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LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE FÁBULAS: Ensinando valores

através de sua discussão no espaço público

Maria Aparecida de Andrade 1

Bruno B. A. Dallari 2

Resumo

O presente artigo refere-se aos resultados obtidos na implementação do PDE (Programa

de Desenvolvimento Educacional). O objetivo principal foi selecionar entre os diversos gêneros um

que despertasse o interesse pela leitura e levasse a uma reflexão sobre os valores morais. A fábula

foi o gênero mais apropriado, pois apresenta um valor pedagógico e permite por meio da moral fazer

um resgate de valores e despertar o gosto pela leitura e produção de textos. O referido artigo faz um

breve resumo dos gêneros literários e gêneros em circulação. Durante o desenvolvimento do projeto

os gêneros mais comentados pelos alunos foram: fábulas, novelas, crônicas e filmes uma vez que

gêneros fazem parte do cotidiano dos alunos. Para atingir os objetivos do projeto, foi utilizada uma

metodologia que fornecesse condições para que todos os alunos pudessem ler, analisar e discutir

sobre valores ,após a leitura e interpretação de várias fábulas cada aluno produziu uma fábulas com

uma moral . Nas aulas no laboratório de informática foram realizadas buscas em sites, blogs sobre

valores transmitidos pelas mídias. Os objetivos do projeto foram cumpridos houve uma melhora

significativa em leitura, interpretação e produção de textos.

PALAVRAS-CHAVE: Leitura; Interpretação; Fábulas; Valores.

1 Pós-graduada em Psicopedagogia pela USS-RJ, Professora da Rede Estadual de Ensino da Escola

Básica 2 Doutor em Linguística pela UNICAMP-SP, professora adjunto da UFPR.

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1. INTRODUÇÃO

O ensino da leitura tem apresentado falhas ocasionadas pela falta de uma

prática de leitura eficiente e reflexiva.

Ao chegarem à escola o ato de ler limita-se apenas aos textos dos livros

didáticos e de forma superficial, sem que haja grandes desafios interpretativos.

Nota-se que a informação passou a ser mais importante que o aprendizado. O

ensino está vinculado aos conteúdos oficiais de cada disciplina. Leituras que

ressaltam os valores como: solidariedade, justiça, honestidade, respeito que

destacam o caráter positivo do ser humano e ajudam a educar para vida em

sociedade não são explorados devidamente no contexto educacional como parte

integrante da educação.

Promover a leitura no ambiente escolar é a melhor forma de aprimorar o

conhecimento e corrigir a defasagem cultural dos alunos. A implementação do

projeto teve como objetivo fazer com que os alunos do 8º ano do Ensino

Fundamental tivessem um maior interesse pela leitura levando-os a fazer uma

reflexão sobre os valores que ajudam viver em sociedade de forma harmoniosa.

Entre os diversos gêneros a fábula foi escolhida por ser uma narrativa curta

com uma analogia de fácil compreensão. Os personagens que sustentam o diálogo

são animais que retratam a conduta humana cujo desfecho da história tem como

objetivo transmitir uma moral. Tal gênero prende a atenção, deixa mensagens

positivas e ensinamentos que servem de subsídio para resgatar valores.

A fábula promove uma leitura agradável e apresenta um valor pedagógico,

disciplinar e social que ajuda a rever conceitos, princípios e valores possibilitando

estabelecer uma relação positiva com a leitura, valores e escola, por meio de uma

ação pedagógica estimuladora que auxilia os alunos na percepção dos valores

veiculados na mídia aos apresentados nas fábulas.

Para efetivar a proposta foram selecionadas cinco fábulas (A Cigarra e a

Formiga; A Raposa e as Uvas; A leoa e a Raposa; A Raposa e a Cegonha e O lobo e

o Cordeiro), que transmitem valores positivos como: respeito, justiça, prudência,

honestidade, amor, trabalho, qualificação e solidariedade.

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2.

2.1. O valor pedagógico da fábula

A fábula é o gênero mais antigo que se tem conhecimento e passa de

geração em geração sem perder seu encanto. As primeiras fábulas foram atribuídas

a Esopo, no século VI a.C.

A origem da palavra fábula é do latim que significa conversar, narrar, contar.

A maioria das fábulas tem uma origem oral e apresentam como personagens

animais que representam de forma alegórica o caráter positivo e negativo dos seres

humanos. Os gregos chamavam as fábulas de apólogos que também significa

pequena narrativa com seres inanimados e o final apresenta uma moral sempre com

cunho educativo.

De acordo com BAGNO (2002), a fábula chegou até nós de forma escrita,

mais existiu por muito tempo com narrativas orais, o que faz esse gênero fosse

transmitido de geração em geração até chegar à forma escrita.

As fábulas eram usadas com caráter pedagógico e servia como instrumento

de aprendizagem, fixação e memorização dos valores morais do grupo social. A

estrutura da fábula compõe-se de duas partes: a narrativa e moral. A moral tem a

função de resumir a narrativa e oferecer uma reflexão sobre as atitudes e

pensamentos de seus personagens representados por animais.

Entre os diversos gêneros a fábula se destaca por ser uma leitura agradável

e por seu valor pedagógico, disciplinar e social que possibilita ao professor rever

com os alunos, conceitos, princípios e valores. A fábula ajuda estabelecer uma

relação positiva com a leitura, valores e escola, por meio de uma ação pedagógica

estimuladora que auxilia na percepção de temas veiculados nas mídias com os

valores apresentados nas fábulas, formando assim um leitor crítico e capaz de

gerenciar suas próprias atitudes. Ao relacionar valores veiculados nas mídias com a

moral das fábulas somos capazes de fazer uma reflexão sobre os problemas e

conflitos que envolvem o ser humano e o conflito existente entre a fala e o exemplo

de vida e buscar possíveis soluções.

O objetivo da educação é promover um ensino voltado para o exercício da

cidadania e formação ética, sendo assim a educação tem que estar empenhada em

desenvolver seu papel, pois uma boa parte do caráter é formada por ela, cabe a

escola fazer cumprir a Lei 9394/96, art. 2º, das diretrizes e bases da educação

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nacional afirma: A educação, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de

solidariedade, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo

para o exercício da cidadania.

2.2. A importância da leitura para promover o conhecimento

A leitura e a escrita são processos muito complexos e as dificuldades podem

ocorrer de diversas maneiras. A aquisição da leitura e da escrita é o fator

fundamental e favorecedor dos conhecimentos futuros, como ferramenta mestra,

onde serão alicerçadas as demais aquisições, sendo um apoio para as relações

interpessoais e para a comunicação e leitura do mundo interno e externo.

Existem três propósitos fundamentais na leitura que são: compreender a

mensagem compreender-se na mensagem e compreender-se pela mensagem.

Esses propósitos promovem a tomada de consciência e também um modo de existir

no qual o leitor compreende e interpreta a expressão registrada pela escrita e passa

a compreender-se no mundo.

De acordo com CARUSO (2005), o significado de ler é distinguir, dentre as

ideias do autor do texto, as que são mais importantes, mais significativas. É através

da leitura que se pode ampliar e aprofundar um maior conhecimento sobre

determinado assunto, seja cultural ou científico. Através da leitura podemos ainda

aumentar o vocabulário pessoal e, consequentemente, comunicarmos nossas ideias

de forma eficaz.

O enunciado na perspectiva bakhtiniana é um elemento fundamental para o

dialogismo. O enunciado é uma unidade de comunicação que se alterna entre os

sujeitos falantes:

“O ouvinte que recebe e compreende a significação (linguística) de um discurso adota simultaneamente, para com este discurso, uma atitude responsiva ativa”: ele concorda ou discorda (total ou parcialmente), completa, adapta, apronta-se para executar, etc., e esta atitude do ouvinte está em elaboração constante durante todo o processo de audição e de compreensão desde o início do discurso, às vezes já nas primeiras palavras emitidas pelo locutor. A compreensão de uma fala viva, de um enunciado vivo é sempre acompanhada de uma atitude “responsiva ativa”. (...) Toda compreensão é prenhe de resposta e, de uma forma ou de outra, forçosamente a produz: o ouvinte torna-se locutor. (BAKHTIN, 2000, p. 290).

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De acordo com BAKHTIN (2000), o sujeito e a linguagem estão relacionados

à diversidade e multiplicidade. Um discurso é constituído por diversas linguagens

sociais. Portanto a palavra não possui um sentido único, mas múltiplos sentidos que

são produzidos na enunciação e no acontecimento. [...] Toda palavra comporta duas

faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato

de que se dirige a alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor

e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro

(BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1999, p.113).

De acordo com FREITAS (2006), na prática dos consultórios de

psicopedagogia clínica, são muitos os relatos sobre alunos que não aprendem

matemática, história, ciências, não por serem portadores de dificuldades específicas

às referidas áreas, mas por faltar o instrumental básico, na leitura e na compreensão

da leitura, com a capacidade para interpretar, abstrair e estabelecer relações entre

os atos contextuais da leitura.

BAMBERGER (2005) distingue que o ensino da leitura deve corresponder à

percepção que se consegue da natureza da leitura, compreendendo várias fases de

desenvolvimento. A partir da compreensão dos símbolos, ocorre a transferência para

os conceitos intelectuais, partindo-se para o processo reflexivo, não consistindo

apenas na compreensão das ideias percebidas, mas também na sua interpretação e

avaliação.

Segundo SILVA (1992), ao experimentar a leitura, o leitor executa um ato de

compreender o mundo. Então, o propósito essencial de qualquer leitura é a

apreensão dos significados, que são intermediados pelos discursos escritos, isto é, a

compreensão do universo do autor, em determinada obra. O “compreender” pode

ser encarado como uma “forma de ser”, sobressaindo-se como um panorama, onde

os significados são atribuídos. Dessa maneira, o leitor assume o texto

transformando-o e transformando-se. Podemos confirmar esta premissa nas

palavras de SAFADY apud SILVA:

(...) o leitor curioso e interessado é aquele que está em constante conflito com o texto, conflito representado por uma ânsia incontida de compreender, de concordar, de discordar – conflito, enfim, onde quem lê não somente capta o objeto da leitura, como transmite ao texto lido as cargas de sua experiência humana e intelectual (SILVA, 2005, p.44).

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Existem três propósitos fundamentais na leitura que são: compreender a

mensagem compreender-se na mensagem e compreender-se pela mensagem. Vão

promover a tomada de consciência, e também um modo de existir no qual o leitor

compreende e interpreta a expressão registrada pela escrita e passa a

compreender-se no mundo.

2.3. Gêneros textuais

Marcuschi apresenta um estudo de variados gêneros textuais e suas inter-

relações, abordando situações que enriquecem a compreensão do tema. Ao tratar

de novas tecnologias ligadas à comunicação.

MARCUSCHI (2002) chama a atenção para a intensidade do uso dessas

tecnologias. Seja pelo rádio, pela TV, Internet ou pela mídia impressa, estamos

recebendo uma gama infindável de novas formas discursivas, que vão gerar novas

características, ou uma nova roupagem aos já familiares gêneros. Pode-se chamar

de transmutação de gêneros o emergir de uma nova identidade entre eles. O

hibridismo é uma característica que desafia as relações entre oralidade e escrita,

inviabilizando a antiga visão dicotômica dos manuais de ensino da língua.

2.4. Leitura e interpretação

De acordo com KOCH (2006), ao falarmos da importância da leitura na

nossa vida, surge à discussão: o que é ler? Para que ler? Como ler? Assim nasce a

concepção da leitura decorrente da concepção do sentido que se adote.

Segundo BAKTHIN (1979:56), “os indivíduos não recebem a linguagem

pronta para ser usada: eles penetram na corrente da comunicação verbal: ou

melhor, somente quando mergulham nessa corrente é que sua consciência desperta

e começa a operar”.

De acordo com os PCNs (KOCH, 2006), a leitura é o processo no qual o

leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de

seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que

sabe sobre a linguagem, etc. Não se trata de extrair informação, decodificando letra

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por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de

seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível

proficiência. É o uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo

lido, permitindo tomar decisões diante de dificuldades de compreensão, avançar na

busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas. Desta forma, podemos

considerar a leitura como uma atividade de produção de sentido e o leitor como de

construtor de sentido, utilizando-se de estratégias de seleção, antecipação,

inferência e verificação.

Assim, a leitura é o marco da ampliação dos limites do conhecimento,

obtendo-se informações simples e complexas, sendo fundamental para o

esclarecimento do universo dos fatos e também para a descontração e diversão,

através da literatura e da poesia. De acordo com os gêneros e tipos de texto, é

necessário administrar as diferenças e fazer um exame cuidadoso para a orientação

das múltiplas leituras possíveis.

2.5. Gêneros textuais e as mídias

MARCUSCHI (in DIONISIO et al., 2002), define os gêneros textuais como

eventos históricos inseridos no cotidiano, na vida cultural e social. São eles que

orientam e organizam as comunicações diárias, para qualquer situação e em

qualquer contexto discursivo.

Sem deterem a ação criativa dos discursos, os gêneros são permeáveis e

acentuam o processo de dinâmica da linguagem, de acordo com as necessidades

socioculturais existentes. Vieram se multiplicando, a partir do século VII, com a

invenção da escrita, expandindo-se com a cultura impressa. Hoje, com a cultura

eletrônica, vemos um eclodir de novas formas de comunicação.

As culturas, nas quais se desenvolvem os gêneros, são fatores de

integração, que vão estabelecer suas funções comunicativas e criar um

condicionamento sócio discursivo diversificado.

Ao tratar de novas tecnologias ligadas à comunicação, MARCUSCHI (2002),

chama a atenção para a intensidade do uso dessas tecnologias. Seja pelo rádio,

pela TV, Internet ou pela mídia impressa, estamos recebendo uma gama infindável

de novas formas discursivas, que vão gerar novas características, ou uma nova

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roupagem aos já familiares gêneros. Pode-se chamar de transmutação de gêneros o

emergir de uma nova identidade entre eles. O hibridismo é uma característica que

desafia as relações entre oralidade e escrita, inviabilizando a antiga visão dicotômica

dos manuais de ensino da língua.

A definição formal, para os gêneros, dilui a compreensão sócia discursiva,

não contribuindo para uma verdadeira compreensão dos mesmos. Os aspectos

sócios comunicativos e funcionais é que vão estabelecer novos objetivos de

comunicação. Não se trata de desprezar a forma, mas considerar as equivalências

de gênero textual e seus respectivos suportes.

As culturas, nas quais se desenvolvem os gêneros, são fatores de

integração, que vão estabelecer suas funções comunicativas e criar um

condicionamento sócio discursivo diversificado. Conforme DALLARI:

(...) A motivação foi não só subtrair o papel exclusivo da literatura entre os

gêneros considerados, mas deselitizar o currículo, reconhecendo o

interesse e a legitimidade de outras formas sociais de expressão. É a razão

pela qual a ampliação não só aumentou o elenco dos gêneros escritos, mas

incluiu também gêneros veiculados oralmente, em consonância com o

intuito de restabelecer o status da oralidade como repositória e difusora de

saberes socialmente estabelecido, mas pouco reconhecidos. (DALLARI, B.A

BRUNO. Mídia, cidadania e as novas práticas de letramento, 2010, p.1)

2.6. Implementação do projeto

O projeto foi apresentado aos alunos do 8º ano A turno da manhã, durante a

apresentação dos projetos os alunos demonstraram-se interessados pelo titulo do

projeto que envolvem o gênero fábula e espaço público. A medida que o projeto era

apresentado os alunos faziam perguntas sobre fábulas que iriam ler e espaço

público. O interesse aumentou quando expliquei que parte das aulas seriam no

laboratório de informática para realizarem pesquisa em blogs, e notícias,

comentários sobre valores e para digitar suas produções. Ao apresentar o gênero

fábula os alunos demonstraram conhecer suas características e que liam fábulas

desde os anos iniciais, mas nunca fizeram a relação da moral com os valores

humanos.

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Os alunos perguntaram se outras turmas iriam fazer parte da implementação

do projeto disse que não, somente a turma deles que iriam ter o privilégio de

participar. Os alunos sugeriram que todas as atividades realizadas por eles fossem

expostas no mural da escola e que as fábulas fossem lidas para as outras turmas.

Ao apresentar os gêneros literários, os alunos demonstram ter mais

conhecimento e interesse por crônicas, fábulas e novelas. Perguntei por que eles

gostavam mais desses gêneros relaram que a professora de língua portuguesa

estava trabalhando com eles a crônica O vendedor de Palavras a fábulas por ser

uma leitura curta e fácil de entender e sobre novela disseram que acompanhavam a

novela Avenida Brasil, citaram os personagens e o conflito girava em torno do trafico

de pessoas para outros países.

Na apresentação de outros gêneros em circulação, o chat, filme, notícias,

piadas, charges, slogan foram os gêneros que geraram o debate. O chat era

utilizado por poucos alunos, e com a finalidade de passatempo, a maioria disse que

não usavam porque não tinha acesso à internet em casa, mas sabiam da existência

do recurso.

A notícia é um gênero conhecido por todos os alunos participantes do

projeto. Sabiam sua função, mas não tinham o hábito de ler, ver e ouvir notícias em

jornais, TV e rádio.

Piadas todos conheciam e disseram que gostavam de ouvir outros de contar

e quatro alunos pediram para contar piadas disseram que as piadas podiam ser

contadas em sala porque não eram “sujas”.

Charge alguns alunos gostavam porque achavam engraçadas e outros

disseram que não gostavam porque não entendiam.

Apresentei alguns slogans lendo uma parte da frase e os alunos

completavam a frase e que produto se referia e a qual empresa pertencia, disseram

que gostavam de slogans por ser de fácil memorização o que faz com que seja uma

forma eficaz de divulgar produtos e serviços.

Conhecendo a fábula, nessa atividade foram realizadas perguntas a fim de

fazer um levantamento sobre o conhecimento dos alunos sobre fábulas. A fábula

mais conhecida e lida foi a Cigarra e a Formiga, quanto à diferença do gênero fábula

dos outros gêneros os mais citados foram animais como personagens e a moral.

Todos os alunos consideraram a moral como um bom recurso para reflexão e rever

os valores e regras de convivência.

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2.7. Análise da leitura de fábulas

A leitura das duas fábulas a Cigarra e a Formiga e de sua versão bem

humorada proporcionou uma noção dos diferentes tipos de trabalho, e as diferentes

visões sobre trabalhar e cantar. Trabalho no sentido de fazer alguma coisa, trabalho

como algo cansativo, trabalho como benefícios e recompensas, Cantar considerado

arte, distração, profissão e descompromisso. Os valores positivos criatividade,

humildade, iniciativa, compreensão, coragem, autodisciplina, implícitos nas fábulas

levam a uma reflexão sobre o comportamento observado no cotidiano que nem

sempre são positivos.

As diferenças entre as duas fábulas estão na oposição enquanto uma versão

faz exaltação ao trabalho e desqualifica a arte de cantar considerando-a um ócio e o

egoísmo como algo normal deixando claro que é cada um por si. A outra versão

apresenta valores notáveis como: justiça-social, aceitação do outro, coragem,

reconhecimento que cantar é uma arte e um trabalho.

Após a leitura das fábulas a Cigarra e a formiga e sua versão bem

humorada, os alunos quando perguntados através do questionário formulado no

material didático, qual versão você mais gostou, justificando sua resposta,

responderam na maioria que gostaram mais da versão bem humorada, pois a

cigarra é mais engraçada e a cigarra se “deu bem” e a formiga era “legal e

boazinha”.

O comportamento e os desmandos de determinados grupos sociais são

notórios na fábula o Lobo e o Cordeiro, a força e o desequilíbrio são usados como

argumento falsos para justificar seus atos brutais. A conduta humana envolvendo o

bem e o mal é conduzida de forma a deixar claro que representa o bem e quem

representa o mal, mas análise pode ser conduzida a fim de legitimar o bem como

formação, principio e como uma maneira harmoniosa de conviver com o próximo.

Reconhecer e aceitar nossas limitações estão claramente evidenciados na

fábula A Raposa e as uvas. A não aceitação leva a limitação e acaba com as

oportunidades de corrigir os erros.

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2.8. Valores humanos e as mídias

Fazer uso das mídias para um ensino voltado aos valores humanos requer

uma organização e seleção dos assuntos a serem pesquisados, uma vez que as

mídias oferecem uma gama de conteúdos que não contribuem para formar valores.

Conforme Moran:

“... as diversas manifestações sociais de agressão e violência não são

gratuitas, advêm de uma formação universal que exilou o coração. A falta de

afetividade, de companheirismo e de amor embruteceu as pessoas, que

parecem insensíveis aos problemas de conflito e injustiça social. O

capitalismo selvagem do ter superou a formação do ser, e este processo

tem subsidiado conflitos relevantes sobre o direito dos injustiçados, que não

são atendidos com dignidade para morar, alimentar-se e educar-se. Por

isso, torna-se essencial saber pensar, refletir, para não ser engolido pela

obtenção material em detrimento da formação pessoal e grupal. Agrega-se

a aprendizagem de viver juntos com a de aprender a ser, quando se

buscam processos que aflorem a sensibilidade, a afetividade, a paz e o

espírito solidário, que precisam ser resgatados sob pena de os homens se

destruírem uns aos outros”.. (MORAN, 2000, p. 83-84)

Pensar na educação com objetivo de formar pessoas capazes de se

preocupar com o outro, em uma sala de aula onde a diversidade de crenças e

valores são diferentes, exige um planejamento minucioso sobre como repensar os

valores humanos que levam a viver e conviver com o outro de forma harmoniosa .

De acordo com Martinelli:

“São os princípios que fundamentam a consciência humana. Eles estão

presentes em todas as religiões e filosofias, independente de raça, sexo ou

cultura. São inerentes à condição humana. Os valores humanos dignificam

a conduta humana e ampliam a capacidade de percepção do ser como

consciência luminosa que tem no pensamento e nos sentimentos sua

manifestação palpável e aferível. Eles unificam e libertam as pessoas da

pequenez do individualismo, enaltecem a condição humana e dissolvem

preconceitos e diferenças. [...] São inerentes ao homem as qualidades: Paz,

Amor, Verdade, Ação Correta e Não Violência que constituem a concepção

de excelência humana [...] (MARTINELLI, 1999, p. 17

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Durante as aulas no laboratório de informática a preocupação foi deixar claro

que o objetivo da pesquisa era buscar informações de sites, blogs que fossem

inerentes ao tema valores humanos. A pesquisa durou quatro horas, sendo que o

previsto era duas horas de laboratório e duas horas para discussões em sala de

aula. Este fato ocorreu devido às dificuldades de alguns alunos em acessar a

internet e filtrar a pesquisa.

Os blogs mais pesquisados foram os que favam das novelas, mas a novela

que recebeu mais comentários e criticas foi Avenida Brasil, por se tratar de valores

aparentemente defendidos pela personagem Carminha que dizia ser a favor da

moral e bons costumes, a personagem recebeu muitas criticas dos internautas e dos

alunos os quais não concordavam com seu comportamento. Durantes os debates

surgiram comentários, como: as mídias não transmitem valores positivos, as mídias

invertem valores, as mídias não deixam uma mensagem positiva e a mídia só quer

vender. Os pontos positivos mais comentados foram a rapidez das informações, a

facilidade para realizar pesquisas.

2.9. Produção de Fábula

A fábula é um gênero que permite abordar diversos assuntos de forma

atraente. Para produzir uma fábula com uma mensagem positiva é preciso pensar

nos personagens, mensagem, conselho ou ensinamento que deseja transmitir. A

conclusão do ensinamento vem no final, pois a moral faz com que a mensagem seja

entendida com mais facilidade. A participação na escrita de fábulas ocorreu com

interesse e cooperação, todos os alunos envolvidos no projeto fizeram uma fábula e

digitaram para montar uma coletânea. Cada aluno leu sua produção para turma e

depois expuseram seus trabalhos no mural da escola.

Segue uma amostra das fábulas escritas e digitadas pelos alunos:

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O Beija–Flor e a Coruja

Aluna do 8º Ano

Um belo dia, o beija-flor e a coruja que eram velhos amigos se

reencontraram, havia muito tempo que eles não se viam.

O beija-flor era ágil e rápido, já o senhor coruja era devagar e lerdo. Um dia,

o beija-flor disse: corujão eu te faço uma aposta, se você conseguir tirar o néctar de

uma flor, eu trabalho para você uma semana.

O corujão disse: sim, eu aceito, mas o corujão pensou: Eu sei que não vou

conseguir, as não custa tentar, vai que consigo.

Chegou o grande dia, a coruja estava com medo e o beija-flor disse: Vamos

lá então!

E o corujão disse: eu não estou preparado, mas vamos.

A coruja foi tentar se atrapalhou e caiu, todos começaram a rir. Tentou,

tentou, mas viu que seu bico não era próprio para sugar o néctar.

Moral da história: Errar é humano, mas persistir no erro é burrice.

O Mosquito e a Vaca

Aluna do 8º Ano

Certa vez uma vaca malhada que vivia batendo os mosquitos que passavam

sobre seu rabo. Um dia, um mosquito pousou sobre seu rabo e falou: você se acha

forte, valente, fala por aí que ninguém consegue te vencer, por isso eu vim aqui te

fazer uma proposta.

A vaca falou: qual é essa proposta?

E o mosquito disse: Nós aqui da região vamos fazer uma competição para

ver quem ganha, se você vencer será nossa rainha se você perder vai ter que pastar

em outro lugar.

Então assim se inicia a competição, era chicotada daqui, picada dali, até que

uma hora a vaca desistiu, pois não aguentou e assim o mosquito falou:

Cadê aquela vaca forte, valente que ninguém consegue vencer?

Moral: Quem canta de galo no fim sempre apanha.

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O Leão e o Jacarezinho

Aluno do 8º Ano

Num lindo dia de sol o jacarezinho estava passeando pela floresta e se perdeu da

mamãe. Um leão estava passando e o encontrou e com toda bravura disse: Vou

devolvê-lo para sua mãe. O jacarezinho disse: Você não conseguirá passar por

todos os meus tios e tias que então no lago.

O leão disse:

-O que importa é a coragem e a força de vontade.

E com bravura e coragem ele devolveu o Jacarezinho a sua mãe, mas não sem lutar

com os vários tios e tias do pequeno jacaré.

Moral A força de vontade na maioria das vezes tem que ser maior que a força física,

pois quando temos vontade e coragem para realizar um objetivo nada nos impedirá.

3. CONTRIBUIÇÕES DO GTR

Foram quinze professores inscritos dos quais, quatorze professores

concluíram o GTR com ótimas contribuições sobre baixo rendimento da leitura,

valores e influencia das mídias. Seguem as contribuições de três desses

professores:

“Os fatores que contribuem para o baixo rendimento em leitura e

interpretação estão representados por uma série de fatores relacionados à realidade

socioeconômica que a maioria da população está submetida, a falta de estrutura

familiar, a distância cultural entre a escola pública e sua população, a ineficácia da

formação e treinamento dos professores, os problemas relacionados aos programas

de ensino e práticas escolares e a própria burocracia pedagógica. As mídias estão

influenciando e muito na construção de valores humanos para nossas crianças e

principalmente adolescentes. Pois tudo que é jogado para todos nós, absorvemos e

vamos aceitando como e fosse a coisa mais normal do mundo. Aceitamos a

violência, o desrespeito, as desuniões, as misérias e todas as injustiças

acometidas e nem sempre ensinamos os nossos filhos a serem críticos e justos,

pois ensinamentos de valores se começam dentro de nossas casas e pelos

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responsáveis por eles” (Professora A).

“A mídia pode influenciar na construção de valores, desde que ela seja a

única referência da pessoa. Se, no entanto, a pessoa tiver uma boa formação fami-

liar, baseada em princípios sólidos, saberá, com certeza, como se posicionar diante

das várias situações em que tiver que tomar decisões, pois reconhece o que é mo-

ral”

“Sobre a questão da leitura e interpretação, é preciso pensar nos aspectos

culturais da nossa sociedade, entre os quais estão a não valorização do conheci-

mento, o difícil acesso, ainda, aos livros, revistas, jornais, apesar de alguma melhora

nos últimos anos. Também é preciso reconhecer que os livros didáticos, às vezes o

único material disponível ao aluno, não atendem as necessidades relativas à leitura”

(Professor B).

“Sabemos que a mídia realmente exerce esse poder de (influenciar, seduzir,

conquistar, etc.). É preciso estar atentos a essa avalanche de informações nem

sempre benéficas as quais estão expostas no dai-a dia.”

“É preciso saber filtrar a programação, para que possamos extrair o que nos

convém, o que é bom e construtivo.”

“Os pais precisam ser mais críticos, mais atentos e presentes na escolha

das programações que seus filhos têm acesso. Sejam elas, na TV, na INTER-

NET, e até mesmo no material impresso”.

“É cientificamente provado que nós reproduzimos o que vemos ouvimos. E

fica muito esclarecido que se vermos e ouvirmos coisas boas e saudáveis a cons-

trução humana, é exatamente isso que vamos reproduzir. E necessário atermos a

isso.”

“Acredito que o gosto pela leitura inicia-se em casa. A criança vendo o pai

ler o jornal, as revistas e livros expostos ao seu alcance, o pai e a mães adquirin-

do material pedagógico e incentivando-o, o contar histórias, relatar situações, os

pais interagindo na leitura do filho, etc.” (Professor C).

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Material didático usado na implementação do projeto foi elaborado durante o

PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional) em 2012.

As considerações estão relacionadas à importância da leitura, interpretação,

mídias e valores na formação dos educandos.

Os resultados positivos foram graças às contribuições dos professores,

alunos e professores participantes do GTR (Grupo de Trabalho em rede).

Os alunos foram os principais protagonistas foi para eles que as atividades

foram preparadas com a finalidade de leva-los a gostar de ler, produzir textos e

construir valores que edificam e valorizam o conhecimento.

Constatou-se uma melhora significativa dos alunos quanto à forma de tratar

colegas e professores, leitura e produção de textos. Esta melhora ocorreu devido à

participação espontânea na leitura e produção de textos, os alunos gostavam de dar

opiniões, sugestões.

De acordo com SILVA (1992), ao experimentar a leitura, o leitor executa um

ato de compreender o mundo. Então, o propósito essencial de qualquer leitura é a

apreensão dos significados, que são intermediados pelos discursos, isto é a

compreensão do universo do autor num determinado texto.

As fábulas escritas pelos alunos demonstram que eles compreenderam o

objetivo do projeto, uma vez que houve a preocupação de transmitir mensagens

positivas e moral com ensinamento.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BAMBERGER, R. Como incentivar o hábito da leitura. São Paulo: Ática, 2005.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino

Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.

DALLARI, Bruno B.A. (2010). Mídia, cidadania e as novas práticas de letramento.

DIONÍSIO, A. et al. Gêneros Textuais & Ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.

KOCH, I.G.V.; ELIAS, V.M. Ler e Compreender: os sentidos do texto. São Paulo:

Contexto, 2006.

MARCUSCHI, L. A. (2002). “Gêneros textuais: definição e funcionalidade” in

DIONÍSIO, A. et al. Gêneros Textuais & Ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.

MARTINELLI, M. Conversando sobre educação em valores humanos. 3 ed. São

Paulo: Peirópolis, 1999.

MORAN, José Manuel. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. São Paulo:

Papirus, 2000

SILVA, E.T. A Produção de Leitura na Escola. São Paulo: Ática, 2005.

SILVA, E.T. O Ato de Ler. Fundamentos psicológicos para uma nova pedagogia

de leitura. São Paulo: Cortez – Autores Associados, 1992.