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Os termos estrutura, estruturalismo, significncia, as expresses produo textual ou prtica textual, apoiados numa nova definio do texto, visam ao mesmo tempo criar uma cincia do literrio e tornar o campo autnomo, dissociando-o dos dominios aos

Os termos estrutura, estruturalismo, significncia, as expresses produo textual ou prtica textual, apoiados numa nova definio do texto, visam ao mesmo tempo criar uma cincia do literrio e tornar o campo autnomo, dissociando-o dos domnios aos quais ele se ligava outrora (histria, sociologia, psicologia...). Trata-se de considerar o texto independentemente de seu contexto.. (p.14)

Oficialmente, Julia Kristeva que compe e introduz o termo intertextualidade, em dois artigos publicados na revista Tel Quel e retomados em seguida em sua obra de 1969, Smiotik, Recherches pour une smannalyse.. (p. 15)

Relao, dinmica, transformao, cruzamento, o movimento da lngua descrito nessa definio implica uma concepo extensiva da intertextualidade. A palavra se carrega de suas significaes, de seus usos e de seus empregos e os transporta no texto que deles se vale e os transforma em contato com outras palavras ou enunciados.. (p.16)

Entretanto, seus estudos sobre o romance (que remontam a fins dos anos 20), originando as grandes possibilidades de integrao do gnero, seus componentes lingsticos, sociais e culturais, introduziam a idia de uma multiplicidade de discursos trazida pelas palavras. O texto aparece ento como o lugar de uma troca entre pedaos de enunciados que ele redistribui ou permuta, construindo um texto novo a partir dos textos anteriores.. (p. 18)

Essa polifonia em que todas as vozes ressoam de um modo igual implica o dialogismo: os enunciados das personagens dialogam com os do autor e ouvimos constantemente esse dilogo nas palavras, lugares dinmicos onde efetuam as trocas.. (p. 19)A noo de alteridade decisiva para estabelecer esse movimento dos textos, esse movimento da linguagem que carrega outras palavras, as palavras dos outros. , segundo Bakhtin, o prprio movimento da vida e da conscincia (Tzvetan Todorov mostra isso em Mikhal Bakhtine, Le prncipe dialogique). A conscincia constantemente preenchida de elementos exteriores a ela, ingredientes trazidos por outrem e necessrios sua realizao.. (p. 20)

[...] de Bakhtin a Kristeva, do dialogismo intertextualidade, vemos que os fenmenos descritos so os mesmos. Entretanto, tal como foi colocado quela poca, o conceito de intertextualidade no to metodolgico quanto o de dialogismo, o que consiste em grande parte a causa de suas re-interpretaes posteriores.. (p. 22)Desde o artigo Teoria do texto para a Encycolpdia universalis, Barthes coloca em primeiro plano a intertextualidade, ligando-a citao: todo texto, escreve ele, um tecido novo de citaes passadas, fazendo eco constatao malarmaica, proposta na abertura deste captulo: Mais ou menos todos os livros contm a fuso de alguma citao esperada. Por isso, as citaes no remetem necessariamente ao corpus literrio e Barthes permanece no seu artigo muito prximo de Julia Kristeva e da produtividade textual.. (p. 23)Como os estudos de Michael Riffaterre (La production du texte, 1979, e Smiotique de La posie, 1983), a intertextualidade torna-se verdadeiramente um conceito para a recepo, permitindo impor modelos de leitura fundados sobre fatos retricos captados em espessura, nas suas referncias a outros, presentes no corpus da literatura.. (p. 25)A obra decisiva para a migrao da noo das concepes extensivas do conceito sua percepo restrita aparece em 1982. Palimpsestes, de Grard GEnette, com o subttulo La littrature au second degr, acaba de semear confuso em torno do termo, deslocando-o definitivamente da lingstica para a potica. Ao mesmo tempo, ele produz um trabalho decisivo para a compreenso e a descrio da noo, inscrevendo-a numa tipologia geral de todas as relaes que os textos entretm com outros textos. A partir dessa obra, os usurios da intertextualidade no podem mais utilizar impunemente o termo: devem escolher entre sua extenso generalizante e essencialmente dialgica (Bakhtin, mesmo que a aplicao incida sobre anlises poticas) ou sua formalizao terica, visando atualizar prticas (Genette). A tal ponto que, apesar de Kristeva e Tel Quel, parece prefervel conservar o termo de dialogismo para designar a primeira concepo e reservar o de intertextualidade para a segunda.. (p.28-29)Propondo, no comeo de Palimpsestes, distinguir cinco relaes transtextuais, Grard Genette faz a sntese de seus trabalhos anteriores, aqueles que se interessavam pela relao de um texto com seu gnero (Introduction larchitexte, 1979), e anuncia seus trabalhos futuros, que trataro especialmente da relao de um texto com seu contexto imediato (Seuils, 1987).. (p. 29)Enfim, contrariamente s concepes extensivas, que privilegiavam a componente transformacional da intertextualidade, ele insiste sobre a componente relacional colocando sua dinmica transformacional do lado da hipertextualidade -, o que permite fazer dela uma noo mais concreta.. (p. 30)Com efeito, Grard Genette distingue dois tipos de relaes outrora confundidas, sob as duas categorias de intertextualidade e de hipertextualidade, separadas sob pretexto de que uma designa a co-presena de dois textos (A est presente com B no texto B) e outra, a derivao de um texto (B deriva de A mas A no est efetivamente presente em B).. (p. 30)Contrariamente s caractersticas desta presena efetiva de um texto em outro, que uma maneira de impor a biblioteca de maneira horizontal, a hipertextualidade torna-a presente de maneira vertical.. (p. 30)O longo e minucioso trabalho sobre a hipertextualidade desenvolvida em Palimpsestes este ttulo remete ao manuscrito apagado e re-escrito que deixa aparecer, em filigrana, vestgios variveis do texto anterior permite em primeiro lugar esclarecer relaes entre um texto presente e um texto ausente, entre o atual e o virtual. Gesto maior da esttica pelo qual a linguagem real do texto remete virtualmente sempre a uma outra linguagem, linguagem virtual no horizonte da figura e que considera o leitor-intrprete.. (p. 32)Se nos permitirmos lig-lo ao seu homnimo de significao diferente, utilizado em informtica (o que Genette se recusa a fazer), o hipertexto remete desta maneira ao texto ao mesmo tempo fragmentrio e infinito.. (p. 33)

a hipertextualidade segundo Grard Genette, oferece a possibilidade de percorrer a histria da literatura (como das outras artes) compreendendo um de seus maiores traos: ela se faz por imitao e transformao. O exame de outras prticas artsticas, nos domnios pictural e musical, que Genette nomeia hiperestsicos, permite medir sua importncia.. (p. 33)Essas duas categorias da transtextualidade, intertextualidade e hipertextualidade so definidas como fatos e jogos da escritura literria. A restrio era necessria: ela decisiva para a compreenso da noo de intertextualidade e sua validade no discurso crtico, seu uso no estudo concreto de uma obra.. (p. 34)Antes da nova teorizao de Grard Genette, crticos tinham percebido o interesse da intertextualidade para substituir a tradicional crtica das fontes ao mesmo tempo em que sua necessria restrio para analisar prticas. Se admitimos, de fato, que todo texto segundo, que ele vem depois de outros textos, ainda preciso delimitar alguns desses textos anteriores para se dedicar a um trabalho de anlise crtica.. (p. 34)Considerar a intertextualidade como colagem enfatizar uma transferncia exterior mais do que o dilogo, as marcas de uma passagem, de um emprstimo mais do que o processo de transformao. A heterogeneidade posta em evidncia entre material emprestado e texto de acolhida e a dinmica da bricolagem (ou bri-colagem, conviria escrever aqui) preside ao exame das relaes intertextuais.. (p. 36)

A prtica da citao literria pode aparentar-se ento com o princpio da colagem pictrica pregada pelo cubismo, depois pelo surrealismo.. (p. 36)E o trabalho crtico que se prende ao exame de uma intertextualidade desse tipo, repousando sobre as colagens e a bricolagem, procurar mais descrever e compreender os efeitos de decalagem e de heterogeneidade do que insistir sobre os fenmenos gerais de produtividade textual. preciso insistir, entretanto, sobre a extenso do termo colagem, cuja origem pictural equivale frequentemente a uma metfora.. (p. 38)No se trata, entretanto, de banalizar o termo intertextualidade nem de torn-lo senso comum. Ao contrrio, como precisa Laurent Jenny num artigo importante, intitulado La Stratgie de la Forme, herdamos um termo e cabe-nos torn-lo to pleno de sentido quanto possvel.. (p. 39)

J que a intertextualidade segue vias que evocam s vezes o trabalho do sonho sobre representaes-lembranas, compreende-se que tambm a psicanlise tenha se interessado por ela e a integrado em seu sistema de interpretao.. (p. 41)Ele substitui o termo intertextualidade por outras expresses que colocam mais em evidncia as relaes de oposio, de trocas ou de apropriao do outro praticadas pela literatura. Um texto pelo outro designa o plgio, um texto sob outro, o palimpsesto e um texto como o outro, o pastiche.. (p. 41)Assim como uma pessoa se constitui numa relao muito ampla com o outro, um texto no existe sozinho, carregado de palavras e pensamentos mais ou menos conscientemente roubados, sentem-se as influncias que o subtendem, parece sempre possvel nele descobrir-se um subtexto.. (p. 42)Em vez de obedecer a um sistema codificado muito estrito, a intertextualidade busca mais, hoje, mostrar fenmenos de rede, de correspondncia, de conexo, e fazer dele um dos principais mecanismos da comunicao literria. A noo continua sendo instvel, na medida em que as teorias no lutam mais pela predominncia, mas se tornou precisa na medida em que seu sentido se restringiu e que seu uso crtico precedeu seu uso exclusivamente terico.. (p. 42)A intertextualidade deve ser compreendida antes de tudo como uma prtica do sistema e da multiplicidade dos textos.. (p. 43)Referncias:

SAMOYAULT, Tiphaine. A Intertextualidade. 1. Ed. Trad. Sandra Nitrini. So Paulo: Editora Hucitec, 2008.

UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do ParanAdriana Kelly Tcatch Marcon

A Intertextualidade

Cascavel

2013

Adriana Kelly Tcatch Marcon

A Intertextualidade

Trabalho do Curso de Letras, disciplina de Introduo aos Estudos Literrios, 1 ano Professor Pedro Fichamento do primeiro captulo do livro A Intertextualidade de Tiphaine Samoyault.

Cascavel

2013