ILUMINAÇÃO CÊNICA COMO ELEMENTO MODIFICADOR DOS ESPETÁCULOS: SEUS EFEITOS SOBRE OS OBJETOS DE...

93
. UFRJ ILUMINAÇÃO CÊNICA COMO ELEMENTO MODIFICADOR DOS ESPETÁCULOS: SEUS EFEITOS SOBRE OS OBJETOS DE CENA Bárbara Suassuna Bent Valeixo Mont Serrat Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências em Arquitetura, área de concentração em Conforto Ambiental e Eficiência Energética. Orientador: Prof .Dr Aldo Carlos de Moura Gonçalves Co-Orientador: Prof. Dr José da Silva Dias Rio de Janeiro 2006

description

ILUMINAÇÃO CÊNICA COMO ELEMENTO MODIFICADOR DOS ESPETÁCULOS: SEUS EFEITOS SOBRE OS OBJETOS DE CENA de Bárbara Serrat

Transcript of ILUMINAÇÃO CÊNICA COMO ELEMENTO MODIFICADOR DOS ESPETÁCULOS: SEUS EFEITOS SOBRE OS OBJETOS DE...

  • .

    UFRJ

    ILUMINAO CNICA COMO ELEMENTO MODIFICADOR DOS ESPETCULOS:

    SEUS EFEITOS SOBRE OS OBJETOS DE CENA

    Brbara Suassuna Bent Valeixo Mont Serrat

    Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-graduao em Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre em Cincias em Arquitetura, rea de concentrao em Conforto Ambiental e Eficincia Energtica.

    Orientador: Prof .Dr Aldo Carlos de Moura Gonalves Co-Orientador: Prof. Dr Jos da Silva Dias

    Rio de Janeiro

    2006

  • ILUMINAO CNICA COMO ELEMENTO MODIFICADOR

    DOS ESPETCULOS: SEUS EFEITOS SOBRE OS OBJETOS DE CENA

    Brbara Suassuna Bent Valeixo Mont Serrat

    Dissertao de Mestrado submetida ao Programa de Ps-graduao em Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre em Cincias em Arquitetura, rea de concentrao em Conforto Ambiental e Eficincia Energtica.

    Aprovada por:

    _______________________________ Orientador, Prof. Aldo C. M. Gonalves. (D.Sc.) Prof. Adjunto FAU-UFRJ

    _______________________________ Co-orientador, Prof. Jose da Silva Dias (D.Sc.) Prof. Adjunto UNIRIO _______________________________ Prof. Eunice Bomfim Rocha (D.Sc.) Prof. Adjunto FAU-UFRJ _______________________________ Prof. Maria Maia Porto (D.Sc.) Prof. Adjunto FAU-UFRJ

  • SUMRIO

    INTRODUO ................................................................................................... 1

    CAPTULO 1 A ILUMINAO E SUA RELAO COM OS ESPAOS.4

    1.1. A ILUMINAO ARTIFICIAL E SUA EVOLUO...................................... 5

    1.1.1. A primeira chama ............................................................................ 5

    1.1.1.1. Acender e transportar o fogo ................................................ 7

    1.1.1.2. O fogo e a civilizao ........................................................... 8

    1.1.2. Da vela a lmpada incandescente.................................................... 9

    1.2. A ILUMINAO NATURAL E SUA RELAO COM OS ESPAOS

    CNICOS......................................................................................................... 12

    1.2.1. O teatro grego e o romano; a relao entre os espaos

    de apresentao e a luz .................................................................................. 14

    1.2.2. O Teatro Elisabetano...................................................................... 17

    1.2.3. Sua utilizao nos dias de hoje ...................................................... 21

    1.3. REVISO HISTRICA DA ILUMINAO ARTIFICIAL NOS ESPAOS

    CNICOS......................................................................................................... 25

    CAPTULO 2 A ILUMINAO CNICA ARTIFICIAL33

    2.1. A INCLUSO DA ILUMINAO CNICA ARTIFICIAL NOS PRIMEIROS

    ESPETCULOS............................................................................................... 36

    2.1.1. A importncia da iluminao artificial no teatro .............................. 40

    2.2. A iluminao cnica artificial nos dias de hoje ......................................... 41

    2.2.1. Seus elementos.............................................................................. 41

  • CAPTULO 3 - A ILUMINAO CNICA COMO ELEMENTO MODIFICADOR..44 3.1. OBJETOS DE CENA E SUAS CARACTERSTICAS..48

    3.2. APLICAO DE CORES.49

    3.2.1. Criao de atmosferas...51

    3.3. A IMPORTNCIA DA SOMBRA NA ILUMINAO ....53

    3.3.1. O teatro de sombras...55

    CAPTULO 4 - ANLISES E OBSERVAES.....................................................59 4.1 ENTREVISTAS..59

    4.1.1. Entrevista com Jorginho de Carvalho..59

    4.1.2. Entrevista com Aurlio di Simoni..61

    4.2 ANLISE DAS ENTREVISTAS...64

    CAPTULO 5 - CONSIDERAES FINAIS.65 ANEXO 1 - LMPADAS E EQUIPAMENTOS.......................................................67 ANEXO 2 QUESTIONRIO.80

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS..82

  • RESUMO

    A ILUMINAO CNICA COMO ELEMENTO MODIFICADOR DOS ESPETCULOS: SEUS EFEITOS SOBRE OS OBJETOS DE CENA

    BRBARA SUASSUNA BENT VALEIXO MONT SERRAT

    Orientador: Aldo C. M. Gonalves

    Resumo da Dissertao de Mestrado submetida ao Programa de Ps-graduao em

    Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de

    Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre em

    Cincias em Arquitetura. A iluminao um poderoso recurso do espetculo, ela possibilita recortar objetos no

    espao, isolar atores, diminuir e aumentar reas no palco, revelar altura, o perfil, os

    contornos e a profundidade. um recurso que permite ressaltar os elementos essncias em

    cena e eliminar os demais.

    Este trabalho tem como objetivo analisar como a iluminao cnica capaz de

    modificar e valorizar os espetculos, alm de observar os efeitos da luz sobre os objetos de

    cena, buscando a otimizao da criao de luz, dos elementos e equipamentos utilizados.

  • ABSTRACT

    A ILUMINAO CNICA COMO ELEMENTO MODIFICADOR DOS ESPETCULOS: SEUS EFEITOS SOBRE OS OBJETOS DE CENA

    BRBARA SUASSUNA BENT VALEIXO MONT SERRAT

    Counselor: Aldo C. M. Gonalves

    Summary of essay submitted to FAU/UFRJ as part of the requisites necessary to get a

    Master degree in Architecture(M.Sc.)

    The lighting is a powerfull resource of the spectacle, it makes possible cutting objects

    in the space, isolate actors, decrease and increase areas in the stage, reveal hight, the

    outline, the countour and the deepness. Is a resource that allows emphasize the essence

    elements in scene and eliminate the further.

    This work has as objective analyze how scenic illumination is capable of changing and

    valorize the spectacles, besides observate the light effects above the objects of scene,

    looking for the optimize of the creation of light, of the elements and used equipments.

  • INTRODUO

    A luz um elemento capaz de realar as formas arquitetnicas, valorizando obras

    e otimizando as funes. No espao cnico, capaz de modificar um objeto

    esttico e nele criar infinitos efeitos e diferentes atmosferas e, de gerar emoes

    nos espectadores. O objeto de estudo e pesquisa a luz cnica como elemento

    modificador dos espetculos, seus efeitos sobre os objetos de cena e sua

    utilizao nos teatros.

    Este trabalho tem como objetivo principal analisar como a iluminao cnica

    capaz de modificar e valorizar os espetculos, buscando a otimizao da criao

    de luz, dos elementos e equipamentos utilizados.

    O interesse em desenvolver este trabalho surgiu a partir da necessidade de

    aprimorar os conhecimentos na rea em que a autora vem trabalhando, alm de

    contribuir para enriquecer a escassa bibliografia sobre o assunto.

    Atravs deste estudo possvel trazer recomendaes a profissionais da rea

    como: projetistas, diretores teatrais, cengrafos, iluminadores, artistas, entre

    outros interessados e o pblico em geral.

    Utilizando entrevistas feitas com lighting designers conceituados, com o objetivo

    de esclarecer; dvidas e questes atravs de opinies prprias e experincia de

    dcadas de trabalho, alm de exemplos de iluminaes cnicas criadas e

    executadas em diversos espetculos por especialistas da rea.

    Este trabalho apresenta em seu primeiro captulo a iluminao e sua relao com

    os espaos. No primeiro item; a iluminao artificial e sua evoluo, iniciando na

    primeira chama desde a descoberta do fogo h milhares de anos atrs, at a

    criao da lmpada incandescente. descrita tambm a iluminao natural e, sua

    relao com os espaos cnicos, apresentando o Teatro Grego, Romano, Italiano

    1

  • at o Teatro Elisabetano e a utilizao da iluminao cnica natural nos dias de

    hoje.

    A seguir no segundo captulo, a incluso da iluminao cnica artificial nos

    primeiros espetculos, iniciando pela a utilizao das tochas e velas,

    acompanhando a evoluo do espao cnico. Ainda nesse captulo so explicados

    os conceitos da iluminao cnica e, a utilizao desta nos dias de hoje, nas mais

    modernas casas de espetculo.

    O tema desta dissertao, a iluminao cnica como elemento modificador,

    apresentado no terceiro captulo. Os objetos de cena e suas caractersticas sob a

    aplicao da luz, a aplicao de cores gerando a criao de atmosferas e, a

    importncia das sombras no teatro, que so apresentados a partir de imagens e

    de registros fotogrficos de espetculos j montados.

    No quarto captulo entrevistas realizadas com lighting designers conceituados da

    rea da iluminao cnica so apresentadas e, so geradas anlises a partir

    destas. As consideraes finais encerram a pesquisa concluindo esta dissertao.

    Lmpadas, refletores e equipamentos auxiliares utilizados para a criao e

    execuo da iluminao cnica esto apresentados e especificados no Anexo 1 e,

    no Anexo 2 as questes feitas nas entrevistas.

    2

  • CAPTULO 1

    A ILUMINAO E SUA RELAO COM OS ESPAOS

    3

  • 1. A ILUMINAO E SUA RELAO COM OS ESPAOS O homem como um ser predominantemente visual mais fortemente afetado

    pela luz do que por qualquer outra sensao (...) Forma e cor determinam a

    percepo do entorno fsico atravs dos olhos, e nos do uma clara e vvida

    impresso do espao do que os sensos tctil, auditivo e olfativo. Walter KholerF1F

    De acordo com Nelson Solano ViannaF2F, cerca de 70 % da percepo humana

    visual. Ela faz parte de sua vida e de seu dia-a-dia, do seu modo de habitar.

    Desde que nasce, o homem est sendo submetido ao ritmo da natureza, da

    existncia da noite e do dia, elementos que so condies necessrias para que

    ele se sinta pertencente ao prprio tempo.

    A iluminao sempre esteve presente em todos os momentos da histria da

    arquitetura, embora muitas vezes desapercebida por ser considerada algo natural,

    parte da natureza em que vivemos. A luz est presente em qualquer obra da

    arquitetura, em algumas menos e em outras mais, mesmo que no nos

    preocupemos com ela. Desempenha um papel muito importante nos dias de hoje,

    embora nem sempre compreenda-se o seu significado.

    A presena da luz diferenciada nos espaos, atravs de sua distribuio,

    quantidade e intensidade, discretamente sugere as funes dos ambientes

    distintamente iluminados e, ajuda a definir a utilizao destes espaos; de

    descanso, trabalho, diverso e atividades especficas.

    1 Walter Kholer, Lighting in Arquitecture 2 Nelson Solano Vianna, Iluminao e Arquitetura

    4

  • 1.1. A iluminao artificial e sua evoluo Com a necessidade de iluminar o que no podia ser visto desde o momento em

    que o Sol se punha at o momento em que ele nascesse, percebeu-se que era

    preciso criar solues para que o homem pudesse exercer tarefas das mais

    simples s mais especficas, sem depender da chegada do Sol, j que a luz

    natural no tinha acesso a todos os ambientes. Com a inveno e a evoluo das

    fontes de luz artificiais, possibilitou-se a execuo de atividades durante as vinte e

    quatro horas do dia.

    1.1.1 A primeira chama Fazer fogo e utiliz-lo de maneira produtiva foi fundamental para o homem iniciar

    seu caminho rumo civilizao. H evidncias de que o fogo j era utilizado pelo

    homem na Europa e na sia, no perodo paleoltico posterior.

    Os primeiros encontros do homem primitivo com o fogo devem ter ocorrido

    naturalmente ao serem observadas as rvores atingidas por raios e assistindo o

    fogo surgir na superfcie de jazidas de petrleo, ou proveniente das atividades

    vulcnicas. Destes encontros casuais o homem aprendeu quais so as

    propriedades inerentes ao fogo: calor e luz, e a capacidade de alguns materiais

    secos pegarem fogo, como a madeira, por exemplo.

    Figura 1.1 - Chama incandescente

    Fonte: Hwww.4to40.com/images/earth/science/fire/discovery_of_fire.jpg

    5

  • A partir deste momento, o primeiro passo foi dado para que o homem levasse o

    fogo at sua habitao. Por meio de uma tocha com uma haste de madeira e

    alguns gravetos a chama incandescente era levada de seu lugar natural at a

    caverna ou acampamento, onde o fogo poderia ser mantido indefinidamente,

    como uma fonte constante de calor, luz e proteo (fig.1.2).

    Figura 1.2- Homem primitivo utilizando o fogo

    Fonte: Hwww.4to40.com/images/earth/science/fire/discovery_of_fire.jpg

    Nestes primrdios da histria, medida que os homens se espalhavam pelo

    mundo, mudando-se para reas de clima frio, o fogo tornou-se vital para o

    aquecimento e como fonte de luz. Foi igualmente til para cozinhar. Nos primeiros

    lugares onde o homem se estabeleceu, a falta de provas da existncia de fogo

    sugere que estes povos se alimentavam de carne crua. Foi a partir do uso do fogo

    para cozinhar que aumentou o nmero e a variedade de alimentos disponveis

    para os homens primitivos.

    6

  • O fogo teve ainda uma outra utilidade, menos bvia hoje em dia, mas talvez a

    mais importante de todas, quando foi descoberto pela primeira vez. O fogo

    oferecia proteo contra os animais selvagens que atacavam os homens

    primitivos. Uma fogueira ardendo constantemente em um acampamento mantinha

    os predadores afastados. Por isso que a descoberta do fogo permitiu uma maior

    mobilidade. Contando com o fogo como meio de proteo, pequenos grupos de

    homens que anteriormente tinham que viajar em grandes bandos para se

    defenderem podiam se aventurar para lugares mais distantes em busca de

    alimentos ou de moradia.

    1.1.1.1 Acender e transportar o fogo Somente muito tempo depois que o homem verificou as fascas saindo de dois

    galhos que eram esfregados pela ao do vento que surgiu a idia de tentar se

    obter fogo atravs do atrito de dois pedaos de pau. Provavelmente a produo

    do fogo pelo Homo erectus, o ancestral imediato do homem moderno, s

    aconteceu no perodo neoltico, cerca de 7 mil anos AC. O Homo erectus

    descobriu uma forma de produzir as primeiras fascas, atravs do atrito de pedras

    ou pedaos de madeira. Para reproduzir o fenmeno, tentou diferentes tipos de

    pedras, at se decidir pelas melhores, como o slexF3F e as piritasF4F.

    Utenslios foram criados, sendo que, um dos primeiros, foi uma pequena vareta de

    madeira, que era girado rapidamente entre a palma das mos, enquanto era

    pressionado em uma lasca plana de madeira. Mais tarde, as puas de arco e corda

    foram usadas para fazer girar mais rapidamente a vareta, fazendo com que o fogo

    pegasse mais depressa. Somente tempos depois se descobriu que uma fasca

    poderia ser criada esfregando-se piritas de ferro com uma pedra.

    3 Slex uma HrochaH biognica do grupo dos HacaustobilitosH (rochas de origem biolgica no combustveis), formada de carapaas HsilicosasH de organismos marinhos 4 O HmineralH pirita, ou pirita de ferro, o nome comum do HdisulfetoH de Hferro

    7

  • Nas cavernas, aps a descoberta do fogo, tochas passaram a iluminar os homens

    primitivos. Neste tempo pr-histrico, ao descobrir que tambm podia fazer fogo, o

    homem logo compreendeu as vantagens de utilizar a luz, passando a valer-se de

    fachos e archotes. Com o passar do tempo, uma mecha de fibras retorcidas no

    interior de um bambu, e gordura animal em fuso, deu origem primeira vela, que

    haveria de guiar e iluminar o caminho do homem por milhares de anos.

    1.1.1.2 Fogo e a civilizao

    Assim como o controle inicial do fogo foi essencial para o desenvolvimento de

    seres humanos na Idade da Pedra, para os primeiros agricultores do perodo

    Neoltico foi um fator preponderante para o desenvolvimento de toda civilizao

    humana at nossos dias. No decorrer da histria, o homem encontrou formas

    diferentes de utilizar o fogo: luz e calor resultantes da rpida combinao de

    oxignio, ou em alguns casos de cloro gasoso, com outros materiais. Tambm foi

    utilizado para cozinhar, para clarear a terra onde o homem ia plantar, para

    aplicao em recipientes de barro a fim de se fazer cermica e tambm a

    aplicao em pedaos de minrio para se obter cobre e estanho, combinando-os

    em seguida para fazer o bronze (c. 3000 AC), e mais tarde obter o ferro (c. 1000

    AC).

    Nos dias de hoje pode-se dizer, que a evoluo da tecnologia moderna pode ser

    caracterizada por um aumento e um controle cada vez maior sobre a energia. O

    fogo foi a primeira fonte de energia descoberta e conscientemente controlada e

    utilizada pelo homem.

    8

  • 1.1.2. Da vela lmpada incandescente Na Idade da Pedra, a necessidade de produzir uma chama constante que pudesse

    ser mantida acesa por longos perodos fez com que se criassem cuias providas de

    pavio que queimavam com leos vegetais ou animais. A gerao subseqente de

    luz artificial, viria com as velas, inveno dos fencios.

    A mais antiga do que as velas, as tochas eram usadas desde a poca pr-

    histrica. Quanto utilizao das tochas, havia um domnio sobre o tempo de

    durabilidade da chama e luminosidade das mesmas. Conheciam-se os tipos de

    madeira que tinham grande quantidade de resina combustvel, que no se

    consumiam com rapidez. A luminosidade era muito pequena se comparada com

    as lmpadas a leo que sucederam as tochas.

    A iluminao a leo utilizava lmpadas de barro, bronze, chumbo e at de ouro,

    cujas chamas tremeluzentes permitiam uma luminosidade tnue nas casas e

    palcios. Todas as lmpadas eram muito parecidas no seu formato, tinham a

    forma de bacia com bordas onduladas e ressaltos formando os bicos onde ficavam

    as mechas combustveis. Orifcios feitos na "bacia" permitiam a passagem do ar

    para manter a presso e, correntes reunidas num anel serviam para sustentar a

    lmpada no teto ou parede. Usavam-se tambm lmpadas em forma de nfora,

    enfeitadas na parte larga onde saam as mechas. Na Roma Antiga os cristos

    ornamentavam as peas com figuras de peixe ou pombos.

    Na Idade Mdia, o povo utilizava lmpadas a leo e para clarear as moradias e os

    ambientes pblicos, que vieram se juntar s velas de ceras, sebo ou estearinaF5F

    (fig. 1.3). Estes tipos de iluminao duraram at o sculo XVIII. As luminrias a

    querosene, gs e eletricidade, so conquistas dos sculos XIX e XX, na busca da

    luz para a vida do homem.

    5 Estearina - Vela de gordura, retirando-se a glicerina dela diminui o odor e a fumaa.

    9

  • Figura 1.3- Lmpada leo para uso domstico e pblico Fonte: Hwww.stage-lighting-museum.com

    A iluminao artificial tambm vinha sendo utilizada nos espetculos teatrais e,

    estes evoluram desde a utilizao das velas e candelabros, passando pelas

    luminrias a leo (fig.1.4), mas, com a inveno das luminrias a gs, a

    iluminao artificial mostrou-se mais eficiente.

    Figura 1.4 - Lmpada leo para uso domstico e pblico Fonte: Hwww.stage-lighting-museum.com

    10

  • Somente h cerca de dois sculos, no final do sculo XVIII, o fsico Ami ArgandF6F

    conseguiu aumentar o potencial de luz da chama e, em 1784 introduz sua

    lmpada utilizando o gs (fig. 1.5)

    Figura 1.5 - Luminria a gs criada por Argand

    Fonte: Hwww.stage-lighting-museum.com

    No final do sculo XVIII a introduo da lmpada de Argand trouxe melhorias a

    iluminao artificial e, passa a ser um grande diferencial.

    Nas ruas de Londres o gs comea a ser utilizado a partir de 1807 e, Paris em

    1819. Na iluminao domstica, o gs passa a ser utilizado em 1840.

    H pouco mais de um sculo, a idia de chama como fonte de luz foi trocada pelo

    conceito de um corpo incandescente slido. As duas maiores invenes do

    perodo foram lmpada a gs e a lmpada eltrica incandescente em 1879.

    6 Amie Argand, inventor suo, empregou seus conhecimentos cientficos e criou a luminria a gs.

    11

  • Na segunda dcada do sculo XX, passou a ser possvel produzir luz sem

    desperdcio de energia com seu subproduto final, o calor. Nessa poca foram

    criadas as lmpadas de descarga eltrica em vrias formas e em escala

    comercial. Elas vm sendo aperfeioadas at os dias de hoje.

    1.2. A Iluminao natural e sua relao com os espaos cnicos A iluminao cnica natural, inicia-se na luz solar usada desde os gregos at os

    elisabetanos, chegando s diferentes fontes de luz empregadas a partir de

    meados do sc. XVI, quando o teatro recolheu-se pela primeira vez em salas

    fechadas.

    O teatro originou-se nas primeiras sociedades primitivas, em que se acreditava no

    uso de danas imitativas como propiciadores de poderes sobrenaturais, que

    controlavam todos os fatos necessrios sobrevivncia (fertilidade da terra, casa,

    sucesso nas batalhas etc), ainda possuindo tambm carter de exorcizao dos

    maus espritos. Portanto, o teatro em suas origens possua um carter ritualstico.

    Com o desenvolvimento, conhecimento do homem e, conseqente domnio em

    relao aos fenmenos naturais, o teatro vai deixando suas caractersticas

    ritualistas, dando lugar s caractersticas mais educacionais. Em um estgio mais

    desenvolvido, o teatro passou a ser o lugar de representao de lendas

    relacionadas aos deuses e heris.

    Na Grcia antiga, os festivais anuais em honra ao deus Dionsio (Baco, para os

    latinos) compreendiam, entre seus eventos, a representao de tragdias e

    comdias. As primeiras formas dramticas na Grcia surgiram neste contexto,

    12

  • inicialmente com as canes dionisacas (ditirambosF7F). A tragdia, em seu estgio

    seguinte, se realizou com a representao da primeira tragdia, com TspisF8F.

    Todos os papis eram representados por homens, pois no era permitida a

    participao de mulheres. Os escritores participavam, muitas vezes, tanto das

    atuaes como dos ensaios e da idealizao das coreografias. O espao utilizado

    para as encenaes, em Atenas, era apenas um grande crculo. Com o passar do

    tempo, grandes inovaes foram sendo adicionadas ao teatro grego, como a

    profissionalizao, a estrutura dos espaos cnicos (surgimento do palco elevado)

    etc. Os escritores dos textos dramticos cuidavam de praticamente todos os

    estgios das produes.

    Nesse mesmo perodo, os romanos j possuam seu teatro, grandemente

    influenciado pelo teatro grego, do qual tirou todos os modelos. Nomes importantes

    do teatro romano foram PlautoF9F e TerncioF10F. Roma no possuiu um teatro

    permanente at o ano de 55 a.C., mas de acordo com os dados histricos,

    enormes tendas eram erguidas, com capacidade para abrigarem cerca de 40.000

    espectadores. Apesar de ter sido totalmente baseado nos moldes gregos, o teatro

    romano criou suas prprias inovaes, com a pantomima, em que apenas um ator

    representava todos os papis, com a utilizao de mscara para cada

    personagem interpretado, sendo o ator acompanhado por msicos e por coro.

    7 Diritambo era o nome dado ao ritual oferecido ao deus grego Dionsio. Era uma 'dana de saltos' ou dana

    zir nos espetculos

    s anos de 230 a.C. e

    de abandono, acompanhada por movimentos dramticos e dotada de hinos apropriados. 8 Poeta trgico grego. Segundo a tradio ateniense, foi o criador da tragdia a introdu

    dionisacos da primavera de 535 a.J.C. um poema que narra as aventuras de um heri. 9 Plauto-Titus Maccius Plautus, dramaturgo da HRepblica RomanaH, viveu por volta do

    180 a.C., pois suas 21 HpeasH que se preservaram at os dias atuais datam entre os anos de H205 a.C.H e H184

    a.C.H. 10 Terncio-produtor teatral da Roma antiga que em suas peas imitava o teatro grego, escreveu numerosas

    comdias, algumas vezes valendo-se das mesmas fontes gregas a que Plauto recorrera, mas dando a essas

    fontes um tratamento diverso, com fortes contribuies pessoais.

    13

  • No sculo XVII, o teatro italiano experimentou grandes evolues cnicas, muitas

    das quais j o teatro como atualmente estruturado. Muitos mecanismos foram

    adicionados infra-estrutura interna do palco, permitindo a mobilidade de cenrios

    e, portanto, uma maior versatilidade nas representaes.

    Nesta mesma poca no Brasil, o teatro tem sua origem com as representaes de

    catequizao dos ndios. As peas eram escritas com intenes didticas,

    procurando sempre encontrar meios de traduzir a crena crist para a cultura

    indgena. Uma origem do teatro no Brasil deveu-se Companhia de Jesus, ordem

    que se encarregou da expanso da crena pelos pases colonizados. Os autores

    do teatro nesse perodo foram o Padre Jos de AnchietaF11F e o Padre Antnio

    VieiraF12F. As representaes eram realizadas com grande carga dramtica e com

    alguns efeitos cnicos, para a maior efetividade da lio de religiosidade que as

    representaes cnicas procuravam inculcar nas mentes aborgines.

    1.2.1. O teatro grego e o romano: a relao entre os espaos de apresentao e a luz Durante sculos o teatro foi realizado luz do sol, sem necessidade de iluminao

    artificial. O espetculo comeava de manh, e s terminava quando o sol ia

    embora, era como se a luz natural dirigisse todo o espetculo l do alto. Quando

    chegava o final da tarde, essa luz se recolhia e o espetculo cessava. Em pouco

    tempo a luz regressava s vezes plida, nevoenta, translcida, outras vezes clara

    e absoluta, essa luz superior projetava raios em toda as direes e refletia, nas

    superfcies, volumes e cores, assim o palco e a platia podiam se reencontrar e, o

    espetculo poderia continuar. Na Grcia, as apresentaes eram feitas em amplos

    teatros, construdos de forma semicircular e planejados para que no

    apresentassem problemas de acstica ou de visibilidade. As arquibancadas eram 11Jesuta, gramtico e poeta lrico espanhol nascido em La Laguna de Tenerife, Ilhas Canrias, conhecido como o Apstolo do Brasil, de admirvel trabalho de catequizao dos indgenas brasileiros 12 Padre, orador sacro, missionrio, diplomata e escritor portugus nascido na Freguesia da S, em Lisboa, cuja extraordinria obra e religiosidade sempre estiveram ligadas a fatos econmicos e polticos. Filho de um

    14

  • escavadas nas encostas das colinas e tanto o pblico quanto os atores, ficavam

    expostos luz do sol, aos ventos e a brisa do mar. J de manh milhares de

    pessoas tomavam seus lugares nas arquibancadas e ali permaneciam o dia

    inteiro. Por mais que fosse o mesmo espetculo a ser apresentado, eles eram

    nicos, j que a iluminao assim como brilho e sombra dependiam das condies

    atmosfricas; movimento das nuvens e das diferenas de intensidade e

    luminosidade da luz solar (fig.1.6).

    Figura 1.6 - Teatro Grego

    Fonte: Hhttp://liriah.teatro.vilabol.uol.com.br/Gif/epidauro1.gif

    No momento em que o teatro se recolheu dentro de uma casa, foi necessrio

    reinventar a luz para a continuao dos espetculos, no entanto seria muito difcil

    substituir a original. Ao mesmo tempo era o momento para criao e descoberta

    de tcnicas que trouxessem de volta a fantasia e a imaginao e, aos poucos

    substituiu-se a luz natural, em fonte incandescente.

    At hoje, os espetculos realizados em ambientes externos, quando apresentados

    durante o dia, guardam as caractersticas das encenaes primitivas, o que os

    olhos vem o real sem filtros e sem artifcios.

    servidor do governo colonial, de origem modesta e com ascendncia africana, destacado como funcionrio, para trabalhar na Bahia, no Brasil.

    15

  • Figura 1.7 - Teatro atual - Teatro Romano de Orange

    Fonte: www.choragies.asso.fr/gb/historie

    O Teatro Romano em Orange um dos mais bonitos monumentos na Frana e,

    testemunha da Era Romana. Suas arquibancadas garantem uma acstica

    excepcional. Com a queda do Imprio Romano, este teatro deixou de ser usado e

    em 1562 ele se transformou em um espao para refgio da populao. Prximo ao

    ano de 1800 o teatro foi restaurado. (fig. 1.7 a 1.10).

    Figura 1.8 - Teatro Romano de Orange Figura 1.9 - Teatro Romano de Orange

    Fonte: www.choragies.asso.fr/gb/historie Fonte: Hwww.choragies.asso.fr/gb/historie

    16

  • Figura 1.10 - Teatro Romano de Orange - Festival Corais de Orange

    Fonte: Hwww.choragies.asso.fr/gb/historie

    Os corais de Orange acontecem todos os veres desde 1860, o mais antigo

    Festival da Frana.Sua capacidade de 9000 pessoas.

    1.2.2. O Teatro Elisabetano

    Frequentemente, diz-se que o Teatro Elisabetano era a imagem do

    mundo. A plataforma era um bulioso, seu alapo levava ao inferno,

    o interior acortinado do palco expunha as confidncias da vida

    privada, o balco era aquele nvel superior do qual alguns poderiam

    olhar para baixo para que outros olhassem para cima... Peter BrookF13F

    (fonte: Revista Luz e Cena n 71, pg 40)

    A Inglaterra dos fins do sculo XVI era uma sociedade orgulhosa: acabava de se

    converter na grande potncia martima da Europa, derrotando a Invencvel

    Armada espanhola; os marinheiros e os militares britnicos puseram-se a

    conquistar e colonizar o mundo conhecido, e o comrcio e a indstria comearam

    a florescer. A rainha Elizabeth I (1558-1603) encarregou-se de promover esse

    patriotismo entre seus sditos e o teatro foi um bom instrumento para consegui-lo.

    13 Encenador ingls redistribui o conhecimento que extrai da prtica teatral. O trabalho de Brook inclui o compromisso de difundir idias e mtodos teis a outros ncleos de produo teatral.

    17

  • Os autores mais notveis deste perodo so Christopher MarloweF14F, Ben JonsonF15F

    e William ShakespeareF16F, considerado o maior poeta dramtico de todos os

    tempos. Suas peas, tradicionalmente divididas em obras histricas, comdias e

    tragdias fazem no s a crnica de seu pas como tambm descrevem com rara

    compreenso da condio humana as relaes entre indivduos e estes com a

    sociedade.

    Os dramaturgos nos tempos de Shakespeare eram conhecidos como poetas, e os

    atores como jogadores. Shakespeare era uma entre vrias personalidades

    extremamente talentosas do seu cotidiano. Eles transformaram o teatro de

    entretenimento itinerante onde se agrupavam os atores em rudes palcos de

    hospedaria ou feiras em uma atividade completamente profissional em teatros

    construdos em Londres. Os atores foram proibidos atravs de lei de viajar ao

    redor da Inglaterra como artistas sem vnculo; tiveram que formar companhias

    debaixo da proteo de um nobre.

    Os teatros da poca tinham dois tipos bsicos de arquitetura: circular ou poligonal.

    Eram construdos de madeira e sem teto. O palco podia ter at trs nveis para

    que vrias cenas fossem representadas simultaneamente. Ele avanava at o

    meio do edifcio, de modo que o pblico o cercasse por trs lados e teria boa

    visibilidade. Ao fundo, uma cortina modificava o ambiente. Aos espectadores mais

    abastados e aos representantes da nobreza eram destinadas as galerias

    (fig.1.11).

    speare.

    14 Christopher Marlowe (batizado a H26 de fevereiroH de H1564H morto em H30 de maioH de H1593H) foi um HdramaturgoH, poeta e tradutor ingls que viveu no HPerodo ElisabetanoH. Foi o maior renovador formal do teatro do perodo com a introduo dos versos brancos, e uma influncia forte sobre as primeiras obras de ShakespeareH. H15 Benjamin Jonson, dramaturgo ingls mais conhecido como Ben Jonson (HWestminsterH, H11 de JunhoH de H1572H - HLondresH, H6 de AgostoH de H1637H), Comeou a afirmar sua reputao graas verso inicial de Cada homem com seu humor, de H1589H e que foi representada no HGlobe TheatreH pela Companhia de HShake H16 Shakespeare Dramaturgo e poeta ingls (23 de Maio de 1564, 23 de Maio de 1616). Destaca-se entre os mais importantes da histria do teatro. Nasce em Stratford-upon-Avon, onde faz os primeiros estudos. Entre 1590 e 1594 redige a primeira pea, A Comdia dos Erros. Ainda nessa poca escreve 154 sonetos, considerados at hoje os mais belos e mais importantes da lngua inglesa.

    18

  • Figura 1.11 - Planta Baixa Teatro Elisabetano

    Fonte: Luz e Cena - Julho de 2005

    No incio, eram utilizados locais improvisados, como os ptios das hospedarias, ou

    mesmo reas abertas. Depois as companhias teatrais foram-se estabilizando e,

    comearam a ser construdos os primeiros teatros. Os cenrios ficavam no centro

    de uma grande nave circular ou hexagonal. Ao redor dispunham-se os balces e

    as galerias; praticamente no havia decorao (fig.1.12). Os atores eram

    profissionais e no havia atrizes: seus papis eram interpretados por jovens atores

    que assumiam um tom de voz feminino.

    Figura 1.12 Globe Theatre - vista interna

    Fonte: Hwww.parnanet.com.br/sistemas/links

    19

  • Existem traos comuns entre o teatro elisabetano (ou isabelino, como conhecido

    na Espanha) e o Hteatro castelhanoH do Sculo de Ouro: a representao de

    comdias em locais abertos, pblico pertencente s mais diversas classes sociais,

    a combinao de tragdia e comdia na mesma obra, e a utilizao de

    argumentos histricos. Alm disso, tratava-se de um teatro em versos, mas com

    grande liberdade e vivacidade nos dilogos.

    Figura 1.13- Globe Theatre (reproduo)

    Fonte: Luz e Cena - Julho de 2005

    Essa fase se encerra com o fechamento dos teatros por ordem do Parlamento em

    1642.

    20

  • 1.2.3. Sua utilizao nos dias de hoje Considerado o teatro mais antigo da Amrica do Sul (1770), a Casa da pera de

    Vila Rica, sua antiga denominao, foi construda em Ouro Preto, Minas Gerais,

    pelo coronel Joo de Souza Lisboa, dentro da tradio arquitetnica luso-

    brasileira. Utilizado at os dias atuais para apresentao de espetculos,

    localizado, no Largo do Carmo, no lhe d nenhum destaque entre o casario

    vizinho (fig.1.14).

    Figura 1.14 - Fachada

    Fonte: Arquitetura do Brasil III

    Edifcio de fachada singela que remete a austeridade da arquitetura civil da poca.

    Apresenta empena frontal, de vaga inspirao neoclssica, em contraste com

    aberturas em arco abatido, de tradio barroca, e elementos medievais, culo

    quadrilobado e arcaturas acompanhando a cornija da empena. Provavelmente o

    estilo ecltico foi adquirido durante a remodelao interna ocorrida em 1882.

    Seu interior, tambm acanhado, segundo as palavras do viajante francs Saint-

    Hilaire, constitua-se de quatro ordens de camarotes, encerrados por balaustradas

    de madeira recortada. A sala de espetculos, originalmente, era iluminada por

    velas entre os camarotes.

    21

  • Figura 1.15 - Teatro Municipal de Ouro Preto - Vista da platia

    Fonte: Arquitetura do Brasil III

    A boca de cena emoldurada com pedra, vista da platia. A conformao quase

    retangular da sala interfere na boa visibilidade dos camarotes e frisas laterais, em

    direo ao palco (fig. 1.15).

    Figura 1.16 - Facho de luz natural visto do Palco

    Fonte: Arquitetura do Brasil III

    22

  • As colunas de apoio dos pisos inferiores foram substitudas pelas de ferro, de

    seo menor, privilegiando a visibilidade dos camarotes.

    Ao se ver a partir da boca de cena em direo ao fundo da sala de espetculos,

    observa-se ao alto o culo da fachada por onde invade um feixe de luz natural,

    que ilumina a cena, possibilitando espetculos bem iluminados, uma soluo dos

    tempos sem energia eltrica (fig.1.16 e 1.17).

    Figura 1.17 - Vista da galeria superior

    Fonte: Arquitetura do Brasil III

    Ao longo de sua histria, sofreu inmeras reformas, sendo a mais significativa em

    1882, quando a estrutura das quatro ordens de camarotes tambm alterada,

    adquirindo a forma de ferradura e recebendo piso em declive. Todas essas

    modificaes visaram adapt-lo s exigncias de conforto do sculo XIX.

    Foi tombada pelo Patrimnio Histrico Nacional em 1995, porm usando o nome

    Teatro Municipal de Ouro Preto. Contratador dos reais quintosF17F e das entradas,

    17 O rei de Portugal era, por lei, o dono do subsolo, razo pela qual cobrava o "quinto" do metal extrado. Em 1716, depois de experimentar diversas formas de cobrana desse tributo, as Cmaras Municipais de Minas Gerais propuseram substitu-lo por taxas fixas impostas sobre as mercadorias "entradas" na regio de minerao. Apesar da proposta no ter sido aceita pela Coroa, em 1 de outubro de 1718, os postos

    23

  • Souza Lisboa, fascinado pela arte teatral, recebeu desde o incio apoio do Conde

    de Valadares, governador da Capitania, e de seu secretrio, o poeta Cludio

    Manoel Costa.

    Enquanto viveu, Souza Lisboa esteve frente da Casa da pera de Vila Rica,

    contratando atores em Sabar e no Tijuco, relacionando nomes de personalidades

    influentes - intelectuais, militares, polticos - capazes de prestigi-lo em momentos

    decisivos, preocupando-se com a pintura e a decorao do prdio. Inevitvel,

    portanto, que a casa da pera de Vila Rica morresse um pouco com seu criador,

    em 1778.

    Ressurgiu oito anos depois, triunfalmente, nas festas dos desposriosF18F do infante

    D. Joo, com trs noites de pera. A partir da, sob diferentes administradores, a

    Casa da pera viveu perodos de altos e baixos, sem, no entanto, deixar de

    funcionar.

    O teatro quase desaparece em 1885, quando o governo provincial chega a

    planejar a construo de um novo teatro em Vila Rica que como capital merecia, j

    que, segundo alguns engenheiros, este ameaaria desabar.

    Nem o Teatro desabou, nem outro foi construdo. E a reforma, concluda aps sete

    anos, foi executada com perfeio e economia.

    No final do sculo XIX, em todo o pas ocorrem mudanas com a chegada do

    fongrafo e do cinema. Os teatros viram a freqncia reduzida, e o de Ouro Preto

    no fugiu regra. No entanto, aos poucos a convivncia entre o antigo e o novo

    foi-se estruturando, cada qual ocupando o prprio espao.

    arrecadadores denominados "registros" nas estradas que levavam regio mineira. A arrecadao do tributo era, comumente, cedida a um "contratador", que pagava ao fisco, em parcelas, uma quantia fixa, em troca do direito de cobrar o imposto em seu prprio proveito. 18 Desposrios - casamentos

    24

  • 1.3. Reviso histrica da iluminao artificial nos espaos cnicos No sculo XVI, quando o teatro iniciou suas atividades em espaos fechados,

    notou-se que era preciso substituir a luz natural por artifcios que clareassem o

    palco e, que permitissem que os atores e objetos de cena pudessem ser vistos.

    Fez-se necessria a utilizao de fontes de iluminao artificial, a partir da, a

    busca por solues e tcnicas que suprissem as necessidades visuais tanto para

    os artistas quantos para a platia (fig. 1.18 e 1.19).

    Figura 1.18 - Candelabro da poca da Renascena

    Fonte: Hwww.stage-lighting-museum.comH

    Figura 1.19 - Lmpada a leo

    Fonte: www.stage-lighting-museum.com

    25

  • Em muitos destes novos espaos fechados que passaram a abrigar os

    espetculos, existiam janelas permitindo a captao de luz externa em parte do

    dia; durante a noite eram utilizadas velas para garantir a visibilidade, sendo por

    muito tempo a nica fonte de luz do teatro, produzindo no entanto; uma luz

    instvel, oscilante e, difcil de ser controlada. Durante os sc. XVII e XVIII foram

    utilizados candelabros nos teatros, espalhados pelo espao cnico e platia

    (fig.1.20 a 1.24). Chegou-se a experimentar sebo na confeco de velas com o

    objetivo de aumentar o seu tempo de vida, mas, devido ao mau cheiro estas velas

    foram pouco utilizadas. Mais tarde vieram os lampies a leo criados por Argand,

    sua luminosidade era maior que das velas. No entanto a queima de leo trazia

    alguns inconvenientes como a sujeira que produzia nos tetos, paredes, cortinas

    alm do risco de pingar em algum (fig.1.25).

    Figura 1.20 e Figura 1.21 - Candelabro com vrios tipos de velas tornou-se comum no final do sec.XVI

    Fonte: Hwww.stage-lighting-museum.com

    26

  • Figura 1.22 - Luminria utilizada para aplicao de vela - luz de ribalta

    Fonte: Hwww.stage-lighting-museum.com

    Figura 1.23 - Modelo do sculo XVII Teatro Francs abrange candelabros e luz de ribalta

    Fonte: www.stage-lighting-museum.com

    27

  • Figura 1. 24 - Iluminao do Palcio Richelieu Cardeal Richelieu, rei Luis VIII e sua rainha no teatro privado

    do Cardeal em 1641.Iluminao feita atravs de candelabros.

    Fonte: www.stage-lighting-museum.com

    Figura 1.25 - Lighting in Convent Garden Theatre, 1674

    Fonte: Hwww.stage-lighting-museum.com

    28

  • Novos combustveis foram utilizados, como leo de baleia e querosene. Por mais

    que os artesos, tcnicos de luz e os diretores teatrais tentassem resolver as

    condies de visibilidade, as fontes de energia que se dispunha ainda eram muito

    precrias. Sua luminosidade era instvel, difcil de controlar, sem direcionamento,

    bastante diferente e pouco eficiente comparando-se iluminao hoje utilizada

    nas casas de espetculos.

    Algumas idias continuaram surgindo, assim como a utilizao de vidros cncavos

    preenchidos com vinho ou lquidos coloridos e objetos com superfcies refletoras a

    fim de criar novos efeitos (fig. 1.26). A preocupao em reduzir a iluminao da

    platia, com a finalidade de intensificar a luminosidade do palco, trouxe contrastes

    e valorizava o espao cnico conseqentemente, os espetculos.

    Figura 1. 26 - Garrafa de vidro cncava e vela

    Fonte: Hwww.stage-lighting-museum.com

    A utilizao de novas tcnicas como a controle de luminosidade das lmpadas,

    criada por Nicola SabbatiniF19F(fig.1.27), trazem progressos iluminao cnica,

    mas, a iluminao a gs que vem resolver de forma satisfatria a questo da

    visibilidade nos teatros.

    19 Nicola Sabbatini nasceu em 1574, em Pesaro, na Italia. Morreu em 25 de dezembro de 1654. Arquiteto e engenheiro, abriu caminho para novas tcnicas de iluminao teatral.

    29

  • Figura 1.27 - Lmpada leo criada por Sabbatini

    Fonte: Theatre Lighting Before Eletricity

    A nova lmpada trazia mais claridade do que as mais avanadas lmpadas a leo

    da poca. As lmpadas de Argand foram primariamente introduzidas no teatro

    francs em 1784. A partir de 1850 o gs utilizado de forma genrica nos teatros.

    As vantagens conseguidas a partir da utilizao do gs nas luminrias e

    candelabros eram muitas; um candelabro a gs equivalia a 12 velas, a luz

    produzida era mais intensa, mais estvel e o controle desta operao passou a ser

    centralizado (fig. 1.28). Mesmo com todas as vantagens em relao aos sistemas

    de iluminao artificial anteriores, sua utilizao trazia altos custos com

    manuteno e problemas de segurana, havia grande preocupao com incndios

    que eram comuns.

    30

  • Figura 1.28 - Luminria a gs criada por Argand Fonte: Hwww.stage-lighting-museum.com

    Em 1879 criada a lmpada incandescente por Thomas Edison com um filamento

    de carbono. As primeiras instalaes eltricas nos teatros foram feitas atravs da

    luz de ribalta, gambiarras e laterais. Foram muitas as possibilidades de criao a

    partir desta nova descoberta (fig.1.29).

    Figura 1.29 - Lmpada Incandescente

    Fonte: Hwww.stage-lighting-museum.com

    RESUMO

    31

  • CAPTULO 2

    A ILUMINAO CNICA ARTIFICIAL

    32

  • 2. A iluminao cnica artificial Diferente dos demais sistemas sgnicosF1F teatrais, a iluminao um artifcio

    bastante recente. Sua introduo no espetculo teatral, deu-se apenas no sc

    XVII, aperfeioando-se com a descoberta da eletricidade. Uma das principais

    funes da iluminao delimitar o espao cnico. Quando um facho de luz incide

    sobre um determinado ponto do palco, significa que ali que a ao se

    desenrolar naquele momento. Alm de delimitar o lugar da cena, a iluminao se

    encarrega de estabelecer relaes entre o ator e os objetos, o ator e os

    personagens em geral. A iluminao "modela" atravs da luz o rosto, o corpo do

    ator ou um fragmento do cenrio. (fig. 2.1 a 2.7)

    Figura 2.1 - Foto do espetculo Telhado de Vidro - Tanzhaus

    Fonte: Mauro Kury

    1 Relativo a signos; unidade principal constitutiva da linguagem humana, representada pela associao entre um significado e um significante, ou seja, entre um conceito e uma imagem acstica.

    33

  • Figura 2.2 - Foto do espetculo Matulao Trupe do Passo Fonte: Mauro Kury

    Figura 2.3 - Espetculo da Universidade da Califrnia Santa Barbara

    Fonte: Lighting the Stage, Art and Practice

    34

  • Figura 2.4 Foto Espetculo Teatral Figura 2.5 Foto Espetculo de Dana Fonte: www.luxious.com/portifolio Fonte: Hwww.blainekimball.com/images/theater_lighting.jpg

    Figura 2.6 Espetculo de Dana Fonte: www.luxious.com/portifolio

    Figura 2.7 Foto de espetculo Musical

    Fonte: www.luxious.com/portifolio

    35

  • 2.1. A incluso da iluminao cnica nos primeiros espetculos Por dois mil anos, 500 A.C e 1500 D.C., o teatro no necessitou de outra luz que

    no fosse o sol, apenas raras excees como nas Igrejas na Idade Mdia, Europa

    no sculo IX, onde se fazia teatro na prpria Igreja.

    vela, inveno dos fencios, foi durante muito tempo nica iluminao que os

    teatros possuam.

    No havia necessidade de iluminao artificial para o teatro, pois a arte cnica

    acontecia durante o dia e era desenvolvida em locais abertos. Entretanto quando o

    espetculo se prolongava, era preciso recorrer ao fogo para ilumin-lo no meio

    para o final, atravs de tochas ou fogueiras. Os espetculos feitos nas Igrejas

    eram iluminados com velas ou criosF2F.

    Representaes como comdias satricas, apresentaes circenses, que eram

    executadas em tavernas e castelos, eram iluminadas com tochas e archotes. No

    inverno em que os dias eram menores, a iluminao artificial tambm era usada

    no final dos espetculos; tocha amarrada gaiola de ferro que segurava o material

    flamejante.

    Os dramas litrgicos desenvolviam-se nas igrejas e a iluminao era favorecida

    pelos vitrais. Dramas Medievais feitos ao ar livre, performances em locais

    fechados faziam uso da lmpada a leo, tochas e vela.

    A iluminao do palco ao longo de todo caminho desde a toda flamejante do teatro

    elisabetano at a lmpada de leo italiana, comeou na renascena com

    equipamento de fazer aluso ao grego.

    2 Crios, velas compridas. Antigamente feitas de sebo de boi.

    36

  • A produo do teatro renascentista ficava na mo do arquiteto do teatro,

    responsvel pelo cenrio e iluminao e, algumas idias importantes como: o

    humor especfico como uma tragdia, iluminao indireta com a utilizao de

    espelhos, escurecimento do auditrio, passo muito importante.

    Lmpadas a leo foram largamente usadas para iluminao domstica e pblica,

    incluindo o teatro da idade mdia at o fim do sculo XVIII. O pavio quando imerso

    em pequena quantidade de leo, produzia no s luz mas tambm fumaa e um

    cheiro desagradvel. leos vegetais de alta qualidade, como leo de oliva,

    produziam mais luz com menos fumaa, assim como melhor odor.

    A lmpada a gs, que foi introduzida em 1784 pelo inventor suo Argand, foi um

    grande progresso comparado s tradicionais lmpadas a leo de chama aberta.

    Argand empregou conhecimento cientfico no papel do recentemente descoberto

    oxignio em combusto. As lmpadas de Argand foram primariamente

    introduzidas no teatro francs.

    Nos teatros, o gs empregado de forma generalizada a partir de 1850. A

    primeira adaptao bem sucedida em 1803 no Lyceum Theatre de Londres (fig.

    2.8 e 2.9), foi realizada por um alemo chamado Frederick WinsorF3F.

    Em 1876, pela primeira vez, durante a representao de suas peras em

    BayreuthF4F, Richard WagnerF5F, mergulha a sala no escuro. Essa medida pouco a

    pouco adotada na Inglaterra, na Frana e no restante dos teatros europeus. Com

    um destaque maior ao espetculo e diminuiu-se a luz na platia, com isso o

    espectador perdeu a conscincia da realidade e entrou em estado parcial de

    hipnotismo.

    3 Frederick Winsor, R.L. 1888, Fundador da Middlesex School , professor de teatro. 4 Bayreuth cidade situada na Alemanha 5 Wilhelm Richard Wagner (22 de maio de 1813 - Leipzig, 13 de fevereiro de 1833 - Veneza) compositor clssico alemo.

    37

  • Figura 2.8 - Lyceum Theatre de Londres Vista Palco Fonte: Hwww.unlikelymoose.com

    Figura 2.9- Lyceum Theatre de Londres - Vista Platia

    Fonte: Hwww.unlikelymoose.com

    38

  • No sculo XIX as inovaes cnicas e infra-estruturais do teatro tiveram

    prosseguimento. O teatro de Booth de Nova York (fig. 2.10) j utilizava os recursos

    do elevador hidrulico. Os recursos de iluminao tambm passaram por muitas

    inovaes e experimentaes, com o advento da luz a gs.

    Figura 2.10 - Teatro de Booth NY

    Fonte: Hwww.ckbphoto.net/family/washingtondc/crw_2756.htm

    Em 1879 quando Edson fabrica a primeira lmpada de incandescncia com

    filamento de carbono, permite a generalizao do uso da eletricidade nos teatros.

    At o final do sc XIX a luz eltrica j havia se tornado comum nos grandes

    teatros. As primeiras instalaes eltricas em palco italiano utilizavam luzes de

    ribalta, gambiarras e laterais. Em 1881, o Savoy Theatre (fig.2.11) de Londres foi o

    primeiro a utilizar iluminao eltrica.

    A Iluminao eltrica passa a ser um dos principais instrumentos de estruturao

    e animao do espao cnico. A luz eltrica fez com que toda a estrutura teatral

    mudasse radicalmente.

    As primeiras mesas de controle apareceram em Londres e no Boston Theatre nos

    EUA.

    39

  • Figura 2.11 - Savoy Teatre

    Fonte: Hwww.hotelsoftheworld.com

    2.1.1. A importncia da iluminao cnica artificial no teatro Somente nos ltimos quatro ou cinco sculos que o teatro tem geralmente sido

    realizado em ambiente fechado e, a luz tem sido usada para iluminar o palco e os

    atores. Velas, tochas, lmpadas a leo e a gs, cada uma por sua vez, contribuiu

    com meios de produzir esta luz e, permitiu algum grau de efeito. A eletricidade

    chegou, e com ela novas idias.

    Sem a iluminao nada pode ser visto; o primeiro dos estmulos da mente

    humana e, o homem sensvel a todas as suas nuances.

    Por sculos, so escritas nos espetculos a luz que o homem tem conhecido em

    suas vidas; agora esta luz pode ser manipulada no palco. Seu efeito visual e

    emocional pode ser usado para acompanhar e influenciar a atuao, como a

    evoluo da tcnica mostra, sem limite.

    40

  • 2.2. A iluminao cnica artificial nos dias de hoje HISTRIA DA ILUMINAO - A luz eltrica veio proporcionar melhores condies para visibilidade e abrir novos

    caminhos no s para a iluminao como para o teatro em geral. Ela provocou

    mudanas no conceito de cenografia, figurinos, alterando completamente o

    aspecto visual do espetculo.

    Com o objetivo de otimizar ainda mais a iluminao cnica, novos aparelhos

    dotados de lentes e lmpadas especiais foram surgindo, em conseqncia disto

    muitas vantagens como; a focagem, lentes de abertura do foco, direcionamento

    preciso, regulagem de posio fixa ou mvel e em todas as direes que facilitava

    cobrir o objeto de cena e artistas de qualquer ngulo e suporte para filtros

    coloridos.

    2.2.1.Seus Elementos

    Hoje em dia so utilizados vrios equipamentos como o spotlight, que permitiu

    isolar e precisar as zonas de ao, ps o artista em evidncia, detalhou cenrios e

    objetos e, iluminando as cenas de vrios ngulos valorizou as trs dimenses.

    Em sua maior parte, as lmpadas usadas so as lmpadas incandescentes

    halgenas de alta potncia que so utilizadas nos refletores para lmpadas par,

    palito, lmpadas de descarga..

    Hoje so muito utilizados os projetores plano-convexos para fachos difusos assim

    como o Projetor FresnelF6F. Em longas distncias surgiram os canhes seguidores

    formados por lmpadas de descarga ou halgenas. Permitindo a reproduo de

    formas geomtricas e efeitos, os projetores elipsoidais esto entre os mais

    especificados pelos criadores de iluminao cnica nos espetculos.

    6 Refletor com um tipo de lente dotada de sulcos prismticos concntricos, dele se obtem uma luz muito constante, seus fachos se misturam sem deixar marcas ou contornos acentuados.

    41

  • Outros refletores bastante usados so as carcaas usadas com lmpadas Par (fig.

    2.12), a utilizao de cores tornou-se cada vez mais presente nos espetculos e,

    estes refletores permitem a utilizao de gelatinas coloridas de forma bastante

    satisfatria.

    Figura 2.12 - Refletor para lmpada Par 64

    Fonte: www.iar.unicamp.br/lab/luz/equipamentos/par.htm

    Paralelo a todo este avano para atingirmos as condies de visibilidade em

    teatros fechados, foram surgindo mesas de controle.

    A iluminao cnica tem expresso prpria. A inteno dotar o conjunto da

    maior possibilidade de uso, considerando um rigor tcnico nas angulaes e uma

    disponibilidade de equipamentos, recursos tcnicos e recursos operacionais. A

    excelncia do material instalado fica ao dispor do processo criativo que ser,

    ento, o agente estimulador da resposta emocional do espectador.

    No Anexo 1 sero apresentados mais detalhes dos equipamentos; os elementos

    responsveis pela a criao e execuo da Iluminao cnica: lmpadas,

    refletores, mesas, dimmers e equipamentos auxiliares que sero comentados e

    suas funes descritas.

    42

  • CAPTULO 3

    A ILUMINAO CNICA COMO ELEMENTO MODIFICADOR

    43

  • 3. A Iluminao Cnica como Elemento Modificador A luz tem a capacidade de mudar a aparncia das coisas. Uma paisagem vista

    num dia ensolarado pode parecer brilhante, cheia de contrastes fortes e

    tonalidades diferentes, no entanto esta mesma paisagem vista em um dia nublado

    apresenta caractersticas completamente diferentes. O mesmo acontece com a

    iluminao artificial em ambientes internos, onde lmpadas utilizadas apresentam

    ndice de reproduo de cor e temperaturas diferentes, assim como a posio de

    luminrias e quantidade de luz aplicada no palco, podendo torn-lo quente, frio,

    aconchegante ou impessoal.

    Alm de modificar a aparncia fsica dos objetos e dos ambientes que ilumina, a

    luz tem tambm o poder de agir sobre as pessoas, alterando seu estado de

    esprito, seu humor, atravs das impresses psicolgicas que causa.

    As pessoas, os objetos e principalmente os lugares so vistos de modo diferente,

    dependendo do tipo de luz que recebem (fig. 3.1 a 3.7). Se na vida real

    observamos esse duplo papel da luz, agindo sobre a aparncia fsica dos

    elementos por ela iluminados e, causando as mais variadas reaes psicolgicas

    nas pessoas, no teatro, a importncia da luz ainda maior.

    Figura 3.1 Foto Palco Iluminado - Luz diferenciada

    Fonte: Hhttp://www.altmanlighting.com/

    44

  • Figura 3.2 Foto Palco Iluminado - Luz diferenciada

    Fonte: Hhttp://www.altmanlighting.com/

    Figura 3.3 - Foto Palco Iluminado - Luz diferenciada

    Fonte: Hhttp://www.altmanlighting.com/

    Figura 3.4 Foto Palco Iluminado - Luz diferenciada

    Fonte: Hhttp://www.altmanlighting.com/

    45

  • Figura 3.5 - Foto Palco Iluminado - Luz diferenciada Fonte: Hhttp://www.altmanlighting.com/

    Figura 3.6 - Foto Palco Iluminado - Luz diferenciada Fonte: Hhttp://www.altmanlighting.com/

    Figura 3.7 - Foto Palco Iluminado - Luz diferenciada

    Fonte: Hhttp://www.altmanlighting.com/

    46

  • A iluminao cnica planejada com a finalidade de causar envolvimento e

    provocar impresso psicolgica aos espectadores. A comear pelo tipo de

    lmpada empregada. Um espetculo a luz de velas causa uma impresso

    completamente diferente de espetculo iluminado com lmpadas halgenas, em

    conseqncia do tipo de luz emitida. A mesma cena vista ento sob claridades

    diferentes despertando as mais diversas reaes.

    Quando se ilumina um objeto com uma luz incidente, mas que no ilumina por

    igual todos os lados do seu corpo, estabelece-se diferenas entre os lados mais

    iluminados e os que recebem menos quantidade de luz, essa diferena denomina-

    se contraste de iluminao. Atravs deste contraste modificam-se os objetos

    iluminados, d-se a estes formas aparentemente diferentes e possibilitando

    tambm a criao de cenas diferenciadas. Iluminando o mesmo objeto esttico de

    diferentes ngulos e de forma seqenciada, pode-se dar a este a aparncia de

    estar em movimento. Lembrando ainda da utilizao de cores, que auxiliam a

    iluminao cnica e criam diversas atmosferas, cenas iluminadas com cores

    diferentes, podem retratar aparentemente situaes trmicas distintas (fig. 3.8 e

    3.9).

    Figura 3.8 - Cena de espetculo iluminada The Poor Sailor

    Fonte: Lighting the Stage, Art and Practice

    47

  • Figura 3.9. - Cena do espetculo se Ana Vitria Companhia de Dana

    Fonte: Mauro Kury

    3.1. Objetos de Cena e Suas Caractersticas

    A luz reinventa o objeto, como ele estivesse sendo visto pela primeira vez. Revela

    sua configurao, materialidade, textura; reala os contornos, as dobras, as,

    curvas, as ondulaes, o arredondamento, largura, espessura, profundidade, cor,

    peso, brilho e transparncia. O espectador, mesmo sem sair do lugar, pode ter

    uma impresso visual completa dos objetos, como se os estivesse vendo sob

    todos os ngulos. Uma simples mesa, sem a menor importncia perceptiva, pode

    transformar-se num objeto interessante e admirvel.

    A luz possui uma participao fundamental na visualidade dos elementos cnicos,

    porm se o artista da luz no levar em considerao os demais elementos

    expressivos que compe esse todo, corre risco de desarmonizar o encontro

    esttico entre eles.

    48

  • A cenografia, os objetos, os atores, os figurinos, o palco, na sua tonalidade visual,

    possuem uma claridade local inerente a ele prprio. Uma luz ambiente,

    aparentemente uniforme, revela que alguns objetos so mais claros e outros mais

    escuros, tornando evidente as caractersticas destes objetos (fig. 3.10 e 3.11).

    Figura 3.10 - Intrpida Trupe Figura 3.11 Foto - Espetculo de Dana Fonte: Mauro Kury Fonte: Hwww.blainekimball.com/images/theater_lighting.jpg

    A iluminao rege os elementos visuais do palco, determinando a importncia de

    cada um destes e revelando sua plasticidade. A cenografia, os figurinos e os

    objetos de cena e principalmente os atores com seus gestos e expresses que

    adquirem destaque e importncia ao receberem luz.

    3.2. Aplicao de Cores A cor faz parte da simbologia e do imaginrio do ser humano, mas, sem luz

    impossvel compreend-la, no escuro as cores no podem ser observadas. A

    qualidade e a quantidade da luz utilizada, responsvel por projetar uma

    determinada luz colorida, influi diretamente no reconhecimento e resultado da cor

    sobre os objetos.

    A utilizao das cores na iluminao cnica, alm de mostrar diferena nos

    objetos iluminados, traz tambm diferentes emoes. A aplicao de outras cores

    49

  • s mesmas cenas apresentadas, aos olhos de seus espectadores, capaz de

    trazer sensaes de diferentes temperaturas (fig. 3.12).

    O estudo das cores extremamente importante na composio plstica dos

    espetculos, a luz influncia o restante dos elementos cnicos, alterando sua

    composio.

    Figura 3.12- Esfera branca exposta a cores quentes e frias; Lavander 57, Fire 19 e Mdium mbar 20 Fonte:http://www.iar.unicamp.br/lab/luz/misturabranca

    Para obter o resultado da luz colorida como na figura acima, podem ser

    utilizadas lmpadas que apresentam seu bulbo j colorido, filtros de vidro, cristal e

    material plstico de diferentes cores, mas, na iluminao cnica principalmente em

    ambientes fechados, so utilizadas folhas de gelatinasF1F, que apresentam uma

    infinidade de cores e que podem ser aplicadas a muitos modelos de refletores e

    projetores, apresentando resultados eficientes e diferenciados.

    Hamilton Saraiva, em tese, comenta:

    As cores na iluminao, interferem na leitura emocional de cenas apresentadas.

    As cores podem criar uma linguagem prpria e, ainda, ajudar ou prejudicar o

    resultado final de uma cena ou pea teatral, consoante o uso apropriado ou

    imprprio dos matizes, com relao ao sentimento almejado, pelo criador, por

    parte da platia.

    1 Folha de material transparente, geralmente de poliester ou policarbonato, posicionada em frente aos refletores para colorir ou filtrar luzes. Encontram-se disponveis no mercado gelatinas de inmeras cores, em diversos tons. Fundamental quando se deseja utilizar cor para desenhar a cenografia.

    50

  • Hamilton SaraivaF2F, em sua obra cita:

    Quando Leone de Sommi, em 1565 ou 1566 em seu livro

    Quatro Dialoghi in Materia di Representazioni Sceniche,

    sugere que estaria melhor a comdia com a iluminao

    colorida e o drama com a luz branca, j havia uma relao

    entre a cor e os gneros dramticos pretendidos. Estas

    relaes primrias entre as cores da natureza e o nosso

    sistema sensorial so alguns princpios que nos interessam

    para um estudo com as cores nas luzes. Ricardo KosovskiF3F

    3.2.1. Criao de atmosferas As pessoas, os objetos e principalmente os lugares so vistos de modo diferente

    dependendo do tipo de luz que recebem, no caso deste estudo; os espetculos

    teatrais e seus objetos de cena (fig. 3.13).

    Figura 3.13 Espetculo da Lumini Cia de Dana

    Fonte: Hwww.lumini.art.br/galeria.htm

    2 Hamilton Figueredo Saraiva, Interaes Fsicas e Psquicas geradas pelas cores na iluminao teatral . Tese de Doutorado, Escola de Com. e Artes, 1999 So Paulo. 3 Teatro e Comunicao: Aspectos de cena, 1995, UFRJ

    51

  • Em muitos casos selecionamos ambientes que iremos freqentar de acordo com a

    iluminao deste, s vezes sem percebermos. Uma iluminao aconchegante

    torna um ambiente mais agradvel. Os estudos de iluminao ambiental mostram

    a importncia e o poder da luz na diviso dos espaos, na criao de

    compartimentos, na sugesto de profundidade, altura, extenso, no destaque dos

    objetos, no contraste de tons, na valorizao dos detalhes, texturas, volume,

    transparncia e brilho (fig. 3.14).

    Figura 3.14- Intrpida Trupe - Sonhos de Einstein

    Fonte: vemninois.blogger.com.br/

    A noo de proximidade e distncia tambm est relacionada com a luz. Focos

    fechados so concentradores e aproximativos; cores frias e tonalidades escuras

    atuam como distanciadores; luz frontal produz achatamento; luz vertical d sombra

    no rosto; luz balanceada produz naturalidade; enfim, a luz tem a capacidade de

    mudar as aparncias. Se sem ela no h espetculo, podemos dizer que com ela,

    o espetculo muda muito, condicionando os olhos a enxergarem apenas aquilo

    que est sendo iluminado e de maneira como est sendo iluminado.

    52

  • 3.3. A importncia da sombra na iluminao As sombras trazem profundidade aos objetos iluminados e textura, dependendo

    da iluminao elas podem ter cor.

    No momento em que os iluminadores fazem seu trabalho de iluminao, eles so

    responsveis por resultados opostos luzes e sombras. Ao escolher as reas que

    devem iluminar, devem preocupar-se tambm com as reas que no querem que

    sejam iluminadas. Ento, escolhido o tipo de luz, deve-se escolher tambm o tipo

    de sombra que ser criada, pois ao se projetar luz a um objeto, se produzir um

    outro efeito que deve ser bastante observado; a sombra (fig. 3.15).

    Figura 3.15 Foto de Espetculo Musical

    Fonte: www.luxious.com/portifolio

    Quando a luz, encontra obstculos na superfcie, criam-se locais com queda de

    luminncia que so percebidos pela nossa retina; as sombras, sem elas no

    perceberamos o volume dos objetos. Existem tipos de sombras diferentes.

    Leonardo da Vinci j no sculo XVI, havia diferenciado os trs tipos de sombra,

    que o americano Michael BaxandallF4F classificou como: sombra projetada, auto-

    4 Michael Baxandall - Professor de arte renascentista italiana, nasceu em 1933 na cidade de Cardiff, Inglaterra.

    53

  • sombra, e sombreamento. Todos os objetos ganham volume ao combinar em

    graus diferentes essas formas de sombras.

    A sombra projetada causada por um obstculo entre uma superfcie e uma fonte

    de luz. Por exemplo, quando se afina um foco em determinado ator, tem-se a

    sombra dele no palco. Aqui, o ator seria o obstculo que causaria a sombra no

    piso do palco (fig. 3.16 a 3.19).

    Figura 3.16 Luz de Frente Figura 3.17 Luz a Pino

    Fonte: Arquivo pessoal da autora Fonte: Arquivo pessoal da autora

    Figura 3.18 Luz de cho Figura 3.19 Luz Chapada

    Fonte: Arquivo pessoal da autora Fonte: Arquivo pessoal da autora

    54

  • A auto-sombra aquela de uma superfcie que fica fora do alcance do facho de

    luz. Em um contra-luz (fig. 3.20), iluminao posicionada por detrs do objeto a ser

    iluminado, o rosto do ator est em situao de auto-sombra. A sombra projetada

    mais escura que a auto-sombra, pois, a contraluz haver sempre um pouco de

    reflexo da luz rebatida do cho, no rosto do ator. J o sombreamento se d pelo

    ngulo que a luz forma com a superfcie a ser iluminada.

    Figura 3.20 Contra-luz

    Fonte: Arquivo pessoal da autora

    3.3.1. O teatro de sombras

    Esta uma tcnica utilizada com as sombras projetadas por algum foco de luz

    atravs de uma cortina. Nos palcos a "sombra chinesa" a utilizao desse efeito

    como linguagem plstica e de cena.

    Efeitos de sombras "chinesas" devem ser bem estudados para que o resultado

    final seja satisfatrio, tanto plasticamente quanto em termos de linguagem cnica.

    Alguns conhecimentos bsicos de comportamento da luz e de materiais so

    necessrios para a realizao desse efeito.

    55

  • Figura 3.21 - Viso interna da sombra projetada Figura 3.22 - Viso externa da sombra projetada Fonte:Hwww.iar.unicamp.br/lab/luz/dicasemail/dica17H Fonte:

    Hwww.iar.unicamp.br/lab/luz/dicasemail/dica17

    pacidade e textura determinaro comportamentos diferentes da luz no anteparo.

    uzes diferentes os lighting designers podem obter efeitos

    atisfatrios no palco.

    Alguns materiais permitem a passagem de determinadas partes da luz incidente

    sobre eles, tais como tecidos, plsticos, vidros leitosos, filtros de difuso etc. So

    esses materiais os mais utilizados nesse efeito exatamente porque seus graus de

    o

    Quando se emite um foco de luz frontalmente a esses materiais, seus versos

    apresentaro as sombras dos objetos dispostos entre eles e a luz. Conhecendo e

    testando materiais e l

    s

    Figura 3.23 -Viso int. sombra proj. sobre projeo Figura 3.24-Viso ext. sombra proj. sobre projeo Fonte:Hwww.iar.unicamp.br/lab/luz/dicasemail/dica17H Fonte:

    56

  • Hwww.iar.unicamp.br/lab/luz/dicasemail/dica17H

    A quantidade, direo e ngulo de iluminao, determinaro as sombras criadas.

    Pode-se observar que a dimenso da sombra criada inversamente proporcional

    distncia entre a fonte de luz e o anteparo material, assim como dos objetos

    s dependero das distncias entre essas

    utilizados.

    importante saber que a quantidade de sombras de um objeto projetada no

    anteparo depender exclusivamente da quantidade de fontes luminosas e as

    distncias e dimenses entre as sombra

    fontes.

    Figura 3.25 -Viso int. sombra proj. 02 focos Figura 3.26 -Viso ext. sombra proj. 02 focos

    onte:Hwww.iar.unicamp.br/lab/luz/dicasemail/dica17H Fonte:

    ww.iar.unicamp.br/lab/luz/dicasemail/dica17H

    F

    Hw

    57

  • CAPTULO 4

    ANLISES E OBSERVAES

    58

  • 4 . ANLISES E OBSERVAES No contedo deste captulo, entrevistas feitas com lighting designers atuantes em nosso

    pas, sero apresentadas com o objetivo de esclarecer; dvidas e questes atravs da

    tcnica, opinies prprias e experincia de dcadas de trabalho, alm de exemplos de

    iluminaes cnicas criadas e executadas em espetculos. Aps a anlise destas

    entrevistas, observaes so feitas.

    4.1. Entrevistas A seguir, ser apresentado um resumo do contedo das entrevistas feitas com os lighting

    designers Jorginho de Carvalho e Aurlio di Simoni.

    4.1.1. Entrevista com Jorginho de Carvalho Esta primeira entrevista foi feita com Jorginho de Carvalho, lighting designer, um dos

    conceituados em nosso pas. Em quarenta e cinco anos trabalhando na rea de iluminao

    cnica, ele criou e iluminou centenas de espetculos. Conhecido principalmente por seus

    trabalhos na rea teatral, recebeu vrios prmios por suas criaes, entre eles o Prmio

    Molire de Teatro.

    O passo inicial em uma nova produo, no caso; criao de luz, saber o tema do

    espetculo que ser iluminado e, o local em que ele ser realizado. Quando o espao em

    que se ir trabalhar conhecido, torna-se mais fcil produo, em relao ao material que

    se tem disponvel para a montagem de luz e, o que ir precisar.

    Por mais equipado que seja um espao para apresentao em nosso pas, ele nunca est

    completamente preparado para receber certas produes. Por isso antes de se comear um

    novo projeto, importante conhecer o local em que ser apresentado o espetculo.

    Conhece-se o teatro, o tipo de mesa, as especificaes; os suportes, as varas de luz, varas

    eltricas, varas de frente, varas de fundo e contraluz, observa-se tudo para formar-se a

    produo de luz. A partir do conhecimento local, verifica-se ento a necessidade ou no de

    mais equipamentos, inclusive a quantidade da mo-de-obra e sua especializao.

    A experincia nesta rea como; o conhecimento dos profissionais do mercado e, as

    empresas especializadas em locao do equipamento de luz, facilitam agilizando no 59

  • momento da produo. O custo financeiro para um novo trabalho deve ser calculado

    levando-se em considerao a quantidade e a necessidade de tcnicos, montadores e

    assistentes, acrescido do material que ser utilizado.

    O destaque que ser feito pela iluminao cnica, depende de cada espetculo, no existem

    regras. O texto narrado e encenado pelos atores e, a atmosfera que deve ser criada para

    cada cena, induz ao que deve ser destacado pela luz.

    A Iluminao est para um espetculo, na mesma proporo que a cenografia est para a

    indumentria (figurinos); a direo est para o texto e a atuao do elenco, e se for o caso, a

    msica, quando houver. Ou seja, o "Fazer Teatral" uma ao coletiva que quando resulta

    em um espetculo, este proporcionado pela ao harmnica da individualidade de vrias

    reas de criao, sob a gide de uma Direo (o diretor do espetculo).

    Ento, a Iluminao deve valorizar a esttica do espetculo, sublinhando o fator psicolgico

    do texto, podendo tambm dinamizar aes de representao do elenco ou criar variaes

    na configurao cenogrfica, sempre em cumplicidade irrestrita com a viso da direo e da

    cenografia, sem esquecer da parceria que deve ter com os tons dos Figurinos. A partir desta

    compreenso, deve se aproveitar da licena potica que a luz possibilita e sempre que

    possvel provocar sensaes intrigantes que valorizem a encenao.

    Com relao cor costuma-se deixar que as matizes surjam de forma natural, pois

    normalmente no incio da criao de uma luz deve-se pensar sempre na luz branca para

    liberar a percepo do que os olhos esto vendo e ento as cores surgem naturalmente.

    Por outro lado entende-se que luz cor e que "Cor Luz" totalmente distinta da "Cor

    Pigmento". Este um assunto complexo, pois preciso levar em conta que a "Cor Luz" vai

    iluminar variados tons de figurinos em espaos distintos de uma cenografia em diversas

    cenas de um espetculo, e a cor pigmento tem uma tela fixa que se iniciar uma forma a ser

    desenhada.

    Em oficinas de Iluminao ministradas pelo entrevistado, costuma-se deixar claro para os

    participantes que as cores principais de uma iluminao teatral so azul e a amarela, pois a

    cor azul remete ao cu (Infinito) e, que guarda grandes distncias, proporcionando a

    profundidade de objetos (cenrios) em espaos cnicos e a cor amarela remete ao sol

    60

  • (regies ensolaradas) que propicia a maior descontrao nas pessoas, proporcionando a

    aproximao de objetos (cenrios) iluminados em espaos cnicos.

    A chegada do moving light foi uma novidade, parecida com a chegada da mesa digital, do

    raio laser, da mesa computadorizada. O moving foi variante, ele surgiu com espelhos que se

    moviam, depois com um sistema de palhetas de cor. Refletores que mexiam s a cabea e,

    posteriormente surgiram os que mexem o corpo todo. Hoje em dia as produes que

    possuem os moving light espelhados j esto desatualizadas, o mesmo que possuir uma

    mesa de luz que no digital.

    Novos equipamentos como o moving ou catalyst, essa nova tecnologia, so utilizados

    normalmente por novos operadores, mas, importante no se deslumbrar sem saber o

    conceito da iluminao. Ainda existem efeitos utilizados por refletores antigos. O teatro

    uma arte coletiva por isso deve ser criada uma luz em cima de todo o conjunto que ser

    apresentado e, muitas vezes a tecnologia no est ligada coletividade. A iluminao

    cnica utilizada em um show, diferente da criada para um espetculo de teatro. As

    preocupaes so diferentes, este no um meio to coletivo quanto o teatro, o artista deve

    passar a emoo atravs de sua msica e, o teatro vem por inteiro.

    4.1.2. Entrevista com Aurlio di Simoni

    Aurlio di Simoni em 28 anos de carreira, j realizou mais de 800 trabalhos nas reas de

    teatro, dana, shows entre outros projetos. Conceituado lighting designer recebeu prmios

    como; Prmio Shell de Teatro, Mambembe.

    A participao do light designer deve acontecer na primeira reunio da equipe de criao,

    sua presena desde este primeiro momento facilita e otimiza o processo de criao.

    Um dos requisitos para aceitar um novo projeto uma remunerao profissional. J que em

    nosso pas no existe tabela para essa atividade, o valor cobrado para a criao o que se

    acha justo, como em vrios seguimentos artsticos. Ao espetculo adulto, o custo pela

    criao diferente do cobrado para o infantil, j que o retorno de bilheteria normalmente

    maior. Quando a produo se prope a custear o valor estabelecido, a proposta quase

    sempre aceita. Em algumas produes, em que os recursos financeiros so menores que o

    custo de montagem do espetculo, provavelmente o valor acertado pela criao de luz ser

    menor que o solicitado pelo light designer. Esta proposta ento s passa a ser aceita quando 61

  • h interesse do iluminador. Para isso deve-se levar em considerao o texto, a qualidade da

    ficha tcnica e a proposta do trabalho. No se deve qualificar um trabalho artstico por bom

    ou ruim, e sim quando ele no atende os requisitos de como o teatro deve ser feito. Deve-se

    considerar que o Teatro uma arte coletiva por excelncia e no um exerccio de

    individualidade.

    O prximo passo ler o texto para saber como se deve caminhar a iluminao, j que

    muitos textos so montados de uma forma chamada de vanguarda e ao decorrer do

    espetculo adquirem uma forma clssica. Os prximos passos para uma criao harmoniosa

    so; ver os ensaios, conversar com a equipe de criao, manter o diretor como maestro da

    orquestra e contribuir com a sua sensibilidade, e criatividade para o espetculo.

    Iluminar nada mais que mostrar o trabalho de outros profissionais. No diminuindo o

    trabalho do iluminador j que para iluminar ele tem que entender de figurino, cenografia,

    msica, direo, trabalho de ator, coreografia, pois se seu trabalho no tiver um alcance

    deste entendimento, pode atrapalhar a leitura do espetculo. Para mostrarmos o projeto de

    um profissional, precisamos saber que trabalho esse. Essa a grande virtude do

    iluminador de espetculos, ele deve saber ler e com a tcnica, a sensibilidade e a

    criatividade, deve trazer a plasticidade da proposta, para a razo do teatro que a platia,

    que esta vendo e ouvindo o espetculo.

    A iluminao cnica to importante quanto a cenografia, figurino, adereos, msica,

    coreografia, a luz no deve interferir na leitura do que proposto, ela deve pulsar junto com

    o que ser apresentado. Quando a platia percebe mais a luz criada do que o trabalho dos

    outros profissionais e o texto apresentado, esta luz acaba destoando do espetculo. Deve-se

    criar uma iluminao para que tenha o clima da cena proposta.

    A criao de luz no pressupe regras. No entanto alguns iluminadores apresentam

    caractersticas prprias de criao de luz. Este o caso do lighting designer Aurlio di

    Simoni, em que profissionais da rea mesmo sem o conhecimento da ficha tcnica,

    reconhecem seu trabalho. J que uma de suas caractersticas marcao de detalhes; de

    um quadro em uma parede, uma cenografia, de uma marca da direo em que o ator grifa

    aquele momento com uma ao gestual.

    62

  • Deve-se evitar o plano de luz equalizada, em que todo palco fica igual pois, a vida real no

    assim, o teatro retrata a vida. Em muitos momentos a luz que incide nas pessoas diferente.

    Trabalhar o plano geral um pouco mais fraco que a contraluz, deixa o objeto mais bem

    delineado e melhor dimensionado na profundidade da cena.

    Um dos principais objetivos na iluminao cnica, traduzir plasticamente luz, s propostas

    orientadas pelo diretor na cenografia ou figurino, levar mais uma vez em considerao o

    coletivo.

    Opinio prpria do entrevistado que no existem cores predominantes na iluminao

    cnicas. Uma iluminao geral quente usada com uma contraluz fria e vice versa, mantm a

    dinmica e d volume a cena, o que to importante. A luz direcionada s de frente, ficar

    chapada. Utilizando-se a luz frontal junto com a contra luz se apresentar ento a

    profundidade.

    A importncia da cor no espetculo, criar atmosferas, trabalhar a ludicidade da cena, e dar

    o movimento de luz. A cor e sua mudana durante cenas no espetculo desperta o

    espectador da poltrona da platia, porque recicla as formas de percepo daquele momento.

    A cor transforma a temperatura da cena, sendo assim, a leitura dramtica da cena. O

    recurso da cor com inteno de criar ambincias. S a modificao de angulao e a

    dimerizao da luz, j causam essa sensao de transformao, sem que haja a mudana

    de cor.

    A Iluminao cnica pode trazer a aparncia de movimentos a objetos estticos atravs da

    mudana de angulao e de cor. A utilizao de um recurso chamado chase, mudana de

    luz de uma forma ritmada direcionada no objeto, traz esta sensao.

    Diferentes objetivos so apresentados pela iluminao em alguns espetculos. Como

    exemplo; na pea infantil O Passarinho e a Borboleta, em que a luz criada era de

    ambincia, normalmente utilizada em musicais e, com o objetivo de climatizar, em que o

    muitas vezes o clima da cena acompanha a msica do espetculo.

    J em Desesperados, espetculo adulto, as cenas so formadas por fotogramas, elas so

    iluminadas de forma rpida e diferente como em histrias em quadrinho, a luz tem uma

    63

  • particularizao durante todo o tempo. Neste espetculo so poucas as cenas em que

    ocorre a iluminao em plano geral.

    Para criar a luz trs fatores so indispensveis, criatividade, sensibilidade e tcnica. Quanto

    maior a tcnica, maior o espao para a criao e sensibilidade. Com o avano da tecnologia,

    e o surgimento de novos equipamentos, muitas foram s possibilidades de criao. 4.2. Anlise das entrevistas

    Baseada nas entrevistas apresentadas, possvel perceber o momento certo para aceitar

    um novo projeto, de acordo com as condies oferecidas e, nele iniciar. A experincia

    profissional nesta rea otimiza o trabalho, visto que os passos iniciais j so conhecidos.

    A iluminao cnica um elemento de grande importncia aos espetculos, mas, a criao

    da luz e sua utilizao deve ser cuidadosa, levando em considerao as caractersticas dos

    objetos a serem iluminados e, o objetivo do espetculo que ser apresentado.

    Deve existir liberdade quanto ao destaque que ser feito pela luz em cena, no existem

    regras, cada espetculo tem suas caractersticas prprias, como as cenas da vida real. A

    arte imita a vida.

    Assim como a natureza, no teatro as cores e luz tambm so importantes, elas criam

    atmosferas, nos mostram quando dia, tarde ou noite. Brilho e intensidade tambm mexem

    com as sensaes humanas.

    A aparncia de movimentos a objetos estticos, pode ser feita atravs de tcnicas da

    iluminao cnica. O avano da tecnologia trouxe auxilio a este artifcio, assim como muitas

    novidades, no entanto, ela deve ser utilizada em harmonia com a criatividade e a

    sensibilidade.

    64

  • 5. CONSIDERAES FINAIS A iluminao transforma o palco. Retira o que no necessrio ver, limita ou amplia a rea

    de atuao, substitui a cortina, aproxima ou distancia os atores em relao ao pblico,

    captando a cena sob diversos ngulos; alm disso, funciona como elemento de pontuao

    do espetculo, estabelecendo as pausas entre uma cena e outra, as transies os cortes

    rpidos, as evolues no tempo, as transformaes de clima.

    Adolphe Appia (1862-1928), cengrafo e terico suo, foi um dos principais representantes

    da corrente simblica, propondo um teatro de atmosfera e sugesto, onde a luz desempenha

    um papel fundamental. Appia sem dvida um dos primeiros a tomar conscincia dos

    extraordinrios recursos que a iluminao eltrica pe disposio do encenador.

    Para Appia, a unidade plstica e escultural do espetculo subordina-se luz, capaz de

    aglutinar todos os elementos cnicos. Expresso perfeita da vida, a luz deveria representar

    no espao o que os sons representavam no tempo. Quanto cor, considerava-se um

    derivado da luz: dependente dela e, sob o ponto de vista cnico, depende de duas

    maneiras distintas: ou a luz se apodera dela para restitu-la, mais ou menos mvel no

    espao e, neste caso, a cor participa do modo de existncia da luz; ou a luz se limita a

    iluminar uma superfcie colorida em que a cor continua ligada ao objeto e no recebe vida

    seno desse objeto e por variaes da luz que o torna visvel.

    Tecnicamente, a iluminao no pra de evoluir. Vela, querosene, gs, eletricidade,

    tungstnio, halognio, quartzo, mercrio, fluorescncia, luz negra, non, estroboscpica,

    laser, controle remoto, computadorizado...No por falta de recursos que o palco ter

    problemas de visibilidade.

    De acordo com o trabalho apresentado e a anlise das entrevistas feitas no quarto captulo,

    possvel trazer recomendaes a profissionais da rea e ao pblico interessado assim

    como maior conhecimento da rea de estudo. Estas recomendaes so apresentadas

    abaixo.

    Para a otimizao do processo de montagem; o lighting designer deve iniciar sua

    participao desde a primeira reunio de produo. Antes de iniciar o processo de

    montagem alm de participar da leitura de textos e ensaios, devem-se conhecer os

    equipamentos utilizados, e tambm entender os conceitos da criao da luz. Saber utilizar

    65

  • novos equipamentos aumenta a possibilidade de criao, no entanto a experincia

    profissional fundamental, assim como a criatividade e a sensibilidade adquirida atravs

    anos trabalhando na rea de iluminao.

    demonstrado atravs de ilustraes e entrevistas, como a iluminao cnica capaz de

    modificar e valorizar os espetculos. A utilizao de cores cria atmosferas a cenas

    apresentadas e modificam os objetos, assim como o posicionamento da luz em que surgem

    sombras destacando o volume dos objetos de cena apresentados e, escondendo outros

    que no devem ser mostrados. possvel criar movimentos a objetos estticos, atravs de

    artifcios gerados pela prpria luz e sua diferena na utilizao de focos posicionados e pelo

    ritmo no acender e apagar os pontos de luz.

    O teatro feito para ser apresentado ao pblico e por ele ser apreciado. A iluminao cnica

    no foge a essa regra, ela deve trazer emoo aos espetculos. Na iluminao cnica no

    existem regras, como a vida. A arte imita a vida.

    66

  • Anexo 1 - Lmpadas, Refletores e Equipamentos Auxiliares ANEXO 1 LMPADAS, REFLETORES E EQUIPAMENTO