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O DESAFIO DE IMPLANTAR PARQUES TECNOLÓGICOS – PARTE 2 ------------------------------------------ 3

A ESCOLHA DO TERRENO E O PLANEJAMENTO URBANO COMO FATORES DE SUCESSO ---------- 3

1. INTRODUÇÃO ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 3

2. DEFININDO O HARDWARE E O SOFTWARE DOS PARQUES TECNOLÓGICOS --------------------------------- 3

3. A LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DOS PARQUES TECNOLÓGICOS ------------------------------------------------- 4

4. A LOCALIZAÇÃO E OS DESAFIOS DA OCUPAÇÃO URBANA E AMBIENTAL ------------------------------------ 5

5. CONCLUSÃO ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 6

AUTOR -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 7

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O DESAFIO DE IMPLANTAR PARQUES TECNOLÓGICOS – PARTE 2

A ESCOLHA DO TERRENO E O PLANEJAMENTO URBANO COMO FATORES DE SUCESSO

1. INTRODUÇÃO

Mais especificamente, supondo que está tomada a decisão de que o Parque deve materializar uma “ponte” entre os mundos acadêmico e empresarial, conciliando atividades de pesquisa e de produção, quais são as próximas decisões relevantes a serem tomadas?

Esse artigo é o segundo de uma série intitulada “Parques Tecnológicos: Desafios para a Implantação”. No primeiro artigo, trabalhou-se a idéia do quanto é importante a decisão estratégica de abrigar atividade de produção das empresas inovadoras dentro dos Parques. Apesar da resposta a essa pergunta parecer inevitável – não se faz Parques Tecnológicos sem empresas – a decisão por construir um Parque como um ambiente de intersecção entre os ambientes de produção e pesquisa é importante para manter inseridos nos projetos setores que são muito inovadores e dominados por micro e pequenas empresas, que não possuem capacidade financeira ou técnica de dissociar fisicamente suas atividades de produção e P&D – Pesquisa e Desenvolvimento. Além disso, o primeiro artigo insistiu na importância de que todos os agentes envolvidos na construção do Parque – tanto públicos como privados – estejam com as expectativas alinhadas, para que problemas de coordenação e divergências nos objetivos não ocorram no futuro, dificultando assim a governança do projeto. Esse segundo artigo possui como objetivo estruturar melhor os tipos de desafios que surgirão para a implantação dos Parques Tecnológicos. Mais especificamente, supondo que está tomada e consolidada entre os stakeholders a decisão de que o Parque deve materializar uma “ponte” entre os mundos acadêmico e empresarial, conciliando atividades de pesquisa e de produção, quais são as próximas decisões relevantes a serem tomadas?

2. DEFININDO O HARDWARE E O SOFTWARE DOS PARQUES TECNOLÓGICOS

Com o objetivo de estruturar melhor os desafios a que os projetos de Parques Tecnológicos estão submetidos, esse artigo fará uma analogia, que será utilizada ao longo de todos os artigos, com dois conceitos muito afins a um setor extremamente inovador, o setor de Tecnologias de Informação. Esses conceitos são o hardware e o software. O que esse artigo chama de hardware dos Parques Tecnológicos são todos os aspectos conectados à dimensão estritamente física dos projetos, especialmente os aspectos ligados à localização física do empreendimento e das condições nas quais ocorrerá sua incorporação imobiliária. Em outras palavras, as condições nas quais serão edificadas e ocupadas as instalações específicas para um Parque, sejam as instalações para as empresas ou as áreas públicas de convivência.

Já o software dos Parques Tecnológicos procura denominar todos os aspectos conectados à dimensão da gestão dos projetos: tanto a gestão do espaço no qual funcionarão as empresas, as incubadoras, os institutos de pesquisa; como também a governança dessa instituição híbrida que surge com a implantação de um Parque Tecnológico; e, principalmente, a gestão da integração entre as competências científicas e tecnológicas existentes no entorno do Parque – constituído especialmente pelas Universidades e Centros de Pesquisa – e as demandas por novas tecnologias das empresas inovadoras que constituem o entorno econômico do Parque Tecnológico. Essa gestão da integração entre o que esse artigo chamará de “oferta tecnológica” com a “demanda tecnológica” é um dos fatores críticos para o sucesso dos Parques Tecnológicos. Assim como qualquer dispositivo eletrônico, o hardware e o software devem

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No próximo item vamos comentar sobre a primeira decisão estratégica com relação ao hardware: a localização geográfica do Parque Tecnológico.

existir e atuar conjuntamente para o sucesso e bom funcionamento do equipamento final. Nesse sentido, os projetos de Parques Tecnológicos devem possuir clareza e planejamento sobre como estruturar essas duas dimensões dos seus projetos e como superar os desafios que surgem para a construção delas. Não necessariamente a preocupação com os aspectos da gestão deve preceder a construção dos aspectos estritamente físicos, ou vice versa, mas é importante para o planejamento estratégico delimitar o escopo dos desafios e delimitar corretamente a solução para eles. No próximo item vamos comentar sobre a primeira decisão estratégica com relação ao hardware: a localização geográfica do Parque Tecnológico.

3. A LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DOS PARQUES TECNOLÓGICOS

Em pesquisa realizada em 2007 pela IASP – Associação Internacional de Parques Tecnológicos – junto aos seus associados, o segundo fator mais citado como relevante para o sucesso de um Parque Tecnológico é a localização.

Para discutir inicialmente as questões estritamente físicas dos Parques Tecnológicos, a primeira e mais fundamental decisão é a seguinte: aonde iremos nos localizar? Em pesquisa realizada em 2007 pela IASP – Associação Internacional de Parques Tecnológicos – junto aos seus associados, o segundo fator mais citado como relevante para o sucesso de um Parque Tecnológico é a localização. Em outras palavras, é importante decidir qual será o terreno em que o Parque Tecnológico se constituirá. A identidade física do empreendimento é muito importante. Os dados mais recentes da IASP também mostram que 66% dos Parques filiados a IASP são Parques urbanos, e outros 27% estão próximos dos centros urbanos, ou seja, os Parques são empreendimentos típicos das cidades. Essa característica é condizente com as tendências do desenvolvimento econômico e social das metrópoles. As aglomerações urbanas, além de aumentarem cada vez mais a “densidade da demanda”, pois concentram geograficamente pessoas e renda, demandam cada vez mais produtos e serviços altamente especializados, ou em outras palavras, cada vez mais inovadores. Assim, a produção de commodities tende a se afastar dos centros urbanos, enquanto que a produção dos setores intensivos em tecnologia e conhecimento científico tende a se aproximar das grandes cidades.

Ao associarmos as duas características, a presença de Universidades e o meio urbano, temos a primeira recomendação para a escolha do terreno do Parque Tecnológico: a proximidade com um campus universitário.

Além desse caráter intrinsecamente urbano, a IASP também revela que o terceiro fator de sucesso mais citado pelos seus associados é a presença das Universidades. Essa constatação ocorre, evidentemente, pelo fator já comentado anteriormente de que a integração entre os ambientes empresarial e acadêmico é a principal característica de um Parque Tecnológico. Portanto, a presença de uma instituição de pesquisa com competências científicas funciona como uma espécie de “âncora” para os projetos de Parques. Mas, ao associarmos as duas características, a presença de Universidades e o meio urbano, temos a primeira recomendação para a escolha do terreno do Parque Tecnológico: a proximidade com um campus universitário. Essa recomendação de que o terreno do Parque seja quase que contínuo ao campus de uma universidade é também ratificado pela pesquisa da IASP, na qual 44% dos Parques tecnológicos se localizam dentro do campus ou em um terreno de propriedade da Universidade. Sobretudo, esse dado sinaliza para o fato de que essa integração entre a “oferta e demanda tecnológica” é favorecida pela facilidade de acesso e locomoção de professores, pesquisadores, alunos e empreendedores do campus para o Parque. Existem “economias de proximidade”, ou “vantagens de proximidade” que agregam valor à atividade de inovação das empresas, quando a localização facilita o fluxo de informações, o estabelecimento de redes de contato e, principalmente, a interação pessoal entre o pesquisador e empresário. Quanto mais favorecida for essa interação pessoal pela proximidade física dos dois ambientes – academia e empresa – maior será a viabilidade do projeto de Parques Tecnológicos. Assim, a localização do terreno é estratégica, pois quanto mais próxima da “instituição âncora” – geralmente uma Universidade – maiores serão as vantagens decorrentes das facilidades físicas de integração.

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4. A LOCALIZAÇÃO E OS DESAFIOS DA OCUPAÇÃO URBANA E AMBIENTAL

Em outras palavras, propor um espaço no qual aumentarão os fluxos de pessoas, veículos, mercadorias, significa que os parques tecnológicos têm reflexos sobre a infra-estrutura urbana que permitem compará-los com empreendimentos imobiliários de alto impacto. Esse elemento sinérgico que ocorre “intramuros” em um Parque, mas “extramuros” das empresas, também possui uma dimensão física, uma demanda por espaços nos quais esses contatos possam se viabilizar e multiplicar.

As características relacionadas à escolha do terreno possuem implicações importantes sobre o planejamento dos projetos de Parques Tecnológicos. Como afirmado anteriormente, os parques são empreendimentos tipicamente urbanos, e destinar um terreno para a instalação de empresas, instituições de pesquisa, entre outras, significa que a implantação de parques contribui para o processo de adensamento urbano das cidades. Em outras palavras, propor um espaço no qual aumentarão os fluxos de pessoas, veículos, mercadorias, significa que os parques tecnológicos têm reflexos sobre a infra-estrutura urbana que permitem compará-los com empreendimentos imobiliários de alto impacto. Nesse sentido, torna-se fundamental que os projetos possuam um planejamento urbano capaz de medir esses impactos e propor medidas para mitigá-los, pois ao invés de contribuírem para o desenvolvimento econômico da região, a implantação de um parque tecnológico pode se transformar em um problema para a cidade se seu surgimento significar uma sobrecarga para a infra-estrutura urbana municipal. Esse elemento costuma ser subestimado na fase de planejamento e projeto, e, no entanto, as experiências mostram que esse é um dos pontos cruciais para o sucesso da implantação do hardware dos parques. Outra questão conectada a essa é que a intensidade do fluxo de pesquisadores e alunos é desejável para as empresas que habitam os parques, como afirmado anteriormente. Diante disso, é importante que essas pessoas encontrem nos parques tecnológicos espaços urbanos de convivência. As sinergias que ocorrem em ambientes informais – tais como bares, restaurantes, áreas verdes – constitui-se em um elemento crucial para a criação das “redes de contato” e das relações de cooperação. Esse elemento sinérgico que ocorre “intramuros” em um Parque, mas “extramuros” das empresas, também possui uma dimensão física, uma demanda por espaços nos quais esses contatos possam se viabilizar e multiplicar. Novamente, o planejamento urbano é um componente chave do planejamento dos parques: ele deve considerar em sua área esses espaços que viabilizam uma parte do que o professor Castells denominou de “infra-estrutura das cidades criativas”: locais onde os pesquisadores e empreendedores possam conviver além das regras e das formalidades das empresas e das universidades. Assim, essas dimensões, todas relacionadas ao hardware dos parques, estão intrinsecamente conectadas à escolha do terreno. O planejamento urbano é fundamental, mas começa somente a partir das características locacionais e ambientais do terreno escolhido. Podemos listar os desafios que se colocam quando essa escolha é feita:

Medir e mitigar os impactos urbanos e ambientais decorrentes da implantação de um Parque Tecnológico que é caracterizado como um empreendimento urbano de alto impacto;

Planejar a ocupação urbana e distribuição dos empreendimentos dentro do terreno do Parque, a fim de prever a instalação de serviços urbanos tradicionais como restaurantes, livrarias, bares, para criar espaços públicos de convivência;

Conciliar a incorporação urbana com a preservação ambiental, que é um desafio moderno colocado para a expansão de todas as cidades;

Elaborar uma infra-estrutura diferenciada que transforme a incorporação imobiliária do parque em uma intervenção urbana exemplar, especialmente no que diz respeito ao tratamento de efluentes sólidos e líquidos, edificações com aproveitamento máximo de energia solar e águas pluviais, entre outras intervenções com parâmetros construtivos modernos.

Em síntese, a palavra planejamento urbano foi uma constante nesse artigo,

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As experiências internacionais e nacionais mostram que a presença de arquitetos e engenheiros – seja na equipe gestora do projeto ou como consultores – é fundamental para o sucesso no planejamento urbano dos espaços.

pois a construção da ponte entre ciência e mercado passa pela construção de um ambiente físico diferenciado, com intervenções construtivas exemplares e que possam conciliar ocupação urbana com preservação ambiental. Esses aspectos remetem a outra recomendação aos projetos de parques tecnológicos: a formação de equipes multidisciplinares. As experiências internacionais e nacionais mostram que a presença de arquitetos e engenheiros – seja na equipe gestora do projeto ou como consultores – é fundamental para o sucesso no planejamento urbano dos espaços e na proposição de medidas mitigadoras aos impactos decorrentes da implantação dos parques. A complexidade desse processo de planejamento urbano não pode ser subestimada, pois, além dos motivos já descritos acima, todo empreendimento de impacto tem que se submeter a um rigoroso processo de licenciamento ambiental e regulação fundiária. Esses processos junto ao poder público municipal e estadual são necessários para a implantação dos Parques Tecnológicos e o êxito depende de um bom planejamento urbano ambiental e dos cuidados citados acima. O documento que sintetiza esse planejamento recebe a denominação de Plano Diretor do Parque Tecnológico. Os planos diretores – planos de uso e ocupação do solo – são a expressão de todo o esforço de uma equipe multidisciplinar na tentativa de transformar um terreno em uma intervenção urbana exemplar. A formulação e aprovação desse Plano Diretor nos órgãos reguladores são um gargalo fundamental a ser superado, e que muitas vezes consome tempo e recursos exatamente por ser um aspecto subestimado no planejamento dos parques.

5. CONCLUSÃO

A escolha do terreno para a localização de um Parque Tecnológico é uma decisão estratégica para viabilizar o hardware do parque. A recomendação é de que o terreno seja o mais próximo possível do campus de uma Universidade que vai ancorar o projeto do ponto de vista das competências científicas e tecnológicas. Mas, a escolha do terreno é apenas o início dos desafios, uma vez que, por serem espaços tipicamente urbanos, a implantação de um Parque Tecnológico possui impactos não desprezíveis sobre a infra-estrutura das cidades. Esse é um ponto de alto risco para os projetos, pois a falta de planejamento e a desconsideração de obras de infra-estrutura que possam mitigar a sobrecarga advinda do adensamento urbano – aumento do número de veículos nas vias públicas, aumento do uso do sistema de energia elétrica e abastecimento de água, entre outros – podem inviabilizar a aprovação da implantação do Parque junto aos órgãos reguladores municipais e estaduais. Para responder a esse desafio, a formação de uma equipe multidisciplinar que consiga agregar a competência do planejamento urbano às equipes gestoras dos projetos é um fator chave para o sucesso. Associado a esses desafios, o planejamento urbano também será fundamental para dar conta de outra questão: os Parques Tecnológicos são um espaço diferenciado, que estimula a convivência em espaços públicos, capazes de estimular os contatos interpessoais fora dos ambientes tradicionais das empresas. Esse é um aspecto da integração entre academia e empresas extremamente valorizado por representantes desses dois mundos, e a ocupação urbana dos terrenos dos Parques tem que planejar a existência dessas áreas de convivência e lazer. Essa “inteligência” no planejamento urbano é um dos fatores essenciais para o sucesso na implantação do hardware dos Parques que, em síntese, devem se constituir em intervenções urbanas exemplares. E tal sucesso é alcançado com a filosofia de que, assim como o Parque é um local de encontro e cooperação de múltiplas competências, a equipe gestora dos projetos também deve abordar esse princípio, buscando a convergência entre competências de profissionais de diferentes áreas para obter sucesso na implantação dos Parques Tecnológicos. Nos próximos artigos, novos desafios serão apresentados tanto para a implantação do hardware como também do software – a gestão da integração – dos Parques Tecnológicos.

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AUTOR

Francisco Horácio Pereira de Oliveira é Mestre em Economia pelo CEDEPLAR/UFMG e professor do Departamento de Economia da UFMG e do Centro Universitário Newton Paiva. Possui artigos publicados nas áreas de inovação tecnológica e desenvolvimento econômico, com experiência profissional na gestão de projetos de Parque Tecnológico. Atualmente é consultor do Instituto Inovação.