INTRODUÇÃO MONOGRAFIA ADELINA

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10 INTRODUÇÃO A avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino e aprendizagem. Por meio dela, os resultados que vão sendo obtidos no decorrer do trabalho conjunto do professor e dos alunos são comparados com os objetivos propostos, a fim de constatar progressos, dificuldades e, também, reorientar o trabalho docente. Assim, a avaliação é uma tarefa complexa que não se resume a realização de provas e atribuições de notas. A escola não pode estar desvinculada da vida, do mundo que a rodeia, mas tem de estar em sintonia com a comunidade e com o tempo em que vivemos. Logo, a escola responsável não ensina a memorizar, mas a refletir, fazer relações entre dados, informações e idéias, desafiar o senso comum, aprender a pesquisar saber trocar idéias, ou seja, aprender a aprender aprendendo. Na nossa sociedade, reservamos às escolas o poder de conferir notas e certificados que, atestam o conhecimento ou a capacidade do indivíduo, tornando assim imensa a responsabilidade de quem avalia. A avaliação é comumente, acompanhada de dúvidas, incertezas e, muitas vezes, de incoerências. A avaliação é uma reflexão sobre o nível de qualidade do trabalho escolar tanto do professor como dos alunos. Mas, para a grande maioria das pessoas que passaram por uma escola, há

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INTRODUÇÃO

A avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho

docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino e

aprendizagem. Por meio dela, os resultados que vão sendo obtidos no decorrer do

trabalho conjunto do professor e dos alunos são comparados com os objetivos

propostos, a fim de constatar progressos, dificuldades e, também, reorientar o

trabalho docente. Assim, a avaliação é uma tarefa complexa que não se resume a

realização de provas e atribuições de notas.

A escola não pode estar desvinculada da vida, do mundo que a rodeia, mas

tem de estar em sintonia com a comunidade e com o tempo em que vivemos. Logo,

a escola responsável não ensina a memorizar, mas a refletir, fazer relações entre

dados, informações e idéias, desafiar o senso comum, aprender a pesquisar saber

trocar idéias, ou seja, aprender a aprender aprendendo.

Na nossa sociedade, reservamos às escolas o poder de conferir notas e

certificados que, atestam o conhecimento ou a capacidade do indivíduo, tornando

assim imensa a responsabilidade de quem avalia. A avaliação é comumente,

acompanhada de dúvidas, incertezas e, muitas vezes, de incoerências.

A avaliação é uma reflexão sobre o nível de qualidade do trabalho escolar

tanto do professor como dos alunos. Mas, para a grande maioria das pessoas que

passaram por uma escola, há sempre a lembrança de sabatina, prova exame,

verificação, avaliação. Isso se deve, sem dúvida, a experiências negativas

com relação à avaliação.

O professor entra na sala de aula e anuncia: – Hoje é dia de prova.

Pode-se observar a ansiedade em todos os alunos. Uns, têm um ar

pensativo, outros tentam encontrar uma inspiração e/ou refletem

profundamente. Mas, o último pensamento de todos em relação à prova é

a nota.

Assim, o termo avaliar tem sido constantemente associado a

expressões como: fazer prova fazer exame, atribuir nota, repetir ou passar

de ano. Esta associação, tão presente ainda em nossas escolas, é

resultante de uma concepção pedagógica ultrapassada, mas

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tradicionalmente dominante. Nela, a educação é concebida como mera

transmissão e memorização de informações prontas e o aluno é visto

como um ser passivo e receptivo. Em conseqüência, a avaliação se

restringe a medir a quantidade de informações retidas. Nessa abordagem,

em que educar se confunde com informar, a avaliação assume um caráter

seletivo e competitivo.

No presente trabalho, entendemos a escola como local privilegiado

para a construção de conhecimento e valores, que possibilitem a

compreensão da nossa sociedade e a organização da ação educacional

com vistas à equidade, à autonomia e, conseqüentemente, à inclusão dos

indivíduos na vida cidadã. Logo, faz-se necessário focalizar a avaliação da

aprendizagem como um processo contínuo de pesquisas que visa

interpretar os conhecimentos, habilidades e atitudes dos alunos, tendo em

vista mudanças esperadas no comportamento, propostas nos objetivos, a

fim de que haja condições de decidir sobre alternativas do planejamento

do trabalho do professor e da escola como um todo.

Assim, a avaliação deve ser focalizada como um processo orientador

e interativo que deve ser “a reflexão transformada em ação”. Ação essa

que nos impulsione a novas reflexões.

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CAPÍTULO I

A CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA PRÁTICA AVALIATIVA

Todos nós educadores desejamos uma escola de qualidade, prazerosa e

competente, que permita a transformação da sociedade. Queremos uma escola que

possibilite aos alunos uma vida cidadã plena, dentro de uma sociedade humana,

democrática, justa, ética e solidária, em consonância com o nosso tempo e com a

natureza do trabalho didático-pedagógico.

Dentro de uma concepção pedagógica contemporânea, a educação é

concebida como a vivência de experiências múltiplas e variadas, tendo em vista o

desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo e social do aluno. Na sucessão de

experiências vivenciadas, os conteúdos são os instrumentos utilizados para ativar e

mobilizar os esquemas mentais operatórios de assimilação. Nesse contexto, o aluno

é ativo, dinâmico e sujeito, que participa da construção de seu próprio

conhecimento.

Dentro dessa visão, em que educar é formar e aprender é construir o. Próprio

saber, a avaliação assume dimensões mais abrangentes. Ela não se reduz apenas a

realização de provas e atribuições de notas. Sua conotação se amplia e se desloca,

no sentido de verificar em que medida os alunos estão alcançando os objetivos

propostos nos projetos pedagógicos para o processo ensino-aprendizagem.

Tais objetivos se traduzem em mudança de comportamentos motores,

cognitivos, afetivos e sociais. Se o ato de ensinar e aprender consiste em tentar

realizar esses objetivos, o ato de avaliar consiste em verificar se eles estão sendo

realmente atingidos e em que grau se dá essa consecução, para ajudar o aluno a

avançar na aprendizagem e na construção de seu saber. Nessa perspectiva, a

avaliação assume um sentido orientador, cooperativo e interativo.

No pensar de Haydt, tal concepção é reafirmada:

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A educação: não mudou apenas os métodos de ensino, que se tornaram ativos, mas incluir também a concepção de avaliação. Antes, ela tinha um caráter seletivo, uma vez que era vista apenas como uma forma de classificar e promover o aluno de uma série pra outra ou de um grau para outro. Atualmente, a avaliação assume novas funções, pois é um meio de diagnosticar e de verificar em que medida os objetivos propostos para o processo ensino-aprendizagem estão sendo atingidos (Haydt, 1988, p.14).

Assim, a avaliação assume uma dimensão orientadora, cooperativa

e interativa, onde os resultados obtidos no decorrer do trabalho conjunto

do professor e dos alunos são comparados com os objetivos propostos, a

fim de constatar progressos, dificuldades e, também reorientar o trabalho

docente e a construção dos projetos pedagógicos.

Como podemos observar, o conceito de avaliação da aprendizagem

está ligado a uma concepção pedagógica mais ampla, isto é, a uma visão

de educação. Logo, o conceito de avaliação depende, portanto, da postura

político-filosófica adotada. Além disso, a forma de encarar e realizar a

avaliação reflete a atitude do professor em sua interação com os

alunos/classe, bem como suas relações com o aluno.

Por sua vez, um professor que deseja ser um profissional

competente, responsável e seguro de sua prática docente, que orienta as

atividades de aprendizagem dos alunos colaborando com eles na

construção/reconstrução do conhecimento, tenderá a encarar a avaliação

como um processo orientador e interativo, como uma forma de

diagnóstico dos avanços e dificuldades dos alunos e como indicador para o

replanejamento de seu trabalho docente.

Nessa perspectiva, a avaliação ajuda o aluno a progredir na

aprendizagem, ajuda o professor a aperfeiçoar sua prática pedagógica e a

escola a reconstruir seu projeto pedagógico. Avaliar não é reprovar, mas

sim, compreender e promover, a cada momento, o desenvolvimento pleno

de quem vivência um processo de aprendizagem.

1.2 Avaliação como facilitadora de aprendizagem

A avaliação deve ser a “reflexão transformada em ação”. Ação essa que nos

impulsione as novas reflexões. Reflexão permanente do educador sobre sua

realidade e acompanhamento, passa a passo, do educando na sua trajetória de

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construção do conhecimento. Um processo interativo, através do qual educando e

educadores aprendem sobre si mesmos e sobre a realidade escolar no ato próprio

da avaliação. Não se deseja uma avaliação autoritária que assuma a

responsabilidade pelo diagnóstico do desempenho do aluno e a partir daí, tomam-se

decisões fora do alcance que a própria avaliação oferece.

A avaliação deixa de ser um momento final do processo educativo

para se transformar na busca incessante de compreensão das dificuldades

do educando e na dinamização de novas oportunidades de conhecimento.

Na medida em que a ação avaliativa exerce uma função dialogada e

interativa, ela promove os seres morais e intelectualmente, tornando-se

críticos e participativos, inseridos no contato social e político. É necessário

avaliarmos os alunos através da observação diária de seu desempenho,

individual e em grupo que nos leva a acreditar que a avaliação é mais do

que produção de conhecimento, é um ato político.

É importante destacar a confiança mútua entre educador e

educando quanto às possibilidades de reorganização da ação educativa e

do saber, transformando o ato avaliativo em um momento de reflexão,

descoberta e troca de conhecimentos e aprendizagem.

A avaliação é a mediação entre o ensino do professor e as aprendizagens do professor e as aprendizagens do aluno, é o fio da comunicação entre formas de ensinar e formas de aprender. É preciso considerar que os alunos aprendem diferentemente porque têm histórias de vida diferentes, são sujeitos históricos, e isso condiciona sua relação com o mundo e influencia sua forma de aprender. Avaliar, então é também buscar informações sobre o aluno (sua vida, sua comunidade, sua família, seus sonhos...) é conhecer o sujeito e seu jeito de aprender.

Finalmente, os professores devem converter os métodos tradicionais

de verificação de erros e acertos em métodos investigativos, de

interpretação das alternativas de soluções propostas pelos alunos às

diferentes situações de aprendizagem. O compromisso do educador com o

acompanhamento do processo de construção do conhecimento do

educando numa postura crítica que privilegie o entendimento e não

memorização.

A avaliação é concebida como um elemento integrador entre a

aprendizagem do aluno e a atuação do professor no processo de

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construção do conhecimento e envolve múltiplos aspectos. Esta deve ser

entendida como um conjunto de atuações e ações e tem por função

realimentar, sustentar e adequar a intervenção pedagógica.

A verificação e o controle do rendimento escolar para efeito de

avaliação é uma função didática. A avaliação do ensino e da

aprendizagem deve ser vista como um processo sistemático e contínuo,

no decurso do qual vão sendo obtidas informações, atribuindo-lhes

valores.

Avaliar bem os nossos alunos tem sido “sempre” um dos maiores

desafios para o trabalho educacional, uma vez que pode representar para

eles a abertura ou o fechamento de possibilidades de estudar, aprender e

se construir como cidadãos em processo de formação.

A avaliação da aprendizagem supõe sempre a existência de um

referencial teórico, onde estão implícitos os conceitos que temos de

pessoa humana, de sociedade, de educação e avaliação, mesmo que não

tenhamos consciência deles. Os diversos autores que têm analisando a

avaliação afirmam que ela pode exercer duas funções: a classificatória e a

diagnóstico.

A Avaliação classificatória hierarquiza, seleciona e classifica os

alunos. A avaliação classificatória reforça o lado cruel da escola, pois, é

uma ferramenta para aprovação ou reprovação. A nota ou o conceito

atribuído ao aluno tem sido valorizado, numa relação direta, à aprovação

ou à reprovação, tornando-se fim, em si mesma, ficando, assim,

distanciada da relação com o processo ensino-aprendizagem. Dessa

maneira, tudo é feito para melhorar a nota. Estas são comumente

utilizadas para reprimir e controlar a disciplina, revelando total ausência

de reflexão sobre o desenvolvimento da aprendizagem e o significado da

avaliação.

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CAPÍTULO II

O PROCESSO DE AVALIAÇÃO ESCOLAR

Uma das questões que apresenta complexidade e significação no contexto do

sistema escolar brasileiro ainda diz respeito ao sistema de avaliação do rendimento

escolar de alunos e, por que não dizer da própria instituição como mecanismo de

formação e integração do ser social no âmbito de uma política social

empreendedora.

No Brasil, a avaliação é marcada pela influência americana que se propaga

entre seus educadores e prossegue com passos lentos no meio educacional, sendo

que, realmente, a avaliação tornou-se assunto relevante e questionável por parte

dos educadores.

Conforme Demo (1996) apesar da história da avaliação ser tão remota

verifica-se que o termo avaliação até 1965 e que no Brasil era usado em educação

como sinônimo de dar “notas”. Pouca avaliação verdadeiramente de programas

educacionais foi realizada. Hoje, a avaliação está presente cada vez mais no

trabalho didático do professor exigindo deste, competência intelectual e pedagógica,

como ainda, uma série de requisitos metodológicos que, de acordo com o seu

conceito, se fazem necessários ao bom avaliador.

Assim, compreender a concepção de avaliação só é possível quando se

entende o sentido e significado dos eixos que irão nortear a concepção de ciclo de

formação. Esta por sua vez só será possível quando se compreender os princípios

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de organização curricular e de ensino propostos (conteúdos e processos), assim

como de organização de trabalho pedagógico e administrativo da escola

(organização dos tempos).

Torna-se importante assumir a escola como um espaço de direito do cidadão

e como um lugar onde atuam sujeitos socioculturais e históricos que se formam

mutuamente através das relações sociais. Dessa maneira, apoia-se no fato de que a

escola é educativa por si mesma, pelas circunstâncias de seu relacionamento com a

sociedade em sua dinâmica, em sua forma de ensinar / aprender e na organização

de seu trabalho (SANT’ANNA, 1995).

A concepção de avaliação que perpassa essa lógica é a de um processo que

deve abranger a organização escolar como um todo: as relações internas à escola, o

trabalho do docente, organização do ensino, o processo de aprendizagem do aluno

e, ainda, a relação com a sociedade.

Nessa perspectiva torna-se fundamental a constituição de um conceito de

avaliação escolar que entenda as necessidades de escolarização das camadas

populares, porque são elas que mais tem sofrido com o modelo de escola atual. E,

se o movimento amplo da sociedade impõe um novo tipo de escola, impõe também,

a necessidade de um novo referencial para a constituição dos processos de

avaliação.

Sabe-se que a avaliação é um processo contínuo de pesquisa que visa

estudar e interpretar os conhecimentos, habilidades e atitudes dos alunos, tendo em

vista mudanças esperadas no comportamento, propostas nos objetivos da escola, a

fim de que haja condições de propor alternativas no planejamento da ação

pedagógica do professor e da escola como um todo.

Segundo Hoffmann (1991), a avaliação deve ser entendida como um

processo de pesquisa, onde o professor e a escola devem está sempre investigando

as melhores situações, as mais eficientes formas de coleta e sistematização de

dados, sua utilização e compreensão, como o processo mais eficiente de

capacitação do professor em evolução. A avaliação visa estudar e interpretar os

conhecimentos e habilidades dos alunos, tanto nos aspectos quantitativos quanto

nos qualitativos.

A escola não deve preocupar-se exclusivamente com as notas decorrentes

dos resultados dos testes de conteúdos, mais deve focalizar, sobretudo, os aspectos

do desenvolvimento como relacionamento social, interesse, sentimentos em relação

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a si mesmo e em relação aos outros. Como também a escola deve se preocupar

durante o processo ensino-aprendizagem para que o aluno analise, adquira espírito

crítico, sendo capaz de resolver por se mesmo dificuldades que se lhe apresentam,

seja qual for.

A avaliação deve ter em vista mudanças esperadas no comportamento dos

alunos e propostas objetivas na escola. O professor só poderá avaliar a

aprendizagem se tiver um pensamento claro daquilo que pretende atingir, ou seja,

de seus objetivos, que são proposições sobre o comportamento esperado para os

alunos. Quando mais claramente forem propostos, melhores guias serão para a

ação do professor e para o seu procedimento de avaliação, portanto, quando o

professor está avaliando, ele quer verificar se o aluno está atingindo os objetivos,

pleno ou parcialmente.

A avaliação deve dar condições para que seja possível tomar decisões sobre

alternativas no plano de ensino e a coleta de dados para o planejamento do trabalho

é um aspecto fundamental da avaliação visto que esta consiste num diagnóstico do

desenvolvimento do aluno. Uma vez que a situação esteja caracterizada, quando o

professor sabe exatamente como estão seus alunos e quais os progressos feitos,

terá elementos para planejar sua ação didática sobre dados reais.

A função primordial no processo de avaliação está, pois, no aperfeiçoamento

das situações de aprendizagem e de currículo como todo. Esta posição difere

daquela em que a avaliação é um momento especial do ano letivo e cujos resultados

são esperados para serem utilizados unicamente nas decisões sobre a promoção ou

retenção do aluno e para reagrupar as classes.

A avaliação é, pois, um exercício mental que permite a análise do

conhecimento, o diagnóstico, a medida e / ou julgamento de um objeto. Esse objeto

deve ser a própria realidade daqueles que a fazem. Avaliar seria um processo de

autoconhecimento e, também, o conhecimento da realidade e da relação dos

sujeitos com essa realidade. Seria um processo de análise, julgamento, recriação e /

ou ressignificação das instituições que fazem parte dessa realidade e das pessoas

que a mantém.

Questionam-se, assim, os processos de avaliação da aprendizagem dos

alunos que estão, usualmente, centrados num desempenho cognitivo, sem

referências a um Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola, e, ainda, o sentido

das avaliações escolares que se direcionam, especialmente, para o ato de aprovar

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ou reprovar os alunos. A avaliação deve priorizar a identificação dos problemas, dos

avanços e verificar as possibilidades de redimensionamentos e continuidades do

processo educativo. A avaliação se constitui num processo investigador, formativo e

contínuo, do qual o professor, alunos e pais participam ativamente.

2.1 A Prática da Avaliação com fins quantitativos e seletivos.

Segundo Luckesi, a característica que de imediato se evidência na nossa

prática educativa é de que a avaliação da aprendizagem ganhou um espaço tão

amplo nos processos de ensino que nossa prática educativa escolar passou a ser

direcionada por uma “pedagogia de exame”. O mais visível e explícito exemplo

dessa pedagogia está na prática de ensino do terceiro ano do segundo grau, em que

todas as atividades docentes e discentes estão voltadas para um treinamento de

“resolver provas”, tendo em vista a preparação para o vestibular, como porta de

entrada para a Universidade. Os cursinhos preparatórios ao vestibular são mais

exacerbados ainda no processo de treinamento de resolução de provas.

Por esta razão, todos envolvidos: pais, sistema de ensino, profissionais da

educação, professores e alunos, têm suas atenções centradas na promoção, ou

não, do estudante de uma série de escolaridade para outra. O sistema de ensino

está interessado nos percentuais de aprovação ou reprovação do total dos

educandos; os pais estão desejosos de que seus filhos avancem nas séries de

escolaridade; os professores se utilizam permanentemente dos procedimentos de

avaliação como elementos motivadores dos estudantes, por meio da ameaça; os

estudantes estão sempre na expectativa de virem a ser aprovados ou reprovados e,

para isso, servem-se dos mais variados expedientes.

Os alunos têm sua atenção centrada na promoção por que garantirá, na visão

da sociedade, o sucesso, a ascensão social. Ao iniciar o ano letivo, de imediato,

estão interessados em saber como se dará o processo de promoção no final do

período escolar. Procuram saber as normas e os modos pelos quais as notas serão

obtidas e manipuladas em função da promoção de uma série para outra. O que

predomina é a nota, não importa como elas foram obtidas, nem por quais caminhos.

São operadas e manipuladas como se nada tivessem a ver com o percurso ativo do

processo de aprendizagem.

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“A nota é uma mensagem, não diz do início ao aluno o que ele sabe, mas o

que pode lhe acontecer.” (Perrenoud, 1999, p. 12). Os professores utilizam as

provas como instrumentos de ameaça e tortura prévia dos alunos, alegando ser um

elemento motivador da aprendizagem e se percebem que seu trabalho não está

surtindo o efeito esperado, renovam o rol de ameaças. Esse comportamento

demonstra o quanto o professor utiliza-se das provas como um fator negativo de

motivação. E assim, o estudante deverá se dedicar aos estudos não porque os

conteúdos sejam importantes, significativos e prazerosos de serem aprendidos, mas

sim por que são ameaçados por uma prova.

Os pais estão na expectativa das notas dos seus filhos para que sejam

aprovados. Na Reunião de Pais e Mestres que ocorre no final de cada bimestre

letivo, são apresentados aos pais os boletins e a função do professor é alertar sobre

as crianças que estão “com problemas” de notas baixas de aproveitamento. Alguns

pais se satisfazem ao ver os boletins, enquanto outros sentem a necessidade de

conversar com o professor devido às notas baixas, mas não há meio para esse

diálogo ocorrer, pois a reunião é realizada coletivamente, com todos os pais juntos

para conversar com um único professor num mesmo momento.

O ritual é criado para que efetivamente não haja um encontro educativo, que

é um momento que seu pai e professor conversam sobre a aprendizagem do aluno e

juntos colaboram para o seu desenvolvimento pleno. Desse modo: A avaliação tem

a sua função, quando se dirige a família, de prevenir, no duplo sentido de impedir e

de advertir. Ela alerta contra o fracasso que se anuncia ou, ao contrário tranqüiliza

acrescentando desde que continue assim. (Perrenoud, 1999, p.12)

O estabelecimento de ensino está centrado nos resultados das provas e

exames. Sendo que as curvas estatísticas são suficientes, pois demonstram o

quadro global dos alunos no que se refere ao seu processo de promoção ou não nas

séries de escolaridade. Muitas vezes, os quadros estatísticos ocultam a realidade,

isto é, os números não são sinônimos de uma aprendizagem significativa, mas

satisfaz os interesses da sociedade que impõe o projeto educacional e controla o

sistema de ensino.

O sistema social se contenta com as notas obtidas nos exames e está atento

aos resultados gerais. Porém, se uma instituição escolar inicia um trabalho

efetivamente significativo, ou seja, na perspectiva da formação de uma consciência

crítica do cidadão, o sistema social não aceita e os mecanismos de controle são

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automaticamente acionados; pais que reclamam da escola, verbas que não chegam,

inquéritos administrativos.

Os sistemas de exames, com suas conseqüências em termos de notas e suas

manipulações, polarizam a todos. Os acontecimentos do processo de ensino e

aprendizagem, seja para analisá-los criticamente, seja para encaminhá-los de uma

forma mais significativa e vitalizaste, permanecem adormecidos em um canto. De

fato, a nossa prática educativa se pauta por uma “pedagogia do exame. (Luckesi,

1994, p. 21)

Segundo Luckesi, as práticas atuais de avaliação não ocorrem por acaso,

pois já estavam inscritas nas pedagogias dos séculos XVI e XVII, no processo de

emergência e cristalização da sociedade burguesa. Além de vivermos ainda sob a

hegemonia da pedagogia tradicional, estamos mergulhados nos processos

econômicos, sociais e políticos da sociedade burguesa que aperfeiçoou seus

mecanismos de controle. Entre outros, destaca-se a seletividade escolar e seus

processos de formação das personalidades dos educandos. O medo e o fetiche são

mecanismos imprescindíveis numa sociedade que não opera na transparência, mas

sim nos subterfúgios.

Sendo assim, ao longo da história da educação moderna e de nossa prática

educativa, a avaliação da aprendizagem escolar, por meio de exames e provas, foi

se tornando um fetiche, isto é, uma “entidade” criada pelo ser humano para atender

a uma necessidade, mas que se torna independente dele e o domina,

universalizando- se.

Segundo Luckesi a avaliação da aprendizagem escolar, além de ser praticada

com uma total independência do processo ensino-aprendizagem, vem ganhando

foros de independência da relação professor-aluno. As provas e exames são

realizados conforme o interesse do professor e do sistema. Não se leva em

consideração o que foi ensinado. As notas são registradas como se nada tivessem a

ver com a aprendizagem e a relação entre os sujeitos professor- aluno passa a ser

uma relação entre coisas: as notas.

A pedagogia de exame praticada nas escolas traz conseqüências graves:

Pedagogicamente, ela centraliza a atenção nos exames, não auxilia a aprendizagem

dos estudantes, secundariza o significado do ensino e da aprendizagem como

atividades significativas em si mesmas e superestima os exames; Psicologicamente,

é útil para desenvolver personalidades submissas. A sociedade, por intermédio do

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sistema de ensino desenvolve formas de ser da personalidade dos educandos que

se conformam aos seus ditames. Utiliza o autocontrole, sendo a pior forma de

controle, pois é assim que o sujeito se torna presa de si mesmo.

Sociologicamente, a avaliação da aprendizagem, utilizada de forma

fetichizada, é bastante útil para os processos de seletividade social. Sendo a

sociedade estruturada em classes e de modo desigual, a avaliação da

aprendizagem, então pode ser posta, sem a menor dificuldade, a favor do processo

de seletividade, desde que utilizada independentemente da construção da própria

aprendizagem. E assim, a avaliação está muito mais articulada com a reprovação do

que com a aprovação e daí vem a sua contribuição e colaboração para a

seletividade social do que já está posta entre as classes sociais.

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CAPÍTULO III

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR

Durante muito tempo, a avaliação escolar foi utilizada como um instrumento

pedagógico para classificar e rotular os alunos entre bons e maus. Instrumento

traiçoeiro da ideologia dominante e recurso para o controle disciplinar, utilizado

autoritamente como forma de ameaça para os alunos. Hoje em dia ela é vista pelos

estudiosos como um importante instrumento para os professores como auxílio para

alcançarem o fim principal da educação, o crescimento pleno dos alunos. Heranças

poderosas e consistentes ainda hoje se encontram inseridas na maneira de avaliar

os alunos. Estudar a avaliação é investigar a fundo a pedagogia que se pratica, pois

a avaliação nos permite verificar a eficácia do programa educacional e ainda

reorientar uma possível intervenção pedagógica.

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p. 81) a avaliação é

compreendida: “como um conjunto de atuações que tem a função de alimentar,

sustentar e orientar a intervenção pedagógica. Acontece contínua e

sistematicamente por meio da interpretação qualitativa do conhecimento construído

pelo aluno.”

Dessa maneira ela é entendida como: Elemento integrador entre a

aprendizagem e o ensino, conjunto de ações cujo objetivo é o ajuste e a orientação

da intervenção pedagógica para que o aluno aprenda da melhor forma; conjunto de

ações que busca obter informações sobre o que foi aprendido e como; elemento de

reflexão contínua para o professor sobre sua prática educativa, instrumento que

possibilita ao aluno tomar consciência de seus avanços, dificuldades e

possibilidades; ação que ocorre durante todo o processo de ensino e aprendizagem

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e não apenas em momentos específicos caracterizados como fechamento de

grandes etapas de trabalho. (BRASIL, 1997, p.83, 84).

É nesse processo dinâmico que a ação e a reflexão são inseparáveis,

processo no qual o professor estimulará seus alunos a avançar no crescimento e

ainda num repensar constante da sua prática. Sendo assim, independente se a

avaliação seja pontual ou contínua, ela deve estar voltada para o desenvolvimento

do educando. Só se pode avaliar aquilo que foi ensinado. A avaliação deve ser

compreendida como um espaço de interação, diálogo e discussão, pois na medida

em que a ação avaliativa exerce uma função dialógica e interativa, ela promove os

seres moral e intelectualmente, tornando-os críticos e participativos, inseridos no seu

contexto social e político. (HOFFMANN, 1991, p.23). Quando a avaliação consegue

alcançar o momento de análise, interação, diálogo, ela está aproximando da

construção de seres críticos, participativos e autônomos.

3.1 A avaliação da aprendizagem como processo construtivo de um novo fazer.

O processo de conquista do conhecimento pelo aluno ainda não está refletido

na avaliação. Para Wachowicz & Romanowski (2002), embora historicamente a

questão tenha evoluído muito, pois trabalha a realidade, a prática mais comum na

maioria das instituições de ensino ainda é um registro em forma de nota,

procedimento este que não tem as condições necessárias para revelar o processo

de aprendizagem, tratando-se apenas de uma contabilização dos resultados.

Quando se registra, em forma de nota, o resultado obtido pelo aluno,

fragmenta-se o processo de avaliação e introduz-se uma burocratização que leva à

perda do sentido do processo e da dinâmica da aprendizagem.

Se a avaliação tem sido reconhecida como uma função diretiva, ou seja, tem

a capacidade de estabelecer a direção do processo de aprendizagem, oriunda esta

capacidade de sua característica pragmática, a fragmentação e a burocratização

acima mencionadas levam à perda da dinamicidade do processo.

Os dados registrados são formais e não representam a realidade da

aprendizagem, embora apresentem conseqüências importantes para a vida pessoal

dos alunos, para a organização da instituição escolar e para a profissionalização do

professor.

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Uma descrição da avaliação e da aprendizagem poderia revelar todos os

fatos que aconteceram na sala de aula. Se fosse instituída, a descrição (e não a

prescrição) seria uma fonte de dados da realidade, desde que não houvesse uma

vinculação prescrita com os resultados.

A isenção advinda da necessidade de analisar a aprendizagem (e não julgá-

la) levaria o professor e os alunos a constatarem o que realmente ocorreu durante o

processo: se o professor e os alunos tivessem espaço para revelar os fatos tais

como eles realmente ocorreram, a avaliação seria real, principalmente discutidos

coletivamente.

No entanto, a prática das instituições não encontrou uma forma de agir que

tornasse possível essa isenção: as prescrições suplantam as descrições e os pré-

julgamentos impedem as observações. A conseqüência mais grave é que essa

arrogância não permite o aperfeiçoamento do processo de ensino e aprendizagem.

E este é o grande dilema da avaliação da aprendizagem.

O entendimento da avaliação, como sendo a medida dos ganhos da

aprendizagem pelo aluno, vem sofrendo denúncias há décadas, desde que as

teorias da educação escolar recolocaram a questão no âmbito da cognição.

Pretende-se uma mudança da avaliação de resultados para uma avaliação de

processo, indicando a possibilidade de realizar-se na prática pela descrição e não

pela prescrição da aprendizagem.

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CONCLUSÃO

A avaliação da aprendizagem não é uma punição e nem um instrumento de

controle e disciplina na Escola. Uma escola que demasiadamente classifica e

reprova seus alunos, não está cumprindo com o seu papel perante a sociedade, que

é o de ensinar a todos os alunos e contribuir para a formação humana destes. A

avaliação deve ser entendida como um suporte na condução do ato de ensinar e

aprender e que, portanto, uma boa prática avaliativa permite a análise dos

resultados e a escolha dos passos seguintes que vão reafirmar o compromisso com

a aprendizagem,

De acordo com os achados deste estudo e comparados igualmente com

outras pesquisas, os instrumentos de avaliação dependem da natureza da área de

estudo, dos objetivos traçados no planejamento bem como das condições de tempo

do professor e dos alunos, estando, pois, a avaliação, adequada aos métodos e

procedimentos usados no ensino. Nessa visão, a avaliação deixa de ser concebida

como processo de classificação, seleção e exclusão social e se torna ferramenta

indispensável para os docentes comprometidos com a construção coletiva de uma

escola de qualidade para todos.

Considerando que ainda é baixa a participação da comunidade escolar nas

decisões e planejamento do trabalho da instituição, cabe ao núcleo gestor se reunir,

discuti as dificuldades, planejar estratégias de solução, entender a linguagem e os

objetivos do processo avaliativo com seus professores e demais membros da

comunidade para que sejam sanadas as necessidades do alunado. O diálogo deve

ser ativo e coletivo buscando diminuir os índices negativos, sejam de desempenho,

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evasão ou repetência, pois o papel das avaliações externas é fazer com que a

escola lance um olhar crítico sobre si mesmo.

Finalmente, no processo ensino-aprendizagem, na interação

professor-aluno, pode concluir que juntos, acertamos, assumimos riscos,

alcançamos objetivos. A avaliação não pode servir para selecionar e

excluir o aluno desse processo, pois tal prática é uma violência ao direito à

educação. A avaliação deve sempre servir para redimensionar o

planejamento do professor e subsidiar o fazer pedagógico. Por

conseguinte, voltada para a transformação, a avaliação é muito mais do

que a expressão de determinar conceitos para os alunos, ela expressa a

postura do educador responsável, ético-político, competente e

comprometido com a construção do conhecimento e do desenvolvimento

de capacidades, habilidades, competências e atitudes numa escola

democrática e cidadã.

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REFERÊNCIAS

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