Jornal EmFoco - ISCA Faculdades - ANO 12 - Edição 63 - Junho 2012

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ANO 12 • Edição 64JUNHO/2012 Jornal EmFoco é uma publicação dos alunos do curso de Jornalismo do ISCA Faculdades de Limeira, nas disciplinas Jornal Laboratorial e Produção Gráfica. Coord. Comunicação Social: Profº Renato FabregatEdição e Orientação de textos: Profª Drª. Ingrid Gomes MTB 41.336Editores Assistentes: Matheus Granchi Fonseca, Rafaela Silva.Planejamento Gráfico:Agência Experimental do Curso de Comunicação Social, ISCA Faculdades.Reportagem:Alunos do 5º Semestre de Jornalismo - Ana Paula Coletta, Érika Sharlach, Luana Rafaela Ribeiro, Matheus Granchi Fonseca, Rafaela Silva.Telefone: (19) 3404.4700Endereço: Via Deputado Laércio Corte,3000 - Chácara Boa Vista da Graminha –CEP: 13482-383 – Limeira - SPwww.iscafaculdades.com.br

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Carro, já parou para pensar em como seria o mundo sem esse tipo de transporte, e como pode ter se tornado algo tão cru-cial na vida em sociedade? O jornal Em Foco aborda esse tema e busca no passado a história dos veículos, como se tornaram o que são hoje e também fala dos amantes do que hoje pode parecer antigo mas que de fato representa a alma dos carros modernos.

Adquire-se o carro, dívidas começam a chegar e junto com elas o anseio de “tunar” (ajustar, vem de tunning, personalizar o carro) ou simplesmente equiparar o veículo de forma mais con-fortável e moderna, o que pode se tornar quase um vício. Muitas pessoas esquecem o verdadeiro sentido do automóvel e acabam se endividando e perdendo a noção de que o veículo é apenas um meio de locomoção.

Mas o que acontece? Será que no futuro vamos ser toma-dos por aquilo que inventamos? O mundo está preparado para comportar o número de carros que é diariamente crescente? En-tão, o que fazer, há meios de se mudar o que parece imutável?

Os transportes coletivos são um meio de diminuir a grande circulação de carros nas ruas, porém além de dever ser um meio de transporte de qualidade, o preço também tem que

ser acessível a todos, e nesse sentido � ca a questão: será que é isso que acontece?

Entre esses e outros questionamentos o Em Foco preparou uma série de matérias especiais e espera que você leitor moto-rista ou fu-turo motorista pare e repense sobre a importância e a responsabili-dade de se ter um carro.

Rótulos, orientação sexual, opção alimentar são outros temas que o jornal aborda nessa edição, então vire a página e prepare-se para adquirir conhecimento por meio de uma leitura jornalística leve e descontraída. Depois da Lei de acesso à informação o assunto “denúncia” se tornou mais popular, a sociedade civil organizada já é maioria na luta contra a impunidade administrativa em vários setores sociais. Aprofunde no tema por meio da leitura da reporta-gem: Com a boca no trambone.

Conheçam também o per� l do Professor Dr. Adolpho Françoso Queiroz, que além de assessor político em Brasília, desempenhou cargos no INTERCOM e fundou o POLITICOM, e atualmente leciona em Universidade e é apaixonado pelo pro� ssionalismo no jornalismo político.

Abraço, equipe Em Foco!

ANO 12 • Edição 63JUNHO/2012

Jornal EmFoco é uma publicação dos alunos do curso de Jornalismo do ISCA Faculdades de Limeira, nas disciplinas Jornal Laboratorial e Produção Grá� ca.

Coord. Comunicação Social: Profº Renato Fabregat

Edição e Orientação de textos: Profª Drª. Ingrid Gomes MTB 41.336

Editores Assistentes: Matheus Granchi Fonseca, Rafaela Silva.

Planejamento Gráfi co:Agência Experimental do Curso de

Comunicação Social, ISCA Faculdades.

Reportagem:Alunos do 5º Semestre de Jornalismo -

Ana Paula Coletta, Érika Sharlach, Luana Rafaela Ribeiro, Matheus Granchi Fonseca,

Rafaela Silva.

Telefone: (19) 3404.4700Endereço: Via Deputado Laércio Corte,

3000 - Chácara Boa Vista da Graminha –CEP: 13482-383 – Limeira - SP

www.iscafaculdades.com.br

Rafaela Silva

Vou de carro

foto: Laura Thomaz

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A mãe chama para jantar e você dispara: “Carne? Não como mais carne, a partir de hoje sou vegetariano”, essa é uma das frases pre-sentes na hora do jantar em diversas famílias. Optar por ser vegetariano precisa de a� rmação da pessoa, pois não é nada fácil passar por uma deliciosa picanha.

Alguns adolescentes passam a ser vegetarianos em razão de diversos fatores, uns para emagrecer, outros porque está na moda, e outros ainda pensam na vida dos animais. E a� nal optar pelo vegetarianismo é sinônimo de cuidado com a saúde? De acordo com a nutricio-nista Magali Rogge Mugnaini “nem tudo que é bom para uns é bom para outros”. A especialista

explica que ser saudável depende do organismo da pessoa. Às vezes o adolescente substitui tanto os alimentos que acabam engordando devido a tanto carboidrato ingerido, outros se tornam mais magros, mas cada organismo reage de uma maneira, “com consciência as pessoas devem ter oportunidade de experimentar outras opções” pontua Magali. A nutricionista recomenda que é importante procurar orientação de um pro� ssio-nal, e destaca para não con� ar muito em “site”, e que em qualquer situação deve-se ter responsa-bilidade com a saúde.

Para quem quer seguir esse caminho a dica dela é que vá aos poucos tirando primeiro a carne vermelha, dando um tempo para o corpo

Moda ou

hábito para

melhorar a estética?

Rótulos se aproximam mais de apelidos como “nerds”, “gordinho”, “baladeiro”, “tripa seca” e alguns outros nomes, já as tribos são agrupa-mentos de pessoas com as mesmas ideias e princípios, muitas tribos se encontram quando se identi� cam com um grupo.

Segundo a psicóloga Hellen Cristina Santos, especialista em saú-de mental pela Escola Paulista de Medicina/Universidade de São Pau-lo - EPM/UNIFESP, a adolescência pode ser uma etapa complicada por representar um período de novas descobertas a respeito de si próprio e da vida, a medida que os adolescentes vão descobrindo novos interesses, que são diferentes de quando eram crianças e hoje não servem mais, eles procuram se agrupar àqueles que têm gostos parecidos com os seus. “Essa segregação dos jovens em diferentes tribos acaba in� uenciando a ma-neira como eles se vestem, se comportam, o ambiente que frequentam, as músicas que escutam”, explica a psicóloga. “No caso dos adolescentes, eles se agrupam em tribos pela necessidade de serem aceitos e comparti-lhar com os outros os mesmos interesses. Eles precisam de autoa� rmação social, e enfrentar o mundo em grupo � ca mais fácil do que fazer isso so-zinho” complementa a especialista.

O universitário Luis Felipe Pileggi, 19 anos, cursa administração

no ISCA Faculdades e comenta que já sofreu com a “rotulação”, e a� rma que “Já fui ‘Emo’ a alguns anos atrás e não era bem um esti-lo mais sim um gênero musical”. Falou também que se in� uenciou pelos amigos e pela música. “Bom o estilo eu abandonei por causa, das contradições que as pessoas diziam e pelo modismo (modinha) que estava estragando o estilo com ideias contraditórias. Mas o gosto musical tenho até hoje, apesar de muitas bandas não tocarem mais”, explica Pileggi.

“Rotular uma pessoa é o mesmo que excluí-la por não possuir as características esperadas por determinado grupo social”. Para a psicologia rotular pessoas é o mesmo que julgar, apontando no outro alguma característica que o discriminará de forma vexatória do restante do grupo. “Os rótulos podem ser perigosos porque preju-dicam a auto-estima da pessoa”, completa Hellen. Umas das caracte-rísticas que de� nem uma tribo urbana é basicamente a música, que acaba in� uenciando no modo de vestir, falar, e agir desses grupos. “Eles se inspiram muitas vezes em bandas e cantores, a música faz parte desse ritual de identi� cação adolescente, seja ele ocasionado pelo estilo musical, cantor ou pela letra da música”, conclui Hellen.

diferença que

agrupa!

Luana Rafaela Ribeiro

se acostumar, e não esquecer de fazer exames de sangue para avaliar concentração de ferro, vitamina B12 e proteínas no sangue.

A estudante Amanda Aguiar passou a ser vegetariana com 13 anos, hoje com 17 anos não pensa em parar, ela se acostumou com os alimentos e o que ajudou foi sua determinação. Passou a ser vegetariana quando assistiu a um vídeo em que mostrava o que era feito com os animais minutos antes de morrer, após esse fato ela passou a ser vegetariana convicta. Como es-tava em fase de crescimento decidiu procurar um médico para que não houvesse problemas no desenvolvimento do seu corpo. Como Aman-da não come nenhum tipo de carne, optou

por ser ovo–lacto–vegetariano (não consome nenhum tipo de carne, mas inclui ovos e leite e derivados, como queijo, iogurte etc.) em sua alimentação. Esta é a forma mais “popular” de vegetarianismo, e a médica informou que en-quanto ela comia queijos, ovos e derivados, isso não afetaria em nada sua desenvoltura. Logo quando começou, os amigos faziam piadinhas, mais ela sempre levou na esportiva e retruca-va com alguma outra questão. Amanda tem uma vida normal, como qualquer outra pessoa. Quanto a ser vegetariana ela � naliza que a op-ção alimentar não a atrapalha em nada, muito menos em ir com os amigos ao Mc Donalds, a� -nal ela adora Milk Shake.

Ana Paula Coletta

Rótulos e tribos

urbanas:

Comportamentofoto: Rita Braga

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Sábado, nove e meia da manhã, o sol está ainda escondido no céu de Piracicaba, deve ter perdido a hora ou resolveu � car mais um pouquinho na cama. E lá vamos nós, eu e minha professora, para uma entrevista um tanto “acadêmica”, se podemos assim di-zer. Chegando ao prédio, duas senhoras nos acolhem na recepção, e depois dos “bons dias”, pegamos o elevador para nos dirigirmos ao apartamento do nosso entrevistado, e quem diria, encontramos mais uma senhorinha, muito simpática por sinal, com quem bate-mos um bato rápido. Chegando ao segundo andar, percebemos que nosso destino está bem a nossa frente, a porta do apartamento � ca de frente com a saída do elevador, e um senhor nos aguarda. Uma casa pequena, típica de apartamento, porém muito aconchegante, a decoração chama atenção, os móveis rústicos, a louça, os quadros, as tolhas que dão um toque muito charmoso para o lar, as cores ver-de e marrom que se misturam em toda a sala, tudo é muito bonito.

Adolpho Carlos Françoso de Queiroz nos recebe na casa de sua mãe, em Piracicaba, a entrevista acontece na sala mesmo, junto com os vários retratos de Adolpho que a mãe dele mantém no espa-ço. Com o roteiro e gravadores em mãos inicio a entrevista.Carreira profi ssional

Atualmente Adolpho Queiroz é professor de publicidade e propaganda na Universidade Presbiteriana Mackenzie. No início a praia maior dele era jornalismo político. Ele começou a trabalhar com jornalismo ainda na adolescência. Com 15 anos já trabalhava em um jornal de Piracicaba, trabalhou pelo Diário, pelo Jornal de Piracicaba, e também teve uma passagem pelo rádio, trabalhando na rádio Fusora e na rádio Educadora, ambas de Piracicaba. E foi assim que resolveu fazer o curso pro� ssionalizante de comunicação na Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), que na época oferecia o curso de graduação em Comunicação Social, que por ser abrangente, dava a oportunidade para o formando trabalhar nas áreas de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas. “Não me lembro a denominação exata do curso na época”, a� rma Queiroz, tentando buscar algo na memória. Em 1977 a Universida-de suspendeu essa habilitação polivalente, e mesmo trabalhando

O jornalista que se formou em Publicidade, trabalhou como assessor político e transformou-se em professor querido e pesquisador renomado

Entrevista

Conhecendo Adolpho Queiroz...

Rafaela Silva

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desde jovem em jornalismo decidiu seguir carreira em Publicidade e Propaganda, sua paixão. Já formado em Publicidade e com gosto pela política, acabou se aproximando do meio político de Piracicaba, se tornado assessor do prefeito e, depois deputado, João Hermann.

Já em Brasília, teve a oportunidade de conhecer o processo político da época e de acompanhar de perto tudo o que acontecia no Planalto Central, “Fui privilegiado porque acompanhei o período das ‘Diretas já’, que foi muito marcante para a história do País. Con-vivia diariamente com o grupo que simulou o movimento” relem-bra. Queiroz ainda descreve que Hermann era aliado a um grupo de jovens políticos, que assim como o deputado, estavam em seu primeiro mandato, Dante de Oliveira, que sobrescreveu a proposta das Diretas, Domingos Leonelli, Arthur Virgílio Neto, Marcos San-tini, um grupo que fez história em Brasília, e que no qual Queiroz acompanhava tudo de perto. “Eu � cava sempre na retaguarda não só do Santini, do João, mas de todos porque eles levaram pra Bra-sília pessoas que eram de lá, e o Hermann levou uma pessoa de con� ança, aqui de Piracicaba, então eu participava das reuniões do grupo e de todas as articulações”, a� rma.

Um fato histórico e curioso que Adolpho Queiroz relata, é o dia em que transmitiu via telefone tudo o que acontecia no plená-rio durante a votação das “Diretas já”, “vejam onde nós estávamos em 1984”, argumenta. Na época todos os gabinetes de deputado continham um alto falante que transmitia o som do plenário, assim Adolpho, em parceria com Elias Boa Ventura, professor da Unimep, e a assessora de imprensa da universidade, Beatriz Vicentini, mon-taram um esquema para que tudo o que acontecesse fosse trans-mitido do plenário até a sala do deputado pelo alto falante fosse também passado via linha telefônica para a universidade de Pira-cicaba. “Gastamos uma fortuna de telefone aquele dia”, lembra. Os professores � caram na sala da reitoria e nos pátios ouvindo a repro-dução de tudo o que acontecia em Brasília.

Queria ter feito algo relacionado ao meio político, mas como não tinha um professor que orientasse sobre o assunto, e também como a linha de pesquisa da faculdade não abordava temas de seu

interesse, Adolpho resolveu fazer seu mestrado sobre jornalismo de televisão, trabalho que acabou se tornando seu primeiro livro TV de papel. A imprensa como instrumento de legitimação da televisão, lançado em 1992. No livro o professor aborda como os jornais brasilei-ros cobriam a televisão naquele período, qual o tipo de noticiário, de programação, e para produzir o trabalho recolheu mais de 2 mil ma-térias de diversos jornais brasileiros que trabalhavam essa questão.

Sua vida acadêmica começou incisivamente quando � nali-zou o mestrado e retornou para Piracicaba, já não estava mais li-gado tanto ao meio político como antes, foi quando recebeu um convite do Prof. Rui Ramos, que era coordenador do curso de comu-nicação da Unimep, e estava precisando de um mestre para o curso de mídia, as aulas eram aos sábados a tarde, mas não foi empecilho para Adolpho que acabou gostando, e se envolvendo com a área. Em dois anos como docente, se tornou chefe de departamento, co-ordenador de curso, e em quatro anos já era diretor do Centro de Ciências Humanas da Universidade, “Fiz uma carreira muito rápida na Unimep”, se orgulha Adolpho.

Adolpho Queiroz � cou por três anos na presidência da Socie-dade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (In-tercom), que esse ano completa 35 anos. E no ano inaugural de seu mandato realizou o primeiro congresso regional de comunicação, o Expocom. Nesse congresso foram reproduzidos pela primeira vez os textos dos pesquisadores da época, “Nós � zemos as capas de cartoli-na com uma ‘abinha’ cortada, onde eram lidos os nomes dos papers, xerocamos e vendemos os papers dos GTs (grupos de pesquisa) de Jornalismo e Publicidade e Propaganda”, a� rma o professor, em con-traposição ao que acontece atualmente, já que tudo relacionado ao congresso regional e nacional está disponível no site e impressos com designer moderno. E mesmo depois de sair da presidência, Adolpho nunca mais deixou de participar da Intercom, são quase vinte anos de trabalho para o congresso que atualmente tem três prédios pró-prios, o novo centro cultural foi inaugurado dia 22 de junho desse ano, além do nível de organização dos eventos que é impecável. “A Intercom se relaciona com pesquisadores e pro� ssionais de países do

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mundo todo, como os colóquios binacionais, e com isso apresenta aos pesquisadores brasileiros a possibilidade de interagir”, argumen-ta Adolpho em relação ao relacionamento com os pro� ssionais de outros países, e ainda acredita que o Brasil avançou muito em rela-ção ao tema, e a Intercom tem papel fundamental no crescimento da produção cientí� ca, da consciência sobre a aérea, e especialmente na quali� cação dos professores brasileiros e dos estudantes para os desa� os pro� ssionais e acadêmicos do campo.

O professor Adolpho Queiroz também se tornou um pesqui-sador cientí� co muito prestigiado, não só na área de comunicação como também em temas correlatos à mídia. Tendo em vista sua carreira como docente, colaborou com a formação de vários pro� s-sionais, que é mais uma motivação na realização dos seus estudos. “Quando vemos uma dissertação de mestrado concluída, uma tese de doutorado concluída, um material publicado, e tudo isso repercu-te, é sinal que estamos produzindo coisas legais e interessantes que estão tendo eco na comunidade acadêmica”, con� rma Adolpho se referindo ao grupo de alunos que construiu na pós-graduação stricto sensu na Universidade Metodista de São Paulo, que se localiza em São Bernardo do Campo, e que se tornou referência em estudos dire-cionados para a área de marketing político e propaganda ideológica, grupo que fundou uma sociedade cientí� ca, a Politicom.Receita: estudo, muito estudo!

Em relação à qualidade dos novos pro� ssionais da comunica-ção que estão se formando, Adolpho, acredita que o nível tanto dos jornalistas, como dos publicitários melhorou. A possibilidade de um investimento maior na área, os trabalhos de iniciação cientí� ca, a chance de ganhar uma bolsa no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientí� ca (PIBIC), ajuda na formação desses pro� ssio-nais. Atualmente, não só em São Paulo, mas em todo o Brasil, exis-tem programas de doutorado e mestrado, de ótima qualidade, que abrem espaço para a continuidade da carreira dos estudantes que saem da graduação. Pois, uma pessoa que termina a graduação, faz uma especialização, um mestrado, um doutorado, e em seguida um pós-doutorado, evidentemente se torna um pro� ssional muito mais quali� cado para o mercado de trabalho.Politicom, um projeto promissor

A Sociedade Brasileira dos Pro� ssionais e Pesquisadores de Comunicação e Marketing, POLITICOM, é um trabalho que rendeu e rende até hoje bons frutos para a carreira do professor Adolpho Queiroz, e não só para ele, mas para todos os pro� ssionais envol-vidos nas pesquisas direcionadas ao processo de comunicação do marketing político. Em 2002 era apenas um seminário promovido pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), porém com o passar do tempo se tornou um congresso respeitado e reconhecido mundialmente pelos pro� ssionais e pesquisadores da área. “Os dois primeiros foram seminários internos que � zemos na Metodista, e com isso fui reunindo antigos alunos que já haviam trabalhado comigo, assim pelo menos uma vez por ano, nos encontrávamos e realizávamos o congresso”, lembra o professor Adolpho Queiroz, responsável pela organização do evento na época. Adolpho ainda conta que somente após o terceiro seminário, realizado em agosto de 2004 no Isca Faculdades, em Limeira, é que o simpósio começou a ganhar um novo formato, “iniciamos discussões com os Grupos de Trabalhos (GTs), e em 2008 em Itu, fundamos a POLITICOM, que foi

constituída como uma sociedade cientí� ca. Já são dez anos de con-gresso, com participação de pessoas do país todo, além da presença e contribuição dos pesquisadores estrangeiros que vem prestigiar o evento”. O congresso que � cou na presidência de um ex-orientando de Adolpho, o professor Roberto Gondo Macedo, antigamente era realizado só em São Paulo, e agora começa a visitar outros estados do Brasil, o próximo POLITICOM será em Curitiba, na Universida-de Federal do Paraná. Adolpho se mostra muito satisfeito com as diretrizes que o congresso caminha. “Com isso, a gente começa a espraiar as ideias da POLITICOM para o Brasil todo, espero assim, que daqui a alguns anos, o congresso tenha densidade, e maior destaque”, a� rma. Uma das coisas que deixa Adolpho muito feliz, e � ca evidente em nossa conversa, é que com todo o projeto do congresso os seus ex-orientandos continuam, de certa forma, cola-borando com a publicação da revista semestral, de livros, e-books, “Todo ano o número de trabalhos cresce, então a POLITICOM se tor-nou um subproduto desse grande projeto que eu � z de marketing político, e espero que ele continue dando frutos e entusiasmando outras pessoas para trabalharem nessa área”.Marketing Político

Para Adolpho o marketing político é uma área que ainda não tem o reconhecimento público devido, há pessoal capacitado para desenvolver projetos interessantes para o estudo, mas o cliente – candidato e/ou partido político – ainda não reconhece a importân-

cia desse tipo de trabalho para a evolução da campanha eleitoral. O marqueteiro acredita que atualmente não há possibilidade de fazer uma campanha eleitoral sem televisão, sem rádio, sem jornal, sem internet, ou tantas outras formas de comunicação, em contraponto os partidos estão inseridos ainda numa cultura que não valoriza o trabalho do marketing político, “Isso é uma tarefa que pode mudar ao longo do tempo, a chegada da internet obriga os partidos a faze-rem uma comunicação mais ágil, rápida, e barata”, acredita.

Em analogia Adolpho explica como funciona o marketing político comparando-o com um guarda chuva, “Em baixo desse guarda chuva existem várias vertentes, o marketing eleitoral, a pro-paganda política, e a propaganda ideológica”, nessa linha de pen-samento o marketing político é um projeto de médio a longo prazo. “O Lula pra ganhar duas eleições, perdeu três, então não é porque se perde uma eleição que se está deixando de construir essa ima-gem mais duradoura”, exempli� ca. Em contraposição, o marketing eleitoral é uma atividade intensa desenvolvida nos meses de julho, agosto, setembro, até a votação de outubro e eventualmente no segundo turno da eleição, são, aproximadamente, cinco meses de trabalho intensi� cado de pesquisas, fotogra� a, jingle – mensagem musicada – para a campanha, e muitos outros meios para alavan-car a campanha. O professor também a� rma que mesmo com as diferenças de curto e longo prazo, todas as campanhas eleitorais para serem bem sucedidas devem ter um bom planejamento, “Hoje em dia não dá mais para trabalhar com improviso, e com amado-rismo”, adverte. O candidato que não estiver bem amparado com as ferramentas que o marketing político dispõe – pesquisas de opinião, jingle eleitoral adequado, bons textos, boa produção de áudio e vídeo, agilidade na internet – vai ter mais di� culdade para ganhar uma eleição, principalmente em cidades de porte médio e grande, em que a utilização das mídias é essencial.

O trabalho para a promoção do candidato por meio das mí-dias é muito importante, todas as pessoas, de classes baixas e altas tem que ser atingidas de alguma forma. Então o operário que vai trabalhar de ônibus ou de metrô escutando seu rádio de pilha pro-vavelmente vai ouvir os programas eleitorais, o público que gosta mais de ler jornais e revista, com poder aquisitivo maior, vai se in-formar com outras características, a grande massa de eleitores que acompanha as notícias pela televisão vai ver a trajetória do candi-dato, as entrevistas e propagandas em horários distintos ao longo do dia, e as novas gerações que acompanham tudo pela internet, que vão ter o interesse ou não de conhecer os candidatos eleitorais da campanha. “A somatória dessas forças é que oferece a possibili-dade de conversar com os eleitores”, acredita Adolpho. O marque-teiro também a� rma que no contexto de uma eleição existem vá-rios públicos e várias eleições, o bairro pobre, por exemplo, não tem asfalto, não tem iluminação a noite, o esgoto corre no meio da rua, há falta de creche, de serviço médico, precisa de quase tudo, já o bairro rico, que tem água, esgoto, agência bancária, supermercado, padaria, açougue, o que eles precisam do poder público? Assim, os discursos realizados pelos políticos têm que ter linguagem especí-� ca para cada veículo, ou seja, para determinado tipo de eleitor e cabe ao pro� ssional que está encarregado de planejar e adminis-trar a campanha saber de que maneira cada veículo vai ser utilizado para conquistar a con� ança do eleitor em prol de seu cliente.

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Automóvel, um meio de transporte do qual a sociedade não consegue viver sem. Pra qualquer lugar que se vá, a maioria se “dirige” de carro. Mas como seria a vida sem o auto-móvel, só indo e vindo de bicicleta ou até mesmo a pé? Essa é uma pergunta intrigante, pois ninguém consegue se imaginar sem o carro de hoje, moderno, com vários dispositivos de conforto e segurança, e principalmente rápido, a cada dia os carros estão se tornando mais velozes e so� sticados. As inovações automobilísticas só agradam e auxiliam a vida dos mo-toristas que diariamente utilizam o carro para trabalhar, viajar, passear, ou até mesmo para dar aquele pulinho ali ou aqui, o que muitos não sabem é como o carro surgiu e quem foram os idealizadores desse projeto que revolucionou o mundo.

Várias personalidades são citadas na história da evolução do carro, entre elas estão Jean Joseph Étiènne Lenoir (1822-1900) que construiu o primeiro motor de combustão in-terno, Nikolaus August Otto (1832–1891) criador do primeiro motor a funcionar com ciclo de 4 tempos, conhecido como Ciclo de Otto (motor a gasolina), Gottlieb Daimler (1834-1900) que marcou história em 1886 com o desenvolvimento do primeiro veículo de quatro rodas, Karl Benz (1844-1929) fundador da Benz & Cia., uma das principais empresas automobi-lísticas do mercado, criou e lançou o Benz Patent-Motorwagen, considerado por muitos o primeiro carro movido a motor, e Henry Ford (1863-1947), � gura importante no meio au-tomobilístico, fundador da Ford Motor Company, e idealizador da produção em série de ve-ículos a baixo custo.

Criado com objetivo de transportar pessoas ao destino escolhido, o automóvel se tor-nou fator fundamental na vida de qualquer um. Atualmente há diferentes tipos de carros que se adaptam a diferentes tipos de per� s sociais, mas com tantas opções de veículos mo-dernos e “adaptáveis”, há quem goste de “relíquias automobilísticas”, pessoas que adqui-rem carros antigos, ou para modi� car e dar um novo estilo para o carro, ou para mantê-lo original. E muitos desses admiradores do automobilismo antigo se encontram em clubes e eventos relacionados para se divertirem e também para exporem seus carros ao público.

Revolucionária e socialmente mutável

Tiago Songa Simões Ferreira, 34 anos, que além de ser jornalista, editor chefe do Jornal Tribuna de Ribeirão Preto, do Jornal “O Pistão”, do Caderno “Carro +”, os dois últimos especializados em automóvel, coordenador do site carlendario.com, que contém o Calendário Nacional de eventos de carros antigos, também é organizador de vários eventos relacionados ao tema. O rapaz que tem a vida entrelaçada com o meio automotivo revela que sua relação com o antigomodelismo começou em 1997 quando comprou seu primeiro carro antigo, uma Ford F-100. “Em 2002 fui eleito presidente do Clube do Automóvel antigo de Franca e, em 2004, fui convidado para assumir a diretoria da FBVA, Federação Brasileira de Veículos Antigos, cargo que ocupo até hoje”.

Ferreira ressalta como a invenção do carro é importante e revolucionária para a socieda-de, exempli� cando que sem o automóvel não haveria estrada, e sem a estrada, por exemplo, não existiriam tantos estudantes viajando para se graduarem em outras cidades, e com a falta de estudantes, provavelmente não se encontra-ria tantas instituições espalhadas por todos os cantos do país, pois como construir faculdades no interior sem ao certo saber da capacidade re-gional acadêmica que esse lugar possui, e como os pesquisadores iriam viajar para esse lugar? “É claro que poderia � car horas dando exem-plos do impacto social do automóvel, o objeto andante que permitiu ao homem conhecer o que existe do outro lado da montanha”, conclui o jornalista.

Em combinação com as novas tecnologias que vão sendo descobertas, a indústria automo-bilística está relacionada culturalmente como estado social em que a sociedade se encontra. Ferreira relembra que no período pós-guerra

os Estados Unidos vendiam o “American Way of life” com imagens de soluções tecnológicas de vários produtos de consumo, inclusive de automóveis. Assim com o país vitorioso com a Guerra, a sociedade alegre e trabalhando, e o consumo em alta, nasceram carros com vidros elétricos, ar condicionado, direção hidráulica, motores super potentes que chegavam a medir mais de 5 metros, como o Cadillac de 1955. Em contraponto com a Europa, principalmente na Itália e na Alemanha, países que na que época estavam arrasados pela Guerra, a população não tinha dinheiro para comprar grandes carros e nem para pagar gasolina. Com isso, nasceu um fenômeno alemão, o Fusca, que é até hoje, ba-rato, econômico e simples de consertar. Na Itá-lia, seguindo a mesma linha, surgem as motos Scooter e os micro-carros como a BMW-Isetta de 1955.O antigo que conquista

“Entendo que um carro foi feito para levar e trazer pessoas, então procuro manter os veí-culos em plena situação de uso”, explica Portuga Tavares, 33 anos, jornalista do setor automotivo, um apaixonado pelo chamado antigo automo-bilismo, que possui vários carros antigos como um Galaxie Landau (1981), comprado quando tinha 17 anos, um Corcel GT (1975), um Corcel II (1982), modelo standard raríssimo atualmente, e um Galaxie 500 (1972). Tavares não se consi-dera um colecionador, mas sim, um usuário de carros antigos, em um período de cinco anos teve em média 20 carros antigos, acredita que para a maioria das pessoas ter um veículo antigo não é comum, pois o sonho comum da popula-ção é conquistar o carro 0Km, ou trocar o veículo por outro mais novo, e fugindo da regra procura se deslocar para os lugares com o veículo que gosta e que sempre gostou, um automóvel com personalidade, que re� ete uma determinada época, fugindo do convencional carro 1.0 de cor

Carro, carrinho, carrãoDe objeto de luxo para instrumento essencial na vida em sociedade

Rafaela Silva

o vínculo histórico do automóvel com o processo de urbanização

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Na Praça Toledo Barros, em Limeira, aos segundos domingos do mês, pessoas se encontram para admirar o velho e reviver o passado por meio dos automóveis. O evento é organizado pelo Clube de Carros Antigos de Limeira e é um encontro aberto onde a entrada além de franca permite ao ar-livre o público ver os carros e admirar as relíquias. “Geralmente participam cerca de 50 carros”, a� rma César Guimarães, 58 anos, diretor de eventos do Clube.

Segundo Guimarães, o Clube de Limei-ra, considerado o mais antigo do interior de São Paulo, foi fundado em 23 de abril de 1983 por um grupo que contava com mais de 40 “loucos e apaixonados” por carros antigos.

Atualmente, são 118 associados e um acervo � liado de cerca de 400 peças que variam en-tre carros, caminhões, pick-ups, motos, Hots e Streets Roads. Um item interessante do acer-vo é um caminhão Ford F-600 de 1963 doado pela prefeitura de Limeira que fazia parte da frota do corpo de bombeiros da cidade.

“Quando o assunto é carro antigo, as coleções de Limeira são sempre lembradas, já tivemos coleções de nossos associados mostradas nos programas das redes Globo, Band e Record”, revela orgulhoso o diretor de eventos do Clube, e a� rma que diversas vezes são consultados por redes de TVs que estão solicitando carros para comporem cenários de programas.

prata, que normalmente se esconde da imensidão do trânsito, “Meus carros fazem o que qualquer outro automóvel faz, com a facilidade de poder conduzí-lo e ter pleno domínio sobre a máquina ao invés de obedecer um monte de computadores que de� nem por mim como proceder com o veículo”.

Muitos adquirem o carro antigo e o modi� cam, “envenenam” o motor, fazem o chamado “tuning”, porém há quem goste de deixá-lo original, do jeito que foi lançado, de mantê-lo como item de coleção, ou de � car passeando com ele por todo o canto. Tavares acredita que a melhor maneira de se preservar um automóvel é usando-o, “Carro foi feito para andar, se for para ter um carro parado em casa e nunca usar pre� ro tirar uma foto do veículo e pendurar na parede, pois assim consigo olhar para o automóvel e ele ocupará menos espaço”, declara.

E para aqueles que não compram carros antigos, entretanto gostam de admirar o deno-minado velho, basta visitar os inúmeros eventos que são produzidos por todo o país que têm com objetivo de reunir as pessoas que gostam do tema, mostrar aos leigos um pouco da história do automóvel, trocar informações entre colecionadores, e principalmente, fazer com que as pessoas saiam um pouco da vida “computadorizada” e se divirtam com a família em algum lugar diferente. Frequentador assíduo dos eventos “antigoautomobilisticos”, Tavares relata como é se integrar nesses encontros, “Em meados dos anos 90 eu comecei a frequentar, nem carro eu tinha, muito menos carteira de habilitação, ia de ônibus ou de carona, fui fazendo amigos, e por ser um garoto sem pai colecionador, tive a sorte de ser adotado pelos donos de carros antigos que iam regularmente aos eventos, � z muitas amizades, hoje vou aos encontros mais pelas amizades que � z do que pelos carros, a melhor coisa que se ganha ao participar são os amigos que a gente faz todos os dias”.

Um clube de relíquias

foto: Laura Thomaz

Várias relíquias automobilístiscas são expostas na praça Toledo de Barros, em Limeira

foto: Laura Thomaz foto: Laura Thomaz

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Matheus FonsecaE então, no princípio, era a roda. E a roda

estava com o Homem, e a roda era o Homem. E todas as coisas foram feitas por ela, e sem ela nada do que foi feito se fez. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. Mas a roda não se deu por satisfeita, e passou a girar a própria história humana.

A criança nasce e imediatamente ganha um carro de bebê (com motorista particular). À medida que cresce, o veículo vai se incremen-tando: ferro, plástico, madeira e rolimãs, até o ponto máximo da carreira de motorista (pelo menos nesse estágio): a carteira de habilitação, símbolo que pontua o ritual de transição da fase “a pé” para a fase “motorizada”. Agora, o bebê cresceu, e tem de fato o super-trunfo na mão: as chaves que abrirão muitas portas.

O universo automobilístico sempre per-meou as artes: música, � lmes, desenhos anima-dos e demais referências da cultura de massa. Seja um Fuscão Preto, uma Brasília amarela, um Calhambeque que faz “bi-bi” ou um carro ver-melho a descer a Augusta a 120 Km/h, o carro é reverenciado como um ícone do cotidiano. Na televisão, Speed Racer sucedia James Dean e

incorporava o jovem destemido e sem medo. A “Super-Máquina” foi sonho de consumo de uma geração inteira, e os Transformers faziam com que os fusquinhas agregassem in� nitas pos-sibilidades. Já na telona, galãs pilotavam seus carrões, invariavelmente, muito bem acompa-nhados de lindas mulheres. Davam a partida e disparavam, velozes e furiosos, rumo à glória como atesta a famosa baiana: “amar a pé, amor, é lenha!”. O carro atingia, � nalmente, a tudo e a todos. Mas ainda era pouco para a roda.

Ah, o velho “possante”! Consolidava--se cada vez mais nas indústrias tecnológica e cultural e, assim como coração de mãe, sempre cabia mais um em seu interior. Cresceu e se mul-tiplicou. Embalou sonhos apaixonados, concebeu milhares de vidas em seu banco traseiro (ah, se meu fusca falasse!). Não parou por aí: evoluiu, ingressou na economia, gerou impostos, ganhou vida própria. Estabeleceu um Estado paralelo no qual deixou de ser uma ferramenta a serviço do Homem para se tornar um � m em si próprio. E, quando � nalmente houver mais carros do que usuários, talvez as três grandes perguntas sejam, en� m, elucidadas: sou um condutor, vim com meu carro e vou para minha garagem.

Luana Rafaela RibeiroAlguém um dia já imaginou a cidade dos

sonhos: sem trânsito, com transporte coletivo de qualidade e com preço maleável ao orça-mento mensal, e num � m de tarde a paisagem de um horizonte limpo sem aquele ar parado, escuro que sinaliza marcas da poluição urbana. Em contraposição a esse sonho tem-se visto muito trânsito, inclusive em cidade menores, como Limeira, Rio Claro, Leme, Americana, Araras e Piracicaba. Pessoas reclamam das péssimas condições do transporte coletivo e do perigo das vias urbanas para uso de bicicletas, em razão das cidades não apresentarem lei de incentivo ao uso de transporte não motorizado.

Sobre a atual realidade do trânsito li-meirense o diretor de transportes, Luis Augus-to Lopes Xavier, a� rma que há uma crise no transporte em Limeira. Existe para o diretor insu� ciência de coletivos para atender a todos os 70 mil limeirenses, que usam diariamente o serviço. Há também para Xavier falta de incenti-vo para outros meios de transportes e pontua a constatação do trânsito de veículos motorizados em ascendência.

Xavier declarou que se a cada novo con-dutor fosse comprar um carro, Limeira teria dois veículos para cada família, hoje a cidade apresenta 180 mil veículos cadastrados na CI-RETRAN, o que resulta a soma de um carro para cada dois limeirenses.

Xavier também explica que a secretaria está veri� cando melhorias na parte de trans-porte coletivo, como “treinamento de motoris-tas e cobradores, aumento da frota e reformu-lação das linhas”. E acrescenta que em reunião com a empresa de transporte coletivo privado conseguiram mais vinte carros, e que almejam chegar no ideal, para a cidade, que seria 200 veículos.

A opção de se locomover nas cidades por bicicletas é uma saída. Em Limeira Sebastião de Barros utiliza a bicicleta para chegar a tempo ao trabalho, assim segundo ele economiza tempo e dinheiro. Barros explica que “se eu fosse de ônibus teria que pegar duas conduções, além de não ter nenhum conforto, então no � m � co feliz de ir de ‘magrela’, acordo um pouco mais tarde e ainda faço exercício como meu médico pediu”.

Assim como Barros há outras pessoas mudando ou querendo mudar o meio de trans-porte, mas ainda a estrutura urbana inapta ao uso de bicicletas acaba inibindo seus futuros adeptos. A visibilidade de usuários de bicicletas como vítimas de trânsito, também colaboram para as gestões públicas lentas nessa área. Xa-vier descreve que as únicas ciclovias realizadas em Limeira são em partes dos anéis viários, que foram reformados e duplicados. E � naliza a� rmando que não há nenhum projeto de apri-moramento para o uso de meios de transporte alternativos na cidade.

Precariedade no transporte público colabora com o crescimento desenfreado de automóveis

HOMO MOBILIS

Veículos motorizados em Limeira:

Dados fornecidos pela Secretaria de Transporte de Limeira

Crônica foto: Laura Thomaz

Várias relíquias automobilístiscas são expostas na praça Toledo de

Barros, em Limeira

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caso de José Benedito Pereira Hamberman Or-tega, 48 anos, que � nanciou um carro em três anos com o valor mensal de 300 reais. Segundo Ortega as taxas de em-préstimo pareciam ser convidativas. Pareciam mas não eram, quando começou a atrasar o pagamento das parce-las após uma demis-são inesperada de seu trabalho a situação começou a complicar,

No � nal do mês é Fabio Belloto, 32 anos, que vai parar para re� etir nas contas e nas des-pesas, às vezes, nem ele consegue acreditar em quanto dinheiro gastou em tão pouco tempo. “Eu já cheguei a gastar muito mais por mês, cerca de 10 mil reais só em som e acessórios, hoje com casa e família pra cuidar gasto bem menos”, revela Belloto. Uma arrumadinha aqui, uma mãozinha de tinta ali, bateria nova para o som, potência, autofalantes, e na hora de somar os gastos os números assustam, podem chegar a 5 mil reais por mês, o equivalente a metade do seu salário atual, e o que isso signi� ca? Dívidas.

Diversos fatores históricos, sociais e eco-nômicos � zeram com que o carro deixasse de ser apenas um veículo para se tornar um sím-bolo da sociedade atual, ganhar selo e valor simbólico, de poder e de status. Esses valores são vistos nas ruas e avenidas da sociedade mo-derna, a superlotação de automóveis. Belloto é um entre milhões de brasileiros que destina boa parte de sua renda mensal para custear o auto-móvel e seus acessórios.

As taxas de juros por vezes convidativas, prazos acessíveis para pagamentos, � uxo abun-dante de recursos para � nanciamentos, bem como o maior poder de compra dos consumi-dores, estimularam a venda de veículos levando o consumidor a arriscar um empréstimo, foi o

Em 1997 o preço da passagem do coletivo

em Araras era R$ 0,70 centavos, hoje a Prefeitura reajustou cerca de 138%

acima do índice do custo de vida dos ararenses, devido

a infl ação, custando em média três reais.

Érika Scharlach

E quando do carro saem outros gastos ainda mais caros? os juros do � nanciamento se acumularam e no � nal das contas o carro dos sonhos se tornou um pesadelo. Ortega teve que devolver o carro para

o banco e até hoje não se livrou das dívidas. “Quando fui demitido foi um choque, a partir dai comecei a re-pensar sobre os gastos, mas daí já não tinha mais jeito”, lamenta.

O alto número de ve-ículos circulando nas ruas requer medidas rápidas e

estratégias sobre a real necessidade do uso e compra do automóvel. A melhora no transporte coletivo e maior investimento em meios alter-nativos de locomoção podem ser uma saída para solucionar o caos. Alternativas ao automóvel

Nem é preciso dizer que o transporte co-letivo é um problema que exige atenção dos go-vernantes. Na cidade de Araras, interior de São Paulo, o número de circulares ainda é reduzido para a demanda de passageiros, ou seja, falta transporte para a população, o que pode atra-palhar muitas vezes a ida para o trabalho. Com todos esses problemas o transporte é relativa-mente caro, tendo em vista o atraso constante do ônibus nos pontos de parada, a qualidade dos veículos, e a falta de conforto.

O aposentado Luiz Zorzo, morador há 50 anos do município de Araras, reclama da falta de agilidade dos transportes públicos. Na rodoviária, por exemplo, não passa ônibus circular. Antigamente Zorzo levava duas horas para chegar ao trabalho. Hoje, com 78 anos, ele revela que precisa de comodidade e conforto, pois muitas vezes nem o assento preferencial é concedido. Resolveu não optar pelo transporte público e comprou um carro. “Ah hoje é muito caro né? No meu tempo era barato esses ônibus! Hoje eu tenho meu carro, é antigo mas dá pra andar”, conta Zorzo.

Ter um carro sai caro ?

As o� cinas especializadas � cam lotadas de carros. Um dos serviços mais procurados é a automação dos

vidros elétricos

foto: Rafaela Silva

foto: Rafaela Silva

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Impera no senso comum a noção de que a parte mais sensível do corpo humano é o bolso. De modo a reclamar seus direitos, o indivíduo lesado enquanto consumidor procurava a Pro-curadoria de Proteção e Defesa do Consumidor (PROCON) e fazia sua denúncia. Mas o processo de redemocratização do país gerou um fenô-meno social que extrapolou meras questões econômicas ou queixas sobre um serviço mal prestado. Agora, qualquer pessoa, ao sentir-se atingida também em sua cidadania, busca au-xílio em órgãos como o Ministério Público, Or-ganizações Não-Governamentais (ONGs) e ser-viços especializados. Além disso, as ferramentas tecnológicas como as redes sociais e fóruns de discussão se apresentam muito mais do que apenas “válvulas de escape” e desabafo. Frente a quaisquer cerceamentos dos direitos e garan-tias fundamentais, a sociedade civil organizada pode, através dos meios eletrônicos, expor seu descontentamento, abraçar uma causa e acio-nar os meios legais.Cultura da denúncia

Crimes, violência, relações trabalhistas, questões ambientais, drogas, abuso sexual, racismo, homofobia, e até mesmo corrupção:

Ferramentas digitais e acesso rápido à informação facilitam – e aumentam –

o número de denúncias no País

Reportagem

Matheus Fonseca

praticamente todos os segmentos contam com um canal próprio para questionamentos e de-núncias. Seja pelo telefone (através dos disque--denúncia), preenchimento de formulários via internet ou até pessoalmente, o cidadão está mais ciente de que pode, sim, fazer a diferen-ça. Para se ter uma ideia, o Disque 100 – ser-viço disponibilizado pela Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal – registrou, no módulo Criança e Adolescente, um aumento de 71% das denúncias de violação de direitos humanos contra menores em relação ao mesmo período do ano passado. Oito em cada dez víti-mas são meninas.

Já em balanço divulgado pela Secreta-ria da Justiça e da Defesa da Cidadania (SJDC) de São Paulo apontou um aumento da média mensal de denúncias sobre racismo no Estado. Segundo o levantamento, em 2011 foram 90 registros (média de 7,5 por mês) e, no primeiro semestre deste ano, a Coordenação de Políticas para a População Negra e Indígena já recebeu 34 encaminhamentos, uma média de 11,3 por mês. O Instituto São Paulo Contra a Violência - Organização da Sociedade Civil de interesse público - traz, ainda, mais dados interessantes.

No ranking dos assuntos mais denunciados do Estado, por meio de seu disque-denúncia 181, as três primeiras posições são ocupadas por: trá� co de drogas, jogos de azar e maus tratos contra a criança. Por que e como denunciar

“A onda de denúncias veri� cada pelos órgãos competentes para recebê-las é resultado não só do maior acesso à informação, mas tam-bém da indignação frente aos escândalos na política nacional”, a� rma Jocileide Montenegro Rodrigues, Diretora da Coordenadoria de Defesa dos Interesses Difusos e Coletivos do Ministério Público do Trabalho – Região Campinas. Ser-vidora responsável pelo recebimento de todas as denúncias, Jocileide acredita que o papel do MP enquanto defensor dos direitos e garantias fundamentais nunca esteve tão evidente, jus-tamente pelo fato do órgão atuar onde o poder público é falho. “Penso que o amplo acesso a mídia faz com que as pessoas tenham uma consciência maior de seus direitos, o que as levam a procurar ajuda em órgãos nunca antes imaginados”, opina a Diretora. Ela ainda cita que, em certas situações, o denunciante, mes-mo não envolvido diretamente ou sendo parte

interessada no assunto, expõe o fato por revolta. “Muitos casos chegam ao nosso conhecimento por meio de terceiros, sindicatos, amigos, etc”, analisa. “As pessoas devem procurar sim os seus direitos, pois o sigilo deferido garante que as empresas investigadas jamais saibam de onde veio a denúncia”, conclui a servidora.

Para Fausto Kozo Kosaka, Procurador da República em Piracicaba, a garantia do anoni-mato pode dar margem a denúncias infunda-das, especulações ou mesmo “má-fé”. “Essas possibilidades existem, por isso as represen-tações anônimas geralmente são analisadas com maior cautela, notadamente quando desa-companhadas de qualquer elemento de prova. Quando é possível vislumbrar verossimilhança na representação anônima normalmente são realizadas veri� cações preliminares para con� r-mar a consistência das informações, e somente se houver uma con� rmação mínima é iniciada uma investigação”, explica o Procurador. Ele orienta que a representação pode ser feita pes-soalmente, inclusive oralmente, cujas declara-ções serão reduzidas a termo, por escrito, proto-colada na própria repartição, encaminhada pelo correio ou entregue por qualquer outra forma;

Com a boca no trombone

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A Lei nº 12.527, popularizada como Lei de Acesso à Informação, é mais uma arma na luta pela transparência na admi-nistração pública. Com o intuito de regu-lamentar o direito constitucional de acesso dos cidadãos às informações públicas, seus dispositivos são aplicáveis aos três Poderes da União, Estados, Distrito Federal e Municí-pios. Com essa iniciativa, a publicação da Lei almeja a uma maior participação popular e o controle social das ações governamentais,

pela internet, através de link especí� co (“digi--denúncia”) disponível no site da Procuradoria da República no Estado de São Paulo. “É impor-tante que a representação descreva fatos certos e delimitados no tempo e no espaço, indique eventuais responsáveis ou envolvidos e esteja acompanhada de elementos, ainda que indici-ários, de provas, ou a indicação onde estas po-derão ser obtidas”, esclarece Kosaka. E faz coro com Jocileide Montenegro Rodrigues quanto à atuação do MP: “Um passo importante seria uma maior divulgação das atividades (investi-gações, ações ajuizadas, termos de ajustamento de conduta celebrados etc) realizadas pelo MP, para que a população saiba o que tem sido fei-to em seu benefício e quais as áreas em que já estão sendo adotadas providências. As associa-ções e outras formas de organização da popu-lação são importantes canais de informação ao MP de violações a direitos difusos e coletivos, e esta comunicação deve ser permanentemente aprimorada”, � naliza o Procurador.

Crimes CibernéticosAlém dos tradicionais “Disque-denún-

cias”, há uma corrente especializada em crimes praticados pela Internet. Portais como o Uni-verso On-Line (UOL), Terra e entidades como as ONGs Defende e SaferNet possuem estruturas especializadas em atuar contra os chamados “crimes virtuais”. Por meio de formulários, o internauta pode oferecer denúncia sobre calú-nia e difamação, pornogra� a infantil, pedo� lia, direitos autorais, falsidade ideológica, dentre outros temas. Assessora de Imprensa da Safer-Net Brasil, Donminique Azevedo informa que a associação disponibiliza, na íntegra, todos os dados e indicadores disponíveis no site. “Como descrito em nossa página, temos por ideal uma Internet ética e responsável, que permita às crianças, jovens e adultos criarem, desenvolve-rem e ampliarem relações sociais, conhecimen-tos e exercerem a plena cidadania com segu-rança e tranquilidade”, explica Donminique. A assessora cita que a SaferNet atua, inclusive, em

parceria com atores da Sociedade Civil, do Go-verno Federal, do Ministério Público Federal, do Congresso Nacional e das Autoridades Policiais. “Temos uma área própria para estudantes e pro� ssionais do jornalismo, a � m de que nossos indicadores auxiliem em pesquisas e quadros comparativos”, ilustra Donminique. “Prezamos pela transparência”, deixa claro a assessora.Silêncio? Jamais!

Para Thais Helena Cabral Kourrouski, ad-vogada da 12° subseção da OAB, em Ribeirão Preto, é fundamental que a população se infor-me sobre qual o órgão competente para cada tipo de denúncia. Seja uma rua esburacada, um aterro sanitário irregular ou até a malversação de dinheiro público. “A apuração é mais rápida e e� caz. Recorrer diretamente à Prefeitura, Secre-tarias, Polícia, Ministério Público, OAB e demais entidades, sempre de acordo com a natureza de cada queixa, ajuda muito no andamento do processo”, garante a advogada. “E, claro, sem

o sentimento de culpa ou medo. As pessoas devem ter em mente que estão ajudando não somente a si próprias, mas ao sistema judiciário do Brasil”, a� rma. Tal opinião é compartilhada pelo procurador Kosaka, ao veri� car que muitas denúncias deixam de ser recebidas por medo de retaliação, demissão ou até ameaças de morte. “O MP também pode adotar medidas com vis-tas a prevenir eventuais violações de direitos do denunciante, e, em casos extremos como ame-aças de morte, adotar providências para asse-gurar a sua integridade física”, elucida. E exalta a ação da sociedade ao representar situações violadoras de direitos coletivos (lesões ao meio ambiente, ao patrimônio público/improbidade, ao patrimônio histórico-cultural e ao erário). “Aí sim o denunciante, sem qualquer interesse pes-soal, exerce sua cidadania ativa motivado pelo civismo. Em tempos de luta pela total transpa-rência, isso fortalece a democracia”, enaltece o Procurador da República.

LEI DE ACESSO À INFORMAÇÃO COMPLETA DOIS MESES

além do acesso da sociedade às informações públicas, permitindo uma melhoria na ges-tão pública.

Qualquer pessoa pode solicitar dados a respeito de qualquer órgão da administra-ção pública, sem a necessidade de qualquer tipo de justi� cativa. No entanto, mesmo após mais de um mês de sua regulamentação (ocorrida em 17 de maio), muitos órgãos pú-blicos ainda não se adequaram às exigências da Lei. Um dos alvos de reclamações, por par-

te dos internautas, são os chamados “Portais da Transparência” das contas públicas. Os usu-ários alegam di� culdades em pesquisar cargos e salários dos servidores, assim como outras informações. Apesar das di� culdades na im-plantação, o Ministro-Chefe da Controladoria Geral da União (CGU), Jorge Hage Sobrinho, disse que o balanço do primeiro mês da nova legislação é muito positivo. “Não se poderia esperar performance melhor para este início de implementação de uma Lei que se propõe

a mudar uma cultura de 500 anos de opa-cidade, de não transparência”, a� rmou. Ainda para Hage Sobrinho, a experiência de países que já têm leis dessa espécie há décadas, como Estados Unidos, Canadá e México, mostra que alguns pontos contro-vertidos só se resolvem com o tempo e a vivência na aplicação da lei. “O aperfeiço-amento é gradual, inclusive na qualidade das respostas”, � naliza o Ministro-Chefe da CGU.

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O Brasil começou muito bem 2012, pelo menos no que diz respeito à sua frota veicular. Dados referentes a Janeiro, de acordo com o Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN), apontam mais de 70 milhões de veículos, sendo 40 milhões enquadrados na categoria “automóvel”. Somam-se a tal vespeiro de carros cer-ca de 500 mil ônibus, 2,3 milhões de caminhões, 15 milhões de motocicletas. Números que impressionam e comprovam o cresci-mento exponencial da frota do país na última década. O re� exo é o caos instaurado no sistema de mobilidade urbana, culminando em um transporte coletivo sem infraestrutura, ine� ciente, suca-teado e carente de políticas públicas. Isso sem citar prejuízos ao erário: cerca de 15 do PIB nacional é perdido somente nos engar-rafamentos. Eliminando-se o fator “máquina”, o que sobra é uma nação onde, apesar da Carta-Magna garantir o direito de ir e vir, a mobilidade humana tornou-se condicionada a questões culturais e econômicas.

Muito além do asfaltoAinda em Janeiro, o Instituto de Pesquisa Econômi-

ca Aplicada (Ipea) atesta: Em cidades com mais de 100 mil habitantes, 61% da população considera que não consegue ser atendida pelo transporte público quando necessitam. Descontando as alegações óbvias (e infelizmente verdadei-ras) sobre as implicações ambientais, o desconforto, atrasos no itinerário, precariedade dos veículos e valor das tarifas, a problemática da mobilidade urbana vai além do “deslocar-

-se”. Não se trata apenas de planejamento de tráfego, ur-banismo e gestão. O símbolo do automóvel como nocivo à sustentabilidade humana, assim como as próprias diretrizes de se viver em uma sociedade de massa são objeto de estudo de especialistas de diferentes áreas do conhecimento. Saem a Engenharia Civil e a Arquitetura; entra a Sociologia.

“Carrocentrismo”: Cultura, ou “falta de”?Em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo (edição

de 14-12-2011), Ricardo Abramovay defende que a distân-cia entre as prioridades que norteiam os setores público e privado não poderia ser maior (e pior). Professor titular do Departamento de Economia da FEA, do Instituto de Relações Internacionais da USP, além de pesquisador do CNPq e da FA-PESP, Abramovay argumenta que o crescimento econômico fundamentado na produção contínua de automóveis (e na esperança que se abram avenidas cada vez mais largas para dar-lhes � uidez) é incompatível com uma economia susten-tável. A� rma o autor: “Não se trata de suprimir o automóvel individual, e sim de estimular a massi� cação de seu uso partilhado”. No entanto, como incentivar a coletivização do transporte urbano em uma sociedade erguida sob a égide do “Carrocentrismo”? Quais os modos para uma e� caz educação em termos de mobilidade, educação essa inerente ao concei-to de cidadania?

O texto de Abramovay questiona o “objeto-carro” en-

quanto responsável, em boa parte, pelo uso privado do espaço público. E o especialista propõe a re� exão: “O planejamento ur-bano acaba sendo norteado pela monocultura carrocentrista. Ampliar os espaços de circulação dos automóveis individuais é enxugar gelo, como já perceberam os responsáveis pelas mais dinâmicas cidades contemporâneas”. De fato, os carros em si não são populares. Popular é ter um carro.

Mudança de mentalidade“A bicicleta, assim como o carro, é um transporte in-

dividual. É preciso ter uma mudança de mentalidade, um incentivo para que as pessoas que usam o automóvel pas-sassem a usar a bicicleta. Quanto mais bicicletas nas ruas, menor o número de carros”. A constatação de João Cucci Neto, professor do curso de Engenharia de Tráfego e Transporte Ur-bano da Universidade Mackenzie, expõe as di� culdades em se romper os paradigmas da cultura do “Carrocentrismo. O especialista, oriundo das Exatas, sabe perfeitamente que o automóvel talvez seja a expressão mais bem acabada de va-lores como sucesso, poder e dinheiro. Ao sugerir uma solução (lúdica) para o “caos urbano” e constatar a urgência na forma de pensar a mobilidade, Cucci nos presenteia com curiosa si-tuação: ao lançar mão de um meio individual (a bicicleta), os cidadãos bene� ciariam o coletivo. Ganhamos todos. Trata-se de apenas mais um dos meios adequados para o mesmo � m: a convivência salutar em sociedade.

Cultura do “Carrocentrismo”

é incompatível com sustentabilidade

Artigo

A DIFÍCIL ARTE DE IR E VIR

Matheus Fonseca

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