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Co::: unicação www.jornalcomunicacao.ufpr.br jornal laboratório do curso de jornalismo da ufpr edição 04 | julho de 2008 ESPORTES COMPORTAMENTO POLÍTICA PÁG. 3 PÁG. 4 PÁG. 8 Corrida para as eleições afasta muitos governantes de seus cargos e pode prejudicar a administração pública O sonho dourado – regado a groupies e toalhas brancas – de quem quer ser um rockstar. Só o sonho Nada de cifras milionárias ou holofotes. Em Curitiba, a Suburbana revela o lado amador do futebol Co::: unicação

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Jornal laboratório do curso de jornalismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) - Edição de julho de 2008

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edição 04 | julho de 2008

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pág. 3 pág. 4 pág. 8

Corrida para as eleições afasta muitos governantes de seus cargos e pode prejudicar a administração pública

O sonho dourado – regado a groupies e toalhas brancas – de quem quer ser um rockstar.Só o sonho

Nada de cifras milionárias ou holofotes. Em Curitiba, a Suburbana revela o lado amador do futebol

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Co:::unicaçãojulho de 20082 opinião

EditorialA arte de controlar

seu meio

Na primeira frase do filme Os Infil-trados, de Martin Scorsese, o mafioso interpretado por Jack Nicholson solta, à queima-roupa, a máxima: “Eu não quero ser um produto de meu meio; eu quero que meu meio seja um produto meu”. Uma tradução literal do que leva a ânsia pelo poder e, por extensão de sentido, a política brasileira, nua e crua. Ninguém sabe disso melhor do que um político – e ninguém mais do que ele sabe que a forma mais eficiente de fazer isso é estar no poder, em cargos que fiquem bem às vistas do povo.

Nada mais natural, então, do que a debandada do poder de funcionários públicos e políticos de segundo escalão em ano eleitoral. É uma regulamentação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas o fato não explica de todo o es-touro da manada. É preciso apelar para a ‘ideologia’ de nossa classe política: afinal de contas, um político deve as-cender. Difícil encontrar um deputado estadual, por exemplo, que no íntimo não sonhe em ser prefeito ou deputado federal – por mais que seja inapto para qualquer uma das duas funções. Por isso, em ano eleitoral, o funcionamento da máquina pública fica em segundo plano. A debandada deixa lacunas que não raro necessitam ser calafetadas às pressas, às vezes por substitutos que mal têm idéia do que vão fazer. A ad-ministração precisa se adaptar de uma hora para outra a novos processos – e lá se vão, possivelmente, alguns meses de modorra administrativa, setores inertes, projetos se arrastando, preguiçosos.

No Brasil, aprendemos que a cena política – raras são as exceções – cons-titui-se de um mosaico de projetos de poder individuais de longo prazo. Os partidos são apenas, digamos, motéis de beira de estrada. As coalizões eleitorais são feitas da maneira que dá, do jeito que rende mais votos, costurando-se uma legenda à outra de forma arbitrária. Coligações realmente interessadas num projeto de governo para o povo são cada vez mais ralas. O que importa, de fato, é o poder – o poder individual, o controle do meio. Às favas com a República.

As estatísticas assustam: para cada 25 brasileiros mortos, um perdeu a vida no trânsito. Segundo o Ministério da Saúde, são 98 mortes por dia, 40 mil por ano. A guerra do Iraque matou menos: 35 mil pessoas no ano passado, segundo o governo iraquiano. Dentre as prin-cipais causas da tragédia em ruas brasileiras estão o excesso de velocidade e a embriaguez. De acordo com a Asso-ciação Brasileira de Medicina de Tráfego ( A b r a -m e t ) , em 61% dos ca-sos o mo-torista apresentava índices de álcool no sangue além do permitido – seis de-cigramas por litro de sangue, o equivalente a uma lata de cerveja. Ações como os radares de velocidade, a obrigatoriedade do teste do bafômetro e a proibição da venda de bebidas alcoólicas na beira de estradas federais tentam controlar esses números. Porém, perdem eficácia com a má fiscaliza-ção e a falta de punição aos infratores.

Contudo, a má formação de conduto-res não deixa de ser parte dos problemas apontados. Nas auto-escolas, as 15 aulas práticas obrigatórias são vistas pelos alunos como insuficientes para que se aprenda a dirigir de forma segura. Além disso, muitos reclamam das taxas cobradas pelas aulas extras, que desestimulam o aluno a buscar mais conhecimento. E os motociclistas são os principais afetados: estudos da Abramet mostram que eles correspondem a mais de 50% dos mortos no trânsito. Mesmo assim, as aulas práticas com motocicletas normalmente acontecem em locais que em pouco reproduzem as condições reais que o motorista irá enfrentar.

Em entrevista, a coordenadora de Edu-cação para o Trânsito do Detran-PR, Maria Helena Gusso Mattos, fala sobre a efetivida-de do Código Brasileiro de Trânsito (CBT) e diz que cabem a todos os envolvidos – auto-escolas e condutores – ações capazes de erradicar os números desse drama.

Existem deficiências no processo de forma-ção de condutores?Maria Helena Mattos: A carga horária mínima para o aprendizado da habilitação é insuficiente. O aprendizado deveria ser mais voltado para a questão da cidadania e ser diferenciado para os motociclistas. Cada categoria deveria ter uma avaliação diferen-te, mais focada. O índice de acidentes com motocicletas é alto, e é necessário que se reveja a legislação. Nesse caso, o processo de capacitação deveria ser muito mais rigoroso e focado na utilização do veículo. Se vai ser usado profissionalmente, no caso dos moto-fretistas, as questões da avaliação devem ser mais difíceis, a carga horária deve ser maior e

A guerra travada nas ruas

a capacitação diferenciada, porque a pessoa vai se expor a riscos maiores. Eu vejo que cada vez mais vamos ter que especializar as categorias e ter maior rigor na avaliação.

Muitos não conseguem aprender a dirigir apenas com as 15 aulas práticas obrigató-rias. Em relação às aulas extras, as taxas cobradas pelas auto-escolas são conside-radas altas e podem impedir que o aluno faça a quantidade necessária. O que fazer para evitar tal situação?Mattos: Cada um tem um ritmo de apren-dizado, e as habilidades são diferentes. Algumas pessoas são mais hábeis, têm agilidade de raciocínio e habilidade motora maiores, e cada um reage de forma diferen-te. Alguns precisam de um tempo maior e isso deve ser respeitado. Aprender a dirigir é muito mais que a parte técnica e mecânica do veículo. Quando você está no trânsito, as variáveis são tantas, tudo é tão dinâmico, que não basta fazer o carro andar e parar. É preciso cuidar de muitos elementos, saber o que se pode ou não fazer, conhecer a lei, a sinalização, a potência do veículo – e ainda há variáveis como o estado emocio-nal, as características de personalidade, o estresse, o uso de medicamentos. São tantos os fatores, que é muito preocupante que a pessoa acredite que com 15 aulas já está muito hábil para dirigir - não, ela está apenas começando a aprender.O índice de reprovações no Detran passa de 50%. E os índices de acidentes também são muito altos, mesmo entre aqueles que foram considerados aptos. A maioria dos acidentes é decorrente da imprudência, da negligência, da falta de atenção. É o fator humano. É o ho-mem que não respeita a lei e nem reconhece que não é tão hábil assim para dirigir.

Há criticas quanto aos locais de prática e avaliação dos alunos. Por que é permitido

que o trajeto normalmente se limite a alguns quarteirões, ou a pátios isolados, quando futuramente o condutor enfrentará os mais diferentes tipos de tráfego – vias de maior mo-vimento e rodovias, caso dos motociclistas?Mattos: Quanto à motocicleta, já estamos estudando outra forma de avaliação. Ainda não acontece da forma como gostaríamos, mas essas mudanças são necessárias e o Código de Trânsito já está sendo revisto. Há uma proposta da Câmara Temática para que sejam feitas alterações na legis-lação, mas tudo deve passar pelo Contran [Conselho Nacional de Trânsito], que vai analisar as situações até que as mudanças possam acontecer. As questões de avaliação são revistas sempre. Estão sendo estudadas propostas para que o exercício prático do novo condutor seja o mais próximo da realidade. Mas não é pos-sível levar o aluno para uma estrada, porque vamos colocá-lo ao lado de condutores já habilitados, dirigindo em alta velocidade. Por um lado, seria bom que ele aprendesse como se dirige em uma estrada, mas é inviável pelo risco que ele corre. Há coisas que são neces-sárias, mas inviáveis. Não dá para colocar alguém em risco só para que ele aprenda.

Especialistas de trânsito e a OAB se po-sicionam a favor de exames psicológicos periódicos dos condutores – o que ocorre apenas com motoristas profissionais. Qual sua opinião a respeito?Mattos: O exame psicológico é importan-tíssimo e será feito também para as pessoas que têm distúrbios de sono. A avaliação física tem que ser constante, e a psicológica também deveria, principalmente por causa do estresse, que faz com que as pessoas ado-eçam física e psicologicamente. A pessoa faz um teste quando tira a primeira habilitação e depois nunca mais o faz. O ideal é que fosse feito mais vezes, mas é complicado, depende de mudança na legislação. Mas a partir do momento em que o trânsito se torna um transtorno, quando o número de veículos é excessivo e muitos problemas começam a aparecer, isso se tornará necessário.

Leia no Comunicação On-line (www.jornalcomunicacao.ufpr.br) a entrevista na íntegra.

Juliana Vitulskis

ErrataNa matéria sobre crueldade, na edição de junho, o Comunicação atribuiu a seguin-te fala ao doutor em Direito e delegado da Polícia Civil Carlos Roberto Bacila: “Não são todas as doenças psíquicas que interferem na consciência do por-tador, mas se estivermos falando sobre quadros de transtorno de personalidade, normalmente o indivíduo não é punível”. Na verdade, a citação foi distorcida. A correta é: “Não são todas as doenças psíquicas que interferem na consciência do portador. Se estivermos falando sobre quadros de transtorno de personalidade, normalmente o indivíduo é punível”.

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Co:::unicaçãojulho de 2008 3política

Corrida ElEitoral Candidatos ao pleito de outubro abandonam cargos na administração pública

‘Dança das cadeiras’ na políticaFaltando pouco mais de três meses para

as eleições municipais, a administração pú-blica precisa agora se adaptar às substitui-ções de governantes. As baixas começaram em abril, quando os secretários e funcioná-rios comissionados que vão concorrer às vagas de vereador deixaram seus cargos. A situação se intensificou no início de junho, quando terminou o prazo de afastamento para quem pretende disputar os cargos de prefeito. Conforme determina o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os prazos para que os candidatos abandonem seus postos na administração pública é de no mínimo seis meses para candidatos a vereador e de quatro meses para candidatos a prefeito. “Caso percam as eleições, os concursados podem voltar a exercer sua antiga função. Já aqueles que possuem cargos comis-sionados, a princípio, não podem voltar, já que foram exonerados”, explica o juiz eleitoral Roberto Massaro.

No Executivo paranaense, o início da corrida eleitoral teve como resultado a saída de 14 integrantes da equipe do governador Roberto Requião (PMDB) e três membros da administração do prefeito Beto Richa (PSDB). As secretarias são os órgãos admi-nistrativos que mais sofrem com o processo. Pelo menos duas estaduais e duas municipais tiveram de trocar de gerência devido à legis-lação eleitoral – e devem, agora, se adaptar as suas novas chefias. Os ex-secretários estadu-ais Ênio Verri (Planejamento) e Melo Viana (Controle Interno) deixaram seus cargos para participar das eleições como candidatos a prefeito. Verri (PT) vai disputar a prefeitu-ra de Maringá e Viana (PV) a de Curitiba. Já os ex-secretários municipais Luciano Ducci (Saúde) e Manassés de Oliveira (Trabalho) vão tentar a reeleição. Ducci (PSB) pretende se reeleger como vice-prefeito e Oliveira (PRTB) vai tentar manter sua cadeira na câmara dos vereadores.

De acordo com o especialista em gestão pública Klaus Frey, a administração sofre bastante com a ausência dos governantes no período eleitoral. “Essa debandada interfere diretamente na continuidade dos projetos iniciados por determinado gover-nante, já que nem sempre quem assume o lugar se preocupa em dar continuidade ou está preparado para fazê-lo”, explica.

Para a Casa Civil estadual, entretanto, as baixas não afetam o andamento dos trabalhos das secretarias ou o do gover-

no do Estado. Lá, acredita-se que todos os substitutos são pessoas capacitadas e relacionados às áreas para as quais foram designados. A administração municipal procurou escolher também substitutos que já trabalhavam nas unidades onde houve afastamento e que, em teoria, conhecem a lógica delas [ver box].

Frey acredita, entretanto, que o planeja-mento prévio das mudanças e a escolha de substitutos capacitados não são suficientes para garantir a eficiência da administração no período das eleições. Para o especialis-ta, é necessário que a população fiscalize a atuação dos substitutos. “A concretização dos projetos passa a depender da cobrança da população. É preciso ficar de olho para que sejam cumpridos, e da forma como foram planejados”, defende.

O poder Legislativo

Diferente dos cargos públicos de con-cursados ou comissionados, os políticos eleitos não precisam abrir mão do mandato quando decidem disputar as eleições. No Paraná, pelo menos 11 dos 54 deputados estaduais pretendem trocar o mandato por um de prefeito. Na Câmara de Vereadores de Curitiba, a taxa de participação nas próximas eleições será ainda maior: 37 dos 38 verea-dores da cidade vão tentar a reeleição.

A conduta dos candidatos, entretanto, não deixa de ser motivo de preocupação para os especialistas. Segundo pesquisa divulgada pelo jornal Folha de São Paulo, os 52 deputa-dos federais que serão candidatos a prefeito tiveram um aumento de 47% no número de faltas durante os quatro primeiros meses deste ano. Foram ao todo 300 faltas, contra 204 relativas ao mesmo período de 2007.

Para o deputado Fábio Camargo (PTB), que será candidato à prefeitura de Curitiba, a campanha eleitoral não deve prejudicar sua atuação como parlamentar. “Posso assumir uma campanha, cumprir minha agenda como parlamentar e partici-par das sessões plenárias”, argumenta.

De acordo com o presidente da As-sembléia Legislativa do Paraná, Nelson Justus (DEM), não há prejuízos para funcionamento de casa se o deputa do-candidato decide se afastar ou continuar na função. “Particularmente, acho importante no Legislativo que os deputados perma-neçam nos cargos enquanto candidatos, obedecendo às regras desta casa de leis. Isso facilita e agiliza o processo”, afirma.

Mas o juiz eleitoral Roberto Massaro alerta para mais um problema ocasionado pela permanência de candidatos nos seus cargos de origem. “Como alguns desses candidatos já estão no meio público, eles acabam se tornando mais conhecidos e a concorrência pode se tornar desleal”, expli-ca. Para o juiz, esse problema não é uma brecha na lei, mas uma falha dos políticos que deve ser fiscalizada e punida “A lei está aí para isso, determinando os afastamentos e fiscalizando”, diz Massaro.

UFPR

O ex-reitor da UFPR Carlos Moreira Ju-nior também deixou o cargo para disputar a Prefeitura de Curitiba pelo PMDB. Moreira foi substituído pela vice-reitora Márcia He-lena Mendonça que deve convocar novas eleições até o dia 29 de agosto. Este é o prazo máximo estabelecido pelo Ministério da Educação para o envio de uma lista de três nomes, escolhidos em eleição interna,

dentre os quais o Governo Federal apontará o novo reitor. Na maioria das vezes, a indica-ção do Governo coincide com o candidato mais votado no pleito da instituição.

Para a atual reitora, a saída de Moreira representou uma situação difícil para a toda equipe, que havia assumido um com-promisso de quatro anos de gestão. Porém ela não prevê dificuldades de adaptação para a UFPR. “O impacto existe sim, mas a Universidade está na sua normalidade, até porque vamos nos ater às normas da lei”.

Com o processo de eleição para reitor – que deveria ocorrer no final de 2009 – antecipado, toda a administração da Uni-versidade, com exceção da vice-reitoria, deve ser modificada ainda em 2008. Isso porque cabe ao reitor eleito, que assume o mandato por quatro anos, indicar os sete pró-reitores e os coordenadores que compõem a administração superior.

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Governo estadual:Secretaria de Controle InternoMelo Viana (PV) deixou o cargo para se candidatar a prefeitura de Curitiba.Secretaria do PlanejamentoO ex-secretário Ênio Verri (PT) se afastou para concorrer a prefeitura de Maringá. O ex-diretor geral da Secretaria da Fazenda, Nestor Bueno, é seu substituto.ParanaprevidênciaJosé Maria Corrêa (PMDB) vai disputar a prefeitura de Matinhos. O desembarga-dor aposentado Munir Karam assumiu o cargo.Paraná EsportesRicardo Gomyde (PCdoB) disputará à prefeitura de Curitiba. O assessor do ga-binete, Marco Aurélio Saldanha da Rocha, é o substituto. Banco Regional de Desenvolvimento Econômico (BRDE)Para substituir o ex-diretor Paulo Furiatti (PMDB), que disputará o cargo de prefeito na Lapa, o secretário de Comunicação So-cial, Airton Pissetti, foi deslocado.

Prefeitura:Secretaria de SaúdeLuciano Ducci (PSB) deixou o cargo para tentar a reeleição como vice-prefeito, ao lado de Beto Richa. Edimara Fait Seeg-müller, que era superintendente executiva da pasta, assumiu seu posto.Secretaria do TrabalhoO vereador Manassés de Oliveira (PRTB), vai tentar se reeleger. Em seu lugar, assu-miu o ex-diretor de convênios da Secreta-ria, Raul D’Araújo Santos.Administração Regional do PinheirinhoJuliano Borghetti (PP) afastou-se para se candidatar a vereador. Maria Izabel de Paula assumiu o cargo.

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Co:::unicaçãojulho de 20084 comportamentoCo:::unicaçãojulho de 20084

SoNHoS A azarada trajetória de quem tenta, em vão, fazer sucesso no mundo da música

Meu falido sonho de rockstarMilhares de pessoas gritando como

uma onda ensurdecedora prenunciam que a banda de rock de seus sonhos está prestes a entrar no palco. Junto à batida da bateria, o agora vocalista – antes um mero fã – mal acredita no que se tornou: o ‘front man’ de seu grupo musical favorito. Na cena final do filme Rockstar, em meio a balburdia da platéia, um fã alucinado grita: “Sonhos se tornam realidade”. E o vocalis-ta devolve: “Sim, sonhos se tornam reali-dade”. Nem sempre, esquece de alertar. A idéia de fazer parte de uma banda célebre, arriscar riffs surpreendentes na guitarra e marcar presença em shows memoráveis leva muita gente a investir na ‘carreira’ musical. Entre partituras, aulas práticas e ensaios, entretanto, não são poucos os que encontram o oposto do desejado – e tornam-se, assim, astros fracassados do mundo do rock’n roll.

O estudante de música Gus-tavo Paris,

22, sonha-va em dei-

xar o cabelo crescer e ter uma banda de sucesso. Na adolescência, ser um astro do rock era o que ele e seus amigos mais de-sejavam. “Eu falava: ‘Cara, a gente precisa tocar as músicas do Nirvana’”, recorda. Os planos da banda já tinham sido todos fei-tos e o futuro parecia promissor, a não ser por um ‘pequeno’ detalhe: nenhum dos supostos integrantes tinha sequer idéia de como tocar um instrumento. “Ficávamos escolhendo as músicas que tocaríamos quando comprássemos o equipamento”, conta Gustavo, que seria responsável pelas notas graves do contrabaixo. Os anos se passaram, a banda nunca saiu do papel e, hoje, Gustavo contenta-se em assumir a al-faia em dois grupos de maracatu. Nada de desânimo, no entanto: vem freqüentando

aulas de guitarra e garante não ter desisti-do do sonho de ser um rockstar.

Ao contrário de Gustavo, o estu-dante de jornalismo Ronaldo Duarte, também de 22 anos, conseguiu realizar a vontade de ter uma banda de rock efe-

tiva. O grupo Hot Middle Finger foi criado em 2006, por idéia dele próprio, que saiu em busca de amigos que compartilhavam de seu gosto musical. No início, os rapazes ensaiavam na casa dos integrantes e co-nhecidos, mas as constantes reclamações de vizinhos os levaram para os estúdios. Durante dois anos, a banda ligou seus amplificadores em bares, casas noturnas e festas de universidade, com platéias ora lo-

tadas ora compostas apenas por amigos e familiares. Tais ‘fãs’, no entanto, não foram suficientes para manter a banda

unida, e no mês que vem a Hot Middle Finger fará seu ‘show funeral’. Segundo Duarte, as coisas co-meçaram a ir mal para o grupo a partir da troca constante de vocalistas. “A saída do nosso an-

tigo vocalista foi desgastante. Nós tínhamos a alma e ele

havia dado um rosto pra banda”, lamenta.

Minha bandaimaginária

A banda Catafan acaba de fi-nalizar seu terceiro disco. O punk nosso de cada dia traz 11 faixas inéditas, incluindo um hit ainda sem título, primeiro lugar nas paradas de sucesso. Desde sua formação, o grupo viajou por vários países, com destaque para a Inglaterra, onde foi

ovacionado por uma multidão frenética ao abrir um show do Green Day. De volta ao Brasil, deparou-se com uma crítica de página inteira na revista Rolling Stone que a aclamava como “a melhor banda de punk rock nacional de todos os tempos”. Tudo isso em apenas um ano de formação – des-de que o estudante Arthur Campelo, 16, começou a pensar nela – e só isso. Aluno de um curso de desenho, o garoto sempre se via rabiscando instrumentos musicais, integrantes fictícios e slogans: foi assim, meio sem querer, que começou a montar, na cabeça, uma banda imaginária.

Atualmente tomando aulas de guitarra, Arthur conta já ter planejado toda a tra-jetória da Catafan. “Às vezes começo a pensar nos shows, nas músicas, e não paro mais. Tenho o título de tudo já pron-to, dos cds e das músicas”, reve-la. A idéia de manter uma banda imagi-nária pode p a r e c e r bastante esquisita, mas é fre-qüente entre quem cultiva o desejo – por vezes secreto – de se tornar astro da músi-ca. Prova dis-so é a quan-tidade de mem-

bros da co-munidade Eu tenho

uma banda imaginária, do Orkut: são quase 900 pessoas discutin-do em tópicos sobre letras de música, customização de instrumentos e cachês fantasiosos.

Para Campelo, a parte mais desgas-tante da vida de rockstar imaginário são as gozações do irmão mais velho, Otávio, baixista de uma banda de verdade. “Ele tira o maior sarro da Catafan; diz que nunca vai existir. Quando começo a trei-nar guitarra, então, dá risada e me chama de desafinado”, desabafa.

Maria Augusta, estudante de 24 anos, revela os devaneios de sua própria ban-da imaginária: “Sempre sonhei em ter uma bandinha rock. Como não sei tocar guitarra, baixo nem nada, eu poderia apa-recer no palco fazendo playback com um pandeirinho ao fundo”, inventa. Apesar da falta de habilidade, a garota tem certeza de que tem talento de sobra para tornar-se, quem sabe um dia, uma ótima letrista. “A minha banda tão sonhada nunca rolou de fato, mas já pensei em mil nomes para ela: Supositórios Alados, Putzgrila, Janjão e o Pé de Feijão, Ostrogodo, Gineceus, Guta e as Gatunas, Cadê a Minha Caloi?”, lista.

De rockstar loser a sertanejo de sucesso

“Eu vou te deletar, te excluir do meu Orkut”. Quem já passou horas com essa melodia na cabeça pode culpar o músico

Ewerton Assunção, 26, compositor da letra que virou sensação na Internet.

Em pouco tempo, o vídeo da canção foi acessado mais de oito mil vezes no site Youtube, conferindo a seu criador status de sucesso – mas nem sempre foi assim, recorda Assunção. O músico, revelado por esse hit claramente ‘serta-

nejo’, confessa que sempre desejou, na verdade, encontrar a fama nos acordes

de rock. “Minha primeira ten-tativa de sucesso foi com uma banda de rock, mas após vários shows fracassados e nenhum dinheiro no bolso, aceitei o convite de amigos para tocar outros estilos”, confessa.

A aventura sem dúvidas deu certo: Vou te excluir do meu Orkut, que surgiu de uma brin-

cadeira com os colegas da empresa de telemarketing que viviam brigando pelo MSN e pelo Orkut, já foi regra-

vada seis vezes por outros artistas, como Frank Aguiar, Aviões do

Forró e até por uma banda de Portugal. Não bastasse isso,

o sertanejo que sonhava ser rockstar foi o pri-

meiro cantor do estilo a dar uma entrevista para a Revista MTV – após descobrirem

que a fita de uma banda d e ro c k mandada anos atrás e até então ignorada pelo canal era, na verdade, dele. Hoje, Ewerton faz shows, cantando na dupla Ewerton & Tavinho, e continua compondo. Mas chega de rock, garante.

Os piores inimigosdos aspirantes a rockstar

Amplificadores mal regulados, micro-fones muito baixos, guitarras desafinadas. Para o músico e professor Rogério Couto, essas são as piores gafes cometidas por um aspirante a ídolo. Outro puxão de orelha vai para a paciência dos aprendizes, que depois de pouco tempo de prática já querem a todo custo dominar os instru-mentos. “Algumas pessoas têm aspirações de grandeza, começam do zero e acham que em um ou dois anos vão ser especia-listas. Não é por aí”, alerta.

Segundo o professor de violão e guitar-ra há uma década e meia, o desejo de se tor-nar realmente um ídolo é cultivado apenas por um pequeno percentual de aprendizes. “O sonho dourado do rock é mais uma fase que muitos adolescentes experimentam”, opina. O próprio professor confessa ter passado por isso e recorda seus devaneios musicais. “Quando tinha entre 15 e 16 anos, período em que ouvia basicamente hard rock, até me imaginava tocando para cem mil pessoas. Faz parte”, finaliza.

samantha Costa

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Co:::unicaçãojulho de 2008 5cultura

aNtoNiNa De 5 a 12 de julho acontece o 18º Festival de Inverno da UFPR

Hora de descer para o litoralO 18º Festival de Inverno da UFPR

promete movimentar a cidade de Anto-nina, no litoral do Paraná. Com diversas oficinas e atrações culturais, o evento é uma boa oportunidade para quem deseja aproveitar as férias para aprender, conhe-cer e criar em um espaço permeado por todos os tipos de arte. O Festival aconte-ce de 5 a 12 de julho e é aberto para toda a comunidade interessada.

Em relação ao formato das edições de outros anos, pouca coisa vai mudar na de 2008. No entanto, o público pode esperar por novidades na programação: “O Festival de Inverno não tem mais para onde crescer, já atingimos o limite de capacidade da cidade. No entanto, procuramos renovar as oficinas e trazer pessoas novas, com o objetivo de oxige-nar o evento”, diz a coordenadora geral e executiva do Festival, Lúcia Mion.

Este ano, serão ministradas durante o Festival 40 oficinas para pessoas com mais de 15 anos, com cerca de 900 vagas no total, e aproximadamente o mesmo número para crianças. Além disso, haverá shows e apresentações teatrais gratuitos todos os dias. Artistas de todos os lugares estarão circulando pela cidade, permi-tindo a troca de idéias e experiências. “Uma das principais metas do projeto é a democratização da cultura”, diz Lúcia, que participa da organização desde a sua primeira edição.

Segundo a coordenadora de oficinas, Lais Murakami, o Festival procura atin-gir um público bastante amplo. “Existem atividades para crianças a partir dos cinco anos e para velhinhos da melhor idade. Todos podem participar”, enfati-za. E o evento tem, de fato, conseguido atrair muita gente – de acordo com in-formações da Secretaria de Cultura da cidade de Antonina, a média de público do Festival é de oito mil pessoas por dia. Para 2008, espera-se que esse número suba para dez mil.

O maior desafio, de acordo com Lúcia Mion, é conseguir fundos para o financiamento do evento, que depende unicamente de patrocínios. “Apesar do Festival ser aprovado pela Lei Rouanet, a captação de recursos sempre é o ponto mais difícil”, lamenta.

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decidiu ir? Confira aqui algumas dicas para não se perder

Onde ficar? Antonina ferve em época de Festival, então, para não ficar sem estadia, é bom alugar uma casa ou fazer reservas em hotéis e pousadas com bastante antecedência. Para quem pretende ficar no alojamento oferecido pela UFPR, a taxa é de 15 reais pela semana inteira, a organização só não oferece alimentação e transporte.

O que comer? A cidade dispõe de várias opções de restaurantes e lanchonetes, mas a melhor pedida é aproveitar a feira gastronômica montada na Praça Coronel Macedo especialmente para os dias de Festival. Lá é possível encontrar desde lanches a pratos típicos da região, como o famoso barreado.

E se passar mal? Para as emergências, o Hospital Dr. Silvio Bittencourt de Linhares esta-rá atendendo 24h [Av. Thiago Peixoto, s/nº – Antonina (41) 3432-1244 / 3432-1089].

Maiores informações podem ser obtidas no endereço eletrônico www.proec.ufpr.br/festival2008 ou na própria cidade. Informativos turísticos estarão disponíveis na Estação Ferroviária, Theatro Municipal e Mercado Municipal.

Os bastidores

O Festival de Inverno dura apenas oito dias, mas o trabalho para que tudo dê certo é realizado durante todo o ano pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da UFPR (Proec). No mês de novembro do ano anterior ao evento são abertas as inscrições para quem deseja ministrar oficinas ou fa-zer espetáculos. Em março são organizadas comissões especialistas por área, que fazem uma seleção do material enviado. Depois dessa primeira etapa, há uma segunda co-missão que trabalha a viabilidade técnica, na cidade, de cada oficina ou espetáculo. A

partir daí, a programação é estruturada.O diretor de palco, Rafael Pacheco,

conta sobre a rotina puxada dos orga-nizadores. “O trabalho funciona numa rotatividade que não tem pausa. Termina o Festival, a gente volta para Curitiba, tem dois dias de descanso, e aí já começam os preparativos para o próximo ano”, afirma.

A prefeitura de Antonina também se envolve no processo, proporcionando a infra-estrutura e a logística de como tudo deve funcionar. “Fazemos uma parceria com a UFPR, porque o Festival só traz benefícios para a cidade. O movimento fica mais intenso, o comércio também, além dos ganhos na esfera educacional e cultural para a população”, diz o secretário de Cultura de Antonina, César Broska.

Sem essa parceria, seria difícil levar o projeto adiante. Para Laís Murakami, alguns transtornos seriam muito maiores se não houvesse a cooperação da prefeitura do município. “Este ano, por exemplo, não poderemos utilizar as instalações da Faculdade Espírita. Perdemos 10 salas, e a Secretaria de Cultura de Antonina nos aju-dou a conseguir novos espaços”, afirma.

Quem vai

Ministrando oficinasO professor de Artes Plásticas René

Scholz é o responsável pela oficina de Tear Egípcio. É a quarta vez de Scholz

no Festival, e ele se sente motivado a voltar principalmente pelo clima criado durante o evento. “Eu gosto do ambiente artístico, ir a shows de música, trocar idéias, conhecer pessoas”. Ele também se sente privilegiado por ter a chance de conhecer artistas renomados. “Durante o Festival, eu já tive a possibilidade de estar na mesma mesa com monstros sa-grados da cultura nacional, como o casal de porta-bandeira e mestre-sala da escola Imperatriz Leopoldinense Maria Helena e Chiquinho, o mímico Jiddu e o diretor teatral Antunes Filho”, enumera.

Para ele, um evento do tipo é essencial para cidades que, como Antonina, tem um forte apelo turístico. “O Festival é um pilar central que cria um ambiente saudável na vida urbana. Existem muitas universidades que poderiam se inspirar nesse exemplo”, afirma Scholz.

Fazendo showsA banda Charme Chulo vai se apre-

sentar pela primeira vez em Antonina este ano. O show será no palco principal, às 22 horas do dia 09 de julho. Para o grupo, essa será uma oportunidade de mostrar o trabalho da banda a um público que interessa muito: os estudantes. “Eles são formadores de opinião, sempre correm atrás de novidades. Com certeza são nosso principal foco”, diz o violeiro da banda, Leandro Delmonico.

Mas as oportunidades de divulgação ainda vão além, segundo Delmonico. “As pessoas que moram em Antonina vão ver nosso trabalho, poderemos tocar para quem dificilmente teria acesso a nós”, afirma ele.

Aproveitando o FestivalA estudante de Direito da UFPR Laris-

sa Polak freqüenta o Festival desde peque-na, muito antes de entrar na Universidade. Para ela, o evento é uma boa opção para as férias de julho. “O dia todo é ocupado com programas interessantes, como peças de teatro, apresentações musicais e rodas de maracatu, além dos shows no palco principal todas as noites”, diz a estudante, que já participou de oficinas de fotografia, teatro, dança e coral – e, este ano, pretende fazer uma que mescla imagem fotográfica e arte contemporânea.

Polak tem dificuldade para definir o que há de melhor no Festival de Inverno. “O que o torna especial é o todo. É uma ótima oportunidade para respirar cultura, conhecer pessoas interessantes e viver momentos especiais”, diz.

Como extensão da Universidade, o Festival também é valorizado pela estu-dante. “É válido que os estudantes saiam do ambiente acadêmico e participem de atividades diferentes”, afirma. Polak con-sidera importante o intercâmbio cultural proporcionado pelo evento, mas lamenta o fato de o curso de Direito não ter uma participação intensa nele. “No meu curso, o Festival não é muito divulgado e não tem muita participação dos alunos”, finaliza.

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A Romaria do Divino é uma das atrações mais tradicionais do FestivalCr

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Page 6: Jornal Comunicação

Co:::unicaçãojulho de 20086 ciência e tecnologia

aoS lEiGoS Cientistas usam o meio virtual para divulgar pesquisas e democratizar o conhecimento

Divulgação científica na blogosferaCom a internet a favor da

comunicação rápida e massiva, os cientistas encontraram um novo meio de compartilhar seus conhecimentos com o mundo: a blogosfera, universo virtual que compreende todos os blogs. “Como dizia Edgard Roquete Pinto, um de nossos precursores no Brasil, a função primordial da divulgação científica é tirar a ciên-cia dos sábios e entregá-la ao povo”, lembra a professora do Núcleo de Educação Química (Eduquim) da UFPR Joanez Aparecida Aires.

Os blogs possibilitam o acesso de leigos a trabalhos acadêmicos de forma instantâ-nea e gratuita. O conteúdo científico ex-posto neles, em geral, é mais leve e próximo de quem o lê, porque não existe imposição de rigor formal como acontece nos artigos científicos. “É uma forma democrática de divulgação, afinal possibilita aos indivíduos que participem de decisões que envolvem toda a humanidade”, afirma Joanez.

Uma recente iniciativa bem-sucedida mostra o potencial da blogosfera. No início deste ano, um grupo de professores e alu-nos do Laboratório de Divulgação Cientí-fica (LDC) da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, criou o Anel de Blogs Científicos (ABC – http://dfm.ffclrp.usp.br/ldc). Trata-se de um domínio virtual que reúne blogs que abordam os mais variados assuntos do meio acadêmico – de matemática a letras, de engenharias a ciências sociais. “Queremos ser um lugar de discussão para assuntos científicos, novas pesquisas e tendências”, explica um dos organizadores do projeto e estudante de Informática Biomédica da USP Gustavo Zedy Miranda Forte. A idéia surgiu du-rante o Prêmio Jovem Cientista de 2007, organizado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que tinha como tema “Projetos de Divulgação e Popularização da Ciência e Tecnologia”.

A jornalista Isis Rosa Nóbile Diniz, especialista em divul-gação científica, tem seu blog (www.xisxis.wordpress.com) vinculado ao ABC. Ela explica que existem dois tipos de leito-res de ciência: os pesquisadores e os leigos que se interessam pelo assunto. A blogosfera é um campo para os dois. “Quem apenas gosta do assunto procu-ra as informações com linguagem fácil. Já os pesquisadores querem se aprofundar por meios mais rápidos”. Para ela, a reunião de várias páginas em um único site é uma ótima ferramenta, não só para os pesquisadores tornarem públicas suas divulgações, mas também para se aproximarem de outros especialistas. Assim, podem compartilhar experiências e até estabelecer parcerias.

UFPR na blogosfera

Há também iniciativas locais de uso da internet para fins de divulgação. O Núcleo

d e Pe s -quisa em Sociologia Política Brasileira (Nusp) na UFPR, por exemplo, possui um blog para publicação de informações sobre a conjuntura política nacional e estadual (www.gac-nusp-conjuntura.blogspot.com). Um dos participantes, Bruno Bolognesi, afirma que esse recurso tem o papel de apro-ximar o leigo do conhecimento específico e desmistificar boatos e assuntos divulgados na mídia. “Com dados mais concretos e linguagem acessível, relacionamos temas do âmbito acadêmico com a realidade”. Ele também acredita que o blog é uma maneira de aprofundar temas. “As postagens, junto com os comentários que os internautas fazem, geram boas discussões”, completa.

Neste ano, o professor de Engenharia de Produção da UFPR Ricardo Mendes Júnior também criou um site para divulgar o trabalho de seu grupo de pesquisa (www.cesec.ufpr.br/grupotic). Ele explica que como seus alunos lhe enviavam muitos e-mails com dúvidas, surgiu a idéia de criarem blogs com fins pedagógicos. Assim, por esse meio, os questionamentos são esclarecidos e os próprios estudantes de graduação (www.

sistemasdeproducaoiufpr.blogspot.com) e mestrado (www.gestaoinformacaoct.blogs-pot.com) produzem conteúdos e enviam no-vas informações. Mas o pesquisador também aponta dificuldades: para ele, o trabalho de divulgação externa na UFPR seria facilitado se houvesse feiras mais abertas para exposi-ção das pesquisas dos alunos de graduação e pós-graduação, semelhantes às organizadas pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). “A propaganda que faze-mos é individual, boca a boca”, reclama.

Além dos blogs, outro recurso virtual para os pesquisadores se fazerem conhe-

cidos na comuni-dade cien-tífica são as páginas pessoais. Embora seu uso ainda seja restrito, alguns departamentos da Universidade já aderi-ram em massa, como o de Informática. Nas páginas, os pesquisadores se comu-nicam com alunos e publicam artigos, sem a necessidade de estarem vinculado a alguma publicação. A professora de Bo-tânica da UFPR Márcia Cristina Mendes Marques está entre os que utilizam esse meio. Ela possui um espaço para divulga-ção de pesquisas e projetos acadêmicos na internet (http://botanica.bio.ufpr.br/LabEcologia/Home.html), com uma particularidade: em inglês. “No Brasil, por causa da deficiência do ensino de língua inglesa, o público torna-se pequeno. Mas,

dessa forma, a divulgação atinge o público científico internacio-nal”, explica.

Divulgação tradicional

As revistas científicas espe-cializadas continuam sendo um referencial para trabalhos de divulgação. Naquelas voltadas aos leigos, a equipe adota uma linguagem acessível ao público geral. O editor da sucursal sul

da revista Ciência Hoje, Roberto Carvalho, conta que recebe textos e artigos de diversos cientistas colaboradores do veículo e pro-cura deixá-los o mais simplificado possível. Até os temas abordados são mais acessíveis, como meio ambiente e aquecimento global. “A idéia é tornar o assunto o mais digerível possível para o leitor”. Mas nem as revistas impressas ficam isentas da expansão da in-ternet: a Ciência Hoje possui, desde 1999, um site com material exclusivo.

Todavia, as revistas acadêmicas, por terem conteúdo mais especializado e apro-fundado, não deixam de ter alto status e

preferência entre os cientistas. O professor de

Economia da UFPR e editor da Revista de Economia, Huáscar Fialho Pessali, afirma que o cuidado com a publicação é grande. Um artigo, por exemplo, passa por avalia-ções do editor e de especialistas no assunto abordado pelo texto, para só depois ser publicado. “O processo é tão criterioso que somente 30% dos artigos são aprovados”.

Além de especialistas, também pode haver alunos contribuindo com a divulga-ção. O professor de Engenharia Florestal e editor da Revista Floresta, Sebastião do Amaral Machado, afirma que estudantes da graduação, através de iniciação científi-ca e com orientação de professores, podem ajudar em pesquisas e na elaboração de artigos. Mas isso não é regra: na maioria das vezes os alunos que publicam artigos são da pós-graduação.

Nem mesmo os tão tradicionais artigos científicos conseguiram se alienar ao meio virtual. É comum que eles sejam publica-dos também na versão online das publica-ções, as chamadas revistas eletrônicas. A UFPR possui ao todo mais de trinta dessas, que estão reunidas no Sistema Eletrôni-co de Editoração de Revistas da UFPR (http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/index/index). Muitas delas possuem uma versão impressa, como a Revista de Eco-nomia e a Revista Floresta.

No entanto, os pesquisadores ainda enfrentam problemas para tornar públicas suas análises e trabalhos científicos. Os mais comuns são os de estrutura física. Alguns cientistas entrevistados pelo Comunicação afirmaram que, para manterem seus projetos de divulgação em andamento, contam com a colaboração de empresas e instituições fora da UFPR. O professor Machado até brinca com a situação, quando é questiona-do sobre o apoio da Universidade. “Para a revista temos uma sala e eu, para ajudar”.

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Gustavo Zedy Miranda Forte,estudante de informática biomédica e blogueiro

Queremos ser um lugar de discussão para assuntos científicos,

novas pesquisas e tendências”“

Page 7: Jornal Comunicação

Co:::unicaçãojulho de 2008 7ufpr

SalÁrioS Aumento estabelecido por MP para docentes do Ensino Superior desagrada ao Andes e à Apuf-PR

Um reajuste polêmico“Um motorista do senado ganha mais

do que um professor titular”, disse um professor no dia 9 de abril, durante uma reunião entre docentes e representantes do Governo. “Pois então faça concurso para motorista”, respondeu Nelson Frei-tas, um dos assessores do Ministério do Planejamento. O tom da conversa não foi dos mais amigáveis, mas foi assim que se deu a discussão sobre a Medida Provisória 431/08, assinada pelo presidente Lula em maio deste ano.

A decisão implanta reajustes salariais para diversas categorias de servidores públicos, como professores e técnicos administrativos das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes). Além disso, a medida prevê também a reestruturação na carreira de alguns docentes. Mas a MP não agradou a todos. Professores vinculados ao Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) já demonstraram repúdio, alegando que, além de inconstitucional, a medida foi discutida de forma autoritária e antidemocrática.

“O governo apresentou uma tabela de reajustes muito desequilibrada”, diz Almir Menezes Filho, um dos vice-presidentes da Andes. Para ele, os benefícios estão

muito centrados na categoria de profes-sores doutores associados – os únicos que verão uma melhora significativa. Os demais terão reajustes que variam entre 9 e 11%, valores que não compensam perdas inflacionárias referentes aos anos anteriores. A presidente da Associação de Professores da UFPR (Apuf-PR), Arislete Dantas de Aquino, aponta um outro questionamento: a reposição será para professores associados, adjuntos e titulares. O problema é que, na grande maioria das instituições, essas são as categorias que abrigam o menor número de docentes.

Hélio Simiema, um dos fundadores do núcleo da UFPR do Fórum de Profes-sores das Instituições Federais de Ensino Superior (Proifes), é mais otimista. “Foi um avanço”, diz. “O acordo que está sendo implementado traz ganhos significativos para quem está no topo da carreira”, continua. No “topo da carreira” está o professor doutor, titular e com dedicação exclusiva, que atualmente ganha cerca de R$ 7.400,00. Este ano, ele terá um reajuste de 20,48% – o salário passa para quase R$ 9 mil. Em 2009 e 2010, os ganhos serão de 17,29% e 12,52%, respectivamente, o

Proifes versus AndesA principal queixa do Andes quanto

à MP 431/08 é o fato de ela ter sido discutida e assinada pelo Proifes. De acordo com Arislete de Aquino, o Fórum não tem legitimidade para negociar em nome dos professores. “Nosso sindicato é o Andes. O Proifes não nos represen-ta, pois não passa de um grupo pelego vinculado ao Governo”, afirma. Hélio Simiema rebate a acusação: “O Andes não pode mais atuar como sindicato dos professores”, diz. “Ele já perdeu seu registro sindical, que foi suspenso pelo Ministério do Trabalho”.

O Proifes é uma espécie de dissi-dência do Andes, criada em 2004. De lá para cá, intermináveis brigas judiciais lotaram a agenda das duas entidades, colocando em xeque o registro sindical do Andes. “Atualmente, nosso registro está suspenso”, explica Almir Menezes. “Mas foi suspenso devido a interferên-cias políticas, por uma secretaria do Ministério do Trabalho”. De acordo com Menezes, o registro do Sindicato é reconhecido pelo Supremo Tribunal de Justiça, o que significa que o Ministério do Trabalho não teria competência legal para derrubá-lo.

Para o Andes, o Proifes é um braço governamental. O Sindicato acusa a enti-dade de ser ligada ao Governo Federal e ao PT, e de agir de acordo com as diretrizes do Partido. Para Simiema, trata-se de um engano. Segundo ele, os apoiadores do Proifes seriam uma ala que valoriza o diálogo, sem descartar a possibilidade de greve. “Não somos partidários do PT.

Somos uma frente de docentes com in-dependência de pensamento e de atitude política”, garante.

Para Arislete, o acordo que resultou na MP 431/08 não foi democrático. Segundo ela, durante o ano de 2007, o Andes promoveu 23 assembléias em todo o Brasil. Todas elas declararam repúdio aos termos propostos, razão pela qual o Sindicato não assinou nada, embora o Proifes o tenha feito.

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) também participou da mesa que definiu os termos da MP. “Assim como o Proifes, a CUT também não nos repre-senta”, disse a presidente da Apuf-PR. “Faz mais de cinco anos que não somos filiados à Central”, diz. E por que a CUT estava lá? Segundo Arislete, porque o go-verno chama para negociar apenas quem lhe interessa.

Simiema tem outra versão. No ano passado, tanto o Andes quanto o Proifes participavam da mesa de negociações, que já durava mais de seis meses. “Mas a proposta apresentada pelo Andes não era praticável”, conta. Eram, segundo ele, propostas que trariam um impacto muito grande no orçamento do Governo Federal. “Foi quando o Sindicato, por vontade própria, decidiu retirar-se da ne-gociação”, diz Simiema. Então o Governo negociou com o Proifes, que apresentou uma proposta mais compatível com a governamental. “Fomos convidados a negociar porque o Governo reconhece nossa importância no cenário nacional”, conclui Simiema.

que garante, ao final, uma remuneração de aproximadamente R$ 11.750. Já as demais categorias, receberão aumento relativo à titulação e ao tempo de permanência na universidade. Para parâmetro de compa-ração, um dos tipos de professor que terá o menor aumento proporcional este ano é o de graduação, auxiliar, tipo dois, que cumpre uma carga horária de 20 horas se-manais. Com o reajuste proposto (1,34%), seu salário passará de R$ 1.488,87 para R$ 1.508,84. Em 2009 e 2010, os reajustes ficam em 1,83% e 1,16%, o que culminará com uma remuneração de R$ 1.554,30.

Esse parcelamento dos reajustes é ou-tro ponto de discordância entre o Andes e o Proifes. “Em 2008, teremos uma boa melhora, mas em 2009 e 2010, o reajuste chega a ser ridículo”, afirma Menezes Filho. No ano de 2008 o reajuste gira de 1,34% a 45,61%, dependendo da titulação e da categoria do docente. Em 2009, ele atingirá no máximo 18,85%. Em 2010, não chega a 17%. Traduzindo em valores: o valor médio do reajuste em 2008 será superior a R$ 500, enquanto em 2009 e 2010 não passará de R$ 50. “Esta é uma forma de amarrar o Sindicato e o Proifes por mais dois anos”, diz Menezes. Já para

Simiema, o parcelamento foi um ponto positivo do acordo. “Teremos estabilida-de em termos de projeção de salário, de forma que cada professor poderá fazer seu próprio planejamento”, declara.

Mas o conflito também está na rees-truturação das carreiras dos professores de primeiro e segundo graus, que seriam extintas pela MP. Hoje, essas carreiras abrigam todos os docentes da educação básica, técnica e tecnológica de institui-ções vinculadas ao MEC, ao Ministério da Defesa e aos ex-territórios. A MP, porém, cria três novas carreiras: a do magistério do ensino básico, técnico e tecnológico (para os professores de instituições que respon-dem ao MEC); a do magistério do ensino básico federal (para aqueles vinculados ao Ministério da Defesa); e a do magistério do ensino básico dos ex-territórios. O An-des, contudo, defende a existência de uma carreira única. “Fizeram isso sem que nem mesmo discutíssemos”, reclama Arislete. “O governo fez tudo atropelado. Isso não é democracia”. Almir Menezes concorda: “A democracia não foi levada a sério. Foi autoritarismo mesmo”.

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abrigam o menor número de docentes”

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Page 8: Jornal Comunicação

O Comunicação é uma publicação do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Paraná, com a participação de alunos das disciplinas de Laboratório de Jornalismo Impres-so e Laboratório Avançado de Jornalismo Impresso.

Professor orientador: Mário Messagi Jr. (jornalista res-ponsável - DRT 2963/PR).editora Chefe: Renata Ortega.seCretário de redação (imPresso): Sandoval Poletto. sub-seCretária: Manuela Salazar.

seCretária de redação (on-line): Aline Baroni. subseCre-tária: Iasa Monique. Webmaster: Tiago Capdeville. ComuniCação instituCional: André Marques assessor de ComuniCação: Tiago Cegatta. Chefe de rePortagem: Rodney Caetano. editores: CiênCia E tECnologia: Suelen Trevizan. Compor-tamEnto: Giovana Neiva. Cultura: Amanda Audi. Espor-tEs: Danilo Hatori. gEral: Poli Brito e Rapha Ramirez. opinião: Vanessa Prateano. polítiCa: Fábio Pupo e Thaíse Mendonça. uFpr: Amanda Menezes e Chico Marés. Fo-

tograFia: Fernanda Trisotto. CaPa: Augusto Kraft e Renata Bossle. Charge: Antoni Wro-blewski. Projeto gráfiCo e diagramação: Renata Bossle.

endereço: Rua Bom Jesus, 650 – Juvevê – Curitiba-PR telefone: (41) 3313-2032. e-mail: [email protected]. site: www.jornalcomunicacao.ufpr.br tiragem: 4 mil exemplares. imPressão: Gráfica O Estado do Paraná.

expediente

Co:::unicaçãojulho de 20088 esportes

FUtEBol aMador Torneios não-profissionais também movem paixões e rivalidades em Curitiba

Por amor à bola e à camisaNo futebol, esporte que cada vez mais

movimenta cifras milionárias, é pequeno o número de espaços para o jogador que quer apenas se divertir. Em Curitiba, po-rém, o Campeonato de Futebol Amador da Capital, mais conhecido como Subur-bana, é disputado por 30 clubes e tem cerca de 600 jogadores inscritos. São duas as divisões: a Série A, na qual participam 12 times; e a Série B, com 18.

Sob diversas denominações, o cam-peonato é disputado desde 1917. Ini-cialmente, a organização era de ligas amadoras, com a Federação Paranaense de Futebol (FPF) organizando campeonatos paralelamente, de 1939 a 1941. A partir de 1948, a FPF assumiu a responsabilidade pela disputa.

Os jogadores do campeonato não recebem salários, mas sim premiações por partida – que variam de churrascos a pagamentos em dinheiro que vão de R$ 50 a R$ 150. O fato é compensado pela relação afetiva que, em sua maio-ria, as equipes mantêm com a região de origem. Identificação que também criou rivalidades entre os bairros ou mesmo dentro deles. Em Santa Felicidade, por exemplo, está a rivalidade mais tradicional do futebol amador paranaense: o Trieste e o Iguaçu – clube amador mais antigo da capital ainda em atividade, fundado em 1919 – fazem um encontro que mexe com os ânimos do bairro. Todos os elementos de um clássico estão presentes na partida, a começar pelas provocações de torcedo-res e jogadores.

Outra grande rivalidade da Suburbana envolve Vila Fanny e Vila Hauer, bairros que são separados apenas por uma avenida – a atual BR-476, futura Linha Verde. Este duelo foi foi retratado no documentário Amadores do Futebol, do cineasta Eduar-do Baggio, que mostra o impacto o futebol não-profissional dentro dos bairros e comunidades onde ocorrem as partidas. Não apenas em relação aos jogadores, mas também às suas famílias e às demais pessoas envolvidas com os clubes. O do-cumentário exibe todo o preparativo do Fanny para uma semifinal de campeonato – e a derrota para o rival Hauer.

Treinamentos e relação com o futebol profissional

Os treinamentos da Suburbana cos-tumam ocorrer duas vezes por semana, e estão sujeitos às condições climáticas e a disponibilidade de local. Mesmo com

esses empecilhos, os 30 clubes possuem divisões de base, que somam, como a divisão principal, cerca de 600 jogado-res. Alguns clubes possuem, inclusive, uma estrutura mais desenvolvida, como Vila Fanny, Combate Barreirinha e Vila Hauer, que têm escolinhas para crianças de até nove anos. O Trieste é o caso mais avançado, com uma estrutura comparável a de várias equipes profissionais.

Isso por que uma das funções do futebol amador deveria ser a revelação de atletas profissionais. Mas, nos últimos anos, foram poucos os jogadores que sa-íram da Suburbana e vingaram no profis-sionalismo – bons exemplos são Anselmo Vendrechovski Junior, o zagueiro Juninho, hoje no São Paulo, que iniciou carreira no juniores do Combate Barreirinha, e o técnico Alexi Stival, o Cuca, atualmente no Santos, que começou como jogador do Iguaçu, ainda na década de 1980.

O último jogador amador curitibano a tentar carreira no futebol profissional foi o atacante Hideo Garcia, em 2005, que saiu do Combate Barreirinha e foi para o Paraná Clube. Jogou apenas 45 minutos antes de retornar ao amadorismo.

Não se sabe se o pequeno número de ‘revelações’ acontece por questões físicas ou psicológicas. Os jogadores, porém, põem a culpa na discriminação que sofrem por parte dos técnicos. O atacante Marlon de Souza Lopes, com passagem pelo fute-bol japonês e hoje no futebol catarinense,

sofreu muito no início de sua carreira pro-fissional com a imagem negativa que se faz dos amadores. Em 1999, ele foi contratado pelo Paraná Clube, depois de se destacar marcando os cinco gols do Combate Barreirinha no jogo final da Taça Paraná – maior competição de futebol amador do Estado. Isso, contudo, não impediu o preconceito. “Além dos treinadores, que nos excluem, alguns torcedores também nos tratam com desconfiança”, comenta o atacante, que isenta os companheiros de equipe. “Não senti discriminação por parte dos jogadores. Para eles, não impor-ta se você veio do futebol amador ou da Europa. Todo mundo se esforçou muito para estar ali, todo mundo é igual e tem os mesmos objetivos”, explica Marlon, que deixa um aviso para os olheiros dos times profissionais: “O pessoal deveria abrir os olhos, porque a gente sempre vê jogadores de qualidade atuando na Suburbana. É só ter boa vontade”.

A opinião do atacante é compartilhada pelo treinador do Trieste, Ivo Petry, que considera as dificuldades da Suburbana fundamentais para o surgimento de bons atletas. “Bons jogadores surgem nas situ-ações de maior dificuldade. O Brasil está cheio de exemplos assim”, afirma Petry, que critica o atual estágio do futebol brasileiro: “Os grandes jogadores nascem no campinho de terra, jogando na rua. O futebol brasileiro tem que parar de ser tão burocrático, tão automático”.

A cobertura da imprensa e o pão com bife

A Suburbana não recebe a mesma atenção do futebol profissional, mas tem seu espaço nos principais veículos impres-sos de Curitiba, além da cobertura espe-cial feita pela rádio Colombo (AM 1020). Ela transmite os jogos aos sábados, em horários que podem ser consultados no site da FPF (www.federacaopr.com.br).

De acordo com os profissionais da imprensa que trabalham na Suburbana, o futebol amador oferece uma realidade com-pletamente diferente da que é encontrada em um jogo do Campeonato Brasileiro, por exemplo. Segundo o jornalista Leonardo Bonassoli, que cobre a Suburbana para a Gazeta do Povo, participar das partidas ama-doras é “um prazer”. Para ele, o ambiente no futebol amador é mais puro, e o amor pelo esporte fala mais alto do que as cifras. “Há uma grande camaradagem entre os jorna-listas, os radialistas e os próprios jogadores e torcedores”, declara Bonassoli, que com-pleta: “Até mesmo com a arbitragem a gente consegue brincar, é bem descontraído”.

Um sinal dessa descontração está na própria cobertura feita por ele, que além dos comentários tradicionais sobre as par-tidas, costuma avaliar um item tradicional nos estádios da Suburbana: o pão com bife. A cada rodada, um estádio tem o lanche analisado. “Os melhores que provei até agora foram os do Vila Fanny e do Trieste”, elogia Bonassoli, que já é conhecido como “o cara do pão com bife” pelos torcedores que comparecem aos jogos.

bruno rolim

Jogadores do time sub-20 do Combate Barreirinha descansam, ainda em campo, após partida

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regulamento da Suburbana 2008A série A do Campeonato de Futebol

Amador da Capital está sendo disputado por 12 equipes, e se divide em quatro fases. A primeira, em turno único, define os dois rebaixados e os oito classificados. Os dois primeiros lugares ganham um ponto extra para a próxima fase, que divide os clubes em dois grupos de quatro, que brigam en-tre si em turno e returno. Os dois primeiros colocados de cada grupo se classificam para as semifinais, de onde saem os fina-listas. Em paralelo ao campeonato, há a disputa de juniores, realizada sob a forma de preliminares às partidas principais.