Lenison

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O Seu Santo NomeNo facilite com a palavra amor. No a jogue no espao, bolha de sabo. No se inebrie com o seu engalanado som. No a empregue sem razo acima de toda a razo ( e raro). No brinque, no experimente, no cometa a loucura sem remisso de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra que toda sigilo e nudez, perfeio e exlio na Terra. No a pronuncie.

Toada do AmorE o amor sempre nessa toada! briga perdoa perdoa briga. No se deve xingar a vida, a gente vive, depois esquece. S o amor volta para brigar, para perdoar, amor cachorro bandido trem.

Mas, se no fosse ele, tambm que graa que a vida tinha?

Mariquita, d c o pito, no teu pito est o infinito.

Nem eu posso com Deus nem pode ele comigo.Essa peleja v, essa luta no escuroentre mim e seu nome. No me persegue Deus no dia claro.Arma, noite, emboscadas.Enredo-me, debato-me, invectivoe me liberto, escalavrado.De manh, hora do caf, sou eu quem desafia.Volta-me as costas, sequer me escuta,e o dia no creditado a nenhum dos contendores.Deus golpeia traio. Tambm uso para com ele tticas covardes.E o vencedor (se vencedor houver) no sentir prazerpela vitria equvoca.

Jorge de Lima

Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma flor para a noiva, abraado com a hlice. E o violinista em que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com sua cabeleira negra e seu estradivrius. H mos e pernas de danarinas arremessadas na exploso. Corpos irreconhecveis identificados pelo Grande Reconhecedor. Vejo sangue no ar, vejo chuva de sangue caindo nas nuvens batizadas pelo sangue dos poetas mrtires. Vejo a nadadora belssima, no seu ltimo salto de banhista, mais rpida porque vem sem vida. Vejo trs meninas caindo rpidas, enfunadas, como se danassem ainda. E vejo a louca abraada ao ramalhete de rosas que ela pensou ser o paraquedas, e a prima-dona com a longa cauda de lantejoulas riscando o cu como um cometa. E o sino que ia para uma capela do oeste, vir dobrando finados pelos pobres mortos. Presumo que a moa adormecida na cabine ainda vem dormindo, to tranqila e cega! amigos, o paraltico vem com extrema rapidez, vem como uma estrela cadente, vem com as pernas do vento. Chove sangue sobre as nuvens de Deus. E h poetas mopes que pensam que o arrebol.

Mulher proletria nica fbricaque o operrio tem, (fabrica filhos)tuna tua superproduo de mquina humanaforneces anjos para o Senhor Jesus, forneces braos para o senhor burgus.

Mulher proletria, o operrio, teu proprietrioh de ver, h de ver:a tua produo,a tua superproduo,ao contrrio das mquinas burguesassalvar o teu proprietrio.

Ningum sonha duas vezes o mesmo sonhoNingum se banha duas vezes no mesmo rioNem ama duas vezes a mesma mulher.Deus de onde tudo derivaE a circulao e o movimento infinito.

Ainda no estamos habituados com o mundoNascer muito comprido.

A msica do espao pra, a noite se divide em dois pedaos.Uma menina grande, morena, que andava na minha cabea,fica com um brao de fora.Algum anda a construir uma escada pros meus sonhos.Um anjo cinzento bate as asasem torno da lmpada.Meu pensamento desloca uma perna,o ouvido esquerdo do cu no ouve a queixa dos namorados.Eu sou o olho dum marinheiro morto na ndia,um olho andando, com duas pernas.O sexo da vizinha espera a noite se dilatar, a fora do homem.A outra metade da noite foge do mundo, empinando os seios.S tenho o outro lado da energia,me dissolvem no tempo que vir, no me lembro mais quem sou.