10
INTRODUÇÃO
A avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho
docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino e
aprendizagem. Por meio dela, os resultados que vão sendo obtidos no decorrer do
trabalho conjunto do professor e dos alunos são comparados com os objetivos
propostos, a fim de constatar progressos, dificuldades e, também, reorientar o
trabalho docente. Assim, a avaliação é uma tarefa complexa que não se resume a
realização de provas e atribuições de notas.
A escola não pode estar desvinculada da vida, do mundo que a rodeia, mas
tem de estar em sintonia com a comunidade e com o tempo em que vivemos. Logo,
a escola responsável não ensina a memorizar, mas a refletir, fazer relações entre
dados, informações e idéias, desafiar o senso comum, aprender a pesquisar saber
trocar idéias, ou seja, aprender a aprender aprendendo.
Na nossa sociedade, reservamos às escolas o poder de conferir notas e
certificados que, atestam o conhecimento ou a capacidade do indivíduo, tornando
assim imensa a responsabilidade de quem avalia. A avaliação é comumente,
acompanhada de dúvidas, incertezas e, muitas vezes, de incoerências.
A avaliação é uma reflexão sobre o nível de qualidade do trabalho escolar
tanto do professor como dos alunos. Mas, para a grande maioria das pessoas que
passaram por uma escola, há sempre a lembrança de sabatina, prova exame,
verificação, avaliação. Isso se deve, sem dúvida, a experiências negativas
com relação à avaliação.
O professor entra na sala de aula e anuncia: – Hoje é dia de prova.
Pode-se observar a ansiedade em todos os alunos. Uns, têm um ar
pensativo, outros tentam encontrar uma inspiração e/ou refletem
profundamente. Mas, o último pensamento de todos em relação à prova é
a nota.
Assim, o termo avaliar tem sido constantemente associado a
expressões como: fazer prova fazer exame, atribuir nota, repetir ou passar
de ano. Esta associação, tão presente ainda em nossas escolas, é
resultante de uma concepção pedagógica ultrapassada, mas
11
tradicionalmente dominante. Nela, a educação é concebida como mera
transmissão e memorização de informações prontas e o aluno é visto
como um ser passivo e receptivo. Em conseqüência, a avaliação se
restringe a medir a quantidade de informações retidas. Nessa abordagem,
em que educar se confunde com informar, a avaliação assume um caráter
seletivo e competitivo.
No presente trabalho, entendemos a escola como local privilegiado
para a construção de conhecimento e valores, que possibilitem a
compreensão da nossa sociedade e a organização da ação educacional
com vistas à equidade, à autonomia e, conseqüentemente, à inclusão dos
indivíduos na vida cidadã. Logo, faz-se necessário focalizar a avaliação da
aprendizagem como um processo contínuo de pesquisas que visa
interpretar os conhecimentos, habilidades e atitudes dos alunos, tendo em
vista mudanças esperadas no comportamento, propostas nos objetivos, a
fim de que haja condições de decidir sobre alternativas do planejamento
do trabalho do professor e da escola como um todo.
Assim, a avaliação deve ser focalizada como um processo orientador
e interativo que deve ser “a reflexão transformada em ação”. Ação essa
que nos impulsione a novas reflexões.
12
CAPÍTULO I
A CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA PRÁTICA AVALIATIVA
Todos nós educadores desejamos uma escola de qualidade, prazerosa e
competente, que permita a transformação da sociedade. Queremos uma escola que
possibilite aos alunos uma vida cidadã plena, dentro de uma sociedade humana,
democrática, justa, ética e solidária, em consonância com o nosso tempo e com a
natureza do trabalho didático-pedagógico.
Dentro de uma concepção pedagógica contemporânea, a educação é
concebida como a vivência de experiências múltiplas e variadas, tendo em vista o
desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo e social do aluno. Na sucessão de
experiências vivenciadas, os conteúdos são os instrumentos utilizados para ativar e
mobilizar os esquemas mentais operatórios de assimilação. Nesse contexto, o aluno
é ativo, dinâmico e sujeito, que participa da construção de seu próprio
conhecimento.
Dentro dessa visão, em que educar é formar e aprender é construir o. Próprio
saber, a avaliação assume dimensões mais abrangentes. Ela não se reduz apenas a
realização de provas e atribuições de notas. Sua conotação se amplia e se desloca,
no sentido de verificar em que medida os alunos estão alcançando os objetivos
propostos nos projetos pedagógicos para o processo ensino-aprendizagem.
Tais objetivos se traduzem em mudança de comportamentos motores,
cognitivos, afetivos e sociais. Se o ato de ensinar e aprender consiste em tentar
realizar esses objetivos, o ato de avaliar consiste em verificar se eles estão sendo
realmente atingidos e em que grau se dá essa consecução, para ajudar o aluno a
avançar na aprendizagem e na construção de seu saber. Nessa perspectiva, a
avaliação assume um sentido orientador, cooperativo e interativo.
No pensar de Haydt, tal concepção é reafirmada:
13
A educação: não mudou apenas os métodos de ensino, que se tornaram ativos, mas incluir também a concepção de avaliação. Antes, ela tinha um caráter seletivo, uma vez que era vista apenas como uma forma de classificar e promover o aluno de uma série pra outra ou de um grau para outro. Atualmente, a avaliação assume novas funções, pois é um meio de diagnosticar e de verificar em que medida os objetivos propostos para o processo ensino-aprendizagem estão sendo atingidos (Haydt, 1988, p.14).
Assim, a avaliação assume uma dimensão orientadora, cooperativa
e interativa, onde os resultados obtidos no decorrer do trabalho conjunto
do professor e dos alunos são comparados com os objetivos propostos, a
fim de constatar progressos, dificuldades e, também reorientar o trabalho
docente e a construção dos projetos pedagógicos.
Como podemos observar, o conceito de avaliação da aprendizagem
está ligado a uma concepção pedagógica mais ampla, isto é, a uma visão
de educação. Logo, o conceito de avaliação depende, portanto, da postura
político-filosófica adotada. Além disso, a forma de encarar e realizar a
avaliação reflete a atitude do professor em sua interação com os
alunos/classe, bem como suas relações com o aluno.
Por sua vez, um professor que deseja ser um profissional
competente, responsável e seguro de sua prática docente, que orienta as
atividades de aprendizagem dos alunos colaborando com eles na
construção/reconstrução do conhecimento, tenderá a encarar a avaliação
como um processo orientador e interativo, como uma forma de
diagnóstico dos avanços e dificuldades dos alunos e como indicador para o
replanejamento de seu trabalho docente.
Nessa perspectiva, a avaliação ajuda o aluno a progredir na
aprendizagem, ajuda o professor a aperfeiçoar sua prática pedagógica e a
escola a reconstruir seu projeto pedagógico. Avaliar não é reprovar, mas
sim, compreender e promover, a cada momento, o desenvolvimento pleno
de quem vivência um processo de aprendizagem.
1.2 Avaliação como facilitadora de aprendizagem
A avaliação deve ser a “reflexão transformada em ação”. Ação essa que nos
impulsione as novas reflexões. Reflexão permanente do educador sobre sua
realidade e acompanhamento, passa a passo, do educando na sua trajetória de
14
construção do conhecimento. Um processo interativo, através do qual educando e
educadores aprendem sobre si mesmos e sobre a realidade escolar no ato próprio
da avaliação. Não se deseja uma avaliação autoritária que assuma a
responsabilidade pelo diagnóstico do desempenho do aluno e a partir daí, tomam-se
decisões fora do alcance que a própria avaliação oferece.
A avaliação deixa de ser um momento final do processo educativo
para se transformar na busca incessante de compreensão das dificuldades
do educando e na dinamização de novas oportunidades de conhecimento.
Na medida em que a ação avaliativa exerce uma função dialogada e
interativa, ela promove os seres morais e intelectualmente, tornando-se
críticos e participativos, inseridos no contato social e político. É necessário
avaliarmos os alunos através da observação diária de seu desempenho,
individual e em grupo que nos leva a acreditar que a avaliação é mais do
que produção de conhecimento, é um ato político.
É importante destacar a confiança mútua entre educador e
educando quanto às possibilidades de reorganização da ação educativa e
do saber, transformando o ato avaliativo em um momento de reflexão,
descoberta e troca de conhecimentos e aprendizagem.
A avaliação é a mediação entre o ensino do professor e as aprendizagens do professor e as aprendizagens do aluno, é o fio da comunicação entre formas de ensinar e formas de aprender. É preciso considerar que os alunos aprendem diferentemente porque têm histórias de vida diferentes, são sujeitos históricos, e isso condiciona sua relação com o mundo e influencia sua forma de aprender. Avaliar, então é também buscar informações sobre o aluno (sua vida, sua comunidade, sua família, seus sonhos...) é conhecer o sujeito e seu jeito de aprender.
Finalmente, os professores devem converter os métodos tradicionais
de verificação de erros e acertos em métodos investigativos, de
interpretação das alternativas de soluções propostas pelos alunos às
diferentes situações de aprendizagem. O compromisso do educador com o
acompanhamento do processo de construção do conhecimento do
educando numa postura crítica que privilegie o entendimento e não
memorização.
A avaliação é concebida como um elemento integrador entre a
aprendizagem do aluno e a atuação do professor no processo de
15
construção do conhecimento e envolve múltiplos aspectos. Esta deve ser
entendida como um conjunto de atuações e ações e tem por função
realimentar, sustentar e adequar a intervenção pedagógica.
A verificação e o controle do rendimento escolar para efeito de
avaliação é uma função didática. A avaliação do ensino e da
aprendizagem deve ser vista como um processo sistemático e contínuo,
no decurso do qual vão sendo obtidas informações, atribuindo-lhes
valores.
Avaliar bem os nossos alunos tem sido “sempre” um dos maiores
desafios para o trabalho educacional, uma vez que pode representar para
eles a abertura ou o fechamento de possibilidades de estudar, aprender e
se construir como cidadãos em processo de formação.
A avaliação da aprendizagem supõe sempre a existência de um
referencial teórico, onde estão implícitos os conceitos que temos de
pessoa humana, de sociedade, de educação e avaliação, mesmo que não
tenhamos consciência deles. Os diversos autores que têm analisando a
avaliação afirmam que ela pode exercer duas funções: a classificatória e a
diagnóstico.
A Avaliação classificatória hierarquiza, seleciona e classifica os
alunos. A avaliação classificatória reforça o lado cruel da escola, pois, é
uma ferramenta para aprovação ou reprovação. A nota ou o conceito
atribuído ao aluno tem sido valorizado, numa relação direta, à aprovação
ou à reprovação, tornando-se fim, em si mesma, ficando, assim,
distanciada da relação com o processo ensino-aprendizagem. Dessa
maneira, tudo é feito para melhorar a nota. Estas são comumente
utilizadas para reprimir e controlar a disciplina, revelando total ausência
de reflexão sobre o desenvolvimento da aprendizagem e o significado da
avaliação.
16
CAPÍTULO II
O PROCESSO DE AVALIAÇÃO ESCOLAR
Uma das questões que apresenta complexidade e significação no contexto do
sistema escolar brasileiro ainda diz respeito ao sistema de avaliação do rendimento
escolar de alunos e, por que não dizer da própria instituição como mecanismo de
formação e integração do ser social no âmbito de uma política social
empreendedora.
No Brasil, a avaliação é marcada pela influência americana que se propaga
entre seus educadores e prossegue com passos lentos no meio educacional, sendo
que, realmente, a avaliação tornou-se assunto relevante e questionável por parte
dos educadores.
Conforme Demo (1996) apesar da história da avaliação ser tão remota
verifica-se que o termo avaliação até 1965 e que no Brasil era usado em educação
como sinônimo de dar “notas”. Pouca avaliação verdadeiramente de programas
educacionais foi realizada. Hoje, a avaliação está presente cada vez mais no
trabalho didático do professor exigindo deste, competência intelectual e pedagógica,
como ainda, uma série de requisitos metodológicos que, de acordo com o seu
conceito, se fazem necessários ao bom avaliador.
Assim, compreender a concepção de avaliação só é possível quando se
entende o sentido e significado dos eixos que irão nortear a concepção de ciclo de
formação. Esta por sua vez só será possível quando se compreender os princípios
17
de organização curricular e de ensino propostos (conteúdos e processos), assim
como de organização de trabalho pedagógico e administrativo da escola
(organização dos tempos).
Torna-se importante assumir a escola como um espaço de direito do cidadão
e como um lugar onde atuam sujeitos socioculturais e históricos que se formam
mutuamente através das relações sociais. Dessa maneira, apoia-se no fato de que a
escola é educativa por si mesma, pelas circunstâncias de seu relacionamento com a
sociedade em sua dinâmica, em sua forma de ensinar / aprender e na organização
de seu trabalho (SANT’ANNA, 1995).
A concepção de avaliação que perpassa essa lógica é a de um processo que
deve abranger a organização escolar como um todo: as relações internas à escola, o
trabalho do docente, organização do ensino, o processo de aprendizagem do aluno
e, ainda, a relação com a sociedade.
Nessa perspectiva torna-se fundamental a constituição de um conceito de
avaliação escolar que entenda as necessidades de escolarização das camadas
populares, porque são elas que mais tem sofrido com o modelo de escola atual. E,
se o movimento amplo da sociedade impõe um novo tipo de escola, impõe também,
a necessidade de um novo referencial para a constituição dos processos de
avaliação.
Sabe-se que a avaliação é um processo contínuo de pesquisa que visa
estudar e interpretar os conhecimentos, habilidades e atitudes dos alunos, tendo em
vista mudanças esperadas no comportamento, propostas nos objetivos da escola, a
fim de que haja condições de propor alternativas no planejamento da ação
pedagógica do professor e da escola como um todo.
Segundo Hoffmann (1991), a avaliação deve ser entendida como um
processo de pesquisa, onde o professor e a escola devem está sempre investigando
as melhores situações, as mais eficientes formas de coleta e sistematização de
dados, sua utilização e compreensão, como o processo mais eficiente de
capacitação do professor em evolução. A avaliação visa estudar e interpretar os
conhecimentos e habilidades dos alunos, tanto nos aspectos quantitativos quanto
nos qualitativos.
A escola não deve preocupar-se exclusivamente com as notas decorrentes
dos resultados dos testes de conteúdos, mais deve focalizar, sobretudo, os aspectos
do desenvolvimento como relacionamento social, interesse, sentimentos em relação
18
a si mesmo e em relação aos outros. Como também a escola deve se preocupar
durante o processo ensino-aprendizagem para que o aluno analise, adquira espírito
crítico, sendo capaz de resolver por se mesmo dificuldades que se lhe apresentam,
seja qual for.
A avaliação deve ter em vista mudanças esperadas no comportamento dos
alunos e propostas objetivas na escola. O professor só poderá avaliar a
aprendizagem se tiver um pensamento claro daquilo que pretende atingir, ou seja,
de seus objetivos, que são proposições sobre o comportamento esperado para os
alunos. Quando mais claramente forem propostos, melhores guias serão para a
ação do professor e para o seu procedimento de avaliação, portanto, quando o
professor está avaliando, ele quer verificar se o aluno está atingindo os objetivos,
pleno ou parcialmente.
A avaliação deve dar condições para que seja possível tomar decisões sobre
alternativas no plano de ensino e a coleta de dados para o planejamento do trabalho
é um aspecto fundamental da avaliação visto que esta consiste num diagnóstico do
desenvolvimento do aluno. Uma vez que a situação esteja caracterizada, quando o
professor sabe exatamente como estão seus alunos e quais os progressos feitos,
terá elementos para planejar sua ação didática sobre dados reais.
A função primordial no processo de avaliação está, pois, no aperfeiçoamento
das situações de aprendizagem e de currículo como todo. Esta posição difere
daquela em que a avaliação é um momento especial do ano letivo e cujos resultados
são esperados para serem utilizados unicamente nas decisões sobre a promoção ou
retenção do aluno e para reagrupar as classes.
A avaliação é, pois, um exercício mental que permite a análise do
conhecimento, o diagnóstico, a medida e / ou julgamento de um objeto. Esse objeto
deve ser a própria realidade daqueles que a fazem. Avaliar seria um processo de
autoconhecimento e, também, o conhecimento da realidade e da relação dos
sujeitos com essa realidade. Seria um processo de análise, julgamento, recriação e /
ou ressignificação das instituições que fazem parte dessa realidade e das pessoas
que a mantém.
Questionam-se, assim, os processos de avaliação da aprendizagem dos
alunos que estão, usualmente, centrados num desempenho cognitivo, sem
referências a um Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola, e, ainda, o sentido
das avaliações escolares que se direcionam, especialmente, para o ato de aprovar
19
ou reprovar os alunos. A avaliação deve priorizar a identificação dos problemas, dos
avanços e verificar as possibilidades de redimensionamentos e continuidades do
processo educativo. A avaliação se constitui num processo investigador, formativo e
contínuo, do qual o professor, alunos e pais participam ativamente.
2.1 A Prática da Avaliação com fins quantitativos e seletivos.
Segundo Luckesi, a característica que de imediato se evidência na nossa
prática educativa é de que a avaliação da aprendizagem ganhou um espaço tão
amplo nos processos de ensino que nossa prática educativa escolar passou a ser
direcionada por uma “pedagogia de exame”. O mais visível e explícito exemplo
dessa pedagogia está na prática de ensino do terceiro ano do segundo grau, em que
todas as atividades docentes e discentes estão voltadas para um treinamento de
“resolver provas”, tendo em vista a preparação para o vestibular, como porta de
entrada para a Universidade. Os cursinhos preparatórios ao vestibular são mais
exacerbados ainda no processo de treinamento de resolução de provas.
Por esta razão, todos envolvidos: pais, sistema de ensino, profissionais da
educação, professores e alunos, têm suas atenções centradas na promoção, ou
não, do estudante de uma série de escolaridade para outra. O sistema de ensino
está interessado nos percentuais de aprovação ou reprovação do total dos
educandos; os pais estão desejosos de que seus filhos avancem nas séries de
escolaridade; os professores se utilizam permanentemente dos procedimentos de
avaliação como elementos motivadores dos estudantes, por meio da ameaça; os
estudantes estão sempre na expectativa de virem a ser aprovados ou reprovados e,
para isso, servem-se dos mais variados expedientes.
Os alunos têm sua atenção centrada na promoção por que garantirá, na visão
da sociedade, o sucesso, a ascensão social. Ao iniciar o ano letivo, de imediato,
estão interessados em saber como se dará o processo de promoção no final do
período escolar. Procuram saber as normas e os modos pelos quais as notas serão
obtidas e manipuladas em função da promoção de uma série para outra. O que
predomina é a nota, não importa como elas foram obtidas, nem por quais caminhos.
São operadas e manipuladas como se nada tivessem a ver com o percurso ativo do
processo de aprendizagem.
20
“A nota é uma mensagem, não diz do início ao aluno o que ele sabe, mas o
que pode lhe acontecer.” (Perrenoud, 1999, p. 12). Os professores utilizam as
provas como instrumentos de ameaça e tortura prévia dos alunos, alegando ser um
elemento motivador da aprendizagem e se percebem que seu trabalho não está
surtindo o efeito esperado, renovam o rol de ameaças. Esse comportamento
demonstra o quanto o professor utiliza-se das provas como um fator negativo de
motivação. E assim, o estudante deverá se dedicar aos estudos não porque os
conteúdos sejam importantes, significativos e prazerosos de serem aprendidos, mas
sim por que são ameaçados por uma prova.
Os pais estão na expectativa das notas dos seus filhos para que sejam
aprovados. Na Reunião de Pais e Mestres que ocorre no final de cada bimestre
letivo, são apresentados aos pais os boletins e a função do professor é alertar sobre
as crianças que estão “com problemas” de notas baixas de aproveitamento. Alguns
pais se satisfazem ao ver os boletins, enquanto outros sentem a necessidade de
conversar com o professor devido às notas baixas, mas não há meio para esse
diálogo ocorrer, pois a reunião é realizada coletivamente, com todos os pais juntos
para conversar com um único professor num mesmo momento.
O ritual é criado para que efetivamente não haja um encontro educativo, que
é um momento que seu pai e professor conversam sobre a aprendizagem do aluno e
juntos colaboram para o seu desenvolvimento pleno. Desse modo: A avaliação tem
a sua função, quando se dirige a família, de prevenir, no duplo sentido de impedir e
de advertir. Ela alerta contra o fracasso que se anuncia ou, ao contrário tranqüiliza
acrescentando desde que continue assim. (Perrenoud, 1999, p.12)
O estabelecimento de ensino está centrado nos resultados das provas e
exames. Sendo que as curvas estatísticas são suficientes, pois demonstram o
quadro global dos alunos no que se refere ao seu processo de promoção ou não nas
séries de escolaridade. Muitas vezes, os quadros estatísticos ocultam a realidade,
isto é, os números não são sinônimos de uma aprendizagem significativa, mas
satisfaz os interesses da sociedade que impõe o projeto educacional e controla o
sistema de ensino.
O sistema social se contenta com as notas obtidas nos exames e está atento
aos resultados gerais. Porém, se uma instituição escolar inicia um trabalho
efetivamente significativo, ou seja, na perspectiva da formação de uma consciência
crítica do cidadão, o sistema social não aceita e os mecanismos de controle são
21
automaticamente acionados; pais que reclamam da escola, verbas que não chegam,
inquéritos administrativos.
Os sistemas de exames, com suas conseqüências em termos de notas e suas
manipulações, polarizam a todos. Os acontecimentos do processo de ensino e
aprendizagem, seja para analisá-los criticamente, seja para encaminhá-los de uma
forma mais significativa e vitalizaste, permanecem adormecidos em um canto. De
fato, a nossa prática educativa se pauta por uma “pedagogia do exame. (Luckesi,
1994, p. 21)
Segundo Luckesi, as práticas atuais de avaliação não ocorrem por acaso,
pois já estavam inscritas nas pedagogias dos séculos XVI e XVII, no processo de
emergência e cristalização da sociedade burguesa. Além de vivermos ainda sob a
hegemonia da pedagogia tradicional, estamos mergulhados nos processos
econômicos, sociais e políticos da sociedade burguesa que aperfeiçoou seus
mecanismos de controle. Entre outros, destaca-se a seletividade escolar e seus
processos de formação das personalidades dos educandos. O medo e o fetiche são
mecanismos imprescindíveis numa sociedade que não opera na transparência, mas
sim nos subterfúgios.
Sendo assim, ao longo da história da educação moderna e de nossa prática
educativa, a avaliação da aprendizagem escolar, por meio de exames e provas, foi
se tornando um fetiche, isto é, uma “entidade” criada pelo ser humano para atender
a uma necessidade, mas que se torna independente dele e o domina,
universalizando- se.
Segundo Luckesi a avaliação da aprendizagem escolar, além de ser praticada
com uma total independência do processo ensino-aprendizagem, vem ganhando
foros de independência da relação professor-aluno. As provas e exames são
realizados conforme o interesse do professor e do sistema. Não se leva em
consideração o que foi ensinado. As notas são registradas como se nada tivessem a
ver com a aprendizagem e a relação entre os sujeitos professor- aluno passa a ser
uma relação entre coisas: as notas.
A pedagogia de exame praticada nas escolas traz conseqüências graves:
Pedagogicamente, ela centraliza a atenção nos exames, não auxilia a aprendizagem
dos estudantes, secundariza o significado do ensino e da aprendizagem como
atividades significativas em si mesmas e superestima os exames; Psicologicamente,
é útil para desenvolver personalidades submissas. A sociedade, por intermédio do
22
sistema de ensino desenvolve formas de ser da personalidade dos educandos que
se conformam aos seus ditames. Utiliza o autocontrole, sendo a pior forma de
controle, pois é assim que o sujeito se torna presa de si mesmo.
Sociologicamente, a avaliação da aprendizagem, utilizada de forma
fetichizada, é bastante útil para os processos de seletividade social. Sendo a
sociedade estruturada em classes e de modo desigual, a avaliação da
aprendizagem, então pode ser posta, sem a menor dificuldade, a favor do processo
de seletividade, desde que utilizada independentemente da construção da própria
aprendizagem. E assim, a avaliação está muito mais articulada com a reprovação do
que com a aprovação e daí vem a sua contribuição e colaboração para a
seletividade social do que já está posta entre as classes sociais.
23
CAPÍTULO III
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR
Durante muito tempo, a avaliação escolar foi utilizada como um instrumento
pedagógico para classificar e rotular os alunos entre bons e maus. Instrumento
traiçoeiro da ideologia dominante e recurso para o controle disciplinar, utilizado
autoritamente como forma de ameaça para os alunos. Hoje em dia ela é vista pelos
estudiosos como um importante instrumento para os professores como auxílio para
alcançarem o fim principal da educação, o crescimento pleno dos alunos. Heranças
poderosas e consistentes ainda hoje se encontram inseridas na maneira de avaliar
os alunos. Estudar a avaliação é investigar a fundo a pedagogia que se pratica, pois
a avaliação nos permite verificar a eficácia do programa educacional e ainda
reorientar uma possível intervenção pedagógica.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p. 81) a avaliação é
compreendida: “como um conjunto de atuações que tem a função de alimentar,
sustentar e orientar a intervenção pedagógica. Acontece contínua e
sistematicamente por meio da interpretação qualitativa do conhecimento construído
pelo aluno.”
Dessa maneira ela é entendida como: Elemento integrador entre a
aprendizagem e o ensino, conjunto de ações cujo objetivo é o ajuste e a orientação
da intervenção pedagógica para que o aluno aprenda da melhor forma; conjunto de
ações que busca obter informações sobre o que foi aprendido e como; elemento de
reflexão contínua para o professor sobre sua prática educativa, instrumento que
possibilita ao aluno tomar consciência de seus avanços, dificuldades e
possibilidades; ação que ocorre durante todo o processo de ensino e aprendizagem
24
e não apenas em momentos específicos caracterizados como fechamento de
grandes etapas de trabalho. (BRASIL, 1997, p.83, 84).
É nesse processo dinâmico que a ação e a reflexão são inseparáveis,
processo no qual o professor estimulará seus alunos a avançar no crescimento e
ainda num repensar constante da sua prática. Sendo assim, independente se a
avaliação seja pontual ou contínua, ela deve estar voltada para o desenvolvimento
do educando. Só se pode avaliar aquilo que foi ensinado. A avaliação deve ser
compreendida como um espaço de interação, diálogo e discussão, pois na medida
em que a ação avaliativa exerce uma função dialógica e interativa, ela promove os
seres moral e intelectualmente, tornando-os críticos e participativos, inseridos no seu
contexto social e político. (HOFFMANN, 1991, p.23). Quando a avaliação consegue
alcançar o momento de análise, interação, diálogo, ela está aproximando da
construção de seres críticos, participativos e autônomos.
3.1 A avaliação da aprendizagem como processo construtivo de um novo fazer.
O processo de conquista do conhecimento pelo aluno ainda não está refletido
na avaliação. Para Wachowicz & Romanowski (2002), embora historicamente a
questão tenha evoluído muito, pois trabalha a realidade, a prática mais comum na
maioria das instituições de ensino ainda é um registro em forma de nota,
procedimento este que não tem as condições necessárias para revelar o processo
de aprendizagem, tratando-se apenas de uma contabilização dos resultados.
Quando se registra, em forma de nota, o resultado obtido pelo aluno,
fragmenta-se o processo de avaliação e introduz-se uma burocratização que leva à
perda do sentido do processo e da dinâmica da aprendizagem.
Se a avaliação tem sido reconhecida como uma função diretiva, ou seja, tem
a capacidade de estabelecer a direção do processo de aprendizagem, oriunda esta
capacidade de sua característica pragmática, a fragmentação e a burocratização
acima mencionadas levam à perda da dinamicidade do processo.
Os dados registrados são formais e não representam a realidade da
aprendizagem, embora apresentem conseqüências importantes para a vida pessoal
dos alunos, para a organização da instituição escolar e para a profissionalização do
professor.
25
Uma descrição da avaliação e da aprendizagem poderia revelar todos os
fatos que aconteceram na sala de aula. Se fosse instituída, a descrição (e não a
prescrição) seria uma fonte de dados da realidade, desde que não houvesse uma
vinculação prescrita com os resultados.
A isenção advinda da necessidade de analisar a aprendizagem (e não julgá-
la) levaria o professor e os alunos a constatarem o que realmente ocorreu durante o
processo: se o professor e os alunos tivessem espaço para revelar os fatos tais
como eles realmente ocorreram, a avaliação seria real, principalmente discutidos
coletivamente.
No entanto, a prática das instituições não encontrou uma forma de agir que
tornasse possível essa isenção: as prescrições suplantam as descrições e os pré-
julgamentos impedem as observações. A conseqüência mais grave é que essa
arrogância não permite o aperfeiçoamento do processo de ensino e aprendizagem.
E este é o grande dilema da avaliação da aprendizagem.
O entendimento da avaliação, como sendo a medida dos ganhos da
aprendizagem pelo aluno, vem sofrendo denúncias há décadas, desde que as
teorias da educação escolar recolocaram a questão no âmbito da cognição.
Pretende-se uma mudança da avaliação de resultados para uma avaliação de
processo, indicando a possibilidade de realizar-se na prática pela descrição e não
pela prescrição da aprendizagem.
26
CONCLUSÃO
A avaliação da aprendizagem não é uma punição e nem um instrumento de
controle e disciplina na Escola. Uma escola que demasiadamente classifica e
reprova seus alunos, não está cumprindo com o seu papel perante a sociedade, que
é o de ensinar a todos os alunos e contribuir para a formação humana destes. A
avaliação deve ser entendida como um suporte na condução do ato de ensinar e
aprender e que, portanto, uma boa prática avaliativa permite a análise dos
resultados e a escolha dos passos seguintes que vão reafirmar o compromisso com
a aprendizagem,
De acordo com os achados deste estudo e comparados igualmente com
outras pesquisas, os instrumentos de avaliação dependem da natureza da área de
estudo, dos objetivos traçados no planejamento bem como das condições de tempo
do professor e dos alunos, estando, pois, a avaliação, adequada aos métodos e
procedimentos usados no ensino. Nessa visão, a avaliação deixa de ser concebida
como processo de classificação, seleção e exclusão social e se torna ferramenta
indispensável para os docentes comprometidos com a construção coletiva de uma
escola de qualidade para todos.
Considerando que ainda é baixa a participação da comunidade escolar nas
decisões e planejamento do trabalho da instituição, cabe ao núcleo gestor se reunir,
discuti as dificuldades, planejar estratégias de solução, entender a linguagem e os
objetivos do processo avaliativo com seus professores e demais membros da
comunidade para que sejam sanadas as necessidades do alunado. O diálogo deve
ser ativo e coletivo buscando diminuir os índices negativos, sejam de desempenho,
27
evasão ou repetência, pois o papel das avaliações externas é fazer com que a
escola lance um olhar crítico sobre si mesmo.
Finalmente, no processo ensino-aprendizagem, na interação
professor-aluno, pode concluir que juntos, acertamos, assumimos riscos,
alcançamos objetivos. A avaliação não pode servir para selecionar e
excluir o aluno desse processo, pois tal prática é uma violência ao direito à
educação. A avaliação deve sempre servir para redimensionar o
planejamento do professor e subsidiar o fazer pedagógico. Por
conseguinte, voltada para a transformação, a avaliação é muito mais do
que a expressão de determinar conceitos para os alunos, ela expressa a
postura do educador responsável, ético-político, competente e
comprometido com a construção do conhecimento e do desenvolvimento
de capacidades, habilidades, competências e atitudes numa escola
democrática e cidadã.
28
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1997). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1997.
DEMO, P. Avaliação Quantitativa. Campinas: Autores Associados, 1999.
DEMO, Pedro. Educar pela Pesquisa. Campinas/SP, Ed. Autores Associados, 1996.
HAYDT, R. C. C. Avaliação do Processo Ensino-Aprendizagem. São Paulo: Ática, 1988.
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