Jonal Contrapontos

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ESTRADA DE S. MAMEDE, 1 — 2705-637 S. JOÃO DAS LAMPAS • PUBLICAÇÃO PERIÓDICA BIMENSAL • ANO I • MARÇO DE 2006 • DISTRIBUIÇÃO GRATUITA 03 EXPOSIÇÃO 25 de Abril de 20 a 27 de Abril em Fontanelas O acaso não existe. Tudo parece ter um sentido, mesmo quando sentimos não haver razão para que as coisas aconteçam. Não haverá alguma harmonia entre todos os movimentos dos astros, as coisas da natureza... e o homem? Será por isso que existem os sonhos? 29 ABRIL Ruy de Carvalho João de Carvalho na Sociedade em Fontanelas 21:30 horas PS - Este espaço é para ti, USA-O! [email protected] Editorial José Valentim Lourenço foi um grande impulsionador do teatro amador do Concelho de Sintra e um cidadão gentil- mente acarinhado pela população das aldeias de Fontanelas e Gouveia, pelo esforço e dedicação prestados à terra, que é a sua. O Contrapontos homenageia o escritor, o poeta, o artista, à passagem da data do seu falecimento. A edição de Março do Contrapontos foca essencialmente as diversas actividades levadas a cabo pela Associação Juve- nil 3pontos. Depois da euforia carnavalesca, as actividades centram-se na sala de espectáculos da União Recreativa e Desportiva de Fontanelas e Gouveia (URDFG) onde decorrerá uma exposi- ção sobre o 25 de Abril e uma peça de teatro com os actores Ruy de Carvalho e João de Carvalho. Dia 16, dia de Páscoa, realiza-se em Fontanelas a tradicio- nal procissão da Nossa Senhora da Esperança. Analógico, digital, máquinas descartáveis e até mesmo telemóveis, tudo serve para fotografar. As fotografias que nos forem enviadas serão levadas a concurso e posteriormente a uma exposição sob o tema «Entre o Sagrado e o Profano». A título justificativo, o cancelamento da periódica Feira do 31 do dia 4 de Março deveu-se... à chuva. Pois é! Não ficando definida a alteração da data, a alternativa será a rea- lização do evento na URDFG. Não podemos, no entanto, esquecer a chegada da Primavera, 21 de Março, que certa- mente apaziguará os ânimos com o padroeiro S. Pedro. P. S.: Este espaço é para ti, USA-O! ESCREVE! [email protected]

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Jornal de expressão livre e criativa, tem como temas dominantes a Arte, o Ambiente e a Cultura. Visa dar voz à sociedade civil sintrense e não só, através de textos, fotografias, desenhos, etc. Este projecto corresponde a um núcleo de trabalho da Associação 3pontos

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ESTRADA DE S. MAMEDE, 1 — 2705-637 S. JOÃO DAS LAMPAS • PUBLICAÇÃO PERIÓDICA BIMENSAL • ANO I • MARÇO DE 2006 • DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

03

E X P O S I Ç Ã O

25 de Abrilde 20 a 27 de Abril em Fontanelas

O acaso não existe. Tudo parece terum sentido, mesmo quando sentimosnão haver razão para que as coisasaconteçam. Não haverá alguma harmoniaentre todos os movimentos dos astros,as coisas da natureza... e o homem?Será por isso que existem os sonhos?

29ABRIL

Ruy de CarvalhoJoão de Carvalho

na Sociedadeem Fontanelas

2 1 : 3 0 h o r a s

PS - Este espaço é para ti, [email protected]

EditorialJosé Valentim Lourenço foi um grande impulsionador do

teatro amador do Concelho de Sintra e um cidadão gentil-mente acarinhado pela população das aldeias de Fontanelas eGouveia, pelo esforço e dedicação prestados à terra, que é asua. O Contrapontos homenageia o escritor, o poeta, o artista,à passagem da data do seu falecimento.

A edição de Março do Contrapontos foca essencialmenteas diversas actividades levadas a cabo pela Associação Juve-nil 3pontos.

Depois da euforia carnavalesca, as actividades centram-sena sala de espectáculos da União Recreativa e Desportiva deFontanelas e Gouveia (URDFG) onde decorrerá uma exposi-ção sobre o 25 de Abril e uma peça de teatro com os actoresRuy de Carvalho e João de Carvalho.

Dia 16, dia de Páscoa, realiza-se em Fontanelas a tradicio-nal procissão da Nossa Senhora da Esperança. Analógico,digital, máquinas descartáveis e até mesmo telemóveis, tudoserve para fotografar. As fotografias que nos forem enviadasserão levadas a concurso e posteriormente a uma exposiçãosob o tema «Entre o Sagrado e o Profano».

A título justificativo, o cancelamento da periódica Feirado 31 do dia 4 de Março deveu-se... à chuva. Pois é! Nãoficando definida a alteração da data, a alternativa será a rea-lização do evento na URDFG. Não podemos, no entanto,esquecer a chegada da Primavera, 21 de Março, que certa-mente apaziguará os ânimos com o padroeiro S. Pedro.

P. S.: Este espaço é para ti, USA-O! [email protected]

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Galeria LM ArteAté 23 de MarçoExposição de pintura de Nuno San-Payodenominada «Obra Vária».Rua Álvaro dos Reis, 47Chão de Meninos2710-526 SintraTel. 21 924 30 96

Auditório Municipal António SilvaShopping CacémRua Coração de Maria, 12735-285 CacémInformações e Reservas:

Divisão de Animação CulturalRua do Roseiral, 202710-501 SintraTel. 21 923 61 01Horário: segunda-feira a sexta-feira, das9:00 h às 12:30 h e das 14:00 h às 17:30 h.

24 de Março, às 21:30 hConversas de Café, apresentado pelo Dá aDeixa — Núcleo de Drama da EscolaSecundária Gama Barros.Bilhetes: preço a definir.

30 e 31 de Março, às 22:00 hD’abalada, pelo Bica Teatro, no âmbitodas comemorações do Dia Mundial doTeatro.Entrada gratuita: 25 Março, às 22:00 h

Centro Cultural Olga CadavalAuditório Jorge Sampaio24 de MarçoCatharsis dos Fingertips.Três anos depois de All ‘Bout Smoke ‘NMirrors, de uma extensa digressão nacio-nal e de terem conquistado as rádios e tele-visões, os Fingertips regressam aos discose aos concertos ao vivo. Os Fingertipsapresentam o seu novo disco Catharsis.

31 de Março, às 22:00 hCanções e Fugas, Mário Laginha.Habitam uma área musical que vai muitasvezes buscar elementos de outras áreas.Aqui, vai buscar a técnica de escrita dafuga e absorve-a, tentando manter intactasas características de ambos os universos.Preços:

1.a Plateia — 15C;2.a Plateia e Balcão — 10C;

Menores de 18 e maiores de 65 anos:1.a Plateia — 12,5C;2.a Plateia e Balcão — 7,5C

Auditório Acácio Barreiros25 de Março, às 22:00 hPeças para Rádio, de Samuel Beckett —Interpretação de Valerie Braddell, CarlaMaciel, Afonso Lagarto, G. Waddington e

João Lagarto Beckett, um conhecedor demúsica, ele próprio pianista amador, sem-pre deu uma grande importância ao som eao ritmo nos seus escritos.Preço: 10CMenores de 18 e maiores de 65 anos: 7,5C

Foyer superior do Auditório Jorge Sam-paioAté 9 de Abril«(Encontros) Paralelos» — exposição foto-gráfica por Jean-Pierre Debot.De terça-feira a sexta-feira das 14:00 h às18:00 hSábados, domingos e feriados das 10:00 hàs 13:00 h e das 14:00 h às 18:00 h.Entrada gratuita.

Agenda

Estrada de S. Mamede, 1 — 2705-637 S. João das LampasTelefone: 96 805 79 85; e-mail: [email protected]

Publicação periódica bimensal • Ano I • Março de 2006 • N.o 3 • Distribuição gratuitaColaboram neste número: 3Minutos, Ângela Antunes, Bárbara Pereira da Silva Falcão,Carlos Zoio, Jorge Falcão, José Manuel Silva, Marco Cosme, Minerva de Carvalho, PauloMira Coelho, Rita Bicho, Verónica SousaGrafismo: Luís BordaloComposição e paginação: Alfanumérico, Lda.Impressão e acabamento: Gráfica Manuel Barbosa & Filhos, Lda.Tiragem: 1000 exemplaresDepósito legal n.o 233 880/05

Contrapontos destina-se a dar eco das opiniões dos sócios e não sócios, da Associação3pontos — ambiente, arte, cultura, sendo uma tribuna de livre opinião e um espaço abertoa todos. Os artigos publicados responsabilizam unicamente o seu autor.

Sala de espectáculos da União Recreativae Desportiva de Fontanelas e Gouveia16 de Abril2.o Concurso de Fotografia da 3pontos«Entre o Sagrado e o Profano»No dia 16 de Abril, dia de Páscoa, realiza-se em Fontanelas a tradicional procissãoda Nossa Senhora da Esperança, a ideiaserá a de pôr toda a gente a fotografarnesse dia. Analógico, digital, máquinasdescartáveis e até mesmo com telemóveis.As fotografias serão levadas a concursopelo que darão lugar a uma posteriorexposição.Mais informações brevemente disponíveisem flyers e no site www.3pontos.com.

De 20 a 27 de AbrilDia 22, às 18:00 h, Mesa Redonda.Exposição «25 Abril» na sala de espectá-culos da União Recreativa e Desportiva deFontanelas e Gouveia.

29 de Abril, às 21:30 hPalhaço de Mim Mesmo, com Ruy de Car-valho e João de Carvalho.Preço: 10CSócios 3pontos: 7,50CReservas para o n.o 96 805 79 85

Feira do 31 (organização 3pontos)Periodicidade: todos os primeiros sábadosde cada mês de 31 dias, a partir das 9:00 hno Largo do Coreto — Fontanelas.

A 3pontos tem vindo a desenvolverdiversas actividades no âmbito do Pro-grama Juventude da União Europeia,para este ano e em parceria com outrasassociações e organizações internacio-nais, prevêem-se as participações emdois intercâmbios, uma visita deestudo e um curso de formação:

• Setembro 2006 Curso de Formação— Bósnia — «Youthwork BuildingCitizenship»;

• Junho 2006 Intercâmbio — Itália— «Youth Participation andCritical Consumption: SharingIdeas for Responsible Life Style»;

• Setembro 2006 Visita de Estudo —Sérvia — «Youth and Media:Unavoidable Encounter»;

• Agosto 2006 Intercâmbio — Gré-cia — «Re-Turn to the RenewableEnergy Sourses».

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Não haverá alguma harmonia entre todosos movimentos dos astros, as coisas danatureza... e o homem? Será por isso que

existem os sonhos?Eis que numa noite de

verão, o Fausto é visitadopela sua imagem em velho,para que os seus caminhos seabram e ele se redima dosfantasmas e das angústias edos medos.

O Ancião Fausto explicacomo é que um homem sepode inserir nessa tal harmo-nia. Fala-lhe do passado, lem-bra-lhe os erros, as culpas,todas as culpas de outrasvidas, noutros corpos, cha-mando-lhe a atenção para umsimples gesto de bondade,naquele ténue momento ondeo sentido da vida fica maisclaro. O Fausto resiste aopeso do Ancião, muito emboraapenas pelo tempo necessáriode sentir o toque da tal har-monia que a natureza põe aonosso dispôr em tudo o quecria.

O Ancião fala-lhe comuma clarividência comove-dora, com palavras simples ecerteiras. Mostra-lhe o exem-

plo de um palhaço e explica que não hámaior beleza do que o sorriso de umacriança. Porque um PALHAÇO é apenasum trapalhão à procura de fazer os outrosfelizes. É uma alma que nada mais quer doque mostrar o amor pelas coisas simples,através de uma gargalhada franca, um abraçofraterno, ou uma pantomina sobre o ridí-culo.

E o nosso Fausto olha-se como nuncase viu. Os hábitos, os vícios e os medosficam como símbolos daquilo que ele foium dia, naquelas horas de sombra quequase acabaram com tudo. Hoje, o Anciãopropõe-lhe um recomeço merecido, paraque nada neles acabe em trevas! É aí queele descobre que o Ancião é ele mesmo...em velho. Se o bem-estar interior não foruma conquista no apogeu da vida, de nadaservem os lamentos na velhice.

PAULO MIRA COELHO

O acaso não existe. Tudo parece ter umsentido, mesmo quando sentimos nãohaver razão para que as coisas aconteçam.

AGENDA 3PONTOS

25 de Abril de 1974 a 25 de Abril de 2006.Passaram trinta e dois anos durante os quais a

maioria, dos colaboradores e associados da 3pontos,foi aparecendo ao Mundo.

Queremos ter um olhar do que se passou nessamadrugada e dia. Para uns um primeiro olhar, paraoutros um revisitar da História.

Convidamos a população a visitar a exposição,sobre o 25 de Abril, no salão da sociedade em Fon-tanelas.

A exposição estará aberta a quem aqueira visitar de 20 a 27 de Abril entre as18:00 h e as 23:00 h.

Dia 22 pelas 18:00 h haverá lugar auma mesa redonda.

Para a realização desta exposição contá-mos com a colaboração da sociedade União

Recreativa e Desportiva de Fontanelas e Gou-veia que nos facultou o seu salão e do Centro de

Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbraque nos cedeu a exposição.

A todos agradecemos a disponibilidade.

Exposição 25 de Abril

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LILIANAE O MUNDO IMAGINÁRIOEra uma vez uma menina que estava

prestes a conhecer um mundo diferente,um mundo cheio de criaturas belas, peque-nas, fortes e tantas coisas mais. A meninatinha sete anos e chamava-se Liliana, elatinha uma imaginação que era do outromundo, pois não é por acaso que ela viuaquele mundo maravilhoso.

A Liliana vivia numa pequena aldeiaonde era muito feliz. Vivia lá um senhorque gostava de construir maquinetas.O senhor chamava-se Artur e já tinha umacerta idade.

Uma vez o senhor Artur construiu umamaquineta, que fazia com que os sonhos das

pessoas se tornassem realidade. E então osenhor Artur que era bastante amigo daLiliana, disse-lhe que fosse a casa dele,assim que saísse da escola, para ver umacoisa fantástica. Depois da escola a Lilianapôs-se a caminho e foi a casa do senhorArtur ver o que havia de tão fascinante,quando chegou a casa dele descobriu logoqual era a nova maquineta e perguntou logopara que servia, o senhor Artur disse-lhe:

— Com esta máquina tu podes realizaros teus sonhos mais profundos.

E a Liliana ficou muito espantada masnão por muito tempo, pois lembrou-se que

COLABORAÇÕES LITERÁRIAS

mais de metade das maquinetas do senhorArtur inventava não funcionavam.

— Não queres experimentar Liliana?— Perguntou ele à menina.

— Sim se não se importar. — Disse aLiliana não muito convencida que a maqui-neta funcionasse.

O senhor Artur pensou que a meninafosse pedir uma boneca mas estava enganadopois Liliana não pediu nada de brinquedos.Ela pôs a maquineta na cabeça e lembrou-sedo sonho que teve na noite passada, eramesmo o que ela queria um mundo só dela,em que só ela e as criaturas que ela inventarana sua imaginação podiam entrar.

Assim de um momento para o outroLiliana desaparece e o senhor Artur muitopreocupado e todo nervoso diz para simesmo:

— Isto é uma tragédia, eu fiz umamáquina que faz desaparecer as pessoas efez desaparecer a Liliana, o que é que euvou fazer? Gritava o senhor super atare-fado e sem saber o que fazer.

No entanto sem perigos Liliana che-gava ao seu mundo espantada e dizia:

— Não acredito a máquina funciona eeste mundo é igual ao do sonho, tal comoeu queria.

De repente pareceu-lhe ter ouvidoalguma coisa, olhou e viu o ser de que elagostava mais do que todos os outros, quecriou na sua imaginação, chamava-se Bola--Azulinha era toda azul e de forma de umabola de futebol. A Bola-Azulinha era muitotímida mas Liliana lá conseguiu pegar nelaao colo. Era tão querida que dava vontadede a apertar como um bebé, mas a Bola-Azu-linha adormeceu ao colo da menina, aLiliana colocou Bola-Azulinha na erva fofi-nha e agarrou no seu xaile pondo-o cuidado-samente em cima da critura toda azul. Lilianaandou e andou sem ver mais nenhuma cria-tura, havia muitas à volta dela mas ela

estava com tanto sono e tanta fomeque já não conseguia ver onde punhaos pés. Como as criaturas eram tími-das fugiam da pobre nenina.

Mas em casa da mãe da Liliananinguém sabia que ela estava viva,todos pensavam que ela tinha evapo-rado por causa da máquina do senhorArtur. Só havia lágrimas de tristezapor parte da mãe e do senhor Arturque estava muito abatido (era normala mãe da Liliana se irritar com osenhor Artur, mas a tristeza era tantaque ela não tinha forças para lhe fazrmal algum). Enquanto a mãe daLiliana chorava de tristeza sem espe-ranças que ela voltasse, Liliana tinhacaído na areia do seu mundo. Feliz-mente apareceu um Garra-Taras,outra criatura que Liliana inventarapela sua imaginação.

O Garra-Taras tem as garrasmuito afiadas mas não as utilizafazer mal ou atacar alguém, sim-

plesmente as usa para curar as pessoas ecriaturas que se sintam mal. Liliana jáestava muito melhor e como obrigada fez--lhe três festinhas e deu-lhe um grandeabraço como despedida.

Liliana sentou-se à beira-mar e começoua pensar na sua mãe, no senhor Artur e nosseus colegas e já estava com saudades delesmas não sabia como é que voltava para casa(estava desesperada) mas aquele sítio eratão maravilhoso para ela que nem sabia oque fazer. E a menina disse:

— O que hei de fazer? Como é quevou para casa? — Dizia ela muito triste.

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De repente aparece um bando de Unise o chefe dos Unis dirigiu-se para Lilianae disse:

— Eu sou o chefe dos Unis e querosaber porque estás tão triste?

— Eu estou triste porque não sei comoé que vou para casa. — Disse a menina.

— Mas se tu estás aqui pertences aqui.— Disse outro Uni.

— Não. Eu não pertenço aqui, eu per-tenço à minha aldeia pequena mas encan-tadora para mim. — Disse a Liliana comtoda a certeza do que estava a dizer.

— Mas se tu deixares este mundotodas as criaturas deste mundo morrem. —Disse o chefe dos Unis.

— Então e se viessem todos para omeu mundo, lá para a aldeia, lá há falta decavalos e vocês têm a forma de um cavalo,

podem fazer o trabalho deles. — Disse amenina muito mais animada.

— Mas e então e os Garras-Taras e osBola-Azulinha? Disse o chefe dos Unis.

— Então deixa-me pensar... Olha osGarras-Taras ajudavam os médicos e asBolas-Azulinhas faziam de animais de esti-

mação. — Disse a menina muitofeliz.

Logo a seguir todas as criatu-ras subiram para cima dos Unis, eos Unis com as suas grandes asasvoaram até chegarem à aldeia damenina e quando chegaram a meninafoi até à casa da mãe e abraçou-acom tanta força que a mãe até seassustou mas ficou muito feliz, nemacreditava que aquilo estava a acon-tecer.

— Minha filha tu não te evapo-raste, que bom. — Disse a mãe daLiliana.

— Não fui evaporada, fui a ummundo meu, que eu criei. — Disse aLiliana.

— Tu criaste? Como? — Per-guntou a mãe.

— Com a maquineta do senhorArtur. — Respondeu a amenina.

— Com a maquineta do senhorArtur? Mas nós pensávamos queaquela maquineta te tinha evapo-rado. — Disse a mãe.

— Não a a maquineta só melevou ao mundo que eu criei, e eutrouxe comigo as criaturas daquelemundo, porque se elas ficassem lámorreriam e cá elas até nos podemajudar, elas estão lá fora.

Quando a mãe as viu disse logo:— Aqueles parecem cavalos

podem fazer o trabalho de um cavaloe aqueles?

— Aqueles ali são os Bolas--Azulinhas podem ser animais deestimação e os outros são Garras--Taras que com as suas garras curamas pessoas. — Disse a menina.

E assim foi, naquela aldeianunca mais se ouviu falar de proble-

mas. Com a ajuda e o amor de todos, vive-ram felizes para sempre.

BÁRBARA PEREIRA DA SILVA FALCÃO

(10 anos, 1.o Prémio do 1.o Ciclo doconcurso literário — Agrupamento deescolas Marquesa de Alorna)

Telefones: +351 21 961 99 27Fax: +351 21 961 99 16Morada: Estrada de Alcolombal

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Page 6: Jonal Contrapontos

Em Janeiro de 2002, muito antes de pensar morar em Fontanelas, tive a oportunidadede entrevistar José Valentim Lourenço para o 1.a Fila — O Jornal de Todos os Espectáculos,uma publicação com a qual colaborava na altura. Reconheço que nem me lembrava bemdas estradas que conduzem a estas aldeias. Quando dei por mim, estava em cima do palcoda União Recreativa e Desportiva de Fontanelas e Gouveia, com José Valentim Lourençoe Domingos Chiolas, cada um de nós sentado em sua cadeira. Preparava-se a reposiçãode Gaivotas em Terra e, durante toda a conversa, foram os cenários dessa revista que lá estiveramem pano de fundo. Uma ironia do destino que me trouxe a estas paragens e que,hoje, me permite pegar nas palavras de um dos homens que mais marcou estas duas aldeias.Se quiserem, chamem-lhe uma homenagem, ou antes, se preferirem, um gesto de carinho.

«A INSPIRAÇÃO COMEÇAA SURGIR, COMO UMA PORTAQUE SE ABRE»

HOMENAGEM

Há quem diga que o teatro de revista éo parente mais pobre do género dramático,com as suas rábulas saloias, prenhes deuma cultura bem popular que não agrada atodos. Talvez seja esse o motivo por detrásdo desinteresse dos espectadores que, naúltima década e ao contrário de outrasantes, se eclipsaram do Parque Mayer.Neste contexto, o mais curioso é constatarque, durante cerca de 40 anos, o Grupo deTeatro de Fontanelas e Gouveia conseguiua proeza de ter sempre casa cheia com aspeças de teatro de revista que levou a cena.Um fenómeno de sucesso reconhecido pelasgentes da terra e da região, que em muitose deveu aos sessenta elementos que inte-gravam o grupo e, claro, ao autor e ence-nador, José Valentim Lourenço.

A tradição começou por altura doEntrudo, há mais de quarenta e dois anos.«Antigamente era costume fazerem-secegadas de rua, por altura do Carnaval,compostas por seis ou sete personagens,onde já eu escrevia os textos e o Chiolasrepresentava. Depois, como começaram acair em desuso, optei por começar a escre-ver um programa de variedades.» É entãoque, em 1964, o grupo de teatro sobe aopalco pela primeira vez. «No primeiro anofizemos só uma representação, mais porbrincadeira, para o pessoal da terra, masdepois, como no ano seguinte as pessoasdas aldeias vizinhas também começaram avir, decidimos aumentar o número derepresentações.»

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Uma carolice que cedo se transformounum caso sério no panorama nacional doteatro amador, com a produção de inúme-ros espectáculos a assinalar a longa car-reira do grupo. O ponto alto do reconheci-mento público chega em 1976, quandoapresentam em televisão a revista Que sePassa Camarada?, no programa TV Palco,pela mão da actriz Amélia Rey Colaço, naépoca, residente em Fontanelas, e culminana tournée que, na mesma altura, realizampelas colectividades dos concelhos limítro-fes. A partir de então, todos passam a des-locar-se a Fontanelas e Gouveia, por altura

do Carnaval, para assistir à qua-lidade de mais uma revista ori-ginal e ao profissionalismo dodesempenho dos actores.

Ímpeto criativo

Na base de cada espectáculoesteve, desde sempre, o ânimo e adedicação de José Valentim Lou-renço. Nem mesmo a actividadeprofissional que exerceu durante

anos, como proprietário de um talho, oimpediu de escrever as peças onde, maistarde, os seus familiares, vizinhos, amigose até ele próprio brilhavam, ao dar vida aoutras personagens. O gosto pela escrita,herdado do avô, aliado à paixão pelarevista que, por diversas vezes, o levava aoParque Mayer, foi determinante paracomeçar a compor versos que adaptava àscanções populares mais conhecidas.

Nunca teve uma fórmulafixa para criar os textos queencenava. Simplesmente sementalizava para escrever, nuncaà noite e sem se disciplinar aescrever uma cena por mês,sempre que trabalhava nal-guma peça específica. «A ins-piração começa a surgir, comouma porta que se abre», afir-mou. A cada nova revista, JoséValentim Lourenço exploravatemas diferentes mas que, deuma ou outra forma, teciamsempre uma paródia à realidade nacional ese relacionavam com elementos caracterís-ticos à região, como o mar ou a serra. Nofundo, cedo percebeu que, para conseguirprovocar risos na plateia, apenas bastava,«normalmente, pegar no dia-a-dia e trans-formá-lo em comédia».

Depois do processo criativo individual,quando os textos — muitas vezes já escritosa pensar no potencial de cada actor que tãobem conhecia — estavam prontos, chegava afase de o encenar em grupo e escolher asmúsicas para compor as diversas rábulas.Esse era um processo que, todos os anos,obedecia ao mesmo rigor. Iniciava sempre «oensaio um mês antes do espectáculo», comuma periodicidade diária, entre as 21 horas ea uma da manhã, embora o horário fosse fle-xível consoante a profissão de cada elementodo grupo. Uma forma encontrada para que«assim, ninguém tenha tempo para se esque-cer daquilo que aprende». E a verdade é que,apesar do ritmo intenso, o encenador jamaisteve razão de queixa. «A malta entrou para ogrupo e continuou, porque ganhou amor. Eununca tive dificuldade em arranjar actores.»

Espírito comunitário

O dado mais curioso que marcou a his-tória única do Grupo de Teatro de Fontane-las e Gouveia e, claro, do seu grande impul-sionador, José Valentim Lourenço, foi oespírito de generosidade que lhe estevesempre subjacente. Ao contrário de outrosgrupos amadores, além de nunca teremrecebido apoio monetário para levarem acena cada revista, ainda foram as própriasreceitas dos seus espectáculos que servi-ram para colmatar algumas lacunas exis-tentes na comunidade local.

Sempre que uma nova revista come-çava, o dinheiro já tinha um destino espe-cífico. Para que conste, foram eles que tra-balharam, durante muitos anos, para acapela de Fontanelas, que conseguiram,com os fundos do teatro, construir de raiza capela de Gouveia, assim como o palcoda colectividade de Fontanelas e Gouveia,

por onde já passaram tantos talentos. Nosúltimos anos, as receitas já estavam a serdestinadas à construção do centro de dia,por agora, ainda inexistente.

E isto que não signifique que montarum espectáculo de teatro deste género sejapouco dispendioso. Basta fazer contas aoscustos de produção e pensar, por exemplo,na criação dos figurinos ou dos cenários.Mas José Valentim Lourenço estava cons-ciente do da qualidade do grupo que ence-nava. Afirmou: «Se não tivéssemos umagarantia de público nos espectáculos, nãonos permitiríamos a uma despesa destas.»Do mesmo modo que trabalhou, com sim-plicidade e com aquele brilhozinho nosolhos, para que cada espectador daquisaísse mais satisfeito e para que, os que cámoram, se possam regozijar com a suaaldeia, «apesar de pequenita».

ÂNGELA ANTUNES

(Adaptado da reportagem publicada no1.a Fila — O jornal de Todos os Espec-táculos, ano 1, n.o 7, Fevereiro de2002, pp. 8 e 9)

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Latitude 38° 46' 99'' NorteLongitude 9° 29' 75'' Oeste

Estas são as coordenadas do lugar maisocidental da Europa e quis o nosso destinoque este ponto geográfico se encontrassebem perto de todos nós.

Neste local como que se reúne a terra etodo o mar. Encontram-se também unidosdois dos mais importantes cultos da geo-grafia sagrada: A montanha sagrada oumontanha mágica como esta parece ser e afinisterra lendária!!!

A serra foi conhecida desde a antigui-dade, recebendo o nome de Monte da Lua.Os cultos ancestrais de todo o aro de Sintraencontram-se como que documentados emdiversos monumentos pré-históricos e,depois, pela sua islamização e posteriorcristianização, tema actual e que tem aquium belo exemplo, de harmonia decorrente,da influência das várias religiões que aquideixaram as suas marcas.

Daí a pervivência da sua mítica desig-nação registada pelos geógrafos da antigui-dade: Mons Sacer ou Monte Santo paraVarrão e Columela, Cabo Magnum ou

Olisiponense para Plínio, O Velho ouMonte da Lua para Ptolomeu. O humanistaDamião de Góis assinala os antecedentesclássicos da sua fama, quando regista queo «Monte Targo, que Varrão menciona, éna minha opinião aquele mesmo a que cha-mamos Serra de Sintra, da qual avançapara o mar o promontório da lua, situadomais ou menos a vinte e quatro mil passosde Lisboa. Actualmente damos a este pro-montório o nome de Cabo da Roca, emlatim Rupem».

O Cabo da Roca, que é o ponto maisocidental da Europa, consistia tambémnum acidente costeiro da maior relevânciapara os navegadores da antiguidade, e éprovável, senão certo, que já na pré-histó-ria fosse um lugar de referência no perfilcosteiro, bem como lugar temido na suapassagem, por se saber dos regimes dosventos e das correntes, mas porque consti-tuía igualmente como que uma espécie deprenúncio para a chegada a uma regiãoextremamente rica e procurada pelos povosdo Atlântico Norte, mas também por aque-les que por ali passavam a caminho dasrias galegas ou mesmo da Cantábria, Bre-

tanha e Ilhas Britânicas, fama que seavolumou desde o neolítico e especial-mente na idade do cobre, quando as comu-nidades da península de Lisboa pareciamter um ascendente, mesmo que apenassectorial, sobre as comunidades alóctones,em função da transformação e produção docobre.

A riqueza agrícola, o acesso relativa-mente fácil pelo mar, a existência de umgrande eixo de penetração por terra consti-tuído pelo grande e imponente rio Tejo epelo seu segundo «mar» (o actual mar dapalha), a brandura do clima e a densidadedemográfica superior à das demais regiõesportuguesas — e certamente Atlânticas —,num longo período que vai do neolíticoantigo até ao calcolítico, estarão na origemde todos os mitos e lendas gerados emtorno da serra, mas também terão estadona origem do maior aglomerado popu-lacional português que é Lisboa, cidadeque fazendo fé no mito, foi fundada porUlisses.

A lenta mas consistente ocupação doterritório pelos neolíticos por via de umaeventual migração, a interrelação que estesestabeleceram com os grupos de autócto-nes que habitavam, ainda no estádio meso-lítico, os concheiros de muge (e muitasoutras pontuações na paisagem destapenínsula, ou quase «ilha», por descobrir),devem ter pesado para a acumulação devestígios desse mesmo neolítico «de impor-tação», mas para as suas consequências aprazo, que levam a que seja aqui possíveldetectar um conjunto notável de estaçõesneolíticas-calcolíticas de grande relevo.

Encontra-se em redor da «espinha dor-sal» constítuida por esta serra, que se desen-volve como uma meia lua e que, como quede propósito, morre no Oceano através doseu extremo, o Cabo da Roca — decerto

A MAGIA DOS NOSSOSLUGARES

ESTÓRIA DA HISTÓRIA

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Sou uma planta eterna...ao fundo um pirilampo relampejaaté ser dia outra vez...E todas as panóplias do mundotrazem o ardor da inocêncianas verdes pétalas de um nenúfarrechonchudo, como um gafanhotomordisco lentamente o tronco deuma árvore cabeluda, um chorão,atrevendo folhas caídas como lambidasde vaca, que chovem a um tempoaté aos desajeitados regueiros queatormentam as formigas, cujas pernocassaltitam de legume em legume,até à Terra dos Relógios.Lá os coelhos, erguem ao alto as suaspatas em franca amizade para como Sol.

Saboreando um bom bocado de queijosuíço, apreciamos a profundidadeque cada pedaço de universo pode ter,depois é só saber distinguir o queijodo buraco.

Um relógio gigante no pátio.Um discípulo batia com um marteloo mestre indicava com movimentos firmeso tempo da pancada.— Basta... assim não! Assim não!O aluno pára.Eu do fundo do pátio, observava as chispasque eram cuspidas do cérebro do mestre— Como quer que o ponteiro dos segundosse mova? — bramia — É preciso que amartelada lembre ao ponteiro o sominesquecível dos segundos.

procurei o ácaro durante toda a tarde.Quando entrei de novo na sala de ensaioé que reparei no bilhete cravadona mesa, debaixo e uma pedrada praia.— Fui e já volto. Não te esqueçasde alimentar o meu silêncio. Beijos

3MINUTOS

Todos os dias, um escritor rigoroso, tomava a suapena entre mãos, e lavrava pacientemente os seuspensamentos, os seus momentos bons e menos bons, assuas palavras novas e em segunda mão, as suasciências e imaginações.Tudo embutido nas folhas.certa noite, levantou-se meio a dormir,pegou fogo a uma ou duas dessas páginas,voltando a deitar-se.Incomodado e sem conseguir dormir, dava voltasno seu catre velho, até que ouviu uma voz quedesesperadamente gritava por socorro.Intrigado e pensando ser a sua imaginação,forçava os seus olhos a fechar, enquanto a vozcarpia desalinhadamente: — Sai, sai...O escritor não sabia já o que fazer.— sai de cima de mim — gritou a voz.Levantando-se viu um ponto brilhante no meiodos lençóis.Era um ácaro que disse ao ver o espantodo escritor: — Está bem, vou apagar a lanterna.Depois de se recompor, o ácaro disse ter sidoenviado por Deus, para lhe dizer que o fogopurificava tudo.O escritor não entendera nada. Mal tinhacomeçado a fazer perguntas, já o ácaro haviadesaparecido.De manhã, levantara-se confuso. Sonhara quetinha acordado para lançar ao fogo duasdas suas preciosas folhas.Ao entrar na sala de banho para dar asinhasàs ramelas, encontrara fixo na porta com umsabre Japonês um manuscrito minúsculo.Trouxe a lupa e leu:«Não te apoquentes. Tudo o que foi escrito revive em ti. Por isso,

mesmo que queiras esquecer, não podes. E depois... enquantoestiveres a escrever os próximos, acharás a resposta para o teusonho.»

Lembra-te: Deus sabe o que faz.Não te esqueças (ou P. S. se quiseres): arranjauma cama decente, estou no seu aflito das costas.

3MINUTOS

na origem da conotação destas paragenscom a região dos Oestriminides, identifi-cada enquanto Oestriminia — encontra-sedizia, uma identidade cultural pré-históricacomo existem poucas na Europa, coerente-mente definida pelo espólio encontradonos seus monumentos sepulcrais ouvotivos, ou em habitats de superfície, for-tificações ou grutas.

A Romanização, a Cristianização e aIslamização perpetuaram lugares arcaicos,mas também identificaram e criaramoutros. Alguns foram mesmo instituídos

modernamente há mais de 200 anos, e dosquais vos falarei noutras edições do Con-trapontos, designadamente a Capela deNossa Senhora da Peninha, a Capelade São Saturnino, o Santuário aoSol Aeterno Lunae e outroslugares mágicos que fazem

a estória da história e estão bem perto detodos nós.

FALCÃO AO LUAR

COLABORAÇÕES LITERÁRIAS

Page 10: Jonal Contrapontos

O VINHOEM COLARES

camente para a produção do Vinhode Colares).

Para percebermos melhor, otermo chão rijo deriva do facto de otipo de terreno onde a vinha é culti-vada ser argiloso. Primeiramente,para a sua cultura era feita umasurriba funda (espécie de vala comcerca de 60 cm) onde as videiras autilizar eram introduzidas. Maistarde, já em meados do século XX, foinecessária a utilização de videirasamericanas, como cavalo (porta-enxertos),para enxertia com vinha da variedadeRupestris Montícola (esta técnica permitiuo combate à Filoxera — praga de insectosque tanto prejudicou a produção nacional)por ser resistente ao insecto e assim permi-tir que os enxertos produzissem da uvadesejada.

No caso da vinha de chão de areia ainstalação é um pouco mais complexa. Ossolos necessários para esta prática resultamde antigas deposições dunares (algumaszonas do actual pinhal foram praias que,devido ao processo de regressão do marderam lugar à paisagem tal como a conhe-cemos) instaladas sobre camadas argilosas.Para a instalação da vinha neste tipo desolos são feitas valas até ser encontrada acamada argilosa, que podem ir até aos 10metros de profundidade. Este procedi-mento deve-se ao facto de ser necessárioencontrar solo com níveis de humidade ede nutrientes necessários ao bom cresci-mento da vinha.

Este é um processo antigo que envolviaum elevado esforço e empenho por partedos vitivinicultores: primeiro marcava-seno solo uma área em círculo ou quadrado,medindo aproximadamente 20 m2. Daíia-se retirando a areia usando enxadas lar-gas, e à medida que a vala se tornava maisfunda, estreitava em forma de funil paraevitar os desabamentos das areias. Entre-tanto, dispunha-se várias filas transversaisde operários que iam metodicamente reti-rando a areia, puxando-a de uns para osoutros, desde o fundo da vala até à super-fície. Era comum, durante a abertura dasvalas, ocorrerem desabamentos de grandesquantidades de areia que se desprendiam

das rampas, pelo que os operários estavamsempre munidos de cestos que enfiavam nacabeça, com o fim de poder resistir à asfi-xia durante algum tempo até serem socor-ridos.

Após este duro processo de escavação,quando se atingia a superfície do barro,uma área com cerca de 2 m2 era aberta nofundo do funil, onde então eram cavados30 buracos com aproximadamente 20 cmde profundidade e que ficavam dispostosem três linhas. Nestes buracos eram plan-tados os bacelos (braçadas da videira pro-dutora que eram educadas a «trepar» àsarvores até terem entre 6 e 10 m de com-primento e estarem prontas a ser introduzi-das no solo) que, embora não criassemraiz, conseguiam absorver toda a humidadenecessária através dos tecidos implantadosno barro. Os que ficavam nas linhas late-rais estendiam-se sobre as paredes do funil,os das linhas centrais eram verticalizadoscom o auxílio de canas espetadas. Aindaneste momento inicial, os bacelos eramparcialmente cobertos com areia. A partirdaí, o seu crescimento era meticulosa-mente acompanhado e à medida do seudesenvolvimento, estes iam sendo cobertosalternadamente com areia e estrume.Estima-se que cada grupo de 30 bacelosdaria origem a cerca de 100 cepas.

À superfície, para uma maior protecçãocontra os ventos marítimos e criando ummicroclima favorável, este tipo de vinhaera educado a crescer de forma rastejanteem terrenos murados por pedra solta, ondeeram construídos abrigos de cana ou pali-çadas que, aproveitando os materiais dis-poníveis, contribuíam também para a cria-ção de uma paisagem característica.

A ideia de escrever este artigo surgiude três motivos diferentes. Por um lado,deve-se ao facto de um de nós estar a tra-balhar estes assuntos; por outro, ambosvivemos nesta zona e incomoda-nos cons-tatar o quanto está em mutação, sem quesejam salvaguardadas algumas das caracte-rísticas que a valorizam e que fazem parteda sua identidade. O terceiro motivoprende-se com a oportunidade de publica-ção. Neste sentido, a associação 3pontose o Contrapontos funcionaram comoimpulsionadores da nossa capacidade deexpressão.

Tentaremos, ao escrever estas linhas,caracterizar alguns aspectos do Vinho deColares, contextualizar a sua presença eimportância, deixar algumas informaçõesrelativas ao seu estado actual — ideal-mente sensibilizando os mais jovens paraeste âmbito — e aproveitar a oportunidadepara fazer pequenas sugestões apontandoaspectos que possam contribuir para umasolução do problema. Sendo esta umaquestão já com alguns anos, limitamo-nosa dar voz a ideias e opiniões repetidamenteformuladas por especialistas, que nos ser-vem de base para esta tentativa. Este artigoficará dividido em duas partes, de modo aque possamos tentar escrevê-lo de umaforma completa e ao mesmo tempo estru-turada e agradável. Sendo esta a primeira,a próxima será publicada no Contrapontosde Maio.

A tradição vitivinícola na região deColares tem mais de oito séculos de histó-ria, dotada de algumas peculiaridades quevale a pena conhecer. Uma delas é o factoda sua produção recorrer a uma técnicaexclusiva da região. Como é sabido, avinha é uma cultura agrícola que consistena produção de uvas para mais tarde delasse fazer vinho. Este tipo de cultura édiferenciável através de diferentes tipos detécnicas de cultivo e de castas utilizadas.No caso específico da região de Colares,desde longa data se utilizam dois tipos detécnicas: a vinha de chão rijo (técnicacomum a outras regiões vitivinícolas) e avinha de chão de areia (utilizada especifi-

ESTÓRIA DA HISTÓRIA

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Este tipo de cultura era muito traba-lhoso, mas permitia a produção de vinhaem terrenos onde não era rentável outrotipo de agricultura. Por outro lado, era esteo modo como se conseguia proporcionar ascondições ideais à casta Ramisco que, ape-sar de não atingir elevada produção porhectare, dá origem a um vinho de exce-lente qualidade e muito procurado.

É também necessário dizer que aimportância histórica e socio-económica davinha na região é inegável, como o com-provam diversos documentos de variadostipos que percorreram o tempo até aos diasde hoje. Seguramente, podemos afirmarque Colares dá nome a uma Região Vitivi-nícola das mais antigas de Portugal. Actual-mente, esta Região abrange três freguesiasdo concelho de Sintra: Colares, São Joãodas Lampas e São Martinho. Os registosque comprovam a presença de vinharemontam ao século XII, altura em queD. Afonso Henriques ocupou Colares eobrigou os mouros que ficaram a pagar umtributo de permanência. Desse modo, o reimantinha o território conquistado, em pro-dução e a gerar riqueza. O tributo chegoua ser ¼ daquilo que produziam e dele faziaparte o vinho, a par dos cereais, do pão, dafruta, etc.

A introdução da famosa casta Ramiscoveio mais tarde, no século XIII, por intermé-dio do rei D. Afonso III que, numa passa-gem pela cidade universitária de Cahors,em França, recebeu dum sacerdote algunspés de vinha. Esta casta viria então a serimplantada em Colares, na altura aindacultivada pelos mouros.

Noutros tempos, o vinho de Colares foio néctar servido na mesa dos reis e a suaprodução chegou a ser suficiente para darresposta ao consumo nacional. Este vinhofoi também muito procurado pelas nossasrelações comerciais externas, sendo a suaprimeira exportação datada de 1369, noinício do reinado de D. Fernando I. Maistarde, já na época dos Descobrimentos, oVinho de Colares tornou-se num dos prefe-ridos entre os vinhos destinados à Índia,devido à sua elevada qualidade e longevi-dade. Existem registos que indicam quepor cada 70 barris transportados numa nau,20 eram de Colares e os restantes dasoutras tantas regiões do país.

Em 1865, quando a já referida praga deFiloxera provocou o declínio da vinhanacional, verificou-se na região de Colaresque as vinhas plantadas em chão de areialhe eram imunes. Este facto encorajou asua expansão, pelo que chegou a atingiruma área com cerca de 2000 hectares. Éentre 1900 e 1920 que a vinha de chão de

areia saboreia os seus anos de glória, sendoem 1908, no reinado de D. Manuel II, oano em que a Região Vitivinícola de Cola-res vê oficialmente reconhecida a sua ele-vada importância e excelência ao receber oestatuto de Região Demarcada.

A glória não durou muito. Logo aseguir a este período, a difusão da novatécnica de cultivo em chão rijo relançou aprodução nacional de vinhos, acabandopor criar um problema de escoamento nomercado. Para resolver a situação difícilem que se encontravam muitos agriculto-res, é criada em 1931 a Adega Regional deColares que passou a funcionar como regu-lador do mercado do Vinho de Colares.A adesão por parte dos vitivinicultores foiesmagadora, contrariando os hábitos indi-vidualistas tradicionais. Foi talvez o pri-meiro indício de associativismo na região,o que revela mais uma vez a importânciadesta cultura em termos sociais.

Outra infraestrutura, centenária, asso-ciada ao Vinho de Colares é o eléctrico deSintra. Construído como meio de trans-porte e infraestrutura de apoio ao turismo,foi também utilizado como apoio ao escoa-mento dos produtos agrícolas da região.A sua inauguração, em 1904, surge nosprimeiros anos de glória deste vinho e oeléctrico passa então a ser o seu principalmeio de transporte até à estação de com-boios de Sintra, de onde então seguia até àcapital. Dizem os populares que até o ali-nhamento de plátanos, no percurso doBanzão até Sintra, foi instalado para pro-porcionar sombra ao transporte do vinho,contribuindo para a manutenção das suascaracterísticas e qualidade. O mesmo seaplica aos majestosos plátanos implantados

na frente da Adega Regional. Ao provoca-rem sombra nas suas paredes, contribuempara um ambiente sombrio e frio no seuinterior durante todo o ano. Deste modo,são criadas condições excepcionais para operíodo de estágio — envelhecimento dovinho, inicialmente em tonéis de carvalhoe posteriormente em garrafa de vidro comrolha de cortiça.

No próximo Contrapontos, falaremossobre o estado preocupante em que seencontra a Vinha e o Vinho de Colares, ascausas e consequências, assim como tenta-remos esboçar aspectos que os especialis-tas consideram poder contribuir para asolução dos actuais problemas.

Referências

PAULO, J. A. V. 1992. Estudos científicosde base com vista à elaboração de umaestratégia de reconversão da RegiãoDemarcada de Colares. Universidadede Évora.

PAULO, J. A. V. 2002. A Vinha e o vinho deColares, uma região demarcada desdeo início do século XX. Colecção de pos-tais. ICN/Adega Regional de Colares.

PNSC 2003. Relatório do Plano de Orde-namento do Parque Natural de Sintra--Cascais. ICN.

http://www.confagri.pt/Sites/Entidade/Colares/

http://www.cm-sintra.pt/

As imagens que acompanham o texto são doarquivo da Adega Regional de Colares.

MARCO COSME

JOSÉ MANUEL SILVA

Page 12: Jonal Contrapontos

E o Óscar vai para...Existem filmes que nos marcam. Quer seja pela sua

história (verídica ou não), quer seja pelos actores, que têmo poder de fazer um filme parecer óptimo, ou não, depen-dendo do seu papel, e até existem aqueles que apenas amúsica nos prende ao ecrã... (é claro que estou a falar dosmusicais!!!)

Mas aquilo que eu tenho em mente, é acerca de outrotipo de filmes...

Venho falar-vos daquele tipo de filmes que, na alturaem que os vemos, nos passam despercebidos, e só maistarde (de vez em quando, muito mais tarde...) é que fazemtodo o sentido, e ficamos de boca aberta a pensar: «estetipo é um génio!!! Como é que aquele gajo foi capaz deimaginar o futuro de uma forma tão clara...»

Estou a falar-vos de um filme, que me marca agora.Retrata um futuro sem robots, sem naves e... sem gaso-lina (!!!!)

Devido, provavelmente, a um qualquer cartoon, omundo sofreu (no verdadeiro sentido da palavra) umaguerra mundial, e depois dessa tempestade veio umabonança relativa...

Neste filme o mundo como nós o conhecemos deixoude existir. As pessoas procuram torneiras para poder saciara sede, não existem supermercados para fornecer alimentose para sobreviverem tem de organizar raides a destroçosespalhados por longos desertos, em busca de alimento,água e combustível (a gasolina é tida como produto essen-cial)...

Bem, confesso-vos que na altura que vi o Mad Max(é este o nome do filme), era ainda novito. Fiquei umbocado desiludido, pensei que o realizador era um pessi-mista. Agora, observando bem os factos, e passado talvez,6 anos desde que o vi no cinema (eu sei que não é assimtanto tempo, mas é que o tempo já não é aquilo que era)já não penso assim. Neste momento só quero que aquelapelícula, ao contrário de tantas outras, não se torne reali-dade...

Pelo andar da carruagem estou prestes a reconhecer queaquele realizador era de facto um visionário...

Reparemos então nos factos actuais e vamos comparar:sabemos agora que um desenho (e peço desculpa se estoua ofender algum cartoonista), pode provocar uma guerraentre o mundo ocidental e oriental; sabemos que a huma-nidade está de braço dado com um problema de saúdepública (gripe das aves) que pode dizimar milhares devidas; sabemos que a nível ambiental ao invés de estarmosa caminhar no bom sentido, estamos a dar passos largospara um colapso total.

Se assim for, o que o futuro nos reserva nunca será aperfeição mas sim um género de futuro pré-histórico, emque as únicas diferenças dos nossos parentes primitivos, éque nós já sabermos o que é o fogo ou a roda... tudo o restoque nos esforçamos por aprender só sabemos que existemas nunca soubemos lidar verdadeiramente com isso....

CARLOS ZOIO

Carnaval em «ponto pequeno»...

Nos passados dias 18 e 25 de Fevereiro, dias que antecede-ram o tão esperado Carnaval das crianças e graúdos, realizou--se um encontro entre os colaboradores da Associação 3pontoscom as crianças de Fontanelas e Gouveia para criar fantasiascom o reaproveitamento de desperdícios.

A experiência foi muito positiva para ambos os lados. Só ofacto de podermos observar onde a motivação e imaginaçãopôde levar este grupo de corajosos a trocar o «politicamentebonito» pela mensagem, mensagem esta que eles tiraram destainiciativa e puderam transmitir aos outros... É possível«recriar» e não apenas «fazer ou comprar um novo»...!

A 3pontos, além dos participantes directos deste evento,agradece aos indirectos, os pais, que apoiaram esta vontade dedizer, mostrando, que alguém se preocupa!!!

Pedido de colaboração aos leitores!

No passado dia 27 de Fevereiro, véspera de Carnaval, oscolaboradores da 3pontos abordaram o tema da reciclagematravés de um desfile e concurso de máscaras na URDFG.

Agora, terminada a época festiva, gostaríamos de continuara passar a mensagem, e vimos desta forma pedir a vossa cola-boração na criação de uma peça de teatro.

Aos personagens, por nós apresentados no decorrer do con-curso de máscaras, pretendemos dar vida.

Queremos que os Ecopontos, Contentores, Papeleiras,Pilhas, Embalagens, etc., ganhem vida numa peça teatral.

Solicitamos, a todos que, até 1 de Maio nos façam chegarideias para serem levadas à cena. Desta forma, os que nãoestiveram presentes, terão a oportunidade de ver o que perde-ram e os que já viram, de rever...

Os argumentos deverão ser enviados por e-mail, carta ouentregues em mão na morada indicada no Contrapontos.

VERÓNICA SOUSA