Km 58 no Cine PE

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GAZETA DE ALAGOAS, 01 de maio de 2012, Terça-feira 2 Caderno B B Des. federal Severino Rodrigues dos Santos que vem de ser eleito presidente do TRT-AL, e Djalma Mello, diretor jurídico da OAM Duas gerações de trabalhado- ras de sucesso: Lys Nunes e Rosa Maria Nunes (a cake designer) O famoso discotecário Júnior Barros, trabalhando nas carrapetas, em evento promovido por deste colunista ROMEU DE LOUREIRO [email protected] Dia do Trabalho Ao longo deste 1º de maio – que se convencionou ser o Dia Internacional do Trabalho – ouviremos reitera- das repetições do velho bordão: “o trabalho dignifica o homem”. Aliás, muito bem adequado, pois que vi- vemos numa civilização empresarial que transformou os workholics em ícones a serem admirados e imita- dos. Como historiador diplomado, porém, este colu- nista pede vênia para lembrar que, na Bíblia, o traba- lho aparece como um castigo (“viverás do suor do teu rosto”) imposto por Deus a Adão e Eva por haverem incorrido no pecado da desobediência, ao provar do fruto (que lhes era proibido) da Árvore da Sabedoria (sic). Podem conferir. EDILSON OMENA/CORTESIA EDILSON OMENA/CORTESIA GILBERTO FARIAS MENTALIDADE Ademais, os historiadores das mentalidades – vin- culados à Nouvelle Histoire – são unânimes em re- conhecer que essa valorização do trabalho espelha a mentalidade de uma burguesia vitoriosa sobre as velhas aristocracias e as monarquias. Sobre as aristocracias, ao despojá-las dos direitos senhoriais que lhes permitiam viver dos rendimentos de seus domínios. Sobre as monarquias, ao cercear-lhes os poderes absolutos por meio de constituições. MERITOCRACIA Não há dúvida, porém, que essa mentalidade de valorização do trabalho estimula e estabelece um regime de meritocracia. A qualquer um, por mais modesta que seja a sua origem, é possível, pelo es- tudo e o trabalho, chegar a elites dominantes. Ine- gável a existência dos selfmade men que, por meio do comércio, da indústria ou do mercado de capi- tais, tornaram-se donos de fortunas colossais, construídas por esforços próprios. HOMENAGEM Neste Dia do Trabalho, a homenagem desta co- luna aos africanos e seus descendentes que, durante quatro séculos, constituíram o principal contingente de traba- lhadores, na Colônia e no Império. Com a for- ça de seus braços e o suor de seus rostos. De idade nova, desde ontem, o príncipe dom João Henrique de Orléans e Bragança. Coincidentemente, um príncipe que trabalha: fabrica uma famosa cachaça, na sua fazenda em Parati, e já se consagrou como fotoartista. Em seu currículo, exposições de fotografias em Paris e em Maceió, e vários livros-álbuns. O último dos quais intitulado O Olhar de João. NA PINTURA O trabalhador braçal foi motivo de inspiração para os pintores, atra- vés dos séculos. Desde os miniaturistas medie- vais, até os adeptos da malsinada Escola do Re- alismo Social, da antiga URSS. Passando por Millais e pelo nosso Cândido Portinari COMEMORAÇÕES Como sempre, este Dia do Trabalho será devida- mente comemorado. Entre as comemorações anunciadas, merece destaque, por seu alto nível, a execução (com entrada franca) na plateia externa do Auditório Ibirapuera, em São Paulo, da 9ª Sin- fonia de Beethoven (um dos cimos da música eru- dita mundial), pelo Orquestra Bachiana Filarmôni- ca Sesi-SP, sob a regência do maestro João Carlos Martins – com a participação da Associação Coral de São Paulo e do Coral da Fundação Bachiana. Promoção do Minc, com apoio da Oi e do Itaú. Desembargadora federal Vanda Lustosa, presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 19ª Região (Alagoas) DIVULGAÇÃO KM 58 É EXIBIDO NO CINE PE CINEMA. Destaque na mostra competitiva de curtas-metragens, filme de Rafhael Barbosa dividiu público e crítica na 16ª edição do evento; festival anuncia seus vencedores amanhã RAMIRO RIBEIRO* REPÓRTER Recife, PE – A ambigui- dade deu o tom na exibi- ção do filme alagoano Km 58 , no último sábado (28), na mostra competiti- va de curtas-metragens do 16º Cine PE. A primeira ficção do jornalista e cine- asta Rafhael Barbosa ar- rancou aplausos da plateia em dois momentos (no início e no final dos crédi- tos), mas após a projeção era possível ouvir comen- tários de quem não havia sido absorvido pela atmos- fera climática do trabalho. Na apresentação da equipe, Rafhael subiu ao palco do Cine-Teatro Gua- rarapes ao lado do ator Igor de Araújo, do monta- dor Werner Salles Bagetti, do diretor de arte Rafael Lins e do músico Nando Magalhães, autor da trilha sonora do curta. O diretor falou de sua relação com o evento, iniciada em 2005, como espectador, e como repórter, a partir de 2008. “Mostrar o filme aqui no Cine PE é muito importan- te para mim, é a realiza- ção de um sonho”, afir- mou ele na coletiva de im- prensa realizada na ma- nhã do dia seguinte. No que diz respeito à crítica, as opiniões ficaram divididas. Editora do site Cineweb, Neusa Barbosa elogiou o resultado final e a atuação de Igor de Araú- jo. “É um filme que traba- lha com elipses. O Rafhael optou pela economia e te- ve um resultado eficiente e impactante. Uma estreia promissora. O trabalho do protagonista também é digno de nota, diz tudo so- mente com suas expres- sões, sem pronunciar uma palavra. Me lembrou ato- res romenos e do leste eu- ropeu. Uma atuação conti- da, mas no limite”. Já o crítico do jornal O Estado de S.Paulo , Luiz Carlos Merten, discordou. “A seleção de curtas este ano está muito boa, com filmes autorais, ambicio- sos. Mas, do que passou no sábado (28), Km 58 foi o de que menos gostei. Não sei ao certo por quê. A luz, aquela mão que ho- ra aparece, hora desapare- ce... Não consegui montar uma história para mim com os elementos que ele apresenta. O filme não me pegou”, comentou. A análise de Merten, contudo, contrastou com a de Maria do Rosário Cae- tano, redatora da Revista de Cinema. Para ela, os as- pectos técnicos do curta chamaram a atenção. “É curioso que um filme co- mo esse venha de Alagoas, quando quem é de fora pode imaginar algo mais regional. É uma obra de fruição lenta, ambígua, e que não reforça estereóti- pos. Cada espectado r monta o seu próprio filme, a partir das pistas que ele oferece. Me chamaram a atenção o som, os ruídos e a luz, que é um persona- gem à parte. É um curta de um diretor estreante que – em plena era do ex- plícito – optou por um es- tilo elegante, sóbrio”.‡ * O jornalista viajou a convite do Cine PE Anticlímax 8 OU 80 Se em sua primeira projeção, na quinta- feira (26), o longa À Beira do Caminho foi prejudicado por proble- mas de áudio, a segun- da exibição, neste sába- do, acabou mostrando um novo filme – que o público chegou a aplau- dir em cena aberta. Já no domingo o anticlí- max se deu com Boca, longa de Flávio Frede- rico – uma troca nos rolos fez com que após 30 min. o filme pulasse para o final da história. Festival de homenagens A competição entre curtas e longas já está seu momento mais movimentado neste 16º Cine PE, mas a programação não é composta apenas por disputas. No mesmo dia da exibição de Km 58 na mostra, o público pôde acompanhar a homenagem do festival a Fernando Meirelles, realizador de longas cultuados como Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel. No palco do Cine-Teatro Guararapes, ele observou que homenagens costumam se dar quando o sujeito já morreu ou está se aposentando. Esse, claro, não era seu caso. “Ainda tenho muitas ideias, gente”, brincou. Também homenageado no evento, ao agradecer a honraria que lhe foi concedida no último domingo (29) o cineasta alagoano Cacá Diegues mencionou o avô, que segundo ele dizia: “Estuda, meu neto, que um dia você chega ao Recife”. A citação serviu para exemplificar a associação da capital pernambucana com o sucesso. “Se meu avô estivesse vivo, poderia dizer a ele: ‘Vô, eu consegui!’”, disse o autor de Bye Bye Brasil no palco do Cine-Teatro Guararapes, para o delírio geral da plateia. DANIELA NADER/DIVULGAÇÃO Rafhael Barbosa fala à plateia após a exibição do curta no Cine PE

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Cobertura da exibição do curta alagoano Km 58 no Cine PE 2012

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GAZETA DE ALAGOAS, 01 de maio de 2012, Terça-feira2 Caderno BB

Des. federal Severino

Rodrigues dos Santos que vem de

ser eleito presidente do TRT-AL,

e Djalma Mello, diretor

jurídico da OAM

Duas gerações de trabalhado-ras de sucesso: Lys Nunes e Rosa Maria Nunes (a cake designer)

O famoso discotecário Júnior Barros, trabalhando nas carrapetas, em evento promovido por deste colunista

ROMEU DE LOUREIRO [email protected]

Dia do Trabalho Ao longo deste 1º de maio – que se convencionou ser o Dia Internacional do Trabalho – ouviremos reitera-das repetições do velho bordão: “o trabalho dignifica o homem”. Aliás, muito bem adequado, pois que vi-vemos numa civilização empresarial que transformou os workholics em ícones a serem admirados e imita-dos. Como historiador diplomado, porém, este colu-nista pede vênia para lembrar que, na Bíblia, o traba-lho aparece como um castigo (“viverás do suor do teu rosto”) imposto por Deus a Adão e Eva por haverem incorrido no pecado da desobediência, ao provar do fruto (que lhes era proibido) da Árvore da Sabedoria (sic). Podem conferir.

EDILSON OMENA/CORTESIA

EDILSON OMENA/CORTESIA

GILBERTO FARIAS

MENTALIDADE Ademais, os historiadores das mentalidades – vin-culados à Nouvelle Histoire – são unânimes em re-conhecer que essa valorização do trabalho espelha a mentalidade de uma burguesia vitoriosa sobre as velhas aristocracias e as monarquias. Sobre as aristocracias, ao despojá-las dos direitos senhoriais que lhes permitiam viver dos rendimentos de seus domínios. Sobre as monarquias, ao cercear-lhes os poderes absolutos por meio de constituições.

MERITOCRACIA Não há dúvida, porém, que essa mentalidade de valorização do trabalho estimula e estabelece um regime de meritocracia. A qualquer um, por mais modesta que seja a sua origem, é possível, pelo es-tudo e o trabalho, chegar a elites dominantes. Ine-gável a existência dos selfmade men que, por meio do comércio, da indústria ou do mercado de capi-tais, tornaram-se donos de fortunas colossais, construídas por esforços próprios.

HOMENAGEM Neste Dia do Trabalho, a homenagem desta co-luna aos africanos e seus descendentes que, durante quatro séculos, constituíram o principal contingente de traba-lhadores, na Colônia e no Império. Com a for-ça de seus braços e o suor de seus rostos.

∫ De idade nova, desde ontem, o príncipe dom

João Henrique de Orléans e Bragança.

∫ Coincidentemente, um príncipe que trabalha:

fabrica uma famosa cachaça, na sua fazenda

em Parati, e já se consagrou como fotoartista.

∫ Em seu currículo, exposições de fotografias

em Paris e em Maceió, e vários livros-álbuns. O

último dos quais intitulado O Olhar de João.

NA PINTURA O trabalhador braçal foi motivo de inspiração para os pintores, atra-vés dos séculos. Desde os miniaturistas medie-vais, até os adeptos da malsinada Escola do Re-alismo Social, da antiga URSS. Passando por Millais e pelo nosso Cândido Portinari

COMEMORAÇÕES Como sempre, este Dia do Trabalho será devida-mente comemorado. Entre as comemorações anunciadas, merece destaque, por seu alto nível, a execução (com entrada franca) na plateia externa do Auditório Ibirapuera, em São Paulo, da 9ª Sin-fonia de Beethoven (um dos cimos da música eru-dita mundial), pelo Orquestra Bachiana Filarmôni-ca Sesi-SP, sob a regência do maestro João Carlos Martins – com a participação da Associação Coral de São Paulo e do Coral da Fundação Bachiana. Promoção do Minc, com apoio da Oi e do Itaú.

Desembargadora federal Vanda Lustosa, presidente do Tribunal Regional do Trabalho

da 19ª Região (Alagoas)

DIVULGAÇÃO

KM 58 É EXIBIDO NO CINE PE CINEMA. Destaque na mostra competitiva de curtas-metragens, filme de Rafhael Barbosa dividiu público e crítica na 16ª edição do evento; festival anuncia seus vencedores amanhã

RAMIRO RIBEIRO* REPÓRTER

Recife, PE – A ambigui-dade deu o tom na exibi-ção do filme alagoano Km 58 , no úl t imo sábado (28), na mostra competiti-va de curtas-metragens do 16º Cine PE. A primeira ficção do jornalista e cine-

asta Rafhael Barbosa ar-rancou aplausos da plateia em dois momentos (no início e no final dos crédi-tos), mas após a projeção era possível ouvir comen-tários de quem não havia sido absorvido pela atmos-fera climática do trabalho.

Na apresentação da equipe, Rafhael subiu ao palco do Cine-Teatro Gua-rarapes ao lado do ator Igor de Araújo, do monta-dor Werner Salles Bagetti, do diretor de arte Rafael Lins e do músico Nando Magalhães, autor da trilha sonora do curta. O diretor falou de sua relação com o evento, iniciada em 2005, como espectador, e como repórter, a partir de 2008. “Mostrar o filme aqui no Cine PE é muito importan-te para mim, é a realiza-ção de um sonho”, afir-mou ele na coletiva de im-prensa realizada na ma-nhã do dia seguinte.

No que diz respeito à

crítica, as opiniões ficaram divididas. Editora do site Cineweb, Neusa Barbosa elogiou o resultado final e a atuação de Igor de Araú-jo. “É um filme que traba-lha com elipses. O Rafhael optou pela economia e te-ve um resultado eficiente e impactante. Uma estreia promissora. O trabalho do protagonista também é digno de nota, diz tudo so-mente com suas expres-sões, sem pronunciar uma palavra. Me lembrou ato-res romenos e do leste eu-ropeu. Uma atuação conti-da, mas no limite”.

Já o crítico do jornal O Estado de S.Paulo, Luiz Carlos Merten, discordou. “A seleção de curtas este ano está muito boa, com filmes autorais, ambicio-sos. Mas, do que passou no sábado (28), Km 58 foi o de que menos gostei. Não sei ao certo por quê. A luz, aquela mão que ho-ra aparece, hora desapare-

ce... Não consegui montar uma história para mim com os elementos que ele apresenta. O filme não me pegou”, comentou.

A análise de Merten, contudo, contrastou com a de Maria do Rosário Cae-tano, redatora da Revista de Cinema. Para ela, os as-pectos técnicos do curta chamaram a atenção. “É curioso que um filme co-mo esse venha de Alagoas, quando quem é de fora pode imaginar algo mais regional. É uma obra de fruição lenta, ambígua, e que não reforça estereóti-pos. Cada espectador monta o seu próprio filme, a partir das pistas que ele oferece. Me chamaram a atenção o som, os ruídos e a luz, que é um persona-gem à parte. É um curta de um diretor estreante que – em plena era do ex-plícito – optou por um es-tilo elegante, sóbrio”.‡ * O jornalista viajou a convite do Cine PE

Anticlímax 8 OU 80 Se em sua primeira projeção, na quinta-feira (26), o longa À Beira do Caminho foi prejudicado por proble-mas de áudio, a segun-da exibição, neste sába-do, acabou mostrando um novo filme – que o público chegou a aplau-dir em cena aberta. Já no domingo o anticlí-max se deu com Boca, longa de Flávio Frede-rico – uma troca nos rolos fez com que após 30 min. o filme pulasse para o final da história.

Festival de homenagens A competição entre curtas e longas já está seu momento mais movimentado neste 16º Cine PE, mas a programação não é composta apenas por disputas. No mesmo dia da exibição de Km 58 na mostra, o público pôde acompanhar a homenagem do festival a Fernando Meirelles, realizador de longas cultuados como Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel. No palco do Cine-Teatro Guararapes, ele observou que homenagens costumam se dar quando o sujeito já morreu ou está se aposentando. Esse, claro, não era seu caso. “Ainda tenho muitas ideias, gente”, brincou. Também homenageado no evento, ao agradecer a honraria que lhe foi concedida no último domingo (29) o cineasta alagoano Cacá Diegues mencionou o avô, que segundo ele dizia: “Estuda, meu neto, que um dia você chega ao Recife”. A citação serviu para exemplificar a associação da capital pernambucana com o sucesso. “Se meu avô estivesse vivo, poderia dizer a ele: ‘Vô, eu consegui!’”, disse o autor de Bye Bye Brasil no palco do Cine-Teatro Guararapes, para o delírio geral da plateia.

DANIELA NADER/DIVULGAÇÃO

Rafhael Barbosa fala à plateia após a exibição do curta no Cine PE