Introdução à retórica

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Introdução à retórica Introdução à retórica Olivier Reboul

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Trabalho Escrita Acadêmica - Mestrado em Estudo de Linguagens CEFET-MG Textos: REBOUL, Olivier. Introdução à retórica. Martins Fontes, 2004 ABREU, Antônio Suárez. A arte de argumentar. Cotia Ateliê, 2004

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Introdução à retóricaIntrodução à retóricaOlivier Reboul

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ArgumentaçãoArgumentação

a dúvida do professor de matemática;pergunta não está clara, resposta não é

exata (exatas x humanas).

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ArgumentaçãoArgumentação

A meia distância entre a evidência e a ignorância, o necessário e o arbitrário;

A retórica compõe-se de dois elementos: argumentativo e oratório

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A A importância da oratóriaimportância da oratória

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Características da argumentaçãoCaracterísticas da argumentação

Como definir a argumentação?

“(...) argumentos são demonstrativos, outros argumentativos, não podendo definir a argumentação senão a partir do argumento. Argumento é uma totalidade que só pode ser entendida em oposição a outra totalidade: a demonstração”

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AuditórioAuditórioO Auditório pode ser “universal”?

“Sempre se argumenta diante de alguém. Esse alguém, que pode ser um indivíduo ou um grupo ou uma multidão, chama-se auditório, termo que se aplica até aos leitores. Um auditório é, por definição particular, diferente de outros auditórios. Primeiro pela competência, depois pelas crenças e finalmente pelas emoções”

Como seria isso?

Especulações sobre auditório

“seria um auditório não especializado?” Como se pensava no séc.XVII, como testemunhará Molière e Pascal;

“Será um auditório não particular, sem paixões, sem preconceitos, a humanidade racional, em suma?” tipo artifício encontrado em Rousseau e Kant.

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AuditórioAuditório

“Em suma, o auditório universal poderia ser apenas uma pretensão, ou mesmo um truque retórico. Mas achamos que ele pode ter função nobre, a do ideal argumentativo.”

“Orador sabe bem que está tratando com um auditório particular, mas faz um discurso que tenta superá-lo, dirigido a outros auditórios possíveis que estão além dele, considerando implicitamente todas as suas expectativas e todas as suas objeções.”

“auditório universal não é um engodo, mas um princípio de superação”.

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Língua natural e ambiguidades Língua natural e ambiguidades

“Na demonstração é grande o interesse de se utilizar uma língua artificial, por exemplo a da álgebra ou da química. A argumentação desenrola-se sempre em um língua natural”

“(...) o que significa utilizar com grande frequência termos polissêmicos e com fortes conotações como “democracia”, que está longe de ter o mesmo sentido e o mesmo valor para todos os oradores.”

Outro exemplo de ambiguidade se encontra no uso e na interpretação do enunciado: “ O homem é o lobo do homem”. Frase significativa para os filósofos contratualistas.

Salienta o autor da diferença entre argumento escrito e oral. Sendo que a argumentação oral em geral é menos lógica e mais oratória que a escrita.

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Premissas verossímeisPremissas verossímeis

Verossímil: que tem aparência com a verdade, ou semelhante a verdade.

Explicação do autor: “ O que é então verossímil? Para encurtar: tudo aquilo que a confiança é presumida. Por exemplo, os juízes nem sempre são independentes, os médicos nem sempre capazes, os oradores nem sempre sinceros. Mas presume-se que o sejam; e, se alguém afirma o contrário, cabe-lhe o ônus da prova. Sem esse tipo de presunção, a vida seria impossível (...)”

“Suponhamos, por exemplo, um debate histórico sobre o caso Dreyfus: é certo que ele sempre comporta aspectos controversos, mas pode-se e deve-se considerar como demonstrado que o capitão Dreyfus não era culpado, que não foi o autor da documentação criminosa. Duvidar disso seria demonstrar parcialidade racista (...)”

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ProgressãoProgressão“Se as premissas não são verossímeis, a progressão dos argumentos nada tem a ver com uma demonstração.”

“(...) uma cadeia de argumentos( “essas longas cadeias de razões” de Descartes), em que cada um é comprovado por aqueles que precedem, e cuja ordem é, portanto lógica, a argumentação será mais semelhante a um fuso de argumento, independentes uns dos outros e convergentes para a mesma conclusão (...)”

“A ordem dos argumentos é, pois relativamente livre, e depende do orador; vimos, de fato, que a disposição dos antigos compreendia dois planos-tipo, mas nada havia de necessário, e podiam ser subvertidos. Por outro lado, depende do auditório, no sentido de que o orador dispõe seus argumentos segundo as reações, verificadas ou imaginadas, de seus ouvintes. Em suma, a ordem não é lógica, é psicológica”.

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Conclusões sempre Conclusões sempre controversas controversas

Uma conclusão é acima de tudo o acordo entre os interlocutores.

Sendo que a conclusão deve ser mais rica que as premissas.

“ (...) a conclusão é reivindicada pelo orador como algo que deve impor-se encerrar o debate. Mas, no que se refere ao auditório, este não é obrigado a aceitá-la; continua ativo e responsável tanto pelo sim quanto pelo não; é principalmente nesse sentido que a conclusão é controversa: ela compromete tanto quem a aceita quanto quem a recusa”.

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O que é uma boa argumentaçãoO que é uma boa argumentação

Proposta: avaliar a honestidade da argumentação. Mas quais os critérios?

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Os sofistas e a argumentaçãoOs sofistas e a argumentação

Sofisma:

Em suma: é um raciocínio cuja estrutura aparentemente é correta, mas que possui falhas em sua forma ou conteúdo.

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Os sofistas e a argumentaçãoOs sofistas e a argumentação

Estrutura de um silogismo categórico:

Ffffff

Premissas:

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Os sofistas e a argumentaçãoOs sofistas e a argumentação

Termos:

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Exemplos do autor:Exemplos do autor:

1º. Beber água mata a sede.

Ora, o sal obriga a beber a água.

Logo, o sal mata a sede.

Problema: falsa impressão de haver um termo médio.

2º. Tudo o que é raro é caro.

Ora, um bom cavalo barato é raro.

Logo, um bom cavalo barato é caro.

Problema: distribuição correta das premissas e dos termos, mas as premissas transformam o provável em certo.

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Outros dois exemplosOutros dois exemplos O argumento torna-se sofístico por extrair uma conclusão

que extrapola o que as premissas mostram – do particular ao universal.

1º. Todos os deputados de direita votaram essa lei.

Ora, Dupond votou essa lei.

Logo, Dupont é deputado de direita?

2º. Essa medida é de esquerda por que foi tomado por um governo de esquerda. Ou, Qualquer medida tomada por um governo de esquerda é de esquerda.

Nos dois casos, o raciocínio é sofístico, pois conclui mais do que deve.

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Não-paráfrase e fechamentoNão-paráfrase e fechamento A honestidade da argumentação está na abertura do

discurso:

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Por fim...Por fim... A intensidade de não-paráfrase e fechamento pode variar

de acordo com o tipo de discurso;

O fechamento no discurso da propaganda é mais intenso: seu objetivo é excluir qualquer possibilidade de reciprocidade;

O que faz uma boa retórica é a possibilidade de diálogo.

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Ensino, Justiça e FilosofiaEnsino, Justiça e Filosofia

Argumentação Pedagógica:

Toda pedagogia é retórica; Atrair atenção, ilustrar conceitos, facilitar lembrança, motivar

ao esforço; O verdadeiro professor não dissimula sua retórica: ensina

procedimentos, tornam os alunos mestres (retórica transparente e recíproca).

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Ensino, Justiça e FilosofiaEnsino, Justiça e Filosofia

Argumentação judiciária

Se fosse pedagógico, o réu assumiria a culpa no final; Não objetiva ser pedagógico (o réu não aprende); Objetiva convencer o tribunal, e não a parte adversária; Tornar válida a causa do cliente, contraditar a retórica do

outro; O caso dos expropriados e a desvalorização.

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Ensino, Justiça e FilosofiaEnsino, Justiça e Filosofia

Argumentação filosófica sem tribunal; afirmam ser demonstrativos, porém chegam a doutrinas

diferentes, e até opostas, as estruturas de demonstração não são as mesmas, e todos recorrem à argumentação;

contradição permite diferenciá-los dos dois últimos; encontrar (e não ensinar o que encontraram), sustentar uma

tese (e não defender uma causa); Eutidemo de Platão.

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A argumentação existe como A argumentação existe como meio de prova distinto da meio de prova distinto da

demonstração, mas sem incidir demonstração, mas sem incidir na violência e na sedução.na violência e na sedução.

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Antônio Suárez Abreu

Aprendendo a Aprendendo a “desenhar” e a “desenhar” e a “pintar”com as “pintar”com as

palavraspalavras

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A arte de argumentarA arte de argumentar Ao usamos uma palavra, estamos fazendo uma escolha de

como representar alguma coisa.

EXEMPLOS:

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A arte de argumentarA arte de argumentar Segundo o autor, há associações pela forma e conteúdo

“Itapuã, tuas luas cheias, tuas casas feias Viram tudo, tudo, o inteiro de nós Itapuã, tuas lamas, algas, almas que amalgamas Guardam todo, todo, o cheiro de nós Abaeté, essa areia branca ninguém nos arranca É o que em Deus nos fiz Nada estanca em Itapuã Ainda sou feliz”

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Figuras retóricasFiguras retóricas São recursos linguísticos que utilizamos na persuasão.

EXEMPLOS:

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Figuras retóricasFiguras retóricas

As figuras retóricas têm um poder persuasivo subliminar, o que ativa uma região do cérebro responsável pelas emoções que sentimos.

Figuras retóricas têm um caráter funcional

Figuras estilísticas têm o objetivo de causar emoção estética

Figuras retóricas se dividem em quatro grupos: figuras de som, de palavra, de construção e de pensamento.

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Figuras de somFiguras de som Elas estão ligadas à seleção de palavras por suas

sonoridades.

Na fala, a escolha das palavras é intuitiva, se dá a partir de palavras-gatilho e reúne as funções mnemônicas e rítmicas.

EXEMPLO:

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Figuras de somFiguras de som As figuras de som existem, segundo o autor, quando há um

controle do processo de escolha sonora das palavras para produzir sentido dentro de uma argumentação

PARANOMÁSIA - Aproximação de palavras

de sons parecidos, mas de significados distintos

HOMEOTELEUTO - Repetição de sons na parte final das palavras. Pode se

confundido com a rima (poesia). Homeoteleuto

(prosa).

EXEMPLO 1: Devemos fazer isso depressa, mas não às

pressas.

EXEMPLO 2: Pense forte, pense Ford!

EXEMPLO: O sol cresce, amadurece – Trecho de

Sagarana, de Guimarães Rosa

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Figuras de somFiguras de somLetra da música Samba em Prelúdio, de Vinícius de Morais, reúne paranomásia e homeoteleuto ao mesmo tempo:

“Ah que saudadeque vontade de ver renascer

nossa vidaVolta querido

os meus braços precisam dos teusTeus abraços precisam dos meus

Estou tão sozinhatenho os olhos cansados de olhar

para o alémVem ver a vida

Sem você meu amor eu não souninguém”

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Figuras de palavraFiguras de palavraMetonímia (do grego metonymía = emprego de um

nome pelo outro. É o uso da parte pelo todo)

“Ao lermos Machado de Assis, indubitavelmente percebemos que se trata de um autor à frente de seu tempo.”

No caso, usou-se “Machado de Assis”, o autor, em lugar da obra dele.

Cotidianamente, a metonímia é usada com frequência, ex.: Xerox (em lugar de fotocopiadora), Toddy (em lugar de achocolatado em pó), Maizena (em lugar de amido de milho) etc.

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Figuras de palavraFiguras de palavra

Metáfora (do grego metaphorá = transportedo sentido próprio, dicionarizado, para o figurado), é uma comparação abreviada.

Maria é linda como uma flor. (comparação). Outros termos usados na comparação, além de “como”: tal qual, igual, parecida, semelhante (normalmente antecedidos pelo verbo ser).

 

Maria é uma flor (metáfora) 

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Figuras de palavraFiguras de palavraTipos de metáforas, segundo J. V. Jensen, no artigo

“Metaphorical Constructs for the Problem-solving Process”:

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Metáforas de restauraçãoMetáforas de restauração Metáfora médica, de roubo, de conserto e de limpeza

EXEMPLOS: “É preciso extirpar da sociedade o câncer da corrupção, utilizando-se os remédios jurídicos adequados.” (metáfora médica) “O problema [da exclusão], muitas vezes, começa na escola, onde práticas de bulliyng roubam de crianças e adolescentes sua autoestima.” (metáfora de roubo) “Os fatos ora apresentados quebram paradigmas já caducos.” (metáfora de conserto) “Da observação, tive de passar à participação e intervir na discussão aguerrida entre dois alunos; delicadamente, pedi que um deles (o mais alterado) se retirasse e

fosse ‘arejar as ideias’.” (metáfora da limpeza)

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Metáforas de percursoMetáforas de percurso Metáfora de percurso em terra, no mar e de cativeiro, cf. Jensen, e também percurso no espaço aéreo e sideral, cf. Abreu

EXEMPLOS: “Na trilha do pensamento de Bakhtin, podemos dizer que [...]” (percurso em terra) “Para o ilustre Ministro, o Plano Real fez a economia do país navegar em águas cristalinas.” (percurso no mar) “Preso a uma concepção distorcida do fenômeno, o autor erroneamente conceitua o termo [...]” (cativeiro) “Decolam as vendas de livros eletrônicos, após o surgimento de novos dispositivos e aplicativos para leitura em tela.” (percurso aéreo)

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Metáforas de unificaçãoMetáforas de unificação Metáfora de parentesco, pastoral e esportiva

EXEMPLOS: “Cresce a olhos vistos a família de dispositivos móveis que servem de suporte para livros eletrônicos”. (metáfora de parentesco) “Após as intensas chuvas de janeiro deste ano, foi preciso arrebanhar na cidade voluntários dispostos a reparar os estragos causados pela força das águas.”

(metáfora pastoral)  “E., aluna do 5º ano, tirou de letra a pergunta capciosa [sobre virgindade] que lhe fez H., aluno do 6º ano, quando participavam do seminário sobre a

influência da escola na formação dos jovens.” (metáfora esportiva)

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Metáforas criativasMetáforas criativas Metáforas de construção, tecelagem, composição musical e de lavrador

EXEMPLOS: “Não se devem erigir leis ao deus-dará.” (metáfora de construção) “Na tessitura da cena enunciativa, podem-se perceber inúmeras outras vozes, além da do autor.” (metáfora de tecelagem) “É preciso orquestrar a multiplicidade de vozes no texto [...]” (metáfora de composição musical) “Ainda na seara de Kant, convém notar as diferenças entre os conceitos [...]” (metáfora de lavrador)

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Metáforas naturaisMetáforas naturais Metáfora de claro-escuro, de fenômenos naturais e biológica

EXEMPLOS: “Necessário trazer a lume as ideias de Castilho (2007), a fim de melhor entendimento do tema ora em análise.” (metáfora do claro-escuro) “O brainstorm é bastante utilizado para dar início à elaboração de algum texto acadêmico.” (fenômeno natural) “O consumidor nem sempre consegue discernir com clareza quando lhe vendem ‘gato por lebre’.” (metáfora biológica)

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Segundo Abreu, “Podemos escolher a Segundo Abreu, “Podemos escolher a metáfora de acordo com a orientação metáfora de acordo com a orientação que queremos imprimir à nossa que queremos imprimir à nossa argumentação, uma vez que o domínio argumentação, uma vez que o domínio de onde a tiramos compõe uma espécie de onde a tiramos compõe uma espécie de ‘célula cognitiva’ que chamamos de de ‘célula cognitiva’ que chamamos de FRAME” (p. 123-124).FRAME” (p. 123-124).

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Figuras de construçãoFiguras de construçãoPleonasmo (do grego pleonasmos = excesso)

“A ProQuest reconhece que pesquisar em banco de dados com matérias (historical databases) é um desafio para os usuários. A empresa detecta pelo menos três problemas: a) mudança na grafia da palavra: com o passar dos anos, uma vez que a língua é viva, a grafia de algumas palavras modifica-se; b) mudança de terminologia: as terminologias de algumas palavras também mudam. Por exemplo, Lula em 1968 tem um sentido e, hoje, no Brasil, pelo menos dois; e c) imperfeições nos dados: datas erradas, troca de letras em nomes, dados imprecisos e outros.”(Jornalismo inteligente na era do data mining/ Walter Teixeira Lima Junior)

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Figuras de construçãoFiguras de construçãoHipálage (do grego hypallagé = troca)

“A FLOR NO ASFALTOConheço esta estrada genocida, o começo da Rio - Petrópolis. Duvido que se encontre um trecho rodoviário ou urbano mais assassino do que esse. São tantos os acidentes que já nem se abre inquérito. Quem atravessa a Avenida Brasil fora da passarela quer morrer. Se morre, ninguém liga. Aparece aquela velinha acesa, o corpo é coberto por uma folha de jornal e pronto. Não se fala mais nisso.”(Oto Lara Resende)

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Figuras de construçãoFiguras de construçãoAnáfora (do grego anaphorá = ato de se elevar)

“A cultura, daqui em diante, está não só recortada em peças destacadas, como também partida em dois blocos. A grande separação entre a cultura das humanidades e a cultura científica, iniciada no século passado e agravada neste século XX, desencadeia sérias consequências para ambas. A cultura humanística é uma cultura genérica, que, pela via da filosofia, do ensaio, do romance, alimenta a inteligência geral, enfrenta as grandes interrogações humanas, estimula a reflexão sobre o saber e favorece a integração pessoal dos conhecimentos. A cultura científica, bem diferente por natureza, separa as áreas do conhecimento; acarreta admiráveis descobertas, teorias geniais, mas não uma reflexão sobre o destino humano e sobre o futuro da própria ciência. A cultura das humanidades tende a se tornar um moinho despossuído do grão das conquistas científicas sobre o mundo e sobre a vida, que deveria alimentar suas grandes interrogações (...).”

(A cabeça bem feita: repensar a reforma e reformar o pensamento/ Edgar Morin)

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Figuras de construçãoFiguras de construçãoEpístrofe (do grego espistrophé = ato de fazer virar)

Mas dir-me-eis: “Padre, os pregadores de hoje não pregam do Evangelho, não pregam das Sagradas Escrituras? Pois como não pregam a palavra de Deus? – Esse é o mal. Pregam a palavra de Deus, mas não pregam a palavra de Deus. As palavras de Deus, pregadas no sentido em que Deus as disse, são palavras de Deus; mas pregadas no sentido que nós queremos, não são palavras de Deus, antes podem ser do Demônio.”(Sermão da Sexagésima/ Padre Antônio Vieira)

Page 45: Introdução à retórica

Figuras de construçãoFiguras de construçãoConcatenação

“Freud dizia que há três funções impossíveis por definição: educar, governar, psicanalisar. É que são mais que funções ou profissões. O caráter funcional do ensino leva a reduzir o professor ao funcionário. O caráter profissional do ensino leva a reduzir o professor ao especialista. O ensino deve voltar a ser não apenas uma função, uma especialização, um profissão, mas também uma tarefa de saúde pública: uma missão. Uma missão de transmissão. A transmissão exige, evidentemente, competência, mas também requer, além de uma técnica, uma arte.Exige algo que não é mencionado em nenhum manual, mas que Platão já havia acusado como condição indispensável a todo ensino: o eros, que é, a um só tempo, desejo, prazer e amor; desejo e prazer.”

(A cabeça bem feita: repensar a reforma e reformar o pensamento/ Edgar Morin)

Page 46: Introdução à retórica

Figuras de pensamentoFiguras de pensamentoAntítese (do grego antíthesis = oposição)

“Para vários historiadores das práticas da leitura e do livro, o leitor pode ser retratado em diversas posturas ao longo da história de sua relação com o dispositivo de ler. Primeiro de pé, com o rolo nas mãos, desfiando o texto em direção horizontal; depois, ainda de pé, em recinto fechado, folheando um códice pesado e grande; mais tarde, sentado ou de pé, ao ar livre ou em um gabinete, absorvido por um livro pequeno, portátil, mídia móvel, completamente conhecedor das técnicas de ler aquele objeto. Atualmente, é possível ler sentado, com as pernas encolhidas sob um teclado e olhos vidrados na luz do monitor.”

(Tese: Navegar lendo, ler navegando/ Ana Elisa Ribeiro)

Page 47: Introdução à retórica

Figuras de pensamentoFiguras de pensamentoParadoxo (do grego parádoxos = contrário à previsão)

“Marcuschi (2004) associou o hipertexto aos estudos sobre gêneros textuais,cuidando de refletir sobre os gêneros surgidos a partir das novas tecnologias. Para o autor, “Os gêneros emergentes nessa nova tecnologia são relativamente variados, mas a maioria deles tem similares em outros ambientes, tanto na oralidade como na escrita” (2004, p. 13).Também o leitor e a leitura precisam ser repensados.Coscarelli (principalmente 2003a e 2005, com RIBEIRO) tem se esforçado por trabalhar uma concepção de hipertexto que o torne palpável para o professor, aquele que, para ela, pode e deve mudar a sala de aula. Afora a preocupação com a face pedagógica da leitura de hipertextos, Coscarelli dá lugar de destaque a uma outra preocupação: mostrar que toda leitura é hipertextual, independentemente de a realização do texto ser “linear” ou não. A autora parece sugerir um conceito de hipertexto como arquitetura, montagem, já que pode ser apenas a exteriorização de um “jeito de pensar”. Para ela, não pode haver novidade no hipertexto que o torne tão diverso do que já se conhece sobre a leitura.”

(Tese: Navegar lendo, ler navegando/ Ana Elisa Ribeiro)

Page 48: Introdução à retórica

Figuras de pensamentoFiguras de pensamento Alusão (do latim allusione = ação de brincar com)

Análise do Discurso: polifonia/intertextualidade

“O estouro da bolha pontocom jogou água fria nessa conversa sobre revolução digital. Agora, a convergência ressurge como um importante ponto de referência, à medida que as velhas e novas empresas tentam imaginar o futuro da indústria do entretenimento.”

(Cultura da Convergência/Henry Jenkins)

Page 49: Introdução à retórica

“Como terei condições, quando tiver escolhido uma tese de adesão inicial, de apresentá-la desenhada em metáfora?”

"Como terei condições, quando for utilizar uma técnica argumentativa ou trabalhar com os valores do outro, de pintar tudo isso com palavras sonoras ou com figuras de construção?”

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