L Portuguesa exPressão escrita e comPreensão de texto

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2016 LÍNGUA PORTUGUESA: EXPRESSÃO ESCRITA E COMPREENSÃO DE TEXTO Prof. a Estela Maris Bogo Lorenzi Prof. a Luciana Fiamoncini

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Língua Portuguesa: exPressão escrita e comPreensão de texto

Prof.a Estela Maris Bogo LorenziProf.a Luciana Fiamoncini

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Copyright © UNIASSELVI 2016

Elaboração:

Prof.a Estela Maris Bogo Lorenzi

Prof.a Luciana Fiamoncini

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri

UNIASSELVI – Indaial.

Impresso por:

469.07L869l Lorenzi; Estela Maris Bogo Língua Portuguesa: Expressão escrita e compreensão de texto / Estela Maris Bogo Lorenzi; Luciana Fiamoncini: UNIASSELVI, 2016. 237 p. : il.

ISBN 978-85-515-0036-1

1.Língua Portuguesa – Estudo e Ensino. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

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aPresentação

A compreensão plena de um texto, bem como a melhor forma de expressar-nos quando escrevemos envolvem mais do que simplesmente conhecer as regras da língua portuguesa. Muitas são as estratégias e habilidades desenvolvidas e postas em prática para realizar tais ações. O caderno de Língua Portuguesa: Expressão Escrita e Compreensão de Texto visa auxiliar você, acadêmico, a compreender as principais expressões da língua portuguesa no que tange à produção e à compreensão textual. Vamos conhecer um pouco mais sobre esta obra?

A Unidade 1 aborda questões relacionadas às aplicações da oralidade e

da escrita, a argumentação e o raciocínio. Inicialmente, você será apresentado aos estudos da língua como ciência, bem como ao seu contexto de uso e manifestação social. Nesta etapa, serão estudados alguns fenômenos que ocorrem quando a fala é produzida e como o ser humano produz os significados.

Ainda na Unidade 1, trataremos de assuntos relacionados aos fenômenos de comunicação, dentre eles, a comunicação mediada pela internet, que é fenômeno crescente na sociedade em que vivemos. Para aprimorar ainda mais suas habilidades comunicativas, também são apresentados neste caderno os estudos acerca da retórica e da oratória, técnicas estas que facilitam o uso da linguagem no ato comunicativo.

A Unidade 2 está focada no estudo dos gêneros e tipologias textuais, para que você compreenda que cada um possui sua característica e, para cada uma das intenções de quem escreve, há um que mais de adéqua. Nesta etapa, você também conhecerá os gêneros mais adequados à esfera comercial, para que saiba identificar em que situações aplicá-los.

Por fim, na Unidade 3, trataremos das novas formas de leitura e interpretação textual. Aqui, serão abordadas as questões relacionadas ao letramento na era digital, a partir do estudo da leitura digital e sua compreensão. O conceito de hipertextualidade também é abordado nesta unidade, dando a você a oportunidade de conhecer os gêneros digitais, os links eletrônicos e a aplicação dos textos virtuais em sala de aula. Nesta etapa de estudos, também trabalharemos com você a linguagem na era digital: o internetês e a leitura imagética, que são basilares para a compreensão deste novo modo de comunicação.

A partir do estudo deste material, nós, autoras, esperamos que você compreenda os princípios básicos da expressão escrita e da compreensão de textos, sempre buscando atualizar-se e conhecer um pouco mais sobre a temática por meio das propostas oferecidas ao longo deste material com a ferramenta “UNI”. Colocamo-nos à disposição para que você esclareça suas dúvidas e nos dê sugestões. Desejamos a você uma ótima jornada de estudos e até a próxima!

Prof.ª Estela Maris Bogo LorenziProf.ª Luciana Fiamoncini

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Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfi m, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material.

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Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE.

Bons estudos!

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UNI

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UNIDADE 1 – APLICAÇÕES DA ORALIDADE E DA ESCRITA: A ARGUMENTAÇÃO E O RACIOCÍNIO ..........................................................................................................1

TÓPICO 1 – LÍNGUA E FENÔMENOS COMUNICACIONAIS .....................................................31 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................32 O ESTUDO DA LÍNGUA COMO CIÊNCIA ....................................................................................4

2.1 A LÍNGUA E O SEU CONTEXTO DE USO ..................................................................................52.2 A LÍNGUA COMO MANIFESTAÇÃO SOCIAL ..........................................................................72.3 A CAPACIDADE DE ARGUMENTAÇÃO ....................................................................................8

3 O PROCESSO DE APROPRIAÇÃO DA ESCRITA ....................................................................... 103.1 O USO DO TEXTO PARA A APROPRIAÇÃO DA ESCRITA ................................................... 11

3.1.1 Relação autor/leitor ................................................................................................................ 143.2 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA ........................................................................................................... 15

3.2.1 Gírias ......................................................................................................................................... 173.2.2 Linguagem técnica e/ou jargão ............................................................................................. 19

4 MODALIDADES DA LÍNGUA: SUAS PARTICULARIDADES ................................................ 204.1 A FALA E OS ACONTECIMENTOS............................................................................................. 224.2 O REGISTRO ESCRITO E A CRIAÇÃO DA HISTÓRIA DOCUMENTADA ......................... 234.3 O SER HUMANO E A PRODUÇÃO DE SIGNIFICADOS ........................................................ 24

5 FENÔMENOS COMUNICACIONAIS: COMUNICAÇÃO DE MASSA E COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL................................................................................................. 25

5.1 A QUESTÃO DA INTERAÇÃO SOCIAL E A COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL ............ 265.2 A COMUNICAÇÃO NAS MULTIDÕES MEDIADA PELA INTERNET ................................ 285.3 CONTEXTOS INTERCULTURAIS: A COMPREENSÃO DAS DIFERENÇAS ...................... 31

LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 34RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 37AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 39

TÓPICO 2 – ORATÓRIA E RETÓRICA: O USO DAS PALAVRAS .............................................. 411 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 412 A ORATÓRIA E O DISCURSO ......................................................................................................... 433 COMO DESENVOLVER A RETÓRICA? ......................................................................................... 47

3.1 ASPECTOS FÍSICOS: A LINGUAGEM CORPORAL, VESTIMENTA E VOZ ........................ 473.2 ASPECTOS PSICOLÓGICOS: MEDO DE FALAR EM PÚBLICO, ESQUECIMENTO E

CACOETES ....................................................................................................................................... 493.3 ASPECTOS INTELECTUAIS: CONHECIMENTO DO ASSUNTO E SEGURANÇA............ 503.4 ASPECTOS TECNOLÓGICOS: OS SUPORTES DE APOIO AO ORADOR........................... 51

4 O PAPEL DA RETÓRICA NA PRODUÇÃO TEXTUAL ............................................................... 534.1 A ORIGEM DA RETÓRICA ........................................................................................................... 534.2 PARTES DA RETÓRICA ................................................................................................................. 54

RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 56AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 57

sumário

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VIII

TÓPICO 3 – O TEXTO E A COMBINAÇÃO DAS PALAVRAS ..................................................... 591 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 592 OS SENTIDOS DO TEXTO ................................................................................................................ 59

2.1 CONCEPÇÕES DE TEXTO ............................................................................................................ 612.2 GÊNEROS TEXTUAIS E A PRODUÇÃO DE TEXTOS .............................................................. 612.3 O TEXTO E SUA INTENÇÃO ....................................................................................................... 642.4 FATORES QUE INTERFEREM NA INTERPRETAÇÃO TEXTUAL ........................................ 65

2.4.1 Ambiguidade e polissemia .................................................................................................... 673 O TEXTO COMO PRÁTICA INTERDISCIPLINAR ..................................................................... 70

3.1 ESTUDOS ACERCA DA PRODUÇÃO TEXTUAL ..................................................................... 713.2 A PRODUÇÃO TEXTUAL: PRÁTICAS EM SALA DE AULA ................................................. 75

RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 81AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 83

UNIDADE 2 – GÊNEROS E TIPOLOGIAS TEXTUAIS .................................................................. 85

TÓPICO 1 – A TIPOLOGIA TEXTUAL: PRÁTICA E ANÁLISE DOS DIFERENTES TIPOS DE TEXTOS .......................................................................................................... 871 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 872 TEXTO NARRATIVO .......................................................................................................................... 873 TEXTO DESCRITIVO .......................................................................................................................... 914 TEXTO DISSERTATIVO ..................................................................................................................... 93

4.1 DISSERTAÇÃO-EXPOSIÇÃO ........................................................................................................ 944.2 DISSERTAÇÃO-ARGUMENTAÇÃO ........................................................................................... 94

5 TEXTO INJUNTIVO ............................................................................................................................ 956 TEXTO EXPOSITIVO .......................................................................................................................... 98LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................100RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................103AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................104

TÓPICO 2 – CARACTERÍSTICAS LINGUÍSTICAS DOS TEXTOS .........................................1071 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1072 TEXTOS JORNALÍSTICOS ..............................................................................................................107

2.1 A NOTÍCIA DE JORNAL .............................................................................................................1082.2 ARTIGO DE OPINIÃO .................................................................................................................1102.3 REPORTAGEM E ENTREVISTA .................................................................................................116

3 TEXTOS CIENTÍFICOS ....................................................................................................................1223.1 RESUMO .........................................................................................................................................123

3.1.1 O que é um resumo? .............................................................................................................1243.1.2 Tipos de resumo ....................................................................................................................127

3.2 RESENHA .......................................................................................................................................1314 TEXTOS HUMORÍSTICOS ..............................................................................................................135

4.1 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS ................................................................................................1374.2 ANEDOTAS ....................................................................................................................................139

5 TEXTOS PUBLICITÁRIOS ...............................................................................................................1415.1 O ANÚNCIO E O CARTAZ PUBLICITÁRIO ...........................................................................144

RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................148AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................149

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IX

TÓPICO 3 – OS GÊNEROS DA ESFERA COMERCIAL ...............................................................1511 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1512 E-MAIL ..................................................................................................................................................152

2.1 LINGUAGEM E SUGESTÕES PARA A ELABORAÇÃO DE UM E-MAIL ..........................1533 OFÍCIO ..................................................................................................................................................156

3.1 ELABORAÇÃO E MODELO .......................................................................................................1564 CARTA COMERCIAL ........................................................................................................................159

4.1 MODELO ........................................................................................................................................160RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................161AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................162

UNIDADE 3 – NOVAS FORMAS DE LEITURA E DE INTERPRETAÇÃO TEXTUAL ..........163

TÓPICO 1 – O LETRAMENTO NA ERA DIGITAL .......................................................................1651 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1652 A LEITURA DIGITAL: UMA INTERPRETAÇÃO TEXTUAL DIFERENCIADA ..................167

2.1 CONCEITO DE LETRAMENTO(S) ............................................................................................1722.2.1 Novos modos de alfabetizar letrando ................................................................................178

2.2 TECNOLOGIAS DE ESCRITA E DE LETRAMENTO DIGITAL ............................................1793 O SER HUMANO EM TRANSFORMAÇÃO ................................................................................183

3.1 CIBERCULTURA: UM UNIVERSO PEDAGÓGICO ................................................................1863.2 AS NOVAS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO: MOVIMENTOS E UTILIZAÇÃO ...........188

3.2.1 A inserção dos aparatos tecnológicos na sala de aula .....................................................190RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................192AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................193

TÓPICO 2 – A HIPERTEXTUALIDADE ...........................................................................................1951 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1952 O HIPERTEXTO E A MULTIPLICIDADE DE DEFINIÇÕES ....................................................196

2.1 O ENSINO E APRENDIZAGEM REINVENTADOS: A MÍDIA NA EDUCAÇÃO .............1982.2 HIPERTEXTUALIDADE VERSUS INTERTEXTUALIDADE .................................................200

3 OS GÊNEROS DIGITAIS .................................................................................................................2003.1 OS LINKS ELETRÔNICOS NOS GÊNEROS TEXTUAIS ........................................................204

3.1.2 O internetês ............................................................................................................................2054 A LEITURA E A ESCRITA POR MEIO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO ..........208LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................211RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................214AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................215

TÓPICO 3 – A INTERPRETAÇÃO TEXTUAL NA ERA DIGITAL .............................................2171 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................2172 OS TEXTOS VIRTUAIS E A SALA DE AULA .............................................................................217

2.1 ELEMENTOS DA INTERPRETAÇÃO .......................................................................................2192.2 O DISCURSO ELETRÔNICO.......................................................................................................220

RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................222AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................223

REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................224

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UNIDADE 1

APLICAÇÕES DA ORALIDADE E DA ESCRITA: A ARGUMENTAÇÃO

E O RACIOCÍNIO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir desta unidade você será capaz de:

• conhecer o uso e o funcionamento da língua, bem como os fenômenos comunicacionais que a permeiam;

• analisar os benefícios de uma boa oratória e aprender a bem utilizá-la;

• compreender a estrutura e a formação de um texto, assim como o uso das palavras.

Esta unidade de ensino contém três tópicos. No final de cada um deles você encontrará atividades que contribuirão para a apropriação dos conteúdos.

TÓPICO 1 – LÍNGUA E FENÔMENOS COMUNICACIONAIS

TÓPICO 2 – ORATÓRIA E RETÓRICA: O USO DAS PALAVRAS

TÓPICO 3 – O TEXTO E A COMBINAÇÃO DAS PALAVRAS

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TÓPICO 1UNIDADE 1

LÍNGUA E FENÔMENOS

COMUNICACIONAIS

1 INTRODUÇÃO

Olá, acadêmico! Iniciaremos, a partir de agora, uma longa caminhada. Juntos percorreremos novos caminhos, por meio dos quais buscaremos observar as melhores paisagens e abstrair delas o que há de mais relevante acerca do universo da linguagem. Especificamente nesta unidade trabalharemos questões relacionadas à argumentação e ao raciocínio e sua aplicabilidade na produção textual e oral.

Iniciaremos o Tópico 1 apresentando a você um pouco sobre a língua e seus fenômenos comunicacionais. Para dar início à nossa caminhada, semearemos algumas perguntas, que germinarão e poderão ser colhidas ao longo do trajeto: por que a língua é vista como uma ciência e como manifestação social? Qual a relação entre o autor e o leitor de um texto? Como se cria a história a partir da palavra?

Estes são apenas alguns dos questionamentos que serão fomentados no decorrer do caderno de estudos. Lembre-se: aqui você não encontrará respostas, apenas aprenderá a refletir sobre suas perguntas, buscando você mesmo a resolução para elas. A pesquisa é de fundamental importância para que você possa aprofundar seus conhecimentos acerca dos temas aqui abordados.

No tópico que segue abordaremos a língua e seu contexto de uso, iniciando a partir do estudo da língua como ciência, quem foram os primeiros pesquisadores a introduzir estes estudos e, em seguida, trataremos a questão da língua como manifestação social.

Ao longo do caderno de estudos você verá que há diferença de nomenclatura quando nos referimos a quem produz e a quem lê ou ouve o texto. Você verá que, em alguns momentos, eles são chamados de interlocutores e, em outros, de emissor e receptor. A nomenclatura variará de acordo com a perspectiva teórica.

IMPORTANTE

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UNIDADE 1 | APLICAÇÕES DA ORALIDADE E DA ESCRITA: A ARGUMENTAÇÃO E O RACIOCÍNIO

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2 O ESTUDO DA LÍNGUA COMO CIÊNCIA

Mesmo sendo considerada também um fator social, conforme veremos adiante, a língua é objeto de estudo da ciência. Você já ouviu falar em Linguística? Se ainda não ouviu, em algum momento da sua vida acadêmica, no curso de Letras, você já deve ter ouvido falar em Saussure. Esse pesquisador é considerado o pai da linguística, ou seja, a partir das pesquisas desencadeadas por ele, os estudos acerca de língua e linguagem deram um grande salto.

A linguística é a ciência que estuda a linguagem.

NOTA

Ferdinand de Saussure foi um linguista de renome. Nascido em Genebra (Suíça), em 26 de novembro de 1857 e falecido em Morges em 22 de fevereiro de 1913. Suas pesquisas deram origem à linguística, ciência que tem como objeto de estudo a língua e seus fenômenos.

UNI

Saussure, de acordo com Rodrigues (2008), baseou-se no pensamento positivista, que definiu que o objeto possui caráter elementar para o desenvolvimento de qualquer ciência. A partir desta ideia, Saussure percebeu um problema, pois, nas ciências, o objeto de estudo é percebido facilmente, é visível. Contudo, para estudar a linguagem, o objeto é de teor abstrato. A partir desta problemática, Saussure fez longos estudos com a intenção de definir um objeto que possibilitasse o estudo desses fatores para, então, encontrar e isolar o objeto.

Definir um objeto de estudo é um procedimento complexo e implica vencer inúmeros desafios. Saussure, quando em desenvolvimento de seus estudos, afirmou que a linguagem tem um lado individual e um lado social. O linguista afirma que:

[...] qualquer que seja o lado por que se aborda a questão, em nenhuma parte se nos oferece integral o objeto da Linguística. Sempre encontraremos o dilema: ou nos aplicamos a um lado apenas de cada problema e nos arriscamos a não perceber as dualidades assinaladas acima, ou, se estudarmos a linguagem sob vários aspectos ao mesmo tempo, o objeto da Linguística nos aparecerá como um aglomerado confuso de coisas heteróclitas, sem liame entre si (SAUSSURE, 2006, p. 16).

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TÓPICO 1 | LÍNGUA E FENÔMENOS

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Incontáveis foram as suas contribuições para a linguística. Mesmo diante de tantos desafios, ele conseguiu atingir seu objetivo. A partir de então, após conseguir distinguir o objeto “língua”, Saussure passou a pesquisar muito acerca da linguagem, desenvolvendo, assim, a linguística, que está em constante evolução nos dias de hoje.

Todo o conhecimento desenvolvido sobre a linguagem produzido no século XX surgiu a partir do Curso de Linguística Geral (no original, Cours de Linguistique Générale), escrito pelos discípulos de Ferdinand de Saussure, em 1916. Esta obra possui como cerne os conceitos básicos para a Linguística. Para Rodrigues (2008, p. 8), esta obra

[...] isola, ou distingue esse objeto dos demais fatos da linguagem. Caracteriza linguagem em oposição à língua. Caracteriza a língua em oposição à fala, à escrita e a outros códigos de linguagem. Ademais, ao estabelecer toda essa abstração teórica, suscita um método capaz de imprimir rigor aos estudos linguísticos, até então orientados pela subjetividade ou pela inadequação do método empregado nas ciências naturais, a saber, um método adequado aos estudos sociais, o estruturalismo (RODRIGUES, 2008, p. 8).

A partir desta obra foram lançadas as bases que caracterizaram os estudos da língua como ciência. Estes conceitos iniciais alavancaram os estudos relacionados à língua de tal forma que, a cada ano, mais pesquisadores surgem, e esta ciência cresce continuamente em pesquisas e descobertas. Surgiram novas ramificações da Linguística, dentre elas a Psicolinguística, a Sociolinguística e a Neurolinguística.

Saussure dedicou praticamente toda a sua vida de pesquisador para produzir uma teoria que pudesse dar aos estudos sobre a linguagem uma metodologia capaz de proporcionar rigor suficiente, para que eles fossem considerados ciência. Para tanto, delimitar o objeto dessa ciência é fundamental (RODRIGUES, 2008).

2.1 A LÍNGUA E O SEU CONTEXTO DE USO

Antes de iniciarmos nossa discussão acerca da língua e seu contexto de uso, gostaríamos de fazer uma pequena abordagem acerca da diferença entre língua e linguagem, cujos significados, apesar de parecidos, não são iguais. Para facilitar nossa explicação, buscamos apoio no Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (HOUAISS, 2001). Segundo ele, a língua é o idioma nacional, o conjunto de palavras e regras que são utilizadas por uma comunidade linguística como principal meio de comunicação e expressão, seja ela falada ou escrita. Já a linguagem está definida como uma capacidade de expressão, um meio sistemático de expressão de ideias ou sentimentos com o uso de marcas, sinais ou gestos convencionados.

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UNIDADE 1 | APLICAÇÕES DA ORALIDADE E DA ESCRITA: A ARGUMENTAÇÃO E O RACIOCÍNIO

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A partir de tal explicação, podemos afirmar que tanto a língua quanto a linguagem são fenômenos humanos intrinsecamente relacionados a práticas sociais. A linguagem utiliza a língua como uma de suas formas de expressão, portanto, cabe àquele que fala delimitar o objetivo da sua comunicação ao público-alvo. A língua é, portanto, adaptável ao seu contexto de uso.

De acordo com Bakhtin (1997), a linguagem considera o discurso uma prática social e uma forma de interação. De acordo com o autor, o contexto de produção textual, a relação interpessoal, as diferentes situações de comunicação, os gêneros, a interpretação e a intenção de quem o produz são peças fundamentais.

A linguagem é, portanto, a capacidade que o ser humano possui para comunicar-se com outros seres humanos. A linguagem pode estabelecer-se de forma verbal, por meio da palavra escrita ou falada, ou não verbal, por meio de imagens, gestos, sons, sinais luminosos, expressões faciais ou corporais, notas musicais etc.

O uso da linguagem, seja ela verbal ou não, sempre terá um objetivo específico, por exemplo: posso comunicar-me para pedir um favor, fazer um alerta, apenas para lazer, a negócios, para discutir determinado assunto, para reclamar de algo que incomoda, para elogiar, para interagir. Inúmeros são os objetivos da linguagem.

FIGURA 1 - DIFERENTES CONTEXTOS DE FALA

FONTE: Adaptado de: <http://queconceito.com.br/wp-content/uploads/2015/06/Recursos-Humanos-400x267.jpg>. Acesso em: 27 fev. 2016.

DICAS

A obra “Conversas com Linguistas” traz definições de língua e linguagem na perspectiva de vários estudiosos. Que tal dar uma olhada?

FONTE: XAVIER, Antonio Carlos; CORTEZ, Suzana (Orgs). Conversas com linguistas. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.

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TÓPICO 1 | LÍNGUA E FENÔMENOS

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De acordo com o objetivo da elocução e para quem ela é destinada, o interlocutor, automaticamente, adaptará a fala ao que chamamos de contexto de uso, ou seja, a fala adapta-se ao momento, à situação e às pessoas que estão envolvidas na conversa naquele determinado momento. Uma conversa entre amigos será diferente da forma como as mesmas pessoas envolvidas se dirigem ao seu chefe, a um padre, a uma pessoa mais idosa, aos seus filhos, e assim por diante.

Observe:

Fala 1. Me dá um pedaço de papel pra eu escrever?Fala 2. Julia, você poderia, por gentileza, alcançar-me o papel para que eu possa fazer uma anotação?

Ambas as falas abordam o mesmo pedido, porém, claramente se percebe que, na Fala 1, há intimidade entre os interlocutores. Pode ser um amigo, a mãe, o irmão. Já na Fala 2 há uma situação de maior formalidade ao pedir exatamente a mesma coisa. Esta fala pode ter sido dirigida a uma secretária, a algum desconhecido, ao chefe, ou a alguém com o qual o falante não tenha tanta intimidade.

Assim, pode-se concluir que o contexto de uso da língua varia de acordo com inúmeros fatores: quem fala, o que fala (objetivo) e a quem fala. Também o contexto no qual os interlocutores estão inseridos influencia na forma como a mensagem é transmitida. Portanto, não se pode afirmar que a fala é homogênea. Um mesmo sujeito pode transmitir a mesma mensagem de formas diferentes, de acordo com a situação na qual está inserido.

2.2 A LÍNGUA COMO MANIFESTAÇÃO SOCIAL

Conforme já vimos na seção anterior, o objeto de estudo da Linguística é a língua. De que forma ela é vista como manifestação social? De acordo com Saussure (2006), a língua só é criada em vista do discurso. Assim, Saussure não estudava a linguagem somente a partir do seu lado científico, mas também a partir da sua manifestação social: a fala.

A dupla essência da linguagem (língua e fala) é também retratada nos estudos de Saussure (2006), que afirma que o estudo da linguagem comporta duas faces: a que tem por objeto de estudo a língua em seu aspecto social e independente do indivíduo (estudo psíquico) e a que tem por objeto a parte individual da linguagem, ou seja, a fala, incluindo a fonação (estudo psicofísico).

Saussure (2006) apresenta em seus estudos a língua como fator social, produto da coletividade, descartando, assim, toda a possibilidade de que a língua pudesse ser uma descrição de mundo. A língua, de acordo com o autor, estabelece valores por meio da convenção social e é vista, portanto, como um sistema de valores, cujos pontos de partida são os valores e os sons.

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UNIDADE 1 | APLICAÇÕES DA ORALIDADE E DA ESCRITA: A ARGUMENTAÇÃO E O RACIOCÍNIO

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2.3 A CAPACIDADE DE ARGUMENTAÇÃO

A partir de agora estudaremos alguns conceitos básicos sobre a argumentação e de que modo podemos desenvolvê-la. A argumentação é, certamente, uma das habilidades mais difíceis de aprimorar. Ela é uma ferramenta importante para a aquisição e produção de conhecimento, pois, de acordo com Costa (2008), a teoria cognitiva atualmente permite dizer que a aprendizagem é um processo de construção de conhecimento, e a argumentação colabora significativamente para este processo.

A produção científica é um processo, portanto, de construção, que implica a formulação de teorias que explicam diferentes fenômenos. Estas teorias sempre são postas à prova, abertas à argumentação e, se não forem coerentes, podem ser refutadas pelos pesquisadores. Deste modo, podemos afirmar que a ciência não se faz a partir de um acúmulo de fatos e ideias imutáveis, mas sim, que se forma a partir da discussão, da argumentação e do confronto de hipóteses (COSTA, 2008).

Como construímos, então, o conhecimento? Lendo, inferindo e argumentando. Não conseguimos estudar e aprender sozinhos, sempre estamos em uma espécie de troca com nossos pares, sejam estes pares o professor, um colega de sala de aula, um tutor, um familiar ou mesmo o autor da obra que estamos estudando. A argumentação só se desenvolve praticando. O discurso científico é argumentativo, portanto, caberá a nós, professores, buscar desenvolver em nossos alunos o hábito de argumentar. Kuhn (apud COSTA, 2008) afirma que para a maioria das pessoas, a argumentação eficaz não surge naturalmente, mas é adquirida por meio da prática. De acordo com Costa (2008, p. 3), a argumentação é uma atividade “social, intelectual, verbal e não verbal, utilizada para justificar ou refutar uma opinião; engloba um conjunto específico de declarações dirigido para obter a aprovação de um ponto de vista particular por um ou mais interlocutores”.

De qualquer forma, para não ser um estudante que apenas recebe o conteúdo e aceita-o sem questionar, para ter argumentos para refutar tal conteúdo é necessário praticar a argumentação, analisar as propostas e inferir sobre o texto. Uma das maiores dificuldades encontradas com o advento da tecnologia é justamente este: saber diferenciar qual é a informação válida e qual é a informação inverídica ou duvidosa.

Grande é o leque de atividades que podem ser desenvolvidas com nossos alunos para que possam aprimorar a argumentação. Geralmente, aquelas que procuram solucionar problemas por meio de debate e de investigação são as que mais chamam a atenção dos alunos. Propor um problema ou um desafio e pedir aos alunos para que tentem resolvê-lo, refutando ou aceitando determinadas possibilidades, instiga neles a curiosidade e faz com que raciocinem.

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Argumentar cientificamente, conforme Costa (2008), consiste em propor, criticar, avaliar e sustentar ideias. A partir desse exercício, fazemos com que os estudantes sejam capazes não somente de constatar os fatos aos quais são expostos, mas também de justificar suas ideias, por que estão aceitando ou refutando determinado fato, mesmo diante de um possível confronto com pessoas que tenham ideias contrárias.

Quer aperfeiçoar sua capacidade de argumentar? A seguir, listaremos algumas dicas para desenvolver uma boa argumentação. Estas dicas foram desenvolvidas a partir dos critérios utilizados pelo Modelo de Toulmin, desenvolvido em 1958. Este modelo é um instrumento que serve como parâmetro para compreendermos qual é a função da argumentação na construção do conhecimento (TOULMIN, 2001).

• O argumento só será coerente se a pessoa conhecer muito bem sobre o que está falando.

• Para que o seu raciocínio esteja correto, apresente no início do seu discurso, seja ele oral ou escrito, o assunto do qual falará. Evite as contradições.

• Amarre as ideias, ou seja, faça o seu ouvinte ou leitor antecipar a conclusão. Assim, será mais fácil de ele concordar com o que está sendo dito/escrito.

• Examine o que está em discussão e elimine as ideias que não sejam reais. • Seja persuasivo, induza o seu leitor ou ouvinte a aceitar a ideia. Não seja

insistente, mas seja certeiro. • Tome cuidado com o conceito de verdade. A verdade é diferente da opinião, do

ponto de vista ou experiências pessoais. • Não insista em convencer o ouvinte ou leitor de que sua opinião está

absolutamente correta, porém, esteja seguro do que está falando e mostre que conhece o assunto que está abordando.

• Use a argumentação como um processo discursivo, ou seja, disponha o assunto metodicamente, de forma que as ideias influenciem o raciocínio de quem lê ou ouve.

O desenvolvimento da argumentação não acontece igualmente com todos os alunos na sala de aula (ou fora dela). Ele se desenrola de acordo com o interesse e com o contexto no qual o estudante está inserido. Ensinar a argumentação é, de fato, uma tarefa árdua, haja vista a importância de melhorar o desempenho dos alunos, especialmente quando se trata da argumentação oral.

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3 O PROCESSO DE APROPRIAÇÃO DA ESCRITA

Agora que já trabalhamos a questão da argumentação, nossa conversa será direcionada ao processo de apropriação da escrita. Sabemos que, desde cedo, a criança é exposta ao mundo das letras. Mesmo ainda não sendo alfabetizada, ela já compreende que a leitura proporciona lazer e auxilia na aquisição do conhecimento. A leitura deve ser encarada como um ato prazeroso e a criança deve ser instigada desde cedo a ler. Em consequência da leitura, vem a escrita (embora nem sempre nesta ordem, pois muitas crianças aprendem antes a escrever, depois a ler), que é o foco desta seção.

Apropriar-se da linguagem escrita é um processo investigado por pesquisadores há muito tempo por conta da sua complexidade. A nós, como professores, cabe compreender que somente o processo de alfabetização não é suficiente para formar leitores e escritores eficientes. Cabe a nós e a vocês, futuros professores, auxiliar nossos alunos a dar sentido ao que leem.

De acordo com Goulart (2000), quando se trata de alfabetização, o que se vê nas escolas tradicionais é que a alfabetização se dá a partir da escolha de um método escolhido pelo professor alfabetizador. Segundo Goulart (2000, p. 158), “[...] esses métodos são regulados pela escolha de uma unidade linguística básica, que pode ser o fonema, a sílaba, a palavra, guiados por um critério de gradação de fonemas e de padrão silábico”.

O ato de escrever torna-se dependente da fala, ou seja, a escrita passa a ser vista como uma transcrição da fala, e não um processo separado dela. Deste modo, os textos aos quais a criança em processo de alfabetização tem acesso são palavras descontextualizadas, cuja troca de fonemas forma novas palavras e assim por diante.

Este tipo de método pode criar um ambiente de alfabetização desconectado da realidade da criança. Os textos que a criança utiliza na sua vida social por vezes acabam sendo diferentes do que é ensinado na escola, o que faz com que a criança se desinteresse pela prática de ler/escrever. Para descontrair, leia a tirinha de Calvin:

FIGURA 2 - TIRINHA

FONTE: <http://escreverbem.com.br/wp-content/uploads/2013/10/calvin_red.jpg>.Acesso em: 2 mar. 2016.

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A partir da leitura da tira de Calvin, podemos inferir que a escrita envolve muito mais do que apenas codificar símbolos e combiná-los, mas sim, que é necessário organizar os pensamentos e compreender qual é o real objetivo da escrita. De acordo com Goulart (2000), o processo de alfabetização deveria garantir que a criança aprendesse de maneira a compreender o que lê e escreve, tornando-a, assim, usuária da linguagem escrita, não apenas decodificadora de sons. Este processo é uma prática que vem com o tempo.

Para Vygotsky (1988), o aprendizado da linguagem escrita representa um considerável salto no desenvolvimento do ser humano. O autor faz ferrenhas críticas aos posicionamentos da Pedagogia e da Psicologia que veem a leitura apenas como processo que desenvolve a habilidade motora. Para ele, alguns métodos apenas ensinam as crianças a traçar letras e com elas formar palavras, mas não as ensina efetivamente a serem usuárias da linguagem escrita.

A linguagem escrita é um processo que vai além do mecanismo de produzir palavras e frases. Para Vygotsky (1988, p. 143), aprender a escrever começa “[...] muito antes da primeira vez que o professor coloca um lápis na mão da criança e mostra como formar letras”. A linguagem escrita trata-se de um sistema de signos, dos quais o brinquedo, o desenho e o gesto fazem parte.

Para Vygotsky (1988), o desenho já é considerado uma forma de escrever. A criança só começa a desenhar quando a linguagem falada já evoluiu bastante. Os desenhos têm por base a linguagem verbal da criança. Lembre-se: o desenho é o primeiro estágio escrito da criança, que se tornará mais tarde a escrita alfabética.

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Apropriar-se da escrita não significa somente saber escrever, juntar símbolos e formar frases. A apropriação da escrita é uma questão de treino e de exaustiva prática leitora. Somente aprendemos a escrever bem quando nos tornamos leitores assíduos.

3.1 O USO DO TEXTO PARA A APROPRIAÇÃO DA ESCRITA

Um dos métodos mais eficazes para se tornar um bom escritor é ser um leitor assíduo. No Brasil, a leitura é uma prática apreciada por poucos. De acordo com Allencastro (2012), pesquisas indicam que apenas 4,7 livros por ano são lidos pelos brasileiros, sendo que, desses, 3,4 são obrigatórios. Observe a tira a seguir:

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FIGURA 3 - CHARLIE BROWN E A LEITURA

FONTE: <http://i44.photobucket.com/albums/f29/tiras_snoopy/peanuts130.jpg>.Acesso em: 4 mar. 2016.

A leitura é, infelizmente, vista por algumas pessoas como secundária. Embora não se saiba exatamente o motivo, pode-se inferir que, hoje, com o advento da tecnologia, há métodos mais rápidos de se adquirir informação do que pela leitura. É o caso da ilustração vista na tira de Charlie Brown: assistir a um programa de televisão parece ao personagem muito mais atraente do que escrever.

Cabe ressaltar que a leitura é um método eficiente para adquirirmos um bom vocabulário, pois estamos em contato direto com a norma culta da língua e com um linguajar nem sempre comum. Ler e escrever textos auxilia muito na hora de escrever, contribuindo para que nossa produção seja coerente ao objetivo que se propõe.

É necessário que a leitura, desde cedo, seja estimulada para que, mais tarde, o processo de escrita ocorra de forma natural e sem ser forçado, pois este caracteriza-se por certa individualidade, já que, em certos casos, o leitor envolve-se mais com alguns tipos específicos de leitura. Na escola, o papel do professor é orientar o aluno a descobrir o tipo de leitura com o qual mais se identifica e quebrar a imagem de que ela é maçante e cansativa.

Um dos discursos mais ouvidos com relação à leitura em ambientes escolares é “eu não gosto de ler” ou “li Machado de Assis porque fui obrigado na escola”. Parte das leituras escolares ainda é (infelizmente) imposta pelo professor com o intuito de avaliar o aluno. Analise: tudo o que possui caráter avaliativo causa certa tensão, não é mesmo? Como querer que o aluno aprecie uma leitura se ela é imposta, e não estimulada?

É evidente o fato de que um dos papéis da escola é proporcionar ao aluno condições para produzir um bom texto escrito, afinal, a maior parte dos processos seletivos avalia a partir da produção escrita, porém, este objetivo só é alcançado com muita prática. Escrever bem não é tão fácil quanto parece ser e simplesmente seguir as regras que dizem que você deve ser claro ou escrever frases coesas e coerentes não o leva a ser um bom escritor de fato.

Apropriar-se da escrita, como o título desta seção sugere, vai além de simplesmente escrever, mas ousamos dizer aqui que só se aprende a escrever escrevendo. Saber aonde se quer chegar também é um caminho para que a escrita tome seus rumos. Saber qual a finalidade da sua escrita e a quem o texto se destinará é um bom começo para uma excelente produção.

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Outro método que auxilia na produção de bons textos é a prática de reescrever. Você já ouviu alguém dizer que deixou seu texto na gaveta? Isso significa que o que é escrito precisa ser revisto sempre. Mais uma vez, ressaltamos a importância de ler. Se você pretende escrever um texto sobre determinado assunto, leia, pesquise, junte dados para que o processo de escrita seja feito com propriedade.

DICAS

O filme “O Substituto”, de 2011, aborda questões referentes à importância da leitura em sala de aula. Henry Barthes (Adrien Brody) é um professor de Ensino Médio que, apesar de ter o dom nato para se comunicar com os jovens, só dá aulas como substituto, para não criar vínculos com ninguém. Contudo, quando ele é chamado para lecionar em uma escola pública, encontra-se em meio a professores desmotivados e adolescentes violentos e desencantados com a vida, que só querem encontrar um apoio para substituir seus pais negligentes ou ausentes. Sofrendo uma crise familiar, Henry verá três mulheres entrando em sua vida e vai começar a perceber como ele pode fazer a diferença, mesmo que isso tenha um alto custo.

Que tal assistir a um trecho? Acesse o endereço a seguir: <https://www.youtube.com/watch?v=y9Zzd2sCUgk>.

Leia o texto a seguir e desenvolva três argumentos posicionando-se a favor do tema e três argumentos posicionando-se contra:

“A mídia é constituída pela indústria de comunicação e os profissionais que estão interligados a ela. Na maioria das vezes, essa associação é feita entre os canais de comunicação mais tradicionais, como emissoras de televisão e de rádio, revistas e jornais. Entretanto, ela abrange também as mídias exteriores (outdoor, mobiliários urbanos e frontlights), mídias on-line (banners em portais e post patrocinados) e o no media, que é formado pelas mídias alternativas, nas quais os anunciantes optam por divulgar sua marca de modo ímpar.Com carácter cultural, de entretenimento e muitas vezes comercial, a mídia tem uma importância fundamental perante a sociedade, pois é por intermédio dos meios de comunicação e dos profissionais evolvidos que ocorre a disseminação de informação e a formação de opinião por meio da abordagem e do meio utilizado. A mídia, quando bem trabalhada, torna-se um meio de comunicação de impacto positivo e é por isso que há uma grande preocupação em se ter profissionais altamente qualificados para lidar com essa ferramenta”.

FONTE: AFINAL, o que é a mídia e para que ela serve? [s.l., s.n.], 2013. <http://nancyassad.com.br/afinal-o-que-e-a-midia-e-para-o-que-ela-serve>. Acesso em: 9 jun. 2016.

AUTOATIVIDADE

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3.1.1 Relação autor/leitor

Conforme estudamos anteriormente, para escrever bem é necessário também ler muito. Ler bons textos. Escrever também é uma forma de estabelecer vínculos. A partir do momento em que o leitor abre um livro para leitura, seja ela para deleite, para estudar ou para ter alguma informação que necessita, é criado um vínculo entre ele e o autor da obra. O texto, por mais completo que possa parecer, possui seus vazios, que acabam sendo preenchidos pelo leitor com as mais diversas significações. O leitor, a partir deste momento, apropria-se de um texto que foi escrito por alguém e estabelece uma conexão com o que está sendo lido e automaticamente entra em um “diálogo virtual” com o autor do texto, pois concordará, discordará e inferirá sobre o texto produzido por ele.

Aqui está um bom motivo para afirmarmos, mais uma vez, que a leitura é uma ótima estratégia para aprimorar a comunicação, pois, mesmo sem estarmos em contato direto com o autor, podemos “conversar” com ele. No mundo tecnológico que hoje nos cerca, é cada vez mais difícil encontrar pessoas que se atenham à leitura de livros impressos, porém, o livro ainda não perdeu seu status perante a formação da intelectualidade. O hábito de ler também traz boas oportunidades de crescer profissionalmente. O contato precoce com a leitura e o fato de adquiri-la como um hábito contribui para que a pessoa seja bem-sucedida.

Ao autor cabe a responsabilidade de escrever um texto bom o suficiente para prender a atenção do leitor. É muito comum ver pessoas que começam a ler um livro e o abandonam na metade do caminho por não se sentirem atraídas pela leitura. Escrever textos curtos (como fábulas, crônicas e notícias, por exemplo) é diferente de escrever textos extensos (como romances, contos e novelas, por exemplo), mas a técnica é basicamente a mesma.

FIGURA 4 - FRANGOS DA LITERATURA

FONTE: <http://www.ahmlk.org/wp-content/uploads/2014/06/Tirinhas-da-Mafalda-literatura.jpg>. Acesso em: 8 mar. 2016.

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Assim como a tira de Mafalda nos sugere, a leitura encanta pelos seus mistérios, pelas descobertas que são feitas a partir dela. Seja para retirar alguma informação ou apenas para deleite, a inovação é essencial para que o leitor se mantenha atento à leitura, pois o previsível cansa. Cabe ao autor o papel de encantar a partir das palavras e, assim, conseguir manter o diálogo com seu leitor até o fim.

Partiremos agora para o estudo da variação linguística, que é um dos fatores-chave para que possamos compreender o funcionamento da nossa língua. Assim como o estudo da relação do leitor e da leitura, que fazem parte dos estudos textuais da língua, o tema a seguir também traz inúmeras contribuições para que possamos aperfeiçoar nossos conhecimentos.

3.2 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

Acadêmico, você sabe o que é variação linguística? Para iniciar a nossa conversa sobre esta temática, observe a seguinte imagem:

FIGURA 5 – VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

FONTE: <https://diferencialenem.files.wordpress.com/2014/07/diferenc3a7a-regional.png?w=368&h=300>. Acesso em: 3 mar. 2016.

Na imagem, observamos dois personagens que travam um diálogo. Um representa um morador do Sul do país e outro do Nordeste. Além do humor contido na tira, fica evidente também a diferença no vocabulário utilizado por ambos. Esta diferença de vocabulário, apesar de morarmos no mesmo país, é muito comum. Este é apenas um dos tipos de variação linguística que veremos a partir de agora: a variação diatópica, ou seja, a variação que ocorre de acordo com a região do falante. Há também a variação diacrônica, a diastrática e a diamésica.

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A variação linguística é um fenômeno que ocorre em todas as línguas, sem exceção. Seja por causa do passar do tempo (variação diacrônica), da região na qual se vive (variação diatópica), pela convivência com determinados grupos sociais (variação diastrática) ou pela adaptação que fazemos de acordo com o contexto no qual estamos inseridos (variação diamésica), todos nós já passamos por momentos de variações linguísticas.

O dialeto, as gírias, os jargões, os regionalismos e o popular “internetês” também são tipos de variações linguísticas, conforme estudaremos adiante.

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Em um único país, e usaremos o Brasil como exemplo, podem ocorrer inúmeros tipos de variações linguísticas, conforme já observamos na imagem anterior. E você sabe por que isso ocorre? Porque a língua está em constante transformação. A língua é mutável. No Nordeste, as pessoas falam de forma diferente das pessoas que vivem no Sul, por exemplo, tanto no quesito vocabulário quanto nas questões de sotaque. Que interessante, não é mesmo?

Observe a letra da música “Morena Rosa”, da banda gaúcha Os Serranos:

“Olha o tranco da morena rosa rebocada de ruge e batom olha o tranco da morena rosa rebocada de ruge e batom machucando a vaneira à sua maneira bombeando pro chão machucando a vaneira à sua maneira bombeando pro chão. Na penumbra do rancho costeiro do rancho costeiro polvadeira à meia costela à meia costela. [...]”

FONTE: FREITAS, T. L. Morena Rosa. <https://www.letras.mus.br/os-serranos/1470449/>. Acesso em: 8 ago. 2016.

Nesta letra podemos perceber um linguajar bastante peculiar, específico do Estado do Rio Grande do Sul. Há aqui uma boa sugestão de como trabalhar em sala de aula com seus alunos a variação linguística: a partir da música. Que tal?

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DICAS

Muitas músicas abordam a questão da variação linguística: Samba do Arnesto, de Adoniran Barbosa; Love Song, de Legião Urbana; Chopis Centis, dos Mamonas Assassinas; Documento de Matuto, de Luiz Gonzaga, e muitas outras. Pesquise e torne suas aulas mais interessantes.

Estas diferentes formas de variação linguística não devem ser consideradas erros, mas sim, formas diferentes de falar. De acordo com Bagno (2007, p. 40),

O preconceito linguístico se baseia na crença de que só existe [...] uma única língua portuguesa digna deste nome e que seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos dicionários. Qualquer manifestação linguística que escape desse triângulo escola-gramática-dicionário é considerada, sob a ótica do preconceito linguístico, “errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente”, e não é raro a gente ouvir que “isso não é português”.

Portanto, quando tratamos as variações como erros, caímos no preconceito linguístico, o que faz com que a língua seja vista como um qualificador, ou seja, quem fala o português “correto” possui mais status do que quem não o fala. Contudo, as variações ocorrem porque vivemos em uma sociedade complexa, na qual inúmeros grupos sociais vivem.

Na escrita também ocorrem as variações linguísticas. Elas podem acontecer devido a inúmeros fatores, que incluem os objetivos do autor, para que público o texto se destina, qual sua intenção de uso, a que região será destinado, enfim. O gênero textual, que estudaremos mais adiante, é o que determinará a variante linguística mais adequada a ser usada em determinado momento.

Em hipótese alguma podemos afirmar que alguma pessoa não sabe falar português. Bagno (2007, p. 19) afirma que “[...] todo falante nativo de uma língua sabe essa língua. Saber uma língua, no sentido científico do verbo saber, significa conhecer intuitivamente e empregar com naturalidade as regras básicas de funcionamento dela”. Assim, apesar de muitas das variações que ocorrem no Brasil não serem consideradas de prestígio por muitos, não devemos fazer com que a língua seja um mecanismo de segregação social nem contribuir para o preconceito linguístico.

3.2.1 Gírias

Conforme vimos nas sessões anteriores, a variação diastrática é aquela que ocorre a partir do convívio com determinados grupos sociais. Esse convívio acaba criando formas de linguagem específicas para estes grupos. Há, basicamente, dois tipos de variações popularmente conhecidas, e as estudaremos agora: as gírias e os jargões.

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Você, em algum momento de sua vida, já deve ter ouvido algum grupo específico de pessoas utilizando gírias, correto? A gíria é uma manifestação linguística caracterizada justamente por sua natureza específica. Restringe-se a um pequeno grupo de falantes que adotam a gíria como sua marca registrada. Por ter sido durante muito tempo relacionada a classes sociais de menor prestígio social, a gíria sempre foi permeada por grande preconceito linguístico e nunca mereceu estudos específicos a seu respeito, o que vem mudando há algum tempo.

Bagno (2007) observa que o uso da gíria perdeu um pouco sua qualificação de desprestigiada. Mesmo sendo criada para ser utilizada por pequenos grupos de falantes, a gíria é cada vez mais popular e aparece na língua falada por toda a comunidade, independente do seu nível social, econômico, cultural ou faixa etária.

FIGURA 6 - GÍRIAS

FONTE: <http://www.estudopratico.com.br/wp-content/uploads/2013/11/linguagem-formal-e-informal.jpg>. Acesso em: 4 mar. 2016.

Observando a figura, podemos perceber que não estamos em um mundo tão diferente deste, correto? Os alunos cada vez mais utilizam gírias em seu vocabulário. Por ser uma marca linguística de grande volatilidade, modifica-se muito rapidamente, e nós, professores, nem sempre conseguimos acompanhar tais mudanças, flagrando-nos, muitas vezes, como a personagem da tira.

Diante do que estudamos, afinal, podemos ou não podemos utilizar gírias em nosso dia a dia? Bagno (2007, p. 129) nos esclarece essa dúvida: “Falar gíria vale? Claro que vale: no lugar certo, no contexto adequado, com as pessoas certas”. Portanto, cabe ao falante observar a quem fala, quando fala e onde fala e, a partir disso, ter o bom senso de utilizá-la somente em contextos adequados.

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3.2.2 Linguagem técnica e/ou jargão

O jargão, assim como a gíria, é um modo de falar utilizado em pequenos grupos, estes, diferentemente da gíria, geralmente ligados a alguma profissão específica. É a linguagem científica trazida para o cotidiano. Existe o jargão dos médicos, dos advogados, dos técnicos em informática, entre outros.

FIGURA 7 - JARGÕES

FONTE: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/images/sps12_capa3.jpg>.Acesso em: 8 mar. 2016.

Assim como a imagem nos sugere, é complicado compreender o jargão quando não fazemos parte do grupo que o utiliza. Observe outra situação: Imagine que você está em uma loja de produtos de informática e quer adquirir um produto. O atendente mostra o que foi pedido e diz:

- A mochila vem com um mouse ótico USB com scrolling de quatro direções e conexão Plug&Play.

Certamente, você compreendeu pouco do que ele quis dizer, correto? Isso porque o jargão profissional é um discurso de difícil compreensão para quem não faz parte do meio onde ele é falado. É claro que, sendo um bom vendedor, este atendente compreende que deverá utilizar um linguajar mais simples para que a mensagem possa ser compreendida.

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4 MODALIDADES DA LÍNGUA: SUAS PARTICULARIDADES

Agora que você já sabe o que é a variação linguística, vamos estudar um pouco sobre as particularidades da linguagem oral e escrita. Conforme nossos estudos anteriores, você já deve ter percebido que muito do preconceito linguístico ocorre pelo fato de algumas pessoas acreditarem que a fala deve ser igual à escrita. Ledo engano! Aqui, abordaremos brevemente sobre as particularidades da língua oral e da língua escrita e você compreenderá que, apesar de fazerem parte do mesmo idioma, são bem diferentes.

A escrita, diante da fala, possui uma grande vantagem, que é a possibilidade de planejamento. Desta forma, não se pode dizer que a fala “correta” deve ser como a escrita, pois muitas são as características da escrita que não podem ser contempladas na fala. A escrita necessita de regras, enquanto a fala é mais natural, sendo este um dos motivos pelos quais aprendemos a falar antes de escrever. A fala é adquirida a partir da imitação do que ouvimos. A escrita não é apenas a transcrição fonética do que ouvimos. Requer conhecimentos gramaticais. Além disso, a escrita é considerada registro, ou seja, pode permanecer por anos inalterada, enquanto a fala possui característica efêmera.

Cabe aqui salientar que a língua falada e a língua escrita apresentam algumas características que as diferenciam potencialmente, mas não o suficiente para separá-las em segmentos diferentes. Embora façam parte do mesmo idioma, a escrita não deve ser vista como uma transcrição da fala, bem como a fala não pode ser considerada uma reprodução da escrita. A partir de agora, estudaremos mais especificamente as características de cada uma.

De acordo com Marcuschi (2001), tanto a fala quanto a escrita são vistas como práticas sociais. Elas não devem, de acordo com o autor, ser vistas de forma dicotômica, mas sim, como parte de um processo que visa à comunicação tanto formal quanto informal. Portanto, podemos afirmar que a fala e a escrita são usos da língua, sendo que as formas buscam adequar-se ao uso.

Você sabe o que quer dizer a palavra dicotomia dentro do contexto da língua? É a divisão de algum elemento em duas partes. Ferdinand de Saussure estudou, no contexto da língua, quatro dicotomias: sincronia e diacronia, língua e fala, significado e significante, sintagma e paradigma.

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Para Marcuschi (2001), cada uma delas possui modalidades discursivas e características particulares. As diferentes pesquisas feitas ao longo dos anos costumam representar a língua oral e a escrita como completamente diferentes, mas deve-se levar em conta que as modalidades analisadas pertencem a diferentes fenômenos discursivos, bem como a gêneros diferentes, cujos objetivos são muito variados.

Você já pensou em comparar, por exemplo, um artigo científico e uma conversa entre mãe e filho? É lógico que as diferenças são gritantes, pois as características e os objetivos dos textos são os mais diversos possíveis. Marcuschi (2001) propõe, em seus estudos, a análise das formas textuais a partir de um contínuo tipológico.

No contínuo tipológico proposto por Marcuschi (2001), há gêneros orais e escritos que se assemelham muito e outros que divergem significativamente. Um artigo científico e uma conferência, por exemplo, são gêneros muito parecidos, embora um seja escrito e outro oral. Já um bilhete (escrito) difere muito de uma conferência (oral).

Para ilustrar o contínuo tipológico, Marcuschi (2001) desenvolve um gráfico esquematizando sua teoria. Ele afirma que a fala é vista como um fenômeno mutável, que varia com frequência, já a escrita é vista como um fenômeno estável e pouco variável.

A noção do contínuo tipológico proposto pelo autor deixa claro que há mais semelhanças do que diferenças entre a fala e a escrita. Observe o quadro que segue:

QUADRO 1 - REPRESENTAÇÃO DO CONTÍNUO DOS GÊNEROS TEXTUAISNA FALA E NA ESCRITA

FONTE: Marcuschi (2010, p. 41)

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4.1 A FALA E OS ACONTECIMENTOS

A fala é um dos contatos mais próximos do ser humano em sociedade. Há, na fala, alguns elementos específicos que não ocorrem na escrita. Vamos a eles?

• Marcadores conversacionais: são os elementos que não fazem parte do conteúdo, mas que estão presentes na fala. Exemplo: Bem, eu acho que... entende?

• Marcas de prosódia: significa entonar mais uma sílaba que queremos destacar dentro da palavra, ou mesmo uma palavra inteira. Exemplo: Eu não faLEI que seria inútil?

• Repetição de itens: como o nome já diz, ocorre quando o falante repete alguma informação. Exemplo: Eu chamei a menina e a menina, ela não veio.

Além desses elementos, podemos ainda citar os gestos corporais, as expressões faciais e a entonação de voz. Os truncamentos, as pausas e as hesitações também são comuns em processos de fala.

O evento de fala ocorre sempre em um tempo e em uma situação social, seja ela face a face, por telefone ou pela internet, e é comum em nossa sociedade. Embora os meios sejam diferentes, há interatividade em todos, o que caracteriza esse evento como um acontecimento. É durante esse acontecimento que ocorre, segundo Andrade (2011), a constituição de um fluxo, ou seja, um movimento de avanço e recuo, de produção textual organizado.

Ainda de acordo com Andrade (2011, p. 6), a produção de um texto falado exige esforços de ambos os participantes da conversa para “alinhar” os objetivos. Além disso, são também necessárias habilidades e conhecimentos além da gramática, pois o falante deve saber decodificar mensagens isoladas, “dado que as atividades conversacionais apresentam propriedades dialógicas que diferem das propriedades dos enunciados ou dos textos escritos”. A autora ainda afirma que:

De fato, para interagir em uma conversação, é preciso que os participantes consigam inferir do que se trata o evento e o que se espera de cada interlocutor. As características apresentadas permitem afirmar que o texto conversacional é criação coletiva, pois é produzido não só interacionalmente, mas também de forma organizada (ANDRADE, 2011, p. 11).

Portanto, a fala não é individual. A organização a que nos referimos é, de certa forma, imprevisível. Por este motivo, podemos prever sua estrutura, porém, não exatamente como ela ocorrerá. Há na fala cortes, retomadas, interrupções e desvios de assunto que podem “mudar o rumo” do que era antes planejado para determinado evento de fala. Estas ocorrências fazem parte do processo.

A partir deste estudo é possível compreender que as diferenças entre o oral e o escrito ocorrem durante a produção deles, ou seja, é necessário observar que é no uso que a língua acontece, tanto na escrita quanto na fala. É no uso que as formas de produção discursiva se efetivam. Vamos às especificidades de cada uma?

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4.2 O REGISTRO ESCRITO E A CRIAÇÃO DA HISTÓRIA DOCUMENTADA

A escrita na nossa sociedade passou a ser vista como um bem indispensável para a sociedade, haja vista a sua utilidade. Marcuschi (2001) afirma que a prática da escrita passou a ter mais status que a fala, pois representa a educação e a civilização das pessoas. Embora a fala possua características que não possam ser representadas pela escrita, a escrita também possibilita ações que não podem ser efetuadas pela fala. Uma destas ações é o registro.

Você já parou para pensar quantos registros pessoais há sobre você? Podemos começar citando a impressão digital, por exemplo, que é um registro que possibilita identificar-nos nos mais diferentes tipos de situações. Há também o nosso RG (Registro Geral), que é um documento obrigatório a todos os cidadãos e que nos identifica perante a lei. O CPF, a Certidão de Nascimento, as fotografias, o passaporte, a carteira de habilitação e a carteira de trabalho são apenas mais alguns exemplos de registros que contam um pouco da nossa história.

Além dos registros pessoais, há também os registros documentais e históricos, a partir dos quais podemos conhecer, além da nossa história pessoal, também a história da nossa sociedade, o que contribui imensuravelmente para a constituição da nossa identidade. Graças a esses documentos registrados por escrito, podemos compreender fatos ocorridos no passado.

Os documentos históricos dividem-se em: escritos, iconográficos, sonoros, orais, materiais e visuais. • Escritos e iconográficos: desde crianças, convivemos com muitos documentos que

trazem informações sobre nós. Essas informações estão em imagens e textos. Podemos entender por documentos escritos as cartas, as certidões, textos de jornais e revistas. As fotografias, ilustrações, desenhos, obras de arte, gravuras são documentos históricos iconográficos. As imagens são importantes fontes de informação para conhecermos não só a nossa história, mas a história de toda uma sociedade, um país, uma nação.

• Sonoros: músicas e gravações são documentos que lembram, em algum momento de nossas vidas, fatos importantes. Determinadas músicas são perfeitos hinos de expressão de liberdade, de democracia, que fizeram parte da história do país, ou, simplesmente, lembram épocas importantes.

• Orais: fatos que alguém conta e que ajudam a identificar uma história são considerados documentos históricos orais.

• Visuais: os filmes e desenhos animados vistos na televisão ou no cinema são exemplos de documentos históricos visuais.

• Materiais: as roupas, os brinquedos, os móveis, os cadernos, livros, automóveis e construções são considerados documentos históricos materiais.

FONTE: O QUE são documentos históricos? [s.l.: s.n.], 2014. <http://www.colegioweb.com.br/historia/documentos-historicos.html>. Acesso em: 11 mar. 2016.

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Do mesmo modo que a fala, o ato de escrever necessita de um objetivo, porém, o alcance deste objetivo não cabe somente ao escritor. A compreensão do texto pelo leitor não depende somente da semântica, mas também das pistas deixadas pelo escritor ao longo do texto. Elas orientam o leitor a encontrar o sentido que o escritor pretende que se atribua no ato da leitura. Por este motivo, ressaltamos a necessidade de escrever de forma clara, deixando as pistas à mostra para que o leitor possa compreender o sentido que o escritor quis dar ao texto.

4.3 O SER HUMANO E A PRODUÇÃO DE SIGNIFICADOS

A produção de significado é constante na vida do ser humano. Quando observamos um anúncio, olhamos para uma fotografia, ouvimos uma canção ou jogamos, produzimos significados. Pode-se afirmar que, quando lemos, também produzimos significados. A leitura é, de acordo com Lerner (2002), um ato concentrado na construção de significado.

A criança, quando começa a ler, passa a compreender que um determinado grupo de letras forma palavras e estas, juntas, formam textos que possuem diferentes objetivos. Um texto pode ter como finalidade informar, distrair, denunciar, anunciar, divertir, orientar e inúmeras outras funções. A cada uma delas, a criança atribuirá significados específicos.

Desde o início do processo de aprendizagem da leitura, o objetivo do professor deve ser, conforme Lerner (2002), ensinar a criança na construção do significado. Para que isso possa ocorrer, é importante ter contato com o mundo escrito para poder “senti-lo” e, assim, ir aumentando cada vez mais a competência linguística com relação à escrita.

As situações de leitura e de escrita devem ser muito presentes na escola e tornar-se rotineiras, para que as crianças possam percebê-las como comuns no meio em que vivem. Deixar à disposição das crianças materiais escritos para que possam manuseá-los, observar suas figuras e fazer as previsões necessárias para a construção de significados são estratégias a serem utilizadas para desenvolver nas crianças o hábito.

Lerner (2002) ainda afirma que a produção de texto oral também é uma grande alavanca para aprimorar a construção de significados na criança. O desafio, segundo a autora, é dar à criança uma situação-problema para que ela possa sugerir soluções, uma maneira prática de verificar se a criança está realmente produzindo significados. Quanto antes a criança for estimulada a ler produzindo significados, antes ela perceberá a importância dos usos sociais da leitura e da escrita.

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DICAS

Ser letrado significa ler e compreender o que está sendo lido de forma a conseguir fazer inferências no texto. Estudaremos o conceito de letramento mais profundamente na Unidade 3.

5 FENÔMENOS COMUNICACIONAIS: COMUNICAÇÃO DE MASSA E COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL

Acadêmico, nesta etapa da Unidade 1 abordaremos dois fenômenos comunicacionais de grande relevância para a compreensão da finalidade do texto: a comunicação de massa e a comunicação interpessoal. Ambas se complementam, conforme veremos adiante, mas, antes de prosseguirmos, vamos estudar o que cada um desses tipos de comunicação significa?

Iniciaremos explicando como ocorre a comunicação. Ela envolve três elementos básicos: emissor, mensagem e receptor. É a partir deles que a comunicação se efetiva. Para compreender o caminho percorrido pela mensagem e os processos pelos quais ela passa até chegar ao receptor, observe a figura a seguir:

FIGURA 8 - PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO

FONTE: <http://image.slidesharecdn.com/gestoelideranadepessoas1e2-140917071734-phpapp01/95/gesto-e-liderana-de-pessoas-aulas-1-e-2-19-638.jpg?cb=1411220532>. Acesso em: 17 mar. 2016.

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Nesta imagem, há no topo do gráfico a mensagem, que é codificada pelo emissor de acordo com o canal que se deseja utilizar para transmiti-la. Por exemplo, se a mensagem for enviada por carta, deverá ser codificada a partir da escrita. Se for via telefone, deverá ser codificada pela fala. O receptor é a pessoa que recebe a mensagem e a decodifica. A compreensão ou não da mensagem vem através do feedback, que é a devolutiva que o emissor recebe da mensagem que enviou.

Fique atento! De acordo com a corrente teórica adotada, a nomenclatura de cada um dos elementos da comunicação pode variar. O emissor pode também ser chamado de falante e o receptor, de ouvinte. Note também que o processo de comunicação é um ciclo que se repete a cada mensagem emitida.

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O ruído é uma interferência que pode ocorrer em qualquer uma das etapas da comunicação, por exemplo: pode ocorrer o uso inadequado do vocabulário pelo emissor, pode ocorrer uma falha na ligação e o receptor não compreender corretamente a mensagem, pode ocorrer ambiguidade e o receptor compreender de forma equivocada a mensagem, e inúmeros outros ruídos que possam prejudicar a compreensão plena da mensagem.

5.1 A QUESTÃO DA INTERAÇÃO SOCIAL E A COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL

Por mais que o ser humano seja independente, em algum momento de sua vida ele precisará (sim, ele precisará!) comunicar-se com outro para que possa sobreviver. A troca de informações entre as pessoas é uma das necessidades básicas de sobrevivência, seja para conseguir alimento, para adquirir conhecimento ou simplesmente para socializar suas experiências com o outro.

Há muitas pessoas que possuem mais facilidade de comunicar-se com outras, são as que chamamos de extrovertidas, já outras são mais recatadas e de “poucas palavras”. Se a comunicação fosse uma prática fácil, não haveria tantos problemas de comunicação entre as pessoas que, muitas vezes, acabam gerando sérios problemas para os envolvidos.

A troca de informações entre duas ou mais pessoas, de acordo com Oliveira (s.d.), chama-se comunicação interpessoal. Esta troca tem a intenção de motivar ou influenciar um determinado comportamento. As informações transmitidas entre os falantes são permeadas pelos costumes, pela formação escolar, pelas vivências e pelas emoções do emissor, que é aquele que transmite a mensagem. Chamamos estas particularidades de filtro cultural.

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A comunicação interpessoal pode ocorrer a partir da mímica, da conversação, da internet, do telefone, da televisão e do rádio. Cada mensagem enviada possui uma finalidade e o emissor espera que o receptor consiga compreendê-la de forma plena, para assim conseguir atingir os objetivos que pretende alcançar. Cada receptor, de acordo com Oliveira (s.d.), processa a mensagem de acordo com os seus objetivos e a transforma em informação/conhecimento.

Na comunicação interpessoal, para que a comunicação seja bem-sucedida, é necessário que, além de uma boa transmissão, também haja uma boa aceitação da mensagem. A grande diversidade cultural na qual vivemos, muitas vezes, nos engana, e o que parece estar óbvio para nós não é tão claro assim para o interlocutor que recebe a mensagem.

Almeida (2013) nos apresenta dez razões pelas quais devemos investir na comunicação interpessoal. Nós as apresentaremos a você de forma resumida. Vejamos:

1- Conhecer novas culturas. A comunicação interpessoal proporciona a você conhecer culturas que jamais você conheceria se não se comunicasse com outras pessoas.

2- Aprender. Se você é uma pessoa aberta à comunicação, está sempre aprendendo algo novo.

3- Quebrar os paradigmas formados ao longo de sua vida também pode ser uma ação proporcionada a partir da comunicação, que possibilita a sua evolução pessoal.

4- Exercitar a comunicação possibilita mostrar suas ideias. A pessoa tímida, muitas vezes, acaba perdendo a oportunidade de pronunciar-se quando possível.

5- Ampliar a rede de relacionamentos, fazer novas amizades. 6- Praticar a comunicação também demonstra seus sentimentos. Por meio do

tom da sua voz, por exemplo, podemos saber se você está com raiva ou feliz. 7- A partir da comunicação interpessoal, você mostra aos outros que existe e

tem opinião própria. 8- A troca de ideias evita conflitos. 9- Uma equipe eficaz não fica em silêncio. O desempenho se dá pela troca. 10- Saber como os outros nos percebem. A partir disso, desenvolvemos o

autoconhecimento. Agora, já sabemos um pouco mais sobre o que é a comunicação interpessoal

e para que ela serve, correto? Vamos adiante, pois temos muito a estudar.

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5.2 A COMUNICAÇÃO NAS MULTIDÕES MEDIADA PELA INTERNET

Os meios de comunicação em massa são canais que veiculam informações a uma grande quantidade de pessoas ao mesmo tempo. Podemos citar como exemplos a televisão, o rádio, o jornal e a internet, que é o foco desta seção. A mídia utiliza os meios de comunicação em massa para informar, entreter, persuadir, comercializar, entre outros. A comunicação em massa tem seus benefícios, mas também deve ser analisada criticamente de acordo com alguns aspectos.

Observe a tira de Quino:

FIGURA 9 - TIRINHA DE QUINO

FONTE: <http://s5.static.brasilescola.com/img/2014/02/mafalda-poliss%C3%AAmica.jpg>. Acesso em: 10 maio 2016.

Mafalda e seu amigo Filipe, nesta tira de Quino, afirmam que a televisão é um veículo de cultura. A questão levantada por Mafalda é justamente que tipo de cultura a mídia veicula, já que ela está assistindo a um programa aparentemente violento, com tiros. A personagem parece não compreender a finalidade do programa que está assistindo, e não concorda com o conceito de cultura ali exposto. Por este motivo, ela utiliza a palavra veículo no seu sentido denotativo e afirma que se fosse a cultura, saltaria do veículo e iria a pé.

Kellner (2001) afirma que os meios de comunicação, muitas vezes, acabam por transgredir as convenções, fazendo com que haja posições conflitantes de acordo com a exposição de determinados produtos/serviços. Os meios de comunicação massiva podem tanto divulgar ideias de uma classe controladora quanto promover “forças de resistência e progresso” (KELLNER, 2001, p. 27).

Com o advento da tecnologia, a internet ocupou grande parte do espaço na mídia social. As pessoas acessam o que quiserem ler, na hora que desejarem. A internet tornou-se prática, de rápido acesso e proporciona grande comodidade para seus usuários. Outro aspecto que chama a atenção é a rapidez com que a internet expandiu seus horizontes. Com o acesso a dados móveis, o usuário pode acessar a internet também por smartphones e tablets.

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FIGURA 10 - A EVOLUÇÃO DA COMUNICAÇÃO PELA INTERNET

FONTE: <https://johnb711.files.wordpress.com/2015/03/fb43f87fbe30039052dd7a7167d63694.jpg?w=279&h=300>. Acesso em: 20 mar. 2016.

A imagem representa a evolução da comunicação mediada pela internet. Com uma dose de humor, ela mostra que há algum tempo era incomum as pessoas receberem e-mails, pois as cartas eram o meio de comunicação mais eficaz até então. Em pouco tempo, a situação inverteu-se: as pessoas quase não recebem mais cartas, pois a facilidade, a rapidez e a gratuidade do e-mail facilitaram muito a troca de informações.

Além do e-mail, também podemos citar as redes sociais, a partir das quais podemos criar grupos e nos comunicar de acordo com o objetivo de cada um. As pessoas têm acesso a fotos, informações pessoais e podem, inclusive, comentar acerca de algum acontecimento. Por este motivo, é necessário tomar cuidado, pois, ao mesmo tempo em que a comunicação mediada pela internet auxilia e facilita muitos processos, ela pode também expor informações importantes a seu respeito que podem ser utilizadas para diversas finalidades.

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1 A internet, ao passo que aproximou as pessoas facilitando o contato a partir das redes sociais, também as distanciou, pois o diálogo face a face diminuiu, as pessoas visitam-se com menor frequência e saem menos de casa. Esse fato ocorre com mais intensidade entre a população jovem, que aprendeu a conviver com a tecnologia desde o nascimento. Acadêmico, leia o texto que segue e crie uma carta como se fosse enviá-la ao jornal que publicou o texto. Nela, você poderá posicionar-se a favor ou contra o tema.

A tecnologia e a internet aproximam ou afastam as pessoas?

O avanço tecnológico na comunicação durante as últimas décadas é indiscutível. Nos dias de hoje, é difícil encontrar alguém que não tenha um celular com 3G no bolso, um computador com internet em casa ou algum outro aparelho eletrônico também com acesso à internet. Todo esse aparato tecnológico trouxe muitos benefícios para as pessoas. Com alguns toques no celular, você pode conversar com qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo. Pelas redes sociais, você fica sabendo das novidades de todas as pessoas do seu círculo de amizade. Procurar emprego se tornou mais fácil. Vender os seus produtos também. Resumindo: o acesso à informação se tornou muito mais rápido e fácil. A internet democratizou o acesso à informação. Em contrapartida, muito se questiona sobre a mudança que toda essa tecnologia trouxe para a forma como nos relacionamos. O contato visual, a conversa, o contato físico, muitas vezes, é deixado de lado e acaba sendo trocado por uma conversa virtual, um jogo on-line ou então uma busca em um site de busca.

FONTE: A TECNOLOGIA e a internet aproximam ou afastam as pessoas? [s.l.: s.n., s.d.]. <http://www.opolemico.com.br/Polemicas/tecnologia/74-a-tecnologia-e-a-internet-aproximam-ou-afastam-as-pessoas#sthash.5yOA7j8E.dpuf>. Acesso em: 9 jun. 2016.

2 Qual é a primeira coisa que você faz quando entra na internet? Checa seu e-mail, dá uma olhadinha no Twitter, confere as atualizações dos seus contatos no Orkut ou no Facebook? Há diversos estudos comprovando que interagir com outras pessoas, principalmente com amigos, é o que mais fazemos na internet. Só o Facebook já tem mais de 500 milhões de usuários, que, juntos, passam 700 bilhões de minutos por mês conectados ao site - que chegou a superar o Google em número de acessos diários. [...] e está transformando nossas relações: tornou muito mais fácil manter contato com os amigos e conhecer gente nova. Mas será que as amizades on-line não fazem com que as pessoas acabem se isolando e tenham menos amigos off-line, “de verdade”? Essa tese, geralmente citada nos debates sobre o assunto, foi criada em 1995 pelo sociólogo americano Robert Putnam. E provavelmente está errada. Uma pesquisa feita pela Universidade de Toronto constatou que a internet faz você ter mais amigos - dentro e fora da rede. Durante a década passada,

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período de surgimento e ascensão dos sites de rede social, o número médio de amizades das pessoas cresceu. E os chamados heavy users, que passam mais tempo na internet, foram os que ganharam mais amigos no mundo real - 38% mais. Já quem não usava a internet ampliou suas amizades em apenas 4,6%. Como a internet está mudando a amizade.

Superinteressante, n. 288, fev./2011 (com adaptações).

No texto, o trecho entre colchetes foi suprimido. Assinale a opção que contém uma frase que completa coerentemente o período em que o trecho omitido estava inserido.

a) ( ) A internet é a ferramenta mais poderosa já inventada no que diz respeito à amizade.

b) ( ) A internet garante que as diferenças de caráter ou as dificuldades interpessoais sejam “obscurecidas” pelo anonimato e pela cumplicidade recíproca.

c) ( ) A internet faz com que você “consiga desacelerar o processo, mas não salva as relações”, acredita o antropólogo Robin Dunbar.

d) ( ) A internet raramente cria amizades do zero - na maior parte dos casos, ela funciona como potencializadora de relações que já haviam se insinuado na vida real.

e) ( ) A internet inova (e é uma enorme inovação, diga-se de passagem) quando torna realidade a “cauda longa”, que é a capacidade de elevar ao infinito as possibilidades de interação.

FONTE: INEP - ENADE 2011. <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2011/LETRAS.pdf>. Acesso em: 3 jul. 2016.

5.3 CONTEXTOS INTERCULTURAIS: A COMPREENSÃO DAS DIFERENÇAS

Conforme já estudamos, a tecnologia evoluiu rapidamente e continua evoluindo a cada dia que passa. Com ela, evoluíram também os processos de comunicação e, sem sombra de dúvidas, também a cultura. Seja por causa de conflitos ou por causa da própria evolução, as relações humanas intensificaram-se após a ampliação do mercado global e da disseminação da internet pelo mundo.

Com base nestas constatações, os estudos acerca da diversidade cultural ampliaram-se e muitos antropólogos passaram a dedicar-se aos estudos da interculturalidade. De acordo com Pierobon (2006), durante muito tempo, os próprios estudiosos não conseguiam diferenciar o termo interculturalidade de multiculturalidade. Para Alsina (apud PIEROBON, 2006, p. 8), “[...] o multiculturalismo corresponde à coexistência de distintas culturas em um mesmo espaço real, enquanto que a interculturalidade representa as relações efetivadas entre elas próprias”.

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O intercultural, segundo Pierobon (2006), parte do pressuposto de que as culturas não são isoladas, podendo encontrar-se manifestadas de três maneiras:

A primeira mostra que o contato entre diferentes culturas não deve conter uma relação de dominação e de não reconhecimento da cultura alheia. Já a segunda diz que, ao entrar em contato com uma cultura, é necessário que haja um diálogo, respeito e reconhecimento das particularidades dessas culturas, o que pode vir a modificar alguns símbolos existentes nessas culturas, devido à interação. E a última forma define a interculturalidade como uma relação entre duas ou mais culturas, porém com o reconhecimento de que o resultado de um diálogo não irá afetar ou modificar as diferentes culturas (PIEROBON, 2006, p. 10).

A interculturalidade tem por desafio acabar com a dificuldade de aproximação das diferentes culturas, fazendo com que não sejam apenas toleradas ou respeitadas, mas sim interagir “em vista da busca de convergências que possam fundamentar a construção de uma sociedade intercultural, onde todos, com suas diversidades, tenham direito de cidadania” (MARINUCCI apud PIEROBON, 2006, p. 2).

Cabe inferir aqui que muitas foram as dificuldades encontradas ao longo das pesquisas acerca da interculturalidade. Alguns exemplos são o etnocentrismo, o choque cultural, os estereótipos e os mitos, que acabam por dificultar que a aplicação do estudo seja efetivada em algumas realidades.

IMPORTANTE

A linguagem também é um dos principais fatores de interação intercultural. Para Pierobon (2006), somente é possível conhecer outras culturas caso haja um mínimo de compreensão acerca da língua desta cultura, pois é a partir dela que se trocam ideias, emoções são expostas. A linguagem também identifica a que grupo determinada pessoa pertence. De qualquer forma, pode-se inferir que apenas conhecer o idioma não é o suficiente para que se possa conhecer a fundo a cultura de determinada nação.

Para que haja o conhecimento de outra cultura é necessário, além de conhecer o idioma, também compreender que não deve haver estereótipos acerca da cultura que se quer conhecer, o choque diante da diversidade apresentada deve ser minimizado e as generalizações devem ser evitadas. Para que a interculturalidade seja posta em prática e para que possamos compreender as diferentes culturas, devemos adentrá-las livres de qualquer tipo de preconceito, para que o contato inicial seja puramente de igualdade. Que tal praticar um pouco?

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Já é de praxe ouvir falar que para ser um bom escritor é necessário ser um bom leitor. Este parece ser um dos princípios do ensino da língua portuguesa: formar bons leitores e exímios escritores. Este é um dos motivos pelos quais os professores (não só de língua portuguesa) enchem seus alunos de leituras e, mesmo lendo muitos e muitos livros, por vezes, o aluno ainda não consegue produzir seus textos. Com base no exposto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) A leitura é um dos processos principais para o letramento da criança, portanto, a prática da leitura não deve ser abolida da sala de aula.

( ) Além de simplesmente ler esperando que o processo de produção da escrita aconteça naturalmente, deve haver por parte do professor a apresentação de uma sequência de atividades que ensinem ao aluno a estrutura do texto, suas funções e especialmente para que (e para quem) ele está escrevendo.

( ) Formar bons leitores é de responsabilidade única e exclusiva da escola, pois a família não tem a responsabilidade de fazer com que a criança desenvolva o gosto pela leitura.

( ) O processo de escrita e de leitura não acontece naturalmente. Ele deve ser, de certa forma, estimulado, ou seja, a criança necessita estar exposta a um ambiente que proporcione a ela o estímulo à leitura.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:a) ( ) V- F- F- V.b) ( ) V- V- F- V. c) ( ) F- V- F- F. d) ( ) F- F- V- V.

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A LEITURA E A CONSTRUÇÃO DO LEITOR EM POTENCIAL

Patrícia Ferreira Bianchini Borges

A leitura é um dos grandes, senão o maior, elemento da civilização. De acordo com Bakthin (apud BRANDÃO, 1997), o ato de ler é um processo abrangente e complexo de compreensão e intelecção do mundo que envolve uma característica essencial e singular ao homem: a sua capacidade simbólica de interagir com o outro pela manifestação da palavra.

Com base na declaração de Bakthin, pode-se afirmar que ler não é unicamente decodificar os símbolos gráficos, é também interpretar o mundo em que vivemos. É, ao mesmo tempo, uma atividade ampla e livre, embora não seja uma prática neutra, pois, no contato de um leitor com um texto, estão envolvidas questões culturais, políticas, históricas e sociais presentes nas várias formas de tradição. Deste modo, quando lemos, associamos as informações lidas à grande bagagem de conhecimentos que temos armazenada em nosso cérebro e, naturalmente, somos capazes de interpretar, criar, imaginar e sonhar.

Para que isso aconteça é necessário que haja maturidade para a compreensão do material lido, senão tudo cairá no esquecimento ou ficará armazenado em nossa memória sem uso, até que tenhamos condições cognitivas para utilizá-lo. A leitura representa, para o leitor, a ponte entre o mundo linguístico e o real, além de que o convívio com a literatura permite ao homem desvelar novos propósitos de reflexão e uma apuração estética que aguça as preferências por determinadas opções de leitura.

Bom leitor, no entanto, é aquele que lê fazendo observações, analisando e aprofundando-se nas ideias apresentadas pelo autor do texto, compreendendo e construindo mentalmente sua síntese ou resumo e que, por outro lado, aperfeiçoa-se no vocabulário, nas variações semânticas das palavras, no sentido denotativo e conotativo das expressões de nossa língua, além de aprender a construir gramaticalmente correto o seu texto.

Segundo Zilberman (1987), é a posse dos códigos de leitura que muda o status da criança e a integra num universo maior de signos, o que nem a simples audição, nem o deciframento das imagens visuais permitem. Apesar dos obstáculos em torno da importância da construção do leitor em potencial, tais como a falta de acesso a livros pelas camadas populares ou a presença constante da televisão em nossas vidas (sem exigir quaisquer esforços do recebedor), é imprescindível sua existência e seu poder na construção da consciência crítica do indivíduo-leitor.

Questiona-se, então: por que é importante criar o hábito de leitura? De acordo com a consultora Maria José Nóbrega, de São Paulo, além de ser uma forma de entretenimento e de lazer, a leitura é um meio de aprendizado em qualquer área. “Lendo também nos mantemos atualizados sobre assuntos do nosso bairro, da nossa cidade, do nosso país”, afirma ela.

LEITURA COMPLEMENTAR

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De acordo com Cunha (1994), a leitura é uma forma altamente ativa de lazer. Em vez de propiciar, sobretudo, repouso e alienação, como ocorre com formas passivas de lazer, a leitura exige não só um grau maior de consciência e atenção, como também uma participação efetiva do recebedor-leitor. Na atualidade, cabe, sobretudo à escola, o papel de mostrar o valor da leitura e o prazer que um bom texto pode trazer. Entretanto, a família e a sociedade, do mesmo modo, devem assumir o papel de desenvolver nas crianças formas ativas de lazer - que as tornem indivíduos críticos e criativos tanto quanto conscientes e produtivos.

Partindo desses pressupostos, retoma-se o sujeito - o aluno ou leitor em potencial - e o objeto de estudo - o livro - como desencadeadores do estímulo à leitura, por meio de uma íntima relação do indivíduo com sua língua materna. E estimular esse leitor em potencial é investir em sua habilidade de mergulhar e envolver-se na magia e sabedoria dos livros que alimentam e embelezam. Ouvir e ler histórias é entrar em um mundo encantador, cheio ou não de mistérios e surpresas, mas sempre muito interessante, curioso, que diverte e ensina. É na relação lúdica e prazerosa da criança com a obra literária que temos uma das possibilidades de formação do leitor em potencial. É também na exploração da fantasia e da imaginação que se instiga a criatividade e se fortalece a interação entre texto e leitor.

A literatura infantil não pode ser utilizada como um “pretexto” para o ensino da leitura e para o incentivo à formação do hábito de ler. Para que a obra literária seja utilizada como um objeto mediador de conhecimento, ela necessita estabelecer relações entre teoria e prática. Sabendo-se que a leitura é um dos mais importantes meios de se chegar ao conhecimento, torna-se necessário aprender a ler, entretanto interessa mais ler com profundidade do que em quantidade, visto que ler é dar sentido às palavras.

Assim, saber ler é o ponto de partida para dominar toda a riqueza que um texto, literário ou não, pode transmitir, consequentemente, bom leitor é aquele que faz uma análise do texto lido, aprofundando-se na compreensão dos detalhes a fim de poder construir o seu próprio entendimento daquilo que leu. Para Lajolo e Zilberman (1996), ao espessamento das práticas de leitura, ainda que intermitente e cheio de recuos, corresponde um amadurecimento do leitor que, na inevitável interação com os múltiplos elementos de práticas mais complexas de leitura, rompe restrições, libera-se da tutela, enfim, alcança a emancipação possível.

A suposição de que não se lê porque não se conhecem os segredos maravilhosos do mundo da leitura, porque não se tem o estímulo apropriado ou não se tomou o gosto pela leitura, não resiste à análise isenta e sincera. O que parece necessário - mais do que campanhas promocionais de prática de leitura - é indagar, sem pré-juízos, quem, o quê, como, em que condições, por que razões ou não se lê isto ou aquilo.

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UNIDADE 1 | APLICAÇÕES DA ORALIDADE E DA ESCRITA: A ARGUMENTAÇÃO E O RACIOCÍNIO

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Em outras palavras, trata-se de verificar que fatores sociais, políticos, econômicos e culturais promovem ou desfavorecem esta ou aquela leitura. Trata-se de abandonar a postura magistral de quem sabe o que outro deve ser ou fazer e permitir que aflorem as contradições, os interesses, os valores que corroboram para as práticas leitoras na sociedade contemporânea. Trata-se, enfim, de pôr em questão tanto as leituras quanto os discursos sobre leitura, permitindo que se manifestem as práticas veladas, desautorizadas e desconsideradas.

Partindo da ideia de que o acesso democrático ao material escrito é condição básica para o incentivo à leitura, a biblioteca pública e/ou escolar apresenta-se como um espaço de sua realização e deve ser compreendida como um direito do cidadão. Na década de 50, ao definir a criança como seu público-alvo, Monteiro Lobato já se antecipava ao que passou a ser a tônica internacional da promoção da leitura: a base sólida para um adulto leitor se constrói desde a infância, por meio do contato com as histórias contadas pelos adultos, do contato com os livros, sem moralismos, com variedade e qualidade de temas, expressando respeito à criança e à sua inteligência.

A sua preocupação em fazer com que o livro estivesse próximo aos seus leitores o colocou à frente de seu tempo. Do mesmo modo se antecipou, quando apresentou o livro como um produto a ser oferecido onde o potencial leitor estivesse, facilitando o seu acesso. E o fez, tanto diretamente na escola, como no comércio em geral, independente das livrarias. Embora, nos dias atuais, se tenha mais acesso à palavra escrita do que antes, seja através da escola, dos produtos de consumo ou dos meios de comunicação, a ausência desse material escrito, no dia a dia das pessoas, na verdade, é o empecilho mais concreto para a construção de uma sociedade leitora. Portanto, pode-se dizer que ser leitor não é uma questão de opção, mas de oportunidade.

Parafraseando Alceu Amoroso Lima, é preciso fazer compreender às crianças que a leitura é o mais movimentado, variado, engraçado e cativante dos mundos, para que se tornem leitores em potencial e se entreguem ao encantamento proveniente da leitura de um livro, e quiçá difundir-se-ão aos quatro ventos os admiráveis versos de Castro Alves retirados de “O livro e a América”:

“Por isso na impaciênciaDesta sede de saber,Como as aves do deserto –As almas buscam beber...Oh! Bendito o que semeiaLivros... livros à mão cheia...E manda o povo pensar!O livro caindo n’almaÉ germe – que faz a palma,É chuva – que faz o mar.”

FONTE: BORGES, Patrícia Ferreira Bianchini. A leitura e a construção do leitor em potencial. 2015. http://www.amigosdolivro.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=4016. Acesso em: 28 jun. 2016.

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Neste tópico, você aprendeu que:

• A língua é o idioma nacional, o conjunto de palavras e regras que são utilizadas por uma comunidade linguística como principal meio de comunicação e expressão, seja ela falada ou escrita.

• A linguagem está definida como uma capacidade de expressão, um meio sistemático de expressão de ideias ou sentimentos com o uso de marcas, sinais ou gestos convencionados.

• Tanto a língua quanto a linguagem são fenômenos humanos intrinsecamente relacionados a práticas sociais.

• A linguagem é a capacidade que o ser humano possui para comunicar-se com outros seres humanos.

• O contexto de uso da língua variará de acordo com inúmeros fatores: quem fala (emissor), o que fala (mensagem) e a quem fala (receptor).

• Mesmo sendo considerada também um fator social, conforme veremos adiante, a língua é objeto de estudo da ciência.

• A partir da obra de Saussure foram lançadas as bases que caracterizaram os estudos da língua como ciência.

• Muitas são as ramificações da linguística, dentre elas, a psicolinguística, a sociolinguística e a neurolinguística.

• O signo linguístico é a união entre significante e significado.

• A língua é um fenômeno social, pois é a principal forma de interação na sociedade.

• Argumentar é propor, criticar, avaliar e sustentar ideias.

• O desenvolvimento da argumentação não acontece de forma igual com todos os alunos na sala de aula (ou fora dela). Ele se desenrola de acordo com o interesse e com o contexto no qual o estudante está inserido.

• O ato de escrever torna-se dependente da fala, ou seja, a escrita passa a ser vista como uma transcrição da fala, e não um processo separado dela.

RESUMO DO TÓPICO 1

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• Para Vygotsky (1988), o aprendizado da linguagem escrita representa um considerável salto no desenvolvimento do ser humano.

• Apropriar-se da escrita não significa somente saber escrever, juntar símbolos e formar frases. A apropriação da escrita é uma questão de treino e de exaustiva prática leitora. Somente aprendemos a escrever bem quando nos tornamos leitores assíduos.

• A variação linguística é um fenômeno que ocorre em todas as línguas, sem exceção. Ela pode ser diacrônica, diatópica, diastrática ou diamésica.

• A gíria, muitas vezes, restringe-se a um pequeno grupo de falantes que a adotam como sua “marca registrada”.

• O jargão é um tipo de linguagem utilizada por profissionais.

• O evento de fala ocorre sempre a um tempo e a uma situação social, seja ela face a face, por telefone ou pela internet, e é comum em nossa sociedade.

• O ato de comunicar, seja ele pela escrita ou pela fala, necessita de um objetivo, porém, o alcance deste objetivo depende dos interlocutores.

• A comunicação envolve os seguintes elementos: emissor, mensagem e receptor, mas outros itens são envolvidos na transmissão da mensagem: o ruído, o canal, a codificação e a decodificação e o feedback.

• Se a comunicação fosse uma prática fácil, não haveria tantos problemas de comunicação entre as pessoas, os quais, muitas vezes, acabam gerando sérios problemas para os envolvidos.

• Com o advento da tecnologia, a internet ocupou grande parte do espaço na mídia social. As pessoas acessam o que quiserem ler, na hora que desejarem.

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1 Acerca dos processos de fala e escrita, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas e justifique as que forem falsas:

a) ( ) A fala tem mais importância do que a escrita. b) ( ) O uso da linguagem, seja ela verbal ou não, sempre terá um objetivo

específico.c) ( ) Uma conversa entre amigos e uma reunião de negócios serão realizadas

no mesmo linguajar, se o objetivo da conversa for o mesmo. d) ( ) A língua é um fator social, portanto, não pode ser considerada objeto de

estudo da ciência.e) ( ) Saussure apresenta em seus estudos a língua como fator social, produto

da coletividade. f) ( ) Argumentar cientificamente consiste em apenas propor ideias. g) ( ) A leitura deve ser encarada como um ato prazeroso e a criança deve ser

instigada desde cedo a ler. A escrita sempre é aprendida antes da leitura. h) ( ) A linguagem escrita é um processo que vai além do mecanicismo de

produzir palavras e frases.i) ( ) O autor não tem a responsabilidade de escrever um texto para prender

a atenção do leitor.

2 Observe as imagens a seguir e marque-as com o seguinte código:

A- Gíria.B- Jargão. C- Variação Linguística.

Fonte: <https://curseduca.com/blog/jargoes-corporativos-e-seus significados/>. Acesso em 21 mar. 2016.

AUTOATIVIDADE

A resposta é (_____)

a)

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40

Fonte: <https://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula. html?aula=19746>. Acesso em: 21 mar 2016.

Fonte: Adaptado de: <https://estudandoapsicologia.wordpress.com/2012/01/09/girias-9/>.Acesso em 21 mar. 2016.

A resposta é (_____)

A resposta é (_____)

b)

c)

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TÓPICO 2

ORATÓRIA E RETÓRICA: O USO

DAS PALAVRAS

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃOHá muitos anos, a oratória e a retórica são assuntos que causam fascínio

a muitas pessoas. Falar bem e conseguir convencer a partir da fala é uma técnica que poucas pessoas dominam, sendo necessária muita prática para tornar-se um bom orador. Desde a Grécia antiga, as pessoas com as posições sociais de maior destaque eram excelentes oradores.

A oratória e a retórica são definições muito parecidas. A oratória define-se como o conjunto de regras aplicadas para falar bem. Já a retórica é o uso da boa argumentação para o convencimento do outro. A persuasão e o debate fazem parte da retórica. De acordo com Moura (2011),

A oratória se refere ao conjunto de técnicas, gestos, maneiras, formas de dizer, que podem ser adquiridas por intermédio de cursos, de leituras, de práticas. Ela é indispensável para quem almeja ser um grande comunicador. A retórica refere-se mais à argumentação sólida do conteúdo, à associação e à disposição de ideias, à força da lógica, da dialética, que também se adquire com muita leitura, exigindo amplo e profundo conhecimento.

Você sabia que a oratória já é uma prática que surgiu ainda antes de Cristo? De acordo com Abreu (2001), foi em Siracusa que tudo começou. Siracusa era uma cidade da Sicília. O primeiro manual de retórica surgiu no século V a.C. De acordo com o autor, o manual foi escrito por Córax e Tísias, dois siracusianos. A finalidade da escrita do manual foi orientar os advogados que iriam tentar reaver os bens de Córax, que haviam sido tomados por tiranos.

Perceba, caro acadêmico, que a retórica e a oratória já eram muito levadas em consideração ainda na Grécia antiga, pois a civilização grega considerava muito os bons oradores. Da Grécia nasceram grandes oradores, como Aristóteles, que escreveu o livro A Arte da Retórica. Apesar de escrever sobre o assunto, ele não proferia discursos.

Já Demóstenes, também grego, ficou famoso por suas palestras e discursos. Há quem diga que Demóstenes, pensando em aperfeiçoar sua dicção e pronúncia, colocava pedras na boca e corria contra o vento enquanto recitava versos.

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UNIDADE 1 | APLICAÇÕES DA ORALIDADE E DA ESCRITA: A ARGUMENTAÇÃO E O RACIOCÍNIO

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DICAS

Caso queira ler um bom livro sobre oratória, indicamos a seleção das cinco melhores obras acerca de oratória, indicadas pela Revista Exame.

Arte de Falar em PúblicoJosé Carlos LealImpetus. Rio de Janeiro. 2003O livro de José Carlos Leal é o mais didático da lista - e também é bastante ligado à área do Direito. Em suas páginas, ele conta exemplos de debates e defesas (algumas polêmicas). “Esse livro é mais polido, tem uma linguagem um pouco mais complexa e valoriza o ‘falar bonito’”, explica Cavalli.

A Arte de ArgumentarAntonio Suarez AbreuAteliê. São Paulo. 2001“Esse livro é indicado em praticamente todos os cursos que já vi ou frequentei”, diz Cavalli. É um dos clássicos didáticos de argumentação - e o autor já publicou diversos artigos e livros sobre o tema.

Como Falar Corretamente e Sem InibiçõesReinaldo PolitoSão Paulo. Editora Saraiva. 1998“Polito escreveu quase uma bíblia da oratória”, diz Cavalli. Segundo ele, o autor escreveu os padrões do falar em público com base em décadas de experiência. Muito do que está nas páginas do livro pode ser encontrado na internet - em entrevistas e artigos publicados pelo autor.

Como Falar em Público e Influenciar Pessoas no Mundo dos NegóciosDale CarnegieSão Paulo. Record. 1996Segundo Cavalli, o livro é um clássico na área. “Dale tem muita propriedade no que fala, o livro é um exemplo nos cursos”, diz. O especialista ainda conta que o diferencial do livro está na linguagem simples: “O autor conta exemplos cotidianos da vida dele mesmo, numa linguagem acessível”.

Como Conquistar FalandoOliveira MarquesEd. Ouro. São Paulo. 1980“O tempo de vida do livro pode indicar muita coisa”, comenta Cavalli. Há décadas ainda sendo usado como referência para quem quer aprender dicas e táticas de oratória, o livro de Oliveira Marques já pode ser considerado um clássico da área.

FONTE: <http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/5-livros-com-dicas-para-falar-bem-em-pu-blico>. Acesso em: 28 mar. 2016.

Agora que já sabemos a diferença da oratória e da retórica, estudaremos algumas particularidades tanto da oratória quanto da retórica.

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TÓPICO 2 | ORATÓRIA E RETÓRICA: O USO

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2 A ORATÓRIA E O DISCURSO

Para que possamos ser bons oradores, é necessário que alguns cuidados sejam tomados na hora de preparar um discurso. Antes de preparar o discurso, é necessário fazer algumas perguntas. Alguns exemplos são: qual é o tema do discurso? Para que esta apresentação servirá? A quem ela se destina? Quanto tempo devo utilizar? A partir destas poucas perguntas já é possível preparar um discurso com uma linguagem própria para o público presente e que não se torne cansativo ou desnecessário para quem está ouvindo.

Ser um bom orador não ocorre da noite para o dia. Para isso é necessária muita preparação, estudo e dedicação. Uma das alternativas para quem deseja ser um bom orador e não nasceu com este dom é buscar opções de cursos que visam desenvolver as habilidades que um bom orador deve ter (estas que já vimos anteriormente e que reforçaremos mais adiante).

Três são os pilares que sustentam a oratória: são eles: a linguagem, o conteúdo e a estrutura. A linguagem é uma das principais ferramentas utilizadas na elocução de um discurso, portanto, dominá-la é essencial. O correto uso da gramática, bem como um amplo e diversificado vocabulário, pode contribuir (e muito!) na hora de falar em público.

Os erros de português, principalmente de concordância e de pronúncia, chamam muito a atenção de quem ouve, e fazem com que o orador perca tanto a credibilidade que seu conhecimento pode ser posto em questão. Portanto, se você deseja tornar-se um bom orador, leia muito e aperfeiçoe seu português.

Quanto ao conteúdo, não é preciso falar muito. Se o orador falará em público, é necessário conhecer (muito bem) o assunto. Se ele não tem segurança o suficiente para falar sobre, não deve colocar sua imagem à prova. É melhor não arriscar. Ler, estudar e aprofundar-se são palavras de ordem.

Já a estrutura lógica vem como consequência das duas anteriores. Se o orador domina a língua e conhece o assunto sobre o qual falará, a sequência vem automaticamente. Vale lembrar sempre que é necessário saber quem é o seu público, o que facilita a estruturação da fala.

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UNIDADE 1 | APLICAÇÕES DA ORALIDADE E DA ESCRITA: A ARGUMENTAÇÃO E O RACIOCÍNIO

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DICAS

Assista ao filme INVICTUS. Nele, você compreenderá como a oratória é importante para definir rumos. Este filme, cujo personagem principal é Nelson Mandela, fala sobre a conquista da Copa do Mundo de Rugby pela seleção nacional da África do Sul. Esta vitória teve grande influência de Mandela. Líder nato e dono de uma oratória irrepreensível, Mandela sempre lutou pela igualdade em seu país e conseguiu ajudar a equipe mostrando a força do coletivo e da liderança. O seu poder de convencimento em seus discursos era tamanho que ele influenciava até mesmo as pessoas mais céticas. A conquista fez a nação mais unida naquele momento, mostrando como um grande líder pode mudar o rumo de um povo.

FONTE: 5 FILMES que te ensinarão uma lição sobre discurso e oratória. [s.l.: s.n.], 2015. <http://www.smartalk.com.br/5-filmes-que-te-ensinarao-uma-licao-sobre-discurso-e-oratoria/>. Acesso em: 23 mar. 2016.

Brassi (2015) afirma que repetir pode parecer desnecessário na escrita, porém, na fala é necessário. Portanto, preparar sua apresentação é essencial. Caso use tópicos para sua organização, é necessário lembrar que, para cada tópico, várias ideias devem ser trabalhadas. Você sabia que para 30 minutos de discurso são necessárias aproximadamente 4.800 palavras?

Elaborar um discurso também necessita de uma estrutura lógica. Para que você consiga levar sua apresentação até o fim, é necessário estruturá-la em introdução, corpo e conclusão. Podemos dizer que esta estrutura se assemelha à estrutura de um texto escrito, porém, com algumas particularidades.

A introdução é a principal etapa do discurso, pois, a partir dela, você despertará ou não o interesse do seu ouvinte. Nesta etapa, é necessário envolver quem o ouve e despertar a curiosidade. A apresentação pessoal também ocorre nesta etapa. Para ganhar a plateia, deve haver, em primeiro lugar, o respeito. Ser pontual, não demonstrar superioridade e reagir de acordo com a faixa etária da plateia são alguns exemplos.

Já o corpo do discurso traz efetivamente a exposição do assunto a ser tratado. Não leia, pois isso demonstra insegurança e falta de preparo. Utilize as notas que fez, caso tenha, mas não as leia. Nesta etapa é necessário que o orador seja claro e que os argumentos sejam ordenados. Antes de começar a expor o assunto, peça para que a plateia faça perguntas apenas ao final da exposição, para não prejudicar a ordem da sua fala.

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TÓPICO 2 | ORATÓRIA E RETÓRICA: O USO

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Já a conclusão é a finalização do seu discurso. Ali, você deverá fazer um resumo geral do que foi abordado na palestra. Agradecer a atenção do público também é importante nesse momento. Aqui também é interessante finalizar com uma história bem-humorada e adequada à temática da palestra. Terminar a fala com uma frase de efeito auxilia a não deixar o famoso vácuo ao final da fala. Por fim, após as palmas, peça se alguém tem alguma dúvida ou colocação e esclareça-as. Jamais termine sua fala com “por hoje é só” ou “por hoje era isso”. Despeça-se com um caloroso “boa noite”.

Observaremos agora o texto de Michelle Veronese acerca do pensamento positivo para identificarmos a introdução, o desenvolvimento e a conclusão.

Muito se fala que a mente move montanhas. Você seria um ímã e atrairia tudo o que desejasse. A boa fortuna estaria ao alcance de suas mãos (ou melhor, da sua cabeça). Será? Uma atitude otimista faz um bem danado, sim. Mas ninguém consegue ficar rico só com a força do pensamento. Saiba como isso funciona!

Esta parte do texto é a introdução, pois aqui são elencadas todas as ideias que posteriormente serão apresentadas ao leitor no texto. Elas estão organizadas de maneira clara e simples.

Pense. Em qualquer coisa. Numa casa, por exemplo. Imagine-a pintada de branco, com janelas azuis e cercada por um terraço com escadas que levam a um jardim. Ali estão margaridas, girassóis e uma árvore frondosa. Nos 10 segundos que você levou para chegar até aqui, uma avalanche de sinais nervosos ocorreu no seu cérebro. No córtex (camada periférica dos hemisférios cerebrais), milhares de neurônios foram acionados e trocaram informações em frações de segundo. Arquivos de memória foram vasculhados e, sem que você pudesse controlar ou prever, a imagem de uma casa surgiu em sua mente. Por isso, você deve ter sentido um bem-estar, uma vontade de possuir essa casa de verdade. Dentro de nossa caixa craniana ocorrem milhares de outros processos – esse que você acabou de perceber é o que podemos chamar de pensamento positivo, uma ideia que, nas prateleiras das livrarias, vem ganhando contornos de magia. Basta ter uma atitude otimista para atrair o que deseja. Dinheiro, amor, saúde, sucesso. Tudo. Qualquer coisa pode estar ao seu alcance se você pensar positivamente, com firmeza, dizem os autores de autoajuda. “Aquilo em que você mais pensa ou se concentra se manifestará”, garante Rhonda Byrne. Essa australiana de 52 anos alega ter desenterrado uma verdade preservada a sete chaves por sábios, filósofos, cientistas e gente de sucesso. E revelou sua descoberta no filme O Segredo, que vendeu mais de 2 milhões de cópias em DVD no mundo inteiro.

Aqui, as ideias são desenvolvidas, inclusive com citação de uma autoridade acerca do tema. É nesta etapa do texto que ocorre a persuasão.

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UNIDADE 1 | APLICAÇÕES DA ORALIDADE E DA ESCRITA: A ARGUMENTAÇÃO E O RACIOCÍNIO

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Peça, acredite e receba. Simples assim é a fórmula apresentada por Rhonda Byrne, autora de O Segredo. “No momento em que você pede alguma coisa, e acredita, e sabe que já a tem no invisível, o Universo inteiro se move para deixá-la visível”, diz. No livro e no filme de mesmo nome, não faltam relatos de gente que conseguiu a cura de doenças, o amor ideal ou até um colar de diamantes como num passe de mágica. O segredo ensinado por Byrne é observar o Universo como uma lâmpada mágica – e se comportar como o Aladim. Ao esfregar a lâmpada – ou seja, ao pensar positivamente – seus desejos se materializariam.

Na conclusão, a autora do texto finaliza sua ideia. A conclusão não é menos importante do que o restante do texto. Pelo contrário. A conclusão deve ser coerente com tudo o que foi anteriormente abordado e dar um fechamento à fala.

FONTE: VERONESE, Michelle. Pensamento Positivo. [s.l.: s.n.], 2007. Disponível em: <http://super.abril.com.br/historia/pensamento-positivo>. Acesso em: 25 jun. 2016.

Agora que você já sabe como estruturar seu discurso, preste atenção a estas três dicas importantes para facilitar a elaboração do texto que será a base do discurso, fazendo com que ele seja coerente e dentro dos padrões esperados. Vamos lá?

1- Pesquise! Para falar sobre determinado assunto, é necessário saber o que está falando. Leia e informe-se o máximo que puder e isso trará segurança na hora de falar.

2- Seja certeiro: fale o que as pessoas desejam escutar. Encontre um meio-termo a partir do qual você possa transmitir a sua mensagem e, ao mesmo tempo, falar o que as pessoas esperam ouvir.

3- Seja interessante. Procure histórias legais sobre o que está falando, conte piadas (sem excessos!) e descontraia seu público.

Atente para o fato de que nem todos os públicos vão aceitar piadas ou desejam escutar algo que as agrade. Observe o contexto na qual sua fala estará inserida. Marcuschi (2007, p. 40) afirma que

A fala seria uma forma de produção textual-discursiva oral, sem a necessidade de uma tecnologia além do aparato disponível pelo próprio ser humano. Mas pode envolver aspectos muito complexos, como ainda veremos, em especial quando se trata da fala em contextos muito particulares em que a oralidade é uma prática bem desenvolvida, como, por exemplo, na hora de fazer um discurso em público ou se submeter a uma entrevista de emprego.

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TÓPICO 2 | ORATÓRIA E RETÓRICA: O USO

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Você sabe quais são os maiores oradores da humanidade? Que tal conhecê-los?

Muitos políticos, líderes religiosos, artistas e revolucionários con-quistaram destaque por meio de suas habilidades com a oratória. Um mau exemplo foi Adolf Hitler, que, ao longo de seu mandato político, utilizou a propaganda estatal e sua oratória carismática para persuadir o povo alemão, ressaltando o nacionalismo daquele povo que sofria com as severas restrições da derrota na Primeira Guerra Mundial.Por outro lado, Mahatma Gandhi conseguiu liderar a revolução que levou a Índia a conquistar sua independência por meio de seu discurso pacifista da ‘não violência’ e da ‘verdade’. Muitos reconhecem que ele inspirou outros líderes importantes, como Martin Luther King e Nelson Mandela. Recentemente, Barack Obama ganhou fama de excelente orador com seus discursos na campanha presidencial dos EUA. Sua argumentação elegante, lógica e escolha precisa de palavras conquistaram o povo americano e praticamente todo o mundo, que torceu por sua vitória. Seu discurso da vitória é exemplo da simplicidade eficaz de suas falas.

FONTE: VALENTE, Luciano. Oratória e retórica: falar bem e persuadir. [s.l.: s.n.], 2010. <http://www.scrittaonline.com.br/oratoria-e-retorica-falar-bem-e-persuadir/>. Acesso em: 27 mar. 2016.

UNI

3 COMO DESENVOLVER A RETÓRICA?

Conforme estudamos anteriormente, percebemos que, para tornar-se um bom orador é necessário muito estudo, treinamento e dedicação. Nesta etapa estudaremos um pouco sobre os principais aspectos a serem observados na hora de discursar ou apresentar-se em público. Vamos lá?

3.1 ASPECTOS FÍSICOS: A LINGUAGEM CORPORAL, VESTIMENTA E VOZ

Você já ouviu aquela expressão que diz que uma boa aparência é o cartão de visitas da pessoa? Exatamente. A aparência é essencial para uma boa apresentação ao público, em especial para as profissões que se expõem diretamente a ele. A imagem é o reflexo da pessoa e, por meio da maneira de se vestir, da maquiagem e os acessórios utilizados, podemos traçar um breve perfil de cada indivíduo.

De acordo com Abreu (2001), estes detalhes, com os gestos e a postura,

influenciam na impressão que as pessoas terão sobre o orador. Em situações de entrevistas, reuniões, palestras ou outras apresentações é, portanto, imprescindível cuidar da imagem que se deseja transmitir. Algumas dicas fáceis de seguir evitam maiores problemas.

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UNIDADE 1 | APLICAÇÕES DA ORALIDADE E DA ESCRITA: A ARGUMENTAÇÃO E O RACIOCÍNIO

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As roupas, por exemplo, devem ser adequadas à situação e estar limpas, bem passadas e sem manchas ou pelos. O orador deve observar, também, se não há nenhum botão solto ou rasgo que passe despercebido. É importante lembrar-se de ser discreto e evitar o excesso de cores. Os tecidos que não amassam são uma boa pedida.

Deve haver também cuidado com os movimentos. Eles devem apenas

completar a mensagem, então, precisam ser leves. Os movimentos durante a apresentação devem ser naturais. Há pessoas, porém, que têm como particularidade fazer gestos expressivos. Nestes casos, o orador pode controlá-los a partir de exercícios e da prática cotidiana.

O gesto pode, segundo Abreu (2001), tanto auxiliar quanto prejudicar uma

fala, pois o gesto expansivo caracteriza pessoas desinibidas, porém, dependendo da finalidade da fala, estes podem tornar-se inadequados e deselegantes. O contrário também pode ocorrer: pessoas mais tímidas tendem a fazer menos movimentos, o que, em determinados contextos, pode indicar insegurança ou demonstrar que a pessoa não consegue expressar suas ideias.

DICAS

Para não errar na hora de falar ao público, eis o que deve ser evitado quanto aos gestos:

• ajeitar a gravata;• manusear canetas, chaves ou outros objetos pessoais;• passar a mão nos cabelos excessivamente;• coçar a cabeça, o nariz ou as orelhas;• colocar a mão na boca, bem como roer as unhas;• cruzar os braços ou colocar as mãos para trás;• deixar as mãos nos bolsos;• ficar com as mãos na cintura;• segurar o microfone com as duas mãos;• apoiar-se sobre a mesa. Lembre-se de deixar sempre as mãos livres e à mostra. Mantenha-as no nível da cintura, pois assim gesticulará normalmente. FONTE: A ARTE de falar em público sem medo. [s.l.: s.n.], 2015. Adaptado de: <http://artedefalar.com.br/category/um-curso-revolucionario-rapido-e-eficaz/>. Acesso em: 29 mar. 2016.

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TÓPICO 2 | ORATÓRIA E RETÓRICA: O USO

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3.2 ASPECTOS PSICOLÓGICOS: MEDO DE FALAR EM PÚBLICO, ESQUECIMENTO E CACOETES

O medo de falar em público é um dos principais fantasmas que assustam aqueles que precisam realizar esta tarefa. Poucas são as pessoas que nascem com o dom de expressar-se de maneira natural e sem medo da exposição. Sabemos que, no mundo dos negócios, cada vez mais se exigem profissionais habilidosos e preparados para comunicar-se de maneira eficaz.

As grandes corporações exigem no currículo de seus funcionários a

habilidade de se comunicar. Falar com elegância e maestria e parecer natural diante desta situação é uma tarefa difícil, porém, necessária, pois é por meio de palestras, apresentações, reuniões, cursos e descontraídos bate-papos que mantemos a maior parte dos nossos contatos, sejam eles pessoais ou profissionais.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo jornal inglês Sunday Times

(apud FRUTUOSO, 2013), em uma pesquisa com três mil entrevistados, constatou-se que 41% deles tinha receio de falar em público, seguido por problemas financeiros (22%), e doenças e morte (19%). Sabemos que o medo provoca reações físicas diversas, como taquicardia, boca seca, sudorese, mãos trêmulas e outras sensações extremamente desconfortáveis para a pessoa que está exposta à situação. A timidez é, de acordo com alguns especialistas, definida como sendo a ansiedade ocasionada pela presença de uma situação nova, especialmente se esta situação leva a algum tipo de avaliação.

Sentir medo é, portanto, consequência da timidez ou de alguma experiência

ruim do passado. Muitas vezes, não conhecer o assunto ou não estar preparado para falar em determinado momento pode ocasionar o desconforto e piorar ainda mais a situação, pois, nestes momentos, pode ocorrer o esquecimento.

De acordo com Oliveira (2014), o esquecimento não é culpa da memória,

mas sim, falta de atenção. O lobo frontal, que é a parte do cérebro responsável pela memória transitória, tem pouca capacidade de armazenamento. Só fica ali armazenado o que a nossa atenção julgou ser necessária para ir para a memória de longo prazo. O que não foi memorizado será apagado, caso não haja estímulos para que ele seja relembrado.

O esquecimento é causado, dentre outros fatores, pela ansiedade. Daí a

explicação de as pessoas com medo de falar em público terem esses esquecimentos. O cérebro vê o nervosismo como uma ameaça e concentra-se em eliminá-lo, esquecendo, portanto, do assunto que deveria ser lembrado no momento.

Já os cacoetes vêm como consequência deste mesmo nervosismo.

Geralmente, as pessoas que têm cacoetes não sabem que o fazem. Piscar os olhos excessivamente, tamborilar com os dedos, gaguejar e repuxar os músculos da face são os cacoetes mais comuns.

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UNIDADE 1 | APLICAÇÕES DA ORALIDADE E DA ESCRITA: A ARGUMENTAÇÃO E O RACIOCÍNIO

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Estas dificuldades são minimizadas a partir de muito treino, o que traz segurança ao orador, conforme abordaremos na seção a seguir. Apesar das dificuldades ocasionadas pelo medo de falar em público,

[...] é possível desenvolver, aperfeiçoar e valorizar a comunicação oral aplicando técnicas e exercícios de dicção, voz e oratória, fortalecendo a autoestima, aprimorando a capacidade de comunicar-se em público com desembaraço, eficiência e naturalidade, eliminando bloqueios e inibições (CLUBE DA FALA, s.d., s.p.).

Portanto, a pessoa que deseja tornar-se oradora necessita primeiramente

autoconhecer-se para, em seguida, poder trabalhar e aperfeiçoar suas potencialidades e minimizar suas fragilidades. A próxima seção auxiliará a reduzir os medos e as dificuldades de falar em público.

3.3 ASPECTOS INTELECTUAIS: CONHECIMENTO DO ASSUNTO E SEGURANÇA

A segurança é, sem dúvida, atrelada ao conhecimento do assunto que será abordado. Não existe a possibilidade de ser orador sem conhecer profundamente o assunto que será abordado. É necessário conhecer além do que se vai falar, pois podem surgir dúvidas ao longo da palestra, que precisam ser esclarecidas ao público.

Você, acadêmico, já pensou que a socialização do seu trabalho de

graduação e dos seus estágios também são apresentações em público? Que tal utilizar um pouco das dicas para a sua própria apresentação? Elencamos algumas ideias que podem tornar sua apresentação mais segura.

Estude e domine o conteúdo que vai apresentar.Pense positivo.Responsabilize-se pelo bem-estar dos seus ouvintes.Apresente os benefícios que as pessoas terão ouvindo você.Respire fundo e tranquilamente.Fale devagar, porém, atenha-se ao tempo que lhe foi dado.Mantenha um tom de voz agradável: não fale muito baixo nem grite.Ambiente-se com o local: observe as pessoas, o que estão fazendo e acalme-se.Evite situações de estresse antes da sua fala.Prepare-se para responder as dúvidas sem medo.Pronuncie bem as palavras.Se der branco, não se desespere. Pare, respire e repita a última frase que disse.Conclua de forma segura e evite o “por hoje é só” (ABREU, 2001, p. 3).

Se todas estas dicas, simples e de fácil memorização, forem postas em prática, certamente as situações de fala serão bem-sucedidas, pois um público tranquilo depende exclusivamente de um orador bem preparado. O orador deve sempre ser autêntico, pois nenhuma técnica é tão eficaz quanto ser natural.

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TÓPICO 2 | ORATÓRIA E RETÓRICA: O USO

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3.4 ASPECTOS TECNOLÓGICOS: OS SUPORTES DE APOIO AO ORADOR

Além da capacidade intelectual, alguns aparatos tecnológicos também auxiliam o orador na hora da sua apresentação. Dentre eles, podemos citar o microfone e o projetor multimídia. Hoje em dia seria difícil imaginarmos um palestrante ter que falar para uma plateia em um local grande sem o auxílio de um microfone, não é mesmo? Então, falaremos agora um pouco sobre estes aparatos tecnológicos e de que forma eles podem ser úteis ao orador.

Primeiramente, ninguém gosta de ter que ouvir uma pessoa gritando, correto? O microfone faz com que a comunicação do orador possa ser mais espontânea e natural, pois ele pode falar como se estivesse falando com apenas uma pessoa, possibilitando que todos ouçam o que está sendo dito. Outro benefício deste aparato é para o próprio orador, pois o microfone preserva a garganta dos excessos cometidos por falarmos alto demais (ABREU, 2001). Há três tipos básicos de microfones: o de pedestal, o de lapela e o head-set. Veremos como o orador deve se comportar com cada um dos tipos de microfone apresentados.

Microfone de pedestal: este tipo de microfone é o mais comum em auditórios. Primeiramente, o orador deve conhecer tanto o microfone quanto o pedestal que o sustenta antes de começar a falar. Muitos são sensíveis e é necessário que o orador fale com a boca mais afastada para não agredir os ouvidos do público, outros já são menos sensíveis e é necessário aproximar mais a boca do aparelho. O pedestal também é importante para não dar vexame na hora de tentar retirar ou colocar o microfone. Também é importante evitar afastar e aproximar muito o microfone da boca, pois a oscilação de som é irritante para quem ouve.

Microfone de lapela: é o microfone preso à roupa do orador. Este tipo de microfone é mais sensível e capta o som com maior facilidade, portanto, colocá-lo à altura do peito é suficiente. Evitar mexer no fio é importante para não ocasionar ruídos desagradáveis. Também é importante ressaltar que, como o microfone capta a voz, ele também capta palmas, batidas e tosse. Quando for fazê-las, cuidado com o microfone. O orador deve sempre lembrar-se de retirar o microfone assim que acabar de falar, pois seria muito desagradável se o público continuasse a ouvi-lo dos bastidores.

Head-set: é o microfone preso à cabeça ou às orelhas. Como é também altamente sensível, deve-se tomar com ele os mesmos cuidados que com o de lapela. Nestes casos, é mais comum ocorrer estouros, ruídos e chiados, por isso, deve-se sempre mantê-lo a uma distância adequada da boca. Testá-lo antes de começar a falar é o necessário para evitar estes tipos de problemas.

O projetor multimídia, segundo suporte que mencionamos, é importante para que o orador possa trazer imagens, músicas, vídeos e outros subsídios para complementar sua fala. Além disso, ele pode servir como guia para que o orador não se perca no meio do caminho a partir do uso de slides ou do Prezi, por exemplo.

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UNIDADE 1 | APLICAÇÕES DA ORALIDADE E DA ESCRITA: A ARGUMENTAÇÃO E O RACIOCÍNIO

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Alguns cuidados, de acordo com Abreu (2001), são necessários também para seu uso. Caso o orador use slides, não é recomendado que se usem textos muito longos, apenas palavras-chave, pequenas frases ou informações adicionais. Muitas animações nos slides também não são recomendadas, pois tiram a atenção do ouvinte na hora do discurso/palestra.

Observe:

FIGURA 11 - EXEMPLO DE SLIDES

FONTE: Fiamoncini (2015, p. 35)

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TÓPICO 2 | ORATÓRIA E RETÓRICA: O USO

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Apesar dos cuidados que devem ser tomados com os aparatos tecnológicos de apoio, o uso deles é imprescindível para dar suporte ao orador na hora da sua fala. Portanto, utilizá-los pode facilitar muito o trabalho e o desempenho da pessoa que os utiliza.

4 O PAPEL DA RETÓRICA NA PRODUÇÃO TEXTUAL

Acadêmico, se analisarmos a produção textual, podemos inferir que o processo da fala está relacionado com a escrita e com a leitura, correto? A palavra retórica origina-se do grego rhetorikee e significa a arte do falar bem. Como a fala é também considerada uma produção textual, podemos afirmar que uma pessoa com boa retórica também é uma boa produtora de textos (o texto não necessita ser escrito para ser considerado como tal).

De acordo com Reboul (2004), por ser relacionada com a oratória e com a dialética, a retórica nos remete a um grupo de regras que faz com que o orador fale com sutileza, de forma eficaz e que consiga ser persuasivo. Formular um pensamento e transmiti-lo por meio da fala, mesmo que preparada antecipadamente, requer grande habilidade em produção textual por parte do orador.

Por ser pautada em regras, a retórica auxilia as pessoas que não são oradoras natas a organizarem seus pensamentos, fazendo com que, desta forma, consigam ser bons produtores textuais. Mesmo que o texto seja verbalizado oralmente, esta prática potencializa também a produção escrita, haja vista o vínculo existente entre ambos.

4.1 A ORIGEM DA RETÓRICA

A retórica, de acordo com pesquisadores, surgiu como uma necessidade de preparar as pessoas para participar ativamente do governo da cidade de Atenas, na Grécia. Não há como precisar exatamente a data na qual a retórica foi criada, porém, sabe-se que os sofistas, durante o século V a.C., foram prestigiados por serem considerados grandes professores de retórica.

Durante longos anos, a retórica foi utilizada para ensinar os jovens, sendo inclusive ensinada em universidades. Junto com a lógica e com a gramática, ela fazia parte das três artes liberais, citadas como grandes influenciadoras das áreas poéticas e políticas (REBOUL, 2004).

A linguagem corporal também era tratada como de fundamental importância para o orador, assim como o é hoje. Na Grécia Clássica, quem mais auxiliou a propagação da retórica foram Tísias e Protágoras. Já na Idade Média, ela passou a ser estudada somente para o estudo de textos. Ao longo do Renascimento, a retórica passou a ser essencial para os estudos da gramática e da filosofia (PLEBE; EMANUELE,1992).

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UNIDADE 1 | APLICAÇÕES DA ORALIDADE E DA ESCRITA: A ARGUMENTAÇÃO E O RACIOCÍNIO

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E hoje? Para que a retórica é importante? O que há de tão desejado nas competências e habilidades de qualquer profissional? Cabe aqui salientar que a retórica é essencial para o progresso profissional porque é uma das habilidades que mais auxilia no processo de comunicação. Vivemos em uma era na qual o consumismo é alto, a concorrência cresce a cada dia, portanto, saber comunicar é saber vender, é persuadir, é conquistar. É manter-se no mercado em evidência, seja pela oferta de produtos ou de serviços.

4.2 PARTES DA RETÓRICA

De acordo com Tringali (2014), hoje em dia lidamos com várias retóricas. A retórica antiga, aqui considerada, é representada por Aristóteles, Cícero e Quintiliano. A retórica, segundo Tringali (2014), não pode ser definida como uma mera arte de bem falar, nem menos como uma mera arte de ensinar a verdade. Ela vai além disso: é permeada pela semiótica. Esta enriquece a compreensão e dá continuidade à retórica antiga. Portanto, a retórica antiga torna-se metalinguagem.

Você sabe quem são Aristóteles, Cícero e Quintiliano?

• Aristóteles era um filósofo  grego e foi aluno de Platão. Junto a seus companheiros Platão  e  Sócrates, ele é considerado um dos fundadores da  filosofia ocidental. Era considerado um grande orador da Grécia e, em Atenas, fundou o Liceu.

• Cícero era um político da República Romana. Foi eleito cônsul em 63 a.C., junto a Caio. Teve grande influência na língua latina, tanto que se acredita que toda a história subsequente da prosa, não apenas no latim, como nas línguas europeias, no século XIX, seja ou uma reação contra seu estilo ou uma tentativa de retornar a ele. Foi um grande orador.

• Quintiliano foi orador e professor de retórica em Roma, sendo que muitos de seus alunos foram grandes personalidades romanas. Suas habilidades como orador foram aprimoradas, pois atuou durante muitos anos como advogado. Quintiliano escreveu sobre retórica e oratória, sendo que a mais famosa de suas obras é a Institutio Oratoria.

UNI

A retórica antiga, a retórica por excelência, divide-se em cinco partes. São elas: a invenção, a disposição, a elocução, a memória e a ação. Nesta etapa abordaremos quais são as partes da retórica de acordo com Reboul (2004). Utilizaremos uma palestra para exemplificar cada uma das etapas. Observe o quadro a seguir:

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TÓPICO 2 | ORATÓRIA E RETÓRICA: O USO

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QUADRO 2 – ETAPAS DA RETÓRICA

FONTE: Reboul (2004)

InvençãoQuando um palestrante se prepara para proferir sua palestra, ele reúne o material para seus estudos. Esta é a invenção. Trata-se do conjunto de todos os princípios relacionados com o conteúdo.

Disposição Quando ele começa a organizar-se, ou seja, seleciona o que utilizará, ele passa para a fase da disposição. Esta fase corresponde à estruturação das formas de conteúdo.

Elocução Quando ele prepara o seu suporte (slides ou pauta), ocorre a elocução. É a expressão do conteúdo de acordo com o estilo apropriado.

Memória Quando ele ensaia o conteúdo a ser apresentado ocorre a fase da memória. Ela consiste na memorização do discurso em questão.

Ação Por fim, quando ele profere a palestra e expõe seu discurso, ele entra na fase da ação.

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você estudou que:

• A oratória define-se como o conjunto de regras aplicadas para falar bem. Já a retórica é o uso da boa argumentação para o convencimento do outro.

• Para que o orador seja bem-sucedido, é necessário preparar a apresentação.

• Para elaborar um discurso é necessária uma estrutura: introdução, desenvolvimento e conclusão.

• A oratória já é uma prática do século V a.C., com os siracusianos Córax e Tísias.

• Três são os pilares que sustentam a oratória: a linguagem, o conteúdo e a estrutura.

• A linguagem é uma das principais ferramentas utilizadas na elocução de um discurso, portanto, dominá-la é essencial.

• O correto uso da gramática, bem como um amplo e diversificado vocabulário, podem contribuir (e muito!) na hora de falar em público.

• A aparência é essencial para uma boa apresentação ao público, em especial para as profissões que se expõem diretamente a ele.

• As roupas, a postura e o tom de voz devem ser observados na hora de proferir uma fala, discurso ou palestra.

• O medo de falar em público é muito comum entre as pessoas.

• O esquecimento é causado, dentre outros fatores, pela ansiedade e os cacoetes vêm como consequência do nervosismo.

• A segurança é transmitida ao público pelo orador a partir do conhecimento dele acerca do assunto.

• Há, para auxiliar o orador, inúmeros aparatos tecnológicos, dentre eles, o projetor multimídia e os microfones (de lapela, pedestal ou head-set).

• A retórica surgiu como uma necessidade de preparar as pessoas para participar ativamente do governo da cidade de Atenas, na Grécia.

• A retórica antiga divide-se em cinco partes: invenção, disposição, elocução, memória e ação.

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1 Observe as imagens a seguir:

a)

De acordo com o que foi estudado e utilizando as imagens, desenvolva um pequeno texto acerca da postura do orador.

2 De acordo com o que foi estudado até aqui, crie, a partir dos seus conhecimentos, uma palestra. Imagine que você foi convocado a palestrar acerca de uma temática que seja de seu domínio e desenvolva um roteiro. Lembre-se das orientações que você recebeu ao longo desta unidade.

b)

FONTE: <http://i.istockimg.com/file_thumbview_approve/6310491/6/stock-illustration-6310491-speakericon.jpg>. Acesso em 5 maio 2016.

FONTE: <https://psicologia.iorigen.com/wp-content/uploads/sites/12/2011/04/Comunicaci%C3%B3n-persuasiva.jpg>. Acesso em: 5 maio 2016.

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 3

O TEXTO E A COMBINAÇÃO

DAS PALAVRAS

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

Placas de trânsito, comunicados, notícias, revistas, outdoors, redes sociais, editais, manuais de instrução. Para onde quer que possamos ir, estaremos rodeados de textos, sejam eles verbais ou não, orais ou escritos. Os textos fazem parte da vida de qualquer ser humano em qualquer país do mundo, pois são o princípio básico da comunicação humana.

Neste tópico abordaremos o conceito de texto, suas definições e suas funções. Estudaremos também quais são os principais gêneros textuais, buscando compreender os seus sentidos. O texto como prática interdisciplinar, tema de fundamental importância para você, que será professor de Língua Portuguesa, é também abordado neste tópico. Vamos adiante que ainda temos muito o que estudar.

2 OS SENTIDOS DO TEXTO

Quando nos propomos a produzir um texto escrito, temos a consciência de que ele será lido por alguém, em um determinado lugar e em determinado momento. O texto, para que possa ser compreendido, necessita de coerência. Mesmo que o emissor não saiba exatamente o que esta palavra significa, ele, intuitivamente, a utiliza ao escrever textos que possam ser compreendidos ao serem lidos.

A coerência textual, princípio básico para a produção de textos com sentido, é o processo de articulação de ideias. A coerência textual é fundamental para que o leitor possa atribuir sentidos ao que está sendo lido. Observe o texto a seguir:

Esta semana aconteceu um episódio interessante na cidade em que moro, pois está cada vez mais difícil conseguir emprego. Os pais da criança se revoltaram e o prefeito não terminou de concluir a obra que havia prometido. Ao mesmo tempo, ocorria a manifestação pelo aumento de salário dos funcionários públicos e os animais estavam estressados, pois era primavera.

Este texto está confuso, pois, apesar de apresentar sequências frasais lógicas e coesão (ligação entre as partes do texto), não está coerente. Qualquer pessoa com conhecimento linguístico básico compreende que não há sentido algum no texto apresentado. Como você pode observar, a coerência não é algo que possa ser visualizado no texto. A coerência do texto só pode ser compreendida quando o texto é lido, ou seja, ela é implícita.

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UNIDADE 1 | APLICAÇÕES DA ORALIDADE E DA ESCRITA: A ARGUMENTAÇÃO E O RACIOCÍNIO

Um mesmo texto pode também apresentar múltiplas interpretações, dependendo do ponto de vista do leitor e de qual contexto ele está inserido no momento da leitura. O leitor, no ato da leitura, utiliza-se de seus conhecimentos prévios. O sentido do texto está também ligado a esse fator. Observe a seguir o excerto de um texto extraído de um site especializado em eletrônicos:

Os chips eletrônicos são fabricados com polímeros como a polianilina e o polipirrol. Filmes produzidos com esses materiais, em escala nanométrica, têm propriedades semicondutoras e podem substituir os trilhos de metal dos chips. Camadas desses polímeros podem proteger circuitos contra problemas de eletrostática, além disso, podem proteger elementos de prata, cobre e aço contra a corrosão (FUNDACENTRO, s.d.).

Caso a pessoa que esteja lendo este excerto não tenha nenhum conhecimento prévio acerca desta temática, não compreenderá do que se trata. De acordo com Perez (s.d.), três são os princípios básicos para que possamos compreender melhor o que é coerência textual. Vejamos:

O princípio da não contradição: as ideias não devem em momento algum contradizerem-se dentro do texto.

Exemplo de um texto contraditório: Enquanto retornava à casa, percebi que havia alguém atrás de nós. Sem olhar para trás, vi que os bandidos estavam com uma faca e renderam meu amigo. Embora desarmados, foi um momento de muito pânico.

Observe que, no exemplo, há duas contradições: a primeira quando o personagem afirma que não olhou para trás, mas viu que estavam com uma faca. A segunda, quando ele afirma que estava com uma faca e depois diz que estavam desarmados.

O princípio da não tautologia: não é necessário repetir as ideias inúmeras vezes para não comprometer a compreensão do texto.

Exemplo de um texto tautológico: Minha mãe está feliz, pois não é todo dia que se ganha tanto dinheiro. Mesmo tendo agora todo este dinheiro na sua conta, ela quer trabalhar meio período, pois tem agora mais dinheiro.

O texto torna-se cansativo, pois repete a ideia. A compreensão do texto não ocorre de acordo com a repetição, mas de acordo com a coerência da informação que é dada.

O princípio da relevância: afirma que as ideias dentro do texto devem dialogar. Caso sejam fragmentadas, não devem constituir um texto.

Exemplo de uma informação irrelevante: Durante a onda de frio que se aproxima do Sul do Brasil, recomenda-se o uso de agasalhos para evitar hipotermia. A hipotermia é muito comum em alpinistas que não utilizam roupas apropriadas.

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TÓPICO 3 | O TEXTO E A COMBINAÇÃO

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A informação contida no segundo período é irrelevante, pois a notícia trata do frio no Sul do Brasil, uma região na qual não se pratica alpinismo.

Cabe aqui salientar que a coesão, ou seja, o uso adequado dos conectores textuais, também é de suma importância para que o texto seja estruturado e possua sentido. A coerência é um princípio de interpretação, ou seja, o sentido do texto é sempre depreendido pelo leitor.

2.1 CONCEPÇÕES DE TEXTO

Muitos são os estudos acerca do texto e de suas concepções. Com o avanço das pesquisas nesta área, o texto passou a ser visto não mais como um emaranhado de palavras e frases, mas como algo vivo e dinâmico, que toma forma e sentido de acordo com a sua intencionalidade.

O texto, segundo Fiorin e Platão (2000), está presente em todas as camadas da sociedade e serve para, basicamente, comunicar. Mas qual é o real sentido da palavra texto? Derivado do latim, textum, significa tecido, ou seja, é um entrelaçamento de orações que funcionam como fios que, costurados, formam algo maior e com mais corpo, ou seja, o texto em si. No entanto, podemos afirmar que não somente de palavras um texto se constitui.

Ainda de acordo com Fiorin e Platão (2000), é difícil dar uma definição exata do que é o texto. Os autores citados, porém, afirmam que todo texto, para caracterizar-se como tal, deve apresentar coerência e coesão. A ideia central do texto não pode de forma alguma ser comprometida, portanto, é de responsabilidade do autor utilizar os conectivos adequados para transmitir a ideia que pretende. O contexto no qual o texto é produzido também interfere no resultado.

O texto é uma forma de comunicação coerente, que possui um sentido e um determinado objetivo. Assim sendo, podemos considerar que, ao escrevermos, produzimos textos dentro de determinados estilos, que cumprem funções comunicativas. A partir dessas intencionalidades, surgem os gêneros textuais, que estudaremos a seguir.

2.2 GÊNEROS TEXTUAIS E A PRODUÇÃO DE TEXTOS

Conforme já estudado, cada texto produzido tem um objetivo definido. De acordo com o objetivo que se pretende alcançar, dá-se forma ao texto, enquadrando-o, assim, dentro de um determinado gênero textual. Muitas são as dúvidas que surgem quando nos referimos aos gêneros textuais, especialmente quando se trata das diferenças entre um e outro, já que muitas acabam sendo sutis.

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UNIDADE 1 | APLICAÇÕES DA ORALIDADE E DA ESCRITA: A ARGUMENTAÇÃO E O RACIOCÍNIO

Para embasar esta etapa de estudos, utilizaremos como base teórica os estudos de Marcuschi (2010). De acordo com o autor, os gêneros textuais são maleáveis e feitos para serem utilizados de acordo com o objetivo que o autor pretende alcançar com seu texto.

É importante salientar que gênero textual é diferente de tipo textual. Os tipos textuais são a narração, a descrição, a dissertação, a injunção e a exposição. Dentro dos tipos textuais encaixam-se os gêneros textuais.

IMPORTANTE

Em todas as situações comunicacionais que nos cercam, encontraremos textos classificados dentro de determinado gênero textual. Podemos citar muitos exemplos de gêneros, como, por exemplo, piada, carta, receita, manual de instruções, artigo científico, bilhete, poema, anúncio publicitário, ofício, circular, anedota, fábula e inúmeros outros. Com o advento da tecnologia, muitos são os gêneros que vêm surgindo. O e-mail é um exemplo disso.

Cada gênero textual poderá trazer em sua composição características dos tipos textuais. Veja, no exemplo a seguir, a fábula A lebre e a tartaruga:

Um dia, uma Lebre ridicularizou as pernas curtas e a lentidão da Tartaruga. A Tartaruga sorriu e disse: "Pensa você ser rápida como o vento, mas acredito que eu a venceria numa corrida." A Lebre, claro, considerou aquela insinuação como algo impossível de acontecer, e aceitou o desafio na hora. Convidaram então a Raposa para servir de juiz, escolher o trajeto, e o ponto de chegada. E no dia marcado, do ponto inicial, partiram juntas. A Tartaruga, com seu passo lento, mas firme, determinada, concentrada, em momento algum parou de caminhar rumo ao seu objetivo. Mas a Lebre, confiante de sua velocidade, despreocupada com a corrida, deitou à margem da estrada para um rápido cochilo. Ao despertar, embora corresse o mais rápido que suas pernas o permitissem, não mais conseguiu alcançar a Tartaruga, que já cruzara a linha de chegada, e agora descansava tranquila num canto (ESOPO, s.d., s.p.).

O texto apresentado pertence ao gênero fábula, pois tem em sua composição características que o enquadram neste gênero (os personagens são animais, há moral da história etc.). Podemos dizer também que ele pertence à sequência tipológica de narração, pois a fábula é um gênero especificamente narrativo (possui narrador, personagens, tempo, espaço e foco narrativo na sua estrutura).

Veja outro exemplo:

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TÓPICO 3 | O TEXTO E A COMBINAÇÃO

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Creme de abacateIngredientes:

3 xícaras de polpa de abacate suco de 1 limão 3 colheres de sopa de açúcar

Modo de fazer:Bata o abacate, ligeiramente, no liquidificador com o suco de limão.

Acrescente o açúcar e bata levemente de novo. Leve à geladeira apenas por 30 minutos e sirva.

O texto apresentado é uma receita. Este gênero (receita) enquadra-se na sequência tipológica de base injunção, pois os textos injuntivos têm por objetivo instruir quem os lê e geralmente usam verbos no imperativo para atingir seu intuito (bata, acrescente, leve, sirva).

Marcuschi (2010) ainda afirma que o gênero textual constitui textos que são empiricamente realizados para cumprir determinadas funções em situações comunicativas específicas. Pode-se afirmar que há um número praticamente ilimitado de gêneros, organizados dentro de um conjunto aberto e determinados pela composição, função, estilo e canal de comunicação por meio do qual ele é veiculado. Já o tipo textual possui características mais fáceis de identificar e é mais restrito. De acordo com Marcuschi (2010, p. 83), “[...] os gêneros textuais funcionam como paradigmas porque nos oferecem modelos de comunicação para que esta seja eficaz, não só verbalmente como também através da produção escrita”.

Quando o autor decide que vai produzir um texto, ele tem que escolher de que forma deseja transmitir a mensagem, por exemplo, se ele decidir comunicar algo a alguém que mora em outro país, ou ele enviará um e-mail ou enviará uma carta. Suponhamos que ele decida escrever uma carta. Para esta carta haverá uma estrutura que, no caso, é o tipo textual, que se apresentará em forma de gênero, a carta em si. Marcuschi (2010) afirma que, mesmo que essa carta não fosse assinada ou datada, por exemplo, ela não deixaria de ser uma carta, pois cumpre sua função dentro da comunicação.

DICAS

Para que você, futuro professor de Língua Portuguesa, possa utilizar os gêneros textuais com seus alunos em sala de aula, é de fundamental importância que seja feito um levantamento a partir da realidade dos alunos para poder trabalhar os gêneros que mais estão próximos à realidade deles. Este levantamento é necessário para saber o que é ou não importante que eles saibam. Um exemplo: o gênero textual carta quase não é mais trabalhado, pois cedeu lugar ao gênero textual e-mail. Você, professor, precisa estar atualizado também com relação às redes sociais, que a cada dia evoluem. Elas também são gêneros textuais.

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UNIDADE 1 | APLICAÇÕES DA ORALIDADE E DA ESCRITA: A ARGUMENTAÇÃO E O RACIOCÍNIO

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), o aluno precisa ser levado a produzir textos a partir dos gêneros, portanto, não basta apenas que ele seja um bom escritor, mas também um bom leitor, pois necessita aprimorar e reescrever seu próprio texto. O trabalho com o gênero textual é, portanto, muito benéfico, tanto para o aluno quanto para o professor.

O trabalho com o gênero proporciona também o trabalho interdisciplinar, pois a integração entre as demais disciplinas é importante para a formação integral do aluno. Os gêneros estão presentes em praticamente todas as esferas sociais humanas, pois tudo o que comunicamos encaixa-se dentro de um determinado gênero. Trabalhar, portanto, o gênero dentro da parte de produção textual proporciona ao aluno a elaboração e a análise de textos com significado (BAKHTIN, 1997).

2.3 O TEXTO E SUA INTENÇÃO

Todas as produções textuais, sejam elas orais ou escritas, possuem uma intenção. Antes de produzir o texto é necessário avaliar quem vai lê-lo, quando, onde, em que situação. Dependendo da nossa intenção ao escrever o texto, mudará o tipo textual, o gênero, a função de linguagem, ou seja, toda a estrutura se modifica de acordo com a intenção. Observe os exemplos a seguir:

RIO REGISTRA DIA MAIS FRIO DO ANO NESTE OUTONO

Em meio a uma frente fria que atingiu o Rio nesta quarta-feira (27), a cidade teve o seu dia mais frio em 2016 nesta quinta-feira (28) em pleno outono. Segundo o Alerta Rio, foram registrados 16,6º C na estação do Alto da Boa Vista, na Zona Norte do Rio. Já a maior temperatura foi registrada na Barra da Tijuca, na Zona Oeste, com 25,4º C.Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), foram registrados 17,2º C também no Alto da Boa Vista. A máxima do dia divulgada pelo instituto foi registrada na Saúde: 23,6º C. Os ventos fortes causaram ressaca em vários pontos do litoral carioca, incluindo Arpoador, na Zona Sul, e Piratininga, em Niterói, na Região Metropolitana (G1, 2016, s.p.).

A intenção do texto apresentado é informar o leitor sobre algo que ocorreu. Os gêneros textuais que têm por finalidade informar podem variar muito, indo da notícia à reportagem, por exemplo. Este tipo de texto consiste em um linguajar simples e direto. Veja outro exemplo:

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TÓPICO 3 | O TEXTO E A COMBINAÇÃO

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MATO OU MORRO

Um comandante pergunta a seu soldado que se preparava para partir para a guerra:– Qual é o seu lema?– O meu lema é: mato ou morro, meu comandante! – responde o soldado sem hesitar.O comandante, em dúvida, pergunta: – Matar ou morrer, você quer dizer…– Não, meu comandante. É mesmo mato ou morro! – Responde o soldado. – Explique-se melhor… – ordena o comandante.E o soldado explica: – Simples! Se as balas forem para o mato eu fujo para o morro, se as balas forem para o morro eu fujo para o mato… (ANEDOTA DO DIA, 2016, s.p.)

Já este texto tem por intenção criar humor. Não há aí intenção de transmitir uma mensagem ou de informar algo, apenas divertir o leitor.

Muitos textos possuem mais de uma intenção. Veja o exemplo da charge a seguir: além de fazer uma crítica implícita à situação do Aedes Egypti no país, tem por finalidade divertir o leitor.

FONTE: <http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2016/02/charge-cabo-de-guerra.html>. Acesso em: 4 ago. 2016.

UNI

2.4 FATORES QUE INTERFEREM NA INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Quando um texto é lido e consequentemente interpretado, ocorre o envolvimento do leitor com o texto a partir do conhecimento de mundo linguístico que ele possui. O processo da comunicação não é somente criado a partir do leitor com o texto, mas sim, com a natureza, com a intenção, com a linguagem que é utilizada no texto e com os conhecimentos que ele objetiva transmitir. Conforme estudamos anteriormente, não é possível compreender um texto se não sabemos um mínimo acerca do conteúdo que ele aborda.

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UNIDADE 1 | APLICAÇÕES DA ORALIDADE E DA ESCRITA: A ARGUMENTAÇÃO E O RACIOCÍNIO

Existem alguns fatores que interferem na compreensão e/ou interpretação da mensagem que o texto quer transmitir. É necessário compreender, antes de veicular um texto a determinado público, qual é a estrutura dele, qual é a linguagem utilizada para seu desenvolvimento, qual é o conteúdo que deseja transmitir. Um texto que parece simples para determinados leitores pode ser de extrema complexidade para outros. Tudo dependerá da época na qual foi escrito, para que público, com que intenção, a partir de que cultura etc.

Portanto, estes vários fatores juntos formam a complexidade linguística do texto, que varia de leitor para leitor. No ato da leitura, o leitor deve trazer à tona as informações que já tem sobre o assunto e aplicá-las ao que está sendo lido. Observe os textos a seguir:

TEXTO 1

Outro paradigma típico, que coaduna com a simplicidade do objeto é o reducionismo. Dele decorre a operação da redução, que procura reduzir o objeto complexo a um outro mais simples e bem conhecido, submetendo o entendimento do conjunto do objeto à suas partes constituintes, como é o caso, por exemplo, de se reduzir a vida às suas características bioquímicas, ou o indivíduo aos processos sociais. Segue-se a 'objetividade' científica que buscou, nesta esteira, sob referências absolutas, conhecer a realidade livre de qualquer subjetividade ou influência ideológica, confiando obter um conhecimento seguro e verdadeiro, e que fomentou a pretensão de constituir a ciência, um saber monístico, o único e verdadeiro do mundo (GOMES, VITTE, 2010, s.p.).

TEXTO 2

A Geografia Física é a área dos estudos geográficos relacionada às manifestações terrestres naturais, envolvendo os processos superficiais e os elementos do interior do planeta que possuem direta relação com as formas e as alterações do relevo. Através de suas diversas abordagens – como a Climatologia, a Geomorfologia, a Hidrologia, a Biografia, a Pedologia, a Glaciologia e muitos outras –, a Geografia Física aborda temas que se aglutinam, geralmente, em torno de quatro temas: a litosfera, a atmosfera, a hidrosfera e a biosfera. Para isso, mantém diretas relações com inúmeras outras áreas do conhecimento, como a Geologia e a Biologia (PENA, s.d., s.p.).

Ambos os textos tratam da geografia física, porém, o Texto 1 é de maior complexidade se comparado ao Texto 2. Podemos analisar os textos da seguinte forma: o Texto 1 utiliza termos técnicos específicos da área, cujo conhecimento do leitor já deve ser mais avançado para que o texto possa ser compreendido. É um texto publicado em um periódico de universidade, portanto, é necessário ter relevante conhecimento prévio para que se possa compreender o texto, que é destinado a estudiosos da área e apresenta uma pesquisa específica.

Já o Texto 2 é justamente para explicar o que vem a ser a geografia física. A compreensão do texto torna-se mais fácil, pois a linguagem é coloquial e não utiliza termos específicos da área. O site no qual foi publicado destina-se a um público-alvo com menos conhecimento específico da área, que queira aprender sobre. Alunos de Ensino Fundamental e Médio são um exemplo.

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TÓPICO 3 | O TEXTO E A COMBINAÇÃO

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Há, além destes, outros fatores que interferem na compreensão textual. A própria construção do texto pode ocasionar este tipo de problema. Vamos ver quais são estas interferências?

2.4.1 Ambiguidade e polissemia

A ambiguidade ocorre quando um texto apresenta possibilidade de dupla interpretação. A ambiguidade, em muitos casos, é utilizada propositalmente, especialmente em textos de teor literário. Observe:

Emergência (Mário Quintana)

Quem faz um poema abre uma janela. Respira, tu que estás numa cela abafada, esse ar que entra por ela. Por isso é que os poemas têm ritmo — para que possas profundamente respirar. Quem faz um poema salva um afogado.

A linguagem utilizada no poema é metafórica e possibilita a dupla interpretação. É claro que este tipo de linguagem é justamente utilizado com o intuito de fazer com que o leitor reflita e compreenda que as palavras ali colocadas não devem ser interpretadas com seu sentido literal, mas a ambiguidade está ali presente ao longo de todo o texto.

Há também a ambiguidade utilizada para dar caráter humorístico a determinados textos. Observe a tira de Mafalda:

FIGURA 12 - MAFALDA

FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/_SekuPoIqqTo/TUxAMg45zqI/AAAAAAAAA0w/atupKgthj8Q/s640/Mafalda+-+05+-+Dedo+Importante+2.jpg>. Acesso em: 10 maio 2016.

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UNIDADE 1 | APLICAÇÕES DA ORALIDADE E DA ESCRITA: A ARGUMENTAÇÃO E O RACIOCÍNIO

Neste caso, Mafalda usa a palavra indicador com duplo significado: o dedo indicador X o indicador do desemprego, o que atribui humor à tira. Neste caso, a palavra indicador possui mais de um significado, desencadeando, portanto, um fenômeno chamado polissemia. A polissemia ocorre quando uma palavra possui mais de um significado, dependendo do contexto no qual ela está inserida. Por exemplo: a palavra manga pode ser de uma camisa ou a fruta da mangueira.

Na publicidade também é comum encontrarmos a ambiguidade proposital. Observe o anúncio a seguir:

FIGURA 13 - ANÚNCIO

FONTE: <http://portugues.uol.com.br/public/conteudo/images/anuncio-publicitario(1).jpg>. Acesso em: 25 abr. 2016.

Aqui, o anúncio utiliza a expressão “sorrisinho amarelo” no sentido denotativo, fazendo com que o público entenda que o creme dental anunciado clareia os dentes, porém, não deixa de fazer alusão à expressão no seu sentido conotativo, que quer dizer sorriso forçado. Se seus dentes estão brancos, você não precisará forçar seu sorriso.

Nestes casos, a ambiguidade auxilia o autor a atingir seu objetivo com o texto, porém, em textos de teor informativo ou científico, a ambiguidade pode tornar-se um problema, pois o que deve ser interpretado com precisão não pode causar dúvidas ao leitor. Veja:

A noite de domingo foi turbulenta para os moradores da cidade de Divinópolis. Após intensa luta, houve tiroteio na rua. Os suspeitos fugiram, mas foram perseguidos. Por fim, o policial deteve um dos bandidos em sua casa.

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TÓPICO 3 | O TEXTO E A COMBINAÇÃO

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Onde, afinal, o bandido foi capturado? Na casa dele ou na casa do policial? Embora a ambiguidade possa ser empregada intencionalmente pelo enunciador, uma leitura cuidadosa geralmente acaba evitando muitos dos problemas com ambiguidade dentro do texto.

E em sala de aula, como podemos trabalhar essa temática? Que tal um exemplo de sequência didática para trabalhar as questões da ambiguidade?

Tema: a ambiguidade nos textos

1 Apresentação da proposta: o professor propõe aos alunos criar um fôlder de cunho humorístico, utilizando piadas e textos ambíguos.

2 Partir do conhecimento prévio dos alunos: o professor poderá, antes de iniciar a explanação acerca do que é ambiguidade, mostrar aos alunos frases ambíguas e pedir para os alunos se sabem o que significa a ambiguidade e que expliquem a partir das frases apresentadas.

3 Contato inicial com o tema em estudo: passar aos alunos uma explicação detalhada da ambiguidade, a partir de textos de autores que trabalhem com a temática.

4 Pesquisa inicial: os alunos iniciam a pesquisa de textos ambíguos para a composição do fôlder e, quando se sentirem preparados, iniciam a produção de seus próprios textos.

5 Organização e sistematização do conhecimento sobre ambiguidade: estudo detalhado de situação de produção, quais são as principais dúvidas e dificuldades durante a pesquisa e produção de textos ambíguos.

6 Produção individual ou em duplas: cada aluno, de maneira individual ou em dupla, produzirá ou selecionará um texto para o fôlder.

7 Revisão e reescrita: os alunos deverão trocar os textos selecionados para que cada um corrija o do colega. Assim que revisados e, se for o caso, reescritos, o professor deverá preparar os textos para a impressão dos fôlderes.

8 Divulgação: após impressos, os fôlderes serão distribuídos pela escola para que outros alunos possam apreciá-los. Os fôlderes também poderão ser distribuídos em instituições próximas à escola, como comércio, por exemplo, para a apreciação da comunidade.

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UNIDADE 1 | APLICAÇÕES DA ORALIDADE E DA ESCRITA: A ARGUMENTAÇÃO E O RACIOCÍNIO

3 O TEXTO COMO PRÁTICA INTERDISCIPLINAR

Acadêmico: com base em tudo o que já foi estudado ao longo do curso de Letras, você já parou para pensar qual é a função social do professor? A discussão frequente das práticas pedagógicas executadas em sala de aula nas mais diversas disciplinas nos dá a oportunidade de parar para refletir um pouco mais sobre o tema, não é mesmo?

De acordo com Fazenda (2011), a interdisciplinaridade é uma atitude de busca, de inclusão e de sintonia com o conhecimento. Assim, é evidente a globalização do conhecimento, o que pressupõe a quebra das fronteiras diante das disciplinas. A interdisciplinaridade é, portanto, uma área educativa que nos permite conceber o conhecimento como algo aberto, evitando, assim, classificá-la nas gavetas que chamamos de disciplinas.

Cabe ressaltar aqui que a interdisciplinaridade não consiste em acabar com as disciplinas, mas sim, promover a cooperação entre elas. Para que essa cooperação ocorra, é necessário que haja de fato uma interação entre elas. Há aí um grande desafio: buscar um método de fazer isto acontecer. A função social do professor é, dentre tantas outras, encontrar maneiras de fazer com que o aluno seja capaz de estabelecer relações entre estes fragmentos estudados, fazendo com que os conhecimentos adquiridos em todas as disciplinas se unam em determinado ponto.

A partir das práticas pedagógicas, cabe ao professor instigar os alunos a compreenderem e relacionarem estes diferentes segmentos. O trabalho com textos é um grande aliado neste caso. Este método exige muito comprometimento, pois é uma intervenção necessária para que o aluno compreenda a realidade de maneira crítica e consciente.

O ponto de partida para o preparo de um trabalho interdisciplinar a partir de textos é a realidade do aluno. Cada projeto interdisciplinar possui estratégias próprias, portanto, ele deve ser pensado partindo do pressuposto de que a finalidade do processo educativo é fazer com que o aluno realmente aprenda. O papel do professor neste projeto é ajudar a produzir o conhecimento. Por este motivo é necessário que os professores, antes de trabalhar com o projeto, conversem entre si e verifiquem de que forma trabalharão.

Com base nos estudos de Domingues (2015), elencaremos algumas estratégias para que os professores consigam elaborar bons projetos interdisciplinares.

• Estude. A interdisciplinaridade exige muito estudo por parte do professor. É necessário que o professor tenha conhecimento aprofundado acerca de sua disciplina, dos conceitos, dos conteúdos e dos métodos da sua área de atuação para que possa dialogar e argumentar com seus colegas de outras disciplinas (DOMINGUES, 2015).

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TÓPICO 3 | O TEXTO E A COMBINAÇÃO

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• Escolha. Com seus colegas de disciplinas diferentes, escolham um tema que atinja os objetivos propostos por todos os envolvidos. Como o aluno é o ponto de partida, escolham temas que tenham a ver com a prática e com o cotidiano dos alunos.

• Seja flexível. Como é um trabalho de cooperação, cabe a vocês negociar as expectativas e ser flexíveis quanto a mudanças e adaptações necessárias.

• Estabeleça objetivos. Eles devem ficar claros aos alunos e demonstrarem que cada conhecimento apresentado possui sua importância. O aluno deve compreender que nada no projeto é em vão: tudo tem uma razão para ser estudado.

• Discuta a avaliação. Ela deve mostrar que o aluno foi ou não capaz de compreender o todo, inclusive o objetivo da interdisciplinaridade, a partir da fusão dos conteúdos estudados.

3.1 ESTUDOS ACERCA DA PRODUÇÃO TEXTUAL

Os primeiros estudos efetuados acerca da finalidade do texto, de acordo com Koch e Travaglia (1990), informavam que a boa formação do texto escrito eram os fatores de contextualização. Estes estudos eram fundamentados na linguística textual. De acordo com os autores, os estudos eram pautados em seis itens: situacionalidade, informatividade, focalização, intertextualidade, intencionalidade e relevância. Vejamos o que querem dizer estes termos, com base nos estudos de Koch e Travaglia (1990).

• Situacionalidade: é o fator responsável pela situação comunicativa. Este fator interfere de forma direta na produção e na recepção do texto: a forma como ele foi produzido, se é formal ou informal, se há uso de dialetos etc.

• Informatividade: é o fator que analisa a importância das informações a serem transmitidas por determinado texto.

• Focalização: tem relação com o conhecimento partilhado, ou seja, de acordo com o leitor o texto poderá ser compreendido de diferentes maneiras.

• Intertextualidade: trata-se da interferência de outros textos na produção. • Intencionalidade: é a intenção que temos ao escrever.• Relevância: conforme o nome já diz, refere-se à importância da temática.

Um texto, para abarcar todos estes termos, deve ser coerente e coeso. As ideias apresentadas no início não devem ser contraditórias. O texto que flui automaticamente abarca todos estes processos.

UNI

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Ateremo-nos aqui à intertextualidade, que é um dos itens mais mencionados quando se trata de pesquisa sobre o tema. A intertextualidade pode ser analisada a partir de duas vertentes: o conteúdo e a forma. O conteúdo é quando os textos são contemporâneos e da mesma área de conhecimento. Neste caso, os textos dialogam entre si. A forma é quando temos conhecimentos armazenados na memória em determinados esquemas mentais que se referem aos gêneros.

Cabe salientar que a intertextualidade não ocorre somente com textos verbais. As imagens também podem ser intertextuais. Observe a seguir os exemplos de intertextualidade:

TEXTO 1

Vou-me embora pra Pasárgada (Manuel Bandeira)

Vou-me embora pra PasárgadaLá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei[...]

Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcaloide à vontade Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar[...]

TEXTO 2

Vou-me embora de Pasárgada (Millôr Fernandes)

Vou-me embora de Pasárgada Sou inimigo do Rei Não tenho nada que eu quero Não tenho e nunca terei Aqui eu não sou feliz A existência é tão dura As elites tão senis Que Joana, a louca da Espanha, Ainda é mais coerente Do que os donos do país. [...]

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TÓPICO 3 | O TEXTO E A COMBINAÇÃO

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Pasárgada já não tem nada Nem mesmo recordação E nem fome nem doença Impedem a concepção Telefone não telefona Drogas são falsificadas E prostitutas aidéticas São as nossas namoradas. [...]

TEXTO 3

O léxico no poema “Vou-me embora pra Pasárgada”, de Manuel Bandeira (Luci Mary Melo Leon)

“Vou-me Embora pra Pasárgada” foi o poema de mais longa gestação em toda a minha obra. Vi pela primeira vez esse nome de Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. Estava certo de ter sido em Xenofonte, mas já vasculhei duas ou três vezes a Ciropedia e não encontrei a passagem. O douto Frei Damião Berge informou-me que Estrabão e Arriano, autores que nunca li, falam na famosa cidade fundada por Ciro, o antigo, no local preciso em que vencera a Astíages. Ficava a sueste de Persépolis.

Esse nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas” ou “tesouro dos persas”, suscitou na imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias como o “L’Invitationau Voyage” de Baudelaire. Mais de vinte anos quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda sensação de tudo o que eu não tinha feito na minha vida por motivo da doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me Embora pra Pasárgada!” Senti na redondilha a primeira célula de um poema e tentei realizá-lo, mas fracassei. Abandonei a ideia. Alguns anos depois, em idênticas circunstâncias de desalento e tédio, me ocorreu o mesmo desabafo de evasão da “vida besta”.

Desta vez, o poema saiu sem esforço, como se já estivesse pronto dentro de mim. Gosto desse poema porque vejo nele, em escorço, toda a minha vida; e também porque parece que nele soube transmitir a tantas outras pessoas a visão e promessa da minha adolescência - essa Pasárgada onde podemos viver pelo sonho o que a vida madrasta não nos quis dar. Não sou arquiteto, como meu pai desejava, não fiz nenhuma casa, mas reconstruí, e “não como forma imperfeita neste mundo de aparências”, uma cidade ilustre, que hoje não é mais a Pasárgada de Ciro e sim a “minha” Pasárgada. [...]

FONTE: LEON, L. M. M. O léxico no poema Vou-me embora pra Pasárgada de Manuel Bandeira. [s.l: s.n., s.d.]. <http://www.filologia.org.br/viicnlf/anais/caderno06-12.html>. Acesso em: 10 ago. 2016.

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TEXTO 4

Pasárgada era uma cidade da antiga Pérsia, atualmente um sítio arqueológico na província de Fars, no Irã, situada a 87 quilômetros a nordeste de Persépolis. Foi a primeira capital da Pérsia Aqueménida, no tempo de Ciro II e coexistiu com as demais, dado que era costume persa manter várias capitais em simultâneo, em função da vastidão do seu império: Persépolis, Ecbátana, Susa ou Sardes. Hoje é um Patrimônio Mundial da Unesco.

FONTE: Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Pas%C3%A1rgada>. Acesso em: 14 nov. 2016

Os quatro textos apresentados possuem intertextualidade entre si, pois todos possuem como tema em comum “Pasárgada”. Pode-se afirmar, portanto, que os quatro textos “conversam entre si”, mesmo que o objetivo deles não seja o mesmo. Observe que o Texto 1 e o Texto 2 são poemas, sendo o primeiro o texto original e o segundo, uma paródia dele. Os textos têm como público-alvo pessoas de diferentes épocas, haja vista o segundo ser publicado muito tempo após a publicação do primeiro. O Texto 3 é um trecho de um artigo científico intitulado “O léxico no poema Vou-me embora pra Pasárgada, de Manuel Bandeira”, cujo público-alvo são estudiosos da língua portuguesa. O Texto 4, por fim, é uma descrição retirada da Wikipedia, cujo público-alvo são pessoas que pretendem realizar uma pesquisa breve e menos aprofundada acerca do tema.

Agora, veja como ocorre a intertextualidade entre imagens:

FIGURA 14 - O GRITO, DE EDWARD MUNCH, E UMA RELEITURA DA OBRA COM O PERSONAGEM HOMMER SIMPSON

FONTE: <https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/236x/09/31/35/0931357eb99bea019f-3f403a7856a872.jpg>. Acesso em: 21 mar. 2016.

A imagem com o personagem Hommer é uma paródia humorística da obra “O Grito”, de Edward Munch. As imagens são, neste caso, intertextuais, pois a releitura da obra original, seja ela com finalidade humorística, publicitária ou crítica, possui intertextualidade. Neste caso, a intertextualidade tem finalidade humorística, mas, em muitos casos, a intertextualidade é muito utilizada na publicidade, como a imagem que segue, na qual a obra Monalisa foi parodiada para um comercial de produtos de limpeza. Veja:

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FIGURA 15 - MONALISA

FONTE: <http://2.bp.blogspot.com/-_wQYtbqX2u4/Uml4psRTFDI/AAAAAAAAY1E/q9sANnlo_-c/s1600/mon+bijou+bombril+carlos+moreno+monalisa+em+1998.jpg>. Acesso em: 28 jun. 2016.

De acordo com Koch e Travaglia (1990), cabe ressaltar que os fatores citados sempre aparecerão no texto inter-relacionados e estabelecendo a coerência textual. Assim, o texto é visto como uma organização de elementos que permite que o emissor transmita uma mensagem de forma eficaz ao seu receptor. Para que o emissor consiga colocar estes fatores todos no texto, é necessário observar o gênero textual.

3.2 A PRODUÇÃO TEXTUAL: PRÁTICAS EM SALA DE AULA

O trabalho com produção de textos em sala de aula é uma das principais atividades desenvolvidas pelos professores de Língua Portuguesa. Quando realizada a partir de propostas pedagógicas que visem tornar o aluno um leitor e produtor, esta atividade ganha importância considerável.

A produção em sala de aula não deve ser restrita a apenas escrever redações sem sentido, mas sim, fazer com que o aluno interaja com outros textos e dialogue com eles. Para que esta interação ocorra é necessário que ele seja, antes de escritor, um bom leitor. Provocar o aluno a ler textos que o instiguem faz parte do processo da produção textual.

Aqui entra em questão novamente o professor como mediador do conhecimento: é ele que precisa fazer com que as aulas de produção textual sejam uma maneira de inserir o aluno no mundo da escrita. Embora o aluno possa ter acesso à leitura e à escrita em outros locais, é na escola que ele manterá este vínculo. É a escola que, a partir do seu papel social, fará com que ele compreenda que, a partir da linguagem, ele poderá transformar a sociedade em que vive.

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De que forma o professor poderá instigar seu aluno a escrever? Infelizmente não há uma fórmula pronta para isto. Cada aluno responderá aos estímulos de forma diferente, assim como ocorre na matemática, nas ciências, nas artes. O que nós, como professores, podemos (e devemos) fazer, é conscientizar o aluno de que a produção do texto é algo pessoal.

Uma leitura curiosa do gênero que se pretende trabalhar em sala de aula pode ser um bom começo. A leitura, seja ela individual ou em voz alta, faz com que o aluno se familiarize com a linguagem utilizada. Não ler apenas um texto, mas sim, vários do mesmo gênero, para que a estrutura, o vocabulário e a construção textual sejam internalizados.

Vamos a um exemplo prático. Suponhamos que o professor queira trabalhar com a produção textual de sonetos. Ele pode iniciar com uma leitura simples.

Batatinha quando nasceespalha a rama pelo chão.

Menininha quando dorme,põe a mão no coração.

A partir deste pequeno e conhecido poema, o professor pode fazer com que os alunos observem a rima, que é parte estruturante do poema. Após explicar o que é a rima e que ela se faz presente na maior parte dos poemas, ele pode ler outro, com mais de uma estrofe.

A Foca (Vinícius de Moraes)

Quer ver a foca Ficar feliz?

É por uma bola No seu nariz.

Quer ver a foca Bater palminha?

É dar a ela Uma sardinha.

Quer ver a foca

Fazer uma briga? É espetar ela

Bem na barriga!

Aqui, o professor já pode pedir para que os alunos observem que há mais de uma rima, e que elas sempre aparecem de forma sequencial. Se for o caso, o professor já pode explicar os tipos de rimas (interpolada, encadeada). O aluno já deve ter observado que um poema se estrutura em estrofes. Como o objetivo é trabalhar com sonetos, ele poderá ler com eles um soneto.

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TÓPICO 3 | O TEXTO E A COMBINAÇÃO

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Soneto do Amor Total (Vinícius de Moraes)

Amo-te tanto, meu amor... não cante O humano coração com mais verdade...

Amo-te como amigo e como amante Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,

E te amo além, presente na saudade. Amo-te, enfim, com grande liberdade

Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente, De um amor sem mistério e sem virtude Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,

É que um dia em teu corpo de repente Hei de morrer de amar mais do que pude.

A estrutura do soneto agora já foi apresentada ao aluno. A partir daqui, muitos sonetos podem ser lidos. O professor poderá levá-los a pesquisar na internet, na biblioteca etc. Pode ser realizada uma exposição com os sonetos que os alunos acharam mais interessantes, por exemplo. Eles podem criar sua própria coletânea de sonetos, escolhendo seus favoritos e montando um portfólio.

Pronto. Agora que o aluno já conhece a estrutura do soneto, é hora de colocar seu conhecimento em prática. A proposta inicial pode ser desenvolver apenas uma estrofe e, a partir daí, trocar com os colegas. Pode também ser feita a leitura em voz alta para que o aluno sinta o ritmo do seu poema. Quando o professor perceber que sua turma está pronta para produzir o poema completo, poderá fazê-lo com toda tranquilidade.

Como você pode perceber, algumas atividades se destacam mais que outras. Cabe salientar que o aluno precisa saber por que está escrevendo e para quem está escrevendo. Toda escrita tem uma função, e o escritor deve conhecê-la. Trabalhar considerando a realidade dos alunos também é importante para que eles cultivem o interesse pela produção.

Para os alunos menores, por exemplo, um trabalho em dupla pode ser um bom incentivo para começar uma produção. Leia com eles uma história e peça para que eles a reescrevam. Eles podem também narrar e você, professor, escreve no quadro os principais tópicos. Em seguida, eles apenas montam o texto. Recolha os textos e dê sugestões, faça com que eles reescrevam muitas e muitas vezes até que cada texto ganhe suas peculiaridades. Ao final, mostre para eles a evolução que tiveram na sua escrita. Desta maneira, eles compreenderão que um texto não se produz em uma única tentativa.

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Que tal uma sequência didática para incrementar suas aulas de produção textual? Veja esta sugestão de sequência para a produção de Histórias em Quadrinhos.

Tema: Produção de uma história em quadrinhos

1 Produção inicialObjetivo: Estabelecer o primeiro contato com o gênero textual. Procedimentos: i. Conduzir os estudantes até a biblioteca da escola. ii. Orientá-los a escolher gibis, conforme o título que mais chamar a atenção e fazerem a leitura. iii. Promover um momento de socialização, no qual cada estudante contará de forma resumida a história lida.Recursos: Gibis Tempo previsto: 1 aula (50 minutos)

2 Sensibilização para as atividades Objetivo: Sensibilizar os estudantes para leitura e escrita de HQs na escola. Procedimentos: i. Estabelecer uma roda de conversa com os estudantes, perguntando se eles costumam ler HQs, com que frequência fazem isso e onde? ii. Perguntar quais critérios utilizam para identificar uma história em quadrinho e se acreditam que atividades envolvendo este gênero textual podem contribuir para a formação leitora deles, justificando a opinião. iii. Explicar aos alunos que, visando produzir uma coletânea de HQs criadas por alunos da escola, eles estarão desenvolvendo atividades voltadas para este gênero, a fim de que entendam melhor este gênero e possam produzir seus textos. iv. Distribuir para os estudantes a cópia do conto fabuloso “A verdadeira história dos três porquinhos”. v. Solicitar que façam a leitura e identifiquem as principais diferenças entre o texto lido e a história que eles conhecem, a partir dos seguintes questionamentos: Quais as consequências da história estar sendo narrada pelo lobo? Se fosse narrada por um dos porquinhos, a história seria a mesma? Recursos: fotocópia dos textos.Tempo previsto: 1 aula (50 minutos)

3 Comparação de textos Objetivo: Estabelecer a diferença entre um texto em prosa e uma HQ.Procedimentos: i. Apresentar para os estudantes a HQ “Cascão – Os 3 Porquinhos”, de Maurício de Sousa. ii. Fazer uma leitura coletiva, cada pessoa lê um quadrinho. iii. Estabelecer uma conversa informal sobre o texto lido, indicando quais os aspectos que mais chamaram atenção. iv. Perguntar aos estudantes quais as diferenças percebidas entre o conto lido na aula anterior e o quadrinho em estudo. A diferença se dá apenas na forma como a história é contada? E a estética do texto, em que se diferenciam? v. Em seguida, propor uma interpretação escrita do texto, estabelecendo um paralelo entre o conto e a HQ. vi. Correção da interpretação escrita. Recursos: fotocópias Tempo previsto: 2 aulas (100 minutos)

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TÓPICO 3 | O TEXTO E A COMBINAÇÃO

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4 Caracterizando a história em quadrinhosObjetivo: Identificar as características textuais da história em quadrinhos.Procedimentos: i. Distribuir uma apostila-resumo sobre as características da história em quadrinhos. ii. Fazer a leitura com os estudantes e estimulá-los a identificar os elementos textuais (legenda, balão, expressão fisionômica etc.) na história em quadrinhos lida na aula anterior. Recursos: Texto da aula anterior e apostilaTempo previsto: 1 aula

5 Compreendendo as variedades linguísticas Objetivo: Compreender e respeitar as variedades linguísticas. Procedimentos: i. Levar tirinhas de Chico Bento para a sala de aula. ii. Conversar com os estudantes sobre os personagens da tirinha. Já conhecem? Qual a característica marcante? iii. Junto com os estudantes, identificar na tirinha palavras ou expressões que fogem da norma padrão, esclarecendo os fatores que propiciam a existência da variedade linguística. iv. Sensibilizar os estudantes para o respeito à variedade linguística, explicando que nenhuma variedade é superior a outra, embora alguma seja mais adequada que outra em determinadas situações. v. Propor uma entrevista para ser realizada em casa com familiares, vizinhos etc., sobre o preconceito linguístico.Recursos: fotocópiasTempo previsto: 1 aula

6 Discutindo o preconceito linguísticoObjetivo: Socializar as entrevistas, identificando os pontos em comum, respeitar as variações, evitando o preconceito linguístico.Procedimentos: i. Com a turma organizada em semicírculo, incentivar os estudantes a socializarem as entrevistas. ii. Identificar com eles expressões próprias da linguagem popular. Estabelecer os seguintes questionamentos: Vocês já usaram ou já ouviram alguém usando? A que expressão da norma padrão elas correspondem? Qual a sua opinião sobre as pessoas que tratam com deboche aqueles que falam de um jeito diferente? iii. Esclarecer para os estudantes que a atitude de criticar os que usam uma linguagem diferenciada constitui um preconceito linguístico. Não existe uma língua superior a outra, mas devemos dar conta da linguagem padrão, visto que em algumas situações do cotidiano ela é exigida.Recursos: Lousa, pincelTempo previsto: 1 aula

7 Analisando vídeosObjetivo: Analisar os vídeos, verificando os diferentes valores entre quem mora no campo e quem mora na cidade.Procedimentos: i. Sensibilizar a turma para apreciação dos vídeos. ii. Exibir os vídeos “Na roça é diferente” e “Chico Bento na roça”. iii. Estimular os estudantes a explicitarem o que mais chamou atenção no vídeo (linguagem,

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ambiente, modo de vida, valores). iv. Discutir com os estudantes as diferenças de valores sociais, culturais entre os moradores do campo e os moradores da cidade, mostrando como elas interferem no nosso estilo de vida.Recursos: Projetor multimídia, notebook, pen-drive.Tempo previsto: 1 aula

8 Produzindo a história em quadrinhos Objetivo: Fazer uma transposição textual, transformando um conto fabuloso numa história em quadrinhos.Procedimentos: i. Distribuir o livro “Um porco vem morar aqui” (conto fabuloso), de Cláudia Fries. ii. Fazer a leitura coletiva com os estudantes, refletindo as atitudes preconceituosas de cada animal presente na obra quanto ao novo vizinho (o porco). iii. Ressaltar a importância de não julgar as pessoas, sem conhecê-las, mostrando que, mesmo diferentes, cada ser tem características positivas e negativas. iv. Distribuir papel ofício para os estudantes e solicitar que façam a transposição textual, transformando o conto lido em história em quadrinhos. v. Chamar a atenção para a necessidade de fazer uso dos elementos estruturais e gráficos da HQ (balão, legenda, onomatopeia etc.) Recursos: Livro, papel ofício, lápis Tempo previsto: 1 aula

9 Revisando a produção textual Objetivo: Verificar se o texto atende aos pré-requisitos da HQ, fazendo os devidos ajustes através da reescrita.Procedimentos: i. Propor que os estudantes troquem entre si as suas produções textuais. ii. Pedir que sinalizem no texto do colega os possíveis erros para que sejam corrigidos. iii. Fazer a devolução dos textos para que o colega analise as correções e faça a reescrita, inclusive colorindo os quadrinhos. iv. Recolher os textos dos alunos para que sejam encadernados e posteriormente divulgados e publicados na biblioteca da escola.Recursos: Papel ofício, caneta, lápis de corTempo previsto: 2 aulas

FONTE: SANTOS, Elane et al. A sequência didática como faclitadora do ensino de leitura e escrita a partir de gêneros textuais. Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos. Cadernos do CNLF, Vol. XVII, n. 3 - Minicursos e Oficinas. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2013.

O incentivo, o elogio e a curiosidade são grandes aliados nestas horas. Lembre-se de que eles têm dúvidas, e cabe a você fazer com que eles as esclareçam. A atividade de produção textual, quando acompanhada, faz sentido para os alunos. Assim, eles entenderão porque devem escrever e de que forma devem escrever.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você viu que:

• Estamos rodeados por textos de todos os gêneros.

• O texto é o princípio básico da comunicação.

• O texto sempre será escrito com alguma finalidade (de alguém, para alguém que está em determinado lugar, em determinado contexto).

• A coerência é o princípio básico da produção textual e é ela que articula as ideias.

• A coesão é o uso adequado dos conectores textuais.

• O texto é um conjunto de palavras com sentido.

• Cada texto possui um objetivo específico.

• Há cinco tipos textuais (descrição, dissertação, narração, injunção e exposição). Por outro lado, há um número ilimitado de gêneros textuais.

• Para ser um bom escritor é necessário ser um bom leitor.

• O trabalho a partir de gêneros textuais proporciona o trabalho interdisciplinar.

• Existem alguns fatores que interferem na compreensão e/ou interpretação da mensagem que o texto quer transmitir: o conhecimento prévio do assunto a ser abordado, a ambiguidade e a polissemia são exemplos.

• Ambiguidade ocorre quando um texto apresenta possibilidade de dupla interpretação.

• Polissemia é quando uma mesma palavra é empregada com diferentes significados, de acordo com o contexto.

• O texto é um grande aliado na prática interdisciplinar.

• O ponto de partida para o preparo de um trabalho interdisciplinar a partir de textos deve ser a realidade do aluno.

• A situacionalidade é o fator responsável pela situação comunicativa.

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• A informatividade é o fator que analisa a importância das informações a serem transmitidas por determinado texto.

• A focalização tem relação com o conhecimento partilhado, ou seja, de acordo com o leitor o texto poderá ser compreendido de diferentes maneiras.

• A intertextualidade trata da interferência de outros textos na produção.

• A intencionalidade é a intenção que temos ao escrever e a relevância, conforme o nome já diz, refere-se à importância da temática.

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1 Reescreva a frase a seguir de modo que ela não fique ambígua:

“A mãe pediu à filha que arrumasse o seu guarda-roupas.”

2 A partir das frases a seguir, explique o conceito de polissemia.

A manga da camiseta manchou com a tinta. e

Bebi um delicioso suco de manga no quiosque.

3 (ENEM – 2003) Observe a imagem e o texto a seguir:

FONTE: Operários, 1933, óleo sobre tela, 150x205 cm, (P122), Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo

“Desiguais na fisionomia, na cor e na raça, o que lhes assegura identidade peculiar, são iguais enquanto frente de trabalho. Num dos cantos, as chaminés das indústrias se alçam verticalmente. No mais, em todo o quadro, rostos colados, um ao lado do outro, em pirâmide que tende a se prolongar infinitamente, como mercadoria que se acumula, pelo quadro afora”.

(Nádia Gotlib. Tarsila do Amaral, a modernista.)

O texto aponta no quadro de Tarsila do Amaral um tema que também se encontra nos versos transcritos em:

a) “Pensem nas meninas/ Cegas inexatas/ Pensem nas mulheres/ Rotas alteradas.” (Vinícius de Moraes)

b) “Somos muitos severinos/ iguais em tudo e na sina:/ a de abrandar estas pedras/ suando-se muito em cima.” (João Cabral de Melo Neto)

c) “O funcionário público não cabe no poema/ com seu salário de fome/ sua vida fechada em arquivos.” (Ferreira Gullar)

d) “Não sou nada./ Nunca serei nada./ Não posso querer ser nada./ À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.” (Fernando Pessoa)

e) “Os inocentes do Leblon/ Não viram o navio entrar (...)/ Os inocentes, definitivamente inocentes/ tudo ignoravam,/ mas a areia é quente, e há um óleo suave que eles passam pelas costas, e aquecem.” (Carlos Drummond de Andrade)

AUTOATIVIDADE

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UNIDADE 2

GÊNEROS E TIPOLOGIAS TEXTUAIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

Ao final desta unidade, você será capaz de:

• saber diferenciar os tipos textuais, bem como analisá-los;

• conhecer as principais características linguísticas dos textos;

• compreender o uso dos diferentes gêneros textuais relacionados à esfera comercial.

Esta unidade de ensino contém três tópicos. No final de cada um deles, você encontrará atividades que contribuirão para a apropriação dos conteúdos.

TÓPICO 1 – A TIPOLOGIA TEXTUAL: PRÁTICA E ANÁLISE DOS DIFERENTES TIPOS DE TEXTOS

TÓPICO 2 – CARACTERÍSTICAS LINGUÍSTICAS DOS TEXTOS

TÓPICO 3 – OS GÊNEROS DA ESFERA COMERCIAL

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TÓPICO 1

A TIPOLOGIA TEXTUAL: PRÁTICA E ANÁLISE DOS DIFERENTES

TIPOS DE TEXTOS

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Olá, acadêmico. A partir desta unidade, mais especificamente neste tópico, estudaremos de modo mais aprofundado os tipos textuais e os gêneros. Ao longo desta etapa de seus estudos você conhecerá as principais características e compreenderá o funcionamento de cada um dos tipos textuais. A partir desta análise, você compreenderá que cada um possui determinada função dentro da língua portuguesa.

O conhecimento das características que constituem os tipos textuais dá ao autor a possibilidade de deixar mais claras as suas intenções ao escrever o texto. Desejamos a você uma ótima jornada de estudos!

2 TEXTO NARRATIVO

Quem nunca ouviu ou contou uma história? Seja na escola, no ambiente familiar ou entre amigos, sempre ouvimos e contamos histórias. Quando realizamos esta ação, estamos narrando algo, ou seja, mesmo que informalmente, estamos produzindo um texto narrativo. De acordo com Andrade e Medeiros (2001), a narrativa estrutura-se em quatro fases. A primeira é a criação da expectativa, ou seja, o momento no qual são apresentados o espaço, o tempo, os personagens. Em seguida, há a quebra da expectativa, que é, conforme Andrade e Medeiros (2001), resultado da movimentação dos personagens. A terceira fase é a tentativa de resolução do conflito, que busca solucionar o problema do enredo, e a avaliação constitui a última fase, que é uma lição de moral ou uma conclusão acerca do que ocorreu ao longo da narrativa.

A narrativa também é composta por elementos, e para que possamos compreender melhor o que é o texto narrativo e o que o caracteriza como tal, os estudaremos a partir de agora. Os elementos da narrativa dividem-se em narrador, personagens, tempo, espaço e enredo. Vamos conhecê-los em detalhes?

a) Narrador: é aquele que conta a história. O narrador pode ser onisciente neutro, onisciente intruso ou personagem.

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UNIDADE 2 | GÊNEROS E TIPOLOGIAS TEXTUAIS

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O narrador onisciente neutro conhece o que se passa na história, porém, não participa diretamente dela. Conhece as ações, mas não tão intimamente. De acordo com Andrade e Medeiros (2001, p. 149), “[...] a neutralidade do narrador onisciente é aparente, visto que todo discurso é ideológico, manifesta um ponto de vista a respeito dos fatos”. Veja o exemplo de um trecho cujo narrador é onisciente neutro. Neste exemplo, não há fala de personagens e o narrador não emite opiniões acerca do que está ocorrendo, o que o caracteriza como onisciente neutro:

Já era dia quando os irmãos decidiram voltar para casa. O trajeto era longo, mas eles permaneceram acordados, conversando e mantiveram-se atentos ao caminho. Quando chegaram em casa, a mãe aflita ainda os esperava acordada.

O narrador onisciente intruso conhece a história muito bem. Utiliza a narrativa em terceira pessoa, mas narra também em primeira pessoa, sendo que sua voz é, às vezes, confundida com as dos personagens. O narrador onisciente intruso aparece onde deseja na trama. Ele pode fazer comentários acerca da trama com prazer e da forma como desejar. Andrade e Medeiros (2001) afirmam que, por vezes, o narrador onisciente intruso emite opiniões acerca dos fatos que estão sendo narrados. Quincas Borba, de Machado de Assis, é um bom exemplo de narrador onisciente intruso. Observe e veja como há mistura dos dois discursos na narração:

“Rubião conheceu-o também; e respondeu-lhe que não era nada. Capturara o rei da Prússia, não sabendo ainda se o mandaria fuzilar ou não; era certo, porém, que exigiria uma indenização pecuniária enorme, - cinco bilhões de francos. Ao vencedor, as batatas! - concluiu rindo” (ASSIS, 1891, p. 157).

Já o narrador personagem participa da história que está contando, ou seja, ele narra sua própria história. Segundo Andrade e Medeiros (2001, p. 150),

A narrativa em primeira pessoa não significa que o narrador seja a personagem principal dos acontecimentos. Contudo, como ele também participa da história, é possível perceber que a análise fica impregnada de subjetividade. Tudo o que disser será como participante e não alcançará a objetividade que alguns relatos requerem.

O narrador personagem conhece, portanto, de maneira limitada o restante do enredo, pois participa dele. Observe o exemplo e perceba que o narrador apenas conta o que ele está vivendo, sem saber o que se passa no restante do enredo.

Estava eu imersa em meus pensamentos, lendo minhas anotações, quando fui violentamente despertada pelo grito ensurdecedor. Quando voltei a mim, não me dei conta da situação. Apenas lembrei-me de correr para o quarto de minha mãe, que dormia.

b) Personagem: é aquele que compõe a história que está sendo narrada. De acordo com Andrade e Medeiros (2001), os personagens dividem-se em: a) protagonista, que é o herói, ou a figura de maior importância dentro da narrativa; b) antagonista, que se opõe ao protagonista, ou seja, o vilão; c) narrador, que é aquele cuja responsabilidade é apresentar os fatos; d) e as personagens secundárias, que têm pouco relevo na narrativa. Há também os coadjuvantes e figurantes.

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Os personagens principais são fundamentais para o desenrolar da narração. O protagonista é aquele que deseja algo, que tenta. É, geralmente, o personagem principal “bonzinho” da história. Já o antagonista é aquele que atrapalha os planos, que dificulta. É o personagem “malvado” da história. Já os personagens secundários ocupam espaços de menor destaque nas narrativas, sendo divididos em coadjuvantes, que sempre participam junto ao personagem principal em cenas de menos destaque, e figurantes, que ajudam na caracterização de um determinado ambiente.

Pode-se analisar os personagens a partir das características psicológicas (feliz, triste, mau, bom, deprimido, vingativo) e físicas (alto, gordo, ruivo, moreno, de estatura mediana, belo, de olhos luminosos). Nem sempre essas características são explicitadas pelo narrador. Muitas vezes, elas podem estar implícitas e serem descobertas a partir de atitudes do personagem em questão.

c) Tempo: é o tempo de duração de cada uma das cenas da narrativa. Marca também o momento em que ela se passa. O tempo pode ser cronológico (horas, dias, meses, anos) ou psicológico (lembranças dos personagens). Os verbos, segundo Andrade e Medeiros (2001), são fundamentais para o desenvolvimento da narração, pois é a partir do jogo presente/passado/futuro que a consciência narrativa se desenvolve.

Leia o excerto a seguir: “Eram duas da tarde de sexta-feira quando o trem partiu. Aquela tarde morna de novembro trazia muitas lembranças, como o cheiro de café que minha avó fazia no fogão à lenha”. No excerto, há a descrição do tempo cronológico (duas da tarde de sexta-feira) e do tempo psicológico (aquela tarde morna de novembro trazia muitas lembranças).

d) Espaço: é o local no qual a narração ocorre. É onde se passa a história. O espaço pode ser físico: “No quarto, a anfitriã arrumava-se para a festa”; psicológico: “O menino viajava em seus pensamentos enquanto a mãe ordenava que ele se aprontasse”; e social: “Por entre os convidados, ele sentia-se perdido”. De acordo com Andrade e Medeiros (2001), não é necessário descrever minuciosamente o local, a não ser que isso seja fundamental para que se compreenda o enredo da trama.

e) Enredo: é a história em si. É a ação vivida pelos personagens e narrada pelo narrador. As ações ocorrem, geralmente, de forma sucessiva e ordenada.

Há também, dentro da narrativa, os tipos de discurso. São eles o discurso direto, o discurso indireto e o discurso indireto livre. Observe as diferenças entre cada um dos tipos de texto apresentados. A partir deles, explicaremos os tipos de discurso.

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Texto 1Durante a reunião, o funcionário questionou:- Quando teremos acesso às novas planilhas de gestão?Nervoso com a interrupção, o gerente respondeu:- Assim que estiverem prontas, as disponibilizaremos.

Texto 2 Durante a reunião, o funcionário perguntou quando teriam acesso às novas

planilhas de gestão. O gerente, nervoso com a interrupção, respondeu que, assim que estiverem prontas, eles as disponibilizarão.

Texto 3Durante a reunião, o funcionário perguntou quando teriam acesso às novas

planilhas de gestão. – Assim que prontas, as disponibilizaremos – disse o gerente, nervoso com a interrupção.

O Texto 1 está escrito no discurso direto. Este tipo de discurso ocorre quando o próprio personagem fala, ou seja, o que está escrito é a transcrição do que o personagem disse. Observe que há uso de travessão e que não há interferência do narrador. Já o Texto 2 está escrito em discurso indireto. Neste caso, o narrador reproduz a fala do personagem com suas próprias palavras. A narração em discurso indireto ocorre em terceira pessoa. O Texto 3, por fim, está escrito em discurso indireto livre, que nada mais é do que uma mistura do discurso direto com o discurso indireto. Este tipo de narração permite que o personagem fale e ao mesmo tempo que haja a interferência do narrador na fala.

A narrativa, assim como os demais tipos textuais, é dividida em introdução, desenvolvimento e conclusão. A introdução situa o leitor quanto ao assunto que será abordado. Nela, já são especificados o tempo, o espaço e os personagens começam a ser apresentados. No desenvolvimento ocorrem os conflitos, o desenrolar do enredo e o clímax, que consiste na etapa mais tensa da história. A conclusão é o desfecho da história. É a parte na qual o conflito é solucionado e a história ganha um fim (ANDRADE; MEDEIROS, 2001). Veja a seguir o exemplo:

Além do espelho, lembranças

Um dia, quando encerrava meu trabalho, fixei a atenção em um simples objeto de minha sala. Caminhei, paulatinamente, ao seu encontro e, à medida que me aproximava, sentia meu ego explodir em sensações indescritíveis.

Ali, diante dele, parei. Meu reflexo testemunhava as marcas do passado e trazia à tona as lembranças da infância e da adolescência. As imagens, agora, misturavam-se, comprometendo minha lucidez. Senti meu corpo flutuar e minha visão apagar-se, de forma que eu me concentrava em recordações, apenas.

Assim, momentos depois, revia meus irmãos e vizinhos correndo em volta da mesa, mamãe fazendo o jantar, papai lendo o jornal, os cães brincando no jardim e, também, meus amigos de colégio, antigos casos amorosos.

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Recuperei o bom senso, por um instante, mas não durou mais que isso, pois, novamente, brotam outros pensamentos: o nascimento dos filhos e a ascensão profissional.

Minutos depois, tudo acabara. Diante de mim havia só um espelho, cujo reflexo já não era de um cenário fantasioso de minha mente.

FONTE: MEDEIROS, Luana. <https://www.algosobre.com.br/redacao/narracao-com-exemplos.html>. Acesso em: 10 set. 2016.

O primeiro parágrafo do texto constitui a introdução, ou seja, a etapa na qual a autora explica do que tratará o texto. O segundo, terceiro e quarto parágrafos constituem o desenvolvimento do texto. Ali são apresentadas as informações principais da narrativa, inclusive o clímax, que é o ponto máximo da história. Na conclusão, que está no último parágrafo, ocorre o desfecho. Ali se soluciona o problema exposto no desenvolvimento da narrativa.

A partir de agora, estudaremos outro tipo textual, o descritivo, cujos detalhes você estudará conosco a partir de agora. Preparado? Então vamos lá!

3 TEXTO DESCRITIVO

Descrever. Este é o verbo que caracteriza o texto descritivo. Observe o texto que segue:

Na praia, vimos um belo pássaro. Ele era grande, acinzentado. Com patas grandes, que se destacavam do restante do corpo. Seu bico, curvado e longo, era interessante de se observar. O pássaro voava com as asas abertas em círculos e, de vez em quando, vinha ao chão, mas por pouco tempo. Andava de um lado para outro, e logo levantava voo. Depois de um tempo, descobrimos que o pássaro era uma bela gaivota.

Você deve ter observado que há muitas características sobre o pássaro no texto. Isso ocorre porque ele se classifica como um texto descritivo, e possibilita ao autor descrever uma pessoa, um animal, um objeto. Ele transmite, a partir do olhar de quem escreve, as impressões acerca do que está sendo descrito, e pode revelar aspectos físicos e psicológicos.

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Quanto mais detalhado for o texto descritivo, melhores serão as chances de alcançar os objetivos pretendidos com ele. Por exemplo: imagine uma pessoa com os olhos vendados ouvindo a seguinte descrição:- O carro é preto e grande. Agora, imagine a mesma pessoa com os olhos vendados ouvindo a seguinte descrição:- O carro é da marca Ford, tipo Fusion, ano e modelo de fabricação 2012. De grande

porte, possui quatro portas laterais e uma traseira. É de cor preta brilhante, sendo seus bancos em couro também preto. No carro, cabem cinco pessoas. O carro não é novo, mas é bem cuidado.

Perceba que, na segunda descrição, há possibilidade de se chegar mais próximo à imagem real do veículo.

UNI

De acordo com Travaglia (2002), as características de um texto descritivo são inúmeras, portanto, citaremos aqui as mais relevantes. Inicialmente, pode-se afirmar que o texto descritivo não possui relação de anterioridade e posterioridade nas frases. Há uso predominante de substantivos e adjetivos, pois como o texto visa fornecer um “retrato verbal”, é necessário que haja esta especificação. No texto utilizado no UNI há vários substantivos, como portas, bancos, cor, acompanhados dos adjetivos laterais, de couro e preta.

A descrição pode, também, de acordo com Schneuwly e Dolz (2004), ser classificada como subjetiva ou objetiva. No caso da descrição subjetiva, as impressões do autor estão claramente expostas, enquanto na descrição objetiva não: a descrição é exata e não há atribuição de juízos de valor. Vamos ver um exemplo de cada?

O homem era alto, aproximadamente 1,70m. Pele morena-clara. Cabelos encaracolados, acima do ombro, pretos. Olhos castanho-escuros e cicatriz abaixo do olho esquerdo. O homem vestia casaco azul marinho de moletom e calça jeans desbotada, com o joelho direito rasgado. Chinelos de dedo de cor preta.

Que tipo de descrição você acha que é esta? Acertou quem disse objetiva. Aqui, estão sendo dadas informações precisas acerca de um determinado homem. Não são expostas as impressões do autor do texto. Agora, observe a descrição do mesmo homem:

O homem era alto e moreno. Pele ressecada pelo vento, cabelos lindos, encaracolados, que lhe cobriam a nuca. Seus olhos eram da cor da madeira, e uma marca no olho mostrava que, no passado, ele lutou. Sua roupa descrevia sua humildade: casaco, calça rasgada e chinelos de dedo.

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Neste caso, foi feita a descrição do mesmo homem, porém, aqui estão colocadas as impressões do autor. Em uma descrição rica em detalhes, podem aparecer características de ambos os tipos de descrição. Este recurso a torna mais completa e facilita o alcance do objetivo proposto.

Observe o quadro a seguir, baseado nos estudos de Marcuschi (2002):

QUADRO 3 - DESCRIÇÃO

FONTE: Marcuschi (2002)

Descrição objetiva Descrição subjetivaExata SubjetivaDescreve a realidade Descreve a impressão do autorNão expõe opiniões Rica em impressões pessoaisLinguagem clara e direta Linguagem rebuscada e emocionalLinguagem denotativa Linguagem figurada/metafórica

Há ainda a descrição sensorial, que desperta no leitor sensações visuais (saia curta, tecido listrado, blusa florida), auditivas (buzina ensurdecedora, mulher barulhenta, quarto silencioso), gustativas (rapadura doce, bebida amarga, arroz salgado), olfativas (odor agradável, esgoto fétido) ou táteis (coberta macia, pele áspera).

Assim como cada tipologia caracteriza-se por exercer uma função social específica (TRAVAGLIA, 1991), a descrição também possui suas funções. Devemos saber utilizar corretamente cada um dos tipos de descrição no momento específico de interação, por exemplo, descrever uma pessoa pela qual nós sentimos afeto não é o mesmo que descrever uma pessoa para a elaboração de um retrato falado.

4 TEXTO DISSERTATIVO

Vamos lá, acadêmico! Você já estudou dois dos cinco tipos textuais, que, de acordo com Travaglia (1991), definem-se como aqueles que podem instaurar um modo de interação, de acordo com perspectivas que podem variar. Que tal estudarmos mais um deles?

Dissertar, de acordo com Houaiss (2012, p. 249), significa “expor algum assunto de modo sistemático, abrangente e profundo, oralmente ou por escrito; discorrer, discretear”. A dissertação é, portanto, um texto que expõe. Este tipo de texto pode ainda subdividir-se em dissertação-exposição ou dissertação-argumentação (abordaremos mais especificamente a seguir).

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4.1 DISSERTAÇÃO-EXPOSIÇÃO

A dissertação-exposição, conforme o nome já nos sugere, expõe temas que estejam sendo veiculados e discutidos amplamente na mídia. Os fatos são apenas apresentados, não havendo uma discussão acerca do que está sendo abordado. Isso ocorre porque, como os fatos são conhecidos por todos, pois já foram divulgados através dos veículos de comunicação, não há muito a ser argumentado. A seguir, apresentamos um excerto de uma dissertação-exposição.

Os Relatórios das Organizações das Nações Unidas (ONU) sobre a gestão e desenvolvimento dos recursos hídricos alertam para a preservação e proteção dos recursos naturais do planeta, sobretudo da água. Sendo assim, as estatísticas apontam para uma enorme crise mundial da falta de água a partir de 2025, de forma que atingirá cerca de 3 bilhões de pessoas, e que pode provocar diversos problemas sociais e de saúde pública.

Um dos maiores problemas apresentados pela ONU é a “escassez de água” que já atinge cerca de 20 países no mundo, ou seja, 40% da população do planeta. Os estudos completam que a água doce do planeta está em risco, visto as mudanças climáticas registradas nas últimas décadas.

FONTE: <http://www.todamateria.com.br/texto-dissertativo/>. Acesso em: 1º jun. 2016.

Observe que, no fragmento, não há discussão do assunto. Apenas é exposto do que se trata, de forma a apresentar os dados/fatos. Este excerto deixa claro que a intenção do texto é apenas informar o leitor, não abrindo possibilidade para que haja discussão do que está sendo exposto.

4.2 DISSERTAÇÃO-ARGUMENTAÇÃO

Agora, observe a diferença que há na composição de uma dissertação-argumentação: enquanto a dissertação-exposição apenas expõe, a dissertação-argumentação nos leva a refletir mais acerca do tema que está sendo abordado. Seu principal foco é formar a opinião do leitor. Este tipo de texto abre para uma discussão maior, sendo que argumentos são desenvolvidos para defender a ideia exposta. Observe a seguir um exemplo de dissertação-argumentação:

É frequente ouvirmos falar sobre os atos violentos na escola. Não bastasse a sua presença nas ruas, os ambientes supostamente seguros - nomeadamente as escolas - são mais do que nunca alvo de ações de violência.

Os valores se perdem a ponto de não só entre alunos, mas entre alunos e professores, ou vice-versa, serem inúmeros os casos de agressões noticiados frequentemente.

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A força é tomada em detrimento da razão e os conflitos são resolvidos de forma irracional desde a infância, cujas crianças absorvem cedo esse tipo de comportamento por influência da sociedade cada vez mais violenta em que vivemos.

A participação dos pais na vida escolar dos filhos é fundamental para estabelecer normas e restaurar valores que vêm se perdendo. A aproximação entre pais e escola é um dos principais propulsores para a mitigação desse problema.

FONTE: <https://www.todamateria.com.br/texto-dissertativo-argumentativo/>. Acesso em: 11 set. 2015.

O texto, além de expor o problema dos atos violentos na escola, ainda emite a opinião do autor sobre os motivos que causam estes atos violentos. Utiliza-se de argumentos para fazer com que o leitor compreenda seu ponto de vista, classificando-se, portanto, como uma dissertação-argumentação.

DICAS

Para escrever bem uma dissertação argumentativa, deve haver planejamento para que os argumentos sejam coerentes e para que as opiniões expostas não se excedam. Buscar exemplos, provas e fatos concretos sempre é útil na hora de elaborar um argumento.

5 TEXTO INJUNTIVO

O tipo textual injuntivo tem por intenção, de acordo com Duarte (2015), orientar e, em alguns casos, ordenar, sendo marcado pelo caráter instrucional. No gênero injuntivo, podemos citar como exemplos a bula de medicamentos, o manual de instruções, textos de autoajuda e outros textos que tenham como finalidade a orientação acerca de como utilizar algum produto, montar algum objeto ou manusear algum eletrônico ou, ainda, de como agir em determinada situação.

Em cartazes de conscientização também é comum encontrarmos a tipologia injuntiva. Veja a tira a seguir:

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UNIDADE 2 | GÊNEROS E TIPOLOGIAS TEXTUAIS

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FIGURA 16 – DICA PARA COMBATER O MOSQUITO AEDES AEGIPTY

FONTE: <www.pmsmj.es.gov.br>. Acesso em: 3 jun. 2016.

Neste caso, o texto injuntivo está posto como um pedido em forma de conscientização. Note que os verbos no imperativo estão presentes em cada uma das instruções dadas (guarde, entregue, coloque, mantenha). O uso de vocativos também aparece no texto injuntivo. Observe o exemplo a seguir:

Você Mesmo

Lembre-se de que você mesmo é o melhor secretário de sua tarefa, o mais eficiente propagandista de seus ideais, a mais clara demonstração de seus princípios, o mais alto padrão do ensino superior que seu espírito abraça e a mensagem viva das elevadas noções que você transmite aos outros. Não se esqueça, igualmente, de que o maior inimigo de suas realizações mais nobres, a completa ou incompleta negação do idealismo sublime que você apregoa, a nota discordante da sinfonia do bem que pretende executar, o arquiteto de suas aflições e o destruidor de suas oportunidades de elevação - é você mesmo.

FONTE: <www.refletirpararefletir.com.br/textos-do-chico-xavier>. Acesso em: 4 jun. 2016.

aquáticas

sabão

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TÓPICO 1 | A TIPOLOGIA TEXTUAL: PRÁTICA E

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A função do texto injuntivo vai além de informar, por isso, difere muito do texto jornalístico. Ele, além de informar, ensina, orienta, explica e não tem como objetivo convencer o leitor acerca de algo. Outra característica do texto injuntivo é que ele deve ser escrito em uma linguagem simples e direta, para que o leitor consiga compreender o que está escrito sem haver maiores problemas. Um manual de uma máquina de lavar, por exemplo, deve ser escrito levando em consideração que o leitor pode não ter conhecimento algum sobre instalação. Veja:

Manual de InstruçõesInstalação: Prefira sempre os serviços da Rede de Assistência Técnica

Brastemp para realizar desde a instalação até a manutenção de seus produtos com tranquilidade e segurança.1° passo: Veja se a tomada onde o produto será instalado tem o novo padrão

plugue, segundo o INMETRO.2° passo: Verifique se a tensão da rede elétrica no local de instalação é a mesma

indicada na etiqueta do plugue da sua lavadora.3° passo: Nunca altere ou use o cabo de força de maneira diferente da

recomendada. Se o cabo de força estiver danificado, chame a Rede de Serviços Brastemp para substituí-lo.

4° passo: Verifique se o local de instalação possui as condições adequadas indicadas no Manual do Consumidor:

- A pressão da água para abastecimento deve corresponder a um nível de 2 a 80 m acima do nível da torneira;

- Recomenda-se que haja uma torneira exclusiva para a correta instalação da mangueira de entrada;

- É obrigatória a utilização de uma torneira com rosca ¾ de polegada para a instalação da mangueira de entrada de água, a não utilização dela pode gerar vazamentos.

- A mangueira de saída deve ser instalada no tanque (utilizando a curva plástica) ou em um cano exclusivo para o escoamento, com diâmetro mínimo de 5 cm. O final da mangueira deve estar a uma altura de 0,85 a 1,20 m para o correto funcionamento da Lavadora.

Caso o local de instalação não tenha as condições adequadas, providencie as modificações, consultando um profissional de sua confiança.”

FONTE: <http://www.todamateria.com.br/texto-injuntivo/>. Acesso em: 3 jun. 2016.

Você conseguiu perceber a importância de um texto injuntivo? Então, vamos exercitar! Faça a autoatividade a seguir e até a próxima seção!

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UNIDADE 2 | GÊNEROS E TIPOLOGIAS TEXTUAIS

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AUTOATIVIDADE

Leia o texto a seguir e identifique as marcas ali presentes que o caracterizam como um texto injuntivo.

BOLO DE FELICIDADEIngredientes: 1 xícara de Amizade; 1 xícara de Paciência; 2 xícaras de Compreensão; 1 xícara de Humildade; 1 copo grande (transbordando) de Alegria; 1 pitada de Bom Humor; 1 colher de sopa de Fé. Modo de fazer: Mexa as palavras cuidadosamente, acrescente a Compreensão, a Humildade e a Paciência, misturando tudo com muito jeito. Use fogo brando, nunca ferva.Tempere com a Alegria, o Bom Humor e a Fé. Sirva porções generosas, sempre com muito Amor. Não deixe esfriar.

FONTE: <http://www.mulheresescritas.com/2015/08/bolo-da-felicidade.html>. Acesso em: 4 jun. 2016.

6 TEXTO EXPOSITIVO

Este tipo textual é escrito com a intenção de apresentar um conceito ou ideia. Colóquios, seminários, artigos, palestras podem ser inclusos nesta sequência tipológica de base. Como recursos linguísticos, geralmente o autor utiliza a definição, a comparação, a informação e a enumeração. Os textos expositivos podem classificar-se em expositivo-argumentativo e expositivo-informativo.

No texto expositivo-argumentativo, o autor busca teorias e outros autores para defender sua ideia e embasá-la. De acordo com Magalhães (2015), o texto expositivo argumentativo consiste em partir de uma afirmação e desenvolvê-la, tendo como foco apresentar um juízo claro acerca de determinado conteúdo. Já no texto expositivo-informativo, a intenção é apenas repassar informações, sem muitas argumentações e com o máximo de neutralidade possível. Neste tipo de texto, Magalhães (2005) afirma que é essencial que o autor possua total domínio do assunto, já que se trata de transmissão de conhecimento teórico. Veja a diferença entre ambos:

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TÓPICO 1 | A TIPOLOGIA TEXTUAL: PRÁTICA E

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Exemplo 1 - Texto expositivo-informativo:

A picada do mosquito Aedes aegypti tem demonstrado grande preocupação, uma vez que o aumento de mortes no país por motivo de dengue tem aumentado consideravelmente nos últimos meses. Para tanto, a melhor maneira de combater a doença é explorar a única arma: a prevenção. Dessa forma, projetos de conscientização têm alertado a população dos perigos da proliferação do mosquito e os métodos necessários para combater os focos de acúmulo de água nas casas, locais propícios para a proliferação do mosquito transmissor da doença.

Exemplo 2 - Texto expositivo-argumentativo:

O governo deve imediatamente proibir toda e qualquer forma de propaganda de cigarro, porque ele gasta, todos os anos, bilhões de reais no tratamento das mais diversas doenças relacionadas ao tabagismo; e, muito embora os ganhos com os impostos sejam vultosos, nem de longe eles compensam o dinheiro gasto com essas doenças.

FONTE: <http://educacao.globo.com/portugues/assunto/textoargumentativo/argumentacao.html>. Acesso em: 12 jul. 2016.

Observe que, no Exemplo 1, que traz um texto expositivo-informativo, há apenas informações acerca do tema, como orientações sobre como prevenir o mosquito, por exemplo. Não são dadas opiniões sobre o tema. Já o Exemplo 2 traz um texto expositivo-argumentativo, ou seja, podemos perceber que há ali uma opinião sobre o motivo pelo qual o governo deve proibir a propaganda de cigarros.

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UNIDADE 2 | GÊNEROS E TIPOLOGIAS TEXTUAIS

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LEITURA COMPLEMENTAR

VEJA QUATRO TÉCNICAS PARA VIRAR UM ESPECIALISTA EM INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

Carolina Vellei

Quantas vezes você já leu um texto e não entendeu nada do que estava escrito ali? Leu, releu e, mesmo assim, ainda ficou com um nó na cabeça? Eu mesma já fiquei assim muitas vezes! Pensando nisso, listamos quatro técnicas para fazer de você um mestre na interpretação! Depois disso, vai ficar fácil entender até os mais complexos manuais de instrução (ok, talvez nem tanto, mas você vai arrebentar no vestibular!).

Antes de tudo, vamos explicar como se dá o processo de interpretação. A hermenêutica, a área da filosofia que estuda isso, diz que é preciso seguir três etapas para se obter uma leitura ou uma abordagem eficaz de um texto:

a) Pré-compreensão: toda leitura supõe que o leitor entre no texto já com conhecimentos prévios sobre o assunto ou área específica. Isso significa dizer, por exemplo, que se você pegar um texto do 3º ano do curso de Direito estando ainda no 1º ano, vai encontrar dificuldades para entender o assunto, porque você não tem conhecimentos prévios que possam embasar a leitura.

b) Compreensão: já com a pré-compreensão ao entrar no texto, o leitor vai se deparar com informações novas ou reconhecer as que já sabia. Por meio da pré-compreensão, o leitor “prende” a informação nova com a dele e “agarra” (compreende) a intencionalidade do texto. É costume dizer: “Eu entendi, mas não compreendi”. Isso significa dizer que quem leu entendeu o significado das palavras, a explicação, mas não as justificativas ou o alcance social do texto.

c) Interpretação: agora sim. A interpretação é a resposta que você dará ao texto, depois de compreendê-lo (sim, é preciso “conversar” com o texto para haver a interpretação de fato). É formada então o que se chama “fusão de horizontes”: o do texto e o do leitor. A interpretação supõe um novo texto. Significa abertura, o crescimento e a ampliação para novos sentidos.

Sabendo disso, aqui vão quatro dicas para fazer com que você consiga atingir essas três etapas! Confira a seguir:

1) Leia com um dicionário por pertoNão existe mágica para atingir a primeira etapa, a da pré-compreensão.

O único jeito é ter um bom nível de leituras. Além de ler bastante, você pode potencializar essa leitura se estiver com um dicionário por perto. Viu uma palavra esquisita, que você não conhece? Pegue um caderninho (vale a pena separar um

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TÓPICO 1 | A TIPOLOGIA TEXTUAL: PRÁTICA E

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só pra isso) e anote-a. Em seguida, vá ao dicionário e marque o significado ao lado da palavra. Com o tempo o seu vocabulário irá crescer e não vai ser mais preciso ficar recorrendo ao dicionário toda hora.

2) Faça paráfrasesPara chegar ao nível da compreensão, é recomendável fazer paráfrases,

que é uma explicação ou uma nova apresentação do texto, seguindo as ideias do autor, mas sem copiar fielmente as palavras dele. Existem diversos tipos de paráfrase, só que as mais interessantes para quem está estudando para o vestibular são três: a paráfrase-resumo, a paráfrase-resenha e a paráfrase-esquema.– Paráfrase-resumo: comece sublinhando as ideias principais, selecione as

palavras-chave que identificar no texto e parta para o resumo. Atente-se ao fato de que resumir não é copiar partes, mas sim fazer uma indicação, com suas próprias palavras, das ideias básicas do que estava escrito.

– Paráfrase-resenha: esse outro tipo, além dos passos do resumo, também inclui a sua participação com um comentário sobre o texto. Você deve pensar sobre as qualidades e defeitos da produção, justificando o porquê.

– Paráfrase-esquema: depois de encontrar as ideias ou palavras básicas de um texto, esse tipo de paráfrase apresenta o esqueleto do texto em tópicos ou em pequenas frases. Você pode usar setinhas, canetas coloridas para diferenciar as palavras do seu esquema… Vai do seu gosto!

3) Leia no papelUm estudo feito em 2014 descobriu que leitores de pequenas histórias

de mistério em um Kindle, um tipo de leitor digital, foram significantemente piores na hora de elencar a ordem dos eventos do que aqueles que leram a mesma história em papel. Os pesquisadores justificam que a falta de possibilidade de virar as páginas pra frente e pra trás ou controlar o texto fisicamente (fazendo notas e dobrando as páginas) limita a experiência sensorial e reduz a memória de longo prazo do texto e, portanto, a sua capacidade de interpretar o que aprendemos. Ou seja, sempre que possível, estude por livros de papel ou imprima as explicações (claro, fazendo um uso sábio do papel, sem desperdícios!). Vale fazer notas em cadernos, pois já foi provado também que quem faz anotações à mão consegue lembrar melhor do que estuda.

4) Reserve um tempo do seu dia para ler devagarUma das maiores dificuldades de quem precisa ler muito é a falta de

concentração. Quem tem dificuldades para interpretar textos e fica lendo e relendo sem entender nada pode estar sofrendo de um mal que vem crescendo na população da era digital. Antes da internet, o nosso cérebro lia de forma linear, aproveitando a vantagem de detalhes sensoriais (a própria distribuição do desenho da página) para lembrar de informações-chave de um livro. Conforme nós aumentamos a nossa frequência de leitura em telas, os nossos hábitos de leitura se adaptaram aos textos resumidos e superficiais (afinal, muitas vezes você tem links em que poderá “ler mais” – a internet é isso) e essa leitura rasa fez com que a gente tivesse muito mais dificuldade de entender textos longos. Os especialistas

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UNIDADE 2 | GÊNEROS E TIPOLOGIAS TEXTUAIS

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explicam que essa capacidade de ler longas sentenças (principalmente as sem links e distrações) é uma capacidade que você perde se não a usar. Os defensores do slow-reading (em tradução literal, da leitura lenta) dizem que o recomendável é que você reserve de 30 a 45 minutos do seu dia longe de distrações tecnológicas para ler. Fazendo isso, o seu cérebro poderá recuperar a capacidade de fazer a leitura linear. Os benefícios da leitura lenta vão bem além. Ela ajuda a reduzir o estresse e a melhorar a sua concentração!

Depois de treinar bastante e ler muito, você estará pronto para interpretar os mais diversos tipos de texto! Mãos à obra!

FONTE: <http://guiadoestudante.abril.com.br/blogs/dicas-estudo/2015/03/13/veja-4-tecnicas-para-virar-um-especialista-em-interpretacao-de-texto/>. Acesso em: 12 jul. 2016.

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RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• O bom uso dos tipos textuais dá ao autor a possibilidade de deixar mais claras as suas intenções ao escrever o texto.

• O texto narrativo conta uma história.

• Os elementos da narrativa são narrador, personagens, tempo, espaço e enredo.

• O foco narrativo se divide em discurso direto e indireto.

• A narrativa é dividida em introdução, desenvolvimento e conclusão.

• No texto descritivo, o autor escreve suas impressões acerca do que está sendo descrito e revela aspectos físicos e psicológicos.

• A descrição pode ser também classificada como subjetiva ou objetiva.

• O texto dissertativo expõe um assunto e deve estruturar-se de forma coerente e coesa.

• O texto injuntivo tem por intenção orientar e, em alguns casos, ordenar, sendo marcado pelo caráter instrucional.

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AUTOATIVIDADE

1 Para responder a esta questão, leia atentamente o texto que segue:

Câncer 21/06 a 21/07O eclipse em seu signo vai desencadear mudanças na sua autoestima e no seu modo de agir. O corpo indicará onde você falha – se anda engolindo sapos, a área gástrica se ressentirá. O que ficou guardado virá à tona, pois este novo ciclo exige uma “desintoxicação”. Seja comedida em suas ações, já que precisará de energia para se recompor. Há preocupação com a família, e a comunicação entre os irmãos trava. Lembre-se: palavra preciosa é palavra dita na hora certa. Isso ajuda também na vida amorosa, que será testada. Melhor conter as expectativas e ter calma, avaliando as próprias carências de modo maduro. Sentirá vontade de olhar além das questões materiais – sua confiança virá da intimidade com os assuntos da alma.

Revista Cláudia. Nº 7, ano 48, jul. 2009.

O reconhecimento dos diferentes gêneros textuais, seu contexto de uso, sua função específica, seu objetivo comunicativo e seu formato mais comum relacionam-se com os conhecimentos construídos socioculturalmente. A análise dos elementos constitutivos desse texto demonstra que sua função é:

a) vender um produto;b) ensinar um procedimento;c) fazer humor;d) expor uma opinião;e) informar e aconselhar.

2 Leia o texto a seguir, identifique se ele é um texto expositivo-informativo ou expositivo-argumentativo e destaque no texto elementos que comprovem sua resposta.

O papel da televisão na vida dos jovens

A televisão difunde programas educativos edificantes, tais como o ZigZag, os documentários sobre história, ciências, informação sobre a atualidade, divulgação de novos produtos… Todavia, a televisão exerce também uma influência negativa, ao exibir modelos cujas características são inatingíveis pelas crianças e jovens em geral. As suas qualidades físicas são amplificadas, os defeitos esbatidos, criando-se a imagem do herói/heroína perfeitos. Esta construção produz sentimentos de insatisfação do eu consigo mesmo e de menosprezo pelo outro.

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A violência é outro aspeto negativo da televisão, em geral. As crianças e os jovens tendem a imitar os comportamentos violentos dos heróis, o que pode colocar em risco a vida deles. O mesmo acontece com o visionamento de cenas de sexo. As crianças formam uma imagem distorcida da sua sexualidade, potenciando a prática precoce de sexo e suscitando distúrbios afetivos.

Em jeito de conclusão, é legítimo que se imponha às estações de televisão uma restrição de exibição de material violento ou desajustado à faixa etária nas suas grelhas de programação, dado que a exposição a este tipo de conteúdos é extremamente prejudicial no desenvolvimento das crianças e dos jovens, pois, tal como diz o povo, “violência só gera violência”.

FONTE: <http://bastaexistirparasesercompleto.blogspot.com.br/2014/01/texto-expositivo.html>. Acesso em: 21 ago. 2016.

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TÓPICO 2

CARACTERÍSTICAS LINGUÍSTICAS

DOS TEXTOS

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Nesta etapa de estudos, você conhecerá quais são as principais características linguísticas dos textos e o que faz com que se classifiquem em determinados gêneros. Conforme já estudamos, dependendo da intenção de cada texto, são necessários alguns cuidados para que se consiga alcançar os objetivos propostos. Está pronto para estudar alguns dos gêneros textuais mais utilizados no dia a dia?

2 TEXTOS JORNALÍSTICOS

Todos nós, em algum momento de nossas vidas, já lemos um jornal impresso, assistimos a um pela televisão, ouvimos pelo rádio ou o lemos pela internet. Os jornais são veículos de comunicação muito presentes no dia a dia de todas as pessoas, pois sua função básica é comunicar. Através dos jornais, podemos saber o que ocorre na nossa comunidade, no nosso país e no restante do mundo.

Um jornal traz em seu conteúdo os mais diversos tipos de informações, que são divididas dentro das sessões. Geralmente, há a seção de esportes, diversão, humor, culinária, reportagens, página policial, utilidade pública e inúmeras outras sessões, dependendo do jornal. Cada uma destas sessões traz em si textos com características particulares. Contudo, embora haja no jornal inúmeros tipos de textos, o carro-chefe do jornal são os textos jornalísticos, que estudaremos a partir de agora.

Quanto ao uso da linguagem, Lage (2006a) compreende que é preciso pensar nela não apenas como código e domínio do idioma, especialmente no que se refere à utilização da norma culta, como descrevem os linguistas. A linguagem compreende todo o processo comunicacional. Andrade e Medeiros (2001) ainda contribuem afirmando que a linguagem deve ser simples para que a compreensão seja facilitada:

[...] a redação jornalística segue regra primordial de narrar o fato rapidamente e de forma simples, tendo sempre em vista que o essencial em comunicação é escrever de modo que se faça entender. Portanto, evitam-se o vocabulário raro, a linguagem rebuscada e de difícil entendimento (ANDRADE; MEDEIROS, 2001, p. 94).

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UNIDADE 2 | GÊNEROS E TIPOLOGIAS TEXTUAIS

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No que tange à ordem das informações apresentadas em um texto de cunho jornalístico, estas devem ser distribuídas de acordo com a relevância da informação para o momento ou para informar algum acontecimento recente (LAGE, 2006a). Vamos agora conhecer os principais gêneros textuais que se caracterizam como textos jornalísticos, bem como seus fatores de textualidade. Você está pronto?

2.1 A NOTÍCIA DE JORNAL

A notícia é o mais conhecido dos gêneros textuais relacionados ao jornalismo. Apesar de os gêneros jornalísticos como a notícia serem considerados essenciais para o ensino, Bonini (2003, p. 205) afirma que "[...] ainda são pouco conhecidos, em termos acadêmicos, os mecanismos linguísticos/sociais que caracterizam esses gêneros textuais". Muito comum em jornais impressos, televisivos, transmitidos via rádio e pela internet, é comum que já tenhamos lido ou ouvido notícias, mas será que conhecemos as características que as constituem? Andrade e Medeiros (2001, p. 104) afirmam que:

[...] para a publicação de uma notícia, leva-se em conta: proximidade do fato, impacto, proeminência, aventura, conflito, consequências, humor, raridade, sexo, idade, interesse pessoal. Interesse humano, importância, utilidade, oportunidade, suspense, originalidade, repercussão.

A informação (o que), a interpretação (por quê) e a opinião (juízos de valor) devem ser reconhecidas durante a divulgação de um fato noticioso. Usa-se, geralmente, a terceira pessoa para a redação da notícia, pois como há intenção apenas de relatar o que ocorreu, esta narração deve ser impessoal.

A notícia é estruturada em partes específicas: manchete, título auxiliar, lide (também chamado de lead) e corpo da notícia. A manchete é o título principal. Geralmente aparece em caixa alta e bem destacado do restante do texto. O título auxiliar vem em seguida, para especificar alguma informação que não foi dita na manchete. O primeiro parágrafo da notícia á chamado de lide e é nele que se encontram as principais informações acerca do fato que está sendo noticiado. Os parágrafos que seguem constituem o corpo da notícia e nele são dados maiores detalhes, de acordo com a relevância e com a necessidade de informá-los (ANDRADE; MEDEIROS, 2001). Veja a seguir:

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TÓPICO 2 | CARACTERÍSTICAS LINGUÍSTICAS

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Criança de dois anos é sequestrada em Salgueiro, no Sertão de PE

Possível sequestro foi realizado por mototaxista. Criança foi encontrada.

Uma criança de dois anos foi sequestrada na madrugada desta terça-feira (12), em Salgueiro, no Sertão de Pernambuco. Segundo a mãe da criança, uma cabeleireira de 24 anos, o crime foi praticado por um mototaxista.

Ainda de acordo com a mãe, o homem, de 33 anos, teria levado ela e o filho até a BR-116, deixando a mulher no local e seguindo com a criança. A mãe do menor de idade foi encaminhada para a Delegacia de Polícia Civil (PC), onde prestou depoimento.

A criança foi encontrada na manhã desta terça-feira. Segundo a PC, o mototaxista deixou a criança em um sítio na Zona Rural de Salgueiro, ligou para a família para avisar onde o menino estava e depois fugiu.

Ainda de acordo com a Polícia Civil, o suspeito prestava serviço de mototáxi à família há algum tempo. O menino de dois anos está com a família e está bem. A polícia segue investigando o caso.

FONTE: <http://g1.globo.com/pe/petrolina-regiao/noticia/2016/04/crianca-de-dois-anos-e-sequestrada-em-salgueiro-no-sertao-de-pe.html>. Acesso em: 27 maio 2016.

Nesta notícia, o lide, que é o primeiro parágrafo após a manchete, “Criança de dois anos é sequestrada em Salgueiro, sertão de PE”, traz as informações principais acerca do fato: o que (uma criança de dois anos foi sequestrada); quando (na madrugada desta terça-feira – 12); onde (em Salgueiro, no Sertão de Pernambuco); e por quem (pelo mototaxista). O título auxiliar, neste caso, resume o desfecho da história. Nos demais parágrafos são dadas informações adicionais, que são importantes, porém apenas revelam detalhes do ocorrido. Se o leitor lesse apenas o lide, já compreenderia do que se trata.

Cada jornal atinge um determinado público-alvo, o que faz com que sua estrutura seja direcionada a este determinado público. Por exemplo, a notícia lida se trata de uma notícia de âmbito policial, ou seja, informa os leitores acerca de um sequestro. Certamente, ela interessará mais a pessoas adultas, que procuram manter-se informadas acerca dos acontecimentos da região e do mundo. Veja esta outra notícia:

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UNIDADE 2 | GÊNEROS E TIPOLOGIAS TEXTUAIS

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FOOD TRUCKS PARA CRIANÇAS SÃO ATRAÇÃO EM SHOPPINGS DE SÃO PAULO

Dois shoppings de São Paulo resolveram aproveitar a onda dos restaurantes sobre rodas, os Food Trucks, para atrair crianças. Na última quinta (13) o Shopping Ibirapuera instalou em um de seus pisos o Food Park, um local com “caminhões” que só oferecem cupcakes. Mas os doces, na verdade, são gratuitos.

A brincadeira funciona assim: as crianças recebem um dinheiro fictício em um caixa de entrada e têm que optar por apenas uma das três opções do doce, de acordo com seu custo e benefício. A intenção, segundo a assessoria do shopping, é promover a educação financeira.

FONTE: <http://www1.folha.uol.com.br/folhinha/2015/08/1669001-food-trucks-para-criancas-sao-atracao-em-shoppings-de-sao-paulo.shtml>. Acesso em: 21 ago. 2016.

Neste caso, a notícia é direcionada a adultos que têm filhos ou convívio com crianças, pois o veículo no qual ela está publicada direciona-se a este público. A notícia possui linguagem simples e direta, com informações precisas e breves para que seu público consiga compreendê-la. De estrutura mais simples, ela apresenta apenas a manchete e o lide (que neste caso se constitui como corpo da notícia, já que é o único parágrafo).

A Folhinha de São Paulo é uma seção do jornal Folha de são Paulo dedicada a notícias relacionadas ao público infantil. Existem, hoje, vários outros jornais especificamente direcionados ao público infantil e adolescente, nos quais todas as notícias e reportagens são adaptadas ao seu linguajar.

UNI

2.2 ARTIGO DE OPINIÃO

Os artigos de opinião são gêneros textuais comumente encontrados em jornais e revistas. Hoje em dia, é muito comum encontrarmos textos cuja finalidade seja opinar em relação a algum assunto que esteja em alta na mídia, porém, o artigo de opinião possui algumas características específicas que o diferenciam de outros textos de cunho opinativo. Vamos conhecer quais são estas características?

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TÓPICO 2 | CARACTERÍSTICAS LINGUÍSTICAS

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Diferente da reportagem e da notícia, o artigo de opinião é escrito normalmente em primeira pessoa, já que o autor expõe seu posicionamento diante do tema que está sendo debatido. As opiniões e ideias defendidas em um artigo de opinião são de responsabilidade do seu autor, portanto, é necessária muita cautela na hora de escrever um texto desse gênero. Deve-se, antes de tudo, averiguar se as informações que se pretende defender são verdadeiras e se o texto não causará nenhum tipo de alusão ou preconceito.

É necessário, também, domínio do conteúdo para que se possa tecer um argumento coerente sobre ele. Faraco e Tezza (2001) reforçam a ideia de que sem conhecimento não se sustenta uma opinião ao afirmarem que a opinião requer provas ou argumentos. Para que o texto seja bom, os autores sugerem que se apresentem ambos os lados da versão e, em seguida, se defenda apenas um.

Quando se escreve um artigo de opinião, é necessário também, de acordo com Faraco e Tezza (2001), que o autor esteja ciente de que já existem outras pessoas com opiniões formadas acerca do que está sendo tratado e que estas opiniões devem ser levadas em consideração, ou seja, “em qualquer caso, ele assume um ponto de vista, que, é claro, vai se chocar com outros pontos de vista” (FARACO; TEZZA, 2001, p. 234).

No artigo de opinião, há alguns tipos de argumentos que devem ser utilizados para reforçar ainda mais a tese que está sendo defendida pelo autor. Vamos conhecê-los?

Tipos de argumento

Argumento de autoridade: No argumento de autoridade, o auditório é levado a aceitar a validade da tese ou conclusão defendida a respeito de certos dados, pela credibilidade atribuída à palavra de alguém publicamente considerado autoridade na área.

Argumento por evidência: No argumento por evidência, pretende-se levar o auditório a admitir a tese ou conclusão, justificando-a por meio de evidências de que ela se aplica aos dados considerados.

Argumento por comparação (analogia): No argumento por comparação, o argumentador pretende levar o auditório a aderir à tese ou conclusão com base em fatores de semelhança ou analogia evidenciados pelos dados apresentados.

Argumento por exemplificação: No argumento por exemplificação, o argumentador baseia a tese ou conclusão em exemplos representativos, os quais, por si sós, já são suficientes para justificá-la.

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UNIDADE 2 | GÊNEROS E TIPOLOGIAS TEXTUAIS

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Argumento de princípio: No argumento de princípio, a justificativa é um princípio, ou seja, uma crença pessoal baseada numa constatação (lógica, científica, ética, estética etc.) aceita como verdadeira e de validade universal. Os dados apresentados, por sua vez, dizem respeito a um fato isolado, mas, aparentemente, relacionado ao princípio em que se acredita. Ambos ajudam o leitor a chegar a uma tese, ou conclusão, por meio de dedução.

Argumento por causa e consequência: No argumento por causa e consequência, a tese, ou conclusão, é aceita justamente por ser uma causa ou uma consequência dos dados.

FONTE: Olimpíada de Língua Portuguesa. Na Ponta do Lápis, ano VI, n. 14, jun. 2010.

Os argumentos citados devem ser utilizados pelo autor de acordo com a necessidade e conforme a relevância do assunto tratado. Como é veiculado principalmente em revistas e jornais, o artigo de opinião normalmente não é muito extenso. A leitura é leve e a linguagem geralmente é formal, mas não rebuscada.

Outra característica deste gênero, segundo Faraco e Tezza (2001), é o modo como o autor escreve: ele deve ser persuasivo, pois é importante convencer o leitor acerca do que está sendo defendido no texto. Alguns autores optam por utilizar nos artigos tom irônico, satírico, emotivo ou humorístico, a depender do assunto, público e momento histórico.

É importante lembrarmos que o artigo de opinião deve ser estruturado e as fontes de informação devem ser seguras. Algumas marcas textuais que aparecem nos artigos de opinião são as orações no imperativo, o uso de muitos pontos de exclamação e o uso de conjunções para que o texto possa ter uma sequência.

A intertextualidade também ocorre com bastante frequência nos artigos de opinião, pois estes são formados a partir de outras leituras. A intertextualidade, de acordo com Dionísio (2007), é a influência de um texto sobre outro texto. Ela pode ocorrer de maneira implícita e explícita, em maior ou menor grau. No caso da intertextualidade explícita, ficam claras as bases nas quais o texto está construído, sendo a percepção da intertextualidade muito clara, pois este tipo de intertextualidade ocorre intencionalmente.

A intertextualidade implícita, por sua vez, é um pouco mais difícil de ser percebida. Este tipo de intertextualidade requer um pouco mais de análise por parte do leitor, pois não aparece claramente no texto. Nos artigos de opinião, é comum encontrarmos a intertextualidade implícita. Veja o exemplo de um artigo de opinião:

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TÓPICO 2 | CARACTERÍSTICAS LINGUÍSTICAS

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Preços de passagens aéreas

A elevação nos preços das passagens aéreas foi notável no ano passado. Elas ficaram 53% mais caras. Isso se deu porque a demanda foi maior do que a oferta, dessa forma, as empresas perceberam que a renda também havia se elevado. O número de pessoas que passaram a optar pela viagem de avião para se locomover dentro do país cresceu consideravelmente. De janeiro a novembro de 2011, 16,63% foi o aumento no número de passageiros em relação ao mesmo período de 2010.

Isso ocorre porque a condição financeira da família brasileira melhorou e a facilitação na compra de passagens aéreas também, com melhores condições de crédito. Sendo assim, há espaço para os preços subirem, pois por mais que encareçam, ainda é possível comprá-las mesmo em parcelas. Nunca voar de aviãozinho pra buscar o seu benzinho foi tão fácil! [...]

FONTE: Adaptado de: <http://portalbrasil10.com.br/alta-nos-precos-de-passagens-aereas>. Acesso em: 8 out. 2016.

Observe que ocorre intertextualidade implícita quando são citados os percentuais relacionados aos números de passageiros de 2010 e 2011. Estes são considerados fontes de referência implícita porque o autor certamente consultou órgãos de pesquisa para saber tais números e poder citá-los. Há também intertextualidade implícita na última frase do artigo, “nunca voar de aviãozinho pra buscar o seu benzinho valeu tanto a pena”, que se refere à música Aviãozinho, que possui em sua letra a frase “voa, voa aviãozinho, vai buscar o meu benzinho”. Caso o leitor não conheça a música, não se dará conta da intertextualidade ali presente.

Quanto à sua estrutura, ele deve possuir um título, bem como um parágrafo introdutório. Por se tratar de um texto dissertativo, o corpo do texto é o espaço no qual o autor defende suas ideias, e a conclusão é o fechamento do texto, no qual ele encerra, baseado em informações sólidas e de boa procedência, as ideias trabalhadas no texto (ANDRADE; MEDEIROS, 2001).

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UNIDADE 2 | GÊNEROS E TIPOLOGIAS TEXTUAIS

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AUTOATIVIDADE

Vamos, agora, fazer uma atividade de observação. Leia o artigo de opinião que segue e identifique qual(is) o(s) tipo(s) de argumento(s) utilizado(s) pelos autores e discuta-os. Observe também onde o artigo foi publicado e quem é seu público-alvo.

Facilitar porte de armas não melhora defesa pessoal

Ivan Marques Carolina Ricardo

Em novembro do ano passado, ganhou força o debate sobre a revogação do Estatuto do Desarmamento. Deputados financiados pela indústria das armas se articularam e, sorrateiramente, no momento em que a reta final das eleições tirava a atenção sobre o Congresso, montaram uma Comissão Especial para apreciar o projeto de lei 3.722/12, que estabelece a revogação do estatuto. Na ocasião, o PL acabou sendo arquivado. Nessa nova legislatura, a Comissão Especial voltou a ser instalada no dia 14 de abril, na Câmara dos Deputados. Novamente, parte dos deputados que a compõem foi financiada pela indústria de armas. Além disso, os mesmos argumentos falaciosos apresentados anteriormente seguem sendo defendidos. A primeira justificativa usada para defender a revogação é de que a população rejeitou o desarmamento no referendo realizado em 2005 e a manutenção do estatuto, portanto, estaria contrariando a vontade da maioria. Impossível pensar em um argumento mais falso. O que a população rejeitou em 2005 foi a proibição da venda de armas e munições, o que vem sendo amplamente respeitado desde então. Aliás, mais de 72 mil novos registros foram autorizados a civis que cumpriram os requisitos da nova lei desde 2004. Todo o restante do estatuto estabelece uma ampla política de controle de armas no país. Ninguém em sã consciência pode ser contrário à correta regulação da circulação e uso das armas de fogo. A menos que haja interesses de outras naturezas envolvidos. Atualmente, o estatuto permite que cidadãos tenham armas em casa e estabelece que para portá-las nas ruas é preciso ser profissional de segurança ou extremamente habilitado. Em um país no qual parte significativa dos homicídios acontece por motivo fútil, em brigas cotidianas, quando a presença da arma torna o conflito letal, nada justifica que a atual lei seja revogada. Novamente, fica a pergunta sobre quais interesses movem tamanha sanha pela revogação do estatuto. Outro argumento usado por quem é contra o controle de armas no Brasil é de que esse controle apenas desarma o cidadão de bem, enquanto bandidos seguem fortemente armados. Ora, se é fato que o Brasil vive um problema de violência armada, mais certo ainda é o fato de que o mercado legal, ou seja, as armas dos cidadãos de bem, é que abastece parte significativa desse mercado ilegal. Armas não são plantadas em fundos de quintal, elas são fabricadas e entram legais no mercado.

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TÓPICO 2 | CARACTERÍSTICAS LINGUÍSTICAS

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Recente pesquisa realizada pelo Sou da Paz com mais de 14 mil armas apreendidas pela polícia na cidade de São Paulo demonstra que 80% delas têm origem nacional, tendo entrado legalmente no mercado e, em algum momento, foram desviadas para a mão de criminosos. Essa mesma pesquisa aponta que 64% das armas apreendidas nas mãos de criminosos foram fabricadas antes do estatuto, o que comprova que o descontrole sobre as armas é nocivo até hoje para a segurança pública. Quem defende a revogação do estatuto diz ainda que o controle atual sobre as armas é falho. Mas como explicar que o novo projeto de lei apresentado passa a permitir que civis andem armados nas ruas, que mais de 600 munições possam ser compradas anualmente e por arma, que se reduza a idade mínima para o porte de armas para 21 anos e que se reduzam penas de crimes como o "comércio ilegal de arma de fogo"? Tudo indica que quem quer a revogação do estatuto quer mesmo é que se amplie o mercado da poderosa indústria de armas no Brasil, ainda que à custa de mais mortes. Por fim, há o grande argumento do direito à defesa. Ninguém é contra o direito individual das pessoas se defenderem. O ponto é que as armas não defendem. Elas matam. É possível contar nos dedos os casos em que as armas foram usadas com sucesso para a defesa pessoal. Em todos os outros casos, elas foram parar nas mãos dos criminosos ou, pior, usadas para encerrar, de forma fatal, discussões banais em conflitos entre pessoas que se conheciam. Estamos diante de interesses pouco claros, que buscam a revogação da lei que estabelece o controle de armas no país. Ou a sociedade brasileira se posiciona diante deste fato, ou corremos o risco de voltar à década de 90, com pessoas armadas em cada esquina, acreditando em sua defesa, mas sem capacidade para usá-las.

FONTE: MARQUES, Ivan. Facilitar porte de armas não melhora defesa pessoal. 24 de abril de 2015. Disponível em <http://noticias.uol.com.br/opiniao/coluna/2015/04/24/facilitar-porte-de-armas-nao-melhora-defesa-pessoal.htm>. Acesso em: 27 maio 2016.

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UNIDADE 2 | GÊNEROS E TIPOLOGIAS TEXTUAIS

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DICAS

Sugerimos que você pesquise em revistas e jornais as sessões nas quais se encontram os artigos de opinião. Aprimore seu conhecimento através da pesquisa!

Assim, finalizamos esta etapa de estudo. Vamos para mais um gênero textual jornalístico?

2.3 REPORTAGEM E ENTREVISTA

A reportagem e a entrevista também são muito comuns em revistas e jornais. Abordaremos primeiramente a reportagem, que tem por principal característica descrever determinado fato.

A reportagem busca observar, de acordo com Faria (2002), também os desdobramentos e raízes do fato, não apenas informá-lo, como é a função da notícia. Para que a estrutura da reportagem seja formada, é necessário responder algumas perguntas básicas: o quê, quem, quando, como e por quê. A partir destas questões, estrutura-se o corpo da reportagem. Veja a reportagem a seguir:

Bullying: é preciso levar a sério ao primeiro sinal. Esse tipo de violência tem sido cada vez mais noticiado e precisa de educadores atentos para evitarem consequências desastrosas.

Andréia Barros

Entre os tantos desafios já existentes na rotina escolar, está posto mais um. O bullying escolar - termo sem tradução exata para o português - tem sido cada vez mais reportado. É um tipo de agressão que pode ser física ou psicológica, ocorre repetidamente e intencionalmente e ridiculariza, humilha e intimida suas vítimas. "Ninguém sabe como agir", sentencia a promotora Soraya Escorel, que compõe a comissão organizadora do I Seminário Paraibano sobre Bullying Escolar, que reuniu educadores, profissionais da Justiça e representantes de governos nos dias 28 e 29 de março, em João Pessoa, na Paraíba. "As escolas geralmente se omitem. Os pais não sabem lidar corretamente. As vítimas e as testemunhas se calam. O grande desafio é convocar todos para trabalhar no incentivo a uma cultura de paz e respeito às diferenças individuais", complementa.

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A partir dos casos graves, o assunto começou a ganhar espaço em estudos desenvolvidos por pedagogos e psicólogos que lidam com Educação. Para Lélio Braga Calhau, promotor de Justiça de Minas Gerais, a imprensa também ajudou a dar visibilidade à importância de se combater o bullying e, por consequência, a criminalidade. "Não se tratam aqui de pequenas brincadeiras próprias da infância, mas de casos de violência, em muitos casos de forma velada. Essas agressões morais ou até físicas podem causar danos psicológicos para a criança e o adolescente, facilitando posteriormente a entrada destes no mundo do crime", avalia o especialista no assunto. Ele concorda que o bullying estimula a delinquência e induz a outras formas de violência explícita.

O Seminário organizado pela Promotoria de Justiça da Infância e da Adolescência da Paraíba, em parceria com os governos municipal e estadual e apoio do Colégio Motiva, teve como objetivo, além de debater o assunto, orientar profissionais da Educação e do Judiciário sobre como lidar com esse problema. A Promotoria de Justiça elaborou um requerimento para acrescentar os casos de bullying ao Disque 100, número nacional criado para denunciar crimes contra a criança e o adolescente. O documento será enviado para o Ministério da Justiça e à Secretaria Especial de Direitos Humanos.

Durante o encontro também foi lançada uma publicação a ser distribuída para as escolas paraibanas, com o objetivo de evidenciar a importância de um trabalho educativo em todos os cenários em que o bullying possa estar presente - na escola, no ambiente de trabalho ou mesmo entre vizinhos. Nesse manual são apresentados os sintomas mais comuns de vítima desse tipo de agressão, algumas pistas de como identificar os agressores, conselhos para pais e professores sobre como prevenir esse tipo de situação e mostram-se, ainda, quais as consequências para os envolvidos.

Em parceria com a Universidade Maurício de Nassau, a organização do evento registrou as palestras e as discussões - o material se transformará em um vídeo-documentário educativo que será exibido nas escolas da Paraíba, da Bahia e de Pernambuco.

FONTE: <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/bullying-preciso-levar-serio-431385.shtml>. Acesso em: 27 maio 2016.

Ao observar o texto, podemos perceber que se trata da agressão a partir de bullying, cujo praticante é o agressor e quem sofre as consequências é a vítima. O bullying ocorre quando o agressor emite ofensas e palavras que desmoralizem ou humilhem a vítima, que sofre a agressão geralmente em idade escolar. Assim, já temos as respostas às perguntas básicas que compõem a reportagem.

Como você observou no exemplo, a reportagem trata de assuntos que sejam de interesse da população, mas não necessariamente que estejam ocorrendo pontualmente, o que não é o caso da notícia. A reportagem citada, por exemplo, fala sobre o bullying, que é um tema que permeia a sociedade desde muito tempo e ainda está em pauta.

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A notícia aborda um fato específico, que está ocorrendo em um determinado momento. A rapidez da veiculação de uma notícia é uma característica marcante dela (você já viu na televisão algum caso de notícia de plantão? A programação é interrompida para transmitir, em primeira mão, a notícia de algo que tenha ocorrido e que seja de grande relevância para a sociedade). Já a reportagem é mais elaborada e demanda mais tempo para ser escrita. O conteúdo apresentado na reportagem é mais longo e traz mais informações, com maiores detalhes. Há a consulta a diversos materiais, para que a veracidade dos fatos seja comprovada. Quando o assunto é polêmico, geralmente são apresentadas mais de uma fonte, para que mais opiniões sejam ouvidas e respeitadas (LAGE, 2006b).

Para diferenciar a reportagem da notícia, Lage (2006b) caracteriza a reportagem a partir de alguns aspectos:

1- Linguagem: a reportagem é composta por um estilo menos rígido que a notícia. Isso possibilita ao autor usar a primeira pessoa. Também é possível interpretar os fatos, além de simplesmente apresentá-los.

2- Produção: a reportagem considera a "oportunidade jornalística", ou seja, o fato gerador de interesse.

3- Na reportagem, há necessidade de pautas que considerem o fato gerador de interesse, a natureza da matéria e o contexto. Lage (2006b) afirma que é o fato gerador que torna a reportagem um gênero independente.

A reportagem, como você pode observar no exemplo que foi dado anteriormente, possui um título, um título auxiliar, um lide e o corpo do texto, portanto, estrutura-se do mesmo modo que a notícia, anteriormente estudada. No corpo do texto, o autor da reportagem geralmente traz depoimentos e entrevistas das pessoas envolvidas ou de autoridades no assunto.

Para que a reportagem seja bem elaborada, deve ser tomado muito cuidado com a linguagem utilizada, que deve ser clara, objetiva e direta, sem muitos rodeios. É um texto que deve ser compreendido por todos os que o lerem, portanto, a linguagem deve ser acessível. Neste caso, diferentemente do artigo de opinião, o autor deve ser totalmente imparcial, e somente informar, sem emitir opinião sobre o assunto. Andrade e Medeiros (2001) afirmam que é o leitor que deve tirar suas próprias conclusões.

No caso de reportagens publicadas em revistas, Faria (2002, p. 49) afirma que “a matéria da revista é geralmente uma reportagem descompromissada com o factual e com os gêneros rotineiros, objetivando muito mais uma interpretação dos fatos e a análise de suas consequências”. Deve-se levar em consideração novamente o público-alvo a que cada revista visa, a fim de compreender as escolhas dos assuntos que são abordados.

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Pronto para uma nova abordagem? Agora, partiremos para o estudo da entrevista. Este é um tipo de texto que também tem por objetivo informar, mas através da descrição ou opinião da pessoa entrevistada. Geralmente, o entrevistado é um conhecedor do assunto a ser tratado ou, no caso de algum acontecimento, uma pessoa que estava envolvida. De acordo com Faria (2002), a entrevista de cunho jornalístico é uma excelente ferramenta para ser trabalhada também em sala de aula, pois desenvolve uma série de habilidades, tais como contatos entre as pessoas, compreensão da relevância de temas, perfil da linguagem adotada e outros.

O entrevistador, que é aquele que faz as perguntas ao entrevistado, deve estruturar a entrevista de acordo com o que deseja saber. Quanto à postura, ambos devem manter uma boa aparência e pronunciar bem as palavras, para que o receptor compreenda o que está sendo dito. No caso da entrevista por escrito, a linguagem deve também ser clara e as perguntas diretas e objetivas.

Faria (2002) afirma que há alguns tipos de entrevistas. Vamos conhecê-las?

1- Entrevista complementar genérica: ocorre quando a entrevista está baseada em relatos de testemunhas de um fato que será noticiado, por exemplo, quando ocorre um atentado em um determinado local e o entrevistador faz perguntas a alguém que estava próximo no momento, ou que é amigo ou parente de algum envolvido. Neste caso, os entrevistados não precisam ser identificados, caso não queiram.

Exemplo:

“De acordo com os familiares, a menina encontra-se bem, após o acidente. Os pedestres que passavam no local e viram o acidente, afirmam que a menina não atravessava na faixa de pedestres quando foi atingida pelo veículo”.

2- Entrevista complementar caracterizada: Caracteriza-se como a inserção de uma ou duas questões no meio de uma notícia, que faz com que o leitor compreenda melhor um episódio. Neste caso, o entrevistado ou a instituição representada são identificados, pois têm relevância. O discurso é indireto. Veja o exemplo a seguir:

Educação no Brasil melhora, mas país continua entre os piores do mundo

Saiu novo relatório internacional sobre o rendimento escolar no mundo. O Brasil melhorou o desempenho, mas ainda está entre os 10 piores países.

Pedimos a um representante da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) se o Brasil aparece entre as pesquisas e ele afirmou que o Brasil aparece entre os 10 países que têm mais alunos com baixo rendimento escolar em matemática, leitura e ciências. Na América Latina, além do Brasil, Peru, Colômbia e Argentina também tiveram resultados ruins.

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A OCDE avaliou 64 países. Nos países pesquisados, 4,5 milhões de estudantes até 15 anos de idade não atingiram o nível básico de aprendizado. Isso equivale a um em cada quatro estudantes. O Peru e a Indonésia são os países com maior porcentagem de estudantes neste quesito.

Uma boa notícia em relação ao Brasil é que o país conseguiu reduzir a quantidade de estudantes com baixo rendimento no período entre 2003 a 2012.

Os orientais, como de costume, conseguiram os melhores resultados. China, Cingapura e Coreia do Sul estão no topo da lista, com as melhores notas.

FONTE: Adaptado de: MALAN, Cecília. G1. Educação no Brasil melhora, mas país continua entre os piores do mundo. <http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2016/02/educacao-no-brasil-melhora-mas-pais-continua-entre-os-piores-do-mundo.html>. Acesso em: 22 out. 2016.

Observe que o trecho sublinhado sinaliza uma fala que procede de uma conversa realizada com um representante da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Assim, esta reportagem possui em seu complemento uma entrevista complementar caracterizada, com a finalidade de que o leitor compreenda melhor o episódio. A instituição é identificada, pois tem relevância (observe que se caracteriza como um argumento de autoridade). O discurso é indireto.

3- Entrevista individual: é a entrevista mais conhecida popularmente, pois constitui-se de perguntas e respostas. De acordo com Faria (2002, p. 58), “na imprensa, são reservadas a personalidades, astros ou autoridades competentes para explicar determinado fato ou assunto”. Neste tipo de entrevista pode haver a opinião do entrevistado e geralmente a entrevista é publicada em discurso direto.

Vamos ler uma entrevista individual e observar como ela se estrutura?

Entrevista Marcos BagnoPor Marcos Nunes Carreiro e Elder Dias

“O Português Brasileiro precisa ser reconhecido como uma nova língua. E isso é uma decisão política”.

Doutor em Filologia e Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP), Marcos Bagno é professor do Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução da Universidade de Brasília (UnB). Em 2012, seu romance “As Memórias de Eugênia” ganhou o Prêmio Jabuti, considerado o maior da literatura brasileira. Ele também escreve uma coluna sobre língua portuguesa na revista “Caros Amigos”.

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Por que o senhor defende que deve existir uma gramática brasileira?

Pela necessidade que vimos detectando, há muito tempo, de que tenhamos no Brasil instrumentos descritivos, e até mesmo normativos, que apresentem, da maneira mais honesta e real possível, a nossa língua: o português brasileiro. Mesmo as variedades urbanas de prestígio são muito diferentes da norma padrão veiculada pela tradição gramatical da língua. Faço a citação de um linguista português, o professor Ivo Castro [da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com doutorado em Linguística Portugue sa]. Ele diz o seguinte (lendo): “Minha opinião de que a separação estrutural entre a língua de Portugal e a do Brasil é um fenômeno lento e de águas profundas, que é fácil e, a muitos, desejável não observar, assenta-se no convencimento de que a fratura do sistema linguístico existe, mas não é aparente a todos os observadores nem é agradável a todos os saudosistas”.

Mas como fica a proposta de uma união linguística entre os países chamados lusófonos?

Essa ideia de que exista uma coisa chamada “lusofonia”, com vários países de língua portuguesa, é uma bobagem. É uma posição absolutamente neocolonial e que não tem nada a ver com a realidade. Não é nada mais do que um projeto profundamente português. Aqui no Brasil, quando se fala em lusofonia, as pessoas nem sabem o que é. Somos, no Brasil, 90% dos falantes de português no mundo. Então, se alguém tem de mandar na língua somos nós, embora os portugueses achem isso terrível (risos). Eles não têm a menor importância numérica no mundo, comparando-os ao Brasil, mas ainda têm esse saudosismo imperial de querer mandar na língua. Mas a coisa é diferente.

E a partir de que o senhor afirma que já temos um português brasileiro como língua?

Todos os exemplos que trago são extraídos da escrita de gêneros mais monitorados. Por quê? Porque, quando as inovações linguísticas atingem esse extremo [de estar aparente em textos mais formais, como jornais e revistas científicas], isso significa que a mudança linguística já se completou e se constitui então uma regra da gramática da língua. O professor Marcuschi [Luiz Antonio Marcuschi], linguista, professor titular da Uni versidade Federal de Pernambuco e com doutorado na Universitat Erlangen-Nurnberg (Friedrich-Alexander), Alemanha, de quem eu tive a honra de ser aluno no Recife, estabeleceu, já há algum tempo, esse continuum de gêneros, do mais falado ao mais escrito, mostrando que não há essa separação rígida que as pessoas há dois mil e quinhentos anos acreditam que exista. Na verdade, temos uma língua só e duas modalidades de uso [fala e escrita] com um continuum de gêneros.

A mudança linguística ocorre na língua falada mais espontânea. À medida que essas inovações linguísticas vão sendo adotadas por mais falantes, vão progredindo até chegar à escrita mais monitorada.

[...]

FONTE: <http://www.jornalopcao.com.br/entrevistas/o-portugues-brasileiro-precisa-ser-reconhecido-como-uma-nova-lingua-e-isso-e-uma-decisao-politica-37991/>. Acesso em: 27 maio 2016.

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Observe que Marcos Bagno é um renomado linguista brasileiro com inúmeras publicações que tratam do tema que está sendo discutido e que o jornal que o entrevistou tem uma coluna chamada “Língua Portuguesa”, cujo tema era, na ocasião, “O português brasileiro precisa ser reconhecido como uma nova língua e isso é uma decisão política”. A entrevista a ser publicada ou gravada deve sempre observar o público-alvo a ser atingido.

Há entrevistas que são feitas para publicação impressa em revistas ou jornais e há entrevistas feitas para matérias exibidas através de rádio, televisão ou internet. Cada entrevistador adaptará suas perguntas de acordo com o veículo de comunicação através do qual pretende publicar sua entrevista e de acordo com a intenção da entrevista.

IMPORTANTE

No caso das entrevistas por escrito, como você pôde também observar, elas geralmente possuem um título bem definido (chamado também de manchete). Neste caso, o título é uma parte da fala do entrevistado. Há também uma apresentação breve do entrevistado e que pontos serão abordados na entrevista. Em seguida, são apresentadas ao leitor as perguntas e as respostas, que são redigidas fielmente ao que foi respondido. As entrevistas (ou parte delas) são muito usadas nas reportagens.

3 TEXTOS CIENTÍFICOS

A partir de agora, passaremos a estudar um pouco acerca dos textos científicos. Este tipo de texto busca abordar alguma teoria ou conceito, sempre com base científica. A linguagem do texto de caráter científico deve ser cuidadosamente planejada, pois além de clara, não pode dar espaço para duplas interpretações. A linguagem, por ser científica, muitas vezes possui termos específicos que tornam este tipo de texto mais voltado ao público-alvo, que varia conforme a área de conhecimento. Muitas vezes, o texto científico é uma produção que resulta de alguma experiência ou de pesquisa, conforme veremos adiante.

O artigo científico é o gênero mais utilizado quando se trata de produções científicas. Este tipo de produção deve seguir um padrão, que é determinado no Brasil pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT (NBR 6022). O padrão determinado por estas normas refere-se à formatação, número de páginas, tipo e tamanho da fonte, citações, referências e outros itens que devem ser padronizados para que haja regularidade nos artigos.

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Por ser um gênero textual que abrange textos de extensão maior do que os demais trabalhados aqui, não colocaremos nenhum exemplo de artigo científico aqui, mas sugerimos que você visite a página SCIELO e acesse os artigos que lá estão disponibilizados.

IMPORTANTE

Para que o leitor consiga compreender o que está sendo lido em um texto científico, é necessário que haja conhecimento prévio do assunto tratado, através da leitura de textos menos complexos. Isto ocorre porque no texto científico a teoria é tratada de modo mais aprofundado. Quando se trata, por exemplo, de um texto científico acerca do degelo das calotas polares, este tema será abordado de forma científica, com amplo aprofundamento no tema e uso de conceitos específicos da área científica. É diferente, por exemplo, de uma reportagem acerca do tema, que trará apenas informações relevantes.

Quanto à estrutura, o texto científico compõe-se basicamente por introdução, desenvolvimento e conclusão. Pode haver também elementos pós-textuais, como anexos ou apêndices, que visam complementar o texto que foi trabalhado. Agora, vamos conhecer alguns tipos de textos científicos: o resumo e a resenha. Vamos lá?

3.1 RESUMO

Acadêmico, você deve estar se perguntando: por que resumir um texto? Qual a finalidade? Bom, a verdade é que se resumo não fosse bom, nossos professores não insistiriam tanto em nos ensinar ou aconselhar que fosse feito e, as revistas, eventos e trabalhos não exigiriam um, não é mesmo?

Assim, resumir é o ato de ler, analisar e traçar em poucas linhas o que de fato é essencial e mais importante no texto. Ele se torna um instrumento útil para quem irá ler o trabalho, isto é, o leitor.

Desde o início de nossos estudos, muitas vezes já no Ensino Fundamental, há professores que fazem conosco esse exercício escolar chamado resumo. Compreendemos, dessa maneira, que escrever um texto em poucas linhas nos auxilia a desenvolver a capacidade de síntese, objetividade e clareza: três fatores que serão muito importantes ao longo da nossa vida escolar, profissional e, por que não, pessoal?

Você deve estar pensando que não é muito fácil expor o texto em um número reduzido de linhas. Mas, não se preocupe, existem inúmeras dicas a serem seguidas para que um bom resumo possa ser elaborado.

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No Brasil, as normas em vigor para os resumos incluídos em trabalhos científicos e acadêmicos são de autoria da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Não deixe de visitar o site e verificar as novidades acerca dessa temática: <http://www.abnt.org.br/>.

NOTA

Dentre as dicas mais comuns, podemos utilizar as de Lousada e Abreu-Tardelli (2004) que nos ensinam que compreender o texto que será resumido é o primeiro passo, pois auxilia a compreensão sobre o autor, bem como suas escolhas ideológicas e teóricas. Uma segunda dica é detectar as ideias mais relevantes que o autor expõe, procurando identificar, se o gênero for o argumentativo, por exemplo, qual a questão discutida, as posições do autor, isto é, se ele rejeita, sustenta e os argumentos que ele utiliza para firmar seu ponto de vista e, ainda, observar a conclusão final.

IMPORTANTE

Difícil? Calma, adiante vamos explicar e construir conceitos mais elaborados e claros acerca do resumo. Continue conosco!

3.1.1 O que é um resumo?

Vamos iniciar conversando sobre um possível conceito de resumo. O resumo é uma maneira de reunir e apresentar por escrito, de maneira concisa, coerente e, frequentemente, seletiva, as informações básicas de um texto preexistente. De acordo com Savioli e Fiorin (1998, p. 420), o “resumo é uma condensação fiel das ideias ou dos fatos contidos no texto. Resumir um texto significa reduzi-lo ao seu esqueleto essencial”.

Assim, fazer um resumo significa apresentar o conteúdo de forma sintética, destacando as informações essenciais do conteúdo de um livro, artigo, argumento de filme, peça teatral, entre outros. A elaboração de um resumo exige análise e interpretação do conteúdo para que sejam transmitidas as ideias mais importantes. Para tanto, alguns elementos necessitam ser considerados. Vamos descobrir quais?

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Segundo Savioli e Fiorin (1998), quando elaboramos um resumo, necessitamos identificar as partes essenciais do texto, observando, especialmente, a progressão com que elas são apresentadas e a correlação existente entre elas.

Assim, quando resumimos, necessitamos observar, segundo os ensinamentos de Lousada e Abreu-Tardelli (2004), que as ideias expostas no resumo não pertencem a quem está produzindo o texto, mas são da autoria de um escritor/autor advindas de um texto maior, detalhado e rico de informações. Portanto, ao resumir, faça a indicação de dados sobre o texto resumido, apresente as ideias principais e, se possível, faça relações entre elas.

Não se esqueça de mencionar o autor do texto original e apresentar os posicionamentos dele perante as ideias destacadas. Você pode utilizar o recurso das marcas linguísticas que evidenciam e/ou retomam o discurso do outro: segundo Fulano, para Beltrano, conforme, de acordo com, entre outros. Os verbos atribuídos ao autor também necessitam de atenção, verbos como: o autor disse ou o autor fala, fragilizam o texto. Explore novos termos que remetem o leitor às ações estabelecidas no texto original, como: o autor apresenta, o autor postula, Fulano defende, Beltrano compara, entre outros. Por fim, observe se o seu resumo tem correção gramatical e se está compreensível, isto é, se o resumo permite um entendimento global na articulação das ideias expostas.

Ainda não conseguiu captar a estrutura? Vamos, então, verificar onde está a dificuldade no processo de resumir?

AUTOATIVIDADE

1) Leia os resumos a seguir do artigo “A cultura da paz”, de Leonardo Boff, e, mesmo sem ter lido o texto na íntegra, assinale o resumo que acredita ser o melhor:

( ) Resumo 1No artigo “A cultura da paz”, Leonardo Boff defende a necessidade de construirmos a cultura da paz a partir de nós mesmos. O autor considera que isso é possível, uma vez que o homem é dotado de características genéticas especiais que lhe permitiriam vencer a violência.

( ) Resumo 2Leonardo Boff inicia o artigo “A cultura da paz” apontando o fato de que vivemos em uma cultura que se caracteriza fundamentalmente pela violência. Diante disso, o autor levanta a questão da possibilidade de essa violência poder ser superada ou não. Inicialmente, ele apresenta argumentos que sustentam a tese de que seria possível, pois as próprias características psicológicas humanas e um conjunto de

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forças naturais e sociais reforçariam essa cultura da violência, tornando difícil sua superação. Mas, mesmo reconhecendo o poder dessas forças, Boff considera que, nesse momento, é indispensável estabelecermos uma cultura de paz contra a violência, pois esta estaria nos levando à extinção da vida humana no planeta. Segundo o autor, seria possível construir essa cultura, pelo fato de que os seres humanos são providos de componentes genéticos que nos permitem sermos sociais, cooperativos, criadores e dotados de recursos para limitar a violência e de que a essência de ser humano seria o cuidado, definido pelo autor como sendo uma relação amorosa com a realidade, que poderia levar à superação da violência. A partir dessas constatações, o teólogo conclui, incitando-nos a despertar as potencialidades humanas para a paz, construindo a cultura da paz a partir de nós mesmos, tomando a paz como projeto pessoal e coletivo.

FONTE: <www.leonardoboff.com>. Acesso em: 8 ago. 2016.

Savioli e Fiorin (1998) nos ensinam que a complexidade do texto a ser resumido (vocabulário, estrutura sintático-semântica, relações, assunto etc.) ou o conhecimento do leitor acerca do assunto tratado pode, sim, trazer certa dificuldade na hora da seleção e organização das ideias. Torna-se imprescindível o entendimento do texto a ser resumido, levando em consideração os diversos aspectos que apresenta, para então prosseguir com a escrita.

Vamos verificar tudo isso na prática? Adiante você conhecerá os tipos de resumos, mas antes, vamos retomar o resumo escolhido por você, na autoatividade anterior, como o melhor e aplicar as características que, segundo Lousada e Abreu-Tardelli (2004), são essenciais em um resumo. Acompanhe-nos, lendo o texto e seguindo a legenda apresentada:

(a) corresponde à indicação de dados sobre o texto resumido, no mínimo autor e título;

(b) corresponde à seleção das informações consideradas importantes pelo leitor e autor do resumo;

(c) corresponde à menção ao autor do texto original em diferentes partes do resumo e de formas diferentes;

(d) corresponde à apresentação das ideias principais do texto e de suas relações;(e) corresponde aos comentários pessoais misturados às ideias do texto;(f) corresponde ao texto compreensível por si mesmo;(g) corresponde à correção gramatical e léxico adequado à situação escolar/

acadêmica.

Leonardo Boff inicia o artigo “A cultura da paz” (a) apontando o fato de que vivemos em uma cultura que se caracteriza fundamentalmente pela violência. Diante disso, o autor (a; c) levanta a questão da possibilidade de essa violência poder ser superada ou não (b). Inicialmente, ele (c) apresenta argumentos que sustentam a tese de que seria possível, pois as próprias características psicológicas humanas e um conjunto de forças naturais e sociais reforçariam essa cultura da violência, tornando difícil sua superação (b, g). Mas, mesmo reconhecendo o

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poder dessas forças, Boff (a, c) considera que, nesse momento, é indispensável estabelecermos uma cultura de paz contra a violência, pois esta estaria nos levando à extinção da vida humana no planeta (e; g). Segundo o autor, (c) seria possível construir essa cultura, pelo fato de que os seres humanos são providos de componentes genéticos que nos permitem sermos sociais, cooperativos, criadores e dotados de recursos para limitar a violência e de que a essência de ser humano seria o cuidado (f, g), definido pelo autor (c) como sendo uma relação amorosa com a realidade, que poderia levar à superação da violência (d, g). A partir dessas constatações, o teólogo (c) conclui, incitando-nos a despertar as potencialidades humanas para a paz, construindo a cultura da paz a partir de nós mesmos, tomando a paz como projeto pessoal e coletivo (e, f, g).

FONTE: <www.leonardoboff.com>. Acesso em: 8 ago. 2016.

3.1.2 Tipos de resumo

Como estamos na academia, escolhemos três resumos que são de suma importância nesta fase de nossas vidas, pois saber resumir na academia não é tão simples assim, não é?

É claro que compreendemos que um resumo pode variar conforme o destinatário, autor, gênero, local de circulação, objetivo, mas vamos aprender pontos essenciais de três diferentes tipos de resumo, apontados por Savioli e Fiorin (1998), que são: o resumo de estudo, resumo de trabalho e resumo para evento.

O resumo de estudo se dá no processo de resumir para a produção de um texto acadêmico. Este resumo busca informar alguém a respeito do conteúdo de um texto. Ele também pode englobar a ideia de resumo pessoal, que é utilizado para estudo e/ou compreensão particular.

No resumo de estudo, fazemos a leitura de um texto ou de um livro e buscamos pelas informações principais, a fim de mostrar que compreendemos o que foi lido. Algumas vezes esse tipo de resumo é solicitado pelos nossos professores e, em outros casos, o fazemos para estudar e fixar um conteúdo.

Observe um exemplo de resumo de estudo:

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Marcelo Leite inicia o artigo Truculência na internet relatando a determinação da indústria fonográfica norte-americana para processar pessoas que baixam da internet músicas protegidas por direitos autorais. O autor, no entanto, reconhece que, na prática, todo direito enfrenta limitações. A primeira delas, admite, está na impossibilidade de processar milhares de pessoas que praticam ilegalmente essa atividade. Em segundo lugar, acredita que a medida poderzá sustentar uma reação contestadora entre os jovens consumidores de CDs, tornando os fabricantes e produtores de discos ainda mais impopulares entre os adolescentes. Entretanto, mesmo apoiando o direito autoral e a atitude empresarial de atacar os mais conectados, Marcelo Leite observa que a maioria dos usuários que pratica a distribuição das músicas, não a faz como meio para ganhar dinheiro, mas como forma de diversão. Segundo o autor, controlar ou impedir o intercâmbio de músicas e outros produtos culturais pela internet torna-se uma prática inviável devido à crescente popularização dos computadores e à facilidade de acesso à internet. O editor conclui o artigo desafiando o mercado publicitário a explorar a versatilidade das novas redes, propondo o desenvolvimento de ações criativas que permitam gerar ganhos financeiros (SILVEIRA, 2006).

FONTE: <https://www.passeidireto.com/arquivo/1700628/resumo-sobre-o-texto-truculencia-na-internet>. Acesso em: 29 maio 2016.

Outro resumo a ser estudado é o resumo de trabalho. Os trabalhos acadêmicos, em sua maioria (artigo, paper, monografia, dissertação, tese), vêm acompanhados de um resumo que busca mostrar ao leitor o que ele encontrará ao ler tal trabalho. Ele é uma apresentação concisa acerca do que nós desenvolvemos e “encapsula a essência do artigo que se seguirá” (MOTTA-ROTH; HENDGES, 2010, p. 152).

Leia um resumo de trabalho:

Esta pesquisa [...] visa à compreensão dos movimentos políticos, nacionais e locais, acerca do ensino do italiano no sistema de ensino do município de Rodeio, SC, antiga zona de imigração. Quanto à metodologia, a pesquisa compreende a análise de leis, normas e documentos orientadores nacionais, estaduais e municipais relacionados às políticas linguísticas, bem como a análise dos enunciados de um professor colaborador no que diz respeito à elaboração de documentos para inserção do italiano como disciplina obrigatória em escolas no município de Rodeio. A investigação é de cunho qualitativo/interpretativo e o corpus compõe-se da transcrição da entrevista semiestruturada com o referido professor, bem como das leis, normas e documentos orientadores das três esferas: a nacional, como LDB, PCN, OCEM e Resoluções; documentos estaduais como PC-SC, Projeto MAGISTER e edital de concurso público para efetivação de professores, e os municipais, como leis municipais, Projeto O ensino de língua italiana e a ata da implantação do italiano nas escolas. Para a contextualização

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da pesquisa, discute-se a imigração em massa nas últimas décadas do século XIX, além de um recorte histórico da colonização italiana no Vale do Itajaí. O capítulo de análise é teoricamente fundamentado nas áreas da Educação e da Linguística Aplicada, no tocante aos estudos sobre a escolarização em contextos de línguas minoritárias. A análise dos registros foi feita a partir de divergências e convergências entre os enunciados das leis, normas e documentos orientadores e do sujeito entrevistado. Como resultados, depreendem-se movimentos político-linguísticos em torno do ensino da língua italiana que ora divergem, ora convergem com as representações de língua e dialeto presentes tanto nas leis, normas e nos documentos como na voz do sujeito. No que diz respeito à questão do reconhecimento da língua de imigração, como disciplina no currículo escolar, há a abertura da lei e movimentos locais de instituição de uma política linguística a favor da língua de imigração para a manutenção da identidade local. No entanto, no contexto desta pesquisa, observou-se que houve, novamente, na rede estadual, a adoção de uma política monolíngue, retirando o italiano do currículo das escolas. Há de se considerar que nenhum documento ou lei expressa a retirada de uma língua para que outra ocupe seu lugar. O que há é uma discussão na LDB, PC-SC, entre outras leis, normas e documentos, acerca do ensino de línguas, que pode ser interpretado de diferentes maneiras pelos que decidem, por exemplo, que disciplinas ocuparão o currículo de cada escola em cada comunidade, em cada momento histórico.

Palavras-chave: Políticas linguísticas. Língua italiana. Educação em contexto de imigração.

FONTE: LORENZI, E. M. B. Políticas linguísticas para o ensino de línguas em um cenário de imigração italiana no Vale do Itajaí, SC. Dissertação (Mestrado). Universidade Regional de Blumenau (FURB). Blumenau, 2014. 102 p.

Em muitos eventos, enviamos um resumo para apresentar o trabalho e/ou pesquisa que pretendemos submeter. Neste caso, o resumo não vem acompanhado de um texto, por isso será um pouco mais detalhado e deverá convencer o interlocutor de que o estudo é relevante. Leia o resumo para um evento:

Nos olhos de cada um dos sujeitos entrevistados, o brilho da nostalgia se faz presente ao relembrar a infância: a casa, o trabalho na roça e a escola multisseriada eram os ambientes nos quais estas crianças passavam a maior parte de seu tempo. Na década de 1960, no sistema de ensino do Brasil, este modelo escolar era a única oportunidade para que as crianças do campo estudassem. O objetivo desta apresentação é socializar os resultados parciais da dissertação de mestrado em andamento referente ao sentido de corpo para alunos que estudaram na década de 1960 em uma escola multisseriada no interior do município de Rodeio-SC. A pesquisa apresentada é qualitativa e a geração de dados deu-se a partir de uma entrevista semiestruturada realizada com 11 sujeitos que estudaram

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na Escola Multisseriada Diamante I. A memória de corpo, de disciplina e de espaço escolar é bastante presente na memória destes sujeitos, hoje adultos. No ambiente da roça, o trabalho na agricultura era comum mesmo para as crianças, que, desde cedo, estavam destinadas a trabalhar no plantio e na lida com os animais. A disciplina em casa era rigorosa e obedecer era a palavra de ordem. Na escola, espaço no qual as crianças estudavam, não era diferente: embora multisseriada, era aplicado o modelo de currículo das escolas seriadas, predominantemente urbanas, com a homogeneização da cultura, individualismo e imposição do conhecimento científico. Mesmo não previsto pelo currículo e pelos objetivos disciplinares da escola, nela, pelo fato de ser multisseriada, formava-se um espaço de multipossibilidades: alunos de diferentes séries e idades num mesmo ambiente realizam troca de experiências e saberes que não ocorrem nas escolas divididas por séries. A análise dos dados parte dos princípios da análise genealógica em Foucault. A base teórica para a pesquisa fundamenta-se em Michel Foucault, Carmem Lucia Soares, Maria Bernadete Ramos Flores, Cássia Ferri, Paul Ricoeur e outros autores que seguem a linha foucaultiana de análise de corpo, escola e memória. Os resultados parciais da pesquisa chamam a atenção para o fato de os 11 sujeitos relembrarem e descreverem a escola como um local de liberdade, ao passo que a escola atual é alvo de severas críticas em suas falas.

FONTE: FIAMONCINI, L. Memórias do campo e da escola multisseriada: o sentido de corpo para estudantes rurais da década de 1960. In: Anped Sul, 10º, 2014, Florianópolis.

Compreendemos que, para elaborar um bom resumo, é essencial, antes de tudo, que se compreenda todo o conteúdo do texto e torna-se necessária a leitura e o entendimento do texto na íntegra. Se o resumo apresentar a simples reprodução de frases do texto original, será um claro indício de que ele não foi devidamente compreendido.

DICAS

Na nossa instituição, há, anualmente, a JOIA – Jornada de Integração Acadêmica, que, em amplas linhas, é um evento promovido pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI - que incentiva e estimula a iniciação científica, o debate virtual em grupo e a socialização de trabalhos. Se você ainda não participou, organize-se! Você pode iniciar elaborando ou reformulando um resumo de algum paper já socializado com sua turma. Vale muito a pena participar!

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AUTOATIVIDADE

Agora, escolha uma reportagem atual de uma revista renomeada e/ou um artigo, escrito por você, para a disciplina de Seminário da Prática e resuma-o a partir dos conhecimentos adquiridos nesta etapa do caderno de estudos.

3.2 RESENHA

A resenha é um texto em forma de síntese que expressa a opinião do autor sobre um fato, que pode ser um livro, um filme, peças teatrais, exposições, shows, entre outros. Ao escrever uma resenha, você deve levar em consideração que estará escrevendo para seu professor e/ou tutor que, se indicou a leitura, deve conhecer a obra. Portanto, ele avaliará não só sua leitura, através do resumo que faz parte da resenha, mas também sua capacidade de opinar sobre ela (LOUSADA; ABREU-TARDELLI, 2004).

Apesar de ela expressar a opinião do escritor, a resenha é a maneira de escrever com uma organização própria. Assim, é importante, nos seus escritos, guiar o leitor para que ele possa entender as diferentes relações que se quer estabelecer. A resenha deve ir direto ao ponto, mesclando ora momentos de descrição ora momentos de crítica direta. O resenhista que conseguir equilibrar perfeitamente esses dois pontos terá escrito uma resenha ideal (LOUSANA; ABREU-TARDELLI, 2004).

Podemos dizer que há dois tipos principais de resenha, a resenha resumo e a resenha crítica. A resenha resumo limita-se a resumir o conteúdo de um capítulo de livro, de um filme, peça de teatro, espetáculo ou de um livro completo, sem haver uma crítica ou um julgamento de valor. Neste tipo de resenha, objetiva-se informar o leitor, logo trata-se de um texto informativo (DIDIO, 2013).

A resenha classificada em crítica, além de resumir, faz uma avaliação sobre o objeto, uma crítica, apresentando os aspectos que tanto podem ser negativos como positivos (DIDIO, 2013). O texto é informativo e também de opinião.

Independentemente do tipo, a resenha deve possuir as mesmas qualidades de estilo básicas que todo o texto escrito necessita apresentar, como simplicidade, clareza, concisão, propriedade vocabular, precisão vocabular, objetividade e impessoalidade.

Lembre-se de que, antes de iniciar a produção de qualquer texto, especialmente de uma resenha, há alguns passos importantes que você necessita considerar para que a qualidade do seu trabalho atinja um patamar de excelência.

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A leitura da obra a ser resenhada é um item essencial. Então, o primeiro passo é conhecer o objeto que será resenhado. Se você não tem muito tempo, fique tranquilo, essa primeira leitura deve ser rápida, objetivando conhecer a obra como um todo (DIDIO, 2013). Portanto, você não precisa fazer anotações e nem sublinhar nada.

A releitura é um segundo item que necessitamos levar em conta. A primeira leitura que fazemos é rápida e há muitos elementos que passam despercebidos. É nessa etapa que devemos analisar alguns elementos mais pontuais da obra. Agora sim, utilize a técnica de sublinhar, fazer esquemas com as ideias principais, estabelecendo relações entre tudo isso (DIDIO, 2013). Aqui, você pode fazer perguntas e anotá-las no canto das páginas, por exemplo. Essa prática força você a pensar sobre o material que tem em mãos.

O parar para pensar e repensar é um item importante. É interessante você parar um tempo para pensar e repensar suas anotações, formando uma opinião e até buscando em outras fontes com contrapontos para seu texto (DIDIO, 2013). A pausa deve durar mais de 24h e não ultrapasse 72h para que as ideias não lhe fujam da memória.

Pronto para resenhar?

Mas antes de se aventurar, leia a resenha crítica que segue e acompanhe a legenda com alguns dos elementos que, segundo Lousada e Abreu-Tardelli (2004), são essenciais nas resenhas:

(a) corresponde à indicação do autor;(b) corresponde à função social do autor;(c) corresponde ao destinatário real;(d) corresponde à imagem que o autor tem que ter de seu destinatário;(e) corresponde ao tema e/ou objeto;(f) corresponde ao objetivo do autor do texto;(g) corresponde a aspectos para valorizar o artigo;(h) corresponde ao resumo de uma parte do livro;(i) corresponde ao momento da produção;(j) corresponde aos locais e/ou veículos onde o texto possivelmente circulará;(k) corresponde à conclusão.

Recentemente, J. K. Rowling (a), a criadora de Harry Potter, lançou Os Contos de Beedle, o Bardo (Rio de Janeiro: Rocco) (b), mesmo após ter declarado que “Harry Potter e as Relíquias da Morte”, o sétimo livro da série, encerraria a saga do bruxo. De fato, neste livro não sabemos nada mais de Harry, já que nem mesmo ele é citado na obra. Entretanto, Beedle nos leva de volta ao mundo dos bruxos, ao universo de Harry Potter; além disso, seus contos, como se sabe, foram citados e lidos por seus colegas de escola (c). A propósito, segundo Rowling, (a) o que a levou a publicar essa coletânea de histórias (já foram publicados

NOTA

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“Animais fantásticos e onde habitam” e “Quadribol através dos séculos”) foi uma “novíssima tradução dos contos feita por Hermione Granger”, a amiga sabida de Harry Potter (d). O livro de Rowling (a) traz cinco “histórias populares para jovens bruxos e bruxas”, mas que, com as notas explicativas da autora, podem ser perfeitamente lidas pelos “trouxas” (como Rowling se refere às pessoas sem poderes mágicos, como nós). Nessas notas, Rowling (a) esclarece alguns termos próprios do mundo dos bruxos, por exemplo, “inferi”, que “são cadáveres reanimados por magia” (e). No mundo dos bruxos, Beedle, poder-se-ia dizer, tem a importância do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen e suas histórias se assemelham em muitos aspectos aos nossos contos de fada. Aliás, seus contos tiveram o mesmo destino dos nossos contos de fadas, ou seja, caíram no gosto das crianças e, como lemos no prefácio do livro, são usualmente contadas antes de dormir. Ademais, como afirma Rowling, nesses contos, assim como costuma acontecer nos contos de fadas, “a virtude é normalmente premiada e o vício castigado”. Nos contos de Beedle, no entanto, a magia nem sempre é tão poderosa quanto se pensa: seus personagens, apesar de serem dotados de poderes mágicos, não conseguem resolver seus problemas somente com magia. As histórias mostram, desse modo, que, ao contrário do que se pensa, a mágica pode tanto resolver quanto causar problemas ou pode também não ter efeito nenhum (f). Quanto às heroínas do livro, elas são em geral bem diferentes daquelas dos contos de fada “tradicionais”, ou seja, ao invés de esperarem por um príncipe que as venham salvar, elas enfrentam o próprio destino. No conto “A Fonte da Sorte”, por exemplo, são as três bruxas, Asha, Altheda e Amata, que procuram (juntas) a solução para seus próprios problemas. Elas buscam amor, esperança e a cura para uma doença na chamada “fonte da sorte”. Ao final da estória, elas alcançam aquilo que desejam, muito mais por méritos próprios do que pela magia das águas da fonte que, mesmo sem saberem, “não possuíam encanto algum” (g). Na verdade, os heróis dos contos não são aqueles com maiores poderes mágicos, mas sim aqueles que demonstram bom senso e que agem com gentileza. Um exemplo é “O conto dos três irmãos”, em que o irmão mais novo, ao se confrontar com a Morte “em pessoa”, não tenta trapaceá-la nem fazer mal a alguém. Desse modo, ao contrário dos seus irmãos, ele tem um final feliz, pois “acolheu, então, a Morte como uma velha amiga e acompanhou-a de bom grado, e, iguais, partiram desta vida” (g). Para aqueles que sentiam falta de Dumbledore, o poderoso mago Diretor de Hogwarts, J. K. Rowling (a) mata um pouco da saudade: no final de cada conto, há explicações e comentários do bruxo, os quais foram encontrados após sua morte. Suas explanações são bem pertinentes: elas mostram, por exemplo, que no mundo dos bruxos existia um preconceito contra os não bruxos (os “trouxas”), a ponto de excluí-los dos contos, ou dar-lhes apenas o papel de vilões, e também alertam para o fato de que alguns dos contos foram censurados ao longo da história e adaptados para que se tornassem “adequados para as crianças”. (g) Isso se assemelha muito àquilo que aconteceu com os contos de fada de um modo geral, os quais sofreram mudanças no enredo para que pudessem se adequar melhor à escola e ao mundo da criança. No entanto, os contos que nos são apresentados no livro são, segundo Dumbledore, os originais, ou seja, são os contos escritos por Beedle há muito tempo, sem adaptações (g). Outras questões são trazidas à tona nos contos: amor, tolerância, sentimentos e, como se viu, até mesmo a morte. Isso porque as histórias mostram como a magia não pode resolver tudo e o quão inútil é lutar contra a morte. Sabe-se que a mágica não é capaz de restituir o bem mais precioso: a vida (h). Os contos, traduzidos por Hermione Granger das runas, são inéditos, com exceção de “O conto dos três irmãos”, uma história contada para Harry, Rony e Hermione no sétimo livro da série de aventuras de Harry Potter (no capítulo 21, que leva o mesmo título do conto), que tem papel crucial no fim da saga do jovem bruxo (i). Quanto às ilustrações do livro, quem as assina é a própria J. K. Rowling (a), que doou parte do lucro obtido com a venda de Os Contos de Beedle, o Bardo para o “Children’s High Level Group”, uma organização responsável por ajudar cerca de um quarto de milhão de crianças a cada ano (i, j).

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Em Os Contos de Beedle, o Bardo, sentimo-nos de volta ao “mundo mágico de Harry Potter”. Pena que as 103 páginas do livro acabem tão rápido: para o leitor entusiasta do mago inglês e acostumado com as suas aventuras narradas ao longo de mais de 700 páginas fica um gostinho de “quero mais” (d). Depois de Beedle, resta aos fãs da magia de Rowling esperar até julho de 2009, quando será lançada a primeira parte do sexto filme baseado na saga de Harry Potter, “Harry Potter e o Príncipe Mestiço” (j). No mundo dos livros, no entanto, parece que finalmente (e infelizmente), a saga de Potter ganhou seu ponto final (k). Será?

FONTE: <http://cdn3.lendo.org/wp-content/uploads/2009/04/modelo-resenha-critica.pdf>. Acesso em: 4 jun. 2016.

AUTOATIVIDADE

Agora é sua vez! Tenha em mãos uma obra, livro/jornal/revista, em que o texto que você escolheu para resenhar foi publicado ou a referência bibliográfica. Antes de resenhar, você necessita ter claro para quem está escrevendo. Observe as informações que seguem com as possíveis características de produção de uma resenha, conforme os ensinamentos de Lousada e Abreu-Tardelli (2004):

AutorFunção social do autorDestinatário realImagem que o autor tem que ter de seu destinatárioTema/objetoLocais e/ou veículos onde o texto possivelmente circularáMomento da produçãoObjetivo do autor do textoAspectos para valorizar o artigoRestrições em relação ao artigoResuma as principais etapas do texto lido, para tanto, inicie escrevendo: O artigo de (nome do autor), (...). O objetivo do autor (...). Para isso (...). O artigo divide-se em (...). Primeiro (...). No item seguinte (...). Finalmente (...). O autor conclui (...).

Feito isso, elabore sua resenha!

Finalizada, releia seus escritos e verifique se o texto está adequado ao objetivo de uma resenha e ao destinatário; se o texto transmite a imagem que você quer passar de si mesmo; se as informações que o autor do texto original coloca como relevantes são por você abordadas e, ainda, além do conteúdo propriamente dito, você ofereceu dados sobre o autor; você expôs o conhecimento do autor em relação ao assunto; há uma organização global do texto; há adequação da linguagem usada no texto para o público ao qual se dirige; teve uma argumentação polida.

Agora, troque sua resenha com a de um colega e observe se os itens mencionados aparecem nos escritos dele e ele fará o mesmo com a sua resenha.

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4 TEXTOS HUMORÍSTICOS

Acadêmico, será que é possível aprender a língua portuguesa através da leitura de textos humorísticos? As piadas, as tirinhas humorísticas, as histórias em quadrinhos, as charges são bons exemplos desse gênero.

O objetivo desse gênero é fazer uso da graça, ou seja, é utilizado como um recurso expressivo, não apenas como um simples meio de comunicação. Acerca da temática do uso de diferentes textos nas aulas de português, Simões (2009, p. 52) afirma que os

Estudos e pesquisas contemporâneos voltados para o ensino da língua portuguesa têm promovido uma integração dialógica entre áreas, com vista não só ao aprofundamento da análise do sistema linguístico e de sua potencialidade estrutural, mas também à combinação de dados extraídos de áreas afins que participam dos processos discursivo-comunicativos. Estes, por sua vez, emoldurados pelos recursos digitais, vêm abrindo novas discussões em relação ao texto e à leitura. Essas discussões destacam a relevância da preparação dos sujeitos para interagir com múltiplos códigos.

Podemos compreender que diferentes estratégias empregadas para a leitura de textos de humor podem ser utilizadas também para a leitura de textos de outra natureza. A leitura e o estudo de textos humorísticos nos permitem que se explorem o duplo sentido, a ambiguidade provocada pela homonímia, pela polissemia e pela paronímia, conforme mostra a tirinha a seguir:

FIGURA 17 - HUMOR

FONTE:<http://ginasiocoreau.blogspot.com.br/2013/11/ambiguidade-em-generos-textuais-do.html>. Acesso em: 19 jun. 2016.

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AUTOATIVIDADE

Esse assunto foi abordado na avaliação do ENADE em 2014. Reflita sobre essa temática respondendo à Questão 13 do ENADE/2014 - Letras:

FONTE: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2014/30_letras_portugues_licenciatura.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2016.

Assim, a melhor maneira de se aprender uma língua é pelo seu uso, seja falando, ouvindo, lendo ou escrevendo. Então, respondendo nosso questionamento inicial, é possível aprender português por meio da leitura de textos de humor. Acreditamos que os textos de humor oferecem material sobre o uso da língua portuguesa. A língua é uma fonte de recursos expressivos, e estes últimos podem ser empregados em diversas situações.

Dessa maneira, permita que seus alunos tenham acesso aos mais variados gêneros textuais, incluindo os textos humorísticos.

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4.1 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

As histórias em quadrinhos, ou também conhecidas como HQs, são associadas à narração, pois apresentam texto e imagem que estabelecem uma ideia de complementaridade. Esse gênero popular entre crianças e adolescentes, por muito tempo, era visto como um “subgênero”. Portanto, as HQs ganharam espaço, demonstrando que grandes histórias podem ser contadas através da arte sequencial. Acevedo (1990, p. 33) postula que os

[...] quadrinhos são uma sequência. O que faz do bloco de imagens uma série é o fato de que cada quadro ganha sentido apenas depois de visto o anterior; a ação contínua estabelece a ligação entre as diferentes figuras. Existem cortes de tempo e espaço, mas estão ligados a uma rede de ação logicamente coerente.

Nos quadrinhos podemos observar a utilização de dois códigos: o linguístico e o das imagens. Elementos importantes para que nossos alunos tenham uma interpretação e compreensão plena das HQs e de outros gêneros.

Os balões que apresentam a fala das personagens também são elementos importantes nas HQs. No entanto, uma personagem pode estar cochichando, chorando, sonhando, pensando, gritando e muito mais, não é mesmo?

Assim, para que o leitor entenda melhor o que está acontecendo nas HQs, há um balão de acordo com cada caso, que objetiva deixar a história com mais vida e clareza. Observe os principais balões de diálogo:

FIGURA 18 – TIPOS DE BALÕES

FONTE: <http://www.eraumavezbrasil.com.br/voce-sabia-que-existem-diversos-tipos-de-baloes/>. Acesso em: 19 jun. 2016.

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A primeira história em quadrinhos de que se tem notícia no mundo foi criada pelo artista americano Richard Outcault, em 1895. A linguagem das HQs, tal qual conhecemos hoje, com personagens fixos, ações fragmentadas e diálogos dispostos em balõezinhos de texto, foi inaugurada nos jornais de Nova York com uma tirinha de Outcault, chamada The Yellow Kid, e fez tanto sucesso que acabou sendo disputada por jornais de renome. Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/literatura/historia-historia-quadrinhos.htm>. Acesso em: 19 jun. 2016.

FONTE: <http://www.tvsinopse.kinghost.net/art/y/yellow-kid_arquivos/yellow1995.jpg>. Acesso em: 19 jun. 2016.

NOTA

Podemos citar como principais escritores brasileiros de histórias em quadrinhos: Ângelo Agostini, um italiano radicado no Brasil, que criou os quadrinhos As Aventuras de Nhô Quim. J. Carlos e Luiz Sá criaram a revista Tico-Tico. Vitor Civita foi o primeiro escritor brasileiro a publicar as versões das histórias da Disney. Flavio Colin estreou uma das mais duradouras revistas em quadrinhos totalmente produzidas no Brasil: As Aventuras do Anjo. Gedeone Malagola criou o primeiro super-herói das revistas em quadrinhos do Brasil: o Capitão 7. Ziraldo criou a Turma do Pererê. Uma de suas obras mais famosas foi Menino Maluquinho. Mauricio de Sousa é um dos mais famosos cartunistas, criador do cachorrinho Bidu, Mônica, Cebolinha, Chico Bento, Cascão, Magali, Pelezinho. FONTE: <http://todacrianaespecial.blogspot.com.br/2012/03/os-principais-autores-brasileiros--das.html>. Acesso em: 19 jun. 2016.

NOTA

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4.2 ANEDOTAS

As anedotas são um gênero que proporciona o entretenimento ao receptor e/ou leitor. Em outras palavras, a anedota é um relato breve de um acontecimento curioso ou divertido e, muitas vezes, baseado em fatos reais (POSSENTI, 1998).

Os gêneros humorísticos, dentre eles as anedotas, segundo Possenti (1998, p. 60), podem

[...] argumentar que um texto impõe a seus leitores uma leitura única, sob pena de não entenderem sua razão de ser, não é a mesma coisa que dizer que o leitor é um receptor passivo de um texto, diante do qual só lhe resta a mera decodificação, isto é, o agenciamento puro e simples de seu conhecimento linguístico (POSSENTI, 1998, p. 60).

A anedota carrega a característica de despistar o leitor, “brincando”, de certa maneira, com os possíveis efeitos de sentido que ela pode adquirir, levando o leitor e/ou ouvinte a construir diversas interpretações, para que, ao final do texto, apenas um sentido seja levado em conta para que a anedota produza a “graça” que esse gênero requer (POSSENTI, 1998).

Apesar de as anedotas serem carregadas de humor, elas não são piadas, isto é, além de divertir, elas podem expressar uma realidade e até evidenciar uma característica de uma pessoa.

Martins e Medeiros (2008, p.1) postulam que

Uma anedota é como um fósforo: riscado, deflagrada, foi-se a serventia. A anedota é a repetição do enunciado e do enunciador, do leitor e da leitura, do autor e do artista, do significante e do significado, da sintática e da semântica. Todos estes territórios podem, ou não, se repetir na anedota — assim como a repetição, neste texto, da frase de Guimarães Rosa. A anedota é a falência do ser enquanto indivíduo (ser indivisível) e o início do divíduo (aquele que se divide).

Aprecie algumas anedotas e tire suas próprias conclusões:

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FIGURA 19 - ANEDOTA

FONTE: <https://www.pinterest.com/boutiquedoslavo/anedotas/>. Acesso em: 20 jun. 2016.

FIGURA 20 - ANEDOTA

FONTE: <http://casegas.blogspot.com.br/2006/08/anedotahomenagem-aos-senhores-dos.html>. Acesso em: 20 jun. 2016.

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5 TEXTOS PUBLICITÁRIOS

Você já ouviu falar na expressão “a propaganda é a alma do negócio”? Se sim, já sabe do que se trata esta seção. Os textos publicitários são desenvolvidos para campanhas de publicidade, e podem ser escritos (anúncios, panfletos, flyers) ou veiculados oralmente (propagandas de rádio). Por mais que não nos demos conta, os textos publicitários são mais presentes em nossa vida do que imaginamos e aparecem por toda parte. Comece a observar ao seu redor: quantos textos publicitários você vê/ouve todos os dias?

De acordo com Sant’Anna (1998, p. 75):

A palavra publicidade significa, genericamente, divulgar, tornar público, e propaganda compreende a ideia de implantar, de incluir uma ideia, uma crença na mente alheia. Comercialmente falando, anunciar visa promover vendas e para vender é necessário, na maior parte dos casos, implantar na mente da massa uma ideia sobre o produto. Todavia, em virtude da origem eclesiástica da palavra, muitos preferem usar publicidade, ao invés de propaganda; contudo, hoje, ambas as palavras são usadas indistintamente.

A principal finalidade do texto publicitário é, portanto, persuadir o leitor/ouvinte a adquirir determinado produto ou serviço (por isso a apelação é tão comum) ou ainda fazer com que se sensibilize acerca de alguma campanha, seja ela privada ou pública. O texto publicitário está presente em cartazes, conforme veremos a seguir, e necessita de algumas regras para ser elaborado. Observe:

Texto persuasivo com verbos em geral no imperativo (função apelativa da linguagem) e linguagem simples.

FIGURA 21 - DENGUE

FONTE: <portaldoprofessor.mec.gov.br>. Acesso em: 16 jul. 2016.

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UNIDADE 2 | GÊNEROS E TIPOLOGIAS TEXTUAIS

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O texto que compõe o anúncio é cartaz (adiante veremos com mais propriedade), é curto para que o leitor possa lê-lo rapidamente. Há nele verbos no imperativo acessíveis a todos, ou seja, não há complexidade na mensagem. Os verbos estão no singular (não deixe, cubra) e têm certa apelação, pois todos querem que seu verão seja divertido.

Conotação humorística ou impactante, dependendo do objetivo.

FIGURA 22 - PROPAGANDA DE CHOCOLATE

FONTE: Disponível em: <brunakelly2012.blogspot.com>. Acesso em: 6 jul. 2016.

Neste caso, há um texto publicitário de cunho humorístico, cujo objetivo é divertir o leitor e convencê-lo de que o chocolate é uma boa solução para o mau humor. O uso da contração “Tá” também atribui informalidade ao texto, o que é muito comum na publicidade, principalmente quando é veiculada a jovens, como é o caso (um dos indícios do público-alvo é que o texto fala em namorado).

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O publicitário é o profissional responsável por desenvolver o texto e montar o anúncio ou cartaz. Não é necessariamente o publicitário que os vincula na mídia.

IMPORTANTE

O texto publicitário, por ser de alta circulação na sociedade, também é muito utilizado para a conscientização do público acerca de problemas da sociedade. Neste caso, a linguagem utilizada não busca vender uma ideia, mas sim estimular os leitores a mudarem de atitude. Observe o texto publicitário a seguir:

FIGURA 23 - CARTAZ

FONTE: <uflaconsciente.ufla.br>. Acesso em: 8 jul. 2016.

Este texto foi desenvolvido com o intuito de despertar a consciência para a economia de água. A palavra água, em destaque, já dá ideia geral ao leitor sobre o que se trata. Em seguida, há as demais informações, que buscam convencer o leitor a juntar-se aos demais e fazer acontecer.

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5.1 O ANÚNCIO E O CARTAZ PUBLICITÁRIO

O anúncio publicitário e o cartaz são veículos de comunicação nos quais o texto publicitário é empregado. Ambos são muito parecidos, porém, o anúncio pode ser, além de visual, também veiculado através da oralidade, como os anúncios de rádio, por exemplo. Tanto anúncios quanto cartazes publicitários visam convencer, portanto são bastante chamativos e atraentes.

Em um anúncio de rádio, por exemplo, é comum o locutor anunciar acompanhado de um jingle (música específica criada para divulgar um produto) e o tom de voz é sempre de muita animação. Os cartazes sempre são coloridos e geralmente trazem imagens impactantes ou divertidas, dependendo da intenção da publicidade.

Observe o cartaz a seguir:

FIGURA 24 - CARTAZ SOBRE A DENGUE

FONTE: <https://www.todamateria.com.br/o-cartaz-como-genero-textual/>.Acesso em: 21 ago. 2016.

Este cartaz tem por objetivo conscientizar a população acerca do controle da dengue e, para isso, utilizou-se de uma conotação humorística. Há, no cartaz, informações verídicas, como, “ele já matou muita gente e pode estar solto pelas ruas”, mas há também uso de linguagem figurada, como a imagem do mosquito como um fugitivo perigoso procurado pela polícia. A ênfase maior é na imagem, que, por si só, já atinge seu objetivo. Agora, observe o outro cartaz:

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TÓPICO 2 | CARACTERÍSTICAS LINGUÍSTICAS

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FIGURA 25 - CARTAZ SOBRE DENGUE HEMORRÁGICA

FONTE: <jconline.ne10.uol.com.br>. Acesso em: 21 ago. 2016.

Neste cartaz, a intenção é a mesma: conscientizar acerca dos cuidados para prevenir a proliferação do mosquito da dengue, mas aqui, ao invés de humorístico, o conteúdo é impactante. As imagens, embora fictícias, retratam como ocorre a morte pela dengue hemorrágica, de modo a causar no leitor um impacto visual que o faça pensar melhor sobre os cuidados a serem tomados com o acúmulo indevido da água. A linguagem aqui é mais séria, sem uso de metáforas. Há maior ênfase no texto, que visa promover o alerta.

A estrutura do anúncio publicitário, de acordo com Maingueneau (2005), é composta por título, imagem, corpo do texto e identificação da marca/produto. O título deve ser conciso e despertar o interesse de quem observa o anúncio. A imagem é cuidadosamente escolhida a fim de complementar o texto. Muitas vezes, o texto é que complementa a imagem, como é o caso do primeiro exemplo do cartaz acerca da dengue. O corpo do texto é o que o publicitário deseja dizer para convencer o leitor. Deve ser breve e preciso. O público-alvo deve ser observado para que a linguagem seja adequada. A identificação da marca ou do produto deve ser colocada no anúncio para que o leitor saiba do que se trata. Vamos exercitar?

AUTOATIVIDADE

Localize no cartaz publicitário a seguir o título, a imagem, o corpo do texto e a identificação da marca/produto. Observe também quem é o público-alvo do cartaz publicitário e encontre no texto indícios. Faça suas anotações no próprio cartaz.

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UNIDADE 2 | GÊNEROS E TIPOLOGIAS TEXTUAIS

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FIGURA 26 - PROPAGANDA DE OMO

FONTE: <https://frasesdavida.wordpress.com/2012/09/07/omo-recruta-familias-pelo-facebook/>. Acesso em: 21 ago. 2016.

Há também cartazes cuja função é apenas informar. Neste caso, a função de linguagem utilizada passa de apelativa a apenas informativa. Veja:

FIGURA 27 - CASA DE MOISÉS

FONTE: <www.aquiemaguaslindas.com.br>. Acesso em: 16 jul. 2016.

Este cartaz traz informações acerca de um bazar que será realizado. Nele, há informações relevantes para que os interessados possam comparecer ao bazar, caso seja de seu interesse.

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TÓPICO 2 | CARACTERÍSTICAS LINGUÍSTICAS

147

AUTOATIVIDADE

Agora que você já conhece um anúncio e um cartaz publicitário, é com você! Crie um cartaz seguindo os seguintes passos: 1) Escolha o tema; 2) Crie o título e o corpo do texto; 3) Selecione uma imagem; 4) Trabalhe a colocação da imagem e do texto no cartaz para que chame a atenção. Depois, organizem uma exposição em sua turma!

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Os textos jornalísticos também são conhecidos como matérias, pois têm caráter informativo.

• As informações em um texto jornalístico são, geralmente, apresentadas de acordo com a relevância da informação para o momento ou para informar algum acontecimento recente.

• Caracterizam-se como textos jornalísticos a notícia, o artigo de opinião, a reportagem e a entrevista.

• A notícia é o mais conhecido dos gêneros textuais relacionados ao jornalismo.

• A notícia é estruturada em partes específicas: manchete, título auxiliar, lide (também chamado de lead) e corpo da notícia.

• Diferente da reportagem e da notícia, o artigo de opinião é escrito sempre em primeira pessoa, já que o autor expõe seu posicionamento diante do tema que está sendo debatido.

• Para que a estrutura da reportagem seja formada, é necessário responder a algumas perguntas básicas: O que, quem, quando, como e por quê. A partir destas questões, estrutura-se o corpo da reportagem.

• A entrevista possui um título bem definido (chamado também de manchete). Em seguida, são apresentadas ao leitor as perguntas e as respostas, que são redigidas fielmente ao que foi respondido. As entrevistas (ou parte delas) são muito usadas nas reportagens.

• Resumir é o ato de ler, analisar e traçar em poucas linhas o que de fato é essencial e mais importante no texto.

• Fazer um resumo significa apresentar o conteúdo de forma sintética, destacando as informações essenciais do conteúdo de um livro, artigo, argumento de filme, peça teatral, entre outros.

• A resenha é um texto em forma de síntese que expressa a opinião do autor sobre um fato, que pode ser um livro, um filme, peças teatrais, exposições, shows, entre outros.

• As histórias em quadrinhos, ou também conhecidas como HQs, são associadas à narração, pois apresentam texto e imagem que estabelecem uma ideia de complementaridade.

• O texto publicitário, por ser de alta circulação na sociedade, também é muito utilizado para a conscientização do público acerca de problemas da sociedade.

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AUTOATIVIDADE

1 Disponibilizamos alguns materiais que, adaptados, podem ser utilizados em sala de aula para diferentes atividades com gêneros.

- História em quadrinhos:

Que tal exercitar a mente pensando? Vamos fazer uma interpretação de história em quadrinhos com o tema: O Vendedor.

I- Observe os dois primeiros quadros da tirinha. Podemos perceber que o menino:

a) aceita logo a oferta do homem.b) discute o preço das balas com o homem.c) negocia o preço da sua mercadoria.d) oferece a sua mercadoria aos gritos.

II- tirinha utiliza um recurso para apresentar a fala dos personagens. Este recurso é:

a) o gesto.b) a cor.c) o tipo de letra.d) o balão.

III- Se analisarmos com mais atenção a fala do menino, no último quadro da tirinha, ela sugere:

a) aborrecimento.b) bondade.c) preconceito.d) inveja.

FONTE: <http://www.educarx.com/2013/09/interpretacao-de-historia-em-quadrinhos.html>. Acesso em 21 jun. 2016.

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IV- No segundo quadro da tirinha, a fala do menino é marcada com um duplo ponto de exclamação. Isso reforça:

a) a irritação com o trabalho.b) o desinteresse pela venda.c) o apelo para vender.d) a pressa em vender.

V- Na fala em que o menino diz: “Não trabalho com pedestre”, o termo destacado refere-se a pessoas que:

a) andam de ônibus.b) caminham a pé.c) passeiam de bicicleta.d) viajam de carro.

2 Leia a tirinha da Mafalda, criação do cartunista argentino Quino, muito conhecida por suas opiniões ácidas e críticas sobre os mais variados assuntos, e assinale a alternativa que melhor expresse o efeito de humor:

a) O discurso de Susanita é responsável pelo efeito de humor, já que o tema feminismo é tratado de maneira engraçada e, de forma irônica, denotando certo machismo por parte do autor da tirinha.

b) A amiga Mafalda em todos os quadrinhos opõe-se ao discurso da amiga Susanita e, por meio de suas feições, percebe-se que ela não está nada contente.

c) A linguagem verbal não auxiliou muito para o entendimento da tirinha, pois todo efeito de humor está expresso na linguagem não verbal por meio da expressão exibida por Mafalda, especialmente, no último quadrinho.

d) Susanita expressa um discurso de acordo com as teorias feministas que preconizam pela libertação das práticas tradicionalmente atribuídas à mulher. Contudo, no último quadrinho, ela defende o uso de uma tecnologia que reforça os padrões tradicionais que vivemos.

FONTE: <http://exercicios.mundoeducacao.bol.uol.com.br/exercicios-redacao/exercicios-sobre-interpretacao-charges-tirinhas.htm>. Acesso em: 19 jun. 2016.

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TÓPICO 3

OS GÊNEROS DA ESFERA COMERCIAL

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Uma boa leitura e escrita são elementos essenciais em qualquer área de atuação. Saber interpretar diferentes gêneros textuais, compreender suas diferentes linguagens, fazer inferências estabelecendo relações, são competências básicas para que o conhecimento e a progressão no seu dia a dia aconteçam de maneira plena.

Nesse sentido, o ato da leitura e da escrita engloba muito mais do que saber fazê-lo em um determinado campo ou área de atuação. A compreensão global desses dois elementos depende principalmente do conhecimento anterior que você tem sobre os assuntos, isto é, o quanto você é familiar às diferentes temáticas apresentadas na sociedade, na universidade, no seu trabalho, enfim, nas diversas esferas que se vive e convive.

Bakhtin (1988, p. 71) explica que os gêneros “[...] são tipos de enunciados relativamente estáveis e normativos, que se constituem historicamente, elaborados pelas esferas de utilização da língua”. Nesta linha de raciocínio, compreendemos que esses enunciados estão ligados às diferentes situações sociais que constituem outros gêneros com particularidades próprias.

Assim, a leitura, a compreensão e a interpretação, aliadas à escrita, ampliam o conhecimento linguístico e textual. De acordo com os dizeres de Geraldi (2001), torna-se essencial no dia a dia de qualquer indivíduo a execução perfeita de tarefas, como produzir esquemas, sínteses, criar roteiros, responder e-mails com clareza, interpretar e redigir ofícios, entre outros.

Diante dessa reflexão, continue atento na hora da leitura e da escrita de um texto, pois saber escrever, ler e, ainda, compreender e contribuir com as diversas temáticas que vivemos e convivemos no nosso cotidiano, é um diferencial positivo para qualquer área de atuação.

Convidamos você a ler e aprender mais sobre esse assunto. Você aprenderá a escritura de documentos importantes e perceberá como cada um tem particularidades na sua forma, conteúdo e linguagem.

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UNIDADE 2 | GÊNEROS E TIPOLOGIAS TEXTUAIS

2 E-MAIL

O correio eletrônico, ou simplesmente o e-mail, é uma das principais, senão a principal, ferramenta de comunicação utilizada pelas instituições e pelas pessoas, tanto formalmente como informalmente, para o envio de avisos, documentos, recados. Tal preferência pode ter advindo pelo seu baixo custo ou pela sua celeridade.

FIGURA 28 - O E-MAIL

FONTE: <http://www.uhull.com.br/07/26/o-e-mail-transformou-o-mundo/>. Acesso em: 2 jul. 2016.

O principal encanto desse tipo de comunicação é sua flexibilidade, pois, a princípio, não há muitas regras para sua composição. Porém, como essa ferramenta chegou às áreas mais formais, às instituições, devemos evitar, por exemplo, o uso de uma linguagem incompatível com a comunicação oficial.

Dessa maneira, tanto no mundo corporativo, quanto em nossa vida pessoal, é importante que saibamos redigir um texto de e-mail da maneira correta e adequada à situação da comunicação.

A seguir, você poderá compreender melhor do que estamos falando. Além de dicas de uma boa escritura, sem os exageros da formalidade e o descaso da informalidade, você poderá visualizar exemplos dessa ferramenta.

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TÓPICO 3 | OS GÊNEROS DA ESFERA COMERCIAL

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2.1 LINGUAGEM E SUGESTÕES PARA A ELABORAÇÃO DE UM E-MAIL

Os fatores mais importantes para a boa escritura de um e-mail são a concisão, a clareza e o português correto. Quem lê um e-mail bem escrito sente, no mínimo, a necessidade de respondê-lo o mais breve possível.

Tanto no âmbito pessoal como profissional, é importante saber como redigir um e-mail, pois, muitas vezes, necessitamos enviar mensagens para uma empresa, para a instituição de ensino em que estudamos, situações em que não podemos utilizar qualquer tipo de linguagem.

Não há uma receita para que a escrita de um e-mail seja perfeita, pois ela dependerá dos níveis de conhecimento e de cultura de cada um. No entanto, podemos prestar atenção nas dicas descritas a seguir e tentar exercitar tal prática.

Inicialmente, pense acerca da escolha de um endereço de e-mail. Parece bobagem, não é? Contudo, um endereço de e-mail neutro, sem ambiguidade, apelidos, números ou frases é um bom começo. Opte pelo uso de seu nome verdadeiro, com ou sem sobrenome ou pelas letras iniciais que compõem seu nome e/ou sobrenome.

O assunto do e-mail deve ser uma síntese do texto, então torne-o descritivo. Observe alguns exemplos: é muito vago escrever no item assunto: “Convite”; transforme-o em descritivo: “Convite para inauguração de filial” (GOLD, 2005).

Você pode iniciar o seu e-mail citando o nome do destinatário ou um vocativo. Se você achar necessário, use títulos formais como: Sr., Sra. Utilizar o “Olá” é aceitável quando você não sabe o nome da pessoa para quem você está escrevendo, pois o e-mail torna-se pessoal. Quando for o caso, é importante que você se apresente já no primeiro parágrafo e, se não houver necessidade, inicie escrevendo o assunto principal. Isso inclui dizer por que motivo você está escrevendo. Por exemplo: “O Meu nome é Maria. Estou entrando em contato para…”.

Realizada esta parte inicial, redija o e-mail com atenção. Utilize palavras educadas quando perguntar alguma coisa ou solicitar algo. Por exemplo: para pedir que alguém envie um formulário, escreva “gentileza encaminhar o formulário...” ou “por favor, encaminhe o formulário”. Nunca escreva diretamente: “encaminhe o formulário”. Demonstre polidez.

No corpo do e-mail escreva as informações que quer passar ao interlocutor ou resposta a e-mail anterior. Lembre-se de que, na escrita, o uso de clareza, da concisão, da objetividade e da correção gramatical necessita de atenção. Inicie a escrita de e-mail pela informação mais importante. É interessante restringir-se a uma tela e/ou página (GOLD, 2005).

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UNIDADE 2 | GÊNEROS E TIPOLOGIAS TEXTUAIS

O uso das gírias necessita ser evitado, pois elas podem gerar constrangimento. A linguagem utilizada precisa estar clara e de fácil entendimento. Dessa maneira, verifique a ortografia e a gramática.

Utilize termos formais e coerentes com o vocativo para o fechamento de sua mensagem, como “atenciosamente”, se o vocativo for “prezado”. Não esqueça de assinar sua mensagem com o seu nome completo, cargo, empresa e telefone, ou assine apenas seu nome completo e, caso ache necessário, seus telefones para contato (GOLD, 2005).

Se você enviar documentos anexos ao e-mail, informe no corpo da mensagem, não esqueça de nomear adequadamente tais anexos.

Você acredita que concluiu? Nada disso, revise tudo novamente e procure por erros escondidos, observando se a mensagem que pretende transmitir está realmente clara. Se achar necessário, você pode solicitar a confirmação de leitura, pois além de útil, você pode aguardar a resposta sem aflições.

Apresentamos a seguir três exemplos de e-mail, sobre o mesmo assunto. Observe, segundo Gold (2005), como a informalidade sofre ligeiras modificações de acordo com a situação e com a cultura interna da empresa e/ou instituição:

Exemplo 1:De: TeresaPara: Eric Chaves, Alberto CotrimAssunto: ReuniãoTurma,Vocês não podem se atrasar pra reunião de quinta-feira, às 14. Temos

vários assuntos para analisar. Tragam esses assuntos já estudados, OK?Até, Teresa

Exemplo 2:De: TeresaPara: Eric Chaves, Alberto CotrimAssunto: ReuniãoPessoal,Estou confirmando nossa reunião de quinta-feira, às 14 horas. Não se

atrasem, pois temos vários assuntos para analisar. Vocês estão sabendo que as conclusões deverão ser apresentadas à diretoria na segunda-feira, portanto, tragam já os assuntos estudados.

Um abraço, Teresa

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TÓPICO 3 | OS GÊNEROS DA ESFERA COMERCIAL

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Exemplo 3:De: TeresaPara: Eric Chaves, Alberto CotrimAssunto: ReuniãoEquipe, Estou confirmando a reunião da próxima quinta-feira, às 14 horas. Solicito

que não se atrasem, pois temos vários assuntos para analisar. Como as conclusões serão apresentadas à diretoria na próxima segunda-feira, tragam os assuntos devidamente

estudados.Atenciosamente,Teresa CunhaDiretora do setor I(47) 33840000 ramal 123

De acordo com os exemplos apresentados, a padronização estética se mantém, bem como a estrutura da mensagem, com apresentação inicial, desenvolvimento e fecho. A linguagem e o grau de formalidade são determinados pelo conteúdo e também pelo destinatário. No Exemplo 1, o e-mail assume o papel de bilhete ou de contato telefônico, sua linguagem tem um grau de informalidade, aproximando-se da fala. O Exemplo 2, apesar de apresentar uma mensagem mais formalizada, utiliza uma linguagem que expõe certa rapidez de envio do contato, inclusive na maneira do cumprimento e da despedida. Quando o e-mail funciona como comunicação interna formal, verificamos um cuidado maior no planejamento textual das ideias e na gramática, conforme o Exemplo 3 (GOLD, 2005).

Nas autoatividades, você reescreverá alguns e-mails ditos confusos, aplicando os conhecimentos aprendidos nesta parte do caderno de estudos acerca de uma boa escritura das correspondências eletrônicas. Contudo, antes disso, vamos lembrar alguns elementos importantes segundo os ensinamentos de Gold (2005). Acompanhe:

• Escolha um endereço eletrônico neutro;• Escolha uma síntese para o assunto do e-mail;• Inicie o e-mail escrevendo sobre o assunto principal;• No corpo do e-mail, escreva as informações que deseja passar ao interlocutor ou resposta

do e-mail anterior;• Na despedida, utilize termos formais;Assine sua mensagem e, se necessário, destaque seu cargo e/ou contato.

IMPORTANTE

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UNIDADE 2 | GÊNEROS E TIPOLOGIAS TEXTUAIS

3 OFÍCIO

O ofício é uma comunicação escrita, formal, utilizada no serviço público e também no privado, trocada entre autoridades que exercem as mesmas funções ou entre funcionários com cargos inferiores, para seus superiores hierárquicos, com o propósito de fazer uma comunicação, solicitação e/ou reivindicação oficial.

Os ofícios podem ser feitos para pedir alguma coisa para uma autoridade ou para uma troca de informações administrativas, solicitações, agradecimentos, ordem, entre outros.

Segundo Flores (2002, p. 19), o ofício tem como função "o tratamento de assuntos oficiais pelos órgãos da Administração Pública entre si e por estes órgãos com particularidades”.

Dessa maneira, sendo ele uma correspondência oficial, é constituído por regras e sua linguagem é a formal. O ofício pode ser utilizado por associações, clubes e, também, como correspondência protocolar. Neste sentido, é muito importante prestarmos atenção ao tratamento exigido para cada cargo, já que ele é enviado para autoridades.

DICAS

Que tal relembrarmos os pronomes de tratamento? Acesse o site: <http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf46.php> e relembre-os. Ou, se você preferir, acesse o site <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/manual/manual.htm> e confira as orientações do Manual de Redação da Presidência da República.

3.1 ELABORAÇÃO E MODELO

Um dos pressupostos da utilização do ofício é a uniformização da comunicação. Nesse sentido, quando uma organização privada ou pública for redigir um ofício, necessita atentar para a padronização da estrutura. Seguindo uma estrutura padronizada, é possível comunicar mais rápido, além de facilitar o trabalho no caso de arquivamento para usos futuros.

Apresentamos a seguir algumas partes fundamentais de um ofício:

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TÓPICO 3 | OS GÊNEROS DA ESFERA COMERCIAL

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1- Timbre (se houver) 2- Três espaços duplos 3- (À esquerda) Número do ofício. (Na mesma linha, na posição centro-direita) Local e data 4- Um espaço duplo 5- Epígrafe 6- Dois espaços duplos 7- Vocativo (Prezados Senhores, Excelentíssimo Senhor Ministro,) 8- Três espaços duplos 9- Corpo do texto 10- Dois espaços duplos 11- Fecho 12- Três espaços duplos 13- Assinatura acima do nome, abaixo do qual aparece o cargo ou função 14- (Mais abaixo, à esquerda) Endereçamento: nome e cargo ou apenas o cargo do destinatário, endereço postal completo 15- Iniciais de quem redigiu e de quem digitou, separadas por barra (/).

Agora, vamos pontuar algumas observações pertinentes à elaboração de um ofício:

O timbre existe quando o papel utilizado pertence à repartição oficial ou a uma empresa. Em se tratando de pessoa física, geralmente não aparece. Ele está no alto da folha e deve conter o símbolo do órgão, o nome do órgão e do setor, o endereço para correspondência, o telefone, o fax e o e-mail.

O ofício é numerado quando o remetente é uma pessoa jurídica. Normalmente, pessoas físicas não costumam numerar correspondência. O número é de ordem e geralmente recomeça do 1 a cada ano civil.

O vocativo é sempre seguido de vírgula. Ele é o nome e o cargo da pessoa a quem é dirigida a comunicação, com alinhamento à esquerda.

A epígrafe é uma palavra ou uma expressão que resume o assunto de que o texto trata. Sua existência não é obrigatória, mas conveniente, pois, constando, agiliza a tramitação do documento no ambiente de destino: o recebedor, ao ver a epígrafe, poderá encaminhar de imediato o ofício ao setor competente. Ela costuma ser colocada à esquerda, entre a data e o vocativo.

Os parágrafos do corpo do texto podem ser numerados. Neste caso, o primeiro parágrafo e o que fecha o assunto do ofício não recebem número.

Modernamente, o fechamento é menos formal e mais conciso.

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UNIDADE 2 | GÊNEROS E TIPOLOGIAS TEXTUAIS

Se houver anexos, será indicado com um número (Anexo: 1) entre a assinatura e o endereçamento. Às vezes, o anexo é volume composto de diversas folhas, o que é indicado pelo número de volumes e o total de folhas de que se compõem: Anexos: 1/10.

Se for utilizada mais de uma folha na redação do ofício, o endereço será indicado apenas na primeira.

FONTE: Adaptado de: FERNANDES, Paulo. Dicas de Português. Dica de no 82, 2002. <http://www.paulohernandes.pro.br/dicas/001/dica082.html>. Acesso em: 3 jul. 2016.

DICAS

Visualize um exemplo de ofício:

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RADIOEXPECIONÁRIOS (ABRA)

Of. n.º 15/02Brasília (DF), 25 de março de 2002.

Ref.: Expedição à ilha da Coroa Vermelha

Excelentíssimo Senhor Comandante,

Tendo em vista que nossa associação pretende realizar expedição radioamadorística à ilha da Coroa Vermelha, da jurisdição desse distrito naval, solicitamos-lhe a especial fineza de autorizar nosso desembarque e permanência naquela ilha. Seguem os dados do empreendimento:· Período: de 17 a 19 de maio de 2002 · Número de operadores: três · Transporte: traineira "Teixeira de Freitas", baseada no porto de Caravelas (BA) · Estações a serem instaladas: duas · Abrigo: - das estações - Barraca militar cedida pelo Comando Militar do Planalto, do Exército Brasileiro. - dos operadores - Três barracas do tipo canadense.2. Informamos-lhe ainda que os indicativos de chamada das estações já foram requeridos junto à ANATEL. Estamos a seu dispor para mais informações, se necessário.3. Na expectativa de resposta favorável, subscrevemo-nos

Atenciosamente,

PAULO ANTONIO OUTEIRO HERNANDESSecretário

Ex.mo Sr. Vice-Almirante JOSÉ DA SILVA PEREIRA DD. Comandante do 2º Distrito Naval Rua Conceição da Praia, 335 40015-250 - Salvador (BA)

FONTE: <http://www.paulohernandes.pro.br/dicas/001/dica082.html >. Acesso em: 3 jul. 2016.

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TÓPICO 3 | OS GÊNEROS DA ESFERA COMERCIAL

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4 CARTA COMERCIAL

A carta comercial, apesar de ser substituída por muitas instituições pelo e-mail, é um documento muito comum no comércio, setor bancário, na indústria, setor de serviços, entre outros segmentos. Ela é um documento com o objetivo de se fazer uma comunicação comercial e/ou empresarial.

No que se refere ao conteúdo, ela pode ser definida por distintas intenções, como o agradecimento por um serviço prestado, a solicitação de um determinado orçamento, a cobrança na melhoria de algum serviço prestado, a cobrança financeira, entre outras.

A redação comercial tem como características a clareza, ou seja, o texto, além de ser claro, necessita ser objetivo, evitando múltiplas interpretações, o que prejudica os comunicados e negócios. A estética da carta comercial tem o propósito de boa impressão, o texto deve estar bem organizado e dentro de uma estrutura padrão. Não pode haver rasuras.

A linguagem necessita estar concisa e objetiva, pois as informações precisam ser repassadas sem usufruir de recursos estilísticos. Na carta, você precisa ser impessoal, ou seja, não faça uso da subjetividade e de sentimentalismo. Por fim, observe a norma culta da língua. Nesse sentido, é importante que haja correção, pois um possível equívoco pode gerar desentendimento entre as partes e possíveis prejuízos.

Uma carta comercial necessita de uma estrutura padrão, assim, o papel utilizado deve ter o timbre e/ou cabeçalho, com informações como nome, endereço, logotipo da empresa. Isso, normalmente, já vem impresso.

O nome da localidade e data é colocado à esquerda e abaixo do timbre. Utilize a vírgula depois do nome da cidade. O mês deve vir em letra minúscula, o ano dever estar logo em seguida, sem ponto ou espaço. Use ponto final após a data.

Escreva o nome e o endereço do destinatário à esquerda e abaixo da localidade e data. Coloque um vocativo impessoal: Prezado(s) Senhor(es), Caro Cliente, Senhor Diretor, Senhor Gerente etc. Inicie o texto fazendo referência ao assunto, tais como: “Com relação a...”, “Em atenção à carta enviada..”, “Em atenção ao anúncio publicado...”, “Atendendo à solicitação...”, “Em cumprimento a...”, “Com relação ao pedido...”, “Solicito que...”, “Confirmamos o recebimento”, entre outras.

Você pode fazer abreviações do pronome de tratamento ao referir-se ao destinatário: V.S.ª; V. Exa.; Exmo.; Sr.; etc. Sobre o fechamento da carta, despeça-se em tom amigável, utilizando termos como Cordialmente, Atenciosamente, Respeitosamente. Evite terminar a carta anunciando tal fato ou de forma muito direta.

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UNIDADE 2 | GÊNEROS E TIPOLOGIAS TEXTUAIS

DICAS

Quer conhecer mais reduções? Acesse o site <http://www.academia.org.br/nossa-lingua/reducoes> da Academia Brasileira de Letras e confira a escrita correta das abreviaturas.

4.1 MODELO

Visualize um modelo de carta comercial e tente encontrar os elementos que estudamos:

FONTE: <http://www.noticiasautomotivas.com.br/toyota-nos-manda-uma-carta-de-desculpas/.>. Acesso em: 3 jul. 2016.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Tanto no âmbito pessoal como profissional, é importante saber como redigir um e-mail, pois, muitas vezes, necessitamos enviar mensagens para uma empresa, para a instituição de ensino em que estudamos, situações em que não podemos utilizar qualquer tipo de linguagem.

• O correio eletrônico, ou simplesmente o e-mail, é uma das principais, senão a principal, ferramenta de comunicação utilizada pelas instituições e pelas pessoas, tanto formalmente como informalmente, para o envio de avisos, documentos, recados. Tal preferência pode ter advindo pelo seu baixo custo ou pela sua celeridade.

• O ofício é uma comunicação escrita formal utilizada no serviço público e também no privado, trocada entre autoridades que exercem as mesmas funções ou entre funcionários com cargos inferiores, para seus superiores hierárquicos, com o propósito de fazer uma comunicação, solicitação e/ou reivindicação oficial.

• Um dos pressupostos da utilização do ofício é a uniformização da comunicação. Nesse sentido, quando uma organização privada ou pública for redigir um ofício, necessita atentar para a padronização da estrutura. Seguindo uma estrutura padronizada, é possível comunicar mais rápido, além de facilitar o trabalho no caso de arquivamento para usos futuros.

• A carta comercial, também conhecida como carta empresarial ou, ainda, correspondência técnica, é um documento muito comum no comércio, setor bancário, na indústria, setor de serviços, entre outros segmentos. Ela é um documento com objetivo de se fazer uma comunicação comercial e/ou empresarial.

• A redação comercial tem como características a clareza, ou seja, o texto, além de ser claro, necessita ser objetivo, evitando múltiplas interpretações, o que prejudica os comunicados e negócios. A estética da carta comercial tem o propósito de boa impressão, o texto deve estar bem organizado e dentro de uma estruturação padrão. Não pode haver rasuras.

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1 Agora é sua vez! Reescreva os e-mails que seguem observando as indicações apresentadas acerca dessa temática:

E-mail A:De: [email protected]: [email protected]: atividade - IMPORTANTEData: 07/07/16

Prezada acadêmica Joana,Em primeiro lugar, desejo que esteja bem e espero que tenha uma boa semana.Você sabe que no ensino a distância o respeito aos prazos é fundamental para um bom andamento do curso e, por isso, chamo a atenção para o fato de que você não entregou a atividade programada para o dia 05/07. Gostaria que você informasse o motivo da não entrega, porque se ele for justo há a possibilidade de estabelecer um novo prazo.

Aguardo sua resposta urgente.

Sem mais,Antônio da Silva,Tutor da disciplina de Metodologia Científica.

E-mail B:ASSUNTO: Treinamento

Prezados Senhores,Em resposta à sua gentil solicitação a nós enviada pelo digníssimo representante de V. Sa., Sr. Eldoro da Cunha, vimos, através desta, informar que já se encontram à sua disposição as salas A1 e A2 para o treinamento dos novos estagiários.Conforme contato pessoal com o representante supracitado de V. Sas., as salas deverão ser utilizadas nos dias 28 e 29 de julho, das 8 às 17h. Outrossim, comunicamos que o custo total pelo uso das salas e dos equipamentos sofrerá um desconto de 10% (dez por cento), de acordo com o que ficou estabelecido em nossa última reunião, em 20-5-2016.Sem mais que se nos possa apresentar para o momento, despedimo-nos.

Atenciosamente,

AUTOATIVIDADE

Page 173: L Portuguesa exPressão escrita e comPreensão de texto

163

UNIDADE 3

NOVAS FORMAS DE LEITURA E DE INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

Ao final desta unidade, você será capaz de:

• compreender os usos do(s) letramento(s), a fim de constituir seus conceitos, habilidades, atitudes e maneiras de aplicabilidade na sua área de atuação;

• conhecer a hipertextualidade e suas ramificações, bem como a utilização dos aparatos tecnológicos para fomentar o processo de ensino e aprendizagem nas diversas modalidades de ensino;

• analisar os elementos acerca da interpretação na era digital e de novos métodos para que possam, de maneira flexível, auxiliar o êxito escolar.

Esta unidade de ensino contém três tópicos. No final de cada um deles você encontrará atividades que contribuirão para a apropriação dos conteúdos.

TÓPICO 1 – O LETRAMENTO NA ERA DIGITAL

TÓPICO 2 – A HIPERTEXTUALIDADE

TÓPICO 3 – A INTERPRETAÇÃO TEXTUAL NA ERA DIGITAL

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TÓPICO 1

O LETRAMENTO NA ERA DIGITAL

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

O letramento e/ou os letramentos vieram para nos levar a pensar em um ensino e em uma aprendizagem além da codificação e decodificação, isto é, o(s) letramento(s) inicia(m) uma compreensão diferenciada, baseada nos usos sociais da linguagem escrita. Podemos antecipar que o(s) letramento(s) implica(m) os usos e práticas sociais que fazemos da escrita e não apenas o que aprendemos de maneira formal na escola. Devemos considerar então todas as atividades em que nos envolvemos, a partir da escrita, como família, escola, igreja, mídias. Dionísio (2007, p. 9-11) nos ensina que

O letramento é um conjunto de práticas sociais que envolvem o texto escrito. Esta perspectiva é diferente de perspectivas exclusivamente cognitivas, digamos assim, que defendem que o letramento é um conjunto de capacidades para usar o escrito. [...] é um conjunto de práticas sociais, que envolvem o texto escrito, não do ponto restrito da linguagem, mas de qualquer texto. O letramento, portanto, é plural, envolve, integra outras linguagens que não são apenas a linguagem verbal através dos textos. Então, o sentido plural localiza essas práticas na vida das pessoas, práticas que são realizadas com finalidades para atingir os seus fins específicos de vida, e não um conjunto de competências que estão armazenadas na cabeça das pessoas. [...] não temos mais letramento, mas letramentos.

Partindo dos dizeres de Dionísio (2007), iniciamos uma discussão, neste tópico, acerca de uma temática recente, porém enraizada em temas, como a alfabetização, as práticas de linguagem, as estratégias de leitura, entre outros.

Sobre o tema que abordaremos: letramento digital na escola ou, como propõe o título que abre este tópico, o letramento na era digital, ainda temos muito que aprender, ler e compreender. Na realidade, cabe também aos estudos do letramento digital compreender questões como essas, pois de acordo com Braga (2007, p. 181):

Durante as décadas de 1980 e 1990, as teorias da linguagem experimentaram considerável avanço no conhecimento que hoje acumulamos sobre a escrita e as práticas letradas. A partir de meados dos anos 1990, os estudos do letramento ampliam o escopo de suas pesquisas, buscando entender também os eventos de letramento que ocorrem no contexto digital e o impacto dessas práticas na cultura e na sociedade em geral.

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UNIDADE 3 | NOVAS FORMAS DE LEITURA E DE INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

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Assim, notamos que, a partir de meados de 1990 em diante, muitos pesquisadores na área da Educação passaram a se debruçar sobre temáticas que envolvem questões relacionadas a essa nova prática letrada. Embora não haja um consenso sobre a compreensão do termo letramento em nossa sociedade, os termos “letramento eletrônico” e/ou “letramento digital” já vêm sendo muito utilizados, pois a oferta de cursos na modalidade a distância, a inserção das tecnologias da informação e comunicação nas aulas presenciais e a rede mundial de computadores têm aumentado o número de usuários cada vez mais.

Antes de iniciarmos nossos estudos, desafiamos você a discutir com seus pares e/ou refletir sobre que aprendizagens se fazem necessárias para o professor diante da temática do(s) letramento(s) e quais desafios se colocam para a escola, como agência de letramento por excelência?

UNI

FIGURA 29 - A ERA DIGITAL

FONTE: <http://pibidvagnerreis.blogspot.com.br/2013/12/a-era-digital-vs-o-presente.html>. Acesso em: 25 fev. 2016.

A figura que aborda a era digital considera uma compreensão, mesmo que nas entrelinhas, desse tipo de letramento, que é relativamente recente. Por vezes, somos surpreendidos com o novo e necessitamos pesquisar, estudar e refletir sobre o uso correto e suas implicações. Este tópico visa contextualizar o letramento digital na temática do(s) letramentos(s) e, ainda, refletir sobre as mudanças que a mediação da tecnologia digital tem propiciado no campo da linguagem.

Não perca o foco, vamos adiante!

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TÓPICO 1 | O LETRAMENTO NA ERA DIGITAL

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2 A LEITURA DIGITAL: UMA INTERPRETAÇÃO TEXTUAL DIFERENCIADA

FIGURA 30 - LEITURA DIGITAL

FONTE: <http://vaninha1gmailcom.blogspot.com.br/2012/11/>. Acesso em: 29 fev. 2016.

Acadêmico, você alguma vez leu algum livro no formato digital?

Afinal, o que significa ler em pleno século XXI? Ontem, líamos apenas em papel, hoje, lemos no papel e no digital. Será que a utilização da internet mudou ou mudará a nossa relação com a leitura? Vamos conversar um pouco sobre isso?

O fato de a internet ter mudado ou não a maneira da leitura e da escrita foi abordada na avaliação do ENADE em 2011. Reflita sobre essa temática respondendo à Questão 32 do ENADE/2011 - Letras:

Além de auxiliar no aprendizado, a tecnologia faz circular os textos de forma intensa, aberta e universal e, acredito, vai criar um novo tipo de obra literária ou histórica. Dispomos hoje de três formas de produção, transcrição e transmissão de texto: a mão, por impressão e por meio eletrônico - e elas coexistem.

FONTE: <http://revistaescola.abril.uol.com.br/lingua-portuguesa/ fundamentos/roger-chartier>. Acesso em: 20 ago. 2011.

AUTOATIVIDADE

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A partir da citação de Roger Chartier reproduzida acima, o que se pode afirmar em relação ao uso das tecnologias da informação e da comunicação no ensino da escrita e da leitura?

A- A tecnologia, ao fazer circular os textos de forma intensa, aberta e universal, acaba instaurando outra linguagem, o “internetês”, que, devido ao grande alcance entre os usuários em formação escolar, vai substituindo, pouco a pouco, a variante culta da língua portuguesa.

B- Os instrumentos digitais móveis cada vez mais modernos, como, por exemplo, os aparelhos celulares, favorecem a mobilidade da leitura, proporcionando aos seus usuários a liberdade tão cerceada pelas convenções que a leitura impressa impõe.

C- A transformação da técnica de produção, reprodução e circulação da cultura escrita, provocada pela tecnologia, reforça possibilidades diversas de acesso à leitura, mas não descaracteriza outras formas e outros suportes.

D- A extinção da leitura em livros impressos no Brasil é inevitável, haja vista os leitores hoje conviverem com repositórios digitais de leitura cada vez mais modernos, como os tablets. Os livros eletrônicos e os textos digitalizados, além de oferecerem inúmeras facilidades para a leitura e para a pesquisa, detêm a primazia sobre a cultura impressa.

FONTE: <http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/Ebooks/Pdf/978-85-397-0301-2.pdf>. Acesso em: 12 jul. 2016.

Acreditamos que quem mais lê livros em suporte digital é também quem mais lê livros em impresso. Contudo, a leitura digital, para muitos, pode ter um conceito vago, isto é, ela pode restringir-se aos Tweets, e-mails, posts do Facebook, e-books, revistas em apps e blogues em páginas da web. Diante disso, cabe nos questionarmos se estamos perante novas formas de leitura ou perante novos leitores?

Certamente estamos perante “novos leitores” de livros em formato digital, “novos” porque muitos leitores que liam em papel passaram a fazê-lo também em digital e porque outros tantos leitores que não liam ou não leriam em papel passaram a utilizar as ferramentas que envolvem a tecnologia para leitura. Falar de leitura, neste século, é aceitar o ler em formato digital e continuar, igualmente, a falar de leitura em papel.

Segundo Cardoso (2013, p. 10), “Falar de leitura [...] pressupõe igualmente aceitar a possibilidade de identificação de um novo tipo de leitor e de leituras, que moldarão tanto as políticas públicas de apoio à leitura como a valorização social e individual sobre o que pode ser considerado como leitura hoje”.

As inovações tecnológicas modificam as relações entre a leitura, o leitor, o texto, a comunicação, ora alternando as práticas de linguagem, ora exigindo dos sujeitos sociais mais habilidades no dito letramento digital. Se há a necessidade de atualização, as aulas de Língua Portuguesa necessitam adequar suas metodologias de modo a suprir essa necessidade de constituição de novas habilidades de leitura e escrita por meio das mídias digitais. E você, está assumindo conosco tal compromisso?

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TÓPICO 1 | O LETRAMENTO NA ERA DIGITAL

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De acordo com Koch e Elias (2010, p. 7):

[...] o texto é lugar de interação de sujeitos sociais, os quais, dialogicamente, nesse se constituem e são constituídos; e que, por meio de ações linguísticas e sociocognitivas, constroem objetos-de-discurso e propostas de sentido, ao operarem escolhas significativas entre as múltiplas formas de organização textual e as diversas possibilidades de seleção lexical que a língua lhes põe à disposição.

Dessa maneira, o texto vem adquirindo cada vez mais novas configurações e essas diferentes maneiras textuais nos dão a possibilidade de perceber que o texto hoje é algo multimodal. Dionísio (2007) define o texto multimodal como um processo de construção textual advindo da mobilização de diferentes modos de representação. Podemos compreender como modos de representação a imagem, a entonação, os efeitos visuais, os gestos, as cores, as músicas, ou, ainda, os recursos semióticos.

Os cartuns, as charges, as histórias em quadrinhos, as propagandas, as tirinhas etc., são exemplos de textos multimodais, pois trazem consigo a materialização de signos alfabéticos, como as letras, palavras e frases e os signos semióticos (imagéticos e visuais).

Na figura a seguir, a linguagem multimodal é abordada e, dentre os vários pontos de vista, podemos discutir um em que as palavras têm poder e consequências, muitas vezes utilizadas sem assumir uma identidade. Com a vinda da internet e, consequentemente, das novas linguagens, acreditamos que não corremos o risco de nos identificar, e construir uma opinião torna-se fácil, pois apenas críticas aparecerão e não uma exata consequência disso. Observe:

FIGURA 31 – LINGUAGEM MULTIMODAL

FONTE: <http://letramento-modulo4.forumfacil.net/t16-charges-de-trabalho>.Acesso em: 20 de fev. 2016.

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A temática que envolve a multimodalidade se fez presente na questão 40 da avaliação do ENADE/2011, para o curso de Letras. Leia e responda:

A inserção da multimodalidade no escopo de assuntos pertinentes à Linguística Textual implica: um necessário alargamento do conceito de texto, de modo a incorporar nele elementos não verbais (imagem, cor etc.); o emprego de dispositivos analíticos oriundos do campo de estudo do texto, que permita trabalhar com tais signos.

BENTES, A. C. RAMOS, P. ALVES FILHO, F. Enfrentando desafios no campo dos estudos do texto. In: BENTES, A. C, LEITE, M. Q. (Orgs.). Linguística de texto e Análise da conversação: panorama das pesquisas no Brasil. São Paulo: Cortez, 2010 (com adaptações).

Considerando o texto e a tirinha de Quino, que apresenta a menina Mafalda e seu irmão Guille, assinale a opção em que a análise da tirinha, como texto multimodal, recorre a dispositivos analíticos oriundos do campo de estudo do texto verbal.

A- Na tira, observa-se o desapontamento de Malfada com o mundo e como ela cria um meio para mostrar isso ao irmão pequeno, Guille, ou seja, ela recorre à comparação do mundo com o conteúdo fecal da fralda. Esse procedimento é percebido pelo desenho do último quadro, em que os dois personagens olham para o conteúdo da fralda.

B- A tira possibilita uma interpretação humorística por meio do procedimento da inversão de conceitos, ou seja, não é comum que uma criança apresente intenso juízo de valor em relação ao mundo, nem seja capaz de pensar no jargão vulgar que é inferido pelo estado dos personagens no último quadro.

AUTOATIVIDADE

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C- A tira traz um diálogo entre Mafalda e seu irmão Guille. Os personagens aparecem no primeiro quadrinho e tornam-se os objetos de discurso visuais desse quadro. Todos os quadros seguintes retomam coesivamente os dois personagens, mas, em cada quadro, esses objetos de discurso são reconfigurados pela alteração do desenho, que revela o estado dos personagens.

D- O juízo que Mafalda faz em relação ao mundo não é dito, mas inferido. Essa inferência é também construída pela mudança de enquadramento no último quadro, o que permite observar-se, com mais nitidez, a expressão facial dos personagens.

E- O desapontamento de Mafalda apresenta uma forte carga de ironia. A forma como foram utilizados os painéis atua para exprimir esse efeito. Nessa tira, a posição dos painéis dá pista sobre a ênfase conferida a certos aspectos da narrativa em que recai a ironia.

Em certos momentos, tantos modos de representação e interação com o texto podem gerar uma interpretação e/ou compreensão textual muito superficial, pois há uma sobrecarga de informações disponibilizadas, especialmente no material digital e, nem sempre o leitor, que é autônomo nas suas escolhas, consegue identificar o que é importante.

Braga (2010, p. 183) considera a aprendizagem interativa como sendo:

[...] intuitiva [pois] conta com o inesperado e as junções não lineares; multissensorial, na qual múltiplas habilidades sensórias interagem; convencional que justapõe informações através de algum tipo de analogia, perfazendo roteiros não previstos, colagens, mantendo permanentemente abertura para novas significações e para redes de relações; ela ainda é acentrada, pois tem coexistência de múltiplos centros; diferenciada em termos de procedimento de acesso, isto é, está ancorada na navegação, experimentação, simulação, participação e coautoria.

Nesse sentido, a leitura e a compreensão textual não resultam apenas do texto verbal, mas também de elementos semióticos. O leitor dá sentido ao texto não apenas fazendo uso de signos alfabéticos, mas de elementos visuais e imagéticos, ou seja, envolve elementos tanto verbais como não verbais. Assim, a leitura e a escrita, consequentemente, adquirem um novo formato.

Podemos inferir, segundo Jesus (2013), que a interpretação textual pode ser constituída por modalidades, em que o leitor, quando passivo, por exemplo, entende o sentido do texto como uma máquina fotográfica, isto é, sua interpretação é meramente passiva; já o leitor antecipador interpreta o texto com a visão da máquina fotográfica obstruída, prevalecendo assim a imagem que ele já tem em mente e, por fim, o leitor interativo, que compreende o texto interativamente, isto é, ele lê e considera as condições de produção do texto e de leitura mais atuais. É necessário lembrar que um texto adequado de leitura e de interpretação, seja digital ou não, necessita demonstrar coesão, coerência, intencionalidade, receptividade, informatividade, circunstancialidade e intertextualidade, entre outros elementos.

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Continue conosco e vamos trocar ideias sobre o(s) letramento(s)!

2.1 CONCEITO DE LETRAMENTO(S)

Para que você entenda melhor o(s) letramento(s) e os diversos conceitos que envolvem esse termo, elaboramos uma espécie de glossário que envolve o conceito de quatro grandes eixos, que podem ser considerados base para iniciarmos um estudo acerca desse tema. Os eixos são: os novos estudos do letramento; o(s) letramento(s); modelos de letramento: autônomo e ideológico e eventos e práticas de letramento.

Vamos adiante!

FIGURA 32 – LETRAMENTO

FONTE: <https://fsgeducacao.wordpress.com/2011/09/16/as-dimensoes-do-aprender-a-ler-e a-escrever/>. Acesso em: 23 fev. 2016.

A figura acima inicia uma discussão partindo da ideia de que a alfabetização não é mais vista como sendo o ensino de um sistema gráfico que equivale a sons. Um aspecto que necessita ser considerado na perspectiva dos letramentos é que a relação da escrita com a oralidade não é uma relação de dependência da primeira com a segunda, mas é antes uma relação de interdependência, isto é, os sistemas de representação se influenciam igualmente.

Para os novos estudos do letramento, o letramento é uma prática social, que pressupõe interação, isto é, passamos a considerar a leitura e a escrita a partir do contexto das práticas sociais e culturais (históricas, econômicas e políticas) (LANKSHEAR, 1999). Além disso, ele pode variar nas diferentes culturas, espaços, instituições e contextos. Dessa maneira, partindo do conceito de letramento “[...] como um conjunto de práticas sociais que envolvem o texto escrito” (DIONÍSIO, 2007, p. 210), e agora com a contribuição do olhar etnográfico, que nos permite detectar momentos importantes da recepção e reprodução, ampliamos os conceitos para sair da visão de um letramento dominante e defendemos que há vários letramentos, sendo eles sempre influenciados por relações ideológicas e de poder.

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A etnografia é uma abordagem de investigação científica. É a coleta de dados, escrita, interpretação, análise e refinamento de forma explícita. A etnografia implica tentar entender as pessoas, não suas personalidades, aspectos psicológicos ou movimentos sociais, mas as pessoas como seres embutidos em redes de significado, isto é, pensar nas pessoas como elas se identificam. A etnografia tem, dentre seus elementos, a participação, na qual você entende os aspectos de outra cultura vivenciando-a, indo até lá, estando lá, fazendo as coisas que eles fazem e como eles fazem (CARVALHO, 1999).

NOTA

O olhar etnográfico nos permite investigar os usos e significados da leitura e escrita como práticas sociais em contextos reais, desvinculando-se das pesquisas que já vinham se preocupando com o letramento como uma habilidade, técnica ou competência de leitura e escrita. É justamente por esse olhar social vinculado à linguagem escrita que a adjetivação “novos” foi adotada nos estudos de letramento. Assim, essa preocupação do letramento influenciada pelos estudos etnográficos considera “o que as pessoas fazem” e não mais “o que elas sabem” sobre a palavra escrita. Esses estudos também abarcam a noção de múltiplos letramentos.

FIGURA 33 – DEGRADAÇÃO AMBIENTAL - MULTILETRAMENTOS

FONTE: <http://www.partes.com.br/2013/09/13/letramentosmultiplos/#.VtD0BvkrJdg>.Acesso em: 25 fev. 2016.

Analise a figura e escreva o que ela aborda em sua totalidade. Observe que a tirinha lança mão da junção de elementos verbais e não verbais, isto é, o gênero textual faz uso da linguagem escrita com a imagética. Você precisa focar seu olhar em todas as imagens e expressões faciais das personagens, isto é, você não pode se ater apenas às duas palavras que aparecem expressas na tirinha. Vamos lá, converse com seus colegas e elabore novos conceitos acerca dos novos estudos do letramento.

AUTOATIVIDADE

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Para além da aquisição do código escrito do processo da alfabetização, entendemos letramento(s) como um conjunto de práticas sociais que têm como base a leitura e a escrita, produzidos por grupos específicos (KLEIMAN, 2008). Tendo em vista que os sujeitos se envolvem e se inserem nas práticas sociais, o letramento é compreendido no plural (letramentos) e sempre é situado historicamente. Barton e Hamilton (2000, p. 109) postulam que:

O letramento é, antes tudo, algo que as pessoas fazem, é uma atividade localizada no espaço entre o pensamento e o texto. O letramento não reside simplesmente na mente das pessoas como um conjunto de habilidades para serem aprendidas, e não estão somente no papel, capturadas em forma de texto, para serem analisadas. Como toda atividade humana, o letramento é essencialmente social e se localiza na interação interpessoal.

Dessa maneira, letramento são práticas sociais que envolvem a leitura e a escrita, não apenas a codificação e decodificação tratada na alfabetização. Os diferentes grupos sociais e momentos históricos promovem usos sociais da escrita variados, por isso utilizamos o termo letramentos.

FIGURA 34 – LETRAMENTOS

FONTE: <http://www.aliancaeabc.com.br/usw/produto/alfabetizacao-e-letramento/>.Acesso em: 28 fev. 2016.

Influenciado pelas pesquisas de cunho etnográfico (sensíveis aos usos e significados das práticas do letramento a partir do ponto de vista das próprias populações pesquisadas), o modelo ideológico de letramento entende que existem vários tipos de letramento e que as práticas a ele relacionadas têm base social (STREET, 2003). Nesta concepção, o letramento é “uma prática de cunho social e não meramente uma habilidade técnica e neutra”. Ainda, destaca-se “explicitamente o fato de que todas as práticas de letramento são aspectos

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não apenas da cultura, mas também das estruturas de poder numa sociedade” (KLEIMAN, 2008, p. 38), ou seja, o modelo de letramento ideológico dá ênfase à interação social, à pluralidade de práticas e às relações de poder envolvidas, em contraponto à concepção de um letramento dominante como a do modelo autônomo, que veremos adiante.

Podemos compreender que o modelo ideológico reconhece as variações das práticas de letramento conforme o contexto em que elas se dão. Você lembra que já estudamos que o letramento é uma prática social e que ele não pressupõe a divisão entre grupos orais e letrados, mas investiga as relações entre as práticas orais e as práticas letradas, assim, nesse modelo, o letramento não é por si só a causa do progresso e da mobilidade social.

Já o modelo autônomo, segundo Kleiman (1995, p. 21), “está associado quase que causalmente com o progresso, a civilização, a mobilidade social”. Dessa maneira, podemos compreender que esse modelo entende que o letramento por si só permite o acesso a outras práticas sociais e de aprendizagem, isto é, ele entende o letramento como garantia do progresso e da mobilidade social.

Nosso glossário finda com o entendimento dos eventos de letramento, que, em amplas linhas, são situações sociais em que o texto escrito se faz presente, tanto na interação entre os sujeitos que delas participam, quanto na interpretação que fazem do contexto no qual estão inseridos e, com a compreensão das práticas de letramento, que são formas sociais e culturais de uso da leitura e da escrita, permeadas por relações de poder.

A teoria social de leitura e escrita é composta por práticas, eventos e textos; e por isso compreendida “como um conjunto de práticas sociais que podem ser inferidas a partir de eventos mediados por textos escritos” (BARTON; HAMILTON, 2000, p. 114).

Em suma, podemos afirmar que, nas práticas de letramentos, abrangem-se as questões de natureza social, cultural e identitária, relacionadas aos eventos de letramento. Essas práticas estão sempre sujeitas a mudanças e a questões ideológicas, por envolverem os sentidos que os sujeitos dão a elas. São formas mais abstratas, subjetivas de utilizar a linguagem escrita e, por isso, diferentemente dos eventos, não podem ser diretamente observadas em atividades (BARTON; HAMILTON, 2000). Um bom exemplo de participação em práticas letradas é dado por Kleiman (2008): se em uma conversa alguém fala em tom ironizado e com os dedos sinaliza aspas no ar, o reconhecimento desse sinal pelo interlocutor é uma prática social de leitura.

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FIGURA 35 – PRÁTICAS DE LETRAMENTO

FONTE: <http://mulher30.com.br/tirinhas/page/124>. Acesso em: 26 fev. 2016.

Nessa tirinha, as aspas indicam ironia, pois o ato de queimar a roupa não seria acidental, e sim proposital. Isso ocorre nos eventos de letramento, em que os textos têm papel central em atividades específicas e regulares, a linguagem escrita, portanto, faz parte diretamente das interações humanas (BARTON; HAMILTON, 2000). Nesse sentido, os eventos de letramento são os episódios observáveis que surgem das práticas de letramento (da sua ordem ideológica, cultural e social), nos quais se investigam situações específicas da língua escrita, como “um evento de letramento acadêmico”, embora seja um conceito empregado de forma isolada ao deixar de contemplar os significados construídos acerca da leitura e da escrita na sociedade em geral (STREET, 2003).

FIGURA 36 – EVENTOS DE LETRAMENTO

FONTE: <http://hipertextoegenerosdigitais.blogspot.com.br/2012/07/letramento-digital.html>. Acesso em: 26 fev. 2016.

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A figura nos faz pensar que as duas senhoras são analfabetas digitais, não sabendo interpretar o que quer dizer o código de barras. Os letramentos, neste caso específico, o digital, devem estar inseridos em todas as classes sociais e em todas as etapas da educação, por serem de grande valia para a vida diária, já que não nos adianta apenas saber decodificar, necessitamos estar letrados para compreender as mensagens num todo.

Esperamos que o glossário tenha ajudado na sua compreensão acerca dos letramentos e que os outros conceitos apresentados alicercem e instiguem ainda mais sua prática diária escolar.

DICAS

Depois de tanta leitura e reflexão, que tal ver um bom filme e ainda aprender de maneira prazerosa? O filme O Sorriso de Monalisa apresenta em seu enredo belíssimas cenas acerca de um determinado tempo histórico, exemplificando aulas com conflitos entre os mundos do letramento. Vamos lá, pois a pipoca deve estar pronta!

FONTE: <https://cinehaus.wordpress.com/2008/12/08/o-sorriso-de-mona-lisa-2003/>. Acesso em: 29 fev. 2016.

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2.2.1 Novos modos de alfabetizar letrando

Porque alfabetização e letramento são conceitos frequentemente confundidos e sobrepostos, é importante distingui-los, ao mesmo tempo que é importante aproximá-los: a distinção é necessária porque a introdução, no campo da educação, do conceito de letramento tem ameaçado perigosamente a especificidade do processo de alfabetização; por outro lado, a aproximação é necessária porque não só o processo de alfabetização, embora distinto e específico, altera-se e reconfigura-se no quadro do conceito de letramento, como também este é dependente daquele (SOARES, 2003, p. 19).

Compreendemos, a partir de Soares (2003), que, apesar de os termos letrar e alfabetizar parecerem ter o mesmo significado, aplicam-se em diferentes práticas.

No processo de letramento, as habilidades de leitura e escrita se fazem presentes. Essa transmissão pode ser feita através do contato com os mais diversificados gêneros textuais, isto é, jornais, revistas, livros, letras de músicas, quadrinhos e/ou quaisquer outras fontes que permitam uma reflexão sobre o que foi lido.

Para que a alfabetização aconteça, o aprendizado de técnicas que fomentem a compreensão da linguagem, voltadas para a compreensão de conteúdos gramaticais, necessita ser desenvolvido. Tais conteúdos geralmente focam a ortografia, a gramática, os sons da linguagem falada etc.

É por este motivo que, por vezes, você deve ter ouvido que um sujeito alfabetizado pode não ser letrado, e isso procede, pois esse sujeito pode não possuir o hábito da leitura e, por este motivo, não conseguir responder às necessidades sociais que a escrita e a leitura demandam.

DICAS

Que tal repensar todos esses conceitos ouvindo uma música muito interessante? A música de Gabriel, O Pensador: “Estudo Errado”, escrita em 1995, faz uma crítica ao sistema educacional da época. A música traz o olhar de um aluno frente à escola que atua através do ensino tradicional, provocando questionamentos sobre o estudar e os efeitos que isso causa na educação plena do estudante.

FONTE: <https://www.letras.mus.br/gabriel-pensador/66375/>. Acesso em: 26 fev. 2016.

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TÓPICO 1 | O LETRAMENTO NA ERA DIGITAL

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Dessa maneira, podemos concluir que ser alfabetizado é saber ler e escrever. Já estar na condição de letrado é saber ler e ainda produzir textos, de gêneros e temas variados. Assim, letrar é mais que alfabetizar, e o essencial é que a alfabetização se desenvolva em um contexto de letramento, pois alfabetizar letrando é ensinar a ler e escrever, levando em conta que a linguagem é um fenômeno social.

Você, futuro professor, necessita conhecer todas essas ferramentas que auxiliam a construção do conhecimento, não pare! Venha conosco e aprenda ainda mais!

2.2 TECNOLOGIAS DE ESCRITA E DE LETRAMENTO DIGITAL

FIGURA 37 - TECNOLOGIAS DE ESCRITA

FONTE: <http://megaarquivo.com/2013/05/03/8142-mega-tecnologias-a-escrita/>.Acesso em: 28 fev. 2016.

Podemos fazer uma analogia entre o quadrinho acima e a era digital na qual vivemos, não é? São muitas as possibilidades que a tecnologia e suas ferramentas podem nos ofertar e, de repente, ainda não estamos totalmente preparados, pois os avanços tecnológicos não param.

Compreendemos, então, que a internet revolucionou o mundo, em especial, o da comunicação. Agora, temos a possibilidade de estar conectados a bibliotecas, livrarias, universidades, lojas, grupos de pesquisa, professores etc., pois aplicativos como messengers, blogs, Facebook, Whatsapp, Twitter, Snapchat e tantos outros de consulta, por exemplo, proporcionam a interação entre usuários do mundo inteiro, é só clicar, se comunicar e interagir.

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Você sabia que Whatsapp é um trocadilho com a expressão em inglês What’s up (E aí?)?

FONTE: <http://soemoticons.blogspot.com.br/>. Acesso em: 12 mar. 2016.

UNI

Esses aplicativos e/ou novos gêneros se caracterizam pela combinação de recursos que temos para nos comunicar, constituindo um falar‐escrito a uma conversa‐escrita. Costa (2005, p. 107-108) postula que

[...] o chat é diferente de uma conversa face a face ou telefônica. [...] O e-mail não é uma carta, nem um fax, nem uma chamada telefônica [...]. Ele é mais rápido que a correspondência postal comum, menos caro que o telefone, fácil de ser utilizado. Seu tom é coloquial e direto, não há perda de tempo, nem fórmulas convencionais. Esse tipo de dispositivo permite ainda que pessoas interessadas em um mesmo assunto possam fazer uma discussão coletiva on-line, como nos fóruns. [...] os blogs são um gênero híbrido de escrita de si, gênero este que submete a um constante processo de definição e redefinição as fronteiras entre as esferas do público e do privado.

A partir da perspectiva de Costa (2005), inferimos que o ato de teclar difere do ato que se emprega para escrever à mão. Assim, a comunicação síncrona ou assíncrona resulta numa interação prazerosa e criativa, já que possibilita a escrita teclada que proporciona liberdade de comunicação, podendo até gerar um relacionamento virtual intenso.

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TÓPICO 1 | O LETRAMENTO NA ERA DIGITAL

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Você se lembra da diferença entre comunicação síncrona ou assíncrona? Na comunicação síncrona, o emissor e receptor, como o termo sugere, são sincronizados, isto é, o receptor recebe as informações no momento em que o emissor as remete. Já na comunicação assíncrona, a sincronização é diferente, o emissor envia os dados e, periodicamente, insere um elemento de sinal, um bit especial no início e no fim da transmissão de um caractere e assim permite que o receptor entenda o que foi realmente transmitido. Imagine uma sequência de dados que precisam ser transmitidos. Cada bloco de dados inclui um grupo de informação de controle (chamado flag), para que se saiba exatamente onde começa e acaba o bloco de dados e qual a sua posição na sequência de informação transmitida. Assim, o receptor consegue distinguir onde a informação começa e acaba. Acompanhe o exemplo de Reis (2011, p. 23): na "[...] comunicação síncrona, os relógios do emissor e do receptor estão em perfeito sincronismo e são dependentes, enquanto no tipo assíncrono os relógios do emissor e do receptor apenas têm que estar suficientemente próximos e são independentes." Ainda não entendeu? Observe a imagem que segue:

NOTA

FIGURA 38 – TIPOS DE COMUNICAÇÃO

FONTE: <http://pt.slideshare.net/Sufea/formas-de-comunicao-no-ead-estratgias-sncronas-e-assncronas>. Acesso em: 1º mar. 2016.

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UNIDADE 3 | NOVAS FORMAS DE LEITURA E DE INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

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Nesse mesmo viés, o letramento digital vai além de ler e apertar telas ou, ainda, de se utilizar programas no computador, isso pertence à inclusão digital. O letramento digital necessita de fluência tecnológica, isto é, ela, a fluência, se aproxima do conceito de letramento como prática social e não como aprendizagem de uma tecnologia. Isso pode se assemelhar à alfabetização, no sentido de ser capaz de identificar letras e não ao letramento, que engloba o ato de ler e escrever nas práticas sociais. Você percebe que o letramento digital atribui significados a informações advindas de textos constituídos por gráficos, palavras, sons e/ou imagens, ou seja, para sermos letrados digitalmente, necessitamos dominar as regras que compõem essa prática social e empregá-las na produção e na representação de conhecimentos (ALMEIDA, 2005).

FIGURA 39 – LETRAMENTO DIGITAL

FONTE: <http://www.rioeduca.net/blogViews.php?bid=16&id=3936>. Acesso: em: 21 fev. 2016.

Conforme a figura sugere, o letramento digital participa da educação contemporânea e compreende o contexto social. A escola prepara para a vida, para o mercado de trabalho, para se ter criticidade diante dos espaços de informação, assim como as mídias e as ferramentas digitais. O letramento digital implica realizar práticas de leitura e escrita diferentes das maneiras tradicionais de letramento e de alfabetização. Para tanto, necessitamos de colaboração, de curadoria, de habilidades funcionais, de segurança digital, entre outras. Ser letrado digital pressupõe assumir mudanças na maneira de ler e de escrever os códigos e sinais verbais e não verbais, se compararmos às formas de leitura e escrita feitas no livro, até porque o suporte sobre o qual estão os textos digitais é a tela, que também é digital.

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TÓPICO 1 | O LETRAMENTO NA ERA DIGITAL

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Compreendemos que, de certa maneira, o letramento digital luta contra a ideia de que o ensino e a aprendizagem sejam vistos como uma maneira de ocupar os alunos. Eles, os alunos, estão se autoletrando e desafiando os sistemas educacionais tradicionais, propondo um jeito novo de aprender. Essa nova maneira de aprendizagem é mais dinâmica, participativa, descentralizada da figura do professor e pautada na independência, na autonomia, nas necessidades e interesses dos alunos que são usuários das tecnologias de comunicação digital (XAVIER, 2002).

Frente a esta realidade, necessitamos buscar conhecimentos e nos tornar abertos e acessíveis aos processos tecnológicos e à cultura digital.

3 O SER HUMANO EM TRANSFORMAÇÃO

A tecnologia é uma ferramenta que fez e faz com que o homem procure melhorar seu cotidiano, ou seja, ela é uma extensão do homem. Essa invenção e seu crescente avanço estão modificando a maneira de o ser humano compreender o mundo, causando uma necessidade de readaptação, reorganização e repaginação no seu estilo de vida.

Neste sentido, a tecnologia e a internet necessitam ser aplicadas e utilizadas com coerência, visto que, dentro do contexto tecnológico, há diversos aspectos positivos e outros tantos negativos.

FIGURA 40 – IMPACTOS TECNOLÓGICOS

FONTE: <http://exercicios.mundoeducacao.bol.uol.com.br/exercicios-geografia/exercicios-sobre-terceira-revolucao-industrial.htm>. Acesso em: 14 mar. 2016.

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UNIDADE 3 | NOVAS FORMAS DE LEITURA E DE INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

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Você consegue perceber que a tirinha apresentada faz uma crítica aos aparelhos tecnológicos que têm muitas e variadas funções, inclusive memória, possibilitando um acúmulo ainda maior de informações que, por fim, acabam não sendo absorvidas pelos seus usuários em razão da dita praticidade?

Leia o texto abaixo e responda à questão de número 15, que fez parte da avaliação do ENADE/2011 para o curso de Letras, repensando o que você estudou até o momento sobre a internet:

Qual é a primeira coisa que você faz quando entra na internet? Checa seu e-mail, dá uma olhadinha no Twitter, confere as atualizações dos seus contatos no Facebook? Há diversos estudos comprovando que interagir com outras pessoas, principalmente com amigos, é o que mais fazemos na internet. Só o Facebook já tem mais de 500 milhões de usuários, que, juntos, passam 700 bilhões de minutos por mês conectados ao site - que chegou a superar o Google em número de acessos diários. [...] e está transformando nossas relações: tornou muito mais fácil manter contato com os amigos e conhecer gente nova. Mas será que as amizades on-line não fazem com que as pessoas acabem se isolando e tenham menos amigos off-line, “de verdade”? Essa tese, geralmente citada nos debates sobre o assunto, foi criada em 1995 pelo sociólogo americano Robert Putnam. E provavelmente está errada. Uma pesquisa feita pela Universidade de Toronto constatou que a internet faz você ter mais amigos — dentro e fora da rede. Durante a década passada, período de surgimento e ascensão dos sites de rede social, o número médio de amizades das pessoas cresceu. E os chamados heavy users, que passam mais tempo na internet, foram os que ganharam mais amigos no mundo real — 38% mais. Já quem não usava a internet ampliou suas amizades em apenas 4,6%.

Como a internet está mudando a amizade. Superinteressante, n. 288, fev./2011 (com adaptações).

No texto, o trecho entre colchetes foi suprimido. Assinale a opção que contém uma frase que completa coerentemente o período em que o trecho omitido estava inserido.

A- A internet é a ferramenta mais poderosa já inventada no que diz respeito à amizade.

B- A internet garante que as diferenças de caráter ou as dificuldades interpessoais sejam “obscurecidas” pelo anonimato e pela cumplicidade recíproca.

C- A internet faz com que você “consiga desacelerar o processo, mas não salva as relações”, acredita o antropólogo Robin Dunbar.

AUTOATIVIDADE

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D- A internet raramente cria amizades do zero - na maior parte dos casos, ela funciona como potencializadora de relações que já haviam se insinuado na vida real.

E- A internet inova (e é uma enorme inovação, diga-se de passagem) quando torna realidade a “cauda longa”, que é a capacidade de elevar ao infinito as possibilidades de interação.

Assim, a tecnologia veio para facilitar a vida do ser humano. Ela transforma(ou) o ser humano, sensibilizando-o para assuntos novos e diversificados, diminuindo, por vezes, a rotina e o estresse do cotidiano, trazendo informações que podem o levar ao conhecimento, ligando-o com o mundo, aumentando a interação e, ainda, fazendo com que esse mesmo ser humano se comunique facilmente com o outro. Tais facilidades por ela proporcionadas abrem tantas possibilidades, como a falsa sensação de liberdade de escolha, por exemplo, que imputa e coloca o ser humano diante de novos e, talvez, problemas muito complexos e desafiadores.

A tecnologia causou mudanças significativas em muitos setores da nossa vida. Ela, como já discutimos, nos oferece agilidade, conforto e eficiência na realização de diversos processos e procedimentos. Podemos afirmar que muitas coisas foram modificadas com o advento da tecnologia. Na área da comunicação, podemos mencionar o telefone, depois o celular, os computadores, smartphones, entre outros; nas atividades que realizamos em nossas casas, a tecnologia muito nos auxilia com a lava roupas, a lava louças, os eletrodomésticos; na área do ensino, isto é, nas escolas e faculdades, o computador, o tablet, a digitalização de materiais; no entretenimento, com a televisão, os aparelhos de som, os jogos dos computadores; na área industrial, podemos dizer que surgiram as máquinas que intensificam a produção; nos negócios, os aparelhos facilitam a comunicação como quando necessitamos realizar conferências com pessoas em locais diferentes, por exemplo.

Dessa maneira, a transformação do ser humano, para com a tecnologia, é responsável pela criação de novas linguagens, de novos padrões de trabalho, de consumo e de lazer, contribuindo na modificação do ambiente natural que, até então, se vivia, exercendo influência no homem de maneiras diferenciadas (TARGINO, 1995).

Precisamos ter cuidado para não confundir o que supriu e, ainda supre, muitas das nossas necessidades com a perda da característica natural do ser humano, que é o convívio e a interação social.

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FIGURA 41 – INTERAÇÃO E TECNOLOGIA

FONTE: <http://joveminterativo.com/2011/a-tecnologia-e-o-casamento-7-dicas-para-melhorar-o-convivio/>. Acesso em: 15 mar. 2016.

Assim, a mesma ferramenta que nos serve como subsídio de ajuda pode nos prejudicar, tudo depende da maneira como a utilizamos. Precisamos usar todas as ferramentas tecnológicas com sabedoria e entendimento para que esse ser humano em transformação tenha resultados positivos.

Não perca o foco, relaxe, interaja com seus colegas e continue conosco!

3.1 CIBERCULTURA: UM UNIVERSO PEDAGÓGICO

[...] o tempo da escrita mudou radicalmente a cultura porque separou os processos de emissão e recepção, que na oralidade aconteciam juntos. Isso deu margem às interpretações. Nasce a crítica textual, a humanidade então vive há séculos dessa cultura escrita. Mas hoje, a cultura não é mais apenas do texto escrito, mas do texto escrito em tempo real possibilitado pela informática (OLIVEIRA, 2006, p. 152).

Podemos compreender, a partir de Oliveira (2006), que a escrita é uma maneira de registrarmos os acontecimentos, porém uma outra maneira de registro, a informática, intensifica ainda mais a escrita, proporcionando um registro mais dinâmico e interativo.

Assim, o neologismo “cibercultura” se resume em um conjunto de técnicas intelectuais e materiais, de atitudes e de práticas, de modos de pensar e de valores que se desenvolveram com o aparecimento do ciberespaço. O ciberespaço e/ou rede, para tanto, é o novo meio de se comunicar, no qual a interconexão mundial entre os computadores se consolida.

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A cibercultura é resultado das ações sociais, que envolve elementos como a internet, o hipertexto, interatividade, psicologia, ciberespaço, comunicação dos computadores através de weblogs, bookcrossing, mailing lists, newsgroups, chats, fóruns, e-mails, e-learning, cibercidades, cibersociedades, entre outras ferramentas, possibilidades e aplicabilidades individuais e sociais (LÉVY, 1999). Ela eleva o usuário de mero espectador da informação e/ou da notícia para produtor e formador de opinião. Essa postura que a cibercultura tem ofertado para o usuário necessita ser levada para o contexto pedagógico, ou seja, ela não é mais uma ferramenta tecnológica para a educação, mas vem sendo tida como a cultura de uma geração que vivencia esse saber no mundo virtual, e conseguir aproveitar e lidar com isso, que já vem com nossos educandos, torna-se uma lei da pedagogia contemporânea.

Dessa maneira, a cibercultura desenvolveu outra maneira de leitura e de escrita. Tal maneira envolve, entre outras características, a ampliação do nosso entendimento dos termos texto, autor e leitor. O texto, agora, segundo Lévy (1999), “[...] é posto em movimento, envolvido em um fluxo, vetorizado, metamórfico. [...] torna-se análogo ao universo de processo ao qual se mistura” (LÉVY, 1999, p. 34).

A facilidade que a internet oferece ao usuário no que diz respeito à divulgação de uma produção faz com que o texto perca aquela identidade singular, pois a mediação de suportes e dispositivos modifica as posições entre o autor e o leitor. A interatividade na produção e na recepção da mensagem, por exemplo, possui caráter imediato que o texto impresso não consegue atingir. Nessa dinâmica, quem lê passa a escrever e vice-versa, diluindo-se as fronteiras entre escritor e leitor. Aquele sistema de leitura e escrita unilateral não se configura mais, cada usuário é um autor, um leitor e um editor em potencial.

O que precisamos é prestar atenção, pois tudo acontece de maneira muito rápida e essa movimentação momentânea da informação necessita ser uma preocupação nossa e de todos os professores. Necessitamos desenvolver competências junto aos alunos, que são leitores, de conseguirem fazer a seletividade das informações apresentadas no universo on-line.

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UNIDADE 3 | NOVAS FORMAS DE LEITURA E DE INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

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3.2 AS NOVAS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO: MOVIMENTOS E UTILIZAÇÃO

FIGURA 42 – TECNOLOGIA

FONTE: <http://entci.blogspot.com.br/>. Acesso em: 26 mar. 2016.

Antes de iniciarmos nossa discussão acerca das novas tecnologias na educação, observe a figura e discuta com seus pares: Por que será que as crianças sempre chegam primeiro às novas tecnologias? Nós, futuros ou já professores, corremos algum risco por chegar depois?

Independentemente da resposta que você e seus colegas chegaram, devemos ter em mente que mais importante do que a internet estar na escola é a escola estar na internet, pois a tecnologia muda a maneira de nos relacionarmos com as coisas da nossa vida.

Sabemos, então, que a internet dispõe de muitos aplicativos e ela é a ferramenta mais completa, pois oferece informações em tempo real, possibilitando diversas pesquisas e interatividade. Podemos ainda acrescentar que a característica mais marcante da internet na vida dos seres humanos é o acesso à informação, por isso, diversos aplicativos podem ser utilizados no desenvolvimento de discussões e de tarefas através dos ícones para navegação na web.

Observe-os:

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TÓPICO 1 | O LETRAMENTO NA ERA DIGITAL

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FIGURA 43 – ÍCONES PARA NAVEGAÇÃO

FONTE: <http://www.superdownloads.com.br/download/139/web-2-icons-linux/>.Acesso em: 27 mar. 2016.

Neste mesmo viés, as escolas têm percebido o quanto é importante o uso das tecnologias para a aprendizagem e para o ensino. Em pleno século XXI, pensar em ensinar e aprender sem o uso dos diversos aparatos tecnológicos é a mesma coisa que deixar de acompanhar a evolução que está na essência da humanidade. Temos consciência de que muitas escolas e também muitos professores ainda se baseiam em metodologias de ensino ultrapassadas, mesmo coexistindo, ao lado de sua sala de aula, um laboratório de informática com computadores de última geração.

No entanto, nossos alunos chegam até nós, na escola, com celulares de última geração e preferem estar no Facebook, Twitter ou no Snapchat do que prestar atenção aos conteúdos ministrados pelos professores como importantes para sua formação.

Neste momento, cabe refletirmos: será que as novas tecnologias são importantes para a aprendizagem? Elas realmente podem contribuir? Zuin (2010, p. 964) nos ensina que

[...] as respostas para essas questões se referem ao fato de que tais transformações proporcionadas pelo desenvolvimento das forças produtivas, notadamente as de âmbito tecnológico, ocorrem numa tal velocidade que dificultam a composição de reflexões mais elaboradas sobre tal processo. Provavelmente, diante da rapidez do desenvolvimento dessas tecnologias, a expressão, tão comumente usada, de que estamos dentro do “olho do furacão”, não representa apenas uma figura de linguagem.

Apesar de a velocidade dificultar reflexões mais profundas acerca dessa temática, a utilização das tecnologias no ambiente educativo tornou-se uma ferramenta muito valiosa para a construção do conhecimento e mais interessante ainda por ser uma proposta prática, prazerosa, chamativa e significativa para aquele que aprende, e mais dinâmica para aquele que educa.

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UNIDADE 3 | NOVAS FORMAS DE LEITURA E DE INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

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O que não deve ser esquecida é a conscientização do professor para com seus alunos no que diz respeito ao uso alienado das mídias e da pesquisa na internet, ou seja, não podemos, como professores, solicitar uma pesquisa e pedir aos alunos que apenas imprimam o texto e o entreguem para gerar uma nota. Necessitamos orientar nossos alunos à leitura reflexiva de informações diversas, nos meios digitais, para que eles possam fazer descobertas que venham a ser compartilhadas e debatidas com um posicionamento científico e crítico em sala de aula.

Nesse contexto, a necessidade do diálogo sobre as relações entre as informações, o conhecimento, a tecnologia e seus meios, o ensino-aprendizagem, torna-se essencial para situar o professor e o aluno nesses contextos de informação. Para o professor, certamente, esse será um grande desafio: transformar a sala de aula convencional numa intermediação de vivências a partir das tecnologias. Para o aluno, esse será um importante momento: a aprendizagem de diversos conteúdos além do quadro e do giz.

É claro que a utilização da tecnologia na educação, por si só, não garantirá a aprendizagem dos alunos, ela necessita ser utilizada como um instrumento de ensino a serviço da constituição e apropriação do conhecimento. A introdução desse recurso na educação deve ser acompanhada de formação contínua dos professores, para que eles possam utilizar tal ferramenta de uma forma responsável e eficiente.

3.2.1 A inserção dos aparatos tecnológicos na sala de aula

O uso da informática na educação implica novas maneiras de se comunicar, de pensar, de aprender e de ensinar. A inserção desses aparatos de informática na escola não deve ser concebida como mais uma disciplina da grade curricular, mas eles devem ser utilizados como um recurso pedagógico que objetiva auxiliar o professor na integração dos conteúdos curriculares. Assim, esse recurso não pode apenas se limitar a técnicas de digitações e em conceitos de funcionamento do computador, uma porção de oportunidades necessitam ser exploradas pelos alunos e professores.

Valente (1999) postula que o computador na escola deve instruir os alunos, criando condições para que eles possam descrever e desenvolver as informações, reconstruindo-as e materializando-as por meio de novas linguagens. Assim, nesse processo, o aluno é desafiado a transformar as informações em conhecimentos práticos para sua vida. Valente (1999, p. 4) ainda nos sugere que:

[...] a implantação da informática como auxiliar do processo de construção do conhecimento implica mudanças na escola que vão além da formação do professor. É necessário que todos os segmentos da escola – alunos, professores, administradores e comunidades de pais – estejam preparados e suportem as mudanças educacionais necessárias para a formação de um novo profissional. Nesse sentido, a informática é um dos elementos que deverão fazer parte da mudança, porém essa mudança é mais profunda do que simplesmente montar laboratórios de computadores na escola e formar professores para utilização dos mesmos.

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TÓPICO 1 | O LETRAMENTO NA ERA DIGITAL

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Implantar laboratórios de informática nas escolas não é o suficiente para uma educação de qualidade, é necessário que todos os membros que constituem a escola, inclusive os pais, tenham seu papel redesenhado, ou seja, utilizar os aparatos tecnológicos, de maneira correta, implica um envolvimento da atividade humana em todas as esferas, principalmente na produtiva.

Antes de introduzir os aparatos tecnológicos nas aulas expositivas, faz-se necessário entender as funcionalidades e as consequências de seu uso, pois somente a partir disso torna-se possível utilizá-los de maneira a transformar as aulas em momentos de discussão, quando a participação dos professores e alunos acontece propiciando, uma comunicação em que todas as partes se envolvem.

Você sabia que existe até um prêmio, reconhecido pela Microsoft, para os professores que melhor utilizarem a tecnologia em sala de aula? O prêmio faz parte do programa “Parceiros na Aprendizagem”, que está presente em 119 países e estimula a utilização de recursos tecnológicos para melhorar o processo de aprendizagem dos estudantes.

NOTA

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RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• O letramento é um conjunto de práticas sociais que envolvem o texto escrito.

• O letramento e/ou os letramentos vieram para nos levar a pensar em um ensino e em uma aprendizagem que vai além da codificação e decodificação, isto é, essa invenção, chamada letramento(s), inicia uma compreensão diferenciada, baseada nos usos sociais da linguagem escrita.

• A partir de meados dos anos 1990, os estudos do letramento ampliam o escopo de suas pesquisas, buscando entender também os eventos de letramento que ocorrem no contexto digital e o impacto dessas práticas na cultura e na sociedade em geral.

• As inovações tecnológicas modificam as relações entre a leitura, o leitor, o texto, a comunicação, ora alternando as práticas de linguagem, ora exigindo dos sujeitos sociais mais habilidades no dito letramento digital.

• Para os novos estudos do letramento, o letramento é uma prática social, que pressupõe interação, isto é, passamos a considerar a leitura e a escrita a partir do contexto das práticas sociais e culturais (históricas, econômicas e políticas) (LANKSHEAR, 1999).

• O modelo ideológico de letramento entende que existem vários tipos de letramento e que as práticas a ele relacionadas têm base social (STREET, 2003).

• O modelo autônomo, segundo Kleiman (1995, p. 21), “[...] está associado quase que causalmente com o progresso, a civilização, a mobilidade social”.

• Nos eventos de letramento, os textos têm papel central em atividades específicas e regulares, a linguagem escrita, portanto, faz parte direta das interações humanas (BARTON; HAMILTON, 2000).

• A tecnologia causou mudanças significativas em muitos setores da nossa vida. Ela, como já discutimos, nos oferece agilidade, conforto e eficiência na realização de diversos processos e procedimentos.

• A cibercultura se resume a um conjunto de técnicas intelectuais e materiais, de atitudes e de práticas, de modos de pensar e de valores que se desenvolveram com o aparecimento do ciberespaço.

• O ciberespaço e/ou rede, para tanto, é o novo meio de se comunicar, no qual a interconexão mundial entre os computadores se consolida.

• O computador na escola deve instruir os alunos, criando condições para que eles possam descrever e desenvolver as informações, reconstruindo-as e materializando-as por meio de novas linguagens.

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Você já elaborou um mapa conceitual?

Se já elaborou, mãos à obra!

Se esta é a sua primeira tentativa, saiba que os mapas conceituais são estruturas esquemáticas que apresentam conjuntos de ideias e, se você quiser, de conceitos dispostos em uma espécie de rede de proposições, de modo a apresentar mais claramente a exposição do conhecimento e organizá-lo segundo a sua compreensão cognitiva.

Assim, elabore um mapa conceitual acerca dos principais conceitos estudados nesta primeira etapa da Unidade 3. Você pode utilizar termos como letramento(s), letramento digital, eventos de letramento, cibercultura, ciberespaço, aparatos tecnológicos, impactos tecnológicos, educação do futuro, entre outros.

Procure um esquema ou seja criativo e crie o seu!

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 2

A HIPERTEXTUALIDADE

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

O ambiente virtual e todos os novos aparatos tecnológicos remodelaram a leitura e, consequentemente, a escrita. Passar a escrever do papel para a tela implica desenvolver diferentes habilidades. O texto da tela do computador nos ofereceu mais permissividade como leitores e também como escritores, as práticas de leitura e escrita passaram a expressar certa automatização. A linearidade e a sequência de um texto foram substituídas pelo hipertexto, no qual o usuário não lê metodicamente, mas tem contato com uma abundância de textos e de contextos, que cada vez mais se articulam entre si e entre outros, e outros, dispostos em uma rede ilimitada.

Segundo Alvarez (2001), o hipertexto nada mais é do que um documento e/ou texto eletrônico (inter)conectado a outros textos e/ou documentos de maneira não linear. Assim, o leitor tem a possibilidade de escolher que caminhos sua leitura vai permear, ou ainda, pode delinear suas preferências, diferente da leitura linear, em que o leitor já sabe a trajetória a ser seguida. Freitas (2005, p. 95) postula que, no ambiente virtual, a leitura tradicional fluiu para a “navegação”, o hipertexto propicia “um processo de escrita/leitura eletrônica multilinearizado, multissequencial e indeterminado [...]”.

Você sabia? “A metáfora ‘navegar’ costuma ser usada para designar o movimento que o leitor (usuário do computador) realiza ao escolher as conexões entre os diferentes textos através dos quais vai colher as informações de seu interesse” (DIAS, 2004, p. 1-2).

NOTA

Dessa maneira, as práticas de leitura e de escrita através do hipertexto remodelaram até a postura física do leitor. Antes do hipertexto, as práticas de ler e escrever eram limitadas em consultar materiais de leitura e realizar a escrita, hoje as práticas são totalmente maleáveis, pois a interação e a facilidade de abrir caixas de textos e/ou janelas concomitantemente conduzem-nos a uma nova postura, seja de leitor e/ou escritor.

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UNIDADE 3 | NOVAS FORMAS DE LEITURA E DE INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

O uso do hipertexto, no que se refere às práticas de leitura e de escrita, trouxe mudanças significativas em relação ao texto, aos gêneros e às funções destes diante do escritor e leitor, escritor e texto e leitor e texto.

Ainda sobre a linguagem, esse novo contexto, que envolve a hipermídia, gerou a necessidade de entendermos melhor como acontece a organização hipertextual na escrita e na leitura, ou seja, tornou-se necessário compreendermos como viabilizar interações significativas com o material digital, não mais apresentado de maneira sequencial (como os textos orais ou escritos), mas através de um conjunto de informações segmentadas (verbal, imagético, sonoro) com sentidos interligados entre si através de links digitais, possibilitando percursos de leitura variados (LANDOW, 1997). É com base nessas questões que convidamos você a aprofundar seus estudos nos tópicos seguintes.

2 O HIPERTEXTO E A MULTIPLICIDADE DE DEFINIÇÕES

O hipertexto pode ser entendido como um meio de informação on-line, disponível eletronicamente nos computadores, com uma estrutura organizada por blocos de informação interligados, através de links eletrônicos (interconexões). O hipertexto oferece ao usuário diferentes meios que promovem a leitura através de recursos de informação não lineares. Assim, podemos dizer que o hipertexto é criado pelo autor que o organiza e pelo leitor que escolhe os caminhos de sua preferência, ligando os dados informacionais que interessam (LÉVY, 1999).

O termo hipertexto foi criado na década de 60 pelo filósofo, sociólogo e pioneiro da Tecnologia da Informação, Ted Nelson. Nos primórdios da informática, Nelson já vislumbrava os textos eletrônicos disponíveis em suportes inteligentes e interativos.

NOTA

Podemos acrescentar ainda que ele designa um processo de escrita e de leitura não hierarquizada que permite o acesso ilimitado a outros textos de maneira instantânea.

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TÓPICO 2 | A HIPERTEXTUALIDADE

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FIGURA 44 – TEXTO E HIPERTEXTO

FONTE: <http://estertecnoeducacao.blogspot.com.br/2012/06/o-uso-da-tecnologia-na-educacao.html>. Acesso em: 28 mar. 2016.

Afinal, a partir da figura, quais são as diferenças entre texto e hipertexto? Conforme Beaugrande (1997), texto é um evento comunicativo em que convergem as ações linguísticas, cognitivas e sociais, e não apenas a sequência de palavras que são faladas ou escritas.

Dessa maneira, podemos considerar a definição de hipertexto como uma ação linguística que é produzida em algum uso social da língua. Nesse sentido, a essência de texto é a mesma tanto no texto impresso como no texto digital. Uma das diferenças está no suporte, que traz suas características próprias, influenciando no tipo de leitura e, também, no perfil de leitor.

Compreendemos que o texto e o hipertexto têm como objetivo propiciar interatividade ao leitor. O hipertexto, além de trazer novas formas de acesso à informação, oferta novos processos cognitivos, de conhecimento, de ler e de escrever. Ele contribui como uma ferramenta de informação que faz com que o leitor usufrua de uma nova modalidade textual, resultando em uma maior integração entre mídia, informação e aprendizagem.

Tecnicamente, o conceito de hipertexto é simples: é um documento eletrônico com páginas e ligações entre elas (links). O HTML é uma linguagem para escrever este tipo de documento. Há outras linguagens para a escrita de um hipertexto, mas HTML é uma linguagem específica, tida como padrão para a escritura de hipertextos a serem publicados na web. Assim, HTML significa “Linguagem de Marcação de Hipertexto”, advindo do inglês, “HyperText Markup Language”.

NOTA

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UNIDADE 3 | NOVAS FORMAS DE LEITURA E DE INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

2.1 O ENSINO E APRENDIZAGEM REINVENTADOS: A MÍDIA NA EDUCAÇÃO

O uso dos aparatos tecnológicos e/ou da mídia na educação, enfocando a comunicação e informação de maneira rápida, está alterando significativamente as formas do ensinar e do aprender. Os novos componentes advindos com as tecnologias digitais vieram para somar e, por que não dizer, auxiliar os recursos tradicionais utilizados no processo de ensino e aprendizagem.

Compreendemos que outras formas de ensinar e de aprender estão

conquistando espaço. Os recursos tecnológicos podem diminuir as dificuldades criadas pela distância física entre alunos e professores, inclusive reduzir as falhas na comunicação e no entendimento dos conteúdos. A tecnologia pode nos permitir criar um ambiente virtual em que alunos e professores estejam mais próximos, contribuindo para um aprendizado colaborativo, no qual o armazenamento e o acesso às informações independam do local onde estejam situados o professor e os alunos.

Segundo Schlemmer (2005), a internet oferece novas formas de interação e possibilita, ainda, a mudança nas metodologias educacionais. Ela afirma que

[...] a maior contribuição que a internet pode proporcionar ao processo educacional diz respeito à mudança de paradigma, impulsionada pelo grande poder de interação que ela propicia. Os meios com os quais interagimos hoje são de outra natureza, de modo que as metodologias anteriormente adotadas no ensino [...] já não servem, pois não dão conta de explorar ao máximo o potencial que esse novo meio oferece. Assim, novas metodologias precisam surgir, levando em consideração a potencialização do processo de interação (SCHLEMMER, 2005, p. 30).

A partir da ideia de Schlemmer (2005), a interação e a comunicação são essenciais para que o ensino e a aprendizagem aconteçam com excelência e as tecnologias interativas evidenciam o que deveria ser o pilar principal de qualquer processo educativo: a interação e a interlocução entre os envolvidos nesse processo.

Sobre a ideia dos ambientes virtuais, que reinventam o ato de estar perto, Santos (2003, p. 223) postula que:

Um ambiente virtual é um espaço fecundo de significação onde seres humanos e objetos técnicos interagem, potencializando, assim, a construção de conhecimentos, logo, a aprendizagem. Entendemos por aprendizagem todo processo sociotécnico em que os sujeitos interagem na e pela cultura, sendo esta um campo de luta, poder, diferença e significação, espaço para construção de saberes e conhecimento. As tecnologias digitais podem potencializar e estruturar novas sociabilidades e, consequentemente, novas aprendizagens.

Assim, um ambiente virtual, se estruturado de acordo com a realidade da comunidade escolar que o oferece, pode disponibilizar recursos para que os usuários possam se comunicar e trocar conhecimentos, contribuindo para a aprendizagem por meio de ações colaborativas. A interação estabelecida através

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da rede propicia experiências sociais, gerando articulações para uma comunicação eficaz e aquisição de conhecimento (SANTOS, 2003).

Acreditamos, também, que a mediação tecnológica quando aplicada nas práticas comunicativas gera, ainda, mudanças linguísticas, tanto no nível da modalidade, quanto nas convenções de gênero.

Com relação ao nível da modalidade, a linguagem, ao ser transposta para um novo meio, nesse caso da tecnologia, explora recursos que o meio oferece e busca formas alternativas para lidar com os limites que a mediação técnica estabelece para a comunicação.

Com relação aos gêneros discursivos, com a ascensão da tecnologia e da comunicação, novas situações e novos contextos de interação constituíram-se. Dessa maneira, a linguagem passa a realizar novas funções comunicativas e, consequentemente, surgem outros tipos de gêneros discursivos.

Reinventar o ensino e a aprendizagem por meio da mídia na educação é estar aberto ao novo, pois a mídia-educação é essencial para que os processos de socialização das novas gerações aconteçam. Trata-se de um elemento que gera produção, reprodução e transmissão da cultura. As mídias fazem parte da cultura contemporânea e ela desempenha um papel cada vez mais importante na apropriação crítica e criativa das informações, constituindo o conhecimento.

A imagem a seguir apresenta uma série de palavras que enfatizam o papel fundamental que a mídia tem na educação. Nossas atitudes cotidianas, a partir da chegada desse novo elemento na educação, necessitam ser incorporadas aos novos valores de cidadania e de participação comunitária.

FIGURA 45 – MÍDIAS NA EDUCAÇÃO

FONTE: <http://ruicomarte.blogspot.com.br/p/praticas-de-sucesso.html>.Acesso em: 27 mar. 2016.

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UNIDADE 3 | NOVAS FORMAS DE LEITURA E DE INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

2.2 HIPERTEXTUALIDADE VERSUS INTERTEXTUALIDADE

Para melhor entendermos esses dois termos, é preciso estabelecer alguns pontos de contato entre a intertextualidade e a hipertextualidade. Marcuschi (2004) postula que a intertextualidade sofre influência pelo modo de sua produção gerada pela tecnologia digital, já o hipertexto “não é equivocado dizer que aumentou sensivelmente a intertextualidade, especialmente no próprio autor, que vive se autocopiando” (MARCUSCHI, 2004, p. 65). Assim, a intertextualidade também é uma característica do hipertexto.

Para Kristeva (1969, p. 85), “[...] todo texto se constrói como um mosaico de citações, todo texto é a absorção e transformação de outro texto”, assim, a intertextualidade não é composta somente do hipertexto, ou do texto, mas da linguagem humana. Lobo-Sousa (2008) nos ensina que:

[...] na prática o fenômeno intertextual é analisado em sentido restrito (stricto sensu), quando um texto remete a outros textos efetivamente produzidos, sendo necessária, portanto, a presença de um intertexto, um já‐dito que faz parte da memória discursiva dos leitores/ouvintes, ainda que alguns destes não o reconheçam (LOBO‐SOUSA, 2008, p. 7).

Assim, em uma análise intertextual em sentido restrito, a (co)presença de outros textos, reconhecidos ou não pelo interlocutor, referindo-se a algo já mencionado ou a algo preexistente, denominado intertexto, o qual pode ser apreendido pelas marcas linguísticas, quando a intertextualidade for explícita, pois há casos de intertextualidade não explícita. Assim, o intertexto, que se percebe da relação de dois textos pode, de repente, não ser percebido, mas estar diluído por todo o texto ou a partir dele.

Dessa maneira, no caso de hipertextos, torna-se mais frequente a intertextualidade explícita, já que os hiperlinks são construídos para levar o hiperleitor a outros lugares na rede. Parece-nos que a intertextualidade é melhor entendida se consideramos que ela se manifesta na hipertextualidade. Podemos concluir então que “[...] a intertextualidade ocorre quando, em um texto, está inserido outro texto (intertexto) anteriormente produzido, fazendo parte da memória social de uma coletividade” (KOCH; ELIAS, 2010, p. 86).

3 OS GÊNEROS DIGITAIS

Você já deve ter percebido que novas condutas se fizeram necessárias com a introdução da internet e das comunidades virtuais no nosso meio. Nós educadores, ou futuros educadores, necessitamos utilizar de maneira eficiente essas novas ferramentas para que elas se tornem

Você já deve ter percebido que novas condutas se fizeram necessárias com a introdução da internet e das comunidades virtuais no nosso meio. Nós educadores, ou futuros educadores, necessitamos utilizar de maneira eficiente

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essas novas ferramentas para que elas se tornem nossas aliadas no ensino e na aprendizagem cotidiana. Já discutimos que o domínio dessas ferramentas auxilia tanto o apoio metodológico, como também a maneira de desenvolver no aluno uma postura crítica, diante, por exemplo, do ato de ler e de escrever.

Assim, o uso da internet fomenta atividades de leitura informacional de qualidade e de escrita, se orientados, possibilitando, dessa maneira, o resgate de um destinatário real para as suas produções escolares, por exemplo.

A verdade é que a comunicação na internet criou novos gêneros e alterou outros, comprovando que todos esses gêneros estão a serviço dos usuários e às suas necessidades. Contudo, é importante lembrar que, mesmo modernizados, os meios de comunicação mantêm certos parâmetros, como a estrutura e a maneira com a qual nos expressamos, estabelecendo uma relação dialógica com formas textuais preexistentes (VALENTE, 2011).

Os enunciados, por meio dos gêneros discursivos, correspondem à concretização da língua em diferentes situações sociais mediante o processo de interação verbal.

Podemos classificar os gêneros discursivos em gêneros digitais emergentes e gêneros digitais importados de outras mídias.

Os gêneros digitais emergentes são os que ocorrem exclusivamente na internet, por exemplo, o e-mail, o blog etc. Já os gêneros digitais importados de outras mídias correspondem aos que ocorrem em mais de uma mídia, como as reportagens jornalísticas, que acontecem na mídia impressa, televisiva e, também, na digital (VALENTE, 2011).

Você se lembra o que são gêneros discursivos? Eles são as características de cada tipo de texto, a maneira como ele é apresentado aos leitores, seu layout, a forma que ele é organizado. Todos esses detalhes é que determinam a que tipo de gênero cada texto pertence. Podemos exemplificar dizendo que há o gênero jornalístico, gênero jurídico, gênero literário, gênero publicitário, gênero epistolar ou interpessoal.

NOTA

Por isso, é incorreto pensar que a comunicação virtual é desorganizada e que não respeita as tipologias ou os gêneros, tampouco os diferentes níveis da linguagem. O que realmente importa é que o mundo virtual e a comunicação estão relacionados e os antigos gêneros certamente serão adaptados e novos ainda surgirão, o que nos proporcionará ricas e novas descobertas para o campo da linguagem.

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UNIDADE 3 | NOVAS FORMAS DE LEITURA E DE INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

AUTOATIVIDADE

Observe os elementos comuns entre um e-mail e uma carta comercial e faça você mesmo suas considerações preenchendo a tabela acerca do uso da linguagem, da objetividade da mensagem, do assunto, do vocativo, da despedida e assinatura.

De: [email protected] Para: [email protected]

Assunto: Notificação enviada pela Toyota do Brasil

Data: 02/05/12Prezado Senhor Eber,

Queremos explanar desculpas com relação à notificação grosseira enviada pela Toyota do Brasil ao site Notícias Automotivas, de sua propriedade. Agradecemos sua pronta resposta em retirar as fotos solicitadas e nos colocamos à disposição.

Atenciosamente,Ricardo Bastos,Gerente Geral de Comunicação, Relações Públicas e Governamentais.

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FONTE: <http://www.noticiasautomotivas.com.br/toyota-nos-manda-uma-carta-de-desculpas/>. Acesso em: 3 jul. 2016.

Elementos de análise: E-mail Carta comercial

Linguagem

Objetividade da mensagem

Assunto

Vocativo

Despedida

Assinatura

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UNIDADE 3 | NOVAS FORMAS DE LEITURA E DE INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

A internet potencializa, por meio de sua tecnologia, aspectos que podem ser explorados e/ou revelados no âmbito dos gêneros. Continue conosco!

3.1 OS LINKS ELETRÔNICOS NOS GÊNEROS TEXTUAIS

Os links eletrônicos têm um papel fundamental na constituição do sentido nos textos. Podemos dizer que sua função é desempenhar a leitura através dos hipertextos e os links determinam o lugar exterior textual por mostrarem a relação com o contexto, eles explicitam o que os leitores fazem quando estão lendo.

Como já estudamos, enquanto no texto impresso o fluxo linear predomina, no hipertexto essa linearidade é substituída por blocos de informação, cujos elementos básicos são as questões associativas, formando um sistema que permite ligar, por meio dos links eletrônicos, outras conexões com outros textos.

Assim, compreendemos que os links consistem em efetivar, através de dispositivos técnico-informáticos, a permissão de uma navegação on-line e a realização de acessos virtuais do leitor a outros textos e gêneros. Eles funcionam como pequenas portas que se abrem para outros espaços, remetendo o leitor a diferentes textos que vão incrementar a leitura, e isso inclui, necessariamente, o conhecimento acerca dos gêneros textuais e de seu modo de constituição em diversos suportes (VALENTE, 2011).

Você sabe se há diferenças entre link e hiperlink? Na verdade, hiperlink é sinônimo de link. Ambos são um texto colorido e/ou sublinhado ou, ainda, um elemento gráfico que, quando clicamos, vamos para uma página HTML na internet. Assim, os links estabelecem ligações entre endereços na web ou entre documentos. Dica: o cursor do mouse se transforma em uma “mãozinha” ao levá-lo a um link. Resumindo, hiperlink é qualquer coisa que se coloca em uma página da web e que, quando clicada, com o lado esquerdo do mouse, abre uma página diferente, ou um lugar diferente, da internet.

NOTA

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3.1.2 O internetês

FIGURA 46 – INTERNETÊS

FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/SSD96fECg58/UGR1qyPuzaI/ jpg>. Acesso em: 12 abr. 2016.

A comunicação através do computador produz uma linguagem que os usuários “falam por escrito”. No chamado bate-papo ou chat, conversa por meio digital, os interlocutores sentem-se falando, utilizando as especificidades do meio que as colocam em contato, construindo um texto falado, só que por escrito. Antes da vinda da internet, a escrita era considerada estável, sem variações, elaborada, formal, complexa e abstrata, já a fala era considerada concreta, com estrutura simples e contextual, marcada pela variação (MARCUSCHI, 1997).

Sobre a fala e a escrita, Marcuschi (2003, p. 46) ainda nos ensina que “em todas suas formas de manifestação textual, são normatizadas”, [...] “não operam nem se constituem em uma única dimensão expressiva, mas são multissistêmicas” [...] “a escrita está na ordem ideológica da avaliação [...] em sua relação com a fala”. Dessa maneira, percebemos que não há como sustentar a ideia de que a escrita representa a fala, ou seja, a escrita não representa a fala, elas são diferentes, conforme as atividades diárias que utilizamos.

A conversação, com o uso dos aparatos eletrônicos, tem a função de realizar

tal ato por escrito, limitando o que se pode fazer por meio do computador, isto é, sem gestos, sem face a face, sem a exposição dos sentimentos. Contudo, o que “[...] marca a construção do texto da conversação da internet é a interatividade” (HILGERT, 2006, p. 53), pois os interlocutores querem interagir e, como isso, antes da internet, só acontecia nas conversas face a face, agora eles se veem forçados a escrever, investindo na criatividade para recodificar a escrita.

Hilgert (2006, p. 18) afirma que “nos limites deste contexto [da fala escrita] [...]a escrita, em conjunto com outras condições de produção da conversação na internet, vai imprimir características próprias para este tipo de interação”, pois o texto falado, porém escrito, é marcado por fatores não linguísticos, sem planejamento prévio e regado de informalidade.

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UNIDADE 3 | NOVAS FORMAS DE LEITURA E DE INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Essa alternância de função que acontece através do processo conversacional, entre a escrita e a fala, constitui um caráter interacional entre os interlocutores, levando em conta particularidades como a prática de um só falante fazer uso da palavra por vez e/ou a sobreposição das falas. Formular a conversação através da internet consiste também em buscar alternativas de solução para as particularidades que essa prática pode apresentar.

Na figura que segue há algumas expressões utilizadas na fala da internet, evidenciando a informalidade dessa linguagem.

FIGURA 47 - EXPRESSÕES

FONTE: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=23512>.Acesso em: 13 abr. 2016.

O quadro mostra a linguagem informal utilizada especialmente nos chats, que constitui a oralidade e a escrita na tela do computador em um mesmo momento e, ainda, utiliza outras formas semióticas, como o som e a imagem, trazendo um novo formato para o texto escrito.

Ela é escrita por valer-se de grafemas e ser passível de registro e armazenamento, possuindo potencialmente a permanência que caracteriza toda comunicação escrita. Ao mesmo tempo, ela aproxima-se do discurso oral por suas possibilidades quanto à interatividade, por nela podermos identificar traços de organização de troca de turnos, pelo discurso ser construído conjuntamente e localmente pelos interagentes, e por ele ter sua forma influenciada pela pressão do tempo, tal como acontece na conversação. Ela assemelha-se à conversação, também, por recorrer, ainda que semioticamente, à contextualização paralinguística, por seus usuários parecerem necessitar tão insistentemente transportar para a tela do computador suas risadas, tons de voz e expressões faciais (SOUZA, 2001, p. 33).

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Assim, essa escrita é diferente da convencional. Os enunciados produzidos nos bate-papos, utilizando o internetês, são específicos de interlocutores pertencentes a um determinado grupo, geralmente o dos adolescentes. Os interlocutores abrem mão de uma escrita formal, produzindo um novo estilo de língua, que indicaria um novo gênero discursivo: a conversação nas salas de bate-papo. Marcuschi (2004, p. 63) identifica que neste gênero

Aparecem muitas abreviaturas, mas boa parte delas é artificial, localmente decidida e não vinga. Essas abreviaturas são passageiras e servem apenas para aquele momento. Mas outras se firmam e vão formando um cânone mínimo que vai sendo reconhecido como próprio do meio.

Podemos pensar, então, que a maneira como os internautas escrevem pode influenciar as características da escrita, através das intervenções realizadas pelos integrantes de comunidades virtuais?

Quanto ao uso da Língua Portuguesa na internet, a “netiqueta” nos deixa claro que necessitamos verificar a ortografia durante nossas comunicações na rede virtual. Informalmente, é muito comum que a norma culta da língua seja deixada de lado. Portanto, isso não significa que você pode escrever de qualquer maneira, pois, às vezes, a forma distorcida de escrever causa mudanças no significado do que você queria dizer, como usar "mais" em vez de "mas", "e" em vez de "é", "de" em vez de "dê", entre outros casos.

Afinal, você sabe o que significa a “netiqueta”? Ela é o conjunto de boas maneiras e normas gerais de bom senso que proporcionam o uso da internet de forma mais amigável, eficiente e agradável. É importante ressaltar que, em alguns casos, o descumprimento dessas regras pode significar a perda de grandes oportunidades. Vejamos as principais regras de etiqueta na internet: - Maiúsculas: nunca se deve escrever nada usando apenas as letras maiúsculas, isso significa

que a pessoa está gritando. Além do mais, ler um texto assim é extremamente cansativo. - Mensagens chatas: evite enviar mensagens de propagandas não solicitadas, “correntes” e

outras mensagens do tipo. Isto é muito desagradável. - Emoticons: o emoticon é legal quando usado da forma correta: demonstrar sentimentos.

Os emoticons não devem ser utilizados como elementos do próprio texto, visto que em alguns casos não é possível identificar o que a pessoa quer dizer com aquilo. 

- Fugir do assunto: ao usar um comunicador instantâneo, nunca fuja do assunto. Mesmo que aquilo não lhe interessa ou é desagradável, diga algo, mesmo que finalizando o assunto, para mostrar que você leu a mensagem. 

- Tópicos chamativos: nunca crie tópicos em fóruns com títulos muito chamativos e escandalosos, procure relacionar bem o título com a mensagem em questão. 

- Ofensas: na internet, principalmente em sites de relacionamento, não é difícil encontrar discussões negativas e ofensas. Se alguém for ofendido, não se deve revidar e criar uma “guerra on-line”, visto que isso dificilmente acabará. O melhor caminho é ignorar.

FONTE: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/informatica/netiqueta.htm>. Acesso em: 26 fev. 2016.

NOTA

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UNIDADE 3 | NOVAS FORMAS DE LEITURA E DE INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Nas redes virtuais é comum, também, expressar os sentimentos de diversas maneiras, como o uso de emoticons e dos sinais gráficos tradicionais (? !). Falando nisso, não se esqueça, postar algo requer, ainda, cuidados na hora de veicular mensagens públicas, pois as opiniões postadas ficam registradas e podem ser facilmente associadas a quem as publicou.

FIGURA 48 - EMOTICONS

FONTE: <https://www.mogicons.com/pt/>. Acesso em: 29 fev. 2016.

Compreendemos que esta geração ligada à internet está, realmente, reinventando a maneira do escrever, e nos gêneros digitais, ao que tudo indica, não há porque, na realidade, nos preocuparmos quanto a isso. A escrita cifrada dos internautas é utilizada para diversão ou para um registro em comunidades virtuais em ambientes específicos como blogs, chats, Whatsapp, Snapchat, ou ainda, em discussões on-line via digitação, sem que isto possa representar uma real ameaça à língua. O que devemos fazer é orientar o uso e sua adequação.

4 A LEITURA E A ESCRITA POR MEIO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO

Os ambientes digitais de aprendizagem estão ganhando cada vez maior importância na nossa sociedade. Eles são sistemas disponíveis na internet, que oferecem suporte em diversas atividades, podendo ser de leitura e/ou de escrita, mediadas pelas tecnologias. Essa ferramenta nos permite integrar mídias, linguagens, recursos, socializar informações, interações entre pessoas e objetos de conhecimento, apresentação e elaboração de produções, entre outros.

Mas, afinal, será que essas mídias, que estão ganhando cada vez mais

espaço, afetam o papel da leitura e da escrita?

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Sobre essa questão, compreendemos que, com as tecnologias, tonou-se mais fácil introduzir nossos estudantes à cultura letrada. Elas (as tecnologias) são poderosas e não há mais sentido perguntar se elas são boas ou más, se servem ou não servem. O que importa é que a cada dia há mais escolas conectadas em rede, o que indica que o acesso à internet vai se proliferar, positivamente, como aconteceu com o celular (FERREIRO, 2008).

Segundo Kramer (2001), o uso da tecnologia possibilita, tanto ao professor como ao estudante, a utilização da escrita e da leitura para a descrição de ideias, comunicação, divulgação de fatos, troca de experiências, produção de histórias, desenvolvimento de projetos, representação e divulgação do pensamento, construção do conhecimento, favorecendo, dessa maneira, o desenvolvimento pessoal e profissional. Kramer (2001, p. 114) sugere que “escrever é deixar-se marcar pelos traços do vivido e da própria escrita, reescrever textos e ser leitor de textos escritos e da história pessoal e coletiva, marcando-a, compartilhando-a, mudando-a, inscrevendo nela novos sentidos”.

Compreendemos, então, que as tecnologias, aliadas à educação, possibilitam a ruptura das paredes da sala de aula, isto é, as paredes da escola, por exemplo, já não são mais tão rígidas quanto parecem. A tecnologia integra a comunidade, a sociedade da informação e outros espaços que estimulam o conhecimento. Ao utilizarmos as tecnologias com nossos estudantes, estamos despertando neles o prazer pela leitura e pela escrita como maneira de representação de pensamento e interpretação do mundo, viabilizando a construção de uma sociedade de escritores e leitores que estão aprendendo a lidar com esses aparatos a favor do seu enriquecimento intelectual (KRAMER, 2001).

No entanto, ainda há desafios para o alcance satisfatório do uso desses aparatos tecnológicos a favor da educação no interior das escolas. De acordo com Almeida (1996), o acesso às tecnologias por todos que atuam na escola; a flexibilização do espaço e do tempo de aprender; o desenvolvimento da autonomia para a troca de informações significativas com a utilização dos recursos tecnológicos apropriados a cada atividade em desenvolvimento; novas formas de representação escrita que rompem com a linearidade do texto impresso, são alguns dos percalços que ainda necessitam de um olhar cauteloso de todos os envolvidos com a educação.

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FIGURA 49 – PERFIL DO PROFESSOR

FONTE: <http://pospucrio.blogspot.com.br/>. Acesso em: 5 maio 2016.

Conforme a figura, é essencial a atuação constante do professor, no sentido de resgatar a fala do aluno, ouvir, ler e analisar a sua escrita, procurando conhecer seu universo cognitivo, social e afetivo, sua linguagem, condições de vida, conceitos espontâneos e quadro conceitual, bem como em revelar-se ao aluno (FREIRE; SHOR, 1986). Se o professor estiver aberto a essa nova postura, ele criará condições facilitadoras de aprendizagem, leitura e escrita.

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TÓPICO 2 | A HIPERTEXTUALIDADE

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LEITURA COMPLEMENTAR

ESCREVER À MÃO É IMPORTANTE PARA O DESENVOLVIMENTO DO CÉREBRO DAS CRIANÇAS

Perri KlassThe New York Times

As crianças que vivem no mundo dos teclados precisam aprender a antiquada caligrafia?

Há uma tendência a descartar a escrita à mão como uma habilidade que não é mais essencial, mesmo que os pesquisadores já tenham alertado para o fato de que aprender a escrever pode ser a chave para, bem, aprender a escrever.

E, além da conexão emocional que os adultos podem sentir com a maneira como aprendemos a escrever, existe um crescente número de pesquisas sobre o que o cérebro que se desenvolve normalmente aprende ao formar letras em uma página, sejam de fôrma ou cursivas.

Em um artigo publicado neste ano no “The Journal of Learning Disabilities”, pesquisadores estudaram como a linguagem oral e escrita se relacionava com a atenção e com o que é chamado de habilidades de “função executiva” (como planejamento) em crianças do quarto ao nono ano, com e sem dificuldades de aprendizagem.

Virginia Berninger, professora de psicologia educacional da Universidade de Washington e principal autora do estudo, contou que a evidência dessa e de outras pesquisas sugere que “escrever à mão – formando letras – envolve a mente, e isso pode ajudar as crianças a prestar atenção à linguagem escrita”.

No ano passado, em um artigo no “Journal of Early Childhood Literacy”, Laura Dinehart, professora associada de educação da primeira infância na Universidade Internacional da Flórida, discutiu várias possibilidades de associações entre boa caligrafia e desempenho acadêmico: crianças com boa escrita à mão são capazes de conseguir notas melhores porque seu trabalho é mais agradável para os professores lerem; as que têm dificuldades com a escrita podem achar que uma parte muito grande de sua atenção está sendo consumida pela produção de letras, e assim o conteúdo sofre.

Mas podemos realmente estimular o cérebro das crianças ao ajudá-las a formar letras com suas mãos? Em uma população de crianças pobres, diz Laura, as que possuíam boa coordenação motora fina antes mesmo do jardim da infância se deram melhor mais tarde na escola. Ela diz que mais pesquisas são necessárias sobre a escrita nos anos pré-escolares e sobre as maneiras para ajudar crianças pequenas a desenvolver as habilidades que precisam para realizar “tarefas complexas”, que exigem coordenação de processos cognitivos, motores e neuromusculares.

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“Esse mito de que a caligrafia é apenas uma habilidade motora simplesmente está errado. Usamos as partes motoras do nosso cérebro, o planejamento motor, o controle motor, mas muito mais importante é a região do órgão onde o visual e a linguagem se unem, os giros fusiformes, onde os estímulos visuais realmente se tornam letras e palavras escritas”, afirma Virginia Berninger.

As pessoas precisam ver as letras “nos olhos da mente” para produzi-las na página, explica ela. A imagem do cérebro mostra que a ativação dessa região é diferente em crianças que têm problemas com a caligrafia.

Escaneamentos cerebrais funcionais de adultos mostram que uma rede cerebral característica é ativada quando eles leem, incluindo áreas que se relacionam com processos motores. Os cientistas inferiram que o processo cognitivo de ler pode estar conectado com o processo motor de formar letras.

Larin James, professora de ciências psicológicas e do cérebro na Universidade de Indiana, escaneou o cérebro de crianças que ainda não sabiam caligrafia. “Seus cérebros não distinguiam as letras; elas respondiam às letras da mesma forma que respondiam a um triângulo”, conta ela.

Depois que as crianças aprenderam a escrever à mão, os padrões de ativação do cérebro em resposta às letras mostraram mais ativação daquela rede de leitura, incluindo os giros fusiformes, junto com o giro inferior frontal e regiões parietais posteriores do cérebro, que os adultos usam para processar a linguagem escrita – mesmo que as crianças ainda estivessem em um estágio muito inicial na caligrafia.

“As letras que elas produzem são muito bagunçadas e variáveis, e isso na verdade é bom para o modo como as crianças aprendem as coisas. Esse parece ser um dos grandes benefícios da escrita à mão”, conta Larin James.

Especialistas em caligrafia vêm lutando com a questão de se a letra cursiva confere habilidades e benefícios especiais, além dos fornecidos pela letra de fôrma. Virginia cita um estudo de 2015 que sugere que, começando por volta da quarta série, as habilidades com a letra cursiva ofereciam vantagens tanto na ortografia quanto na composição, talvez porque as linhas que conectam as letras ajudem as crianças a formar palavras.

Para crianças pequenas com desenvolvimento típico, digitar as letras não parece gerar a mesma ativação do cérebro. À medida que as pessoas crescem, claro, a maioria faz a transição para a escrita em teclados. No entanto, como muitos que ensinam na universidade, eu me questiono a respeito do uso de laptops em sala de aula, mais porque me preocupo com o fato de a atenção dos alunos estar vagando do que com promover a caligrafia. Ainda assim, estudos sobre anotações feitas à mão sugerem que “alunos de faculdade que escrevem em teclados estão menos propensos a se lembrar e a saber do conteúdo do que se anotassem à mão”, conta Laura Dinehart.

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Virginia diz que a pesquisa sugere que crianças precisam de um treinamento introdutório em letras de fôrma, depois, mais dois anos de aprendizado e prática de letra cursiva, começando na terceira série, e então a atenção sistemática para a digitação.

Usar um teclado, e especialmente aprender as posições das letras sem olhar para as teclas, diz ela, pode muito bem aproveitar as fibras que se intercomunicam no cérebro, já que, ao contrário da caligrafia, as crianças vão usar as duas mãos para digitar. “O que estamos defendendo é ensinar as crianças a serem escritoras híbridas”, afirma Virginia. “Letra de fôrma primeiro para a leitura –isso se transfere para o melhor reconhecimento das letras –, depois cursiva para a ortografia e a composição. Então, no final da escola primária, digitação.”

Como pediatra, acho que pode ser mais um caso em que deveríamos tomar cuidado para que a atração do mundo digital não leve embora experiências significativas que podem ter impacto real no desenvolvimento rápido do cérebro das crianças. Dominar a caligrafia, mesmo com letras bagunçadas e tudo, é uma maneira de se apropriar da escrita de maneira profunda.

“Minha pesquisa global se concentra na maneira como o aprendizado e a interação com as palavras feitas com as próprias mãos têm um efeito realmente significativo em nossa cognição”, explica Larin James. “É sobre como a caligrafia muda o funcionamento do cérebro e pode alterar seu desenvolvimento.”

* Perri Klass é pediatra.

FONTE: <http://estilo.uol.com.br/gravidez-e-filhos/noticias/redacao/2016/06/23/escrever-a-mao-e-importante-para-o-desenvolvimento-do-cerebro-das-criancas.htm>. Acesso em: 17 jul. 2016.

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• O hipertexto é um documento e/ou texto eletrônico (inter)conectado a outros textos e/ou documentos de maneira não linear.

• O uso dos aparatos tecnológicos e/ou da mídia na educação, enfocando a comunicação e informação de maneira rápida, está alterando significativamente as formas do ensinar e do aprender.

• Com relação ao nível da modalidade, a linguagem, ao ser transposta para um novo meio, nesse caso da tecnologia, explora recursos que o meio oferece e busca formas alternativas para lidar com os limites que a mediação técnica estabelece para a comunicação.

• Com a ascensão da tecnologia e da comunicação, novas situações e novos contextos de interação constituíram-se. Dessa maneira, a linguagem passa a realizar novas funções comunicativas e, consequentemente, surgem outros tipos de gêneros discursivos.

• O texto caracteriza-se por ser linear, sequencial, volátil, hierárquico, não fragmentado, semiótico, interativo e centralizado. Já o hipertexto, por ser não linear, não sequencial, não volátil, não hierárquico, fragmentado, multissemiótico, interativo e descentralizado (FACHINETTO, 2005).

• Os gêneros digitais emergentes são os que ocorrem exclusivamente na internet, por exemplo, o e-mail, o blog etc. Já os gêneros digitais importados de outras mídias correspondem aos que ocorrem em mais de uma mídia, como as reportagens jornalísticas, que acontecem na mídia impressa, televisiva e, também, na digital (VALENTE, 2011).

• O uso da tecnologia possibilita, tanto ao professor como ao estudante, a utilização da escrita e da leitura para a descrição de ideias, comunicação, divulgação de fatos, troca de experiências, produção de histórias, desenvolvimento de projetos, representação e divulgação do pensamento, construção do conhecimento, favorecendo, dessa maneira, o desenvolvimento pessoal e profissional.

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AUTOATIVIDADE

1 Leia o texto e assinale a alternativa CORRETA:

O hipertexto refere-se à escritura eletrônica não sequencial e não linear, que se bifurca e permite ao leitor o acesso a um número praticamente ilimitado de outros textos a partir de escolhas locais e sucessivas, em tempo real. Assim, o leitor tem condições de definir interativamente o fluxo de sua leitura a partir de assuntos tratados no texto sem se prender a uma sequência fixa ou a tópicos estabelecidos por um autor. Trata-se de uma forma de estruturação textual que faz do leitor simultaneamente coautor do texto final. O hipertexto se caracteriza, pois, como um processo de escritura/leitura eletrônica multilinearizado, multissequencial e indeterminado, realizado em um novo espaço de escrita. Assim, ao permitir vários níveis de tratamento de um tema, o hipertexto oferece a possibilidade de múltiplos graus de profundidade simultaneamente, já que não tem sequência definida, mas liga textos não necessariamente correlacionados.

FONTE: MARCUSCHI, L. A. Hipertexto: definições e visões. I Seminário sobre hipertexto. UFPE, Recife-PE, 2000. p. 3.

A partir de Marcuschi, podemos inferir que, com o surgimento do computador, o modo da leitura e da escrita foi alterado, isto é, o hipertexto modificou a maneira de lermos e escrevermos. Dentre suas diversas definições, o hipertexto é um conjunto de blocos autônomos de texto, no qual associa entre si diversos elementos. Dessa maneira, o hipertexto,

a) ( ) É uma estratégia que desfavorece o leitor, pois ela possibilita muitos caminhos e confunde os conceitos de leitura e escrita tidos como tradicionais.

b) ( ) É uma maneira artificial que desfavorece o leitor, pois o confunde nos conceitos tradicionalmente cristalizados.

c) ( ) Exige do leitor um maior e complexo grau de conhecimentos prévios, o que deve ser evitado pelos estudantes nas suas pesquisas escolares, já que estão em período de formação.

d) ( ) Proporciona informações específicas, facilitando a pesquisa referenciada em qualquer site de busca ou blog oferecidos na internet.

e) ( ) Possibilita ao leitor escolher seu próprio percurso de leitura, sem ter a obrigação de fazê-lo seguindo uma sequência predeterminada, constituindo, assim, uma atividade mais colaborativa e coletiva.

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216

2 Sobre o hipertexto, analise as afirmativas a seguir:

I- Ele é um tipo de gênero textual que pode ser encontrado somente na internet. Desde a década de 60, marco de sua criação, se previa que o hipertexto se desenvolveria em um tipo de texto eletrônico.

II- Foi na década de 60 que o termo hipertexto foi criado pelo filósofo e sociólogo Ted Nelson. Nos primórdios da informática, Nelson já vislumbrava os textos eletrônicos disponíveis em suportes inteligentes e interativos.

III- O hipertexto é uma forma organizacional que também pode ser encontrada no papel, embora seja comum relacioná-lo com os textos virtuais. Ele é um tipo de intertextualidade que está relacionado à evolução da maneira de se ler e escrever.

IV- O hipertexto é um texto maior formado por outros elementos textuais através de links e hiperlinks, que permitem criar um processo de leitura não linear e não hierarquizada.

Assinale a alternativa CORRETA:a) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.b) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.c) ( ) As afirmativas II, III e IV estão corretas.d) ( ) As afirmativas III e IV estão corretas.

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TÓPICO 3

A INTERPRETAÇÃO TEXTUAL NA

ERA DIGITAL

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Quantas vezes você já leu um texto e ao término não entendeu nada ou quase nada do que estava escrito? Isso acontece quando lemos tanto livros impressos como digitais, contudo nos digitais perdemos mais a atenção devido aos links e outros elementos que desviam nossa concentração.

O uso intensivo de tecnologias da informação e da comunicação nos levou a práticas sociais de interação digital antes não existentes, possibilitando novas formas de interação na leitura e na escrita (MARCUSCHI, 2004). E a questão da interpretação? Será que ela também passa por essa mudança?

Na verdade, a leitura realizada através dos textos disponibilizados na internet é apenas uma extensão daquela feita em qualquer outro suporte, seja um livro, jornal, revista. Se pela internet as pessoas não leem, é possível que também não o façam em outros meios. Se não sabem interpretar um texto na internet, não saberão interpretar em lugar algum.

A internet deixou seus usuários realmente mais participativos e motivados, pois recebem mensagens em diferentes linguagens, por meio de leituras não lineares, evidenciando uma maior acessibilidade às informações. Falando nisso, o que não falta para nossos alunos é informação, mas, muitas vezes, a capacidade de processar e refletir sobre tudo o que leem e têm acesso é o que está faltando.

Para tanto, é preciso um olhar crítico nos textos que a internet nos oferece, e este é o papel do professor. Ele necessita orientar a busca, a seleção e até o gerenciamento das informações que estão disponíveis na rede.

2 OS TEXTOS VIRTUAIS E A SALA DE AULA

O ambiente escolar tem sofrido algumas alterações nos últimos anos, conforme ele se abre para o uso das tecnologias digitais. No início, tudo isso gerou a desconfiança de que essa história de tecnologia na escola e na sala de aula era apenas mais um modismo, porém as atividades em computadores foram ganhando espaço e diversos projetos experimentais de ensino foram realizados para a ideia se firmar e notou-se que podia dar certo.

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UNIDADE 3 | NOVAS FORMAS DE LEITURA E DE INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

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Segundo Ponte (2000, p. 70),

[...] os professores veem a sua responsabilidade aumentar. Mais do que intervir numa esfera bem definida de conhecimentos de natureza disciplinar, eles passam a assumir uma função educativa primordial. E têm de o fazer mudando profundamente a sua forma dominante de agir: de (re)transmissores de conteúdos, passam a ser coaprendentes com os seus alunos, com os seus colegas, com outros atores educativos e com elementos da comunidade em geral. Este deslocamento da ênfase essencial da atividade educativa - da transmissão de saberes para a (co)aprendizagem permanente - é uma das consequências fundamentais da nova ordem social potenciada pelas TIC e constitui uma revolução educativa de grande alcance.

As tecnologias são oportunidades que, se bem aproveitadas pela escola, impulsionam a educação de acordo com as necessidades sociais de cada época. As tecnologias se transformam, muitas delas podem cair em desuso, mas a escola permanece, transformando suas ações, maneiras de interação entre as pessoas e conteúdos (PONTE, 2000).

AUTOATIVIDADE

Na avaliação para o curso de Letras, no ENADE/2011, na questão 29, foi abordada essa temática envolvendo os aparatos tecnológicos e a escola. Leia e resolva essa questão:

Na escola em que João é professor, existe um laboratório de informática, que é utilizado para os estudantes trabalharem conteúdos em diferentes disciplinas. Considere que João quer utilizar o laboratório para favorecer o processo de ensino-aprendizagem, fazendo uso da abordagem da Pedagogia de Projetos. Nesse caso, no seu planejamento, o professor deve:

A- Estabelecer como eixo temático uma problemática significativa para os estudantes, considerando as possibilidades tecnológicas existentes no laboratório.

B- Relacionar os conteúdos previamente instituídos no início do período letivo com os que estão no banco de dados disponível nos computadores do laboratório de informática.

C- Definir os conteúdos a serem trabalhados, utilizando a relação dos temas instituídos no projeto pedagógico da escola e o banco de dados disponível nos computadores do laboratório.

D- Listar os conteúdos que deverão ser ministrados durante o semestre, considerando a sequência apresentada no livro didático e os programas disponíveis nos computadores do laboratório.

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TÓPICO 3 | A INTERPRETAÇÃO TEXTUAL NA

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E- propor o estudo dos projetos concorrentes que foram desenvolvidos pelo governo ao uso de laboratório de informática, relacionando o que consta no livro didático com as tecnologias existentes no laboratório.

Isso também pode acontecer com os textos virtuais em sala de aula. Muitos textos da internet são, de maneira geral, coloquiais, no sentido de serem mediados por truques de estilo. A internet não inventou a coloquialidade, mas ela fez com que passassem a soar com mais naturalidade e tudo isso pode ser aproveitado pelo professor na sala de aula.

Quando dissemos que necessitamos de um olhar crítico para selecionarmos melhor as informações de que dispomos, estávamos nos referindo ao conhecimento das relações sociais que o leitor necessita ter, das maneiras de conhecimento que devem ser interligadas por meio de textos em diferentes situações, a interação entre escritor-texto-leitor, a pluralidade de discursos e as possibilidades de organização (MARCUSCHI, 2004).

Assim, perceber os diferentes gêneros encontrados em nosso cotidiano, observando suas características sociocomunicativas definidas por seu estilo, função, composição, conteúdo e canal, utilizando as tecnologias e diferentes recursos digitais, muito contribuem para uma formação mais crítica, seletiva e com foco (MARCUSCHI, 2004).

2.1 ELEMENTOS DA INTERPRETAÇÃO

Que tal relembrarmos como se dá o processo de interpretação? Para se obter uma leitura ou uma abordagem eficaz de um texto necessitamos estar alinhados a três etapas fundamentais. Você lembra quais são?

A compreensão prévia, a compreensão e a interpretação. Vamos conversar um pouco sobre cada uma delas.

Segundo Oliveira (1996), a pré-compreensão ou compreensão prévia textual nada mais é do que o leitor iniciar um texto já com conhecimentos prévios sobre o assunto ou área específica que ele trata. Isso quer dizer, por exemplo, que você necessita primeiro reconhecer a regência verbal para depois iniciar seus estudos acerca da crase, quando estiver se preparando para lecionar estes conteúdos em sala.

Se já com a pré-compreensão o leitor pode se deparar com informações novas, na compreensão ele apreende (compreende) a intencionalidade do texto. Assim, é comum ouvirmos: “Eu entendi, mas não compreendi”. Isso quer dizer que quem leu entendeu o significado das palavras, a explanação, mas não compreendeu as justificativas ou o alcance social daquele texto (OLIVEIRA, 1996).

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UNIDADE 3 | NOVAS FORMAS DE LEITURA E DE INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

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A interpretação pode resumir-se na resposta que você, leitor, dará ao texto, depois de compreendê-lo. Isso mesmo, é necessário “conversar” com o texto para haver a interpretação de fato. Esta “fusão de horizontes”, isto é, o elo consolidado entre o texto e o leitor, significa abertura, o crescimento e a ampliação para novos sentidos (OLIVEIRA, 1996).

2.2 O DISCURSO ELETRÔNICO

O discurso eletrônico é um discurso que surge de uma interação. Essa interação pode acontecer de um jogador com um equipamento digital, como o computador ou o telefone celular, por exemplo. Este discurso difere de outros discursos, como do discurso pedagógico, por exemplo. Esse último é produzido a partir de um relacionamento entre os interlocutores, enquanto o primeiro necessita apenas da interação do usuário e a máquina, já que os equipamentos eletrônicos não são considerados interlocutores, ou seja, não enunciam algo, apenas transmitem, armazenam, copiam, colam ou reproduzem discursos entre os usuários em um ambiente social, como a escola (ORLANDI, 2005).

O linguajar dos conectados nesta realidade digital não é o padrão, pois ele opera em comunidades de convivência virtuais. Estas trocas de enunciados constituíram uma nova conduta de recepção dos discursos tradicionais. Essa enunciação em conexão é um diálogo livre e é um discurso interior que se exterioriza no espaço virtual que não existe fora de um contexto de troca entre seres humanos (ORLANDI, 2005). Na frase: “– Og v6s naum tm 9da10?”, temos um exemplo do linguajar utilizado nos chats, e o leitor interpreta o que está escrito, uma vez que ele está lendo como se estivesse ouvindo. Ele sabe que esse código significa: “Hoje vocês não têm novidades?”

Acerca da escrita nos discursos eletrônicos, Marcuschi (2004) comunga de aspectos que necessitam ser verificados quando estamos falando da linguagem da internet e sobre o efeito da internet em nossa linguagem:

• O primeiro ponto de vista dos usos da linguagem é que temos uma pontuação minimalista, uma ortografia bizarra, com muitas siglas, abreviaturas, estruturas frasais pouco ortodoxas e uma escrita semialfabética. Por exemplo, a palavra “hoje”, na rede, escreve-se “Og”.

• Outro ponto parte da natureza enunciativa dessa linguagem é que ela integra mais semioses do que usualmente, tendo em vista a natureza do meio com uma participação intensa e menos pessoal, surgindo a hiperpessoalidade. A internet transmuta, de maneira complexa, gêneros existentes, desenvolve alguns realmente novos e mescla vários outros. Podemos citar como exemplos de semiose no nosso cotidiano: o cartão vermelho no ato de expulsão em um jogo esportivo, o ícone preto utilizado no status do Facebook indicando luto, gesto com o polegar para dizer que está tudo bem, placas de trânsito orientando os motoristas, entre outros.

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TÓPICO 3 | A INTERPRETAÇÃO TEXTUAL NA

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As atividades de interação com o uso do discurso eletrônico são importantes para a motivação da participação dos alunos, tanto em atividades orais quanto pelo meio escrito. Utilizar atividades mediadas pelo computador permite que os alunos participem ativamente da comunicação real, não só com seus colegas de classe, mas também com outros participantes.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Necessitamos de um olhar crítico para selecionarmos melhor as informações que dispomos, especialmente no que se refere ao conhecimento das relações sociais que o leitor precisa ter, das maneiras de conhecimento que devem ser interligadas por meio de textos em diferentes situações, a interação entre escritor-texto-leitor, a pluralidade de discursos e as possibilidades de organização (MARCUSCHI, 2004).

• A compreensão prévia acontece quando o leitor iniciar um texto já com conhecimentos prévios sobre o assunto ou área específica que ele trata.

• Na compreensão, o leitor apreende (compreende) a intencionalidade do texto.

• A interpretação pode resumir-se na resposta que você, leitor, dará ao texto, depois de compreendê-lo. Isso mesmo, é necessário “conversar” com o texto para haver a interpretação de fato.

• O discurso eletrônico é um discurso que surge de uma interação. Essa interação pode acontecer de um jogador com um equipamento digital, como o computador ou o telefone celular, por exemplo.

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AUTOATIVIDADE

1 Leia o excerto e assinale a alternativa CORRETA:

Chega!Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.Minha boca procura a “Canção do Exílio”.Como era mesmo a “Canção do Exílio”?Eu tão esquecido de minha terra...Ai terra que tem palmeirasonde canta o sabiá!

(Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França e Bahia”, Alguma poesia)

a) ( ) Neste excerto, a citação e a presença de trechos da conhecida canção de Noel Rosa constituem um caso de paródia.

b) ( ) Neste excerto, a citação e a presença de trechos da célebre composição de Villa-Lobos constituem um caso de ironia.

c) ( ) Neste excerto, a citação e a presença de trechos do célebre poema de Gonçalves Dias constituem um caso de intertextualidade.

d) ( ) Neste excerto, a citação e a presença de trechos do famoso poema de Álvares de Azevedo constituem um caso de discurso indireto.

2 Observe a charge:

Agora, escreva que efeito de humor a charge consiste em insinuar:

FONTE: <http://www.ozenildojunior.com.br/wpcontent/uploads/2013/06/Charge.jpg>. Acesso em: 29 maio 2016.

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