Jefferson Magno Costa - Paulo Macalão, A Chamada Que Deus Confirmou

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História do Pr. Paulo Leivas Macalão

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Capítulo 1:O FILHO DO GENERAL     O Rio Grande do Sul, por ser um Estado localizado no extremo Sul do Brasil, é favorecido por um clima subtropical, uma vegetação de matas virgens, planíces e campos levemente ondulados e verdejantes, e um solo amplamente beneficiado pelas águas.      No curso de sua história, portugueses e espanhóis muito lutaram, tentando traçar os seus limites. Essa eventualidade marcou e, de uma vez por todas, definiu o caráter do seu povo.     Pois o gaúcho é antes de tudo um destemido, um desassombrado diante da iminência do perigo ou dos mistérios da vida. Mas é um forte sem arrogância.      Destemido e forte seria Paulo Leivas Macalão, um menino que no dia 17 de setembro de 1903, nasceu na cidade de Santana do Livramento, fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai. 

     Filho de João Maria Macalão e de Joaquina Georgina Leivas Macalão, Paulo Macalão foi educado dentro dos princípios que regiam as antigas famílias gaúchas.      Seu pai, oficial do Exército Brasileiro, alcançaria o posto de general. Disciplina e método foram, portanto, as normas aplicadas na educação de Paulo.      O menino cresceu aprendendo a identificar-se com a exuberante natureza que o rodeava, alongando o olhar pela vastidão dos campos, pelas grandes planíces cobertas de vegetação rasteira, e admirando os rebanhos que, pela manhã, espalhavam-se pelos pastos verdejantes das coxilhas.     As campinas, as árvores frutíferas e os rios traçaram o horizonte sem limites de suas brincadeiras de menino.     Cultivadas em grande escala pelos colonizadores italianos e alemães, a noz, a maçã, a oliva, o pêssego e a uva enriquecem as cestas de vime dos camponeses gaúchos, pois o clima, a qualidade do solo e o seu relevo beneficiado pela boa distribuição dos rios, fazem dos seus campos e bosques verdadeiros pomares.      A natureza enriqueceu embelezou a infância do menino Paulo.     Contam os antigos historiadores que, no século passado, um federalista foragido na selva do Rio da Várzea descobriu as águas termais de Iraí. Por suas características medicinais, essas águas foram denominadas “águas de mel”.     Consultando-se um mapa do Rio Grande do Sul, vê-se Iraí situada no extremo Norte, sobre a linha que separa o Estado gaúcho do Estado de Santa Catarina. No extremo oposto à cidade de Iraí, ao Sul, na divisa do Rio Grande com o Uruguai, localiza-se a cidade de Santana do Livramento.     Fontes termais não brotariam de seu solo nem suas ruas seriam transitadas por doentes em busca das águas salutíferas. Mas Paulo Macalão, ali nascido no início deste século, muito contribuiria para que milhares de seres humanos fossem conduzidos à verdadeira Fonte de Águas Vivas, para nelas restabelecerem a saúde de suas almas, e encontrarem a paz.     Até os cinco anos de idade, Paulo e os seus irmãos, Fernando e Maria, tiveram sobre suas vidas a suavidade, o zelo e o carinho das mãos de sua mãe, D. Georgina.      Os primeiros rudimentos da língua portuguesa ela os ensinou a seus filhos, e desenvolveu neles a inclinação para a vida religiosa. Pois, sendo católica e assídua às missas da igreja das 

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Missões, D. Georgina sempre conduziu consigo o pequeno Paulo, durante as longas procissões pelas ruas de Santana do Livramento.      O gaúcho tem um passado religioso muito forte, profundamente enraizado em sua alma e em sua história. A partir do século dezessete, a influência jesuítica se apossou do espírito dos colonizadores.       A marca que os Sete Povos das Missões do Uruguai deixaram na história da colonização é indiscutivelmente inapagável. Paulo sofreu a forte imposição do catolicismo ali dominante, e isso contribuiria, positivamente, para traçar o perfil do seu espírito religioso.       Perdendo sua mãe em 1908, ele continuou acompanhando as procissões, não só enlevado com as projeções pirotécnicas dos foguetes, mas porque algo de profundo e misterioso o atraía. Havia alguma coisa de inexplicável naquele povo que se movia fascinado pela majestosa e alta figura da cruz.      Após o falecimento de D. Georgina, João Maria Macalão foi transferido para a cidade de São Luiz Gonzaga. Futuramente, não a cidade, mas uma rua carioca, com o mesmo nome de São Luiz Gonzaga, teria marcante e decisiva participação no futuro do jovem Paulo.     Essa mudança movimentou sua vida, enriquecendo-a de novas experiências e paisagens novas. Mas ele jamais se esqueceu de quanto sua infância se viu empobrecida com a ausência de sua mãe. E não se esqueceu, também, de quanto seu pai se empenhou em distraí-lo e cercá-lo de carinho, tentando preencher a lacuna que D. Georgina deixara na família.    As viagens de carroça pelas madrugadas frias, os episódios envolvendo contrabandistas nas fronteiras do Sul, os inúmeros contatos com criadores de gado e lavradores, as reuniões em família para se tomar chimarrão – de nada se esqueceria ele, quando de suas conversas acerca do seu passado.      Como se esquecer do vento gelado e cortante que sopra no Sul, o minuano? Como esquecer aquele vento que, descendo do planalto e das serras, passa uivando sobre as florestas de araucárias, sibilante e ameaçador?      Provocando nevoeiros, geadas e até queda de neve, o minuano queima os lábios e as orelhas de quem não estiver abrigado, e faz com que os gaúchos de algumas cidades tranquem-se em suas casas, deixando as ruas desertas, como de cidades abandonadas.     Desde menino, Paulo preocupou-se com a profissão que iria escolher. Poderia entregar-se a muitas atividades: cuidar de uma indústria, de rebanhos, de casas, ou ser um militar como seu pai.      Passara sua infância dentro dos quartéis em companhia do pai. Assimilara tudo sobre a vida militar, e João Maria Macalão desejava vê-lo general. Mas alguém lhe dissera que a melhor profissão era a de médico, porque o médico curava as doenças do corpo.       Então sua alma de criança sentia o desejo de fazer algo pelos outros, tirar a tristeza e encher de alegria o lar que chorava; curar, amenizar a dor, ajudar a quem quer que fosse.      Porém, quando se lembrava das palavras de sua mãe acerca da alma, concluía que ser padre era muito melhor, porque o padre oferecia o remédio para as doenças do espírito.       Nessa época seu pai foi transferido para o Rio de Janeiro, e nessa cidade a vida do jovem Paulo iria mudar.

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Capítulo 2: SENHOR, TENHO SEDE DE TI!

     Rio de Janeiro, 1923. As pessoas que se movimentam apressadamente pelas ruas de São Cristóvão não irão notar naquele rapaz de mediana estatura, a pele clara, as mãos nos bolsos e os olhos fixos no chão, caminhando devagar, completamente entregue aos seus pensamentos. São quase seis horas da tarde.      Pelas calçadas da Rua São Luís Gonzaga, os transeuntes apressam o passo, na pressa de chegarem em casa para o descanso e a refeição em família. A noite se aproxima, silenciosa e submissa. O vento sopra, suave e insistentemente, varrendo as ruas. Súbito, aquele rapaz pára, abaixa-se e apanha alguma coisa que vinha rolando pelo chão.      Ninguém deu a mínima importância a esse seu gesto. Um rapaz humildemente vestido, de humildes atitudes e olhar pacífico, segurando com ambas as mãos um pequeno papel amarrotado e tentando ler o que nele estava escrito, dificilmente despertaria a curiosidade de alguém.     Mas se os homens soubessem quem era esse homem e o que estava escrito naquele papel, ajuntar-se-iam à sua volta para admirá-lo.      Se os anjos, contemplando a Terra, divisassem aquele moço a maravilhar-se pouco a pouco com o que lia, cantariam hosanas a Deus que, naquele momento, estava iniciando a maravilhosa convocação de um laborioso e zelosíssimo ceifeiro para a sua seara.      E se os demônios descobrissem que o rapaz chamava-se Paulo Leivas Macalão, e o papel era um folheto evangélico que a providência divina havia posto diante dos seus olhos, ter-se-iam ajuntado furiosamente contra ele e, formando uma grande casta, soprariam com toda a força dos seus diabólicos pulmões sobre aquele papel, na tentativa de evitarem que aquela semente, lançada ao vento e recolhida pelas mãos daquele moço, frutificasse em tantas e tão frondosas árvores, e que ele viesse a se tornar um dos grandes patriarcas da Fé no Brasil, um dos maiores condutores do rebanho de Jesus Cristo sobre a Terra.

     Paulo Leivas Macalão não suspeitava da importância daquele achado nem da repercussão que o folheto teria em sua vida. Porém sua alma há muito desejava algo que até então não encontrara em parte alguma, algo que o preenchesse, que o alimentasse, que o definisse.      Pois sua vida estava mergulhada em uma angustiosa e muda indecisão. Os anos que passara 

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estudando no Colégio Batista haviam contribuído para aguçar ainda mais aquela sensação de desconforto, de necessidade de algo que satisfizesse o seu interior e o pacificasse consigo mesmo.     Ele ainda não encontrara explicação para a inveja que havia sentido quando, no Colégio Batista, vira os seminaristas reunidos e entregues ao estudo da Palavra de Deus. O que estudavam eles que ele também não pudesse estudar? Por que estavam tão entusiasmados diante de um livro cujo conteúdo ele mal conhecia através das leituras que ouvira durante as missas, e, assim mesmo, leituras feitas em latim?      Desejava muito aprofundar-se no estudo desse livro misterioso, a Bíblia. Concluindo o ginásio e desejando completar seus estudos secundários, matriculou-se no Colégio Pedro II, sempre possuído daquela sensação de que algo de muito profundo e de muito belo lhe faltava.     Naquela época, a grande maioria dos professores do Colégio Pedro II professava abertamente o ateísmo. Pois o Brasil da década de 20, com relação ao seu posicionamento diante dos estudos religiosos e científicos, oscilava entre a tradição e o cientificismo. E essa atitude fazia com que, em assuntos religiosos, a opinião dos pseudo-sábios prevalecesse no espírito da juventude estudiosa.     Quando, durante as aulas frequentadas por Paulo, as preleções giravam em torno de Deus e de sua existência, a classe se dividia entre os que criam e os que não criam em Deus.       Sedento da verdade e sentindo-se afrontado em suas convicções, o jovem Paulo discutia com ardor acerca de um assunto que lhe tocava profundamente, desde as suas mais remotas origens. Sua infância, o ambiente em que se criara, os ensinamentos de sua mãe e o que aprendera depois – tudo era de total significação para ele, e ele jamais poderia ficar calado diante de dúvidas e acusações de inexistência do Ser Maravilhoso que enchera sua infância de profundidade e beleza.     Além do mais, nos tempos do Colégio Batista, ele ouvira o grande teólogo Langston discorrer acerca de muitos assuntos que despertavam a sua curiosidade. Langston impressionava a todos pelos seus sólidos e diversificados conhecimentos teológicos e bíblicos, pela sua largueza e firmeza de visão, e pela sua vida de alto conteúdo espiritual.      A primeira geração de pastores e pregadores brasileiros contraiu uma grande dívida para com ele. E o grande líder que seria Paulo Leivas Macalão obsorveu e guardou para si, nas várias ocasiões em que ouviu esse teólogo pregar, as qualidades necessárias a um legítimo homem de Deus, à envergadura inconfundível de um propagador da fé.

     Mas aquelas discussões com os professores do Pedro II enchiam sua alma de agitação e tristeza.      Foi após uma dessas polêmicas que ele saiu a andar pelas ruas de São Cristóvão, silencioso e cabisbaixo. E foi então que achou aquele pequeno pedaço de papel impresso, aparentemente insignificante, mas que iria mudar completamente o rumo de sua vida.     O folheto convidava o leitor a comparecer aos cultos que se realizavam na Igreja de Deus, também conhecida como Igreja do Orfanato, situada na Rua São Luís Gonzaga, número 12. O jovem Paulo resolveu visitá-la, e, do contato e conhecimento que fez com os irmãos que ali congregavam, tornou-se admirador e amigo do Evangelho.      Entre esses irmãos havia alguns que tinham aceitado a Jesus no Norte do Brasil – região por onde o Evangelho pentecostal havia penetrado, trazido pelos missionários Gunnar Vingren e 

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Daniel Berg, dois homens enviados por Deus para, através de longas e perigosas caminhadas e pregações em um idioma para eles quase desconhecido, acenderem a tocha evangélica da salvação proporcionada por Jesus nos corações dos que povoavam as imensas terras do Brasil.     Naquela igreja realizavam-se cultos aos domingos de manhã. Após os cultos, os irmãos atravessando o Campo de São Cristóvão, falavam do amor de Deus aos pecadores que encontravam ao longo do trajeto que se estendia até a Rua Senador Alencar, número 17, residência do irmão Eduardo de Souza Brito. Ali chegando louvavam o nome do Senhor, oravam e se despediam.      O irmão Eduardo era esposo da irmã Florinda Brito. O casal tinha seis filhos: Carlos, Sílvio, Armando, Otávio, Natalina e Zélia. Não sabia o irmão Eduardo que sua filha Zélia seria a extremada esposa e dinâmica ajudadora de Paulo Leivas Macalão, um dos grandes pioneiros da fé evangélica no Brasil. 

     O Senhor muito se alegraria do seu servo, pois naquele lar dedicado à adoração e ao júbilo a Assembleia de Deus nasceria, e o número dos remidos cresceria diante de Deus.     Paulo Macalão tornou-se assíduo nas orações realizadas na casa do irmão Eduardo. Para o general João Maria Macalão, aquelas repetidas e longas ausências de seu filho, andando por lugares que ele desconhecia, aliando-se a pessoas que se entregavam a práticas religiosas por ele reprovadas, eram motivo de constantes preocupações.      O general, contrariado com a atitude do filho, pediu-lhe que parasse de frequentar a casa “daquela gente”. Alguém lhe dissera que aquele povo era pobre e sem princípios, e costumava acercar-se de qualquer pessoa na rua, tentando convencê-la a passar para o lado deles.      Quando se reuniam, cantavam e oravam de modo a serem ouvidos por todos, o que para ele, era uma afronta ao decoro e à ordem.     Paulo ouviu aquelas acusações, silencioso e profundamente triste. Se o seu pai soubesse quem realmente era aquele povo barulhento!...      Todos em sua casa sabiam do quanto ele, Paulo, preocupava-se com sua salvação. Outra coisa não havia que ocupasse tanto o seu pensamento como o destino que teria sua alma. Desde os tempos do Colégio Batista vinha ele fazendo perguntas nesse sentido, e de ninguém obtivera resposta que o satisfizesse.     Mas fora justamente após os primeiros contatos que tivera com aquele “povo barulhento”, que sua vida começara a mudar. Havia algo de muito belo e muito puro naquele povo. Algo que o atraía, que o levava a frequentar aquelas reuniões espirituais, aqueles ajuntamentos revestidos de mistérios divinos, símplices, à luz das lamparinas de querosene.      Noites de súplicas, de cânticos, de leituras da Palavra de Deus, de testemunhos, de curas, de salvação e de suave conforto do Espírito Santo. Em 5 de abril e 1924, Paulo Leivas Macalão converteu-se ao Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.     Sua conversão contrariava a vontade de seus familiares, sobretudo de seu pai. Mas o Espírito de Deus havia colocado em seu coração o amor, a perseverança, o zelo pela fé que abraçara.      Os dias que transcorreram após aquela data, amargos e difíceis, mais e mais o aproximaram de Jesus.      De que adiantariam o silencio em família, as incompreensões, os dissabores gerados por sua transformação, se a preço de lágrimas, feridas, afrontas, o sangue de Jesus Cristo abrira aquele glorioso caminho de salvação para ele? Quem o separaria do amor de Cristo?      Os crentes reunidos na casa do irmão Eduardo, cantavam o hino “vem, meu libertador”, 

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quando subitamente a Fonte de Águas Vivas começou a jorrar de dentro dele, o verdadeiro Sol resplandeceu sobre o seu rosto, e sua alma foi possuída pela verdadeira Luz.

Capítulo 3: A OBRA EM EXPANSÃO     Vindo da região Norte, o irmão Heráclio de Menezes passou a frequentar a casa do irmão Eduardo de Souza Brito. Ali, pouco tempo depois, fundou uma Escola Dominical.     No dia 30 de abril de 1924, os irmãos reunidos na casa da irmã Florinda Brito, resolveram organizar, ilumiados pelo Espírito Santo, a primeira Assembléia de Deus no Rio de Janeiro, e assim, de comum acordo, elegeram o irmão Heráclio de Menezes como pastor interino, João Nascimento como diácono, e Paulo Leivas Macalão como secretário.      Era a Tocha de Deus que se acendia para iluminar o sudeste de Brasil.      O irmão Heráclio ficou responsável pela vinda ao Rio de Janeiro do missionário Gunnar Vingren (que se encontrava no Pará), para assumir o pastorado da igreja em São Cristóvão.     A primeira pessoa a ser batizada com o Espírito Santo na igreja recém-fundada foi a irmã Antonieta de Faria Miranda, que em seguida recebeu o dom de profecia. O batismo dessa irmã causou sensação e espanto geral.     O batismo nas águas era realizado na praia do Caju. Pouco tempo depois, o missionário Gunnar Vingren, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, batizou nas águas o irmão Paulo Leivas Macalão, sendo ele o segundo crente a constar do rol de membros da Assembléia de Deus em São Cristóvão.     Não demorou muito e o Espírito Santo veio sobre ele e o batizou com fogo, revestindo-o de poder, e dando-lhe sabedoria e autoridade para testemunhar de Jesus em qualquer lugar para onde o Mestre o mandasse.    Aquela data não mais seria esquecida: 3 de novembro de 1924 – dia de maravilhas, de indescritível contentamento, ocasião em que Paulo Macalão resolvera dedicar-se inteiramente à causa do Evangelho. Ele se colocava na presença do Senhor como um jovem destemido, pronto a combater o mal, pois a Palavra penetrara em seu coração, fazendo nascer em sua alma o desejo de pregar o Evangelho a toda criatura.     Como filho de um general, seu pai desejava muito vê-lo militarmente, fardado. Mas Paulo Macalão estava decidido a pagar qualquer preço para cumprir as ordens do General dos generais, Senhor de anjos, arcanjos, querubins, e de homens destemidos.      Ele se esforçaria para ser um varão valoroso e combater a iniquidade e as trevas com as armas da luz. Cingiria os seus lombos com a verdade, vestiria a couraça da justiça, calçaria os pés na preparação do Evangelho da paz e, escudado pela fé, tendo sobre a cabeça o capacete da salvação, empunharia a espada do Espírito, avançando como um soldado disciplinado e valente, para combater em nome do Senhor dos Exércitos, Rei da Terra e dos Céus.     Os irmãos de Realengo e Bangu, bairros conhecidos como “subúrbios da Central”, convidaram o irmão Paulo a visitar os seus lares e alguns pontos de pregação, onde o Evangelho estava sendo poderosamente pregado, fazendo a salvação e a esperança nascer nos corações.      E esta foi mais uma grande providência de Deus para com o seu servo, pois dessa convivência, variada e íntima, Paulo Macalão, que ocuparia todos os anos de sua vida pastoreando a Igreja do Senhor, obteria um valiosíssimo conhecimento da natureza da Seara do grande Pastor.      Não era mais o filho do general que ali estava, e sim o futuro pastor de almas, o irmão em Cristo e pregador do Evangelho, Paulo Leivas Macalão.     Em São Cristóvão, alem da residência do irmão Eduardo, serviam como pontos de pregação uma casa na Rua Senador Eusébio, a quitanda da irmã Rosa Rodrigues, na Rua 25 de Março, nº12, e a casa da irmã Amélia Monteiro. Isso nos primeiros meses de 1924. 

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     Em meados desse mesmo ano, com a chegada do missionário Gunnar Vingren, os irmãos alugaram um salão na Rua Escobar nº57, onde se estabeleceu a sede da Igreja. Foi a partir dessa época que o irmão Paulo Leivas Macalão começou a testificar de Jesus.     Posteriormente, com a chegada do missionário Samuel Nyströn, resolveram alugar um salão maior, situado na Rua Figueira de Melo, nº363, com capacidade para 40 pessoas. Nesse salão nasceu a primeira banda de música das Assembléias de Deus.      O irmão Paulo tocava o seu violino e a irmã Zélia cantava no coro. Não sabiam os dois do grandioso futuro que o Senhor reservara para eles.

Capítulo 4:O PESCADOR DE ALMAS      Os membros da Assembléia de Deus recém-fundada saíram a semear a preciosa semente. Os irmãos Varjão e Silvestre iniciaram um trabalho em Berford-Roxo, e o irmão Paulo Leivas Macalão começou a pregar a Palavra nos subúrbios da Central do Brasil. Era o milagre pentecostal se realizando, multiplicando incessantemente o número dos fiéis que serviam e louvavam a Deus por todas as suas maravilhas. Era a luz que começava a brilhar em lugares antes dominados pelas trevas.      Jesus se apossava amorosamente dos subúrbios, batendo nas portas dos humildes lares, e fazendo-se ouvir na voz dos que pregavam nas praças, nos mercados, nas esquinas, nas estações, e de casa em casa.     Tocando o seu violino e em companhia de alguns irmãos, Paulo Macalão despertava a atenção das almas que enchiam as estações dos subúrbios, atraindo-as com a bela mensagem dos hinos e com as pregações cheias do poder de Deus. Aliás, essas pregações já eram conhecidas na pequena comunidade evangélica de São Cristóvão.      A força com que ele pregava, a convicção com que dirigia seus ataques violentos contra o pecado, vinham sendo, há algum tempo, motivo de censura por parte daqueles que não viam no Evangelho algo que tivesse de ser pregado daquela maneira, às pressas e com uma autoridade até então nunca vista.     Censurado e incompreendido, o irmão Paulo, em setembro de 1926, decidiu pregar exclusivamente nos subúrbios da linha férrea Central do Brasil. A muitos pareceu uma atitude precipitada aquela do jovem pregador, pois dificilmente alguém se apartaria de uma igreja recém-organizada e promissora para embrenhar-se nas dificuldades e perigos daqueles subúrbios.     Mas Paulo Macalão agira assim movido pela vontade de Deus, pois, impulsionado pelo Espírito Santo e seguindo o exemplo dos discípulos do Mestre, tornar-se-ia pioneiro na evangelização no bairros de Realengo, Bangu, Parada de Lucas, Santa Cruz, Campo Grande, Ilha Grande e Macaé, ampliando a obra para outras cidades do Estado do Rio.      À medida que o Evangelho ia sendo pregado, novas igrejas eram organizadas e, filiadas a essas novas igrejas, novas congregações surgiam.     Certa vez estava ele pregando na estação de Realengo, quando um sentimento de completo abandono se apossou da sua alma. Distanciando-se um pouco de onde estava, pôs-se a observar a multidão dos que chegavam e partiam nos trens: homens, mulheres e crianças com um ar de cansaço e infelicidade, caminhavam em várias direções.      Era um povo, em sua grande maioria, fraco e doente, um rebanho triste: os rostos refletindo aborrecimento e ansiedade. Que fazer para torná-los felizes? Que fazer, também, diante do abandono e incompreensão daqueles que o deveriam ajudar a levar avante o trabalho de resgate dessas almas?      Foi quando, inesperada e docemente, descendo do alto, a inspiração divina se apossou do seu espírito e ele começou a escrever o hino “Canto do Pescador”, que, por si só, constitui-se em um registro histórico dos tempos em que o evangelho, pregado por valorosos pioneiros, sofria pressões e dificuldades de toda a ordem, em seu avanço invencível sobre ruas, bairros e 

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cidades do então Distrito Federal, o Rio de Janeiro, para erguer-se como um poderoso farol na escuridão:

“No meu barco a remar.Sobre as ondas, pelo mar...”

     Iniciava-se assim um dos mais belos hinos da Harpa Cristã, um dos mais belos de todos os que foram reunidos ali, e aquele que melhor define o estado de ânimo que dominava o irmão Paulo, naqueles tempos de expansão do Evangelho no Brasil. Maior prova não há de sua humildade, do reconhecimento de suas limitações, e do quanto os recursos materiais lhe faltavam. Mas o hino revela também a fibra imbatível de sua resolução e vontade de levar avante o trabalho de evangelização de milhares de almas, pois bem sabia ele que aquela obra era do interesse de Deus, e estava traçada no Céu:

O meu barco não é bom,De pescar não tenho o dom,E me dizem que não devo continuar;Mas Jesus me quis mandar,E por isso vou pescarTe que ele se apraza em me chamar.

Vou pescar os pecadores para Cristo,Neste mundo cheio de horror; Não mais desanimarei; Minha rede lançarei; Muitos peixes apanhando p’ra o Senhor.

CAPÍTULO 5:PASTOREANDO AS OVELHAS     Felisbela Barbosa de Freitas morava na Rua Claudino Barata, 154, no bairro de Realengo, em companhia do seu marido, Antônio Alves de Freitas. Ambos pareciam felizes na vida modesta que levavam. Não sabiam eles, porém, que breve um grande Sol iria se abrir no céu de suas vidas, para iluminar sua casa, purificar suas almas e invadir seus corações com a verdadeira felicidade.      Isso aconteceu quando as palavras de um jovem, que pregava com firmeza a salvação em Jesus Cristo, foram ouvidas por Felisbela. O poderoso e transformador Evangelho invadiu o coração daquela mulher, e ela creu e aceitou Jesus como seu Salvador, passando a confiar sua vida inteiramente ao grande Mestre.     Irmã Felisbela era mais um dos muitos frutos colhidos pelo jovem pregador e grande ceifeiro da seara divina, Paulo Leivas Macalão. Trabalhar incessantemente na Seara era o grande desejo daquele rapaz. Estava ele a pescar os pecadores para Cristo, e jamais desanimaria diante das muitas dificuldades surgidas.      Sabia que as almas resgatadas pelo sangue de Jesus precisavam ser doutrinadas pelos ensinos retirados da Palavra de Deus, precisavam ouvir sobre o amor e o poder de Jesus, precisavam cantar, precisavam orar, precisavam estar frequentemente reunidas, na serenidade da comunhão cristã. Havia, portanto, necessidade de um local para as reuniões e cultos.     A irmã Felisbela, intimamente chamada “Belinha”, havia sido convocada por Deus para realizar um grandioso trabalho nesse sentido. Esta serva do Senhor, tocada pelo Espírito Santo, colocou sua casa na Rua Claudino Barata à disposição do jovem pregador, e ali foram 

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realizados os primeiros cultos.    Não imaginava a irmã Belinha que aquele seu gesto iria ter uma grande repercussão na propagação do Evangelho no Brasil, pois o trabalho nascido em sua casa, anos mais tarde, tranformar-se-ia em um dos mais importantes campos propulsores da disseminação do Cristo Vivo. Almas sedentas e cansadas caminhariam para uma vida sublime nas mansões celestiais, eternamente iluminadas pelo evangelho do Senhor Jesus. Três vezes a irmã Belinha necessitou mudar-se, e a novel igreja teve de acompanhá-la nessas mudanças. Os endereços sucessivos foram rua Azeredo Coutinho, 115; rua Pedro Gomes e, novamente, rua Claudino Barata, 154.     Deus havia colocado no coração do moço Paulo Macalão o autêntico espírito apostólico. A chama pentecostal que ardia em seu peito levava-o a propagar o Evangelho nas pregações de bairro em bairro. Acompanhado do seu violino, em sua grande arrancada evangelística, ia ele sob o sol causticante ou sob a chuva miúda e fria, subindo escarpas, descendo vales, passando sob o portal dos ricos, visitando os casebres dos pobres, sorrindo ou chorando, semeando continuamente a Santa Palavra nos corações, plantando os alicerces para o progresso da Igreja de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.     Quando o cansaço se apossava de seus membros quanto a distância a percorrer era demasiadamente grande para as suas limitadas forças, ele alongava o olhar por aqueles montes que delineavam os subúrbios, e seu pensamento se distanciava até outros montes, mais altos e mais longínquos – os formosos montes que se estendem ao redor da Nova Jerusalém, eternos diante dos olhos de sua alma. E seu coração se fortalecia na força e na paz que vêm de Deus.     Em 17 de agosto de 1930, após seis anos de trabalho ininterrupto pela causa do Evangelho, os missionários Gunnar Vingren, Frida Vingren e Lewi Pethus, certos da aprovação de Deus, consagraram-no pastor. Dessa data em diante, Paulo Leivas Macalão empunhou ainda com mais vigor a espada do Evangelho, lutando incessantemente contra as hostes infernais.      Empunhou também o seu cajado e se ocupou da difícil tarefa de pastorear o crescente rebanho de Cristo, pedindo a Deus, em constante oração, por todas aquelas almas, e rogando-lhe misericórdia, graça e sabedoria para levar avante tão difícil tarefa, e mostrando-lhe a grande necessidade de obreiros naqueles lugares ermos, naquelas espessas matas de ignorâncias do nome de Deus.     É sabido de todos que o Senhor, em sua infinita misericórdia, volta-se para os que, com palavras e obras, trabalham pela causa do Evangelho, dirigindo-os e ensinando-lhes o que devem pregar e realizar. Os novos crentes passaram a ver naquele jovem pastor um homem de Deus, humilde e bom, santificado por Jesus Cristo e guiado pela luz do santo Espírito.     Paulo Macalão andava com a alma inteiramente tomada de amor e zelo por aquele trabalho. Todo o seu pensamento, todas as suas horas, todo o seu propósito estavam voltados àqueles que Deus resgatara do pecado para colocá-los sobre os alvos caminhos que conduzem à vida eterna.      Ocupava-se de suas vidas mais do que consigo mesmo, pedia a Deus por eles, e muito os amava, e tanto, que se possível fosse ocultaria suas almas em seu coração.

CAPÍTULO 6: Ó DEUS, CONCEDE-NOS UM TEMPLO!     Bangu foi escolhido como o principal centro das atividades evangelísticas empreendidas pelo jovem pastor Paulo Leivas Macalão. Para atender e congregar o grande número de almas que se convertiam a Cristo, iniciou-se a construção do primeiro templo das Assembleias de Deus em Bangu, um dos bairros do então Distrito Federal, Rio de Janeiro. A rua chamava-se Ribeiro de Andrade, número 65.     Inaugurada em 1º de janeiro de 1933, naquela igreja novos obreiros foram instruídos a levar a semente a muitas outras localidades necessitadas da Palavra de Deus. Os resultados dessas investidas contra o reino do abismo não se fizeram esperar.

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     Várias congregações foram surgindo, à medida que o Evangelho ia sendo pregado.       Já em 1929, o irmão Paulo Macalão começara a evangelizar Madureira. Na época, o trabalho ocupava um salão na residência do irmão Balbino, na Rua João Machado, nº 76. A Igreja de Madureira começou a formar-se ali. Em 1930, já contando com um bom número de crentes, mudaram-se para a Rua Borborema, número 77. Mais tarde, tranferiram-se para um salão na estrada Marechal Rangel (atual Edgar Romero) e, posteriormente, fixaram-se na Rua João Vicente nº 7.      Ocupado com várias frentes de trabalho, o pastor Paulo Macalão desdobrava-se em múltiplas atividades, para o engrandecimento do Reino de Deus.     Certo dia, ao regressar para casa, o jovem pregador encontrou o seu pai extremamente mal. O pastor Paulo sentiu que o velho general estava prestes a passar para a eternidade, tal era a gravidade do seu estado.      Portanto, não havia tempo a perder. Paulo Macalão mais uma vez falou ao seu pai do amor de Jesus, e em seguida perguntou se ele queria aceitar a Cristo como Salvador. O velho respondeu “sim”, com a cabeça. Depois, com muita dificuldade, falou: “Meu filho, Deus escreve certo por linhas tortas”.      No dia 6 de setembro de 1933, o general adormeceu, para só despertar ao som dos clarins celestiais.     Em Janeiro de 1934, o Senhor concedeu ao seu servo Paulo uma companheira, a irmã Zélia de Souza Brito, aquela que iria acompanhar o homem de Deus até que ele fosse chamado para o descanso eterno. Casou-os o missionário Samuel Nyström, na Assembleia de Deus em Bangu, e foram morar em dois cômodos pequenos, construídos anexos ao templo.      Não tinham cozinha, o que os obrigou a comer de marmita, durante quase 6 anos. A pequena casa havia sido mobiliada com os móveis herdados do general, falecido 5 meses antes do casamento.      Dentre esses móveis antigos, destacava-se uma mesa quadrada, de madeira escura. Sentado diante daquela velha mesa, o general, muitas vezes, com veemência, combatera a existência de Deus. Mas foi sobre ela que o irmão Paulo iniciou a tradução de vários hinos ingleses, franceses e espanhóis, e escreveu muitos outros de sua autoria, no intuito de organizar a nossa Harpa Cristã.      Ajudando-o na tradução, a irmã Zélia cantava para acertar a letra.     Nas gavetas do antigo bufê, o casal ia ajuntando, com muita dificuldade, parte do dinheiro que seria empregado na construção do grande templo em Madureira.     Como realizador de um trabalho pioneiro, a presença do pastor Paulo era solicitada em diversos lugares ao mesmo tempo. Muitas vezes ele só podia regressar ao lar de madrugada, após o longo trabalho realizado durante todo o dia.    Várias congregações foram abertas por ele sem a presença da irmã Zélia, porque o dinheiro do qual o pastor Paulo dispunha não dava para pagar a passagem de ônibus da esposa.      O trabalho se estendeu pela cidade de São Paulo, sendo iniciado em 13 de Julho de 1937, na Rua da Glória nº 605. Avançou ainda pelo interior e pelos Estados de Mato Grosso, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Goiás e Brasília.      No dia 20 de outubro de 1943, Deus agraciou o jovem casal com um filho, Paulo Brito Macalão.     No dia 14 de março de 1948, uma multidão de salvos, precedida de bandas de música, partia do templo situado na Rua João Vicente nº7, em direção à Rua Carolina Machado.      Sob uma chuva fina, a multidão caminhou cantando hinos, impulsionada por um grande entusiasmo, pois a alegria de servir a Cristo era mais forte do a chuva. Além do mais, o Espírito Santo estava fazendo cair, continuamente sobre eles, uma chuva de graça.      Chegando à altura do número 174 da Rua Carolina Machado, a multidão reuniu-se diante de um grande terreno existente ali. Às 15 horas daquele dia, lançou-se a pedra fundamental do templo da Assembleia de Deus em Madureira.     É plano de Deus fazer de cada coração um templo, onde o seu Espírito Santo possa habitar. 

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O Senhor habitará no meio da santidade.      Onde houver invocação e adoração do seu nome, ali estará Ele. Seus ouvidos estão voltados para os que suplicam. Ele visitará os que estiverem reunidos no templo, também biblicamente chamado casa de oração.     Durante muito tempo aquela obra iria ocupar as mentes e os corações de milhares de irmãos da Assembleia de Deus.     Continuamente, entre súplicas e lágrimas, mihares de servos de Deus pediram ao Senhor um templo onde pudessem se reunir para buscá-lo e louvá-lo com grande voz e corações unidos.     Todos eram pobres de recursos, mas a fé que os impulsionava era suficiente para remover qualquer montanha.     Iniciaram-se várias campanhas com o fim de se obterem recursos para a construção do templo. Muitos irmãos ofertavam as suas economias, outros ofereciam objetos que eram imediatamente vendidos, e com o dinheiro compravam-se cal, cimento, madeira, pedras, areia, ferro e tinta, e o templo ia surgindo.     A fé superava todos os obstáculos. As colunas erguiam-se diante dos olhos dos que por ali passavam, como símbolos do amor que unia um povo santo e temente a Deus, e como testemunho do que pode fazer o Evangelho transformador de vidas e de corações.     No decorrer da construção, notou-se que não havia água no terreno. Imediatamente os irmãos começaram a cavar um poço, mas não encontraram água. Cavaram em outro lugar, mas também nada encontraram.      E assim cavaram aqui e ali, sem nada conseguirem. Foi quando se lembraram de orar. E o mesmo Deus que fez com que os poços abertos pelos Patriarcas fartassem de água a pastores e rebanhos, ouviu as orações daqueles humildes construtores.      Uma fonte jorrou impetuosamente no porão da igreja, trazendo água em abundância para suprir as necessidades de toda a obra. Até hoje aquela fonte existe ali, e tal é o seu volume de água, que um motor foi instalado para dar vasão àquele líquido maravilhosamente brotado das entranhas da terra em resposta às orações dos servos do Senhor.     Quem tivesse olhos espirituais para contemplar o espaço celeste que separava aqueles irmãos das santas moradas de Deus, certamente veria o grande número de anjos que subiam e desciam, ocupados em levar ao trono da Graça, as orações daquela multidão que perseverantemente suplicava a Deus por aquela obra. Finalmente, no dia 1º de maio de 1953, o templo foi inaugurado.

CAPÍTULO 7:AQUI TE ADORAREMOS, SENHOR!     Na Rua Carolina Machado, entre as estações de Madureira e Cascadura, há uma porta aberta para os céus. Os trens que passam velozmente diante daquele lugar, ligando os subúrbios ao centro da cidade do Rio de Janeiro, conduzem almas sedentas da água que jorra continuamente ali, pois naquele templo o Senhor dos Exércitos dilatou as suas tendas e semeou bênçãos com fartura, e todos os dias recebe em seus braços os que chegam ali com fome e sede de salvação.     As quase oito mil pessoas que se reuniram no templo da Assembleia de Deus de Madureira, na noite de 1º de maio de 1953, não estavam ali para contemplar os belos vitrais, as possantes colunas, os ramalhetes de flores pintados no teto, os bancos, as paredes, as luzes, os degraus, as portas, as galerias. Não. Eles ali estavam para sentir a presença do Senhor, que pairava sobre a nave em toda a sua plenitude.      Aquela igreja representava um marco de vitória no doloroso e difícil caminho daqueles pioneiros – Paulo e Zélia Macalão, e de todos os que professavam o nome do Senhor e o serviam naquela igreja.     A inauguração contou com a presença de varias autoridades, civis e militares. Ao som do 

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Hino Nacional, a fita simbólica foi desatada pelo representante do Presidente da República, os irmãos entraram na igreja cantando hinos, e a festa espiritual começou.      O Espírito Santo estevea visivelmente presente entre eles durante todo o culto, derramando fogo santo e enchendo os corações de júbilo. Construído na terra mas com janelas e portas espirituais abertas para o Céu, só a eternidade poderá revelar o número de almas que já se converteram ao Senhor nesse belíssimo templo.     Seu interior, em estilo gótico, é cheio de uma certa majestade que faz interiorizarem-se os sentimentos, levando o coração e o espírito a adorarem a Deus. À noite, o amplo espaço da nave é invadido por uma suave luminosidade. Numa sucessão de curvas graciosas, arcos góticos, colunas entremeadas de ramagens floridas, cúpulas e pórticos de linhas dóceis, terminadas em curvas entrelaçadas de flores de gesso, a beleza surge espontaneamente aos olhos de quem se detem a contemplar aquela Casa de Oração.      A tonalidade suave das paredes, a largueza e amplitude do teto coroado de ramalhetes de flores artisticamente pintados, contribuem para que as diminutas lâmpadas, ocultas sob os frisos que se salientam em meia parede, produzam, em vários pontos, um bordado luminoso de várias cores. Porém, a majestade de Cristo e o esplendor de sua presença é o que mais se busca ali, na súplica e no louvor do Seu santo nome.     As comemorações de aniversários desse templo se tornaram um acontecimento extensivo a todas as igrejas filiadas ao Ministério de Madureira. Durante os cultos, corais, grupos musicais e banda de música de diversas igrejas e congregações comparecem à festa. As igrejas co-irmãs apresentam os nomes dos candidatos ao batismo nas águas. Passam a funcionar intensamente os serviços de relações públicas, secretaria, alimentação e hospedagem.      As irmãs pertencentes à CIBE (Confederação das Imãs Beneficentes Evangélicas) entram em ação, cooperando na cantina da igreja, servindo às mesas, comprando viveres e preparando a comida.     As festividades têm inicio com a execução do Hino Nacional e são encerradas com ele. Nos mastros do templo hasteia-se a Bandeira Nacional. Várias autoridades civis e militares comparecem. Pastores, evangelistas, presbíteros, diáconos e demais irmãos do Estado do Rio e de outros Estados se fazem presentes à festa, para estarem mais perto de Deus e desfrutarem das bênçãos ministradas pelo Espírito Santo.      O templo, que parece tão amplo, nesses dias não comporta a multidão que ali se reúne. Sob o invisível revoar de anjos e em cumprimento à direção do Espírito de Deus, novos obreiros são consagrados e enviados para fortalecerem os exércitos que levam as boas-novas de salvação.     Durante essas ocasiões especiais, o pastor Paulo Macalão, em todo o lugar e a toda hora, andava ocupado em atender àquela grande parcela do rebanho de Cristo. E para isso estabelecia uma comunicação constante com o Céu, intercedendo por todas aquelas vidas que se recolhiam sob o seu pastorado; rogava a Deus sabedoria e graça para que pudesse levar à frente tão importante obra. Seja o Senhor imensamente louvado por tantas e tamanhas maravilhas!     Deus ensinou o pastor Paulo a não tratar ninguém com coração doble, e em situação alguma procurava a fama, a lisonja, ou o louvor do mundo. Ensinou-lhe a humildade e a sinceridade. Fez dele um líder de uma envergadura espiritual incomparável, e deu-lhe a sabedoria de um conselheiro e o coração de um pai.      Pastor Paulo passou a pedir a Deus que lhe concedesse, também, poder para doutrinar a igreja, sob a autoridade e a inspiração do Espírito Santo. O povo de Deus deveria continuar nos antigos princípios, conservando a sã doutrina, e para isso, era necessário que se pregasse o Evangelho genuíno, e que todos os remidos andassem em retidão e no temor de Deus, conforme o exemplo da Igreja primitiva.      Aquele santo rigor antigo, aquela constante separação do mundo, aquela conduta irrepreensível deveriam ser transmitidas a esse grande rebanho, tornando-o indiscutivelmente o sal da terra e a luz do mundo.

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     Em 1958, o pastor Paulo Macalão foi eleito Pastor Geral do Ministério de Madureira e igrejas filiadas. Dois anos antes, a obra de evangelização se estendera e alcançara Brasília, que naquela época nascia docemente no coração do Brasil.

CAPÍTULO 8:NAS PISADAS DO MESTRE     O trabalho evangélico da Assembléia de Deus em Brasília teve seu início em 19 de novembro de 1956. assessorado por vários servos do Senhor, o pastor Paulo Macalão traçou as metas de ação daquele trabalho iniciado com perseverança e fé. O primeiro culto foi realizado sob o trepidar e o rumor das máquinas que abriam clareiras e fixavam, no chão vermelho, os marcos das avenidas e ruas da futura Capital do Brasil.     Ali o Evangelho florescia sobre o barro e se espalhava pelas amplidões, derramando-se em benignidade e esperança de salvação pelas estradas recém-abertas.     A primeira assembléia de membros da igreja como sociedade religiosa foi realizada em 15 de junho de 1957, em sua sede provisória na Cidade Livre, hoje Núcleo Bandeirante, com a finalidade de empossar sua primeira diretoria e adquirir, assim, personalidade jurídica. Imediatamente após essa reunião, iniciou-se uma campanha destinada a angariar recursos para a construção do templo, cujo término foi previsto para 1963.    Já em 1960, o pastor Paulo Leivas Macalão enviara ao então Presidente da República, Juscelino Kubistchek, um manifesto de congratulações pela criação de Brasília. O Presidente doou à Assembléia de Deus os lotes 33 e 34, na Avenida das Paróquias, atual Avenida W/5 Sul, Q 911, onde se deu início à construção da Catedral.      Uma grande campanha financeira foi organizada em diversos Estados em favor dessa obra, onde foram nomeados tesoureiros que reuniam e enviavam as ofertas para o tesoureiro–geral, no templo de Madureira.     Como era de prever, pela grandiosidade da obra, muitos foram as dificuldades enfrentadas no decorrer da construção. Os diversos pastores que, ao longo dos anos, foram se sucedendo na administração da Assembleia de Deus em Brasília (Ministério de Madureira), sentiram o quanto de esforços, súplicas a Deus, amor e perseverança aquela obra exigia.     O próprio trabalho evangélico no nascente Distrito Federal apresentou sérios problemas. Havia movimentos evangelísticos iniciados por igrejas que não se apoiavam na sã doutrina.      Para impedir que a proliferação de igrejas não-autorizadas continuasse, uma comissão constituída de oito pastores, entre eles Paulo Leivas Macalão e Alípio da Silva, fez pública a resolução da Convenção Geral, que decidira fundar a Convenção Regional das Assembleias de Deus de Brasília.      As Assembleias de Deus do Distrito Federal deveriam estar unidas pela referida Convenção Regional, não sendo reconhecida qualquer uma que se recusasse à união – solução encontrada para o grave problema.      A construção da Catedral avançou, impulsionada pela fé dos irmãos que oravam a Deus e davam as suas ofertas para que se concluísse mais um templo dedicado ao Rei dos reis. Puseram à venda flâmulas, maquetes e outros “souvenirs”, destinados à arrecadação de fundos para aquela construção.     A planta da catedral foi idealizada pelo pastor Paulo Macalão. Inspirado na história da Igreja Primitiva, ele desenhou a planta com o formato de um peixe, pois esse tinha sido o símbolo que identificava os cristãos de então, sobretudo quando viviam ocultos nos labirintos subterrâneos das catacumbas de Roma, fugindo das perseguições.     Quis o pastor Paulo revestir aquela moderna construção com uma das mais belas e puras significações do mundo cristão na Era Apostólica.     Mas o homem que tanto lutara em prol daquela obra, só iria vê-la concluída poucos meses antes de ser convocado às regiões celestiais. Em junho de 1982, Brasília seria enriquecida com o mais importante e belo edifício já construído ali. 

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     O mais importante, porque nele se faz presente Aquele que é superior a todas as autoridades da Terra – o Senhor dos Exércitos. E o mais belo, porque dentro dele os anjos invisíveis passeiam e os remidos se reúnem em comunhão com Deus.      Quem chega, por via aérea, à Capital, surpreende-se à primeira vista com a obra singular que surge em forma de peixe, como se, em pleno Planalto, uma grande baleia estivesse a tomar sol.     No decorrer de sua vida, o pastor Paulo viajou a diversos países, participou de importantes eventos e realizou inúmeras obras para engrandecimento do trabalho do Senhor.      Em 21 de abril de 1960, por iniciativa sua, o jornal evangélico “O Semeador” foi fundado, para semear as boas-novas e difundir entre os irmãos as maravilhas operadas por Deus no meio do seu povo.      Em 17 de janeiro de 1965, realizou-se no templo de Madureira o enlace matrimonial do jovem Paulo Leivas Brito Macalão com a senhorita Edna Rego dos Santos.      A cerimônia religiosa foi oficializada pelo pastor Alípio da Silva, e a benção nupcial foi impetrada pelo pai do noivo, pastor Paulo Macalão.      Com a irmã Zélia, o pastor Paulo Macalão fiz muitas viagens ao Exterior, quando visitaram os Estados Unidos, a Suécia, a Inglaterra, a Espanha e Portugal.      Como presidente da Comissão Brasileira Organizadora da 8a. Conferência Mundial Pentecostal, coube ao pastor Paulo entrar em contato, nos E.U.A., com o Reverendo Thomas F. Zimmermam, na época Presidente da Conferência Mundial Pentecostal. Ali, definiu-se a linha mestra de ação que nortearia a 8a. Conferência.     No ano de 1967, o povo pentecostal do mundo inteiro esteve com os corações voltados para a cidade do Rio de Janeiro, pois sabia que, nos dias 18 a 23 de julho, milhares de salvos estariam aqui reunidos num só lugar com uma só mente, com um só desejo e com a mesma chama do Espírito Santo a arder nos corações, como no dia de Pentecoste!      Noite após noite, o Maracanãzinho abrigou dezenas de milhares de almas vindas de vários países do mundo e dos Estados brasileiros. O Espírito Santo glorificou a Cristo! O sistema de Rádio e Televisão fez a cobertura do evento, talvez o maior ajuntamento pentecostal no Brasil, até aquela data.     No dia do encerramento, cerca de 200 mil pessoas compareceram ao estádio do Maracanã. Com o uniforme nas cores nacionais, o coral de 2.000 mil vozes formou o desenho da Bandeira Nacional Brasileira.      O reverendo L’Rauche, conhecido como “o Billy Graham da Coréia”, encheu o vasto ambiente com suas palavras ungidas pelo Senhor. Alexandre Tee, da Inglaterra, pregou sobre “O Espírito Santo transladando a Igreja”. O fogo sagrado inflamou a todos.      Na oração final, o missionário Bernhard Johnson Júnior fez o apelo, e mais de uma centena de almas se rendeu aos pés do Senhor.     Nos dias 31 de janeiro e 14 de fevereiro de 1971 realizaram-se dois cultos de confraternização, respectivamente, na Assembléia de Deus de Madureira e na de São Cristóvão.      Em Madureira, no início do culto, o pastor Paulo Macalão passou a direção do trabalho ao pastor Túlio Barros Ferreira, que pregou a mensagem oficial da noite, falando dos esforços ininterruptos que o inimigo de nossas almas, Satanás, tem empregado para tentar dividir as Assembléias de Deus no Brasil; mostrou que o Leão da Tribo de Judá, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, interferira em favor do seu povo, fazendo brotar nos corações o espírito conciliatório, e envergonhando o inimigo.     O pastor Túlio Barros salientou que não existe mais a Assembléia de Deus do Ministério de Madureira e a assembléia de Deus do Ministério de São Cristóvão, e sim uma só igreja. Nesta atmosfera saturada pelo Espírito Santo, o culto foi encerrado.   Semelhantemente, o Espírito de Deus pairava entre as centenas de irmãos que se reuniram na Assembleia de Deus em São Cristóvão, no culto de retribuição à visita feita a Madureira. Nesse culto ficou patente que a única finalidade das Assembleias de Deus no Brasil é arrancar 

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as almas das garras de Satanás, para fazerem parte de um Reino que tem sua sede no Céu, onde não há divisões.     O pastor Paulo Macalão sempre reconheceu a importância do estudo sistemático da Bíblia, e por isso, apoiou a fundação do Instituto Bíblico Ebenezer. Como instituição cultural posta a serviço da Igreja, o IBE foi inaugurado em 19 de outubro de 1972.      Em seu grande zelo pelas almas, o pastor Paulo nunca deixou de advertir os alunos desse instituto sobre o perigo de virem a perder a graça de Deus, assoberbados pela cultura. Ele ensinava que o melhor aluno era aquele que completava os seus estudos na escola da oração.      Outra instituição de caráter filantrópico fundada pela Igreja de Madureira foi a Escola São Paulo, funcionando ao lado do templo e oferecendo anualmente vários cursos aos irmãos.     Na história do Evangelho no Brasil, particularmente na história do trabalho empreendido sob o pastorado de Paulo Leivas Macalão, poucos nomes serão tão vivamente lembrados e guardados com tanto carinho como o da irmã Estacília, aquela polonesa naturalizada brasileira, cuja vida Deus usou para manifestar as suas maravilhas.       Poucas servas de Deus terão sido tão poderosamente usadas no Brasil como essa irmã, que durante 33 anos intercedeu por todos os que necessitavam de suas orações. Ainda hoje o seu nome representa muito para aqueles que não a esqueceram, sobretudo para os que a visitaram em sua residência, na Travessa Casemiro de Abreu, nº 16, em Marechal Hermes.    Ela era um vaso do Senhor que vivia constantemente ligado com o Espírito de Deus, e Deus a usava maravilhosamente para falar ao seu povo, e muitos foram curados por Jesus através de suas orações. De quinze em quinze dias, às quintas-feiras, sua casa era tomada por dezenas de pessoas que buscavan a cura divina.      A irmã Estacília orava, impunha as mãos e o Senhor operava milagres sobre todos aqueles que criam no poder do seu Nome. A irmã Estacília dormiu no Senhor em 12 de setembro de 1967.

CAPÍTULO 9: PASTOR PAULO, DESCANSE EM PAZ!     Absorvido que estava sempre pelas inúmeras responsabilidades que pesavam sobre seus ombros, e deslocando-se constantemente para os diversos pontos onde sua presença se fazia necessária para cumprir a sua missão de doutrinador e de pastor de pastores, não seria humano que um homem assim deixasse de cometer falhas, principalmente no resolver os inúmeros e difíceis problemas que se apresentavam.     Mas, a bem da verdade, temos de admitir que Paulo Macalão era um homem sincero – homem que desejava servir a Deus com profunda convicção, sinceridade e amor e que, com essas qualidades, procurava resolver os problemas que surgiam no campo pastoral.      Se falhas cometeu, não as cometeu com espírito prevenido: sempre agiu na convicção íntima de estar fazendo a vontade do Senhoie Deus. Visto por esse ângulo, ele pode ser comparado a Moises, mas nunca igualado a Davi.     Apesar da sua aparente inflexibilidade nas decisões que tomava para resolver casos bastante difíceis, onde tinha de agir como juiz, Paulo Leivas Macalão era um homem humilde.     Mesmo tendo sido um dos pioneiros, um desbravador pertencente à geração que implantou o Evangelho no Brasil, não achou ele mesmo em sua vida nada de que se vangloriar. Meditando na sua jornada espiritual, via que percorrera tão-somente a trajetória inconfundível do Evangelho em obediência à poderosa e irresistível chamada do Espírito de Deus para a obra divina.       Reconhecia em tudo que tinha por Senhor um Deus santo, poderoso, justo, paciente e misericordioso. Dele bem poderia ter dito o Mestre: “Eis um verdadeiro cristão, em quem não há dolo”. Sim, poderia ter havido culpa, mas jamais dolo. Poderia ter havido indecisão, mas nunca premeditação. Por tudo isso ele é digno do nosso alto respeito, da nossa profunda admiração.

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     Como exemplo de sua humildade, houve quem o visse pedindo perdão a alguns irmãos. Um dos maiores testemunhos da grandeza do seu coração é a sua correspondência, que foi relida pela irmã Zélia após a morte dele. Sobre o envelope daquelas cartas que mais lhe feriram, por terem sido escritas por mãos ingratas e almas sem amor, o irmão Paulo havia escrito: “Perdoado, graças a Jesus”.     Sim, Paulo Macalão sabia perdoar, e quem sabe perdoar é grande diante de Deus. E sabia perdoar apesar da situação “sui generis” que ocupava entre as centenas de milhares de crentes que compõem o Ministério de Madureira: ele foi como um general, a quem todos amavam e obedeciam.      Mas um general que pastoreava ovelhas, em vez de comandar soldados, um general que se fazia obedecer pelo amor e respeito que inspirava, e não por uma dura disciplina.      Durante o seu longo ministério, o pastor Paulo Leivas Macalão foi assessorado por muitos servos de Deus, designados pelo Espírito Santo para se empenharem nas lutas em prol do Evangelho. Consagrar obreiros, abrir novos trabalhos, empossar pastores e olhar o procedimento dos que não zelavam pelo rebanho, foram atividades longamente exercidas pelo pastor Paulo.      Na grande luta contra o pecado, era necessário que se invadissem as fortalezas do inimigo, que se hasteasse a bandeira do Evangelho e que se designassem homens valorosos para comandar os pontos estratégicos tomados ao príncipe das trevas.      Era então que aqueles que combatiam com a espada desembainhada, a Palavra de Deus, surgiam para consolidar as posições e continuar a maravilhosa batalha do resgate de almas.      Entre os muitos homens de Deus que auxiliaram diretamente o pastor Paulo Macalão, parece que o que melhor o assessorou foi o também saudoso pastor Alípio da Silva, cujo temperamento era forte, mas amainado por uma acentuada humildade cristã.      Durante longos anos esteve ele ao lado daquele homem de Deus, dando sempre o seu parecer para a resolução das questões difíceis que surgiam.     O pastor Alípio era um administrador por excelência, e foi co-responsável pela coesão do trabalho do Ministério de Madureira, nos diversos Estados onde esse trabalho penetrou.      Foi de sua autoria o parecer para criar em todo o campo um dia de vigília e oração (três vezes por ano) para rogar a Deus pela solução dos problemas trazidos pela crescente violência no País, pela revolta dos jovens insatisfeitos por causa da falta de Cristo nos corações, e pela insatisfação das massas, que pode degenerar na ascensão de sistemas extremistas que procuram sempre aniquilar o cristianismo pela violência.     O pastor Alípio da Silva foi chamado ao descanso do Senhor apenas 21 dias antes de o irmão Paulo Leivas Macalão ascender à Glória.      Nesta resumida biografia do irmão Paulo Leivas Macalão, seria uma falha imperdoável não registrar a ação de uma outra pessoa que foi (podemos afirmar sem receio de errar) a coluna-mestra no edifício do seu pastorado. Nela se cumpriu, literalmente, o plano de Deus para o casamento, quando falou de Adão: “Far-lhe-ei uma adjutora que esteja como diante dele”, Gn 2.18, e “serão ambos uma só carne”.      A irmã Zélia Brito Macalão sempre esteve ao lado do seu marido: nos dias felizes, para alegrá-lo; nos dias de tristeza de dor, nos dias de lutas e de dificuldades, nos dias de amarguras e de sofrimento, nos dias de angústia e de decisões, para animá-lo; e nos dias de vitória (que foram muitos), para regozijarem-se juntos.       Nos dias de doença, até as últimas horas do seu esposo, ela ali estava à sua cabeceira. Ela foi uma verdadeira esposa. De Paulo Leivas Macalão se podia dizer: “O que acha uma esposa acha uma coisa boa, e alcançou a benevolência do Senhor”, Pv 18.22.     O pastor Paulo Leivas Macalão não deixou grandes livros escritos, mas seu grande conhecimento e longo trato com a Palavra de Deus, aliados às suas experiências de pioneiro, seriam suficientes para que ele nos deixasse preciosissimas obras.      Mas o empenho de evangelizar, edificar e pastorear almas o absorveu completamente. Contudo, alguns de seus trabalhos escritos mostram o quanto de belo e rico ele poderia ter 

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produzido, se não fosse a sua total dedicação ao pastorado. Eis um dos seus artigos, transcrito como ilustração do que acabamos de afirmar:     "O ‘Semeador’ está semeando a ‘boa semente’ sobre o Brasil. Jesus ensinou que a boa semente é a Palavra de Deus: Lc 8.11. A propósito, recebemos há dias um grande e belo mamão, que nos foi oferecido como primícias. Quando o fruto foi partido ao meio, fiquei maravilhado com a enorme quantidade de sementes que possuía.      "Ao verificar o interior do mamão cheio de sementes, Deus me revelou duas grandes verdades: a abundância existente e o convite de Deus à fartura, e o nosso descuido, no comer os frutos: jogar fora as sementes.“Contam que um homem pobre e necessitado resolveu vender o seu sítio onde nada havia plantado e, consequentemente, nada colhido. O comprador perguntou-lhe:     -O seu sítio não produz nada?     -Não, não produz nada – respondeu sinceramente o antigo dono – e é por isso mesmo que quero vendê-lo.     -Mas o senhor nunca plantou. E se eu plantar batatas, feijão, etc., produzirá?     -Se o senhor plantar, deve nascer – concluiu o pobre.      “Por que numa só fruta o Senhor põe uma tão grande quantidade de sementes? Só nesse mamão devia haver cerca de 500 sementes. Que maravilha! Deus nos convida à fartura.     “Plantando-se 500 sementes, é bem possível que 200, 300 ou mesmo 400 mamoeiros nasçam e, em pouco tempo, cada um estará produzindo 5,6, e até 10 mamões enormes como o que recebi. E o resultado total, quanto seria?     “Na época atual, o descuido é grande: o homem não aproveita o que Deus dá gratuitamente. Se tiverdes um pouco de ‘terra’, plantai as sementes e elas se tornarão em plantas que produzirão abundantes ‘frutos’.     “Sim, Deus nos tem dado a sua Palavra qual grande fruta cheia de preciosas sementes que (se semearmos) gerarão paz, amor, paciência, retidão: numa palavra – salvação. Eis a Bíblia aberta: quanta riqueza temos nela!     “Moços e moças, avante! Lede a Bíblia. Semeai a boa semente – a Palavra de Deus, que é a verdade. Semeai! Semeai! Os frutos aparecerão, a recompensa virá. Mas se fizerdes como o homem que nunca cultivou as suas terras, e não plantardes (um ato tão simples, enterrar uma semente!) e ficardes hesitando ou lamentando, nada colhereis. Portanto sede sábios: Semeai! Semeai!”      Quanto às suas atividades externas, o pastor Macalão foi, por muitos anos, Conselheiro da Sociedade Bíblica do Brasil, Conselheiro Vitalício da CPAD, Presidente do Instituto Bíblico Ebenézer, Presidente Efetivo da Convenção Nacional de Obreiros de Madureira, Conselheiro Fiscal da Ordem dos Ministros Evangélicos do Brasil e Menbro do Comitê Internacional que planeja a realização da Conferência Mundial Pentecostal.     O pastor Paulo visitou igrejas em diversos países, como Estados Unidos, Inglaterra, Suécia, Espanha, Portugal e outros. Em Springfield, Missouri, quando da sua visita oficial à sede Central das Assembléias de Deus na América do Norte, recebeu calorosa acolhida, por já ser o seu nome e sua ação no Brasil conhecidos. Recebeu também o título de cidadão do antigo Estado da Guanabara.     O dia 26 de agosto de 1982 poderia ter sido um dia igual a qualquer outro, mas não foi. Não foi porque algo de profundo nele aconteceu: às 9 horas e 16 minutos, os portais celestes se abriam para receber um príncipe vindo da Terra: pastor Paulo Leivas Macalão foi convocado às regiões celestiais!     Não foi um dia triste, porque foi um dia de vitória: Paulo Leivas Macalão, um dos apóstolos do Brasil, combatera o bom combate, acabara a carreira, guardara a fé, e agora a coroa da justiça lhe estava reservada, a qual o Senhor, justo juiz, lhe dará naquele dia!...     Mas foi um dia que trouxe a muitos o seu legado de tristeza, porque a saudade enchia os corações, que transbordavam em lágrimas – a saudade do esposo, do pai, do avô, do cunhado, do primo, do parente mais longe, do pastor amado, do dirigente, do conselheiro, do amigo, do 

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colega – a saudade de tudo o que ele representava.      E foi por isso mesmo que choravam de saudade a esposa, o filho, os netos, os cunhados, os colegas, um multidão de crentes chegados de todos os lugares, representando um sem número de Assembleias de Deus e de igrejas de outras denominações.      A grande família evangélica chorou. Direta ou indiretamente beneficiados pelo seu trabalho evangelístico, milhares de salvos agradeceram a Deus pela vida do pastor Paulo Macalão, aquele que, em pleno século vinte, mas em terras brasileiras, imitara o grande apóstolo Paulo, não medindo distâncias nem dificuldades na propagação do Evangelho da paz.      Portanto, o choro que se chorava não era só de saudade, era também de gratidão a Deus pela dádiva que dera à sua Igreja no Brasil – PAULO LEIVAS MACALÃO!      Às 17 horas do mesmo dia, o corpo do líder chegava ao Pavilhão da Mulher Cristã, na Avenida Brasil, onde foi velado numa capela ali existente. Uma multidão de crentes se fez presente no velório, inclusive a família e dezenas de pastores.      Dentre os que falaram no velório, destacou-se a palavra de um conhecido pastor, que assim se expressou:     “A maior catedral do mundo é a de São Pedro; a segunda é a de São Paulo, em Londres. Certo dia o rei da Inglaterra foi visitar a sua catedral e perguntou: ‘Quem foi o arquiteto que fez esta catedral?’ E ninguém sabia. O rei mandou pesquisar e descobriram que havia sido o arquiteto Cristóvão Reis. Então perguntou: ‘Mas onde está sepultado esse homem? Está num cemitério muito pobre, em Bedford’ – responderam. O rei mandou buscar os ossos do grande artista e colocou-os na Catedral de São Paulo. No túmulo há uma placa em inglês que diz: ‘Se quiserdes ver o seu monumento, basta olhar em volta’. Da mesma maneira, para se ver o monumento de Paulo Leivas Macalão, basta olhar em volta: centenas de igrejas, centenas de obreiros, e milhares de crentes – uma obra gigantesca”.      Na manhã do dia 27. uma incalculável multidão formou o cortejo, conduzindo o corpo do pastor Paulo Macalão para o Jardim da Saudade, em Édson Passos, Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. Fazendo a segurança, batedores da Polícia Militar abriam o trânsito.      No cemitério, era grande o número de irmãos que não haviam conseguido ver ainda o corpo do irmão Paulo e desejavam vê-lo agora. Foi formada uma enorme fila e a multidão começou a desfilar para ver o saudoso pastor. Hinos eram cantados e a emoção enchia os corações: muitos choravam, outros se alegravam no Espírito Santo falando em outras línguas.      Quando o corpo começou a descer à sepultura, muitos notaram que a intensidade do sol começara a diminuir. Toda a manhã tinha sido de uma total limpidez, mas naquele momento, uma nuvem pouco a pouco se havia colocado entre a claridade solar e a multidão.      Um grande círculo de luz circundou o sol, semi-oculto na nuvem. Tratava-se de um fenômeno natural, sem dúvida, porém muitos dos que acompanharam aquele maravilhoso espetáculo no céu, entenderam que o Senhor se revelava majestosamente ao seu povo naquele momento, como fizera com os judeus no deserto, guiando-os de dia com a nuvem e à noite com a coluna de fogo. Quando o corpo do pastor Paulo baixou à sepultura, aquele fenômeno desapareceu.     No Jardim da Saudade, Paulo Leivas Macalão despertará um dia sob os clarins do arrebatamento da Igreja, quando subiremos ao encontro do grande Rei, e para sempre estaremos livres do pranto, da separação e da morte, no reino glorioso do nosso eterno Pai.

Jefferson Magno Costa