Internet das Coisas e o Varejo: Evolução no Modelo de Negócio · tecnologia tem o papel de...

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Internet das Coisas e o

Varejo: Evolução no Modelo

de Negócio

Como o novo paradigma da IoT irá impactar o setor de varejo?

2 Junho de 2016

Introdução

Em anos nos quais anunciadas crises se tornaram verdadeiras, o varejo, tradicional

setor que vinha de uma tendência crescente de resultados positivos, sente no bolso os

efeitos da retração econômica do país. Em função do cenário atual, o consumidor está

receoso e há uma desaceleração das vendas. Além de planejar seus gastos com

cuidado, o consumidor também está mais seletivo, buscando qualidade e preços

competitivos. Mesmo assim, ele não deixou de comprar itens que considera essenciais,

o que permite ao varejo se sustentar mesmo em tempos de instabilidade.

De acordo com uma pesquisa divulgada

pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística) em fevereiro de 2016, o varejo

brasileiro observou uma queda de 4,3% nas

vendas de 2015, o pior desempenho do

setor deste 2001. Dezembro, mês em que as

vendas tendem a aumentar devido às

festividades, registrou recuo de 2,7% sobre

novembro, interrompendo, assim, uma

sequência de duas taxas positivas. Segundo

o IBGE, o setor, comparado ao mesmo mês

de 2014, vendeu 7,1% a menos. Móveis e

eletrodomésticos lideraram a baixa nas

vendas com queda de 14%. Até o setor de

supermercados, alimentos e bebidas, que

normalmente é mais resistente às crises

econômicas por ter produtos considerados de

primeira necessidade, registrou queda de 2,5%.

Este cenário somado à inflação, oferta restrita de crédito, desemprego e economia em

recessão colocou o varejo novamente em alerta para 2016.

Na visão do presidente da SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo), Eduardo

Terra, os varejistas devem trabalhar planejando ações de curto e médio prazo:

Figura 1- Índice de Vendas no Varejo (fonte:

IBGE, 2016)

“Não podemos deixar de lado esse momento crítico, entretanto, de nada adianta entrar

em pânico. O empresário precisa ter uma agenda de curto prazo contemplando

eficiência e produtividade em torno do tripé de tecnologia, processos e pessoas. E não

deve se esquecer da inovação no médio prazo, pois devemos não só sobreviver à crise,

mas temos que ser inovadores de acordo com as demandas dos consumidores após

esse período sabático”, ressalta Terra.

3 Junho de 2016

É nesse quadro de retração econômica, desconfiança dos consumidores, inflação e

ascensão incipiente das taxas de desemprego, que o setor de varejo deve organizar

seus investimentos em tecnologia e melhoria de processos. Esse tema é abordado no

artigo lançado pela Bridge no final de 2015: Crise econômica 2015/16: Papel da TI

Corporativa).

Ainda segundo Terra, o significado de produtividade para as redes varejistas deve ser:

obter mais resultados usando poucos recursos. O que não foge da máxima capitalista:

“fazer mais com menos”. É nesse cenário que surgem boas oportunidades para a TI ser

ainda mais parceira do varejo, sendo um ativo estratégico para a organização e

suportando o negócio sem perder de vista a inovação.

Quando falamos de Tecnologia da Informação (TI), inovação, eficiência operacional

dentre outras grandes vertentes temáticas corporativas discutidas há alguns anos,

temos como ponto central a transformação digital. As empresas buscam maneiras de

ter uma visão holística do seu negócio, bem como uma análise cada vez mais assertiva

de seus dados, processos e de seus clientes, além de meios para interagir com estes

clientes. Essas características exigem que a TI das organizações de varejo assuma uma

nova visão durante seu planejamento que suporte algo que vem sendo chamado de

Estratégia Digital.

A criação de uma Estratégia Digital é a base para que a transformação digital das áreas

de TI ocorra. Vemos no caso das empresas de varejo, por exemplo, a necessidade de

inclusão de uma Estratégia Digital que contemple soluções que atendam à crescente

demanda por soluções m-commerce1, que vão além do e-commerce tradicional e que

possibilitem, através de dispositivo móvel a navegação nos catálogos de produtos,

realização de check-outs e pagamentos eletrônicos integrados à rede bancária, além da

retirada da mercadoria em uma localidade próxima ou mesmo na casa do cliente.

A transformação digital chegou no varejo impondo um ritmo de quebra de paradigmas

que vão desde o aumento da produtividade e eficiência operacional ao relacionamento

entre marca e cliente. Até porque o consumidor atual é adepto à era do conhecimento

que tem como base a internet, a mobilidade e as redes sociais. A mudança de

paradigma deve ser imediata no varejo. Mesmo com a crise, o setor está mobilizado a 1 Mobile Commerce, ou m-commerce, é toda e qualquer operação que envolva a transferência de

propriedade ou de direitos de utilização de bens e serviços, que é iniciado e/ou concluído com a

utilização de dispositivos móveis.

“O setor já tem na agenda a premissa de fazer mais com menos e a

tecnologia tem o papel de ajudar, seja trazendo automação nos

processos e operações ou fomentando a inteligência no corte de

custos”, segundo Terra.

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fazer o básico bem feito, mantendo as operações do seu negócio, sem deixar de

pensar no novo, buscando a transformação do negócio.

“O Varejo é o primeiro setor a sentir o impacto da crise econômica e por sorte, ele

também é o primeiro a sair dela. Conversando com os executivos varejistas percebi que

o momento é se preparar para superar o cenário de instabilidade e isso tange investir

em projetos de TI financeiramente possíveis”, segundo Raul de Souza Neto, VP Brasil da

Oracle Retail.

Diante desse novo cenário, a Tecnologia da Informação é a peça-chave para o varejo se

modernizar e falar a língua do cliente, projetando inovações e encantando o

consumidor. Para isso, o processo de transformação passa por pilares como a

digitalização, investimentos disruptivos e ideias inovadoras, tendo essa cultura

enraizada nos processos do varejo.

É nesse contexto que a internet das coisas (IOT – Internet of Things) se insere. Este é

um tema que aparece na maioria dos estudos de tendências de TI para os próximos

anos e não é diferente no varejo.

Este artigo irá focar no entendimento sobre como a internet das coisas poderá

impactar o setor do varejo e ajudá-lo a superar os números negativos provenientes do

atual cenário econômico do Brasil.

Apresentando a Internet das Coisas (IoT)

Antes de entrarmos a fundo em como a IoT pode afetar o setor do varejo, vamos

apresentar conceitualmente o que é a IoT e como essa nova tendência surgiu no

mundo dos negócios.

A relação do varejo com a chamada internet das coisas é antiga. Em 1999, um

pesquisador britânico e diretor do MIT Media Lab definiu o termo Internet of Things

(IoT) durante uma apresentação para executivos da P&G (Procter & Gamble) sobre

como integrar sistemas RFID (Radio-Frequency IDentification) à internet para facilitar a

logística da cadeia de produção, da distribuição e da venda. Nascia o termo “internet

das coisas”, que logo se popularizou e tem sido considerada como a principal

tendência tecnológica dos próximos anos.

A internet das coisas pode ser ilustrada através da interseção entre o mundo digital e o

mundo físico. O termo descreve um cenário em que muitos objetos do seu dia a dia,

“as coisas”, estarão conectados à internet e comunicando-se mutuamente. Já pensou

que a geladeira poderá enviar ao seu celular uma notificação informando que a latinha

de cerveja já foi gelada e está pronta para o consumo? Ou o seu carro pode lhe enviar

um e-mail quando ele atingir a quilometragem limite para uma revisão? Ou até

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mesmo, ao entrar em uma loja, seu celular será capaz de te informar um item em

promoção que poderá ser de seu interesse através das últimas pesquisas realizadas no

Google?

Ao pensar nesse cenário, provavelmente a grande preocupação está na quantidade de

dados e informações que irão circular pela internet e, como profissional de TI ou

gestor de negócio, os primeiros questionamentos estão relacionados ao tratamento de

tantas informações. Essa preocupação surge ao analisarmos o atual cenário

tecnológico onde a IoT está se inserindo. De acordo com um artigo publicado pela

Cisco, “How Many Internet Connections are in the World? Right. Now”, existem

atualmente 10 bilhões de coisas - celulares, PCs e demais dispositivos - conectados à

internet. Esse número já nos remete a uma realidade caótica, de muitos dados e que,

hoje em dia, impulsionam as iniciativas relacionadas a Big Data, Analytics e BI. Mas,

isso é uma fração ínfima de 1% dos dispositivos reais existentes no mundo. Há mais de

um trilhão de dispositivos disponíveis, neste exato minuto, que ainda não estão

falando com a internet, mas em breve estarão.

Em um mundo onde, de acordo com a Ford, em seu artigo “How Ford Is Putting

Hadoop Pedal To The Metal”, um carro conectado pode gerar 25GB de dados a cada

hora, os CIOs devem começar imediatamente a se planejarem para abrigar o

gigantesco tornado de dados a caminho. No entanto, vocês certamente já ouviram

falar da Lei de Moore, que diz que o poder de processamento dos computadores

(entenda computadores como a tecnologia em geral, não os computadores

domésticos) dobraria a cada 18 meses, mantendo o mesmo custo e o mesmo

espaço. Há cinco décadas esta lei tem sido constatada como verdadeira e, a cada ciclo

de 12 a 18 meses, a capacidade dos microprocessadores dobra pelo mesmo custo.

Estamos, portanto, em um ponto de inflexão no qual muitas tecnologias que só eram

encontradas em filmes de ficção científica estão virando uma realidade cotidiana,

afirmam os professores Erik Brynjolfsson, diretor do centro do MIT para negócios

digitais, e Andrew McAfee, também pesquisador do órgão e ex-professor de Harvard.

6 Junho de 2016

A combinação de alguns fatores tem contribuído para chegarmos ao atual estágio de

evolução tecnológica:

Esses fatores, dentre outros, permitem que as organizações incluam nas suas

Estratégias Digitais ações que contemplem a troca de informações entre diversas

coisas e que auxiliem não apenas no atingimento da efetividade operacional, mas que

também aproximem o cliente de sua marca e facilitem a tomada de decisão.

Um exemplo disso está nas tecnologias desenvolvidas pela Samsung para o setor

médico, mais especificamente a obstetrícia. No atual estado da prática, os exames

obstétricos são entregues em DVDs e pendrives com o material da sessão de

ultrassonografia. Para a Samsung, isso é coisa do passado. O conteúdo gerado pelo

novo modelo de ultrassom pode ser transferido direto para um aplicativo mobile

chamado Hello Mom e conferido no celular. O número de possibilidades que isso abre

é bem alto, já que os scans tridimensionais em alta qualidade feitos com a figura dos

bebês, os dados de medidas do feto – peso, altura e medidas em geral – e todo o

histórico das consultas ficam nas mãos dos clientes e podem ser compartilhados com

amigos e membros da família. Há também a possibilidade de montar um álbum com as

fotos desses exames, que, ao serem captadas pela câmera do app, ganham vida na tela

do smartphone ou tablet – com direito ao clássico som das batidas do coração.

Pode parecer um exemplo simples, mas a união de conceitos de internet das coisas e

de conectividade oferece uma forma bem interessante de eternizar essas memórias. O

Figura 2 - Fatores que contribuíram para a evolução tecnológica.

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software ainda pode se conectar a um sistema de IPCam2 para permitir

acompanhamento virtual dos exames, visando o pai que não pode estar junto da mãe

no dia do exame. Do ponto de vista dos negócios, o equipamento disponibiliza diversas

informações para o profissional, como tabelas com dados relevantes e indicadores de

desempenho.

O exemplo traz um caso no setor médico, no entanto, é possível observar

possibilidades de evolução tecnológica utilizando o conceito IoT em todos os setores.

Tendo isso em vista, no próximo capítulo, iremos abordar como esse novo paradigma

irá impactar o modelo de negócio do setor do varejo.

IoT no Varejo

1. Perfis de Consumo

O tema mobilidade é, atualmente, uma realidade e eixo central das principais

discussões sobre novas tendências de mercado em diversos setores da economia, e no

varejo não poderia ser diferente. Vivemos um momento onde diversas inovações

surgem no setor, mas a raiz principal dessas mudanças é a busca pela excelência no

entendimento das expectativas do consumidor, como entender suas características e

preferências e atender de forma completa as suas necessidades.

Diversos conceitos se tornaram populares ultimamente como onmichannel3 e

showroomers4, mas no fundo todos são denominações associadas a uma nova

realidade: O consumidor hoje é diferente.

Primeiramente, para entendermos qual caminho os varejistas devem seguir, é

importante definirmos os perfis de seus consumidores. Conforme apresentado por

especialistas em um dos maiores eventos de varejo do mundo, Retail´s Big Show da

NRF (National Retail Federation), em Nova York, os seguintes perfis devem ser

entendidos:

2 Câmera que utiliza protocolos de internet para comunicação. São normalmente utilizadas em

vigilâncias.

3 Conceito utilizado para denominar os diferentes canais de compras e as tecnologias que os suportam.

O comprador, atualmente, pode realizar a compra tanto através de um ambiente físico (lojas, bancas,

stands etc), ambiente digital (celular, site, telefone etc) ou ambos.

4 Compradores que experimentam produtos em lojas físicas, mas acabam fechando a compra pela

internet.

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Essas novas gerações estão acostumadas com a conectividade, o mundo digital e são

sedentos por informação e praticidade. O gap entre o que o “novo” consumidor busca

e o que o varejo oferece foi mitigado a partir do surgimento e consolidação do e-

commerce. No entanto, apenas alguns aspectos de consumo foram alavancados com

esse novo modelo de negócio. Segundo alguns estudos acadêmicos, o processo de

decisão de compra é pautado, na ordem de significância, por três pilares: necessidade,

atendimento e preço.

Os três pilares precisam ser atendidos para que um varejista tenha sucesso em atender

essa nova geração na sua plenitude. O melhor caminho para esse atendimento passa

pelo Varejo 3.0, uma referência ao Marketing 3.0, inspirado no mundo digital,

conforme definido por Kotler, autor referência no campo do Marketing, representando

a evolução do modelo tradicional de varejo, como a agregação de meios tecnológicos

para a personificação do relacionamento e da geração de valor.

Neste cenário, com a difusão de ferramentas portáteis, com o aumento da

conectividade de basicamente tudo (internet das coisas), existem grandes

possibilidades para que o setor de varejo aprimore seus processos de negócio. É

importante que o setor identifique como uma grande oportunidade a aplicação de

tecnologia em seu negócio, interagindo com seu consumidor em tempo real, o

auxiliando na obtenção de uma nova experiência de consumo, unindo o melhor da

experiência do varejo tradicional (do toque, do cheiro, do ver, das sensações atreladas

Figura 3 - Quadro explicativo: Milenials x Geração Z.

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à aquisição de um produto ou serviço) com a praticidade do e-commerce

(autoatendimento, independência de conteúdo e formação de opinião, liberdade de

escolha).

2. Investimentos em TI no Varejo

O investimento em tecnologia no setor do varejo tem se mostrado como um caminho

para superar o atual cenário econômico brasileiro. A contenção de despesas através de

demissões e cortes de custo pouco estruturados tem sido alvo de crítica por diversos

especialistas do setor.

O presidente da Febravar (Feira Brasileira do Varejo), Ronaldo Sielichow, criticou a

política de corte de despesas por meio de demissão de funcionários durante a terceira

edição do evento, realizada em julho de 2015. Para Sielichow, o cenário de retração do

consumo em nível nacional deve levar o lojista a buscar alternativas que otimizem seus

recursos, revendo conceitos de gestão.

Nesse sentido, a Febravar apresentou uma série de soluções tecnológicas para os

comerciantes. Entre elas, uma Smart Store, ou seja, uma loja inteligente baseada no

conceito de varejo 3.0. Desde a entrada até o provador, em um único ambiente de 60

m², estão disponíveis mais de 30 tecnologias diferentes. Viável, inclusive, para

pequenos e médios negócios, o projeto tem o objetivo de renovar a gestão do

ambiente de vendas em busca de um melhor custo-benefício. Para isso, são

apresentadas novidades que facilitam o controle de caixa, a gestão de estoques, a

contabilidade e a interatividade do consumidor com os produtos. Isso tudo está

aderente ao conceito trazido pela IoT.

Uma pesquisa realizada pela Technavio, intitulada Global Retail IT Spending Market

2016-2020, apresenta uma análise sobre tendências que podem impactar os gastos de

TI no varejo mundial entre 2016 e 2020. As pesquisas foram feitas com os principais

players de mercado que fornecem serviços de TI, hardware e software para empresas

de varejo.

Em 2020 os gastos globais de TI no setor do varejo devem ser próximos a US$ 111

bilhões, com um CAGR (Compound Annual Growth Rate – Taxa Média de Crescimento

Anual) de 4%. Em 2015, 35% dos gastos de TI foram destinados aos serviços de TI.

Segundo a pesquisa, esse segmento será o que terá uma maior CAGR em 2019.

"A pessoa que é demitida não compra e, consequentemente, não movimenta a

economia. É hora de os empresários olharem para dentro das empresas e demitirem

processos obsoletos, implantado novas tecnologias que reduzam seus custos e

aumentem sua competitividade."

10 Junho de 2016

O mercado de varejo norte americano ultrapassou o mercado dos países do grupo

BRIC (Brasil, Rússia, Índia, China) nos gastos no segmento de software em 2015.

Impulsionados pelo aumento dos investimentos em integrações de omnichannel,

sistemas de pagamento e segurança de dados, bem como a proliferação de

engajamento móvel, esse mercado expandiu em uma CAGR maior que 5% se

comparado com 2014.

Os investimentos em TI, segundo a pesquisa, serão focados nos seguintes temas:

Surgimento de um software de reconhecimento facial;

Aumento nos gastos internet das coisas;

Forte foco no envolvimento do cliente e marketing de mídia social;

Serviços baseados em localização.

3. Investimentos em IoT no Varejo

As oportunidades relacionadas a IoT para o setor varejista são evidentes. Segundo uma

pesquisa realizada pela Forrester e comissionada pela Zebra Technologie, em

novembro de 2014, o setor de varejo já estava fazendo investimentos em IoT. Foram

entrevistados profissionais de quase 600 empresas no mundo e se descobriu que 65%

delas já tem algum projeto de IoT em andamento ou em iniciação, enquanto que 96%

deles dizem estar prontos para embarcarem nessa nova realidade, mostrando que se

trata de um tema extremamente relevante para o aumento da competitividade no

setor.

Por enquanto, percebe-se um alto valor no investimento do setor varejista nesse novo

paradigma quando relacionado às mudanças disruptivas em lojas físicas, apesar de

existirem oportunidades para utilização da IoT na empresa como um todo – sistema

produtivo, logística dentre outros. Esse movimento pode ser considerado assertivo,

uma vez que, apesar da dominância da nova geração de consumidores em um mundo

conectado, isso não significa que qualquer interação seja realizada online. É possível

observar através de um estudo realizado pela PWC, intitulado “Total Retail Survey”, de

2016, que a maioria dos compradores ainda prefere a loja física para o consumo.

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Figura 4 - Métodos de compra preferidos dos consumidores. Fonte: PWC - Total Retail Survey (2016).

A adoção de IoT no ambiente de varejo vai depender não só da evolução da

tecnologia, mas também do desenvolvimento de novos processos de negócio. Novas

tecnologias por si só não irão trazer ganhos, elas precisam ser adaptadas ao ambiente

da organização. Novos modelos de negócio devem ser desenvolvidos, novos processos

de negócio criados, processos antigos revisados, funcionários treinados, novos

indicadores mapeados, medidos e controlados, dentre diversas transformações que

deverão ocorrer para que o valor da IoT seja obtido em sua totalidade.

Uma das principais tecnologias mapeadas pela Bridge Consulting e seus impactos nos

modelos e processos de negócio são apresentados a seguir:

12 Junho de 2016

Figura 5 - Principais tecnologias que irão habilitar a transformação do modelo de negócio do varejo.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Essas e outras inovações irão permitir novos modelos de negócio e que os varejistas

melhorem a produtividade, reduzam os custos e aumentem as vendas.

De acordo com o relatório da McKinsey, “The Internet of Things: Mapping the Value

Beyond the Hype”, estima-se que esses usos da Internet das Coisas, baseando-se na

taxa de adoção da tecnologia, economia mundial, tendências demográficas e

probabilidades de evolução tecnológica nos próximos 10 anos, poderiam ter um

impacto econômico no mercado do varejo de $410 bilhões a $1,2 trilhões por ano em

2025, tendo um impacto previsto de $380 bilhões em um potencial valor anual apenas

através da automação do sistema de check-out. Essa avaliação foi feita utilizando uma

abordagem bottom-up, através do estudo do impacto econômico em toda cadeia de

valor (negócio, consumidor, fornecedores e governos). Foi avaliado de forma ampla

todo tipo de aplicação para da IoT, incluindo uma visão operacional, habilitadora de

vendas, desenvolvimento de produtos e segurança.

13 Junho de 2016

Segundo o mesmo relatório da McKinsey, as quatro maiores oportunidades de

disrupção em processos de negócio através da IoT no segmento do varejo são:

Figura 6 – Maiores oportunidades de IoT no segmento de varejo. Fonte: McKinsey.

Conclusão

Podemos perceber ao longo do artigo que as novas gerações e os avanços tecnológicos

mudaram radicalmente o comportamento e as formas de se transacionar e consumir

produtos. Os caminhos de busca e interação com as marcas de interesse dos novos

perfis de consumidor agora são outros. Hoje em dia, se a marca não busca mecanismos

de atrair o consumidor, pré-qualificando este personagem no ambiente digital, as

chances de perdê-lo são gigantescas. Na realidade, as barreiras entre o que é um

ambiente físico e digital estão sendo derrubadas, e uma visão profundamente

inovadora e integrada da experiência de compra começa a valer.

O uso da tecnologia aparece como um fator determinante para a cobertura dos gaps

gerados entre “novas” necessidades dos consumidores e os modelos de negócio

tradicionais do varejo. Todos os números apresentados neste artigo e as diversas feiras

e eventos de varejo apontam esse caminho como o mais certo para que as empresas

superem as dificuldades econômicas ao mesmo tempo que se aproximam de seus

clientes.

Pode parecer contraditório sugerirmos que as organizações realizem grandes

investimentos em sistemas, hardware e serviços de TI durante uma das mais

assombrosas crises econômicas brasileiras. No entanto, a nossa sugestão precisa ser

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compreendida do ponto de vista organizacional e de maneira estruturada. Não é

recomendado que empresas invistam em TI apenas para seguir a “moda” do mercado,

mas que entendam as possibilidades que o mercado de TI oferece e compreendam o

que pode ser aplicado ao seu negócio e o retorno que isso irá gerar.

Se, por um lado, a redução da atividade econômica associada à escassez de crédito

obriga empresas a postergarem investimentos e focarem em ações que poupem caixa

para permitir que sobrevivam à tempestade, por outro lado a crise cria oportunidades

únicas para empresas com total compreensão de suas estratégias e processos de

negócio.

Entendendo a importância de ter os processos de negócio alinhados à estratégia

corporativa, para o setor do varejo, são sugeridas pesquisas por soluções emergentes

de IoT que possam ser incorporadas aos seus processos, como dispositivos de

telemetria, sensores de inventário para automação de serviços de atendimento,

dispositivos de monitoramento de tempo do cliente nas lojas, sistemas de localização,

entre outros, que auxiliem o atingimento das metas estratégicas do negócio. Dessa

forma o varejista ganha agilidade, automação, redução de custo e melhoria em seus

processos, oferecendo experiências diferenciadas para os clientes.

Por fim, sugerimos algumas ações que podem ser realizadas para assegurar que a

entrada no mundo da internet das coisas ocorra de maneira controlada:

Aprimorar a gestão de portfólio de projetos: A Gestão de Portfólio eficaz deve

levar em consideração variáveis tangíveis (custos e recursos, por exemplo) e

variáveis intangíveis (impacto em cultura e clima organizacional e alinhamento

com os objetivos estratégicos, por exemplo). Em tempos de crise, é de extrema

importância que as escolhas de investimentos, inclusive em TI, sejam certeiras

e, para isso, é imprescindível que os métodos utilizados para a gestão do

portfólio de projetos utilizem critérios claros e tangíveis para que a tomada de

decisão esteja alinhada às reais necessidades do negócio.

Reestruturar os times de análise de negócio e modelagem de processos: Para

encarar a falta orçamentária e diminuição de receita é preciso ir muito além

quando o assunto é reduzir custos e manter investimentos. O "pensar fora da

caixa" tem que ser usado nestes períodos, não somente para criar novos

produtos, mas para pensar de maneira inovadora em investimentos que

reduzam custos, aumentem a eficiência da operação e atraiam novos clientes.

Para que o pensamento fora da caixa ocorra, é importante que as áreas de TI

das varejistas estejam imersas nos processos e atividades de negócio e que

tenham total entendimento de suas necessidades. Para esse fim, a

estruturação de times de análise de negócio e modelagem de processos se

apresenta como um passo importante para que, prontamente, sejam

identificadas necessidades evolutivas ou novas soluções de negócio.

15 Junho de 2016

Investir em segurança da informação: Conforme já dito neste artigo, a

segurança da informação é um ponto de preocupação quando pensamos tanto

no aumento dos dados que circularão pelos diversos sistemas organizacionais

quanto no aumento da conectividade e pontos de acesso externos às

informações da empresa. Buscando não expor a organização e clientes a

ameaças e minimizar o grau de risco organizacional, um ponto essencial é o

investimento em controles de segurança da informação.

Aprimorar a gestão da sua capacidade: O aumento da quantidade de dados

com o advento da internet das coisas, conforme já apresentado, é assustador.

Por mais que a capacidade de armazenamento venha crescendo

exponencialmente quando comparado com o seu custo, a quantidade de dados

a serem armazenados também cresce rapidamente. Portanto, é importante

que processos de gestão da capacidade de TI sejam elevados em nível de

maturidade para garantir que a TI tenha a capacidade de armazenar e

processar dados e informações de acordo com a real demanda de seu negócio,

tendo como driver a manutenção do custo-benefício. Uma empresa que possua

um baixo grau de maturidade em processos desse tipo provavelmente terá um

gasto extremamente elevado na manutenção de seu parque tecnológico.

Manutenção de uma TI Bimodal: A área de TI das organizações varejistas

precisa mais do que nunca conseguir combinar as necessidades de manutenção

e sustentação do ambiente para operação do negócio e ter uma participação

estratégica nas transformações dos modelos de negócio de suas empresas.

Esse novo posicionamento da TI é imprescindível para que os varejistas se

mantenham competitivos. Portanto, as áreas de TI precisam se reestruturar

com dois formatos distintos e complementares, atuando tanto como um

suporte operacional como um agente estratégico.

Seguindo minimamente essas ações, os varejistas terão maturidade elevada para

escolherem de forma coerente seus investimentos, não se exporem a mais riscos,

garantirem a resiliência de seu mundo digital/físico e gerirem seu parque tecnológico

de modo a combinar a prestação de seus novos serviços de TI à capacidade financeira

da empresa.

Hoje, você tem a confiança necessária para entrar no mundo da internet das coisas?

Não?

Então entre em contato que podemos te ajudar.