Jornal Comunicação

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Co:::unicação www.jornalcomunicacao.ufpr.br jornal laboratório do curso de jornalismo da ufpr edição 01 | abril de 2008 ESPORTES CIÊNCIA E TECNOLOGIA UFPR PÁG. 5 PÁG. 6 PÁG. 8 TCU vê irregularidades nas relações da Universidade com a Funpar. Reitor diz que não pagará a multa aplicada em 2007 A partir de julho, Centro de Bioequivalência da UFPR vai testar a eficácia de medicamentos genéricos Ogrobol: o mini-futebol de regras nebulosas praticado na Reitoria faz parte da história do campus Os 20 anos da ‘Constituição cidadã’

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Jornal laboratório do curso de jornalismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) - Edição de Abril de 2008.

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edição 01 | abril de 2008

EsportEsCiênCia E tECnologiaUFpr

pág. 5 pág. 6 pág. 8

TCU vê irregularidades nas relações da Universidade com a Funpar. Reitor diz que não pagará a multa aplicada em 2007

A partir de julho, Centro de Bioequivalência da UFPR vai testar a eficácia de medicamentos genéricos

Ogrobol: o mini-futebol de regras nebulosas praticado na Reitoria faz parte da história do campus

Os 20 anosda ‘Constituiçãocidadã’

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EditorialHora de abrir os trabalhos

Uma das mais detalhadas constituições do mundo vai fazer 20 anos. Em outubro de 1988 a abertura “lenta e gradual” chegava à reta final. A Carta brasileira instituía as eleições diretas do ano de 1989, que leva-riam Collor à rampa do Planalto. Daí em diante, passaríamos a viver o maior período democrático da história da nação – embora precisemos menear a voz ao constatar que faz apenas duas décadas que estamos nele.

Foi esse documento que escolhemos para a capa desta primeira edição, em 2008, do Comunicação. Como um jornal labora-tório, podemos nos dar certas liberdades. Por exemplo, pautar um assunto ‘prematu-ramente’, muito antes da imprensa conven-cional achar ser o tempo ideal para entrar na questão. De certa forma, decidimos arar o terreno, começar o trabalho. É claro que não pretendemos encerrar o assunto em parcas duas páginas. Mas sim deixar no ar, desde já, o germe da discussão, o principal objetivo do jornalismo de verdade, aquele que desce da torre de marfim e nega-se a fechar-se em copas, como se fosse proprietário dos fatos. Foi por isso que fizemos uma de nossas prin-cipais modificações editoriais em relação ao ano passado. As páginas do jornal agora estão menos fragmentadas. Abdicamos da idéia de cobrir o maior número de temas possíveis para apurar nosso senso de seleção e poder trabalhar melhor, mais profundamente e detalhadamente, a notícia que influencia direta ou indiretamente a vida de quem faz parte da Universidade. É o caso da matéria da editoria de UFPR (página 5), que traz de volta um assunto que muitos poderiam considerar velho (a multa aplica ao reitor pelo TCU no fim de 2007), mas faz com ele algo que não se viu à época: explica-o e, não menos importante, dá voz ao reitor, peça fun-damental do contexto que foi negligenciada pela módica cobertura dos jornais.

E para fazer isso encontrar ao maior nú-mero de leitores possíveis, este ano dobramos nossa tiragem (agora de 4 mil exemplares) e organizamos um sistema de distribuição que pretende chegar a toda parte da UFPR. Provavelmente não consigamos chegar às mãos de todos que compõem a Universida-de – afinal, são mais de 42 mil pessoas. Mas é uma melhora significativa. Como nossa capa, agora colorida já na primeira edição – em 2007 só conseguimos isso na última.

Estamos circulando de novo, sujeitos a todos os erros dos aprendizes, mas queren-do reduzi-los ao mínimo possível. Afinal, para valer a pena, a balança precisa pender para o lado certo. Na página 08, em nosso expediente, você encontra o endereço do nosso site, também todo reformulado, e atualizado diariamente. Um site multimídia, onde o jornalismo escrito une-se à TV, ao rádio e aos ensaios fotográficos na tentativa de formar um painel do que é relevante ao estudante de Exatas, Humanas ou Biológi-cas, ao porteiro do campus, ao secretário de coordenação e ao pró-reitor de Admi-nistração, a todas as pessoas que formam a Universidade – nós. No expediente também consta o e-mail do Comunicação, para onde você pode mandar críticas, sugestões e botar o dedo nesse processo.

Apesar de já haverem passado duas dé-cadas desde que o Brasil ganhou sua sétima Constituição, juristas e membros do Legis-lativo e do Executivo se dividem quanto à eficácia dos dispositivos da Carta. Alguns a consideram uma das mais avançadas do mundo, com leis que valorizam a cidada-nia e a democracia, algo indispensável no contexto social que o país vivia em 1988. O documento anterior, de 1967, escrito pelo governo militar, priorizava leis de segurança e ignorava as liberdades políticas e civis. Ha-via brechas que legitimavam, por exemplo, a tortura e o julgamento sumário.

Outros, no entanto, afirmam que a atual Constituição está defasada, por dar exces-sivos privilégios ao indivíduo e por conter mecanismos que permitem que ela própria seja burlada. Há quem afirme que uma nova Carta precisa ser escrita, algo que já foi acenado pelo presidente Lula como forma de erradicar os vícios políticos e realizar reformas essenciais ao país.

Para o doutor em direito civil pela Uni-versidade de São Paulo (USP) e autor de vários livros jurídicos, Inácio de Carvalho Neto, o problema não está na Constituição, mas na atitude imprópria dos políticos e na conivência do povo com a improbidade.

A Constituição brasileira é adequada aos tempos atuais ou precisa ser revista?Inácio de Carvalho: Uma Constituição sempre é adequada para a época em que é feita, embora a sociedade mude e as leis devam acompanhar essas mudanças. Sempre são necessários ajustes, o que não significa, necessariamente, uma nova Constituição. Apenas reformas pontuais. Uma outra Cons-tituição deveria ser elaborada somente se houvesse algum tipo de revolução.

As assembléias constituintes costumam ser convocadas em momentos de ruptura, caso do Brasil em 1988. A ruptura, hoje, seria o desgaste por que passam as instituições no Brasil? Os benefícios que os parlamentares recebem (a imunidade parlamentar instituída

A Constituição é inocentepela Carta de 1988, por exemplo) não aca-bam facilitando os crimes de corrupção?Inácio: Realmente, isso precisa ser revisto, po-rém em termos. As garantias do parlamentar não existem para que ele seja corrupto, mas sim para que exerça bem o seu mandato. O político tem que ter liberdade de criticar o governo, de falar em nome do povo. Essa é a idéia das garantias. E isso precisa existir. A corrupção existente precisa, sim, ser revista, mas não creio que a alteração da Constituição o faça. Em nenhum momento a Carta dá mar-gem a esse tipo de proteção. O que precisa ser feito é mudar a conduta efetiva dos parlamen-tares e o pensamento do próprio povo, que é muito condescendente com esse tipo de ação e acaba votando novamente em políticos que já se envolveram em casos de corrupção.

Há a questão das Medidas Provisórias (MPs) emitidas pelo presidente, instituídas pela atual Constituição e que acabam tran-cando a pauta do Congresso. Elas ferem a legitimidade dos parlamentares e tiram deles o direito exclusivo de legislar? São objeto de barganha e favores políticos?Inácio: Deve-se analisar com muita cautela o verdadeiro papel das MPs. Elas são um instrumento de governo relativamente bom. O problema é o abuso que se faz disso. E esse abuso decorre do fato de o Legislativo não cumprir o seu papel. Se o Legislativo elabo-rasse as leis de que o país necessita o Governo Federal não precisaria usar as MPs.O trancamento da pauta ocorre porque o Legislativo não vota as medidas. Se ele vo-tasse no prazo, não trancaria a pauta. Para se ter uma idéia de como o Legislativo não está exercendo seu papel, no ano passado inteiro o Congresso votou apenas uma lei de sua própria autoria. Todas as demais foram iniciativas do Executivo. Os parlamentares ocupam seu tempo apenas com CPIs, porque elas dão Ibope, e com o orçamento, que gera renda para eles mesmos, para seus respecti-vos estados, o que agrada aos governadores. Então, não cumprem seu verdadeiro papel, que é a elaboração de leis.

Uma nova Constituição poderia acelerar reformas importantes para o país, como a previdenciária, a trabalhista, a tributária e a política?Inácio: Na realidade essas reformas não interessam nem ao governo, nem à oposição. Interessam à sociedade, não aos políticos. Então, sempre se fala nisso, mas nunca se faz. Até foi feita uma reforma previdenciá-ria no ano retrasado, mas de forma muito tímida e que acabou por beneficiar muito mais a previdência privada do que a própria nação. Ninguém pensou, por exemplo, em acabar com a aposentadoria especial do parlamentar. É evidente que as reformas são necessárias, mas podem ser feitas através de emendas na própria Constituição, sem a necessidade de se criar uma outra.

A Carta brasileira é uma das mais longas do mundo. Além de seus 250 artigos originais, até hoje já sofreu 62 emendas. Esses acrés-cimos não acabam desvirtuando o texto de 20 anos atrás?Inácio: Não necessariamente. Tomemos como exemplo os Estados Unidos. Em toda a sua história eles possuem apenas uma única Constituição. E é claro que ela possui várias emendas. O Brasil já teve sete constituições, e não vejo motivos para mais uma. Se as emendas forem harmônicas, elas manterão o sentido original do texto constitucional.

Quais as chances reais de uma nova Cons-tituição ser discutida e aprovada nos pró-ximos anos?Inácio: Muito pequenas. Para tanto, seria necessário que o povo tomasse o poder e que a sociedade tomasse a frente dessa discussão.

Supondo que uma nova Carta venha a ser elaborada, que processo seria mais adequado para estruturar uma assembléia constituinte?Inácio: Só se justifica falar em Constituin-te se ela for composta por pessoas eleitas especificamente para elaborar uma nova Constituição. Pessoas que estejam isentas de qualquer tipo de beneficio ou interesse particular. Em 1987, a escolha do presidente Sarney em convocar parlamentares já eleitos para elaborar a Carta Magna foi absurda e muito criticada. Não acredito que, hoje em dia, se cometeria o mesmo erro.

A atual Carta foi batizada de ‘Constituição cidadã’ pelo então presidente da Assembléia Constituinte, Ulysses Guimarães. Qual deveria ser a temática de uma nova Constituição?Inácio: É uma pergunta complicada. No momento em que foi elaborada a atual Constituição, o título dado a ela foi muito apropriado. Hoje em dia a temática que poderia ser usada para simbolizar uma

nova quebra de paradigma poderia ser, talvez, ‘cidadão honesto’, contra a

corrupção e a roubalheira dos políticos. Acho que a

honestidade deveria ser o valor a ser salientado

numa hipótese de nova Constituição.

CíCEro BittEnCoUrt

opinião

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Co:::unicaçãoabril de 2008 3política

DUAS DÉCADAS Para especialistas, a Carta brasileira prima pelo direito individual

Constituição completa 20 anos

A Constituição brasileira completa 20 anos no próximo mês de outubro. Considera-da um avanço democrático, é a mais completa de toda a história nacional. Uma fama a que ela faz jus: são 250 artigos que garantem os di-reitos individuais dos cidadãos e estabelecem detalhadamente os poderes do Estado.

Durante o processo de elaboração da Carta, que durou 20 meses, os 559 parla-mentares que formavam a Assembléia Cons-tituinte foram fortemente influenciados por diversos setores da sociedade civil brasileira. A população, saída a pouco da ditadura mi-litar, ansiava por democracia e liberdade. O professor de Direito da UFPR, Alvacir Nicz, atribui a pressão popular à cobertura feita pela imprensa e aos debates realizados na época. “Foi tamanha a repercussão dentro da sociedade que a população queria levar suas prioridades ao conhecimento dos cons-tituintes. Muitos se organizavam dentro dos seus estados e viajavam à Brasília para tentar pressionar a Assembléia”, lembra. O objetivo era entrar em contato com os constituintes, que estavam divididos em comitivas para discutir temas específicos e, em geral, eram representantes de áreas de interesse relacio-nadas a esses tópicos. Uma das ‘seções’ mais influenciadas foi a que discutia os direitos trabalhistas. Representantes da classe tra-balhadora queriam tomar conhecimento e participar da elaboração das propostas da comitiva, antes que elas fossem sujeitas ao plenário e, caso aprovadas, entrassem defi-nitivamente na Constituição.

Para o senador paranaense Alvaro Dias (PSDB), que acompanhou de perto a ela-boração da Constituição, a pressão do povo, antes de ser um obstáculo aos trabalhos, foi apropriada. “Era um momento oportuno para recolher o sentimento popular”, diz. Manifestações que podem ser recolhidas até hoje. Poucos sabem, mas a Constituição bra-sileira permite a inclusão de propostas de lei criadas pela população, desde que subscritas por pelo menos 30 mil assinaturas.

O professor Alvacir Nicz ainda ressalta a influência do período ditatorial sobre a Constituição. Para ele, um exemplo disso é o direito criminal. Os artigos que rechaçaram a extradição e posicionaram o país contra a pena de morte surgiram em reação às execu-

Federal, mesmo depois do choque que este sofreu nas finanças.

A Constituição de 1988 ainda estabeleceu as eleições diretas e a definição dos Três Pode-res e de suas atribuições, além de dar as prerro-gativas cabíveis a cada órgão governamental.

Para a professora de Direito da UFPR, Vera Chueiri, de todos esses aspectos, é im-possível eleger um como de maior importân-cia. “Falar em quais artigos a Constituição de 1988 supera qualquer outra não tem sentido. Toda ela, todo seu sentido e seu compromis-so público são o que a diferem”, garante.

Detalhismo

O único pecado da Constituição brasilei-ra, segundo Dias, é a quantidade de artigos que a compõem. “É uma Constituição com muitos excessos, o que dá margem a cons-tantes emendas. Se ela tem sido tão alterada ao longo do tempo é em função da sua am-plitude”, diz o senador.

Porém, não há unanimidade. Segundo a professora Chueiri é natural que a Cons-tituição seja longa. “Com o processo de redemocratização do país e após anos de constituições outorgadas e atos institucio-nais, houve a necessidade de um novo texto que espelhasse a complexidade do Estado e da sociedade brasileira”, reflete.

Ao todo, a Carta brasileira já sofreu 62 intervenções. Foram seis emendas de revi-são de texto e 56 ordinárias (aquelas que alteram substancialmente o artigo). Mas isso não significa que modificá-la seja um processo simples. Há condições que devem ser respeitadas, como a quantidade mínima de membros favoráveis no Congresso. São necessários três quintos da Câmara (308 dos 513 deputados) e três quintos do Senado (49 dos 81 senadores) favoráveis a modificação. A proposta ainda precisa ser aprovada em dois turnos em cada instância para que a alteração de fato se perpetue. Além disso existem cláu-sulas, as chamadas pétreas, que sob nenhuma hipótese podem ser modificadas.

Confira a entrevista completa do sena-dor Alvaro Dias no site www.jornalcomu-nicacao.ufpr.br

lUCianE BElin

Dos direitos e garantias individuais:

w O bem de todos, “sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”; w Liberdade de pensamento, de religião e de locomoção;w Proibição da pena de morte, da prisão perpétua e da extradição;w Propriedade privada sem o princípio da inviolabilidade;w O direito à defesa do consumidor.

Dos direitos do trabalhador:

w Jornada de trabalho de 44 horas sema-nais;w Férias remuneradas;w Décimo terceiro salário; w Licença maternidade e paternidade;w Fundo de garantia;w Irredutibilidade do piso salarial;w Aviso prévio;w Livre associação do trabalhador.

Novidades da Carta de 1988

A Constituição brasileira é uma das mais longas do mundo, com 250 artigos e 62 emendas

ções e extradições do período militar. “Na pas-sagem de uma ditadura para uma democracia é evidente que se busca sempre preservar os cidadãos”, declara o professor.

Direitos individuais

O grande número de artigos tratando dos direitos e garantias individuais demons-tram a preocupação, da época, em defender a população através da Carta. Tanto que Ulysses Guimarães, presidente da Consti-tuinte, chamou-a de “Constituição cidadã”. Até a disposição dos artigos difere dos seis documentos anteriores. “Pela primeira vez os artigos relacionados ao indivíduo foram posicionados antes dos que dispõem sobre a organização do Estado”, explica Nicz.

A área que trata sobre os direitos do tra-balhador também é um reflexo do valor que o documento de 1988 dá ao indivíduo. Redução da jornada semanal de trabalho, férias remu-neradas e décimo terceiro salário, previstos pela Carta, melhoraram as condições da classe assalariada. O atual presidente da Centra Úni-

ca dos Trabalhadores (CUT), Rony Barbosa, considera tais mudanças fundamentais. “A Constituição trouxe ares de liberdade ao tra-balhador e autonomia sindical”, declara. Mas complementa: “A fiscalização do cumprimen-to dos direitos do trabalhador ainda é muito falha, os órgãos fiscalizadores do trabalho não funcionam a contento. Por isso há um desres-peito grande pelos empregadores à lei”.

Apesar de não ter sido prioritária, a orga-nização estatal também sofreu modificações. A carga tributária nacional, por exemplo, antes direcionada somente à União, passou a ser dividida com os estados. Para o profes-sor de Direito da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Oscar Danilo Maciel, a Constituição de 1988 aumentou a autonomia arrecadatória de estados e municípios. “Só não foi capaz de distribuir responsabilidades entre eles”, complementa, referindo-se ao fato de que a Carta não trás nenhum artigo que delegue às unidades fe-derativas a manutenção de garantias sociais, apesar de dar a elas maior arrecadação. Essas tarefas continuaram a cargo do Governo

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Da organização política:

w Livre criação dos partidos políticos;w Eleição direta para os cargos do Executivo e Legislativo;w Transferência de uma parte dos recursos da União para estados e municípios;w Carga tributária que correspondia a apro-ximadamente 25% do PIB – hoje, alterada pelas emendas e leis complementares, chega a 30%;w O Legislativo como responsável pela criação de ministérios e a presidência pela nomeação de ministros;w Proibição ao presidente de ausentar-se do país por mais de 15 dias, salvo com autori-zação do Legislativo;w Criação de três unidades federativas: Tocantins, Amapá e Roraima;w Instituição da possibilidade do presiden-te legislar, ao editar medidas provisórias (MPs);w O direito de estados e municípios terem legislações individuais.

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Co:::unicaçãoabril de 20084 comportamento

TOC A rotina inusitada de quem convive com o Transtorno Obsessivo Compulsivo

Minhas manias direitinho no lugarQuem assistiu à comédia Melhor é impos-

sível (As good as it gets, 1997) se divertiu com as manias do sarcástico Melvin Udall, um escritor de romances tórridos que na vida real mantém uma rotina bem diferente da de seus livros. Interpretado por Jack Nicholson, Melvin é um homem de meia idade que se desdobra diariamente para que tudo saia de acordo com os seus rituais de controle: come sempre no mesmo restaurante, tem horror a germes e se recusa a tocar em qualquer coisa pública ou em algum desconhecido.

Ao contrário do que possa parecer, en¬tretanto, os hábitos retratados na pelí-cula não são apenas meros caprichos de um personagem excêntrico. São, na verdade, sintomas de uma doença comportamen-tal que afeta duas a cada cem pessoas: o Trans¬torno Obsessivo Compulsivo.

De acordo com a terapeuta Geani Hos-tins, o distúrbio, popularizado pela sigla TOC, é responsável por virem à mente do portador pensamentos pessimistas, repeti-tivos e involuntários, como os de bactérias adentrando a pele, acidentes graves e até morte. É numa tentativa de impedir que tais eventos ocorram que a pessoa desenvolve a faceta compulsiva da doença: acredita, por exemplo, que somente ao tomar inúmeros banhos, verificar a tranca da porta dezenas de vezes ou até mesmo não pisar em rejuntes de calçada pode evitar que seus pensamentos obsessivos sejam concretizados.

Tudo isso parece bastante esquisito, não? Pois mesmo quem tem TOC concorda. Lidar com essas manias no dia-a-dia não é tarefa fácil – principalmente para aqueles maníacos por limpeza ou organização. Seja no círculo de amigos, em casa ou na faculdade, a maior dificuldade é sempre a mesma: conseguir manter a rotina de ordem e higiene apesar dos costumes alheios.

Tudo sempre no lugar

Há três anos, assistindo à televisão, a estudante de Relações Internacionais das Faculdades Curitiba, Camila Casarin, 19, foi atraída por uma reportagem que retratava as atitudes exageradas de uma atriz famosa. En-quanto a intérprete falava sobre o sentimento de angústia pelo qual era tomada caso não passasse horas por dia debaixo do chuveiro, Camila sentia uma es-tranha familiaridade com as declarações. Seria TOC, afinal, sua obsessão pelo quarto milimetricamente ar-rumado?

Foi a mãe da es-tudante que resolveu tomar providências acerca das atitudes da filha. Ao invés de abraçar o sonho concretizado de ter um filho que prezasse pela organização, Marí-lia entrou em contato com um psicólogo quando as manias começaram a afetar o sono de Camila. Daí para o consultório de um psiquiatra e o diagnóstico do transtorno em grau leve pouco tempo se passou.

Atualmente, Camila controla a insônia através de medicamentos e faz uso da técnica de acupuntura para aliviar as manias. Elas vão desde levantar da cama pontualmente às 6h50 da manhã (com ambos os pés tocando juntos o chão) até redobrar todas as roupas do armário quantas vezes forem necessárias para que lhe pareçam organizadas. “Posso chegar às sete horas da manhã da balada, mas eu sei que vou dobrar as minhas roupas e verificar se o quarto está arrumado. Se não fizer isso fico com a sensação de que alguma coisa ruim vai acontecer enquanto estiver dormindo”, conta.

Camila estagia em um escritório que acomoda mais sete pessoas, e as divisórias particulares não são suficientes para que ela deixe de inspecionar a arrumação das mesas alheias. “Incomoda de verdade ver papéis espalhados e coisas fora do lugar. Me angustia”, lamenta. “Uma vez até aproveitei que um colega foi ao banheiro e dei uma ajeitadinha em sua mesa”, confessa.

Para quem tem o hábito de passar a limpo as anotações de cada aula pelo menos duas vezes, “para que a letra fique bonita e retinha”, a hora de fazer trabalhos acadêmi-cos em grupo pode ser um pesadelo. O que parece engraçado aos olhos dos colegas – a ansiedade da aluna em organizar tudo – é doloroso para ela. “Não é chatice minha. Se tudo não estiver em ordem eu fico realmente mal”, confessa.

Embora reforçado pelas situações de es-tresse, não é somente em assuntos referentes à responsabilidade que o TOC aparece. Nas horas vagas, Camila pratica aulas de circo – e mesmo na anarquia debaixo da lona sua gana por organização se manifesta: a aprendiz circense gasta um bom tempo das aulas arrumando a caixa onde ficam guardados os objetos de malabarismo. “Os alunos abrem a caixa, pegam as bolinhas e deixam tudo bagunçado. É impossível encontrar alguma coisa lá dentro depois”, explica.

‘Xô’, sujeira

Ela não encosta a mão diretamente em maçanetas, não deixa que comam do seu saquinho de pipoca e lava debaixo das

unhas várias vezes ao dia. Nathalie Fis-cher, 20, que estuda Engenharia Indus-trial Madeireira na UFPR, foi diagnos-ticada de TOC há pouco mais de dois anos – mas conta que desde criança já apresentava “ma-nias estranhas”. “An-tigamente não podia roçar na parede que ia direto para o ba-nho e, se visse uma

pessoa de quem não gostasse, prendia a respiração por medo dos germes”, recorda.

Na Universidade, local em que passa a maior parte de seus dias, os sintomas do transtorno se evidenciam. Embora seja qua-se costumeiro que os banheiros do campus Jardim Botânico não disponibilizem papel

higiênico, Nathalie não se conforma com o fato. “Se já é incômodo para os alunos em geral, imagine para mim”. O amarelado dos rejuntes entre os azulejos das cabines também incomoda a garota, que chega a evitar beber muita água para não precisar usar o sanitário.

Para situações de emergência, um kit de ‘primeiros socorros’: na bolsa da estudante sempre há sabonete líquido, toalha limpa e anti-séptico para as mãos – tudo para tornar a experiência de usar o banheiro menos traumática. “Antes de puxar a descarga e abrir ou fechar a torneira, enrolo papel nas mãos para não encostar nas bactérias”, explica. E quanto à porta das cabines? “Empurro com o cotovelo”, diz Nathalie, que freqüentemente é alvo de ‘ensinamentos’ de usuárias dos sani-tários em shoppings. “Pensam que eu não sei como usar a toalha por não conseguir tocar no suporte”.

As cantinas da Universidade também são paradas proibidas para a futura engenheira. Quando a fome aperta, só mesmo com muitos guardanapos para enfrentar um pão de queijo caseiro sem sujar as mãos. “Não confio na higiene dos produtos vendidos”, justifica. O Restaurante Universitário, con-tudo, pode se gabar de ter Nathalie como

freqüentadora assídua. “Eu acredito que seja limpinho, porque a comida é feita para muitos alunos. Se não fosse assim muitas pessoas iam passar mal”, raciocina.

Ao contrário de Camila Casarin, Nathalie não faz uso de medicamentos para controlar suas manias: o faz pelo auto-policiamento. “Eu aprendi a me controlar. Quando estou muito angustiada, penso: ‘Nathalie, isso é uma bobagem. Nada vai acontecer se você não fizer tal coisa’”.

Cortando o mal pela raiz

Segundo a doutora Geani Hostins, o ca-ráter ‘cômico’ que o transtorno tende a assu-mir em suas fases iniciais acaba fazendo com que não se leve a sério a gravidade da doença. “Quando não tratado no início, o TOC pode se desenvolver para níveis mais graves”, escla-rece. Para o tratamento, o mais indicado é a terapia cognitivo-comportamental. “É uma reeducação de atitudes. Tem o objetivo de abrir a visão dos pacientes sobre seus atos e extinguir os antigos costumes por meio de técnicas saudáveis, como o relaxamento e a prática esportiva”, conclui a psicóloga.

samantha Costa

Nas aulas de circo, Camila tenta, em vão, manter organizados os objetos de malabarismo

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Não é chatice minha.

Se tudo não estiver em ordem eu fico realmente mal”

Camila Casarin,estudante

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Co:::unicaçãoabril de 2008 5ufpr

MULTA No fim de 2007, o Tribunal de Contas da União onerou o reitor em R$ 15 mil

Possíveis irregularidades com a FunparAs possíveis irregularidades na relação da

UFPR com a Fundação para o Desenvolvi-mento da Ciência, da Tecnologia e da Cultu-ra (Funpar) ficaram caras para o reitor Carlos Augusto Moreira Jr. no final do ano passado. O Tribunal de Contas da União (TCU) multou Moreira em R$ 15 mil, alegando o descumprimento de 18 determinações. Den-tre elas, as mais polêmicas dizem respeito à realização do vestibular, ao caráter espo-rádico dos cursos de pós-graduação e especialização latu sensu, à gestão dos recursos de emendas parlamentares e à contratação irregular de funcionários.

A Fu n pa r f o i criada em 1980 com o intuito de apoiar a UFPR em suas ações. A Fundação é responsável pela viabilização e de-senvolvimento de projetos, além da administração dos recursos da institui-ção. Entretanto, ape-sar de fortemente integrada com a UFPR, a Funpar é uma entidade filantrópica, em tese independente da Universidade.

Problemas com o vestibular

A realização do vestibular da UFPR foi colocada em cheque. O processo seletivo é organizado pelo Núcleo de Concursos, seção da Universidade ligada à Funpar. Antes da multa do TCU, no fim de 2007, a Fundação recebia todo o dinheiro arrecadado pelo concurso e direcionava-o para a contratação de fiscais, locação de espaços, pagamento de material, entre outros. Para o Tribunal, há irregularidades nessa atribuição.

De acordo com as determinações do TCU, a Universidade deveria abrir licitação antes de contratar uma empresa ou entidade para realizar o concurso. Entretanto, segun-do o reitor, a Funpar não poderia participar da licitação, por ser uma Fundação de apoio à própria Universidade, o que faria o vesti-bular, provavelmente, ficar a cargo de uma empresa privada. Dessa forma com os pro-fessores da UFPR não mais fazendo a seleção de seus futuros alunos, a instituição perderia o controle do processo. “O vestibular exige sigilo. É o nome da instituição que está ali. Se a gente não tem esse controle, quem é que vai ter? Isso é um absurdo. Eu vou lutar com todas as forças que eu tenho contra essa demanda”, contesta Moreira.

Os recursos para a realização do vesti-bular de 2007, que aconteceu após a noti-ficação da multa do TCU, acabaram sendo arrecadados pela própria Universidade, que posteriormente contratou a Funpar para organizar o concurso. Segundo Moreira, o Tribunal já entendeu essa modificação no processo como um avanço. “Mas isso é feito assim há 20 anos, não é da minha gestão. Eles resolveram multar a mim porque estou no cargo agora”, diz o reitor.

De acordo com o reitor, isso serve para con-tornar problemas enfrentados pela instituição, como o pequeno número de vagas ofertadas pelo Ministério da Educação (MEC) – inferior a sua necessidade – e a ausência de concursos instituídos para determinados cargos – como o de barqueiro para o Centro de Estudos do Mar ou de técnico de informação.

Essas contratações, ao longo dos anos, preencheram diversas carências dentro da Uni-versidade. Por exemplo, 1200 funcionários da Funpar atuam no Hospital de Clínicas (HC), num quadro de 2800. Além do HC, a Materni-dade Vitor Ferreira e o Hospital do Trabalhador têm também funcionários da Funpar atuando em várias áreas. “Eu tenho convicção que se eles acabarem com as Fundações, os hospitais ficarão inadministráveis”, afirma o reitor.

Moreira está recorrendo às determina-ções e diz que não pagará a multa aplicada pelo TCU, porque não se sente culpado. Além disso, está requerendo um mandato de segurança contra o TCU.

roBErta Zandonai

Em caráter esporádico

Para o TCU, há duas questões pro-blemáticas em relação aos cursos de pós-graduação e especialização latu sensu: o fato de os professores serem pagos via Funpar e o caráter não esporádico dos cursos que eles lecionam.

A Funpar atua gerenciando toda a con-tabilidade, a contratação e o recebimento de

verbas dos cursos. O superintendente da Fundação, Paulo Bra-carense, explica que, caso esse dinheiro en-trasse direto na conta única da Universida-de, não seria possível cobrir todos os gas-tos, como, por exem-plo, o pagamento dos professores, que não podem receber da UFPR algo além do salário já pago.

Em relação à se-gunda questão, per-cebe-se no processo uma divergência entre a acusação e a defesa

no entendimento do termo ‘esporadicamente’. Para o Tribunal, a atuação desses professores em cursos regulares (com turmas anuais) foge do caráter esporádico, enquanto a Universi-dade defende que os módulos de 30 horas anuais dos cursos se encaixam no perfil.

“A decisão do TCU faz um alerta aos profes-sores que são do regime de dedicação exclusiva e estão envolvidos com cursos de especiali-zação pagos nas próprias instituições onde trabalham. O TCU deixa claro que há uma irregularidade em receber duplamente”, afirma o diretor regional sul do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) e professor aposentado da UFPR, Lafaiete Neves. A lei, no entanto, diz que os servidores públicos federais têm o direito de colaborar esporadicamente em cursos de sua especialidade, desde que isso não prejudique o desempenho como servidor público federal.

Neste ano, apenas os cursos que já esta-vam em andamento continuam funcionando. Os novos cursos que teriam início em 2008 foram cancelados, devido a impossibilidade da Universidade de pagar os professores pela conta única. “Tivemos prejuízo. Os cursos de especialização pararam, os professores que davam especialização estão desestimulados, querendo levar tudo para faculdades particu-lares”, reclama Moreira.

“Depende da ousadia do gestor”

Outra função irregular da Funpar, para o TCU, é o auxílio na gestão de recursos oriun-dos de emendas parlamentares, que são uma das principais fontes de recursos da UFPR. A soma de dinheiro costuma chegar na última semana de dezembro (em 2007 ela veio no dia 26), e precisa ser gasta até o final do ano. Do contrário, deve ser devolvida.

A Universidade alega que não há como gastar todo o montante até o dia 31 de

dezembro e, por conta disso, costumava repassar a verba para a Funpar, que a en-viava de volta à Universidade conforme as necessidades do ano seguinte. “A utilização desse dinheiro está dentro da lei”, afirma o superintendente da Fundação.

Discordando da alegação da UFPR, o TCU declarou no processo: “A proximidade do en-cerramento do exercício financeiro jamais pode servir de fundamento para o ato administrativo ilegal. O encerramento do exercício financeiro não configura fato inusitado ou inesperado”.

O reitor se defende, afirmando que, caso tivesse devolvido recursos de emendas parla-mentares à Brasília, o Centro de Estudos do Mar ainda estaria com “meia dúzia de pré-dios” e a Universidade do Litoral nem teria começado a ser construída. “Daí depende da ousadia do gestor. Hoje em dia eu já acho que gestor que não tem problema com o Tri-bunal de Contas da União é um mau gestor para a instituição”, provoca Moreira.

Em 2007, devido ao processo do TCU, o repasse de verbas das emendas à Funpar não foi feito. No entanto, os empenhos foram rea-lizados a tempo e nenhuma verba provenien-te de emenda parlamentar foi devolvida.

Contratações irregulares

A contratação de funcionários de caráter permanente através da Funpar também é um ponto polêmico do processo. Assim como todos os funcionários públicos, os servidores da UFPR deveriam ser selecionados através de con-cursos. No entanto, a Univer-sidade contrata uma parte de seus funcionários através da Fundação, sem concurso pú-blico. Por isso, para o TCU, de forma irregu-lar.

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Page 6: Jornal Comunicação

Co:::unicaçãoabril de 20086 cultura/geral

CULTURA AFRO Manifestações culturais afro-brasileiras têm adeptos na capital

Maracatu, capoeira e candombléThiago Hoshino é estudante de Direito

da UFPR, e seu sobrenome não nega as raízes japonesas. Contudo, sua escolha religiosa difere de suas origens: Hoshino é filho de santo em um terreiro de candomblé. “Conheci a religião, me interessei e comecei a estudá-la mais a fundo”, diz.

Segundo a mãe de santo do candomblé e fundadora do Grupo de União e Consciência Negra (Grucon), Dalzira Maria Aparecida, é crescente o número de curitibanos que, as-sim como Hoshino, apreciam a cultura afro-brasileira em suas diversas manifestações, como o maracatu, a capoeira e as religiões umbanda e candomblé.

O maracatu tem suas raízes na região de Pernambuco, no final do século XVI, quando os escravos começaram a recordar suas tradições africanas com uma mistura de música, dança e religião. No início, representava as coroações dos reis do Con-go, mas com o tempo, para preservar seus costumes sem entrar em conflito com os senhores, os negros substituíram no cortejo a realeza africana pelas grandes autoridades portuguesas e as figuras da Igreja Católica. A festa representa uma comitiva completa: possui rei, rainha, servo, dama-de-passo, baianas e batuqueiros.

Mas, em Curitiba, os grupos que prati-cam o maracatu limitam-se a fazer apenas a parte musical. “Queremos tratar o maracatu com todo o respeito que ele merece, e ainda há muito o que aprender. Talvez por isso não apresentemos o cortejo completo”, explica Cauê Menandro, um dos integrantes do grupo Maracaeté.

Um respeito que também é afirmado por Luiz Augusto Comasseto, integrante

do Grupo Zimba, que pratica a modalidade da capoeira angola em Curitiba. O esporte, hoje considerado tipicamente brasileiro, tem origem em rituais tribais de dança e luta. Durante a escravidão, foi usado pelos negros como uma forma de defesa nas fugas.

do esporte. “Aqui, há ligação espiritual. Ao mesmo tempo em que brincamos, sentimos algo superior a nós”, conta o praticante.

O maior número de adeptos às manifes-tações culturais afro-brasileiras, contudo, não garante o fim do preconceito. “A opres-são à cultura negra teve início com a escra-vidão e continua até hoje. Acredito que esse comportamento preconceituoso ocorre pela falta de conhecimento sobre o assunto. As pessoas acabam acreditando em tudo o que ouvem por não conhecerem”, afirma a mãe de santo Aparecida. Falta de conhecimento que ela tenta suprir, ao explicar as diferenças entre a umbanda (a ‘abrasileiração’ das cren-ças africanas, misturadas com o cristianismo, o kardecismo e as religiões indígenas) e candomblé (a religião africana na sua forma mais pura).

O estudante Hoshino também relata os preconceitos de que é vítima. “Me chamam de macumbeiro”, conta. Ele, no entanto, trabalha para alterar essa visão. Hoshino faz parte do grupo Desigualdade e Memória, que busca resgatar a cultura afro-brasileira. “Chega a um ponto em que ou você se escon-de, ou adota essa causa política como causa pessoal e luta por ela”, reflete.

Uma causa que, para Aparecida, também é social e espiritual. Ela ressalta, por exem-plo, a importância de seu terreiro hoje, ao acolher pessoas sem distinção de raça, classe social ou opção sexual. Segundo ela, além de ser porta-voz da religião, uma mãe de santo é também assistente social e possui respon-sabilidades diante da comunidade. “Vamos aonde o governo não chega”, finaliza.

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À direita, a representação de um orixá em altar do candomblé

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GERAL EJA Nas redes pública e privada, antigo supletivo atrai número crescente de alunos

De volta aos bancos escolaresDados do Ministério da Educação indi-

cam que houve, de 2003 a 2006, um aumento de 13% na procura por cursos de ensino para jovens e adultos (EJA), o antigo supletivo, na rede pública do Paraná. Isso significa que o número de turmas, antes de 1.874, passou para 2.114 nesse período. No Brasil todo, em 2007, a rede pública computou 4,9 milhões de novas matrículas nessa modalidade de ensino. O crescimento na procura, contudo, acontece também na rede privada. Segundo João Manoel Caron, presidente do Sindi-cato das Escolas Particulares do Estado do Paraná, os cursos particulares abrigam uma parcela significativa e crescente de alunos desperiodizados que optam pela modalida-de. “Há um incremento da ordem de 15% a 20% ao ano”, informa.

José Aparecido Elias Dutra, de 23 anos, cursa o EJA do Ensino Médio em colégio particular. Ele alega que a opção pelo ensino privado ocorreu porque, mesmo nessa moda-lidade, ele é mais satisfatório do que o ensino público regular. “Na escola pública onde estudei, antes de abandonar tudo e buscar trabalho, o ensino era mais fraco do que o que tenho aqui”, afirma.

A busca por emprego, como no caso de Dutra, é um dos principais motivos que levam ao abandono da educação periodiza-da. Mas é também, segundo a diretora do curso supletivo do colégio Unificado, Lídia Mara, o que faz muitos estudantes voltarem aos bancos escolares. “Quase todos os alu-nos que temos nos cursos de supletivo, principalmente no período noturno, já trabalham, mas sen-tem a necessidade de estender a sua edu-cação para melho-rar suas posições no mercado”, diz ela.

Outra razão para a procura pelos cur-sos do EJA, segundo o professor e diretor da Sociedade Educa-cional Curitiba (Seduc), José Carlos Auer, seria o perfil do aluno. Para ele, os estudantes que buscam a modalidade são mais ativos, e por isso acabam não se adaptando à escola regular. “Eles não se conformam com a passi-

vidade das salas de aula regulares”, opina.Porém, há também quem acredite que

muitos optam pelo modelo para fugir da rigi-dez da escola periodizada. É o caso da profes-sora do Ensino Médio da rede pública, Wilma dos Santos. Para ela, muitos dos estudantes

que atualmente cur-sam o antigo supletivo estão à procura de uma graduação rápida e fácil. “No EJA, a pre-ocupação não é com o aprendizado do alu-no, mas sim com a conclusão”, declara.

A estudante da rede pública, Mayara Campolargo, 19, é um exemplo. “Eu só optei pelo supletivo porque reprovei al-

gumas vezes e estava ficando muito velha para estudar com os outros alunos. Agora está bem mais fácil para passar. Não tirei nenhuma nota abaixo da média”, conta. Ela procura concluir o curso de forma rápida. “Preciso terminar logo o Ensino Médio para

me dedicar totalmente ao meu trabalho”, diz.

A inserção no mercado de trabalho é, para a professora Wilma dos Santos, a maior dificuldade para quem escolhe o modelo de ensino do EJA. A maioria desses estudantes, de acordo com ela, não consegue uma boa car-reira profissional. “Os alunos que concluem o ensino regular têm mais chances de conseguir um bom emprego. Eu considero o supletivo um curso empurrado com barriga”, pondera.

A opinião é compartilhada, em parte, pela coordenadora do Núcleo de Pesquisas em Publicações Didáticas da UFPR, Tânia Garcia. “O supletivo jamais substituirá ple-namente o ensino regular”, garante. Mas ela também vê o benefício que a modalidade pode trazer para alunos já em idade avançada que tiveram que abandonar a escola. “O EJA também serve para alavancar uma geração que, por várias razões, teve que tomar outros rumos, e agora tenta compensar o atraso. Em alguns casos, a grande motivação do aluno pode suprir as eventuais deficiências pela falta do curso regular”, finaliza ela.

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O supletivo jamais substituirá

plenamenteo ensino regular”

Tânia Garcia,coordenadora do núcleo de Pesquisas em

Publicações didáticas da uFPr

Existem duas modalidades de capoeira: a angola e a regional. Esta, mais rápida, com toques predominantes de berimbau e mais movimentos de ataque; aquela, praticada por Comasseto, mais lenta, com mais movimen-tos de solo e músicas que enfatizam a história

Page 7: Jornal Comunicação

Co:::unicaçãoabril de 2008 7ciência e tecnologia

GENÉRICOS A partir de julho, laboratório da UFPR inicia testes de medicamentos

Curitiba ganha centro de bioequivalênciaQuase dez anos depois de o Brasil ter

aprovado, em 1999, a Lei 9.787, que esta-beleceu os remédios genéricos, esse tipo de medicamento ainda enfrenta resistência por parte do consumidor. Muitos ainda não firmaram com esse filão do mercado laços de confiança como os que têm com os remédios de marca. Uma recente pesquisa da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró-Genéricos) indica, porém, que no ano passado o merca-do desses produtos cresceu cerca de 20%.

Além disso, a indústria brasileira de genéricos entrou no mercado internacio-nal, exportando para países de produção menor, como o Chile. “Países pequenos não têm condições de instalar indústrias farmacêuticas, pois têm pouca população. Não há mercado para o produto nacional”, explica o professor Roberto Pontarolo, co-ordenador do Centro de Bioequivalência da UFPR. As instalações são as primeiras de Curitiba e o segundo do Estado estrutu-rado para testar candidatos a medicamentos genéricos e aprovar – ou não – sua entrada no mercado.

Inserido no cenário descrito acima o Centro, que fica localizado no campus Jar-dim Botânico e foi inaugurado em fevereiro, deve iniciar suas atividades em julho, após receber autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “O benefício direto que as instalações oferecem é agilizar o processo de aprovação de novos genéricos, já que os poucos laboratórios autorizados a isso estão sobrecarregados”, declara Deise Montruicchio, professora do curso de Far-mácia da UFPR. Atualmente, existem 30 laboratórios desse tipo no Brasil, mas um único no Paraná, localizado em Toledo, é insuficiente para cumprir a demanda.

Estruturado com recursos da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) e da Fundação da Uni-versidade Federal do Paraná (Funpar), o laboratório do campus Botânico conta com equipamentos novos e de alta tecnologia. A maior dificuldade agora, de acordo com o professor Pontarolo, é encontrar pessoal especializado. “Afinal, a verba destinada para nós prevê apenas a compra de equipamen-tos, e não a contratação de funcionários. O Centro de Bioequivalência conta apenas comigo e com alunos voluntários dos cursos de graduação e pós-graduação. Falta mão-de-obra”, diz.

Bioequivalência

Os testes para a aprovação dos genéricos funcionam em duas etapas. Na primeira, dois grupos, constituídos de 12 voluntários cada, são internados no Hospital de Clínicas (HC), onde está localizada a unidade de apoio clínico do Centro de Bioequivalên-cia. Um dos grupos utiliza o medicamento candidato a genérico, enquanto o outro usa o remédio de referência (de marca). En-quanto isso, exames de sangue são realizados periodicamente para se verificar a absorção e a eliminação dos produtos pelo organismo. Em seguida, os voluntários são avaliados no laboratório do Centro de Bioequivalên-cia, no Jardim Botânico, para que os testes

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possam ser comparados posteriormente. Na segunda etapa do processo, as pessoas que antes utilizaram o remédio de referência pas-sam a ser medicados com o genérico, e vice-versa. A bateria de testes e exames se repete. “Se a comparação dos vários exames mostrar que o efeito do medicamento genérico e do medicamento de referência é o mesmo, a comercialização do candidato a genérico será aprovada”, afirma Pontarolo.

A estimativa é que os resultados dos testes de cada medicamento possam ser ob-tidos, em média, seis meses depois do início do processo. “O voluntário é internado por pouco tempo. O que faz o processo ser mais demorado é a procura pelos voluntários, os exames para verificar o estado de saúde deles e posteriormente a análise dos testes”, completa Pontarolo.

O professor também explica que esses exames não representam riscos para os voluntários, já que a fórmula principal do candidato a genérico é a mesma do medi-camento já comercializado. “O princípio ativo do remédio é o mesmo, apenas a forma de preparação é diferente”, diz o coordenador do Centro. Por lei, apenas medicamentos com mais de 20 anos de mercado podem ser ‘copiados’. Esse é o tempo determinado para que os laborató-rios possam ter ressarcido os investimentos na pesquisa da fórmula inovadora e na publicidade da marca. Além disso, antes de realizar-se o teste de bioequivalência em voluntários é feito um teste de equi-valência, in vitro – uma avaliação química que não envolve humanos.

As velhas polêmicas

A proposta dos remédios genéricos, des-de que sua comercialização foi aprovada, em 1999, é oferecer um produto de qualidade comprovada e com preço mais acessível ao consumidor. Isso porque os laboratórios que os fabricam não têm gastos com a divulgação e a consolidação de uma marca – como esses remédios só podem ser comercializados com os nomes de seus princípios ativos, in-dependente do laboratório que os fabrique, todos os genéricos de um determinado me-dicamento são chamados da mesma forma, o que inviabiliza a publicidade.

Antes de os genéricos entrarem no mer-cado, já havia a comercialização de outro tipo de medicamento que ‘copiava’ a fórmula principal do remédio de referência. Os simi-lares, que agora também poderão ser testados no Centro de Bioequivalência da UFPR, são identificados por um nome comercial e não pelo nome do princípio ativo (como no caso dos genéricos). São medicamentos que, em-bora tenham componentes químicos diferen-tes dos remédios de marca, em teoria, fazem o mesmo efeito. Contudo, na época o Governo Federal não exigia testes de equivalência e bioequivalência para esses medicamentos. Isso abalou a confiança do consumidor não só nos similares, mas também nos genéricos, que então entravam no mercado.

De acordo com a professora Deise Mon-truicchio, é provável que parte da desconfian-ça inicial do consumidor tenha sido causada pelo pouco investimento na divulgação dos genéricos feito pelo governo de Fernando

Henrique Cardoso, então presidente. “A falta de propagandas benéficas comprometeu a aceitação dos novos medicamentos”. Esse lapso acabou obrigando alguns laboratórios a investir em publicidade e aumentar o preço de genéricos, que poderiam ser ainda menores.

O farmacêutico Rafael Renato Novisk aponta outro motivo que pode afetar o preço final dos genéricos: a importação, por alguns laboratórios, de certos produtos que compõem a fórmula. “O fármaco chamado Azitromicina custa R$ 50 como medica-mento de referência. Um dos genéricos da fórmula custa R$ 8,90; o outro R$ 41, devido a importação”, exemplifica.

O farmacêutico estima que 40% de seus clientes procuram os genéricos. “Mas muitos médicos recomendam o uso de determinado produto, sem se preocupar com o custo”, declara. Segundo ele, muitas vezes médicos e laboratórios fazem acordos que beneficiam ambos, mas não ao cliente. “Determinados laboratórios dão benefícios ao médico que ‘sugerir’ a compra de seus produtos, muitas vezes de preço menos acessível”. Para ele, nessas situações, cabe ao farmacêutico mos-trar as opções ao comprador.

O diretor do Departamento de Saúde Coletiva da Associação Médica do Paraná, Alceu Fontana Pacheco, explica a legislação da área: “Por lei, os médicos são obrigados a receitar o remédio pelo nome científico, não o comercial, para que fique a critério do paciente a escolha do produto, ou a sugerir diretamente o genérico”, garante.

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Roberto Pantarolo no Centro de Bioequivalência da UFPR. O laboratório inicia suas atividades em julho

Page 8: Jornal Comunicação

O Comunicação é uma publicação do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Paraná, com a participação de alunos das disciplinas de Laboratório de Jornalismo Impresso e Labo-ratório Avançado de Jornalismo Impresso.

Professor orientador: Mário Messagi Jr. (jornalista res-ponsável - DRT 2963/PR).editora Chefe: Renata Ortega.seCretário de redação (imPresso): Sandoval Poletto. subse-Cretária: Manuela Salazar.

seCretária de redação (on-line): Aline Baroni. subseCretá-ria: Iasa Monique. Webmaster: Tiago Capdeville. ComuniCação instituCional: André Marques e Tiago Ce-gatta. Chefe de rePortagem: Rodney Caetano. editores: CiênCia E tECnologia: Suelen Trevizan. ComportamEn-to: Giovana Neiva. CUltUra: Amanda Audi e Carla Cursino. EsportEs: Danilo Hatori. gEral: Poli Brito e Raphael Ramirez. opinião: Vanessa Prateano. polítiCa: Fábio Pupo e Thaíse Mendonça. UFpr: Amanda Menezes e Chico Marés. Foto-

graFia: Fernanda Trisotto. CaPa: aUgUsto kraFt. Charge: Yuri Alhanati. Planejamento gráfiCo e diagramação: Renata Bossle.

endereço: Rua Bom Jesus, 650 – Juvevê – Curitiba-PR telefone: (41) 3313-2032. e-mail: [email protected]. site: www.jornalcomunicacao.ufpr.br tiragem: 4 mil exemplares. imPressão: Gráfica O Estado do Paraná.

expediente

Co:::unicaçãoabril de 20088 esportes

OGROBOL Mini-futebol com bolinha de tênis é tradicional entre estudantes da Reitoria

Mais de duas décadas de históriaQuem freqüenta o campus da Reitoria

durante as manhãs e tardes provavelmente já viu um grupo de alunos jogando uma espécie de ‘mini-futebol’ com uma bolinha de tênis. Uns gostam da atividade, outros acham per-da de tempo. Mas, mais do que uma simples brincadeira, o ogrobol está presente em boa parte da história recente do campus.

Sabe-se que as origens remontam a me-ados da década de 1980, mas não há clareza quanto ao ano exato em que o esporte surgiu. Na época, os estudantes costumavam jogar futebol no pátio central da Reitoria, mas eram freqüentes as janelas quebradas em jogadas de-sastradas. “Daí, entre a proibição do esporte e a luta estudantil para mantê-lo, chegou-se a um acordo”, declara William Weber, estudante de Ciências Sociais. “A bola não poderia ser maior do que uma bolinha de tênis”, completa.

Inicialmente, o ogrobol era praticado com bolas de diversos materiais, desde as tradicionais bolas de meia até bolas de sinuca, e mochilas serviam de balisas para delimitar os gols. Adotou-se a bolinha de tênis quando a prática do jogo, abandonada na segunda metade dos anos 90, foi retomada em 2002. Recentemente, os universitários também fizeram pequenas traves para a marcação dos tentos. Com a evolução dos materiais vieram também regras mais modernas [ver box] e, com a maior organização, a regularidade dos campeonatos – que é quando o jogo esquenta e o fair play da brincadeira é deixado de lado.

A primeira competição foi disputada no início dos anos 1990. Desde então, vários ‘mundiais’ e torneios foram realizados. Atualmente, o maior campeonato é a Taça Herman, criada em 2006 e batizada em homenagem ao estudante de História e praticante do esporte que faleceu em 2005. “Dono de um chute de trivela poderoso e inigualável, Herman foi, apesar de seu ta-manho e força física, o jogador mais leal de ogrobol a pisar no pátio da Reitoria”, garante Mauro Leno, estudante do curso de Ciências Sociais, ao lembrar de Carlos Eduardo Schli-chting Mori, o Herman. Ele, que segundo os jogadores en-sinou os fundamentos do esporte à maioria dos praticantes atuais, é reverenciado como o ‘Pelé do ogrobol’. Era comum vê-lo todas as tardes treinando joga-das no pátio. É atribuída a Herman a volta do esporte, em 2002, depois de mais de meia década em que a prática foi abandonada. Seu falecimento, em dezembro de 2005, abalou o ogrobol, que se manteve vivo como uma forma de homenagem.

A Taça Herman é disputada duas vezes por ano: as edições do primeiro semestre são chamadas de ‘torneio apertura’ e as do segun-do recebem o título de ‘torneio clausura’. Ao

todo, já foram quatro edições, todas vencidas por equipes do curso de Ciências Sociais. A última, no início de 2008, apresentou uma novidade: a Taça Hermana, versão femini-na do campeonato. As mulheres, aliás, são presença cada vez mais marcante dentro do ogrobol, principalmente as alunas dos cursos de Ciências Sociais, Filosofia e Letras.

Os praticantes e as aulas

A maioria dos praticantes do ogrobol são alunos de História e Ciências Sociais. Há, inclusive, uma grande rivalidade entre os dois cursos, com brincadeiras e provocações mútuas. Estudantes de Sociais costumam se referir à História como “a Inglaterra do ogro-bol”, porque, apesar de serem considerados os inventores do esporte, ainda nos anos 1980, mantém atualmente um desempenho pífio dentro dos campeonatos.

A presença massiva dos dois cursos tem algumas explicações. “Além da questão cultural [ambos são considerados os pioneiros do ogrobol], temos grades curriculares com aulas de manhã e de tarde, então os alunos podem jogar sempre”, afirma Washington Lemos, estudante de Ciências Sociais. Ele

Nos treinos, até mesmo uma lata de refrigerante pode fazer as vezes de bola

completa: “Os alunos de Filosofia e Turismo não conseguem jogar, pois têm aulas durante à noite, enquanto o pessoal de Design tem outras preferências”. Mesmo assim, cursos como Design, Filosofia, Turismo e Letras estão representados no jogo, mas por um nú-mero menor de estudantes. “Eles inclusive já inscreveram times em torneios e volta e meia jogam para brincar, mas sem muito sucesso”, conta Mauro Leno. Ocasionalmente, até guardadores de carros da região e ex-alunos comparecem ao pátio da Reitoria para pra-ticar um pouco.

Entre os ex-jogadores, há algumas figuras bastante conhecidas aos atuais estudantes. “Cheguei a jogar com os alunos, mas não era muito assíduo”, declara Sérgio Bajerski, secre-tário da coordenação do curso de História, que conheceu a geração que inventou o ogrobol.

Quem pratica o ‘ogro’, como o esporte é carinhosamente chamado pelos alunos, fala com empolgação sobre os benefícios do jogo. “A prática com uma bolinha de tênis é interessante, porque desenvolve a habilidade e a rapidez do jogador”, afirma Mauro Leno. Existe, porém, um questionamento sobre a influência negativa do ogrobol no desempe-nho acadêmico. Mas os próprios estudantes garantem que o esporte não atrapalha. “Se os caras matam aula para jogar? Lógico. Mas acontece muito jogo depois da aula também. E não creio que o ‘ogro’ interfira no rendimento de alguém”, afirma William Weber. “Se o cara não vai bem no curso, não é pelo jogo, mas sim porque não estuda ou não está a fim de nada”, completa.

E quem não pratica?

Entre os demais estudantes e pessoas que convivem com os jogadores na Reitoria, as opiniões se dividem. Para o porteiro do edifí-cio Dom Pedro II, Carlos Alberto de Oliveira, não há nenhum mal na brincadeira: “O pessoal joga, se diverte, não fica incomodando nin-guém”, declara. Mas há os que se incomodem, como a estudante de Medicina, Carolina Perei-ra. “Odeio ter que desviar do pessoal jogando. Fora o medo que sinto de tomar uma bolada enquanto passo pelos jogadores”.

Outros estudantes e alguns funcionários também se queixam da ‘bagunça’. Mas, seja vis-to como bagunça ou uma atividade saudável, o ‘ogro’ é uma manifestação cultural e esportiva característica da Reitoria e de seus estudantes. Ele é passado pelos veteranos aos calouros e demais interessados há mais de 20 anos.

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Não há um consenso sobre as regras do jogo, mas existem algumas diretrizes básicas para a prática:w Os times são formados por três jogadores;w Não há faltas;w Se o defensor toca na sua trave ou toca a bola com as mãos, é marcado um pênalti. Na cobrança, um jogador do time defensor coloca uma perna na frente do gol, para tentar evitar o tento adversário;w Gol de cabeça vale dois;w A bola só sai de jogo quando toca o chão fora dos limites do campo. Enquanto estiver no ar, o jogo está valendo, mesmo se ela bater em alguma parede ou pessoa fora da quadra para retornar ao campo.

Regras do ogrobol