James_Heckman-Portugues

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Secretaria de Assuntos Estratégicos Presidência da República Sr. James Heckman. Há pouco ouvimos a apresentação de quatro ideias para o Brasil, de fato, melhorar a vida de suas crianças e aumentar a aptidão desta próxima geração. E eu ainda alego que esses quatro pontos são valiosas diretrizes que podem ser qualificadas e podem ser aperfeiçoados de alguns modos, e eu vou tentar esclarecer o que quero dizer: Em primeiro lugar, não há dúvidas de que, ao se aprimorar a qualidade dos serviços prestados à criança, estaremos dando oportunidades iguais tanto às crianças nascidas em famílias carentes quanto às crianças de famílias de classe média ou alta. Estabelece-se, então, um senso de oportunidade comum e as crianças, que até então não tinham acesso a esses serviços, terão agora a mesma oportunidade. Eu acredito que a ideia de criar um sistema unificado ajudaria a estabelecer – e eu espero que seja estabelecido – um padrão mínimo, ou, talvez, mais que um padrão mínimo de qualidade que assegure essencialmente que as crianças poderão ter um ambiente estimulante que lhes proporcione encorajamento e que vai lhes dar o tipo de habilidade que elas precisam para viver plenamente sua vida. E eu vejo um programa nacional com um padrão diferente do que atualmente é adotado no Brasil. Um programa com benefícios potenciais para assegurar que todas as crianças terão a aprendizagem necessária para seu desenvolvimento em todos os passos de suas vidas, e não só no Brasil, mas ao redor do mundo.

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Secretaria de Assuntos Estratégicos

Presidência da República

Sr. James Heckman.

Há pouco ouvimos a apresentação de quatro ideias para o Brasil, de fato,

melhorar a vida de suas crianças e aumentar a aptidão desta próxima geração. E

eu ainda alego que esses quatro pontos são valiosas diretrizes que podem ser

qualificadas e podem ser aperfeiçoados de alguns modos, e eu vou tentar

esclarecer o que quero dizer:

Em primeiro lugar, não há dúvidas de que, ao se aprimorar a qualidade dos

serviços prestados à criança, estaremos dando oportunidades iguais tanto às

crianças nascidas em famílias carentes quanto às crianças de famílias de classe

média ou alta. Estabelece-se, então, um senso de oportunidade comum e as

crianças, que até então não tinham acesso a esses serviços, terão agora a mesma

oportunidade.

Eu acredito que a ideia de criar um sistema unificado ajudaria a estabelecer

– e eu espero que seja estabelecido – um padrão mínimo, ou, talvez, mais que um

padrão mínimo de qualidade que assegure essencialmente que as crianças

poderão ter um ambiente estimulante que lhes proporcione encorajamento e que

vai lhes dar o tipo de habilidade que elas precisam para viver plenamente sua

vida.

E eu vejo um programa nacional com um padrão diferente do que

atualmente é adotado no Brasil.

Um programa com benefícios potenciais para assegurar que todas as

crianças terão a aprendizagem necessária para seu desenvolvimento em todos os

passos de suas vidas, e não só no Brasil, mas ao redor do mundo.

Assim, o que nós queremos é procurar estimular e oferecer o mesmo

programa com o mais alto nível possível de qualidade para todas as crianças. E é

muito importante a manutenção deste padrão de qualidade em níveis altos. Assim,

todos terão um programa idêntico e do mais alto nível.

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Eu digo que existe um papel muito importante e poderoso a ser

desempenhado, e a meta – uma das quatro metas que temos aqui –, é

basicamente trazer a família, ajudar no planejamento familiar, ajudar a família a

conhecer e reconhecer os serviços disponíveis e como eles podem ser usados

sabiamente.

A outra meta é integrar esses serviços a fim de reconhecer as ligações que

incorrem entre o cognitivo, o social e o emocional e os aspectos do

desenvolvimento humano.

Tipicamente, na maioria dos países, essas tarefas de tentar promover

cognição, promover habilidades sociais, promover saúde, políticas familiares, tudo

é tratado como silos independentes sem qualquer integração.

Creio que a vantagem de tentar reunir todos estes aspectos, construídos

em virtude da evidência de como essas habilidades interagem entre si, as

simbioses dessas habilidades, o fato de que elas se tornaram habilidades que

uma criança saudável, de fato, é a que vai aprender mais, que vai estar mais

engajada e, talvez, também mais aberta, mais disposta a experiências. Que a

criança que é, de fato, mais motivada em certos aspectos, mais aberta a

experiências, que se dá bem com os colegas e com outras crianças, vai ser

alguém que vai aprender mais e, talvez, também ser mais saudável, pelo fato de

ela poder alcançar, aprender com o outro e entender que aquele tem uma

limitação, o outro, não.

Assim, a metodologia vem junto e se revela em quatro pontos diferentes.

Esses pontos se unem para reconhecer aquele padrão mínimo: mínimo de

habilidades, mínimo de capacidades; neste programa, eles entenderão as crianças

individualmente, e não como se todas se desenvolvessem do mesmo modo.

Um programa uniforme não dará certo porque nem todas as crianças

progridem do mesmo modo. Há diferenças substanciais, até mesmo no

desenvolvimento entre meninos e meninas, na maturidade, na idade em que se

interessam pelo sexo oposto, na violência, no nível de controle, no autocontrole, e

diferenças não só entre os meninos e meninas, mas entre crianças de classes

sociais diferentes, até mesmo crianças da mesma classe social, com pais

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possivelmente de outras classes. Assim, cada um, individualmente, estará se

desenvolvendo de modo produtivo.

Nós estamos em um mundo individual onde somos também indivíduos. E,

se nos reconhecemos indivíduos, precisamos de um sistema de ensino que

também reconheça este fato. Assim, penso que um programa que essencialmente

reconheça essas sinergias e reúna, numa única estrutura, as habilidades

diferentes que interagem de modo que nós não entendíamos há vinte anos,

construir um programa assim pode ser extremamente valioso.

E a pergunta é: deve o Brasil adotar esse sistema? O Brasil já pode adotar

este sistema, e tem recursos para tanto? Existem várias respostas. A primeira é:

pode o Brasil deixar de adotar um sistema? O Brasil tem tido um enorme

progresso, aumentando o nível educacional. Nenhuma dúvida quanto a essa

questão. Quando o Ricardo (Paes de Barros) era um estudante na Universidade

de Chicago, eu acredito que o tempo médio de estudos de um brasileiro estava

perto de quatro anos.

Nas últimas décadas, essa média vem subindo substancialmente, e as

novas gerações estão se superando. Não só na média, como também na

quantidade de estudantes. Esse fato cria uma grande inclusão social. Ajuda o

Brasil a crescer economicamente com uma mão-de-obra mais qualificada. Mas

acredito que ainda há muito por fazer, especialmente com o Brasil se

enriquecendo cada vez mais, com as políticas e a produtividade do País se

expandindo. O Brasil realmente precisa continuar neste processo de construção

de uma sociedade mais justa.

O Brasil fez progressos na qualidade da sua produção, mas não fez tudo o

que pode fazer. Em parte, o que podemos fazer é transferir os benefícios desses

programas às crianças de cada geração. A cada geração que se sucede, cada vez

mais habilidades serão transferidas, até que elas possam fazer suas próprias

escolhas, tornar-se independentes e ter acesso e direito para desenvolver seu

próprio potencial, sua própria habilidade. E eu acredito nesta progressão natural

de desenvolvimento econômico.

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O Brasil está no caminho certo para seu desenvolvimento econômico.

Acredito que a característica comum entre grandes países como Brasil, Rússia,

Índia, China, mesmo outros países, é que eles não deveriam estar no mesmo

bloco. Mas, de certo modo, todos os quatro estão fortes economicamente. E têm,

de fato, grande influência na economia mundial e no mundo, em geral.

Mas também penso que cada uma dessas economias, especialmente

Brasil, China e a Índia, mostraram grande desenvolvimento econômico e têm

dividendos para utilizar. Não se devem deixar guiar por padrões mínimos e deixar

faltar condições para as suas crianças. Brasil não é Malawi, Brasil não é Uganda.

O Brasil não é um país desesperadamente pobre como ainda o são Malawi, e

Uganda e outros países na África Central e alguns países na Ásia. Como podem

eles colher os benefícios de seu crescimento econômico agora? Podem reinvestir

de algum modo que não seja aumentando o nível de consumo.

Mas outra parte importante da história seria dar certeza à próxima geração

de que a oportunidade está lá. Assim, eu acredito que o Brasil está mudando a

ordem do dia e mostrando, sabiamente, como se move uma sociedade que dá

chances para que as habilidades individuais se desenvolvam positivamente, além

de promover reais oportunidades para crianças.

E é este progresso que está fazendo com que o Brasil aumente também o

saldo da sua balança educacional. E eu antecipo o êxito deste programa com a

união desses quatro pontos a uma sábia política social. Obrigado.