Leffa e Freire, 2013

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13 Referência: Leffa, V. J.; FREIRE, M. M. Educação sem distância. In: MAYRINK, M. F.; ALBUQUERQUE-COSTA, H. (Org.). Ensino e aprendizagem de línguas em ambientes virtuais . São Paulo: Humanitas, 2013, p. 13-38. (Pré-edição) Educação sem distância Vilson J. Leffa (UCPel/CNPq) Maximina M. Freire (PUCSP) O objetivo deste texto é propor uma reflexão sobre a natureza da educação a distância (EaD) na contemporaneidade. A necessidade des- sa reflexão parte da constatação de que a EaD é ainda uma prática mal compreendida por força de algumas acepções atribuídas à palavra “dis- tância”, oriundas de uma herança histórica que não se justifica mais, diante das mudanças trazidas pelas Tecnologias de Informação e Co- municação (TICs). A evolução da língua não acompanha a evolução da tecnologia e acabamos criando um descompasso entre a língua que fa- lamos e o mundo em que vivemos. Podemos até insistir que o mundo é constituído pela língua, acreditando que ela o constrói e o modela em suas teias lexicais e sintáticas, mas a verdade é que o mundo transborda da língua, indo muito além dela. O que permanece é o desafio de dar conta de um mundo novo com palavras antigas: a EaD não cabe nas palavras que usamos para descrevê-la. A tese deste trabalho é de que a distância não existe em EaD, e para demonstrá-la vamos partir da perspectiva de que a aprendizagem, tanto a distância como face a face, só é possível quando há um meca-

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Educação sem distância

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13 Referncia: Leffa, V. J.; FREIRE, M. M.Educao sem distncia. In: MAYRINK, M. F.; ALBUQUERQUE-COSTA, H. (Org.). Ensino e aprendizagem de lnguas em ambientes virtuais. So Paulo: Humanitas, 2013, p. 13-38. (Pr-edio) Educao sem distncia VilsonJ. Leffa (UCPel/CNPq) MaximinaM. Freire (PUCSP) Oobjetivodestetextoproporumareflexosobreanaturezada educaoadistncia(EaD)nacontemporaneidade.Anecessidadedes-sareflexopartedaconstataodequeaEaDaindaumaprticamal compreendidaporforadealgumasacepesatribudaspalavradis-tncia,oriundasdeumaheranahistricaquenosejustificamais, diantedasmudanastrazidaspelasTecnologiasdeInformaoeCo-municao(TICs).Aevoluodalnguanoacompanhaaevoluoda tecnologiaeacabamoscriandoumdescompassoentrealnguaquefa-lamoseomundoemquevivemos.Podemosatinsistirqueomundo constitudopelalngua,acreditandoqueelaoconstrieomodelaem suasteiaslexicaisesintticas,masaverdadequeomundotransborda dalngua,indomuitoalmdela.Oquepermaneceodesafiodedar contadeummundonovocompalavrasantigas:aEaDnocabenas palavrasque usamospara descrev-la. AtesedestetrabalhodequeadistncianoexisteemEaD,e parademonstr-lavamospartirdaperspectivadequeaaprendizagem, tantoadistnciacomofaceaface,spossvelquandohummeca-VILSONJ. LEFFA,MAXIMINA FREIRE 14 nismodemediaoentredoisoumaisagentes,incluindoalunos,pro-fessoresemembrosdacomunidadeemgeral.Namedidaemqueesses mecanismosdemediaoforemcapazesdepropiciarumainterao simultneaentreagentesgeograficamentedistantes,adistnciano umobstculoparaaaprendizageme,comotal,deixadeexistirnapr-tica.Comisso,odistantetorna-sepresente.oquetentamosdemons-trar na primeiraparte dotexto. Nasegundaparte,fazemosumretrospectodaEaD,desdeos cursosporcorrespondncia,quandoadistnciageogrficaestavapre-sente,atomomentoatual,quandoeladeixoudeexistir.Oobjetivo aquimostrarqueotermoEaDumatavismodessestemposremotos, potencialmentedifcilde se sustentar na contemporaneidade. Finalmente,naterceiraparte,mostramosquaissoosmecanis-mosdemediaodaEaDqueviabilizamainteraoentreosagentesda educaoequemaiscontribuemparaeliminaradistnciaentreeles. Mostra-setambmdequemodooutrasdistnciassoafetadas,incluin-doatemporalidadeeosaspectossociaisecognitivos.Emvezdeuma separaoentreachamadaeducaofaceafaceeaeducao a distn-cia,oquesepercebeumafusodasduas:odistantetorna-sepresente eopresentetorna-sedistante,encapsulandoaeducaoemumproces-sohbridoenico,aomesmotempo,distanteepresencial.Emboraou-trosaspectostenhamsidodiscutidosquandosetentadefinirEaD,inclu-indoquestesnomenosimportantescomoautonomiaeflexibilidade (GUAREZI&MATOS,2009;BELLONI,2008;BRASIL,2005),este textoconcentra-seespecificamentenaquestodoconceitodedistncia ecomoeletemafetadotantoaeducaoadistnciacomoapresencial, umavezqueelenoemergedaambientao,masdarelaoentreos participantesdoprocessoeducativo. EDUCAO SEM DISTNCIA 15 1. Distncia e interao OproblemaconceitualdaEaDestatreladopalavradistn-ciaesimplicaesqueelatrazparaaideiadeinterao.Oconceito tradicionalquesetemdostermosdistnciaeinteraoparecenoser maisadequadoprticadaEaDnacontemporaneidade.Oproblema comeacomanaturezaextremamentepolissmicadapalavradistncia, queincorporainmerasacepes,nosnasdimensesfundamentais deespaoetempo,mastambmnasdimensesmaissutisdosdom-nioscognitivoesocial.oqueresumiremosaseguir,deixandodelado outrasdistncias,queconsideramosmenosrelevantesparaaquestoda EaD. Podemosestarlongedeumlugar,deumobjetooudealgum, numadimensopuramentegeogrfica,quepodemostransporpelouso dealgummeiodetransporte:adistnciaqueseparaumesquiadorde Banf,nasrochosasdoCanad,deumcolegaemUshuaia,nosulda Patagnia,porexemplo,podeservencidacomrelativafacilidadepelo usodoavio,tantonosentidodeBanfaUshuaia,comonosentidocon-trrio.umadimensofcildesercompreendida,atemtermosgeo-mtricos,comoporexemplo,oconceitobsicodedistnciaentredois pontos.tambmoconceitoquenormalmentesetememmentequan-dosepensaemEaDenosmeiosquepodemosusarparavenceressa distnciameramentegeogrfica,quertradicionalmenteenviandouma apostilapelosCorreiosou,nacontemporaneidade,transmitindouma aulapelateleviso. Jnadimensocronolgica,estamosdiantedadistnciacomo durao.Osmovimentosquevoluntariamenteexecutamosnoespao, comdeslocamentosdeumlugarparaoutro,nopodemserreplicados nadimensocronolgica.Aviagemnotempoumaficocientfica VILSONJ. LEFFA,MAXIMINA FREIRE 16 quesersemprefico,namedidaemqueestamospresosaopresente, incapazesdeavanarourecuar.Omximoqueotempopermite que o relativizemosemrelaoaodeslocamentoespacialousaesque executamos.Falamosemadministrareatemcompactarotempo,mas issoapenasmaisumafico.Oquepodemosfazeragirmaisrapi-damenteoucobrirumadistnciamaiornumperododetempomenor, masnotempo,mesmo,nopodemosmexer;otempoquemexeco-nosco,modificandonossocorpoenossamente.Dasuaimportncia paraaeducaoporquenadimensocronolgicaqueaaprendizagem ocorre.Ahoratem60minutos,tantonoensinopresencialcomona EaD,masasaespodemserdiferentes,possibilitando,porexemplo, umaemancipaodomovimentonaEaD,oquenoacontecenames-maproporoemrelaoaoensinopresencial,noqualoalunotipica-menteprecisausarpartedotempoparasedeslocaratasaladeaula, deslocamentoquenoaconteceem EaD. Oconceitodedistnciapersistetambmnodomniocognitivo. Naaprendizagem,tradicionalmentepressupomosquedevahaveruma distnciaentreasabedoriadoprofessoreaignornciadoaluno,sendo opapeldoprofessortentarsuprimiressadistnciapormeiodeliese exerccios(RANCIRE,2007).Adistnciacognitivanosevence viajandonoespaoounotempo,maspeloquesefazecomosefaz, provavelmenteenvolvendonososrecursosdainteligncia,mas tambmacriatividadeeempenhodoaluno,quepodeatsuperaraao doprofessor.Ainda,segundoRancire,[o]mestrenopodeignorar queoaluno,ditoignorante,queestsentadosuafrente,naverdade, conhecemuitascoisasqueeleaprendeusozinho,olhandoeouvindoo mundosuavolta...(RANCIRE,2007,p.275).Issopodeseruma verdademaiornocontextodaEaD,emqueoalunodependemenosdo EDUCAO SEM DISTNCIA 17 professor,nosporterummundoqueseampliaparamuitoalmdo campodeaodoprofessor,mastambmporjteradquiridoletramen-tosqueoprofessor,svezes,nopossui(SNYDER,2009).Adistncia entreignornciaeconhecimento,envolvendoalunoeprofessor,pode permanecer,masemsentidosvezesinverso,comoalunosabendo maisqueoprofessor,emreasdeconhecimentoqueatpodemser diferentes,mas nomenosrelevantespara sua educao. Efinalmente,temosadistnciasocial,envolvendoinmerosas-pectosnarelaodosujeitocomosoutros,conferindoprestgioaum indivduoedesqualificandooutro.Podeenvolverquestesdehierar-quia(generalversussoldadoraso),deusodalngua(normapadrover-susdialetocaipira),depossedebensmateriais(ricoversuspobre),de endereoresidencial(bairronobreversusfavela),entretantasoutras possibilidades.Areduodadistnciasocialtemsidoumdosgrandes desafiosdaeducaoporduasrazes:aprimeira,porexistiremsentido vertical,decimaparabaixo,exigindoumesforonoqualaspessoas queestolembaixonemsempreestodispostasafazer;emsegundo lugar,porqueaspessoasqueocupamasposiesmaiselevadasofere-cemresistnciaemabrirmodeseusprivilgiosepermitiroacesso dosoutrosquetentamsubir.Sefalarumadeterminadalnguaestrangei-ra,porexemplo,dstatusaquemafala,essestatusseperdenomo-mentoemquetodospassaremafalaressalngua.Aperdadestatus,no entanto,nemsempredependedesuapopularizao;svezesopr-priodetentorqueoperde:oricopodeficarpobre,ogeneralpodecair emdesgraanumarevoluo,oexecutivopodeperderseuempregoem umacrisefinanceira.claroquealgunsvaloressomaisestveisdo queoutros;apossibilidadedealgumperderosbensmateriaisque amealhouduranteumavidainteira,perdendoostatusderico,maior VILSONJ. LEFFA,MAXIMINA FREIRE 18 doqueaperdadeumacompetnciaprofissional,adquiridapeloestudo, comoostatusdemdico,porexemplo.Pode-seusurparodinheirode algum,masnosuaprofisso,quandolegitimamenteadquirida.A simplessuspeitadequeaEaDtenhaamnimapossibilidadedereduzir, tambm,adistnciasocial,ampliando,assim,oacessocidadania,, porsis,umbommotivoparainvestigarsuapotencialidade.Aideia dequeelafarissonopeladistribuiodebensmateriais,maspela construodoconhecimentonoaluno,sendoessasuareaespecfica de atuao. Todasessasdiferenasgeramdesequilbriosnainteraoentre osagentesque,deummodooudeoutro,estodistanciadosentresi, desdeasrelaespuramentefsicasatasrelaeshumanas.No mundo fsico,paracitarapenasumexemplo,oimpactodosolsobreaterra muitomaiordoqueodaterrasobreosol,observando-seaoquepode serdescritocomooprincpiouniversaldacentralidadedopoder,aquele emqueoagentesubjugaecontrolaoqueestnaperiferia.Essarelao depoderentreosoleosplanetasquegiramaoseuredorpodetambm serpercebidaentreogeneraleossoldadose,emalgunscasos,entreo professoreosalunos.Aindaquenenhumobjetooupessoaestejaisento dainflunciadooutro,independentementedesuaposiocentralou perifrica,superiorouinferioroempenhoincessanteemmantera hierarquiaacabafazendocomqueelasejaaceitacomnaturalidade(ve-ja-se,porexemplo,ofenmenodanaturalizao,deacordocomFA-IRCLOUGH, 2001,p. 119). Dopontodevistasemntico,apalavradistnciapodeterum traonegativomuitocontundente.Negativamosadistncia,porexem-plo,quandoprocuramosanul-ladealgummodo,querprocurando meiosdetransportemaisrpidos,ganhandotempo,acelerandoaapren-EDUCAO SEM DISTNCIA 19 dizagem,aproximando-nosdequemgostamosoutentandodiminuira distnciasocialquenosseparadosstatussuperiores.Squeremosdis-tnciadoquenosaborrece.Osclubesdefutebolqueremdistnciado rebaixamento.Quemnogostadecozinharquerdistnciadofogo.Se algumdizquedesejadistnciadogovernoporquedesaprovaoque estsendofeito.Ssepreferequealgoestejaadistnciaquandose trata de algode queno gostamos. Oproblemamaior,noentanto,estna expressoa distncia que compeasiglaEaD,quepodeserassociadaideiadefaltadefamilia-ridadecomoassuntoe,svezes,atdenoenvolvimento,noadeso enocomprometimento.Numapocaemquemaissefaladesolidarie-dade,colaboraoetrabalhoemequipenareadaeducao,apalavra distnciainterpretadaemumsentidocontrrioetrazjustamentea ideiadeseparao:estardistanteestarisoladodogrupo,longeda presenadosoutros.Nessesentido,discordamosdeBarreto(1998) quandoafirmaqueaexpressoensinoadistncia,emoposioa ensinopresencial,umeufemismoporqueopepresenaadistncia, quandodeveriaoporpresenaaausncia:(...)comooEADestsem-preassociadosnovaslinguagens,dasnovastecnologias,oensino presencial,marcadopelotrabalhodocente,tendeaserpostocomove-lho,desgastado,caduco,semvalor(p.188).Discordamosporqueen-tendemosqueacontece,naverdade,ocontrrio:oquedesqualificao distante. Hvriasmotivaesquelevamaspessoasaquereremdistn-ciadaeducaoadistncia,incluindoasuspeitadequesetratadeuma educaodesegundaclasse,desuplncia,reservadaspessoasque perderamaoportunidadenapocaadequadaouquenotmoutraop-odeaprendizagemeporissosesujeitamaessamodalidade.Embora VILSONJ. LEFFA,MAXIMINA FREIRE 20 inmeraspesquisaseavaliaestenhamdemonstradoqueosresultados obtidosemcursosadistncianadadeixamadesejaremrelaoaos cursospresenciais(CASTRO,2009),easempresasjnopemmais restriesemcontratarpessoalformadoadistncia,muitasvezes,at desenvolvendoprogramasnessamodalidadeparaaqualificaodeseus funcionrios,aindaassimparecepersistiropreconceitodequealgo esterradoquandoosalunostentamaprenderfisicamenteafastadosuns dosoutros.Hoprincpiodequeaaprendizagemsacontecequando hinteraoeessainteraopareceficarcomprometidaquandonoh ocontatofsico.Esseumproblemaqueestnaessnciadaeducao adistnciaeprecisaseraprofundadoparaquesepossaavaliarsuaexe-quibilidade. Aquestodainteraoentrecorposdistantesremontafsica aristotlicaepermaneceathoje,nosnareadaFsica,masexpan-dindo-setambmparaaFilosofiaeEducao.Ostrsconceitosusados originalmentepelosfsicosparaexplicarainteraoentreobjetospare-cemenvolverprincpiosuniversaisqueseaplicamigualmentesrela-esentreaspessoas,principalmentequandobuscamsetransformarou transformarosoutros,oqueessencialmenteocasodaaprendizagem. Essestrsconceitosso:aoporcontato,aoadistnciaeaome-diada(ANDRADE, 2009). Usamosoprincpiodaaoporcontatoparaexplicarqueum objetospodesermovimentadopelaaodeoutroobjeto,queage diretamentesobreele.Umabola,porexemplo,ssaideseuestadode inrciaoumudaadireodeseumovimento,sesofreroimpactodeum chute.Deacordocomesseprincpio,aideiadequeumabolapossaser chutadaadistncia,semocontatodiretodopdojogador,seriauma aberrao.Oproblema,obviamente,queocontatodiretoentreum EDUCAO SEM DISTNCIA 21 objetoeoutronemsemprenecessrioparaprovocaroualterarum movimento;aoladodaaoporcontatohtambmaaoadistncia, oquepodeserfacilmenteobservadonanatureza.Temos,porexemplo, aforagravitacional,quefazumobjetocairlivremente,semserimpe-lidoporoutroobjeto,ouofenmenodaeletricidadeesttica,quefaz eriarospelosdobraocomaaproximaodamo.Sofenmenos quedurantemuitotempointrigaramoscientistaselevaramproposta deque,almdaaoporcontato,haviatambmaaomediada,neces-sriaparaexplicaraaoadistncia.Oprincpiodaaomediada explicadopelasuposiodequeoobjetocriaaredordesiumazonade perturbao,quegeradaporalgumapropriedadeintrnsecaaoobjeto equeafetaazonadeperturbaocriadapelooutroobjeto,propiciando, assim,a troca de informaesentre eles (KLEBER, 2008). AsemelhanaentreasteoriasdaFsicasobreasforasqueatu-amnanaturezaeasteoriasdeVygotskysobreaaprendizagemto grandequeaprimeirapodeatserusadacomoumametforaparaex-plicarasegunda:oserhumanoaprendeporquetrocainformaescom oobjeto,noporcontatodireto,masagindoadistnciapelamediao deuminstrumento,sejaumlivro,alnguaquefala,umaredesocialou mesmooprofessor.Veja-se,apropsito,oquedizOliveira,resumindo oconceitovygotskyanodaaomediada:mediao,emtermosgen-ricos,oprocessodeintervenodeumelementointermedirioem umarelao;arelaodeixa,ento,deserdiretaepassaasermediada poresseelemento(OLIVEIRA,2001,P.26).Aaprendizagemsem mediao,porcontatodiretodosujeitocomoobjetotambmposs-vel,masestrestritasfunesbiolgicaselementaresdoserhumano, comosaciarafome,matarasedeouafastaramodofogoparano queim-la.Aaprendizagemedesenvolvimentodasfunespsicolgi-VILSONJ. LEFFA,MAXIMINA FREIRE 22 cassuperioresrequeremamediaodeinstrumentosesignoscadavez maiscomplexoseabstratosparadaremcontadasnecessidadescontem-porneasdoser humano. OmovimentodaHistriaampliaohorizontedoindivduo,exi-gindodeleainteraocomumnmerocadavezmaiordeartefatoscul-turaisepessoas.Selnaaldeiamedieval,oindivduotinhaapossibili-dadedeviverumavidainteirafalandosempreamesmalngua,comas mesmaspessoas,numamesmaprofissoenumaexpectativageralde normalidade,atualmenteissoseriaconsideradoumaaberrao.Fala-moscompessoasdeoutroslugarespelocelular,viajamosparaoutras cidadesepases,compramosmercadoriasqueforamfabricadasnoou-troladodomundo,vemosimagensdepessoasvivasemortas,deluga-resepocasdiferentes.Emsuma,interagimosnoscomaspessoas queestofisicamentepresentesnossafrente,mastambmcomquem estdistante.Seaaprendizagemdependedainterao,adistnciano umempecilhopara queela ocorra. 2. A evoluo da EaD Ograndeproblemadadistnciaotempoqueselevaparaven-c-la.Antigamenteasdistnciaserammaioresporqueosmeiosde transporteerammaislentos.Comaintroduodalocomotiva,doau-tomveledoavio,omundofoificandocadavezmenor,chegando reduomximacomoadventodainternet.Nomomentoemquenos comunicamossincronicamentedeumladoaoutrodoplaneta,adistn-cia deixade existir. issoquese pretendedemonstrarnesta seo. AEaDsurgiunorastrodastecnologiasexistentes,iniciando comousodosCorreios,quandosechamavacursoporcorrespondn-cia,passandodepoispelordioepelateleviso,atchegaraousoda EDUCAO SEM DISTNCIA 23 internet,quandoseconsolidaaexpressoeducaoadistncia.ALei deDiretrizeseBasesde1996foiodivisordeguasdaEaDnoBrasil; antesdela,oscursosporcorrespondncianotinhamapoiolegaleo substitutomaisprximodeumacertificaoqueessescursospoderiam ofereceraoalunoeraprepar-loparaoexamesupletivo,administrado poralgumainstituiooficial.Osdemaiscursoseramdirigidosparaa formaodeprofissionaiscomotcnicoderdio,mecnicodeautom-veloucostureira,almdecursosqueapelavamparaoimaginriodos jovensdapocacomodesenhista,detetiveparticularouartistadeci-nema.Oscursosporcorrespondnciaeramdirigidosapessoasdasclas-sespopulares,quenotinhamcondiesdeestudareeram,muitasve-zes,vistoscomocursosdesqualificados;afirmarquesetinhafeitoum cursoporcorrespondnciaeraadmitirquenosetinhaacompetncia esperadanumadeterminadarea.Essadesqualificaoprovavelmente tenhacontribudoparaqueaEaDaindasejavistaporalgumaspessoas comoeducaodesegundaclasse.Ainiciativadogovernonoscursos pelordio,comooProjetoMinerva(NISKIER,1999)noinciodad-cadade1960,transmitidoobrigatoriamenteportodasasemissorasem cadeianacionalnohorrionobre,deuumstatusmaiselevadoEaD, incluindo,porexemplo,arecepoorganizadaempolos,comapresen-ademonitoresquecoordenavamareuniocomosalunos.Esquema semelhantefoiposteriormenteadotadopelatelevisonoprogramaTe-lecursodaFundaoRobertoMarinho(CARVALHO,1999),svezes em parceriacom Secretarias de Educao(DALMEIDA, 1988). Aerapr-internetdaEaDnoBrasilcaracteriza-se,assim,por doisgrandesmomentos:oprimeirooperododoscursosporcorres-pondncia,comdestaqueparaoInstitutoUniversalBrasileiro(IUB), criadoem1941;osegundomomentoafasedoscursospelosmeiosde VILSONJ. LEFFA,MAXIMINA FREIRE 24 comunicaodemassa,comdestaqueparaordioeparaateleviso.A distnciamaiorestavanoscursosporcorrespondncia,quefunciona-vam unicamentepelosCorreios. Fazendoumaviagemnotempo,podemosreconstruir,comda-dosdapoca(FARIA& VECHIA, 2011; IARALHAM, 2009; FOLHA DIRIGIDA,2009;ARY,2007;GUARANYS&CASTRO,1979),co-moseriaumcursoporcorrespondncianoinciodadcadade1960.A principalinstituiodeensinoadistnciaeraoIUB,voltado,comoj vimos,paraasclassespopulares.Napoca,oacessoaoEnsinoMdio, tantoparaaescolaparticularcomoapblica,erarestritospoucasci-dadesquetinhamescolasdenvelginasial,dequatroanos,seguidosde maistrs,paraonvelcolegial.Paraentrarnoginsio,depoisdoscinco anosdoprimrio,oalunotinhaqueseraprovadonoexamedeadmis-so.Jonvelcolegialexistiaapenasnasprincipaiscidadesdopas.O alunopobredeumacidadepequenatinha,assim,trsgrandesdistn-ciasavencersequisesseconcluiroEnsinoMdiodapoca:adistncia cognitiva,adquirindooconhecimentonecessrioparapassarnoexame deadmisso,queeraeliminatrio;adistnciageogrfica,mudando-se paraumacasadeparentesnacidadegrande;e,emalgunscasos,adis-tnciafinanceira,quandonoexistisseumparenteefossenecessrio pagaruminternato.Umasoluointerinaparavencertodasessasdis-tnciaseraocursoadistnciaoferecidopeloIUB,namodalidadeMa-dureza, como era conhecidoo supletivoda poca. Oprocedimentotpicoparafazerumcursoporcorrespondncia iniciavacomasinformaesquepoderiamserobtidaspormeiode annciospublicadosnosgibis,comoeramentoconhecidasasrevistas dehistriasemquadrinhos,ouempublicaessemanais,comoarevis-taOCruzeiro.Normalmente,haviaum cupom (escrito coupon, na po-EDUCAO SEM DISTNCIA 25 ca)queofuturoalunopreenchiacomseunomeeendereocompletoe enviavaparaasededocurso.Essealunoeratipicamenteumhabitante doNorteouNordestedoBrasil,muitasvezesegressodoserviomili-tar,queeraobrigatrionapoca,equeindiretamente,acabavadesper-tandonosoldadoodesejodecompletarsuaeducao,qualificar-se paraumaprofissoouatabrircaminhoparaocursosuperior.Ains-crioparaocurso,omaterialdidticoenormalmenteosvalespostais paraopagamentodasmensalidadeseramenviadoserecebidospelos Correios.Ocursovinhaemmdulos,comtextos,exercciosetestes, queoalunorecebia,completavaedevolviaaosprofessoresdistantes paracomentrioseavaliaes.Oexamefinalparaaobtenododi-plomadeconclusodocursoginasialoucolegialerafeitoemumaes-coladaredeoficialdeensino,paraondeoalunosedeslocava,sendo essa normalmentea nicaatividadepresencial.Otemponecessrioparavenceradistnciaentreprofessore alunoeraocomponentequemaispesavaentretodososelementosdo cursoequemaisexigiaemtermosdemotivaoeautonomia;ademo-raentreumaperguntafeitapeloprofessor,arespostadoalunoeore-tornodoprofessorlevava,svezes,attrsmeses.Chegaaseruma ironiaofatodenoseusaraexpressoensinoadistncianumapoca emqueocursoporcorrespondnciaerarealmenteadistncia;uma distnciadupla,mantidanosdoissentidos,tantodoprofessorparao alunocomodoalunoparaoprofessor.Oscursosporcorrespondncia tinham,noentanto,umavantagemquenemmesmoastecnologiaspos-teriores,comoordioeateleviso,conseguiamoferecer:eraavanta-gemdainterao,possibilitandoatrocadeinformaesentreoprofes-sor e o aluno. VILSONJ. LEFFA,MAXIMINA FREIRE 26 Comachegadadordioedepoiscomateleviso,essadistncia ficoureduzidametade.Oscursospelordioepelatelevisoeram transmitidosinstantaneamenteparatodoopas,eliminandoadistncia naentregadocontedo,masprejudicando-sepelafaltaderetorno,na medidaemqueerammeiosdecomunicaodemassa,transmitindoa mesmainformaoparatodosaomesmotempo,nopossibilitando,por exemplo,queoalunoescolhesseahoraemquedesejasseestudarouo contedoespecficoqueprecisasseaprender.Tinha-seumacomunica-odemonica,combasenumatransmissoqueerainstantnea, rpidaeeficiente,quandofeitadocentroparaaperiferia,maslentaou inexistentequandotentavaretornardaperiferiaparaocentro.Trans-mite-seinformaoparaosmaisdiversospontos,masalgicadomi-nanteaderecepo,enoadeconexo.(AZAMBUJA&GUA-RESCHI, 2010,p. 22) comachegadadainternetquetudoissomuda:acelera-sea interaodoscursosporcorrespondnciaetransforma-seacomunica-odemonicaempossibilidadedecomunicaodeviadupla.A internet,quecomeoutmidaemsuaaparncia,trazendoomundoem pginasmeramentetextuais,inicialmentefazendomuitaspessoastorcer onarizparaumtextodecorverdesobreumatelaescura,foilogoad-quirindoimagens,animaoesons,simulandopginasdejornaise revistas,reproduzindoaprogramaoderdioeteleviso,trazendo msica,vdeosefilmesdetodasaspartesdomundo.Emvezdatrans-missosimultneadocentroparaaperiferia,tem-seabuscaporde-manda,ondeoespectadorescolheoquedesejaler,verououvirnum determinadomomento.Omundocriadopelaficocientficadadcada de1960(ex.:2001:umaodisseianoespao),comunspoucossuper-computadorescentrais,transmitindoordensdecimaparabaixo,subs-EDUCAO SEM DISTNCIA 27 titudoporummundocommilhesdenotebooks,netbooks,tabletse smartphones,levandoetrazendotextos,imagensevdeosdeumladoa outrodoplaneta,comacaractersticaespecialdesertambmmaterial produzidopelosprpriosusurios.Oqueantespodiaserfeitoemos-tradoparaoprofessor,colegadasaladeaulaouovizinhoaolado,ago-rapodeserfeitoemostradoparapessoasdomundointeiro.Paraquem postaumamensagememumaredesocialnofazamnimadiferena seodestinatriomoranumprdioaoladooumudou-separaooutro ladodoplaneta.Adistnciadeixoudeexistirquandorecebemosuma mensagemdeumapessoa,semsaberondeelaseencontra,seemcasa, notrabalho,noaeroporto,emumhotel,numnibusoumesmoemuma sala de aula. Essacompactaodoespao,comacomunicaoporsome imagemsemrestriesdedistncia,permitequeenviemosnosoque produzimos,sejatexto,udioouvdeo,maspermitequeenviemos tambmnossoprpriocorpo.UmapessoaqueestemTquio,por exemplo,podesetransportarparaNovaYork,ParisouUshuaiaeinte-ragircomooutroemtemporeal,construindocomeleumenunciado emconjunto,fazendoperguntas,negociandosentidos,tomandoece-dendoturnosdefala,tudodemodosimultneo,praticamentecomose estivessenafrentedooutro.Rigorosamentefalando,nohoteletrans-portedocorpo,jqueapessoa,emsuamaterialidadebiolgica,per-manecenolocaldeorigemdatransmisso:nopossvelabra-la, sentirocontatodesuapeleouoperfumedeseucorpo.Oquesetele-transportaamaterialidadevisualeverbal,oque,abemdaverdade, nomuitodiferentedeumcontatopedaggicofaceaface.Sempre queinteragimoscomalgum,noestamosinteragindocomapessoa emsuamaterialidadebiolgica,mascomaimagemmentalquecons-VILSONJ. LEFFA,MAXIMINA FREIRE 28 trumosdessapessoa.Issoacontecetantonainteraopresencialcomo adistncia,nofazendodiferenasecompartilhamosounoomesmo espaofsico.comosesubstitussemososculospelascmerasda web,ambosnecessriosparatornaraimagemdooutrovisvel,quera pessoaestejananossafrenteoudooutroladodacmeraconectadaa nossa. 3. Os mecanismos da EaD na contemporaneidade Tantofaceafacecomoadistncia,htrstiposfundamentais decomunicaonainteraohumana:(1)umparaum;(2)umpara muitos;(3)muitosparamuitos.Todacomunicaofaceafaceacontece namodalidadesncrona,masacomunicaoadistnciaacrescentaa essatambmamodalidadeassncrona,viabilizandoumretardoentre umturnoeoutro,ouseja,osinstrumentosdemediaoentreossujeitos permitemqueocontedovisuale/ouverbalsejaretidoporumdeter-minadoperododetempoantesdeserentregueaodestinatrio.Essa combinaodetrstiposdecomunicao(umparaum,umparamui-tos,muitosparamuitos)comduasmodalidades(sncronaeassncrona) criaseispossibilidadesdeinteraonaEaD.Vejamosbrevementecada umdessespossveiscenrios,iniciandopelamodalidadeassncrona. Comoadistnciageogrficanoexistenavirtualidade,vamosconside-rarapenasasdimensescronolgicas,cognitivasesociais,nostermos discutidosacima. Comunicao assncrona de um para um Omaiscomumoe-mail.Emboraoe-mailpossatambmser usadocomoumaferramentadeumparamuitos,nocomo se caracte-rizaemEaD.Podeserenviadopeloprofessor,porumtutor,poroutro alunooutipicamente,demodoautomtico,peloprprioambientevir-EDUCAO SEM DISTNCIA 29 tualdeaprendizagem,natentativademanteroalunoinformadodas atividadesdocursoouderesgat-lo,quandosemostrarnegligentena execuodastarefas.Podeserentendidacomoumaferramentainvasi-va,queinterferedemodonosolicitado,misturando-secomasmensa-genspessoaisdoaluno,svezes,emmomentosemqueeleestsede-dicandoaoutrasatividades.Humadistnciasocialvarivel,depen-dendodeondeparteamensagem;menorquandodeoutroaluno,maior quandopartedoprofessor.Omesmoaconteceemrelaodistncia cognitiva.Adistnciacronolgicadeterminadapeloreceptor,jque dependeda frequnciacom queo alunoacessa o e-mail. Comunicao assncrona de um para muitos Esseotipodecomunicaoemquenohretornodorecep-tor,queapenasrecebeainformao.Podeserummuraldenotciasou umaagendaemqueoprofessorexpeinstruesparaosalunos,inclu-indo,porexemplo,oplanodeensinodadisciplina,dataslimiteparaa entregadastarefas,normasdefuncionamento,etc.Adistnciaentreos interlocutoresgrande,emtodasasdimenses.Humanfasenahie-rarquia,oqueaumentaadistnciasocial,enaimpessoalidade,jqueas mensagenssodadasparatodos.Adistnciacronolgicatambm maior,considerandoanecessidadedeacessarocursoparaobterasin-formaes,oquenormalmentefeitocommenosfrequnciadoqueo acesso ao e-mailous redes sociais,porexemplo. VILSONJ. LEFFA,MAXIMINA FREIRE 30 Comunicao assncrona de muitos para muitos Consideramoscomoexemplotpicodessetipodecomunicao ofrumdediscusso,queumadasferramentaspreferidaspelaEaD, pelapossibilidadequeapresentadeumaconstruocoletivadeconhe-cimento,feitaidealmentedemaneirahorizontal,nohierrquica.Essa possibilidadeconfereaofrumumadistnciacognitivapequena,apro-ximandoquemsabemenosdequemsabemais.Adistnciasocialpode atdesaparecer,principalmenteemfrunsbemplanejados,nosquaiso professorficainvisvel.Adistnciacronolgicamaior,principalmen-tenumfrumbem-sucedido,daquelesquelevamreflexoefazemo alunopensarantes de postar seus comentrios. Amodalidadedecomunicaoassncrona,comtrstiposde comunicao(umparaum,umparamuitos,muitosparamuitos),tem privilegiadoaformaescritadalngua,provavelmentepelapossibilida-dederetardonoenviodamensagem,oquepermiteaoalunoeditare revisarsuamensagem.Namodalidadesncrona,essapossibilidadede retardonoexiste;acomunicaoinstantneaeumademoraexcessi-vanasuaelaboraopodeserdesconfortvel,tantoparaquemescreve comoparaqueml.Daousocadavezmaiordeudioemesmode vdeonacomunicaosncrona,convivendocomaformaescrita.En-quantoacomunicaoassncronaeliminavaadistnciageogrfica, universalizandooaqui,acomunicaosncronaeliminatambmadis-tnciacronolgica,unindoo aquiao agora. EDUCAO SEM DISTNCIA 31 Comunicao sncrona de um para um Acomunicaosncronacomeounofimdadcadade1990, comosprogramasdemensagensinstantneas,comooICQ1,Windows LiveMessenger2,Yahoo!Messenger3,entretantosoutros.Comosu-cessodoSkype4,permitindochamadascomudioevdeo,acomunica-osncronacomsomeimagemgeneralizou-se,eatualmenteposs-velaoalunolerumtextocomocolegaoucomoprofessor,vendoo interlocutornumapartedatelaeotextonaoutra,demodotoconfor-tvelcomoseestivessemsentadosaumamesa,umaoladodooutro.A possibilidadedeeditarodocumentoonlinedemodoqueasalteraes apareamsimultaneamentenosdoiscomputadoresviabilizaoatendi-mentoindividualizado,comfoconocontedoenosproblemasque interessamaoaluno.Aaproximaodossujeitossugereapossibilidade daconstruocompartilhadadoenunciado.Nohdistnciasgeogrfi-canemcronolgicaeasdistnciascognitivaesocialsoasmesmasde umcontatofaceaface.Oolhonoolho,eoapoioparalingusticoque tinhamsidoperdidos,sorecuperadoseoespaoqueseparavaumsu-jeitodooutro,eliminado,permitindoumaespciedereterritorializa-o,comoseateladocomputadorfosseumajanelaqueseabrissepara o espao dooutro,tornando-ocontguo. 1 Sigla de I seek you (procuro voc). Disponvel em http://www.icq.com/ 2 Disponvel em http://www.windowslive.com.br/ 3 Disponvel em http://br.messenger.yahoo.com/ 4 Disponvel em http://www.skype.com/ VILSONJ. LEFFA,MAXIMINA FREIRE 32 Comunicao sncrona de um para muitos Osmesmosprogramasdemensagensinstantneaspodemtam-bmserusadosparaumacomunicaosncronadeumparamuitos. Umexemplocomum,usandotecnologiadebaixocusto,seriaumaaula aovivotransmitidapeloprofessoraumgrupodealunosreunidosem umasala.Humadistnciahierrquicabemdefinida,comespaopri-vilegiadoparaoprofessoreinteratividadelimitada,jqueoaluno normalmenterespondeemtermosdegrupo,muitasvezespormeiode umalunomonitorquemedeiaasmensagensparaoprofessor.Ousode telasgrandes,ampliandoparaoprofessorosdetalhesdogrupoeparao alunoosdetalhesdocontedodesenvolvidopeloprofessor,podeajudar na interao. Comunicao sncrona de muitos para muitos Entreasvriaspossibilidadesdecomunicaosncronademui-tosparamuitos,doisprogramasdevemserdestacados:ochateavide-oconferncia.Ochat(bate-papoonline)omaistradicionalepodeser descritotipicamentecomoumencontroemgrupocomhoramarcada emqueaspessoasserenemparaconversarumascomasoutras,por meiodemensagensescritas,cadaumaemseuprpriocomputador.A videoconfernciamantmasmesmascaractersticasdegrupoehora marcada,masotextoescritosubstitudoporudioevdeo.Omaior desafionosdoisprogramasadministrarotamanhodogrupo,manten-doofoconotemaabordado.Nocasodochat,quantomaiorogrupo, maisconfusapodeficaratrocademensagens;navideoconferncia,a possibilidadedeconfusodiminuibastantepelanecessidadedetomada deturnodecadainterlocutor,mashumademandamaiordequalidade EDUCAO SEM DISTNCIA 33 deconexo,queprecisapossuirumabandadetransmissodedados suficientementeamplaparadarcontadotrfegodesomeimagem.As distnciasgeogrficaecronolgicanoexistemeadistnciasocial muitosemelhanteaoencontrofaceaface,emboraemalgunscasosa pessoapossasimularumaidentidadediferente,usandoumnicknameno chat e um avatar na videoconferncia,desestabilizandoa hierarquia. Odesaparecimentodadistnciageogrficanostornouaedu-caoadistnciapresencial,mastambmdeixouaeducaopresencial maispresencial,permitindo,porexemplo,queospaispossammonito-raroqueosfilhosfazemnasaladeaula,comoaconteceprincipalmente comalunosemidadepr-escolar.Tudoissomuitodiferentedoque acontecianapocadoscursosporcorrespondncianadcadade1960. Parecequeaeducaoemgeral,tantoadistnciacomopresencial, chegouaonveldaubiquidade,tornando-seonipresente,namedidaem querenealunos,professores,familiareseatosartefatospedaggicos numacomunidadenica.Chegamos universalizaodoaquie agora. Consideraes finais Umareflexosobreaeducao,considerandoosconceitosde distnciaepresena,sugereumaevoluoconceitualdeaprendizagem, queseiniciacomaideiadaaopresencial,caracterizadapelaintera-ofaceafacedosagentes,comonicaformapossveldeaprendiza-gem.ComachegadadosCorreios,eposteriormentedordioedatele-viso,surgeaopopelaeducaoadistncia,diferenciadapelasepa-raoentreestudanteseprofessores,desenvolvendoatividadeseducati-vasemlugaresoutemposdiversos(BRASIL,2005).Comaintroduo dainternet,estudanteseprofessoressonovamentereunidospelasupe-raodadistnciageogrfica.Ainteraosimultneatorna-setecnolo-VILSONJ. LEFFA,MAXIMINA FREIRE 34 gicamentepossvelaqualquermomentoepraticamentedequalquer lugar,viabilizandooencontrofaceafaceemtemporealeaconstruo compartilhadadoenunciado;aeducaoadistnciatorna-seumaedu-caosemdistncia,evoltamosaopontoinicialdeumanicaformade aprendizagem,combasenainteraopresencial,dessavezindependen-te da localizaogeogrficados agentes. Estamosdiantedeumaparenteimpasse,mascomduasopes desada:outodaeducaopresencial,incluindoaeducaodistante, outodaeducaodistante,incluindoapresencial.Aopoporuma ououtradasalternativasmeramenteumaquestoterminolgica;po-de-sepostulartranquilamentequenohqualquerpossibilidadeterica dehaverdoistiposdeeducao.Distanteoupresencial,elasersempre mediadaporinstrumentosfsicosepsicolgicos.Ousodapalavrapre-sencialtalvezdevesseserevitado,jquepodedarafalsaideia de quea relaoentreosujeitoeoobjetodoconhecimentosejadireta,semme-diao:oqueumarelaopossvel,masdesprovidadeinteressepara aaprendizagemescolar,voltadaparaasfunespsicolgicassuperio-res, e, portanto,mediada. Sendoobrigatoriamentemediada,oqueinteressaparaaeduca-oaqualidadedoinstrumentodemediaosejadosuportefsico comoolivroouainternet,sejadalinguagemtransportadaporesseins-trumento,comoaverbalouaimagtica.Odomniodoinstrumento peloprofessorepeloaluno,masprincipalmentepeloprofessor,deve serconsideradocomoumaspectorelevante(WERTSCH,1998).A visomediadadeaprendizagempressupequeelamelhoraquandose melhoraamediao,oquesignificaqueoprofessordeveincorporaro instrumento,fundindo-seaeledemodoaformarumaunidadefuncio-EDUCAO SEM DISTNCIA 35 nal(KUUTI,1996),semqualquerseparaovisvel,paraqueosrecur-sos mediacionaispossamser usadoscom eficincia. Iniciamosestetexto,usandoosconceitosdeaoporcontato, aoadistnciaeaomediadadaFsica,evamosconclu-locommais doisconceitostambmdaFsica,tentandocompararaeducaoadis-tnciaeaeducaopresencialcomosconceitosdefissoefuso.Fis-soefusosodoisprocessosopostosqueproduzemresultadosseme-lhantes,comdiferenasqualitativas.Fissoaseparaodeumncleo pesadoemdoisoumaisncleosleves,enquantoafusojustamenteo contrrio,ouseja,acombinaodedoisncleosmaislevesemumn-cleomaispesado.Acaractersticacomumdosdoisprocessosalibe-raodeumagrandequantidadedeenergia.Adiferenaqualitativaest noresduoproduzidopelafisso,dealtocontedoradioativoepoluidor doaredagua,aocontrriodoqueacontececomafuso,compoten-cialidadedeproduzirumaenergiasegura,sustentvelenoagressiva aomeioambiente(BRASIL,2011,online).Agrandeenergiaproduzida pelafisso,emaioraindapelafuso,devidaaoprocessodareao emcadeia,umametforaquepropomosaquiparaaaprendizagem.As-simcomolnaFsicaareaoemcadeiapermitequeseproduzauma quantidadedeenergiamuitosuperiorenergiagastaparainiciaropro-cesso,poderamostambmtentarproduzirumareaoemcadeiano aluno,gerandoumaaprendizagemmaiordoqueoesforogastopara ensin-lo.Operododeescassezderecursosdasaladeaulatradicional, comnfasenafiguracentraldoprofessor,principaldifusordosaber, agorasubstitudopelamaximizaoderecursos,queestosetornando cadavezmaisbaratoseacessveis,ocupandooespaoqueseparao professordoaluno.Oquesepostula,enfim,queesseespaosejaex-plorado,eliminandoadiferenaentredistanteepresencial,semdescar-VILSONJ. LEFFA,MAXIMINA FREIRE 36 tarapossibilidadedeproduziraumareaoemcadeianoconheci-mentodoaluno. REFERNCIAS ANDRADE,E. M. P. de. Ao a distncia e no-localidade. 2009. Tese (Doutoradoem Histriadas Cincias) Programa de Ps-Graduaoem Histriadas Cinciase das Tcnicase Epistemologiae das Tcnicase Epistemologia.UniversidadeFederaldoRioDe Janeiro, Riode Janeiro.2009. ARY, E. A breve histria da EAD noBrasil:doInstitutoUniversal Brasileiro UniversidadeAberta doBrasil.Disponvelem: ,4 jun.2007.Acesso em:31dez.2011. AZAMBUJA, M. A. de; GUARESCHI,N . QualEducaonoseria Distncia?Athenea Digital, v. 01,p. 17-32,2010. BARRETO, R. G. Ensinoa distncia:uma tentativade aproximao.In Anais do VII Congresso da ASSEL. Riode Janeiro:ASSEL-RIO, p. 179-190,1998. BELLONI, M. I. Educao a distncia. 5. ed. Campinas,SP: Autores Associados,2008. BRASIL. Decreto n 5.622 de 19 de dezembro de 2005. 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