Kabod Em Ezequiel

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O TERMO izo NO LIVRO DE EZEQUIEL Dissertao de Mestrado por Marivete Zanoni Kunz em cumprimento parcial das exigncias do Instituto Ecumnico de Ps-Graduao em Teologia para obteno do grau de Mestre em Teologia Escola Superior de Teologia So Leopoldo, RS, Brasil Agosto de 2006 2 KUNZ,MariveteZanoni.Otermoizonolivrode Ezequiel.SoLeopoldo:EscolaSuperiordeTeologia, 2006. SINOPSE O presente trabalho consiste em uma anlise do conceito de kabod nolivrodeEzequiel.Estetermotambmutilizadoemoutras partesdoAntigoTestamento.Assimapesquisatambmfarum brevelevantamentodesteuso.Noprimeirocaptuloserfeitoo exame do uso do termo em outras partes do Antigo Testamento, bem comoumaconceituaogeral.Nasegundaparteserabordado aspectos do livro de Ezequiel ligados ao contexto da poca, tais comoasituaohistrica,poltica,socialereligiosa.Finalmente, na terceira parte o estudo estar totalmente voltado a algumas percopes do livro. Este estudo acontecer a partir da exegese das mesmas. A estrutura oferecer uma descrio geral do contexto literrio da percope que ser estudada detalhadamente, seguido do estudo detalhado de uma percope do bloco destacado e uma reflexo sobre kabod na seo. 3 KUNZ,MariveteZanoni.Otermoizonolivrode Ezequiel.SoLeopoldo:EscolaSuperiordeTeologia, 2006. ABSTRACT This essay is an analysis of the kabod concept in the book of Ezekiel.ThesamewordisalsousedinotherpartsoftheOld Testament.Thereforetheresearchwillalsomakeabriefsurvey of this use.In the first chapter, an examination of the use of thewordinotherpartsoftheOldTestamentwillbemade,as wellasageneralconceptualization.Inthesecondchapter, aspects of the book of Ezekiel related to the time context, such asahistorical,political,socialandreligioussituation. Eventually, in the third chapter, the study will be completely on somebookexcerpts.Thisstudywillhappenfromtheirexegesis. Thestructurewillofferageneraldescriptionoftheexcerpt literarycontext,whichwillbestudiedindetail,followedby its detailed study, emphasizing a consideration about kabod in the section. 4 O TERMO izo NO LIVRO DE EZEQUIEL SUMRIO INTRODUO .......................................... 6 I - O TERMO KABOD NO ANTIGO TESTAMENTO .............. 8 1.1 Ocorrncias e uso da raiz zo zo zo zo ................ 8 1.2 Uso do substantivo izo izo izo izo no AT, exceto P e Ezequiel........................................ 12 1.2.1 Tor.......................................... 13 1.2.2 Profetas...................................... 14 1.2.3 Escritos...................................... 16 1.2.4 Na Septuaginta................................ 18 1.2.5 izo izo izo izo nas manifestaes de Deus ................. 20 1.2.6 izo izo izo izo nas respostas do ser humano a Deus ........ 23 1.3 i izo i izo i izo i izo em P e Ezequiel...................... 27 1.3.1 Os sentidos de izo izo izo izo em P ....................... 27 1.3.2 O sentido geral de izo izo izo izo em Ezequiel ............ 30 II O LIVRO DE EZEQUIEL, PROFETA DO JULGAMENTO .... 35 2.1 Seu Contexto................................ 35 2.1.1 Aspectos de histria poltica................. 35 2.1.2 Aspectos de histria social e econmica....... 43 2.1.3 Aspectos de histria religiosa................ 47 2.2 Seu escrito................................. 54 2.2.1 Autoria....................................... 54 2.2.2 Estrutura do livro............................ 58 2.2.3 Formas literrias............................. 60 2.3 Sua mensagem................................ 64 III AS VISES DE KABOD EM EZEQUIEL ............... 70 3.1 Viso da vocao e misso (Ezequiel 1-5).... 70 3.1.1 Texto Hebraico com anlise crtica textual.... 73 3.1.2 Traduo do texto de 3.22-27.................. 75 3.1.3 Aspectos literrios da percope e seu contexto 75 3.1.4 Anlise semntica de 3.22-27.................. 88 3.1.5 Discusso especfica sobre a izo izo izo izo .............. 92 3.2 Viso do juzo (Ezequiel 8-11).............. 99 3.2.1 Texto Hebraico com anlise crtica textual... 103 3.2.2 Traduo do texto de 10.1-22................. 106 3.2.3 Aspectos literrios da percope e seu contexto109 3.2.4 Anlise semntica de 10.1-22................. 121 3.2.5 Discusso especfica sobre a izo izo izo izo ............. 125 3.3 Viso da renovao (Ezequiel 40-48)........ 128 3.3.1 Texto Hebraico com anlise crtica textual... 129 3.3.2 Traduo do texto de 43.1-9.................. 131 5 3.3.3 Aspectos literrios da percope e seu contexto132 3.3.4 Anlise semntica de 43.1-9.................. 140 3.3.5 Discusso especfica sobre a izo izo izo izo ............. 146 CONCLUSO ......................................... 150 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................ 154 6 INTRODUO OinteressedestapesquisadevidovriaspassagensdoAntigo Testamento falarem sobre a glria de Deus: do desejo de ver a sua glria, da glria de Deus que apareceu sobre o monte, da glria que apareceu a todo o povo, da glria que encher toda a terra, da glria de Deus que foi retirada, etc. Entretanto, a presente pesquisaterporobjetivoconceituarotermoizo(kabod)em Ezequieleverificarsepossuisempreomesmosignificado.No desenvolvimentoserfeitaaanlisedepassagensquefazemuso do mesmo, com a inteno de observar se h nestas a manifestao dapresenaepessoalidadedivina.Assim,oobjetivoserde buscar os significados do termo izo (kabod) no livro de Ezequiel, atravs da exegese de alguns blocos do livro. Apesquisapartedapressuposiodeque,emalgunstextosde Ezequiel, izo (kabod) representa proteo e assistncia do Senhor. TambmdopensamentodequediferentespassagensdeEzequiel expressamaiizo(kebdYhwh)comomanifestaodapresenae pessoalidadedivina,sendoqueamesmanopermaneceemlocais abominveis. E ainda de que um dos propsitos da manifestao da iizo(kebdYhwh)erarevelaredestacarograude relacionamentodopovocomoseuDeus,bemcomoestava representando a presena de Deus junto ao seu povo. Pelo fato do livro de Ezequiel mostrar marcas da histria do seu povoerevelarfatosdeumageraoquesofreuodomniode poderososimprios,estetrabalhotrarconsideraessobreo contexto onde viveu e estava inserido o profeta. A execuo ser pelaavaliaodocontextodavidadoprofeta,dasituao histrica, poltica, social, econmica, religiosa da poca, tanto do local onde Ezequiel vivia, o estado de Jud, bem como, da vida de Ezequiel e de seu povo no cativeiro babilnico. Tambm buscar-se- conhecer e considerar, neste trabalho, a pessoa do profeta, desdeassuasorigensfamiliares,suachamadaaoministrio proftico,atasuapersonalidade,seujeitodeviverede 7 transmitiramensagemquerecebeudoSenhor.Seroobservados quaiseramosmeiosqueeleutilizavaparacumprirtalmisso, por isso haver a necessidade de um olhar sobre todo o livro para reconhecersuaspeculiaridades,comeandoporsuaautoria, estrutura, at a identificao de sua forma literria, etc..importanteavaliaroqueelequeriamostrarcomaquiloque falava. Tambm necessrio saber se esta mensagem era exclusiva ao seu povo ou envolvia outras naes, bem como, se a expectativa queeletraziaaoseupovoeaoutroseradejulgamentoou esperana e consolo. 8 I - O TERMO KABOD NO ANTIGO TESTAMENTO 1.1 Ocorrncias e uso da raiz zo zo zo zo Araizzo(kabed)eseusderivadosaparecemfreqentementeno Antigo Testamento. E, fica evidente que existe pouca diferena ou contradio, entre os artigos de dicionrios e as concordncias, comrelaoaonmerodevezesqueotermoizo(kabod) encontrado.Enquanto alguns autores dizem que este termo aparece 199 vezes no Antigo Testamento,1 outros dizem que o termo aparece 200 vezes e a raizetermosderivadosaparecemnaBbliahebraicacerca376 vezes, sendo que destas ocorrncias, 114 so como verbos.2 Ainda com relao distribuio do termo, h uma descrio detalhada, na qual verifica-se que so 24 as ocorrncias do termo izo (kabod) no Pentateuco (13 em P), 7 na histria deuteronomstica, e 18 na cronista.ConformeLisowsky,emsuaconcordnciadoAntigo Testamento,araizzo(kabed)comseusderivados,entreesteo termoizo(kabod),aparece386vezesnoAntigoTestamento.3Se seguimosaconcordnciadeLisowski,podemosdestacarquea diferena no nmero de ocorrncias se deve diferente forma de contagem dos derivados da raiz zo (kabed). Ambos os autores, Oswalt e Weinfeld, salientam as vrias ocasies queotermoestnolivrodeSalmos.Weinfeld,referindo-se especificamente a izo (kabod), nos Salmos, comenta em 51 vezes,4 enquanto Oswalt, referindo-se raiz zo (kabed) e seus derivados comenta ser 64 vezes.5 Weinfeld acrescenta que as 51 ocorrncias de izo (kabod) nos Salmos e as 16 em Provrbios ilustram o afeto queesteslivrostmpelotermo,apesardosSalmosfalarem 1WEINFELD,M.zo zo zo zo.In:BOTTERWECK,G.J.;RINGGREN,H.;FABRY,H.J. Theological dictionary of the Old Testament, p. 24. 2 OSWALT, J. N.iz_o iz_o iz_o iz_o. In: HARRIS, R. Laird.; ARCHER, Jr. Gleason. L.; WALTKE, Bruce. K. Dicionrio internacional de teologia do Antigo Testamento, p. 695 - 698. 3 LISOWSKY, G. Konkordanz zum hebrischen Alten Testament, p. 659-662. 4 WEINFELD, M. Op. cit., p. 24. 5 OSWALT, J. N. Op. cit., p. 695. 9 principalmentedeiizo(kebdYhwh),enquantoProvrbiosfala maisdeizo(kabod)humano.6Apesardehaverconcordnciaentre algunsautoresqueotermobemvisvelnoslivrosdeIsaas, xodo,EzequieleProvrbios7,otermoizo(kabod)freqente especialmentenosprofetasIsaaseEzequiel,eencontrado ocasionalmente em Jeremias e nos profetas menores.8

importantesalientarqueizo(kabod)derivadezo(kabed),e quando aparece em algumas passagens como sendo substantivo denota pesonosentidofsicocomotambmgravidadeeimportnciano sentido espiritual, isto , honra e respeito.9 Ainda que o sentido bsicodestaraiz,zo(kabed),de`serpesado,este significado raramente usado literalmente; o sentido figurado maiscomum.maiscomumutilizarotermonosentidodealgum ser honrado e respeitado.10 Entretanto, quando izo (kabod) aparece comosubstantivo,pode-sedistinguirtrsmodosprincipaisde emprego. Dois j foram citados: o primeiro, como peso, no sentido fsico;segundo,comohonraeaglrianonveldasrelaes inter-humanas; e, o terceiro como honra e glria a Deus. Estes trsmodosdevemserexplicadosapartirdosignificado fundamentalpesoouimportncia.importantelembrarqueizo (kabod)comosubstantivo,nuncasignificapesonosentido negativodecargaouopresso.izo(kabod)comosignificado fsico peso aparece em Is 22.24 colocaro ali toda a carga (ou colocaro todo izo (kabod)), que seriam os objetos das tribos; Os 9.11ondeEfraimaparececomoumpssaroqueperdetodasua carga.11 Em alguns casos, o significado concreto do termo izo (kabod) no mudamuito,comoquandoseaplicaidiadeumbosque(Is 6WEINFELD,M.zo zo zo zo.In:BOTTERWECK,G.J.;RINGGREN,H.;FABRY,H.J. Theological dictionary of the Old Testament, p. 24. 7 OSWALT, J. N. OSWALT, J. N. iz_o iz_o iz_o iz_o. In: HARRIS, R. Laird.; ARCHER, Jr. Gleason. L.;WALTKE,Bruce.K.DicionriointernacionaldeteologiadoAntigo Testamento, p. 695. 8 WEINFELD, M. Op. cit., p. 24. 9 Ibidim, p. 23. 10 OSWALT, J. N. Op. cit., p. 695. 11 WESTERMANN, C. zo zo zo zo. In: JENNI, E. (edit.). Diccionario teologico manual del Antiguo Testamento, p. 1095. 10 60.13);mas,quandoserefereaumpas,entoadquireum significadomaisgeraleabstrato.Aizo(kabod,glria)dos pases no se capta da mesma forma que a izo (kabod, glria) de um bosque. A izo (kabod, glria) de um pas se manifesta em vrios fenmenosqueformamsuaprosperidadecomoagrandezadas cidades,odesenvolvimentocultural,opodereaatividade poltica, o poder militar, e, ainda, a classe aristocrata do pas considerada como sua izo (kabod, glria). Vale lembrar que, em algumaspassagens,izo(kabod,glria)noserefereauma realidade presente, mas a izo (kabod, glria) de um pas e de um povo algo anunciado para o futuro, a exemplo de Is 4.2.12 Uma outra idia que est presente no termo izo (kabod, glria), em alguns textos, como de Is 10.18; 35.2; 60.13; Ez 31.18 aquela que d a impresso de grande vitalidade, ou chama a ateno por sua formosura. Alguns objetos feitos pelo ser humano tambm podem dar a impresso de magnificncia e esplendor, como carroas em Is 22.18, bezerro em Os 10.5, templo em Jr 14.21,17, e em Ag 2.3-9, referindo-se a moradia do rei nos fins dos tempos.Hconsensoqueapesardestaserumaraizcomumslnguas semticas, no aramaico o equivalente de izo (kabod, glria) seria ;.13Eestanoaramaico,temaconotaodedifcile respeitado,14 alm de tambm poder ser definido por preciosidade, honra,esplendor,pompa.15Masoimportanteobservarqueesta raiz e seus derivados tambm transmitem a idia de pesado, honra, dignidade. O termo zo (kabed) aparece como verbo, em sua maioria, como qal e hifil.16 Todas as vezes que o termo zo (kabed) aparece como verbo pode ser entendido a partir do significado peso. Entretanto, no grauqalseempregaempoucasocasies,referindo-seaopeso 12WEINFELD,M.zo zo zo zo.In:BOTTERWECK,G.J.;RINGGREN,H.;FABRY,H.J. Theological dictionary of the Old Testament, p. 1094-1095. 13OSWALT,J.N.iz_o iz_o iz_o iz_o.In:HARRIS,R.L.;ARCHERJr.G.L.;WALTKE,B.K. Dicionrio internacional de teologia do Antigo Testamento, p. 695. 14 WEINFELD, M. Op. cit., p. 23. 15HARTLEY,J.E._;_ _;_ _;_ _;_.In:HARRIS,R.L.;ARCHER,Jr.G.L.;WALTKE,B.K. Dicionrio internacional de teologia do Antigo Testamento, p. 652. 16 OSWALT, J. N. Op. cit., p. 695. 11 fsico,comoemIISm14.26ePv27.3.EmJ6.3,huma comparao do peso de sua desgraa com o peso da areia do mar. O sentido fsico se aproxima tambm da idia de trabalho pesado ou deprestaodeservio(x5.9;Ne5.18).Quandozo(kabed) usado como verbo no hifil pode expressar a idia de oprimido, ou pesodeumjugo(IRs12.10-14;IICr10.10-14;Is47.6;Ne 5.15).17Osgrausqalehifil,constituemamaiorpartedas referncias. Quandozo(kabed)usadocomoverbopielsignifica,quase sempre,honraoudarimportnciaaalgum,ouaindareconhecer algumcomoimportante(x20.12;Dt5.16;Ml1.6).18Tantoos graus nifal como piel tem esta conotao ou idia de algo pesado no sentido de merecer aluso, por isso suas tradues usuais so honroso, glorioso e glorificado.19 Quando zo (kabed) apresenta-se como verbo piel no tem sentido passivo, mas reflexivo, de forma que Deus cria sua prpria importncia. Deus outorga a si mesmo a honra que lhe devida.20

Oempregodopielcorrespondeaonifal,ondeoserhumano honrado por outro ser humano (Gn 34.19; I Sm 9.6). Assim, o piel designaumreconhecimentodaposioquealgumocupa,no designa uma distino que coloca o ser humano acima dos demais. evidente que no Antigo Testamento a idia do ser humano honrar a outro to evidente como a dele honrar a Deus. Porm o emprego caracterstico do modo piel tambm deve ser entendido a partir do significadofundamentalpeso.21Quandoousodaraizno teolgico,podeserdefinidaporpeso,fardo,propriedade, aparncia,reputao,esplendor,magnificncia,distino, respeitoehonra.Quandoutilizadadeformateolgicarecebeo sentido de glria, honra, poder, e autoridade.22 17 WESTERMANN, C. zo zo zo zo. In: JENNI, E. (edit.). Diccionario teologico manual del Antiguo Testamento, p. 1092-1093. 18 Ibidim, p. 1092-1093. 19OSWALT,J.N.iz_o iz_o iz_o iz_o.In:HARRIS,R.L.;ARCHERJr.G.L.;WALTKE,B.K. Dicionrio internacional de teologia do Antigo Testamento, p. 696. 20 WESTERMANN, C. Op. cit., p. 1099. 21 Ibidim, p. 1094-1098. 22 KIRST, N.; et.all. Dicionrio hebraico portugus e aramaico-portugus, p. 98. 12 Assim, percebe-se que a raiz zo (kabed) mostra a importncia e a necessidade que h de se reconhecer a posio de cada objeto ou ser humano, bem como do ser divino. Os textos que se encontram no tempopielrevelamqueabsolutamenteinevitvelquese reconhea tal posio. A partir da idia contida nos verbos que aparecemnotempopielpode-sedizerquearaizzo(kabed) significadarodevidoreconhecimentoaquemmerece.Aidia contidanosubstantivoizo(kabod,glria)estprximade,ou expressaaidiacontidanosverbosqueestonopiel,pois mostra que o ser humano precisa tributar a honra a quem merece a mesma. Fica claro, em alguns textos (Sl 29.3; 96.7, I Cr 16.28, Ml 2.2; 9.6), que zo (kabed) um termo-chave e indica a importncia e a exigncia que existe em se de dar ou prestar honra a Deus, pelo fatodeleserDeusetambmporoutrosaspectoscomoodeSua atividadecomoserhumanoecomanatureza.Porisso,pode-se dizer que zo (kabed) salienta a magnitude e o poder de Deus. Na realidade a idia expressa pelo termo izo (kabod, glria) exige um comportamentoadequadodoserhumanoondeeledeveprestara honra devida ao Senhor (Js 7.19, I Sm 6.5). Nohdvidasqueotermoizo(kabod)podesertraduzidopor glrianamedidaemquecomunicaaconcepodealgooualgum que tem peso ou at mesmo uma posio de honra e dignidade. O termo,comosubstantivoeverbo,podeserempregadotantoem relaoaoserhumanocomoemrelaoaDeus.Quandousadoem relao ao ser humano expe o valor de seus bens materiais como tambm seu crdito e estima. Quando relacionado a Deus revela seu poder e autoridade. 1.2 Uso do substantivo izo izo izo izo no AT, exceto P e Ezequiel Como preliminar para o estudo de izo (kabod) em Ezequiel, passo a fazerumexamedousodotermoizo(kabod),restringindo-meao aspecto que pode ser traduzido por glria. Devido abrangncia do uso do termo, abord-lo-ei de duas maneiras: (1) a partir da 13 divisocannicadaBbliaHebraica,demodoquepossamos apreciar a peculiaridade do uso na tradio representada por P e pelo livro de Ezequiel; e (2) a partir das acepes que o termo assume quando aplicado a Deus e resposta do ser humano a Deus. Teo breves comentrios sobre o uso do termo na Septuaginta, de formaadestacaravalidadedacompreensodeizo(kabod)como glria.1.2.1 Tor O significado de glria no Pentateuco, ao que tudo indica, parece seraformamaisprimitivadoconceitoizo(kabod)aparecer.A descrio do Pentateuco sobre a izo (kabod, glria) do Senhor se faz principalmente em termos que vem sugerir uma coluna de nuvem eumadefogo,deformaqueestastambmeramvistascomo manifestaesvisveisdapresena,bemcomodaproteodo Senhor. Esta izo (kabod, glria) habitava na tenda (x 40.54; Nm 14.10) e tambm se apresentava como fumaa e fogo (Dt 5.21).23 AlgunsautoresconcordamqueIsraelexperimentouaizo(kabod, glria) de Deus como um fogo devorador sobre o cume do Sinai. O esplendordaizo(kabod,glria)divinaeratantoquenemmesmo Moisspdecontemplar.Estamanifestaoeapresenasensvel da izo (kabod, glria) de Deus, durante a peregrinao atravs do deserto, se repetiram mais tarde no templo de Jerusalm, de forma queestandoaliaizo(kabod,glria)deDeus,nadapodia penetrar, pois ela ocupava todo o espao. Assim, Sio tambm era um local especial para as manifestaes desta.24 Entretanto, o pensamento de izo (kabod, glria) no Pentateuco no se resume apenas a uma coluna de fumaa ou fogo, mas tambm est associado(acompletamagnificnciaougrandiosidadedasua presena) com teofanias, atos de salvao, e julgamento. Assim, a izo (kabod, glria) , sim, um fogo voraz envolvido com nuvens no Monte Sinai (x 24.16-17). Mas atravs da nuvem e do fogo (luz) a izo (kabod, glria) de Deus acompanhou Israel na peregrinao (x 23 McKENZIE, J. L. Diccionario bblico, p. 388. 24 RAURELL, F. Glria. In: Enciclopdia de la Bblia, p. 906. 14 13.21),encheuotabernculo(x40.34-38)eotemploe santificou o servio do culto (Lv 9.23). Deus mostra a izo (kabod, glria)delenasalvao:navitriasobreoFaranoMar Vermelho(x14.4)enaprovisodomannaregio(x16.7). Quandoaspessoasserebelavam,aizo(kabod,glria)tambm acompanhava atravs do julgamento (Nm 16.42-50).25 Ficaevidentequeostextosdeizo(kabod,glria)queesto ligadosaoPentateuco,relacionam-sedemaneiraespecialcoma sada do povo do Egito, onde a izo (kabod, glria) se apresenta pormeiodeumanuvem(x16.10;24.16;Lv9.6-23;Nm14.22; 16.19;17.7;20.6),queguiaopovonodeserto,nuvemestaque pousanoMonteSinai,ondeMoissviuaizo(kabod,glria)do Senhor (x 24.15-18). Tambm pode-se dizer que a nuvem o tipo deizo(kabod,glria)quesetornouvisvelaopovocomo manifestaodaproteodoSenhor(x16.10),bemcomodoSeu juzo(Nm14.10-22;16.19-30).NoPentateucoaaparioou apresentao da izo (kabod, glria) era algo totalmente visvel, bem como sua manifestao em relao a estar prestando auxlio ou juzo. ComrelaoaostextosdoPentateuco,evidencia-setambma importncia da tenda naquilo que se refere izo (kabod, glria), aocontrriodaquiloqueacontecenoshistricos,ondeaizo (kabod,glria)estmaisrelacionadacomotemplo.Otemplo pareceser,noslivroshistricos,olocalondeaizo(kabod, glria) do Senhor se localiza de forma especial (I Rs 8.11; II Cr 7.1-2). 1.2.2 Profetas Apesar da izo (kabod, glria) aparecer nos profetas da mesma forma queemtextosdoPentateuco,ondeelavistacomonuvensque cobremIsrael,noslivrosprofticosoconceitodeizo(kabod, glria) j um pouco diferente daquele encontrado no Pentateuco. Isto pode ser visto em textos como de Is 35.2; 40.5; 66.18, nos 25GWALTNEY,D.D.;VUNDERINK,R.W.Glory.In:Eerdmansdictionaryofthe Bible, p. 507. 15 quaisveraizo(kabod,glria)doSenhortambmsignifica testemunharseusatosdesalvao,ouseusbenefcios.Neste sentido, a izo (kabod, glria) do Senhor pode ser considerada uma manifestao visvel da divindade do Senhor e, tambm, se define comorevelaodesantidade.Elapercebidacomoumaluz brilhante,visvelaossereshumanosquandoguardadaporuma nuvem que recebe luminosidade daquilo que ela contm. O aspecto luminoso da izo (kabod, glria) fica evidente em textos como de Is 60.1.26

notrio que a manifestao da izo (kabod, glria) nos profticos apresenta-se como algo que faz parte ou pertence ao ser de Deus. Elasemanifestacomoalgopoderoso,ouoprprioDeusquevem auxiliar ao povo. Textos como de Is 40.5 deixam claro que a izo (kabod, glria) se manifesta com o propsito de que acontea um reconhecimento da ao de Deus por parte da humanidade. Ou seja, quandoaizo(kabod,glria)semanifestaoprpriopoderde Deus.Assim,pode-sedizerqueaizo(kabod,glria),nos profticos,conformeIs66.18,apresenta-secomoalgopoderoso pertencenteaalgumouaumser,ouatmesmocomosendoa essnciadesteser.Quandoaessnciasemostra,narealidade exibe-seapessoaemsi.Portanto,nosprofetasquandoaizo (kabod, glria) se manifesta o prprio Senhor se revelando, com propsitosespecficos,taiscomoodeserreconhecidocomo verdadeiro Deus entre as naes. OutraidiaquesurgenosprofetasequenoPentateucono encontrada, a de que a izo (kabod, glria) estaria sendo usada paraexporaexcelnciadeseuagir.Quandoelamanifestada contrastadeformagrandiosacomarealidadepresente.27Ainda estbemcompreensvelqueemalgunstextosdoslivros profticos, a manifestao de izo (kabod) realmente esperada e anunciada para o futuro. A base destas passagens vem da idia de que o i izo (kebd Yhwh) manifesta-se em sua atividade histrica 26 McKENZIE, J. L. C. Diccionario bblico, p. 388. 27HARRISON,E.F.Glria.In:ELWELL,W.(edit.).Enciclopdiahistrico teolgica da igreja crist, p. 200-201. 16 e ter lugar no futuro. Um exemplo seria o texto de Isaas 40.3-5,quemostraqueaintervenodoSenhorconsisteemacharo caminhoparaqueopovopossaretornarsuaptria,enisso queserevelaroiizo(kebdYhwh).Aimportncia(ou existncia) de izo (kabod) no era percebida no exlio, mas com a libertao voltou a ser reconhecida por todo mundo.28 Destamaneirapossvelafirmarquenosprofetasaizo(kabod, glria) de Deus ainda encontrada atravs de teofanias (Is 6.3) e manifestada no julgamento sobre o Israel rebelde (Is 2.10) e as naes (Is 10.16, Assria). Entretanto, acrescenta-se que Deus mantmuminabalvelpactocomorestodopovofielaele prometendo salvao (Is 40.5; 46.13 [libertao do cativeiro]) e proteo(Is58.5-8[casoopovotivessevidacorreta,justa diantedoSenhor]),pormeiodamanifestaodesuaizo(kabod, glria).29 1.2.3 Escritos Naliteraturasapiencialeproverbialexisteumgrupodetextos que emprega izo (kabod, glria) no sentido de honra, designando a posioprivilegiadaqueocupaumapessoanasociedadeemque vive.Estestextospodemsereferirtantoamulheresquantoa homens,aexemplodePv3.35;11.16;15.33;18.12;29.23;Ec 10.1.Estahonrapodeseperderporumacondutainadequada(Pv 26.1-8),edevemanifestar-senocomportamentodapessoa(Pv 20.3;25.2),poisavidaeahonrasecorrespondem(Pv21.21; 22.4).AindaexisteumgrupodeSalmosquefalamdamortede pessoas honrveis. So lamentos, pelo fato que, de certa maneira, ahonradestaspessoasfoieliminadacomamortedasmesmas. Entretanto, eles tambm fazem confisso de confiana em Deus, por Ele ter conservado a honra destas pessoas (Sl 3.3-4; 4.2-3; 7.5-6; 62.7-8; 73.23-24; 84.11-12).30 28 WESTERMANN, C. zo zo zo zo. In: JENNI, E. (edit.). Diccionario teologico manual del Antiguo Testamento, p. 1106. 29 GWALTNEY, D. Darrell; VUNDERINK, Ralph. W. Glory. In: Eerdmans dictionary of the Bible, p.507. 30 WESTERMANN, C. Op. Cit., p. 1097. 17 ComrespeitoveneraoclticaaoSenhor,algumasfrasesso caractersticasdosSalmos,comoporexemplo:Sl145.5e138.5 ...poisgrandeaglria(kabod)doSenhor.Estasfrases mostramaconcepodoiizo(kebdYhwh)entronizadoemseu templo.NoSl26.8,otemplomencionadodeformaexpressiva: asmoradasdetuacasa,olugaronderesideatuaglria (kabod).31 NosSalmosaizo(kabod,glria)deDeustambmrepousano poderosotrabalhomanifestonasuacriao(Sl19.1;29;97.6; 104).IsraeltambmcultuaDeusporseuspoderosostrabalhosde salvaonahistria(Sl66,105).Deusovitoriosoreide glria (Sl 24.7-10), sua presena agora repousa em Sio (Sl 26.8; 63.2).NosSalmos,damesmaformaquenosprofetas,ha proclamaodeumaesperanaescatolgicaatravsdeafirmaes tais como: a terra inteira ser enchida da glria do Senhor (Sl 66.2-4;138.4-5).Estereino,segundoGwaltneyeVunderink, despertarquandoasnaesconheceremaizo(kabod,glria)do Messias e a sua paz.32 Ao que parece, nos escritos e na literatura proverbial existe uma grande nfase de izo (kabod, glria) com relao s pessoas. Aqui, de maneira diferente do Pentateuco e dos Profetas, a izo (kabod, glria)algoquepodeserperdida,oupossvelser conquistadaapartirdacondutaindividual.Apesardestanfase dada ao ser humano, izo (kabod, glria) de Deus no esquecida, mas reconhecida pelo povo, nos momentos de adorao, atravs da maravilhosacriaoedosatosdesalvaodoSenhor.Nos Escritosexisteumagrandenfasedaizo(kabod,glria)com relaocriaoeumreconhecimentodaatuaodestana histria do ser humano. Tanto nos Escritos como no Pentateuco e nos Profticos, ela usada para demonstrar o poder e a grandeza do Senhor (Sl 24). Cantem os caminhos do Senhor, pois grande a glria (kabod) do Senhor (Sl 138.5). 31 WESTERMANN, C. zo zo zo zo. In: JENNI, E. (edit.). Diccionario teologico manual del Antiguo Testamento, p. 1105. 32GWALTNEY,D.D.;VUNDERINK,R.W.Glory.In:Eerdmansdictionaryofthe Bible, p. 507-508. 18 Otermo,nosEscritos,aindautilizadocomosendoumnome atribudo ao Senhor a exemplo do Sl 24.9 Levantai, portas, as vossas cabeas; levantai-vos, entradas eternas, e entrar o Rei daGlria,sendoqueestatambmpossuiumlocaldemorada conformeSl63.2(Contemplei-tenoteusanturio,evioteu poder e a tua glria), Sl 26.8 (Senhor, eu amo a habitao de tua casa, e o lugar onde permanece a tua glria), e descrita como sendo o prprio Senhor. TodooAntigoTestamentofalamuitodaizo(kabod,glria)do Senhor.Nestaspassagensbblicas,hadescriosobreaizo (kabod, glria), especialmente atravs de manifestaes visveis, quetrazemaidiadaproteodoSenhor.Elastambmpodem mostrar algo do carter do Senhor, como, por exemplo, de um Deus amoroso que guia os seus, bem como, exige deles adorao nica. EstasrepresentaesdaGlria,encontradasdemaneiraespecial nopentateuco,tambmaparecememoutraspartesdoAntigo Testamento, descrevendo a izo (kabod, glria) do Senhor, como nos livroshistricos,noslivrosprofticos,ondeaizo(kabod, glria) do Senhor apresentada a partir de um conceito quase-fsicodeIav.Entretanto,aizo(kabod,glria)noslivros profticos,tambmtemumconceitoumpoucodiferente;elapode serconsideradaumarevelaodasantidadedoSenhor.Na literaturasapiencialeproverbial,izo(kabod,glria) empregadonosentidodehonraraalgum,referindo-setantoa homens como a mulheres. Nos Salmos, izo (kabod, glria) pode ser compreendidocomolamentooucomodemonstraodeconfianaem Deus. 1.2.4 Na Septuaginta Otermodoxa,naSeptuagintaaparececomocorrespondentedeizo (kabod,glria)181vezes.33DoxanaLXX,apareceaotodo453 vezes e 166 vezes no Novo Testamento. Alm de izo (kabod, glria), 33HATCH,E.;REDPATH,H.A.AconcordancetotheSeptuagint:andtheother greek versions of the Old Testament, p. 341-344. 19 doxatraduzmaisdevinteoutrostermoshebraicos.34A concordnciadeHatcheRedpathtrazemarelaodestesoutros termos que tambm so traduzidos na LXX por doxa.35 Para alguns autores o termo doxa ainda no o mais conveniente para traduzir a idia de izo (kabod, glria) encontrada no Antigo Testamento,poisotermodoxa,nogregoclssico,significa opiniooureputao.Porissodoxanotransmitiria completamenteaidiadascaractersticasencontradasnuma teofania. Assim, poderia-se pensar num primeiro momento que o uso de doxa para traduzir a idia contida no izo (kabod, glria) no totalmenteadequado,pornocomunicaraconotaoespecfica destetermo.Ou,poder-se-iaafirmarqueotermodoxano totalmentesatisfatrioparatraduodeizo(kabod,glria).36 Entretanto,valesalientarqueparaoutrosautores,como Weinfeld,otermogregodoxaincorporouagamainteirade significadosdeizo(kabod,glria)doAntigoTestamento.O sentidoopiniofreqentementeassociadocomdoxaforada BblianoencontradonoAntigoTestamentoounoNovo Testamento.37Porisso,ficaclaroqueaopofeitapelos tradutoresdaLXX,pordoxa,foidevidoestapalavrater adquiridooutrosvaloresquenoapenasodeopinioou reputao,masfora.Assim,possvelafirmarquenapalavra doxaestpresenteaidiaesentidoencontradonotermoizo (kabod,glria),tantoquandoaplicadoaDeuscomoquando aplicado ao ser humano.Desta forma, a LXX no traz o sentido de opinio38 para doxa, mas de elogio, honra, brilho, esplendor, reflexo. Quando se refere a 34 FOSSUM, J. E. Glory. In: TOOR, Karel van der; BECKING, Bob; HORST, Pieter W. van der. Dictionary of deities and demons in the Bible DDD, p. 348. 35 HATCH, E.; REDPATH, H. A. Op. Cit., p. 341. 36 FOSSUM, J. E. Op. cit., p. 348. 37WEINFELD,M.zo zo zo zo.In:BOTTERWECK,G.J.;RINGGREN,H.;FABRY,H.J. Theological dictionary of the Old Testament, p. 24-25. 38 Opinio: no uso profano da antiguidade doxa tinha alguns sentidos entre eles opinio que poderia ser a opinio que eu tenho que desenvolveu o sentido de esperana, contemplao, doutrina, dogma, axioma, imaginao e aparncia. Outro sentido para opinio seria A opinio (boa) que os outros tm de mim deondedesenvolveuosentidodeboafama,elogio.(BAUER,J.B. Dicionrio de teologia bblica, p. 442). 20 Deus,doxaigualabrilhodeluzceleste,sublimidade, majestade39. Por isso pode-se afirmar que doxa na LXX se encontra em paralelismo com designaes de Deus e se torna o equivalente de izo (kabod, glria). Portanto, quando se est dando doxa a Deus no sentido de reconhecer a majestade divina expressa pelo termo hebraico izo (kabod, glria). 1.2.5 izo izo izo izo nas manifestaes de Deus consenso entre autores do Antigo Testamento que as aparies se noforemoprincipal,aomenossoumdosmeiospeloqualo Senhor se faz conhecido. Estasapariessoclassificadascomoteofanias.Entreasmais notveis esto as da sara, em x 3; do estremecimento do Sinai, emx19-24;dochamadodeIsaas,emIs6;dochamadode Ezequiel,emEz1;e,doredemoinho,emJ38.1.Aindaque conformeautorescomoSmith,quecitaKuntz,aapariodivina no tenha forma, certo que entre alguns dos instrumentos pelos quais a divindade pode ser representada, est izo (kabod, glria), almdemalak,panim,sem.Todosestesmeiossorepresentaes da divindade, entretanto no a revelam por completo.40 Osfenmenosdanaturezataiscomo:troves,tempestades,fogo, nuvem,etc,soumdosmeiosfreqentesdamanifestaodaizo (kabod, glria) de Deus.41 O trovo, o relmpago e a nuvem podem ser manifestaes que no trazem nenhuma relao com a izo (kabod, glria)deDeus,entretantotambmsoformasquepodem acompanhar a izo (kabod, glria) de Deus (x 40.34-38). Uma passagem muito conhecida que mostra uma manifestao atravs destes fenmenos da natureza da primeira apario de izo (kabod, glria)sobreoSinai.Eladescritadaseguinteformaemx 24.16-17: a glria do Senhor descansou sobre o monte Sinai e a 39 BAUER, J. B. Dicionrio de teologia bblica, p. 434-442. 40 SMITH, R. L. Teologia do Antigo Testamento: histria, mtodo e mensagem, p. 103. 41WOSCHITZ,K.M.C.Glria/doxa.In:BAUER,J.B.Dicionriobblico-teolgico, p. 165. 21 nuvem o cobriu durante seis dias. Ao stimo dia quando chamou a Moissdanuvem,aglriadoSenhorpareciaaosolhosdos israelitas como fogo devorador sobre o cume do monte. A relao entre izo (kabod, glria) e a nuvem est indicada tambm pelo fogo que sai da nuvem. Neste caso, izo (kabod, glria) o resplendor quepartedoSenhoreentranosolhosdopovoquandoElese apresentanatormentadaluzqueanunciaqueoSenhorveiono fogo e, assim, obriga o ser humano a baixar seus olhos.42 interessantequeaomesmotempoemqueotermoizo(kabod, glria)mostraqueoSenhorsuperioreestlonge,tambm revelaqueeleestpresente.Emalgunsmomentosaizo(kabod, glria)deDeusserevelaapenasindiretamente,taiscomonos momentos que o povo est reunido e ela se mostra numa nuvem (x 24.16; Lv 9.23; Nm 16.19; 20.6; Dt 5.24). Isto tambm deduzido pelofatodeMoissnopodercontemplarafacedoSenhor(x 33.18-32).43 Se for observado no documento Sacerdotal (P) percebe-sequeaidiadepresenadoSenhornolugardocultose contrape a outra viso, a de que o Senhor no vive na tenda, mas aparecealidetemposemtempos,quandoquer,equandoaparece existe um acontecimento especial, com maravilhosas demonstraes. O Senhor normalmente evita a esfera terrena, mas de vez em quando apareceetratapessoalmentecomoserhumano.44Porisso, possvelqueasmanifestaesdanaturezaaomesmotempoque revelamtambmocultamoDeusquepormeiodelaserevela.45 Assim, o que acontece que ao mesmo tempo o Deus que est longe tambm esta junto atravs da izo (kabod, glria).46 Apesar de sua revelaoseracompanhadadefenmenosnaturaiscomoraiose troves, estes no o tornam visvel. Ele apenas deixa de ser um deusdeummonteesaiparaestarjuntospessoas.Assim, 42 EICHRODT, W. Teologia del Antiguo Testamento, p. 39 43 WOSCHITZ, K. M. Glria/doxa. In: BAUER, J. B. Dicionrio bblico-teolgico, p. 165. 44 RAD, G. Estudios sobre el Antiguo Testamento, p. 105. 45 SCHMIDT, W. H. A f do Antigo Testamento, p. 95. 46 Ibidim, p. 148. 22 manifestaes como a do Sinai objetivam a comunho entre Deus e o povo.47 AsmanifestaesdeDeusalcanaminteresseecuriosidade,pelo fato de que o Deus de Israel alm de no se deixa ver em figura tambmprobetodaimagemqueorepresentenoculto.Asua presena como um peso (izo = peso) sem forma, que se faz sentir, ou como um brilho sem forma, visto somente atravs do reflexo.48 possvel que o termo izo (kabod, glria) ocorra junto com o termo santidadedeDeus,e,portanto,mostreanaturezamisteriosado Senhor.Aomesmotempoemqueamanifestaodaizo(kabod, glria) d a entender que o Senhor ultrapassa os limites fsicos, tambm o revela como presente com o povo, ainda que se revele ao povo apenas de maneira indireta, ou seja, numa nuvem ou no fogo devorador(x24.16ss;Lv9.23;Nm16.19;Dt5.24).49A manifestaodeDeusatravsdesuaizo(kabod,glria)uma indicao de sua presena e de sua revelao. Quando a glria deDeus,isto,suapresenadescesobreoSinai,elase revela a Israel... e ento Moiss recebe as prescries para o culto (x 24.15-18) e para a construo do tabernculo.50 No h dvida de que a izo (kabod, glria) mostrada atravs das maisvariadasmanifestaes,sejamestasnuvens(x16.10;Nm 14.22) troves, fumaa, fogo (Dt 5.21), etc, expressa a presena deDeusjuntoaoseupovo,ouhabitandoentreeles(x29.45). Entretanto, a manifestao desta izo (kabod, glria) no torna o Senhortotalmentevisvel.Elarevelaopodereasantidadedo Senhor ao mesmo tempo em que aparece para dar direcionamento ao povo,sejaparaadorao,cultoouconstruodotabernculo. Todasestasmanifestaespormeiodofogo,fumaa,nuvem,etc, tambmfazemconhecerquenarealidadeoqueacompanhavatais manifestaeseraoprprioSenhor.Issoficaclaroemtextos como x 40.34-38 e x 24. O que existia por detrs de tudo isso 47 SCHMIDT, W. H. A f do Antigo Testamento, p. 328. 48 Ibidim, p. 731. 49 WOSCHITZ, K. M. Glria/doxa. In: BAUER, J. B. Dicionrio bblico-teolgico, p. 165. 50 SCHMIDT, W. H. Op. cit., p. 89. 23 eramuitomaisdoqueapenasumanuvem,fogooufumaa,poiso povonoseachegavaataismanifestaescomoseachegavam normalmenteaumfogooucomocontemplavamaumanuvem.Isso mostraqueestesfenmenoserammuitomaisdoqueapenas fenmenos da natureza. possvelqueaizo(kabod,glria)fosseoprprioSenhorse revelando ao povo de maneira indireta (x 24.26; Lv 9.23), pois em algumas situaes, como em Nm 16.19-21, a izo (kabod, glria) aparece com um propsito, o de consumir a congregao. Ainda fica evidentequeessaizo(kabod,glria)quandoaparecia,era reverenciadacomoumserespecialporMoiss,Aroeopovo. MoisseAronoreverenciavamoutrodeussenoaoSenhor (Iav). Este era o nico a quem eles se prostariam em reverncia. Pode-sedizerqueapesardoSenhorevitaraesferaterrena,s vezes em que aparece se mostra atravs da izo (kabod, glria), que parte de seuprprio ser. atravs dela queo Senhor se faz presentejuntocomopovo.Entretanto,nosepodeignorarque apesardaizo(kabod,glria)serevelarcomosendooprprio Deus, quando ela aparece tambm encobre a si mesma, pois faz uso de fenmenos da natureza para se revelar. 1.2.6 izo izo izo izo nas respostas do ser humano a Deus H vrias opinies sobre o que significaria para o ser humano a izo (kabod, glria) do Senhor. Diferentes opinies so emitidas. Umdossignificadosoferecidosseriadev-lacomoa reconciliao de Deus com a humanidade. Bauer afirma que ela o contedo da esperana e significa a reconciliao de Deus com a humanidade,51masaizo(kabod,glria)doSenhortambmpode significarouindicaropesodaapariodivina,aforada presena de Deus.52 Desta forma naquilo que se refere a Deus, a 51 WOSCHITZ, K. M. Glria/doxa. In: BAUER, J. B. Dicionrio bblico-teolgico, p. 165. 52 BAUER, J. B. Dicionrio de teologia bblica, p. 443. 24 izo (kabod, glria) a presena do Senhor e o termo igualmente indica as suas perfeies, atributos e a sua santidade.53 Uma outra idia com relao ao termo quando usado com referncia ao Senhor encontrada em textos antigos. Eles expressam, atravs do uso teolgico de izo (kabod, glria), a importncia de prestar ou render honra devida ao Senhor. Esta ao de render honra pode ser vista como uma exigncia, no sentido de que o iizo (kebd Yhwh)exigeumcomportamentoadequado,ouseja,serreconhecido comotal.Exemplosdetaistextospodemserencontradosnas narraesdeJosu7.19eISm6.5.Estestextosmostramque desdeaantigidadesepensavanaimportnciadetributarao Senhoraizo(kabod,glria)devida,pormeiodasaesqueas situaesconcretasexigiam.EmIs3.8,tambm,possvel observarquedeterminadoscomportamentosofendemamajestadede Deus e sua presena. Esta idia tambm aparece em Jr 13.16 e Ml 1.6, e ainda na literatura sapiencial, como em Pv 25.2.54

As passagens acima citadas mostram que o termo izo (kabod, glria) em alguns momentos e passagens bblicas, vem expressar no apenas apresenadoSenhor,masaimportnciadedar-lhehonra.Ou seja,algunstextosrevelamqueoSenhorquerserglorificado pelo seu povo, e isso pode ser o equivalente a ser honrado. Esse termopodeaindaservistocomoumaexignciadoSenhoraoseu povonopercursodahistria.atmesmoumaformade advertnciaparaquenofossedadoaoutroaquiloquelhe pertence. Assim, possvel afirmar que o emprego de izo (kabod, glria),nosentidodeprestarhonradevidaaoSenhor,est registradodesdeostemposantigosepodeestarindicandoou mostrando uma atitude que deveria ser executada para o Senhor.Uma das maneiras de dar este reconhecimento da izo (kabod, glria) do Senhor poderia ser atravs de atitudes clticas de venerao. Um exemplo de tal reconhecimento pode ser encontrado no Sl 29.1-3; Sl 96.7; I Cr 16.28. O Sl 29 mais um exemplo onde pode ser 53 CHAMPLIN, R. N. Enciclopdia de Bblia teologia e filosofia, p. 913. 54 WESTERMANN, C. zo zo zo zo. In: JENNI, E. (edit.). Diccionario teologico manual del Antiguo Testamento, p. 1101. 25 observado que o i izo (kebd Yhwh) no se d somente na relao comoserhumano,mastambmpodeserencontradonacriao.55 Este sentido de estar dando a izo (kabod, glria) a Deus e tambm dereconhec-lapareceseraidiaquegeralmenteosSalmos tambmtrazem.56Oserhumanodevesimplesmentereconheceresta izo (kabod, glria), porque o Senhor no est disposto a divid-la com ningum, ou seja, Ele quem est no domnio (Sl 19.1; 66.2-8; 96.3-7; 138.5-8; 145.5-11; Is 40.5; 42.8; 48.11).Portanto,podeserobservadoquevriostextosempregamizo (kabod, glria) designando a importncia do Senhor, que deve ser respeitado,eesterespeitomanifestadopormeiodealgumaao que pode ser a venerao cltica em torno do i izo (kebd Yhwh). OtermotambmvemexpressaragrandiosidadedoSenhor.Faz refernciaaseupoderqueincomparvel,poisfazcoisas grandiosas. O sentido de dar izo (kabod, glria) a Deus e a maneira de faz-la tambmpodeserfeitoatravsdaconfissodepecados(conforme textos de Js 7.19; Jr 13.16), de hinos de louvor (conforme textos de I Cr 16.28; Sl 29.1-9; 96.7; 30.13; 66.2; 115.1; Is 42.12), ou at mesmo pode ser visto na funo exercida pelos sacerdotes (Ml 2.2).Estaidiatambmvemaoencontrodopensamentode Weinfeld, e isso se verifica quando ele afirma que constantemente dar izo (kabod, glria) tem igual valor a uma confisso. Por isso quando Acan transgride as exigncias de consagrao, Josu diz a ele:meufilho,diizo(kebdYhwh),oDeusdeIsrael,e confesseaele(Js7.19).57Almdotermoizo(kabod,glria) estar diretamente relacionado quilo que se refere ao Senhor, no sentidodesersuapresenaoudeindicaranecessidadededar reconhecimento ao Senhor atravs de aes, ele tambm pode estar ligadoesferahumana,indicandoalgumacoisarelativaaoser humano. 55 WESTERMANN, C. zo zo zo zo. In: JENNI, E. (edit.). Diccionario teologico manual del Antiguo Testamento, p. 1103-1104. 56 BAUER, J. B. Dicionrio de teologia bblica, p. 443. 57WEINFELD,M.zo zo zo zo.In:BOTTERWECK,G.J.;RINGGREN,H.;FABRY,H.J. Theological dictionary of the Old Testament, p. 26. 26 Fica evidente que referncias izo (kabod, glria) do ser humano socomunsprincipalmentenaliteraturasapiencial,pelofato destaliteraturatratarcommaisfreqnciadarelevnciado sucesso na vidae em transaesque o ser humano faz. Esta a razoquefazemalgunstextosizo(kabod,glria)ser identificadocomriquezaseposses.Tambmpossveldizerque izo(kabod,glria)aimportnciaquedemonstraovalor interiordeumserhumanoerequerorespeitodosoutros.58No mundosemticofcilexplicarosentidodeumserhumanoser honrado,ouseja,pelofatodosubstantivoizo(kabod,glria) estarrelacionadocomriquezas,serricoeserhonradoo reconhecimentoqueoserhumanorecebedoseupoderedasua autoridade. Assim o ser humano pesado por suas riquezas chega a ser honrado por causa das mesmas.59

Alm do conceito do ser humano ser honrado atravs das riquezas, tambm encontrado no Antigo Testamento a idia de que o prprio ser humano honra o ser humano. Isto to freqente como a idia dequeoserhumanohonraaDeus,masestasconcepesnose opem entre si. Em algumas situaes, izo (kabod, glria) faz uma distinocolocandoumserhumanoacimadosdemais,designando reconhecimento de posio que algum ocupa dentro da comunidade.60 Assim, izo (kabod, glria) pode denotar honra pessoal e dignidade quepodemseratingidasatravsdaprpriagenerosidadee humildade.61 Fica compreensvel tambm que a honra ainda pode ser algorecproco:...porqueaosquemehonram,honrarei...ISm 2.30. claro que o ser humano tem direito a receber izo (kabod, glria) ou honra por suas atitudes e invenes. Entretanto, vale lembrar que a izo (kabod, glria) ou honra prestada ao Senhor diferente, pois est ligada a grandes obras que Ele faz e ao seu poder que nicoeespecial,diferentedaquelequeoserhumanopossui.O 58 McKENZIE, J. L. C. Diccionario bblico, p. 388. 59 RAURELL, F. Glria. In: Enciclopdia de la Bblia, p. 905. 60 WESTERMANN, C. zo zo zo zo. In: JENNI, E. (edit.). Diccionario teologico manual del Antiguo Testamento, p. 1094. 61WEINFELD,M.zo zo zo zo.In:BOTTERWECK,G.J.;RINGGREN,H.;FABRY,H.J. Theological dictionary of the Old Testament, p. 25-27. 27 poderdoserhumanojamaispoderserigualadoaodoSenhor porqueelenoconsegueatingirtalnvel,aindaquemerea receberhonraeizo(kabod,glria)porseusfeitos.Tambm importante notar que algumas vezes o ser humano disputa glria izo (kabod, glria) ou honra com outro ser humano, enquanto que com o Senhor no acontece tal fato, pois os textos fazem conhecer que a glriaizo(kabod,glria)ehonradoSenhoralgoquelhe pertence, e nenhum outro pode receb-la. 1.3 i izo i izo i izo i izo em P e Ezequiel Devido a importncia do material P aqui ser feita a descrio do conceitodeizo(kabod,glria)neste,seguidodeumadescrio premilinardoconceitoemEzequielqueseracrescentadana analise das percopes especficas do livro de Ezequiel. 1.3.1 Os sentidos de izo izo izo izo em P Ocontedoespecialdarelaoiizo(kebdYhwh),dacamada sacerdotal se faz atravs de trs grupos distintos: a) o iizo (kebdYhwh)noestabelecimentodaaliananoSinai(x24.15b-18a); b) o i izo (kebd Yhwh) na rebelio do povo (x 16.7-10, Nm 14.10, 16.19,); e c) o i izo (kebd Yhwh) na relao com a tenda eosacerdcio(x29.42-44;40.34ss;Lv9.6,10.1-3).62Masa nfase do documento P tambm resumida a dois pontos, ou seja, o relatosobreapermannciadopovonodesertoearevelaono Sinai. Entretanto esta claro que a locuo i izo (kebd Yhwh) o lemadoescritosacerdotal.Aizo(kabod,glria),aindaest ligadaaoauxlioejulgamento,poiselaatuaouinterfereem situaes criticas, aps a sua apario no Sinai.63 Destaformaficaclaroqueacompreensodaexpressoiizo (kebd Yhwh) decisiva para se entender a teologia do Documento Sacerdotal (P). bem aceitvel que esta expresso est envolvida emdoiscontextos;primeiro,naspassagensquesereferemao 62STEIN,B.DerBegriffkebdJahwehundseineBedeutungfrdie alttestamentliche Gotteserkenntnis, p. 48. 63 SCHMIDT, W. H. Introduo ao Antigo Testamento, p. 107-108. 28 acontecimento do Sinai e tratam de fundamentar o culto, tais como x24.16-17;40.34-35;segundo,emtextosquefalamdos acontecimentos do deserto, tais como x 16.7-10; Nm 14.10; 16.19; 20.6. Alguns textos como de x 16; Nm 14; 20.1-13, que descrevem os acontecimentos do deserto, trazem a apario de i izo (kebd Yhwh)emumlugarcentral.Pode-seresumirqueemPoiizo (kebdYhwh)algoquesepodeexperimentarnosdois acontecimentos,nocultoenahistria,ondeacontecea demonstrao da majestade divina. Alm disso, foi no monte Sinai queIsraelencontroupelaprimeiravezamajestadedoSenhore esta majestade est indicada em P.64 Ao que parece aqui a izo (kabod, glria) est associada a um pano defundodecultoetambmestariasimbolizandoapresenado Senhor. Inclusive a esta izo (kabod, glria) ou presena de Deus, emalgunstextosdoAntigoTestamento,atribudaumaforma humana.Exemplodetaistextosseriax33.18nosquaisdito que Deus preparou Moiss para ver a sua izo (kabod, glria).65 SchmidtasseveraquePretomaasintenesteolgicasj defendidasporDeuteronmio,quandotentacaptarapresenade Deus sob o conceito do nome. Para ele a izo (kabod, glria) o prprioSenhor.66Elevaialmnainterpretaodaizo(kabod, glria)noescritosacerdotaleafirmaquealmdaizo(kabod, glria) estar relacionada apario e presena de Deus na terra, fundandoocultonoSinai(x24.15ss;29.43ss;Lv9.23ss),e tambmestarrelacionadaaojulgamentoousalvaodopovoque anda no deserto (Ex 16; Nm 14), a izo (kabod, glria) vista no como algo que Iav em si tem ou , mas aquilo que ele se torna quando atua no mundo.67 A presena do Senhor em P tambm vista de outra forma, ou seja, atravsdaidiadequeoSenhornovivenatenda,masque aparecealiaseutempo,quandoquer;equandoaparece,a 64 WESTERMANN, C. zo zo zo zo. In: JENNI, E. (edit.). Diccionario teologico manual del Antiguo Testamento, p. 1109. 65 FOSSUM, J. E. Glory. In: TOOR, Kl van der; BECKING, B; HORST, P. W. van der. Dictionary of deities and demons in the Bible DDD, p. 348-349. 66 SCHMIDT, W. H. Introduo ao Antigo Testamento, p. 108. 67 SCHMIDT, W. H. A f do Antigo Testamento, p. 240-241. 29 narrativamostracadavezcomoumacontecimentoespecialcom maravilhosas demonstraes. Exatamente como acontece em Nm 17.7, ou seja, quando a comunidade reclama, aparece de repente a nuvem e a izo (kabod, glria) sobre a tenda. Mas o importante destas e outrasnarrativasqueoSenhornormalmenteevitaaesfera terrena, mas de vez em quando aparece e trata pessoalmente com os seres humanos nos locais escolhidos por Ele.68 Ainda existe o pensamento de que de acordo com P, Deus no desce nanuvem.Aizo(kabod,glria)delemoraperpetuamenteno tabernculo. Sua presena manifestada aos israelitas pela nuvem que cobre o tabernculo (Nm 17.7). Embora o iizo (kebd Yhwh) tenhasuaprpriaformaderepresentaoemP,anoodaizo (kabod, glria) deidade muito antiga e associada com a noo deDeusestarmorandoalinaquelelugar.QuandoAroentrano santodossantosacadaano,eleprimeirotemqueenchero propiciatriocomanuvemdoincenso(Lv16.13).Estanuvemde fumaa produzida por Aro, ento, no igual nuvem na qual a izo(kabod,glria)revelada.Seumanuvemconstantemente envolvesseoassentodadeidadeentreoquerubim,Arono precisaria produzir uma nuvem artificial. A frase: para que ele no morra (Lv 16.2, 13) mostra que a nuvem de incenso encobria a imagemdeDeuseassimprotegiaosacerdotedamortequeele sofreria se ele olhasse para a deidade.69 Todos os textos do documento P, que abordam o termo izo (kabod, glria), fazem acompanhar uma nfase no Sinai ou na rebelio do povo,oqueosfazestaremligadosajulgamentoouprovisodo Senhor,aexemplodostextosnolivrodeNmeros.Assimsendo, pode-se concluir que, no documento P, a izo (kabod, glria) tambm oprprioSenhorequandoEleseexpeaparecendonanuvem, conformeostextosmencionadosacima,querdaraconhecerque deseja ser o nico Deus de seu povo, pois os acompanha em todos 68 RAD, G. Estdios sobre el Antiguo Testamento, p. 105. 69WEINFELD,M.zo zo zo zo.In:BOTTERWECK,G.J.;RINGGREN,H.;FABRY,H.J. Theological dictionary of the Old Testament, p. 32. 30 osacontecimentos.ElequerseroSenhoremtodosossentidos, tanto do culto como da histria. Est claro que o povo acreditava que quando viam a manifestao daizo(kabod,glria)nanuvem,eracomosevissemoprprio Senhor, visto que a izo (kabod, glria) era algo que vinha dele mesmo (x 40.34-35) e at mesmo tinha condies prprias de fazer a consagrao da tenda (x 29.43). 1.3.2 O sentido geral de izo izo izo izo em Ezequiel70 Ezequiel transfere o conceito de izo (kabod, glria) ao templo de Jerusalm. Aqui izo (kabod, glria) descrito como um fenmeno de brilhanteesplendor(Ez10.4;43.2).DamesmaformaqueP,em Ezequiel a izo (kabod, glria) do Senhor concebida como um fogo ardente cercado por uma nuvem (Ez 1.4; 10.4; cf. x 24.16; 16.10; 40.34).Almdeserumindispensvelelementodateofania,ela tambmestariaservindocomoummantoparaprotegercontrao perigo mortal de ver a deidade. Pois somente Moiss pde ver Deus faceaface(Nm12.8;Dt34.10),pdeentrarnestanuvem(x 24.18).Emalgunstextos,amanifestaodeizo(kabod,glria)pode indicar um tipo de juzo devido a abominaes que o povo cometia. Na realidade, isto estaria bem presente em Ezequiel. A izo (kabod, glria) se retirou porque o Senhor no pode num local que estava profanado. Atravs de vises, o profeta descreveu o que acontecia ou aquilo que os habitantes de Jerusalm faziam. Com a sada da izo (kabod, glria), aconteceu o fim de uma etapa da histria das relaes entre Israel e seu Deus.71

OprofetaEzequielcontemplouaizo(kabod,glria)doSenhore assimfoiconfirmadoodestinodeJerusalm,ouseja,aizo (kabod,glria)doSenhordeixouotemploeacidade,eos abandonou (o povo) destruio, porm o Senhor quer conceder ao povoumanovaJerusalmeumnovotemplo,ondesuaizo(kabod, 70 Aquilo que est sendo abordado neste ponto uma descrio premilinar, a ser complementada pelo exame das percopes especficas do livro de Ezequiel. 71 AMSLER, S.; et. all. Os profetas e os livros profticos, p. 259. 31 glria)voltarahabitar.72Comisso,conformeadescriodos textos de Ezequiel acima mencionados, observa-se que com a sada daizo(kabod,glria),humadescriodojulgamentode Jerusalm, visto que j no existe o cuidado e proteo do Senhor junto ao povo. Ezequiel seguia sua misso de revelar ao povo seu pecado. Von Rad enunciaqueeracommuitainsistnciaqueoprofetaprocurava mostrar que o pecado reina totalmente sobre o homem. O profeta queriamostrarquenoeramapenasalgumastransgressesno observadas,masdafaltadeobedinciaederesistnciaao chamado.Ezequielestsempredizendoamesmacoisa,poisa situao sempre a mesma, em todas as pocas da vida de Israel, maschegaomomentonoqualoSenhorpefimaestasituao, sobre isso von Rad afirma: Umacontecimentocatastrficoparaahistriada salvao,masaomesmotempograndioso,mostraa seriedadedestadecisoqueJavacabouportomar:o profetavaglriadeDeus,estaformamisteriosa dapresenadeJavemIsrael,deixarotemplocom grande pompa e se dirigir para o oriente.73 Aizo(kabod,glria)deDeus,quedavaassistnciaaopovo, deixarotemplo(Ez11.22ss),significavaqueIsraelmorreuno sentido pleno do termo. Assim, a esperana de ver um retorno de vidadopovodaPalestina,spodiaaconteceratravsdeum milagre.74Oabandonodaizo(kabod,glria)dotemplofoi respostascoisasqueopovofazia.Assurmendifazoseguinte comentriosobreotextodeEzequiel8-11,noqualrelataque Deus abandona o templo: ... a Glria de Deus smbolo da sua presena entre os seus abandona a sua morada. Sai primeiramente de sua Casa e, como em procisso solene, adianta-se pelo ptio interior at a porta que d para o Oriente ou, poroutraspalavras,paraomontedasOliveiras.Ao descrever-nos a partida da Glria de Deus do Templo de Jerusalm,Ezequielrealizaumarevoluoteolgica que,nestesculoXX,nosparecemnima,masque perturbava as convices de sua poca. Mostra at que 72 SHREINER, J. Palavra e mensagem do Antigo Testamento, p. 280. 73 RAD, G. Teologia do Antigo Testamento, p. 220. 74 Ibidim, p. 225. 32 ponto o Deus de Israel no est preso a um lugar nem a uma terra, mas a um povo que ele quer salvar. Deus, no seuTemplo,umaimagemtranqilizadorae,muitas vezes,quefazadormecer.Deuspresentenomeiodos seusmasqueosabandonasuasorteporcausada respostaquedosuaofertadevidauma realidade muito menos cmoda. Ningum pode domesticar ou apropriar-se do Deus de Israel. No se deve contar com ele para adormecer, mas para viver.75 Aoqueparece,asatitudesdopovo,comoidolatria,realmente podem ser uma razo da izo (kabod, glria) ter se retirado. Este afastamentodescritonoscaptulos8a11.EnquantoEzequiel estavaassentadoemsuacasa,comalgunsanciosexiladosde Jud,eletransportadoatravsdeumavisoaotemplode JerusalmealiEzequielvosanciosoferecendoincensos imagens,bemcomoprestaremcultoadolos.Eletambmv mulhereschorandoadeusesmesopotmicos.Issomostraqueo templo do Senhor estava corrompido.Fica claro que existe uma concordncia, entre os autores citados, de que no livro de Ezequiel h um destaque ao templo. Isso porque passagens como de Ez 1.28; 3.23; 8.4, revelam que o lugar prprio da izo (kabod, glria) era no templo, pois o Senhor estava sentado notronodotemplo.AcaractersticadeEzequielquea majestadedoSenhorestsentadanotronodotemploechegaa considerar-seincludocomoumserindependentequepode abandonarotemplopararetornarmaistarde.ParaEzequiel,izo (kabod, glria) uma espcie de ser independente. Ezequiel que trazpelaprimeiravezaidiadeizo(kabod,glria),que representa o Senhor em um ser independente que aparece rodeado de resplendor.76Amsler complementa est idia, sobre o templo e a independncia de izo (kabod, glria), quando mostra que a viso de Ezequiel, nos captulos 40-48, tem por objetivo falar do retorno daizo(kabod,glria)aotemplodeJerusalm,quandoeste 75 ASURMENDI, J. O profetismo: das origens a poca moderna, p. 72-73. 76 WESTERMANN, C. zo zo zo zo. In: JENNI, E. (edit.). Diccionario teologico manual del Antiguo Testamento, p. 1112-113. 33 estivesse purificado.77 neste templo renovado que a izo (kabod, glria) assumiria residncia (43.2, 4, 5; 44.4).78 Oscaptulos40-48trazemavisoqueoprofetatevedonovo templo.Pormeiodeviso,elefoilevadoterradeIsraele colocadosobreumaltomonte(Ez40.2).Ezequielviutrs prticosexternos;frenteaesteshaviamaistrsqueconduziam aotriointerno(Ez40.1-37).Aseguir,oprofetafoilevado atravsdotriointernoparadentrodoprpriotemplo(43.1-3);nestelugar,eleviueouviuaizo(kabod,glria)deDeus voltando do oriente, do Exlio Babilnico. Esta era a izo (kabod, glria)quehaviaaparecidoaelenasuavocao(Ez1-3)ena visodadestruiodeJerusalm(Ez8-11).Estaizo(kabod, glria) reentrou atravs do prtico oriental e encheu o templo (Ez43.1-5).Oprticoondeaizo(kabod,glria)passoufoi fechadoeningummaispassariaporali(Ez44.1-2).Como prticofechado,apresenadoSenhortambmpodiaser considerada permanente.79

NolivrodeEzequiel,aizo(kabod,glria)seapresentade maneiramuitoparecidaaoutrostextosencontradosnoAntigo Testamento,quandosefalaemnuvemdefogooufumaa. Entretanto, existe uma grande diferena quando se avalia a razo pela qual a mesma tem deixado ou retornado ao meio de seu povo. NodocumentoP,porexemplo,elasemanifestacomnfase,nos momentosdereclamaeserevoltasporfaltadeconfianado povo, como nos textos de x 16 e Nm 14, bem como na instituio docultoourecebimentodalei.JemEzequielparecequea grande razo da izo (kabod, glria) abandonar o povo devido ao pecado da idolatria. ParecenohaverdvidasqueemEzequielelatambm verdadeiramenteoSenhor,poistemvontadeprpriadesejando fidelidade de adorao do povo. E, quando no satisfeita, retira-se.Assim,aizo(kabod,glria)noAntigoTestamentoalgo 77 AMSLER, S.; et. all. Os profetas e os livros profticos, p. 277. 78 LASOR, W. S.; et. all. Introduo ao Antigo Testamento, p. 394. 79 KLEIN, R. W. Israel no exlio: uma interpretao teolgica, p. 108-109. 34 atribudoaDeus,bemcomooprprioDeus.umdeverhumano reconhecer a izo (kabod, glria) que a Ele pertence. Entretanto, o seuconceitoalgoquerevelavriosaspectos.izo(kabod, glria)poderepresentarumadascategoriasmaisdensasda Bblia, pois o termo usado para descrever coisas como riqueza, eatmesmohonradaspessoas,pormoconceitotambmest referindo-seaoSenhoreasuaizo(kabod,glria),est relacionadoaoseuser.FinalmenteemEzequielaizo(kabod, glria)tambmapresentadacomoomotivopeloqualEzequiel cumpre seu trabalho. A izo (kabod, glria) se manifesta em algumas situaes, como sinal de reprovao por aquilo que o povo faz e tambm como smbolo da presena e proteo de Deus. II O LIVRO DE EZEQUIEL, PROFETA DO JULGAMENTO Nestecaptuloserabordadoaspectosdolivrobemcomo enfatizadoahistriadopovodoprofeta,mostrandoassima realidadenaqualeleestavainserido.Serlevadoemcontaos dominadoresdanao,asituaohistrica,poltica,social, econmica,religiosadapoca,tantodolocalondeEzequiel vivia,oestadodeJud,bemcomo,dopovonocativeiro babilnico. Ainda ser abordada a vida de Ezequiel, suas origens, suachamadaaoministrioproftico,asuapersonalidade,seu jeitodeviver,osmeiosqueeleutilizavaparacumprirsua misso, etc. O objetivo para que se possa chegar a uma melhor compreenso da mensagem. 2.1 Seu Contexto A considerao do contexto de grande importncia para que seja possvel uma melhor compreenso do contedo do livro de Ezequiel e, tambm para a realizao de pesquisas em assuntos especficos nomesmo.Ocontextodeveserobservadocomcuidadoparaque entoaconteaumaboainterpretao.Vriassoasobservaes quedevemserfeitasemrelaoaocontexto,tantonaquesto histrica, como a social, a poltico, a religioso e a econmica. 2.1.1 Aspectos de histria poltica importanteavaliarocontextopolticodolivrodeEzequiel considerando desde o perodo que comea com a diviso do reino de Salomo.NohdvidasqueapolticadeSalomo,que sobrecarregouopovo,foiumpontofortequefezestourar profundasmgoaselevouadiviso.Tambmdeveserlevadoem conta que a falta de tato e sabedoria de Roboo contribuiu para aseparaodosdoisreinossetornarinevitvel.Talvezse Robootivesseabertomooestadotivessesidosalvo.Masele noconsiderouossentimentosdeseussditos.E,aindadeve-se considerar a vontade de alguns profetas, em voltar ao estilo de lideranaantiga(tradioanfictinica),pornoaceitarema 36 sucesso dinstica de Davi no governo do povo. Um exemplo disso seriaAas,queemnomedoSenhor,indicouJeroboocomoorei paraIsrael(IRs11.29-39).80Apartirdestemomento,osdois reinosoraestavamajudando-seefaziamalianas,eemoutros momentosencontravam-seguerreandoentresi.Estefatomarcoua polticadosdoisreinos,vistoqueostornourelativamente fracos. Bright faz a seguinte afirmao:Qualquer que tenha sido o fator que desencadeou, asconseqnciasdocismaforamdesastrosas.O imprio arruinou-se quase da noite para o dia.81

Assim,adivisotornouestesdoisreinos,estadosdefracos, visto que no caso de Jud houve perdas, possivelmente de Amon e Moab, bem como a ocupao do territrio pelos filisteus.82

importante considerar e avaliar, diante de toda essa crise, o recadodosprofetas.PrincipalmentenosculoVIII,alguns profetassubmeteramosdoisreinosaumacrticadasituao social em conjunto com as clticas e polticas. Foram homens como Osias,Ams,Miquiasquenorecuaramdiantedodeverde proclamar, em nome do Senhor, os desastres que ameaavam destruir a instituio monrquica israelita. Esse perodo de oposio dos profetascoincidiucomumperododascrisesmaisprofundasque Israeljhaviavivido.Porsinal,estacriseaconteceu,devido umprocessodedeteriorizaosocial,quehaviaprovocadoum desabamentodasociedadeinternaisraelita.Noreinonorte,no perododalideranadeJerobooII,possvelqueocaosea runapolticatenhaminiciadocomasinvasesdaassria.No reinosulimps-seumaocupaoassriaqueseprolongoupor vrios anos.83 Osacontecimentos,nosdoisreinos,nosederamdeforma totalmente separada, mas estavam interligados de vrias maneiras, apesar de cada um ter seguido seu caminho de forma autnoma. Uma 80 BRIGHT, J. Histria de Israel, p. 303-305. 81 Ibidim, p. 305-307. 82 Ibidim, p. 305-307. 83ALBERTZ,R.HistoriadelareligindeIsraelemtiemposdelAntiguo Testamento, p. 297-298. 37 dasdificuldadesentreosdoisreinos,aquestodadiviso territorialentreJudeIsrael,maisespecificamentenaparte nortedeJerusalm.NohdvidasqueJudtinhauminteresse especial em alargar fronteiras, devido parte norte da cidade de Jerusalm estar muito prximo da divisa com o reino de Israel, o que representava um constante perigo para eles. Este era o local porondeJerusalmpoderiaserinvadidaeseusinimigosserem vitoriosos. O reino de Jud (com Asa) resolveu esta questo por meio de estratgias polticas, ou seja, conseguiu, com habilidade fazer que os arameus de Damasco rompessem seu pacto com Israel, deinvadiroextremonortedopasdeJud.Asafoio responsvel, ou aquele que conseguiu induzir Ben-hadade a romper seupactocomIsrael(reinonorte)efazerqueomesmose tornasse perigo para Baasa, rei de Israel. Durante o reinado de Asa, bem como de seus sucessores, transcorreu um perodo de paz entreosestados,provavelmenteporproposiodeIsrael (dinastia de Onri) que detinha o domnio.84 Fica evidente que, com o passar dos anos o perigo dos reinos se tornaremvassalosdenaesestrangeiras,comoEgito,Assria, Babilnia,eraalgopresente.Osdoisestadosapresentavam diferenasinternasmarcantes,comoporexemplo,ofatodeJud terumapopulaomaishomogneaetermaisvantagensmaterias. Entretanto, em Jud, a situao poltica interna foi desenvolvida de uma forma mais tranqila do que no reino do norte, devido no haverdificuldadesemaceitarasucessodinstica.Istotrazia estabilidade interna.85 A situao poltica interna e externa de Jud sob os reinados de Josaf, Jeoro e Acazias, , ao que tudo indica, pouco conhecida. Registros mostram que, com Josaf, Edom era um pas submisso (I Rs22.48)esobalideranadeJeorohouveumafastamento definitivoentreosedomitaseelesrestabelecemsuamonarquia (IIRs8.20-22).ComAcaziasdestaca-seoacontecimento registrado em II Rs 8.28, quando ele (Acazias) auxilia Joro do 84 DONNER, H. Histria de Israel e dos povos vizinhos, p. 288-290. 85 BRIGHT, J. Histria de Israel, p. 312. 38 reinodeIsrael.JoroferidoefogeparaJezreel.Quando AcaziasfazumavisitaaJoro,inicia-seumarevoltacomJe, oficial do exrcito popular israelita. Neste episdio tanto Joro comoAcaziassomortos,eassim,otronodavdicoficavago. Neste perodo deveria iniciar um processo de sucesso dinstica, entretanto, quando Atalia, a rainha-me fica sabendo da notcia, tomou a liderana com as prprias mos. Ela tenta matar todos os possveis sucessores do trono. Entretanto Jos, filho de Acazias foisalvoeescondidoporJeoseba,atotempoemquepode assumir o trono e ento foi proclamado o rei. Sobre Jos no se sabe muito, talvez o sacerdote Joiada tenha sido seu tutor. Depoisdegovernar40anosesermortoporserviais(IIRs 12.21ss)Amazias,filhodeJos,assumealiderana,eliminando osassassinosdeseupai(IIRs14.5ss).ComAmazias,o relacionamentocomoreinodonorteparecequefoiconturbado, acontecendoinclusivelutasmilitaresondeosjudatasforam derrotadoseAmaziaspreso,podendo,contudo,retornara Jerusalm (II Rs 14.8-14). Azarias foi seu filho e sucessor (II Rs 14.19-21). Azarias ou Uzias, era contemporneo de Jeroboo II doreinonorte.Estefoiumperododetranqilidadee prosperidade tanto para o reino do sul como do norte. O sucessor deAzarias,quetevedeserisoladodevidoumadoenadepele, foi Joto (II Rs 15.5).86 Entreoutroslderespolticosimportantesquegovernaram Jerusalm,pode-secitarManassseAmom.Manasssestava governando Jerusalm na primeira metade do sculo VII, (696-642) e Amom o sucede (641-640). O governo de Manasss coincidiu com o auge da dominao assria. Sua poltica externa foi fiel a Assur. Elecomeouareinarcom12anos,comoco-regenteeesteveno comando por 55 anos. Foi um rei que trouxe terror, pois derramou muitosangueinocentenoseugoverno(IIRs21.16).Foi consideradoumdospioresreisdeJudporpraticarfeitiaria, fazer dolos para serem colocados no templo, e oferecer alguns de 86 DONNER, H. Histria de Israel e dos povos vizinhos, p. 296-298. 39 seusfilhosaodeusMoloque.Foilevadocativopeloreida Assria e possvel, conforme o texto de II Crnicas 33, que ali eletenhasearrependidoesevoltadoaoSenhor.Apstersido liberto,reassumiuotronodeJudepromoveuumareforma religiosa, a qual no foi suficiente para reparar o estrago que jhaviafeito.Apsasuamorte,Amom,seufilho,queria continuarafazeroqueopaifazianoinciodeseugoverno; assim levou a nao novamente idolatria (II Rs 21.19-26), mas nosedeubem,poisgovernouapenas2anos(641-640),efoi assassinado por seus servos.Provavelmentenoperodode640/639,comoassassinatodeAmom, aconteceuumadesestabilizaodoregimeeopovodaterra, conformeIIRs21.24,ouaaristocraciaruralimpscomo governanteummeninodeoitoanos,Josias,provavelmenteporque queriam o destino do estado em suas mos. Em 622, mais ou menos no 18 ano do reinado de Josias, conforme II Rs 22-23, aconteceu areformadeJosias.Estaimplantamaiorjustiasocial;afasta resquciosdaidolatria;concentraopovoemJerusalm; transformaotemplodacapitalemnicosanturioedesativa aqueles que esto nas cidades menores; concentra os habitantes em tornodosinteressesdeJerusalm.Areformajosianicasucumbiu diantedosegpciosem609quandoJosiasinterps-seaoavano egpcio, numa batalha junto a Megido e morreu. Depois que Josias morre,opovodaterradefineJeocazcomorei,em609.Jeocaz permanecenopoderdurante3mesesedepoisdeportadoparao Egito onde morre (Jr 22.10-12).87 Em608,apsJeoacazserdeportadoparaoEgito,Joaquimfoi imposto como soberano pelos egpcios (II Rs 23.31 24.17). Seu nome era Eliaquim, mas os egpcios o mudaram para evidenciar sua submissoaeles.Eletevedepagartributosaosegpciospara manter-se no trono. Por isso, cobrou imposto do povo da terra ou aristocraciarural,eassim,estesoconsideravamcomo adversrio.Osegpciosnopuderamestabilizaropoderde 87 SCHWANTES, M. Sofrimento e esperana no exlio: histria e teologia do povo de Deus no sculo VI a.C., p. 22-4. 40 Joaquim na Palestina, por causa do avano dos babilnios. Joaquim se submeteu Babilnia, mas se declarou independente pressionado pelo prprio povo da terra.88

Em605a.C.sobocomandodeNabucodonosor,filhode Nabopolassar,osbabilnicoslanaram-secontraasforas egpcias e as derrotam. Mesmo, num primeiro momento, no podendo prosseguir,devidomortedeNabopolassarqueosobrigoua retornar as pressas, quando Nabucodonosor, assume no lugar do seu pai, ele e os babilnicos deram continuidade ao avano que haviam comeadoenoanode604jestavamnaplanciedaPalestina. EstafoiprimeiraintervenobabilnicanaregiodeJud, quandoentooreiJoaquimentregouaNabucodonosortesourosdo templo e algumas pessoas para serem levadas para a Babilnia. Em 598a.C.,novamenteNabucodonosorlanouseuexrcitocontra Jerusalm.evidentequeJoaquimhaviadeixadodepagar tributos,porissofoisurpreendidopeloexrcitobabilnico. Jerusalmrendeu-seaosbabilnicosem597a.C.,sendoque Joaquim morrera em 598 a.C., quem se entregou, na realidade, foi seu filho Jeoaquim. Jeoaquim assumiu no lugar de seu pai Joaquim. Deu continuidade polticaanti-babilnicadeseupai.Manteve-senopoderpor apenas 3 meses, e no ano de 597 se entregou aos babilnios, que mantinhamcercosobreJerusalm(IIRs24.10-17).Estafoia segundaintervenodosbabilnicos.Osbabilnicosdeportaram para Babilnia Jeoaquim, juntamente com outros membros da famlia real. Mais tesouros do templo foram confiscados. Agora Zedequias, tiodeJeoaquimfoinomeadoreittereemJud.Zedequiasfoi colocado no poder pelos babilnicos. Seu nome era Matanias e foi mudadoparaZedequias(IIRs24.17;25.21).Foioltimorei davdicoemJerusalm.OsexiladosnaBabilnia,queno reconheceramsuasoberania,continuaramaconsiderarJeoaquim como rei legtimo (Ez 1.2; II Rs 25.27-30); ele foi considerado comoolegtimoherdeirodotronodavdico.Apsumaatuaoe 88 SCHWANTES, M. Sofrimento e esperana no exlio: histria e teologia do povo de Deus no sculo VI a.C., p. 26-7. 41 polticafrgileinsegura,Zedequiasperdeualideranado governo de Jud, e, ento, Jerusalm foi destruda em 586 a.C.89 Assim,opovoqueaindaestavaemJerusalmfoilevadocativo paraBabilnia.PorordemdeNabucodonosor,osmurosforam derrubados,ascasasqueimadas,oTemplodestrudo.Ainvestida dos babilnicos, em 586, visava a desurbanizao de Jud.90

Comoacontecimentodoexlio,opovodeIsraelcompreendiaao menostrsgruposdistintos,devidoaofatodaseparao territorial.Todoselesestavamexpostosadesenvolvimentos histricos distintos, pois cada um tinha seus prprios interesses eatmesmodivergncias.Anicacoisaqueosmantinhaunidos era a origem tnica e uma mesma religio. O desaparecimento de um podercentralizadotrouxeamudananasestruturasde organizao.NapocaqueIsraelestavanoexlioreviveramos restosdaantigaorganizaotribalcomoaimportnciados ancios,quejuntocomossacerdotesexerciamfunodedireo poltica,aindaquefossecomalgumasrestries.Tambmfato que,odesaparecimentodaunidadenacionalfezcomqueas famliasjudias,tantoasqueforamparaoexliocomoasque continuaram em sua ptria, vivessem em continuo contato com gente devriasnacionalidades.Assim,asoscilaesque caracterizaram,principalmente a histria da religio israelita, na poca do exlio, tiveram muito a ver com a nova realidade de desenvolvimento histrico e social que o povo de Israel vivia.91 OcativeiroimpostopelaBabilnialevouopovodeJud dispora92.DepoisqueNabucodonosorlevoualgunsparaa Babilnia,avidadosqueficaramemJudnodevetersido 89 SCHULTZ, S. J. A histria de Israel no Antigo Testamento. p. 215-224. 90 SCHWANTES, M. Sofrimento e esperana no exlio: histria e teologia do povo de Deus no sculo VI a.C., p. 27-8. 91ALBERTZ,R.HistoriadelareligindeIsraelemtiemposDelAntiguo Testamento, p. 470-471.92Dispora:Estetermousadopeloshistoriadoresparareferir-ses colnias judaicas (foradas ou no), que eles estabeleceram em outras partes domundo,foradaPalestina.Otermoincluiosmovimentosvoluntriosde emigraodejudeusparaoutrasterras,mastambmsereferescolnias judaicasqueresultaramdeguerras,exlioseaprisionamentos.Os descendentesdosexiladosedeportadostambmvieramafazerparteda dispora. (CHAMPLIN, R. N. Enciclopdia de Bblia teologia e filosofia, Vol 2.),p. 141. 42 fcil, pois os lderes e os especialistas nas diversas reas da vidasocial,polticaereligiosaforamlevadosjuntoparaa Babilnia. Para fugir disso, muitos foram para o Egito. L eles deramcontinuidadeassuasvidasemcolniasondemoravam. Provavelmente,vriosoutrosgruposprocuraramoutroslugares paraserefugiarem.MuitosforamparaMoab,EdomeAmomes voltaramquandoasituaomelhorou(Jr40.11-12).Outros, entretanto, devem ter permanecido no pas. Nosesabemuitosobrecomonarealidadeficouasituaoda Palestina durante o exlio. Entretanto no restam dvidas de que asguerrastornaramavidadosquealificarammuitodifcil, pois alm dos lderes das reas polticas, intelectuais e outras, teremsidolevadosparaBabilnia,opovopassavaporuma situaoeconmicanomuitoboa,devidoopresses.Olivrode LamentaesdeJeremiasdeixaevidncias,emalgunstextoscomo 5.4ss,dasituaodemisriaqueatingiuJud.Naquesto religiosabemprovvelqueestefoiumperodopara consideraesedecorreoespiritual.93Destaforma,est evidente que o povo que estava na Babilnia era a parte pensante deJud,ouseja,anatapolticaeintelectual.Deve-se considerar tambm que embora eles fossem um nmero mais reduzido, seriam os responsveis pelo futuro de Israel, pois dariam um novo direcionamento tanto na questo religiosa como na restaurao da comunidade.Elestinhamessascondies,poisaindaque estivessem sob domnio da Babilnia, no receberam um tratamento muitosevero.Chegaraminclusiveaviverememcolnias(Ez 3.15).94 Com a ascenso do imprio Persa, mais especificamente com Ciro em 539 a.C., inicia-se uma nova era para este povo. E compreende-se que a situao at melhorou. Os persas adotaram novas formas de tratamentonaquaisospovosqueestavamsubjugadosforam dispensadosouliberadospararetornaremassuasterrasde origem. A poltica dos persas, de maneiras diferente dos imprios 93 DONNER, H. Histria de Israel e dos povos vizinhos, p. 439-442.94 BRIGHT, J. Histria de Israel, p. 466-467. 43 atagoradestacados,nofaziamusodaviolnciacomospovos subjugados,massuapolticaestavabaseadanatolerncia. Entretanto, est tolerncia no passava de uma forma poltica de governarvisandoumdomniomaisduradouro,poismesmodandoa liberaoparaospovosretornaremassuasptrias,osassuntos referentesapolticaeaosistemadetributoscontinuavamsob seu comando. Assim as atitudes independentes por parte dos povos subjugadosnoeramaceitas.95AatitudedeCirofezcomqueos povos subjugados lhe rendessem gratido. Na realidade Ciro foi um lderestrategistaqueteveviso,poisaomesmotempoemque permitiu a autonomia cultural dos povos conquistados, manteve um firme controle do governo. 2.1.2 Aspectos de histria social e econmica NossculosVIIeVI,antesdaidaaocativeiro,asituao socialeeconmicaemJudnoeradiferentedadoreinode Israel, ou seja, a diviso fez o estado se tornar fraco, e, como conseqncia,tornou-setributriodeoutrasnaes.Vrios pases atacaram Jud, s que em perodos diferentes. Na questo social e econmica, os profetas Ams e Miquias fazem umaacusaomaisparaaclassededirigentes.Oquemaiseles atacam a larga expanso econmica dos aristocrtas que juntavam muitoscamposattornarem-seosnicosproprietriosdopas. Isso acontecia atravs da expulso de camponeses e suas famlias desuasposieshereditrias(Am8.4;Mq2.9).Paraestes profetas, o sistema de arrecadao de tributos e emprstimos era essencialmente roubo e pilhagem (Is 3.14; Mq 2.2; 3.2; Ez 22.29). Aadministraonopassavadeummeroinstrumentodeopresso, atmesmoaautoridadejurdicadeJerusalm.96Paraalguns profetas,comoMiquiaseIsaas,odestinodanaodependia quase que exclusivamente da preocupao que a mesma tivesse com a justiasocial,poisumpovoquetinhaaquestosocial deterioradanotinhamaisperspectivasdefuturo,amenosque 95 DONNER, H. Histria de Israel e dos povos vizinhos, p. 443-446.96ALBERTZ,R.HistoriadelareligindeIsraelemtiemposDelAntiguo Testamento, p. 309-310. 44 assumissesuaculpaereconhecessequeprecisavammudarde conduta.97 Para compreender a situao, ainda possvel avaliar a dennciaqueestesprofetasfaziamaclassedesacerdotese profetas do templo, ou seja, os profetas e sacerdotes do templo aceitavam subornos (Mq 3.5-11), sem contar que ainda havia abusos no uso do vinho (Os 4.11-12) e desordens sexuais (Os 4.13), pelos participantes da celebrao litrgica. Tudo isso mostra a misria que se encontrava o pas.98 BrightcomentaqueasituaoemJudnoeraaideal. Economicamente, Jud estava arrasada. Os tributos pagos a outras naeserammuitoelevadosefizeram,atmesmo,comqueos tesourosdotemplofossemutilizadosparasatisfazerasnaes opositoras. Isso tambm fez com que os sditos do reino tivessem quesersobrecarregados.Eainda,haviaadecadncianarea moral alm da social e econmica.99 Apesardetodaestasituao,Judaindaestavamelhorqueo reino do Norte, pois em Jud a decadncia no havia sido como no reinodoNorte,tantoemquestesreligiosas,comosociais. possvel que a economia em Jud ainda tivesse solidez, apesar das extorsesexistentes.EmJud,erapossvelencontraratmesmo umacertasemelhanadepopulao,semhaveremextremosde riqueza ou pobreza. Contudo, isso no significa que no existia a concentraoderiquezasnasmosdealguns,massignificaque esta concentrao no era to extremada como no reino do norte. AtravsdosprofetasIsaaseMiquias,possvelverificaras diferenasexistentes,bemcomo,osofrimentodospobrescoma injustia social, corrupo e opresso dos ricos (Is 3.13-15; Mq 2.1ss; 3).100 AeconomiadeJudficouarruinadamesmo,nofinaldoreino. nesteperodoondeapopulaoenergicamentediminuda.Isso aconteceunopelonmerodedeportados,maspeladeportao 97ALBERTZ,R.HistoriadelareligindeIsraelemtiemposDelAntiguo Testamento, p. 313. 98 Ibidim, p. 321-322. 99 BRIGHT, J. Histria de Israel, p. 371. 100 Ibidim, p. 371-372. 45 daquelesquerepresentavamaelitedaregio.Quemficouno tinha viso para a real situao. As deportaes fizeram com que opasficassecompletamentearruinado,poisascidadesforam destrudas,aeconomiaarrasada,oscidadosmaisimportantes mortosoudeportados.Assim,quemficoueramapenasosqueno tinham condies e habilidades para ajudar no desenvolvimento.101 OpovoquerestouemJud,passoualevarumavidapenosa, juntamentecomalgunsrefugiadosquedevemtervoltadoparaa cidade (Jr 40.11-12). O estado destes era precrio (Lm 5.1-18). O incidentedadeportaofezcomqueelesnomaistivessem esperanaderestaurao.102Donnercomplementaaidia,dizendo quejnotempodeZedequiasJudnomedrava,masvegetava miseravelmentenacondiodeopressivavassalagem,103opas sofreuumasadaquenestapoca,deZedequias,jrepresentava risco de vida. No perodo onde a guerra j havia assolado o pas, a vida dos que ali permaneceram tornou-se mais dura do que antes, poisapopulaopassouaencontrar-seemdificuldades econmicas.104 Nohdvidasquenareasocialeeconmica,Judtevefases fortes e fracas. As fracas aconteceram de maneira especial quando opastinhaquepagartributos,comonoperodoemqueRoboo estevenogovernoeeratributriodoEgito.Opagamentode tributosfazoreinotornar-sefraco,comcerteza.Tambm possvelafirmarqueJudteveseusmomentoseconmicosfortes, comonoperododoreinadodeUzias(791-740),quandoaconteceu expansoeconmica,devidomaneiraadministrativaadotadapor ele. Na opinio de alguns autores como Albertz, com os que estavam no exliodaBabilnia,parecequeatmesmohouveumaperdade identidade,poisalmdeteremperdidosuaptria,perderam tambmtodososseusbensmateriais,bemcomosuainflunciae 101 BRIGHT, J. Histria de Israel, p. 446. 102 Ibidim, p. 465. 103 DONNER, H. Histria de Israel e dos povos vizinhos: da poca da diviso do reino at Alexandre Magno, Vol. II. p. 427. 104 Ibidim, p. 440. 46 posiosocial.Elestinhamqueviveradifcilseparaodos seus irmos (Ez 11.15; 33.24). Por fim, os exilados tiveram mesmo queseguiroconselhodeJeremias(Jr29),integrando-se sociedade babilnica, ainda que sem renunciar sua religio.105 Na realidade,issorealmenteaconteceu,poiscomopassardotempo eles se integraram e faziam uso dos recursos econmicos da poca e regio, normalmente. Muitos exerciam atividade profissional na agricultura,pastoreio,postospolticos,etc.Entretanto,tudo issoaindanocaracterizaperdadeidentidadevistoqueeles continuaram a viver desenvolvendo-se em vrias reas. O que fica claro que suas carncias eram mais religiosas do que materiais. Portanto,opovoqueestavanoexlio,tudoindica,tinham condiessociaiseeconmicasboaseaceitveis.Osbabilnios noeramtocruiscomoosassrios,quepuniamospovos conquistados;elesapenastomavammedidasparaprevenir revolues.Opovoexiladoteve,sim,oportunidadedeterseus empreendimentos mercantis, a ponto de quando tiveram a liberdade deretornarterranatal,muitospreferirempermanecerna Babilnia.Os judeus que estavam na Babilnia, ainda que no possa ser dito que eles no tiveram dificuldades ou tenham sofrido humilhaes, parece que no receberam um tratamento severo. Eles estavam numa situaoondenoeramtotalmentelivres,pormtambmnoeram totalmente prisioneiros, pois puderam construir casas, dedicar-se a agricultura (Jr 29.5), ou seja, ganhar o seu prprio sustento, da maneira possvel. Parece at que tinham a liberdade de fazerem reuniesecontinuartendoumavidacomunitria(Ez8.1;14.1; 33.30).Noexistemevidnciasdequeosexiladosrecebessem algumtipodetratamentorigoroso,anoserodeestaremno exlio.possvelquealielestiveramoportunidadesqueno teriam na Palestina, at mesmo de enriquecerem com o comrcio. A situao do povo, antes do cativeiro, sem dvida era de muito sofrimentodevidosatitudesdoslderestantogovernamentais 105ALBERTZ,R.HistoriadelareligindeIsraelemtiemposDelAntiguo Testamento, p. 467-469. 47 comoreligiosos.Entretanto,osexiladosqueestavamna Babilnia,estavamemboasmos.Operodoemqueopovojudeu estavanocativeirofoiumapocamuitoboaparaaBabilnia. Sendoassim,possvelpensarqueoscativos,naBabilnia tinham condies e possibilidades de conviver com outras pessoas, easinfluenciarem,mesmoestandoemcondiesdiferentes daquelasencontradasemJud.evidentequequandosaiuo decretodeCiro,muitospreferiramcontinuaralipelofatodo povotertidodeterminadasliberdades,bemcomo,condiesde progredir em seus negcios.OaspectosocialeeconmiconoperododeCiroparecequeno interferiunavidadosexilados.Aocontrriocontribuiuainda mais,poisaquelesquenoestavamsatisfeitospuderamretornar assuasterras.Aquelesqueretornarampudereminclusivelevar juntoostesourosquehaviamsidoroubadosquandotinha acontecido a invaso por Nabucodonosor. 2.1.3 Aspectos de histria religiosa A instaurao da monarquia coincidiu com o progresso do culto da comunidade israelita. Juntos com os santurios locais e regionais surgiu a grandiosa estrutura do templo, construdo pelo rei. Esta novidadetransformouosaspectosfundamentaisdoculto comunitrio,comosuaorganizaoesuacelebrao.Osaltoque sedeunahistriadocultopode-severcomaconstruodo templonostemposdeSalomo.Almdotemplo,tambmfoimuito importante a construo de grandes santurios nacionais, como em Betel (Am 7.13). O texto de Ams mostra que o rei possua ali uma capelaprivada,aqualtambmpretendiaserosanturiocentral do reino, onde os sditos teriam a oportunidade de render culto ao Deus da nao. A centralizao do poder poltico provocou uma centralizaodocultocomunitriodeIsrael,quemaistarde desembocou nas exigncias de extino de todos os cultos locais, exceto em Jerusalm. Tambm proporcionou uma estranha mistura do poderpolticoedoculto,quetransformouacelebraoda liturgia comunitria, no santurio central, em um simples assunto 48 doEstado.Comoconseqnciadisso,houveaampliaodoculto comunitrio,sendoaindaque,paramant-lo,oestadoteveque organizar um rigoroso sistema de cobrana de impostos.106 A construo do santurio do reino, na cidade de Jerusalm, foi aodamonarquia.Assim,noestranhoquefoialique aconteceu uma ligao mais estreita entre o culto e o trono. Foi deDaviaidiadetransportarparaJerusalmaarcadeDeus, para ento transformar este local em um centro de culto de todo o reino, sendo tambm dele a idia de transformar este santurio de Jerusalm,notemplodeSalomo.Destaforma,tudopassaaser propriedadedorei,inclusiveossacerdotes(IISm8.17-18).O poderdoreieratantoque,segundoaidiadamonarquia,o prprioreitinhacondiesdedesempenharfunessacerdotais. Isto era to srio que os sucessores de Davi incluam na liturgia oraes pelo rei (Sl 20.72). Assim, o culto tambm era importante paralegitimaroureconheceropoderdoreieaindaajudavaa manter a unidade no reino.107 Deve-se considerar que o imprio estendeu seus domnios na regio dosjebuseus,ouseja,entreapopulaonoisraelitaepor isso, tambm no anormal que o culto oficial de Israel tambm visasse,outivessecomoobjetivo,criarumvnculocoma populao(jebuseus).Davifoiestratgico,poiscolocoucomo sacerdote, no santurio do reino, a Abiatar (II Sm 8.17; 20.25), descendentedafamliadeEli,eassimestabeleceuumvnculo entreonovocultoeasantigastradiesdasdozetribos. Entretanto, ele tambm colocou Sadoc como sacerdote. Este era um antigo sacerdote dos jebuseus, assim Davi deu validade s antigas tradiespr-israelitasdeJerusalm,tentandoestabelecerpaz com a religio mais primitiva de Iav.108 ComSalomo,apolticareligiosadeDavichegaaofim.Ele acaboucolocandonamodezadoquitas(IRs4.2),omonoplio 106ALBERTZ,R.HistoriadelareligindeIsraelemtiemposDelAntiguo Testamento, p. 231-232. 107 Ibidim, p. 233. 108 Ibidim, p. 234-235. 49 sacerdotaldeJerusalm.Eletambmnopensouemunir,em carter institucional, o culto oficial com as tradies da poca pr-monrquicadeIav.Afunodotemploeradesimbolizaro vnculo existente entre Deus com um lugar concreto. No templo de Jerusalm,IaveraumDeusentronizadoemSio.Assim,a teologia que se desenvolveu em Jerusalm expressava a presena de Iav em Sio.109 Brightfaladestamisturaqueaconteceu,afirmandoquealmdas questesdeagressesfsicasqueaconteciamnoreino,as tendncias sincretistas ameaavam os fundamentos da religio. No final da histria de Jud, alguns profetas como Isaas e Miquias referiam-seasestassituaesqueemergiam.Comainstalao destastendnciassincretistas,abaseoriginaldasociedade israelita(alianaSinai)estavasendoesquecidapormuitas pessoasemJud,dequemoSenhorsehaviatornadooprotetor nacional (Is 1.10-20). Assim, uma paganizao interna era algo inevitvel,aindaqueexternamenteoJavismosemantivessee continuassesendonorma.110OpovoacreditavaqueoSenhoriria abeno-los independente da conduta que tivessem, entretanto isso estava errado e devido desobedincia, o povo foi conquistado e levado cativo para a Babilnia. Jeremias havia deixado claro que ainvasoseriaresultadodadesobedincia(Jr7.1-21).Porm muitos, se firmando nas promessas feitas a Davi esperavam que o Senhor iria intervir e os proteger.111 A grande crise aconteceu no fim do reino de Jud; entretanto, os problemas j haviam surgido bem antes. H indcios de que o povo j no confiava totalmente no Senhor e por isso recorreu a outros deuses (Jr 7.17-19; 44.15-18). Foi toda esta situao que exigiu umaatuaodoSenhormostrandosuasoberaniaejustia.Tanto JeremiascomoEzequielanunciaramojulgamentodoSenhor.Ambos condenaramaidolatriaeinsistiramqueistoatrairiaaira 109ALBERTZ,R.HistoriadelareligindeIsraelemtiemposDelAntiguo Testamento, p. 235-241. 110 BRIGHT, J. Histria de Israel, p. 387-388. 111 Ibidim, p. 448. 50 divina.112 Ezequiel condenou Israel da mesma maneira que Jeremias; adiferenaestavaapenasnamaneiradeexpressar-seenofato dele afirmar que Israel desde o comeo foi um povo corrompido (Ez 20.1-31;23),ouseja,mesmonoperodoemqueestiveramno deserto.Nomais,Ezequieltambmcondenavaaidolatriaque persistia no meio do povo. Estesprofetas,JeremiaseEzequiel,tentaramsalvarIsrael anunciandoqueanaoseriajulgada.Elesexplicaramoque aconteceria e foi isso que levou alguns israelitas a voltarem-se aosseuscoraesefacilitouoinciodeumacomunidadenova, queestavabaseadanadecisoparticular.Entretanto,issono significavaaproclamaodeumareligioindividualcontrauma comunitria,massomenteumanovacomunidadebaseadanadeciso particular. Assim, cada nova gerao teria a oportunidade de ser lealvontadedoSenhor.Ambososprofetasenfatizavamqueo Senhorosaceitariaseopovooprocurassedetodocorao(Jr 29.11-14;Ez11.16).JeremiaseEzequielapresentavamuma esperana no futuro, no qual o Senhor atravs de um novo ato de redenochamariaseupovo,comofoinoperododoEgito, perdoaria seus pecados e faria uma nova aliana com eles, onde a lei seria escrita em seus coraes e no mais em tbuas. Ezequiel trouxepalavrasdeconsoloedeesperanaaopovoexilado, falandoqueoSenhorospurificariaeentooslevariaparaa ptria (Ez 20.33-38), dando-lhes um novo corao e esprito para o servirem (Ez 37.1-14).113 Os que foram para o exlio, apesar de terem sido advertidos por Jeremias (Jr 19.8), ainda acreditavam que Deus no iria permitir adestruiodotemplo.Danielora(Dn9.16)enasuaorao admite que o seu povo era motivo de zombaria entre vrias naes. Estesofrimentoerapiordoquequalquerdificuldadefsicaque pudessemterqueenfrentar.Almdisso,assaudadesdaterra 112 BRIGHT, J. Histria de Israel, p. 449-454. 113 Ibidim, p. 457-458. 51 nataleraumsentimentoqueestavapresentenocoraodos exilados.114 Donneracrescentaaidiadosautoresacimacitados,lembrando quenarealidade,nosesabecomofoiorganizadaaprtica religiosa no cativeiro, pois no existem informaes sobre a vida cultual ali no exlio. Entretanto, mesmo sem haver evidncias, provvel que foi ali que surgiu o que mais tarde se conhece por sinagoga.Tambmnosesabeoqueaconteceucomoscantores, sacerdotes, levitas e outros servidores do templo. Sabe-se que se tornouprticaimportante,aindaquejexercidaemJud,a guardadosbado(Ez20.12;23.38)edoritualdacircunciso. Destamaneira,ocumprimentodeprticasencontradasnaLeide Moiss aumentou.115 Foinoperododoexlio(tantoparaosqueforamparaa Babilnia como para aqueles que ficaram na Palestina) que houve a restaurao do yahvismo que estava decadente. Para os que ficaram naPalestina,issofoipossveldevidotambmsfamliasterem permanecidointactasnascomunidades,comotambmaconteceucom osexiladosnaBabilnia.ParaestasdaPalestina,ter sobrevividoaoacontecimentode587a.C.significavaquesua relaocomDeus,nofundonohaviasidoafetadacoma catstrofe,mesmoquetivessemsofrendoaperdademuitos familiares.ParecequeaaobenficadoSenhoraindaexistia, mesmodepoisdacatstrofeecadaindivduoaindapodia experimentar sua presena no ritmo da vida diria da famlia.116

Fica muito claro que toda esta situao que o povo passou, tanto osqueestavamnaPalestina,comoaquelesqueestavamna Babilnia, foi prprio para testar idias do povo judeu acerca de Deus, pois, antes do cativeiro, a presena de Deus era restrita a Palestina.Demaneiraespecial,osqueestavamnoexlio,no somenteestavamsemumreiesempas,mastambmnotinham 114 SCHULTZ, S. J. A histria de Israel no Antigo Testamento, p. 237-239. 115 DONNER, H. Histria de Israel e dos povos vizinhos: da poca da diviso do reino at Alexandre Magno, Vol. II. p. 437-438. 116ALBERTZ,R.HistoriadelareligindeIsraelemtiemposDelAntiguo Testamento, p. 511-512. 52 condiesdecumprirosritosreligiososordenadosporMoiss. Semotemplo,todoosistemaritualqueelespossuam,eque estava relacionado ao templo, ficou sem funcionar. Na Babilnia, porexemplo,umdoslocaisdeencontroreligiosoeraacasade Ezequiel,ondeosanciossereuniam.Assim,osexilados aprenderamqueoseuDeuspodiaseradoradoemvrioslocaise tambmporoutrospovos.Agora,elesaprenderiamqueoSenhor poderia ser cultuado em uma terra estranha.117 Pode-se afirmar que istoeraumanovarealidadeespiritual,queserevelavaaos adoradores; ou seja, Ele no estava limitado a uma cidade ou a um templo,deformaqueningumpoderialimitarsuaesferade ao.118 Adeportaopodeterfeitoacontecertensesouincertezasna religio do povo, pois muitos criam que o templo era a morada do Senhor,eassim,oacontecimentodadeportaorepresentavaou davaaidia,paraalguns,queoSenhoreramaisfracoqueos deusesdaBabilnia,comoMarduk.Istopodeterlevadomuitos exilados a adorarem as divindades dos conquistadores. Entretanto, foitambmdevidoaestasituaoqueareligiodeIsrael mostrousuaverdadeiraforaeatraiumuitaspessoasdeoutros povos para o seu meio.119 bemprovvelqueavidadosexiladosestavaorganizadaem gruposfamiliares(Ed2)eporgruposdeprofisso(Ed8.17). Entre estes grupos havia os levitas, sacerdotes e outros antigos empregados do templo. A direo era algo que cabia no somente a sacerdotes e profetas, mas tambm aos ancios, ainda que com suas limitaes (Jr 29.1; Ez 8.1; 14.1; 20.1).120

Asexperinciasparaosexilados,nareareligiosa,foram diferentestambmcomrelaoreligioindividual.Antesdo exlioeracostumequeoindivduocomunicassesuaexperincia religiosaapenascomosmaischegados,ouseja,nummbito 117 LASOR, W, S.; et. all. Introduo ao Antig