Jornal Comunicação

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Co:::unicação www.jornalcomunicacao.ufpr.br jornal laboratório do curso de jornalismo da ufpr edição 02 | maio de 2008 CULTURA GERAL POLÍTICA PÁG. 3 PÁG. 5 PÁG. 8 Coexistência dos sistemas majoritário e proporcional gera discussão sobre a eficiência das eleições democráticas brasileiras Comprometimento e profissionalismo podem garantir efetivação após o período de estágio Pesquisa mostra que menos de 25% dos estudantes da UFPR leêm mais de dez livros por ano Polêmica sobre células-tronco embrionárias reacende discussão em torno da Lei de Biossegurança

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Jornal laboratório do curso de jornalismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) - Edição de Maio de 2008.

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Co:::unicaçãowww.jornalcomunicacao.ufpr.br jornal laboratório do curso de jornalismo da ufpr

edição 02 | maio de 2008

CulturaGeralPolítiCa

PáG. 3 PáG. 5 PáG. 8

Coexistência dos sistemas majoritário e proporcional gera discussão sobre a eficiência das eleições democráticas brasileiras

Comprometimento e profissionalismo podem garantir efetivação após o período de estágio

Pesquisa mostra que menos de 25% dos estudantes da UFPR leêm mais de dez livros por ano

Polêmica sobre

células-tronco embrionárias

reacende discussão em torno

da Lei de Biossegurança

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EditorialO que de fato importa

A Coréia do Norte, do ditador Kim Jong II, chama-se oficialmente República Democrática Popular da Coréia, o que tem como intuito projetar uma cortina de fumaça sobre o fato de que ela é hoje a nação mais fechada do globo. As vozes oficiais são, na maioria das vezes, exatamente isso – acordos tácitos para esconder o estado deplorável dos bastidores.

Algo parecido acontece com o Brasil quando nos declaramos um Estado laico. Ignora-se que somos o maior contingente de católicos do planeta, inseridos em um continente que hoje é o principal pilar de sustentação da Igreja de Bento XVI. Mas isso não modifica os fatos. Aqui, assuntos estritamente éticos e jurídicos sempre ga-nharam um protagonista a mais: a moral cristã. A questão do aborto é um exemplo. As pesquisas com células-tronco embrioná-rias transformaram-se em outro. Para isso, a Igreja não precisa de bancadas no Congresso – embora as tenha. Seus dogmas se tornaram uma questão cultural.

Em qualquer debate a respeito de ques-tões como o aborto ou as células-tronco, lá está um padre, um bispo ou um monsenhor, batendo na tecla do direito à vida e da não interferência do homem no que Deus criou à sua imagem e semelhança. Têm uma posição firme e clara, disso não há dúvida. Mas não é para menos: ela é a mesma há milênios. Ainda assim, existe um grande contingente pronto a acatar qualquer coisa que eles digam com a força de uma lei outorgada. E fica cada vez mais difícil manter um debate sensato orbi-tando em torno de verdades absolutas.

Nossa matéria de capa fala justamente sobre o problema ético-científico da vez, as células-tronco embrionárias. Colocamos a lente sobre o ponto da questão que mais gera discórdia, os embriões excedentes das clíni-cas de fertilização in vitro. Não há opiniões religiosas – pelo menos não oficialmente –, o que não significa que não haja divergên-cias: o próprio meio científico não entra em consenso sobre muitos pontos do tema. Completando, na entrevista ao lado aborda-mos a clonagem terapêutica, uma possível alternativa da ciência para o tratamento de doenças degenerativas.

Porém, como o fato de termos apartado a fé da discussão científica não significa uma militância anti-religião, trazemos na editoria de Comportamento uma reportagem sobre a juventude e a busca pela espiritualidade. A coexistência, no Brasil, de dois sistemas eleitorais distintos (que em outubro, ele-gerão nossos representantes municipais) e as divergências e incongruências que eles geram no cenário político também são temas desta edição. Antecipamos, assim, um traba-lho que terá continuidade no Comunicação Online – e talvez aqui mesmo – na tentativa de esclarecer e preparar o leitor para as elei-ções deste ano.

Há ainda matérias sobre os hábitos de leitura dos universitários da UFPR, incluin-do uma pesquisa sobre o quanto e o que estamos lendo, e o mercado de trabalho para os estagiários – afinal, o que se espera dos estudantes quando eles enfim colocam a mão na massa?

Atualmente, debate-se no Brasil a cons-titucionalidade da Lei de Biossegurança que permite a pesquisa com células-tronco, obtidas a partir de embriões congelados em clínicas de fertilização in vitro. Porém, em alguns países já se pesquisa a possibilidade de obtenção das mesmas células-tronco a partir da clonagem terapêutica.

O método, que já foi testado em cobaias em países como Inglaterra e Coréia do Sul, consiste em retirar o núcleo de uma célula já diferenciada (adulta e formada) e inseri-la em um óvulo vazio, sem núcleo. Caso o pro-cedimento tenha sucesso, o óvulo forma um embrião. A partir dele, podem-se adquirir as mesmas células embrionárias do processo ‘normal’. O aspecto inovador dessa técnica é que uma pessoa que possua um problema no fígado, por exemplo, poderá valer-se de sua própria célula no processo (uma célula da pele, por exemplo), fazendo com que as celulas-tronco resultantes se diferenciem em células hepáticas, sem correr o risco de rejeição, já que o material genético final seria o seu próprio.

Para alguns, a polêmica dessa pesquisa consiste no fato de os cientistas estarem gerando embriões com o fim exclusivo de destruí-los – além do método para a obten-ção de óvulos ser considerado ‘invasivo’.

Críticos ainda afirmam que esse tipo de pesquisa pode vir a estimular a reali-zação da clonagem reprodutiva, a mesma realizada com a ovelha Dolly. Para eles, também é inviável produzir um embrião clonado a partir de qualquer DNA que não seja o da própria doadora do óvulo, o que restringiria bastante a utilização da técnica. Nesse caso, só a partenogênese (quando o óvulo anucleado recebe, em seguida, o DNA de uma célula da mesma mulher de que proveio) daria resultado e, somente a própria doadora do óvulo poderia ser beneficiada.

Para entender melhor esse processo – tido como promissor, porém controverso – o Comunicação conversou com o doutor em genética médica Salmo Raskin, incentivador da clonagem terapêutica e estudioso do tema há mais de 15 anos.

Por que existe uma polêmica tão grande a respeito da clonagem terapêutica?Salmo Raskin: Essa polêmica existe por-que ela é uma ferramenta que permite produzir células-tronco embrionárias a partir das células adultas de um indivíduo. E envolve a destruição do embrião para isso. Nessa técnica, você cria um embrião que será destruído para dele obter células-tronco. Parte da sociedade que é contrária à clonagem terapêutica alega que são cometidos dois ‘erros’ no procedimento: a criação do embrião com a finalidade de destruí-lo, e a própria destruição. O primei-ro não ocorre quando se trata de embriões sobressalentes de clínicas de fertilização in vitro. Daí vem toda a polêmica, e é por isso que a Lei de Biossegurança proíbe a clonagem terapêutica.

O embrião gerado pode vir a se desenvolver?Raskin: Se for implantado em um útero, o embrião pode se desenvolver. Mas acontece que o procedimento é feito todo em labora-tório, sem a participação de uma gestante.

Um novo debate ético

Para o senhor, se a clonagem terapêutica for permitida, a reprodutiva também poderá ser?Raskin: Acredito que não há risco algum de a clonagem reprodutiva ser legalizada. Primeiramente, porque não traz qualquer benefício para a sociedade, ao contrário da terapêutica, que tem um enorme potencial. Além disso, a clonagem reprodutiva carrega todo o ônus do problema ético, religioso, moral, filosófico. Outro aspecto é a sua ineficiência técnica [os clones apresentam envelhecimento precoce e maior tendência a adquirirem determinadas doenças]. Não consigo visualizar o dia em que ela seja legalizada. O que existe é a possibilidade de algum maluco implantar em um útero um embrião gerado para clonagem terapêutica. Isso não é impossível.

O senhor conhece as opiniões de juristas sobre a clonagem terapêutica?Raskin: Não, embora eu acompanhe discus-sões sobre o tema. Por outro lado, ouvi de um jurista que a clonagem terapêutica seria menos antiética do que o uso de embriões gerados em clínicas de reprodução assistida. Ele apontou que, no procedimento, não ocor-re fecundação, e sabe-se que um dos dogmas envolvidos na discussão é que a vida se inicia quando o óvulo é fecundado. Além disso, o objetivo não é gerar um indivíduo, mas apenas células-tronco. Já o embrião gerado a partir de fertilização in vitro é criado com o objetivo de se desenvolver, embora nem sempre seja implantado. Não posso dizer que todos os juristas pensam assim, apenas conheço a opinião deste em especial.

E qual é a sua opinião?Raskin: Acredito que a pesquisa deve ser legalizada. Vale ressaltar a diferença entre pesquisa e uso clínico. Às vezes, o intervalo entre ambos é de cinco décadas. Do mesmo modo, acredito que o uso de células-tronco embrionárias em pesquisas deva ser permi-tido também.

Como é o procedimento para a obtenção de óvulos? É invasivo?

Raskin: Sim, é um procedimento bastante invasivo, porque a mulher recebe altas doses de hormônios para liberar vários óvulos. Também é necessário realizar uma pequena cirurgia para retirá-los das trompas uterinas. Vamos salientar que no Brasil não se realiza esse tipo de intervenção para se obter óvulos destinados à pesquisa.

As células-tronco geradas a partir da clonagem terapêutica têm maior risco de apresentar mutações do que as embrioná-rias comuns?Raskin: Nunca ouvi dizer que houvesse maiores chances do que as naturais. É uma pergunta a ser respondida pela pesquisa.

E sobre a polêmica das células-tronco em-brionárias, o senhor possui uma opinião formada?Raskin: É um assunto bastante complexo e não se pode formar opinião de um minuto para o outro. Depois de estudar o assunto, acredito que a sociedade deve permitir a pesquisa com células-tronco provenientes de embriões sobressalentes, com o consen-timento dos pais, em troca da possibilidade de cura.

Qual é a situação das pesquisas com clona-gem terapêutica em outros países?Raskin: Inglaterra, Israel e Coréia do Sul têm avançado de maneira impressionante nessa área, embora ainda não tenham idealizado tratamentos. Afinal, a pesquisa não se mede em meses, mas em décadas.

Que interesses prevalecem na discussão? Os econômicos ou os da saúde?Raskin: Acredito que não haja o predomínio de um sobre outro. É importante que haja esse equilíbrio, para que não se repita o que ocorreu com os remédios para tratamento da Aids. Nesse caso, o setor privado investiu pe-sadamente, e o setor público tomou a decisão fácil de quebrar a patente. É mais cômodo do que apostar nas pesquisas do país.

Guilherme de Souza

opinião

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VOTO Coexistência de dois sistemas eleitorais distintos gera opiniões divergentes

O desafio das eleições democráticasEm outubro serão realizadas eleições dire-

tas e universais pela 12° vez no Brasil desde a redemocratização. O voto é obrigatório para a faixa etária que vai dos 18 aos 70 anos. O com-parecimento às urnas de idosos com mais de 70 e de jovens entre 16 e 18 anos é facultativo. “Somos um dos países com maior contingente etário de eleitores”, informa o coordenador de Comunicação do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Marden Machado.

A legislação brasileira prevê a coexistência de dois sistemas eleitorais: o majoritário e o proporcional. Prefeitos, governadores, sena-dores e o presidente da República são eleitos de acordo com o sistema majoritário. Prefeitos de cidades com mais de 200 mil habitantes, go-vernadores e o presidente precisam da maioria absoluta dos votos (50% mais um), seja em primeiro ou segundo turno. Já os senadores são eleitos quando conquistam a chamada maioria relativa – o maior número de votos em relação aos demais candidatos de um dado território. A maioria relativa também se aplica aos prefeitos de cidades com menos de 200 mil habitantes.

Já o sistema proporcional regulamenta a escolha dos vereadores e dos deputados esta-duais e federais. Marden Machado explica que dessa forma a representação é distribuída pro-porcionalmente entre os partidos concorrentes – assim, segundo ele, os partidos pequenos têm a chance de conquistar mais cadeiras.

Pelo sistema proporcional, há o chamado quociente eleitoral, que corresponde ao núme-ro de eleitores votantes dividido pelo número de vagas em disputa. O resultado da divisão dos votos recebidos por cada partido ou coli-gação por esse quociente, representa o número de vagas a que cada legenda tem direito. “Se um partido consegue um total de 320 mil votos com todos os seus candidatos e o quociente eleitoral é de 105 mil, ele terá direito a três vagas, que serão ocupadas por seus candidatos mais votados”, exemplifica Machado.

Esse sistema, entretanto, gera discussão sobre a possibilidade de um candidato menos votado conseguir se eleger apoiado pelos votos de outro. Foi o que aconteceu quando Enéas Carneiro (1938-2007), do Prona, obteve mais de 1,5 milhão de votos para deputado federal, em 2002, em São Paulo. Sua votação acabou levando para a Câmara mais cinco candidatos do partido que obtiveram votações inexpres-sivas – quatro delas abaixo dos mil votos. “O fato de outros candidatos entrarem de ‘carona’ numa eleição, sem dúvida, é uma distorção da representação política no Brasil”, defende o pesquisador do Núcleo de Sociologia Política Brasileira da UFPR, Bruno Bolognesi. Já para o deputado estadual Tadeu Veneri (PT-PR) a tese de que o mandato pertence ao partido justifica o sistema proporcional. “Ele é demo-crático porque, em teoria, naquele momento, todos os que foram eleitos representam um projeto partidário”, diz ele.

A tese dos mandatos partidários foi en-dossada, em outubro do ano passado, por uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Agora, os políticos eleitos tanto pelo sistema proporcional quanto pelo majoritário ficam sujeitos a perda do cargo caso mudem de legenda durante o mandato. Com isso, pretende-se driblar o troca-troca de partidos e evitar outro ponto falho do sistema pro-porcional: o comportamento individualista

hoje, que as siglas utilizem métodos diferentes, que vão desde prévias com a participação dos filiados até indicações unilaterais da cúpula partidária. “Quando bem conduzidas, as prévias permitem que os candidatos, antes de serem anunciados publicamente, tenham que expor o que de fato pensam, como irão conduzir o partido e a campanha, de onde virão os recur-sos, como estabelecerão as suas alianças e quais serão suas prioridades”, defende Veneri.

Apesar de todo o debate, o professor da es-pecialização em Sociologia Política da UFPR Emerson Cervi acredita que o sistema elei-toral brasileiro é democrático, graças ao voto direto universal e à pluralidade de partidos. “É claro que não se trata de um sistema perfeito, mas funciona bem quando o objetivo é fazer com que os representantes se aproximem dos representados”, comenta.

A pesquisadora Luciana Veiga lembra que o sistema eleitoral norte-americano (que conta com prévias partidárias e apenas duas legendas de real envergadura) foi considera-do por muito tempo como um exemplo de democracia, mas começou a perder credibili-dade depois da reeleição de George W. Bush, em 2004. “Na verdade, ele perdeu em número de votos oriundos da população, o que mostra que o modelo eleitoral norte-americano acaba atrapalhando um processo de representação direta”, diz. Entretanto, para Bolognesi esta é uma diferença que deve ser avaliada com cuidado. “É claro que o sistema brasileiro é mais direto e sugere uma maior autonomia de escolha, porém existem fatores como as próprias prévias que podem qualificar de forma diferente os sistemas eleitorais ao redor do mundo”, conclui.

Juliana KarPinSKi

de vereadores e deputados que, depois de eleitos, fogem do controle dos partidos.

Fortalecimento da Democracia

A reforma política, que ainda não foi votada, pode melhorar o funcionamento das eleições. A proposta que tramita no Con-gresso regulariza a fidelidade partidária, a cláusula de barreira, o voto obrigatório e o fundo público de campanha. A cláusula de barreira, um dos pontos mais polêmi-cos, estabelece uma série de restrições aos partidos ‘nanicos’. Para terem direito ao funcionamento parla-mentar em qualquer casa legislativa, eles precisariam alcançar pelo menos 5% dos votos válidos para deputado federal no país. Do contrário, não poderiam mais ter estrutura de lide-rança, nem participar de bancadas nas câma-ras municipais e Federal ou nas assembléias legislativas. Para alguns, a ‘cláusula de barreira’ é importante porque evita a fragmentação ideológica das legendas e coíbe os chamados partidos de ‘aluguel’ – aqueles que, sem uma ideologia clara, acabam negociando apoios no Legislativo e dificultando a governabilidade.

Outros, contudo, apontam a livre organi-zação partidária como um aspecto positivo na

defesa da democracia. De acordo com Tadeu Veneri, é preciso que as pessoas e os grupos tenham liberdade de organização em partidos que se identifiquem com suas propostas e idéias. “Não podemos deixar de ter partidos menores com propostas ideológicas diferentes dos maiores”, defende. O pesquisador Bruno Bolognesi concorda. Para ele, ainda é impor-

tante que esses parti-dos não se limitem à atuação parlamentar ou eleitoral, mas se-jam também ativos em outras áreas. “É o caso do PV, no Brasil, que atua nas questões humanistas e ambien-tais e, de certa forma, reflete isso em capital político”, exemplifica.

Outro fator que poderia contribuir para o processo de-mocrático seria a re-gulamentação interna dos partidos. Hoje, eles são considerados instituições privadas e desfrutam de uma larga margem de au-

tonomia. Mas, de acordo com a pesquisadora do Laboratório de Comunicação e Política da UFPR Luciana Veiga, o nível de democracia nos processos de decisão interna varia conforme a agremiação. “Partidos de direita como PP e PFL [atual Democratas], são mais centralizados, ao contrário de PT e PMDB, onde há uma grande descentralização”. Para Bolognesi, é necessário fortalecer a democracia dentro dos partidos, o que envolve mudanças em aspectos do sistema eleitoral. Um exemplo deste tipo de mudança, segundo o deputado Tadeu Veneri, seriam as prévias para a escolha dos candidatos que re-presentarão cada partido. A legislação permite,

Os vereadores são eleitos pelo sistema proporcional, que alguns especialistas dizem distorcer a representação direta

É claro que não se trata de

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FUTEBOL O trabalho desenvolvido por trás da festa das torcidas organizadas

Além da paixão pelo clubeAs torcidas organizadas não são chama-

das assim por acaso. Elas possuem nome registrado, símbolos e músicas próprias, além de uma direção formal que cuida das finanças, dos eventos e da festa nos estádios. São mantidas como empresas e financiadas pela venda de material referente a elas. “Nós temos uma marca, reconhecida como marca de patente, com registro, CNPJ e conta no banco”, explica Luiz Fernando Correa, o Papagaio, presidente da Império Alviverde, torcida organizada do Coritiba que, ao lado da Fanáticos, do Atlético Paraense, é a prin-cipal do Paraná – ambas criadas em 1977.

Segundo Correa, seu trabalho envolve a compra e a venda de materiais para os torcedores, a organização de excursões para jogos fora da capital e o desenho de faixas, bandeiras e uniformes. De acordo com ele, ser presidente da Império é sua profissão. “Não dá para ter dois empregos. Alguém que exerça qualquer outra atividade além da torcida não consegue desenvolver um bom trabalho”. Para o vice-presidente da Fanáticos, Juliano Rodrigues, a presidência, além de au-xiliar a torcida em tudo o que for necessário, também tem a função de manter o diálogo com o clube, a imprensa e a policia.

E esses trabalhos vêm rendendo resulta-dos. O chefe do Setor de Planejamento do Comando de Policiamento da Capital, major Douglas Dabul, conta que os confrontos envolvendo torcidas estão diminuindo – o último aconteceu no final do ano passado, no jogo entre Coritiba e Marilia, no Couto Pereira, quando torcedores que ficaram fora do estádio entraram em conflito com a po-lícia. A diminuição da violência, de acordo com o major, é resultado de um trabalho de

prevenção. “Atuamos bastante nessa ques-tão. Fazemos uma reunião preparatória e escoltamos as torcidas de um lugar para o outro. Organizamos um acompanhamen-to”. Mas aconselha: “Seria importante que os próprios dirigentes das organizadas se entendessem melhor, com uma postura de gerência e não de rivalidade”. Algo que as presidências tanto da Império quanto da Fanáticos garantem fazer, coibindo atos de violência e desenvolvendo um trabalho de conscientização junto aos torcedores para pacificar os estádios.

O diálogo com os clubes, porém, não é tão aberto, apesar de ambas as torcidas possuírem uma boa imagem mesmo perante

As organizadas funcionam como empresas e realizam, inclusive, trabalhos de cunho social

ELEIÇÕES Universidade não deve ser afetada pelo afastamento de Moreira

Reitoria terá nova direção em junhoO reitor da UFPR, Carlos Augusto Mo-

reira Júnior, terá de se afastar do cargo até o dia 05 de junho para se dedicar à sua candi-datura a prefeito de Curitiba pelo PMDB. De acordo com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE), o afastamento será definitivo e res-ponde à lei de desincompatibilização, que, em casos como esse, prevê a necessidade de renúncia ao cargo de reitor quatro meses antes das eleições. A partir de então, quem deve desempenhar a função é a vice-reitora, Márcia Helena Mendonça. É o que prevê o re-gimento interno da UFPR. Segundo ele, em circunstâncias de renúncia o vice-reitor deve assumir, sem necessidade de novas eleições, se o titular já houver completado pelo menos metade do mandato – caso de Moreira que, reeleito, assumiu pela segunda vez em abril de 2006. Novas eleições só seriam necessárias se o reitor, não obtendo sucesso em sua candi-datura, quisesse retornar ao cargo. Pretensão que Moreira afirma ter. “Se eu não for eleito e se a lei permitir, quero dar continuidade ao trabalho na Universidade”, declara.

Mas, segundo o prefeito da Cidade Uni-versitária, Ernesto Sperandio, mesmo que a campanha obtenha sucesso, as mais de cem

obras que atualmente estão em andamento na Universidade não devem ser afetadas pela saída do reitor – entre elas estão as salas de aula do setor de Agrárias e dos cursos de Terapia Ocupacional e Enfermagem, o novo Restaurante Universitário do Centro Politécnico e o Centro de Convivência do mesmo campus. “Não há uma certeza, mas acredito que quem assumir dará prossegui-mento aos projetos. Me parece que a equipe está concentrada nesse aspecto”, declara.

A possível candidatura de Moreira pa-rece não ter surpreendido ninguém dentro da UFPR. A presidente da Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (APUFPR), Arislete de Aquino, não é exceção. “A filiação ao partido de Requião é uma prova que ele já pensava em seguir a carreira política”.

A coordenadora do Setorial de Ciências Humanas, Letras e Artes do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Gabriela Caramuru, concorda que a candidatura do reitor não é novidade. “Há um consenso entre os alunos partidários do DCE de que a Reitoria está sen-do utilizada como espaço de campanha, pois o reitor comparece a todos os eventos e formatu-

ras da UFPR fazendo discursos elogiosos a seus projetos”, acusa. Moreira, contudo, nega que suas atitudes como dirigente da UFPR tenham caráter eleitoreiro. “Tudo o que eu faço dentro da Universidade é pela própria Universidade e não para me promover”, defende-se.

Gabriela Caramuru considera também que o aumento no número de obras realiza-das nos campi da UFPR desde o ano passado visam às eleições de outubro. Em 2007 fo-ram gastos cerca de R$ 14 milhões em obras, quase o dobro dos dois anos anteriores so-mados – em 2005 e 2006 o orçamento anual ficou em torno de R$ 4,5 milhões. Para esse ano, ainda não há uma estimativa da verba total, mas os valores em licitações abertas já giram em torno de R$ 8 milhões.

Porém, Ernesto Sperandio, apesar de acreditar que as obras beneficiam a imagem do reitor, diz não saber se os feitos terão re-flexos fora do ambiente acadêmico. “Isso vai ficar na história da instituição, sem dúvida, mas não sei como o fato será levado para fora da Universidade. Isso só vai ser verificado na campanha eleitoral”, finaliza.

Gabriela baStoS

os torcedores não associados. “Preferimos ser independentes da diretoria, para ter voz ativa quando achamos que o clube está er-rado”, diz Rodrigues. Independência que, no caso da Fanáticos, faz com que a torcida não receba nenhum apoio financeiro do clube e seja mantida apenas com o dinheiro dos torcedores. “Todo o lucro é para manutenção e investimento, ou seja, para auto-sustento”, afirma ele. Situação parecida com a da Im-pério, que, porém, algumas vezes recebe apoio do Coritiba, seja na colaboração para o pagamento de ônibus em excursões, seja no subsídio de ingressos para os associados.

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Caso não seja eleito, Moreira diz que quer retor-nar ao cargo de reitor

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As duas torcidas possuem projetos sociais que visam ajudar instituições filantrópicas e pessoas que passam por dificuldades.

A Fanáticos auxilia a Renascer, institui-ção de apoio a dependentes químicos, com a arrecadação de alimentos. A Império, por sua vez, possui a Torcida Social, projeto que envolve doação de sangue, apoio na busca por crianças desaparecidas, cuidados com crianças abandonadas e combate à pedofilia e às drogas. Além disso, faz campanhas para a arrecadação de materiais escolares, alimentos e brinquedos para entidades filantrópicas.

Torcida solidária

Co:::unicaçãomaio de 2008 5geral

TRABALHO JOVEM Empresas buscam universitários promissores e comprometidos

À procura do estagiário perfeitoNa busca por uma vaga de estágio,

qualidade técnica é indispensável. Para es-tudantes universitários, cursos de extensão, inglês e informática passaram de diferen-ciais a requisitos básicos na hora de driblar a concorrência. No entanto, empresas e consultorias apontam a verdadeira chave para quem quer aproveitar as melhores oportunidades do mercado de trabalho: o profissionalismo.

Os recrutadores são unânimes ao afirmar que são o dinamismo, a responsabilidade e a comunicação verbal que fazem uma boa entrevista de estágio. “Estamos sempre atentos ao surgimento de novos talentos, de estudantes que possam crescer dentro da empresa”, ressalta a assistente de recursos humanos (RH) Fabiana Rodigheri. Pró-atividade, foco em resultados e capacidade de concentração também são importantes. Para a sócia-gerente de um escritório de con-tabilidade, Marli Batista, o estagiário precisa ter perfil decisivo na empresa e, ao mesmo tempo, não comprometer na harmonia de sua equipe de trabalho. “A não adaptação e a rejeição são extremamente prejudiciais ao grupo”, analisa.

Esses critérios são avaliados não somente durante a entrevista, mas no decorrer de todo o período de contrato, o que dá mar-gem à efetivação do estudante. “Havendo demanda de mercado, qualidade técnica e comprometimento, o estagiário certamente será contratado”, garante o também assisten-te de RH Antônio Ferreira.

Para a coordenadora de relacionamentos de mercado do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), Emanuele Spaine, o processo de aprendiza-gem pode justificar os erros técnicos do estudante, mas não os problemas compor-tamentais. O descomprometimento, de acordo com Rodigheri, é um dos problemas mais comuns encontrados. “Chegar sempre atrasado ou sair mais cedo demonstram falta de interesse”, diz ela. Marli Batista acredita que, nesse sentido, a internet prejudica mui-to o desempenho dos futuros profissionais. “Longas conversas no MSN e no Orkut são hábitos que não devem ser levados para o ambiente de trabalho”, esclarece.

Mas, de acordo com Spaine, esse tipo de comportamento está em extinção dentro das empresas. “Os critérios de seleção estão cada vez mais rigorosos e somente os estagiários de ponta são contratados”, afirma. Ela diz que o mercado de trabalho exige um perfil completo dos estagiários em todas as áreas. “A idéia de que alunos de engenharia não precisam entender de gestão de pessoas, por exemplo, morreu”, destaca.

Vantagens e desvantagens

O estágio é uma oportunidade de com-plementação do aprendizado e inserção do estudante inexperiente no mercado de tra-balho. Hoje, somente pela rede IEL, quatro

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o mil universitários estagiam em Curitiba. “Este ano, pretendemos inserir mais de 13 mil alunos no mercado”, informa Spaine.

Vinícius Cordeiro é estudante do quinto período de Economia da UFPR, e há um ano e meio estagia. Ele define a experiência como importante para o seu desenvolvimento profissional. “Saímos um pouco da perfeição da teoria vista nas aulas e aplicamos esses conhecimentos”, diz. O aluno do quinto período de Direito da UFPR Mozart Pereira tem opinião parecida. Ele estagiou durante todo o ano de 2007 em um escritório de ad-vocacia. “Eu fazia de tudo um pouco: escrevia petições, carregava processos pra lá e pra cá, ia ao Fórum levar documentos”, conta.

Uma das vantagens do estágio enumera-da pelos universitários é a oportunidade de conhecer as áreas de trabalho com as quais se têm mais afinidade. “Isso vai facilitar a decisão sobre em qual setor eu vou me espe-cializar futuramente”, afirma Cordeiro.

Mas nem todos os empregadores agem corretamente ao contratar um estagiário. De acordo com o advogado Ernani Ka-valkievicz, como o estágio não acarreta vínculo empregatício de qualquer natureza e, portanto, não onera a empresa com os encargos trabalhistas, alguns empregadores maquiam essa relação para adquirir mão-de-obra barata. “O estagiário não deve ficar somente atendendo telefone ou trabalhan-do como office-boy, mas sim praticar a sua futura profissão”, esclarece Kavalkievicz. O advogado explica que tais distorções acontecem pela falta de uma fiscalização rígida por parte do Estado. “Além disso, a lei atual não é clara e deixa a negociação para as partes”, completa.

A nova lei

A discussão sobre a reformulação da lei dos estágios passou pelo Senado e pela Câmara dos Deputados em 2007, e aguarda sanção presidencial para entrar em vigor. Uma das mudanças previstas pela nova regulamentação é a redução da jornada de trabalho para, no máximo, seis horas diárias. Segundo Ernani Kavalkievicz, a alteração é

importante. “Assim, o aluno tem tempo para se dedicar à faculdade”, afirma.

De acordo com as regras que vigoram atualmente a carga horária a ser cumprida não é específica, mas não pode prejudicar a freqüência do aluno na universidade. Alguns empregadores procuram ser flexíveis. “En-tendemos que, às vezes, o estagiário precisa sair mais cedo para comparecer às aulas, e isso não compromete seu desempenho”, garante Antônio Ferreira. Ainda assim, as reclamações são freqüentes. Mozart Pereira relata que a longa jornada de trabalho foi um dos principais motivos que o fizeram sair do escritório de advocacia. “O estágio tomava muito tempo, não dava pra fazer outras coisas”, conta.

O valor da bolsa-estágio também gera descontentamentos. Em busca de uma renda maior, muitos universitários, principalmente aqueles que moram sozinhos ou em repúbli-cas, deixam o estágio de lado e optam por um emprego com vínculos empregatícios. A estudante de Ciências Sociais da UFPR Giseli Gonstarski é um exemplo. Ela, que mora na Casa da Estudante Universitária de Curitiba e, já foi vendedora de papelaria, mas agora trabalha em uma instituição de pesquisa. “O trabalho me proporciona maior independência financeira e flexibilidade de horários”, explica a estudante.

Como não existe um piso de remunera-ção preestabelecido para os estagiários – a negociação do valor da bolsa é feita entre o aluno e o contratante – é possível também encontrar estudantes satisfeitos. A aluna do sétimo período de Engenharia Ambiental da UFPR Maria Luísa de Aguiar estagia há um mês em sua área. “Sou bem remunerada, e a empresa oferece vários benefícios”, diz. Segundo Kavalkievicz, a nova regulamenta-ção não prevê mudanças significativas nesse aspecto. “Contudo, a remuneração e a cessão de vale-transporte tornam-se obrigatórias”, adianta. Outras novidades são o direito à férias remuneradas de 30 dias após um ano dentro da empresa e o período máximo de contrato de dois anos.

nayara brante

Para Vinícius Cordeiro, o estágio pode ajudar na hora de definir a especialização

Co:::unicaçãomaio de 20086 comportamento

ESPIRITUALIDADE A religião ainda ocupa um importante espaço na vida de muitos jovens contemporâneos

A fé segundo a juventudeSer jovem. “Aproveitem a melhor fase da

vida’’, dizem os pais em nostalgia. Ir a festas e conhecer os prazeres da liberdade, consoli-dar ou estrear amizades, escolher a profissão a ser seguida pelo o resto da vida. Juventude combina com música alta, com imediatismo, com o primeiro carro e com o primeiro amor – que alguns descobrem em Deus.

Segundo pesquisa encomendada pelo Comunicação à Agência de Relações Públi-cas da UFPR, que ouviu universitários entre 17 e 25 anos, 74% dos entrevistados julgam a religiosidade algo de grande importância em suas vidas – 44% desses mantêm o costume de freqüentar missas ou cultos semanalmen-te. Tamanho engajamento é justificado de maneira unânime: a busca pela fé.

Freqüentador da Igreja Universal, Nathana-el de Lima, 19, envolveu-se com a religiosidade na época de seu primeiro vestibular. “Precisava de mais confiança e de algo em que acreditar”, explica. No seu trajeto diário rumo ao cursinho pré-vestibular, costumava observar o prédio da igreja e, certo dia, resolveu conhecer seu inte-rior. “Fui muito bem recebido e me senti bem no ambiente. Foi como se eu encontrasse tudo o que procurava”, revela. O vestibular passou e sua fé, entretanto, consolidou-se. “Não deixo mais de vir orar”, conta.

Foi também motivada por uma situação de angústia que Meiriany Andrade, 18, pro-curou apoio na fé. Após perder a mãe em um trágico acidente automobilístico, a jovem enfrentou os sintomas de uma depressão profunda que a levaram ao divã de um psi-canalista. Seis meses após o incidente e sem observar melhoras em seu quadro médico, Meiriany seguiu a sugestão de amigos e acompanhou, pela primeira vez, um culto religioso. “Ao orar senti um enorme alívio e bem-estar, coisa que nem as sessões de tera-pia conseguiam me proporcionar”, recorda.

A procura por uma religião influenciada por amigos ou conhecidos não é particulari-dade do caso de Meiriany – pelo contrário, é a causa mais freqüente de novos adeptos às igrejas, segundo o pastor responsável pelo grupo de jovens da Igreja Presbiteriana Cen-tral, Wladimir Moura. “Muitos adolescentes chegam até nosso grupo por indicação de amigos que já fazem parte das nossas reu-niões. A cada semana esse grupo aumenta”, conta. A decisão por permanecer ou não nos encontros, no entanto, é estritamente pessoal, embora a maioria dos jovens que visitam o templo pela primeira vez se tornem freqüentadores assíduos. “A grande maioria permanece por encontrar novas razões para viver na fé. E isso ainda resulta em novas ami-zades com quem professa a mesma crença, há identificação, fundamental na juventude”, explica o pastor, que vê em um dos jovens desse grupo seu sucessor no templo.

Quando a vocação se manifesta

Arthur Ferreira Martins tinha apenas cinco anos em 1995. Tomado pela mão, foi levado pelos pais a um templo presbiteriano, crença para a qual a família tinha acabado de se converter. O menino cresceu em meio às pol-tronas, às músicas e às citações bíblicas – que, até então, não lhe significavam muito mais que a religião que os pais tinham escolhido. Foram

necessários dez anos e um acampamento reli-gioso para que Arthur descobrisse que aquela era, antes de tudo, sua própria escolha. Ou melhor, sua própria vocação.

Em meio a todo o divertimento do acampamento de que participava junto aos colegas presbiterianos, Arthur conta que teve sua primeira experiência pessoal com Deus. Incerto de como colocá-la em palavras, o jovem explica: “Deus conversou comigo, eu o ouvi e soube o que deveria fazer”. Hoje, aos 17 anos, estuda Teologia e prepara-se para se tornar pastor. Na sua rotina semanal, são dois cultos e ainda a ‘aula’ que ministra ao restante dos jovens do grupo, sempre aos domingos: é nessa escola dominical que ele treina suas futuras pregações, aos olhos do pastor Wla-dimir. “Ele percebeu minha vocação antes mesmo de eu lhe contar sobre o que aconte-ceu no acampamento”, diz o futuro pastor.

Claro em relação à sua proximidade com a fé, Arthur afirma nunca ter sofrido precon-ceito quanto a sua forte religiosidade. “Meus amigos aprenderam a lidar com o fato de que eu vou ser pastor. E os que não conseguiram aprender a lidar se afastaram”, explica, enfati-zando que há respeito por sua escolha. “Rola brincadeira, claro. Me chamam de pastor o tempo todo, mas também pedem para eu orar”, conta. A família, por sua vez, o apóia incondicionalmente. “Sabem que faz bem para mim”, justifica.

Antes de deixar-se envolver pela fé, Ar-thur conta ter tido problemas pessoais, entre os quais se destacavam os de auto-estima. O jovem diz ter sofrido de um forte complexo de inferioridade, superado somente depois da experiência que compartilhou com Deus.

existência da fé. Para Tiago Bandeira, 20, não freqüentar igrejas ou templos não diminui sua proximidade com Deus. “Fui batizado e fiz primeira comunhão, mas não me con-sidero católico. Sou contra a existência de instituições, posso rezar e orar com as minhas palavras e em qualquer lugar”, declara.

É essa ‘proximidade’ com um ser maior, onipotente e presente que Marianne Anu-nes, 21, não consegue sentir. Filha de uma família católica tradicional e praticante, ela não reluta em contar que não acredita em Deus. “Passei a desacreditar no Ensino Mé-dio, quando percebi que tudo pode ser ex-plicado pela ciência. A partir desse momento Deus não fez mais sentido”, retrata.

Já Giuliana Pavanelli, 18, se diz agnóstica – alguém que acredita que a questão da exis-tência ou não de um poder superior (Deus) não foi e nem será resolvida. Embora sua mãe seja católica, a jovem não mantém sequer o costume de orar em agradecimento ou pedido. “Acho que rezar não influi no decorrer das coi-sas. É mais uma busca por conforto”, defende. No ano passado, Giuliana teve uma conversa definitiva com a mãe sobre a religião e a falta dela. “Ela respeita minha posição, e disse que acredita em Deus por refúgio, porque talvez não tivesse coragem de não acreditar”, recorda. “Também respeito a fé de quem acredita em Deus. Ele pode ser constante na vida dessas pessoas, mas não é na minha”, conclui.

Confira na editoria de Comportamento do site do Comunicação (www.jornalco-municacao.ufpr.br) mais matérias da série de reportagens sobre juventude.

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“Depois disso eu soube que Deus me amava, e isso foi suficiente para mim. Me bastou. Se ele me amava, não havia porque me sentir inferior”, relata. “Passei a me valorizar mais, e a valorizar os outros, aprendi a amar”, completa ele.

Hoje, Arthur e seus colegas de templo formam um grupo chamado Oxigênio, que trabalha com arte de rua e possui diversas oficinas, como teatro, percussão e pirofagia. Juntos, se apresentam em instituições e enti-dades carentes, fazendo números artísticos e palestrando sobre os perigos das drogas. “Repassamos o que aprendemos na igreja, sobre os dogmas. Nada é imposto, aprende-mos a avaliar e a fazer escolhas”, declara.

Várias ou nenhuma religião Da missa para o templo budista, do tem-

plo para a comunhão: assim se resume a rela-ção de Gustavo Heiss, 18, com a religiosidade. De família católica, interessou-se pela filosofia budista por acaso. “Sempre que ia para a academia passava pela Praça do Japão [que abriga a Comunidade Zen-Budista de Curitiba] e um dia resolvi entrar”, recorda. Ao conhecer os preceitos da religião, passou a freqüentar os cultos e os estudos sobre eles. “Sempre gostei de conhecer novas culturas, mas com o budismo foi diferente. Meditei e senti um bem-estar que nunca tinha experimentado”, confessa. Por a religião não requerer exclusivi-dade, Gustavo concilia suas orações budistas com as missas tradicionais.

A liberdade religiosa acaba gerando também a liberdade de não seguir religião específica – sem que isso afete, no entanto, a

Segundo pesquisa do Comunicação, 44% dos jovens freqüentam missas ou cultos semanalmente

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Co:::unicaçãomaio de 2008 7ciência e tecnologia

CÉLULAS-TRONCO Esperança e hostilidade permeiam debate sobre a manipulação de embriões humanos

Futuro das pesquisas continua incertoQuando a Lei de Biossegurança foi

aprovada, há três anos, o principal debate girava em torno dos alimentos transgênicos, justamente o motivo pelo qual ela havia sido elaborada. Hoje, discute-se seu quinto artigo, que especifica as condições para as pesquisas com células-tronco embrionárias. De um lado, instituições como a Igreja defendem a integri-dade dos embriões humanos. De outro, há a esperança de que doenças como a diabetes e o mal de Alzheimer possam ser curadas.

Para as pesquisas científicas, a principal fonte de células-tronco embrionárias é a fertilização in vitro. O procedimento consiste na geração de quatro ou mais embriões em la-boratório, dos quais dois são implantados no útero da mulher, para que um se desenvolva. Os embriões que não são utilizados permane-cem congelados, para o caso de implantação futura, ou são descartados. Eles são o maior ponto de divergência no que diz respeito às pesquisas com células-tronco embrionárias. A ciência reivindica esses embriões, já que pro-vavelmente eles não serão mais utilizados para a geração de fetos. Isso porque, para alguns especialistas, os embriões provenientes da fertilização in vitro têm grandes chances de se tornarem inviáveis para fins de gestação após três anos de congelamento. A comprovação da inviabilidade, no entanto, ainda não é pos-sível. No ano passado, nasceu em São Paulo um menino a partir de um embrião congelado durante oito anos. A viabilidade imprevisível dos excedentes é um dos principais argumen-tos da Igreja ao discordar das pesquisas.

Atualmente, a legislação prevê o uso dos embriões excedentes pela ciência, desde que eles estejam congelados há pelo menos três anos, haja o consentimento dos genitores e a aprovação do processo por comitês de ética. Existe até mesmo a possibilidade da doação de embriões. Hoje, no Brasil, há cerca de três mil embriões congelados. O destino a ser dado a eles é a essência da discussão em torno da Lei de Biossegurança.

Para alguns especialistas, o processo da fertilização in vitro não está sendo discutido tanto quanto deveria. É o caso do médico e presidente da Sociedade Brasileira de Bioéti-ca no Paraná (SBB), José Eduardo de Siquei-ra. Segundo ele, a discussão a respeito dos embriões excedentes poderia ser resolvida se a medicina fosse capaz de garantir a gestação com apenas um embrião. Sem novos exce-dentes, parte da questão estaria solucionada

– bastaria então resolver o que fazer com os embriões já congelados. “O ideal é que se refine a técnica. Hoje os resultados variam muito, a depender da paciente”, aponta.

Em 1986, quando foi criado o Centro Paranaense de Fertilidade, o índice de sucesso da fertilização in vitro girava em torno de 10%. Agora, o aperfeiçoamento da técnica aumen-tou as chances para 40%. Ainda assim, não há um consenso sobre o número de embriões a ser produzido, pois a resolução nº 1358/1992 do Conselho Federal de Medicina, que regu-lamenta a reprodução assistida, não estabelece um limite máximo. O diretor do Centro, Karam Abou Saab, acredita que a geração de mais de dois embriões não precisa ser feita em todos os casos. “Apenas eventualmente, em casos espe-ciais, como os de mulheres acima de 40 anos, podemos produzir três ou quatro embriões”, diz. Saab ainda lembra, em seu artigo intitulado Não Briguemos com o Papa, publicado na época da visita de Bento XVI ao Brasil: “Não está definido ainda se as células-tronco de origem embrionária são melhores [terapeuticamente] que as obtidas de outros tecidos adultos”.

Em alguns centros de pesquisa, já existem estudos que visam obter células-tronco tão eficientes quanto as embrionárias por outros meios. Há dois anos, um grupo de cientistas dos Estados Unidos foi bem sucedido ao ‘re-programar’ células adultas em camundongos para que se tornassem pluripotentes – capazes

de se diferenciar em células de diferentes teci-dos. Desde então, busca-se uma maneira de repetir o procedimento em seres humanos.

Outra linha de pesquisa que se desenvol-ve é a do tratamento de doenças utilizando células-tronco embrionárias obtidas através da clonagem terapêutica (proibida no Bra-sil). Em março deste ano, pesquisadores do Instituto Sloan-Kettering, em Nova York (EUA), conseguiram tratar cobaias com mal de Parkinson dessa forma. A técnica consiste em injetar o núcleo de uma célula adulta em um óvulo que teve seu núcleo previamente

removido. Dessa forma, o óvulo dá origem a um embrião geneticamente compatível com o doador da célula, o que reduz as chances de rejeição. A utilização desse procedimento em seres humanos, porém, também gera polêmi-ca [veja entrevista da página 02].

Uma questão maior

O debate é agravado pelo fato de não ha-ver um consenso sobre o início biológico da vida. “A discussão gira em torno de saber se os embriões têm os mesmos direitos de proteção que o feto, ou mesmo que a pessoa humana”, explica a advogada Adriana Corrêa. A atual divergência foi iniciada por uma ação de inconstitucionalidade contra a Lei de Biosse-gurança, que começou a tramitar apenas dois meses após esta ter sido sancionada pelo pre-sidente Lula. Segundo a ação, o artigo cinco da Lei desrespeita o preceito constitucional de inviolabilidade da vida. “Um dos argumentos do ex-procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, responsável pela ação, é também o de que a lei foi implantada sem discussão suficiente”, diz Corrêa. Agora, a ação de in-constitucionalidade está sendo julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), embora esteja temporariamente interrompida, e sem previsão para ser retomada. Até que o STF defina a questão, as pesquisas com células-tronco embrionárias estão suspensas.

Outras questões éticas também per-meiam a discussão. “Saber até que ponto nos é permitido intervir em processos naturais, como as próprias doenças, é uma questão complexa”, diz o presidente da SBB, José Eduardo de Siqueira. Fora isso, existe o fato de que tratamentos efetivos podem levar anos para surgir. “Projeções otimistas apontam que podem se passar dez anos para que as doenças degenerativas possam ser curadas”, informa o médico. A imprensa brasileira, no entanto, tem dado mais destaque ao lado promissor das pesquisas do que ao tempo necessário para que novos tratamentos se tor-nem viáveis. “É preciso cautela ao se divulgar novas pesquisas, pois as expectativas geradas podem prejudicar o debate”, alerta ele.

Para Corrêa, a discussão não deveria girar em torno do início biológico da vida. “Ela deve levar em conta os interesses do mercado sobre as pesquisas com células-tronco, pois os trata-mentos podem gerar grande retorno financeiro”, opina. Em países como Inglaterra e Holanda as pesquisas já estão sendo realizadas há meses, o que gera expectativa com relação ao Brasil.

Outros métodos

Enquanto se discute o uso de células-tronco embrionárias, tratamentos utilizando as chamadas hematopoiéticas – provenientes da medula óssea e capazes de se diferenciar em células sangüíneas – já são realizados há anos. O Hospital de Clínicas (HC) da UFPR, por exemplo, utiliza desde 1979 essas células-tronco provenientes da medula óssea. “Esse procedimento já nos permite tratar uma série de doenças sangüíneas, como os vários tipos de leucemia”, conta a hematologista do HC Daniela Setúbal.

Guilherme de Souza

Para Karam Saab, a superioridade terapêutica das células-tronco embrionárias ainda é duvidosa

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A discussão gira em torno de

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as células-tronco de origem embrionária

são melhores [terapeuticamente] que as obtidas de outros

tecidos adultos”Karam Saab,

diretor do centro paranaense de fertilidade

O Comunicação é uma publicação do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Paraná, com a participação de alunos das disciplinas de Laboratório de Jornalismo Impresso e Labo-ratório Avançado de Jornalismo Impresso.

Professor orientador: Mário Messagi Jr. (jornalista res-ponsável - DRT 2963/PR).editora Chefe: Renata Ortega.seCretário de redação (imPresso): Sandoval Poletto. subse-Cretária: Manuela Salazar.

seCretária de redação (on-line): Aline Baroni. subseCretá-ria: Iasa Monique. Webmaster: Tiago Capdeville. ComuniCação instituCional: André Marques assessor de Co-muniCação: Tiago Cegatta. Chefe de rePortagem: Rodney Caetano. editores: CiênCia e teCnoloGia: Suelen Trevizan. ComPor-tamento: Giovana Neiva. Cultura: Amanda Audi. eSPor-teS: Danilo Hatori. Geral: Poli Brito e Raphael Ramirez. oPinião: Vanessa Prateano. PolítiCa: Fábio Pupo e Thaíse Mendonça. uFPr: Amanda Menezes e Chico Marés. Foto-

GraFia: Fernanda Trisotto. CaPa: Augusto Kraft. Charge: Antoni Wroblewski. Planeja-mento gráfiCo e diagramação: Renata Bossle.

endereço: Rua Bom Jesus, 650 – Juvevê – Curitiba-PR telefone: (41) 3313-2032. e-mail: [email protected]. site: www.jornalcomunicacao.ufpr.br tiragem: 4 mil exemplares. imPressão: Gráfica O Estado do Paraná.

expediente

Co:::unicaçãomaio de 20088 cultura

MEIO UNIVERSITÁRIO Pesquisa mostra os hábitos de leitura dos estudantes da UFPR

O pior cego é aquele que não quer lerOs índices de leitura do Brasil são

considerados baixos até mesmo quando comparados com os de demais países latino-americanos. Em 2006, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o brasileiro lia em média 1,8 livro não-acadêmico anualmente. No mesmo ano, a Colômbia registrava uma média de 2,4 livros/ano. Estados Unidos e Inglaterra batiam os cinco, enquanto países como a França chegavam a sete.

Mas, e no meio universitário brasileiro, quais são os índices de leitura? De acordo com pesquisa da Agência de Relações Públicas da UFPR encomendada pelo Comunicação, que ouviu 393 estudantes da entre os dias 1º e 18 de abril, 45,8% dos alunos da Universidade lêem de um a cinco livros por ano, e apenas 24,2% ultrapassam a casa dos dez livros anuais. Dos entrevis-tados, 61,8% disseram que lêem mais livros acadêmicos do que de ficção, embora este seja o gênero preferido de 54,7%. A prefe-rência dos universitários ainda ficou distri-buída entre os seguintes gêneros: contos e crônicas (32,8%), biografias (15,3%), poesia (10,7%), auto-ajuda (4,3%) e outros (2,5%). Em comparação, outra pesquisa, feita pela divisão de Extensão da Bibliote-ca Pública do Paraná (BPP), mostrou que os livros de literatura abocanham 20% da preferência dos freqüentadores, enquanto os de auto-ajuda e os científicos ficam com 17% cada um.

Ainda segundo a Agência de Relações Públicas, 46,3% dos entrevistados disseram ler tanto por obrigação quanto por ‘lazer’, enquanto 23% afirmaram ler apenas por obrigação e 13,5% somente por ‘lazer’.

O aluno de Engenharia Química da UFPR Ricardo Storrer, por exemplo, comen-ta que seu tempo disponível para leitura de ‘lazer’ diminuiu exponencialmente desde que passou no vestibular. “Para os alunos dos cursos de Exatas o incentivo por parte de Universidade é muito fraco – excetuando, é claro, os livros tecnológicos”, conta.

Preço: empecilho ou desculpa?

Para o coordenador do Departamento de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), Mauro Tietz, é uma contradição que um país com índices de leitura baixos como o Brasil tenha uma indústria editorial com lucros “exorbitantes”. “O valor dos livros no Brasil é vergonhoso”, enfatiza. Mesmo assim, Tietz acredita que isso não pode servir de desculpa para a não-leitura, já que existem alternativas como as bibliotecas públicas e, para aqueles que gostam de adquirir volumes

sem pagar muito por eles, os pocket books – ou livros de bolso –, formato em que as obras custam em torno de 50% menos.

O empréstimo de livros em bibliotecas ou entre parentes e amigos revelou-se a alter-nativa de 30,5% dos 393 entrevistados pela pesquisa encomendada pelo Comunicação. Outros 43,3% disseram preferir comprá-los em sebos ou livrarias, enquanto 26,2% tanto emprestam quanto adquirem obras.

A aluna de Radiologia da UFPR Ébera Ascencio costuma emprestar livros, desde o Ensino Fundamental, no Farol do Saber Roberto Barrozo, do bairro Novo Mundo. Apesar de considerar o acervo relativa-mente pequeno, conta que já leu mais de 400 volumes dessa biblioteca. “Tive uma professora que nos obrigava a ler um livro por semana. No começo, eu detestava por ser cansativo, mas, com o tempo, comecei a tomar gosto e adquiri o hábito. Leio por prazer até hoje”, conta.

O método adotado pela professora de

As bibliotecas públicas são uma alternativa aos altos preços dos livros no Brasil

Ébera é o mais eficiente para incentivar a leitura, de acordo com a professora de lite-ratura do Colégio Modelo, Elaine Vieira. “É fácil perceber a diferença entre uma criança que foi estimulada a ler desde pequena e uma que não teve nenhum tipo de incenti-vo”, afirma.

O escritor e professor da UFPR, Cris-tóvão Tezza, concorda. Segundo ele, o fato da alfabetização só ter entrado na pauta da nação há “uns 30 ou 40 anos” contribui para que o Brasil ainda não seja um país leitor. “Para mudar esse perfil, só através de escola, de educação, de bibliotecas e de acesso per-manente à cultura escrita”, resume.

Na mesma linha, Mauro Tietz atribui os baixos índices nacionais de leitura à exclusão da arte e da cultura da vida da maioria das pessoas. Para ele, isso se deve à mudança ocorrida nos currículos escolares, mesmo nos de nível superior, nas últimas décadas. “Existem algumas tentativas de reculturaliza-ção do ensino, mas são isoladas”, afirma.

Medidas de incentivo

Para reverter o quadro apontado em 2006 pelo IPEA, os ministérios da Cultura e da Educação lançaram em março daquele ano o Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL), um conjunto de projetos para a formação de novos leitores. O PNLL tem quatro eixos condutores: a valorização da leitura e da comunicação, a democratização do acesso, o fomento a novos leitores e o desenvolvimento da economia do livro. Seu principal objetivo é aumentar em 50%, ou seja, para 2,7, a média de livros não-acadê-micos lidos anualmente pelo brasileiro.

Em Curitiba, há algumas instituições que promovem ações com o intuito de melhorar os índices de leitura na cidade. A FCC, por exemplo, mantém o Programa de Incentivo à Leitura. Trata-se de um projeto que desen-volve conjuntos de atividades embasadas em pesquisas a respeito de determinado autor ou obra, e as leva para as bibliotecas coordenadas pela Fundação (localizadas nas Ruas da Cidadania e no Farol do Saber da Praça 29 de Março), a fim de divulgar o escritor ou livro. Outros projetos são a Casa da Leitura do Parque Barigüi e a organização de pesquisas na área de literatura.

Mesmo assim, Mauro Tietz salienta que ainda há muito a ser feito. “O cenário de Curitiba, assim como do resto do Brasil, é extremamente difícil. Às vezes temos a im-pressão que estamos dando murro em ponta de faca”, desabafa.

Além da FCC, a BPP também tem estratégias para conquistar novos leitores. De acordo com a coordenadora da Seção de Referência e Informação, Alice Ywat-sugu, a Biblioteca possui um setor que co-ordena exposições, palestras e encontros com escritores. Além disso, disponibiliza para empréstimo quase todo o acervo de 350 mil volumes, para 135 mil usuários que retiram da Biblioteca cerca de 1600 livros diariamente.

Fora isso, há uma idéia nova circulan-do: trata-se do projeto Perca um Livro. A prática, conhecida também como book-croosing, já existe em vários países, e tem o intuito de tornar cada cidade ‘uma grande biblioteca’. Para participar, você precisa cadastrar um livro no site oficial (http://livr.us), imprimir a etiqueta com seu código único e colá-la na contracapa do volume correspondente. Depois, basta ‘perdê-lo’ em um local público. Quem encontrá-lo será orientado pela etiqueta a, após ler o livro, recomeçar o ciclo.

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