Jornalismo on e/ou off. Será o fim do jornal impresso? · inicia com um breve resumo histórico do...

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Jornalismo on e/ou off. Será o fim do jornal impresso? 14/05/2008 Érika Travassos* Introdução Quando o rádio foi criado, no século XIX, acreditava-se que era o fim das publicações impressas e que o futuro das comunicações estava ali. Um aparelho que difundia informações para lugares longínquos, as pessoas já não precisariam contar apenas com o ‘boca-a-boca’ para se comunicarem. Será que o rádio acabaria com a necessidade de se ler um jornal? E o que dizer do sentimento de pânico quando a TV foi criada, no século XX. Seria o fim do Rádio? Com o surgimento da Televisão, os teóricos mais apocalípticos acreditavam que o rádio, nem mesmo o jornalismo impresso se sustentariam, diante da caixa iluminada que colocava pessoas dentro de nossas casas. Agora, Século XXI, nossa discussão se acirra. Agora temos também o Mundo On- line. A internet, que vem engolindo todos os demais veículos. Rádio, TV, Impresso. Mas será que, como antigamente, podemos perguntar: Será que com a internet, tudo vai acabar? Neste ensaio, vamos levantar problemáticas relacionadas ao Jornalismo Impresso, que vamos considerar como Jornalismo Off-line e o Jornalismo On-line. Nossa discussão inicia com um breve resumo histórico do surgimento do Jornalismo Impresso e da Internet. 1. A historia do jornalismo Impresso O jornalismo impresso surgiu com os boletins oficiais nas civilizações antigas como Grécia, Egito, Babilônia e com a queda do Império Romano e o fim do feudalismo. A chegada do Renascimento e do mercantilismo, aliada ao surgimento do comercio, fortaleceu o jornalismo, pois a necessidade de difusão de informações se tornou necessidade. Com a invenção da imprensa por Gutemberg, em 1440, se deu inicio a impressão de livros e jornais em maior escala. O primeiro livro foi a Bíblia e os jornais foram semanários. Embora a “tecnologia” tenha surgido no século XV, na América, o desenvolvimento do primeiro jornal só aconteceu em 1690, era o The Public Ocurrences, 85 anos após o surgimento do jornal na Europa. Os jornais nesta época eram feitos por grandes nomes como Benjamin Franklin, Jonh Adams, Thomas Jefferson e Alexander Hamilton. Com a Revolução Francesa e Industrial é que surge o jornal moderno, já nos séculos XVIII e XIX. A produção em larga escala, a criação de impressoras mais modernas, o aumento do público nos grandes centros urbanos, o comercio e a publicidade, fizeram prosperar e difundir o jornalismo impresso. Com isso o preço foi barateado e mais pessoas tiveram acesso. Com todas essas transformações o jornalismo se tornou mais profissional e menos literário, com normais e padrões de escrita e linguagem mais acessíveis. No Brasil, o jornalismo começou em 1808 com a chegada da Corte Portuguesa. O primeiro periódico foi O Correio Brasiliense, editado em Londres, pelo jornalista Hipólito José da Costa e em seguida o jornal de situação, a Gaseta do Rio de Janeiro, editado pela imprensa régia. Os jornais brasileiros sempre travaram batalhas políticas, mas o século XIX foi marcado também pelo jornalismo literário, com a presença de escritores como José de Alencar e Machado de Assis. Já no século XX, viu-se a evolução do jornalismo e a renovação tecnologia, como também a ampliação da pauta, com a introdução de assuntos internacionais em curto espaço de tempo. Surgem os grandes jornais, como The New York Times, Le Figaro e

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Jornalismo on e/ou off. Será o fim do jornal impresso? 14/05/2008 Érika Travassos* Introdução Quando o rádio foi criado, no século XIX, acreditava-se que era o fim das publicações impressas e que o futuro das comunicações estava ali. Um aparelho que difundia informações para lugares longínquos, as pessoas já não precisariam contar apenas com o ‘boca-a-boca’ para se comunicarem. Será que o rádio acabaria com a necessidade de se ler um jornal? E o que dizer do sentimento de pânico quando a TV foi criada, no século XX. Seria o fim do Rádio? Com o surgimento da Televisão, os teóricos mais apocalípticos acreditavam que o rádio, nem mesmo o jornalismo impresso se sustentariam, diante da caixa iluminada que colocava pessoas dentro de nossas casas. Agora, Século XXI, nossa discussão se acirra. Agora temos também o Mundo On-line. A internet, que vem engolindo todos os demais veículos. Rádio, TV, Impresso. Mas será que, como antigamente, podemos perguntar: Será que com a internet, tudo vai acabar? Neste ensaio, vamos levantar problemáticas relacionadas ao Jornalismo Impresso, que vamos considerar como Jornalismo Off-line e o Jornalismo On-line. Nossa discussão inicia com um breve resumo histórico do surgimento do Jornalismo Impresso e da Internet. 1. A historia do jornalismo Impresso

O jornalismo impresso surgiu com os boletins oficiais nas civilizações antigas como Grécia, Egito, Babilônia e com a queda do Império Romano e o fim do feudalismo. A chegada do Renascimento e do mercantilismo, aliada ao surgimento do comercio, fortaleceu o jornalismo, pois a necessidade de difusão de informações se tornou necessidade.

Com a invenção da imprensa por Gutemberg, em 1440, se deu inicio a impressão de livros e jornais em maior escala. O primeiro livro foi a Bíblia e os jornais foram semanários. Embora a “tecnologia” tenha surgido no século XV, na América, o desenvolvimento do primeiro jornal só aconteceu em 1690, era o The Public Ocurrences, 85 anos após o surgimento do jornal na Europa. Os jornais nesta época eram feitos por grandes nomes como Benjamin Franklin, Jonh Adams, Thomas Jefferson e Alexander Hamilton. Com a Revolução Francesa e Industrial é que surge o jornal moderno, já nos séculos XVIII e XIX. A produção em larga escala, a criação de impressoras mais modernas, o aumento do público nos grandes centros urbanos, o comercio e a publicidade, fizeram prosperar e difundir o jornalismo impresso. Com isso o preço foi barateado e mais pessoas tiveram acesso. Com todas essas transformações o jornalismo se tornou mais profissional e menos literário, com normais e padrões de escrita e linguagem mais acessíveis. No Brasil, o jornalismo começou em 1808 com a chegada da Corte Portuguesa. O primeiro periódico foi O Correio Brasiliense, editado em Londres, pelo jornalista Hipólito José da Costa e em seguida o jornal de situação, a Gaseta do Rio de Janeiro, editado pela imprensa régia. Os jornais brasileiros sempre travaram batalhas políticas, mas o século XIX foi marcado também pelo jornalismo literário, com a presença de escritores como José de Alencar e Machado de Assis.

Já no século XX, viu-se a evolução do jornalismo e a renovação tecnologia, como também a ampliação da pauta, com a introdução de assuntos internacionais em curto espaço de tempo. Surgem os grandes jornais, como The New York Times, Le Figaro e

The Sunday Times. No Brasil, são os grandes diários, como a Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, O Globo e Estado de São Paulo. Como também, o surgimento da revista, com reportagens mais interpretativas.

2. A história da Internet

Com o término da Segunda Guerra Mundial e o início da Guerra Fria, o Século XX, via nascer um fenômeno que transformaria o Mundo, a Internet. Com a disputa entre União Soviética e os Estados Unidos acirrada, as potências buscaram cada vez aperfeiçoar suas aptidões técnicas, armamentistas e reforçar suas parcerias mundiais.

Com a aceleração dos equipamentos técnicos, a população começou a ter acesso a tecnologia culminando em uma revolução de hábitos e costumes. A Ciência passou a fazer parte do dia-a-dia das pessoas, sobretudo nas áreas urbanas.

Diante dessa Revolução, em 1969, surge a Web, visando permitir de forma segura as trocas de informações entre os militares Norte-americanos. Um característica forte da Web é a descentralização da informação, o que ajudava a manter as informações mais seguras e sigilosas.

O pai da Internet é Bob Taylor, que trabalhava no Departamento de Projetos de Pesquisa Avançada da Agência de Defesa Americana e fez funcionar os computadores em rede. Em seguida, em Los Angeles , na Universidade da Califórnia, foi criado o processador de mensagens, depois as redes cooperativas que deram acesso à Internet a sociedade e deixando se ser exclusivamente de uso militar.

Na década de 70 e 80, o desenvolvimento do micro-computador impulsionou ainda mais a popularização da Internet, principalmente com o surgimento do Computador Pessoal, passando a ser instrumento de consumo para as mais variadas necessidades, como comunicação, criação e entretenimento. Nesta época, o único empecilho era o preço, que era altíssimo.

Com isso, um número cada vez maior de pessoas começou a ter acesso a ferramenta, que iniciaram trocas de informações via Internet. Nas décadas de 80 e 90, com os avanços da microeletrônica, a Internet ganha o suporte necessário para se expandir e se baratear e provocar mudanças significativas nas telecomunicações .

Hoje a Web, se tornou um fenômeno que se interliga através de cabos, linhas telefônicas, satélites, microondas e fibras óticas, deixando as pessoas cada vez mais cidadãs de um Mundo on-line. Também o surgimento da World Wide Web possibilitou uma ordem no espaço, que até então ainda era caótico e facilitou a pesquisa de sites. No Brasil, a internet veio se consolidar em 1995. Desde então, a rede vem crescendo. De acordo com o artigo Internet, jornalismo e weblogs: uma nova alternativa de informação, os dados de 2003 do Comitê Gestor Nacional, falam que o crescimento da web no Brasil é duas vezes maior do que a média mundial e que o País está em terceiro lugar no ranking de países do continente americano com o maior número de computadores conectados, ficando atrás somente dos Estados Unidos e Canadá. 3. Voltando à Problemática Atualmente podemos constatar que o surgimento do jornalismo on-line tem mudado consideravelmente a relação entre o jornalista – fontes – público. Essas relações se tornaram mais próximas com a utilização desse veículo. A ponto de se questionar se a internet virá a ser o substituto do jornal de papel. De um lado temos o jornal off-line (impresso). Antiga forma de veiculação de notícias, caracterizado por levar o nome de grandes empresas de comunicação. Exemplos como A Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, O Correio Brasiliense. Na Paraíba, citamos o Jornal Correio da Paraíba. São jornais de renome nacional e estadual, que levam o nome e a linha editorial da empresa. O Correio da Paraíba, por exemplo, é o jornal é responsável pelo maior faturamento do Complexo, que conta com uma empresa de televisão, rádio e também Portal, além de ser o de maior distribuição do estado.

Um dos fatores que mais pesam a favor da Internet é a facilidade que ostenta. Mais sem dúvida, a questão financeira é a que mais pesa na hora de escolher. Atualmente, as pessoas não estão dispostas a pagar por algo que elas lerão apenas por um pequeno intervalo de tempo. O problema, é que sem mercado consumidor, o jornalismo não se sustenta, sobretudo o impresso, que é bastante oneroso, pois exige além de gastos técnicos, como impressão, maquinário, etc. Exige também a manutenção do Capital Humano, os jornalistas. Com isso, resta a empresa jornalística conseguir novos mercados que possam acompanhar a tendência dos leitores e que seja competitivo e de baixo custo. É ai onde entra a Internet. No artigo “O Relógio e o Carteiro”, baseado em um texto do jornalista norte-americano da revista New Yorker, Eric Alterman, o jornalista Luiz Weis, no site Observatório da impresa, publicado no dia 02 de Abril deste ano, trás dados importantes quando a essa problemática. O jornalista americano chama o artigo de “Out of print” ou “Fora de circulação, ou esgotado”. O subtítulo também é sugestivo: “The death and life of the American newspaper” ou “A morte e a vida do jornal americano”. O texto trás um apanhado da realidade que envolve o jornalismo americano, que não se distingue muito do que acontece no Brasil e em nenhum lugar do Mundo desenvolvido ou em desenvolvimento. Ele trás os números da crise e diz que houve queda de 42% nas ações de editorias de jornais nos últimos três anos. E cita o exemplo do jornal The New York Times que perdeu 54% do seu patrimônio. Luiz resgata dados e vai além, colocando que de 1990 pra cá, o número de jornalistas empregados caiu 25%. Em seguida, ele trás dados preocupantes: o tempo médio de leituras de jornais nos Estados Unidos não chega há 30 minutos por dia ou 15 horas por mês. E que americanos com idades entre 18 e 34 anos nem sequer lêem um jornal impresso. Este leitor seria da faixa dos 55 anos ficando mais velho a cada ano. O Jornalista trás dados de pesquisas que afirmam que quase 40% das pessoas com menos de 35 anos acreditam que no futuro só vão utilizar a internet para se manterem bem informados e apenas 8% disseram usar o jornal impresso. Para se ter uma idéia dos custos para manter um jornal impresso, o artigo trás que só a sucursal de Bagdá, mantida pelo The New York Time, custa US$ 3 milhões por ano. Tando Luiz Weis, quanto Eric Alterman, apontam a internet como sendo uma das principais causas da crise na qual o jornal impresso está inserido. Para eles, a Web, faz o impresso parecer “um anacronismo, pesado, lento e incapaz de sacar com rapidez as demandas (em mutação) do público”. Eles afirmam que a Internet trás uma democratização a qual os “críticos da grande imprensa”, que eles classificam como elititas, arrogantes, parciais, não podem suportar. Os jornalistas defendem que neste cenário criado pela Internet, não existe mais lugar para o “jornalista de nariz empinado”, que não leva em consideração o que o leitor quer saber e quer dizer. Um dos grandes pilares defendidos pelos Webjornalistas, é a possibilidade de ser mais aberto a manifestações populares. As pessoas podem opinar, mandar sua sugestão, sua foto, seu vídeo. É um espaço que todos podem, ao mesmo tempo, construir a notícia juntos. Agora, o jornalismo impresso trás sobre si uma credibilidade mais ancorada. São pessoas que são levadas a minuciosas apurações de notícia, até pelo fato de se levar até 24h para se publicar. As notícias de um veículo impresso tende a ser mais confiável, pois o período de apuração não é instantâneo, pode sofrer várias modificações até que se chegue a impressão. Na internet não acontece. Assim que se recebe, logo se publica. O que, muitas vezes, é fruto de especulação e não informação. E um ponto negativo da democracia, é que quando não é bem conduzida tenda a anarquia. Não podemos deixar de levar em consideração que nem todas as opiniões contribuem. Muitas delas são opiniões vazias e nada colaboram para a construção da notícia ou para o aproveitamento da discussão.

Sobre esses assuntos, Luiz Weis acrescenta: "O pior (...) não são os insultos e as idéias mal passadas dos leitores que escrevem duas vezes antes de pensar. São as informações falsas que vão ao ar sem passar pelo pente fino dos editores”. E ele compara: “naturalmente, um jornal leva pelo menos 24 horas para corrigir no papel uma barbeiragem (...). Só que, se o erro não for copiado na internet, se espalhará mais vagarosamente”. Por fim, ele conclui que “um jornal sério tende a errar menos do que um site ou um blog que hipoteticamente divulgue o mesmo número de informações em igual período”.

Ele responsabiliza o conselho editorial por isso, que “impõe a repórteres e editores – profissionais, portanto - a servidão de checar as histórias a serem publicadas”, mesmo com a diminuição de contratação de profissionais. Ele vai além e afirma que na Internet “esse controle de qualidade (...) depende, muitas vezes de que um leitor, mais bem informado sobre o assunto em questão, despache um alerta restabelecendo a verdade”. Mas, apesar disso, Erik Alterman conclui algo muito relevante: “Reportagens de verdade, especialmente do gênero investigativo, são caras. Agregação [de textos] e opinião são baratas.” Talvez isso ajude a explicar o crescimento do jornalismo da Web e a falência progressiva dos jornais escritos. Rosemary Bars Mendez, em seu artigo “Jornalismo como processo Histórico”, ela coloca “que o processo tecnológico das redações seja irreversível e incontestável”. E ela afirma “que o jornalismo Informativo impresso não tem que correr, na mesma velocidade da Internet, apenas para adaptar-se ao novo mundo digital”. Para ela, se faz apenas necessário “uma reavaliação de sua essência como meio informativo (...) ressaltando suas potencialidades”. Para ela, o jornalismo impresso, o off-line, precisa passar por uma reformulação:

Com a concorrência dos meios para a transmissão da informação – televisão, rádio e Internet – o jornalismo Informativo impresso tem que ser reformulado, mostrando a informação de forma diferente dos veículos multimídias, com mais detalhes e análises, revestindo-se de profundidade no ato de informar. (MENDEZ, 2002, p.105).

Mendez também dá a receita, quando a afirma que o jornalismo off-line não pode se contentar “com as notícias de ontem, já dissecadas pelos meios eletrônicos. Andrelise Daltoé, em seu artigo “A notícia e sua passagem pelos diferentes meios” trás uma importante discussão se o jornalismo on vai aposentar o off. Ela levanta o questionamento “Isto destruirá aquilo” e usa autores como Pierry Levy, Jean Boudrillard, que trás em sua obra a idéia fixa que a nova mídia, a Internet, iria sobrepujar todas as outras. Ela também estuda Marshall Mcluhan, autor que dá uma importância contemplativa a forma escrita de se comunicar. Como também Umberto Eco, que já possui uma visão mais moderada. Mas, para Daltoé o surgimento de uma nova mídia não precisa necessariamente extinguir a outra.

Uma nova mídia não é apenas uma extensão linear da antiga. O velho e o novo oferecem recursos de informação e entretenimento para grandes públicos, de maneira convincente e a preços competitivos. O que muda é a expansão de recursos. O fato é que a mídia tradicional ainda estará presente por muito tempo. Mas ela será sempre diferente. “Remediada”. (DALTOÉ, 2003, p.08)

Ela em seguida, uma recomendação do autor italiano Umberto Eco, em uma conferência em 2006. A autora afirma que deve se ter muito cuidado quando se trata do desaparecimento do jornal impresso. É que o jornal impresso, pelo menos no momento atual, atende a necessidades culturais, pessoais e sociais que não podem ser satisfeitas com o auxílio do computador. É o caso da necessidade da leitura reflexiva, marcada pela cuidadosa atenção e pela postura meditativa, ao invés da leitura meramente voltada para a necessidade de informação imediata. (DALTOÉ, 2003, p.09) Daltoé no artigo, cita novamente o autor Umberto Eco, que reitera esse cuidado afirmando que devemos ter ao dizer que o jornal impresso simplesmente vai acabar por conta do jornalismo on-line. O autor diz:

Que os computadores estão difundindo una nova forma de leitura e aprendizado, mas são ainda incapazes de satisfazer todas as necessidades intelectuais que provocam... Em meus momentos de otimismo, imagino uma nova geração da era do computador que, obrigada a ler telas de monitores, aprende uma certa forma de leitura, mas sente-se por vezes insatisfeita, e volta-se para um outro tipo de leitura, menos tenso e com objetivos diversos". (ECO, 1996b, p. 2-3).

A autora defende que “alguns jornais são melhores quando apresentados no

formato eletrônico e em hipertexto”. Diante das inúmeras possibilidades oferecidas pela era digital, podemos interligar sons, imagens, textos, de forma mais precisa e criativa, tornando o processo de informação mais dinâmico.

Mas Daltoé alerta: “mesmo assim, não se pode afirmar, apressadamente, que uma tecnologia eliminará a outra, mas antes de pensar a coexistência das duas, com funções diferenciadas e especializadas”.

Ela em seguida cita bons exemplos, que uma mídia não precisa necessariamente desaparecer por conta da outra.

...a fotografia alterou o sentido da pintura, mas não a substituiu; a televisão ocupou certos espaços do cinema, mas não todos; o correio eletrônico criou uma nova forma de comunicação, mas as agências de correios e telégrafos continuam operando. O Jornal, em outras palavras, não precisa necessariamente desaparecer diante da presença do computador porque é uma tecnologia suficientemente flexível para adaptar-se aos novos tempos. (DALTOÉ, 2003, p.09)

A autora afirma ser “ilusório pensar que uma tecnologia automaticamente elimina

a tecnologia anterior”, ela explica que a funcionalidade de uma antiga tecnologia é que a mantém viva. “Quando uma tecnologia permanece mais adequadamente funcional do que qualquer alternativa, não há razão para abandoná-la, a despeito da sua Antigüidade”.

Por fim, Daltoé acredita não na morte do jornal impresso, mas sim na sua transformação, ou seja, na digitalização do jornal impresso. Ela concorda que não é fácil prevê qual o futuro do jornalismo em geral diante do mundo on-line e por fim conclui:

É possível dizer que a Internet não representará o fim do impresso, mas vai, certamente, modificar ainda mais muitas das práticas atuais nas redações (mesmo nas de meios de comunicação específicos online). A forma como se investiga e constrói uma notícia terá semelhanças com o que se realiza hoje; a apresentação será diferente e será necessário um processo, ainda maior do que já ocorre hoje, de adaptação, às tecnologias. (DALTOÉ, 2003, p.09)

Conclusão

Diante da nossa problemática, percebemos que há um longo caminho pela frente. Quem pensa que o jornalismo impresso vai, de uma hora para outra, acabar, está enganado. É certo que o jornalismo on-line torna o consumidor ativo. Principalmente com a introdução de celulares, câmeras digitais, maior acesso à Internet por parte da população.

Hoje já não se trabalha mais com a idéia de leitores e sim de consumidores, ou seja, é um público movido a mudanças e a ampliação de necessidades. Hoje temos pessoas consumindo mais, melhor e com mais velocidade.

E o veículo que mais se adapta a essa nova realidade sem dúvida é a Internet. Mais para isso, é necessário uma mudança profunda não apenas na mídia, mas nos produtores da informação, que são os jornalistas. Até porque, hoje as pessoas não apenas lêem, mas também participam com comentários, com fotos, ou seja, dão a sua contribuição.

No artigo, “Os caminhos do jornalismo online”, de Camila Leporace, ela trás opinião do jornalista Asdrúbal Figueiró, da BBC Brasil, que chama a atenção para os conteúdos que são atualmente veiculados. Para ele, metade do que está nos sites, vindo dos consumidores, não são materiais de qualidade.

Em seguida a autora cita Cássio Politi, ombudsman do site Comunique-se. Para ele “os repórteres das redações de veículos on-line são acomodados em relação aos que praticam o jornalismo tradicional”. Para ele, a perda da prática do repórter de portais on-line irem às ruas, saírem das redações e ganharem o mundo, torna o conteúdo das notícias cada vez menos impactantes.

Politi conclui que “quando um leitor deixa um comentário, ele às vezes está sendo mais corajoso até do que um jornalista que trabalha com internet”. Para ele, o leitor pelo menos “expõe o que pensa”.

O ombusdman vai além e afirma que “o jornalista de veículos online precisa resgatar a capacidade jornalística de fazer denúncias com responsabilidade”, ou seja, ele precisa se espelhar nos repórteres de impresso, que não se acomodam e vão atrás da notícia, do furo. Por isso, que o jornalismo impresso ainda tem um longo caminho pela frente, pois, no geral, o jornalismo off-line não se conforma. Em seu artigo, “Deixemos claro: o jornal impresso não vai acabar”, o analista de sistemas, Leonardo Reis, trás dados de uma pesquisa feita com jornalistas em 1996:

1/3 deles afirmam que o serviço on-line aumentou o interesse dos leitores por seu produto em papel;

46% acreditam que não houve impacto sobre a versão impressa; 14% consideram cedo demais para responder a esta pergunta, e 02% disseram que o serviço on-line causou uma queda de interesse pelo jornal

em papel. Embora os dados sejam antigos, salvo nas grandes redações, em nível de São

Paulo, Rio de Janeiro e jornalismo internacional, o que se vê, sobretudo no jornalismo regional são poucas mudanças, principalmente em áreas cognitivas, como aperfeiçoamento de pessoal, capacitação, etc. É como se operasse com o teclado e a máquina de escrever, que mesmo com a era dos computadores ainda não virou peça específica de museu.

Por fim concluímos que o jornalismo off-line ainda tem um longo caminho pela frente. Mas só se sustentará se for capaz de trazer algo diferente do factual, área que o on-line é mais rápido e mais eficiente.

Cabe ao off-line se ocupar de informações especializadas, de reportagens especiais, trabalhadas, diferenciadas. Trazer uma visão mais crítica, mais opinativa, mais especialista, de forma que acrescente algo que ainda não dado, que tenha um ponto de vista que ainda não foi explorado. Assim, com esse formato diferenciado, ele vai construir necessidade no público consumidor e com isso ele vai continuar sendo necessário e existindo.

A Internet cabe o papel de evolui. Não apenas no acesso, na quantidade, na interatividade, mas também na análise do conteúdo publicado, na apuração dos fatos, no investimento de pessoal e na busca pelo furo. Estar mais próximo da fonte geradora da notícia, o público.

O on-line precisa diferenciar quantidade de qualidade e transformá-la em beneficio a população, com informação mais confiável, com mais credibilidade. Por fim, recomenda-se ainda, o respeito aos demais veículos, principalmente ao jornal impresso, tendo a inteligência se saber que, como nos seres humanos, sempre se pode aprender com os mais velhos. Referências: A criação do Rádio: 70 anos de Rádio no Brasil. Disponível em: http://www.radioclaret.com.br/port/historia.htm. Acesso em 02/04/08. A História do Rádio. Disponível em: http://www.microfone.jor.br/historia.htm Acesso em 02/04/08. BARS MENDEZ, Rosemary. Revista Idade Mídia. 01. ed. UniFiamFaa, 2002. DALTOÉ, Andrelise. http://www.bocc.ubi.pt/pag/daltoe-andrelise-noticia-passagem-pelos-diferentes-meios.pdf. Acesso em: 04/04/08. ECO, Umberto. From the Internet to Gutemberg. 1996. Disponível em: http://www.italinet.com/columbia/internet. html, 10/06/2002. LEPORACE, Camila. Os caminhos do jornalismo on-line. Disponível em : http://www.jornaldedebates.ig.com.br/index.aspx?cnt_id=15&art_id=9111 Acesso em 02/04/08. MATTOSO. Guilherme de Queiroz. Disponível em: http://bocc.ubi.pt/pag/mattoso-guilherme-webjornalismo.pdf Acesso em: 01/04/08. O Surgimento do jornalismo Impresso. Disponível em: http://www.facom.ufba.br/com112_2001_2/buracodaimprensa/subhistimp.htm Acesso em 14/04/08. REIS, Leonardo. http://leonardoreis.wordpress.com/2007/05/30/deixemos-claro-o-jornal-impresso-nao-vai-acabar/ Deixemos claro: o jornal impresso não vai acabar. Acesso em 02/04/2008. VALIM, Maurício. A História da Televisão: da sua invenção ao início das transmissões em cores. Disponível em: http://www.tudosobretv.com.br/histortv/# Acesso em 02/04/08. WEIS, Luiz. O relógio e o calendário. Disponível em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/blogs.asp?id_blog=3&id={A6D722AE-1DC7-4E35-B26F-CA3C44B87197} Acesso em 03/04/08. *Érika Travassos é graduada em Comunicação Social, habilitação Radialismo.

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