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Lassitude da Articulação Coxofemoral como Fator de Risco da Displasia da Anca Seguimento d e 20 Cães de Raças Portuguesas. A.Santana 1,3 , S.Alves-Pimenta 2,3 ; M.Ginja 3,4 1. Faculdade de Medicina Veterinária – Universidade Lusófona, Lisboa. 2. Departamento de Zootecnia, Universidade Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real, Portugal, 3. Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB), UTAD, Vila Real, Portugal, 4. Departamento de Ciências Veterinárias, UTAD– CITAB, Vila Real, Portugal A lassitude articular (LA) é o maior fator de risco para a displasia da anca (DA) no cão. Desde a década de 90 que a quantificação da LA é recomendada para a seleção de animais tendo em vista o controlo da prevalência da DA nas raças caninas ou a prevenção da doença. O método de avaliação mais divulgado internacionalmente para avaliação da LA é denominado PennHIP usando o distrator PennHIP ® . Neste trabalho pretendemos estabelecer um prognóstico de desenvolvimento da DA na idade adulta a partir do resultado do exame radiográfico de distração da anca obtido em jovem. Para o efeito foram estudados 20 cães jovens de raças portuguesas, 9 Cães da Serra da Estrela, 6 Cães de Gado Transmontano e 5 Perdigueiros Portugueses, 11 fêmeas e 9 machos, com idades compreendidas entre os 4 e 12 meses de idade (média ± desvio padrão, 7,4 ± 2,3 meses) e peso variando de 15 a 43 Kg (26,4 ± 8,5 Kg) utilizando o distrator da anca Dis-UTAD® (Fig.1). No segundo exame foi utilizada a projeção convencional ventrodorsal (VD) da bacia (fig.2) realizada entre os 13 e os 29 meses de idade (20 ± 4 meses) variando o peso nesta idade entre 17 e 61 Kg (38,5 ± 14,3 Kg). A qualidade da anca na primeira radiografia em distração foi avaliada calculando o índice de distração (ID) para cada articulação (Smith et al., 1990; Ginja et al., 2008) e na segunda radiografia as articulações foram classificadas em cinco categorias A, B, C, D e E usando as normas da Federação Cinológica Internacional (FCI). A análise de variância (ANOVA) com o teste post hoc LSD (diferença mínima significativa) post foi usada para comparar o ID de cada categoria FCI em adulto (Quadro 1). FCI Índice Distração média ± desvio padrão* Min Máx A 14 0,32±0,11a 0,11 0,48 B 4 0,43±0,03a,b 0,4 0,46 C 11 0,44±0,13b 0,22 0,61 D 5 0,63±0,09c 0,47 0,71 E 6 0,82±0,06d 0,75 0,91 Quadro 1 - Valores dos índices de distração das 40 articulações coxofemorais em jovem e das diferentes categorias FCI em adultos *Médias com diferentes letras são estatisticamente diferentes P < 0.05 (ANOVA, teste Post hoc LSD) Os resultados mostram que o Dis-UTAD® promove uma distração da anca em jovem que está associada à qualidade das ancas do animal na idade adulta uma vez que as diferentes categorias FCI A, B, C, D e E têm médias do ID em jovens gradualmente superiores e os animais classificados como A tinham ID em jovens estatisticamente diferentes dos animais que viriam a desenvolver DA em adultos. Contudo, as articulações FCI B (borderline) não são estatisticamente diferentes do ID A e C, o que pode ser explicado pela reduzida dimensão da amostra. Pode, no entanto, estar também associado às conhecidas limitações da projeção ventrodorsal convencional para detetar animais com ligeira a moderada LA da anca, uma vez que o posicionamento dos animais com os fémures em extensão favorece a congruência articular omitido os sinais radiográficos de instabilidade articular (Smith et al., 1990; Ginja et al., 2008). Pelo exposto, pensamos que a seleção de animais para reprodução tendo por base este sistema de classificação da DA FCI em adultos poderia beneficiar da inclusão de dados de lassitude articular radiográfica. BIBLIOGRAFIA Ginja MM, Gonzalo-Orden JM, Melo-Pinto P, Bulas-Cruz J, Orden MA, San Roman F, Llorens-Pena MP, Ferreira AJ. 2008. Early hip laxity examination in predicting moderate and severe hip dysplasia in Estrela montain dog. J Small Anim Pract. 2008 Dec;49(12):641-646. Smith GK, Biery DN, Gregor TP. 1990. New concepts of coxofemoral joint stability and the development of a clinical stress-radiographic method for quantitating hip joint laxity in the dog. J Am Vet Med Assoc, 196(1):59-70. Este trabalho é financiado por Fundos Europeus de Investimento através do FEDER/COMPETE/POCI- Programa de Competitividade e Internacionalização, no âmbito do projeto POCI-01-0145-FEDER-006958 e Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do projeto UID/AGR/04033/2013. Ana Santana – [email protected] Fig. 1 - Exame distração aos 5 meses com Dis-UTAD® Fig 2 -Exame convencional com projeção VD da bacia aos 18 meses

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Lassitude da Articulação Coxofemoral como Fator de Risco da Displasia da Anca –Seguimento de 20 Cães de Raças Portuguesas.

A.Santana1,3 , S.Alves-Pimenta2,3; M.Ginja3,4

1. Faculdade de Medicina Veterinária – Universidade Lusófona, Lisboa. 2. Departamento de Zootecnia, Universidade Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real, Portugal, 3. Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB), UTAD, Vila Real, Portugal, 4. Departamento de Ciências Veterinárias,

UTAD– CITAB, Vila Real, Portugal

A lassitude articular (LA) é o maior fator de risco para a displasia da anca (DA) no cão. Desde a década de 90 que a

quantificação da LA é recomendada para a seleção de animais tendo em vista o controlo da prevalência da DA nas raças

caninas ou a prevenção da doença. O método de avaliação mais divulgado internacionalmente para avaliação da LA é

denominado PennHIP usando o distrator PennHIP®.

Neste trabalho pretendemos estabelecer um prognóstico de desenvolvimento da DA na idade adulta a partir do resultado do exame radiográfico de distração da

anca obtido em jovem. Para o efeito foram estudados 20 cães jovens de raças portuguesas, 9 Cães da Serra da Estrela, 6 Cães de Gado Transmontano e 5

Perdigueiros Portugueses, 11 fêmeas e 9 machos, com idades compreendidas entre os 4 e 12 meses de idade (média ± desvio padrão, 7,4 ± 2,3 meses) e peso

variando de 15 a 43 Kg (26,4 ± 8,5 Kg) utilizando o distrator da anca Dis-UTAD® (Fig.1). No segundo exame foi utilizada a projeção convencional ventrodorsal (VD)

da bacia (fig.2) realizada entre os 13 e os 29 meses de idade (20 ± 4 meses) variando o peso nesta idade entre 17 e 61 Kg (38,5 ± 14,3 Kg). A qualidade da anca na

primeira radiografia em distração foi avaliada calculando o índice de distração (ID) para cada articulação (Smith et al., 1990; Ginja et al., 2008) e na segunda

radiografia as articulações foram classificadas em cinco categorias A, B, C, D e E usando as normas da Federação Cinológica Internacional (FCI). A análise de

variância (ANOVA) com o teste post hoc LSD (diferença mínima significativa) post foi usada para comparar o ID de cada categoria FCI em adulto (Quadro 1).

FCI NºÍndice Distração

média ± desvio padrão*

Min Máx

A 14 0,32±0,11a 0,11 0,48

B 4 0,43±0,03a,b 0,4 0,46

C 11 0,44±0,13b 0,22 0,61

D 5 0,63±0,09c 0,47 0,71

E 6 0,82±0,06d 0,75 0,91

Quadro 1 - Valores dos índices de distração das 40 articulações coxofemorais em jovem e das diferentes

categorias FCI em adultos

*Médias com diferentes letras são estatisticamente diferentes P < 0.05 (ANOVA, teste Post hoc LSD)

Os resultados mostram que o Dis-UTAD® promove uma distração da anca em jovem que está associada à qualidade das ancas do animal na idade adulta uma vez

que as diferentes categorias FCI A, B, C, D e E têm médias do ID em jovens gradualmente superiores e os animais classificados como A tinham ID em jovens

estatisticamente diferentes dos animais que viriam a desenvolver DA em adultos. Contudo, as articulações FCI B (borderline) não são estatisticamente diferentes do

ID A e C, o que pode ser explicado pela reduzida dimensão da amostra. Pode, no entanto, estar também associado às conhecidas limitações da projeção

ventrodorsal convencional para detetar animais com ligeira a moderada LA da anca, uma vez que o posicionamento dos animais com os fémures em extensão

favorece a congruência articular omitido os sinais radiográficos de instabilidade articular (Smith et al., 1990; Ginja et al., 2008). Pelo exposto, pensamos que a

seleção de animais para reprodução tendo por base este sistema de classificação da DA FCI em adultos poderia beneficiar da inclusão de dados de lassitude

articular radiográfica.

BIBLIOGRAFIA

• Ginja MM, Gonzalo-Orden JM, Melo-Pinto P, Bulas-Cruz J, Orden MA, San Roman F, Llorens-Pena MP, Ferreira AJ. 2008. Early hip laxity examination in predicting moderate and severe hip dysplasia in Estrela

montain dog. J Small Anim Pract. 2008 Dec;49(12):641-646.

• Smith GK, Biery DN, Gregor TP. 1990. New concepts of coxofemoral joint stability and the development of a clinical stress-radiographic method for quantitating hip joint laxity in the dog. J Am Vet Med Assoc,

196(1):59-70.

Este trabalho é financiado por Fundos Europeus de Investimento através do FEDER/COMPETE/POCI- Programa de Competitividade e Internacionalização, no âmbito do projeto POCI-01-0145-FEDER-006958 e Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do projeto UID/AGR/04033/2013. Ana Santana – [email protected]

Fig. 1 - Exame distração aos 5 meses com Dis-UTAD®

Fig 2 -Exame convencional com projeção VD da bacia aos 18 meses