John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

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JOHN WESLEY

ROMANOSNOTAS EXPLICATIVAS

T rad u ção de

D U N C A N A L E X A N D E R R EILY

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Todos os direitos reservadosCopyright © da IMPRENSA METODISTA

Wesley, JohnRomanos: notas explicativas / John Wesley; tradução Duncan Alexander

Reily - São Paulo: Cedro 2000 112 p.Título original: Romans ISBN 85-87680-06-41. Bíblia -N.T. - Romanos - Crítica e interpretação I. Título

CDD 227.106

Consultoria EditorialIsrael Belo de AzevedoRevisãoUtahy Caetano dos Santos Filho

Produzido pela BkZcsi*. QuOu> sob licença da Imprensa Metodista

Coordenação EditorialAdipe Miguel Júnior

Assistente EditorialJúlia Torres

DiagramaçãoWilde Velasques Kern Sonia Maria Alencar

RevisãoJoyce Plaça Hideíde Brito Torres

Capa (manuscrito de Wesley) Arthur Esteves Balestero

Pedidos para (UAeRua França Pinto, 221 - Vila Mariana - 04016-031 - São Paulo - SP

Telefax: (11) 539-6951 / 539-5208 - Site: www.editoracedro.com.br

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ApresentaçãoÉ im possível descrever a alegria que é ter nas mãos a tra­

dução das Notas Explicativas do Novo Testamento (Romanos) de João Wesley. Em primeiro lugar, pela im portância que esta obra tem para o M etodismo no Brasil. As Notas se constituem em parte das fontes que definem os alicerces doutrinários do metodism o e, som ente agora, pelo esforço do prof. Reily, é que aparecem em português. Em segundo lugar, por ver o desejo de inúm eros m etodistas - inclusive eu - de ter em mãos esta peça im portante de nossa história e doutrina. Eu me recordo de que, já na década de 80, quando ingressei na Faculdade de Teologia, uma pergunta que eu constantemente fazia ao meu professor de H istória do M etodism o - o querido prof. Reily - era a respei­to da tradução dessas notas para o português, e essa não era uma pergunta solitária. Em todos os cantos do país se ouvia esse clamor. Em terceiro lugar, é uma alegria apresentar um livro de a lgu ém que d esd e 1948 dá um a co n trib u içã o e fe tiv a ao M etodism o no Brasil, como missionário e professor. Por esses motivos, apresentar esta tradução é uma alegria e uma honra.

Ao ler as Notas Explicativas do Novo Testamento encon­tramos, mais que um texto básico de nossa doutrina, um princí­pio wesleyano: o de colocar a Bíblia nas mãos do povo e ajudá- lo a compreendê-la. Nessa possibilidade de compreender o tex­to bíblico pôde repousar o sucesso do M etodismo nascente da Inglaterra no período de W esley Os pregadores leigos, além da vasta bibliografia preparada por Wesley, contavam com a possi^ bilidade de compreensão do texto bíblico para usá-lo nas maisdiversas atividades m issionárias.í

Wesley não pretendeu fazer uma nova tradução do texto bí­blico. Sua intenção era, basicamente, oferecer pistas para a inter­pretação. Porém, para os estudiosos, a interferência de Wesley nas traduções de sua época mostra que ele não se ateve a uma tradu­ção corrente do texto, mas confrontou-a com os recursos exegéticos de que dispunha e retrabalhou o texto à luz dos resultados. Esse retrabalhar o texto bíblico se constituía em um dos grandes

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obstáculos da tradução desta obra para o português. O trabalho não poderia resumir-se somente à tradução das notas. Seria neces­sário revisar a tradução do texto bíblico apresentada por Wesley e destacar os momentos em que ele, fugindo da versão corrente, apre­sentava uma tradução mais coerente com o trabalho exegético. Por isso, o prof. Reily seria o único habilitado, no Brasil, a fazer esse trabalho.

Diante disso, este livro se constitui em uma mina de ouro para os pesquisadores da Bíblia e do Metodismo. Ainda que, para os pesquisadores da Bíblia - diante do número muito grande de descobertas de textos e de informações sobre o mundo bíblico nos últimos anos - as notas possam ser consideradas "ultrapassadas",o texto de Wesley representa um período da história da interpre­tação e do desenvolvimento do método histórico-crítico. Um exem­plo disso poderá ser visto nas notas ao evangelho de Marcos (que espero possa sair em breve) nas quais Wesley diante da dificulda­de literária de Mc 1.2-3 - o evangelho atribui a Isaías uma citação de Malaquias - resolve esse problema optando por uma variante que o corrige.

Para os pesquisadores do Metodismo, ao iniciar a tradução das Notas por Romanos, o prof. Reily escolheu um livro que marca profundamente as raízes do Metodismo e da vida do próprio João Wesley. Não podemos esquecer que a experiência do "coração aque­cido" de Wesley se deu ao ouvir a leitura do comentário de Lutero aos Romanos.

Por tudo isso, creio que não há nada mais oportuno do que agradecer ao prof. Reily pelo esforço na tradução deste texto. Ele, que já marcou o metodismo brasileiro através da formação de lei­gos e leigas, pastores e pastoras, por mais de meio século, e por meio de suas publicações, marca este momento histórico colocan­do em nossas mãos este texto tão precioso.

Paulo Roberto Garcia Professor de Novo Testamento da Faculdade

de Teologia da Igreja Metodista/Março de 2000

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SumárioIn trod u ção .......................................................................5

Rom anos 1 ....................................................................... 11

Rom anos 2 ....................................................................... 22

Rom anos 3 ....................................................................... 30

Rom anos 4 ....................................................................... 37

Rom anos 5 ....................................................................... 44

Rom anos 6 ....................................................................... 52

Rom anos 7 ....................................................................... 57

Rom anos 8 ....................................................................... 63

Rom anos 9 ....................................................................... 77

Rom anos 1 0 .....................................................................89

Rom anos 1 1 .....................................................................93

Rom anos 1 2 .....................................................................101

Rom anos 1 3 .....................................................................107

Rom anos 1 4 .....................................................................111

Rom anos 1 5 .....................................................................116

Rom anos 1 6 .....................................................................122

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I n t r o d u ç ã o

M uitos dos livros do Novo Testamento foram escritos na form a de epístolas. São epístolas não apenas as de Paulo, Tiago, Pedro e Judas, mas tam bém os dois tratados de Lucas e todos os escritos de João. Além disso, tem os sete epístolas no N ovo Tes­tam ento que o próprio Senhor Jesus enviou pela m ão de João às sete igrejas [da Ásia]; na verdade, o Apocalipse inteiro não pas­sa de um a de suas epístolas.

Autoria, data e localNo que concerne às epístolas de Paulo, devem os ter pre­

sente que ele escreve de uma m aneira àquelas igrejas que ele próprio plantou, e de outra àquelas que não haviam visto, na carne, o seu rosto. N as cartas às primeiras, há um a fam iliarida­de, quer amorosa, quer severa, à m edida que o com portam ento delas se adaptasse ou não às exigências do evangelho. Às últi­mas com unidades, ele propõe o evangelho puro, sem qualquer m istura, de m aneira mais geral e abstrata.

Quanto ao ano em que ele escreveu as epístolas, é prová­vel que as tenha escrito por volta do ano de Cristo1, de acordo com o cálculo comum:

48 — D e Corinto, a Epístola aos Tessalonicenses.49 — Da Frigia, aos Gálatas.52 — De Éfeso, a Prim eira aos Coríntios.

De Trôade, a Prim eira a Timóteo.

1 Isto é, d.C.

Nota do tradutorA palavra “São”, que antecede o nome dos apóstolos, foi eliminada. Seu uso era muito comum no tempo de Wesley, mas atualmente é raro.

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52 — Da M acedônia, a Segunda aos Coríntios e a Epístola a Tito.De Corinto, aos Romanos.

57 — De Roma, aos Filipenses, a Filemom, aos Efésios eaos Colossenses.

58 — Da Itália, aos Hebreus.66 — De Roma, a Segunda a Timóteo.

Quanto às epístolas gerais, parece que Tiago escreveu um pouco antes da sua morte, que ocorreu em 63 d.C.; Pedro, que sofreu o m artírio no ano de 67, também escreveu sua segunda epístola um pouco antes da sua morte e não m uito depois da prim eira. Judas escreveu depois dele, quando o m istério da ini­qüidade2 avançava rapidam ente. Com umente se crê que João tenha escrito todas as suas epístolas um pouco antes da sua par­tida. O Apocalipse, ele o escreveu em 96 d.C.

Podemos deduzir (pela apresentação de Febe, uma serva da igreja de Cencréia, porto de Corinto, aos Romanos3 e pela menção das saudações de Gaio e de Erasto4) que Paulo escreveu esta epís­tola de Corinto. As pessoas para quem ele endereçou a carta pare­cem ter sido na maioria estrangeiras, tanto judeus quanto gentios, cujo meio de vida os havia atraído de outras províncias, o que se tom a evidente pelo fato de que ele escreveu a epístola em grego e pelas suas saudações a diversos dos seus antigos conhecidos.

Seu principal propósito aqui é m ostrar que:1. N em gentios, pela lei da natureza, e nem judeus, pela lei de

M oisés, podiam obter a justificação frente a Deus e que, por­tanto, era-lhes necessário buscá-la por m eio da livre m iseri­córdia de Deus, pela fé;

2. Deus tem um direito absoluto de m ostrar misericórdia, sob quaisquer term os que lhe agradem, e de recusá-la àqueles que não querem aceitá-la sob as condições que ele estabelece.

2 2Ts 2.73 Rm 16.14 Rm 16.23

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Esboço

Esta epístola se compõe de cinco partes:I. A introdução — 1.1-15

II. A proposição resum idam ente com provada1. Da fé e da justificação2. Da salvação3. Da igualdade de crentes, quer judeus, quer gentios— 1.16,17

N ão apenas o próprio tratado mas tam bém a exortação correspondem , na m esm a ordem, aos pontos m encionados aci­ma, a saber:

O prim eiro — 1.18 - 4.25 O segundo — cap. 5 a 8 O terceiro — cap. 9 a 11

III. O tratado1. Concernente à justificação, que não é

(1) Pelas obras, porque — 1.18 os gentios — 2.1-10os judeus — 2.11-29estão conjuntam ente debaixo do pecado — 3.1-20(2) mas pela fé — 3.21-31como fica provado pelo exem plo de Abraão e pelo testem unho de Davi — 4.1-25

2. Da salvação — Capítulos 5-83. Dos privilégios iguais de crentes, quer judeus, quer

gentios — Capítulos 9-11

IV. A Exortação — 12.1-21. Da fé e de seus frutos, na form a de am or e de santi­

dade prática — 12.3 - 13.102. Da salvação — 13.11-143. Da conjunção de judeus e gentios — 14.1 - 15.13

V. A Conclusão — 15.14 -1 6 .2 5

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PropósitoPara expressar o propósito e o conteúdo desta epístola um

pouco m ais com pletam ente, o apóstolo procura, através de todo o texto, fixar na m ente daqueles a quem ele escreve um a profun­da percepção da excelência do evangelho, e levá-los a agir de form a adequada frente a ele. Para tal propósito, depois de uma saudação geral (1.1-7) e de uma demonstração de seu afeto por eles (1.8-15), ele declara não se envergonhar de defender o evan­gelho em Roma, por ser o poderoso instrum ento da salvação, tanto para judeus como para gregos, por m eio da fé (1.16-17). E, para provar isto, ele m ostra que:

1. O m undo carecia grandemente de uma tal dispensação, estando os gentios num estado de com pleto abandono (1.18-32), e os judeus, em bora condenando os outros, não gozavam de situação m elhor (2.1-29), do que, apesar de algum as objeções inconseqüentes que ele superou (3.1-8), suas próprias Escrituras testificam (3.9-19). Assim, todos se achavam na necessidade de buscar a salvação pelo m é­todo m encionado acima (3.20-31).

2. Os próprios Abraão e D avi buscaram a salvação pela fé, e não pelas obras (4.1-25).

3. Todos que crêem são trazidos a uma condição tão feliz que suas maiores aflições são transformadas em alegria (5.1-11).

4. Os males que Adão legou à humanidade são recompensados abundantemente a todos os que crêem em Cristo (5.12-21).

5. Longe de desfazer a obrigação da prática da santidade, o evangelho a aumenta por obrigações seculares (6.1-23).

Visando convencê-los mais profundam ente destas coisase desfazer o seu apego à lei m osaica (sendo eles agora casados com Cristo pela fé nele — 7.1-6), Paulo m ostra a incapacidade dos m otivos da lei em produzir aquela santidade que os crentes obtêm por um a viva fé no evangelho (7.7 - 8.2). Depois, ele faz um a apresentação mais particular das coisas que tom avam o evangelho eficaz para este grande fim (8.3-39).

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Um ponto de extrem a im portância é o fato de que m esmo os gentios, se cressem, participariam destas bênçãos, e os judeus, se não cressem, seriam excluídos delas, razão por que o apóstolo dedica os capítulos nove, dez e onze à sua solução. Ele inicia o nono capítulo expressando seu tem o am or e alta estim a à nação judaica (w . 1-5) e então mostra que:

1. A rejeição de um a grande parte da sem ente de Abraão e tam bém de Isaque era fato inegável (9.6-13).

2. Deus não havia escolhido os judeus para tais particulares privilégios por qualquer espécie de bondade neles ou nos seus pais (9.14-24).

3. Sua aceitação dos gentios e rejeição de muitos dos judeus haviam sido profetizadas tanto por Oséias quanto por Isaías (9.25-33).

4. Deus havia oferecido a salvação aos judeus e gentios nos m esm os term os, m as os judeus haviam rejeitado (10.1-21).

5. Em bora a rejeição de Israel por causa da sua obstinação fosse geral, ela não era total; havendo entre eles um rem a­nescente que abraçava o evangelho (11.1-10).

6. A rejeição dos outros judeus tam bém não era final, mas finalm ente todo Israel seria salvo (11.11-31).

7. N o ínterim , m esm o sua obstinação e rejeição serviam para ex ib ir a in so n d áv el sab ed oria e am or de D eu s (11.32-36).

O resto da epístola contém instruções e anotações práti­cas. Em particular, ele recomenda:

1. Consagração total deles próprios a Deus e preocupação em glorificá-lo pelo emprego fiel dos seus respectivos ta­lentos (12.1-11);

2. Devoção, paciência, hospitalidade, simpatia mútua, hum il­dade, paz e m ansidão (12.12-21);

3. O bediência aos m agistrados, a justiça em todas as suas facetas, o amor, o cum prim ento da lei, e a inteira santida­de (13.1-14);

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4. Tolerância m útua entre os que pensavam diferentem ente quanto à obediência à lei mosaica (14.1 - 15.17).

Ao reforçar seus argumentos, ele é conduzido a m encio­nar o m ontante dos seus labores, bem como sua intenção de v i­sitar os rom anos, rogando-lhes, então, as orações a seu favor (15.18-33). E depois de muitas saudações (16.1-16) e uma ad ver­tên cia contra aqueles que causavam divisões, ele conclui com um a apropriada bênção e doxologia (16.17-27).

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RO M AN O S 1

1. Paulo, servo de Jesus Cristo, cham ado para ser apóstolo, se­parado para o evangelho de Deus,

2. o qual foi por Deus outrora prom etido por interm édio dos seus profetas nas Sagradas Escrituras (Dt 18.18, Is 9 .6 ,7,53.1, 61.1, Jr 23.5),

3. com respeito a seu Filho, Jesus Cristo nosso Senhor, o qual era da descendência de Davi segundo a carne,

4. [Ele foi] declarado, porém, Filho de Deus com poder, segun­do o espírito de santidade, pela ressurreição dos mortos,

▼ Notas

1. Paulo, servo de Jesus Cristo — Esta introdução encontra correspondência na conclusão (Rom 15.15ss). Chamado para ser apóstolo — e feito apóstolo por aquele chamamento. Quando Deus chama, ele faz o que ele chama. Visto que os mestres judaizantes disputavam o ofício apostólico, é com grande propriedade que o apóstolo o assevera na própria abertura de uma epísto­la na qual seus princípios são inteiramente derrubados. Vários outros pen­samentos, corretos e importantes, são sugeridos nessa curta introdução, notadamente as profecias concernentes ao evangelho, à descendência de Jesus da linha de Davi, as grandes doutrinas da sua divindade e ressurrei­ção, o envio do evangelho aos gentios, os privilégios dos cristãos e a obri­gação à obediência e santidade por força da sua profissão [de fé em Cristo]. Separado — Por Deus, não apenas do grosso dos outros homens, de outros judeus, de outros discípulos, mas até de outros mestres cristãos, para ser um instrumento peculiar de Deus na expansão do evangelho.

2. O qual foi por Deus outrora prometido — Na antigüidade, freqüente e solene­mente.

3. O qual, segundo a carne, era da semente de Davi. A saber, segundo a sua natureza humana. Ambas as naturezas do nosso Salvador são mencionadas aqui; a natureza humana, porém, é mencionada primeiro, porque a natureza divina não se havia manifestado na sua plena evidência antes da sua ressurreição.

4. Mas poderosamente declarado ser o Filho de Deus segundo o Espírito de santidade. Isto é, segundo a sua natureza divina. Pela ressurreição dos mortos. Porque isto é ao mesmo tempo a fonte e o objeto da nossa fé; e a pregação dos apóstolos era a conseqüência da ressurreição de Cristo.

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5. por intermédio de quem viemos receber graça e apostolado, para a obediência à fé em todas as nações, por causa do seu nome,

6. de cujo núm ero sois também vós, chamados para serdes de Jesus Cristo.

7. A todos os am ados de Deus, que estais em Roma, cham ados e santos. Graça a vós e paz da parte de Deus nosso pai e do Senhor Jesus Cristo.

5. Por intermédio de quem viemos a receber. Eu e os outros apóstolos. Graça e apostolado— O privilégio de ser apóstolo e a capadtação para desempenhá-lo. Para a obediência a fé em todas as nações — Ou seja, para que todas as nações possam abraçar a fé de Cristo. Por causa do seu nome. Por amor dele; por causa da estima a ele.

6. De cujo número — As nações trazidas à obediênda por meio da fé. Sois vós também — mas Paulo não lhes atribui nenhuma proeminênda acima dos outros5.

7. A todos que estais em Roma—Amaioria destes era pagã de nasdmento (v. 13), embora houvesse alguns judeus misturados com eles. Encontravam-se espa­lhados aqui e ali naquela grande cidade, e ainda não tinham se organizado em forma de uma igreja. Apenas alguns haviam começado a se reunir na casa de Áquila e Priscila. Amados de Deus — E do seu livre amor, não de qualquer mérito de vocês, chamados pela sua palavra e por seu Espírito, e agora pela fé, santos como ele é santo [Lv 11.44-45, etc]. Graça— o peculiar favor de Deus. E paz—Toda espéde de bênção temporal, espiritual e eterna. Esta é tanto uma saudação cristã quanto uma bênção apostólica. Da parte de Deus nosso Pai e do Senhor ]esus Cristo. Esta é a maneira que os apóstolos costumam falar, "Deus o Pai", "Deus nosso Pai". Nem usam freqüentemente o termo "Senhor" ao falarem dele, porque tal sugere o nome próprio de Deus, Jeová. É verdade que, no Antigo Testamento, os homens santos geralmente diziam: "o Senhor nosso Deus", porque então eles eram, por assim dizer, servos; agora, porém, são filhos, e filhos conhecem seu pai tão bem que não predsam mendonar, com freqüênda, seu nome. É a mesma paz e a mesma graça, que provêm de Deus e de Jesus Cristo. A nossa confiança e a nossa oração têm seu foco em Deus, sendo ele o Pai de Cristo; e em Cristo, porque ele nos apresenta ao Pai.

5 Aqui Wesley, protestante, adverte contra a tendência do catolicismo ro­mano em atribuir a Roma uma autoridade acima daquela justificada pelo Novo Testamento.

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8. Prim eiram ente dou graças a m eu Deus m ediante Jesus Cris­to, no tocante a todos vós, porque em todo o m undo é divulgada a vossa fé.

9. Porque Deus, a quem sirvo em m eu espírito, no evangelhode seu Filho, é m inha testem unha de com o incessantem ente faço m enção de vós, .

10. sem pre suplicando em todas as m inhas orações que eu pos­sa vos visitar, se de algum m odo, finalm ente, tenha eu uma próspera viagem .

T

8. Dou graças — Bem no começo desta única epístola encontram-se os traços de todos os sentimentos espirituais, principalmente o da gratidão; com tais expressões quase todas as epístolas de Paulo se iniciam. Particularmente, ele agradece a Deus, pelo que já fora feito em Roma. Meu Deus — Esta expressão expressa fé, esperança e amor e, conseqüentemente, a totalidade da verdadeira salvação.Mediante Jesus Cristo — Todas as dádivas de Deus passaram a nós, por Jesus Cristo, e todas as nossas petições e ações de graça passam por Cristo a Deus. Porque é divulgada a vossa fé — Nesta espécie de para­béns, Paulo descreve o cristianismo como um todo, como em Cl 1.3, etc, ou de alguma parte específica dele, como ICo 1.5. Desta forma, aqui, de acordo com o seu propósito, ele menciona a fé dos romanos (v. 12,17). Em todo o mundo — Esta alegre notícia se espalhara por toda a parte e havia cristãos também na cidade imperial. A bondade e sabe­doria de Deus estabeleceram fé nas principais cidades, especialmente em Jerusalém e em Roma; destas cidades, ela poderia ser difundida a todas as nações.

9. Deus, a quem sirvo — Como apóstolo. Em meu espírito — Não apenas com meu corpo, mas com o mais íntimo da minha alma. No evangelho — Por pregá-lo.

10. Sempre — Em todas as minhas solenes conversas com Deus. Se de algum modo, finalmente — Esta aglomeração de partículas declara a força do seu desejo6.

6 A dificuldade de traduzir a frase se torna evidente pelas diferenças encon­tradas nas diversas traduções dejnoç.

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11. Porque m uito desejo ver-vos, a fim de repartir convosco al­gum dom espiritual, para que sejais confirmados,

12. isto é, para que, entre vós, reciprocamente nos confortemos, por interm édio da fé mútua, vossa e minha.

13. Porque não quero, irmãos, que ignoreis que m uitas vezes me propus ir ter convosco, no que tenho sido até agora im pedi­do, para conseguir igualm ente entre vós algum fruto, como tam bém entre os outros gentios.

T

11. Afim de vos repartir. Face a face pela imposição de mãos, pela oração, pela pregação do evangelho, por conversas em particular. Algum dom espiritual— tais dons, os coríntios, que tinham gozado da presença de Paulo, os ti­nham em abundância (ICo 1.7; 12.1; 14.1). Tinham-no também os Gálatas (G13.5); na verdade, todas as igrejas que contaram com a presença de qual­quer um dos apóstolos tinham vantagens peculiares desse gênero, da im­posição das mãos destes (Atos 19.6; 8.17, etc; 2Tm 1.6). Até então, no entan­to, os romanos lhes estavam grandemente inferiores a esse respeito; por essa razão, o apóstolo, também no capítulo 12, diz pouco ou nada acerca dos seus dons espirituais. Por isso, ele deseja transmitir alguns dons para que eles pudessem ser confirmados; pois é por eles que o testemunho de Cris­to seria confirmado entre eles. O fato de que Pedro não estivera em Roma antes que Paulo, na época da escrita da epístola, fica comprovado tanto pelo seu teor geral quanto neste lugar em particular, porque, de outra for­ma, o que Paulo quer transmitir aos romanos já teria sido transmitido por Pedro.

12. Isto é, eu almejo ser confortado pela fé mútua, vossa e minha— Ele não só asso­cia os romanos consigo, mas os prefere mais do que a si próprio. Quão dife­rente é o estilo do apóstolo do modo de ser da corte de Roma.

13. Irmãos — Um tratamento freqüente, simples, doce, porém grande. Os apósto­los só raramente chamam pessoas pelos seus nomes, como "Ó Coríntios", "Ó Ti­móteo" .Paulo geralmente usa o nome "irmãos"; às vezes, em exortação, como "Meus amados" ou "Meus amados irmãos". Tiago [usa]: "Irmãos", "Meus ir­mãos", "Meus amados irmãos"; Pedro e Judas [preferem] sempre "amados"; João [emprega] freqüentemente "amados", uma vez "irmãos" e mais de uma vez "Filhinhos meus". No que tenho sido até agora impedido— Quer pelo serviço (Rm 15.22), ou por conta da perseguição (lTs 2.2) ou pelo Espírito (Atos 16.7). Para conseguir algum fruto— dos meus labores ministeriais. Como já obtive das muitas igrejas que plantei e reguei entre os outros gentios.

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14. Pois sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios com o a ignorantes;

15. por isso, quanto está em mim, estou pronto a anunciar o evan­gelho tam bém a vós outros, em Roma.

16. Pois não m e envergonho do evangelho, porque é o poder de D eus para a salvação de todo aquele que crê, tanto do judeu com o do grego,

17. visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé para fé, com o está escrito (Hb 2.4): O justo viverá por fé.

14. A gregos como a bárbaros — Ele inclui os romanos na categoria "gregos"; portanto, esta divisão compreende todas as nações. Tanto a sábios como a ignorantes — Porque havia ignorantes mesmo entre os gregos e sábios entre os bárbaros. Sou devedor a todos — Eu tenho a obrigação, pela minha mis­são divina, de lhes pregar o evangelho.

16. Pois não me envergonho do evangelho — Para o mundo é loucura e fraqueza (1 Co 1.18); portanto, no conceito do mundo, ele devia se envergonhar dele, especialmente em Roma, cabeça e palco do mundo. Mas Paulo não se en­vergonha, sabendo que é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê— Este é o meio gloriosamente poderoso de se salvar todos que aceitam o próprio meio de Deus. Da mesma forma que Paulo comprime a substância do evangelho nesta epístola, ele compacta a essência da epístola neste versículo e nos seguintes. Tanto do judeu como do gentio — Há nestas pala­vras uma enorme franqueza e um amplo sentido; por elas, ele, de um lado, mostra aos judeus sua necessidade absoluta do evangelho, e, do outro, conta/para a nação maior e mais culta do mundo, que sua salvação depen­dia de como este evangelho era recebido, razão por que em todos os luga­res era primeiramente oferecida aos desprezados judeus7.

17. A justiça de Deus — Esta expressão significa geralmente a eterna e essencial justiça de Deus, a qual inclui tanto justiça como misericórdia e é mostrada com destaque na condenação do pecado, mas também na justificação do pecador. Por vezes, significa aquela justiça pela qual um homem, por in­termédio do dom de Deus, se toma e passa mesmo a ser justo; isto por receber a Cristo pela fé; e pela conformidade com a justiça essencial de

7 Nesta última parte sobre “primeiro a oferta” da salvação,Wesley parece ter esquecido que ele eliminou a expressão “primeiro ao [judeu]” como na KJV e também em Almeida, etc, na base dejipanov

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18. A ira de Deus se revela do céu contra toda im piedade e per­versão dos hom ens que detêm a verdade pela injustiça,

19. porquanto o que de Deus se pode conhecer é m anifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou.

▼Deus. Paulo, ao tratar da justificação, tem em mente a justiça da fé; portan­to é chamada a justiça de Deus porque Deus descobriu e preparou, revela e dá, aprova e coroa. Neste verso, a expressão significa todo o benefício de Deus por intermédio de Cristo para a salvação de um pecador. Se revela — Faz-se menção aqui e no v. 18 a uma dupla revelação — da ira e da justiça: aquela, pouco conhecida da natureza, é revelada pela lei, enquanto esta, totalmente desconhecida da natureza, o é pelo evangelho. Cada uma, diz o apóstolo, se revela no tempo presente, em oposição aos tempos da ignorân­cia. De fé para fé — Por meio de uma série de promessas, cada uma mais clara que a anterior. Como está escrito — Paulo acabava de estabelecer três proposições: (1) a justiça é pela fé (v. 17); a salvação é pela justiça (v. 16); (3) [isto vale] tanto para os judeus como para os gentios (v. 16). Agora todas essas proposições são confirmadas por aquela única frase: O justo viverá por fé — O que foi primeiro falado a respeito daqueles que preservaram suas vidas, quando os caldeus sitiaram Jerusalém, por crerem nas declara­ções de Deus e agir de acordo com elas [Hc 2.4], Aqui [em Romanos] signi­fica: Ele obterá o favor de Deus e continuará nele, por crer.

18. Porque não existe outra maneira de obter a vida e a salvação. Tendo coloca­do sua proposição, o apóstolo agora passa a prová-la. Seu primeiro argu­mento é que a Lei condena a todos por estarem debaixo do pecado. Portan­to, ninguém é justificado pelas obras da lei. Esse tratamento vai até 3.20. E deste primeiro argumento ele conclui: portanto, a justificação é pela fé. A ira de Deus se revela — Não apenas por freqüentes e notáveis interposições da providência divina, como também nos oráculos sagrados e por nós, seus mensageiros. Do céu— Esta expressão fala da majestade daquele cuja ira é revelada, do seu olho que tudo vê e da extensão da sua ira: tudo que está debaixo do céu está sob os efeitos da sua ira, menos os crentes em Cristo. Contra toda impiedade e perversão — Estas duas coisas são tratadas a partir do v. 23. Dos homens — Ele fala aqui dos gentios e, especialmente, dos mais sábios entre eles. Que detêm a verdade— Pois ela luta contra a perversidade. Pela injustiça — Palavra que neste lugar significa também impiedade.

19. Porquanto o que de Deus se pode conhecer — Aqueles grandes princípios que são indispensavelmente necessários para se conhecer. É manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Pela luz que ilumina a todo homem que vem ao mundo. [Jo 1.6]

1 8 N o t a s E x p l i c a t i v a s

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20. Porque os atributos invisíveis de Deus claram ente se vêem , assim o seu eterno poder como tam bém a sua própria divin­dade, claram ente se reconhecem, desde o princípio do m un­do, sendo percebidos por m eio das coisas que foram criadas. Tais hom ens são por isto indesculpáveis,

21. porquanto, tendo conhecim ento de Deus não o glorificaram com o Deus, nem lhe deram graças, antes se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o cora­ção insensato.

22. Inculcando-se por sábios, tom aram -se loucos,23. e m udaram a glória de Deus incorruptível em semelhança

da im agem de hom em corruptível, bem com o de aves, quadrúpedes e répteis.

24. Por isso Deus entregou tais hom ens à im undícia, pelas con- cupiscências de seus próprios corações, para desonrarem os seus corpos entre si.

20. Porque os atributos invisíveis de Deus claramente se vêem — Pelo olho da men­te. Sendo entendidos — São vistos por aqueles, e somente por aqueles, que usam do seu entendimento.

21. Porquanto, tendo conhecimento de Deus — Porque os pagãos mais sábios re­almente sabiam que havia um Deus supremo; no entanto, por motivos vis e escusos, eles se conformavam com a idolatria da ralé. Não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças — Não lhe agradeceram os benefícios e nem o glorificaram por causa das suas perfeições divinas. Antes se perderam em vãos arrazoados, vãos como os ídolos inúteis que adoravam, em meio a tais pomposas pretensões à sabedoria.

22. Perderam-se em vãos arrazoados— Vãos como os inúteis deuses que adoravam, seus arrazoados sendo vários, incertos e tolos. Que exemplo terrível temos dis­so nos escritos de Lucrédo! Que vãos arrazoados e que coração obscurecido, etc.

23. E mudaram — Com a máxima tolice. Eis aqui três níveis de impiedade e de punição: o primeiro é descrito nos vv. 21-4; o segundo, nos w. 25-7; o ter­ceiro no v. 28 e seguinte. A punição em cada um dos casos é expressa pelas palavras Deus entregou tais homens. Se alguém se recusa a adorar a Deus como Deus, esta pessoa é de tal forma abandonada que ela acaba lançando fora sua própria humanidade. Répteis — Ou coisas que rastejam, como os besouros e várias espécies de serpentes.

24. Por isso— Uma punição do pecado decorre da sua própria natureza, como no v. 27; outra punição, como neste verso [24], vem da justiça vingadora.

R o m a n o s 1 9

Page 21: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

25. pois eles m udaram a verdade de Deus em mentira, adoran­do e servindo a criatura, em lugar do Criador, o qual é ben­dito eternam ente. Amém.

26. Por causa disso os entregou Deus a paixões infames, porque até suas m ulheres m udaram o modo natural de suas rela­ções íntimas, por outro contrário à natureza;

27. sem elhantem ente, os hom ens também, deixando o contato natural da mulher, se inflamaram m utuam ente em sua sen­sualidade, com etendo torpeza, homens com homens, e rece­bendo a justa recom pensa do seu erro.

28. E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o pró­prio Deus os entregou a uma disposição m ental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes,

29. repletos de toda injustiça, malícia, avareza e maldade; pos­suídos de inveja, hom icídio, contenda, dolo e malignidade, sendo detratores,

T

Imundície — Impiedade e imundície são freqüentemente associadas (lTs 4.5), como também o são o conhecimento de Deus e a pureza. Deus entregou tais homens— Ao retirar sua graça restringidora.

25. Pois eles mudaram a verdade— A verdadeira adoração de Deus. Em mentira — Idolatrias falsas e abomináveis. Adorando no íntimo. E servindo— Visivelmen­te.

26. Por causa disso os entregou Deus a paixões infames — Às quais os romanos pagãos estavam, nesse tempo, entregues ao máximo grau, com destaque para os próprios imperadores.

27. Recebendo a justa recompensa do seu erro. Sua idolatria; eles foram punidos com aquela cobiça antinatural, que era uma desonra tão horrível ao seu corpo como o era a idolatria a Deus.

28. Deus os entregou a uma mente incapaz de discernir — [esta questão] é tratada no v. 32. Para praticarem coisas inconvenientes— Até as coisas mais infames, das quais os w. 29-31 tratam.

29. Repletos de toda injustiça — Esta se encontra em primeiro lugar, e, no últi­mo, sem misericórdia. Fornicação — Inclui aqui toda espécie de imundície. Malícia — O vocábulo grego propriamente implica uma disposição que se deleita em machucar uma outra pessoa, mesmo que isto não traga qual-

2 0 N o t a s E x p l i c a t i v a s

Page 22: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

30. caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, pre­sunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais,

31. violadores da aliança, pérfidos, sem afeição natural e sem m isericórdia.

32. Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passí­veis de m orte os que tais coisas praticam, não som ente os fazem, m as tam bém aprovam os que assim procedem.

quer vantagem pessoal. Detratores— Aqueles que difamam, secretamente, os outros.

30. Caluniadores — Aqueles que falam contra outros pelas costas. Inimigos de Deus — Isto é, rebeldes contra ele, os que negam sua providência, ou acu­sadores da sua justiça nas suas adversidades; são os que têm uma interna inimizade de coração contra sua justiça e santidade. Inventores de coisas más— De novos prazeres, novos meios de obter lucros, novas maneiras de ma­chucar os outros, particularmente na guerra.

31. Violadores da aliança8 — É bem conhecido que os romanos, como nação, desde o começo de sua história, nunca tiveram escrúpulos de abando­nar totalmente o mais solene acordo, se dele não gostassem, mesmo se feito pelo seu supremo magistrado, em nome de todo povo. Eles depu­nham o general que o promulgara e então pensavam que estavam total­mente livres dele. Sem afeição natural — O costume de expor seus pró­prios filhos recém-nascidos para morrerem de frio, de fome ou devora­dos pelas feras, prática tão comum no mundo pagão, especialmente entre os gregos e os romanos, é um estarrecedor exemplo disso; como tam­bém o é a prática de matar seus velhos e indefesos pais. Agora isto é comum entre os pagãos americanos9.

32. Não somente os fazem, mas também aprovam os que assim procedem — Este é o mais alto grau de maldade. Alguém pode ser incentivado pelas suas pai­xões para fazer alguma coisa que odeia; mas aquele que tem prazer na­queles que praticam o mal ama a maldade, só por causa da maldade. Desta forma, ele os incentiva ao pecado e amontoa o pecado dos outros sobre sua própria cabeça.

8 O original, em inglês, é covenantbreakers, palavra que aparece só aqui na KJV; o conceito se encontra em outros lugares, notadamente em Ez 16.59 e 17.18; cf. também Jr 33.20 etc.

9 Wesley se referia provavelmente ao canibalismo dos indígenas.

R o m a n o s 2 1

Page 23: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

ROM ANOS 2

1. Portanto és indesculpável quando julgas, ó hom em , quem quer que sejas; porque no que julgas a outro, a ti m esm o te condenas; pois praticas as próprias cousas que condenas.

2. Bem sabem os que o juízo de Deus é segundo a verdade, con­tra os que praticam tais cousas.

3. Tu, ó hom em , que condenas aos que praticam tais cousas e fazes as m esm as, pensas que te livrarás do juízo de Deus?

4. O u desprezas a riqueza da sua bondade, e to lerância, e longanim idade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependim ento?

5. Mas, segundo a tua dureza e coração impenitente acumulas con­tra ti mesmo ira para o dia da ira e da revelação do juízo de Deus,

▼ N otas

1. Portanto — O apóstolo agora faz uma transição, dos gentios para os ju­deus, até o v. 6, onde ele indui a ambos. É indesculpável — Pelo fato que conhecimento sem prática só aumenta a culpa. O homem — Tendo falado antes ao gentio na terceira pessoa, ele fala agora ao judeu na segunda. Mas ele o chama por um termo comum [homem], como se não o reconhecesse como judeu. Quem quer que sejas, tu que julgas — Censuras, condenas. Por­que no que julgas a outro — O pagão. A ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas — Com efeito; muitas vezes.

2. Bem sabemos — Sem teu ensino. Que o juízo de Deus— não o teu juízo que te livra da sentença divina. É segundo a verdade — É justo, não faz exceção (w.5, 6,11) e atinge tanto o coração como a vida.

3. Que [tu] te livrarás — Em vez de gentio.4. Ou desprezas — Vais mais longe ainda, passando da esperança de escapar à

ira de Deus ao abuso do seu amor? A riqueza — a abundância. Da sua bonda­de, e tolerância, e longanimidade — Diante do fato que tu já pecaste, pecas e pecarás. Todas essas qualidades são depois incluídas na única palavra bon­dade. Conduz-te — Isto é, Deus pretende que tal bondade te conduza ou te incentive ao arrependimento.

5. Acumulas ira — Embora penses estar acumulando todas as coisas boas, que tesouro pode uma pessoa ajuntar, de qualquer dessas formas, nesta curta vida?

2 2 N o t a s E x p l i c a t i v a s

Page 24: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

6. que retribuirá a cada um segundo as suas obras (Pv 24.12):7. dará a vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem,

procuram glória, honra e im ortalidade;8. m as ira e indignação aos facciosos que desobedecem à ver­

dade, e obedecem à injustiça.9. Tribulação e angústia virão sobre a alma de qualquer hom em

que faz o mal, do judeu primeiro, e tam bém do grego;10. glória, porém, e honra e paz a todo aquele que pratica o bem ;

ao judeu primeiro, e tam bém ao grego.

11. Porque para com Deus não há acepção de pessoas.

6. Para ti — Não para aquele a quem tu julgas. Para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus — Exatamente o oposto da bondade, tolerância e longanimidade de Deus: Quando Deus for revelado, então também serão "re­velados" os segredos dos corações dos homens (v. 16). Tolerância e revelação dizem respeito a Deus e são opostas entre si; longanimidade e justo juízo dizem respeito ao pecador; bondade e ira são palavras de significado mais genérico.

7. Aos que procuram glória— Pois o amor puro não exclui a fé, a esperança e o desejo (lCo 15.58).

8. Mas aos facciosos — Como tu, ó judeu, que lutas contra Deus. O caráter de um falso judeu é desobediência, teimosia, impaciência. Indignação e ira, tri­bulação e angústia—Aqui há uma alusão ao Salmo 78.49. "Ele lançou contra eles [isto é, contra] os egípcios, o furor da sua ira, cólera, indignação e cala­midade"; [o apóstolo] sugere também que os judeus seriam, no dia da vin­gança, punidos ainda mais severamente do que foram os egípcios, quando Deus fez suas pragas tão maravilhosas.

9. Do judeu primeiro — Aqui temos a primeira menção explícita dos judeus neste capítulo, introduzido com grande propriedade. Instruídos na verda­deira religião e tendo sido Cristo e seus apóstolos enviados primeiro a eles, colocam-se na primeira fileira dos criminosos que não obedecem a verda­de.

10. Glória, porém — Diametralmente oposto a "ira", que viria da divina apro­vação. Honra — O oposto de "indignação", pela divina atribuição; e paz agora e para sempre, o contrário da tribulação e angústia.

11. Porque para com Deus não há acepção de pessoas. Ele retribuirá a cada um conforme as suas obras (Mt 16.27). Mas isto está bem coerente com sua distribuição de benefícios e oportunidades de melhoramento segundo o beneplácito da sua vontade.

R o m a n o s 2 3

Page 25: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

12. Assim , pois, todos os que pecaram sem lei, tam bém sem lei perecerão, e todos os que com lei pecaram, m ediante a lei serão julgados.

13. Porque os simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados.

14. Quando, pois, os gentios que não têm lei, procedem por natu­reza de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos.

15. Estes m ostram a obra da lei, gravada nos seus corações, tes­tem unhando-lhes também a consciência, e os seus pensam en­tos m utuam ente acusando-se ou defendendo-se;

12. Assim, pois, todos os que pecaram — Ele fala como se fosse do passado, por­que todo o tempo será passado no dia do juízo final. Sem lei — Sem ter qualquer lei escrita. Também sem lei perecerão — Sem referência a qualquer lei externa, sendo condenados pela lei escrita nos seus corações. A palavra também mostra a concordância da maneira do pecar com a do sofrimento. Perecerão — Ele não podia dizer propriamente: serão julgados sem lei.

13. Porque os simples ouvidores da lei não são, mesmo hoje, justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados— Finalmente inocentados e retribu­ídos; esta é uma verdade certíssima e importante, que diz respeito também aos gentios, embora principalmente aos judeus. Paulo fala daqueles (w. 14 e 5) e destes (w. 17 e seguinte). Aqui não há parêntese, porque o v. 16 tam­bém depende do v. 15, não no v. 12.

14. Quando, pois, os gentios — Isto é, qualquer um deles. Paulo, tendo refutado o juízo perverso dos judeus concernente aos pagãos, passa a mostrar o jus­to juízo de Deus contra eles. Agora ele fala diretamente dos pagãos, visan­do convencer os próprios pagãos. No entanto, a concessão que ele faz ser­ve mais fortemente para convencer os judeus. Procedem por natureza— Isto é, sem uma regra externa; embora, isto também, estritamente falando, acon­teça pela graça preventiva. De conformidade com a lei — Os dez mandamen­tos são apenas a lei da natureza. Não tendo a lei escrita, servem de lei para si mesmos — Ou seja, o que a lei é para os judeus, eles são, pela graça e Deus, para si mesmos, a saber, uma lei de vida.

15. Eles mostram — A si mesmos, a outras pessoas e, em certo sentido, ao pró­prio Deus. A obra da lei — A substância, mas não a letra, dela. Gravada nos seus corações — Pela mesma mão que gravou os dez mandamentos sobre as tábuas de pedra. Sua consciência — Sobre ela, a alma tem menos domínio

2 4 N o t a s E x p l i c a t i v a s

Page 26: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

16. no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segre­dos dos homens, de conformidade com o meu evangelho.

17. M as se tu és cham ado de judeu, repousas na lei e te glorias em Deus;

18. que conheces a sua vontade e discirnas as coisas que diferem entre si, sendo instruído na lei;

19. que estás persuadido de que és guia dos cegos, luz dos que se encontram em trevas,

do que sobre qualquer outra das suas faculdades. Testemunhando — Num julgamento, existem o promotor, o acusado e as testemunhas. A consciên­cia e o pecado são testemunhas contra os pagãos. Seus pensamentos — Às vezes os inocentam, às vezes os acusam. Mutuamente — Alternadamente, como promotor e acusado. Acusando-se ou defendendo-se — A própria ma­neira de falar mostra que eles têm muito mais possibilidade de acusar do que de defender.

16 .N o dia — Isto é, os que mostram isto no dia. Tudo será mostrado como o que realmente o é. Naquele dia aparecerá a lei escrita no seu coração, como freqüentemente acontece na vida presente. Em que Deus julgar os segredos dos homens— A verdadeira qualidade de ações depende de circunstâncias secretas, freqüentemente desconheddas pelos próprios atores (v. 29). Os homens costumam formar seus julgamentos, de si mesmos e geralmente do que é aparente. De conformidade com o meu evangelho — Conforme o teor daquele evangelho confiado aos meus cuidados. Disto toma-se evidente que o evangelho também é lei.

17. Mas se tu és chamado de judeu — Este ponto mais elevado do gloriar-se dos judeus (depois de intercalar uma descrição mais plena disto, w. 17-20, e de refutá-lo, vv. 21-4) é refutado (w. 25 e seguinte). A descrição consiste de dois conjuntos, cada um de cinco pontos; o primeiro conjunto (w. 17­18) mostra aquilo em que eles se gloriam, em relação a si mesmos, e o outro, aquilo em que eles se gloriam, com respeito aos outros. O ponto inicial (vv. 19-20) do primeiro conjunto corresponde ao primeiro ponto do segundo conjunto, o segundo ponto ao segundo, etc. Repousar na lei — Confias nela, embora ela só possa te condenar. E te glorias em Deus — Como o teu Deus, à inclusão de todos os outros.

19. Cegos, em trevas, ignorantes, crianças — Eis os apelidos que os judeus costu­mavam dar aos gentios10.

10 “Ignorantes, crianças” se encontram no v. 20.

R o m a n o s 2 5

Page 27: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

20. instrutor de ignorantes, mestre de crianças, tendo na lei a form a da sabedoria e da verdade;

21. tu, pois, que ensinas a outrem, não te ensinas a ti m esm o; tu, que dizes que não se deve furtar, furtas;

22. tu, que dizes que não se deve cometer adultério, o cometes. Tu, que abom inas os ídolos, cometes sacrilégio.

23. Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei.

24. Pois, como está escrito, o nome de Deus é blasfem ado entre os gentios por vossa causa.

25. Porque a circuncisão tem valor se praticares a lei. Se és, po­rém , tran sgressor da lei, a tua circuncisão já se tornou incircuncisão.

20. Tendo a forma da sabedoria e da verdade— A saber, o mais exato conhecimen­to da verdade.

21-24. Tu não te ensinas a ti mesmo — Aquele que não pratica o que prega não ensina a si mesmo. Tu furtas, cometes adultério, despojas o templo — Isto é, pecas gravemente contra o próximo, contra ti mesmo, contra Deus? Paulo havia mos­trado aos gentios que estavam primeiro contra Deus, depois contra eles mes­mos e então contra o próximo. Aqui ele inverte a ordem: porque os pecados contra Deus são os mais evidentes em um pagão, mas não num judeu. Tem que abominar os ídolos — Isto faziam todos os judeus, desde o cativeiro babilónico. Tu despojas seus templos11 — Isto é, tu fazes pior que os gentios, roubando da­quele "que é Deus sobre todos" [Rm 9.5] a glória que lhe é devida. Nenhuma dessas acusações foi feita temerariamente contra os judeus daquele tempo, porque, como seu próprio historiador conta, alguns, até dos seus sacerdotes, viviam da rapina e outros viviam em grossa impureza. E, quanto ao roubo de Deus e do seu altar, isto vinha sendo redamado desde o tempo de Malaquias12. Assim, os exemplos são dados com grande propriedade e justiça.

25. A circuncisão tem valor— Ele não diz [que a circundsão] "justifica". Até que ponto tem ela valor é mostrado nos capítulos 3 e i . Atua circuncisão já se tornou incircuncisão. Com efeito, já está assim. Tu não vais te beneficiar dela como se nunca a tiveste recebido. A mesma observação vale também com respeito ao batismo.

11 Veja Bíblia de Jerusalém12 Malaquias 1.6-14; 3.6-12.

2 6 N o t a s E x p l i c a t i v a s

Page 28: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

26. Se, pois, a incircuncisão observa a justiça da lei, não será sua incircuncisão considerada como circuncisão?

27. E se aquele que é incircunciso por natureza, cum pre a lei, certam ente ele te julgará a ti qual pela letra e pela circunci­são, transgride a lei.

28. Porque não é judeu quem o é apenas exteriorm ente, nem é circuncisão a que está visível na carne.

29. Porém judeu é aquele que o é interiorm ente, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo lou­vor não procede dos hom ens, mas de Deus.

26. Se a incircuncisão — Isto é, uma pessoa não circuncidada. Observa os precei­tos da lei — Caminhar conforme ela. Não será sua incircuncisão considerada como circuncisão aos olhos de Deus?

27. E se aquele que é incircunciso por natureza — Os que são, literalmente falan­do, incircuncisos. Cumpre a lei — Quanto à sua substância. Julgar-te-á a ti — Condenar-te-á naquele dia. O qual, pela letra e a circuncisão — O qual, tendo a mera, literal e externa circundsão, transgride a lei.

28. Porque não é judeu — No sentido mais importante, a saber, um membro do povo amado de Deus. Quem o é apenas exteriormente— Na aparência. Nem é aquela a verdadeira, aceitável circuncisão, que é visível na carne.

29. Porém judeu é aquele — Isto é, pertencente ao povo de Deus. Que é interior­mente — Nos recônditos mais íntimos da sua alma. A aceitável circuncisão é a do coração — Referindo-se a Deuteronômio 30.6, o desfazer-se de toda a imundície interior tem sua sede no espírito, na alma mais íntima, renovada pelo Espírito de Deus. Não segundo a letra — Não na cerimônia interna. Cujo louvor não proceda dos homens de Deus— O único que sonda os corações [SI 139.23; Rm 9.27],

R o m a n o s 2 7

Page 29: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

ROM ANOS 3

1. Qual é, pois, a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão?

2. M uita, sob todos os aspectos. Principalm ente porque aos judeus foram confiados os oráculos de Deus.

3. E se alguns não creram ? A sua incredulidade virá desfazer a fidelidade de Deus?

4. De m aneira nenhum a! Seja Deus verdadeiro, e m entiroso todo hom em , segundo está escrito: (SI 51.4) Para seres ju s­tificado nas tuas palavras, e venhas a vencer quando fores ju lgado.

5. M as, se a nossa in justiça realça a justiça de Deus, que dire­mos? Não será Deus, ao aplicar a sua ira, injusto? (Falo como hom em .)

▼ Notas

1. Qual é, pois alguns podem perguntar, a vantagem do judeu? ou da circun­cisão? — Isto é, qual a vantagem dos judeus, circuncidados, sobre os gentios?

2. Principalmente porque aos judeus foram confiados os oráculos de Deus — Isto é, as Escrituras, nas quais há tão grandes e preciosas promessas13. Ou­tros privilégios se seguiram [Rm 9.4-5]. Aqui, porém, Paulo ensina uni­camente esta vantagem; por meio dela, após retirar a objeção, ele os con­denará ainda mais.

3. A incredulidade deles virá desfazer a fidelidade de Deus? Deus não há de cumprir suas promessas àqueles que crêem?

5. Mas, pode-se objetar, se a nossa injustiça contribuir para a glória de Deus, ele não será injusto ao nos punir por causa dela? Falo como homem — Como a fraqueza humana seria capaz de falar.

13 Cf. 2Pe 1.4; verso favorito de Wesley, que o leu na manhã de sua expe­riência religiosa, a 24 de maio de 1938.

2 8 N o t a s E x p l i c a t i v a s

Page 30: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

6. Q ue D eus o proíba! D o contrário, com o ju lg ará D eus o m undo?

7. E, se por causa da m inha m entira fica em relevo a verdade de D eus para a sua glória, por que sou eu ainda condenado com o pecador?

8. E por que não dizem os, com o alguns caluniosam ente afir­m am que o fazem os: Pratiquem os m ales para que venham bens? A condenação destes é justa.

9. Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem ? Não, de for­ma nenhum a; pois já temos dem onstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado;

6. Que Deus o proíba!u De modo algum. Se Deus for injusto em servir aquela injustiça que contribui para sua própria glória, como julgará Deus o mundol— No julgamento, toda a injustiça no mundo realçará a justiça de Deus.

7. Mas, poderá responder o questionador, se a verdade de Deus abundou — Foi mais abundantemente demonstrada. Por meio da minha mentira — Se mi­nha mentira, a saber, minha prática, contraria a verdade, conduz à glória de Deus, fazendo sua verdade resplandecer com maior vantagem. Por que sou eu ainda condenado como pecador? — Pode isto ser de alguma forma conside­rado pecado ? Não devo eu fazer o que, de outra forma seria um mal, para que venha "tanto bem"? [Cf. v. 8]15. A esta objeção, o apóstolo não se digna dar uma resposta direta, mas encurta o argumento do questionador com uma severa repreensão.

8. A condenação destas é justa — A condenação de todos que falam ou agem desta maneira. Assim o apóstolo nega totalmente a justiça de "praticar o mal", seja ele qual for, "para que venha o bem".

9. Que se conclui? — Aqui ele resume o que disse no v. 1. [do presente capítulo]. Debaixo do pecado — Sob a culpa e o poder do pecado: os ju­deus, por transgredirem a lei escrita; os gentios, por transgredirem a lei da natureza.

14 As últimas palavras citadas são do v. 5. Na sua tradução, Wesley segue a KJV: “God Forbid” = Que Deus o proíba. Esta expressão se encontra 14 vezes na KJV nas Cartas Paulinas, na KJV repetido por Wesley, mas sua nota aqui mostra que ele conhecia o verdadeiro sentido do grupo original.

15 Wesley nem sempre se restringe ao verso que ele comenta. Doravante apenas indicaremos o verso citado, entre colchetes.

R o m a n o s 2 9

Page 31: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

10. Com o está escrito: (SI 14.1ss) Não há justo, nem sequer um,

11. não há quem entenda, não há quem busque a Deus;

12. todos se extraviaram , à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.

13. (SI 140.3) A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua urdem engano, veneno de víbora está abaixo de seus lábios,

14. (SI 10.7) a boca eles a têm cheia de m aldição e de amargura;15. (Is 59.7-8) são os seus pés velozes para derram ar sangue,16. nos seus cam inhos há destruição e m iséria;17. desconheceram o cam inho da paz.18. (SI 36.1) N ão há tem or de Deus diante de seus olhos.

10. Como está escrito — Que todas as pessoas estão debaixo do pecado se torna evidente dos vícios que têm abundado em todos os tempos. Por­tanto, Paulo corretamente cita Davi e Isaías, embora tenham falado prin­cipalmente da sua própria era, falando de que tipo de homem Deus vê quando "do céu olha o Senhor" [SI 14.2]; não o que ele faz deles pela sua graça. Não há justo — Esta é a proposição geral. Os particulares seguem: suas disposições e intenções (vv. 11-12); seu discurso (w. 13­14); suas ações (vv. 16-18).

11. Não há quem entenda — As coisas de Deus.

12. Todos se extraviaram — Do bom cáminho. A uma se fizeram inúteis — Sem amparo, impotentes, inçápazes de fazer bem a si próprios ou aos outros.

13. A garganta — É tão nocivo e perigoso como um sepulcro aberto. Obser­vam o progresso do mau falar, procedendo do coração, pela garganta, língua, lábios, até encher toda a boca dele. O veneno de viioras, infeccio­so, caluniador mortífero, difamador, bisbilhotador, falando mal dos ou­tros, está debaixo (porque o mal está neles) dos seus lábios. A víbora é uma cobra venenosa.

14. Maldição — Contra Deus. Amargura — Contra o próximo.

17. Da paz — Que só pode nascer da justiça.

18. Não há temor de Deus diante de seus olhos — E muito menos está o amor de Deus no seu coração.

3 0 N o t a s E x p l i c a t i v a s

Page 32: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

19. Ora, sabem os que tudo o que a lei diz aos que vivem na lei o diz, para que se cale toda a boca, e todo o m undo seja culpá­vel perante Deus,

20. portanto nenhum a carne será justificada diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecim ento do pecado.

21. M as agora, sem lei, se m anifestou a justiça de Deus testem u­nhada pela lei e pelos profetas;

22. justiça de Deus m ediante a fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os que crêem; porque não há distinção,

T

19. Tudo que a lei — o Antigo Testamento — diz aos que vivem debaixo da lei o diz— A saber, aos que reconhecem a sua autoridade; aos judeus e não aos gentios. Paulo não citou nenhuma Escritura contra eles, mas argumentou com eles unicamente à luz da natureza. Toda boca — cheia de amargura (v.14) e, no entanto, de jactância (v. 27) — seja culpável — seja plenamente condenada e evidentemente passível da mais justa condenação. Estas coi­sas foram escritas há muito tempo e foram citadas por Paulo, não para tornar pessoas criminosas, mas para provar que o são.

20. Nenhuma carne será justificada — Ninguém será perdoado e aceito por Deus. Por obras da lei — Fundamentado no fato de ter guardado a lei. Paulo quer dizer principalmente a parte moral da lei (vv. 9,19; 2.21-22, 26). Esta é a única parte que não é abolida (v. 31). E não é sem razão que ele tão freqüentemente menciona as obras da lei, quer cerimoniais, quer morais: porque foi só com elas que os judeus contavam, estando total­mente ignorantes das obras que surgem da fé. Em razão de que pela lei vem apenas o pleno conhecimento do pecado, mas nenhuma libertação, seja da culpa, seja do poder deste pecado.

21. Mas, agora a justiça de Deus — Isto é, a maneira de se tomar justo que Deus estabeleceu. Sem lei — Sem aquela obediência prévia que a lei requer, sem referência à lei ou dependência dela. Se manifestou — No evangelho. Teste­munhada pela própria lei e pelos profetas — Por todas as promessas do Anti­go Testamento.

22. Para todos — Os judeus. E sobre todos— Os gentios. Os que crêem; porque não há distinção — Quer quanto à necessidade da justificação, quer quanto à maneira de obtê-la.

R o m a n o s 3 1

Page 33: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

23. pois todos pecaram e não alcançaram a glória de Deus,

24. sendo justificados gratuitamente, por sua graça, m ediante a redenção que há em Cristo Jesus;

25. a quem Deus propôs como propiciação, pela fé no seu san­gue, para se m anifestar a sua justiça, pelo fato de no tem po da sua paciência, ter Deus remido os pecados anteriormente com etidos.

26. tendo em vista a manifestação da sua justiça no tem po pre­sente, para ele mesmo ser justo e, ao m esm o tem po, ser o justificador daquele que tem fé em Jesus.

23. Pois todos pecaram — Em Adão, e na sua própria pessoa; por uma natureza pecaminosa, personalidade, sentimentos e ações pecaminosos. E não alcan­çaram a glória de Deus — O supremo fim do ser humano, carente da sua imagem na terra e do seu gozo no céu.

24. Sendo justificados — Perdoados e aceitos. Gratuitamente — Sem qualquer mérito próprio. Por sua graça — Não sua própria justiça em obras. Medi­ante a redenção — O preço que Cristo pagou. Gratuitamente por sua graça — Um desses termos [gratuitamente/graça] poderia ter servido para trans­mitir o sentido do apóstolo, mas ele repete a declaração, a fim de nos dar a mais plena convicção da verdade e a nos impressionar com a dimensão da sua peculiar importância. Não é possível achar palavras que excluam de modo absoluto todo o mérito jáélnossas próprias obras e obediência ou que mais enfaticamente atrib,úam a nossa justificação à bondade gra­tuita e imerecida.

25. A quem Deus propôs — Perante anjos e homens. Como propiciação — Para aplacar um Deus ofendido. Mas se, como alguns ensinam, Deus nunca fosse ofendido, não haveria necessidade desta propiciação. E, nesse caso, Cristo morreu inutilmente. Para manifestar a sua justiça — Para demons­trar não só a sua clemência, como também a sua justiça e mesmo sua justiça vingativa, cujo caráter essencial e ofício principal é punir o peca­do. Pela remissão de pecados anteriormente cometidos. Todos os pecados que antecedem à sua crença.

26. Tendo em vista a manifestação da sua justiça — Tanto da sua justiça e da sua misericórdia. Para ele mesmo ser justo — Mostrando sua justiça sobre seu próprio filho. E ainda o misericordioso justificador de todo aquele que tem fé

3 2 N o t a s E x p l i c a t i v a s

Page 34: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

27. Onde, pois, a jactância? Foi de todo excluída. Por que lei? D as obras? Não, pelo contrário, pela lei da fé.

28. Concluím os, pois, que o hom em é justificado pela fé, inde­pendentem ente das obras da lei.

29. É, porventura, o Deus som ente dos judeus? N ão o é tam bém dos gentios? Sim, tam bém dos gentios,

30. visto que Deus é um só, o qual justificará, por fé, o circunciso e, m ediante a m esm a fé, o incircunciso,

31. anulam os, pois, a lei, pela fé? Não, de m aneira nenhuma, antes confirm am os a lei.

em Jesus. Para ele mesmo ser justo — Para que ele tomasse evidente sua estri­ta e inviolável justiça na administração de seu governo, mesmo quando ele é o misericordioso justificador de pecados que tem fé em Jesus. O atributo de justiça deve ser preservado inviolado; e ele o será se houver uma real im­posição de punição sobre nosso Senhor. Nesse plano, todos os atributos se harmonizam; todo atributo é glorificado e nenhum deles é invalidado e nem sequer diminuído.

27. Onde pois a jactância de judeu ou de gentio? Foi de todo excluída. Por que lei? Das obras? Não. — Isto teria deixado espaço para jactância. Pelo contrário, pela lei da fé, uma vez que esta lei exige de todos, sem distinção, que pleitei­em como pecadores culpados e impotentes a livre misericórdia de Deus em Cristo. A lei da fé é aquela constituição divina que faz a fé, e não as obras, a condição da aceitação.

28. Concluímos, pois, que o homem é justificado pela f é — E mesmo a fé, não como uma obra, mas enquanto algo recebido de Cristo; conseqüentemente, ela tem algo essencialmente diferente de todas nossas obras, quaisquer que sejam.

29. Certamente, também dos gentios — Como mostram tanto a natureza como as Escrituras.

30. Visto que Deus é um só, o qual — Exibe a misericórdia a ambos [o circunciso e o incircunciso] e pelo mesmíssimo meio.

31. Confirmamos a lei — Sua autoridade, pureza e seu fim, que é mostrar como ela pode ser cumprida na sua pureza.

R o m a n o s 3 3

Page 35: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

ROM ANOS 4

1. Que direm os, pois? Diremos que nosso pai Abraão achou [algo] segundo a carne?

2. Porque se Abraão foi justificado por obras, tem de que se gloriar, porém não diante de Deus.

3. Pois, que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi im putado para justiça. (Gn 15.6)

4. Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado com o gra­ça, e, sim, com o dívida.

▼ Notas

Tendo provado por argumento (1) que a justificação é pela fé, e (2) que ela está livre para os gentios, ele passa a prová-la pelo exemplo, e tal exemplo devia ter mais peso com os judeus do que com qualquer outra raça.

1. Que nosso pai Abraão achou16. A aceitação por Deus. Segundo a carne — Isto é: pelas obras.

2. O sentido é, se Abraão tivesse sido justificado pelas obras, ele teria tido espaço para se gloriar. Mas ele não teve nenhum espaço para se gloriar. Portanto, ele não foi justificado pelas obras17.

3. Abraão creu em Deus — Naquela promessa de Deus concernente à numerosidade da sua semente (Gn 15.5,7), mas especialmente na promes­sa concernente a Cristo (Gn 12.3); por meio de quem todas as nações seri­am abençoadas. £ isso lhe foi imputado para justiça— Deus o aceitou como se ele tivesse sido inteiramente justo.

4. Ora, ao que trabalha — Tudo que a lei exige, o galardão não é favor, mas uma verdadeira dívida. Estes dois exemplos são escolhidos e aplicados com a máxima justiça e propriedade. Abraão foi o mais ilustre modelo de pie­dade entre os patriarcas judeus. Davi foi o mais eminente dos seus reis. Se nenhum destes foi justificado pela sua própria obediência, se os dois alcan­çaram aceitação por Deus, não como seres justos que poderiam reclamá-la, mas como criaturas pecaminosas, qu£ tinham que implorar por ela, a con­seqüência é mais que evidente. É uma conseqüência tal que deve impres­sionar cada mente aberta e falar à sensibilidade de cada pessoa individual.

16 algo17 Aqui Wesley detecta um silogismo, uma das formas mais simples da lógica.

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Page 36: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

5. M as ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica ao ím pio, a sua fé lhe é im putada como justiça. (SI 32.1-2)

6. A ssim tam bém D avi declara ser feliz o hom em a quem Deus im puta justiça, independente de obras:

7. Felizes são aqueles cujas iniqüidades são perdoadas e cujos pecados são cobertos;

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5. Mas ao que não trabalha — O que lhe seria impossível sem fé. Porém crê, sua fé lhe é atribuída como justiça. Portanto, a afirmação de Deus sobre Abraão, que a fé lhe fora imputada para justiça, daramente mostra que ele não tra­balhou; ou, em outras palavras, que ele não foi justificado pelas obras, mas somente pela fé. Disto vemos com clareza quão infundada é a opinião de que santidade ou santificação precede à nossa justificação18. Porque o pe­cador, sendo primeiro convencido do seu pecado e conseqüente perigo pelo Espírito de Deus, se encontra tremendo perante o terrível tribunal da justi­ça divina e não tem nada a reivindicar, senão sua própria culpa e os méri­tos de um mediador. Cristo aqui se interpõe; a justiça se satisfaz: o pecado é remido, e o perdão se aplica à alma, por intermédio de uma fé divina operada pelo Espírito Santo, o qual então começa a grande obra da santificação interior. Assim Deus justifica o ímpio. Ele, porém, permanece justo e fiel a todos os seus atributos! Mas que ninguém presuma, por causa disto, que possa "permanecer no pecado", [6.1] porque, para o impeniten­te, "Deus é fogo consumidor" [Hb 12.29, etc]. Naquele que justifica ao ímpio— Se fosse possível ao homem fazer-se santo antes de ser justificado, isto poria inteiramente de lado a sua justificação, visto que ele não poderia, pela própria natureza da coisa, ser justificado, se não fosse, na mesma hora, ímpio, [pois Deus justifica o ímpio].

6. Assim também Davi— Davi é, propriamente, apresentado após Abraão, por­que ele também recebeu a promessa e a transmitiu. Declara — O homem é justificado só pela fé e não pelas obras. Independentemente de obras— Isto é, sem levar em conta quaisquer boas obras supostamente praticadas por ele.

7. Felizes são aqueles cujos pecados são cobertos pelo véu da divina misericórdia. Se de fato existir a felicidade na terra, ela é a porção daquela pessoa cujas iniqüidades são perdoadas e que goza a manifestação daquele perdão. Bem pode ele suportar alegremente todas as aflições da vida e encarar a morte com conforto. Ou que não lutemos contra ela, mas honestamente orar para que tal felicidade venha a ser nossa!

18 Assim Wesiey encapsula grande parte da sua compreensão da justifica­ção pela fé.

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Page 37: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

8. Feliz o hom em a quem o Senhor jam ais im putará pecado.9. Vem, pois, esta felicidade exclusivamente sobre a circunci­

são, ou tam bém sobre a incircuncisão? Visto que dizemos: A fé foi im putada a Abraão para justiça.

10. Como, pois, lhe foi imputada? estando ele já circuncidado ou ainda incircunciso? Não no regime da circuncisão, e, sim, quando incircunciso.

11. E recebeu o sinal da circuncisão, como selo da justiça da fé que teve ainda incircunciso; para vir a ser o pai de todos os que crêem na incircuncisão, a fim de que tam bém a eles fosse im putada a justiça.

12. e pai da circuncisão, isto é, daqueles que não são apenas cir- cuncisos, m as tam bém andam nas pisadas da fé que teve nosso pai Abraão antes de ser circuncidado.

13. Porque a prom essa de ser herdeiro do mundo, não foi para Abraão, ou sua descendência, por interm édio da lei, e, sim, m ediante a justiça da fé.

9. Esta felicidade - Mendonada por Abraão e Davi. Sobre a circuncisão— Somen­te os drcundsos. A fé foi imputada a Abraão para justiça — Isto é plenamente coerente com o nosso ser justificado, isto é, perdoado e aceito por Deus ao crermos, por causa daquilo que Cristo fez e sofreu. Porque, embora isto, e tão-somente isto, seja a causa meritória da nossa aceitação por Deus, mesmo assim, pode-se dizer que a fé "nos é imputada para justiça", pois ela é a única condição da nossa aceitação. Devemos observar aqui que o perdão, o não imputar do pecado e o imputar da justiça significam a mesma coisa.

10. Não no regime da circuncisão — Não depois de se circuncidar, porque ele foi justificado antes de nascer Ismael (Gn 15), mas só foi circuncidado quando Ismael tinha 13 anos (Gn 17.25).

11. £ — Depois de ser justificado. Ele recebeu o sinal da circuncisão — Circunci­são, que foi um sinal ou marca de que partidpava de um pacto com Deus. Como selo — Uma prova, da parte de Deus, de que ele o tinha como justo, por ter crido, antes de ser circunddado. Os que crêem, na incircuncisão. Isto é, embora não circunddados.

12. E pai da circuncisão — Dos que são drcundsos e crêem, como o fez Abraão. Aos que não crêem, Abraão não é pai, nem são eles semente dele.

13. A promessa de ser herdeiro do mundo — É a mesma coisa que ser "o pai de todas as nações", [Rm. 4.17,18] a saber, pai daqueles em todas as nações

3 6 N o t a s E x p l i c a t i v a s

Page 38: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

14. Porque, se os herdeiros fossem os da lei, a fé ficaria nula e a prom essa sem efeito.

15. porque a lei suscita a ira; mas onde não há lei, tam bém não há transgressão.

16. Essa é a razão por que provém da fé, para que seja segundo a graça, a fim de que seja firme a promessa, para toda a des­cendência, não som ente ao que está no regime da lei, mas tam bém ao que é da fé que teve Abraão, o qual é o pai de todos nós,

17. com o está escrito; Por pai de m uitas nações te constituí, pe­rante Deus em quem creu, o qual vivifica os m ortos e cham a à existência as coisas que existem. (Gn 17.5)

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que recebem a bênção. O mundo todo é prometido a ele e a eles, conjunta­mente. Cristo é o herdeiro do mundo e de todas as coisas; e também o são toda a semente de Abraão, todos que crêem nele com a fé de Abraão.

14. Porque se os herdeiros fossem apenas os da lei—Aqueles que guardaram toda a lei. A fé fica nula, obtendo-se dela nenhuma bênção e assim a promessa [fica] sem efeito.

15. Porque a lei — Considerada à parte daquela graça, a qual, embora na reali­dade estivesse misturada com a lei, não faz parte da dispensação legal, [a lei] é tão difícil, e nós tão fracos e pecaminosos, que, em vez de nos trazer bênção, ela só suscita a ira; toma-se para nós uma ocasião de ira e nos expõe à punição como transgressores. Mas onde não há lei em vigor, não pode ha­ver transgressão dela.

16. Essa é a razão por que a bênção provém da fé, para que seja segundo a graça — Que ficou evidente que flui do livre amor de Deus e a fim de que seja firme a promessa. Certa e eficaz, para toda a descendência espiritual de Abraão'9; não só aos judeus, mas também aos gentios, se seguem a sua fé.

17. Perante Deus — Embora diante dos homens nada disso era evidente, estan­do tais nações ainda por nascer. O qual vivifica os mortos — Os mortos não são mortos diante dele; e mesmo as coisas que não existem estão perante Deus. E chama a existência as coisas que não existem — Convocando-os a se levantarem à existência e a comparecerem perante ele. A semente de Abraão

19 “De Abraão” não consta do texto, nem da KJV e nem da versão do próprio Wesley — mas é evidente que a descendência é de Abraão.

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Page 39: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

18. Ele, contra toda a esperança, creu na esperança, a fim de vir a ser pai de m uitas nações, segundo lhe fora dito: assim será a tua descendência. (Gn 15.5)

19. E não estando fraco na fé, ele não levou em conta o seu pró­prio corpo am ortecido, tendo ele já cem anos, nem o ventre sem vida de Sara,

20. não duvidou da prom essa de Deus, por incredulidade; mas, pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus,

21. estando plenam ente convicto de que ele era poderoso para cum prir o que prometera.

22. Pelo que isso lhe foi imputado para justiça.

23. Ora, não foi escrito som ente por causa dele [a frase] "isso lhe foi im putado",

24. m as tam bém por nossa causa, posto que a nós igualm ente nos será im putado, a saber, a nós se crermos naquele que ressuscitou dentre os m ortos a Jesus nosso Senhor,

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ainda inexistia; no entanto, Deus disse: "assim será a tua descendência" [v. 18]. O ser humano pode dizer ao seu servo realmente existente. "Faça isto" e ele o faz: mas Deus diz à luz, enquanto não existe: "Vem para fora" [apa­reça] e ela vem [2Co 4.6].

18-21. O apóstolo mostra o poder e a excelência daquela fé à qual ele atribui a justificação. O qual contra a esperança — Contra toda a probabilidade, creu e esperou na promessa. A mesma coisa é apreendida tanto pela fé como pela esperança. Pela fé, como algo que Deus falou; pela esperança, como uma boa coisa que Deus nos prometeu. Assim será a tua descendência — Tanto natural quanto espiritual, uma multidão como as estrelas dos céus. [At 1.10, etc.]

20. Dando a Deus a glória da sua verdade e poder.23. Não somente por causa dele — Para prestar homenagem pessoal a ele.24. Mas também por nossa causa — Para nos orientar na busca da justificação

pela fé, e não pelas obras; e também para proporcionar uma resposta ca­bal aos que dizem: "Ser justificado pelas obras implica apenas aceitar o judaísmo, ou ser justificado pela fé significa abraçar o cristianismo, isto é, seu o sistema de doutrinas. E certo que Abraão não poderia, nessa acepção do termo, ser justificado nem pela fé e nem pelas obras; e é igualmente

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Page 40: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

25. o qual foi entregue por causa das nossas transgressões, e ressuscitou para nossa justificação.

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certo que Davi (interpretando as palavras desta maneira) foi justificado pelas obras e não pela fé. [Naquele] que ressuscitou dos mortos a Jesus — Como o fizeram, de certo sentido, tanto Abraão como Sara. Se cremos na­quele que ressuscitou a Jesus — Deus pai, então, é o verdadeiro objeto da fé justificadora. Deve ser observado que Paulo aqui toma a parte pelo todo. E ele menciona aquela parte, com respeito a Abraão, que naturalmente afetaria mais os judeus.

25. O qual foi entregue à morte. Por causa das nossas transgressões — Como propiciação por eles. E ressuscitou para nossa justificação — Para nos capaci­tar a receber a propidação pela fé.

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Page 41: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

ROM ANOS 5

1. Justificados, pois, m ediante a fé, tem os paz com Deus, por m eio de nosso Senhor Jesus Cristo;

2. por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e nos regozijamos na esperança da glória de Deus.

3. E não som ente isto, mas também nos gloriam os nas próprias tribulações sabendo que a tribulação produz a paciência;

4. e a paciência, experiência; e a experiência, esperança,5. E a esperança não decepciona, porque o am or de Deus é der­

ram ado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado.

▼ Notas

1. Justificados, pois, mediante a fé — Esta é a súmula dos capítulos anteriores. Temos paz com Deus— Não mais sendo inimigos de Deus [v. 10] e nem mais temendo a sua ira [v. 9], Temos paz, esperança, amor e poder sobre o peca­do, o que constitui a substância dos capítulos 5,6, 7 e 8. Eis os frutos da fé justificadora; onde eles não se encontram, essa fé não existe.

2. [Acesso] a esta graça — Este estado de favor.

3. Também nos gloriamos nas próprias tribulações — As quais, longe de as enca­rar como sinal da desaprovação de Deus, nós as recebemos como evidênci­as do seu amor paterno, pelas quais somos preparados para uma felicida­de mais elevada. Os judeus arrazoavam que o fato da perseguição dos cris­tãos era incoerente com [a situação] do povo do Messias. É, portanto, alta­mente apropriado que o apóstolo mencione mui freqüentemente as bên­çãos que surgem da perseguição.

4. E paciência opera mais experiência da autenticidade da nossa graça, e do poder e da fidelidade de Deus.

5. Ora, a esperança não confunde — Pelo contrário, ela nos proporciona o mais sublime motivo de nos glorificar. Pois nos gloriamos nesta esperança, por­que o amor de Deus é derramado em nossos corações — A divina convicção do amor de Deus para conosco, bem como aquele amor a Deus que é tanto o penhor como o começo do céu. Pelo Espírito Santo — A causa eficiente de todas essas bênçãos do presente e o penhor das do futuro.

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Page 42: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

6. Porque Cristo, quando nós ainda éram os fracos, m orreu na hora certa pelos ímpios.

7. Dificilm ente alguém morreria por um justo; ora, por um ho­m em bom talvez alguém ouse morrer.

8. Mas Deus recomenda20 o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.

9. Logo, m uito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, serem os por ele salvos da ira.

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6. Como podemos duvidar do amor de Deus? Porque quando nós ainda éramos fracos — [Fracos demais] para pensar, querer ou praticar o bem. Na hora certa — Nem cedo, nem tarde; mas exatamente no ponto do tempo que a sabedoria de Deus sabia ser mais adequado do que qualquer outro. Cristo morreu pelos ímpios — Não apenas para estabelecer para eles um modelo e nem somente para lhes proporcionar a capacidade de imitá-lo. Não é evi­dente que a expressão "morrer por alguém" tenha outra significação do que a de salvar a vida de uma outra pessoa por dar a nossa própria.

7. Um justo— Alguém que dá a todos a sua porção devida. O bom— Alguém eminentemente santo; cheio de amor, de compaixão, bondade, mansidão e de toda a disposição celestial e amável. Talvez — alguém — ouse — morrer. Cada palavra aumenta a singularidade do fato e declara ser mesmo isto [o entregar-se por um ser humano em] algo grande e incomum.

8. Mas Deus recomenda— Uma expressão elegantíssima: costuma-se recomen­dar alguém a nós, antes desconheddos por nós ou afastado de nós. Sendo nós ainda pecadores — Estávamos tão longe de sermos bons que nem justos éra­mos.

9. Pelo seu sangue — Pelo seu derramamento de sangue. Sermos por ele salvos da ira, a saber, de todos os efeitos da ira de Deus. Haverá então ira em Deus? Não é a ira uma emoção humana? E como pode este sentimento humano estar em Deus? Podemos responder a isto por uma outra pergunta: Não é o amor um sentimento humano? E como pode este sentimento huma­no estar em Deus? Mas, para responder diretamente: a ira no homem e, as­sim, o amor no homem, é uma paixão humana. Mas a ira em Deus não é uma paixão humana; e nem o amor, como este está em Deus. Portanto os escrito­res inspirados atribuem os dois a Deus apenas em um sentido analógico.

íí20 Wesley, talvez influenciado pelo KJV, usa “recomenda” aqui. Comumente

nas versões se encontra “prova”, “mostra”, “demonstra”, etc.

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Page 43: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

10. Porque se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus m ediante a m orte de seu Filho, m uito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida;

11. e não isto apenas, mas também nos gloriam os em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por interm édio de quem acaba­m os agora de receber a reconciliação.

12. Portanto, assim como por um hom em entrou o pecado no m undo, e pelo pecado a morte, assim tam bém a m orte pas­sou a todos os homens, porque todos pecaram.

10. Se — Tão certo como; é isto que a palavra geralmente significa, espe­cialmente aqui e no capítulo oito. Seremos salvos — Santificados e glori­ficados. Pela sua vida — Aquele que vive para sempre para interceder por nós [Hb 7.25],

11. E não isto apenas, mas também nos gloriamos — O trecho todo, do v. 3 ao13, pode ser entendido assim: Nós não apenas "nos regozijamos na es­perança da glória de Deus", [v. 2] mas também em meio a tribulações nos gloriamos no próprio Deus por nosso Senhor, Jesus Cristo, por intermédio de quem acabamos agora de receber a reconciliação.

12. Portanto — Isto se refere a todo o discurso anterior, do qual o apóstolo deduz o que segue. Portanto, ele não faz, propriamente, uma digressão, mas volta a falar sobre o pecado e a justiça. Assim como por um homem. Adão, que é mencionado como sendo o representante da humanidade, e não Eva. Entrou o pecado no mundo — O pecado propriamente dito e sua conseqüência, uma natureza pecaminosa. E morto — Com tudo que a acompanha. Ela entrou no mundo quando veio à existência; porque ele não existira antes. Pelo pecado — Conclui-se que ela não poderia ter exis­tido antes. Assim também —A saber, por um homem. Porque assim a pa­lavra é usada também em 2 Coríntios 5.421. Todos pecaram — Em Adão. Estas palavras indicam a razão por que a morte veio sobre todos os ho­mens; os próprios infantes não estão excetuados, porque todos pecaram.

21 A expressão em inglês é in that. Esta expressão não aparece nem na KJV nem nas Notas, em 2Coríntios 5.4. Wesley está se referindo, sem dúvida, ao grego, onde encontramos èip’ <p nos dois versos. Wesley raramente apela para o grego nas Notas.

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Page 44: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

13. Porque até ao regim e da lei havia pecado n o m undo, m as o pecado não é im putado quando não há lei.

14. E ntretanto reinou a m orte desde A dão até M oisés, m es­m o sobre aqueles que não pecaram à sem elhança da trans­gressão de A dão, o qual é a figura daquele que havia de vir.

13. Porque até ao regime de lei havia pecado no mundo — Todos, digo eu, haviam pecado, porque o pecado estava no mundo muito tempo antes de existir a lei escrita; mas, admito, o pecado não é tanto levado em conta, nem punido tão severamente quando não há lei escrita, para convencer os homens dele. No entanto, que todos haviam pecado, mesmo nessa era, fica evidente no fato de que todos morrem.

14. Reinou a morte — E como é vasto o seu reino. Dificilmente podemos olhar um rei com tantos súditos quantos são os reis a quem ela ven­ceu. Mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão. Mesmo sobre infantes que nunca pecaram, como o fez Adão, na sua própria pessoa; e sobre outros os quais não haviam, como ele, pecado contra qualquer lei expressa. O qual prefigura aquele que havia de vir. Cada um é uma pessoa pública e cabeça federativa da humani­dade. O primeiro foi a fonte do pecado e da morte à humanidade pela sua ofensa; o segundo [foi a fonte] da justiça e da vida pelo seu dom gratuito. Até aqui o apóstolo mostra a semelhança entre o pri­meiro e o segundo Adão; depois, mostra as diferenças entre eles. A semelhança pode ser assim resumida: assim como por um só homem o pecado entrou no mundo e pelo pecado a morte, assim por um ho­mem a justiça entrou no mundo, e pela justiça, a vida. Como a morte passou sobre toda a humanidade porque todos pecaram, assim a vida passou sobre todos (os quais estão no segundo Adão pela fé) porque todos estão justificados. E como a morte reinou pelo pecado do pri­meiro Adão mesmo sobre aqueles que não pecaram a semelhança da trans­gressão de Adão, assim, pela justiça de Cristo, mesmo os que não obe­deceram, à semelhança da obediência dele, reinarão na vida. Deve­mos acrescentar: como o pecado de Adão, sem os pecados que come­temos depois, trouxe a morte, assim a justiça de Cristo, sem as boas obras que depois praticamos, nos traz a vida, embora toda a boa obra, como toda a má obra, merecerá sua devida recompensa.

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Page 45: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

15. Todavia, não é assim o dom gratuito como a ofensa; porque se pela ofensa de um só, morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, foi abundante sobre muitos.

16. E não com o a perda por um [só] que pecou, assim é o dom: porque o julgam ento foi por causa de uma ofensa, para a condenação, m as a graça transcorre de m uitas ofensas, para a justificação.

17. Se pela ofensa de um, e por m eio de um só, reinou a m orte, m uito m ais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça, reinarão em vida por m eio de um só, a saber, Jesus Cristo.

18. Pois assim com o por uma só ofensa veio a sentença de m orte sobre todos os hom ens para a condenação, assim tam bém por um só ato de justiça veio o dom gratuito sobre todos os hom ens para a justificação que dá vida.

15. Todavia, não — Paulo agora passa a descrever a diferença entre Adão e Cristo, de um modo mais direto e expresso do que descreve a semelhança entre eles. Ora, a queda e o dom gratuito diferem: (1) Na amplitude (v.15). (2) Aquele do qual proveio o pecado e do qual o dom gratuito veio (chamado também "do dom da justiça" [5.17] difere em poder (v. 16). (3) A razão dos dois é conexa (v. 17). (4) Estabelecida essa premissa, a ofensa e o dom gratuito são comparados, no que tange ao seu efeito (v. 18) e quanto à sua causa (v. 19).

16. 0 julgamento foi por causa de uma só ofensa para a condenação de Adão, provo­cando a sentença de morte a ser cumprida sobre ele, a qual, conseqüente­mente, apoderou-se de sua posteridade. Mas a graça transcorre de muitas ofen­sas, para a justificação— A saber, para a consecução dela para toda a humani­dade, apesar das muitas ofensas.

17. Existe uma diferença entre graça e o dom. A graça é o oposto da ofensa; o dom é o oposto da morte, sendo o dom da vida.

18. A justificação que dá vida — É aquela sentença de Deus pela qual o pecador, condenado à morte, é julgado [digno] de vida.

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Page 46: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

19. Porque, como pela desobediência de um só hom em muitos se constituíram em pecadores, assim também por meio da obe­diência de um só muitos constituir-se-ão em justos.

20. Interveio a lei para que avultasse a ofensa; m as onde abun­dou o pecado, superabundou a graça;

21. A fim de que, como o pecado reinou pela morte, assim tam ­bém reinasse a graça pela justiça para a vida eterna, m edian­te Jesus Cristo nosso Senhor.

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19. Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos (isto é, todos) se tor­naram pecadores — Estando então nos rins22 do seu primeiro pai, o cabeça comum e representante de todos eles, assim também por meio da obediência de um só, pela sua obediência até à morte, pelo seu morrer por nós, muitos (todos os que crêem) se tornarão justos — Justificados, perdoados.

20. Interveio a lei — Isto é, pôs-se entre a ofensa e o dom gratuito. Para que se avultasse a ofensa — A saber, a conseqüência (embora não a intenção) da vinda da lei foi, não a remoção do pecado, senão o seu aumento. Mas onde abundou o pecado superabundou a graça — Não só na remissão do pecado que Adão trouxe sobre nós, mas também de todo o nosso próprio pecado; não só na remissão dos pecados, mas também a infusão da santidade; não só na libertação da morte, como também na admissão à vida eterna, uma vida muito mais nobre e excelente do que aquela que perdemos pela queda de Adão.

21. Como o pecado reinou — Assim também reinou a graça, a qual não podia reinar antes da queda, antes que os homens tivessem pecado. Pela justiça para a vida eterna mediante Jesus Cristo, nosso Senhor— Aqui a fonte de todas as nossas bênçãos é indicada: a rica e livre graça de Deus. A causa meritória e não quaisquer obras de justiça do ser humano mas somente os méritos de nosso Senhor Jesus Cristo, o efeito ou fim de tudo isso; não apenas perdão, mas vida; vida divina, que conduz à glória.

22“Loins” em inglês, ou seja, órgãos reprodutores: cf. Hb. 7.10, Bíblia de Jerusalém

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Page 47: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

ROM ANOS 6

1. Que diremos, pois? Perm aneceremos no pecado, para que seja a graça m ais abundante?

2. D e m odo nenhum 23. Como viveremos ainda no pecado, nós os que estam os m ortos para o pecado?

3. Ou, porventura, ignorais que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, fom os batizados na sua m orte?

4. Fom os, pois, sepultados com ele na m orte pelo batism o; para que, com o Cristo foi ressuscitado dentre os m ortos pela glória do Pai, assim tam bém andem os nós em novi­dade de vida.

▼ Notas

1. O apóstolo aqui se firma, para mais amplamente das conseqüências sugeridas adma, [Rm 3.7-8] derivar mais amplamente sua doutrina [da justificação pela fé]. Naquele lugar ele apenas o havia negado e renuncia­do, mas agora ele remove o próprio fundamento dessas sugestões.

2. Mortos para o pecado. Livres tanto da sua culpa como de seu poder.

3. Todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados na sua morte— No batismo somos, pela fé, imputados em Cristo e recebemos nova vida espiritual desta nova raiz, pelo seu Espírito, o qual nos dá forma semelhante à dele e particularmente no que concerne à sua morte e ressurreição.

4. Fomos sepultados com ele — Uma alusão à forma antiga do batismo, pela imersão. Para que, como Cristo foi ressuscitado pela glória — O poder glo­rioso. Ao Pai, assim também nós (pelo mesmo poder) possamos ressusci­tar; e, como ele, viver uma nova vida no céu. Assim também andamos nós em novidade de vida. Tudo isso, está dizendo o apóstolo, o nosso próprio batismo significa para nós.

23Wesley traduz literalmente (“Que Deus o proíba”). O significado é: “De modo algum!” ou “De modo nenhum!”

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Page 48: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

5. Porque se fom os plantados juntos com ele na sem elhança da sua m orte, certam ente o seremos tam bém na sem elhança da sua ressurreição;

6. sabendo isto, que foi crucificado com ele o nosso velho ho­m em, para que o corpo do pecado seja destruído, e não mais sirvam os o pecado como escravos;

7. porque aquele que está morto está livre do pecado.8. Ora, se já m orrem os com Cristo, cremos que tam bém com

ele viverem os;9. sabedores que havendo Cristo ressuscitado dentre os m or­

tos, já não m orre: a m orte já não tem dom ínio sobre ele.10. Pois, pelo fato de ter m orrido, de um a vez para sempre m or­

reu para o pecado; m as pelo fato que ele vive, ele vive para Deus.

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5. Porque — Sem dúvida, estas duas coisas devem ir juntas, de modo que, se nós nos tomármos como ele na sua morte, conheceremos o poder da sua ressurreição24.

6. Nosso velho homem— Tão antigo como o nosso ser e tão velho como a que­da; nossa natureza má; uma forte e linda expressão da depravação da corrupção total, a qual, por natureza, se alastra pela pessoa inteira, sem deixar qualquer parte isenta de infecção. Esta [natureza], no crente, foi cru­cificado com Cristo, mortificada, gradativamente morta, por causa da nossa união com ele. Que o corpo do pecado (todas as inclinações, palavras e ações, as quais são os "membros" do "velho homem" — Cl. 3.5) seja destruído.

7. Porque aquele que está morto com Cristo está livre da culpa do pecado passado e do poder do pecado presente, assim como o estão os mortos das ordens dos seus antigos senhores.

8. Morremos com Cristo — Tomados semelhantes à sua morte, por termos morrido para o pecado.

10. [Ele] morreu para o pecado — Para fazer expiação pelo pecado e aboli-lo. Ele vive para Deus — Uma vida gloriosa e eterna, tal qual nós também vivere­mos.

24 [Cf. Fp 3.10] A valorização do martírio na Igreja antiga está muito ligada a esse conceito de que a plena imitação de Cristo inclui também morrer pela fé como Cristo morreu.

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Page 49: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

11. Assim tam bém vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Jesus Cristo.

12. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de m a­neira que obedeçais às suas paixões;

13. nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado como instrumentos de iniqüidade; mas oferecei-vos a Deus como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros a Deus como instrumentos de justiça.

14. Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e, sim, da graça.

15. E daí? H avem os de pecar porque não estam os debaixo da lei, e, sim, da graça? De modo nenhum.

16. Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência desse m esm o a quem obedeceis sois servos, seja do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?

17. M as graças a Deus porque, outrora escravos do pecado, con­tudo viestes a obedecer de coração à form a de doutrina a que fostes entregues;

12. Não reine o pecado nem mesmo em nosso corpo mortal — O qual tem que ser sujeito à morte, mas não precisa ser sujeito ao pecado.

13. Nem ofereçais cada um os membros ao pecado — Isto é, à natureza corrompida, um mero tirano. Mas oferecei-vos a Deus — O vosso legítimo Rei.

14. O pecado não terá domínio sobre vós — Ele não tem nem o direito e nem o poder para tanto. Pois não estais debaixo da lei — Uma dispensação de terror e escravidão, que apenas revela o pecado, sem dar poder para vencê-lo. E, sim, da graça— Sob a dispensação misericordiosa do evangelho, o qual traz plena vitória sobre o pecado a todos que estão sob a poderosa influência do Espírito de Cristo.

17. A forma de doutrina a que fostes entregues— Literalmente, seria o molde em que fostes derramados. Isto não só contém uma linda alusão como também uma admoestação muito instrutiva; sugere que nossa mente, toda maleável e dútil, deve conformar-se com os preceitos do evangelho, como os metais fundidos tomam a forma do molde em que são derramados.

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Page 50: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

18. e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça.

19. Falo com o hom em , por causa da fraqueza da vossa carne. Assim com o oferecestes os vossos membros para a escravi­dão da im pureza, e da m aldade para a m aldade, assim oferecei agora os vossos membros como servos de justiça para a santificação.

18. E, uma vez libertados do pecado — Podemos apreciar o método do apóstolo até aqui num relance:

Capítulo Verso

1. Escravidão ao pecado 3 9

2. 0 conhecimento do pecado pela lei; umasensação da ira de Deus; morte intensa 3 20

3. A revelação da justiça de Deus em Cristopelo Evangelho 3 21

4. 0 centro de toda a fé, abraçando essa justiça 3 22

5. A justificação, na qual Deus perdoa todoo pecado passado e livremente aceita o pecador 3 24

6. 0 dom do Espírito Santo; a consciência do amorda parte de Deus; nessa vida inteira 5 5

7. 0 livre serviço da justiça 6 12

19. Falo como homem— Assim é necessário que a Escritura desça à linguagem de homens. Por causa da fraqueza da nossa carne — A lentidão de entendi­mento provém da fraqueza da carne; a saber, da natureza humana. Assim como oferecestes os vossos membros para a escravidão da impureza, e da maldade para a maldade, assim oferecei agora os vossos membros para servirem a justiça para a santificação. A maldade (da qual a impureza é uma parte eminente) é aqui vista como o oposto da justiça, e para a maldade é o oposto de para a santificação. A justiça aqui é a conformidade com a vontade divina; santi­dade e conformidade com a natureza divina inteira. Observai, os que são servos da justiça prosseguem à santidade, mas os que são servos da maldade não vão mais além. A justiça é serviço, porque vivemos segundo a vonta­de de uma outra pessoa; mas é liberdade, por causa da nossa inclinação para isto e da nossa alegria em fazê-lo.

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Page 51: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

20. Porque quando éreis escravos do pecado, estáveis livres em relação à justiça.

21. Que fruto tínheis então, daquelas coisas das quais agora estais envergonhados?

22. Agora, porém, libertos do pecado, transform ados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação, e por fim a vida eterna.

23. Porque a m orte é o salário do pecado; mas a vida eterna é o dom de Deus, por Jesus Cristo, nosso Senhor.

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20. Quando éreis escravos dó pecado, estáveis livres da justiça— Conforme a razão, então, deveis estar agora livre da injustiça; [deveis] estar tão constantes e zelosos em servir a Deus como éreis em servir ao diabo.

21. Aquelas coisas — Ele fala delas como estando longe.

23. A morte— Tèmporal espiritual e eterno. É o justo salário do pecado; mas a vida eterna é o dóm de Deus. A diferença é notável. As más obras merecem o galardão que recebem; as boas obras não merecem. Aquelas exigem salá­rio; estas aceitam um dom gratuito.

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Page 52: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

RO M AN O S 7p' *

1. Porventura ignorais, irm ãos (pois falo aos que conhecem a lei) que a lei tem dom ínio sobre um hom em enquanto esta [a lei] vive?

2. Ora, a m ulher casada está ligada pela lei ao marido, enquan­to ele vive; mas se o seu marido estiver morto, ela fica livre da lei de seu marido.

3. De sorte que será considerada adúltera se, vivendo ainda o m arido, unir-se com outro hom em ; porém, se m orrer o m ari­do, estará livre da lei, e não será adúltera m esm o se se casar com outro homem.

4. Assim , m eus irmãos, tam bém vós morrestes relativam ente à lei, por m eio do corpo de Cristo, para poderes se casar com um outro, a saber, aquele que ressuscitou dentre os m ortos, e deste m odo frutifiquem os para Deus.

▼ Notas

1. O apóstolo continua a comparação entre o antigo e o presente estado do crente e, ao mesmo tempo, sé esforça por desatrelár os crentes judeus da sua afeição para com a lei mosaica. Falo aos que conhecem a lei — Principal­mente aos judeus. Enquanto — Durante tal período, e não por mais tempo. Este viver25 — A lei é aqui tratada por meio de uma figura de linguagem, como uma pessoa, à qual, como a um marido, a vida e a morte são atribu­ídas. Mas ele fala sem distinção de a lei estar morta para nós, ou nós para ela, embora o sentido seja o mesmo.

2. Desobrigada fica da lei do seu marido — Da lei que lhe dera uma propriedade particular nela.

4. Assim, também vós — Sois agora tão livres da lei mosaica como o é um ma­rido cuja esposa está morta. Por meio do corpo de Cristo — Oferecido em sacrifício; isto é [são livres], pelos méritos da sua morte, pois a lei expirou juntamente com ele.

25 A frase traduzida por “enquanto esta viver” é, no original, as long as it liveth, “it” sendo palavra neutra. Almeida, com a maioria dos tradutores hodiernos traz “ele”.

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Page 53: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

5. Quando estávam os na carne, nossas propensões ao pecado, que eram pela lei, de tal forma atuaram em vossos m embros que elas produziram fruto para a morte.

6. Agora, porém, libertados da lei, estam os mortos para aquilo a que estávam os sujeitos, de modo que servim os em novida­de de espírito e não na caducidade da letra.

7. Que direm os pois? Diremos que a lei é pecado? De modo nenhum . M as eu não teria conhecido o pecado, senão por interm édio da lei; pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás.

5. Quando estávamos na carne — Tendo a mente carnal, sendo pessoas natu­rais; antes de crermos em Cristo. Nossos pecados, que eram pela lei — Aci­dentalmente provocados ou aguçados por ela. Atuaram em nossos mem­bros — Espalharam-se por todo o nosso ser26.

6. Estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos — Ao nosso antigo mari­do, a lei. De modo que servimos em novidade de espírito — Em uma nova e espiritual maneira. E não na caducidade da letra — Não duma maneira po­bre, literal e externa, como fazíamos antes.

7. Que diremos pois? Esta é uma espécie de digressão, que vai até o começo do próximo capítulo. Aqui o apóstolo, visando mostrar, da forma mais vivaz possível, a ineficácia da lei, muda a pessoa e fala como se fosse a si mesmo, concernente à miséria de alguém debaixo da lei. Paulo faz isto freqüentemente, quando não está realmente falando da sua própria pes­soa, mas apenas assumindo um outro caráter (Rm 3.5; ICo. 10.30; 4.6). O caráter que ele assume aqui é o de um homem, primeiro ignorante da lei, depois debaixo dela, e sincera, mas ineficazmente, se esforçando por servir a Deus. Falar dessas coisas de si mesmo, ou de qualquer verdadeiro crente, poderia parecer impróprio ao teor do seu discurso e, na realidade, total­mente contrário a ele, bem como ao que está expressamente declarado (Rm 8.2). É a lei pecado?— Pecaminosa em si mesma, e promotora de pecado. Eu não teria conhecido a cobiça— A saber, o mau desejo. Eu não o teria conheci­do como pecado; e mais: talvez eu não teria conhecido que tal desejo exis­tisse dentro em mim. Ele não ficou aparente até ser avivado pela proibição.

26Wesley tomou uma certa liberdade com o texto para tornar mais clara sua interpretação.

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Page 54: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

8. M as o pecado, tom ando ocasião pelo m andam ento, desper­tou em m im toda sorte de desejo; porque sem lei estava m or­to o pecado.

9. O utrora, sem a lei, eu vivia; m as sobrevindo o preceito, reviveu o pecado, e eu morri.

10. E o m andam ento que me fora para a vida, verifiquei que este m esm o se me tornou para a morte.

11. Porque o pecado, prevalecendo-se do m andam ento, pelo m esm o m andam ento me enganou e me matou.

12. Por conseguinte, a lei é santa; e o m andam ento, santo e ju sto e bom .

8. Mas o pecado — Minha corrupção inata. Tomando ocasião pelo mandamento, o qual proibia, mas não dominava tal corrupção, a qual foi só irritada, e despertava em mim cada vez mais toda a sorte de desejo. Porque, enquanto eu estava sem o conhecimento da lei, o pecado estava morto — Não tão aparen­te, nem tão ativo; e nem tinha eu qualquer percepção de qualquer perigo dele proveniente.

9. Outrora, sem a lei, eu vivia — Sem a rigorosa aplicação dela. Tinha (ou assim pensava eu) muita vida, sabedoria, virtude e força. Mas quando o preceito — A saber, a lei, uma parte colocada para o todo; esta expressão, porém, par­ticularmente sugere sua força compulsiva, a qual restringe, incita, proíbe, ameaça. Sobreveio — Na sua acepção espiritual, ao meu coração, com o po­der de Deus. Reviveu o pecado e eu morri — Meu pecado congênito pegou fogo e toda a minha virtude e força esmoreceram; então eu vi que estava morto no pecado e passível de morte eterna.

10. E o mandamento que me fora para vida— Sem dúvida, ele fora originariamen­te proposto por Deus como um grande meio de preservar e aumentar a vida espiritual, levando à vida eterna.

11. Me enganou— Enquanto eu esperava vida da lei, o pecado veio sobre mim, inesperadamente, e matou todas as minhas esperanças.

12. O mandamento — Isto é, todas as partes da lei. É santo e justo e bom — Surge e participa da natureza santa de Deus; ele é, em todo o sentido, justo e certo em si mesmo; foi planejado unicamente para o bem da humanidade.

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Page 55: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

13. A caso o bom se m e tom ou em morte? De modo nenhum ; pelo contrário, o pecado, para revelar-se com o pecado, por m eio de um a cousa boa, causou-me a m orte; a fim de que pelo m andam ento se mostrasse sobrem aneira maligno.

14. Porque bem sabem os que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado.

15. Porque aquilo que faço, eu não aprovo: porque não pratico o que quero praticar; pelo contrário, o que detesto é o que pratico.

16. Ora se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa.

17. N este caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim.

18. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum : pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo.

13. Acaso o bem se me tornou a causa do mal; até de morte, a qual é o mal maior? De modo nenhum. Pelo contrário, foi o pecado que se tomou morte para mim, pelo fato que causou-me a morte, mesmo por meio de uma coisa boa — [a saber] pela boa lei. Afim de que pelo mandamento o pecado se mostrasse sobre­maneira maligno — A conseqüênda é que o pecado congênito, assim agindo furiosamente a despeito do mandamento, se mostrou sobremaneira maligno, sendo sua culpa grandemente agravada.

14. Eu sou carnal — Paulo, tendo comparado a situação do crente passada à presente, ou seja "na carne" e "no espírito" (v. 6), ao responder a duas ob- jeções (É a lei pecado? — v. 7; e é a lei morta? — v. 13), passa a demonstrar todo o processo de alguém arrazoando, gemendo, se esforçando e esca­pando da condição legal para a evangélica. Vendido à escravidão do pecado — Completamente escravizado; os escravos, comprados por dinheiro, esta­vam ao inteiro dispor de seu amo.

16. Boa — Este único adjetivo significa todos os três empregados antes, no v.12, "santo e justo e bom".

17. Quem faz isto já não sou, propriamente falando, eu, mas, pelo contrário, o pecado que habita em mim — Que faz, por assim dizer, uma outra pessoa, que me tiraniza.

18. Na minha carne — A carne aqui significa o ser humano inteiro, como é por natureza.

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Page 56: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

19. Porque não faço o bem que prefiro, m as o m al que não que­ro, esse faço.

20. M as, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e, sim, o pecado que habita em mim.

21. Encontro então um a lei, que, quando quero praticar o bem , o m al está presente comigo.

22. Porque eu m e com prazo na lei de Deus segundo o hom em interior.

23. M as vejo nos m eus membros outra lei que, guerreando con­tra a lei da m inha m ente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos m eus membros.

24. D esventurado hom em que sou! Quem me livrará do corpo desta m orte?

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21. Encontro uma lei — Uma força constrangedora no meu íntimo que emana do preceito da natureza corrupta.

22. Porque eu me comprazo na lei de Deus — Isto é mais do que consinto com [a lei]. O dia da libertação se aproxima. O homem interior— Chamado de "men­te" nos w. 23 e 25.

23. Mas vejo nos meus membros outra lei — Uma outra força constrangedora no íntimo, a de inclinações más e de apetites corporais. Guerreando contra a lei da minha mente, a qual se deleita na lei de Deus [cf. v. 22; SI 1.2] Me faz prisioneiro — A despeito de toda a minha resistência.

24. Desventurado homem que sou — A luta já chegou ao auge; e o homem, descobrindo que não há nele nenhuma ajuda, começa quase desperce- bidamente a orar: Quem me livrarál Então ele procura e busca a liberta­ção, até quando Deus em Cristo aparece para responder à pergunta. A palavra que traduzimos por livrará implica em força, e, na verdade, sem esta, não pode haver libertação. Do corpo desta morte — Isto é, este corpo de morte; esta massa de pecado, que conduz à morte eterna e que se apega tão internamente a mim, como ao meu corpo — o meu corpo, a minha alma.

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Page 57: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

25. G raças a D eus por Jesus Cristo, nosso Senhor. D e m aneira que eu, de m im m esm o, com m inha m ente, sou escravo da le i de D eus; m as, com a m inha carne, sirvo a lei do peca­do.

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25. Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. A saber, Deus me libertará por intermédio de Cristo. Mas o apóstolo, como costuma freqüentemente fa­zer, entretece sua declaração com ação de graças; o hino de louvor corresponde, de certa forma, à voz da tristeza: "Desventurado homem que sou". De maneira que—Aqui ele resume o todo e conclui o que começou no v. 7. Eu, de mim mesmo — Ou melhor, aquele em cujo caráter estou encenan­do, até ser efetivada a libertação. Com a mente sou escravo da lei de Deus— A minha razão e a minha consciência apóiam a Deus. Mas, segundo a carne, a lei do pecado — Mas minhas corrompidas paixões e apetites ainda se rebe­lam. O homem [que Paulo aqui retrata] está agora totalmente exausto da sua servidão e à beira da libertação.

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Page 58: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

RO M AN O S 8

1. Agora, pois, já nenhum a condenação há para os que não an­dam segundo a carne, mas segundo o Espírito.

2. Porque a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus me livrou da lei do pecado e da morte.

3. Porquanto o que fora im possível à lei, no que estava fraca pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em sem elhança de carne pecam inosa e como sacrifício pelo pe­cado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado.

4. A fim de que a justiça da lei se cum prisse em nós que não andam os segundo a carne, mas segundo o Espírito.

5. Os que vivem segundo a carne se preocupam com as coisas da carne; m as os que vivem segundo o Espírito, com as coi­sas do Espírito.

▼ Notas

1. Agora, pois, já nenhuma condenação há— Quer por questões do presente, quer do passado. Agora ele alcança o resgate e a liberdade. O apóstolo aqui retorna ao fio do seu discurso, que fora interrompido no capítulo 7, v. 7.

2. A lei do Espírito— A saber, o evangelho. Me livrou da lei do pecado e da morte— Isto é, da dispensação mosaica.

3. Porquanto o que fora impossível à lei— De Moisés. No que estava fraca pela carne— Incapaz de vencer a nossa natureza má. Se pudesse vencê-la, não teria sido necessário que Deus enviasse seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa — Nós, com nossa carne, estávamos condenados à morte. Mas Deus, enviando seu próprio Filho, em semelhança daquela carne, embora sem pecado, condenou o pecado que estava em nossa carne; decretou que o pecado fosse destruído, e o crente completamente libertado dele.

4. Afim de que a justiça da lei—A santidade que ela exigia, descrita nos w. 5-11. Se cumprisse em nós que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito— [Nós] que somos guiados em todos os nossos pensamentos, palavras e ações, não pela natureza corrompida, mas pelo Espírito de Deus. Daqui em dian­te Paulo descreve primeiramente a condição de crentes e a dos incrédulos somente para ilustrar aquela.

5. Porque os que vivem segundo a carne — Os que permanecem sob a direção da natureza corrupta. Preocupam-se com as coisas da carne — Têm seus pen-

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6. Ora, fixar a m ente na carne é morte, mas fixá-la no Espírito évida e paz.

7. Por isso a m ente carnal é inimizade contra Deus, pois não estásujeita à lei de Deus, nem mesmo pode estar.

8. Portanto os que estão na carne não podem agradar a Deus.9. Vós, porém , não estais na carne, mas no Espírito, se de fato o

Espírito de Deus habita em vós. E se alguém não tem o Espí­rito de Cristo, esse tal não é dele.

10. Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está m or­to por causa do pecado, mas o espírito é vida por causa da justiça.

sarnentos e afeições fixas nas coisas que agradam à natureza corrupta; a saber, em coisas visíveis e temporais; nas coisas terrenas, no prazer (dos sentidos e da imaginação), na fama ou na riqueza. Mas os que vivem segundo o Espírito — Que são guiados por ele. Preocupam-se com as coisas do Espírito— Pensando e se deleitam em amar as coisas eternas, as coisas que o Espí­rito revela, opera em nós, move-nos e promete nos dar.

6. Porque fixar a mente na carne — Isto é, cuidar das coisas da carne. É morte — A marca certa da morte espiritual e o caminho para a morte eterna. Mas fixá-la no Espírito — A saber, cuidar das coisas do Espírito. É vida — Uma marca certa de vida espiritual e o caminho para a vida eterna. E acompa­nhada da paz— A paz da parte de Deus, a qual é o antegosto da vida eter­na; e paz com Deus, oposta à inimizade mendonada no verso seguinte.

7. Da inimizade contra Deus — Contra sua inexistência, seu poder, sua pro­vidência.

8. Os que estão na carne — Debaixo do domínio dela.9. No Espírito— Debaixo do seu domínio. Se alguém não tem o Espírito de Cristo —

Habitando-o e govemando-o. Esse tal não é dele— Ele não é membro de Cris­to, não é cristão; não está no estado de salvação. É uma dara e expressa de- daração, que não admite exceção. Quem tem ouvidos, ouça! [Mt 11.15, etc.]

10. Se, porém, Cristo está em você— Onde está o Espírito de Cristo, lá está Cristo. O corpo, na verdade, está morto — Jurado à morte. Por causa do pecado — Co­metido até o presente momento. Mas o Espírito é vida—Já verdadeiramente vivo. Por causa da justiça — Agora alcançada. Desde o v. 13, Paulo, tendo terminado o que começara em Rm 6.1, descreve exclusivamente a condi­ção dos crentes.

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11. Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os m ortos, esse m esmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os m ortos vivificará tam bém os vossos corpos mor­tais, por m eio do seu Espírito que em vós habita.

12. Portanto, irmãos, não somos devedores à carne, obrigados a viver segundo a carne.

13. Porque, se viverdes segundo a carne, m orrereis; mas, se pelo Espírito m ortificardes os feitos da carne, certam ente vivereis.

14. Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são fi­lhos de Deus.

15. Porque não recebestes o espírito de escravidão para viverdes outra vez atem orizados, mas recebestes o espírito de ado­ção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai.

12. Não somos devedores à carne — Não devemos segui-la.13. Os feitos da carne — Não apenas ações más, mas desejos, inclinações, pensa­

mentos. Se mortificardes — Destruirdes tais coisas. Vivereis — A vida de fé mais abundantemente aqui e a vida de glória no porvir.

14. Pois todos que são guiados pelo Espírito de Deus — Em todos os caminhos da retidão. São filhos de Deus — Aqui Paulo inida a descrição daquelas bên­çãos que ele inclui no escopo da palavra "glorificou" (v. 30), embora, na verdade, ele não descreva a glória em estado puro, mas aquela que ainda se mistura com a cruz. A carne é a glória por meio do sofrimento.

15. Porque [vós] — Que sois verdadeiros cristãos. Não recebestes o espírito de escravidão — O Espírito Santo não fala propriamente de um espírito de es­cravidão, mesmo nos tempos do Antigo Testamento. Havia, porém, algo de escravidão que restava mesmo naqueles que haviam recebido o Espíri­to. Outra vez — Como os judeus fizeram antes27.[Nós] — Todos e cada crente. Clamamos — O termo denota um falar vee­mente, com desejo, confiança, constância [persistência]. Aba, Pai— A se­gunda palavra explica a primeira. Ao usar o vocábulo tanto no siríaco como no grego, Paulo parece indicar o clamor conjunto de crentes judeus e gregos. O espírito de escravidão parece neste lugar significar, diretamen­te, aquelas operações do Espírito Santo, pelas quais a alma, nas suas pri-

27 Em relação ao texto de Rm 8.15 em inglês, este pequeno comentário fica mais compreensível; o sentido é: “não recebestes o Espírito da escravidão para viverdes outra vez no mundo — como viviam os judeus.”

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16. O m esm o Espírito testifica com o nosso espírito que som os filhos de Deus.

17. Ora, se som os filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo: se com ele sofrermos, para que tam bém com ele sejamos glorificados.

18. Porque para m im tenho por certo que os sofrimentos do tem ­po presente não são para comparar com a glória por vir a ser revelada em nós.

19. A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus.

▼meiras convicções, se sente escravizada ao pecado, ao mundo e a Sata­nás, e merecedora da ira de Deus.[O Espírito da escravidão], portanto, e o Espirito de adoção são um e o mes­mo Espírito, apenas manifestando-se em várias operações, segundo as di­ferentes circunstâncias das pessoas.

16. 0 mesmo Espírito testifica com o nosso Espírito — Com o espírito de cada verdadeiro crente, por um testemunho distinto daquele do seu próprio es­pírito, ou de testemunho de uma boa consciência. [Cf. 2Co 1.12] Felizes são aqueles que fruem deste testemunho, clara e constantemente!

17. Co-herdeiros— Para que saibamos que a herança que Deus nos dará é gran­de, pois ele deu uma tal herança para o seu Filho. Se com ele sofrermos — Pronta e alegremente, por causa da justiça. [Cf. Mt 5.10] Esta é uma nova proposição que se refere àquilo que se segue.

18. Porque para mim tenho por certo — Este verso fornece a razão porque só agora ele menciona sofrimentos e glória. Quando a glória for "revelada em nós", então os filhos de Deus também serão revelados.

19. A ardente expectativa — A expressão significa uma esperança viva de algo que se aproxima e um veemente anelo por ele. Da criação — De todas as criaturas visíveis, menos os crentes, que são mencionados à parte; cada espé­cie [de criatura] conforme sua capacidade. Todas elas foram sofredoras por causa do pecado; e para todas elas (a não ser os que são impenitentes até o fim) redundará refrigério da glória dos filhos de Deus. Pagãos justos não devem, de forma alguma, ser exduídos dessa ardente expectativa; pelo con­trário, possivelmente algo dela possa encontrar-se até nos mais inúteis entre os homens; os quais (embora, na pressa da vida, eles tomem a vaidade por liberdade e parcialmente abafem e dissimulem seus gemidos) no entanto, nas suas horas sóbrias, quietas, insones e sofridas, derramam muitos suspi­ros nos ouvidos de Deus.

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20. Porque a criação foi sujeita à vaidade, não voluntariam ente, m as por vontade daquele que a sujeitou.

21. Na esperança de que a própria criação será redim ida do ca­tiveiro da corrupção, para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus.

22. Porque sabem os que toda a criação a um só tem po geme e suporta angústias até agora.

23. E não som ente ela, mas tam bém nós que tem os as primícias do Espírito, igualm ente gememos em nosso íntimo, aguar­dando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo.

24. Porque som os salvos pela esperança. Ora, esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera?

20. Porque a criação foi sujeita à vaidade — Abuso, miséria e corrupção. Por von­tade daquele que a sujeitou — A saber, Deus (Gn 3.17; 5.29). Adão apenas tomou a criação passível da sentença que Deus pronunciou; não, porém, sem esperança [da sua restauração].

21. A própria criação será redimida — A destruição não é redenção; portanto, o que é destruído, ou que deixa de existir, simplesmente não é redimido. Será, então, qualquer parte da criação destruída? Para a gloriosa liberdade — O estado excelente no qual foram criados.

22. Porque toda a criação a um só tempo geme — Com gemidos conjuntos, como se fosse a uma só voz. E suporta angústias — Literalmente, está em dores de parto, para ser libertada do peso da maldição. Até agora— Até esta própria hora e, doravante, até o tempo da libertação.

23. E também nós que temos as primícias do Espírito—A saber [temos], o Espírito, que são as primícias da nossa herança. A adoção — Pessoas, anteriormente adotadas secretamente entre os romanos eram, com freqüência, apresenta­das no Fórum, e lá publicamente reconhecidas como filhos por aqueles que as haviam adotado. Assim, na ressurreição geral, quando o próprio corpo for redimido da morte, os filhos de Deus serão publicamente reconhecidos por ele na grande assembléia de homens e anjos. A redenção de nosso corpo— Da corrupção para a glória e a mortalidade.

24. Porque somos salvos pela esperança — Nossa salvação agora está só na espe­rança. Não possuímos ainda esta plena salvação.

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25. M as, se esperarm os o que não vemos, com paciência o aguar­damos.

26. Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossas fraquezas; porque não sabemos as coisas pelas quais orar com o convém , m as o m esm o Espírito intercede por nós so­brem aneira com gem idos inexprimíveis.

27. E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espí­rito, porque segundo Deus é que ele intercede pelos santos.

28. Sabem os que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que am am a Deus, daqueles que são cham ados segundo o seu propósito.

26. Também o Espírito — Não, não é só o universo, nem só os filhos de Deus, mas o próprio Espírito de Deus, por assim dizer, geme, enquanto nos assiste em nossas fraquezas. Nosso entendimento é fraco, particularmente no que tange às coisas de Deus; nossos desejos são fracos; nossas orações são fracas. Não sabemos muitas vezes as coisas pelas quais devemos orar e, muito menos, a orar por ele como convém, mas o Espírito intercede por nós — Em nosso coração, como Cristo o faz no céu. Com gemidos — Cuja matéria vem de nós, mas o Espírito os forma; e são, com freqüênda, inexprimíveis, mesmo pelos pró­prios fiéis.

27. Mas aquele que sonda os corações — Onde o Espírito habita e intercede. Sabe— Embora o ser humano não o possa exprimir. Qual é a mente do Espírito, porque ele intercede pelos santos— Os quais estão próximos de Deus. Segundo Deus — Segundo a sua vontade, como é digno dele e aceitável a ele.

28. Sabemos— De modo geral, embora nem sempre exatamente, pelo que deve­mos orar. Que todas as coisas — Conforto ou dor, pobreza ou riqueza, ou as milhares de mudanças de vida. Cooperam para o bem — Forte e suavemente pelo bem espiritual e eterno. Daqueles que são chamados segundo o seu propósito— Seu grarioso desígnio de salvar um mundo perdido pela morte do seu Filho. Esta é uma nova proposição. Paulo, prestes a recapitular toda a bên­ção contida na justificação (chamada de glorificação, v. 30), volta primeiro ao propósito ou decisão de Deus, mencionado freqüentemente nos Escritos Sa­grados.Para explicar isto um pouco mais plenamente (quase nas palavras de um eminente escritor): Quando alguém tem perante si uma obra de tempo e importância, ele pára, consulta, planeja, e tendo estabelecido um plano, resolve ou decide proceder em conformidade com este plano. Tendo obser­vado esse procedimento em nós mesmos, não hesitamos em aplicá-lo tam­bém a Deus, e ele, em deferência a nós, o tem aplicado a si próprio.As obras de providência e de redenção são vastas e maravilhosas; por

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29. P o rq u an to aos que de an tem ão co n h eceu , tam b ém os predestinou conform e a im agem de seu Filho, a fim de que ele seja o prim ogênito entre m uitos irmãos.

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isso, somos capazes de pensar de Deus como pensando profundamente ou consultando sobre elas e, depois, decidindo agir de acordo com "o conselho da sua própria vontade", [Ef 1.11] como se, há muito antes da existência do mundo, ele estivesse planejando a criação e seu governo, depois escrevendo seus decretos, tão irrevogáveis como a lei dos medos e dos persas [Dn 6.8,12,15]. Ao passo que tomar tal "consultar" e "decre­tar" num sentido literal seria tão absurdo como atribuir um verdadeiro corpo humano e paixões humanas ao Deus sempre abençoado.Tudo isso não passa de uma representação popular do seu conhecimento infalível e sabedoria imutável; a saber, ele faz todas as coisas tão sabiamen­te como um ser humano possa fazê-las, depois da mais profunda consulta, e firmemente segue o método mais adequado como possa fazer alguém que adrede estabeleceu um plano para tanto. Embora, porém, sejam os efei­tos tais que pareçam indicar anterior consulta e decisões da parte do ho­mem, qual seria a necessidade de consulta, mesmo por um instante, por aquele que enxerga tudo em um único relance?Semelhantemente, Deus não tem mais necessidade de parar e estabelecer regras para a sua própria conduta, desde a eternidade até agora. Ora! Havia algum medo de que ele errasse depois, se ele não tivesse antes preparado decretos, para ordenar o que ele devesse fazer? Ou dirá alguém que Deus era mais sábio antes da criação do que depois? Ou teria ele então mais tempo para que aproveitasse a oportunidade para pôr seus afazeres em ordem e estabelecer para si regras, das quais ele nunca variasse? Indubitavelmente ele tem a mesma sabedoria e todas as outras perfeições hoje que teve em toda a eternidade e é agora capaz de fazer decretos, ou melhor, ele não tem mais necessidade delas agora de que antes; seu entendimento é igualmente claro e brilhante, e sua sabedoria igualmente infalível.

29. Aos que de antemão conheceu, também os predestinou conforme a imagem de seu Filho — Neste lugar, o apóstolo declara quem são aqueles aos quais ele conheceu de antemão e predestinou para a glória; a saber, os que estão conforme à imagem do Filho. Esta [semelhança] é a marca dos que são conhe­cidos de antemão e serão glorificados (2Tm 2.19; Fp 3,10,21)®.

28 A versão de Wesley certamente valoriza demais a ausência do verbo “se­rem”; ele não inclui o vocábulo, mas sua versão, em inglês, parece incom­pleta. Ele cita 2Tm 2.19 e Fp 3,10,21, em abono, aplicando sua regra de interpretação de passagens difíceis, a saber, “conferindo coisas espiri­tuais com espirituais” (1Co 2.13), tentando, a todo custo, eliminar da pas­sagem a predestinação, uma tarefa altamente difícil.

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Page 65: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

30. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que cham ou, a esses tam bém glorificou.

31. Que diremos, pois, à vista destas cousas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?

32. Aquele que não poupou a seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura não nos dará graciosam ente com ele todas a coisas?

30. A esses — No tempo certo. [Ele] chamou — Pelo Evangelho e pelo seu Espí­rito. E aos que chamou— Quando obedientes ao chamado celestial (At 26.19). A esses também justificou— Perdoou e aceitou. E aos que justificou— Se "con­tinuaram na sua bondade" (Rm 11.22). A esses também ele finalmente glorifi­cou — Paulo não afirma aqui, e nem em qualquer outra parte dos seus escritos, que precisamente o mesmo número de pessoas é chamado, justifi­cado e glorificado. Ele não nega que um crente possa cair e ser cortado entre seu chamado especial e sua glorificação (Rm 11.22). Nem nega que muitos são chamados e nunca são justificados. Ele só afirma que este é o método pelo qual Deus conduz, passo a passo, para o céu. [Ele] glorificou — Ele fala como quem olha da perspectiva do alvo da corrida da fé, pois, na verdade, a graça, como o princípio da glória, é tanto um penhor como um antegozo da glória eterna.

31. Que diremos, pois, à vista destas coisas? [Que estão] relacionadas aos capítulos 3,5 e 8? É como se ele tivesse dito: "Não podemos ir, pensar ou desejar além disso". Se Deus é por nós — Aqui seguem quatro períodos, um geral e três particulares. Cada um começa com a glória na graça de Deus, seguido por uma pergunta apropriada, desafiando todos os adversários. Estou bem certo etc. [v. 38] é a resposta geral. O período geral é: Se Deus é por nós, quem será contra nós? O primeiro período particular, relacionado ao passado, é aquele que não poupou o seu próprio Filho, porventura não nos dará graciosamente todas as coisas? O segundo, que se refere ao presente, é: E Deus quem os justifica. Quem os condenará O terceiro relacionado ao futuro é: É Cristo quem morreu — Quem nos separará do amor de Cristo?

32. Aquele que— Este período gramatical contém quatro cláusulas: Ele não pou­pou a seu próprio Filho; portanto ele nos dará graciosamente todas as coisas. Ele por todos nós o entregou; conseqüentemente, ninguém pode intentar acusação contra nós. Graciosamente — Porque tudo que vem depois da justificação é também um dom gracioso. Todas as coisas— As que são necessárias ou úteis para nós.

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33. Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica.

34. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu, ou antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus, e tam bém intercede por nós.

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33. Os eleitos de Deus — O escritor mencionado acima nota que muito antes da vinda de Cristo, o mundo pagão revoltou-se contra o verdadeiro Deus e [seus habitantes] foram, por isso, reprovados ou rejeitados. No entanto, a nação dos judeus foi escolhida para ser o povo de Deus e, em vista disso, era chamada "a prole" ou "os filhos de Deus" (Dt 14.1), "povo santo" (Dt 7.6; 14.2), "descendência escolhida" (Dt 4.37), "eleitos" (Is 41.8, 9; 43.10); "chamados de Deus" (Is 48.12). E estes títulos eram dados a toda a nação de Israel, incluindo bons e maus. Ora, tendo o evangelho uma ligação muito estreita com os livros do Antigo Testamento, onde essas frases ocorrem com freqüência, e nosso Senhor e seus apóstolos sendo judeus naturais, e começando a pregar na terra de Israel, a linguagem em que pregavam na­turalmente conteria abundância de frases da nação judaica. Destes fatos toma-se fácil entender por que aqueles dentre os judeus que não queriam receber a Jesus eram chamados de reprovados [Cf. 2Co 13.5, 6,7], Pois eles não mais continuavam a ser o povo de Deus. Contudo, este e os outros títu­los honrosos continuavam a ser aplicados aos judeus que abraçavam o cris­tianismo. E as mesmas designações que outrora pertenciam [só] à nação judaica eram agora atribuídas também aos cristãos gentios. Junto com os títulos, foram investidos de todos os privilégios de "povo escolhido de Deus"; e nada poderia separá-los desses privilégios, a não ser sua apostasia deliberada. Não é evidente que mesmo os bons homens fossem jamais cha­mados de "eleitos de Deus" antes de mais de 2.000 anos após a criação. Foi a eleição ou escolha da nação de Israel por Deus, e a sua separação de todas as outras nações, as que estavam afundadas na idolatria e iniqüidade, que primeiro deu ocasião a essa espécie de linguagem. E sendo a separação dos cristãos dos judeus um evento semelhante, não é de se estranhar que ela foi descrita por semelhantes palavras ou frases. A única diferença é que o ter­mo eleito fora antigamente aplicado a todos os membros da Igreja visível, mas no Novo Testamento ele é aplicado apenas aos membros da Igreja in­visível.

34. Ou antes, quem ressuscitou — Nossa fé não deve parar com sua morte, mas devia ser exercida também na sua ressurreição, reino e segunda vinda. Inter­cede por nós — apresentando lá [à direita de Deus] sua obediência, seus

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Page 67: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

35. Quem nos separará do am or de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?

36. Com o está escrito: (SI 44.22) Por amor de ti, somos entregues à m orte o dia todo, som os considerados como ovelhas para o m atadouro.

37. Em todas estas cousas, porém, somos mais que vencedores, por m eio daquele que nos amou.

38. Porque eu estou bem certo de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem principados, nem cousas do presente, nem do porvir, nem poderes,

39. nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do am or de Deus, que está em Cristo Je ­sus, nosso Senhor.

sofrimentos, suas orações, e as nossas orações santificadas por intermédio dele.

35. Quem nos separará do amor de Cristo para conosco? Será tribulação, ou angús­tia — Ele procede em ordem, do problema menor ao maior: Pode qualquer um [destes problemas] nos separar da proteção do seu amor? E, se ele achar por bem, da própria salvação?

36. O dia todo — A saber, diariamente, continuamente. Somos considerados — Pelos nossos inimigos, por nós mesmos.

37. Somos mais que vencedores — Não somente não somos perdedores, como lucramos muito com todas essas provações. Este período parece descrever a plena segurança da esperança.

38-39. Estou bem certo — Isto é deduzido do v. 34, numa ordem admirável: [versos 38-39]"Nem morte" [nos separará do amor];"Nem vida";"Nem anjos, nem principados, nem poderes, nem coisas do presente e nem do porvir";"Nem alturas, nem profundidade, nem qualquer outra criatura".[verso 34]Porque "Cristo está morto";[Porque Cristo] "ressusdtou";

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[Porque Cristo] "está a direita de Deus";[Porque Cristo] "faz intercessão por nós".

Nem morte — Por terrível que seja para os homens naturais; uma morte violenta em particular (v. 36). Nem vida — Com todas as aflições e angústia que a vida possa eventualmente trazer (v. 35); nem uma vida longa e confortável; nem todos os seres humanos vivos. Nem anjos — Se­jam eles bons (se fosse possível que eles tentassem [tal separação]), sejam maus com toda sua astúcia e poder. Nem principados, nem poderes — Nem mesmo os da mais alta patente ou o poder mais eminente. Nem coisas do presente — Que podem eventualmente nos acontecer durante nossa pere­grinação; ou o mundo todo, antes de deixar de existir. Nem coisas do porvir— Que podem ocorrer quando nosso tempo na terra tiver acabado ou quando tiver chegado o fim do próprio tempo. Nem altura, nem profundi­dade — A sentença anterior tratava de diferenças de tempo, esta, de dife­renças de lugares. Quantas grandes e variadas coisas são contidas nestas palavras, não sabemos, nem podemos e nem precisamos saber ainda. A altura — No sublime estilo de Paulo, isto significa o céu. A profundidade— Significa o abismo. Isto é, nem a altura, não digo dos muros, das monta­nhas, dos mares, mas do próprio céu, pode nos abalar; nem o próprio abismo, sendo que o próprio pensamento dele pode pasmar a mais cora­josa criatura. Nem qualquer criatura — Nada abaixo do Todo-poderoso; os inimigos visíveis ele nem se digna mencionar. Poderá — Quer pelâ força (v. 35), quer por reclamação legal (w. 33-34). Separar-nos do amor de Deus que está em Cristo — Este amor seguramente salvará, protegerá e livrará a nós que cremos, em, por e de todas as circunstâncias29.

29 Wesley, em comum com escritores ingleses do seu tempo, junta diversos versos ou diversas preposições com um objeto comum, um estilo pouco usado em português e que, portanto, nos soa estranho.

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ROM ANOS 9

1. D igo a verdade em Cristo, não minto, testem unhando com i­go, no Espírito Santo, a m inha consciência:

2. que tenho grande tristeza e incessante dor no coração;

3. porque eu m esm o desejaria ser anátema, separado de Cristo, por am or de m eus irmãos, meus compatriotas, segundo a carne.

▼ Notas

No presente capítulo, Paulo, depois de declarar fortemente seu amor e estima pelos seus patrícios, propõe-se a responder à grande objeção que faziam; a saber, que a rejeição dos judeus e a recepção dos gentios contrariavam a palavra de Deus. Que aqui não tinha o menor pensa­mento da eleição ou reprovação pessoais é manifesto, (1) porque isto estava totalmente fora da sua intenção, que era mostrar serem a rejeição dos judeus e a recepção dos gentios coerentes com sua palavra; (2) por­que tal doutrina não tenderia a convencer os judeus; antes, tenderia obviamente, a endurecê-los; (3) porque quando, ao final do capítulo ele resume seu argumento, ele não diz palavra alguma sobre isto ou sugere semelhante coisa.

1. Em Cristo — Isto parece sugerir um apelo a Cristo. No Espírito Santo— Pela sua graça.

2. Tenho grande tristeza — Um alto grau de tristeza e de alegria espirituais pode existir um ao lado do outro (Rm 8.39). Por declarar sua tristeza pe­los judeus incrédulos, os quais se excluíam de todas as bênçãos que acaba de enumerar, ele mostra que o que agora ia falar não provinha de qual­quer preconceito contra eles.

3. Eu mesmo desejaria. Meras palavras humanas são incapazes de descrever as emoções de almas plenas de Deus. É como se tivesse falado: eu pode­ria desejar sofrer em seu lugar; sim, ser o separado de Cristo em seu lugar. Não se pode dizer em que grau ele desejou isto, a menos que alguém tivesse perguntado ao próprio Paulo e que ele tivesse dado a resposta. Mas por certo ele não estava, de forma alguma, pensando em si, mas só nos outros e na glória de Deus. Tal coisa não podia acontecer; mesmo assim, o desejo era piedoso e sólido; embora sob uma condição tácita, isto se fosse certo e possível.

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4. São israelitas. Pertence-lhes a adoção, e tam bém a glória, as alianças, a legislação, o culto a Deus e as prom essas;

5. deles são os pais e tam bém deles descendem o Cristo, segun­do a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre.

6. E não como se a palavra de Deus tenha falhado, porque nem todos são Israel, os que são de Israel.

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4. Pertence-lhe a adoção, etc. — Ele enumera seis prerrogativas, das quais o pri­meiro par concerne ao Pai, o segundo a Cristo, o terceiro ao Espírito Santo. A adoção, e também a glória — Isto é, Israel e o filho primogênito de Deus e o Deus da glória e seu Deus (Dt 4.7, SI 106.20). Estes são relativos, um ao outro, a uma vez, Deus é o Pai de Israel, e Israel o povo de Deus. Paulo não fala aqui da arca da aliança ou de qualquer coisa material. O próprio Deus é "a glória do seu povo Israel" [Cf. Lc 2.32], As alianças, a legislação — A aliança foi dada muito antes da lei. É chamada de alianças, no plural, por­que foi repetida tão freqüentemente e de tantas maneiras, e porque havia nela duas disposições (G14.24), uma prometendo e a outra exibindo a pro­messa. O culto e as promessas — A verdadeira maneira de adorar a Deus e todas as promessas feitas aos antepassados.

5. Às prerrogativas já mencionadas, Paulo agora acrescenta mais duas. Deles são os pais — Os patriarcas e homens santos da antiguidade, sim, e o pró­prio Messias. O qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre— As pala­vras originais sugerem o ser auto-existente, independente, o qual era, é e será. Sobre todos— O supremo, como sendo Deus, e conseqüentemente ben­dito para todo o sempre. Palavra alguma pode expressar mais claramente sua divina, suprema majestade e sua graciosa soberania sobre judeus e genti­os.

6. E não como se — Os judeus imaginaram que a Palavra de Deus deveria fa­lhar, se toda a sua nação não fosse salva. Paulo refuta este pensamento e prova que a própria palavra havia previsto sua apostasia. A palavra de Deus— As promessas de Deus a Israel. Tenha falhado — Isto não poderia ser. Mesmo agora, diz o apóstolo, alguns desfrutam das promessas; e, posteri­ormente "todo o Israel será salvo" [Rm 11.26], Isto é a essência dos capítu­los 9,10 e 11. Porque — Aqui ele entra nas provas da sua declaração. Nem todos são Israel, os que são de Israel — Os judeus sustentavam o contrário; a saber, que todos os que nasceram como israelitas, e só eles, eram povo de Deus. A primeira parte dessa tese é refutada aqui; a última, nos w. 24 e 25.

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7. N em por serem sementes de Abraão são todos filhos; mas: (Gn 21.12) Em Isaque será será chamada a tua semente.

8. Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus: mas os filhos da prom essa são considerados a semente.

9. Porque esta é a palavra da promessa: (Gn 18.10) Por esta época eu virei e Sara terá um filho.

10. E não é só isto: mas tam bém Rebeca, ao conceber de um só, nosso pai Isaque;

A conclusão é que Deus aceita todos os crentes, e só eles, e que este de forma alguma contraria a sua palavra. Pelo contrário, ele tem declarado na sua palavra, tanto por tipos como por testemunhos expressos, que crentes são aceitos como filhos da promessa", enquanto incrédulos são rejeitados, embora sendo "filhos da carne" [Rm 9.8]. Não todos são Israel — Isto é, nem todos estão no favor de Deus que são descendentes genealógicos de Israel30.

7. Nem por serem sementes de Abraão resultará que todos são filhos de Deus31 — Isto não foi o caso nem com toda a família de Abraão, e muito menos o seria na casa dos seus descendentes remotos. Mas, disse Deus então: Em Isaque será chamada a tua descendência — A saber, Isaque, não Ismael, será chamado tua semente; a semente para a qual se faz a promessa.

8. Isto é, Estes filhos não, etc. É como se tivesse dito: aqui temos um claro tipo das coisas do porvir; mostrando para nós que em todas as gerações futu­ras, não são os filhos da carne, os descendentes genealógicos de Abraão, mas os filhos da promessa, aqueles aos quais a promessa é feita, ou seja, os crentes são os filhos de Deus.

9. Porque esta é a palavra da promessa — Pelo poder pelo qual Isaque foi conce­bido, e não pelo poder da natureza. [A palavra] não é: Todo aquele que nasce de ti será abençoado, mas [ele diz]: Por esse tempo — Que agora deter­mino. Virei, e Sara terá um filho, o qual herdará a bênção.

10. E que a bênção de Deus não pertence a todos os descendentes de Abraão fica evidente, não só por este exemplo, como também quando pelo caso de

30 O comentário de Wesley exige a sua própria versão.

31 Wesley não inclui as palavras “de Deus” na sua tradução. No comentário ele as acrescenta, grifadas, como se fosse parte do texto bíblico, provavel­mente para deixar evidente a sua interpretação da passagem.

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Page 72: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

11. e ainda não eram os filhos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o m al (para que o propósito de Deus segundo a elei­ção perm anecesse firme, não por obras mas por aquele que chamou),

12. foi-lhe dito, (Gn 25.23) o mais velho será servo do mais moço.

13. Com o está escrito: Am ei a Jacó e m e aborreci de Esaú.14. Que direm os, pois? Há injustiça da parte de D eus? De modo

nenhum .

T

Esaú e Jacó, sendo que Jacó já fora escolhido para herdar a bênção, antes que qualquer dos dois tivesse praticado o bem ou o mal32. 0 apóstolo men­ciona isto para mostrar que nem os antepassados [dos judeus] foram acei­tos por causa de qualquer mérito próprio. Que o propósito de Deus quanto à eleição permanecesse firme — Sendo esse propósito o de eleger ou escolher a semente prometida. Não por obras — Não por causa de qualquer mérito antecedente da parte daquele a quem Deus escolheu. Mas por aquele que chamou — De acordo com a própria vontade daquele que chamou para tal privilégio aquele que ele próprio quis chamar.

12. O mais velho — Esaú. Será servo do mais moço — Não na sua própria pessoa, pois isto nunca aconteceu, mas na sua posteridade. Assim, os edomitas freqüentemente foram sujeitos aos israelitas.

13. Como está escrito — Com a palavra falada há tanto tempo em Gênesis, a de Malaquias concorda. Amei a Jacó — Com um amor peculiar; isto é, aos israelitas, à posteridade. Porém, comparativamente, me aborreci de Esaú — Isto é, dos edomitas, a posteridade de Esaú. Mas prestem atenção para: (1) Isto não diz respeito à pessoa de Jacó ou Esaú; (2) nem diz respeito ao esta­do eterno, deles próprios ou da sua descendência. Até aqui o apóstolo vem provando sua tese; a saber, que a exclusão de uma grande parte da descen­dência de Abraão, e mesmo de Isaque das promessas especiais de Deus, longe de ser impossível, já tinha realmente acontecido, conforme as Escri­turas. Ele agora passa a refutar uma objeção.

14. Há injustiça da parte de Deus? Deus será injusto pelo fato de dar a bênção a Jacó em vez de Esaú? Ou por aceitar crentes e estes tão-somente? De modo nenhum. Isto é bem coerente com a sua justiça, porque ele tem o direito de fixar as condições sob as quais ele mostrará misericórdia, consoante a sua declaração a Moisés, intercedendo por todo o povo depois de ter praticado a idolatria com o bezerro de ouro.

32 “O bem ou o mal” é citado do v. 11.

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15. P ois ele diz a M oisés: (Ex 23.19) Terei m isericórdia de quem m e aprouver ter m isericórdia, e com padecer-m e-ei de quem m e aprouver ter com paixão.

16. Assim , pois, não depende de quem quer, ou de quem corre, m as de Deus que faz misericórdia.

17. Além disso, a Escritura diz a Faraó: (Ex 9.18) Para isto m es­m o te levantei, para mostrar em ti o m eu poder, e para que o m eu nom e seja anunciado por toda a terra.

15. Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia — Conforme os termos que eu próprio estabeleci. E compadecer-me-ei de quem me aprouver ter com­paixão —A saber, aos que se submetem às minhas condições, que aceitam a compaixão da maneira que eu determinei.

16. A bênção, portanto, não depende de quem quer, ou de quem corre — Ela não resulta nem da vontade e nem das obras humanas, mas da graça e do po­der de Deus. A vontade do ser humano aqui se opõe à graça de Deus, e o seu correr à operação divina. Também esta declaração geral não se aplica apenas a Isaque, a Jacó e aos israelitas no tempo de Moisés, mas também a todos os seus descendentes, até ao fim do mundo.

17. Além disso — Deus tem o direito incontestável de rejeitar aqueles que se recusam a aceitar as bênçãos sob as condições dele. Ele exercitou tal direito no caso de Faraó; após muitos atos de teimosia e rebelião, Deus disse, como se encontra registrado na Escritura: Para isto mesmo te levantei — A saber, a não ser que tu te arrependas, isto certamente será a conseqüência do fato de ter eu te levantado, fazendo de ti um grande e glorioso monarca, para mostrar em ti o meu poder (como realmente aconteceu, por submergir a ele e ao seu exército no mar) e que meu nome seja anunciado por toda a terra — Como o é no dia de hoje. Isto pode ter ainda um outro sentido. Parece que Deus estava disposto a mostrar seu poder sobre o rio, os insetos, outros animais (bem como as causas de sua saúde, doenças, vida e morte), sobre os meteoros, o ar, o sol (os egípcios adoravam todas estas coisas e outras nações aprenderam destes as suas idolatrias), e, ao mesmo tempo, sobre seus deuses, por aquele terrível golpe, matando todos os seus sacerdotes e suas vítimas prediletas, os primogênitos dos seres humanos e das bestas- feras. Tudo isto se fez com o propósito não apenas de libertar seu povo Israel (para que uma só ação de onipotência teria sido suficiente), mas tam­bém de convencer os egípcios de que os objetos da sua adoração não pas­savam de criaturas de Jeová, inteiramente sob seu controle, e a atraí-los e

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Page 74: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

18. Logo, tem ele m isericórdia de quem quer, e tam bém endure­ce a quem lhe apraz.

19. Tu, porém , me dirás: De que se queixa ele ainda? Pois quem jam ais resistiu à sua vontade?

20. Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura pode o artefato perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim?

21. Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do m esmo barro fazer um vaso para honra e outro para desonra?

T

às nações vizinhas, as quais ouviriam de todas essas maravilhas, da sua idolatria e para a adoração do único [verdadeiro] Deus. Para a execução deste desígnio (visando à demonstração do poder divino sobre os vários objetos do seu culto, através de uma variedade de atos maravilhosos, que, ao mesmo tempo se constituíram em justas punições pela sua cruel pres­são dos israelitas), Deus se agradou em elevar ao trono de uma monarquia absoluta, um homem, não um homem que ele havia tomado iníquo de propósito, mas um que ele descobriu assim, o mais orgulhoso, o mais ou­sado e obstinado de todos os príncipes egípcios; e que, sendo incorrigível, bem mereceu ser colocado naquela situação na qual o juízo divino caiu pesadíssimo.

18. Jogo — Isto é, ele de fato mostra a misericórdia sob suas próprias condi­ções; a saber, aos que crêem. [Ele] endurece — Isto é, ele os abandona à du­reza de seu coração. A c\uem lhe apraz — A saber, os que não crêem.

19. De que se queixa ele ainda? O vocábulo ainda é fortemente expressivo da mur­muração mal-humorada e rabugenta daquele que faz a objeção. Pois quem jamais resistiu à sua vontade? — A palavra "sua" também expressa sua inso­lência e aversão a Deus, de quem ele nem se digna mencionar o nome.

20. Mas quem és tu, ó homem. Homem pequeno, impotente e ignorante. Para discutires com Deus? Ter que acusar Deus de injustiça, por ele próprio esta­belecer os termos sob as quais ele mostrará a misericórdia? Porventura pode o artefato perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? — Por que me fizeste capaz de honra e imortalidade só pela fé?

21. Ou não tem o oleiro direito sobre a massa? — E quanto mais não tem Deus direito sobre suas criaturas, para designar um vaso, a saber, o crente, para honra e um outro, a saber, o incrédulo, para desonrai Se examinar o direito que Deus tem sobre nós de um modo mais geral, no que tange às suas criaturas inteligentes, Deus pode ser considerado de dois ângulos diferentes: como

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22. Ora, se Deus querendo m ostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com m uita longanim idade os vasos de ira, preparados para a destruição.

23. E para que desse a conhecer as riquezas da sua g lória so ­bre vasos de m isericórdia, que para a glória preparou de antem ão,

Tcriador, proprietário e Senhor de tudo, ou como seu governador e juiz. Deus, na qualidade de Senhor soberano e Proprietário de tudo, dispensa seus dons ou favores com perfeita sabedoria, porém, não de acordo com quaisquer regras ou métodos que nos são familiares. A época em que nós existiremos, o país em que viveremos, nossos pais, a constituição do nosso corpo ou o feito mental: estas e inumeráveis outras circunstâncias são, sem dúvida, ordenadas com perfeita sabedoria; mas por regras que nos são invisíveis.Os métodos de Deus em tratar conosco como Governador e Juiz, porém, são claramente revelados e perfeitamente conhecidos; a saber, que ele, no fim, retribuirá a cada um conforme as suas obras [Mt 16.27]. "Quem crer será salvo: quem não crer será condenado" [Mc 16.16],Portanto, embora "ele tem misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz" [v. 18], isto é, ele permite que se endureçam como conse­qüência da sua maldade obstinada; mesmo assim, sua vontade não é a de um ser arbitrário, caprichoso e tirânico. Ele só deseja aquilo que é infinita­mente sábio e bom; por isso, sua vontade é uma regra justíssima de julga­mento. Mostrará misericórdia, como já nos assegurou, só aos verdadeiros crentes e nem endurecerá a ninguém, exceto os que obstinadamente recu­sam sua misericórdia.

22. Se Deus, querendo — Isto se refere aos w. 18-19. A saber, embora seja agora sua vontade, por causa da sua obstinada descrença. Mostrar a sua ira — A qual necessariamente pressupõe o pecado. E dar a conhecer o seu poder — Isto é repetido no v. 17. Suportou — Como fez com Faraó. Com muita longanimidade — A qual os deveria ter levado ao arrependimento. Os vasos da ira — Os que haviam movido sua ira por continuar a rejeitar a sua mise­ricórdia. Preparados para a destruição— Por causa de sua própria impenitênda voluntariosa. Haverá injustiça nisso?

23. Para que desse a conhecer — E se, por mostrar tal longanimidade mesmo aos "vasos da ira", ele mostrou mais abundantemente a grandeza da sua glorio­sa bondade, sabedoria e poder, aos vasos de misericórdia; aos que ele próprio, pela sua graça preparou para a glória. Existe nisso alguma injustiça?

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Page 76: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

24. os quais som os nós, a quem tam bém chamou, não só dentre os judeus, mas tam bém dentre os gentios?

25. Assim como tam bém diz em Oséias: (Os 2.23) Chamarei povo m eu ao que não era m eu povo; e, am ada à que não era m inha am ada;

26. e no lugar em que se lhes disse: (Os 1.10) Vós não sois meu povo; ali m esm o serão cham ados filhos do Deus vivo.

27. M as Isaías testifica, concernente a Israel: (Is 10.22-23) Ainda que o núm ero dos filhos de Israel seja como a areia do mar, só o rem anescente é que será salvo.

28. Porque o Senhor cumprirá a sua palavra sobre a terra, cabal­mente e em breve; porque o Senhor, em breve, executará sua sentença sobre a terra.

29. Com o Isaías já disse: Se o Senhor dos Exércitos não nos tives­se d eixad o um a sem ente, ter-n o s-íam os torn ad o com o Sodom a e sem elhantes a Gomorra.

▼24. Os quais somos nós— Aqui o apóstolo chega à outra proposição, a da graça

livre para todos, quer judeu, quer gentio. Dentre os judeus — De que ele trata no v. 20. Dentre os gentios — Tratado no mesmo verso.

25. Amada — Como esposa. À que antes não era amada — Conseqüentemente, não eleita incondicionalmente.

26. Ali mesmo serão chamados filhos de Deus — Assim, eles não precisam deixar seu próprio país e vir à Judéia.

27. Mas Isaías testifica que (assim como muitos gentios serão aceitos) muitos judeus serão rejeitados e que de todos os milhares de Israel, só o remanescen­te é que será salvo. Isto foi falado originalmente dos poucos que foram pou­pados da destruição pelo exército de Senaqueribe.

28. Porque o Senhor cumprirá a sua palavra33 —Agindo com rigorosa justiça, ele dei­xará apenas um pequeno remanescente. Haverá uma destruição tão genera­lizada que apenas poucos escaparão.

29. Como Isaías já disse — A saber, em Isaías 1.9 [e 7.1], que se refere aos que foram sitiados em Jerusalém por Rezim e Peca. Se o Senhor não nos tivesse

33 O sentido do texto na KJV e também no de Wesley é um tanto difícil de interpretar. Por ser bem mais claro, aqui seguimos Almeida.

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30. Que direm os pois? Que os gentios, que não buscavam a jus­tiça, vieram a alcançá-la, todavia a que decorre da fé;

31. ao passo que Israel, procurando uma lei de justiça, não che­gou a atingir essa lei.

32. E por quê? Porque não a procuraram pela fé, e sim, como que pelas obras. Tropeçaram na pedra de tropeço.

33. Com o está escrito: (Is 8.14) Eis que ponho em Sião um a pe­dra de tropeço e rocha de escândalo, (Is 28.11) mas quem nela crer, não será confundido.

T

deixado descendência — O que significa (1) a carência presente e (2) a abun­dância futura. Ter-nos-íamos tomado como Sodoma — Portanto, o revoltar-se contra Deus pela maioria da nação judaica e a conseqüente morte nos seus pecados não são coisas sem precedente.

30. Que diremos pois? O que devemos conduir de tudo isso, a não ser que os gentios, que não buscavam a justiça — Os quais antigamente não tinham co­nhecimento da justiça e nem se preocupavam com ela. Vieram a alcançá-la— ou seja, a justificação. Todavia a justiça que decorre da fé — Eis a primeira conclusão que devemos tirar das observações anteriores.

31. A segunda é que Israel (os judeus), procurando uma lei da justiça, a lei que, devidamente empregada, teria levado esse povo à fé e, daí, à justiça. Não chegou a atingir essa lei — A saber, não alcançaram aquela justiça ou justifi­cação que é o único grande fim da lei.

32. Por quê? — Será porque Deus decretou eternamente que não a atingissem? Não encontramos aqui coisa semelhante; mas, coerente com o seu argu­mento, o apóstolo nos dá uma boa explicação: Porque não a procuraram pela f é —A única maneira de atingi-la. E, sim, como que pelas obras — Com efeito, se não declaradamente, das obras. Porque tropeçaram na pedra de tropeço — Isto é, Cristo crucificado [Cf. IPe 1.8].

33. Como está escrito — Prenunciado pelo vosso próprio profeta [Isaías], Eis que ponho em Sião — Exibo na minha Igreja aquilo que embora realmente sendo o único seguro fundamento da felicidade, mesmo assim será uma pedra de tropeço e rocha de escândalo — Isto é, a ocasião de ruína para muitos, por causa da sua incredulidade obstinada.

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Page 78: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

RO M AN O S 10

1. Irm ãos, a boa vontade do meu coração e a m inha súplica a Deus a favor deles é para que sejam salvos.

2. Porque lhes dou testem unho de que eles têm zelo por Deus, porém não com entendimento.

3. Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à justiça de Deus.

4. Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê.5. Ora, M oisés descreve a justiça que é pela lei, (Lv 18.5) aquele

que pratica estas coisas viverá por elas.6. M as a justiça que é pela fé assim diz: (Dt 30.14) Não pergun­

tes em teu coração: Quem subirá ao céu? (isto é, para trazer do alto a Cristo);

▼ Notas

1. Minha súplica a Deus é para que sejam salvos. Ele não teria orado assim, se eles fossem totalmente reprovados.

2. Eles têm zelo, porém não com entendimento — Eles tinham zelo sem entendi­mento; nós temos entendimento sem zelo.

3. Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus — Isto é, do modo que Deus esta­belecera para a justificação do pecador. E procurando estabelecer a sua própria [justiça] — Seu próprio modo de aceitação por Deus. Não se sujeitaram à que vem de Deus — O caminho da justificação que ele estabeleceu.

4. Porque o fim da lei é Cristo — A saber, seu escopo e sua finalidade. É o pró­prio desígnio da lei de levar pessoas a crerem em Cristo para a justificação e a salvação. E só ele concede o perdão e a vida que a lei revela estarem faltando, mas que ela não pode dar. De todo aquele — Quer judeu, quer gentio (assunto tratado nos w. 11-12) que crê— Tratado nos vv. 5-6.

5. Ora, Moisés descreve a única justiça que é pela lei, quando diz: O homem que praticar essas coisas viverá por elas — Isto é, aquele que guarda todos esses preceitos em todos os pontos, ele, e só ele, pode reclamar vida e salvação por preceitos. Mas este método de justificação é impossível a qualquer um que já transgrediu qualquer lei em qualquer ponto.

6-7. Mas a justiça que é pela fé — O método de se tomar justo pelo ato de crer. Fala um idioma muito diferente, e [tal justiça] pode ser entendida como

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Page 79: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

7. ou: Quem descerá ao abismo? (isto é, para levantar pela se­gunda vez a Cristo dentre os mortos).

8. M as o que é que ele diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé que pregamos.

9. Se com a tua boca confessares a Jesus com o Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os m ortos, se­rás salvo.

10. Porque com o coração se crê para justiça, e com a boca se confessa para salvação.

11. Porquanto a Escritura diz: (Is 28.16) Todo aquele que nele crê não será confundido.

12. Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o m esm o é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam .

expressando-se desta maneira para adaptar ao nosso presente assunto as palavras que Moisés falar, no tocante à clareza da sua lei: Não perguntes em teu coração: quem subirá ao céu ? Como que para trazer do alto a Cristo: ou, quem descerá ao abismo? Como que para levantar a Cristo dentre os mortos — Não penses que estas coisas devem ser feitas agora, a fim de conseguir teu perdão e salvação.

8. Porém, que é que ele diz [Isto é] Moisés? Ele diz estas palavras, tão maravi­lhosamente aplicáveis ao assunto perante nós. Tudo está pronto e à tua mão. A palavra está perto de ti — Ao teu alcance, fácil de se entender, lem­brar e praticar. Isto é iminentemente verdadeiro no caso da palavra da fé, o evangelho, que pregamos — O cerne é: Se o teu coração crer em Cristo e tua vida o confessar, tu serás salvo34.

9. Se com a tua boca confessares —Mesmo em meio à perseguição, quando se­melhante confissão pode te levar aos leões.

10. Porque com o coração — Não só com o entendimento. Se crê para justiça — Para obter a justificação. E com a boca se confessa — Visando obter a salvação final. Neste lugar, "confissão" significa toda a religião exterior; e a fé signi­fica a raiz de toda a religião íntima.

12. O mesmo Senhor de todos é rico — De forma que suas bênçãos nunca se esgo­tam, nem é ele jamais obrigado a deter sua mão [por falta de bênçãos a

34 A citação é realmente At 30.12-14.

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Page 80: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

13. Porque: (Joel 2.32) Todo aquele que invocar o nom e do Se­nhor, será salvo.

14. Como, porém, invocarão aquele em que não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?

15. E com o pregarão se não forem enviados? Com o está escrito: (Is 52.7) Quão form osos são os pés dos que anunciam boas novas de paz, que trazem alegres notícias de coisas boas.

16. M as nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: (Is 53.1) Senhor, quem acreditou na nossa pregação?

17. E assim , a fé vem pela pregação, e a pregação pela palavra de Cristo.

18. M as pergunto: Porventura não ouviram? Sim, por certo: (SI 19.4) Por toda a terra se fez ouvir a sua voz, e as suas pala­vras até aos confins do mundo.

T

distribuir]. A grande verdade colocada no v. 11 é de tal forma repetida aqui, bem como no décimo-terceiro e confirmado (w. 14-15), a não só encerrar [a verdade] que "todo aquele que invocar o seu nome será salvo", [v. 13] como também sugere que a vontade Deus é que todos lhe invoquem o nome para sua salvação35.

15. Mas como pregarão se não forem enviados? Por uma corrente de raciocínio, a partir da vontade de que também os gentios deveriam "invocar-lhe o nome", Paulo deduz que os apóstolos foram enviados por Deus para pregar tam­bém aos gentios. Os pés — Suas próprias pegadas: sua vinda.

17. A fé, na verdade, geralmente, vem pelo ouvir [da pregação do Evangelho], isto é, pelo ouvir da palavra de Deus36.

18. Mas sua descrença não se devia à falta de ter ouvido. Porque ouviram. Sim, por certo— Tantas nações já ouviram os pregadores do evangelho, que pos­so em certo sentido dizer deles como Davi falou das luzes do céu37.

35 O termo de Wesley é “savingly”.36 Wesley segue a KJV aqui. O vocábulo cikot] significa tanto o ouvir/ouvido

como a coisa ouvida (a mensagem, a pregação). Muitas versões moder­nas, como Almeida, seguem a segunda tradução.

37 Wesley alude ao SI 136.7: Rendei graças... aquele que fez os grandes luminares, porque a sua misericórdia dura para sempre.

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Page 81: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

19. Pergunto mais: Porventura não terá chegado isso ao conhe­cimento de Israel? Primeiro Moisés diz: (Dt 32.21) Eu vos pro­vocarei a ciúm es por m eio daqueles que não são um a nação; por uma nação insensata vos provocarei à ira.

20. M as Isaías é mais ousado e diz: (Is 55.1-2) Fui achado pelos que não m e procuravam , revelei-me aos que não pergunta­vam por mim.

21. Quanto a Israel, porém, diz: Todo o dia estendi as m inhas m ãos a um povo descrente e contradizente.

19. Porventura não será chegado isso ao conhecimento de Israel? Eles deveriam ter sabido, da parte de Moisés e Isaías, que muitos dos gentios seriam recebi­dos e muitos dos judeus sujeitados. Eu vos provocarei a ciúmes por aqueles que não são uma nação — Como os judeus seguiam deuses que não eram deuses, assim ele aceitou em seu lugar uma nação que não era nação; a saber, uma nação que não tinha aliança com Deus. Uma nação insensata — Como são todos que não conhecem a Deus.

20. Mas Isaías é mais ousado e diz: E fala abertamente o que Moisés apenas sugeriu.

21. Um povo descrente e contradizente. Diametralmente contrário àqueles que criam com o coração e confessavam com a boca.

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RO M AN O S 11

1. Pergunto, pois: Terá Deus, porventura, rejeitado o seu povo? De m odo nenhum ; porque eu tam bém sou israelita da des­cendência de Abraão, da tribo de Benjam im .

2. Deus não rejeitou o seu povo a quem de antemão conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura refere a respeito de Elias, com o insta perante Deus contra Israel, dizendo:

3. (lR s 19.10) Senhor, m ataram os teus profetas, arrasaram os teus altares, e só fiquei, e procuram tirar-me a vida.

4. Que lhe disse, porém , a resposta divina? Reservei para mim sete m il hom ens, que não dobraram joelhos diante de Baal.

5. Assim , pois, tam bém agora, no tem po de hoje, sobrevive um rem anescente segundo a eleição da graça.

6. E se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça. E se for pelas obras, já não será pela graça; pelo contrário, obras já não são obras.

▼ Notas

1. Terá Deus, porventura, sujeitado todo o seu povo — Todo o Israel? De forma alguma! Pois já hoje existe "um remanescente" (v. 5) e posteriormente "todo o Israel será salvo" (v. 26).

2. Deus não rejeitou aquela parte do seu povo a quem ele de antemão conheceu — Falando segundo o modo dos homens. Porque, na realidade, conhecer e pré-conhecer são o mesmo para Deus, o qual conhece ou vê todas as coisas de uma só vez, da eternidade à eternidade. Ou não sabeis - Que, num caso paralelo, em meio a uma apostasia geral, quando Elias pensava que toda a nação houvesse caído em idolatria, Deus "sabia" existir "um remanescen­te" de verdadeiros adoradores?

4. [... Não dobraram joelhos diante] De Baal — Nem [a Baal] e nem aos bezer­ros de ouro.

5. Segundo a eleição da graça — Segundo aquele gracioso propósito de Deus, "aquele que crê será salvo" [Cf. Mc 16.16, já citado acima, referente a Rm 9.21],

6. E se é pela graça, já não é pelas obras — Quer cerimoniais, quer morais. Do contrário já não é graça — A própria natureza da graça seria perdida. E se for

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Page 83: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

7. Que diremos, pois? O que Israel busca, isso não conseguiu; m as os eleitos alcançaram; e o resto foi tom ado cego.

8. Com o está escrito: (Is 29.16) Deus lhes deu espírito de entor­pecim ento, olhos para não ver e ouvidos para não ouvir, até ao dia de hoje.

9. E diz Davi: (SI 69.22-23) Tome-se-lhes a m esa em laço e ar­madilha, em tropeço e punição;

10. Escureçam-se-lhes os olhos para que não vejam, e fiquem para sem pre encurvadas as suas costas.

11. Pergunto, pois: Porventura tropeçaram para que caíssem ? De m odo nenhum ; m as pela sua queda veio a salvação aos gentios, para pô-los em ciúmes.

pelas obras, já não será pela graça: pelo contrário, obras já não são obras. Pois a sua própria natureza será destruída38. Há algo tão completamente contrá­rio entre ser justificado pela graça e ser justificado pelas obras que, se al­guém defende um desses pronunciamentos, necessariamente exclui o ou­tro. Porque o que se dá pelas obras é o pagamento de uma dívida, enquan­to a graça pressupõe um favor imerecido. Portanto, o mesmo benefício não pode, pela própria natureza das coisas, resultar de ambos [graça e obras].

7. Que diremos pois? — Qual a conclusão de tudo isso? É a seguinte: que Israel na sua totalidade não conseguiu a justificação; mas somente os israelitas que crêem. E o resto foi tornado cego — Por causa do seu próprio preconceito voluntarioso.

8. Deus finalmente retirou o seu Espírito e os entregou a um espirito de entor­pecimento; esta profecia [de Isaías] é cumprida até ao dia de hoje.

9. E diz Davi— Naquela maldição profética que é aplicável a eles bem como a Judas. Punição— Pela sua maldade anterior. Assim o pecado é punido pelo pecado; portanto, o evangelho, o qual deveria ter alimentado e fortalecido suas almas, se tomou um meio de destruí-las.

11. Porventura tropeçaram para que caíssem — Total e finalmente. De modo ne­nhum. Mas pela sua queda — ou deslize — é uma palavra muito branda no original. Veio a salvação aos gentios — Atos 13.46 é um exemplo disso. Para pô-los em ciúmes — Isto é, os próprios judeus.

38 Esta parte que não se encontra em Almeida consta da KJV e das Notas.

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Page 84: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

12. Ora, se a queda deles for a riqueza do m undo e a sua perda a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude?

13. D irijo-m e a vós outros, que sois gentios! Visto, pois, que eu sou apóstolo dos gentios, honro o m eu m inistério,

14. para ver se de algum m odo posso incitar à em ulação os da m inha carne, e salvar alguns deles.

15. Porque, se o fato de terem sido eles rejeitados trouxe reconci­liação ao mundo, que será o seu restabelecimento, senão vida dos m ortos?

16. E, se forem santas as primícias da massa, igualm ente o será a sua totalidade; se for santa a raiz, tam bém os ram os o serão.

12. A primeira parte deste verso é tratada em 13-14; a última parte, Quanto mais a sua plenitude? (Isto é, a plena conversão dos judeus nos vv. 23-24). Tantas profecias apontam para esse grande evento que é surpreendente que qualquer cristão possa dele duvidar. E as profecias são abundante­mente confirmadas pela maravilhosa preservação dos judeus como um povo distinto até hoje. Quando for completada, será tão forte demonstra­ção [da verdade tanto do Antigo Testamento quanto do Novo Testamen­to] que, sem dúvida, convencerá milhares de deístas em países nominal­mente cristãos, dos quais haverá, é claro, crescentes multidões entre cris­tãos meramente nominais. E isto será um meio de propagar o evangelho rapidamente entre os maometanos e pagãos. Eles provavelmente teriam recebido o evangelho há muito tempo, se tivessem tido contato só com cristãos genuínos.

13. Eu honro o meu ministério — Longe de me envergonhar de ministrar aos gentios, eu me alegro nisso; e tanto mais prontamente porque tal ministé­rio pode ser um meio de provocar ciúmes em meus irmãos.

14. Da minha carne — Meus parentes.

15. Vida dos mortos — Vida superabundante para o mundo, que estava morto.

16. E isto certamente acontecerá. Se forem santas as primícias, igualmente o será a sua totalidade — a consagração daquelas era considerada a consagração da totalidade; assim, a conversão de alguns poucos judeus é um penhor da conversão de todo o resto. Se foi santa a raiz— Os patriarcas de onde se originam; por certo Deus finalmente tornará os descendentes santos tam­bém.

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Page 85: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

17. Se, porém , alguns dos ram os foram quebrados, e tu, sendo oliveira brava, foste enxertado em meio deles, e te tornaste participante da raiz e da seiva da oliveira,

18. não te glories contra os ramos; porém se te gloriares, [sabe que]39 não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti.

19. Dirás, pois: Alguns ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado.

20. Bem! Pela sua incredulidade foram quebrados; tu, porém, m ediante a fé estás firme. Não te ensoberbeças, mas teme.

21. Porque se Deus não poupou os ramos naturais, tenha cuida­do que tam bém ele não te poupe.

22. Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus; para com os que caíram, severidade; mas para contigo, a bondade de Deus, se nela perm aneceres; doutra sorte tam bém tu serás cortado.

17. Tu — Ó gentio. Sendo oliveira brava — Se o enxerto fosse mais nobre que o tronco, mesmo assim a sua dependência para a vida e o sustento o deixa­ria sem espaço para se jactar contra o tronco. Quanto menos, quando, contrariamente à prática comum das pessoas, a oliveira brava é enxerta­da em tronco bom!

18. Não te glories contra os ramos — Não fazem isto os que desprezam os ju­deus? Ou negam a futura conversão deles?

20. Bem! Pela sua incredulidade foram quebrados; tu, porém, mediante a fé estás firme— Ambos de modo condicional e não absoluto; se fosse absolutamente, poderia ter havido espaço a se vangloriar. Mediante a fé — Pelo livre dom de Deus, o que, portanto, te deveria tomar humilde.

21. Não te ensoberbeças, mas teme40 — Devemos notar que o temor aqui não é o oposto da confiança, mas do orgulho e da [falsa] esperança [Cf. v. 20].

22. Doutra sorte tu também serás — Também, tu que agora "mediante a fé estás firme", tanto total como finalmente cortado.

39 Acrescentamos, com Almeida, as palavras “sabe que”, para mais clare­za de sentido.

40 Isto é, do v. 20, mesmo na KJV.

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Page 86: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

23. Eles tam bém , se não perm anecerem na incredulidade, serão enxertados; pois Deus é poderoso para os enxertar de novo.

24. Pois se foste cortado da que, por natureza, era oliveira brava, e contra a natureza enxertado em boa oliveira, quanto mais não serão enxertados na sua própria oliveira aqueles que são ram os naturais!

25. Porque não quero, irmãos, que ignoreis este m inistério, para que não vos tenhais na conta de sáb ios41, que veio endureci­m ento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios.E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: (Is 59.20) Virá de Sião o Libertador, ele apartará de Jacó as impiedades.

27. Esta é a m inha aliança com eles, quando eu tirar os seus pe­cados.

28. Q uanto ao evangelho, são eles inim igos por vossa causa; quanto, porém, à eleição, am ados por causa dos patriarcas;

24. Contra a natureza — Pois segundo a natureza, nós enxertamos o ramo frutífero no tronco bravo; mas aqui o ramo bravo é enxertado no tronco frutífero.

25. Paulo chama toda a verdade, conhecida só a poucos, um mistério. Tal fora outrora o chamado dos gentios; tal era agora a conversão dos judeus. Para que não vos tenhais na conta de sábios [Cf. Pv 26.12], orgulhosos das presentes vantagens, sonhando que vós sejais a única igreja ou que a Igreja de Roma não pode falhar. Veio endurecimento em parte a Israel, até que— Israel, portan­to, nem é total nem finalmente rejeitado. Haja entrado a plenitude dos gentios — Até que haja uma vasta colheita entre os pagãos.

26. E assim todo o Israel será salvo — Sendo convencido pela vinda dos gentios. Mas haverá uma colheita ainda maior entre os gentios, quando todo o Is­rael entrar. Virá o Libertador — Na realidade, o Libertador já chegou: mas não o pleno fruto da sua vinda.

28. São eles agora inimigos — Do evangelho de Deus e deles próprios, tudo isto sendo permitido por Deus. Por vossa causa; quanto, porém, a eleição— Aque­la porção deles que crê e é amada.

H v- ‘ ■ •

41 A mesma expressão ocorre em Rm 12.16.

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Page 87: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

29. porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento.

30. Porque assim como vós também outrora fostes desobedien­tes a Deus, mas agora alcançastes m isericórdia à vista da de­sobediência deles,

31. assim tam bém estes agora foram desobedientes, para que igualm ente eles alcancem misericórdia, à vista da que vos foi concedida.

32. Porque Deus a todos encerrou na desobediência, a fim de usar de m isericórdia para com todos.

33. Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria, como do co­nhecim ento de Deus! Quão insondáveis são os seus ju ízos e quão inescrutáveis os seus caminhos!

29. Porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis— Deus não se arrepende42 dos seus dons para os judeus ou sua vocação dos gentios.

32. Porque Deus a todos encenou na desobediência — Permitindo cada um, por sua vez, a se revoltar contra ele. Primeiro, na antiguidade, Deus permitiu aos gentios revoltarem-se e tomou a família de Abraão como uma semente peculiar para si. Depois, ele os deixou a cair, através da sua descrença, e recebeu os gentios, incrédulos. E ele chegou a fazer isto para provocar ciú­mes aos judeus e assim finalmente trazê-los também à fé. Este foi deveras um mistério na conduta divina, a qual o apóstolo adora com tão santa ad­miração.

33. Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e do conhecimento de Deus. No capítulo nono, Paulo navegara apenas num mar estreito; agora ele se encontra no oceano. A profundidade das riquezas ele descreve no v. 33; a profundidade da sabedoria, no v. 34; a profundidade do conhecimento, na última parte do pre­sente verso. A sabedoria governa todas as coisas para o melhor fim; o conhe­cimento vê esse fim. Quão insondáveis são os seus juízos — No tocante a des­crentes. Seus caminhos — No tocante a crentes. Seus caminhos estão num nível elevado43; seus juízos são "um abismo profundo" (SI 36.6). Mas mes­mo seus caminhos nos são inescrutáveis.

42 No sentido literal do termo, ele não mudará sua mente sobre a questão de dons e vocação.

43 Isto é, não acidentados

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Page 88: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

34. (Is 40.13) Quem , pois, conheceu a m ente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro?

35. O u quem prim eiro deu a ele para que lhe venha a ser res­titu ído?

36. Porque dele e por meio dele e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém.

▼34. Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? — Antes ou além da sua própria

revelação.35. Ou quem primeiro deu a ele — Quer sabedoria, quer poder?

36. Dele — Como criador. Por ansiedade— Como preservador. Para ele— Como o fim último, são todas as coisas. A ele, pois, a glória das suas riquezas, sabe­doria e conhecimento. Amém— Uma palavra de conclusão, na qual a emo­ção do apóstolo, tendo alcançado seu auge, encerra tudo.

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Page 89: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

ROM ANOS 12

1. Exorto-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agra­dável a Deus, que é o vosso culto racional.

2. E não vos conform eis com este mundo, mais transform ai- vos pela renovação da vossa mente, para que experim enteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

▼ Notas

1. Exorto-vos — Paulo costuma adaptar suas exortações às doutrinas que ele vem expondo. Assim neste lugar o uso geral do todo é contido nos vv. 1 e 2. Os usos particulares vêm depois, desde o v. 3 até o fim da epístola. Pelas tenras misericórdias de Deus — Todo o sentimento aqui é derivado dos capí­tulos de 1 a 4 de Romanos. A própria expressão é precisamente oposta à ira de Deus (Rm 1.18). Abarca aqui o evangelho todo, toda a economia (opera­ção) da graça e da misericórdia, livrando-nos da "ira de Deus" e nos im­pulsionando a todo o dever. Que apresenteis — Isto (Rm 6.13 e 16.19)44 sig­nifica de fato mostrar [o corpo] diante de Deus. Os vossos corpos — Isto é, a nós mesmos; uma parte é colocada pelo todo; e isto com mais propriedade, porque no antigo sacrifício de animais o corpo realmente era tudo. Tam­bém os corpos são especificados em oposição àquele desprezível abuso do corpo mencionado em Rm 1.24. Seguem-se diversas expressões que, de igual modo, são uma referência direta a outras expressões no mesmo capí­tulo. Por sacrifício — Morto para o pecado; e vivo — Por aquela vida que é mencionada (Rm 1.17,6.4 etc.) Santo— Tal qual a lei exige (Rm 7.12). Agra­dável — Rm 8.8. Que é o vosso culto racional — A adoração dos pagãos era totalmente irracional (Rm 1.8-9); o mesmo se deu com a jactância dos ju­deus (Rm 2.3-4). Os cristãos, pelo contrário, agem em todas as coisas a partir da razão mais elevada, inferindo o seu dever da misericórdia de Deus.

2. £ não vos conformeis — Quer em juízo, espírito ou comportamento. Com este mundo— Pois ele negligencia a vontade de Deus e busca a sua própria. Para que experimenteis — Para conhecerdes por experiência própria; isto se toma fácil para aquele que desta forma se apresenta a Deus. Qual seja a boa, agradá-

44 A idéia da entrega do corpo e do ser a Deus e não ao maligno está presen­te nos versos mencionados, não, porém, o vocábulo “apresentar”.

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Page 90: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

3. Porque pela graça que m e fo i dada, digo a cada um den­tre vós que não pense em si m esm o além do que convém , antes, pense com m oderação segundo a m edida da fé que D eus repartiu a cada um.

4. Porque assim com o num só corpo tem os muitos membros, m as nem todos os membros têm a m esm a função;

5. assim tam bém nós, conquanto muitos, som os um corpo em Cristo, e m em bros uns dos outros,

6. tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos é dada: se profecia, seja segundo a analogia da fé;

vel e perfeita vontade de Deus — A vontade de Deus deve ser entendida aqui como toda a parte preceptiva do cristianismo que é, em si mesma, tão exce­lentemente boa, tão agradável a Deus e tão aperfeiçoada da nossa natureza.

3. Digo — Ele agora procede a mostrar o que é aquela vontade de Deus. Pela graça que me foi dada — Ele acrescenta isto, por modéstia, para não parecer que se esquecia da sua própria exortação. A cada um dentre vós — Crentes em Roma. Felizes, se tivessem sempre mantido esse presente: a medida da fé— [assunto] tratado no primeiro e nos capítulos seguintes, [o dom] do qual os outros dons e graças procedem.

5. Assim também nós — Todos os crentes. Somos um só corpo — Intimamente interligados em Cristo, e, conseqüentemente, devemos ajudar um ao outro.

6. Tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada — Os dons sãovários; a graça é uma só. Se profecia — Ela, considerada um dom extraordi­nário, é o dom pelo qual os mistérios celestiais são declarados aos homens ou coisas do porvir são preditas. Mas aqui parece significar o dom comum de expor as Escrituras. Profetizamos segundo a analogia45 da fé. Pedro o ex­pressa assim: "de acordo com os oráculos de Deus"; [IPe 4.11] segundo o teor geral deles; de acordo com o grande sistema de doutrina que é apre­sentado neles, no tocante ao pecado original, justificação pela fé e presente, íntima salvação. Há uma maravilhosa analogia entre todos eles; e uma vez por todas foi entregue aos Santos." [Judas 3] Cada artigo [de doutrina], portanto, no tocante a qualquer questão, deve ser decidido segundo esta regra; toda a escritura em dúvida [deve ser] interpretada de acordo com as grandes verdades que perpassem o todo.

45 Wesley usa analogia aqui, uma tradução sem dúvida influenciada pelo grego original avakoyía, cuja tradução comum é proporção.

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Page 91: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

7. Se m inistério, dedique-se ao ministério, se ensino, ensinan­do;

8. se exortação, exortando; o que contribui, com sim plicidade; o que preside, com diligência; quem exerce misericórdia, com alegria46.

9. O am or seja sem dissimulação. Detestai o mal, apegando- vos ao bem.

10. Am ai-vos cordialm ente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros.

11. [Sede] d iligentes em vossos afazeres [e] fervorosos de esp írito , serv in d o ao Senhor;

7. Se ministério — Como diáconos. Se ensino — Catecúmenos; para os quais instrutores particulares eram nomeados. Se exortação47 — Cuja responsabili­dade particular era incentivar os cristãos ao serviço e a confortá-los nas suas tribulações.

8. O que preside — Aquele que cuida do rebanho. Quem exerce misericórdia — De todas as maneiras. Com alegria — Regozijando-se quem tem tal oportu­nidade.

9. Tendo falado da fé e seu fruto (v. 3 e seguintes), ele chega agora ao amor. Os vv. 9,10 e 11 se referem ao capítulo 7; o v. 12, ao capítulo 8, e o v. 13, que trata da partilha com os santos, quer judeus, quer gentios, ao capítulo 9 e o seguinte. Uma parte do v. 16 é a repetição de 11.25. Detestai o mal, apegando- vos ao bem — Tanto interior como exteriormente, apesar da má vontade ou perigo que possa resultar.

10. Preferindo-vos em honra uns aos outros — O que fareis se habitualmente considerais o que é bom nos outros e o que é mau em vós mesmos?

11. Tudo quanto fazeis, fazei-o conforme as vossas forças [cf. Ec 9.10]. Em to­dos os afazeres, [estejai] diligente e fervorosamente servindo ao Senhor — Fazendo tudo para Deus, não para o ser humano.

46 Pressupõe-se aqui (w. 7 e 8) que cada crente em Cristo Jesus deve exercer ao máximo o dom que Deus lhe dá. Wesley insere, com a KJV, a expressão wait uporr, ou seja, “dediquemo-nos a” que, em certo sentido, se aplica a cada serviço mencionado.

47 É do v. 8.

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Page 92: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

12. regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, na oração, perseverantes;

13. com partilhai as necessidades dos santos; praticai diligente­m ente a hospitalidade;

14. abençoai os que vos perseguem , abençoai, e não amaldiçoeis.15. Alegrai-vos com os que se alegram, e chorai com os que choram.16. Tende a m esm a estim a uns pelos outros. Não vos preocupeis

com as coisas tidas por grandes, mas condescendei com o que é hum ilde; não vos tenhais na conta de sábios.

17. N ão tom eis a ninguém m al por mal; pensai antes, para que o vosso com portam ento público esteja acima da crítica.

18. Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os hom ens;

19. não vos vingueis a vós mesmos, caríssim os, m as dai lugar à ira; porque está escrito: (At 32.35) A mim me pertence a vin­gança; eu retribuirei, diz o Senhor.

12. Regozijai-vos na esperança — Da perfeita santidade e da feliddade eterna. Até aqui [Paulo vem tratando] da fé e do amor; agora também da esperança [vide os capítulos 5 e 8]; depois [tratará] dos deveres para com os outros: para os santos (v. 13); perseguidores (v. 14); amigos, estrangeiros, inimigos (w. 15 em diante).

13. Compartilhai as necessidades dos santos — Aliviai as necessidades de todos que estão na penúria. É digno de nota que o apóstolo, tratando expressa­mente dos deveres que provêm da comunhão dos santos, não diz sequer uma palavra sobre os mortos. Diligentemente pratica a hospitalidade — Não apenas aproveitando-vos das oportunidades oferecidas, mas buscando opor­

. tunidades para praticá-la.14. Não amaldiçoeis — Nem mesmo no coração.15. Alegrai-vos — O oposto direto do choro é o riso, mas isto não convém exata­

mente ao cristão.16. Não vos preocupeis com as coisas grandes— Não deveis desejar riqueza, honra

ou a companhia dos grandes.17. Pensai antes — Fazei todo o possível para não ofender os outros.19. Caríssimos — Assim ele abranda o espírito rude. Não vos vingueis a vós

mesmos, mas deixai isto com Deus. Possivelmente a frase poderia ser com

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Page 93: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

20. Pelo contrário, (Pv 25.21) se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, am ontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça.

21. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.

maior propriedade traduzida por: "dai lugar à ira"; isto é, à ira de Deus, ao qual a vingança realmente pertence.

20. Dá-lhe de comer — Com a tua própria mão: sendo necessário, pondo o pão na sua boca. Amontoarás brasas vivas sobre sua cabeça — A sua parte mais sensível.

Assim os artesãos derretem o inexpressivo minério de chumbo, amontoando brasas vivas sobre a sua cabeça; no bondoso calor, o metal aprende a brilhar e a prata, purificada da escória, flui abaixo.

21. E se não vês fruto no presente, persevera. Não te deixes vencer do mal — Como são todos que vingam a si mesmos. Mas vence o mal com o bem — Vence teus inimigos pela bondade e paciência.

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Page 94: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

ROM ANO S 13

1. Que todos estejam sujeitos às autoridades superiores; por­que não há autoridade que não proceda de Deus; e as autori­dades que existem foram por ele instituídas.

2. De m odo que aquele que se opõe à autoridade, resiste à or­denação de Deus; e os que resistem receberão para si m es­m os condenação.

3. Porque os governantes são um terror, não para boas obras, mas para as m ás obras. Queres tu não tem er a autoridade? Faze o bem , e terás louvor dela;

▼ Notas

1. Paulo, escrevendo aos romanos, cuja cidade era a sede do império, fala muito de obediência aos magistrados, e isto era também, com efeito, uma pública apologia da religião cristã. Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores— Uma advertência particularmente necessária para os judeus. Autoridade, no singular, é a autoridade suprema; autoridades [no plural] são as pessoas investidas de autoridade. Aquela é mais prontamente re­conhecida como sendo de Deus do que esta. O apóstolo afirma com res­peito às duas: todas [autoridades] são de Deus, o qual constituiu toda [autoridade] em providência geral, e permite cada uma em particular pela sua providência. /Is autoridades que existem foram por ele instituídas. Esta frase poderia ser traduzida: se subordinam a [Deus] ou estão ordenadamente dispostas abaixo de Deus; isto indica que são despertados ou vicergente de Deus; visto que o poder deles é com efeito de Deus, tal poder exige nossa obediência consciente.

2. De modo que aquele que se opõe à autoridade — De qualquer maneira diferente daquela que as leis da comunidade ordenam. Receberão para si mesmos con­denação — Não apenas do magistrado, como também de Deus.

3. Porque os governantes são — De modo geral, apesar de algumas exceções particulares. Um terror para as más obras— Tão-somente. Queres tu então não temer? Há um temor que antecede a ações más, e faz desviar delas: este deve sempre permanecer. Há, porém, um outro temor, que vem depois de más ações: aqueles que fazem o bem estão livres dele.

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Page 95: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

4. visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. En­tretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem m otivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal.

5. É necessário que lhe estejais sujeitos, não som ente [por cau­sa] da ira, m as tam bém por dever de consciência.

6. Por esse m otivo tam bém pagais tributos: porque são m i­n istros de D eus, atendendo constantem ente a este próprio assunto.

7. Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem direitos alfandegários, direitos alfandegários; a quem temor, tem or; a quem honra, honra.

8. A ninguém fiqueis devendo cousa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros: pois quem ama ao próxi­mo, tem cum prido a lei.

4. A espada— 0 instrumento dà pena de morte que Deus autoriza o magistra­do a infligir.

5. Não somente pelo temor da ira — Isto é, da punição infligida pelo homem. Mas também por dever de consciência — Que emana da obediência a Deus.

6. Por esse motivo — porque são ministros (ofidais) de Deus para o bem-estar público. A este serviço — O bem-estar público.

7. A todos— Os magistrados. Tributos— Impostos sobre nossa pessoa ou bens. Direitos alfandegários48 — sobre bens importados ou exportados. Temor — Obediência. Honra — Reverênda. Todas estas coisas são devidas ao poder supremo.

8. De nosso dever para com os magistrados, ele passa a deveres gerais. Amar um ao outro — Uma dívida eterna que nunca pode ser suficientemente sal­dada; se, porém, o amor for convenientemente praticado, ele salda todas as outras dívidas. Pois quem ama ao próximo — Como deve amá-lo. Já tem cumprido toda a lei, para com o próximo.

48 É interessante notar que Wesley sempre insistiu nesse ponto, chegando até a incluí-lo nas Regras Gerais. A tentação do contrabando era especial­mente forte em portos como o de Bristol.

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Page 96: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

9. Pois isto: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não di­rás falso testem unho, não cobiçarás, e se há qualquer outro m andam ento, tudo nesta palavra se resume: A m arás ao teu próxim o como a ti mesmo.

10. O am or não pratica o m al contra o próxim o; de sorte que o cum prim ento da lei é o amor.

11. E digo isto a vós outros que conheceis o tempo, que já é hora de vos despertardes do sono; porque a nossa salvação está agora m ais perto do que quando no princípio cremos.

12. Vai alta noite e vem chegando o dia. Deixem os, pois, as obras das trevas, e revistam o-nos da arm adura da luz.

9. Se há qualquer outro — Mais particular. Mandamento — Referente ao próxi­mo; como há muitos mandamentos na lei em geral. Tudo nesta palavra se resume — De forma que, se não tivesse tal mandamento presente, mas se o teu coração estivesse cheio de amor, tu o cumpririas.

10. De sorte que o cumprimento da lei é o amor — Porque o mesmo amor que nos coíbe de praticar o mal nos incita a praticar toda sorte de bem.

11. Efaze49 isto. Cumpre lei do amor em todas as dimensões acima menciona­das. Vós outros que conheceis o tempo — Cheio de graça, mas passageiro. Que já é hora de vos despertardes do sono — Quão belamente a metáfora se desen­volve. Esta vida, uma noite; a ressurreição, o dia; o evangelho brilhando sobre o coração, a aurora de um novo dia; estamos despertos do sono; para levantar e lançar fora a roupagem da noite, apropriada só para a escuridão, e colocar vestes novas; e, como soldados, cercados por tantos inimigos, de­vemos pegar em armas e preparar-nos para a batalha.O dia amanhece quando recebemos a fé, e então o sono se vai. Então é hora de levantar, pegar em armas, andar e trabalhar, para que o sono não nos domine de novo, paulatinamente. A salvação final, a glória, está mais perto de nós do que quando no princípio cremos — Ela avança continuamen­te, voando em frente sobre as mais rápidas asas do tempo. E o espaço entre a hora presente e a eternidade é, comparativamente, apenas um momento.

49 O verbo não aparece no grego. Wesley segue a KJV, mas as versões modernas geralmente não o fazem.

R o m a n o s 9 5

Page 97: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

13. A ndem os dignam ente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em con­tendas e ciúm es;

14. mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e nada disponhais para a carne, no tocante às suas concupiscências.

T

13. Orgias — Festas luxuriosas e elegantes.

14. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo — Nisto é contida a totalidade da nossa salvação. É uma forte e linda expressão da mais íntegra união com ele, e de estarmos revestidos de todas as graças que nele havia. O apóstolo não diz [literalmente]: "Revesti-vos de pureza e de sobriedade, mansidão e bene­volência"; mas ele diz tudo isto e mil vezes mais de uma vez ao dizer: Revesti-vos de Cristo. E nada disponhais para — Levantar desejos tolos ou, sendo esses levantados, satisfazê-los.

9 6 N o t a s E x p l i c a t i v a s

Page 98: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

RO M AN O S 14

1. Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões.

2. Um crê que de tudo pode comer, m as o débil come legumes,3. quem com e não despreze ao que não come; e o que não come

não ju lgue o que come, porque Deus o acolheu.4. Q uem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio

senhor está em pé ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é poderoso para o suster.

5. Um estim a um dia acim a do outro; outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja plenam ente persuadido em sua pró­pria m ente.

6. Quem distingue entre dia e dia, para o Senhor o distingue; e ele que não distingue, para o Senhor ele não o distingue. Q uem come, para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem não come, para o Senhor não come, e dá graças a Deus.

▼ Notas

1. Ao que é débil — Por causa de escrupulosidade exagerada. Acolhei — Com todo o amor e cortesia na comunhão cristã. Não, porém, para discutir opi­niões — Sobre pontos questionáveis.

2. Tudo— Toda a espécie de comida, mesmo aquela proibida pela lei [judaica].3. [Não] despreze ao que não come— Como escrupuloso demais ou supersticioso.

[Não] julgue o que come — Como profano, ou como tomando muitas liberda­des. Porque Deus o acolheu — Entre o número dos seus filhos, apesar disso.

5. [Um estima] um dia acima de um outro — Como luas novas e outras festas judaicas. Cada um esteja plenamente persuadido — Que a coisa em questão seja correta, antes de praticá-la.

6. Para o Senhor o distingue — A saber, de um princípio de consciência para Deus. Para o Senhor ele não o distingue50. Ele também age com um princípio de consciência. Quem não come carne. Dá graças a Deus pelos legumes que Deus providenciou.

50 Esta parte do verbo não aparece em Almeida, mas Wesley, segundo KJV, a mantém.

R o m a n o s 9 7

Page 99: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

7. Porque nenhum de nós vive para si m esm o, nem m orre para si.

8. Porque, se vivem os, para o Senhor vivem os; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivam os ou m orram os, som os do Senhor.

9. Foi precisam ente para esse fim que Cristo morreu e ressur­giu; para ser Senhor, tanto de mortos com o de vivos.

10. Tu, porém , por que julgas a teu irmão? E, tu, por que despre­zas o teu? Pois todos permanecemos perante o tribunal de Deus.

11. Com o está escrito: (Is 45.23) Por minha vida, diz o Senhor, diante de m im se dobrará todo joelho, e toda língua confes­sará a Deus.

12. Assim, pois, cada um de nós dará contas de si m esmo a Deus.13. Não nos julguem os mais uns aos outros; pelo contrário, tomai

o propósito de não pordes tropeço ou escândalo ao vosso irmão.

7. Porque nenhum de nós — Cristãos, nas coisas que fazemos. Vive para si mes­mo — Está a seu próprio dispor; faz a sua própria vontade.

10. Ou porque desprezar o teu [irmão]? Até aqui, o apóstolo tem falado para o irmão fraco [na fé]; agora ele fala para o mais forte.

11. [Juro] por minha vida — Um juramento próprio ao Senhor, porque só ele possui a vida infinita e independente. Aqui Cristo é chamado tanto Senhor e Deus, porque é para ele que vivemos e morremos. Toda língua confessará a Deus51 — Hão de reconhecê-lo como seu verdadeiro Senhor; o que só en­tão será realizado plenamente. O Senhor permita que achemos misericór­dia naquele dia; e que ela seja concedida àqueles que têm pensado diferen­temente de nós! Sim, mesmo os que nos censuraram e condenaram por coisas que fizeram no afã de agradá-lo, ou que nos recusamos a fazer, por medo de ofendê-lo.

13. Pelo contrário, tomai o propósito — Concernente a nós mesmos. De não pordes tropeço — Por incentivares o irmão a agir como tu, contrariando a cons­ciência dele, ou escândalo, fazendo-o odiar ou julgar a ti.

51 Wesley segue a KJV na tradução do grego.

9 8 N o t a s E x p l i c a t i v a s

Page 100: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

14. Eu sei, e disso estou persuadido pelo Senhor Jesus, que ne­nhum a coisa é de si m esm o impura, salvo para aquele que assim o considera; para esse é impura.

15. Se por causa de tua com ida o teu irm ão se entristece, já não andas segundo o am or fraternal. Por causa da tua com ida não faças perecer aquele a favor de quem Cristo morreu.

16. N ão seja, pois, vituperado o vosso bem.17. Porque o reino de Deus não é com ida nem bebida, mas justi­

ça, e paz, e alegria no Espírito Santo.18. A quele que deste m odo serve a Cristo, é agradável a Deus e

aprovado pelos homens.19. A ssim , pois, seguim os as coisas da paz e tam bém as da

edificação de uns para com os outros.

T

14. Estou persuadido pelo Senhor Jesus — Talvez por uma revelação particular. Que nenhuma coisa — Quer carne, quer legumes. É de si mesmo impura — Proibida ao cristão52.

15. Se o teu irmão se entristece — Isto é, [se] é prejudicado, conduzido ao pecado. Não faças perecer aquele a favor de quem Cristo morreu — Portanto aqui vemos que aquele por quem Cristo morreu pode ser destruído. Por causa da tua comida— Não valorizeis mais a tua comida do que Cristo valo­rizou a própria vida.

16. Não seja, pois, vituperado, o vosso bem — A saber, vossa liberdade lícita, por dar ofensa aos outros.

17. Porque o reino de Deus — A saber, a verdadeira religião, não consiste de cerimônia interna. Mas justiça — A imagem de Deus estampada no cora­ção; o amor para com Deus, para com o ser humano, acompanhado da paz que excede todo o entendimento [Fp 4.7] e alegria no Espírito Santo53.

18. Deste modo— Pela justiça, paz e alegria. Homens — Isto é, os homens sábios e bons.

19. Apaz e a edificação são intimamente ligadas. A teologia prática conduz igual­mente à paz e à edificação. A teologia apologética tende menos diretamen­te à edificação, embora, às vezes, nós, como aqueles da antiguidade, não podemos edificar sem ela (Ne 4.17).

52 No original, unlawful under the gospei53 Este texto era um dos textos prediletos de Wesley para a pregação.

R o m a n o s 9 9

Page 101: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

20. Não destruas a obra de Deus por causa da comida. Todas as coisas, na verdade, são limpas, mas é mau para o hom em o com er com escândalo.

21. É bom não com er carne, nem beber vinho, nem fazer qual­quer outra coisa com que teu irmão venha a se ofender.

22. Tens fé? Tem-na para ti m esm o perante Deus. Feliz é aquele que não se condena naquilo que aprova.

23. M as aquele que tem dúvidas, é condenado, se comer, porque o que faz não provém de fé; e tudo o que não provém de fé é pecado.

20. A obra de Deus — A qual Deus edifica na alma pela fé e na Igreja pela con­córdia. Mas é mau para o homem o comer com escândalo — De acordo a ofen­der uma outra pessoa pelo seu comer.

21. Seja causa de tropeço a teu irmão — Por imitar-te a ti, contra a consciência dele e contrário à justiça. Ou enfraquecido— Assim hesitando entre imita­ção e rejeição, resultando na perda daquela alegria no Senhor que fora sua força.

22. Tens fé que todas as coisas são puras? Tem-na para ti mesmo perante Deus — Em circunstâncias como estas, faze segredo disso para que não ofendas os outros por causa da tua convicção. Feliz é aquele que não se condena — Por um uso inconveniente de coisas em si inocentes e feliz aquele que está livre de uma consciência vacilante! O que tem uma consciência vacilante pode aprovar a coisa em questão e se condenar por causa dela.

23. Porque não provém da fé — Ele não crê que seja lícito; e, em todos os casos desta natureza, tudo que não provém de fé é pecado — Tudo quanto alguém faz sem uma plena convicção de que seja lícito é, para ele, pecado.

1 0 0 N o t a s E x p l i c a t i v a s

Page 102: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

ROM ANO S 15

f. .

1. Ora, nós que som os fortes, devemos suportar as debilidades dos fracos, e não agradar-nos a nós mesmos.

2. Que cada um de nós agrade ao próxim o para o bem dele, visando a edificação.

3. Porque Cristo não se agradou a si mesmo, antes, como está escrito: (SI 59.9) As injúrias dos que te ultrajavam , caíram sobre mim.

4. Pois tudo quanto outrora foi escrito, para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência, e pela consolação das Es­crituras, tenhamos esperança.

5. Ora, o Deus de paciência e consolação vos conceda o m esmo sentir de uns para com os outros, segundo Cristo Jesus,

6. para que vós, concordem ente e a uma voz, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.

7. Portanto acolhei-vos uns aos outros, como tam bém Cristo nos acolheu para a glória de Deus.

▼ Notas

1. Portanto nós que somos fortes — De raciocínio mais esmerado e livres desses escrúpulos. £ não agradar-nos a nós mesmos — Sem levar em conta os senti­mentos dos outros.

2. Para o bem dele — Esta é uma palavra geral: edificação e uma espécie de bem [geral].

3. Antes ele tomou sobre si não só as enfermidades [cf. Is 53.4] dos seus ir­mãos — mas também as injúrias que lhes pertenciam; e assim ele cumpriu a escritura citada.

4. Outrora — No Antigo Testamento, afim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança— Que através da consolação que Deus nos dá pelas Escrituras, tenhamos mais paciência e uma alegre esperança.

5. Segundo o poder de Jesus Cristo.6. Para que nós — Tanto judeus quanto gentios, crendo concordemente e con­

fessando a uma voz.7. Acolhei-vos uns aos outros — Fracos e fortes, com amor mútuo.

R o m a n o s 1 0 1

Page 103: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

8. Digo, pois, que Cristo Jesus foi servo da circuncisão, em prol da verdade de Deus, para confirmar as promessas feitas aos nossos pais;

9. e para que os gentios glorifiquem a Deus por causa da sua m isericórdia, como está escrito: (SI 18.49) Por isso eu te con­fessarei entre os gentios;

10. E tam bém diz: (At 32.43) Alegrai-vos, ó gentios, com o seu povo.

11. E ainda: (SI 117.1) Louvai ao Senhor, vós todos os gentios, e todos os povos o louvem.

12. Tam bém Isaías diz: (Is 11.10) H averá a raiz de Jessé, aque­le que se levanta para governar os gentios; n ele os gentios esperarão.

13. E o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder do Espírito Santo.

8. Digo, pois — O apóstolo mostra aqui como Cristo nos recebeu. Cristo Jesus— Jesus é o nome, Cristo o sobrenome. Este nome foi conhecido primeiro pelos judeus; aquele pelos gentios. Assim ele é chamado Jesus Cristo quan­do as palavras aparecem na sua natural e comum ordem. Quando se in­verte a ordem como aqui, o ofício de Cristo é mais solenemente conside­rado. Foi servo — Do Pai. Da circuncisão — Visando a salvação dos circun­cidados, os judeus. Em prol da verdade de Deus — Para manifestar a verda­de e a fidelidade de Deus.

9. Como está escrito — No Salmo 18, onde se fala de gentios e judeus juntos adorando o Deus de Israel.

12. Haverá a raiz de Jessé— Que reis e o Messias viriam da sua casa fora prome­tida a Jessé antes do que o foi a Davi. Nele os gentios esperarão. — Os quais outrora estavam sem esperança (Ef 2.12).

13. E o Deus da esperança — Um glorioso título de Deus, mas antes desconhe­cido dos pagãos, porque sua deusa Esperança não era nada; seu próprio templo em Roma foi queimado por um raio. Foi, na verdade, se construin­do não muito depois, mas mais uma vez queimado ao chão.

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Page 104: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

. E certo estou, m eus irm ãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais plenos de bondade, cheios de todo o conheci­m ento, aptos para vos adm oestardes uns aos outros.

15. Entretanto vos escrevi em parte mais ousadam ente, como para vos trazer isto de novo à m em ória, por causa da graça que m e foi outorgada por Deus,

16. para que eu seja servo de Jesus Cristo aos gentios, m inis­trando-lhes o evangelho de Deus, para que a oferta dos gen­tios seja aceitável, uma vez santificada pelo Espírito Santo.

17. Tenho, pois, m otivo de gloriar-m e em Cristo Jesus nas coisas concernentes a Deus.

18. Porque não ousarei falar sobre coisa alguma que Cristo não operou por mim, para tom ar obedientes os gentios, por [mi­nha] palavra e obra,

19. por poderosos sinais e prodígios, pelo Espírito de Deus; de m odo que de Jerusalém e circunvizinhanças, até ao Ilírico, tenho pregado em toda a parte o evangelho de Cristo,

20. esfo rçan d o-m e deste m odo por pregar o evan gelho , não ond e C risto já fora anunciad o, para não ed ificar sobre fu nd am en to alheio ;

14. Há diversas conclusões desta epístola; a primeira começa com o presente versículo. A segunda, Rm 16.1; a terceira, v. 17; a quarta, v. 21; e a quinta, v.25. Estais plenos de bondade — Por terdes sido criados de novo. E cheios de todo o conhecimento — Por longa experiência das coisas de Deus. Para admoestardes — Para instruirdes e confirmardes.

15. Por causa da graça — Isto é, porque sou apóstolo aos gentios.

16. A oferta dos gentios — Como sacrifícios vivos.

17. Tenho, pois, motivo de gloriar-me por Jesus Cristo — Todo o meu gloriar está em Jesus e por ele.

18. Por palavra — Pelo poder do Espírito. Por obra— A saber, "por poderosos sinais e prodígios" [v. 19].

20. Não onde Cristo já fora anunciado — Estes lugares ele geralmente evitava visitar, embora não sempre, pois possuía uma santa ambição (assim é o

R o m a n o s 1 0 3

Page 105: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

21. antes, com o está escrito: (Is 52.15) Aqueles que não tiveram notícia dele verão, e os que nada ouviram com preenderão.

22. Essa tam bém foi a razão que, por tanto tem po, fui im pedi­do de ir ter convosco.

23. Agora, porém , não tendo m ais cam po para m eu trabalho nestas regiões e desejando há muito chegar até vós,

24. quando for para a Espanha, espero ver-vos de passagem e para lá ser por vós encam inhado, depois de desfrutar um pouco da vossa com panhia.

25. M as agora estou de partida para Jerusalém a serviço dos santos.

sentido correto do vocábulo grego)54 para fazer a primeira proclamação do evangelho em lugar onde ele era totalmente desconhecido, a despeito de todas as dificuldades e perigos que isto encerrava. Para não apenas edificar sobre fundamento alheio — A providência de Deus parecia de ma­neira especial (geral mas não inteiramente), para que os inimigos do após­tolo, os quais buscavam toda ocasião para menosprezá-lo, não pudessem alegar que ele estava atrás dos outros apóstolos, não podendo, ele pró­prio, plantar igrejas, senão apenas capaz de pregar onde outros jd estiveram antes; ou que ele esquivava-se da parte mais difícil do ministério.

22. Esta também foi a razão porque fui por tanto tempo impedido de ir convosco. Pois entre nós Cristo já se havia dado a conhecer.

23. Agora, porém, não tendo mais campo para meu trabalho nestas regiões—Onde Cris­to já fora pregado em todas as cidades.

24. Para a Espanha — Onde o evangelho não fora pregado ainda. Depois de desfrutar um pouco da vossa companhia — Quão digno de nota é a modéstia com que fala! Os romanos poderiam antes desejar desfrutar a companhia de Paulo. Um pouco — Sugerindo a brevidade de sua estadia; ou, talvez, que só Cristo pode totalmente satisfazer a alma.

54 Como vemos, Wesley acompanha a KJV na sua versão; mas aqui ele dá o sentido literal do grego, no que é seguido por muitos tradutores modernos.

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Page 106: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

26. Porque aprouve à M acedônia e à Acaia levantar um a coleta em benefício dos pobres dentre os santos que vivem em Je­rusalém .

27. Isto lhes pareceu bem , e m esm o lhes são devedores; porque se os gentios têm sido participantes dos valores espirituais dos judeus, devem tam bém servi-los com bens m ateriais.

28. Tendo, pois, concluído isto, e havendo-lhes consignado este fruto, passando por vós, irei à Espanha.

29. E bem sei que, ao visitar-vos irei na plenitude da bênção do evangelho de Cristo.

30. Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e tam ­bém pelo am or do Espírito, que luteis juntam ente comigo nas orações a Deus a m eu favor,

26. Os pobres dentre os santos que vivem em Jerusalém— Não se pode inferir dessa expressão que a comunhão de bens entre os cristãos já não existia. Tudo que se pode concluir destas palavras é que nesse tempo de grande escassez (Atos 11.28-29), alguns dentro da Igreja passavam necessidade; o resto po­dendo apenas subsistir, eles próprios, impossibilitados de suprir as neces­sidades dos seus irmãos.

27. Isto lhes pareceu bem; e mesmo lhes são devedores. Isto é, eles são constrangidos a assim agir, tanto por justiça quanto por misericórdia. Valores espirituais — Pela pregação do evangelho. Bens materiais — Coisas necessárias ao corpo.

28. Havendo-lhes consignado este fruto — Quando tiver seguramente entregue a eles, como sob selo, o fruto do amor dos seus irmãos. Passando por vós, irei à Espanha— Assim foi o seu propósito, mas não parece que ele realmente foi à Espanha. Há muitas vezes propósitos santos nas mentes de homens bons que são anulados pela providência de Deus, de modo a nunca se realiza­rem. Mesmo assim, são preciosos aos olhos de Deus.

30. Rogo pelo amor do Espirito — A saber, pelo amor que é o genuíno fruto do Espírito. Que luteis juntamente comigo nas orações — Quem deseja que os outros lutem juntamente com ele em oração deve orar, ele próprio. De to­dos os apóstolos, só se registra de Paulo a solicitação das orações dos fiéis em prol de si. E ele geralmente faz isto nas conclusões das suas epístolas: Não, porém, sempre da mesma maneira. Porque ele fala de uma maneira àqueles que ele trata como seus filhos, com a gravidade ou até com a seve­ridade de um pai, como Timóteo, Tito, os Coríntios, os Gálatas; de outra

R o m a n o s 1 0 5

Page 107: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

31. para que eu possa escapar das mãos dos incrédulos que vi­vem na Judéia, e que este meu serviço em Jerusalém seja bem aceito pelos santos;

32. A fim de que, ao visitar-vos, pela vontade de Deus, chegue à vossa presença com alegria, e possa recrear-me convosco.

33. E o Deus de paz seja com todos vós.

maneira àqueles que ele trata mais como iguais, tais como os Romanos, os Efésios, os Tessalonicenses, Colossenses e Hebreus.

31. Para que eu possa escapar das mãos — Ele age com tal urgência por perceber a importância da sua vida para a Igreja. De outro modo, ele se regozijaria de "partir e estar com Cristo" [Fp 1.23]. E que este meu serviço seja bem aceito — A despeito de todos os preconceitos deles; para que os crentes judeus e gentios sejam entrelaçados num temo amor.

32. A fim de que chegue a vossa presença — Esta parte se refere aos incrédulos. Com alegria — Refere-se aos "santos", [ambos] do verso anterior.

1 0 6 N o t a s E x p l i c a t i v a s

Page 108: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

RO M AN O S 16$*í,

1. R ecom end o-v os a n ossa irm ã Febe, que é um a serva da igre ja de C encréia ,

2. para que a recebais no Senhor como convém aos santos, e a ajudeis em tudo que de vós vier a precisar; porque tem aju­dado a muitos, e a mim inclusive.

3. Sau d ai a P riscila e a Á quila, m eus cooperadores em C ris­to Jesus,

4. os quais pela m inha vida ofereceram o seu próprio pescoço; e isto lhes agradeço, não som ente eu mas tam bém todas as igrejas dos gentios;

5. saudai igualm ente a igreja que se reúne na casa deles. Saudai a m eu querido Epêneto, prim ícias da Ásia, para Cristo.

▼ Notas

1. Recomendo-os Febe— A portadora da carta. Uma serva — O vocábulo grego significa uma diaconisa. Da Igreja de Cencréia — Na era apostólica, algumas prudentes e piedosas mulheres eram nomeadas diaconisas em cada igreja. Seu ofício não era ensinar publicamente, mas visitar os enfermos, especial­mente mulheres, e ministrar-lhes nas suas necessidades tanto temporais quanto espirituais.

2. No Senhor — Isto é, pelo amor do Senhor e de maneira cristã. Paulo parece gostar muito dessa expressão.

4. Os quais pela minha vida, por assim dizer, entregaram seu próprio pescoço— Isto é, expuseram-se ao máximo perigo. Mas também todas as igrejas dos gentios — Inclusive de Roma, por [esse casal] ter preservado uma vida tão preciosa.

5. Saudai a igreja que se reúne na casa deles — Áquila fora expulso de Roma, durante o reinado de Gáudio, mas já estava de volta e desempenhava o mesmo papel que Gaio fazia em Corinto (Rm 16.23). Onde qualquer cris­tão possuísse uma casa grande, lá todos eles se reuniam; a essa altura, porém, não havia em Roma nem bispos e nem diáconos, tão longe esta­vam de qualquer sombra de poder papal. Pelo contrário, parece não ter existido em toda a cidade mais do que uma destas igrejas domésticas55.

55 Afirmação duvidosa, à vista dos vv. 14 e 15.

R o m a n o s 1 0 7

Page 109: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

6. Saudai a M aria que m uito trabalhou por nós.

7. Saudai a Andrônico e a Júnias56, meus parentes e com panhei­ros de prisão, os quais são notáveis entre os apóstolos, e esta­vam em Cristo antes de mim.

8. Saudai a Am plíato, meu dileto amigo no Senhor.9. Saudai a Urbano, que é nosso cooperador em Cristo, e a meu

am ado Estáquis.

10. Saudai a Apeles, aprovado em Cristo. Saudai os da fam ília de Aristóbulo.

11. Saudai a m eu parente Herodião. Saudai os da família de N ar­ciso, que estão no Senhor.

12. Saudai a Trifena e a Trifosa, as quais trabalham no Senhor. Saudai a estim ada Pérside que tam bém m uito trabalhou no Senhor.

De outra forma, não pode haver dúvida de que Paulo lhes teria sondado também. Embora o apóstolo nunca tivesse estado em Roma, mesmo as­sim ele tinha muitos conhecidos lá. Mas não há menção a Lino ou Cle­mente57: O que prova que eles não vieram a Roma até depois disto. Prin­cípios da Ásia — O primeiro converso da Ásia Proconsular.

7. Os quais são notáveis entre os apóstolos — Parecem ter sido entre os mais antigos conversos.

9. Nosso colaborador — De mim mesmo e de Timóteo (v. 21).11. Os da família de Aristóbulo e de Narciso que estão no Senhor56. Parece que ape­

nas parte das famílias deles estava convertida. Provavelmente alguns não eram conhecidos pessoalmente por Paulo, senão apenas por informação. A fé não gera a rabujice, mas cortesia, a qual nem a circunspecção de um apóstolo impedia.

12. Saudai a Trifena e a Trifosa — Provavelmente eram irmãs59.

56 Muitas versões modernas, inclusive a Bíblia de Jerusalém, traduzem Júnias, nome feminino, significando que na era apostólica existiam apóstolas.

57 Conforme Eusébio, Lino foi o primeiro bispo de Roma, após Pedro e Paulo. Depois teriam vindo Anacleto e Clemente. (História Eclesiástica, Livro III, capítulos 2,12,15).

58 Wesley junta os w. 10 e 11.59 Possivelmente até gêmeas.

1 0 8 N o t a s E x p l i c a t i v a s

Page 110: John Wesley - Romanos, Notas Explicativas.

17.

Saudai a Rufo, eleito no Senhor, e igualm ente a sua m ãe e a minha.

Saudai a Asíncrito, Flegonte, Herm es, Pátrobas, Herm as e aos irm ãos que se reúnem com eles.

Saudai a Filólogo e a Júlia, a N ereu e sua irmã, a Olim pas e a todos os santos que se reúnem com eles.

Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo. Todas as igre­jas de Cristo vos saúdam.

. R ogo-vos, irm ãos, que noteis bem aqueles que provo­cam d iv isões e escând alos, em desacordo com a doutrina que ap ren d estes; a fastai-vos deles,

13. Saudai a Rufo — Talvez o mesmo mencionado em Mc 15.21. E igualmente a sua mãe e a minha — Esta expressão pode denotar apenas o carinhoso cuida­do que a mãe de Rufo lhe havia proporcionado.

14. Saudai a Asíncrito, Flegonte, etc. — Parece que ele agrupa aqueles relacio­nados por parentesco, proximidade de habitação ou qualquer circuns­tância semelhante. Ser saudado pelo nome não poderia deixar de animar especialmente os pobres, pois possivelmente eles não sabiam que o após­tolo sequer havia ouvido falar deles. Pode-se observar que, embora o apóstolo não se esqueça de ninguém que mereça ser lembrado, ele ajusta a natureza da saudação à proporção do merecimento daqueles a quem ele saúda.

15. Saudai a todos os santos — Se Pedro tivesse estado em Roma na época, Paulo o teria indubitavelmente saudado pelo nome, desde que ninguém neste catálogo numeroso era tão eminente como ele. Mas se ele não esta­va em Roma, toda a tradição [católico-] romana, no que tange à sucessão de bispos, desmorona no seu artigo mais fundamental.

16. Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo — Chamado por Pedro de "ósculo de amor" (IPe 5.14). Assim terminavam todos os seus ofícios, os homens saudando os homens, e as mulheres as mulheres. E parece que tal costu­me apostólico tenha continuado por um bom tempo em todas as Igrejas cristãs.

17. Que noteis bem aqueles que provocam divisões — Portanto havia tais também em Roma. Afastai-vos deles.

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18. porque tais pessoas não servem ao Senhor Jesus Cristo e, sim, a seu próprio ventre; e, por boas palavras e belos discursos, eles enganam os corações dos inofensivos.

19. Pois a vossa obediência é conhecida por todos; por isso me alegro a vosso respeito; e quero que sejais sábios para o bem e sím plices para o mal.

20. E o Deus da paz em breve esmagará debaixo dos vossos pés a Satanás. A graça de nosso Senhor Jesus seja convosco.

21. Saúd a-vos T im óteo, m eu cooperador, e Lúcio, Jasom e Sosípatro, m eus parentes.

22. Eu, Tércio, que escrevi esta epístola, vos saúdo no Senhor.

23. Saúda-vos Gaio, m eu hospedeiro e de toda a igreja. Saúda- vos Erasto, tesoureiro da cidade, e o irm ão Quarto.

18. Por boas palavras — Concernentes a eles próprios, prometendo grandes coi­sas. E belos discursos — Concernentes a vós, louvores e lisonjas. Dos inofen­sivos — Os quais, não praticando o mal eles próprios, não se previnem contra aqueles que o fazem.

19. Quero que sejais — Não só obedientes como também prudentes. Sábios para o bem— O mais instruído possível, no bem. E símplices para o mal— Quanto mais ignorante do mal, melhor.

20. E o Deus da paz— O autor é amante da paz, que abençoa a nossa prudência. Esmagará debaixo dos vossos pés a Satanás [cf. Tm 3.15] — Derrotará todos os artífices daquele semeador de joio e unir-vos-á à cada vez mais estreita­mente em amor.

21. Timóteo, meu cooperador— Aqui Timóteo é mencionado pelo nome, mesmo antes dos parentes de Paulo. Mas, por nunca ter estado antes em Roma, ele não é mencionado no começo da epístola.

22. Eu, Tércio, que escrevi esta epístola, saúdo-vos — Tércio, o qual escrevia o que o apóstolo ditava, inseriu essa saudação, por ordem ou pleno consenti­mento de Paulo. Gaio— O coríntio (ICo 1.14). Meu hospedeiro e de toda igreja— Que provavelmente se reuniu por algum tempo na sua casa60.

23. O tesoureiro da cidade — De Corinto.

60 A menção a Gaio está no v. 23.

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24. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós. Am ém.

25. Ora, àquele que é poderoso para vos confirm ar segundo o m eu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, (conform e a re­velação do mistério, guardado em silêncio desde o começodo mundo,r

26. e que agora se tornou m anifesto, e foi dado a conhecer por m eio das Escrituras proféticas, segundo o m andam ento do Deus eterno, para a obediência por fé, entre todas as nações.)

27. Ao único Deus sábio seja dada a glória, por m eio de Jesus Cristo, por todo o sempre. Amém.

25. Ora, àquele que é poderoso—As últimas palavras da epístola correspondem exatamente à primeira parte (1.1-5): em particular, concernente ao poder de Deus, o evangelho, Jesus Cristo, as Escrituras, a obediência da fé, to­das as nações. Para vos confirmar — Ambos, judeus e gentios. Segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo — A saber, segundo o teor do evangelho de Jesus Cristo que eu prego. Conforme a revelação do mistério — Ao chamado dos gentios, que por claramente tivesse sido prenunciado nos profetas, ainda estava escondido mesmo de muitos judeus crentes.

26. Segundo o mandamento — O fundamento do ofício apostólico. Do Deus eter­no — Não poderia haver um [título] mais apropriado. Uma nova dispensação não implica qualquer mudança em Deus. Conhecidas dele são todas as suas obras [At 15,18, KJV] e toda a variação delas, desde a eternidade. Foi dado a conhecer entre todas as nações — Não meramente que elas pudes­sem conhecer, mas também desfrutá-la, por obedecer a fé.

27. Ao único Deus sábio — Cuja multiforme sabedoria é conhecida na Igreja por meio do evangelho (Ef 3.10). "Aquele que é poderoso" [v. 25] e "ao Deus sábio" se juntam [aqui] como em ICo 1.24, onde Cristo é cognominado "a sabedoria de Deus" e "o poder de Deus". A ele seja dada glória por meio de Jesus Cristo para todo o sempre — E que todo o crente diga: Amém!

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As Notas de John Wesley ao Novo Testamento

constituem parte das fontes que definem

nossas doutrinas. Somente agora, pelo esforço do prof. Reily, é que aparecem em português.

Para os pesquisadores do Metodismo, ao iniciar a tradução das Notas por Romanos, o prof. Reily

escolheu um livro que marca profundamente

as raízes do Metodismo e a vida do próprio John Wesley. Não podemos esquecer que

a experiência do “coração aquecido” de Wesley

se deu ao ouvir o comentário de Lutero aos Romanos.

Por isso, esta obra é mais uma contribuição efetiva do prof. Reily ao Metodismo no Brasil.

ISBN

85

-876

80-0

6-4