John Piper - Sob as Asas de Deus - Estudo de Rute

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Ebook Gratuito Criado e disponibilizado pelo blog Hermeneutica Particular

(http://www. hermeneuticaparticular.com)

Publicado em 01 de janeiro de 2011.

Esse livro é baseado na série de sermões do Pastor Dr. John Piper do ministério DesiringGod.org e da igreja Bethlehem Baptist Church em Minneapolis, Minnesota - EUA. O con-

teúdo original pode ser encontrado no site http://www.desiringgod.org/

Tradução:Beatriz Rustiguel da silva

Revisão:Mariene Alves da Silva

Capa e Diagramação:Beatriz Rustiguel da Silva

sob as asasde Deus

um estudo sobre o livro de Rute

Page 4: John Piper - Sob as Asas de Deus - Estudo de Rute

SumárioIntrodução pg.05

A obra de Deus em momentos difíceis pg.06

Buscando refúgio sob as asas de Deus pg.11

As estratégias dos justos pg.16

“A caminho do santo não é uma linha reta para a glória” pg.21

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Introdução O livro de Rute é uma história que mostra como Deus se move de maneira

misteriosa, e maravilhosa. Essa é uma história para pessoas que se perguntam

onde está Deus quando não há sonhos, visões ou profetas. É para pessoas que

querem saber onde Deus está quando uma tragédia após a outra ataca a sua fé.

É uma história para as pessoas que se perguntam se uma vida de integridade em

tempos difíceis vale a pena. E é uma história de pessoas que não podem imagi-

nar que qualquer coisa grande poderia vir de suas vidas ordinárias. É um refres-

cante livro, e eu quero que você seja revigorado e encorajado através dele.

Pr. John Piper

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A obra de Deus em momentos difíceis

De acordo com o capítulo 1 e versículo 1 a história de Rute aconteceu durante o tempo dos juízes. Este foi um período de 400 anos depois que Israel entrou na terra prometida sob liderança de Josué e não havia nenhum rei em Israel (cerca 1500 AC - 1100 DC). O livro de Juízes vem um pouco antes de Rute em nossas Bíblias e você pode ver em seu último versículo que tipo de período era esse. Juízes capítulo 21:25 diz: “Naqueles dias não havia rei em Israel, cada um fazia o que era reto aos seus próprios olhos.” Esse foi um tempo muito escuro em Israel. As pessoas pecavam e Deus mandava inimigos contra eles, o povo pedia socorro e Deus misericordiosamente levantava um juiz para libertá-los. Repetidas vezes o povo se rebelou, e parecia que os propósitos de Deus para a justiça e glória de Israel estavam falhando. E o que o livro de Rute significa para nós é um vislumbre do trabalho oculto de Deus durante o pior dos tempos. Olhe para o último versículo de Rute capítulo 4:22. A criança nascida de Rute e Boaz durante o período dos juízes é Obede. Obede iria gerar Jesse e Jesse iria gerar Davi, que levaria Israel a grande glória. Uma das principais mensagens deste pequeno livro é que Deus está trabalhando no pior dos tempos. Mesmo com os pecados de seu povo Ele pode e tem trabalhado para sua glória. É verdade a nível nacional, e vamos ver que é verdade a nível pessoal e familiar também. Deus está trabalhando no pior dos tempos. Quando você pensa que Ele está distante de você, ou até se voltou contra você, a verdade é que Ele está criando al-icerces para a maior felicidade em sua vida. “Não julgue o Senhor com débil entendimento, mas a confie na Sua graça. Atrás de uma providência carrancuda Ele esconde uma face sorridente.” Acho que essa é a mensagem de Rute. Vamos ver como o au-tor desconhecido, sob a inspiração do Espírito Santo, ensina-nos.

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CAPÍTULO 11 E SUCEDEU que, nos dias em que os juízes julgavam, houve uma fome na terra; por isso um homem de Belém de Judá saiu a peregrinar nos campos de Moabe, ele e sua mulher, e seus dois filhos; 2 E era o nome deste homem Elimeleque, e o de sua mulher Noemi, e os de seus dois filhos Malom e Quiliom, efrateus, de Belém de Judá; e chegaram aos campos de Moabe, e ficaram ali. 3 E morreu Elimeleque, marido de Noemi; e ficou ela com os seus dois filhos, 4 Os quais tomaram para si mulheres moabitas; e era o nome de uma Orfa, e o da outra Rute; e ficaram ali quase dez anos. 5 E morreram também ambos, Malom e Quiliom, ficando assim a mulher desamparada dos seus dois filhos e de seu marido. 6 Então se levantou ela com as suas noras, e voltou dos campos de Moabe, porquanto na terra de Moabe ouviu que o SENHOR tinha visitado o seu povo, dando-lhe pão. 7 Por isso saiu do lugar onde estivera, e as suas noras com ela. E, indo elas caminhando, para voltarem para a terra de Judá, 8 Disse Noemi às suas noras: Ide, voltai cada uma à casa de sua mãe; e o SENHOR use convosco de benevolência, como vós usastes com os falecidos e comigo. 9 O SENHOR vos dê que acheis descanso cada uma em casa de seu marido. E, beijando-as ela, levantaram a sua voz e choraram. 10 E disseram-lhe: Certamente voltaremos contigo ao teu povo. 11 Porém Noemi disse: Voltai, minhas filhas. Por que iríeis comigo? Tenho eu ainda no meu ventre mais filhos, para que vos sejam por maridos? 12 Voltai, filhas minhas, ide-vos embora, que já mui velha sou para ter marido; ainda quando eu dissesse: Tenho esperança, ou ainda que esta noite tivesse marido e ainda tivesse filhos, 13 Esperá-los-íeis até que viessem a ser grandes? Deter-vos-íeis por eles, sem tomardes marido? Não, filhas minhas, que mais amargo me é a mim do que a vós mesmas; porquanto a mão do SENHOR se descarregou contra mim. 14 Então levantaram a sua voz, e tornaram a chorar; e Orfa beijou a sua sogra, porém Rute se apegou a ela. 15 Por isso disse Noemi: Eis que voltou tua cunhada ao seu povo e aos seus deuses; volta tu também após tua cunhada. 16 Disse, porém, Rute: Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus; 17 Onde quer que morreres morrerei eu, e ali serei sepultada. Faça-me assim o SENHOR, e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti. 18 Vendo Noemi, que de todo estava resolvida a ir com ela, deixou de lhe falar. 19 Assim, pois, foram-se ambas, até que che-garam a Belém; e sucedeu que, entrando elas em Belém, toda a cidade se comoveu por causa delas, e diziam: Não é esta Noemi? 20 Porém ela lhes dizia: Não me chameis Noemi; chamai-me Mara; porque grande amargura me tem dado o Todo-Poderoso. 21 Cheia parti, porém vazia o SENHOR me fez tornar; por que pois me chamareis Noemi? O SENHOR testifica contra mim, e o Todo-Poderoso me tem feito mal. 22 Assim Noemi voltou, e com ela Rute a moabita, sua nora,

que veio dos campos de Moabe; e chegaram a Belém no princípio da colheita das cevadas.

Os versículos 1-5 do capítulo 1 descrevem a miséria de Noemi. Primeiro (1:1), há uma fome em Judá onde Noemi e seu marido Elimeleque e seus filhos Malom e Quiliom vivem. Noemi sabe muito bem quem provoca a fome. Deus provoca. Levítico 26:3-4 diz: “Se andardes nos meus estatutos, e guardardes os meus mandamentos, e os cumprirdes, então eu vos darei as chuvas há seu tempo; e a terra dará a sua colheita, e a árvore do campo dará o seu fruto;” Quando as chuvas são retidas é a mão dura de Deus. Então, eles tomam a decisão de ir habi-tar em Moabe, uma terra pagã com deuses estrangeiros (Rute 1:15; Juízes 10:6). Isso foi brincar com o fogo. Deus tinha chamado seu povo para que vivessem separados das terras vizinhas. En-tão, quando o marido de Noemi morre (1:13), o que ela poderia sentir além do juízo de Deus? Então (em 1:04), seus dois filhos, tomam mulheres moabitas, uma chamada Orfa, e outra Rute. E mais uma vez a mão de Deus cai sobre eles. O versículo 5 resume a tragédia de Noemi após dez anos do casamento de filhos: “E morreram também ambos, Malom e Quiliom, ficando assim a mulher desamparada dos seus dois filhos e de seu marido.” A fome, uma mudança para Moabe, a morte de seu marido, o casamento de seus filhos com esposas estrangeiras, e a morte de seus filhos. Um golpe após outro golpe, tragédia atrás de tragédia. E agora? No versículo 6 Noemi fica sabendo que “o Senhor visitou o seu povo e deu-lhes comida”. Então, ela decide voltar para Judá. Suas duas noras, Rute e Orfa, vão com ela parte do caminho pelo que parece, mas,

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em seguida, nos versos 08-13 ela tenta convencê-las a voltar para casa. Eu acho que existem três razões pelas quais o escritor dedica muito espaço ao esforço de Noemi para devolver Rute e Orfa. A cena destaca a miséria de Noemi. Por exemplo, verso 11, Noemi disse: “Voltai minhas filhas. Por que iríeis comigo? Tenho eu ainda no meu ventre mais filhos, para que vos sejam por maridos? Voltai filhas minhas, ide-vos embora, que já mui velha sou para ter marido;” Em outras palavras, Noemi não tem nada para lhes oferecer. Sua condição é pior que a delas. Se elas tentarem ser fieis a ela e ao nome de seus mari-dos, elas encontraram nada além de dor. Assim, ela conclui no final do versículo 13: “Não, filhas minhas, que mais amargo me é a mim do que a vós mesmas; porquanto a mão do SENHOR se descarregou contra mim.” Não venha comigo, porque Deus é contra mim. Sua vida pode ser tão amarga quanto a minha. A segunda razão para os versículos 8-13 é preparar-nos para um costume em Israel que vai transfor-mar tudo em torno de Noemi nos seguintes capítulos. O costume era que quando o marido israelita morresse seu irmão ou parente próximo se casaria com a viúva para continuar o nome do falecido (Deuteronômio 25:5-10). Noemi está se referindo a esse costume (no versículo 11) quando ela diz que não tem filhos para se casar com Rute e Orfa. Ela acha que é impossível para Rute e Orfa continuem empenhadas ao nome da família. Ela não se lembra, evidentemente, que há outro parente chamado Boaz que possa executar o dever de um irmão. Há uma lição aqui. Quando decidimos que Deus é contra nós, geralmente exageram o nosso desespe-ro. Tornamo-nos tão amargos que não podemos ver o raios de luz espreitando ao redor das nuvens. Foi Deus quem acabou com a fome e abriu o caminho de volta para casa (1:6). Foi Deus quem preservou um parente para continuar a linha de Noemi (2:20). E foi Deus que constrangeu Rute a ficar com Noemi. Mas, Noemi está tão amargurada pela providência de Deus, que ela não consegue ver sua misericórdia e o trabalho de Deus em sua vida. A terceira razão para os versículos 8-13 é fazer com que a fidelidade de Rute a Noemi pareça sur-preendente. O versículo 14 diz que Orfa beijou Noemi e se foi, mas Rute se agarrou a ela. Nem mesmo outra súplica no verso 15 pode mandar Rute embora. Este é o mais impressionante após a descrição sombria de Noemi a respeito de seu futuro. Rute fica com ela apesar de aparentemente não ter esperança para o futuro. Noemi pintou um futuro sombrio mesmo assim Rute pegou sua mão e foi junto com ela. As palavras surpreendentes de Rute são encontradas em 1:16-17, “Não me instes para que te aban-done, e deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus; Onde quer que morreres morrerei eu, e ali serei sepultada. Faça-me assim o SENHOR, e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti.” Quanto mais você refletir sobre essas palavras, o mais surpreendente se tornam. O compromisso de Rute com a sua sogra indigente é simplesmente surpreendente. Em primeiro lugar, isso significa deixar sua família e sua terra. Em segundo lugar, isso significa também uma vida de viuvez e sem filhos, porque Noemi não tem homem para dar. Em terceiro lugar, significa ir para uma terra desconhecida, com um novo povo e novos costumes e língua. Em quarto lugar, era um compromisso ainda mais radical do que o casamento: “Onde quer que morreres morrerei eu, e ali serei sepultada” (v. 17). Em outras palavras, ela nunca vai voltar para casa, mesmo que Noemi morra. Mas o compromisso mais impressionante de tudo é este: “O teu Deus será meu Deus” (V. 16). Noemi acaba de dizer no versículo 13, “A mão do Senhor foi contra mim.” Então a experiência de Noemi com Deus foi amarga. Mas, apesar disso, Rute abandona sua herança religiosa e toma o Deus de Israel como seu próprio Deus. Talvez ela tivesse feito esse compromisso anos antes, quando seu marido lhe disse do grande amor de Deus por Israel e seu poder no Mar Vermelho, e seu propósito glorioso de paz e justiça. De alguma forma

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Aqui temos uma imagem clara da mulher de Deus ideal. Fé em Deus que vê além de circunstâncias amargas. Uma mulher livre das seguranças e confortos do mundo. Coragem para se aventurar no desconhe-cido e no estranho. Compromisso radical nas relações designadas por Deus.

A Teologia de Noemi: o certo e o errado:

Então, Rute e Noemi voltam para Belém de Judá (versículo 19). Mas ela responde no versículo 20, “Porém ela lhes dizia: Não me chameis Noemi; chamai-me Mara; porque grande amargura me tem dado o Todo-Poderoso. Cheia parti, porém vazia o SENHOR me fez tornar; por que pois me chamareis Noemi? O SEN-HOR testifica contra mim, e o Todo-Poderoso me tem feito mal.” O que você acha da teologia de Noemi? Gostaria de escolher a teologia Noemi qualquer dia em vez do ponto de vista sentimental de Deus, que domina o mundo evangélico hoje. Noemi é inabalável e tem certeza absoluta de três coisas: Deus existe. Deus é soberano. Deus a afligiu. O problema com Noemi é que ela esqueceu a história de José, que também entrou em um país estrangeiro. Ele foi vendido como escravo. Ele foi acusado por uma adúltera e colocado na prisão. Ele tinha todos os motivos para dizer, assim como Noemi, “O Todo-Poderoso lidou comigo amargamente.” Mas ele manteve sua fé e Deus transformou tudo para o bem nacional do seu povo de Israel. A lição-chave de Gênesis 50:20 é o seguinte: “Vós bem intentastes mal contra mim; porém Deus o intentou para bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar muita gente com vida.” Noemi está certa em acreditar em um Deus soberano e todo-poderoso que rege os assuntos das nações e famílias e dá a cada dia a sua parte de dor e de prazer. Mas, ela precisa abrir os olhos aos sinais dos propósitos misericordiosos de Deus. Foi Deus que tirou a fome e abriu um caminho para casa. Observe o delicado toque de esperança no fim do versículo 22. “E chegaram a Belém no princípio da colheita das cevadas.” Não só isso, Noemi tem de abrir os olhos para Rute. Que presente! Que bênção! No entanto, diante o povo de Belém Noemi diz no versículo 21, “O Senhor me trouxe de volta vazia.” Não, Noemi! Você está tão cansada com a noite da ad-versidade que você não pode ver o amanhecer da alegria. O que ela diria se pudesse ver que em Rute, ela ganharia uma criança, e que esta criança seria o avô do maior rei de Israel, e que este rei de Israel seria o antepassado do Rei dos reis, Jesus Cristo, o Senhor do universo? Eu acho que ela diria: O Senhor não julga com débil entendimento, mas confie n’Ele por sua graça, atrás de uma providência carrancuda Ele esconde uma face sorridente.

Permitam-me concluir esse capítulo com quatro lições: 1. Governo soberano de Deus Deus, o Todo-Poderoso reina em todos os assuntos dos homens. Ele governa as nações (Daniel 2:21) e ele governa as famílias. Sua providência estende-se desde os Estados Unidos até a sua cozinha. Sejamos como as mulheres de fé do Antigo Testamento. Elas duvidavam de muitas coisas, mas nunca duvidavam que Deus estava envolvido em cada parte de suas vidas e que ninguém poderia deter a mão d’Ele (Daniel 4:35). Ele dá a chuva e ele tira a chuva. Ele dá a vida e ele leva a vida. Nele vivemos, nos movemos e existimos. Nada, nem mesmo um palito de dente é bem compreendido, exceto em relação ao Deus. Ele é o todo-abrangente da realidade, que permeia tudo. Noemi está certa e nós devemos acompanhá-la nessa convicção. Deus Todo-Poderoso reina em todos os assuntos dos homens.

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2. Misteriosa providência de Deus As providências de Deus às vezes são muito difíceis. Deus tinha lidado com Noemi de forma amarga, pelo menos no curto prazo. Talvez alguém vá dizer: foi tudo devido ao pecado de ir para Moab e casar seus filhos com mulheres estrangeiras. Talvez assim. Mas não necessariamente. Salmo 34:19 diz: “Muitas são as aflições do justo, mas o SENHOR o livra de todas.” Nem o Antigo Testamento nem no Novo Testamento pro-metem que os crentes vão escapar das aflição da vida. Mas, suponha que a calamidade de Noemi foi devido à sua desobediência. Isso faz com que a história seja duplamente encorajadora, porque mostra que Deus deseja e é capaz até mesmo para transformar os seus juízos em alegrias. Se Rute foi trazida para a família por causa do pecado, é duplamente surpreendente que ela é feita a avó de Davi um antepassado de Jesus Cristo. Nunca pense que o pecado de seu passado significa que não há esperança para o futuro.

3. Bons propósitos de Deus Isso leva à terceira lição. Não só Deus reina em todos os assuntos dos homens, e não só a sua providên-cia, por vezes, é difícil, mas em todos as suas obras são feitas para o bem e a felicidade de seu povo. Quem teria imaginado que no pior de todos os tempos, o período de juízes, Deus estava se movendo em silêncio nos dramas de uma única família para preparar o caminho para o maior rei de Israel? Mas não só isso, ele estava trabalhando para preencher Noemi, Rute, Boaz e seus amigos com grandes alegrias. Se alguma coisa aconteceu na sua vida que fez o seu futuro parecer perdido, aprenda com Rute que Deus está trabalhando nesse momento para dar-lhe um futuro de esperança. Confie nele, espere pacientemente. As sinistras nu-vens estão cheias de grande misericórdia e vão liberar com a bênçãos sobre sua cabeça.

4. Liberdade Como Rute Por fim, aprendemos que, se você confiar na bondade e misericórdia soberana de Deus para persegui-lo todos os dias da sua vida, então você está livre, como Rute. Se Deus chamar, você pode deixar a família, você pode deixar seu trabalho, você pode deixar sua cidade, e você pode fazer compromissos radicais e empreender novos empreendimentos. Ou você pode encontrar a liberdade, coragem e força para manter um compromisso que você já fez. Quando você acredita na soberania de Deus e que ele gosta de trabalhar fortemente para aqueles que confiam n’Ele, isso nos dá uma liberdade e alegria que não podem ser abala-das por tempos difíceis. O livro de Rute nos dá um vislumbre do trabalho oculto de Deus, durante o pior dos tempos. E assim como todas as outras Escrituras, como diz Paulo (Romanos 15:4, 13), Rute foi escrito para que possamos transbordar de esperança.

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Buscando refúgio sob as asas de Deus

No capítulo 1 a mão de Deus caiu fortemente sobre Noemi e sua família. A fome em Judá, uma mu-dança para Moabe, a morte de seu marido, o casamento de seus dois filhos com mulheres estrangeiras, a morte de seus filhos. Um golpe após outro. Noemi diz então (1:13, 20), “A mão do Senhor foi contra mim. . . o Todo-Poderoso tem lidado muito amargamente comigo.” Na verdade, ela está tão oprimida pela providência amarga de Deus em sua vida que ela não pode ver nenhum dos sinais de esperança que tem começado a aparecer. Ela sabe que existe um Deus. Ela sabe que ele é Todo-Poderos e onipotente sobre as regras nacionais e assuntos pessoais dos homens. E ela sabe que Ele tem lidado com ela. Sua vida é trágica. O que ela esque-ceu é que em todas as amargas experiências de seus filhos Deus tem traçando algo para a sua glória. E se nós acreditarmos nisso e lembrarmos-nos disso, nós não ficaríamos tão cegos como Noemi parece estar quando Deus começa a revelar a sua graça. Doce providência, bem como amarga providência acontecem na vida de Noemi no capítulo 1. Deus acaba com a fome e abre o caminho de volta para casa. Ele lhe dá uma surpreendentemente dedicada e amorosa ‘filha’ para acompanhá-la. E Ele preserva um parente do marido de Noemi, que algum dia poderá se casar com Rute e preservar a linha famíliar de Noemi. Mas Noemi não vê nada disso. No final do capítulo, ela diz para o povo de Belém “Cheia parti, porém vazia o SENHOR me fez tornar; por que pois me chamareis Noemi? O SENHOR testifica contra mim, e o Todo-Poderoso me tem feito mal. “(v. 21). Então, Rute e a amarga Noemi se estabelecem em Belém. No capítulo 2, a misericórdia de Deus torna-se tão óbvia que até mesmo Noemi pode reconhecê-la.

CAPÍTULO 21 E TINHA Noemi um parente de seu marido, homem valente e poderoso, da família de Elime-leque; e era o seu nome Boaz. 2 E Rute, a moabita, disse a Noemi: Deixa-me ir ao campo, e apanharei espigas atrás daquele em cujos olhos eu achar graça. E ela disse: Vai, minha filha. 3 Foi, pois, e chegou, e apanhava espigas no campo após os segadores; e caiu-lhe em sorte uma parte do campo de Boaz, que era da família de Elimeleque. 4 E eis que Boaz veio de Belém, e disse aos segadores: O SENHOR seja convosco. E disseram-lhe eles: O SENHOR te abençoe. 5 Depois disse Boaz a seu moço, que estava posto sobre os segadores: De quem é esta moça? 6 E respondeu o moço, que estava posto sobre os segadores, e disse: Esta é a moça moabita que voltou com Noemi dos campos de Moabe. 7 Disse-me ela: Deixa-me colher espigas, e ajuntá-las entre as gavelas após os segadores. Assim ela veio, e desde pela manhã está aqui até agora, a não ser um pouco que esteve sentada em casa.

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8 Então disse Boaz a Rute: Ouves, filha minha; não vás colher em outro campo, nem tampouco passes daqui; porém aqui ficarás com as minhas moças. 9 Os teus olhos estarão atentos no campo que segarem, e irás após elas; não dei ordem aos moços, que não te molestem? Tendo tu sede, vai aos vasos, e bebe do que os moços tirarem. 10 Então ela caiu sobre o seu rosto, e se inclinou à terra; e disse-lhe: Por que achei graça em teus olhos, para que faças caso de mim, sendo eu uma estrangeira? 11 E respondeu Boaz, e disse-lhe: Bem se me contou quanto fizeste à tua sogra, depois da morte de teu marido; e deixaste a teu pai e a tua mãe, e a terra onde nasceste, e vieste para um povo que antes não conheceste. 12 O SENHOR retribua o teu feito; e te seja concedido pleno galardão da parte do SENHOR Deus de Israel, sob cujas asas te vieste abrigar. 13 E disse ela: Ache eu graça em teus olhos, SENHOR meu, pois me consolaste, e falaste ao coração da tua serva, não sendo eu ainda como uma das tuas criadas. 14 E, sendo já hora de comer, disse-lhe Boaz: Achega-te aqui, e come do pão, e molha o teu bocado no vinagre. E ela se assentou ao lado dos segadores, e ele lhe deu do trigo tostado, e comeu, e se fartou, e ainda lhe sobejou. 15 E, levantando-se ela a colher, Boaz deu ordem aos seus moços, dizendo: Até entre as gavelas deixai-a colher, e não a censureis. 16 E deixai cair alguns punhados, e deixai-os ficar, para que os colha, e não a repreendais. 17 E esteve ela apanhando naquele campo até à tarde; e debulhou o que apanhou, e foi quase um efa de cevada. 18 E tomou-a, e veio à cidade; e viu sua sogra o que tinha apanhado; também tirou, e deu-lhe o que sobejara depois de fartar-se. 19 Então disse-lhe sua sogra: Onde colheste hoje, e onde trabalhaste? Bendito seja aquele que te reconheceu. E relatou à sua sogra com quem tinha trabalhado, e disse: O nome do homem com quem hoje trabalhei é Boaz. 20 Então Noemi disse à sua nora: Bendito seja ele do SENHOR, que ainda não tem deixado a sua beneficência nem para com os vivos nem para com os mortos. Disse-lhe mais Noemi: Este homem é nosso parente chegado, e um dentre os nossos remidores. 21 E disse Rute, a moabita: Também ainda me disse: Com os moços que tenho te ajuntarás, até que acabem toda a sega que tenho. 22 E disse Noemi a sua nora: Melhor é, filha minha, que saias com as suas moças, para que noutro campo não te encontrem. 23 Assim, ajuntou-se com as moças de Boaz, para colher até que a sega das cevadas e dos trigos se acabou; e ficou com a sua sogra.

Nos versículos 1-7 nós encontramos Boaz e sentimos uma misericordiosa providência por trás dessa cena. Boaz é um parente de Elimeleque, o marido falecido de Noemi. Imediatamente percebemos que as coisas não são tão sombrias como Noemi sugeriu no capítulo 1:11-13 onde ela deu a impressão de que não havia ninguém para Rute e Orfa se casarem para continuar a linha familiar de seus maridos. Para a pessoa que lê esta história a primeira vez, Boaz é como uma rachadura brilhante na nuvem de amargura que pairava sobre Noemi. Por exemplo, versículo 1 diz que ele é um homem de riqueza. Mas mais importante do que isso, o versículo 4 mostra que ele é um homem de Deus. Por que outra razão teria o contador de histórias pausado para registrar a forma como Boaz cumprimentou seus servos? “E eis que Boaz veio de Belém, e disse aos segadores: O Senhor esteja convosco “, e Eles responderam: “O Senhor te abençoe.” Se você quer saber a relação de um homem com Deus, você precisa descobrir o quanto Deus tem saturado os detalhes de sua vida cotidiana. Evidentemente Boaz era um homem tão saturado de Deus que seu negócio de agricultura e sua relação com seus funcionários foi baseado completamente em Deus. Ele os cumprimentou com Deus. E nós veremos em um minuto que estes eram mais do que intenções piedosas. Além de Boaz nos versículos 1-7, vemos o personagem de Rute, que vai ser muito importante no que este capítulo pretende ensinar.

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1.IniciativadeRuteemcuidardeNoemi Primeiro, vemos a iniciativa de Rute em cuidar de sua sogra. Observe no versículo 2, Noemi não comanda Rute para sair e trabalhar. Rute diz: “ Deixa-me ir ao campo, e apanharei espigas atrás daquele em cujos olhos eu achar graça.” Rute se comprometeu com Noemi com uma dedicação incrível e ela toma a ini-ciativa de trabalhar e sustentá-la. 2. A humildade de Rute Em segundo lugar, vemos a humildade de Rute. Ela sabe como tomar a iniciativa sem ser presunçosa. No versículo 7 os servidores fazem um relatório para Boaz de como ela havia se aproximado naquela manhã. Ela disse, “ Deixa-me colher espigas, e ajuntá-las entre as gavelas após os segadores.” Ela não demanda uma parte da colheita. Ela não pressupõe o direito de recolher mesmo. Tudo o que ela quer é recolher as sobras depois que os ceifeiros terminarem e ela pede permissão até para fazer isso. Ela é como uma outra mulher estrangeira que veio para Jesus e disse: “Senhor, até os cachorrinhos comem as migalhas debaixo da mesa dos seus senhores”, à qual Jesus respondeu, exaltando sua fé. Rute sabe tomar a iniciativa, mas ela não é agressiva ou arrogante, mas mansa e humilde.

3. Trabalho de Rute Em terceiro lugar, vemos o seu trabalho. Ela é uma trabalhadora surpreendente. O versículo 7 con-tinua, “Assim ela veio, e desde pela manhã está aqui até agora, a não ser um pouco que esteve sentada em casa.” O versículo 17 continua a dizer que ela trabalha até a noite e em seguida, antes de ela sair, ela debul-hou o que tinha recolhido, e levou para a casa de Noemi. Não há dúvida de que o escritor quer que a gente admire e copie Rute. Ela toma a iniciativa de cuidar da sogra carente. Ela é humilde e mansa e não se coloca a frente presunçosamente. E ela trabalha duro de sol a sol. Iniciativa. Humildade. Trabalho. Traços de valor. Mantenha os olhos abertos para eles. Mas antes de sairmos dos versículos 1-7, você sentiu uma providência misericordiosa por trás de tudo isso? Observe o versículo 3: “Foi, pois, e chegou, e apanhava espigas no campo após os segadores; e caiu-lhe em sorte uma parte do campo de Boaz, que era da família de Elimeleque.” Noemi, com sua grande teologia sobre a soberania de Deus, é quem dará a resposta sobre essa ‘coincidência’. A resposta é a misericordiosa providência de Deus que está guiando Rute enquanto ela trabalha. Rute foi trabalhar no campo de Boaz, porque Deus é misericordioso e soberano, mesmo quando Ele está silencioso. Como diz provérbio 16:9: “O coração do homem traça o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos.” Agora, nos versículos 8 e 9 Boaz aborda Rute e mostra sua grande bondade, mesmo ela sendo uma estrangeira. Ele provê comida, dizendo-lhe para trabalhar em seu campo e ficar logo atrás de suas moças. Ele oferece proteção dizendo aos jovens para não molestá-la (v. 9). E ele provem para sua sede, dizendo-lhe para beber do que os homens tinham trazido. Assim, toda a riqueza e piedade de Boaz começar a virar em favor do bem-estar de Rute. Agora chegamos a passagem mais importante do capítulo, versículos 10-13. Rute levanta uma questão que acaba por ser muito profunda. É uma questão que todos nós precisamos fazer a Deus. Quase nada na nossa vida é mais importante do que a resposta que recebemos. “Então ela caiu sobre o seu rosto, e se in-clinou à terra; e disse-lhe: Por que achei graça em teus olhos, para que faças caso de mim, sendo eu uma estrangeira?”

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Rute sabe que ela é uma moabita. Do ponto de vista natural, essa é uma características contra ela. Ela não se ressente disso, mas aceita. Como uma não israelita, ela não espera nenhum tratamento especial. Então sua resposta a bondade de Boaz é demonstrar surpresa. Ela é muito diferente da maioria das pessoas hoje em dia. Esperamos a bondade dos outros e ficamos surpresos e ressentidos se não recebemos. Mas, Rute expressa seu sen-so de indignidade caindo sobre seu rosto e se curvando ao chão. As pessoas orgulhosas não dizem obrigado. As pessoas humildes se tornam ainda mais humildes quando tratadas graciosamente. A graça não se destina a levantar-nos da humildade. A intenção é fazer-nos felizes e satisfei-tos em Deus.

Não em função do seu mérito

Rute pergunta porque Boaz tratou com ela tão graciosamente. Versículos 11 e 12 são cruciais para a resposta: “E respondeu Boaz, e disse-lhe: Bem se me contou quanto fizeste à tua sogra, depois da morte de teu marido; e deixaste a teu pai e a tua mãe, e a terra onde nasceste, e vieste para um povo que antes não conheceste. O SENHOR retribua o teu feito; e te seja concedido pleno galardão da parte do SENHOR Deus de Israel, sob cujas asas te vieste abrigar.” Observe: Quando Rute pergunta por que ele está demonstrado graça, Boaz não responde dizendo que a graça não tem condições. Ele responde a pergunta dizendo: “Porque você amou Noemi tanto que você estava disposta a deixar seu pai e mãe para servi-la em uma terra estranha.” Será que isto quer dizer que o escritor quer que pensemos que Rute merece o favor de Boaz e o favor de Deus por seu amor por Noemi? Será que ele quer que nós entendamos a graça como um merecimento? Eu acho que não. Se Rute ganhou o favor de Boaz por méritos, então temos de pensar nela como uma espécie de em-pregada ou prestadora de serviços, e que Boaz, como seu empregador, simplesmente pagou pelo serviço prestado. Essa não é a imagem que o escritor quer criar em nossas mentes. O versículo 12 dá outra imagem que faz com que o conceito de empregado-empregador seja impossível. Boaz diz no versículo 12 que Deus é realmente quem está premiando o amor de Rute por Noemi. Boaz é apenas o instrumento de Deus (como nós vamos aprender com Noemi mais a frente). Mas, observe a expressão: “O SENHOR retribua o teu feito; e te seja concedido pleno galardão da parte do SENHOR Deus de Israel, sob cujas asas te vieste abrigar.” Este versículo não nos encoraja a imaginar Rute como uma em-pregada de Deus, que Ele está recompensando com um bom salário. A imagem é de Deus como uma grande águia alada e Rute como uma águiazinha ameaçada que vem em busca de segurança sob as asas da Águia. A implicação do versículo 12 é que Deus recompensará Rute porque ela tem procurado refúgio debaixo das suas asas. Este é um ensinamento comum no Antigo Testamento. Por exemplo, Salmo 57:1 diz: “TEM misericór-dia de mim, ó Deus, tem misericórdia de mim, porque a minha alma confia em ti; e à sombra das tuas asas me abrigo, até que passem as calamidades.”. Por que Deus deveria mostrar misericórdia para com Rute? Porque ela buscou refúgio sob as suas asas. Ela contou com a proteção divina. Ela fixou seu coração em Deus para sua esperança e alegria. E quando uma pessoa faz isso, a honra de Deus está em jogo e Ele será misericordioso. Se você invocar o valor de Deus como a fonte de sua esperança em vez de invocar o seu próprio valor como fonte de esperança, então o firme compromisso de Deus para com o seu próprio valor irá englobar todo o coração d’Ele para sua proteção e alegria.

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Buscando refúgio em Deus e amando os outros

Mas devemos nos perguntar como o amor de Rute para Noemi e sua própria família, se relaciona à sua busca por refúgio sob as asas de Deus. A relação entre estar se refugiando sob as asas de Deus por um lado é apontado quando Rute decide sair de casa para cuidar de Noemi. Abrigar-se sobre as asas de Deus permitiu Rute abandonar o refúgio humano e dar-se ao amor por Noemi. Ou seja, sair de casa para cuidar de Noemi é o resultado e a prova de buscar refúgio em Deus. Então, agora de volta a questão de Rute no versículo 10: “Por que achei graça?” A resposta é que ela tomou refúgio sob as asas de Deus e que este deu-lhe a liberdade e o desejo de sair de casa e amar Noemi. Ela não mereceu a misericórdia de Deus ou de Boaz. Eles não estão pagando o salário por seu trabalho. Esta é a mensagem do evangelho no Antigo Testamento e o Novo Testamento. Deus tenha piedade de qualquer pessoa que se humilha como Rute e se refugia sob as asas de d’Ele. Jesus disse: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!” (Mateus 23 : 37) Tudo o que os fariseus tinham de fazer era refugiar-se sob as asas de Jesus. Parar de justificar-se. Parar de confiar em si mesmos. Parar de glorificar a si mesmos. Mas eles não quiseram. Rute não era o seu modelo. Eles não caíram com seu rosto em terra diante de Jesus. Eles não se curvaram. Não demonstraram nenhum espanto com a graça oferecida. Não sejamos como os fariseus. Sejamos como Rute. Deus não é um empregador procurando funcionários. Ele é uma águia a procura pessoas que vão se refugiar debaixo das suas asas. Ele está procurando pessoas que deixarão pai, mãe, pátria ou qualquer outra coisa que pode nos impedir de uma vida de amor sob as asas de Jesus. Deixe-me terminar dizendo que Rute trabalha até a tarde. E ela volta para Noemi e dá-lhe as sobras do almoço e todo o grão (v. 17-19). Ela diz o que aconteceu com Boaz, e a teologia de Noemi sobre soberania de Deus, no versículo 20, lhe serve bem. Ela diz, “Bendito seja ele do SENHOR, que ainda não tem deixado a sua beneficência nem para com os vivos nem para com os mortos.” Eu acho que a bondade que ela se refere é a bondade do Senhor. Deus tinha começado a mostrar bondade para com os vivos e mortos. Foi o Senhor que parou a fome. Foi o Senhor que vinculou Rute a Noemi em amor. Foi o Senhor que preservou Boaz para Rute. A luz do amor de Deus finalmente rompeu brilhante o suficiente para Noemi ver. O Senhor é bom. Ele é bom para todos que se refugiam debaixo das suas asas. Por isso, vamos cair em nossos rostos, curvar-nos diante do Senhor, confessar a nossa indignidade, buscar refugio sob as suas asas, e nos maravilhar com sua graça.

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As estratégias dos justos

CAPÍTULO 31 E DISSE-LHE Noemi, sua sogra: Minha filha, não hei de buscar descanso, para que fiques bem? 2 Ora, pois, não é Boaz, com cujas moças estiveste, de nossa parentela? Eis que esta noite pade-jará a cevada na eira. 3 Lava-te, pois, e unge-te, e veste os teus vestidos, e desce à eira; porém não te dês a conhecer ao homem, até que tenha acabado de comer e beber. 4 E há de ser que, quando ele se deitar, notarás o lugar em que se deitar; então entrarás, e descobrir-lhe-ás os pés, e te deitarás, e ele te fará saber o que deves fazer. 5 E ela lhe disse: Tudo quanto me disseres, farei. 6 Então foi para a eira, e fez conforme a tudo quanto sua sogra lhe tinha ordenado. 7 Havendo, pois, Boaz comido e bebido, e estando já o seu coração alegre, veio deitar-se ao pé de um monte de grãos; então veio ela de mansinho, e lhe descobriu os pés, e se deitou. 8 E sucedeu que, pela meia noite, o homem estremeceu, e se voltou; e eis que uma mulher jazia a seus pés. 9 E disse ele: Quem és tu? E ela disse: Sou Rute, tua serva; estende pois tua capa sobre a tua serva, porque tu és o remidor. 10 E disse ele: Bendita sejas tu do SENHOR, minha filha; melhor fizeste esta tua última benevolência do que a primeira, pois após nenhum dos jovens foste, quer pobre quer rico. 11 Agora, pois, minha filha, não temas; tudo quanto disseste te farei, pois toda a cidade do meu povo sabe que és mulher virtuosa. 12 Porém agora é verdade que eu sou remi-dor, mas ainda outro remidor há mais chegado do que eu. 13 Fica-te aqui esta noite, e será que, pela manhã, se ele te redimir, bem está, que te redima; porém, se não quiser te redimir, vive o SENHOR, que eu te redimirei. Deita-te aqui até amanhã. 14 Ficou-se, pois, deitada a seus pés até pela manhã, e levantou-se antes que pudesse um conhecer o outro, porquanto disse: Não se saiba que alguma mulher veio à eira. 15 Disse mais: Dá-me a capa que tens sobre ti, e segura-a. E ela a segurou; e ele mediu seis medidas de cevada, e lhas pôs em cima; então foi para a cidade. 16 E foi à sua sogra, que lhe disse: Como foi, minha filha? E ela lhe contou tudo quanto aquele homem lhe fizera. 17 Disse mais: Estas seis medidas de cevada me deu, porque me disse: Não vás vazia à tua sogra. 18 Então disse ela: Espera, minha filha, até que saibas como irá o caso, porque aquele homem não descansará até que conclua hoje este negócio.

No capítulo 1 nos vemos a amarga providência de Deus na vida de Noemi. Vemos como ela deixou sua terra, e perdeu seu marido, seus filhos, e uma de suas noras. Mas houve uma doce providência divina também. A fome partiu-se de Judá e Noemi pode ir para casa. Rute se comprometeu em cuidar dela e um parente do marido de Noemi, chamado Boaz, foi mantido por Deus para dar um herdeiro para o nome da família. Mas, o capítulo termina com Noemi sobrecarregada e deprimida com suas perdas: “O Todo-Poderoso tem lidado muito amargamente comigo.” No capítulo 2, vemos a misericórdia de Deus de forma tão brilhante que até mesmo Noemi pode vê-la. Nós encontramos Boaz, um homem de fortuna, um homem de Deus, e um parente do marido de Noemi.

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Vemos Rute se refugiar sob as asas de Deus em um terra estrangeira e sendo conduzida pela misericórdia de Deus para o campo de Boaz para trabalhar. E vemos Noemi se recuperar de sua longa temporada de desân-imo e assim ela exulta (2:20): “Bendito seja ele do SENHOR, que ainda não tem deixado a sua beneficência nem para com os vivos nem para com os mortos.” O capítulo 2 transborda de esperança. Boaz é um homem cheio de Deus em seus negócios e relações pessoais (v. 4, 10-13). Rute é uma mulher de Deus, dependente e que se abriga sob as asas de Deus. Noemi é uma mulher de Deus, exaltando a soberania do Senhor. Toda a escuridão do capítulo 1 está desaparecendo. Deus transformou seu luto em festa. “O Todo-Poderoso tem lidado com amargura comigo “(1:20), deu lugar a “Sua bondade não abandonou o vivos ou mortos” (2:20). A lição dos capítulos 1 e 2, é seguramente esta:

Vocês santos temerosos renovem sua coragem:As nuvens que vocês tanto temem

São grandes em misericórdia e vão liberar Bênçãos sobre sua cabeça.

Devemos procurar refúgio sob as asas de Deus, mesmo quando parecem existir somente sombras, e na hora certa Deus vai deixar você olhar para fora de seu ninho de águia e você verá uma linda paisagem de céu aberto.

As estratégias dos Justos

Agora, para o capítulo 3 a frase que eu quero que você mantenha em sua mente enquanto refleti-mos é “justiça estratégica”. A questão que o capítulo 3 responde é: O que um homem cheio de Deus, uma jovem mulher dependente de Deus, e uma senhora adoradora de Deus fazem quando estão cheios de esperança na bondade soberana de Deus? E a resposta é que eles manifestam uma “Justiça estratégica”. Por justiça eu quero dizer um zelo para fazer o que é bom e justo: o empenho para fazer o que é apropriado quando Deus é tomado em conta como soberano e misericordioso. Por estratégica, quero dizer que há intenção, planejamento. Existe uma justiça passiva que simplesmente evita o mal, quando se apresenta. Mas, a estratégica justiça toma a iniciativa e sonha em como fazer as coisas de forma correta. Uma das lições que aprendemos com Rute capítulo 3 é a esperança que nos ajuda a sonhar. Esper-ança que nos ajuda a pensar em maneiras de fazer o bem. Esperança que nos ajuda a prosseguir nossos empreendimentos, com força e integridade. É o desespero que faz as pessoas acharem que tem que mentir e roubar e aproveitar os prazeres ilícitos do momento. Mas esperança, com base na confiança de que um Deus soberano é por nós, nos dá um impulso emocionante que eu chamo de justiça estratégica. Nós ve-mos isso em Noemi no capítulo 3 versículo 1-5, vemos em Rute no capítulo 3:6-9, e em Boaz no capítulo 3:10-15. E o capítulo termina novamente com Noemi cheia de confiança no poder e bondade de Deus.

A estratégia de Noemi Duas coisas se destacam na estratégia de Noemi nos versículos 1-5. Uma delas é que ela tem uma estratégia, e outra é o que essa estratégia propõe. O simples fato de Noemi ter uma estratégia nos ensina alguma coisa. Pessoas que se sentem como vítimas não fazem planos. Enquanto Noemi foi oprimida ela só podia dizer:

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“O Todo-Poderoso tem lidado muito amargamente comigo”, ela não concebeu nenhuma estratégia para o fu-turo. Um dos terríveis efeitos da depressão é a incapacidade de mover propositadamente, e com esperança para o futuro. Estratégias de justiça são o excesso de esperança. Quando Noemi desperta para a bondade de Deus em 2:20, a esperança se torna viva e transbordante em justiça estratégica. Ela está preocupada em encontrar para Rute um lugar de cuidado e segurança, e ela cria um plano. Uma das razões que precisamos ajudar uns aos outros a ter “esperança em Deus” (Salmo 42:5) é que apenas igrejas esperançosas planejam e criam estratégias. Igrejas que se sentem sem esperança desenvolvem uma mentalidade de manutenção ap-enas. Mas quando a igreja sente a bondade soberana de Deus pairando no ar e em movimento, a esperança começa a prosperar e a justiça deixa de ser simplesmente a prevenção do mal e se torna ativa e estratégica. Noemi tomou a iniciativa de encontrar um marido para Rute. Mas a estratégia dela é estra-nha, para dizer o mínimo. Ela diz no verso 2 que Boaz é um parente. Portanto, ele é o candidato mais provável para ser o marido de Rute. Dessa forma, o nome da família e herança familiar sobreviveria, de acordo com o costume hebraico. Então Noemi tem um objetivo claro: ganhar para Rute um marido pie-doso e um futuro seguro, e preservar a linhagem familiar. Então ela diz a Rute para se limpar e ficar o mais atraente possível, ir para perto de Boaz, e depois de ele ter deitado, esgueirar-se e levantando o seu manto deitar-se aos seus pés. Todos, inclusive Rute, devem ter se perguntado, onde você acha que isso vai chegar? E Noemi dá uma respota extraordinária no versículo 4: “Ele lhe dirá o que fazer.” É claro que esta é maneira de Noemi tentar casar Rute com Boaz, mas algo não está claro nessa pas-sagem e é porque ela escolheu essa maneira para fazer isso. Por que não uma conversa com Boaz, em vez de esta manobra no meio da noite? Isso nos parece altamente sugestivo e arriscado. Será que Noemi foi in-diferente a possibilidade de que Boaz poderia rejeitar Rute em indignação moral, ou que ele poderia ceder à tentação de ter relações sexuais com ela? Será que Noemi queria que isso acontecesse? Ou será que Noemi tinha tanta certeza do caráter de Boaz e Rute que ela sabia que eles iriam tratar um ao outro com perfeita pureza? Será que ela sabia que Boaz seria profundamente comovido com esta oferta de Rute e evitaria ter relações sexuais até que tudo fosse devidamente realizado pelos anciãos? O autor do livro não nos diz o porque Noemi escolheu esta estratégia para ganhar Boaz, mas haverá uma pista mais tarde. Agora o escritor parece querer nos deixar em suspense. Onde ex-atamente Rute se deitou? O que Boaz diria a ela para fazer? Qualquer que seja o motivo de Noe-mi, a situação sem dúvida poderia nos levar a uma das duas situações: uma apaixonada e ilegal cena de relações sexuais ou em uma cena deslumbrante de pureza, integridade e auto-controle.

Estratégia de Rute

Em seguida, vemos a justiça estratégica de Rute nos versículos 6-9. No versículo 5, ela tinha dito que iria seguir todas as instruções de Noemi. Mas, Rute vai além. Noemi havia dito que Boaz diria Rute o que fazer. Mas, antes que isso aconteça, Rute diz a Boaz por que ela veio. Ela está deitada a seus pés sob o seu manto. Ele acorda e diz: “Quem é você?” Ela responde de forma espontanea “Sou Rute, tua serva; estende pois tua capa sobre a tua serva, porque tu és o remidor.” Rute não é meramente um peão de Noemi. Ela foi voluntari-amente e agora ela toma a iniciativa de tornar claro a Boaz por que ela está lá. “tu és o remidor“ ou literal-mente, “Você é o único que pode redimir a nossa herança e nosso nome de família. Quero que você preencha esse papel para mim. Eu quero para ser sua esposa.” Ela não diz diretamente. Na verdade, ela é menos direta e mais atraente. Ela diz, “estende tua capa sobre mim.” Agora o que Boaz entende com essa oferta, pode ter o sentido de relações sexuais ou algo mais sutil e profundo, depende da sua estimativa sobre o caráter de Rute.

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A fornicação era errada tanto no Antigo Testamento (Levítico 19:29; Deuteronômio 21:13-21), assim como no Novo Testamento (Mateus 15:19). “Estende tua capa sobre mim”

Há duas coisas, além do caráter de Rute, que sugerem que algo mais sutil e profundo está de fato acontecendo aqui. Uma delas é esta: o único outro lugar onde podemos encontrar, no Velho Testamento, em que essa frase “estende tua capa”ocorre em relação a amantes, é encontrada em Ezequiel 16:08. Deus está falando e Ele está descrevendo Israel como uma jovem que ele tomou como sua esposa. “E, passando eu junto de ti, vi-te, e eis que o teu tempo era tempo de amores; e estendi sobre ti a aba do meu manto, e cobri a tua nudez; e dei-te juramento, e entrei em aliança contigo, diz o Senhor DEUS, e tu ficaste sendo minha.” Se isso é uma indicação do que Rute queria de Boaz o pedido vai muito além relações sexuais. Ela estava dizendo de fato, “gostaria de ser a única a quem você jura fidelidade e com quem faz uma aliança de matrimônio”.

“Sob as asas de Deus”

Mas eu acho que é mais do que isso, e esta é a segunda indicação de sutileza e profundi-dade aqui. Quando Rute disse, “estende tua capa sobre mim “, a palavra para a capa é a palavra he-braica para a asa (também em Ezequiel 16:8). Esta palavra é usada apenas um outro lugar de Rute, a saber, na chave verso 2:12, onde diz Boaz a Rute: “O SENHOR retribua o teu feito; e te seja concedido pleno galardão da parte do SENHOR Deus de Israel, sob cujas asas te vieste abrigar.” Mas, o que nós vi-mos na semana passada foi de que Boaz era o agente de Deus para recompensar Rute. Ele deu-lhe livre acesso a seu campo, proteção dos jovens, e água do poço. Rute disse a Boaz: “Por que achei graça em seus olhos?” E respondeu Boaz,”Porque você veio refugiar-se sob as asas de Deus “. Então, aqui está o que eu acho que está acontecendo no capítulo 3. Rute disse a Noemi sobre estas palavras de Boaz. E quanto mais elas ponderavam a respeito mais se convenceram de que elas estavam car-regadas com sutis intenções amorosas. O que Boaz realmente queria dizer era: “Porque você se refugiou sob as asas de Deus, você é o tipo de mulher que eu quero cobrir com as minhas asas.” Não é fácil para um homem mais velho expressar o amor a uma mulher mais jovem. Boaz fez com atos de bondade e palavras sutis de admiração. Ele disse que a admirava por ela ter se refugiado sob as asas de Deus. Ele agiu como se ela estivesse sob as suas asas e esperou. E no decorrer do tempo, Noemi e Rute encontraram uma resposta tão sutil e tão profunda quanto o ato de Boaz. Rute veio a ele em seu sono, em um campo de grãos, onde ele tomou-a sob seus cuidados, e ela vai dizer sim. Mas ela vai dizer que com uma ação tão sutil e profunda como a ação e as palavras de Boaz. Ela se coloca sob sua asas, e quando ele acorda tudo está dependendo se Rute interpretou Boaz corretamente. Imagine o quão rápido o pulso de Rute batia quando Boaz acordou. Então, ela disse as palavras mais importantes: “Eu sou Rute... estende pois tua capa sobre a tua serva.” Deve ter havido um imenso silêncio por um momento enquanto Boaz deixava-se acreditar que esta mulher magnífica tinha realmente entendido. Um homem de meia-idade, apaixonado por uma jovem viúva a quem ele discretamente chama de “minha filha”, incerto se o coração dela pode estar buscando homens mais jovens, comunicando da melhor forma possível que ele queria ser as asas de Deus para ela. E uma jovem viúva lendo gradualmente entre as linhas as intenções dele e, finalmente, pronta para arriscar uma interpretação, vindo no meio da noite para se refugiar sob as asas de suas vestes. Isso é algo muito poderoso! Tudo muito sutil. Todo muito correto diante de Deus. Tudo muito estratégico.

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Estratégia de Boaz

Agora vem a justiça estratégica de Boaz nos versículos 10-15. Para ouvir o que ele diz da forma cor-reta, você tem que lembrar que é meia-noite, eles estão sob as estrelas, e ele está olhando para o rosto da mulher que ele ama coberta com o seu próprio manto. “Bendita sejas tu do SENHOR, minha filha; melhor fizeste esta tua última benevolência do que a primeira, pois após nenhum dos jovens foste, quer pobre quer rico. Agora, pois, minha filha, não temas; tudo quanto disseste te farei, pois toda a cidade do meu povo sabe que és mulher virtuosa.” E então vem uma palavra magnífica de justiça e auto-controle. Ele diz: “Segundo o costume, Rute, há um outro que possa te remir e eu não posso prosseguir até que todas as coisas sejam devidamente acertadas com ele.” As estrelas estão belas, é meia-noite, ele a ama, ela ama ele, eles estão sozinhos, ela está sob seu manto. . . e ele para por uma questão de justiça. Que homem! Que mulher! Quanta pureza! O conceito da vida de hoje é: ‘se dá prazer então faça, e para o inferno com sua culpa e com os princí-pios puritanos de castidade e fidelidade’. Mas, se as estrelas estão brilhando em sua beleza e seu sangue está pulsando e você está seguro na privacidade de seu lar, pare. . . por uma questão de justiça. Não seja como o mundo. Seja como Boaz. Seja como Rute. Profundamente apaixonados, sutis e perspicazes na comunicação, poderosos em auto-controle e comprometidos com a justiça.

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“A vida do santo não é uma linha reta para a glória, mas eles chegam lá.”

Aqui está o que eu gostaria de sugerir como a principal lição do livro: “A vida do santo é não uma linha reta para a glória, mas eles chegam lá”. Na vida dos santos há deslizamento de pedras, precipícios, névoas escuras, ursos e curvas escorregadias e fechadas. Tudo isso faz com que muitas vezes você tenha que regredir a fim de ir em frente. Mas, em toda esta perigosa estrada, que não deixa você ver muito longe, há freqüentes sinais que dizem: “O melhor ainda está para vir.” E no canto inferior direito escrito com uma letra inconfundível estão as palavras, “Como eu vivo, diz o Senhor!” O livro de Rute é um dos sinais para você. Ele foi escrito e tem sido pregado para lhe dar algum incen-tivo e a esperança de que todas as curvas desconcertantes em sua vida não são becos sem saída. Em todos os reveses de sua vida como um crente Deus está tramando para a sua alegria. A história de Rute é uma série de contratempos. No capítulo 1 Noemi e seu marido e dois filhos foram obrigados a deixar sua terra natal em Judá, por conta da fome. Então o marido de Noemi morre. Seus filhos se casarão com moabitas e por dez anos as mulheres se revelaram estéreis. E então seus filhos morrem deixando duas viúvas na casa de Noemi. Apesar de Rute se unir à Noemi, o capítulo 1 termina com a queixa amarga de Noemi: “Eu fui embora cheia e o Senhor me trouxe de volta vazia. . . O Todo-Poderoso tem tratado muito amargamente comigo.” No capítulo 2 Noemi é cheia com uma nova esperança, porque Boaz aparece na cena como um pos-sível marido para Rute. Mas ele não propõe a Rute. Ele não faz qualquer movimento. Pelo menos é o que parece à primeira vista. Assim, o capítulo termina cheio de esperança, mas também com grande suspense e incerteza sobre como tudo isso vai funcionar. No capítulo 3 Noemi e Rute fazem um movimento arriscado no meio da noite. Rute vai a Boaz na eira e diz: “Eu quero que você estenda as suas asas sobre mim como o meu marido.” Mas, quando a tragédia da viuvez de Rute parece ter se resolvida, em uma linda história de amor aparece um problema inesperado. Há um outro homem que, segundo o costume hebraico, tem o direito de se casar com Rute. O impecavelmente honesto Boaz não vai continuar sem dar a este homem a oportunidade legal. Assim, o capítulo 3 termina novamente no suspense de outro revés.

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CAPÍTULO 41 E BOAZ subiu à porta, e assentou-se ali; e eis que o remidor de que Boaz tinha falado ia pas-sando, e disse-lhe: Ó fulano, vem cá, assenta-te aqui. E desviou-se para ali, e assentou-se. 2 Então tomou dez homens dos anciãos da cidade, e disse: Assentai-vos aqui. E assentaram-se. 3 Então disse ao remidor: Aquela parte da terra que foi de Elimeleque, nosso irmão, Noemi, que tornou da terra dos moabitas, está vendendo. 4 E eu resolvi informar-te disso e dizer-te: Compra-a diante dos habitantes, e diante dos anciãos do meu povo; se a hás de redimir, redime-a, e se não houver de redimir, declara-mo, para que o saiba, pois outro não há senão tu que a redima, e eu depois de ti. Então disse ele: Eu a redimirei. 5 Disse porém Boaz: No dia em que comprares a terra da mão de Noemi, também a comprarás da mão de Rute, a moabita, mulher do falecido, para suscitar o nome do falecido sobre a sua herança. 6 Então disse o remidor: Para mim não a poderei redimir, para que não prejudique a minha herança; toma para ti o meu direi-to de remissão, porque eu não a poderei redimir. 7 Havia, pois, já de muito tempo este costume em Israel, quanto a remissão e permuta, para confirmar todo o negócio; o homem descalçava o sapato e o dava ao seu próximo; e isto era por testemunho em Israel. 8 Disse, pois, o remidor a Boaz: Toma-a para ti. E descalçou o sapato. 9 Então Boaz disse aos anciãos e a todo o povo: Sois hoje testemunhas de que tomei tudo quanto foi de Elimeleque, e de Quiliom, e de Malom, da mão de Noemi, 10 E de que também tomo por mulher a Rute, a moabita, que foi mulher de Malom, para suscitar o nome do falecido sobre a sua herança, para que o nome do falecido não seja desarraigado dentre seus irmãos e da porta do seu lugar; disto sois hoje testemunhas. 11 E todo o povo que estava na porta, e os anciãos, disseram: Somos testemunhas; o SENHOR faça a esta mulher, que entra na tua casa, como a Raquel e como a Lia, que ambas edificaram a casa de Israel; e porta-te valorosamente em Efrata, e faze-te nome afamado em Belém. 12 E seja a tua casa como a casa de Perez (que Tamar deu à luz a Judá), pela descendência que o SENHOR te der desta moça. 13 Assim tomou Boaz a Rute, e ela lhe foi por mulher; e ele a possuiu, e o SENHOR lhe fez conceber, e deu à luz um filho. 14 Então as mulheres disseram a Noemi: Bendito seja o SENHOR, que não deixou hoje de te dar remidor, e seja o seu nome afamado em Israel. 15 Ele te será por restaurador da alma, e nutrirá a tua velhice, pois tua nora, que te ama, o deu à luz, e ela te é melhor do que sete filhos. 16 E Noemi tomou o filho, e o pôs no seu colo, e foi sua ama. 17 E as vizinhas lhe deram um nome, dizendo: A Noemi nasceu um filho. E deram-lhe o nome de Obede. Este é o pai de Jessé, pai de Davi. 18 Estas são, pois, as gerações de Perez: Perez gerou a Esrom, 19 E Esrom gerou a Rão, e Rão gerou a Aminadabe, 20 E Aminadabe gerou a Naassom, e Naassom gerou a Salmom, 21 E Salmom gerou a Boaz, e Boaz gerou a Obede, 22 E Obede gerou a Jessé, e Jessé gerou a Davi.

Após o encontro da meia-noite no capítulo 3, Boaz vai até o portão da cidade onde o negócio oficial foi feito. O parente mais próximo se aproxima, e Boaz define a situação diante dele. Noemi está vendendo a pequena propriedade que ela tem, e o dever do parente mais próximo é o de comprá-la, para que a herança permaneça na família. Para nosso espanto o parente diz: “Eu vou resgatá-lo.” Nós não queremos que ele resgate a propriedade, nós queremos que Boaz faça-o. Então, novamente parece haver um retrocesso. E a ironia desse revés é que ele está sendo causado pela justiça. A parente está apenas fazendo o seu dever. Às vezes a estrada da vida cristã está entupida, não com pedras ou ursos, mas com bons operários que estão apenas fazendo seu dever. Nossas frustrações não são apenas causadas pelo pecado, mas também (aparentemente) pela justiça inoportuna. Só quando estamos prestes a dizer: “Ó não! Não deixe que este outro rapaz leve Rute!” Boaz diz ao parente mais próximo: “Você sabe, não é, que Noemi tem uma nora. Então, quando você se faz como resga-tador você também deve tomá-la como sua esposa e dar filhos ao nome de seu marido, Malom?” Então, para nosso grande alívio, o parente diz no versículo 6, que ele não pode fazê-lo.

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Talvez ele já seja casado. Seja qual for a razão, nós estamos torcendo para que Boaz chegue, mesmo em meio a dificuldades e problemas, à festa de casamento com a linda Rute em seu braço. Mas, ainda há uma nuvem no céu. Rute é estéril. Ou pelo menos ela parece ser. No capítulo 1 ver-sículo 04 nos vemos que ela tinha sido casada por dez anos com Malom e não tinha filhos. Assim, mesmo agora o suspense ainda não acabou. Você entende agora porque eu disse que a lição do livro de Rute é que a vida do santo não é uma linha reta para a glória? A vida é uma curva atrás da outra. E nós nunca sabemos o que virá. Mas o ponto principal da história é que o melhor ainda está por vir. Não importa onde você está, se você ama a Deus, o melhor ainda está por vir. A nuvem sobre a cabeça de Rute e Boaz está cheia de misericórdia, e derrama bênçãos no versículo 13. “Assim tomou Boaz a Rute, e ela lhe foi por mulher; e ele a possuiu, e o SENHOR lhe fez conceber, e deu à luz um filho.” Mas note como o foco nos versículos 14-17 não está em Rute nem em Boaz. O foco está em Noemi e na criança. Por quê? Como o ponto principal do livro é que a vida do santo não é uma linha reta para a glória, a história começou com a perda de Noemi e termina com ganho de Noemi. Começou com a morte e termina com o nascimento de um filho. Mas, um filho para quem? O versículo 17 é o grande destino da longa e tortuosa es-trada da vida de Noemi. “ E as vizinhas lhe deram um nome, dizendo: A Noemi nasceu um filho”. Não para a Rute, mas sim para Noemi! Por quê? Para mostrar que não era verdade, o que Noemi havia dito em 1:21, que o Senhor a tinha trazido de volta vazia de Moabe. E se pudéssemos aprender a esperar e confiar em Deus, todas as nossas queixas contra Ele iriam se revelar falsas.

Sinalização de obra da graça de Deus em retrocessos amargos

Rute foi escrito para nos ajudar a ver os sinais da graça de Deus em nossa vidas, e para nos ajudar a confiar em sua graça, mesmo quando as nuvens são tão grossas que não podemos ver a estrada e muito menos os sinais ao lado. Vamos voltar e lembrar que foi Deus que agiu no sentido de transformar cada revés em um trampolim para a alegria, e que é Deus, que em todas as nossas amargas providências, quem está planejando para o nosso bem. Primeiro, quando toda a vida de Noemi parecia desabar em Moabe, foi Deus quem deu Rute a Noemi. Nós sabemos isso a partir de dois versos: em 1:16 nós sabemos que na raiz do compromisso de Rute a Noemi está no compromisso de Rute com o Deus de Noemi: “Seu Deus será meu Deus.” Deus tinha ganhado a fi-delidade de Rute em Moabe, e é a Deus a quem Noemi devia o incrível amor de sua nora. Também em 2:12 ele diz que quando Rute veio a Judá com Noemi, ela viria a refugiar-se sob as asas de Deus. Por isso, é devido a Deus que Rute deixou sua casa e família para seguir e servir Noemi. O tempo todo Deus estava transfor-mando o revés de Noemi em alegria. Em segundo lugar, Noemi dá a impressão no capítulo 1, que não há esperança que Rute pudesse se casar e criar filhos para continuar a linhagem da família (1:12). Mas o tempo todo Deus está preservando um homem rico e piedoso chamado Boaz, para fazer exatamente isso. O motivo por qual nós sabemos que isso foi obra de Deus é que Noemi admite em 2:20. Ela reconhece que por trás do encontro “acidental” de Rute e Boaz estava a bondade de Deus, que “não abandonou nem vivos nem mortos”. Todos os prejuízos que o santo tem que suportar Deus já está planejando para o seu ganho. Em terceiro lugar, quem foi que deu um filho ao ventre estéril de Rute? Deus deu o filho. Olhe 4:11. Os habitantes da cidade oraram para Boaz e Rute. Eles sabem que Rute foi casada dez anos mas não teve filhos.

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Então, eles oram para que Deus fizesse com Rute como havia feito com Raquel e Lia. E assim o autor deixa claro no versículo 13 o que causou essa criança a ser concebida. “e ele [Boaz] a possuiu, e o SENHOR lhe fez conceber”. Então, repetidas vezes neste livro foi Deus quem estava trabalhando nos amargos contratempos de Noemi. Quando ela perdeu o marido e os filhos, Deus lhe deu Rute. Quando ela não conseguia pensar em nenhum parente para levantar a prole e o nome da família, Deus deu-lhe Boaz. Quando a estéril Rute casou-se com Boaz, Deus lhe deu um filho. A moral da história é revelada na vida de Noemi. A vida do santo não é uma linha reta para a glória, mas Deus faz com que eles cheguem lá. Talvez você ache que a palavra glória é um pouco de exagero. Afinal de contas ele é apenas uma cri-ança. Uma avó segurando uma criança depois de uma vida longa e dura de muita dor de cabeça. Ah, mas esse não é o fim da história. Em 1912, John Henry Jowett, então pastor da Igreja Presbiteriana em Nova York, deu em Yale uma palestra sobre Pregação. Há uma passagem em uma de suas palestras, que descreve o que o autor do livro de Rute estava fazendo quando ele terminou a sua história. Jowett descreveu um grande pregador como aquele que parece, “olhar para o horizonte e não em um campo fechado, ou uma paisagem local. Ele [tem] uma maneira maravilhosa de conectar todos os sujeitos com eternidade passada e com a eternidade por vir.” (O Pregador: Sua Vida e de Trabalho, p. 95) Se essa história de Rute terminasse apenas em uma pequena aldeia da Judéia com uma avó abraçan-do um neto novo, glória seria uma palavra muito forte. Mas, no versículo 17 ele diz de forma muito simples que esta criança Obede foi pai de Jessé e Jessé foi o pai de Davi. De repente, percebemos que ao longo de toda a história algo muito maior do que poderíamos imaginar estava acontecendo. Deus não estava traçando uma bênção temporal para alguns judeus em Belém. Ele estava preparando a vinda do maior rei que Israel teria, Davi. E o nome de Davi traz consigo a esperança do Messias, a nova era de retidão, paz, liberdade da dor, do choro, da tristeza e da culpa. Esta pequena história se desdobra em um grande rio de esperança. Uma das grandes doenças do nosso tempo é trivialidade. As coisas com as quais a maioria das pes-soas passam a maior parte do seu tempo são absolutamente triviais. E o que faz isto ser uma doença é que nós que fomos criados à imagem de Deus, fomos feitos para viver coisas magníficas. Nenhum de nós estará realmente satisfeito com coisas banais do mundo. Nossas almas não ficam satisfeitas com ninharias. Porque existe uma seção inteira do jornal dedicado ao esporte, e quase nada dedicado a maior história no universo - o crescimento e expansão da Igreja de Jesus Cristo? É loucura! É pura loucura que os jogos insignificantes ocupem um papel tão central na nossa cultura. É simplesmente um dos muitos sinais de que estamos es-cravizados em trivialidades. Vivemos em uma luta perpétua e desesperada para satisfazer os nossos anseios em ninharias. Assim, nossas almas secam. Nossas vidas são triviais. E a nossa capacidade de grande adoração morre. O livro de Rute quer ensinar-nos que o propósito de Deus para a vida de seu povo é conectar-nos a algo muito maior do que nós. Deus quer que nós saibamos que quando nós o seguimos, as nossas vidas sempre vão significar mais do que pensamos que elas significam. Para o cristão, há sempre uma ligação entre os eventos comuns da vida e do estupendo trabalho de Deus na história. Tudo o que fazemos em obediência a Deus, não importa quão pequeno seja tem significado. Faz parte de um mosaico cósmico que Deus está pintando para mostrar a grandeza do seu poder e sabedoria para o mundo e para os principados e potesta-des nos lugares celestiais (Efésios 3:10). A profunda satisfação da vida cristã é que ela não seja entregue a ninharias. Servindo a sogra viúva, sendo catadora em um campo, se apaixonando, tendo um bebê - para o cristão, essas coisas estão todas ligadas a eternidade. Elas são parte de algo muito maior do que parecem.

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Assim, a palavra glória não é muito forte. Há uma esperança para nós além do bonito do bebê e da avó feliz. Se não houvesse nós seriamos os homens mais miseráveis. A história aponta para Davi. Davi aponta para Jesus. E Jesus aponta para a ressurreição de nossos corpos mortais (Rm 8:23), quando “não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.” (Apocalipse 21:4). O melhor ainda está para vir. Essa é a verdade inabalável sobre a vida de uma mulher e um homem que seguem a Cristo na obediência da fé. Digo para os jovens que são fortes e esperançosos, e eu digo que para os antigos, para quem a natureza exterior está rapidamente definhando. O melhor ainda está para vir. Amém!