Isert

24
Um viajante Um viajante relativista relativista : : a crônica de Paul Isert a respeito dos Akhan VINICIUS LINS GESTEIRA VINICIUS LINS GESTEIRA MESTRANDO PPGA /UFBA MESTRANDO PPGA /UFBA II SIMPÓSIO ÁFRICA – UFMA, São Luís 29/05/2014 Email: [email protected] Lattes: http://lattes.cnpq.br/9929313962082090 Link para Apresentação: <http://www.slideshare.net/viniciuslins5621>

Transcript of Isert

Page 1: Isert

Um viajante relativistaUm viajante relativista: : a crônica de Paul Isert a respeito

dos Akhan

VINICIUS LINS GESTEIRAVINICIUS LINS GESTEIRAMESTRANDO PPGA /UFBA MESTRANDO PPGA /UFBA

II SIMPÓSIO ÁFRICA – UFMA, São Luís29/05/2014

Email: [email protected]: http://lattes.cnpq.br/9929313962082090Link para Apresentação: <http://www.slideshare.net/viniciuslins5621>

Page 2: Isert

"Anthropology must choosebetween being history and being nothing

[…] History must choose betweenbeing social anthropology or being nothing."

Evans-Pritchard

Page 3: Isert

ORDEM DA APRESENTAÇÃOORDEM DA APRESENTAÇÃO

1) - INTRODUÇÃO1) - INTRODUÇÃO2) - ISERT: VIDA, ÉPOCA E RETÓRICA2) - ISERT: VIDA, ÉPOCA E RETÓRICA3) - ANÁLISE DA OBRA: 3) - ANÁLISE DA OBRA: RELITIVIZAÇÃO “EM TERMOS”RELITIVIZAÇÃO “EM TERMOS”4)- CONSIDERAÇÕES FINAIS4)- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Page 4: Isert

INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO

Page 5: Isert

Contexto históricomais amplo

• Castelo de São Jorge da Mina: 1472.

• Primeiros fortes ingleses: 1550.• Chegada dos neerlandeses c.

1600.• Disputa entre suecos e

dinamarqueses: 1650.• Supremacia ashanti com o início

do século XVIII, quando o comércio de escravos superou as exportações de ouro em pó.

Quantidade de escravos embarcados por região

Período Costa do Ouro

1626-1650 1.078

1651-1675 12.428

1676-1700 34.007

1701-1725 106.529

1726-1750 96.388

1751-1775 132.06

1776-1789 87.894Total 470.384

Consulta ao: http://www.slavevoyages.org/tast/database/search.faces. Acesso: 24 abr 2014, 15:57.

Page 6: Isert

Noções espaciais

Mapa1. In: BARBOT. Jean; HAIR. Paul; JONES. Adam; LAW. Robin. Barbot on Guinea: the writings of Jean Barbot on West Africa 1678-1712. Londres: Ashgate Pub Co, 1999. [adaptado e com legendas traduzidas por Nicolau Parés e designações étnicas acrescentadas por Vinicius Lins Gesteira, meramente ilustrativas. Disponível no site: <http://www.costadamina.ufba.br/index.php?/conteudo/exibir/11>. Acesso: 15 set 2013.

Page 7: Isert

Noções espaciais

Mapa2. In: JUHÉ-BEAULATON, Dominique . "Paul Erdmann Isert (1755-1789), médecin naturaliste sur la côte de Guinée : une source pour une histoire des paysages" . Afriques [Online], Variai. Disponível em: http://afriques.revues.org/945. Acesso: 24 mai 2014.

Page 8: Isert

ISERT: VIDA, ÉPOCA E RETÓRICAISERT: VIDA, ÉPOCA E RETÓRICA

Page 9: Isert

Breve biografia: Isert (1756-1789)

• Prussiano filho de tecelão com formação em medicina e botânica. Recolheu espécies vegetais africanas para a Europa. [JUHÉ-BEAULATON, Dominique. Op. Cit. e " Paul Isert." In: Den Store Danske. Disponível em: < http://www.denstoredanske.dk/Dansk_Biografisk_Leksikon/Sundhed/Kirurg/Paul_Isert >. Acesso: 24 mai 2014]

• Médico dos fortes dinamarqueses. Tinha também de checar a saúde dos escravos à venda.

Page 10: Isert

Breve biografia: Isert (1756-1789)

• 4 viagens à Costa do Ouro. Lá morreu.

• Participou do comando de um conflito contra Agueus hostis para construção de um novo forte às beiras do Rio Volta, .

• Foi ferido em revolta de escravos no navio negreiro rumo a São Bartomeu, colônia dinamarquesa nas Antilhas.

Page 11: Isert

Isert: Perfil intelectual

• Quadro do Iluminismo Radical: Fundamentação no Abade Raynal e Rousseau, sobretudo na objeção ao tráfico de escravos africanos.

• Tem uma postura diferente em relação à maioria dos outros cronistas. Apresenta um “relativismo” à la Montaigne: o ideal é o grego e o romano. [LESTRINGANT, Frank. O Brasil de Montaigne. Rev. Antropol., Dez 2006, vol.49, no.2, p.515-556. p.543.]

Page 12: Isert

O “relativismo” como um princípio da antropologia

• A tradição boasiana do relativismo cultural na antropologia. [BOAS, Franz. "The Limitations of the Comparative Method of Anthropology." In: _______. Race, Language, and Culture. Chicago: University of Chicago Press. 1982 [1896].]

• Críticas à noção de relativismo [CASTRO, Eduardo Viveiros de. “Transformação” na antropologia, transformação da “antropologia”. Mana[online]. 2012, vol.18, n.1, pp. 151-- 171.‐ ]

• “Lembrar” e “equecer” a África.• Há em Paul Isert uma retórica “relativista”?

Page 13: Isert

Sua obra

• ISERT, Paul Erdmann. Voyages en Guinée et dans les iles Caraibes en Amérique. 2.ed. Paris, Maradan, 1793. [Reise nach Guinea und den Caribäischen Inseln in Columbien: in Briefen an seine Freunde beschrieben. Kopenhagen: Morthorst, 1788.]

• Consiste de quatro cartas (1783-1788).

• Registro de história natural e dos costumes.

Page 14: Isert

Notas sobre literatura de viagem

• Desde o século XVI: cosmografia tida como essencial na erudição dos pensadores e dos agentes políticos, tendo ênfase em alguns topoi (costumes, direito natural). [Rubiés, Joan-Pau . "New Worlds and Renaissance Ethnology." History and Anthropology. 6, no. 2: 157-197. 1993.]

• Exemplo do “Alcance” dessa literatura: viajante e cronista Williem Bosman é o pai do “fetichismo”. [PIETZ, William. “The Problem of the Fetish, IIIa: Bosman’s Guinea and the Enlightenment Theory of Fetishism.” RES: Anthropology and Aesthetics. Havard, v. 16, p. 105–123, 1988.]

Page 15: Isert

ANÁLISE DA OBRA: ANÁLISE DA OBRA: RELITIVIZAÇÃO “EM TERMOS”RELITIVIZAÇÃO “EM TERMOS”

Page 16: Isert

As mulheres

"As mulheres de Acra." ISERT, Paul Erdmann. Op. cit. 1.ed. p.2.

• Descrição detalhada das mulheres ressaltando os adornos, roupas, cores prediletas. Há uma ênfase na higiene e no perfume das mulheres de Acra (ISERT, Paul Erdmann. Op. Cit. p.165-168).

Page 17: Isert

Guerra, costumes e política na África

• Mostra-se perplexo com as simulações de ataques com tambores feitas pelos africanos antes da batalha de fato, qualificadas como singeries, macaquices (p.54).

• Menção a um guerreiro africano chamado Lathe (o qual enviara seus filhos para estudar na Inglaterra), um cabaceiro, chefe local, de Popo, aliado dos Agueens e dos Dinamarqueses, cuja eloquência e poliglotismo foi comparado por ele à oratória grega (p.70).

Page 18: Isert

Guerra , costumes e política na África

• Submetido a uma prova de fidelidade de ter uma serpente colocada sobre o seu braço, estando com os olhos fechados, e seu estranhamento sobre a relativa divinização da serpente na Costa do Ouro (p.82).

• O rompimento dos contratos pelos africanos é considerado igual ao praticado pelos europeus (p.193).

Page 19: Isert

Escravidão• "O roubo era antigamente muito raro, e eu diria que

mesmo desconhecido entre os Negros, antes da chegada dos Europeus. Suas necessidades eram tão poucas e pequenas, e o que era necessário, cada um tinha em abundância. [...] Os Europeus lhe puseram em contato com uma multidão de artigos de luxo [...] e como os Europeus só estão interessados em escravos, eles se põem a vender seus irmãos e compatriotas [...] (p.200-201)"

• "Le vol, étoit autrefois très-rare, je puis même dire inconnu parmi les Nègres, avant l'arrivée des Européens. Leurs besoins étoient alors petits & en petit nombre, & ce qui leur étoit vraiment nécessaire, chacun l'avoir en abondance. [...] Les Européens leur ont apris à connoitre une multitude une choses de luxe. [...] & comme rien ne peut s'acheter bon marché, des Européens, qu'avec des esclaves, ils se saississent de leurs freres & de leurs compatriotes [...]."

Rousseau, você está aqui?

Page 20: Isert

Escravidão

• “Assim se estabeleceu o comércio de Negros, que fez durante os dois últimos séculos uma época de vergonha para a humanidade.” (p.224)

• "Ainsi s'établit le commerce des Nègres, qui fait dans ces deux derniers siècles une époque à la honte l'humanité!"

Abade Raynal, você está aqui?

Isert escreveu essa passagem DEPOIS de ter sofrido o atentado na revolta de negros no navio negreiro.

Page 21: Isert

Considerações finais

• Existe um esforço “relativista” na cosmografia de Isert sobre os Akhan, ainda que em tensão com o bias em várias partes, porém coerente com a noção de relativismo.

• Resposta(tácita) a Snelgrave, cosmógrafo para o qual o tráfico europeu de escravos africanos estava fundado em uma pretensa inclinação destes para o crime. [SNELGRAVE, William. A New Account of Some Parts of Guinea, and the Slave Trade. London: Printed for James, John, and Paul Knapton, 1734.]

Page 22: Isert

Considerações finais

• Sugestão: viste o site www.costadamina.ufba.br do projeto do professor Nicolau Parés para consulta e leitura de originais e traduções para o português de trechos de cosmógrafos sobre a região em questão. (Isert não está entre os contemplados nesse site.

Page 23: Isert

REFERÊNCIAS ADICIONAIS• FOUCAULT, Michel. L'archeologie du savoir. Paris: Éditions Gallimard,

1969.

• JONES, Adam. “Decompiling Dapper: A Preliminary Search for Evidence”. History in Africa, vol. 17, p. 171-209, 1990.

• LARANJEIRA, Lia. Representações sobre o culto da serpente no reino de Uidá: um estudo da literatura de viagem europeia – séculos XVII e XVIII. Dissertação em Estudos Africanos Pós-Afro/CEAO/UFBA, 2010.

• SAHLINS, Marshall. Islands of History. Chicago: University of Chicago Press, 1985.

• PARÉS, Luis Nicolau. A formação do candomblé: história e ritual da nação jeje na Bahia. 2. ed. Campinas: Ed. UNICAMP, 2007.

• WILKS, Ivor. Forests of Gold: Essays on the Akan and the Kingdom of Asante. Athens: Ohio University Press. 2001.

Page 24: Isert

MUITO OBRIGADO MUITO OBRIGADO A TODOS E A TODASA TODOS E A TODAS