuldades encontradas com relação ao uso de imagens para o

mapeamento de áreas de praia são, principalmente, a resolução da imagem o que pode

resultar na subestimação da área e numero de praias, pois pode ocultar as praias com

dimensões pequenas ou com larguras reduzidas (menos de 30 m), e a possibilidade de se

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superestimar as áreas e números de praias tendo em vista que áreas sem vegetação, mas

também sem depósitos de areia poderem ser considerados como praia.

Com o uso de imagens pode-se identificar ao longo do intervalo estudado 17

segmentos com características de praia, com extensão total de 26,9 km, e média de 1,6 km

para cada um. Entretanto na prática de campo foram levantadas 14 localidades (ver Mapa

figura 25) caracterizadas como praias somando-se a extensão destas obstem-se um total de

4.615 metros o que resulta em aproximadamente 330 metros de faixa de areia para cada

área avaliada, em cada uma procurou-se identificar características naturais e antrópicas

tanto as associadas com o uso recreativo bem com aquelas ligadas à ocupação e outras

atividades.

A área em estudo apresentou diversas formas de ocupação, e uso do solo. As

margens do rio Negro são ocupadas por pequenas propriedades agrícolas com destaques

para atividades pecuárias e pequenas áreas de agricultura de subsistência. Não são

observadas grandes propriedades ou atividades agrícolas comerciais perto das praias. A

existência de unidades de conservação como a RDS do Tupé ou o parque estadual do rio

Negro pouco interferem na forma de uso do solo, pois estas UC’s não contam ainda com

planos de manejo ou outras ações que controlem ou regulamentem as atividades na suas

zonas de influencia ou área de entorno.

Foto; Mauro do Nascimento.

Figura 24 - Construção de moradia característica como segunda residência edificada em Reserva de Uso Sustentável Tupé – contrariando a legislação vigente.

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Figura 25 - Mapa de localização das praias visitadas e outras localidades

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Algumas áreas que apresentaram características de praia encontram-se ainda sem

uso ou exploração. Podem apresentar alguma limitação de uso tal como: a existência ainda

de cobertura vegetal ou a presença de afloramentos rochosos que prejudicam ou impedem

o uso. Estas áreas não foram estudadas, embora tenham possibilidades de serem utilizadas

no futuro.

Considerando as condições ambientais e as combinações que podemos encontrar ao

longo deste trecho do rio Negro, ressalta-se a importância desta área como atrativo

turístico. A vegetação, o clima, as formações geológicas e geomorfológicas apresentam

variações que tornam esta área bem mais complexa e diversificada do que se pode supor.

Os ambientes de praia ou aqueles associados com água, são talvez os que apresentam um

apelo mais significativo quanto ao fluxo de visitantes e daqueles que desejam apenas

algumas horas de lazer ao ar livre. Contudo os mesmos constituem, junto aos demais

elementos ambientais, um conjunto de atrativos que podem constituir-se em produtos

muito mais complexos e com valores ambientais e antrópicas bem mais amplos e ricos.

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4. Resultados e discussão

4.1. Uso do solo

Para melhor descrição do uso do solo, a área de estudo foi dividida em trechos

conforme a distância de Manaus. Neste caso procurou-se observar o nível de alteração que

cada um destes trechos, para tanto avaliou-se a quantidade e o tamanho das áreas com

desmatamento, definindo assim o nível de alteração empreendido em cada área.

Trecho 01- compreende a área entre o Igarapé Tarumã-Açu e o início da praia do

seu Zé. Neste trecho encontram-se as fozes dos dois maiores tributários do rio Negro

dentro da área estudada: os igarapés Tarumã-Açu e Tarumã-Mirim. Inclui as comunidades

populosas de Livramento e Nossa Senhora de Fátima (grandes manchas rosa), apresenta

desmatamento em grandes quantidades de propriedades e em áreas, acarretando em maior

alteração ambiental entre todos os trechos estudados. A praia da Lua é a área com maior

intensidade de visitação.

Tarumã-M

Livramento

Figura 26 - Imagem apresentando o t

praia do seu Zé

Fátima

irim

a

recho 01 iniciando no iga

Praia da Lu

u

Tarumã-Aç

Praia do Seu Zé

rapé Tarumã-Açu ate

59

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Trecho 02 - Entre a praia do seu Zé e a ponta do Tatuquara. A praia do Tupé e a

comunidade são Jose do Tupé, são os pontos mais significativos tanto quanto a visitação

como pelo nível de povoamento. As praias do Arrombado, Paulo Jorge e do seu Zé são as

áreas que se destacam quanto ao uso recreativo, por serem consideradas áreas

“particulares” os donos procuram regular o acesso de visitantes. Neste trecho observa-se

que a quantidade de áreas desmatadas é grande porém o tamanho destas áreas é menor. O

que caracteriza uma ocupação predominantemente formada por pequenas propriedades.

a

Figura 27 - Imagemfinalizando na ponta do T

Trecho 03 - Da pon

habitada, porém apresenta

trechos. A apresentam dua

extensão de terrenos planos

Tatu. No passado houve um

em grande área desmatada

siderúrgica – SIDERAMA

cobertura vegetal, conforme

Praia do Tupé

apresentando o trecho 02, com inicioatuquara.

ta do Tatuquara até a foz do igarapé Ta

nível de desmatamento semelhante ao enc

s feições geomorfológicas: costa alta (fal

e alagados principalmente na área próxim

a tentativa de exploração e ocupação ma

, devido à extração de madeira para uso

– atualmente esta área está em process

pode ser observado na imagem.

Praia do Seu Zé

Ponta do Tatuquar

na praia do seu Zé

tu, esta área é pouco

ontrados nos demais

ésias) e uma grande

a da foz do igarapé

is intensa resultando

no projeto de usina

o de recuperação da

60

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Foz do Igarapé Tatu

Área desmatada pela SIDERAMA

Ponta do Tatuquara

Figura 28 - Imagem apresentando o trecho 03, da ponta do tatuquara ate a foz do Igarapé Tatu.

Trecho 04. Entre a foz do Igarapé Tatu e a do Igarapé Caiaué; predominam costas

baixas com grande quantidade de praias com várias configurações ambientais e condições

de uso. Observam-se grandes áreas em processo de regeneração da cobertura vegetal, o que

pode indicar o abandono de áreas agrícolas ou de pastagens. É atualmente a porção com

menor nível de ocupação sendo esta limitada a pontos isolados ao longo da costa , a área

apresenta poucas áreas desmatada e com dimensões reduzidas.

Foz do Igarapé Caiaué

Figura 29 - Imagem apresentando o trecho 04, comp

Igarapé Tatu e a do Igarapé Caiaué.

Foz do igarapé Tatu

reendido entre a foz do

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Trecho 05 - Entre a foz do Igarapé Caiaué e a foz do igarapé Arara. Há neste

trecho o predomínio de costas altas e considerável ocupação humana, incluindo a

comunidade do Arara. , Capoeiras resultante de antigos desmatamentos cobrem boa parte

da área. Esta porção apresenta ainda áreas desmatadas em grande quantidade, contudo

apresentando dimensões reduzidas, limitadas a margem do rio. Este trecho é o mais

distante de Manaus o que pode representar uma menor ocorrência de visitantes.

Foz do Igarapé Arara

Figura 30 - Imagem apresentando o trecho 05 esten

Igarapé Caiaué e a foz do igarapé Arara.

Foz do Igarapé Caiaué

dendo-se entre a foz do

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4.1.1. O desmatamento

A avaliação do desmatamento foi feita sobre uma imagem de satélite do ano de

2003, utilizando-se o software Global Mapper. Somente o desmatamento dentro da área de

preservação permanente (APP) foi considerado, ou seja, na faixa de 500 metros da costa,

perfazendo uma área total de 19,0 km2. Desta área, 66,7% (12,7 km2) são desmatados ou

em recuperação (capoeira). A área desmatada representa 26 polígonos, com tamanho

médio de 0,56 km2.

O desmatamento ocorre predominantemente ao longo de toda a margem norte do

rio Negro e sobre todos os tipos de vegetação (igapó e preferencialmente sobre terra

firme). A fonte do desmatamento pode ser associado com atividade agrícola, pecuária e

outras formas de ocupação humana. Não foi possível separar o desmatamento atribuído ao

uso turístico e recreativo da área. Até porque a atividade turística e/ou recreativa só

ocorrem em locais de acesso fácil, praias desprovidas de vegetação e com pouco ou

nenhum afloramento rochoso.

A extensão do desmatamento ocorre predominantemente no sentido, paralelo com a

costa, tanto do rio Negro como de seus afluentes. Essa característica pode ser atribuída à

falta de vias terrestre que possibilitassem o acesso a áreas mais afastadas dos rios, este

fator deve ser considerado como positivo tendo em vista que dificulta a ocupação do

interior preservando a vegetação destes locais.

A figura 31, apresenta o comportamento do desmatamento na área estudada,

baseada em imagem LANDASAT de 2003, onde este foi classificado em três níveis assim

caracterizados: a) Nível elevado – representa áreas com desmatamentos em grandes

proporções e quantidades, com tendência à aumento, pois estão localizados em áreas com

elevada concentração populacional; b) Nível médio – nestas áreas observa-se uma menor

concentração quanto ao número de áreas desmatadas e também ao tamanho destas áreas;

c) Nível Baixo – áreas com pequenas manchas de desmatamento ou com áreas em estado

de recuperação (capoeiras), são áreas que mantém-se relativamente preservadas

principalmente devido a baixa concentração populacional.

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Figura 31. Condições quanto aos níveis de desmatamento na margem esquerda do Baixo rio Negro.

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4.1.2. Uso turístico e recreativo

Entre as 14 praias avaliadas no estudo apenas duas, Lua e Tupé, apresentaram uma

alta intensidade de uso. Tal fato deve ser atribuído à existência de serviços de alimentação

(bares e restaurantes), que atraem maior número de visitantes. A facilidade de acesso dos

visitantes difere de uma praia para outra. A praia da Lua está mais próxima da cidade, tem

meios de transporte freqüentes, regulares e de baixo custo todos os dias da semana e a

qualquer hora. O acesso à praia do Tupé é mais difícil. Seu uso recreativo é restrito aos

finais de semana, principalmente aos domingos quando são organizados passeios em

embarcações de maior porte.

As demais praias têm características quanto à visitação diferentes, pois como a

oferta de serviço é reduzida ou inexistente a principal forma de acesso é restrita a

embarcações particulares (de todos os tipos e tamanhos) ou a fretamento de embarcações

para grupos. Estes últimos podem ser apontados os mais prejudiciais ao ambiente pois

como as áreas não oferecem serviços e muitas delas são desabitadas, acabam por acumular

uma quantidade maior de danos ao ambiente.

O “acesso regular” é aquele fornecido por uma associação de barqueiros, com

horários e percursos pré-definidos. O “acesso particular” é caracterizado pela utilização de

embarcações de pequeno é médio porte conduzido pelo proprietário. O “fretamento”

constitui-se no aluguel ou arrendamento de uma embarcação que conduza visitantes em

grupos previamente organizados ou em grupos definidos no momento do embarque.

Quanto à periodicidade de uso, observou-se quatro categorias: 01) a diária quando

há presença de visitantes em todos os dias da semana, 02) semanal quando ocorre a

concentração dos visitantes em um período definido da semana, 03) ocasional, quando não

há uma freqüência regular, variando tanto na data quanto ao tempo entre uma visita e

outra, e 4) raro, correspondente a situações onde o aparecimento de visitantes é muito

pequeno.

A tabela 01 apresenta um resumo das condições de uso das praias, a praia da Lua --

muito próxima, dotada de uma estrutura de serviços e tendo acesso regular a um preço

acessível -- é a única que apresenta uma periodicidade diária quanto à visitação. Por outro

lado as praias da região do Caiaué apresenta uma freqüência de visitação rara, fato que

pode era atribuída a estas e as demais praias devido: a) distância b) pela carência na oferta

de serviços, c) dificuldades quanto a transporte, necessidade de linhas regulares. Mesmo

distantes praias como Tupé e ate mesmo Arara apresentaram uma periodicidade de

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visitação semanal isso ocorre devido ao fato destas localidades contarem com pelo menos

uma oferta de serviços básica, baseada principalmente na oferta de passeios com barcos

fretados. O que se pode observar é que a freqüência de visitas não esta relacionada com a

forma de acesso ou com a distancia destas praias ao centro de Manaus, mas sim com a

existência de serviços, principalmente a oferta de alimentos e bebidas.

Os locais apresentaram uma enorme precariedade quanto à existência de infra-

estruturas e de qualquer outra forma de controle ambiental. Na realidade, as praias do

Baixo rio Negro não estão preparadas para receberem visitantes. Procurou-se quantificar a

presença de estruturas impactantes e as mitigantes. As primeiras levam ao aumento do

fluxo de visitantes e/ou à alteração do ambiente; as infra-estruturas mitigantes têm como

resultado a redução dos efeitos da visitação.

Tabela 01 - Distâncias, forma de acesso, periodicidade de uso e existência de serviços

nas praias visitadas.

Praia Distância de Manaus Km

Forma de acesso

Periodicidade de uso

Existência de Serviços

Lua 3 regular Diário Sim Livramento 9 regular Fim de Semana Não Seu Zé 12 particular Eventual Não Igarapé Almofada 13,5 particular Eventual Não Arrombado 14 particular Fim de Semana Sim Tupé jusante 15 fretamento Fim de Semana Sim Tupé montante 16 particular Eventual Não Costa Tatu I 18 particular Eventual Não Costa Tatu II 18 particular Eventual Não Costa Tatu III 22,5 particular Raro Não Costa Caiaué I 24 particular Raro Não Costa Caiaué II 26 particular Raro Não Caiaué 28,8 particular Raro Não Arara 32 particular Fim de semana Sim

4.2. Formas mais freqüentes de acesso às praias

No caso de Manaus - segundo informação colhida com proprietários de

embarcações que fazem o transporte entre a cidade e as praias - a área natural com maior

procura para recreação são as praias fluviais ao longo do baixo rio Negro. Existem também

os “banhos” ou “balneários”, áreas junto a pequenos cursos d’água que são preparados para

uso recreativo.

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O principal meio de transporte às praias utilizado pela população, são barcos

regionais, denominados recreios (figura 32). Os passeios são organizados pelos

proprietários ou por arrendatários, tendo como destinos as localidades que apresentam

alguns serviços, principalmente de alimentação. Cabe ao visitante a escolha da

embarcação.

Foto: Mauro do Nascimento

Figura 32. Embarcação regional denominada de recreio é a mais utilizado em

passeios organizados, estas estão ancoradas na Praia do Tupé.

Os organizadores de passeio consultados informaram que escolhem seu destino

baseado nos seguintes critérios: a beleza cênica da praia, a facilidade de acesso (condição

para aportar a embarcação), distância da cidade e, principalmente, pela existência de algum

tipo de estrutura de serviços no local.

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Foto: Mauro do Nascimento

Figura 33. Embarcação particular neste caso utilizada por famílias e/ou por

pequenos grupos de visitantes, podem ser encontradas em praias movimentadas ou

em locais isolados.

Outra forma de acesso se da pelo uso de embarcações particulares (Figura 33).

Neste caso, os visitantes tanto podem procurar locais com alguma infra-estrutura como

locais ainda pouco visitados, pois cada embarcação tem condição para fornecer as

estruturas necessárias para o conforto dos visitantes.

Como o conjunto de condições procuradas pelos passeios organizados não é

encontrado em todos os locais, a exploração é concentrada em poucas praias,

potencialmente intensificando os danos ambientais. Esta distribuição pode ser observada

no mapa (figura 34) onde a intensidade de uso é classificada em quatro classes: diário, final

de semana, eventual e raro.

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Figura 34 – Mapa da Freqüência de Uso das praias do Baixo rio Negro / setembro 2004

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Tabela 02 – Características das praias do Baixo rio Negro quanto à presença de

habitação, infra-estrutura e quantidade total de impactos.

Habitada Praia Propriedade

rural Comunidade

Infra-estrutura mitigante

Infra-estrutura

impactante

Total de impactos

Lua Não Sim 2 3 4 Livramento Não Sim 0 0 3 Seu Zé Sim Não 0 0 4 Igar. Almofada Sim Não 0 0 5 Arrombado Sim Não 2 2 5 Tupé jusante Não Sim 4 3 6 Tupé montante Não Sim 0 0 5 Costa Tatu I Não Não 0 0 4 Costa Tatu II Não Não 0 0 7 Costa Tatu III Não Não 0 0 2 Costa Caiaué I Sim Não 0 0 4 Costa Caiaué II Sim Não 0 0 5 Caiaué Sim Não 0 0 4 Arara Não Sim 0 3 6

Conforme o quadro acima, os dois tipos de infra-estruturas só são encontrados em

quatro das 14 localidades avaliadas. Nas localidades com infra-estrutura mitigante

(sistemas de limpeza e saneamento, etc.), a quantidade de impactos observados não foi

menor do que nas localidades onde estas infra-estruturas são inexistentes. Este fato pode

ser atribuído a dois fatores: (1) a insuficiência destas infra-estruturas em atender as

necessidades, ou seja, estão sub-dimensionados ou mal distribuídos; e (2) comportamento

inadequado do próprio visitante ou do morador local quanto à manutenção da área.

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Foto: Mauro do Nascimento

Figura 35- Exemplo de placa de orientação presente na entrada do centro de

visitantes da RDS do tupé

A foto acima é um exemplo de placa de orientação para visitantes que foi bem

idealizada, contudo mal executada, pois a mesma está localizado em um ponto fora do

local de maior fluxo de visitantes, apresenta dimensões reduzidas alem de ser em

quantidade insignificante (apenas uma em toda a extensão da praia). Para cumprirem sua

função com eficiência placas deste tipo devem ser grandes, em linguagem clara,

localizadas em pontos de fácil visualização. Este exemplo (figura 35) pertence a uma

unidade de conservação, mas as restrições listadas deveriam ser validas para qualquer uma

das localidades (praias) porém o que se observou é que praticamente todas estas

recomendações não são respeitadas nas praias avaliadas. Nem mesmo no local onde ela

deveria estar orientando os visitantes (praia do Tupé). Além de um conjunto de estruturas

estas localidades carecem de um serviço de orientação e fiscalização apoiadas em um

programa de manutenção e manejo de visitação. O que com certeza amenizaria bastante os

impactos ambientais encontrados nas áreas de praia.

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4.3. Os impactos

O formulário no estilo checklist aplicada na visita às localidades, procurou

identificar e quantificar os vários tipos de impactos diretos ou indiretos sobre um elemento

biótico (a vegetação), e um abiótico (o solo). A questão saneamento foi medida através da

quantificação do lixo abandonado. As inscrições ou pichações, juntamente com a

existência de construções indicaram a qualidade visual da área. A ocorrência de restos de

fogueiras além de contribuírem com a degradação visual, podem ser apontadas como riscos

indiretos à vegetação (incêndios florestais).

O quadro a seguir apresenta os resultados quanto à presença ou quantidade de

impactos observados em cada praia. O total de impactos representa a soma de presenças de

impactos encontrados para cada praia.

Tabela 03 - Praias e impactos ambientais observados nas praias do Baixo rio Negro

em setembro / 2004

Praia Lixo Danos a vegetação Fogo Inscrições Solo

Erosão Trilhas Construções Total impactos

Lua 33 Sim 0 Não Sim Não Sim 4 Livramento 18 Sim 7 Não Não Não Não 3 Seu Zé 15 Sim 0 Não Sim Sim Sim 4 Igar. Almofada 6 Sim 0 Não Sim Sim Sim 5 Arrombado 10 Sim 0 Não Sim Sim Sim 5 Tupé jusante 30 Sim 0 Sim Sim Sim Sim 6 Tupé montante 42 Sim 0 Não Sim Sim Sim 5 Costa Tatu I 11 Sim 0 Não Não Sim Não 4 Costa Tatu II 10 Sim 2 Sim Sim Sim Sim 7 Costa Tatu III 8 Sim 0 Não Não Não Não 2 Costa Caiaué I 39 Sim 6 Não Não Não Sim 4 Costa Caiaué II 5 Sim 0 Não Sim Sim Sim 5 Caiaué 0 Sim 0 Não Sim Sim Sim 4 Arara 23 Sim 3 Não Sim Sim Sim 6

Os danos à vegetação em qualquer das modalidades, temporário ou definitivo,

ocorreram em todas as praias avaliadas constituindo-se no mais significativo das formas de

impacto. Para melhor entendimento as forma diferentes de impacto serão apresentadas

separadamente:

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4.3.1. Lixo

O lixo, principalmente garrafas plásticas, foi encontrado em todos os locais porém

com variação quanto à quantidade. Para retirar o efeito quanto a extensão da praia e a

quantidade de lixo estabeleceu-se a uma relação entre os dois elementos o que estabelece

um ranqueamento, ou seja, pode-se definir uma lista das praias mais poluídas levando-se

em consideração a quantidade de lixo por metro de praia (tabela 04).

A quantidade de lixo não foi muito grande; porém é evidente que o lixo é um

problema e que a quantidade pequena não significa a ausência da ameaça. A pequena

quantidade em algumas praias pode ser atribuída a:

(01) levantamento realizado pouco tempo depois da emersão das praias, portanto

não havendo tempo suficiente para uma acumulação maior;

02) em algumas localidades os moradores realizam limpezas periódicas, o que

evidencia que o fato de que sem este tipo de atitude as localidades seriam tão degradadas

quanto as outras. Tal comportamento pode ser observado nas praias de Caiaué, Costa

Caiaué II e Tupé;

03) alguns materiais, principalmente alumínio, são recolhidos para reciclagem,

portanto os plásticos, vidros e outros metais formam os principais elementos encontrados.

O quadro abaixo apresenta ainda uma segunda informação importante que é a

presença ou não de moradores nas praias, o que também pode ser apontado como gerador

de lixo. O lixo encontrado é a soma deixada pelo morador e pelo visitante.

Quanto a quantidade de lixo encontramos valores absolutos acima da media nas

praias do Arara, Costa Caiaué I, Tupé Montante, Livramento e Lua. Considerando a

densidade do lixo, devemos incluir: Costa Caiaué I, Tupé Montante, Livramento e Lua.

Considerando que o lixo não ira sair sozinho das praias, que não se constatou a

existência de programas ou campanhas de limpeza que atuem em todas as localidades e

bem como somente nos locais habitados ocorre algum tipo de manutenção quanto à

limpeza, conclui-se que a presença de moradores representa um fator positivo para a

manutenção da atratividade destas praias. Assim se excluirmos os locais com moradores e

os que também tenham algum tipo de infra-estrutura mitigadora, as praias em piores

condições quanto ao lixo, são Costa Caiaué I, Tupé Montante e Livramento. Esta última

localidade corresponde aos bancos de areia localizado na foz do Igarapé do Tarumã-Mirim

e que desaparecem durante o período de cheias os, portanto os efeitos são amenizados pela

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cheia. Porém, nas demais localidades este fator não ocorre o que evidencia a acumulação

cada vez maior dos detritos.

Tabela 04 – Praias do Baixo Rio Negro e respectiva quantidade de lixo ordenado segundo a relação lixo pela extensão, setembro 2004.

Praia Extensão Lixo Lixo / extensão (Fragmentos por metro) Habitada

Infra-estrutura mitigante

Igarapé Almofada 30 6 0,20 sim 0 Costa Caiaué I 200 39 0,20 sim 0 Caiaué 200 0 0,00 sim 0 Lua 300 33 0,11 sim 2 Livramento 200 18 0,09 não 0 Costa Tatu III 100 8 0,08 não 0 Tupé montante 580 42 0,07 sim 0 Arara 355 23 0,06 sim 0 Arrombado 200 10 0,05 sim 2 Tupé jusante 600 30 0,05 sim 4 Costa Tatu I 350 11 0,03 não 0 Seu Zé 700 15 0,02 sim 0 Costa Tatu II 500 10 0,02 não 0 Costa Caiaué II 300 5 0,02 sim 0 Média 329,6 17,9 0,07

Autor: Mauro do Nascimento

Figura 36 - Vidro e plástico a maior contribuição em termos de lixo praia do Tupé / Setembro 2004

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Foto: Mauro do Nascimento Figura 37 - Copos e pratos descartáveis lixo abandonado pelas barracas

“restaurantes” que exploram a praia do Tupé. Julho / 2004

Autor: Mauro do Nascimento Figura 38 - Lixo presente à beira d’água pela disposição linear provavelmente

carregado pelo rio Praia do Tupé / setembro 2004

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Respondendo a questão sobre o problema do lixo que foi exposta na introdução se o

lixo é uma questão cultural ou da falta de infra-estrutura a resposta é que tanto um como

outro fator são responsáveis pela quantidade de lixo encontrado nas localidades estudadas.

Para que possa fazer esta afirmação partiu-se do seguinte ponto de vista se fosse a

falta de infra estrutura (coletores de lixo, por exemplo) somente as praias que

apresentassem tais equipamentos seriam livres de lixo e aquelas sem coletores seriam as

mais sujas, contudo o que se observou na prática é que em todos os locais, independente da

existência ou não de infra estrutura, foi observado a presença de lixo, o enfoque cultural

segue uma interpretação parecida, onde se os visitantes tivessem um comportamento

adequado com relação ao lixo todos os locais seriam limpos.

4.3.2. Vegetação

Neste elemento, além do desmatamento que já foi comentado, procurou-se

identificar outros impactos gerados pelo visitante e pelos moradores locais sobre a

cobertura vegetal que circunda a área de praia. Todas as localidades apresentaram este tipo

de dano sendo a retirada de plantas ornamentais, o corte de plantas e a quebra de galhos os

danos mais significativos.

Foto: Mauro do Nascimento

Figura 39 - Plantas (palmeiras) retiradas para servirem como elementos de

decoração em festa realizada na praia costa Caiaué / Setembro 2004

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A foto (figura 39) demonstra bem este tipo de impacto, onde plantas foram retiradas

da mata próxima da praia para servirem como decoração para uma festa “luau” (figura 40)

organizada por uma empresa de “eco” turismo.

Este tipo de atividade parece ser freqüente em muitos praias, fato que pode ser comprovado pela presença de restos de fogueiras e outras armações comuns nestes tipos de festas.

Foto: Mauro do Nascimento

Figura 40 - Detalhe da festa organizada na praia onde se utilizaram plantas nativas como elementos de decoração costa do Caiaué / Setembro 2004

Estes exemplos demonstram bem o quanto o ambiente como um todo é

negligenciado. Em depoimento prestado pelos responsáveis pela organização da festa, os

mesmos declararam que procuravam manter a limpeza da área com a retirada de “todo”

lixo. Porém a pratica não confere com o discurso, pois a preocupação com o ambiente não

deve ser limitada a recolhimento de lixo, mas a uma preocupação bem mais ampla e

respeitando-se todos os elementos.

Esta foto a seguir (figura 41) representa bem outro tipo de impacto gerado sobre a

vegetação. O bosqueamento é a retirada das plantas menores e a limpeza do solo com o

objetivo de se manter uma área sombreada, mas “limpa” ideal para o uso do visitante. Este

tipo de impacto reduz a capacidade de recuperação da floresta, pois elimina as plantas

juvenis e o banco de sementes que estariam estocadas no solo.

77

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A retirada ou a alteração da cobertura vegetal afeta diretamente a fauna local, quer

pela remoção da sua fonte de alimentação, de seu abrigo, ou do local de nidificação, alem

de que a presença de visitantes altera o comportamento dos animais afugentando-os ou

atraindo-os com a disponibilidade de alimentos (lixo) deixados pelos visitantes os danos

sobre a vegetação portanto podem ser apontados como uma das principais ações do

turismo sobre a fauna.

Outro efeito da retirada da vegetação está relacionado com a relação existente entre

a cobertura vegetal e o solo. Esta relação torna-se bem mais importante em um ambiente

onde os solos são frágeis e susceptíveis à erosão e lixiviação. Estes fenômenos podem

acarretar no aumento dos processos erosivos e no empobrecimento de um solo já

naturalmente de baixa fertilidade.

Foto: Mauro do Nascimento

Figura 41 - Bosqueamento outra forma de impacto sobre a vegetação e sobre o

solo. Praia costa do Arara / setembro de 2004.

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4.3.3. Fogo

O fogo nas praias é utilizado para o preparo de alimento, queima de lixo ou como

forma de “diversão”. Houve restos de fogueiras em quatro localidades entre as 14 estudas.

Foi um dos impactos menos freqüentes, mas em duas localidades foram observados

números elevados com três ou mais fogueiras para cada 100 metros de praia. Além da

perda da beleza do local, estas fogueiras podem representar um risco de incêndio florestal.

Tabela 05 – praias do Baixo rio Negro com presença de restos de fogueira, setembro

/ 2004

Praia Restos de fogueiras Extensão Quantidade de fogueiras

para cada 100 m de praia Livramento 7 200 3,5 Costa Tatu II 2 500 0,4 Costa Caiaué I 6 200 3 Arara 3 355 0,8

As figuras 42 e 43 apresentam exemplos de restos de fogueiras encontradas pelas

praias onde estas fogueiras são mais comuns. Tem uma peculiaridade; são locais carentes

de qualquer infra-estrutura ou serviços, que garantam a satisfação das necessidades dos

visitantes, quanto à alimentação ou atividades de lazer.

Autor: Mauro do Nascimento

Figura 42 - Restos de fogueira utilizada para queima de lixo, praia de

Livramento / Setembro 2004

79

Page 86: Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia§ão_Mauro do... · 3.2. Beleza Cênica 50 3.3. A área de estudo 51 3.3.1. Aspectos naturais – condições gerais 51 3.3.2. As áreas

Autor: Mauro do Nascimento

Figura 43 - Restos de fogueira típica para o preparo de alimentos

“churrascos”, praia do Arara / Setembro 2004

As fogueiras apresentam três motivos de ocorrência que são: a queima de lixo, o

preparo de alimentos (assar carnes ou peixes) ou simplesmente sem fins específicos.

4.3.4. Inscrições

Neste caso procurou-se identificar algum tipo de inscrições, pichações ou outro tipo

de ato de vandalismo. Estas agressões à paisagem, embora não possam ser consideradas

como impacto ambiental, pois não alteram nem positiva nem negativamente qualquer

componente ambiental, são importantes quanto a manutenção da beleza cênica.

As inscrições feitas por visitantes foram encontradas em duas praias, Tupé jusante e

Costa do Tatu II. Esta pratica não é muito comum nas praias estudadas, mas o vandalismo

é encontrado em muitos locais com visitação, pois o fluxo de pessoas atrai o interesse

daqueles que querem passar algum tipo de mensagem. Nos locais onde se observou a

presença de inscrições estas foram feitas nas falésias (barrancos) situadas ao longo da

margem do rio e que em vários pontos estão bem próximos à praia, aproveitando-se da sua

constituição geológica, rochas areníticas, que possibilitam a confecção de entalhes, e como

são desprovidos de cobertura vegetal, constituem-se em verdadeiros painéis naturais.

Os exemplos encontrados estão em locais relativamente pouco movimentados, pois

assim como os pichadores que atuam na área urbana, estes também preferem os horários

80

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sem movimento ou locais onde seja possível realizar suas atividades sem a presença de

espectadores. As fotos (figuras 44 e 45) apresentam exemplos destas inscrições e como

este tipo de atitude prejudica a beleza da paisagem.

Autor: Mauro do Nascimento

Figura 44 - Inscrições feitas sobre parede da falésia, local praia do Tupé /

Março 2004

Autor: Mauro do Nascimento

Figura 45 - Inscrições feitas sobre parede da falésia, local praia do Tupé /

Março 2004

81

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4.3.5. Solo – Erosão

A erosão e outros impactos sobre o solo são comuns, observados em dez das 14

localidades estudadas. Foi possível detectar vários exemplos de situações erosivas e como

se pode observar na tabela 06 há uma relação entre a presença de processos erosivos e o

fato da localidade ser habitada, está ligação ocorre em decorrência da retirada total ou

parcial da cobertura vegetal, quer para uso agropecuário ou para instalação de construções

para uso residencial. A retirada da cobertura vegetal, quando ocorre sobre determinados

tipos de solos e formas de relevos podem favorece ao aumento da erosão. Ou seja, a erosão

é ampliada quando a vegetação é retirada em locais com solo arenosos e relevo

acidentados.

Como as atividades recreativas ocorrem preferencialmente em áreas já habitadas ou

que tenham sido alteradas anteriormente assim sendo não é possível afirmar que nas áreas

estudadas as ocorrências de processos erosivos tenham sido provocados pelas atividades

turísticas ou recreativas, isoladamente.

Tabela 06 - Ocorrência de processos erosivos e habitação por praia do baixo rio

Negro / setembro 2004

Praia

Solo - Erosão Habitada

Lua Sim Sim Livramento Não Não Seu Zé Sim Sim Igarapé Almofada Sim Sim Arrombado Sim Sim Tupé jusante Sim Sim Tupé montante Sim Sim Costa Tatu I Não Não Costa Tatu II Sim Não Costa Tatu III Não Não Costa Caiaué I Não Sim Costa Caiaué II Sim Sim Caiaué Sim Sim Arara Sim Sim

A erosão afeta o conjunto paisagístico -- fazendo com que a localidade perca a

atratividade, já que esta é dependente da beleza do local -- e também a estrutura ambiental,

pois com o desaparecimento de parte da camada do solo diminui a capacidade de

recuperação e manutenção da cobertura vegetal. O rio Negro próximo a Manaus tem baixa

capacidade de transportar e depositar de sedimentos arenosos, portanto baixa, capacidade

82

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de formar novos bancos de areia. Assim um depósito de areia gravemente erodida levará

muito tempo para recuperar sua condição anterior. Se isso realmente irá acontecer também

é uma incógnita. Os efeitos da erosão podem ser observados predominantemente em dois

espaços: na faixa de areia (praia) e nas encosta ou barrancos. No caso dos barrancos, a

erosão é predominantemente de causa natural e é comumente observada em praticamente

todos os rios. Contudo, pode ser acelerada pela retirada da cobertura vegetal, tanto na base

da falésia com na sua parte superior – desmatamento da terra firme.

Além das terras firme argilosas, esculpidas em falésias, existem extensos depósitos

de areia localizados em terraços pouco acima do atual nível máximo dos rios e que podem

sofrer erosão quando a vegetação é retirada. Estes depósitos são ou páleo-praias

representando um antigo nível de rio mais alto, ou extensos podzóis que formavam na base

de vertentes. O outro local com forte atuação dos processos erosivos é a parte superior da

própria praia. Neste caso a remoção mecânica da cobertura sedimentar pelas chuvas, pode

ser tão acelerada que em alguns pontos onde o processo é mais atuante pode-se observar o

afloramento do substrato rochoso ou com conglomerados lateríticos (formação comum em

toda a região).

Autor: Mauro do Nascimento

Figura 46 - Processos erosivo associados a retirada da cobertura vegetal em

terrenos com declividade acentuada. Local praia do Tupé / Julho 2004

83

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Autor: Mauro do Nascimento

Figura 47 - Processo erosivo sobre faixa de areia. Local praia costa do Caiaué /

Setembro 2004

Autor: Mauro do Nascimento

Figura 48 - Tentativa de contenção de processo erosivo com o uso de sacos de

areia. Local Praia do Tupé / julho 2004

84

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Figura 49 - Erosão de encosta de

falésia5 local praia do Tupé / março

2004

Foto: Mauro do Nascimento

Figura 50 - Erosão sobre faixa de

areia com a completa remoção do material.

Local praia do Tupé / Março 2004

Foto: Mauro do Nascimento

5 Embora possa ocorrer normalmente sua freqüência pode ser acelerada pela retirada da vegetação no topo

85

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4.3.6. Trilhas

As trilhas que se procurou identificar neste estudo são aquelas que são implantadas

sem critérios, pois danificam a paisagem e suprimem uma parte da vegetação. Constituem

uma via de penetração do visitante ou do morador ao interior da mata assim estendendo a

interferência da atividade para o interior da floresta. Facilitam a dispersão de elementos

como o lixo, além de perturbação sobre elementos da fauna local.

A grande maioria das praias estudadas apresentou estas “trilhas sociais” e este fato

também pode ser associado com a existência de moradores nestas localidades. Autor: Mauro do Nascimento

Figura 51 -Trilha ligando a área de praia a parte alta (roçados) local costa do

Tatu / setembro 2004

86

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A foto (figura 51) mostra como trilhas mal construídas geram impactos, pois a

configuração linear da trilha seguindo a declividade do terreno com certeza ampliarão o

potencial erosivo, canalizando o fluxo d’água.

4.3.7. Construções

As construções encontradas durante as avaliações de campo, foram divididas em

dois grupos. As construções de uso residencial representam a maior parcela dos exemplos

encontrados. Concentram-se ao longo do rio, principalmente nas áreas de terra firme, mas

em alguns casos foram erguidas sobre a faixa de areia. O outro grupo são as edificações de

caráter comercial. Estes foram encontrados em dois locais, praia do Tupé e da Lua. Estão

implantadas sobre a faixa de areia com um padrão arquitetônico não harmonizado com o

cenário natural. Assim constituem uma agressão à paisagem. Não apresentam estruturas

apropriadas para preparo de alimentos, armazenagem, ou para escoamento de seus dejetos,

que são lançados diretamente sobre a areia da praia. Desta forma, põem em risco a

manutenção da qualidade ambiental da área.

Autor: Mauro do Nascimento

Figura 52 - Construção residencial improvisada utilizando-se restos de

matérias de construção local costa do Tatu / setembro 2004

87

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Autor: Mauro do Nascimento

Figura 53 - Construção comercial observa-se os improviso de material na

construção e a desorganização no uso do espaço. Local praia do Tupé / março 2004

Autor: Mauro do Nascimento Figura 54 - Construção residencial de temporada (férias) construída em uma

Unidade de Conservação de uso Direto. Local praia do Tupé / março 2004

88

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4.4. Fatores de geração de danos

Tipos de Impactos (freqüência por local estudado - em %)

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

100,0

vege

taçã

o

lixo

cons

truço

es

trilh

as

eros

ão

fogo

pich

açõe

s Impactos

Freq

uenc

ia -

%

Figura 55 - Tipos de impactos e sua freqüência, para as praias do Baixo rio Negro / setembro 2004

Conforme representado no gráfico acima a retirada ou outra forma de intervenção

sobre a cobertura vegetal (100%) e o lixo abandonado pelos visitantes e moradores locais

(93%) são as principais formas de impactos sobre os ambientes das praias (figura 55).

Construções, trilhas e impactos sobre o solo formam um segundo grupo de elementos

impactantes, com mais de 70% de ocorrência entre os locais estudados. Os fatores menos

significativos em termos de ocorrência são uso do fogo e as inscrições ou pichações, com

29 e 14% respectivamente. O desmatamento em terra firme também afetou grande parte da

área estudada e pode representar um impacto ambiental irreversível ou de recuperação

demorada e onerosa, mas suas principais causas - agricultura e pecuária - não são

associadas diretamente com o uso recreativo.

Quanto aos outros elementos que impactam, o ambiente (tais como: caça, extração

de madeira, ocupação residencial) estes apresentam um resultado rápido quando se

estabelecem programas de educação ambiental, manutenção, estruturação e de

regulamentação do uso.

89

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4.5. Relação entre a forma de uso recreativo e a intensidade de danos ambientais

Neste estudo não foi realizada uma medição quanto à intensidade de uso, ou seja,

definir-se o número de visitantes, pois para isso seria necessária uma estrutura de pessoal

muito grande espalhada por todo o trecho do rio Negro que foi estudado a fim de

quantificar em mesmo período a quantidade de visitantes. Contudo, mesmo nas praias que

apresentam maior movimento – Tupé Jusante e praia da Lua – a ocupação não atinge ainda

a totalidade de suas áreas, ficando boa parte da extensão da praia desocupada.

O espaço utilizado é concentrado nas proximidades dos bares na praia, levando a

crer que o nível de utilização é inferior à capacidade de receberem visitantes. Pode-se

deduzir que as principais causas de impactos são: a) a carência de infra-estrutura,

principalmente aquelas que podem amenizar impactos, tais como: sinalização, coletores de

lixo, locais apropriados para camping ou manutenção e limpeza e b) ao comportamento

inadequado dos visitantes e / ou dos operadores dos serviços que exploram a área, tais

como agências de turismo e donos de bares e embarcações.

Os dados coletados não apontam para uma relação entre presença moradores e a

soma de impactos. No entanto, apenas quatro das 14 praias estavam desabitadas, o que

dificulta a comparação das duas categorias.

NAO SIMHABITADO

1

2

3

4

5

6

7

8

IMPA

CTO

Figura 56 – Impactos e presença de habitação para as praias do Baixo rio

Negro / setembro 2004

90

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O gráfico (figura 56) apresenta o comportamento quanto à quantidade de impactos

em relação ao fato do local ser ou não habitado, o que se pode perceber é que há uma

quantidade pequena de praias desabitadas e que nestas pode-se perceber uma variação

grande quanto a quantidade de impactos (o menor e maior índice), quanto as áreas

habitadas estas apresentam uma quantidade de impactos mais próximos a média com uma

concentração dos níveis de impactos não havendo uma diferença muito grande entre as

áreas avaliadas.

Tabela 07 – distribuição das quantidades de impactos por praia do Baixo rio Negro

segundo a condição de habitada ou não.

Praia HabitadaQuantidade

de Impactos

Lua Sim 4 Seu Zé Sim 4 Igarapé Almofada Sim 5 Arrombado Sim 5 Tupé jusante Sim 6 Tupé montante Sim 5 Costa Caiaué I Sim 4 Costa Caiaué II Sim 5 Caiaué Sim 4 Arara Sim 6 Livramento Não 3 Costa Tatu I Não 4 Costa Tatu II Não 7 Costa Tatu III Não 2

O mapa a seguir (figura 57) apresenta um resumo das condições de níveis de

impactos segundo a quantidade de impactos encontrados em cada praia estudada, estas

praias foram divididas em quatro categorias (Níveis). Assim temos as menos impactadas

com dois ou três impactos como nível 1; e as mais impactada nível 6 com 6 o 7 impactos

encontrados.

91

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Figura 57– Mapa segundo níveis de impactos observados nas praias do Baixo rio Negro / setembro 2004

92

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Esta situação pode ser atribuída ao fato de que nas praias onde existem moradores

estes atuam como agentes impactantes enquanto que nos locais desabitados a ocorrência de

impactos pode ou não ocorrer dependendo praticamente da intensidade de uso e neste caso

a oferta de infra-estrutura principalmente as que visem orientar o uso é fundamental para

manter a qualidade destes locais.

O mapa de Qualidade Ambiental apresentado a seguir baseou-se em quatro

condições para sua elaboração que são: a condição quanto a freqüência de uso recreativo, a

densidade demográfica (uso do solo), a quantidade de impactos e o nível de alteração da

paisagem (representado pelo desmatamento). Estes elementos primeiramente foram

representados em mapas que serviram de base para a elaboração do mapa final

denominado como mapa de qualidade ambiental.

Com base nestes critérios criaram-se três níveis diferentes de qualidade ambiental

que puderam ser plotado na forma de mapa, o uso deste mapa pode ser importante para

identificar as áreas onde há necessidade de uma intervenção visando a correção ou a

orientação dos moradores e usuários quanto a necessidade da preservação ambiental.

As regiões mais próximas do centro de Manaus são as que apresentam condições

ambientais piores (níveis 01 e 02). Estas áreas além, de terem maior intensidade de uso

recreativo, apresentam, devido a sua proximidade maior número de moradores fixos o que

acarreta em maior degradação na paisagem principalmente pelo desmatamento.

As áreas mais distantes apresentam melhor qualidade ambiental, porém cabe

destacar que em nenhuma das áreas pesquisadas pode-se observar a ausência de algum tipo

de impacto ou área que não tivesse sido alterada tanto no presente como no passado.

Nestas áreas (níveis 03) a exploração recreativa é menos freqüente e realizada por uma

quantidade menor de visitantes, a taxa de ocupação é menos densa e observam-se impactos

ambientais em menor intensidade.

93

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Figura 58 - Mapa dos níveis de impactos ambientais observados por praia ou trechos do Baixo Rio Negro / setembro 2004

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4.6. Beleza cênica e quantidades de impactos

Teoricamente espera-se que, quanto maior a atratividade (beleza natural) de um

lugar maior será o número de visitantes, o que, em teoria, acarretaria em maior número de

impactos observados. No entanto, não houve uma relação entre a variável “beleza cênica”

e “quantidade de impactos”. A relação entre estas duas variáveis apresenta r2 próximo de

zero (Figura 59). A hipótese de que a inclinação da reta não inclui zero é rejeitada (p

=0,85)

R2 = 0.0032

0

1

2

3

4

5

6

7

8

3 4 5 6 7 8 9 10 1

Beleza cênica

Impa

ctos

1

Figura 59 - Relação entre o número de impactos e a beleza cênica por praia

O mesmo teste de regressão foi aplicado para a relação entre o “total de impactos” e

outras variáveis tais como: distância de Manaus, forma de uso, e existência de infra-

estruturas, resultando em todos os casos valores de p não significativos (acima de 0,05) e

com intervalos de confiança para a inclinação apresentando amplitudes que variam de

números negativos até positivos, assim incluindo o valor zero.

Embora a teoria exposta anteriormente postule que haveria uma relação direta entre

cada uma destas variáveis e a variável “total de impactos” o mesmo não se observou nas

análises estatísticas. Isso pode ser atribuído à forma de coleta e tratamento dos dados, que

não foram estruturadas para serem estatisticamente avaliadas, pois não fora este o objetivo

do estudo. Esta situação reforça ainda mais o caráter de complexidade da atividade

95

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turística, que não obedece a regras e a formatos pré-concebidos, tendo uma dinâmica

própria com ações e reações diferentes para cada ambientes e situações de uso.

Tabela 08 – Resultados das avaliações de beleza cênica e quantidade de impactos por

praia do baixo rio Negro / setembro 2004

Praia Avaliação

beleza cênica

Quantidade de impactos

Costa Tatu II 10 7 Arrombado 9 5 Costa Tatu I 9 4 Costa Tatu III 9 2 Lua 8 4 Seu Zé 8 4 Costa Caiaué I 8 4 Tupé jusante 7 6 Caiaué 7 4 Arara 7 6 Igarapé Almofada 5 5 Tupé montante 5 5 Livramento 4 3 Costa Caiaué II 4 5

4.7. Método de avaliação de impactos simplificado

A atividade turística e recreativa como a que se identificou neste estudo tem um

efeito sobre o meio ambiente que pode ser identificado com facilidade, mesmo que se leve

em conta a complexidade da atividade. Portanto não se vê dificuldade em identificar os

impactos gerados pelo turismo ou recreação, mesmo que a forma de avaliação seja feita de

forma simplificada.

Isto é possível devido ao fato de que a avaliação fundamentou-se em elementos que

são facilmente percebidos e que são possíveis de serem quantificados e que também podem

ser indicadores de impactos indiretos. O lixo e o desmatamento foram os dois elementos

que podem apresentar maior dificuldade em se identificar a sua origem, já que podem estar

associados ao uso turístico, como também ao próprio fato da área ser ocupada ou por ter

sido habitada no passado.

96

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A avaliação que se pretende executar tem o objetivo de avaliar a condição

ambiental de todo a área. Neste caso é irrelevante o fato do desmatamento ou lixo ter uma

origem ou outra. O que é importante é que estes elementos estão presentes nas áreas

estudadas e estão gerando a redução da atratividade turística ou da qualidade ambiental. Os

demais fatores impactantes também podem ser facilmente identificados bastando para isso

uma caminhada pela área a ser avaliada, acompanhado por um formulário constituído de

uma lista dos impactos a serem identificados. Preenchido este formulário pode-se ter uma

noção da real situação, quanto à qualidade ambiental da área que está sendo utilizada ou

que irá ser utilizada. Com isso o interessado poderá identificar os principais elementos

ambientais que estão sendo degradados e assim definir ações que possibilitem a correção

ou recuperação do local.

97

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5. Conclusões e recomendações

5.1 Quanto aos impactos

Tendo em vista os questionamentos e objetivos que nortearam este trabalho, os

resultados obtidos possibilitam que algumas conclusões sejam tomadas, tais como:

A) Deve-se ter em mente que as mesmas não representam um regulamento ou uma

definição quanto aos prováveis impactos ambientais que estejam associados ao turismo ou

a atividades de recreação, até mesmo por que neste estudo não foram avaliados os outros

tipos de ambientes ou as outras formas de turismo. Em segundo lugar na forma de uso que

se estudou, ou seja, aquela que ocorre de forma espontânea e com pouco ou nenhuma

orientação ou regulamentação, observa-se que os impactos são visíveis e que ocorrem

quase por toda a área, sem gradientes aparentes, mas também não espacialmente

homogênea.

B) As características quanto às formas de usos da área sobrepõem-se em usos

múltiplos, destacando-se os associados com a exploração econômica da terra (agricultura

ou pecuária). Estas atividades acarretam em processos de desmatamento que extrapolam os

limites da faixa de praia e avançam sobre a faixa destinada a proteção permanente. O

desmatamento é a principal forma de impacto, tanto pela extensão quanto pela

significância, pois este tipo de agressão esta sempre associado a outros tipos de impactos.

C) O desmatamento na forma que se encontra atualmente não pode ser considerado

como um fator de repulsa ou que reduza a quantidade de visitantes, pois os hábitos dos

freqüentadores -- e por que não dizer do brasileiro de modo geral --, é o de procurar as

praias em busca do sol e é claro que a vegetação e sua sombra não são elementos bem

vistos em uma praia, embora devessem ser considerados com extremamente necessárias.

D) Comparado ao desmatamento, os impactos gerados pela atividade turística e

recreativa sobre a vegetação podem ser considerados de pequena importância, porém estas

formas de impactos podem ser observadas em todos os locais estudados. Acabam

somando-se aos efeitos do desmatamento, pois ocorrem nos poucos fragmentos de

vegetação que ainda restam, prejudicando a sua manutenção e regeneração.

E) Quanto à ocupação existem três formas que se distinguem como: desabitada,

com moradores e com pequenas aglomerações (vilas). A presença de moradores em

algumas destas praias não pode ser apontada como fator de exclusão de visitantes. Nestas

98

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áreas podem ser observados alguns serviços (alimentos e bebidas) ofertados aos visitantes.

Este fato normalmente ocorre nos locais onde existe uma maior concentração de

moradores, ou seja, os visitantes utilizam-se dos serviços que estão disponíveis para a

população local (como no caso da vila do Arara) ou de serviços implementados

especificamente para atender os visitantes (Praia do Tupé e da Lua). As áreas ocupadas por

moradores permanentes ou temporários (não se constituindo em aglomerações) também

podem e são utilizadas para recreação.

F) A falta de serviços não impede ou diminui a freqüência de visitantes, embora as

áreas desprovidas são as que apresentam menores possibilidades de receberem visitantes,

as praias com menor número de visitantes são aquelas onde os proprietários não permitem

ou impõem algum tipo de restrição à forma ou a permanência de visitantes.

G) O lixo representa o segundo maior problema encontrado nas praias, presente em

praticamente todos os locais. Sua origem é diversificada, pois pode estar ligada à

freqüência dos visitantes, aos moradores ou em menor escala aos detritos carregados e

depositados nas praias pelo rio. O lixo é uma questão séria e a sua solução envolve uma

soma de ações que vão desde a área estrutural, preparo da área para coleta e tratamento dos

dejetos, passando pela área cultural ou educacional, sensibilização e conscientização dos

moradores e visitantes quanto à importância da limpeza das áreas.

H) As praias estudadas encontram-se despreparadas para receber visitantes, no que

se refere a questões estruturais para amenizar o lixo. Não há coletores adequados e em

quantidade suficiente. Na grande maioria dos pontos eles sequer existem. Campanhas de

limpeza ou coleta não são executadas ou são limitadas a pontos isolados e com freqüências

irregulares. Ou ocorrem somente da faixa de areia, deixando o lixo acumular-se nas áreas

de vegetação, o que é prejudicial para a fauna local.

I) A presença de restos de fogueiras, encontradas ao longo da faixa de areia ou nas

bordas das áreas com vegetação, aponta para a ocorrência de acampamentos (camping

rústico), ou para a permanência de visitantes por um período de tempo mais prolongado do

que somente algumas horas. Nenhuma das praias está preparada para acomodar visitantes

por um tempo prolongado, exceção aos hotéis de selva que não correm na área de estudo.

Este despreparo demonstra o quanto estes ambientes estão sendo sub explorados ou

explorados de forma errônea como atrativo ou como produto para o turismo. A

implementação de áreas de camping, além de possibilitar o ordenamento do uso, pode

significar uma importante fonte de renda para os moradores das localidades envolvidas.

99

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J) Uma quantidade significativa de locais com erosão do solo representa uma

indicação de que os locais estão sendo ocupados de forma incorreta, não havendo um

respeito às condições ambientais tais como: desmatamento de encostas, retirada da mata

ciliar, exposição do solo pela remoção da camada de liteira, etc. Nas áreas estudadas estes

fatos podem ser atribuídos mais à forma de ocupação e uso do solo pelos moradores locais

do que as condições ou efeitos do uso turístico e recreativo.

L) Outros impactos tiveram ocorrência menos significativa, como a presença de

trilhas irregulares, de inscrições e de construções irregulares. Uma freqüência menor não

signifique que seus efeitos sejam insignificantes ou que não representem um perigo

potencial para o ambiente. Estes problemas têm uma relação direta com o despreparo e

com o estado de abandono que estas áreas vem passando e indicam a falta de

acompanhamento ou fiscalização da área que está sendo explorada.

M) No caso das áreas estudadas, é necessária uma presença mais atuante dos órgãos

responsáveis pelo turismo e pelo meio ambiente (tanto do Município como do Estado),

através de ações de regularização, fiscalização e sensibilização dos visitantes, dos

moradores e dos empresários responsáveis pela exploração das atividades desenvolvidas

nas localidades. Isto poderá representar um importante passo para a sustentabilidade

ambiental e econômica. Por exemplo, nas áreas que já se consolidaram como principais

pontos de recepção (Tupé e Lua), a remodelação dos bares para padrões mais harmônicos

com a paisagem e a implementação de estruturas de saneamento podem revitalizar o

espaço impedindo que ocorra o fenômeno de estagnação e decadência do produto turístico,

acarretando posteriormente em um aumento do número de freqüentadores.

N) Toda a área que foi avaliada neste estudo apresenta-se impactada tanto pela ação

dos moradores como dos eventuais visitantes. Porém é bem claro que estes impactos ainda

não comprometeram as áreas a ponto de impedir sua utilização turística e recreativa e o

melhor de tudo é que os níveis de degradação ainda podem ser amenizados e as condições

ambientais retornarem a níveis bem próximos das condições ideais.

5.2 Quanto à forma de avaliação de impactos

Este estudo foi norteado pela busca de um processo de avaliação retrospectiva e que

possa auxiliar os responsáveis pela administração de locais que estejam submetidos ao uso

turístico ou recreativo, principalmente em espaços naturais e que tenha sofrido pouca ou

100

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nenhuma adaptação para o desenvolvimento destas atividades. Vários indicadores foram

selecionados após a leitura de trabalhos realizados nos mais diversos tipos de ambientes,

submetidos a várias formas de uso turístico e recreativo em muitos países. Na continuação,

elaborou-se formulários para uso em campo. A meta foi observar quais dos indicadores

selecionados eram os mais simples de serem identificados e avaliados e passiveis de

monitoramento. Posteriormente os dados coletados em campo foram analisados, obtendo-

se uma descrição das condições dos ambientes de praia do Baixo rio Negro.

A avaliação das condições ambientais normalmente é fruto de um demorado e caro

processo de estudo envolvendo grupos de trabalho multidisciplinares. Esta opção não está

acessível à grande maioria dos empreendimentos turísticos, principalmente aqueles que são

implementados por pequenas comunidades ou por pequenos proprietários rurais. Tal fato

tem como resultado a implementação e a manutenção de empreendimentos fadados ao

fracasso e a gerarem uma série de problemas ambientais que nem sempre serão possíveis

de serem corrigidos.

Neste estudo selecionaram-se alguns indicadores quantitativos contínuos (lixo e

fogueiras) e outros que foram avaliados na forma de presença e ausência (danos à

vegetação, inscrições, erosão do solo, trilhas e construções irregulares). Na prática todos

esses indicadores selecionados foram facilmente identificados em campo, o que representa

uma vantagem, pois assim facilitam seu uso por pessoas menos habilitadas, com pequena

qualificação ou treinamento.

Desta forma pode-se afirmar que o objetivo de se criar um modelo que avalie as

condições ambientais em uma área natural que esteja submetida à exploração turística e

recreativa foi positiva. E assim é possível propor um modelo de avaliação de qualidade

ambiental (exposto no Quadro 01 na pagina 103), este modelo baseia-se nos mesmos

indicadores selecionados e usados em campo, portanto ele avalia as mesmas condições

observadas como potencialmente geradoras de impactos ambientais, associadas ao uso

turístico e recreativo.

101

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5.2.1 – Modelo simplificado de avaliação

O conhecimento das condições ambientais de uma área submetida ao uso turístico

ou recreativo nem sempre é considerada com a mesma importância que se dá para o

conhecimento da suas condições econômicas ou financeiras. Ou seja, muitos

empreendedores não dão a mesma importância para a questão ambiental como dão para o

faturamento de seu estabelecimento, esquecendo-se que, para atividades como o turismo

ou recreação, a manutenção da qualidade ambiental representa a manutenção de seu

principal recurso (matéria-prima), sua principal fonte de renda. Sem ela não haveria

visitantes e conseqüentemente não haveria a geração de renda.

A proposta que se apresenta a seguir representa uma contribuição para amenizar

parcialmente este problema. Baseia-se nos resultados do trabalho de campo onde uma

série de variáveis foram utilizadas. Com base nestas informações foram determinadas

quais condições são mais importantes como geradoras de impactos e quais os elementos

mais importantes como mitigadores destes impactos. Assim surgiu uma proposta de

questionário que se expõe a seguir e na continuação a forma e os critérios para avaliação da

qualidade ambiental da área.

No quadro as respostas sim são codificadas como verde para ausência de um

impacto ou presença de elemento mitigador, ou não em vermelho para os impactos ou

ausência de elemento mitigador e amarelo assinalado quando não se aplica o

questionamento a área que se está avaliando.

102

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Quadro 01. Proposta de questionário para avaliação simplificada de qualidade ambiental em áreas de uso recreativo ou turístico.

Lixo 1 Ao percorrer a área encontrou lixo? Sim Não Não se aplica2 A área tem lixeiras? Sim Não Não se aplica3 O lixo é coletado com freqüência regular? Sim Não Não se aplica4 O lixo coletado tem sempre o mesmo destino? Sim Não Não se aplica5 O lixo e selecionado e reciclado na própria área? Sim Não Não se aplica6 Há placas orientando os visitantes quanto ao lixo? Sim Não Não se aplicaFogueiras 7 Ao percorre a área encontrou restos de fogueira? Sim Não Não se aplica8 As fogueiras estão próximas de formações vegetais? Sim Não Não se aplica9 A área oferece locais apropriados para fogueiras? Sim Não Não se aplica10 Há placas orientando os visitantes quanto ao uso de fogo? Sim Não Não se aplicaDanos a vegetação 11 A área apresenta espaços desmatados? Sim Não Não se aplica12 As margens dos rios estão cobertas de vegetação? Sim Não Não se aplica13 Os visitantes costumam levar mudas, flores retiradas da área? Sim Não Não se aplica14 Foram observados galhos quebrados ou plantas pisoteadas com

freqüência? Sim Não Não se aplica

15 Há placas orientando os visitantes quanto ao cuidados com a vegetação?

Sim Não Não se aplica

Inscrições 16 Observou-se a presença de inscrições, pichações ou outras

formas de vandalismo na área? Sim Não Não se aplica

17 As inscrições ocorrem em todos os locais? Sim Não Não se aplica18 Há placas orientando os visitantes quanto importância da

manutenção da área? Sim Não Não se aplica

Erosão do solo 19 São observados sulcos ou outras formas de erosão na área? Sim Não Não se aplica20 Nos momentos de chuva as águas que escorrem carregam muitos

sedimentos? (tem coloração barrenta) Sim Não Não se aplica

21 Nas trilhas e outros locais é comum encontrarmos raízes expostas na superfície?

Sim Não Não se aplica

22 As camadas de liteira (folhiço, serrapilheira) são mantidas sobre o solo?

Sim Não Não se aplica

23 A vegetação das encostas e das margens dos cursos d’água foi preservada?

Sim Não Não se aplica

Trilhas irregulares 24 São encontradas trilhas não oficiais na área? Sim Não Não se aplica25 As trilhas oficiais estão bem identificadas e preservadas? Sim Não Não se aplica26 Há placas sinalizando os percursos das trilhas oficiais? Sim Não Não se aplica27 Há placas alertando os visitantes quanto à proibição de abrir

novas trilhas? Sim Não Não se aplica

Construções irregulares 28 As construções existentes estão harmonizadas com a paisagem? Sim Não Não se aplica29 Há construções que não sejam importantes para o funcionamento

da atividade? Sim Não Não se aplica

30 Há regras ou normas quanto a implantação de novas construções?

Sim Não Não se aplica

103

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Para avaliar a qualidade da área que esta sendo explorado proceda ao seguinte

calculo:

01. Conte os quadros assinalados em

Vermelhos: _________

Verdes: __________

Amarelos: _________

02. Utilize a seguinte formula,

Qualidade Ambiental = ∑ quadros Vermelhos X 100 / (30 – ∑ quadros Amarelos)

Os valores encontrados representarão um indicador de qualidade ambiental baseado

nos indicadores observados em campo. Este valor servirá de referencia para a tomada de

decisão, quanto à necessidade ou não de uma intervenção mais profunda e principalmente

quanto à busca por uma orientação profissional.

Os resultados podem ser agrupados em cinco categorias, variando da mais

preservada ou com melhor qualidade ambiental (áreas ou locais com pequena ou nenhuma

necessidade de intervenção) até aquelas com valores mais elevados, as com péssima

qualidade ambiental (que necessitaram de uma intervenção com urgência).

Quadro 02 – Indicadores de qualidade ambiental segundo o método de avaliação

simplificado

Pontuação Classificação Diagnóstico

0 a 20 Ótimo Apresenta poucos indicadores de impactos e está bem estruturada para o recebimento de visitantes. Pode ser considerado como uma área modelo.

21 a 40 Bom A quantidade de impactos é pequena e as necessidades de infra-estruturas são baixas. Deve-se tomar cuidado com a manutenção e o monitoramento da área.

41 a 60 Regular

Já apresenta alguns impactos significativos e carece de algumas infra-estruturas há necessidade de intervenção e regulamentação quanto ao uso da área. A consulta a um especialista é recomendada, mas não obrigatória.

61 a 80 Ruim

As condições quanto a danos e infra-estruturas é critica, já se fazem necessário uma intervenção mais drástica na área, principalmente para regulamentação do uso e correção dos danos já observados.

81 a 100 Péssimo

Área com grande número de impactos e praticamente despreparada para o uso turístico ou recreativo. Neste caso recomenda-se a interdição da área ate que medidas de correção dos danos e a implementação de infra-estruturas seja concluida

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Cabe destacar alguns pontos referentes ao preenchimento deste questionário por

parte do responsável:

01) as questões devem ser respondidas após percorrer toda a extensão da área

utilizada pelos visitantes;

02) o responsável pelo preenchimento do questionário deve ser imparcial na hora de

respondê-lo;

03) todas as questões devem ser respondidas assinalando-se um dos três quadros;

04) o quadro não se aplica deve ser assinalado somente quando o objeto do

questionamento não existir na área, por exemplo: se a questão fizer referência a cursos

d’água (rios) e não existem rios na área.

05) as somas e cálculos devem ser efetuados, pois a avaliação só termina após estes

passos.

Os parâmetros utilizados nesta avaliação são facilmente observáveis por uma

pessoa com pouca familiaridade com as questões ambientais e a veracidade desta forma de

avaliação vai depender do interesse que o responsável pelo empreendimento ou pelo

produto turístico tiver em manter a sustentabilidade do seu negócio.

A busca pela sustentabilidade deve ser uma prática constante. Sabe-se que é uma

luta difícil, pois envolve uma dose de esforço, criatividade, recursos e até mesmo de

renúncia ao lucro fácil e rápido. Seja ela ambiental ou econômica, a sustentabilidade

requer que se faça uma opção pela longevidade do empreendimento e não pela rápida

acumulação da riqueza. Aquele que opta pela exploração equilibrada e racional dos

recursos naturais descobre que a verdadeira riqueza não se acumula, mas se preserva.

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7. Anexos

Formulário 01. Utilizado para caracterização da área. Características Ambientais da Área.

Local: Distancia de Manaus: Km:

horas:

Coordenada (inicio)

Lat: _____°______’______’’

Long: _____°______’______’’

Coordenada (final):

Lat: _____°______’______’’

Long: _____°______’______’’

Orientação ________º ________ Extensão:

Cheia ( ) seca ( )

Tem praia:

Ano todo ( ) só na vazante ( )

Forma da praia:

linear/ aberta ( ) baia ( ) arco ( )

convexa ( )

Cobertura vegetal (predominante):

Tipo: floresta inundada (igapó) ( ) floresta terra firme ( ) igapó e terra firme ( )

Somente floresta ( ) Com floresta e área desmatada ( ) Somente área desmatada ( )

Capoeira ( )

Característica do desmatamento:

Somente em terra firme ( ) Em terra firme e na faixa de areia ( )

Somente na faixa de areia ( ) somente em Igapó ( ) totalmente desmatada ( )

Motivo: Agrícola ( ) recreação ( ) não identificado ( )

Topografia:

Plano ( ) plano e falésia ( ) falésia ( ) altura aproximada (_____ m)

Hidrografia: Presença de: lago ( ) igarapé ( )

Fauna: Avistamento:

Aves Na praia ( ) Na borda da floresta ( ) quanto ( ) nenhum ( )

Mamíferos Na praia ( ) Na borda da floresta ( ) quanto ( ) nenhum ( )

Répteis Na praia ( ) Na borda da floresta ( ) quanto ( ) nenhum ( )

Características da praia:

Cor da areia: branca ( ) cinza claro ( ) Cinza ( ) Amarelada ( )

avermelhada ( ) mista ( )

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Granulometria da areia: média ( ) fina ( ) argilosa ( ) mista ( )

Moradores:

Desabitada ( ) habitada ( ) Vila ou comunidade ( ) Quantidade: _______

Ocupação / uso:

Segunda residência ( ) Propriedade rural ( ) Atividade: ______________

Unidade de conservação ( ) Tipo: __________________

Avaliação preliminar:

Dimensão - bom ( ) regular ( ) mau ( )

Beleza cênica - bom ( ) regular ( ) mau ( )

Conjunto paisagístico - bom ( ) regular ( ) mau ( )

Vegetação local - bom ( ) regular ( ) mau ( )

Conservação e limpeza - bom ( ) regular ( ) mau ( )

Observações: _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Croqui

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Formulário 02. Utilizados para identificação e quantificação dos impactos.

Presença e tipo de danos observados: Local _________________________ distância do inicio da praia ______m

Categoria Tipo Quantidade p b r q

Danos à vegetação (temporário)

o

dp Danos à vegetação (permanente) db pl v m Lixo

mo pa ql Restos de fogueira o pi e Inscrições ou pichações o

em ef rl

solo

re f Presença de dejetos humanos u

Trilhas sociais (irregulares) ts rs

Construções irregulares cm

h

rh Padrão das edificações

dh

A lista a seguir apresenta os significados de cada tipo de impacto observado Tipos: Vegetação Temporário = pisoteio (p), bosqueamento (b), retirada de plantas (r),

galhos quebrados (q), outros (o).

Vegetação Permanente = desmatamento praia (dp), desmatamento borda (db),

Lixo = plástico (pl), vidro (v), metais (m), matéria orgânica (mo)

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Restos de fogueira = preparo alimento (pa), queima de lixo (ql), outros (o)

Inscrições = pinturas (pi), entalhes (e), outros (o)

Solo = Erosão margem (em), erosão falésia (ef), retirada da liteira (rl), raiz exposta (re)

Dejetos humanos = fezes (f), urina (u)

Trilhas sociais = trilha simples (ts)

Construções irregulares = residencial (rs), comercial (cm)

Padrão das edificações = harmonia (h), harmonia relativa (rh), desarmonia (dh)

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Formulário 03. Utilizado para identificar as formas e intensidade de uso da área.

Forma e intensidade de uso da área: Local ________________

Tipo características

Tempo de permanência horas dias semanas

Freqüência Diária Fim de semana Esporádica

Período de maior uso Meses do ano

Inicio Fim

Esportes Descanso Pesca

Atividades praticadas Gastronomia Banho Outros:

Meio de acesso Próprio Coletivo Público

Eventos programados

Data: Tipo:

Origem dos visitantes Local: Outras localidades:

Uso de estruturas e serviços do local tipo Sim Não Alimentação Hospedagem Sanitários Outros

Observações: ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Formulário 04. Utilizado para identificar as infra-estruturas, equipamento e serviços em cada área.

Infra-estrutura, equipamentos e serviços: Local ________________________

Mitigadores:

Coletores de lixo

Sanitários

Sistemas de Sinalização e Informação

Limpeza pública

Programas institucionais

sim ( ) não ( ) quantidade ( )

sim ( ) não ( ) quantidade ( )

sim ( ) não ( ) tipo____________

Periodicidade semanal ( ) mensal ( )

eventual (sem data fixa) ( )

sim ( ) não ( ) tipo____________

Órgão responsável: ____________________

Impactantes:

Comércio ambulante

Comércio fixo

Porto ou atracadouro

Água e Energia

Acessos – trilhas

Hotel / resort / lodge

Restaurante e bares

sim ( ) não ( ) quantidade ( )

sim ( ) não ( ) quantidade ( )

sim ( ) não ( ) quantidade ( )

sim ( ) não ( ) quantidade ( )

sim ( ) não ( ) quantidade ( )

sim ( ) não ( ) quantidade ( )

sim ( ) não ( ) quantidade ( )

Observações:

114