Jornal fundado em 1 de Outubro de 1925 ANO XCI / Nº5200 ... · Mostra Internacional de Doces e...

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Jornal fundado em 1 de Outubro de 1925 ANO XCI / Nº5200 SEXTA-FEIRA 17 NOVEMBRO DE 2017 ASSINATURA ANUAL: 22,50€ DIGITAL: 15€ www.gazetacaldas.com Director: José Luiz de Almeida Silva Director Adjunto: Carlos M. Marques Cipriano facebook.com/gazetacaldas Tel:262870050 / Fax: 262870058/59 [email protected] / [email protected] / [email protected] / [email protected] Este suplemento é parte integrante da edição nº 5200 da Gazeta das Caldas e não pode ser vendido separadamente. Fotos: DR

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Jornal fundado em 1 de Outubro de 1925 ANO XCI / Nº5200 SEXTA-FEIRA 17 NOVEMBRO DE 2017

ASSINATURA ANUAL: 22,50€ DIGITAL: 15€ www.gazetacaldas.comDirector: José Luiz de Almeida Silva Director Adjunto: Carlos M. Marques Cipriano facebook.com/gazetacaldas

Tel:262870050 / Fax: 262870058/[email protected] / [email protected] / [email protected] / [email protected]

Este suplemento é parte integrante da edição nº 5200 da Gazeta das Caldas e não pode ser vendido separadamente. Fotos: DR

2 17 Novembro, 2017Gazeta das Caldas

Isaque Vicente

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De 23 a 26 de Novembro, a doçaria invade o Mosteiro de Alcobaça, com a 19ª edição da Mostra Internacional de Doces e Licores

Conventuais, que durante quatro dias se espa-lha por diferentes espaços: salas dos Monges, das Conclusões e do Capítulo, claustros de D. Dinis, do Cardeal, da Hospedaria e da Portaria e refeitório. Serão perto de 40 expositores na-cionais e internacionais, com os melhores do-ces, licores e compotas conventuais.Cornucópias, pão-de-ló, pastéis de Santa Clara, Trouxas do Mondego, Brisas do Liz, D. Rodrigo, Pão de Rala e Pudim Abade de Priscos são algumas das iguarias que po-dem ser provadas nesta mostra. Para acom-panhar não faltarão os licores de ginja e o de Singeverga.Este ano estarão presentes duas cidades com geminações com Alcobaça: Aubergenville (França) e Belchatow (Polónia), mas também Aachen Rothe (Alemanha) e os seus choco-lates monásticos. O Mosteiro de Santa Maria do Sobrado, na Corunha (Espanha) regressa nesta edição a Alcobaça com o seu Dulce de Leche.Tal como nos últimos anos, são espera-das mais de 30 mil pessoas em quatro dias de certame. Este ano não há um espectácu-

lo de grande dimensão, como houve o vi-deomapping no último ano. Isto porque foi “um ano atípico” devido às eleições autár-quicas e à sua proximidade ao evento, escla-receu Paulo Inácio, presidente da Câmara de Alcobaça. “Tínhamos o essencial organiza-do previamente, mas todos os extras eram decisões políticas para serem tomadas pelo novo executivo”.Por outro lado, este ano não houve fundos co-munitários para a promoção da cultura no pa-trimónio da humanidade, tal como houve na última edição.Assim, o orçamento ronda os 100 mil euros, cer-ca de metade da última edição. É que só o vi-deomapping em 2016 custou perto desse valor.As entradas no evento custam um euro para maiores de 12 anos e há um livre trânsito para os quatro dias que custa 2,50 euros. O recinto está preparado para pessoas com mobilida-de reduzida.As portas abrem no dia 23 às 15h00 e uma hora e meia depois é lançado o Pão de Ló de Coz no refeitório, onde depois serão anuncia-dos os vencedores do concurso. No primei-ro dia as portas abrem às 15h00 e no último encerram às 20h00. No entretanto abrem às 10h30 e fecham às 23h00.O júri para o concurso de melhor doce, me-lhor licor e melhor compota é composto pelos chefs Telmo Moutinho, Odete Silva, Ricardo

Raimundo (alcobacense) e Justa Nobre, pelo jornalista Amílcar Malhó, o professor Nelson Félix, o administrador da empresa J. Carranca Redondo, Lda. (produtora do Licor Beirão), José de Oliveira Redondo e um representan-te da Associação de Municípios Portugueses do Vinho.Ana Pagará, directora do Mosteiro de Alcobaça, disse que “da parte da DGPC e do Mosteiro a disponibilidade e o empenho é total”. Notando que este evento é sempre um desafi o, por obrigar várias equipas de di-ferentes instituições a trabalhar em conjunto, disse que serão criadas as condições de segu-rança para pessoas e monumento.Segundo a directora, a mostra “é um dos mo-mentos altos do Mosteiro, que tem vindo a aumentar progressivamente o número de visitantes a uma média de 15% ao ano, que este ano deve ser ligeiramente maior”.A vereadora da Cultura de Alcobaça, Inês Silva, salientou o pioneirismo de Alcobaça com este evento que tem quase duas déca-das e que releva a “qualidade, originalidade e identidade” da mostra.Além da Ordem de Cister, estarão represen-tadas as ordens de Santa Clara e São Bento.Carlos Miguel, secretário de Estado das Autarquias Locais, deverá estar presente no certame.�

Doces e licores conventuais: quatro dias de gula no Mosteiro de AlcobaçaComeça no dia 23 de Novembro a XIX Mostra Internacional de Doces e Licores Conventuais de Alcobaça, no Mosteiro de Alcobaça, com quatro dias de gulodice. Os nomes dos doces remetem para a sua origem, a religião e a vida monástica. Há as tradicionais receitas, seculares e há as reinterpretações e reinvenções que a cada ano são apresentadas. Mas a base, essa, é o açúcar, os ovos e as amêndoas. As entradas custam um euro.

Três livros apresentadosEste ano serão apresentados três livros no evento, um em cada dia, sempre às 18h30 na sala do capítulo. No primeiro dia Nelson Correia Borges apresenta a segunda edição da “Doçaria Conventual do Lorvão”. Para o segundo dia foi escolhido “Cinco séculos à mesa – 50 receitas com história”, de Guida da Silva Cândido. No dia 25 de Novembro a alcobacense Vanda Furtado Marques apresenta “Pedro e Inês – uma história de amor”, que foi recentemente lançado no Books&Movies, festival de literatura e cinema de Alcobaça.� I.V.

Uma pista de gelo em frente ao Mosteiro Apesar de não haver um grande espectáculo, Paulo Inácio disse na conferência de imprensa que quer colocar uma pista de gelo com 200 metros quadrados na Praça do Rossio, em frente à ala Sul do Mosteiro. Feita com gelo sintético, a pista não necessita de água, nem de máquinas e, caso avance, fi cará montada até ao dia a se-guir ao Natal. “É a primeira vez que haverá uma pista de gelo em Alcobaça”, disse Paulo Inácio.Contudo, o autarca alertou que tal projecto depende ainda da autori-zação da DGPC e da disponibilidade da empresa.� I.V.

Na conferência de imprensa, o presidente da Câmara, Paulo Inácio, assumiu que o orçamento deste evento é metade do do ano passado.

317 Novembro, 2017Gazeta das Caldas

Pastelaria Alcôa, monjas de Rio Caldo, Singeverga e EPADRC são campeões no campeonato dos doces

O concurso dos doces e licores nasceu em 2013. Mais tarde, em 2015, foram instituídos os prémios para a melhor

compota e o prémio inovação. Há um nome em cada área que, pelo número de vezes que já venceu, surge novamente como candidato.A Pastelaria Alcôa conseguiu vencer três das quatro edições do concurso de doces conventuais. No primeiro ano foi a conhe-cida Cornucópia a ser premiada, dois anos mais tarde foi o Queijinho do Céu e no ano seguinte (2016) o Torrão Real.No único ano em que não ganhou, em 2014, a pastelaria Alcôa recebeu um pré-mio especial do júri pelo Pudim de S. Bernardo. Nesse ano o prémio foi para o Céu da Boca, da Padaria do Marquês, de Leiria, que conquistou o júri. A mesma casa conseguiu no último uma menção honrosa, com os Torrões da Abadia.Entre aqueles que fi zeram, literalmente,

as delícias dos júris, a ponto de receber uma menção honrosa, está ainda o Pão de Ló de Ovar da Flor do Lis (Ovar), que já recebeu duas menções honrosas (2013 e 2016), o Pudim de Frades do Mosteiro de Alcobaça (2014) e a Castanha d’Ovo (2015) da Casa dos Doces Conventuais, mas também o Pecado do Céu (2013) e o Doce do Paraíso (2014) do Restaurante António Padeiro, e a Nevada da Pastelaria O Mosteiro (2015).Além dos doces conventuais, nesta mostra há licores e aí é o Mosteiro de Singeverga (Santo Tirso), com o licor homónimo, quem domina, em luta com a ginja.O Licor de Singeverga com várias espe-ciarias e ervas aromáticas venceu em Alcobaça em 2013 e repetiu a façanha em 2015. No último ano fi cou em segun-do lugar atrás da Ginjinha dos Licores A. Gerardo Lda. Em terceiro lugar fi cou a Ginja da Rosmaninho Limão.

Nos anos em que o licor de Singeverga não tem ganho, o prémio tem ido para as ginjas. Em 2014 foi a da M.S.R. David Pinto a vencedora.Já em termos de compotas, as melhores são as das monjas cistercienses de Rio Caldo, que venceram as edições de 2015 e 2016. Num ano apresentaram a Compota de Uva Americana e no outro a Compota de Ameixa com Chocolate Preto.No caso do prémio para a inovação, esse foi as duas vezes entregue aos pu-dins da Escola Profi ssional e Agrícola e Desenvolvimento Rural de Cister (Alcobaça). Primeiro foi o Pudim de Maçã de Alcobaça a ser premiado e depois o Pudim de Ginja de Alcobaça M.S.R. David Pinto.Em 2015 a Cornucópia de Maçã de Alcobaça da mesma escola e a Brisa do Bosque da Padaria do Marquês foram agraciadas com menções honrosas.� I.V.

O Torrão Real da Pastelaria Alcôa venceu o prémio para o melhor doce conventual em 2016 (Foto Arquivo)

A Ginjinha de Alcobaça de Licores A. Gerardo, Lda, foi o melhor licor em 2016, tal como havia sido em 2013 (Foto Arquivo)

A compota de ameixa com chocolate preto das monjas cistercienses de Rio Caldo venceu no último ano (Foto Arquivo)

Os pudins da EPADRC venceram os prémios inovação. Este é de ginja de Alcobaça (Foto Arquivo)

Os premiados das edições anteriores2 0 1 6

MELHOR LICOR CONVENTUAL1º PrémioGinjinha de Alcobaça - Licores  A. Gerardo, Lda. (Alcobaça)

2º PrémioLicor de Singeverga - Mosteiro de Singeverga (Santo Tirso)

3º PrémioLicor de Ginja - Rosmaninho Limão (Alcobaça)

 MELHOR COMPOTA CONVENTUAL

1º PrémioCompota de Ameixa com Chocolate Preto - Monjas

Cistercienses de Rio Caldo (Terras do Bouro) 

MELHOR DOCE CONVENTUAL1º Prémio

Torrão Real - Pastelaria Alcôa (Alcobaça)Menção Honrosa

Pão-de-Ló de Ovar - Flôr de Liz (Ovar)Menção Honrosa

Torrões da Abadia - Padaria do Marquês (Leiria) 

PRÉMIO INOVAÇÃO CONVENTUALPudim de Ginja de Alcobaça M.S.R. David Pinto – EPADRC - Escola

Profi ssional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Cister (Alcobaça)

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MELHOR LICOR CONVENTUAL1º Prémio

Licor de Singeverga - Mosteiro de Singeverga 

MELHOR COMPOTA CONVENTUAL1º Prémio

Compota de Uva Americana - Monjas Cistercienses 

MELHOR DOCE CONVENTUAL1º Prémio

Queijinhos do Céu - Pastelaria Alcôa Menção Honrosa

Nevada - Pastelaria o Mosteiro Menção Honrosa

Castanha D’Ovo - Casa dos Doces Conventuais 

PRÉMIO INOVAÇÃO CONVENTUAL1º Prémio

Pudim de Maçã de Alcobaça - EPADRC Menção Honrosa

Cornucópia de Maçã de Alcobaça - EPADRC Menção Honrosa

Brisa do Bosque - Padaria do Marquês

2 0 1 4MELHOR LICOR CONVENTUAL

1º PrémioLicor de Ginja MSR - David Pinto e& Cia, Lda

MELHOR DOCE CONVENTUAL1º Prémio

Céu da Boca - Padaria do MarquêsMenção Honrosa

Pudim Frades do Mosteiro de Alcobaça - Casa dos Doces Conventuais Menção Honrosa

Doce do Paraíso - Restaurante António Padeiro Prémio Especial do Júri

Pudim de S. Bernardo - Pastelaria Alcôa

2 0 1 3MELHOR LICOR CONVENTUAL

1º PrémioLicor de Singeverga - Mosteiro de Singeverga

 MELHOR DOCE CONVENTUAL

1º PrémioCornucópia - Pastelaria Alcôa

 Menção HonrosaPão-de-Ló de Ovar - Flôr de Liz

 Menção HonrosaPecado do Céu - Restaurante António Padeiro

4 17 Novembro, 2017Gazeta das Caldas

O regresso do pão-de-ló ao Mosteiro de CozN

a edição deste ano será lançado o Pão-de-ló de Coz. Trata-se de uma reinven-ção do pão-de-ló de Alfeizerão, cuja

receita se diz que provém precisamente deste mosteiro cisterciense feminino, para a aproximar da receita original.O pão-de-ló de Coz nasce de uma parce-ria entre o projecto Coz’Art, que preten-de valorizar o património histórico daque-le monumento, e a Casa do Pão de Ló de Alfeizerão.O novo produto gastronómico foi criado porque no seguimento da dinamização do espaço, surgiu a necessidade de disponi-bilizar aos visitantes do monumento algo característico daquele espaço.Depois de muitas experiências, o Pão-de-Ló de Coz é apresentado no primeiro dia do certame, às 16h30.A partir daí estará à venda no Centro de Bem Estar Social de Coz, na antiga Adega das Monjas e na Casa do Pão de Ló de Alfeizerão.Paulo Inácio, presidente da Câmara de

Alcobaça, disse que esta “é uma opor-tunidade para pôr o Mosteiro de Coz no mapa do património turístico, é o momento ideal para o promover no Mosteiro de Alcobaça”.O edil recordou que a Câmara aguarda a alteração da classifi cação do mostei-ro para Monumento Nacional por parte da DGPC (Direcção Geral do Património Cultural).Ana Pagará, directora do Mosteiro de Alcobaça, salientou o facto de Coz já es-tar inscrito na Carta Europeia dos Sítios e Abadias Cistercienses e acrescentou que os dois mosteiros (Alcoba e Coz) devem ser entendidos como um só património.�I.V.

Muito açúcar, ovos & amêndoasA

doçaria conventual portuguesa tem origem nos seus conventos e mostei-ros, uma tradição de muitos séculos

de história (uma história de muito labor) que engrandeceu a nossa gastronomia de reconhecimento internacional.Os doces conventuais sempre estiveram presentes nas refeições que eram servi-das nos conventos e os muito apreciados licores, destilados a partir de bagas e de várias plantas, eram inicialmente usados para fi ns medicinais.Como se sabe, os ingredientes principais desta doçaria requintada, feita de amor e paciência, são o açúcar, as gemas e as amêndoas.Foi a partir do século XV, com a expan-são do comércio do açúcar, que os doces atingiram maior notoriedade. O açúcar

possibilitava obter vários pontos de cal-da. As mãos sábias dos que o trabalha-vam pacientemente, durante largas horas de experiências, obtinham doces divinais. Os pontos de calda também permitiam a preservação dos doces durante muitos dias.Entre os séculos XVIII e XIX, Portugal era o maior produtor de ovos da Europa. Boa parte das claras dos ovos eram exporta-das e usadas para, entre outros fi ns, en-gomar roupas elegantes da corte euro-peia. Com a chegada em larga escala de açúcar, das antigas colónias portuguesas, a inspiração dos monges e das monjas juntou o açúcar com as gemas iniciando aquilo que hoje se denomina de Doçaria Conventual.Os nomes dos doces conventuais derivam

da religião católica e da vida monástica: são as “barrigas de freira”, os “papos de anjo”, o “toucinho do céu”, nomes celes-tiais que tão bem conhecemos.Como chegaram estas receitas até nós? Apartir de 1834, com a extinção das Ordens Religiosas, que as receitas saí-ram dos conventos, passaram de mão em mão, de geração em geração e hoje, para nossa “devoção”, as deliciosas receitas de doces conventuais portugueses perma-necem bem vivas e na nossa mesa.Muitas das receitas mais emblemáticas, de doces e licores, podem ser degustadas e apreciadas no Mosteiro de Alcobaça de 23 a 26 de novembro, às quais se juntam receitas internacionais.�