Jornalismo Pós-Massivo
-
Upload
bibiana-garrido -
Category
Documents
-
view
252 -
download
32
description
Transcript of Jornalismo Pós-Massivo
Copyright 2016 © by Bibiana Alcântara Garrido
Preparação do texto
Bibiana Alcântara Garrido
Revisão
Bibiana Alcântara Garrido e Antônio Francisco Magnoni
Produção editorial
Bibiana Alcântara Garrido
Arte
Capa: Carolina Ito
Fotografia: Bibiana Alcântara Garrido
Projeto gráfico e diagramação: Bibiana Alcântara Garrido
Garrido, Bibiana Alcântara. Jornalismo Pós-Massivo – As novas formas e experiências da informação contra-hegemônica no Brasil / Bibiana Alcântara Garrido, 2015. 70f. Orientador: Prof. Dr. Antônio Francisco Magnoni Livro-reportagem (Graduação) – Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Bauru, 2015. 1. Jornalismo alternativo. 2. Internet. 3. Comunicação. I. Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação. II. Título.
Sumário
Agradecimentos .......................................................................... 5
Apresentação............................................................................... 6
Jornalismo, direita e esquerda ................................................. 12
A experiência digital ..................................................................31
Mídias, mudanças, comunicações ............................................ 46
O desenvolvimento dos meios analógicos no Brasil............. 50
Hegemonia e contra-hegemonia na comunicação ............... 55
Os movimentos sociais em rede ................................................ 63
Referências ................................................................................ 89
[ 6 ]
Agradecimentos
Em primeiro lugar, agradeço aos meus pais. Por todo o seu
esforço e trabalho que por anos possibilitou a mim e ao meu irmão o
estudo em boas instituições em ensino. Agradeço aos meus pais por
esse caminho que levou aos seus dois filhos a oportunidade de cursar
uma universidade pública.
Ao meu irmão, que ingressa na faculdade quase que ao mesmo
tempo em que saio, agradeço pela companhia nas tardes e
madrugadas na sala de estar, enquanto eu tentava concluir as frases
finais deste livro-reportagem.
Agradeço aos meus avós, que lá do Mato Grosso do Sul
sempre se fizeram presentes e apoiadores na minha formação, desde a
primeira vez em que quis ser jornalista.
Agradeço ao meu orientador que me acompanhou desde o
início, à Fapesp pelo fomento da pesquisa que se tornou livro, e à
Unesp, que foi onde tudo isso aconteceu.
Aos rostos e sorrisos que me acompanharam nesses quatro
anos de faculdade, vocês fizeram desta uma experiência maravilhosa,
cheia de aprendizado, de alegrias e tristezas, de fins e de recomeços, e,
acima de tudo, cheia de amor.
Os bares de fim de semana – de dia de semana e depois da
aula também – as festas de república, as viagens, os planejamentos de
viagens que ainda não aconteceram (olha lá, hein?). Uma conversa no
corredor, um olhar de risada. Um abraço, um beijo. Aquele futebol
feminista de segunda e quarta. Levo tudo comigo.
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 6 ]
Apresentação
Poderíamos definir a internet como uma plataforma digital de
alcance mundial, e que reúne em sua intangível e potente teia de bits a
incrível capacidade trafegar dados em incontáveis canais simultâneos.
Dados que são capazes de difundir imensos volumes de mensagens
escritas, sonoras, imagéticas e audiovisuais. Além disso, a internet é
capaz de realizar uma proeza impossível para qualquer veículo da era
analógica: manter usuários conectados em suas redes e com acesso
contínuo aos diversos fluxos e tipos de informações. Ou seja, cada
internauta pode receber e enviar mensagens em tempo real, conforme
as suas demandas e disponibilidade de tempo. A internet é, acima de
tudo, um sistema informático de transmissão de dados binários, um
veículo público com fluxos multilaterais e instantâneos.
A maioria das sociedades atuais está cada vez mais
dependente dessa nova rede conectiva, das ferramentas e dos
dispositivos multimidiáticos – estes, produzidos pela evolução da
pesquisa científica, das tecnologias digitais e pelas acirradas disputas
comerciais que movem o mercado informático. Os sistemas virtuais e
as redes sociais do ciberespaço têm servido como ambientes e
ferramentas laborais bastante aptas para realizar inúmeros tipos de
atividades produtivas, individuais e grupais, simbólicas e materiais.
O alcance mundial da internet como “teia informática”
favorece, de modo nunca visto e pensado na história, a interação
humana e as diversas formas de relações interpessoais. É uma lástima
que a ferramenta mais potente, versátil e abrangente produzida pelo
conhecimento científico contemporâneo e por suas tecnologias
avançadas, tenha sido concebida como um instrumento militar, para
inicialmente atender aos objetivos táticos da Guerra Fria, na segunda
metade do século 20. É por isso que a produção de plataformas
informáticas permanece majoritariamente controlada pelas grandes
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 7 ]
potências capitalistas e por suas corporações transnacionais. O
objetivo? Conservar todas as formas hegemônicas de controle das
sociedades contemporâneas, nos planos econômico, político, cultural,
ideológico e militar.
A internet serviu primeiramente, nos anos 1970, aos sistemas
de automatização de produção industrial de bens materiais. Foi a
partir do desenvolvimento dos primeiros consoles de videogames e da
comercialização dos microcomputadores pessoais, que a informática
alcançou os diversos setores de produção simbólica. O entretenimento
e o consumo de massa, que são instrumentos especializados de
alienação, passaram a adquirir, com as redes e os dispositivos digitais,
abrangência infinitamente maior que os veículos e os produtos
comunicacionais produzidos na “era analógica”.
A partir dos meados da década de 1990, a internet comercial
tornou-se essencial para a consolidação da globalização financeira.
Iniciada com duros ajustes ultraliberais nos Estados e nas economias
nacionais da Inglaterra, França, Espanha, Portugal, Itália, Grécia e
também dos Estados Unidos, lançou os demais países do continente
americano em meio ao furacão neoliberal. A expansão da rede
mundial de computadores facilitou de maneira alarmante a criação de
sistemas de controle social com o uso de instrumentos de espionagem,
prática ilegal adotada principalmente pelos Estados Unidos e os seus
aliados estratégicos. Casos como o do analista de sistemas Edward
Snowden, que denunciou o sistema de vigilância global da Agência de
Segurança Nacional dos EUA, e da organização Wikileaks, que publica
informações confidenciais vazadas de governos e/ou empresas, são
exemplos de como o ativismo pela internet tenta quebrar aos poucos a
hegemonia desses grupos.
É por esta razão, que uma das principais intenções deste livro
é analisar as novas iniciativas que poderão conduzir a produção
jornalística pela internet, apesar dos perigos e contradições presentes
na rede e para além da difusão de conteúdos informativos com
finalidades meramente consumistas, ideológicas e mercadológicas. É
preciso pensar mais detidamente e de maneira assertiva e crítica, nas
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 8 ]
verdadeiras funções sociais, políticas e culturais do jornalismo no
momento de predomínio comunicacional das redes sociais, e de
agravamento da crise dos modelos de sustentação econômica do
jornalismo comercial.
O jornalismo é um legado da modernidade liberal, um antigo
arranjo profissional que foi sendo moldado para captar anunciantes e
viabilizar a apuração e a publicação de informações de utilidade
pública e também de interesse dos setores dominantes. Na lógica das
sociedades democráticas, notícias, notas e reportagens da “imprensa
livre” deveriam servir primeiramente para informar e formar cidadãos
conscientes, muito mais do que consumidores iludidos, como acabou
ocorrendo durante toda a “era moderna”, com os meios comerciais de
informação e de entretenimento.
Jornalistas críticos, organizações de trabalhadores rurais e
urbanos, movimentos sociais, organizações não governamentais,
militantes intelectuais e artísticos e tantos outros segmentos da
sociedade civil têm buscado, em contrapartida, realizar uma
interlocução coletiva e participar também da formação de opinião
pública. Desde o início da internet, esta multiplicidade de atores
utiliza de modo crescente os canais e ferramentas de comunicação que
estão disponíveis na internet para desenvolver alternativas à
comunicação brasileira. Experimentos que acumulam conhecimentos
diversificados e amadurecem novas possibilidades autenticamente
coletivas, plurais e públicas de comunicação contra-hegemônica.
Este livro-reportagem, resultado de uma pesquisa de iniciação
científica que começou em 2013 com a análise da produção noticiosa
acerca das Jornadas de Junho, estuda as alternativas construídas pelo
jornalismo que está fora do status quo. Os desdobramentos dos fatos e
das coberturas jornalísticas que foram o objetivo central da pesquisa
não poderiam, de forma alguma, escapar à nossa discussão, seja sobre
os vieses e a presumida crise do jornalismo comercial, seja sobre as
novas possibilidades que permitem o desenvolvimento sistemático e
sustentável de muitas iniciativas de projetos de jornalismo social, ou
“alternativo” como foram denominadas as publicações de resistência
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 9 ]
política e social, desde o período da ditadura civil-militar de 1964. São
temas e questões sociais, políticas e culturais, que estão mais
pulsantes e empolgantes do que nunca. O jornalismo alternativo na
internet movimentou a opinião pública brasileira, incomodou os
oligopólios midiáticos comerciais e os setores dominantes privados e
governamentais, ajudou a organizar e mobilizar a população
interessada naquelas reivindicações das Jornadas de Junho de 2013.
A série de análises noticiosas, de coberturas e reportagens que
puseram a mídia brasileira como objeto central da pesquisa, nos
permitiu obter alguns resultados que serão apresentados neste livro,
que se tornou o produto do Projeto de Conclusão do Curso de
Graduação em Jornalismo, na Faculdade de Arquitetura, Artes e
Comunicação da Unesp de Bauru. A orientação do projeto foi do
jornalista e professor Dr. Antônio Francisco (Dino) Magnoni. A
pesquisa de iniciação científica e o livro-reportagem são os primeiros
ensaios de uma reflexão sobre os rumos do Jornalismo, como área
profissional, de pesquisa, e como ferramenta social.
Para realizar este estudo mais aprofundado sobre o jornalismo
que não depende do subsídio financeiro de órgãos oficiais ou de
grandes empresas, modalidade que classificamos como Jornalismo
Social, por seu caráter político e independente, entrevistamos
profissionais que atuam nesses meios “alternativos” de comunicação.
Uma tentativa de entender como se dá o desenvolvimento, a rotina
profissional e a sustentabilidade estrutural e econômica do novo
jornalismo que surgiu e cresce na internet, e que adquire a confiança e
a colaboração de públicos locais, regionais e até nacional.
O desafio conceitual e político deste trabalho de reportagem
produzido como Projeto de Conclusão do Curso de Jornalismo, é o de
investigar alguns casos de prática jornalística alternativa e
independente, além buscar referências conceituais e experiências
profissionais desvinculadas do padrão informativo produzido pela
indústria cultural capitalista. Para conseguirmos cumprir o objetivo
proposto, buscamos por projetos de jornalismo concebidos capazes de
produzir conteúdos plurais ligados aos reais interesses dos distintos
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 10 ]
segmentos sociais. Portanto, buscamos analisar exemplos de
jornalismo não mais vinculados aos produtos informativos e
publicitários, que são produzidos e sustentados pelos interesses
dominantes, sejam comerciais ou ideológicos. Nossas fontes
consultadas, entrevistadas e apresentadas ao leitor e leitora do livro-
reportagem, são na prática, profissionais de midialivrismo. São
jornalistas sociais da era da internet, são ativistas que acreditam no
jornalismo democrático e independente e buscam por conhecimentos
e por formas econômicas para custear arranjos sustentáveis que
permitam a multiplicação e o fortalecimento das iniciativas
“militantes” de jornalismo social.
Abrimos espaço para portais como a Agência Pública1, uma
organização sem fins lucrativos, que capta recursos para custear a
realização de reportagens de cunho investigativo. Foram também
entrevistados jornalistas do Outras Palavras2, portal de jornalismo de
profundidade e analítico; do Opera Mundi3, de cunho nacional e
internacional, que relata o Brasil voltado para os “diálogos do Sul”; da
Revista Caros Amigos4, que se autodenomina a primeira à esquerda; e
do jornal Brasil de Fato5, ligado à política e aos movimentos sociais
vinculados aos partidos que hoje se posicionam no largo espectro da
esquerda brasileira. Observamos e abordamos outros veículos, não tão
conhecidos nacionalmente e, nem por isso menos importantes para o
desenvolvimento e configuração do jornalismo social e independente.
Assim, decidimos entrevistar jornalistas do projeto Repórter de Rua6,
um coletivo independente de jornalistas que nasceu em Mossoró
(RN), e que tem como foco a “reportagem de rua”, de cunho social e
político, sempre produzidas em formatos multimídia.
1 Para conhecer, acesse: www.apublica.org 2 Ver: www.outraspalavras.net 3 Ver: www.operamundi.uol.com.br 4 Ver: www.carosamigos.com.br 5 Ver: www.brasildefato.com.br 6 Ver: www.reporterderua.org
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 11 ]
O que nos motivou a transformar uma pesquisa de iniciação
científica em um livro-reportagem é justamente o desejo de aproximar
a pesquisa acadêmica da prática jornalística. A iniciativa pode parecer
ao leitor e à leitora um pouco contraditória, e até mesmo dissonante
da abordagem teórica ou da estrutura e da linguagem utilizada em
uma pesquisa inicial. Mas acreditamos que a difusão do conhecimento
produzido pela pesquisa em uma instituição pública deve ir além dos
muros da universidade. Sendo assim, a versão impressa do livro estará
disponível para compra no site do Clube de Autores7, bem como a
versão em e-book, que será disponibilizada na nuvem – aberta para
download gratuito.
O livro-reportagem “Jornalismo Pós-Massivo – As novas
formas e experiências da informação contra-hegemônica no Brasil”
estará mais facilmente disponível para as pessoas que tem a
oportunidade do acessar a internet, algo que, infelizmente, ainda é um
serviço de custo considerável no Brasil e que por enquanto está
acessível para pouco mais da metade da população. Apesar das
dificuldades reais, acreditamos que liberar o acesso de qualquer
publicação de interesse público é sempre um pequeno passo a mais na
caminhada pela defesa do fortalecimento da livre circulação da
informação e das ideias em rede.
7 Ver: www.clubedeautores.com.br
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 12 ]
Jornalismo, direita e esquerda
Discutir a atuação da mídia alternativa no Brasil é um ponto
nevrálgico, uma vez que o tema influencia diretamente os rumos dos
veículos tradicionais, do jornalismo comercial e da profissão
assalariada de jornalista. Diante da multiplicação de comunidades
virtuais e de espaços de comunicação na internet, os grupos da velha
mídia perderam a condição de fontes exclusivas de seleção, captação,
edição e divulgação de informações. Assim, se fortalece o ativismo
individual e coletivo que estimulam a convivência social binária, o
autodidatismo comunicativo e interpretativo de todos os tipos de
informação. As novas mídias que permeiam a internet, com ideias
antes de difícil acesso, estão agora, a um click de distância. Abrem-se as portas para os debates editorial, social, político e
cultural que envolvem as mudanças ocasionadas pelas novas mídias
digitais e que nem sempre são discutidas pelas agendas públicas e
pelos meios convencionais: a maior parte das informações
permanecem distantes do cotidiano das pessoas, que ainda se
informam majoritariamente pelos veículos tradicionais. Uma
transformação ainda em andamento no comportamento do público e
na maneira com que este busca a notícia, mas que não se restringe
apenas aos grupos excluídos dos holofotes da mídia hegemônica. A
“libertação” das amarras do modelo de recepção passiva, criado
principalmente pelo hábito televisivo (JOHNSON, 2001, p. 9-10), se
dá gradativamente em todas as camadas sociais sujeitas ao uso de
tecnologias. É fato que a abrangência tecnológica digital ainda não
alcançou todos os domicílios e tampouco todos os brasileiros.
Desigualdades econômicas e culturais ainda retardam o acesso
universal ao território online e, a exclusão social no Brasil, embora
ignorada por muitos, ainda condiciona diversos fenômenos coletivos.
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 13 ]
Por outro lado, com a popularização dos dispositivos móveis
individualizados, a mediação passa a invadir todos os atos da vida
cotidiana. Ocorre uma crescente virtualização da realidade e até
mesmo as distâncias físicas são psicologicamente diluídas pela
indução de uma presencialidade remota. Há um fluxo contínuo de
busca, seleção e troca de conteúdos entre os usuários, resultando em
uma verdadeira corrente interpretativa, que se manifesta na forma de
comentários e curtidas nas redes sociais. Entre os muitos ambientes informativos e opinativos
existentes na rede mundial de computadores, ainda predominam os
conteúdos produzidos por jornalistas reconhecidos pelo público,
embora já existam muitos sites e blogues de sindicatos, de coletivos de
ativistas, de movimentos e organizações sociais que são produzidos
com finalidades semelhantes à antiga imprensa comunitária, cultural,
religiosa partidária ou sindical. O que diferencia a nova geração de
meios “alternativos”, é que eles circulam em uma plataforma com
difusão multilateral de informações que podem ser acessadas ou
contestadas em tempo real, fator que facilita, barateia e viabiliza a
produção colaborativa de conteúdo, que pode ser disponibilizado em
linguagem escrita, fotográfica, sonora ou audiovisual. Isso acaba
permitindo o aparecimento de um público com interesse em
informações mais dirigidas ou mais detalhadas e que manifesta
oposição nítida às práticas mercadológicas, hegemônicas ou
ideológicas do jornalismo dos grandes meios comerciais.
É o jornalismo pós-massivo (LEMOS, 2007), pós jornalismo
de massas, que descentraliza o fluxo informativo e apresenta aos
produtores e receptores da notícia a possiblidade de um trabalho
conversacional mais aberto, um trabalho ativo de ambos os lados.
Diferentemente atua a mídia massiva, que é mantida por concessão
pública, verbas publicitárias e patrocínios, e que alimenta
consumidores da informação para criar uma esfera de opinião pública
favorável aos grandes grupos políticos e grandes empresários.
A relativa autonomia informativa que a internet e as suas
redes sociais possibilitam acaba por fomentar as crescentes formas de
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 14 ]
resistência que os cidadãos e cidadãs tendem a oferecer em
contrapartida ao controle midiático. As respostas objetivas às
tentativas de controle ou de manipulação das informações se
expressam nas muitas iniciativas de construção de caminhos
alternativos (KLEIN, 2007), no nascimento de espaços de jornalismo
ou de divulgação noticiosa contra-hegemônicos, na consolidação de
resistência aos meios defensores do status quo no Brasil. Não por coincidência, as épocas em que a imprensa
alternativa foi mais reconhecida pelos brasileiros e brasileiras
continuam sendo as de enfrentamento político e ideológico, como a
ditadura militar de 1964, a ditadura Vargas dos anos 1930, e até
mesmo as grandes greves do movimento operário, já no período da
redemocratização brasileira. Daí em diante as águas do jornalismo
brasileiro se dividiram entre a mídia tradicional, sempre mascarada
pela pretensa imparcialidade, e que ainda consegue esfregar os seus
vieses conservadores nos narizes do público; e a mídia alternativa, que
quebra a espiral do silêncio8 construída pela grande mídia e
arduamente milita pelos movimentos sociais - comumente apagados
das grandes manchetes. Tais representações e realidades se mostram, ou melhor, se
escondem em um emaranhado de subjetividades, em um contexto
sinuoso que conduz até os cidadãos mais críticos ao pensamento
equivocado de que o jornalismo alternativo ou contra-hegemônico, só
é viável ou justificável em períodos autoritários e de conflitos políticos
e sociais. Neste livro, procuramos mostrar exatamente o contrário. O
ativismo no ciberespaço tem dado cada vez mais lugar, fundamento e
demanda social para as produções de jornalistas independentes, sem
falar na redução significativa dos custos de produção, de circulação e
8 Espiral do silêncio é uma teoria da ciência política e da comunicação de massa, que foi proposta pela cientista alemã Elisabeth Noelle-Neumann em 1977. O termo faz referência ao silêncio sobre a opinião das minorias frente às opiniões dominantes. Esse comportamento gera um ciclo progressivo de silêncio, denominado de espiral.
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 15 ]
do notável aumento de abrangência, difusão e divulgação que as
plataformas digitais permitem. O crescimento da produção informativa contra-hegemônica
abre espaço para as mais diversas análises, pesquisas e
principalmente, novas possibilidades para os jornalistas e para o
jornalismo brasileiro independente. Hoje, quando observamos
empiricamente os hábitos de familiares, de amigos de colegas ou de
um grande número de pessoas no cotidiano das cidades, constatamos
que a maioria delas carrega e espia com frequência as telinhas de
dispositivos digitais e já não lê jornais ou revistas durante os espaços
de tempo livre. A captação individual das informações de interesse
cotidiano, aparentemente, passa a ser feita de maneira mais dirigida,
muito menos genérica e diversificada, como ocorria com o jornalismo
impresso ou pelo rádio e a televisão, na era da difusão de informações
por meios exclusivamente analógicos. São 67% dos internautas
brasileiros os que acessam a rede com o objetivo de se informar, de ler
notícias (PESQUISA BRASILEIRA DE MÍDIA, 2015), enquanto que 7
em cada 10 internautas já ficaram sabendo de movimentos sociais pela
internet - a maior parte que tomou conhecimento dessas iniciativas
buscou mais informações nas redes sociais (F/RADAR, 2015).
As pesquisas sobre novas maneiras de as pessoas consumirem
informação pela internet, em casa ou pelos dispositivos portáteis,
inevitavelmente nos conduzem ao questionamento do atual cenário de
crise dos veículos, dos suportes e produtos comunicativos da
denominada “velha mídia analógica”. Nos desafiam a pensar novos
cenários e possibilidades para a comunicação midiática informativa na
era digital e online, principalmente, quando vemos as rápidas
alterações dos dados periódicos de consumo de mídia pelos
brasileiros. Os resultados anuais mostram que um número crescente
de pessoas habituadas a ler veículos jornalísticos impressos, a ouvir
notícias pelo rádio ou televisão, está deixando de se informar pelos
antigos veículos para passar ao consumo de informação via online.
As modificações rápidas, abrangentes e definitivas dos hábitos
de fruição midiática pelo público “conectado”, cuja maioria já se
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 16 ]
acostumou (ou já nasceu inserida no contexto digital) a conviver com
a abundância, a diversidade de temas e de linguagens multimidiáticas
disponíveis nas plataformas e nos dispositivos digitais.
A volumosa “inclusão digital” dos brasileiros, ocorrida em
apenas duas décadas de desenvolvimento da comunicação
“internáutica”, é uma progressão social que aguça os sentidos
vanguardistas de todos os jornalistas e militantes por “outra
comunicação, outro jornalismo” mais democrático, mais plural e
próximo da realidade dos cidadãos comuns. A palavra de ordem para
o jornalismo social, alternativo e independente é: que tipos de
produções jornalísticas precisam ser pensadas e experimentadas, para
servirem como modelos capazes de criar de e sustentar, econômica e
profissionalmente, os novos arranjos locais e regionais de
comunicação jornalísticas e de utilidade pública?
De acordo com levantamento divulgado jornal Folha de S.
Paulo no dia 17/12/2014, com base em um relatório da Presidência da
República e dados fornecidos pelo Instituto para Acompanhamento da
Publicidade, o investimento da publicidade estatal concentra-se na
Rede Globo, somando 5,2 bilhões de reais investidos. A empresa é
seguida pela Record, com 1,3 bilhão; o SBT, com 1,2 bilhão; o grupo
Abril, com 523 milhões; a Revista Istoé, com 179 milhões; o jornal
Folha de S. Paulo, com 266 milhões; o jornal O Estado de S. Paulo,
com 188 milhões; a Revista Carta Capital, com 44,3 milhões; e outros
investimentos publicitários de menor valor (FOLHA, 2014).
São bilhões de reais investidos pelo governo federal, pelos
governos estaduais e pelos prefeitos dos mais de cinco mil municípios
brasileiros que demonstram que, na realidade, é com dinheiro público
que se conserva o imenso poder econômico e também político,
ideológico e cultural dos oligopólios midiáticos comerciais, um
faturamento escandaloso, que é líderado pelos veículos das
Organizações Globo Participações S.A. – oligopólios, quando o
controle da produção e veiculação de notícias se restringe a vários
grupos empresariais, ou seja, um número restrito de agentes
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 17 ]
econômicos; monopólios, quando um mercado é totalmente dominado
e coordenado por um único agente econômico.
Os veículos da mídia alternativa e “fora do eixo”, que tenta
corajosamente questionar a hegemonia da comunicação brasileira,
sobrevivem de maneira muito diferente da opulência financeira da
mídia “oligárquica”. A manutenção dos pequenos veículos militantes
depende das ações de crowdfundings, que são os financiamentos
coletivos abertos para colaboração do público, e de outras formas
solidárias e populares, utilizadas rotineiramente para captar os poucos
recursos que sustentam as suas muitas ações promovidas de forma
quase guerrilheiras, para produzir o jornalismo pós-massivo, social e
de interesse público.
Apesar das novas possibilidades, as maiores dificuldades para
garantir a periodicidade regular dos arranjos e dos coletivos locais
jornalísticos continuam sendo aquelas de natureza econômica.Os
organizadores das campanhas públicas e dos instrumentos de
captação de recursos para financiamento colaborativo de veículos e de
coletivos independentes buscam por possibilidades para sustentar as
ações desse jornalismo crítico. O principal desafio ainda enfrentado é
o de conseguir se aproximar dos seus leitores-internautas, para
convencê-los a ajudar sustentar de maneira contínua as atividades de
cobertura e de produção de notícias e reportagens, em troca de
informações mais verdadeiras e de qualidade muito superior aos
produtos do jornalismo comercial.
O modelo de produção do jornalismo comercial que
predomina no Brasil é majoritariamente metropolitano, ou seja, a
cobertura das equipes jornalísticas da grande mídia está concentrada
nas capitais estaduais, nas cidades com as maiores populações e com o
maior volume regional de grandes anunciantes. Esta configuração de
concentração da cobertura jornalística e de informações diárias de
interesse público, é priorizada pela imprensa e mais ainda pelas redes
de rádio e televisão, que são veículos de mensagens imediatas com
grande abrangência populacional e territorial.
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 18 ]
Para os grandes meios comerciais, uma infinidade de assuntos
e acontecimentos das pequenas e médias cidades brasileiras, que são a
maioria dos municípios em todos os estados da federação, é
substituída pelas pautas triviais, ou pelos problemas recorrentes, que
só dizem respeito para os habitantes das cidades grandes. São as
metrópoles e os conurbados que concentram a atenção noticiosa,
porque são as regiões econômicas com mais concentração de fontes
publicitárias. Sedes político-administrativas de poderes públicos com
orçamentos mais volumosos e capazes de assegurar, sem muito
investimento para a captação, o faturamento mensal de suas empresas
capitalistas. Em plena era da digitalização dos meios de comunicação,
os antigos modelos midiáticos tentam conservar, sem profundas
alterações, a hegemonia dos seus projetos econômicos que agem
diretamente no universo cultural e ideológico de todos os brasileiros.
A informação local do terceiro milênio tem que ser uma informação
de qualidade, plural, participativa, imaginativa, que explique o que
acontece no âmbito onde está sediado o veículo de comunicação, para
quem informa e que narre o que afeta e interessa os habitantes desse
território espacial, inclusive, quando se produz fora. A informação
local do terceiro milênio deve promover a experimentação e
converter os cenários de proximidade em lugares de comunicação
eficiente e lugares de onde possam ser exportadas novas linguagens e
formatos para a comunicação mundial. (LÓPEZ GARCÍA, 2008, p.
34, tradução livre)
No Brasil, é necessário verificar a distribuição territorial dos
veículos existentes, a abrangência e a pertinência de suas coberturas
jornalísticas, que reproduzem, em qualquer região do país, as mesmas
pautas diárias e os agendamentos metropolitanos, sejam nacionais ou
internacionais, e ignoram os acontecimentos de mais da metade da
população, que vive nas pequenas e médias cidades e nas enormes
áreas rurais que as circundam.
O desafio dos jornalistas independentes é transformar os
novos espaços noticiosos da internet em iniciativas permanentes e
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 19 ]
profissionalizadas, que sejam financiadas regularmente por um
público convencido da importância de manter e de fortalecer um
jornalismo que se diferencie da produção metropolitana. Quando
amadurecer esta nova cultura, o público com poucos clicks poderá
contribuir financeiramente e sustentar espaços noticiosos mais
democráticos e mais plurais, que aqueles dos veículos convencionais.
Uma vez que grande parte da informação e do conteúdo está
em livre circulação na internet, é bem verdade que o aumento do
público desses canais jornalísticos não é garantia de apoio financeiro.
Mesmo que tenhamos hoje mais pessoas interessadas nos debates
sobre os efeitos problemáticos da influência dos oligopólios midiáticos
no nosso cotidiano, elas ainda não despertaram para a necessidade
estratégica de sustentação popular de um jornalismo social, mais
coletivo e independente dos interesses dominantes, sejam eles
políticos, econômicos e ideológicos.
Nesse sentido, o papel da comunicação denominada
alternativa ultrapassa a simples concorrência de mercado. Desde a
ditadura de 1964, as atividades jornalísticas que não se encaixam no
jornalismo tradicional, são consideradas um tipo de jornalismo “fora
da caixa”. A partir daí, surgiram nomes como “alternativo”, “popular”,
“dialógico”, “comunitário”, “contra-hegemônico” para complementar a
profissão que deveria por si mesma abranger todas essas dimensões,
mas que muitas vezes precisam ser especificadas devido às visões
conturbadas que foram construídas com o passar dos anos, pelo
jornalismo defensor do status quo.
Durante a pesquisa de iniciação científica realizada entre 2013
e 2015, muitas vezes esbarramos na dificuldade de encontrar teorias
mais completas e consistentes para categorizar as diversas formas de
jornalismo praticadas nos veículos informativos que se desenvolveram
no Brasil, sobretudo a partir dos anos 1960. Era algo que vínhamos
fazendo desde o princípio da pesquisa e que eventualmente provocou
questionamentos, porque, por um lado, as prioridades e finalidades
dos diversos padrões brasileiros de jornalismo podem ser
completamente antagônicas, e, por outro, a divisão e as
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 20 ]
nomenclaturas diferentes podem passar a ideia de que um padrão de
jornalismo é mais “sério” ou mais “verdadeiro”, do que o outro.
Para Marina Amaral, jornalista fundadora da Agência Pública
de Notícias, a verdadeira diferença entre os padrões ou entre os tipos
de coberturas praticadas no Brasil decorre da maior ou menor
liberdade de pauta e abordagem dada pelos veículos aos seus
repórteres, e não somente do fato de a mídia comercial ter vínculos
com grandes empresas, já que o financiamento vindo de fora pode ou
não interferir na linha editorial do veículo.
A Agência Pública é uma agência de jornalismo investigativo
que é parcialmente financiada por grandes fundações internacionais,
mas a jornalista Marina Amaral afirma que os financiadores privados
e estrangeiros não interferem na pauta e nos conteúdos das
reportagens da Pública. Entretanto, no caso da Rede Globo, ou da
Revista Veja, podemos constatar um grande bloqueio às críticas ou
apurações de denúncias e outros assuntos relacionados aos partidos
políticos e empresas financiadoras desses veículos. “Os jornalistas
sempre partiram da experiência de fazer o que podem fazer por eles
mesmos: a notícia seja onde for”, afirma a jornalista em palestra
pública sobre o Jornalismo Independente, realizada no Serviço Social
do Comércio (Sesc) de Bauru no dia 26 de agosto de 2015.
Essa visão de compromisso com a apuração dos fatos reflete o
cotidiano de jornalistas, como a própria Marina Amaral menciona no
decorrer de sua palestra. Os profissionais que vão trabalhar na mídia
tradicional, lá permanecem, na maioria das vezes, pelo salário e
estabilidade, mas não pelo alinhamento ideológico com esses grupos.
A grande mídia só repercute pautas polêmicas quando tem
interesses econômicos e políticos em jogo, ou quando avalia que vai
obter grande repercussão – casos como o projeto de uma deputada
para estabelecer regras de vestimentas para as mulheres que
frequentam o Parlamento, ou até mesmo da saga dos casos de
investigação de corrupção governamental apuradas pela “operação
Lava Jato”. Porém, não toca em assuntos que envolvam organizações
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 21 ]
mais fechadas como a polícia militar, algo que a Agência Pública fez
em uma grande reportagem recentemente9.
“O financiamento do jornalismo independente por fundações
é para mudar a narrativa do mundo. As pessoas não mudam porque
recebem as informações erradas”, argumenta Marina Amaral.
A Agência Pública não é a única organização brasileira a
receber auxílio de fundações como a Fundação Ford e a Open Society,
também o Observatório da Imprensa recebe dinheiro da instituição.
Se a Open Society revê suas subvenções, cujos beneficiados incluem
ainda organizações como o Centro Knight para o Jornalismo nas
Américas, no Texas, e a Associação Brasileira de Jornalismo
Investigativo (Abraji), a Fundação Ford segue firme na área de
“democratização da mídia”, que começou a se desenvolver na última
década, segundo Mauro Porto, coordenador do projeto dedicado a
“mídia e liberdade de expressão” na instituição. Há mais de meio
século no país, a Fundação Ford tem linhas tradicionais de doação,
como direitos humanos e igualdade racial. “A área mais nova, que é
de acesso à mídia, tem um portfólio de doações principalmente para
organizações da sociedade civil”, diz ele. Além da Pública, do Centro
Knight e da Abraji, lista o Coletivo Intervozes e o Observatório da
Imprensa. As subvenções seguem “dois eixos estratégicos: a
necessidade de atualização do marco regulatório para as
comunicações e o monitoramento de como os meios tratam
determinadas temáticas”. Segundo Porto, o projeto surgiu há dez
anos, quando a fundação avaliou ser “fundamental, para
consolidação da democracia no Brasil, a democratização dos meios
de comunicação”. (...) A exemplo de Abramovay sobre a Open
Society, ele afirma que a Fundação Ford é hoje mantida “única e
exclusivamente pelo seu endowment’”, dotação de grande volume
feita pela família Ford, cujos rendimentos financeiros sustentam
“tudo o que a instituição faz ao redor do mundo e no Brasil”. Enfatiza
que “a fundação não recebe dinheiro de nenhuma empresa nem de
nenhum governo”. (SÁ, 2013, s/p)
9 Para ler, acesse: www.apublica.org/2015/07/treinados-pra-rinha-de-rua
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 22 ]
A Fundação Ford, que hoje tem autonomia em relação à
família Ford e aos negócios mundiais da marca, tem mais de cem anos
de história. No Brasil é presidida pela Nicélia Freire, ex-ministra da
Secretaria de Políticas para as Mulheres. “A Fundação Ford considera
a concentração de mídia como um fator de risco à democracia. Por
isso se dedica atualmente ao financiamento pelo mundo todo, de
iniciativas de jornalismo independentes”, conta. “Hoje em dia
corremos o risco de a sociedade não ter mais noção da realidade, as
pessoas sem informação não podem debater grandes temas. Cada um
tem sua própria fonte de informação e não exige mais a verdade”.
A jornalista, quando questionada sobre que termos poderiam
ser usados para fazer referência a esse tipo de jornalismo,
independente, comprometido com o leitor e com a verdade, sem
interesses financeiros ou ideológicos que causem a omissão de
informações, nos diz que no meio social dos jornalistas que já
trabalham dentro de tais perspectivas, são bastante usadas as
expressões “imprensa nova” e “imprensa online”. De qualquer forma,
ainda que seja mínima, a diferenciação acaba sendo, infelizmente,
necessária para elencar os “tipos” de jornalismos no nosso país.
Os veículos comerciais, sobretudo o rádio e a televisão que
tem grande abrangência e transmitem as suas mensagens consumidas
para letrados e analfabetos, conseguiram tomar conta do imaginário
social da população. Esses, presentes todos os dias na maioria das
casas, nos ambientes de trabalho e durante o deslocamento das
pessoas, puderam construir uma realidade idealizada, estereotipada,
que muitas vezes não descreve com amplitude e profundidade, o que
de fato acontece no Brasil.
Mesmo não cumprindo uma verdadeira e estratégica função
social, esse é o tipo jornalismo mais consumido e reconhecido pelo
público, principalmente pelo fato de ser produzido por veículos que
alcançam a maioria da população, mesmo que eles não tratem dos
assuntos de interesse da maioria das localidades e que não cubram os
assuntos de interesse cotidiano da maioria das pessoas.
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 23 ]
A democratização da mídia eletrônica é uma pauta que vem
sendo debatida pelos movimentos sociais brasileiros desde a luta pela
redemocratização do País. A persistente concentração e a propriedade
cruzada de meios são apontadas como a principal causa da alienação
dos cidadãos, cuja maioria se mantém indiferente aos debates de
assuntos locais ou aos grandes temas nacionais. O jornalismo
independente, que começou alternativo porque resistia à censura e a
desinformação promovida por governos militares ou por neoliberais
interessados em retirar direitos trabalhistas ou em leiloar o
patrimônio público, ainda busca o despertar crítico do público: “Ei!
Nós não somos iguais aos outros veículos alienantes!”.
É necessária uma mudança que revolucione a própria maneira
de entender o jornalismo, que, na internet, adquire cada vez mais uma
característica independente, política, e, por vezes, investigativo. Em
um âmbito mercadológico, as possibilidades estão aí para serem
exploradas. Estamos vivendo em uma nova fase no jornalismo e cabe
aos próprios jornalistas a missão de descobrir como construí-la. Para
além do problema da sustentação econômica, esbarramos também no
da audiência: como atingir as pessoas na internet?
(...) aquilo que um grupo social escolhe como fotografável revela o
que este grupo considera digno de ser solenizado, como estabelece as
condutas socialmente aprovadas, a partir de quais esquemas percebe
e aprecia o real. (BOURDIEU apud CANCLINI, 2007, p. 70)
Bordieu, a partir de seus estudos da sociedade em relação
àquilo que esta fotografa e do que valoriza culturalmente, expressa
uma realidade na qual o indivíduo busca a sua própria afirmação
naquele que é seu semelhante. Durante a busca de informações em
rede, o processo não é muito diferente. O usuário da internet vai atrás
do conteúdo que contempla as suas expectativas, que lhe apetece: se
for para ler notícias em um site de pensamento contrário ao seu,
geralmente é para “falar mal” e criticar, sem fazer uma reflexão mais
séria e profunda sobre o assunto. Para a jornalista fundadora e
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 24 ]
diretora da Agência Pública de Notícias de Jornalismo Independente,
saber como atrair os mais diversos públicos de internautas constitui
hoje um dos grandes desafios para o jornalismo online. “É preciso
quebrar essas barreiras e como é uma pergunta que faço a mim
mesma todos os dias. Acredito que quando o conteúdo é de qualidade,
ele vai além do campo em que já é aceito”.
A facilidade de acesso às notícias na internet diferencia esse
processo de obtenção de informações no sentido que na web a maioria
do conteúdo disponível é gratuito, então, o internauta pode navegar
pelas várias opções de portais sem que os clicks signifiquem um gasto
a mais na sua conta bancária. O leitor assíduo da Carta Capital, por
exemplo, pode dar “uma olhada” no site da VEJA e tomar
conhecimento da cobertura realizada pelo veículo atualmente, ou
pesquisar sobre qualquer assunto, em qualquer data, no acervo
histórico da revista, sem precisar comprar o exemplar físico na banca.
De certa forma, essa possibilidade quase ilimitada de acesso contribui
para a busca de novas fontes de conhecimento fora da massa.
O debate eventualmente se amplifica dentro da sociedade, a
partir do momento em que os espaços de discussão e exposição de
visões de mundo, antagônicas ou não, são democratizados e abertos
para quem quiser (e puder) acessá-los.
A conexão à internet é um ponto importante para a discussão
do jornalismo social, porque a rede está disponível para pouco mais da
metade dos brasileiros, enquanto a outra parte da população segue
excluída das inúmeras possibilidades do ciberespaço. A exclusão
digital é uma possibilidade de debate pela e para a rede, dentre outras
desigualdades, assuntos e pautas polêmicas, que nem sempre são
abordadas ou tratadas devidamente pela mídia hegemônica.
A impressão mais compulsivamente repetida por todos os jornais e
por todo debate intelectual e político brasileiro contemporâneo é a de
que todos os problemas sociais e políticos brasileiros já são
conhecidos e que já foram devidamente ‘mapeados’. Que não se
perceba nenhuma mudança efetiva no cotidiano de dezenas de
milhões de brasileiros condenados a um dia a dia humilhante deve-se
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 25 ]
ao fato de que a desigualdade brasileira vem de ‘muito tempo’ e que
não se pode acabar de uma penada com coisa tão antiga. As duas
teses não poderiam ser mais falsas. Elas também não poderiam estar
mais relacionadas. Elas formam o núcleo mesmo da ‘violência
simbólica’ – aquele tipo de violência que não ‘aparece’ como violência
–, que torna possível a naturalização de uma desigualdade social
abissal como a brasileira. (SOUZA, 2009, p.15)
Apesar de o acesso à internet não estar ainda universalizado no
Brasil, é surpreendente o dado que mostra a rede mundial de
computadores em segundo lugar como meio de comunicação mais
utilizado pelos brasileiros. A pesquisa, realizada em 137 municípios
sorteados entre as cinco regiões do Brasil, contempla uma atualidade
paradoxal do país, na qual apenas 40,3% dos domicílios possui um
computador conectado à internet. E mesmo que essa porcentagem
suba para 50,2% na região sudeste (IBGE, 2012), não são números
representativos para um segundo lugar do ciberespaço entre as
prioridades de informação do brasileiro. A resposta está na
especificidade: poucos domicílios possuem microcomputadores
conectados à internet, mas, 53% dos internautas brasileiros acessam a
internet pelas redes móveis como celulares, smartphones e tabletes
(F/RADAR, 2015).
Podemos concluir, então, que o acesso à internet no país se dá
principalmente pelas redes móveis e aparelhos portáteis, o que não
exclui de forma nenhuma, muito pelo contrário, estimula, o acesso à
informação, seja por meio de links nas redes sociais, aplicativos ou nos
próprios sites dos veículos. De 2013 para 2014 foram 20,5 milhões de
brasileiros que passaram a utilizar dispositivos móveis para acessar a
internet (F/RADAR, 2014), parcela representativa que pode ter sido
influenciada pelos grandes episódios de movimentação e protestos nas
redes sociais das Jornadas de Junho e todo o processo de mobilização
da população que se seguiu. Com mais gente em rede, cresce também o número de pessoas
que tem acesso aos conteúdos produzidos foram da grande mídia, bem
como às pesquisas que demonstram essa realidade, o que favorece a
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 26 ]
busca da informação em fontes diversificadas e, assim, o
conhecimento dos projetos de financiamento coletivo que são vitais
para a manutenção desses veículos online independentes. A previsão
dos jornalistas de crescimento para as doações via internet aos sites de
jornalismo alternativo torna-se, então, viável dado o número cada vez
maior de internautas brasileiros circulando pela rede, se mobilizando
e buscando informações em diferentes fontes.
“As redes sociais contribuem para mudar de opinião a respeito de alguma
mobilização/problema social do seu bairro/cidade/país?”
(Fonte: F/RADAR 2014)
É importante lembrar que por mais diversificadas que sejam
essas fontes de notícias na internet, nem sempre são todas elas
confiáveis. O ciberespaço é permeado de blogues pessoais, com
autores profissionais ou leigos, que muitas vezes exprimem mais a
opinião de quem publicou determinado texto. Não é de fato uma
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 27 ]
informação derivada de apuração e de checagem de dados –
procedimentos padrão em qualquer veículo jornalístico sério.
Os blogues de jornalistas como Altamiro Borges10 e Olavo de
Carvalho11 são bons exemplos da multiplicidade de informações que
estão espalhadas pela internet. As duas publicações demonstram os
conflitos editoriais derivados das “bolhas” ideológicas, que existem no
mundo físico e no mundo digital. Os feeds de notícias das redes sociais
tendem a mostrar ao usuário aquilo que é mais “curtido” enquanto
cada pessoa permanece conectada – uma adolescente que “dá likes”
em todas as publicações de um time ou banda favorita receberá com
maior frequência, os posts daquelas páginas. Da mesma forma, um
cidadão que está acostumado a se informar pela Revista Veja, irá
acompanhar a mesma revista na internet, e seu feed de notícias ficará
“refém” da mesma cosmovisão.
Quem lê Altamiro Borges, que é um jornalista veterano, um
quadro da direção do PCdoB, e que preside o Centro de Estudos da
Mídia Alternativa Barão de Itararé, certamente enxerga Olavo de
Carvalho – e quem lê Olavo de Carvalho – como um indivíduo
tacanho, um “reacionário” de direita. Quem lê o filósofo conservador
Olavo de Carvalho avalia que Altamiro Borges e os seus leitores são
um bando de comunistas e de “petralhas” da pior espécie. Como lidar,
então, com o montante de informação profissional e não profissional
que circula pelos canais informativos da rede?
E como um internauta pode receber uma informação que
esteja fora de sua “bolha” ideológica das redes sociais? Para ambos os
questionamentos, acreditamos que a resposta está em uma mudança
de hábitos cidadãos, algo que já começa a acontecer aos poucos. A
procura pela notícia perde a fixidez neste ou naquele veículo, e isso
ocorre também por conta da organização dos fatos em feeds, sem
contar as próprias conversas do dia-a-dia em que as pessoas trocam
mensagens citando este ou aquele site em especial. Estímulos não
10 Disponível no endereço: www.altamiroborges.blogspot.com.br 11 Ver: www.olavodecarvalho.org
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 28 ]
faltam para uma abertura intelectual no sentido de dar espaço às
novas vozes que surgem na internet e, consequentemente, fora dela.
(...) seria, então, o modelo de desigualdade entre as classes, devido à
apropriação desigual de um patrimônio comum, o mais pertinente
para a Europa, enquanto as sociedades latino-americanas se
mostrariam mais compreensíveis a partir do modelo da diferença,
que implica reconhecer a autonomia irredutível dos indígenas e
outros grupos subordinados? (...) às vezes, o desenvolvimento das
culturas subordinadas dá o suporte para movimentos políticos
regionais, étnicos ou classistas que enfrentam o poder hegemônico e
buscam outro modo de organização social. (CANCLINI, 2007, p. 87-
90)
A visão de que a internet representa uma plataforma mais
igualitária para o jornalismo do que a televisão e o rádio, por exemplo,
não deixa de ser real em vários aspectos. Mas também esbarra, por
exemplo, em possibilidades como a priorização de audiências, do
lucro, a práxis do resultado, que podem surgir em veículos dentro da
rede e, assim, adotar caminhos já traçados pela mídia tradicional, que,
dentre outras coisas, que diariamente coloca o que acontece nas
grandes capitais como uma síntese do que acontece no Brasil.
“Se o jornalismo independente quiser progredir a ponto de
fazer um contraponto real à mídia tradicional terá que romper com
esse modelo”, defende o jornalista Dodô Calixto, repórter do Opera
Mundi, em entrevista concedida no dia 5 de agosto de 2015. “O
caminho, portanto, é investir na comunicação como uma práxis social,
humana e que está inter-relacionada com as relações humanas. Ou
seja, a comunicação dialógica, horizontalizada, que coloca os atores
sociais como protagonistas do processo, instigando-os a produzir,
debater e interagir diretamente com a produção”.
O ciberespaço é um grande canal multidimensional e
multimidiático, que oferece possibilidades para que as notícias
possam se regionalizar de fato, para que os problemas cotidianos de
muitas localidades possam ter a devida atenção jornalística e pública.
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 29 ]
Para que não exista mais no agendamento diário dos veículos, uma
hierarquia geográfica nos fatos divulgados.
Os portais de notícias da nova comunicação online são uma
amostra do cenário que se constrói pouco a pouco no ciberespaço,
uma comunicação alternativa que ganha o fôlego e um canal potente e
versátil para disputar a audiência com os veículos comerciais da
grande mídia. O ideal de jornalismo que dê foco ao cidadão e aos
problemas sociais, sem se importar com interesses políticos ou
econômicos, parece bem utópico quando visto assim, de longe. Nada
muito diferente do que passa pela cabeça de um aluno recém-
ingressado no curso de Jornalismo, que sonha em “salvar o mundo” e
quando pisa na redação, percebe que as coisas não são bem assim.
Não eram bem assim até a ditadura, com risco de morte, um jornalista
poderia alimentar o sonho e a realidade da imprensa clandestina; não
eram bem assim até o primeiro computador conectado na World Wide
Web. Mas como funciona esse jornalismo hoje?
Os novos consumidores de informação, os “nativos digitais”
têm contato com dispositivos informáticos desde muito cedo, seus
comportamentos estão vinculados a um mundo cada vez mais
digitalizado, conectado e imediato. De acordo com a Pesquisa
Brasileira de Mídia 2015 realizada pela Secretaria da Comunicação da
Presidência da República, uma média de 78% a 83% dos
entrevistados, a variar de forma diretamente proporcional ao aumento
da faixa etária, começando com 78% entrevistados dos 16 aos 25 anos
e terminando em 83% dos entrevistados acima de 65 anos, afirmar ler
jornal impresso apenas uma vez por semana (PESQUISA
BRASILEIRA DE MÍDIA, 2015, p. 70). Quando se trata de revistas
impressas, essa variação continua crescente de forma proporcional à
idade, mas sobe para 83% (jovens de 16 a 25 anos) até 91% (pessoas
com mais de 65 anos), que afirmam ler revistas uma vez por semana
(PESQUISA BRASILEIRA DE MÍDIA, 2015, p. 84). Aos poucos, a televisão deixa também de ser priorizada como
fonte de informação das camadas mais jovens – 69% dos jovens de 16
a 25 anos no Brasil afirmam assistir à televisão todos os dias,
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 30 ]
enquanto que esse número sobe para 77% e 78% na faixa etária de 56
a 65 anos e acima de 65 anos, respectivamente (PESQUISA
BRASILEIRA DE MÍDIA, 2015, p.19). Com relação à internet, na faixa
etária dos 16 aos 25 anos 65% dos entrevistados afirmaram acessar a
web todos os dias, número decrescente ao passo que a idade do
entrevistado aumenta: dos 26 aos 35 anos, 50% dos entrevistados
usam a internet todo dia; dos 36 aos 45, são 33%, até chegarmos em
12% de acessos diários das pessoas com 56 a 65 anos, e 4% de acessos
das pessoas acima de 65 anos de idade (PESQUISA BRASILEIRA DE
MÍDIA, 2015, p.53). Os jovens adultos que representam o futuro da sociedade
tornam-se, por hábito, cada vez mais multitarefas, ou, mais
multiplataformas: tornam-se transmídia, na medida em que estão
sempre com o smartphone ou tablet à mão para consultar, confirmar
ou refutar, qualquer informação que lhes apareça pela frente. Durante
as manifestações de 2013, esse novo comportamento abriu os olhos
dos políticos de da mídia tradicional para uma audiência ativa
(DOWNING, 2002) que agora faz questão de ser ouvida, de
compartilhar os seus conteúdos em vídeo, texto, foto, e de participar
da história não apenas como fonte, mas também como quem produz e
é dono de seu próprio discurso.
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 31 ]
A experiência digital
De acordo com a pesquisadora Eloísa Klein (2007) o
jornalismo se define por uma atividade norteada pelo valor de tornar
públicas as informações de interesse público. Neste livro-reportagem,
buscamos justamente destacar a função do jornalismo pós-massivo,
que representa a superação do jornalismo meramente comercial.
Pretendemos aqui retratá-lo como ferramenta social e cultural,
instrumento de construção democrática, emancipatória e cidadã.
Foi durante as Jornadas de Junho de 2013 que a visibilidade
da mídia alternativa da internet brasileira cresceu, e, tanto por isso,
resolvemos dar início a uma pesquisa de iniciação científica
selecionando alguns veículos como a Revista Fórum, o portal Outras
Palavras, o jornal Brasil de Fato e a Revista Caros Amigos como
representantes dessa vertente, para fazer uma análise comparativa das
coberturas das manifestações feitas pela grande mídia, a ser debatida
no último capítulo deste livro.
Esses novos veículos da informação alternativa muitas vezes
ocupam espaços dentro e fora da web, jornais e revistas que mantém
portais de notícias e redes sociais, como a Caros Amigos e o jornal
Brasil de Fato, e que ainda conseguem manter uma fonte de renda
direta vinda das assinaturas de suas publicações. Para os veículos
exclusivamente digitais e que estão começando a ser reconhecidos
pelo público, se inicia uma jornada para encontrar maneiras de se
estabelecer financeiramente, afinal, a base para manter qualquer
veículo de comunicação ativo é assegurar a sobrevivência econômica
de sua estrutura de publicação e a devida remuneração de sua equipe
profissional. Os comunicadores, jornalistas ou não, descobrem
possibilidades de financiamentos coletivos, novas e diferentes formas
de atrair o público, e, até mesmo, para um breve (re)começo, contam
com apoio financeiro de instituições nacionais e internacionais.
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 32 ]
É o caso da Agência Pública de Jornalismo Investigativo,
fundada em 2011, na cidade de São Paulo, por um pioneiro grupo de
jornalistas que decidiu abrir uma agência de notícias independente
sem fins lucrativos. “Fomos a primeira organização desse tipo a surgir
no Brasil. Funcionamos como uma agência, as reportagens são
publicadas por diversos veículos gratuitamente”, conta Marina Dias,
repórter da Agência Pública, em entrevista concedida no dia 1° de
agosto de 2015.
Com um site dinâmico e de navegação intuitiva, a Pública
mantém um diálogo direto com seus leitores e também com outros
veículos de comunicação, já que divulga suas reportagens para serem
republicadas livremente em outros portais de notícia. De acordo com
Marina Dias, somente em 2014 as reportagens da agência foram
publicadas por 400 veículos diferentes.
Reunião de jornalistas na sede da Agência Pública, em São Paulo.
(Foto: Bibiana Garrido)
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 33 ]
São doze pessoas, todas com remuneração fixa mensal, que
formam a equipe que produz todo o conteúdo jornalístico publicado
pela Agência Pública: há duas diretoras, uma gerente administrativa, a
gerente de projetos, uma coordenadora de comunicação, um editor,
um repórter especial, três repórteres, um infografista e um estagiário
de mídias sociais. “Somos uma organização que faz reportagens
voltadas ao fortalecimento do direito à informação, à qualificação do
debate democrático e à promoção dos direitos humanos, então nossos
repórteres se enquadram nesse perfil”, explica Marina Dias.
A agência, portanto, não trabalha com jornalistas freelancers,
como acreditávamos ser comum nos veículos que estão tentando se
“modernizar” – é o caso da Revista Superinteressante, que trabalha
majoritariamente com “frilas”. Como produz materiais que derivam de
jornalismo investigativo, o tempo de trabalho na Agência Pública é
maior: os repórteres demoram em média dois meses para concluir um
trabalho de reportagem pautado.
Foi durante a campanha eleitoral de 2014 que a Pública
ganhou mais visibilidade no cenário da comunicação brasileira. O
projeto “Truco!” realizou uma checagem dos discursos dos candidatos
à presidência, logo após ou até mesmo durante os horários políticos. A
agência questionava em seu site e na própria página do Facebook,
pontos chave apontados pelos discursos políticos de cada aspirante ao
Palácio do Planalto. Inspirado no popular jogo de baralho, o
jornalismo produzido em “Truco!” ampliou o debate ativo sobre as
eleições nas redes sociais e forneceu também argumentos críticos para
os eleitores, com a apresentação de dados concretos e os discursos
anteriores de cada presidenciável.
A Agência Pública começou o ano de 2015 no ritmo que
adquiriu durante as eleições de 2014: lançou um financiamento
coletivo pela internet com o mote “Ocupe a Pública 2015”, iniciativa
que apresentou proposta de diálogo direto com os leitores, que
passaram a votar nas pautas a serem produzidas pelos repórteres.
Depois de postar as reportagens, sempre acompanhadas de discussão
no grupo fechado dos doadores do crowdfunding no Facebook, os
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 34 ]
repórteres fazem um hangout –programa do Google que cria uma
conversa com várias pessoas ao mesmo tempo – com os leitores
interessados em participar. A jornalista Marina Dias defende que é
“muito importante explicar para os nossos leitores que o jornalismo
que fazemos é de interesse público e é essencial que o público financie,
acompanhe e faça parte do processo todo”.
Apesar das campanhas de financiamento coletivo e da
abertura para contribuições no site, a Pública não é totalmente
sustentada pelos seus leitores. Assim como vários outros projetos de
cunho social no Brasil, ONGs e pesquisas em direitos humanos,
desenvolvimento sustentável ou liberdade de expressão (FORD
FOUNDATION, 2015), a agência é também financiada por
organizações internacionais como a Fundação Ford, a Omidyar
Network e a Open Society. O hábito de doar dinheiro para iniciativas
que seguem as linhas de discussão que são estabelecidas pelas
organizações – geralmente envolvendo os temas acima citados, além
de igualdade racial e outras questões sociais – é um ponto que vem
sendo bastante discutido com o surgimento de veículos
independentes, que precisam ganhar dinheiro de formas não
publicitárias, para conseguirem manter em funcionamento as suas
estruturas de produção e de difusão editorial, além de conseguir
remunerar adequadamente os seus profissionais.
Como sobreviver com um veículo profissional e sem grandes
patrocínios? A saída, para alguns, está nos acordos com fundações
filantrópicas juntamente com o financiamento coletivo vindo
diretamente do público leitor. Em entrevista ao Observatório da
Imprensa, Pedro Abramovay, membro da Open Society, declara que o
brasileiro não possui uma cultura de doação, e por isso os veículos
alternativos têm de se desdobrar para encontrar soluções financeiras.
“O Brasil tem o maior número de membros da Avaaz12 [petições
online], está em primeiro lugar, com 5 milhões, mas em doações fica lá
atrás” (SÁ, 2013, s/p).
12 Ver: www.avaaz.org/po
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 35 ]
A equipe da Pública acredita que a vontade e capacidade de
doações dos brasileiros está mudando, e obteve grande participação
do público no crowdfunding realizado no começo de 2015. “A gente
tinha proposto uma meta de 50 mil reais e conseguimos captar 70 mil.
Temos que a todo tempo mobilizar a rede e é claro, tem sempre aquele
frio na barriga: vai dar certo, não vai dar certo..., mas alegria de ver
que as pessoas estão contribuindo e se engajando em algo que elas
acreditam, é muito gratificante”, conta a jornalista Marina Amaral em
entrevista realizada na agência no dia 18 de setembro de 2015.
Marina Amaral, fundadora da Agência Pública de Jornalismo Investigativo.
(Foto: Bibiana Garrido)
O Catarse e o Juntos.com.vc13, plataformas de financiamento
coletivo no Brasil, são exemplos dessa realidade que mostra
crescimento diário no número de projetos enviados e no número de
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 36 ]
doações recebidas por cada um deles, contribuições individuais que
tendem a aumentar de valor de acordo com as “recompensas”
oferecidas pelo autor do projeto de financiamento. Por exemplo, ao
contribuir com dez reais, o leitor ganha um agradecimento público no
site do autor do projeto, mas, ao colaborar com vinte reais, poderá
ganhar uma camiseta, um livro, etc.
Também na cidade de São Paulo, outra iniciativa que entrou
na onda dos financiamentos coletivos foi o portal Outras Palavras, que
já é bem conhecido pelo público por suas reportagens, textos e ensaios
de fôlego, com conteúdos mais reflexivos e analíticos da
contemporaneidade. Comunicação compartilhada e pós-capitalismo
foi o lema escolhido pelo jornalista Antônio Martins, idealizador e
editor do Outras Palavras.
“A política editorial do Outras Palavras não é só contrária ao
capitalismo, é uma busca de alternativas ao capitalismo. Por isso
falamos em pós-capitalismo, porque ele começa agora. A lógica do
capitalismo é o individualismo, o mercado e a competição, então a
partir do momento que você adota uma atitude na sua vida que leva
em conta não somente esses valores, você está adotando uma atitude
pós-capitalista. A gente quer valorizar isso, acima de um orgulho
pessoal ou elitista, mas sim criar condições para que a sociedade
reflita e adote essas políticas no cotidiano”, explica Antônio Martins
em entrevista realizada na sede do Outras Palavras, no dia 18 de
setembro de 2015.
O portal Outras Palavras saiu do papel em 2010, e durante
três anos funcionou com recursos de Ponto de Cultura e de um prêmio
de Ponto de Mídia Livre. Foi em 2013, que a equipe formada por
quatro jornalistas decidiu se arriscar em uma nova forma de
sustentação econômica: o financiamento coletivo. “Não queríamos
fazer uma coisa episódica como um projeto na plataforma Catarse,
mas investir em algo institucional, o Outros Quinhentos, em que, a
qualquer momento, as pessoas interessadas podem apoiar. No
13 Para conhecer: www.catarse.me e www.juntos.com.vc
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 37 ]
primeiro ano obtemos 40 mil reais, e no segundo ano conseguimos
obter 140 mil, o que não é tanto se pensarmos nessa quantia ao longo
de doze meses”.
“Nossa presença no Outras Palavras é um esforço político. Queremos que esse
espaço exista”, Antônio Martins, idealizador e editor do Outras Palavras.
(Foto: Bibiana Garrido)
Com um novo projeto para captação de recursos em 2016, o
Outras Palavras caminha ao lado de muitos outros veículos da
comunicação que estão no ciberespaço, em busca de “aproveitar essas
possibilidades que a internet oferece em favor do jornalismo”.
“Tentamos enxergar maneiras de reconstruir e resgatar o jornalismo
que já não é feito em moldes industriais, mas a partir de redes de
conhecimento compartilhado”, declara Antônio. “Em certo sentido,
isso significa negar o papel do jornalista como intermediário
obrigatório da informação, porque em uma sociedade em rede as
pessoas não dependem mais do produto industrial jornal, que foi
construído no dia anterior em um processo muito contraditório – você
conseguir entregar para milhares ou milhões de pessoas, todas as
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 38 ]
manhãs, uma espécie de recorte de todas as informações que elas
precisam é uma grande conquista. Hoje o jornalismo tem que se
reinventar porque as informações já estão todas disponíveis. Temos
que oferecer para as pessoas não a exclusividade da informação, mas
sermos articuladores nessa rede completamente caótica”.
De modo semelhante ao Outras Palavras, o portal de notícias
Opera Mundi, apresenta reportagens de reflexão e profundidade. No
entanto, suas atividades são focadas na cobertura internacional, com a
proposta de apresentar as relações internacionais de uma perspectiva
de defensa dos direitos sociais e dos direitos humanos. As reportagens
discutem fatores econômicos, sociais e políticos, sob um olhar
progressista. Basicamente,
(...) progressistas são, em primeiro lugar, os governos, as forças
políticas e as instituições que lutam pela construção de um mundo
multipolar, que enfraqueça a hegemonia imperial hoje dominante,
que logre a resolução dos conflitos de forma política e pacifica,
contemplando a todas as partes em conflito, ao invés da imposição da
força e da guerra. (SADER, 2012, s/p)
Publicação da Última Instância Editorial, empresa privada
que faz a gestão e que administra o site, o Opera Mundi se define
como uma mídia digital independente. “Temos anúncios e banners no
nosso site, mas isso não compromete o andamento de nossa proposta
editorial”, explica o jornalista Dodô Calixto, repórter do Opera Mundi,
em entrevista realizada no dia 04 de agosto de 2015. É interessante
destacar que o portal não tem, por enquanto, nenhuma intenção em
realizar campanhas de financiamento coletivo, o que acreditávamos,
antes de fazer as entrevistas com os profissionais desses meios, ser
uma tendência muito forte na área do jornalismo alternativo na
internet, quase que unânime.
Sustentado economicamente por meio de diversos anúncios
publicitários, o site tem uma média de 800 mil a 1,5 milhão de acessos
por dia em sua página, de acordo com dados apresentados pelo
jornalista. O Opera Mundi mantém como público alvo os internautas,
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 39 ]
e por esse motivo, por acreditar no crescimento da informação online
e do acesso do público a esse tipo de plataforma, não revela um
interesse em buscar audiências fora da internet. “É a proliferação do
on-life, que representa o fim do on-line e off-line. Ou seja, todos os
usuários estarão conectados durante grande parte do dia”, explica o
jornalista Dodô Calixto.
O trabalho no jornalismo na internet envolve a segmentação, e
com isso, embora o público seja amplo, acaba frequentando de
maneira mais assídua os sites com os quais se identifica em questões
de posicionamento ideológico e social. Embora as pessoas se
relacionem, compartilhem e leiam com frequência o Opera Mundi,
quando essas visitas ao portal representam um posicionamento
diferente daquele em que o leitor acredita, podem acontecer os casos
do que Dodô Calixto chama de “haters”, uma relação que surgiu
justamente com a internet, que é da audiência de ocasião. No entanto,
o marketing social vê a divulgação de matérias, mesmo que feitas por
pessoas que não estão interessadas na linha editorial do site, ofendem,
avacalham, e provavelmente não voltarão mais a esses portais, como
um acaso positivo, de disseminação do conteúdo.
O jornalismo independente e plural também depende
evidentemente, de uma série de outros desdobramentos. Uma delas é
sobre o que seria exatamente esse tipo de jornalismo, e como
diferenciá-lo dos demais? O que é de fato ser independente e o que é
ser alternativo? Na perspectiva de um jornalista que trabalha em um
desses veículos, quais seriam as visões sobre o futuro dessa atividade,
como sustentá-la de modo econômico, ideológico, político e social?
“É preciso investir em outra concepção da comunicação
social. De imediato, não trabalhar em uma lógica funcionalista da
comunicação, que privilegia resultados, audiência, ‘quantas pessoas
compartilharam e interagiram com nosso conteúdo’. Esse é um
modelo que investe na ideia de emissor-receptor, que, mesmo com
todas as possibilidades de interatividade nas redes sociais, ainda
entende o “público” como aqueles que estão ali para receber o
conteúdo”, diz o jornalista. “Esse é um modelo que surge na
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 40 ]
perspectiva da mediação cultural de Martín-Barbero e, na minha
opinião, é obrigatório para fugir da comunicação como uma prática
mercadológica, individualista e focada nos resultados. Ser plural e
independente demandará no futuro, ter que romper definitivamente
com o modus operandi da mídia tradicional”.
Para o jornalista Guilherme Weimann, militante pelo
Movimento dos Atingidos por Barragens e repórter do jornal Brasil de
Fato, uma constante análise da conjuntura política do país é essencial
para estabelecer um diálogo com a sociedade civil e os jornalistas de
meios alternativos. “É essencial que a gente construa não só um meio,
mas diversos meios contra-hegemônicos para podermos disputar as
ideias, de disputar o imaginário social e cultural da sociedade. O Brasil
de Fato está muito longe disso, e qualquer outro veículo de esquerda
está muito longe disso. Ainda estamos em um processo inicial porque
no Brasil a esquerda nunca conseguiu criar um veículo contra-
hegemônico que conseguisse disputar realmente [com a mídia
tradicional]”, aponta o jornalista e militante.
Uma das saídas encontradas pela imprensa e mídia pós-
massiva no Brasil vem sendo também a conexão com movimentos
sociais, como é o caso do jornal Brasil de Fato, que hoje mantém as
versões impressa e online. O projeto é financiado exclusivamente por
movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST), é independente de patrocinadores de grandes
empresas e busca seguir a linha editorial defendida pelos
trabalhadores e pelos representantes dos movimentos sociais.
Para além do dinamismo dos jornais e tabloides impressos
com o selo “Brasil de Fato – uma visão popular e do mundo”, é notável
a busca de uma dinâmica maior de publicações pela internet. Um
detalhe importante para que as páginas dos movimentos na web
sejam lidas pelos mais diversos públicos é a escolha de cores que não
levem o leitor unicamente para o estigma da “bandeira vermelha”,
mas que apresentem um layout sóbrio e que transmita a seriedade do
trabalho editorial. Guilherme ressalta o risco da perda do diálogo por
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 41 ]
conta do fechamento do veículo dentro de uma “bolha” ideológica. “É
importante procurar enxergar as contradições”, declara.
De acordo com o repórter do Brasil de Fato, o jornal procura
se modernizar e ter mais interações com os leitores na internet. Além
da página no Facebook, o site passará por uma reforma para ficar mais
compatível com os modelos de outros portais de notícias, mais
interativo e com atenção especial para o design.
A Revista Caros Amigos igualmente se coloca entre os veículos
de comunicação impressa que disponibilizam seu conteúdo na
internet e, com isso, afirma o gerente de marketing Pedro Nabuco,
está lado a lado de publicações que ainda proliferam na rede com
informações equivocadas, mal apuradas, que não refletem um
trabalho profissional de jornalista. “Estamos em um momento que a
situação ainda está um pouco confusa na internet, mas acredito que,
aos poucos, essa apuração vai ser maior e as pessoas vão começar a
selecionar melhor esse conteúdo”.
A Caros Amigos é totalmente sustentada pelo dinheiro vindo
das assinaturas de leitores, das vendas em bancas e também dos
anunciantes, a revista se mantém independente em sua linha editorial.
A primeira à esquerda, como diz o próprio slogan da publicação,
começou em 2015 a dialogar com seus leitores por meio de uma
postura mais dinâmica na internet. Uma recente reformulação do
design e arquitetura do site já mostra diferenças nos menus e na
organização mais intuitiva das páginas digitais da revista.
Em um ano de inovações, a Caros Amigos realiza o seu
primeiro financiamento coletivo na internet, uma captação de
recursos que não é direcionada para as edições mensais da revista
impressa. O crowdfunding foi destinado a financiar a produção de
edições especiais, sendo que primeira trata do sistema financeiro e dos
bancos no Brasil. Com uma média de 120 mil visualizações mensais
registradas no site da revista, um número ainda considerado baixo por
Pedro Nabuco, da equipe da Caros Amigos. Em entrevista, Pedro
afirma que a revista procura investir na estruturação da publicação na
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 42 ]
web, e também na criação de projetos que possam atrair mais leitores
para essa plataforma.
Muitos são os percalços a serem vivenciados por uma mídia
alternativa, que antes nanica, agora se reinventa em uma nova
plataforma que não tem limites de abrangência e de tipos de
conteúdos e de linguagens. Os diversos modelos de sustentação
econômica, ainda que experimentais, mostram resultados positivos
que acenam para um futuro promissor para o jornalismo na internet –
e servem de inspiração para aqueles que ensaiam os seus primeiros
passos movidos pela perspectiva de produzir um jornalismo livre de
amarras e transitando sem controles de qualquer natureza, pelos
infinitos e intangíveis canais virtuais do ciberespaço.
É tal ideário libertador que motiva a equipe de repórteres do
projeto Repórter de Rua, um coletivo independente criado pelo
professor e jornalista Esdras Marchezan Sales em dezembro de 2013.
Com origem no estado do Rio Grande do Norte, em Mossoró, o
Repórter de Rua busca experimentações que unam a linguagem
escrita com o audiovisual, na produção de reportagens especiais por
uma equipe de nove jornalistas, além do fundador, produtores
audiovisuais, fotógrafos, designers e estudantes universitários.
Juntos eles elaboram grandes reportagens, por enquanto sem
periodicidade fixa, com uma frequência que se aproxima da semestral.
Isso porque o coletivo atua de forma independente tanto no âmbito
editorial quanto no financeiro, então, os participantes dividem-se
entre os seus trabalhos remunerados fora do projeto e as atividades do
Repórter de Rua, que, de acordo com Esdras, são as tarefas
responsáveis por lhes tomar os finais de semana. A pouca idade do site
é refletida no início financiado pelos seus próprios trabalhadores e que
começa agora a puxar novos pensamentos para o crescimento,
aumento de pessoal, bem como a manutenção financeira do site e a
remuneração dos profissionais que trabalham por ele.
“No momento os custos são todos dos integrantes do coletivo,
não há remuneração. Quando algum material recebe algum tipo de
premiação, o valor é dividido entre os envolvidos, de acordo com o
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 43 ]
trabalho de cada um. Para este ano pensamos em trabalhar com
projetos de financiamento coletivo e editais públicos de forma a
garantir um pagamento justo aos profissionais que realizam os
projetos. Para adesão, aceitamos estudantes ou profissionais que
tenham perfis relacionados com a questão dos direitos humanos e
engajamento social”, conta Esdras Marchezan, que leciona na
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
Reportagem especial do Repórter de Rua conquistou diversas premiações.
(Fonte: www.reporterderua.org)
Em um ano, o Repórter de Rua produziu três especiais:
“Resistência em Palmares”, “Garimpeiros: vida e morte embaixo da
terra”, e “Uma delícia de negócio”. Com eles, a equipe conquistou
cinco prêmios de jornalismo (BNB, TRT/RN, Massey Fergusson, Fiern
e Ministério Público do Trabalho), de acordo com o próprio site do
projeto. (REPÓRTER DE RUA, 2015).
Outros campos que podem ser explorados pelo jornalismo
digital independente já fazem parte dos planos dos jornalistas que
constroem do Repórter de Rua: a questão da produção transmídia
começa a ser estudada como uma forma de levar as suas produções
jornalísticas para fora da internet. Ao mesmo tempo, eles querem
manter o conteúdo da web como principal referência do projeto. As
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 44 ]
reportagens multimídia passarão, então, a ser publicadas em outras
plataformas.
A principal – e, na verdade, única – forma de divulgação das
reportagens, de interação entre o público-leitor e os profissionais é o
contato pelas redes sociais, com destaque para o Facebook. Dessa
troca de mensagens de maneira direta e por comentários feitos na
página do Repórter de Rua, o compartilhamento de ideias com os
leitores é estimulado e as sugestões e elogios, bem como as críticas,
são recebidos abertamente pela equipe. Como o Repórter de Rua tem
como principal foco contar histórias da vida real, da “labuta” do povo
humilde, que praticamente não tem vez na mídia tradicional, a
receptividade da audiência torna-se sensível a essas referências e ao
trabalho realizado. “Acredito que boas histórias, quando bem
contadas, sempre terão público. A apresentação de uma narrativa
jornalística num formato diferenciado atrai um pouco mais a
atenção”, pontua o jornalista Esdras Marchezan. “A questão de buscar
pautas esquecidas pela mídia tradicional é um ponto muito positivo
para o jornalismo independente”.
Por vezes, temos a recorrente a impressão de que as
reportagens produzidas pela mídia alternativa trazem mais verdade do
que as veiculadas pela mídia tradicional brasileira, mas, uma vez
“atingida”, a mídia radical e majoritariamente de esquerda, mostra
também seus interesses políticos em defender ou criticar aquilo que
lhes convém. A Revista Caros Amigos, por exemplo, critica o governo
de Dilma Rousseff (PT) assim como o faz a mídia hegemônica,
enquanto o jornal Brasil de Fato, por parceiras com movimentos
populares e com a militância do Partido dos Trabalhadores, concentra
seus esforços em defendê-lo.
De uma forma ou de outra, a audiência ativa, frente às
diversas vertentes políticas da comunicação, precisa se desvencilhar
da via de mão única do jornalismo, e passar a fazer uso das
ferramentas que agora tem nas mãos, da diversidade de informação e
da própria produção de conteúdo. Só assim, o público conseguirá
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 45 ]
estabelecer uma base sólida de formação de opinião independente do
posicionamento editorial de um veículo ou de outro.
A contra-comunicação, aqui explicitada brevemente em seu
movimento crescente na internet, nos aparece como mediadora no
processo de formação histórica das classes “subalternas” como
produtoras de sua identidade e de seu próprio conhecimento. Muitas
vezes, a construção da cidadania dos setores populares também
depende da disponibilidade de espaços de publicação para divulgar as
notícias importantes para a organização da vida cotidiana dos
segmentos sociais subestimados pelos veículos burgueses. O acesso
cada vez mais ampliado das camadas trabalhadoras às tecnologias de
informação cria possibilidades concretas para os canais pós
comunicação de massa disputarem o poder de alcance e informação
monopolizados por muitas décadas, pela mídia convencional.
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 46 ]
Mídias, mudanças, comunicações
Em meados dos anos 1990, a internet começou a funcionar
como uma rede informática aberta e pública, um sistema digital de
comunicação interativa, em tempo real e com alcance mundial. Desde
o início ela ofertou aos seus fascinados usuários uma quantidade
imensa de canais virtuais para a divulgação de todos os tipos de
informações. O processo progressivo de informatização e de
digitalização foi tornando as interfaces entre os usuários e os
computadores mais amigáveis e eficientes, fenômeno que contribuiu
para transformar a rede mundial de computadores no veículo mais
versátil e abrangente na história da comunicação humana. Os
internautas aprenderam rápido a utilizar interfaces e aplicativos
eficientes, para a produção e a difusão de mensagens e para a troca de
informações em um espaço ilimitado para publicações. O desenvolvimento do ciberespaço, impulsionado pela rápida
expansão das redes da internet, passou a disponibilizar aos usuários
uma grande variedade de ferramentas informacionais versáteis, que
também impulsionaram o crescimento do comércio e da publicidade
digital. A demanda profissional favoreceu a multiplicação de
aplicativos digitais para a produção e edição de uma infinidade de
conteúdos formatados e divulgados como mensagens escritas,
sonoras, imagéticas e audiovisuais.
Em apenas duas décadas (1995-2015) de existência e de uso
coletivo da rede ou teia mundial de computadores, e com o
desenvolvimento global da comunicação multilateral e multimidiática
que ela propiciou, houve mudanças radicais nos sentidos tecnológicos,
culturais e profissionais, em todos os espaços cotidianos e nas
atividades produtivas das sociedades contemporâneas. Entretanto, é
preciso observar que as influências da internet hoje são mais
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 47 ]
facilmente percebidas no campo das relações culturais e interpessoais,
especialmente na esfera da produção, das trocas e fruição simbólica. Para Magnoni, a internet pode ser classificada como um
“hipermeio de comunicação” e de digitalização de suportes midiáticos,
cujo desenvolvimento muito recente ainda gera dificuldades e
estranhezas, especialmente para os profissionais de comunicação e de
informática, como também para o público mais velho que usufrui das
muitas possibilidades objetivas que esta oferece (MAGNONI, 2010).
Os serviços públicos de telefonia e de telecomunicações comerciais, a
comunicação empresarial e corporativa, os meios publicitários de
informação e de entretenimento também mudaram muito em pouco
tempo. Tantas foram as transformações em apenas 20 anos que hoje é
difícil, para quem tem menos de 30 anos, saber apontar todas essas
modificações ocorridas e quais foram os efeitos sociais, econômicos e
culturais que elas provocaram. A rede mundial de computadores formou em vinte anos
gerações de internautas que se tornaram dependentes, conectados aos
sistemas tecnológicos para realizar atividades profissionais, buscar
informações noticiosas, fazer pesquisas escolares e acadêmicas, e
participar de comunidades virtuais. A partir dos anos 2000 houve a
aceleração da convergência midiática, caracterizada pela digitalização
das diversas tecnologias analógicas e também das mensagens de cada
veículo ou suporte. A digitalização ocorreu primeiro e com mais
facilidade na passagem de conteúdos e linguagens noticiosas dos
veículos impressos, jornais e revistas, para a publicação em sites e
portais online, de parte de suas coberturas e produções jornalísticas.
Conforme houve a evolução das tecnologias de streaming, o rádio, a
televisão, os acervos fonográficos e cinematográficos passaram
também a circular sistematicamente pela rede. O Brasil da segunda década do século 21, apesar das
significativas melhorias que têm sido registradas há mais de dez anos
pelos indicadores socioeconômicos, segue um país com enormes
carências. Dentre as desigualdades sociais, de gênero, de etnia e/ou
cor, está a desigualdade de acesso, da conectividade, a exclusão digital
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 48 ]
que vem da lenta e precária universalização da internet domiciliar de
banda larga e também da baixa qualidade de acesso à internet móvel,
oferecidas em troca das abusivas tarifas cobradas pelas operadoras
telefônicas privadas que prestam tais serviços. Apesar dos fatos, cresce consideravelmente o número de
internautas. Em 2015 no Brasil, 65% da população com mais de 12
anos estava conectada de alguma maneira à internet. São 107 milhões
de brasileiros e brasileiras em rede, enquanto que desses, 87 milhões
acessam a internet também por dispositivos móveis (F/RADAR,
2015). Um crescimento significativo é observado se comparados os
números ao ano de 2014, no qual 57% da população acima de 12 anos
estava conectada, e os internautas da rede móvel somavam 62,5
milhões de pessoas (F/RADAR, 2014). Os percentuais de crescimento da internet no mercado
brasileiro são significativos quando comparados com outros veículos
comerciais. Ainda que a expansão e os serviços da internet tenham
sido entregues, pelo governo federal, ao monopólio privado das
grandes multinacionais de telecomunicações. Cabe observar que as
companhias telefônicas adotam para as redes de internet, tanto
domiciliares, quanto móveis, a mesma lógica que utilizam para a
telefonia celular. Elas cobram preços abusivos por conexões que são
de péssima qualidade – as conexões em banda larga fixa somam
apenas 39% do total de acessos no Brasil (TELEBRASIL, 2014) – e
concentram a distribuição de seus serviços somente em localidades
densamente povoadas, onde conseguem obter a máxima lucratividade
da infraestrutura de telefonia, da qual a maior parte já estava
instalada antes da era das privatizações. Além do crescimento do acesso domiciliar, as plataformas
portáteis ajudam a ampliar a audiência do ciberespaço. Os
dispositivos móveis conectados reproduzem uma popularização
semelhante àquela dos anos 1960, com os “radinhos de pilha”. A
portabilidade e a audição individualizada ajudaram as emissoras da
época a preservar o público, a força cultural e ideológica do veículo,
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 49 ]
mesmo com a drástica redução de receita publicitária que açoitou as
emissoras depois do surgimento e da rápida expansão da televisão.
Todavia, diante do atual poderio nacional da televisão aberta,
é possível visualizar uma diferença objetiva entre o rádio e a internet:
provavelmente o primeiro teria sido totalmente absorvido pela
televisão se a recepção de suas estações prosseguisse domiciliar e
grupal, feita em receptores ligados à tomadas. A internet, por sua vez,
dispõe de recursos tecnológicos, midiáticos e econômicos, abrangência
e carisma crescente, para desbancar num futuro próximo, a poderosa
televisão aberta brasileira do topo do ranking de faturamento e
audiência, até porque a rede conta com a audiência preferencial das
gerações que nasceram inseridos no ecossistema do ciberespaço.
É gente que se interessa apenas por padrões e recursos digitais
que sua faixa etária está habituada a utilizar desde a infância. Eles
representam uma porcentagem crescente de pessoas que não lê
jornais, não cultiva o hábito de ouvir rádio com frequência e que
também não sente muita atração pela televisão comercial. Constituem
um segmento social com hábitos e personalidades ainda em formação,
portanto, estão definindo os valores, gostos e preferências individuais
e grupais, que irão predominar na vida adulta.
É por conta da acentuada mudança de hábitos das novas
gerações em relações aos meios, que os aplicativos de comunicação
derivados da internet passaram a representar fontes de preocupações
permanentes para os donos da “velha mídia”. É fato que eles não
haviam previsto nem o surgimento da internet, então, não poderiam
também ter pensado nos efeitos colaterais que a rápida expansão da
rede traria para seus veículos e os respectivos modelos de negócios
que os sustentavam.
O primeiro revés midiático intenso e duradouro para os
veículos analógicos, foi resultante da conjugação de digitalização e
convergência de tecnologias e de conteúdos na internet. A
convergência induziu uma mescla maior de formatos e de linguagens
sincréticas, enquanto a unificação dos suportes de difusão introduziu
mudanças radicais nas maneiras de recepção e fruição de informações
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 50 ]
online. O fluxo de digitalização se tornou irreversível para os meios,
produtos e culturas de comunicação, que haviam se desenvolvido
desde os primórdios da imprensa.
O desenvolvimento dos meios analógicos no Brasil
Desde a segunda metade do século 19 até ao final da Primeira
Guerra Mundial, em 1918, o desenvolvimento de novas tecnologias
gráficas e do modelo de jornalismo sustentado pela publicidade foram
ferramentas vitais para a organização das economias e das sociedades
modernas. A imprensa assegurava a opinião pública favorável à
hegemonia política e econômica das burguesias liberais do ocidente, e
ajudou, naquele período, a expandir os mercados internos e externos,
ao divulgar novos modos de vida, estimular o consumo e criar outras
necessidades coletivas. Algumas décadas depois, o rádio viria ampliar
a hegemonia capitalista, ao alcançar com sua mensagem oral e
instantânea os analfabetos e também os habitantes isolados nos locais
mais distantes de cada território nacional. A contribuição da
radiodifusão mais apontada pelos autores e especialistas no assunto,
foi a sua capacidade de despertar o desejo coletivo pelo consumo de
bens materiais e simbólicos, valores que são basilares para as
sociedades urbano-industriais (MAGNONI, 2010). A partir de 1920, a multiplicação internacional de emissoras
ampliou as bases da cultura informativa, de consumo e de
entretenimento, que haviam sido geradas pela imprensa, pela
publicidade, pela fonografia e pelo cinema. Na década de 1950, a
radiodifusão audiovisual e domiciliar da televisão viria reforçar
mundialmente a cultura de consumo de massa. Aliás, é válido
ressaltar que a invenção do transistor, tecnologia que permitiu
também nos anos 1950, a fabricação dos primeiros aparelhos portáteis
de rádio, foi quem deu início a era dos microprocessadores e da
informatização dos meios de comunicação e dos maquinários fabris.
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 51 ]
A partir da década de 1970 começou a mudança mais
profunda do modelo industrial moderno: o computador e a
automatização digital passaram a alcançar todos os espaços sociais e
as atividades produtivas mecanizadas, tão típicas das sociedades
desenvolvidas. Um ciclo transformador e desestabilizador, amplo e
duradouro, que em plena metade da segunda década do século 21,
segue agindo e alterando todas as atividades humanas dependentes do
uso de recursos tecnológico de comunicação e informação e de
qualquer tipo de maquinário.
A digitalização começou a ganhar relevância no ambiente produtivo
dos grandes meios de comunicação na década de 1980. O processo
ganhou forma com a introdução experimental de computadores nas
redações dos veículos impressos e, pouco depois, nos estúdios de
produção de conteúdos para televisão, nas produtoras de vídeo, em
agências de publicidade e em gravadoras de áudio. Nas emissoras
de rádio, a informatização dos estúdios começou a se popularizar
nos anos 1990, tanto na produção artística e publicitária, quanto no
radiojornalismo. Os computadores serviram como máquinas mais
avançadas de escrever e de compor páginas inicialmente, pois
dispunham de diversos recursos para redigir, revisar e formatar
textos, e também para a criação de projetos gráfico-editoriais, para
“diagramar” e montar matrizes de impressão de jornais e revistas.
Tais inovações permitiam substituir antigas ferramentas e
aperfeiçoar muitíssimo a qualidade de todas as etapas de
editoração, além de atualizar e agilizar a produção gráfica em geral.
Cada nova geração de equipamentos informatizados lançada no
mercado internacional apresentava recursos mais sofisticados,
potentes e mais versáteis para a criação, desenvolvimento,
gravação, edição, finalização, armazenamento e também para o
envio de conteúdos sonoros, audiovisuais e gráficos. [...] Durante os
anos 1980, o “patronato” da mídia analógica pretendia investir na
informatização de seus veículos motivados pela mesma lógica dos
industriais, que desde a década anterior vinham automatizando
suas fábricas. Todos buscavam digitalizar suas linhas de produção
para reduzir o número de trabalhadores e os custos operacionais,
enquanto planejavam aumentar a qualidade, a competitividade, a
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 52 ]
produção, a diversificação de mercadorias e o lucro de suas
empresas. A informatização suprimiu um grande volume de tarefas
manuais, intelectuais, ou realizadas com máquinas-ferramenta e
extinguiu muitas funções profissionais diretas ou de prestadores de
serviços complementares às diversas atividades midiáticas.
(MAGNONI, p.43-45, 2014)
Em meados de 1990, o público brasileiro que dispunha de
computadores domésticos começou a utilizar a internet, que na época
tinha conexão precária pela linha telefônica, e logo descobriu que o
novo meio era um imenso suporte aglutinador e armazenador de
dados, além de ser também um potente localizador de informações.
Em um primeiro momento, foram as linguagens e os conteúdos
impressos que exigiram menos complexidade técnica e capacidade de
memória para a digitalização, que começaram a trafegar pela rede. A
transmissão digital eficiente de conteúdos musicais, de mensagem de
rádio, televisão e vídeo precisava esperar o aumento da capacidade de
tráfego nas redes de conexão e a evolução dos sistemas de transmissão
por streaming, que permitiu em 1995 a transmissão de música e de
radiofonia. Em 1997, a mesma tecnologia foi adaptada para transmitir
conteúdos audiovisuais pela internet. O constante aperfeiçoamento tecnológico da rede e de todas as
plataformas e dispositivos conectados ao seu fluxo informacional
estimulou e acelerou a sua popularização mundial. No Brasil, desde o
início dos anos 2000, a expansão da internet ocorreu
simultaneamente à expansão dos serviços de telecomunicações e de
telefonia celular. É notório que veículos de difusão massiva de
informação, de comunicação noticiosa e publicitária têm servido
desde o século passado, como instrumentos de incremento ao modo
de produção e de consumo vigente nas sociedades urbanas. Apesar da intensa ofensiva das corporações multinacionais
produtoras e vendedoras de tecnologias e dos Estados capitalistas
dominantes com clara intenção de controlar e de mercantilizar a
internet, desde o início da construção coletiva do ciberespaço, um
emergente movimento de atração interdisciplinar entre diferentes
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 53 ]
especialidades de conhecimento se ampliou. Uma ação coletiva
movida pela necessidade de alimentar uma forma livre e colaborativa
de rede, para assegurar a padronização mundial da comunicação
“internáutica” de forma gratuita, descomplicada, amigável e
democrática. Para Steven Johnson,
A mudança mais profunda prenunciada pela revolução digital não
vai envolver adereços ou novos truques de programação. Não virá
na forma de um navegador digital em três dimensões, do
reconhecimento da voz ou da inteligência artificial. A mudança
mais profunda vai estar ligada às nossas expectativas genéricas em
relação à própria interface. Chegaremos a conceber o design de
interface como uma forma de arte - talvez a forma de arte do
próximo século. E com essa transformação mais ampla virão
centenas de efeitos concomitantes, que penetraram pouco a pouco
uma grande seção da vida cotidiana, alterando nossos apetites
narrativos, nosso senso de espaço físico, nosso gosto musical, o
planejamento de nossas cidades. Muitas dessas mudanças vão ser
sutis demais para que a maioria das pessoas a perceba, ou melhor,
vamos perceber as mudanças, mas não na sua relação com a
interface, porque vários elementos vão parecer pertencer a
categorias diferentes, como diferentes alas de um supermercado.
Mas a história da tecnocultura é a história dessas mesclas, os efeitos
secundários improváveis de novas máquinas se espraiando para
transformar a sociedade que os envolve. A analogia mais fértil para
esse processo é a invenção da perspectiva na pintura. (JOHNSON,
2001. p.155)
A interatividade rompe com a comunicação vertical típica da
relação funcionalista emissor-canal-receptor dos meios analógicos.
Ela estabelece a simetria entre os entre os interlocutores, ao permitir o
diálogo e a visualização entre todos, o que dá aos participantes a
sensação de contato direto, de presencialidade virtual. É evidente que
a “audiência” da internet, mesmo quando as pessoas navegam em
busca de entretenimento, não se comporta passivamente como o
público dos veículos tradicionais.
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 54 ]
O ato de conexão exige do internauta atitude bem mais
objetiva que aquela do radiouvinte ou do telespectador, que ligam os
seus receptores em busca de informações pontuais, de música de
fundo para aliviar a rotina ou para ajudar aqueles que estão travados
no trânsito a passar o tempo de forma menos extenuante.
Boa parte da comunicação online é interpessoal e de grupos
sociais e organizações que buscam interlocução, que divulgam sua
existência e suas ideias na rede, do mesmo modo que pregariam
cartazes em murais ou quadros de aviso, telefonariam, enviariam
cartas ou distribuiriam panfletos para atrair interessados. São
mensagens com apelo específico e sem vínculo mercadológico, em
busca apenas de outros interlocutores ou de mais adeptos para
determinada causa.
Longe de ser um meio para introvertidos e incapazes de sair de
casa, o computador pessoal revela-se a primeira tecnologia [...] que
aproxima estreitamente pessoas que não se conhecem, em vez de
afastá-las. A maioria das grandes inovações dos últimos cem anos
tornou progressivamente mais fácil evitar contato, em especial a
conversa com pessoas que não são nossos colegas, ou familiares, ou
amigos. O automóvel criou as clausuras dos condomínios fechados;
o telefone e a televisão nos mantém firmemente plantados nos
nossos espaços domésticos; até no cinema a vida pública se
desenrola sob um voto de silêncio. A última revolução tecnológica
de vulto que aproximou estranhos foi o descaroçador de algodão e
seus descendentes industriais, que transferiram milhões de
trabalhadores da esparsamente povoada zona rural da Europa e do
leste dos Estados Unidos e os apinhou nos cortiços e nas linhas de
montagem de cidades fabris como Manchester e Lowel. A Internet
está permitindo novamente que estranhos se interajam, embora
desta vez sem a violência e a labuta da Revolução Industrial. Há
algo de profundamente animador nessa vida pública redescoberta,
mas grande parte dela ainda é especulativa. Grande parte dela, de
fato, depende das interfaces que serão concebidas nos próximos
anos, projetadas para representar comunidades de pessoas e não
espaços privados de trabalho. (JOHNSON, 2001. p.51-52)
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 55 ]
A diferença fundamental entre as tecnologias analógicas e as
digitais é que todos o sistemas informáticos atuais, embora não
estejam ainda disponíveis para todos indivíduos, alteram o cotidiano e
as percepções vivenciais em todo o mundo, porque estão presentes de
forma direta e indireta, em praticamente todos os espaços de vivência
humana. A rapidez das transformações tecnológicas atuais não
reservam tempo e fôlego para a reflexão mais apurada sobre seus
múltiplos efeitos e pressões sobre o ecossistema humano.
Hegemonia e contra-hegemonia na comunicação
Por mídia tradicional ou “grande” mídia, entendemos os
veículos de comunicação que construíram suas bases e edificaram
suas empresas de jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão e
grupos multimídia de comunicação jornalística, entretenimento e
publicidade. O ciclo mais significativo de desenvolvimento dos
veículos nacionais de comunicação comercial no Brasil ocorreu
durante a ditadura militar de 1964.
Foi o Marechal Humberto Castelo Branco, primeiro
“presidente” militar, que começou a construir a infraestrutura da
Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel), criada em 1965
como uma estatal de economia mista, para assegurar ao país os
serviços de telefonia e de telecomunicação.
A partir da Embratel foi possível implantar a Rede Nacional
de Televisão e interligar, com troncos de micro-ondas, todos os
estados brasileiros, além de iniciar a comunicação mundial via satélite
com a construção da estação terrestre do município de Tanguá (RJ). O
sistema público foi cedido preferencialmente à TV Globo em 1969,
para enviar os sinais para suas retransmissoras. Com o explícito apoio
dos militares, a emissora carioca criou sua rede nacional durante o
“milagre brasileiro”, um surto desenvolvimentista que completou até a
metade a década de 1970 o ciclo urbano-industrial brasileiro.
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 56 ]
A ditadura militar de 1964 favoreceu as condições técnicas e políticas
para que a televisão comercial brasileira fosse organizada como rede
nacional, um projeto inspirado na radiodifusão comercial de Getúlio
Vargas. O regime dos generais elegeu a televisão como seu meio de
comunicação oficial. As redes abertas de televisão reproduziram e
ampliaram o papel econômico e ideológico que o rádio comercial
desempenhou nas décadas de 1930, 40 e 50. E, do mesmo modo que
o rádio “inaugurou” a modernidade brasileira, a televisão realizou no
país a transição dessa modernidade tardia para a pós-modernidade
precoce, que foi adquirindo formato nos anos 1970, dentro das
conflitantes e autoritárias estruturas modernas da época.
(MAGNONI, 2010, p. 27-28)
Acobertado por uma espiral de silêncio, o oligopólio midiático
tomou forma no Brasil e impôs um alinhamento noticioso
centralizado, um processo verticalizado de seleção de notícias, que se
tornou mais do que simples agendamento noticioso ou um problema
de jornalismo oficialista. Na prática, o jornalismo “chapa branca” se
tornou parte do controle político das informações de interesse da
sociedade civil e um sistema de defesa dos interesses mútuos dos
estamentos dominantes comprometidos com a ditadura.
Da parte dos governos militares, não interessava a divulgação
de torturas, prisões e desaparecimentos de ativistas políticos e
intelectuais contrários ao regime ditatorial, e de outras ações
“incomuns”, que não poderiam ser formalmente praticadas por
agentes do Estado. Para os grandes meios de comunicação, manipular
a realidade fazia parte do projeto de desenvolvimento, do “milagre
brasileiro”, que foi preconizado pelo regime. Assim, com a prática da
autocensura, se tornou mais fácil conseguir concessões e
financiamentos governamentais para consolidar grandes
conglomerados midiáticos, bloquear os espaços da concorrência e de
evitar aborrecimentos com os órgãos reguladores.
O conceito de hegemonia desenvolvido pelo filósofo Antonio
Gramsci pode ser aplicado, de forma negativa, ao contexto jornalístico
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 57 ]
que presenciamos hoje na realidade midiática brasileira. Lembrando
que as formas de hegemonia nem sempre são as mesmas, e que
variam de acordo com a natureza das forças que a exercem (MORAES,
2010), o poderio midiático representa, na verdade, muito mais do que
parece: a detenção da informação nas mãos de poucos – no caso, de
poucas famílias – faz com que o público-alvo dessas empresas
enxergue a realidade a partir do ponto de vista determinado pela linha
editorial dos veículos pelos quais se informa. A crise conceitual e institucional solapa a lógica racional
moderna e escolhe arbitrariamente a globalização como sua substituta
paradigmática. Ao “atropelar” as formas modernas de organização e
resistência popular e democrática dos trabalhadores, e de poucos
setores remanescentes das burguesias nacionais, a globalização
emerge como nova diretriz universal de progresso, de atualização
produtiva, como fonte financeira de acumulação de riquezas e de
reorganização social dos povos. Detentora da nova razão pós-
moderna, o ente sobre-humano que, como observa Forrester, são
poucos os que dispõem de audácia para contestar:
Será que alguém se arrisca a murmurar algumas tímidas reservas, a
demonstrar certa vertigem em face da hegemonia de uma economia
mundializada abstrata, desumana? Não demoram muito para nos
calar o bico com os dogmas dessa mesma hegemonia na qual,
sejamos realistas, nos encontramos aprisionados. Não demoram
muito para nos opor as leis da concorrência, da competitividade, o
ajustamento às regras econômicas internacionais – que são as da
desregulamentação – e de nos entoar loas sobre a flexibilidade do
trabalho. Cuidado então para não insinuar que, por esta razão, o
trabalho se acha, mais do que nunca, submetido ao bel-prazer da
especulação, às decisões de um mundo considerado rentável em
todos os níveis, um mundo totalmente reduzido a ser apenas uma
vasta empresa – aliás, não forçosamente administrada por
responsáveis competentes. Alguns diriam: um vasto cassino. Não
demoraram muito para nos opor e nos impor o respeito das leis
misteriosas, mais ou menos clandestinas, da competitividade, e de
coroar tudo isso com a chantagem de deslocamento de empresas e
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 58 ]
de investimentos, a transferência mais ou menos legal de capitais,
acontecimentos que, de resto, ocorrem de qualquer maneira.
Chantagem em suma, com meios cada vez mais opressivos.
(FORRESTER, 1997. p.32)
A destruição criativa, que era utilizada como estratégia para
forçar a modernização das tecnologias industriais e alimentar a
competição produtiva, parece estar sendo aplicada na remodelação
financeira e na regulagem do tamanho e do dinamismo de economias
periféricas dependentes. Um ajuste global realizado com a supervisão
de economistas neoliberais que integram a burocracia financeira do
Fundo Monetário Internacional, do Japão aos Estados Unidos, da
Indonésia e Coreia do Sul à Rússia, da Argentina ao Brasil.
O que faz a diferença entre os países ricos e pobres é o sentido
do fluxo financeiro, que segue sempre da periferia para o centro
durante a “transfusão” de recursos amealhados com o aperto dos
orçamentos nacionais dos países dependentes. Ninguém se importa
se o “doador” está anêmico: sempre será possível subtrair mais
algumas reservas de suas artérias econômicas, para preservar intacta
a robustez do capitalismo central. Tomando como base o fato de que diversas camadas sociais de
brasileiros ainda vivem sob tremendas desigualdades estruturais e
sociais, assimetrias que estão na base da organização de nossa
sociedade (SOUZA et al, 2009, p. 334), não é surpresa o aparecimento
impulsionado pelas novas tecnologias, de canais não hegemônicos,
como instrumentos de expressão pós-massiva, de representação
simbólica e de defesa política do ideário das minorias subestimadas no
debate social brasileiro, como são por exemplo, a população negra, a
população pobre e a população indígena. Essa disparidade na
qualidade de vida – ou na falta de qualidade – influi na possibilidade
do próprio acesso à internet. São 38% os brasileiros ainda estão
apartados da realidade do mundo virtual (IAB Brasil, 2014).
Como forma de se contrapor à essa abordagem dos grandes
veículos nacionais e regionais, a comunicação alternativa busca
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 59 ]
maneiras de permear as relações sociais, de seguir ladeando o
jornalismo tradicional na formação das opiniões que permeiam as
diversas camadas da sociedade brasileira. A imprensa nanica, como
foi chamada na época do regime militar, atingiu hoje um patamar
antes inimaginável. Tudo graças a realizável façanha de se conectar ao
mundo em um dispositivo – ou em vários, de acordo com a
possibilidade ou preferência do usuário. Da pesquisa de iniciação científica, realizada entre 2013 e
2015, se motivou o estudo dos meios de comunicação do Brasil que
traça seu percurso até este livro-reportagem Projeto de Conclusão de
Curso. As Jornadas de Junho foram o cenário perfeito para
acompanharmos e distinguirmos, conceitualmente e visualmente, a
cobertura noticiosa dos veículos e de prática jornalística durante os
protestos, com o objetivo de apresentar o contexto do jornalismo no
Brasil, a estabilidade dos oligopólios comunicacionais em detrimento
da liberdade de informação e de representação do povo brasileiro, das
lutas sociais e movimentos de massa.
Agora, como complemento, a teoria fundamenta a prática na
busca de entendimento sobre os novos veículos, que mudam a cada
dia, o tipo de produção moderna e informativa, que ainda entendemos
por jornalismo. Um breve retrato das ações e dos meios jornalísticos
alternativos brasileiros, que também se tornam relevantes no sentido
de “reconhecer as potencialidades do jornalismo, e não apontar
somente suas mazelas, [o que] pode ser um caminho a ser trilhado
pela imprensa popular alternativa” (CASSOL, 2010, p. 28). No mesmo ano de 2013, que parece ter sido palco de grandes
enfrentamentos e mudanças não só para a mídia tradicional, mas para
o jornalismo brasileiro como um todo. Começaram a se dar grandes
cortes de pessoal e de veículos, uma maneira de eliminar despesas em
grupos e empresas como a Editora Abril, que em agosto de 2013
fechou quatro de suas revistas.
No ano de 2015, a editora da família Civita abriu mão de mais
sete de suas publicações, desta vez não as fechou, mas vendeu os
direitos de propriedade de suas revistas para a Editora Caras
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 60 ]
(REVISTA FÓRUM, 2015). Outros casos de relevante repercussão se
seguiram, como o do jornal Estadão, que demitiu cinquenta
profissionais da comunicação em 2015 e também diminuiu o número
de cadernos e suplementos do jornal impresso (CARTA CAPITAL,
2015) . Falou-se, então, em crise do jornalismo.
Acostumada a ditar regras ou modismos e a conduzir a vida política e
cultural do país, a mídia tradicional depois de “reinar” absoluta por
décadas encontra hoje um contraponto exemplar: a internet. Longe
de controles econômicos ou paradigmas a internet chegou para tirar
o bolor e a manipulação constante do noticiário, notadamente, da
chamada grande imprensa e seus articulistas que se consideram os
“donos da verdade”. (BRASIL247, 2013, s/p)
A internet, uma plataforma ainda desenvolvimento, coloca em
xeque-mate as maneiras tradicionais de se fazer jornalismo, de
difundir e de consumir os conteúdos. O próprio comportamento e a
demanda dos públicos se alteram e se adaptam a cada novidade
lançada pelo mercado tecnológico.
As vendas diárias de grandes jornais brasileiros como Folha de S.
Paulo e O Globo têm caído desde o ano 2000. Dados divulgados pelo
Instituto Verificador de Circulação (IVC) revelam que a Folha, O
Globo e O Estado de S. Paulo perderam, respectivamente, 10,84%,
7,75% e 16,93% de circulação média diária em abril de 2009, se
comparada aos números de abril de 2008. (FERREIRA; LIMA, apud
MATTOS, 2014, p. 24, grifo do autor)
Veja bem, a crise está no modelo de negócio, nas linguagens e
formas de diálogo com o público que estão presentes – ou ausentes –
nos veículos da antig mídia consolidada no Brasil. A expressão
popular jornal só serve para embrulhar peixe cabe como um reflexo
da queda de demanda pelo produto, enquanto que, em rede, os
acessos e a busca por informação nunca foram tão volumosos: de um
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 61 ]
lado, a venda de jornais impressos está em queda, de outro, a
circulação da notícia em outras plataformas aumenta. É quase como dizer que 2013 foi o ano do “chacoalhão” para a
mídia tradicional, que de fato se torna não só uma velha mídia, mas,
acima de tudo, que pratica um jornalismo caduco, que perde
rapidamente a confiança e a credibilidade dos seus públicos. A lição,
anotada às duras penas pelos jornalistas mais antiquados, foi dada
pelo povo nas ruas que ativamente se movimentou dentro e fora da
rede; foi dada pelos veículos alternativos que despontaram com seus
novos formatos de coberturas jornalísticas, veículos esses também das
ruas, junto com a população.
O desafio que sobrou aos grandes conglomerados da
comunicação foi reaprender a justamente se comunicar com o seu
próprio público, que não se contentava mais com o papel passivo que
lhe fora dado e passou a explorar um verdadeiro leque de
possibilidades informativas que se abriu com a internet.
Possibilidades essas que demoraram, mas foram aos poucos sendo
descobertas pelos que fazem a notícia, restando aos profissionais da
comunicação o dilema de como tirar da notícia que está em rede,
disponível de maneira ilimitada, o sustento econômico do jornalismo.
A dificuldade em assimilar novos modelos de negócio
perpassa o relacionamento conflitante do jornalismo com a internet, e,
ao passo que são feitas tentativas e investimentos nessa nova
plataforma, o leque se revela mais e mais promissor.
(...) os jornais brasileiros tiveram crescimento médio de 1,8% na
circulação em 2012, mas o que é digno de nota é que o aumento se
deveu ao avanço das edições digitais, que aumentaram 128% na
comparação com 2011. Elas responderam por 100% do aumento no
ano e já representam 3,2% da circulação total. Esse crescimento das
edições digitais deve se manter. (ANJ apud MATTOS, 2014, p. 26)
O que é possível de se observar e interpretar com certa
rapidez, é que essa “crise do jornalismo” que acossa os antigos
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 62 ]
veículos de comunicação não tem suas origens somente na área
tecnológica e concorrencial, fatores tradicionais que costumam
sufocar os sistemas produtivos e econômicos mais defasados – tanto
que esses sistemas estão se integrando cada vez mais às novas mídias
com portais online para atender ao público internauta.
Os veículos da mídia tradicional também enfrentam uma crise
de origem simbólica e cultural, que deriva das mudanças de
mentalidades individuais e dos comportamentos coletivos, e que
acabam alterando os modelos sociais e os processos criativos, até
afetar os processos produtivos, as estruturas e as relações de natureza
econômica, política e moral.
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 63 ]
Os movimentos sociais em rede
Basta rememorar o começo da internet comercial no início dos
anos 1990: naquele período, a incipiente rede de computadores
permitiu divulgar ao mundo o Movimento Zapatista, organizado por
populações indígenas extremamente pobres da remota província
mexicana de Chiapas. Os Zapatistas souberam entender e utilizar com
maestria a informática em rede, e contaram com o talento
comunicativo de seu emblemático subcomandante Marcos para a
troca de informações e conhecimento pela web. Conseguiram divulgar
sua causa política e humanitária para os principais veículos da mídia
internacional e para todo o resto da população mundial.
Os movimentos antiglobalização que eclodiram nos Estados
Unidos em 1999, a articulação do Fórum Social Mundial, realizado
anualmente a partir de 2001, são também organizações que se
tornaram possíveis com o uso coletivo da internet.
A crise capitalista iniciada com a bolha imobiliária americana
em 2008 provocou uma infinidade de ações coletivas de denúncia e
resistência social nos EUA e em diversos países da Europa. Todas as
mobilizações dependeram dos canais e de recursos de comunicação do
ciberespaço. Três anos depois, com a constatação de um processo de
influência empresarial, ganância e corrupção cada vez maiores – além
da crescente desigualdade econômica e social – explodiu o movimento
Occupy Wall Street.
Os 99%, como se denominavam os manifestantes,
contestavam politicamente o comportamento que reflete a máxima de
Edmund Burke, que parece reger não só o “Partido de Wall Street”
(HARVEY, et al., 2012, p.58), mas o mundo capitalista como um todo.
Em sociedades compostas de diferentes classes, algumas devem estar
necessariamente por cima.
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 64 ]
Existem certos momentos na história em que um acontecimento
aparentemente localizado, regional, tem a força de mobilizar uma
série de outros processos que se desencadeiam em diversas partes do
mundo. Ou seja, as ideias, quando começam a circular, desconhecem
as limitações do espaço, pois têm a força para construir um novo.
(HARVEY, et al., 2012, p.44)
“Manifestantes”, “vândalos”, “rebeldes”, “vagabundos” “black
blocs”, “depredação do patrimônio público”, “protesto pacífico”,
“protesto com baderna”, são expressões que cansaram os olhos e
ouvidos dos brasileiros durante as Jornadas de Junho de 2013. Com o
aumento da tarifa do transporte público na capital São Paulo,
desembocou-se uma revolta geral da população – paulista de início,
mais tarde, brasileira –, contra a má administração dos serviços
públicos do metrô e do transporte de ônibus da cidade.
Todos os meios e veículos de comunicação estiveram ligados
aos protestos e manifestações, bem como toda a população brasileira,
seja de maneira temerosa, seja apoiando de casa, seja na rua,
protestando também. As manifestações se fizeram ver e ouvir para
abrir os olhos não só dos que concentram a renda da população
brasileira – os 10% mais ricos concentram 41,9% do dinheiro,
enquanto os 40% mais pobres são responsáveis por 13,3% da renda
total do país (IBGE, 2013, p.173).
Os protestos de junho de 2013 agregaram para a opinião
pública brasileira, a repentina e intensa movimentação popular contra
o aumento de tarifas do transporte público, o debate ocasional sobre a
necessidade de maior participação política e a clareza sobre a ação
ideológica dos oligopólios midiáticos comerciais. Os manifestantes
começaram a observar nas redes de rádio e televisão e nos grandes
jornais e revistas, um tipo de cobertura que não mostrava a realidade
vivida por eles mesmos naqueles atos organizados pelas ruas das
maiores cidades do país. O grito desafiante “o povo não é bobo, abaixo
à Rede Globo!”, ecoou forte em todas as capitais brasileiras.
Foi então que os grandes veículos comerciais sentiram de fato
a força concorrencial da internet, com a intensa e contínua cobertura
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 65 ]
alternativa feita ao vivo e de forma colaborativa, graças aos recursos
multimídia de pequenos dispositivos digitais utilizados pelos novos
meios e pelos coletivos de jornalistas independentes, como aqueles
que cobriram as manifestações pela Mídia Narrativas Independentes,
Jornalismo e Ação (NINJA). A queda de audiência e o descrédito,
tanto das grandes emissoras de rádio e de televisão quanto da
imprensa, forçou a “velha mídia” a reformular as estratégias de
diálogo com os seus públicos. No movimento, uma das bandeiras que mostra a força da
internet dentro dos protestos era na verdade um pedido aos
moradores próximos dos locais onde se realizavam os protestos:
“liberem seu Wi-Fi”. Isso porque a maioria das residências que possui
um roteador, aparelho que possibilita a conexão à internet, o mantém
bloqueado com uma senha pessoal, o que acaba dificultando o acesso
dos manifestantes à rede, para divulgar informações em tempo real e
também se comunicar com os mais variados grupos de organização.
A crise representativa dos cidadãos em relação à imprensa e
aos veículos de radiodifusão fica evidente depois das manifestações
pela tarifa zero no transporte público. A revolta contra os jornalistas
da “grande mídia” se intensificou a partir do momento em que o
público brasileiro percebeu a discrepância entre as notícias e
informações divulgadas por esta e por meios mais plurais, como as
transmissões online da Mídia Ninja, que muitas vezes mostravam em
suas filmagens ao vivo, exatamente o contrário do noticiado
“oficialmente” pelos grandes meios comerciais.
Os manifestantes e as parcelas da população que se sentiram
convencidos pelos protestos também começaram a participar dos
registros dos acontecimentos em muitas localidades brasileiras
criando uma rede de compartilhamento de conteúdos informativos. A
participação voluntária na cobertura das Jornadas é uma prova de que
os ambientes virtuais estão cada vez mais utilizados por usuários
críticos que procuram possibilidades comunicativas e colaborativas
em diferentes meios digitais, como resposta aos veículos tradicionais,
pela omissão ou alteração dos fatos, que eles praticam rotineiramente.
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 66 ]
O aumento de R$ 0,20 que causou toda a mobilização inicial
na internet, aos olhos dos empresários e autoridades do governo,
deveria ser “só mais um aumento”, como outro qualquer, dentro das
taxas de circulação pública de São Paulo. Mas, o que não puderam
prever foi a ação do Movimento Passe Livre (MPL), que desde 2004 se
faz presente na luta pelo transporte público gratuito no Brasil, e que
prontamente organizou eventos nas redes sociais para divulgar os atos
e protestos na capital paulista. O MPL mantém um site14 no qual
divulga todas as informações, relatórios e pesquisas abertos ao acesso
público, o que mantém um histórico atualizado do movimento.
O aumento da taxa somou-se à precariedade do serviço (vide
as notícias frequentes naquele ano de descarrilamento de trens do
metrô, sem contar a lotação no transporte público) e foi então que em
julho de 2013 a denúncia contra a empresa Siemens, de um cartel nas
obras do metrô, expôs o caos administrativo paulista, com
envolvimento de partidos e de políticos vinculados ao governo
estadual em esquemas de corrupção.
Porém, 21 anos de ditadura militar parecem ter incrustado na
grande mídia brasileira o conservadorismo e a intolerância ao
pensamento crítico, resquícios de um regime repressor. A velha mídia,
pelos cantos e como quem não quer nada, na ambição de um
verdadeiro oligopólio midiático, se apoderou da produção informativa
do país através de acordos de bastidores nada transparentes. Não deu
outra: os veículos tradicionais de informação se limitaram, a princípio,
a denunciar as manifestações de 2013 como atos de vandalismo e que
atrapalhavam o trânsito da grande capital paulista. O alinhamento
editorial dos oligopólios midiáticos mascara, com uma visão
estereotipada e falsamente moralista, os interesses econômicos e
políticos aos quais eles estão ligados.
O jornalismo praticado pelos conglomerados de veículos
comerciais subestima e desqualifica a disputa de projetos políticos-
14 Ver: http://saopaulo.mpl.org.br/
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 67 ]
administrativos entre os setores democráticos da sociedade e os
setores autoritários e minoritários, comprometidos com bandeiras de
estado mínimo e de internacionalização indiscriminada da economia
brasileira. A mídia “oligárquica” não hesita, quando lhe interessa, em
“colocar panos quentes” sob atos que seriam condenados ilegais, ou,
em assediar e pressionar os governantes, de municípios até o Palácio
do Planalto. São recorrentes os filtros ideológicos e econômicos
aplicados aos conteúdos jornalísticos dessas empresas. A manipulação da informação na edição jornalística, no
entanto, muitas vezes não é opção dos jornalistas que produzem
matérias e reportagens; há um “regulamento”, os “princípios
editoriais” que são seguidos em cada jornal, revista ou emissora.
Assim, os veículos comerciais priorizam os interesses mais
particulares de seus proprietários, em detrimento da informação e das
demandas da sociedade por notícias precisas e confiáveis.
Com a grande demanda da população por notícias e pela
cobertura dos protestos em 2013, chegou-se em um ponto no qual a
mídia tradicional não poderia mais limitar seus relatos aos boletins
sobre o trânsito caótico, que era atrapalhado pelas manifestações.
Uma reviravolta nas famosas espirais do silêncio promovidas de vez
em quando, por um veículo tradicional descontente com algum acordo
político ou comercial desvantajoso. A mobilização das mídias
alternativas foi tamanha que a grande mídia não pôde mais ignorar os
fatos, e tampouco falsear as informações. Foi preciso noticiar para não
perder o público leitor, ouvinte ou telespectador. Ao utilizar a hashtag #vemprarua – ferramenta que filtra
buscas sobre determinado assunto em redes sociais como o Facebook,
Twitter e o Instagram – os manifestantes concentravam informações
sobre os protestos que estavam acontecendo.
Não muito tempo depois, durante o período eleitoral de 2014,
a ferramenta da hashtag passou a ser incorporada na campanha
#vempraurna do governo federal. Com uma clara referência às
ferramentas utilizadas pelos manifestantes no ano anterior, as
autoridades passam de modo implícito a ideia de que as mudanças
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 68 ]
desejadas pelo povo brasileiro aconteceriam com uma maior
participação coletiva no processo eleitoral, e não no “quebra-quebra”
das ruas, ao qual tanto se referiu a mídia comercial.
De um jeito ou de outro, subestimando ou exaltando os
movimentos sociais e os protestos, uma coisa é certa: o poder do
ativismo no ciberespaço deixou de ser ignorado pelas autoridades
brasileiras. Hoje em dia, ativistas, organizações, campanhas,
empresas, e até mesmo políticos já possuem páginas próprias no
Facebook para divulgar suas ações e propostas – como exemplo temos
a página da presidenta Dilma Rousseff, com 800 mil “curtidas” antes
das eleições, e atualmente, com quase 2,6 milhões. O deputado pelo
PSOL do Rio de Janeiro Jean Wyllys, eleito três vezes o melhor
deputado federal pelo Congresso em Foco, tinha aproximadamente
400 mil “curtidas” antes do período eleitoral. Agora, conta com quase
800 mil em sua página pessoal no Facebook. As redes sociais tiveram um papel fundamental para pautar a
discussão dos direitos cidadãos e buscar o caminho da participação
democrática nas decisões e políticas públicas. Por meio de eventos
criados no Facebook, a programação e os atos da população eram
divulgados para toda a rede de internet. Um protesto na cidade de São
Paulo poderia ser acompanhado por quem estava no interior, em
outro estado, ou até mesmo fora do Brasil, isso somente por meio da
navegação nas redes sociais. Além do Facebook, Twitter, Instagram e
Youtube foram muito utilizados na produção de conteúdo
independente e da informação contra-hegemônica das manifestações.
Atualmente, quando entramos na internet, podemos observar
uma série de veículos de comunicação já conhecidos por seus formatos
impressos, radiofônicos e televisivos, que também se fazem presentes
na rede, seja em um site, portal de notícias, ou em forma de aplicativo
para smartphones e tablets.
Por esta razão, e também por querer conciliar comunicação e
as novas tecnologias, restringimos o campo de análise da pesquisa aos
aparatos online dos jornais e revistas escolhidos: os sites de notícias
dos jornais Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, da revista VEJA e o
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 69 ]
portal de notícias G1, representando a mídia tradicional do país. No
campo dos veículos de jornalismo pós-massivo e independente
selecionamos os sites do jornal Brasil de Fato, da Revista Caros
Amigos, do portal e Revista Fórum e também do portal Outras
Palavras – na época, a Agência Pública e o projeto Repórter de Rua,
citados no segundo capítulo deste livro, não tratavam tão ativamente
das manifestações no Brasil.
A Revista Fórum, que em 2014 passou a ser exclusivamente
digital, possui um trabalho mais analítico no sentido do próprio papel
das mídias alternativas e redes sociais na construção dos atos e
manifestações. Sua posição editorial destaca a necessidade de se
democratizar a comunicação no Brasil. Por meio de pesquisas, dados,
gráficos e da alusão histórica, o cenário atual das comunicações e o
jornalismo brasileiro são apresentados ao leitor como ultrapassados e,
até mesmo, arrogantes e “autistas” em seu tradicionalismo.
O grande problema da mídia hegemônica é não reconhecer que
perderam o monopólio da novidade e da informação, e que os fluxos
informativos se desenvolvem por outras vias. (...) Esta postura de
arrogância que cheira a um certo “autismo” a medida que ignora
outros fenômenos e processos que ocorrem na sociedade da
informação cria situações patéticas como esta. (OLIVEIRA, 2013,
s/p)
“Se a necessidade das reformas é latente, há que se indicar
claramente que duas delas merecem ser disputadas nas ruas: a
reforma política e a democratização da comunicação” (PIVA, 2013,
s/p). Ao contrário da atitude tomada pela mídia hegemônica – de
prontamente julgar os manifestantes e taxá-los de vândalos, criando a
fábula do “bom protesto”, o pacífico, e do “mau protesto”, o “com
baderna” – vemos na mídia pós-massiva a tentativa de fomentar um
debate mais saudável, incluindo pautas que “tocam na ferida” do
status quo brasileiro, como a da democratização da mídia, além do
apoio aos itens já defendidos pelos manifestantes em 2013.
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 70 ]
Um mapeamento realizado pela Interagentes, dirigida pelos
sociólogos Sérgio Amadeu e Tiago Pimentel em parceria com a Revista
Fórum mostra a análise das postagens do Facebook no período das
manifestações. Mais precisamente, são os compartilhamentos do dia
05 ao dia 13 de junho de 2013, “quando São Paulo foi governada e
dominada durante toda a noite pelas bombas e as balas de borracha da
Polícia Militar” (ROVAI, 2013).
Temas em discussão no Facebook no dia da manifestação de 13/06/13.
(Fonte: INTERAGENTES/REVISTA FÓRUM)
A pesquisa comprova que a maioria dos comentários na rede
social eram favoráveis ao Movimento Passe Livre (62%), enquanto que
os comentários negativos corresponderam à menor soma (16%). Os
comentários restantes (22%) foram classificados como neutros por
não assumirem um posicionamento. Essa pesquisa não foi divulgada
pela grande mídia hegemônica em nenhum momento durante as
semanas em que se sucederam os protestos pela tarifa zero.
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 71 ]
Participação das redes sociais na construção dos atos.
(Fonte: INTERAGENTES/REVISTA FÓRUM)
A partir da análise do gráfico acima, igualmente
disponibilizado pela pesquisa do Interagentes, fica visível a magnitude
que alcançaram as manifestações após o 4° ato, do dia 13 de junho,
marcado pela violência e pelo confronto direto da Polícia Militar com
os civis. O engajamento virtual se expande de maneira viral, dado o
crescimento no número de compartilhamentos de notícias, imagens e
outros tipos de conteúdos publicados nas redes sociais.
A informação produzida pelos veículos de informação, sejam
eles hegemônicos ou contra-hegemônicos, se espalha pela rede com a
ajuda dos manifestantes e da população que compartilha com seus
círculos de amizade os links diretos para os portais de notícias. Sem
contar as informações que são dadas pelos próprios cidadãos,
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 72 ]
ilustradas com vídeos e fotos de seus próprios dispositivos móveis, e,
muitas vezes, em tempo real.
As Jornadas de Junho também ficaram conhecidas como a
Revolta do Vinagre, por conta do vinagre que era levado nas mochilas
de manifestantes como proteção do gás lançado pela polícia - esta que
chegou ao ponto de confiscar o produto. Foram as primeiras grandes
mobilizações da população brasileira desde os protestos pelo
impeachment do presidente Fernando Collor.
Por essa convergência de ideias que se alastrou pelo país em
2013, a sociedade toma aos poucos a consciência da necessidade de
uma reinvenção da democracia, mais participativa, mais dialógica,
mais horizontal. O povo nas ruas mostrou que sabe se unir, sabe fazer
barulho para chamar atenção das autoridades, e mostrou que o poder
popular não ficou no passado. A cobertura intensiva, a interação nas
redes, algo até então inédito, apresentam novos horizontes para uma
conectividade ativista de cada mulher e cada homem conectado. É então escancarada a crise de representação política vivenciada
no Brasil. A revolta do povo iniciada em 2013 ainda nos dá sinais de
sobrevivência: nas manifestações durante a Copa do Mundo em 2014,
com um leque de pautas que se estende ao nível das relações
exteriores do Brasil, no ano de 2015 e 2016, com a retomada do
Movimento Passe Livre, dos “black blocs” e dos “pula-catracas”, com
um fôlego que parecem ter recuperado durante o intervalo de pouco
mais de um ano sem manifestações.
Outras discussões e pautas também tomaram as redes sociais
na forma de agregadoras para a organização de protestos nas ruas,
como a Primavera das Mulheres contra o Projeto de Lei 5069/13, que
dificultaria o acesso ao aborto nos casos permitidos pela legislação
brasileira; mulheres essas que com as hashtags #meuprimeiroassédio
e #meuamigosecreto também instauraram o debate sobre o machismo
na sociedade brasileira; a mobilização contra a reorganização e
fechamento de escolas estaduais em São Paulo com a hashtag
#nãofechemminhaescola, para acompanhamento da movimentação
dos estudantes e mídias acerca do assunto; a Marcha das Mulheres
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 73 ]
Negras em Brasília em novembro de 2015, dentre tantas outras lutas
que ganharam força nas redes sociais. Henry Jenkins em Cultura da Convergência (2009) afirma que
os antigos consumidores, antes da World Wide Web, eram indivíduos
isolados. Com a convergência, a internet e as redes sociais, os novos
consumidores são mais conectados socialmente. A inteligência
coletiva, termo apresentado no livro, refere-se à capacidade das
comunidades virtuais de alavancar a expertise combinada de seus
membros. O que não podemos ou não sabemos fazer sozinhos, agora
podemos fazer coletivamente.
Outra razão de crise no universo do jornalismo atual, envolve a
internet, onde qualquer [um] pode agir como um repórter. Basta um
pequeno relato, uma foto de câmera digital para contar uma
informação. Podemos chamar isto de jornalismo? Existe uma briga
intensa em relação ao tema. Pode-se chamar de jornalismo cidadão,
uma situação em que as pessoas relatam o que acontecem no seu
bairro ou na região que vivem. É o tipo de noticiário local que
possibilita a participação do público. Sob esta ótica, o jornalismo
colaborativo, como aponta Christofoletti (2008), é muito bem-vindo
uma vez que ajuda na composição dos fatos. Mas jornalismo
continua exigindo responsabilidade, ética e o comprometimento com
a credibilidade. (TEIXEIRA, 2010, p.8).
O papel dos veículos brasileiros de comunicação fica abalado
considerando-se o fato de que o próprio manifestante e cidadão passa
a querer ser seu próprio porta-voz, por não mais acreditar – ou confiar
– unicamente nos meios de comunicação, na capacidade deles de
transmitir de forma verdadeira a sua fala e as ideias para o restante da
população. A comunicação feita de modo tradicional, de um jeito ou
de outro, teve seus pilares remexidos e precisa o quanto antes, rever
suas políticas como mediadora da informação, e consequentemente,
redescobrir o jornalismo que se transforma mais uma vez, em nova
plataforma mais direta, capilar e coletiva.
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 74 ]
Dentro das análises feitas em pesquisa de iniciação científica,
comparando as reportagens de cobertura dos protestos de 2013
produzidas e divulgadas pelas mídias massiva e pós-massiva
brasileiras, pudemos observar uma série de questões que diferem uma
da outra. Ao começar pela linguagem, que é o pilar indispensável para
que qualquer ação comunicativa possa ocorrer.
No que se refere às formas de comunicação, constitui-se como
linguagem textos visuais ou imagéticos, sinais, signos, gestos ou
movimentos, e até mesmo as taxas de diferenças hormonais, sistemas
sonares e outras ações programadas na natureza animal. A linguagem
utilizada pela mídia, por sua vez, vai muito além do escrito,
fotografado ou filmado que está registrado no papel ou em tela digital,
da reportagem que vai ao ar pela tevê ou no rádio.
Nas reportagens analisadas da mídia tradicional, observa-se
uma linguagem fria, por vezes meramente descritiva das
consequências dos atos organizados pelo Movimento Passe Livre. Ou
seja, dos engarrafamentos no trânsito, das ruas fechadas, do barulho,
do congestionamento do tráfego, da violência, da depredação de
patrimônio privado, etc. “Acesso ao Porto de Santos fica 4h fechado.
(...) O ato terminou por volta das 20h30 e não houve brigas nem
vandalismo” (ASSUNÇÃO, 2013, p. A14 da edição de 25/06 do
Estadão, encontrada no acervo online até a data de consulta,
02/08/14, depois, não mais disponível no site do jornal). Além disso,
as reportagens geralmente descrevem os números de manifestantes
presentes, números de policiais feridos, às vezes as estatísticas de
manifestantes feridos, mas nem sempre, e números de manifestantes
presos/levados para a delegacia. Temos um retrato desse
sensacionalismo com tendências conservadoras, por meio de uma
reportagem feita pela equipe do jornal O Estado de S. Paulo na edição
do dia 08 de junho de 2013, que começa com a seguinte manchete:
“No 2° dia de confronto e destruição, protesto fecha Marginal do
Pinheiros” (grifo nosso).
Constatamos na grande mídia em 2013, uma tendência para
evitar a combinação de palavras “transporte” e “público”, quando em
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 75 ]
notícias que abordavam as reivindicações dos protestos e do MPL pela
redução da tarifa do mesmo. Eles usavam sempre, em vez disso, algo
como “transporte coletivo”, “tarifa de ônibus e metrô”, “custo do
transporte”, assim por diante. “Por que saem para a rua para protestar
contra o aumento de preços dos transportes jovens que não usam
esses meios de transporte porque têm carro, algo impensável há 10
anos?” (ESTADÃO, 2013, p.A18, edição de 19/06, grifo nosso) – nesse
trecho, além da omissão do termo “público”, tem-se o sofisma
apresentado ao leitor de que não é necessário um transporte coletivo
de qualidade e barato, uma vez que já temos carros o suficiente.
Tal comportamento evidencia o poder que está por trás da
mínima manipulação advinda da escolha das palavras: evitar que o
leitor associe ideias não convenientes para a elite do país, como a de
que o transporte público, como já diz o nome, deveria ser de graça.
Muitas são as ocasiões e datas em que se repete esse
comportamento por parte da mídia tradicional brasileira. Outros
exemplos mais alarmantes e escancarados desse “mau jornalismo”,
passional e confortavelmente acolhido pela direita política, podem ser
encontrados em publicações como a Revista Veja:
A Polícia Militar montou cordões de isolamento e efetua revista nos
grupos de manifestantes que protestam contra o reajuste das tarifas
de transporte na região central de São Paulo. Cinquenta pessoas
foram detidas nesta quinta-feira para averiguação, alguns portando
pedras, gasolina e coquetel molotov. (...) A preocupação dos policiais,
que monitoram a área com câmeras e helicópteros, é evitar a
presença de arruaceiros que usam o protesto como pretexto para
depredar a cidade. (...) Diante do descontrole das manifestações, que
degeneraram em balbúrdia e tumultuaram a rotina do paulistano, o
governo de São Paulo prometeu ser mais duro. (...) A explicação para
o vandalismo está na natureza do movimento, cujo discurso é raivoso
e beligerante. (VEJA, 2013, s/p)
Depois dos “boletins de trânsito” e de produções textuais
raivosas, deu-se o que podemos chamar de próximo estágio da
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 76 ]
cobertura noticiosa dos meios tradicionais, foi a classificação dos atos
em “pacífico” ou “violento”, isso logo depois do reconhecimento por
parte da grande mídia da validade dos protestos, coincidentemente
assim que seus próprios jornalistas começaram a ser feridos pela PM,
enquanto faziam o seu trabalho de documentar o que acontecia.
Desde então, as manifestações passaram a ser classificadas e
narradas do mesmo jeito, quase que de modo idêntico, pelos grandes
veículos de comunicação. Primeiro, o julgamento: se o protesto foi
pacífico, ou se teve vandalismo, se houve algum tipo de dano ao
patrimônio alheio ou ao fluxo do trânsito. Depois, os manifestantes
poderiam ter suas pautas reportadas, e, se dessem sorte, sem alteração
dos fatos ou manipulação de números dos presentes nos atos – a
famosa versão da contagem feita pelos movimentos sociais comparada
com a da polícia militar, sempre menor que a primeira.
É importante lembrar que as mídias massivas no Brasil têm
sim seu papel e sua relevância, dado o contexto dos oligopólios
midiáticos. É por meio dela – quase que somente dela – que se
assegura abrangência e credibilidade, o famoso bordão “se não deu no
Jornal Nacional, não aconteceu”. Por outro lado, a centralidade das
pautas anula a regionalidade e faz com que no país todo se tenha como
prioridade as notícias de grandes capitais como São Paulo, ou Rio de
Janeiro. Além de toda a seleção dos temas que são ou não de interesse
para os veículos participantes desses oligopólios, há também os filtros
econômicos e políticos de seus patrocinadores, financiadores e
participantes de diversos acordos sociais, econômicos e políticos,
daquilo que se deve divulgar em rede nacional.
Para o jornalista Antônio Martins, do portal Outras Palavras a
questão é problemática e está enraizada no jornalismo da velha mídia.
“O Brasil hoje é um Brasil muito mais país do que ele era há 20 anos,
por exemplo. Temos inúmeros polos de produção, não só de bens, mas
produção de conhecimento e de cultura, e esse jornalismo continua
baseado nos mesmos centros de sempre. Talvez porque ele esteja em
decadência, ele ainda não percebe essa falta”.
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 77 ]
Uma vez constatada a amplitude da informação e do fluxo
construído por essas organizações, é que a mídia tradicional alimenta
o debate que bem entender, o que é de real valor para discussões que
envolvem a sociedade como um todo, de importância pública como
um projeto de lei, por exemplo. Assim, “(...) a centralidade da velha
mídia – televisão, rádio, jornais e revistas – é tamanha que nada
ocorre sem seu envolvimento direto e/ou indireto” (MARICATO et al,
2013, p. 89).
Esse aparente paradoxo decorre do fato de que a velha mídia,
sobretudo a televisão, (ainda) controla e detém o monopólio de
‘tornar as coisas públicas’. Além de dar visibilidade, ela é
indispensável para ‘realimentar’ o processo e permitir sua própria
continuidade. (MARICATO et al, 2013, p. 90)
O controle e a formatação da informação são derivados da
“ibopização do pensamento”, um condicionamento pragmático dos
projetos editoriais aos indicadores de audiências, cujas pesquisas da
maior parte do mercado nacional são monopolizadas pelo Instituto
Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ipobe). Conhecer a opinião
dos públicos é essencial para guiar as estratégias de comunicação dos
veículos midiáticos. Eles são movidos pela busca de ganhos
mercadológicos, pela ampliação do alcance de seus anúncios
publicitários e a liderança de seus conteúdos de informação e de
entretenimento. É verdade que nem os sites deixam de se preocupar
com o controle do número de acessos. A mensuração dos ambientes
virtuais serve para categorizar os interesses dos internautas e para
facilitar ao comércio online, o direcionamento de ofertas e de
propagandas adequadas ao perfil de cada dispositivo e usuário.
De maneira complementar a atividade da mídia contra-
hegemônica se instaura nesse contexto por meio da coleta das pautas
locais, de assuntos com apelo social e coletivo, que são ignorados e
não selecionados pela grande imprensa brasileira. A participação
desse jornalismo social na mídia brasileira é relevante justamente pelo
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 78 ]
sentido de trazer à tona informações que não seriam divulgadas se não
fossem por esses micromeios, que não são barrados pelos mesmos
interesses dos oligopólios do jornalismo no país. No entanto, é aí que
se encontra o atual problema da mídia alternativa no Brasil, esse
mercado não apresenta grande visibilidade perante o público, nem de
seus veículos, muito menos do material que é divulgado neles. A
concorrência com a grande mídia é mais do que acirrada, é desigual a
partir do momento que esta concentra para si a maioria dos espaços
disponíveis para a comunicação – espectros, canais de televisão,
emissoras de rádio, grupos empresarias de jornais e revistas – e
também a maioria dos patrocínios e dos anúncios publicitários.
Como principal diferença das notícias e reportagens massivas
e pós-massivas, temos a abordagem e o direcionamento dado em cada
uma de suas matérias. Logo de cara, ao estudar o portal Outras
Palavras, nos deparamos com uma reportagem que apresenta o
contexto que deu início aos protestos pelo Passe Livre, algo não
encontrado de forma tão direta e expressiva no conteúdo pesquisado
na grande mídia.
Na próxima quarta-feira, 14 de agosto, os paulistanos, quem sabe
todos os brasileiros, terão mais uma oportunidade de dar um
chacoalhão na classe política tradicional. (...) Para este dia está
marcado um protesto contra o “propinoduto tucano”, alcunha com
que se convencionou denominar ao recém-divulgado esquema de
corrupção envolvendo três administrações do PSDB à frente do
governo do estado (Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra) e
grandes empresas do setor metroferroviário, como a alemã Siemens,
a francesa Alstom, a japonesa Mitsui e a espanhola CAF. (BREDA,
2013, s/p)
Em nossa pesquisa, procuramos por palavras específicas nos
sites de cada veículo: “protestos”, “passe livre” e “tarifa zero”, sendo
delimitado o período – quando possível, ou seja, quando os sites
possuíam mecanismos de busca e pesquisa – para os meses de junho,
julho e agosto, majoritariamente. Também foram analisadas algumas
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 79 ]
notícias, notas e reportagens sobre os protestos que se seguiram às
Jornadas de Junho, como os da Copa do Mundo 2014 e os protestos
de 2015 também.
Quando na versão online do veículo não estava presente o
recurso busca por data, procuramos dentro das matérias exibidas,
aquelas que se encaixavam no período/tema. Fizemos uma pesquisa
qualitativa buscando a análise crítica em relação à linguagem dos
conteúdos divulgados, dentro da cobertura das manifestações de 2013,
tanto quanto suas manchetes, linhas finas – os subtítulos das
reportagens – o direcionamento e até mesmo em relação às imagens
escolhidas pelos diferentes veículos.
Assim como acontece no Outras Palavras, o jornal Brasil de
Fato também assume uma posição editorial a favor do povo, ao lado
dos que protestam nas ruas e reivindicam, como eles, em suas pautas
de reportagens e de outros materiais produzidos. Como prova dessa
postura popular adotada pelas mídias de comunicação alternativa,
verificamos que vários deles divulgaram o anúncio de uma das
conquistas das mobilizações populares que se desdobraram após as
pautas iniciais pelo Passe Livre, e, como para enfatizar sua união com
o povo, o jornal se utiliza da primeira pessoa do plural, “nós”,
chamando todos para “as próximas disputas”.
Aprovado na última quarta-feira, 14, o substitutivo do PL 323/2007
do deputado federal André Figueiredo (PDT/CE), que vincula as
receitas da exploração do petróleo à saúde e educação, representa
uma vitória para o povo brasileiro, que em junho mostrou sua força
nas ruas. (...) Este é o momento para nos prepararmos para as
próximas disputas, construir unidade das organizações e
mobilizarmos as bases para pressionar o governo, garantindo os
interesses do povo. (PARÁ, 2013, s/p)
Percebe-se no Brasil de Fato uma linha de reportagens que faz
referência aos protestos, mas nada que se limite ao factual e ao
descritivo. Os temas, em todas as matérias analisadas, são conduzidos
para análises históricas e políticas, dentro do visão política da
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 80 ]
esquerda, ou seja, na defesa de movimentos sociais, de pautas que
representem o povo, do mercado mínimo, da soberania popular, etc.
Tem-se, como exemplo desse jornalismo que vai além do fato, uma
reportagem veiculada na versão online do Brasil de Fato que é
inteiramente dedicada a explicar ao leitor os motivos pelos quais não
há necessidade de taxas no transporte público – pauta jamais
abordada na mídia de massas.
O custo variável por passageiro, embora mensurável, é desprezível
em relação ao custo fixo da operação. Um passageiro a mais não
custa nada a mais (rigorosamente, custa uma fração infinitesimal do
custo). (...). Assim, não tem o menor sentido falar-se em custo ou
remuneração por passageiro. (...) O número de passageiros
transportados não é, em si mesmo, o objeto de cálculo do custo do
sistema, mas a base do seu dimensionamento. (...) O intuito é ocupar
no tempo, inteiramente, a rede operacional, cujo capex (gasto de
capital) já foi feito na instalação do sistema e o opex (custo da
operação) não cresce por conta da ligação a mais que o usuário
completa. (...). Para resumir: num sistema como o atual, que leve em
conta a remuneração também por passageiro, o empresário é levado
a baixar seu custo ofertando menos viagens, de modo a lotar um
número menor de veículos, o que significará serviço de pior
qualidade. (ZILBOVICIUS; GREGORI, 2013)
Como vemos, a questão da representatividade afeta o
jornalismo brasileiro, que, assombrado pelo oligopólio, ramifica-se na
esperança de criar um canal mais aberto de comunicação com o povo,
na produção contra-hegemônica, também comunitária, a de mídia
radical. Com menor visibilidade, menor credibilidade, os veículos do
jornalismo alternativo conquistam, aos poucos, seu espaço na social
na opinião pública. Mas isso basta? Vimos que durante as
manifestações a visão dada pela grande mídia contribuiu sim – e
ainda contribui, qualquer que seja a pauta abordada – para a
construção do imaginário popular, a formação de opinião dos
brasileiros, mesmo que o dado não fosse o mais correto, ou o mais
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 81 ]
ético, como taxar os manifestantes de “vagabundos”. O debate da
democratização e da regulação da mídia, enfim, se mostra cada vez
mais necessário.
O medo de debater este tema tem um longo histórico, pois desde a
época de Getúlio Vargas na presidência da república (1930-1945), a
imprensa brasileira conviveu com a interferência direta de governos
sobre suas ações e com a questionável relação com o poder político e
com o poder econômico. Nota-se claramente em nossos meios de
comunicação a estreita ligação dos órgãos de informação com
interesses políticos dominantes e com o inteiro compromisso desses
mesmos meios com a infindável difusão de novos hábitos de
consumo e de comportamento. A ideia de que os meios de
comunicação são serviços públicos e que por isso devem ser
constantemente avaliados pela sociedade foi devidamente colocada
de lado e, de modo bastante contundente, qualquer tentativa de
questionar essas práticas é taxada de cerceamento de liberdade e de
uma afronta à democracia. (...) O fato de não haver qualquer forma
de controle da sociedade civil sobre os meios de comunicação pode
abrir uma lacuna para a restrição à amplitude das informações. Ou
seja, a não avaliação pela própria sociedade de seus veículos de
comunicação pode tornar-se para ela uma interseção entre ter uma
comunicação comprometida com toda a sociedade ou uma
comunicação comprometida com os interesses de alguns pequenos
grupos de pessoas. (BUSATO, 2001, p. 30-33)
Talvez agora, em tempos atuais, a forma de controle das
mídias pela sociedade tenha vindo à tona com a ferramenta da
internet: novas fontes de informação com canais cada vez mais
acessíveis. São milhões de dados a serem comprovados, refutados e
discutidos por cada usuário, cada internauta que tenha em suas mãos
um dispositivo que pode lhe mostrar verdades não disponíveis nos até
então únicos meios confiáveis de informação, os tradicionais meios de
comunicação de massa brasileiros.
As mídias alternativas e pós-massivas brasileiras que
analisamos brevemente neste livro-reportagem, juntamente a seus
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 82 ]
mais variados projetos e desdobramentos em contraponto à mídia
tradicional, contribui para mostrar ao mundo, nas palavras de Juan
Arias para o El País – Edição Brasil, que compomos agora um país
“normal” como os outros tantos de “primeiro mundo”. Para ele, isso se
deve ao fato de agora apresentarmos nossa indignação em protestos e
mais protestos, e não mais no conformismo da inércia.
O Brasil parecia alheio às agitações das ruas que sacudiram meio
mundo em busca de novas formas de participação cidadã e que
exigiam maior qualidade de vida para todos e mais decência nos
locais de poder político e econômico. Não existiam indignados no
Brasil. O país continuava sendo misteriosamente diferente, feliz e até
orgulhoso com o pouco que tinha, diferenças das quais, fora de suas
fronteiras, tantos tinham inveja e saudades, incluindo no rico
primeiro mundo. De repente, por estes milagres que o acaso às vezes
cria ou pelo acúmulo de exigências reprimidas, o Brasil, embalado
pelo eterno mantra de país "do futuro", despertou e começou a exigir
o presente. A partir deste momento, o Brasil começa a surpreender o
mundo, desta vez pelo paradoxo de seu repentino inconformismo.
Surpreende hoje a "normalidade" de um país que parecia e que
acreditávamos diferente. Já não é mais, e começa a agir como os
demais. (ARIAS, 2014, s/p)
Na verdade, contrariando as observações do jornalista
espanhol, não se trata estritamente do fato de que antes os brasileiros
e brasileiras não se rebelavam, mantinham-se passivos e obedientes
dentro de suas casas, ligados à hipnotizante televisão, ou, num
período mais longínquo, ao aparelho de rádio. O que mudou, na nossa
visão e no sentido jornalístico, foram as novas possibilidades
informacionais que trazem agora um aspecto mais realista ao
telespectador, ouvinte ou leitor. A opinião pública não recebe
informações trazidas por um único ou por poucos veículos, que
seguem um mesmo agendamento jornalístico, como normalmente
acontecia antes do surgimento da internet. Os veículos de
comunicação mais reconhecidos, tradicionais e “famosos”, podiam
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 83 ]
sem a menor dificuldade, formar de maneira privilegiada a opinião de
sua audiência, divulgando a sua exclusiva versão dos acontecimentos.
Talvez seja por isso que não se “ouvia falar” tão frequentemente de
protestos, manifestações e atos públicos, porque para tais veículos não
seria interessante divulgar esse tipo de acontecimento, digamos, por
seus tratados com grupos de poder, fossem públicos ou privados, uma
distorção da função pública do Jornalismo, que ainda prevalece.
Ficou claro o surgimento de uma plataforma que veio para
ficar: a internet revolucionou e continua revolucionando a forma
como as pessoas veem o mundo e interagem com ele. E não só isso,
consequentemente são alteradas todas as atividades humanas. Em
todos os setores de trabalho, interação entre pessoas, os aparelhos e
ferramentas tecnológicas representam, em maior ou menor grau, um
novo estágio, uma nova era na humanidade.
Especificamente no campo do jornalismo, a revolução da
internet dá sequência a uma série de mudanças já ocorridas nesse
campo por conta do aparecimento recorrente de novas plataformas,
como o papel, o rádio, a tevê, que foram igualmente inéditos e
transformadores em suas épocas de popularização.
Discussão já conhecida pelo profissional da comunicação é a
do “fim do jornalismo”, sempre pautada em tempos de crise, que, nos
tempos de hoje, deveria ser entendida como uma crise de formatos ou
de modelos de negócio, e não do jornalismo em si. A comunicação,
como elo entre o cidadão do Japão e o do Brasil, dos Estados Unidos e
da África do Sul, conecta acontecimentos e informações para o
crescimento de um espírito do “nós” da humanidade.
[A] conectividade faz com que se comece a produzir um efeito de
nosotrificación, a construção de um sentido renovado de nós que não
só se manifesta na identidade do grupo, mas no aumento da
capacidade para processar a informação, definir os problemas e
resolvê-los de maneira coletiva (GONZÁLEZ apud PERUZZO, p.92,
2010).
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 84 ]
Visto o levantamento de dados que conseguimos concretizar, a
mídia pós-massiva brasileira possui mais desafios a serem vencidos,
por ser o Brasil um país que ainda convive com oligopólios e
propriedade cruzada de meios de comunicação em seu território.
Devemos evitar aqui uma confusão comum: o monopólio não ocorre
apenas quando uma empresa detém 100% do mercado, mas também
quando, nas palavras de Calixto Salomão Filho, “um dos produtores
detém parcela substancial do mercado (por hipótese, mais de 50%) e
seus concorrentes são todos atomizados, de tal forma que nenhum
deles tem qualquer influência sobre o preço de mercado” (...). Seria,
portanto, mais claro afirmar que há monopólio quando um dos
agentes econômicos possui poder de alterar unilateralmente as
regras do jogo, atuando de forma independente em relação a seus
concorrentes. (CALIXTO; FORGIONI, apud LIMA; ARAÚJO, 2015,
s/p)
Partindo desse ponto de argumentação, poderíamos afirmar
que lidamos com um grande monopólio da comunicação no setor da
radiodifusão brasileira, comandado pela Rede Globo, por apresentar
maior porcentagem de emissoras próprias e afiliadas (39,61%) de
acordo com dados da Subcomissão Especial – Formas de
financiamento de mídias alternativas (CÂMARA DOS DEPUTADOS,
2013). A maior parte da receita publicitária da tevê aberta também
pertence ao grupo (73,5%), segundo pesquisa do projeto Donos da
Mídia disponibilizada no Observatório da Imprensa15.
Para além dos critérios do direito econômico, a propriedade cruzada
e a formação de redes de rádio e televisão consolidaram, ao longo do
tempo, uma estrutura fortemente concentrada nos meios de
comunicação social no Brasil – especialmente no setor de
radiodifusão – seja por falta de regulamentação, quanto por violação
15 Para ler a pesquisa, acesse: www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed833_monopolio_ou_oligopolio_contribuicao_ ao_debate
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 85 ]
às raras restrições impostas pela legislação. No caso específico da
radiodifusão, dados sobre a concentração no mercado demonstram
que a TV Globo exerce posição dominante e sugerem que esse poder
pode ser configurado como monopólio, em razão da fatia do mercado
controlada pela empresa e do poder de alteração unilateral das
regras, como ficou evidenciado no exemplo da negociação dos
direitos de transmissão do campeonato brasileiro de futebol. A
concentração desmesurada da propriedade implica ausência de
pluralidade e diversidade nos meios de comunicação social,
princípios centrais da vida democrática. (LIMA; ARAÚJO, 2015, s/p)
A mídia alternativa, assim, tem um longo caminho a percorrer
para driblar as grandes empresas e para fazer valer a legislação
brasileira, que, de tão grave a situação, de tão influente a mídia
tradicional, acaba submetida ao esquecimento, à vista grossa das
autoridades, para evitar “maiores problemas”.
O espaço livre disponibilizado pela internet tem muito a
contribuir para esse debate, o que nos aparece como forma de
continuidade ao trabalho investigativo, no sentido de estudar como
acontece a mobilização popular e de movimentos sociais em torno da
democratização da mídia. Muitas são as iniciativas contra-
hegemônicas que se valem da nova plataforma do ciberespaço para
abrir um canal de comunicação, mas que, por outro lado, tampouco
alcançam os que não estão conectados – o que torna a regulação da
televisão e do rádio, mais acessíveis, um primeiro passo
importantíssimo para oficialmente dar espaço às outras vozes do
Brasil, que não as defensoras do status quo.
Considerando que qualquer forma de expressão pode ser uma
mídia em si, todas têm seu papel frente ao processo democrático e à
expansão de informações e reflexões, e que contemplam “uma vasta
gama de atividades, desde o teatro de rua e os murais até a dança e a
música (...) e não apenas os usos radicais das tecnologias de rádio,
vídeo, imprensa e Internet” (DOWNING, 2002, p. 39). Como exemplo
dessa pluralidade de expressões culturais e alternativas ao padrão
hegemônico criado, temos o trabalho de diversos coletivos
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 86 ]
independentes, que se mostram persistentes na ideia de levar o
conhecimento e uma atitude crítica para suas comunidades e círculos
sociais, dentro e fora da internet.
Na cidade de Bauru, no interior de São Paulo, o projeto Wise
Madness começou em 2006 como um grupo de artes de rua e é hoje
uma organização que tem como principal objetivo atrair crianças e
jovens de comunidades carentes para “andar na contramão do
caminho do tráfico, das drogas e da marginalidade”, segundo Danny
Pagani, responsável de Comunicação e Marketing da organização.
A Wise Madness, “sábia loucura” em português, é sediada em
um galpão próximo aos bairros periféricos da cidade. Sustentada
inicialmente com o dinheiro dos próprios organizadores e muito
trabalho voluntário, a Wise hoje é contemplada com verbas
direcionadas da Secretaria Municipal da Cultura e do Bem-Estar
Social, como também do Conselho Municipal da Criança e do
Adolescente. Para tanto, durante o dia ONG oferece em seu espaço
atividades extracurriculares, ou seja, no contra turno escolar, para os
grupos de jovens e crianças que não estão na escola; durante a noite,
são ministradas oficinas de street dancing, skate, break, clown, entre
outras atividades, para um público sem restrições de faixa etária.
Além da construção de carreiras, a Wise, como defende Danny
Pagani, acredita na formação do cidadão e na motivação das crianças e
adolescentes para uma vida politicamente ativa – a formação do senso
crítico se dá após as oficinas no galpão, quando todos se reúnem para
um debate com tema pré-definido, geralmente acerca do que está
acontecendo no mundo, no Brasil e em diversos outros contextos que
possam ser abordados nas reuniões-debates.
E é justamente porque a consciência popular se renova, porque os
homens estão vivos e não deixam de sentir e pensar, porque eles são
capazes de contestar a ideologia imposta por poderosos aparelhos, de
reinterpretar o seu passado a partir de uma perspectiva não
hegemônica, que são também capazes de recriar signos e fazê-los
significar aquilo que eles querem que signifique, obrigando às classes
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 87 ]
hegemônicas o esforço contínuo de apropriação, esvaziamento e
mistificação. (PAIVA; DOS SANTOS, 2008, p. 67)
A pauta do midialivrismo entrou definitivamente em cena
depois do aumento do fluxo de mobilização e participação popular nas
políticas e sociais. A demanda por mais liberdade de expressão e de
informação midiática passou a agregar cada vez mais defensores e
ativistas. Em pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos e Opinião
Pública (NEOP) da Fundação Perseu Abramo (FPA), divulgada em 16
de agosto de 2013, o brasileiro revelou que não se sente representado
pela produção midiática que é veiculada no país, sendo que a pesquisa
relata que “a maioria dos entrevistados afirmou também que a TV
costuma dar mais espaço para os empresários que para os
trabalhadores, com 61% ante 18%, e 44% consideram que o noticiário
veiculado é quase só de São Paulo e Rio de Janeiro”, o que desponta,
claramente, como uma crise de representação na imprensa brasileira
(AGÊNCIA FPABRAMO, 2013).
Com base em 2400 entrevistados, a pesquisa mostra ainda
que a internet é o meio de comunicação que mais cresce atualmente, e
já ultrapassou o número de leitores de jornal impresso. Não poderia
ser diferente, uma vez que já é constatada a plena versatilidade para se
obter informação no mundo virtual. Mais do que isso, a liberdade de
não só “mudar o canal”, mas escolher previamente os conteúdos, de
cada um desses “canais”, a serem acessados. Com público crescente,
nada mais urgente do que uma política democrática para a utilização
da rede com fins sociais e de formação cultural e educativa.
A grande mídia nasceu e cresceu nos vendendo um serviço de
construção de sentido nessa massa crescente de informações. Claro
que o sentido que nos vendem traz embutido uma profunda
orientação ideológica. Nem poderia ser diferente. Ora, uma mídia
democrática não deveria nos imputar um sentido único para os fatos.
Mas, tampouco poderia abrir mão de tentar construir sentidos
possíveis. O jornalismo não pode abdicar do seu papel socialmente
relevante de construir cenários, analisar contextos, propor
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 88 ]
alternativas e sugerir nexos causais. E isso a simples cobertura em
tempo real não nos fornece. Muita informação sem contexto pode
acabar sendo informação nenhuma. (...) Essa massa de mídias pode
ser muito democrática, mas também pode nos empurrar para um
mundo de hiper-fragmentação ou, pior, de segmentação por nichos
de mercado. (...) Sem negar a conquista da interatividade e da oferta
de informações segmentadas, resta o desafio de saber como construir
pautas coletivas a partir de um jornalismo democrático e
colaborativo. (GINDRE, 2013, s/p)
As contradições, os prós e os contras da internet como meio
de comunicação e nova plataforma para o jornalismo estão aí para
serem vivenciadas e descobertas pelos produtores e receptores da
informação – que podem agora ser também produtores de seus
conteúdos quando desejarem. A construção desses espaços é o que vai
definir os moldes da profissão, os novos modelos de negócio e embalar
discussão da regulação e democratização da mídia no Brasil. Processo
sem o qual, ficam limitadas as perspectivas para uma ampliação da
atividade jornalística no país, com a regionalização da notícia, a
dissolução de grandes grupos empresariais e seus oligopólios.
Este livro-reportagem, elaborado como Produto de Conclusão
do Curso de Jornalismo da FAAC-UNESP, sintetiza uma série de
discussões que envolvem a comunicação e o jornalismo brasileiro na
teia do ciberespaço. A comunicação pós-massiva ganha, dia após dia,
seu reconhecimento, e se expandem possibilidades para esses veículos
alternativos, populares e comunitários, de adentrar o mercado da
comunicação com reais chances de manutenção econômica e de
alcance do público. As novas mídias no Brasil batalham para chegar ao
mesmo patamar de estabilidade dos grandes veículos de comunicação,
e têm ao seu lado uma grande aliada, a crise de formatos e de
linguagens da “velha mídia”, que derruba, aos poucos, as formas
tradicionais de se fazer jornalismo. A balança do jornalismo no Brasil
passa, lentamente, a pender para o lado da comunicação alternativa.
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 89 ]
Referências
AGÊNCIA FPABRAMO: Pesquisa FPA Democratização da Mídia: 43% não se reconhecem em programação de TV. Disponível em: http://novo.fpabramo.org.br/content/pesquisa-fpa-democratizacao-da-midia-43-nao-sereconhecem-em-programacao-de-tv. Acesso em: 11/06/2014 às 14:52 ARIAS, Juan. A Copa nos ajuda a descobrir que o Brasil já é um país normal. Site do Jornal El País – Edição do Brasil. Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/06/13/opinion/1402688745_879461.html. Acesso em: 13/06/2014 às 22:57. _________. Por que o Brasil e agora? Texto do jornalista do El País publicado no jornal O Estado de S. Paulo. Edição do dia 19/06/2013, p. A18. Disponível em: http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/20130619-43709-nac-17-cid-a18-not. Acesso em: 09/02/2015 às 23:03. ASSUNÇÃO, Marília; et al. Acesso ao porto de Santos fica 4h fechado. Acervo Estadão, p. A14, edição de 20/06/2013. Disponível em http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/20130625-43715-nac-13-pol-a14-not. Acesso em: 05/02/2015 às 23:00. BARTHES, Roland. O prazer do texto. Tradução de Maria Margarida Barahona. Prefácio de Eduardo Prado Coelho. Edições 70 - Coleção Signos : Lisboa, 1973. BRASIL247: Redes sociais rompem o cerco midiático. Disponível em: http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/134939/As-redes-sociais-rompem-o-cercomidi%C3%A1tico.htm. Acesso em: 07/01/2015 às 15:43.
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 90 ]
BREDA, Tadeu. Uma nova fase nos protestos? Texto para o portal Outras Palavras. Disponível em: http://outraspalavras.net/brasil/uma-nova-fase-nos-protestos/. Acesso em: 14/02/2015 às 19:02 BUSATO, Luciano. A ética nos meios de comunicação. Revista eletrônica Metavnoia. São João del Rey, n.3, p. 29-49, jul. de 2001. CANCLINI, Nestor García. Diferentes, desiguais e desconectados: mapas da interculturalidade. Tradução Luiz Sérgio Henriques – 2. Ed. – Rio de Janeiro : Editora UFRJ, 2007. CÂMARA DOS DEPUTADOS: Subcomissão Especial – Formas de financiamento de mídias alternativas da Câmara dos Deputados; Quadros 1 e 2, de outubro de 2013. CARTA CAPITAL: Estadão anuncia mudanças e deve demitir 50 jornalistas. Por Redação Carta Capital. Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/estadao-anuncia-mudancas-e-deve-demitir-50-jornalistas. Acesso em: 08/01/2016. CASSOL, Daniel. Brasil de Fato: a imprensa popular alternativa em tempos de crise. Dissertação (mestrado) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação. São Leopoldo, RS, 2010. COSTA, Andriolli. Mídias massivas e pós-massivas no fluxo das redes. Disponível em: http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=5572&secao=447. Acesso em: 25/01/2016 às 23:05. DOWNING, John D. H. Mídia Radical: rebeldia nas comunicações e movimentos sociais. São Paulo: SENAC São Paulo, 2002. F/NASCA SAATCHI & SAATCHI. F/RADAR – Democracia e consumo. Pesquisa Quantitativa Datafolha. 15° Edição – maio de 2015. Disponível em: http://www.fnazca.com.br/wp-content/uploads/2015/10/f_radar-2015-revisado.pdf. Acesso em: 08/01/2016 às 19:28.
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 91 ]
______________________. F/RADAR – Internet móvel, cidadania e consumo no Brasil. Pesquisa Quantitativa Datafolha. 14° Edição – abril de 2014. Disponível em: http://www.fnazca.com.br/wp-content/uploads/2014/12/fradar-14_publica-site.pdf. Acesso em: 08/01/2016 às 19:30. FOLHA DE S. PAULO: Consolidação de relatórios da Presidência da República elaborados com base em dados fornecidos pelo Instituto para Acompanhamento da Publicidade. Levantamento da Folha de S. Paulo publicado em 17/12/2014. FORRESTER, Viviane. O Horror Econômico. Editora Unesp. 1997. FÓRUM: Editora Abril fecha revistas e planeja demissões. Da Redação. Disponível em: http://www.revistaforum.com.br/2015/06/02/editora-abril-fecha-revistas-e-planeja-demissoes/. Acesso em: 08/01/2016 às 20:07. GINDRE, Gustavo. Gindre: Informação sem contexto pode ser informação nenhuma. Reprodução do blog pessoal do autor no site Viomundo. Disponível em: http://www.viomundo.com.br/politica/gustavo-gindre-informacao-sem-contexto-podeser-informacao-nenhuma.html. Acesso em: 21/02/2015 às 23:30. HARVEY, David (et al.). Occupy: movimentos de protesto que tomaram as ruas. São Paulo: Boitempo: Carta Maior, 2012. Tradução João Alexandre Peschanski ... et al. IAB Brasil; ComScore: Brasil Conectado – Hábitos de Consumo da Mídia – 2014. Disponível em: http://iabbrasil.net/portal/brasil-conectado-habitos-de-consumo-de-midia-2014/. Acesso em: 27/02/2015 às 16:20. IBGE: Síntese dos indicadores sociais 2013 – uma análise das condições de vida da população brasileira. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2013, Ministério do Planejamento, Orçamento
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 92 ]
e Gestão. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv66777.pdf. Acesso em: 04/03/2015 às 22:44. JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. Editora Aleph. 2009. JOHNSON, Steven. Cultura da Interface. Zahar Editora, 2001. KLEIN, Eloísa. Jornalismo alternativo: quando um modo de dizer e fazer é resistência. In: XI Colóquio Internacional sobre a Escola Latino-Americana de Comunicação, 2007, Pelotas/RS. Resumos e trabalhos completos Celacom 2007, 2007. v. 11. LEMOS, André. Cidade e mobilidade – Telefones celulares, funções pós-massivas e territórios informacionais. Artigo publicado na Revista MATRIZes, Vol. 1, N° 1, 2007. Disponível em: http://200.144.189.42/ojs/index.php/MATRIZes/article/viewArticle/3993. Acesso em: 25/01/2016 às 23:05. LIMA, Venício A. de; ARAÚJO, Bráulio Santos Rabelo de. Monopólio ou oligopólio? Contribuição ao debate. Reportagem publicada no site Observatório da Imprensa. Disponível em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed833_monopolio_ou_oligopolio_contribuicao_ao_debate. Acesso em: 22/02/2015 às 18:08. LÓPEZ GARCÍA, Xosé. Ciberperiodismo en la proximidade. Sevilla: Comunicación Social ediciones y publicaciones, 2008 MAGNONI, Antônio F. Dilemas do Jornalismo na era das redes digitais e da globalização. In: BRONOSKI; CARVALHO (Orgs.), Jornalismo e Convergência, São Paulo : Cultura Acadêmica, p.43-45, 2014, 280p.; e-book. Disponível em: http://www.culturaacademica.com.br/catalogo-detalhe.asp?ctl_id=436. Acesso em: 08/01/2016 às 19:45. ________________. Relatório de atividades apresentado à Pró-Reitoria de Pesquisa da Unesp, de estágio de pós-
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 93 ]
doutoramento realizado na Universidad Nacional de Quilmes, Argentina, 2010. MARICATO, Ermínia (et al.). Cidades Rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. 1.ed. São Paulo: Boitempo: Carta Maior, 2013 MATTOS, Sérgio Augusto Soares. Dilemas do Jornalismo impresso na busca de um novo modelo de negócio. Originalmente apresentado durante o VI Fórum EPTIC, disponível na Revista Eptic Online. Vol.16 n.1, p.19-32. Edição de janeiro-abril de 2014 MORAES, Dênis de. Comunicação, Hegemonia e Contra-hegemonia: a contribuição teórica de Gramsci. Revista Debates, Porto Alegre, v.4, n.1, p. 54-77, jan.- jun. 2010. MORIN, Edgar. Cultura de massas no século XX (O Espírito do Tempo). Rio de Janeiro : Companhia Editora Forense, 1969. Tradução de Maura Ribeiro Sardinha. OLIVEIRA, Dennis de. Os protestos e a prepotência da Folha de S. Paulo. Reportagem republicada na Revista Fórum, do blog do autor. Disponível em: http://www.revistaforum.com.br/blog/2013/09/a-prepotencia-da-folha-de-s-paulo/. Acesso em: 16/02/2015 às 00:10. PAIVA, Raquel; DOS SANTOS, Cristiano Henrique Ribeiro. Comunidade e contra-hegemonia: rotas de comunicação alternativa. Mauad Editora Ltda, 2008. PARÁ, Thiago. Pressão popular garante mais recursos para a Educação. Texto publicado na versão online do jornal Brasil de Fato. Disponível em: http://www.brasildefato.com.br/node/23855. Acesso em: 15/02/2015 às 19:45. PIVA, Marco. Tentação autoritária dos protestos põe em risco reformas que o Brasil quer. Reportagem publicada no site da Revista Fórum. Disponível em:
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 94 ]
http://www.revistaforum.com.br/blog/2013/06/tentacao-autoritaria-dos-protestos-poeem-risco-reformas-que-o-brasil-quer/. Acesso em: 17/02/2015 às 02:42 PERUZZO, Cicília. Revisitando os Conceitos de Comunicação Popular, Alternativa e Comunitária. Artigo apresentado no XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Brasília, 6 a 9 de set. 2006. ____________. Desafios da Comunicação Popular e Comunitária na Cibercultur@: Aproximação à proposta de Comunidade Emergente de Conhecimento Local. Versão revista e ampliada do trabalho apresentado no Grupo de Trabalho “Comunicación Popular, Comunitaria y Ciudadania”, X Congreso Latinoamericano de Investigadores de la Comunicación , realizado na Universidad Javeriana, 22 a 25 de setembro de 2010, em Bogotá, Colombia. ROVAI, Renato. Estudo mostra que Passe Livre teve 62% de apoio nas redes sociais no dia 13/6. Mapeamento da Interagentes em parceria com a Revista Fórum. Disponível em: http://www.revistaforum.com.br/blog/2013/06/mapeamento/. Acesso em: 17/02/2015 às 02:48. SÁ, Nelson de. Quem paga a conta? In: Observatório da Imprensa edição 762. Disponível em: http://observatoriodaimprensa.com.br/jornal-de-debates/_ed762_quem_paga_a_conta/. Acesso em: 09/01/2016 às 20:10. SADER, Emir. Quem é progressista e quem é de direita. Artigo publicado na Carta Maior, maio de 2012. Disponível em: http://cartamaior.com.br/vice?/Blog/Blog-do-Emir/Quem-e-progressista-e-quem-e-de-direita/2/27162. Acesso em: 03/08/2015 às 23:34. SECOM: Pesquisa Brasileira de Mídia 2015. Disponível em: http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-
[ Jornalismo Pós-Massivo, por Bibiana Alcântara Garrido ]
[ 95 ]
quantitativas-e-qualitativas-de-contratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf. Acesso em: 08/01/2016 às 21:08. SOUZA, Jessé; et al. A ralé brasileira: quem é e como vive. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009. TEIXEIRA, Patrícia Brito. Conflitos da vida moderna: ética, comunicação e crise. Comtempo: Revista eletrônica do Programa de Pós-graduação da Faculdade Cásper Líbero, v. 2, n. 1, jun. de 2010. TELEBRASIL: Associação Brasileira de Telecomunicações. Brasil fecha primeiro trimestre com mais de 145 milhões de acessos em banda larga. Disponível em: http://www.telebrasil.org.br/sala-de-imprensa/releases/5841-brasil-fecha-primeiro-trimestre-com-mais-de-145-milhoes-de-acessos-em-banda-larga. Acesso em: 08/01/2016 às 19:33. VEJA: PM revista e efetua detenções durante protesto. Da Redação, 2013. Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/pm-revista-e-efetua-detencoesdurante-protesto. Acesso em: 05/02/2015 às 23:56. ZILBOVICIUS, Mauro; GREGORI, Lúcio. Tarifa do transporte: o que está por trás dela? Texto publicado na versão online do jornal Brasil de Fato. Disponível em: http://www.brasildefato.com.br/node/15081. Acesso em: 15/02/2015 às 19:42.