Uma flor Chamada mamãe Uma flor Chamada mamãe Letícia Thompson Letícia Thompson.
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LETÍCIA AQUINO DO NASCIMENTO
AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE EVAPORAÇÃO EM
AÇUDES DO RIO GRANDE DO NORTE
NATAL-RN
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
Letícia Aquino do Nascimento
Avaliação do processo de evaporação em açudes do Rio Grande do Norte
Trabalho de Conclusão de Curso na
modalidade Artigo Científico, submetido ao
Departamento de Engenharia Civil da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
como parte dos requisitos necessários para
obtenção do Título de Bacharel em Engenharia
Civil.
Orientadora: Profª. Drª. Adelena Gonçalves
Maia
Natal-RN
2017
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede
Nascimento, Letícia Aquino do.
Avaliação do processo de evaporação em açudes do Rio Grande
do Norte / Letícia Aquino do Nascimento. - 2017. 19f.: il.
Monografia (Graduação) Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Tecnologia, Departamento de Engenharia Civil,
Natal, 2017.
Orientador: Adelena Gonçalves Maia.
1. Açude - Monografia. 2. Evaporação - Monografia. 3. Regra
de operação - Monografia. I. Maia, Adelena Gonçalves. II.
Título.
RN/UF/BCZM CDU 624
Letícia Aquino do Nascimento
Avaliação do processo de evaporação em açudes do Rio Grande do Norte
Trabalho de conclusão de curso na modalidade
Artigo Científico, submetido ao Departamento
de Engenharia Civil da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte como parte dos
requisitos necessários para obtenção do título
de Bacharel em Engenharia Civil.
Aprovado em 22 de novembro de 2017:
___________________________________________________
Profª. Drª. Adelena Gonçalves Maia – Orientadora
___________________________________________________
Prof. Me. João de Carvalho Filho – Examinador interno
___________________________________________________
Ma. Giovana Cristina Santos de Medeiros – Examinador externo
Natal-RN
2017
RESUMO
Este trabalho avalia os efeitos da evaporação em dois reservatórios do semiárido
nordestino, são eles o açude Cruzeta (RN) e o reservatório Engenheiro Armando Ribeiro
Gonçalves (RN). As perdas de água por tal fenômeno foi estimada por dois métodos, o
método empírico de Jensen-Haise e pelo método do Tanque Classe A. Os resultados gerados
demonstraram que os reservatórios possuem uma taxa de evaporação anual elevada. O açude
Cruzeta perfazendo uma evaporação anual de 30% a 50% do seu volume máximo, e a
Barragem Armando Ribeiro estando entre 10% a 18%. Com relação à precipitação foi
comprovado que o nordeste brasileiro se caracteriza por poucas chuvas com pequenos
volumes durante o ano, sendo estes inferiores aos volumes evaporados dos açudes. Quanto
aos usos outorgados foi provado que o açude de Cruzeta encontra-se mal aproveitado, tendo
em vista que os volumes anuais de retirada são em torno de 10% enquanto que sua
evaporação atinge até os 50%. Enquanto no reservatório Armando Ribeiro essa diferença não
é tão acentuada, em virtude de ser um reservatório de grande porte e conter demandas
maiores, mas mesmo assim ainda possui taxas de evaporação consideráveis na maior parte do
período analisado. Os resultados mostraram também que os métodos utilizados retornam
valores de evaporação semelhantes para águas reservadas no semiárido. Com isso, há a
necessidade de se estudar o fenômeno para prever o local adequado de instalação de novos
reservatórios, como também garantir o manejo eficiente das águas reservadas dos existentes.
Palavras-chave: açude, evaporação, regra de operação.
ABSTRACT
This work evaluates the effects of evaporation in two reservoirs of the northeastern
semi-arid region, the Cruzeta (RN) reservoir and the Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves
reservoir (RN). The water loss for this phenomenon was estimated by two methods, the
empirical method of Jensen-Haise and the method of Tank Class A. The results generated
showed that the reservoirs have a high annual evaporation rate. The Cruzeta dam represents
an annual evaporation of 30% to 50% of its maximum volume, and the Armando Ribeiro
Dam being between 10% and 18%. With regard to precipitation, it was verified that the
Brazilian northeast is characterized by few rains with small volumes during the year, which
are lower than the volumes evaporated from the dams. As for the uses granted, it was proved
that the Cruzeta dam is underutilized, considering that the annual withdrawal volumes are
around 10% while their evaporation reaches up to 50%. While in the Armando Ribeiro
reservoir this difference is not so great, because it is a large reservoir and contains larger
demands, but still has considerable evaporation rates in most of the period analyzed. The
results also showed that the methods used returned similar evaporation values for the semi-
arid waters. Therefore, it is necessary to study the phenomenon to predict the proper location
of new reservoirs, as well as to ensure the efficient management of the reserved waters of
existing ones.
Keywords: pond, evaporation, operation rule.
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1. INTRODUÇÃO
Segundo Fontes et al. (2003), a água é um insumo básico da sobrevivência de todas as
espécies e indicador do desenvolvimento de uma região, sendo necessária atenção especial no
seu manejo visando sua conservação em qualidade e quantidade. Logo se pode constatar que a
água é um bem essencial ao desenvolvimento cultural, social e econômico de uma região
apresentando assim grande relevância nos seus estudos. Além disso, observar o
comportamento do ciclo hidrológico nas várias regiões em que atua e realizar o uso racional
de acordo com as características peculiares de cada local é de fundamental importância. Dessa
forma, nos problemas relativos à água e seu uso, cabe o gerenciamento através da gestão dos
recursos hídricos.
Com relação ao Brasil, país com grande área territorial e de irregularidade espacial da
disponibilidade da água, a acentuada deterioração dos recursos hídricos, bem como as bases
de dados hidroclimatológicos ineficientes fazem com que haja uma maior complexidade com
relação à gestão destes recursos. Essa complexidade afeta o Brasil, em especial a região do
semiárido brasileiro. Alta taxa de evaporação associada à baixa precipitação anual e uma
reduzida capacidade de acúmulo de água subterrânea fazem dessa a região mais crítica, em
termos de escassez hídrica, do país e a que deve ter a Política Nacional de Recursos Hídricos
implantada de forma mais efetiva.
Diante desse panorama surge a necessidade de se construir reservatórios artificiais
para que se garanta a disponibilidade de água e energia durante os períodos de estiagem na
região, atendendo assim à população. No entanto, o estado do Rio Grande do Norte, assim
como os demais pertencentes à região do nordeste brasileiro, sofre com a seca que se alastra
há cinco anos (EMPARN, 2017). Com isso os principais reservatórios da região estão em
situação crítica, cerca de 69% (IGARN, 2017), chegando alguns a configurarem-se como
completamente secos. A barragem Armando Ribeiro Gonçalves, principal reservatório do
estado, em 2016 apresentava 15,23% do seu volume total (IGARN, 2017).
Assim, o fenômeno da evaporação no semiárido ganha um papel fundamental para ser
estudado. Isso porque a partir dos estudos intensificados sobre esse processo pode-se
dimensionar e realizar um manejo adequado de obras hídricas para essa região e, além disso,
permitirá implantar ações de planejamento e gerenciamento na busca de um melhor
aproveitamento das águas reservadas. Sendo assim, o objetivo desse trabalho consiste em
estimar os volumes de água perdidos pelo processo de evaporação em dois reservatórios do
estado do Rio Grande do Norte (RN) pelos métodos do Tanque Classe A e Jensen-Haise.
2. REVISÃO DE LITERATURA
De acordo com Tucci (2001), a evaporação é o processo físico no qual um líquido
passa ao estado gasoso. Em meteorologia, o termo evaporação restringe-se à mudança da água
no estado líquido para vapor devido à radiação solar e aos processos de difusão molecular e
turbulenta. Ou seja, a evaporação consiste na mudança de estado físico da água. Os fatores
intervenientes neste processo são a radiação solar, a temperatura do ar, o vento e a umidade
do ar.
A radiação solar atua como uma espécie de combustível para o fenômeno da
evaporação, pois concede a energia necessária para mudança de estado físico da matéria. Por
exemplo, na mudança do estado líquido para o estado gasoso é consumido cerca de 585 cal/g
Letícia Aquino do Nascimento, graduanda em Engenharia Civil, UFRN
Profª. Drª. Adelena Gonçalves Maia, Departamento de Engenharia Civil da UFRN
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à uma temperatura de 25°C, apresentando nitidamente sua importância para a ocorrência do
processo.
A temperatura do ar está intimamente ligada ao processo, pois se encontra associada à
radiação solar. O aumento da temperatura do ar influi de maneira favorável na evaporação do
ambiente, porque possibilita que uma maior quantidade de vapor de água esteja contida no
mesmo volume de ar, quando se atinge o grau de saturação, que é caracterizado pela pressão
de saturação do vapor de água. Isso faz com que mais partículas de água sejam evaporadas no
mesmo volume de ar.
Com relação aos ventos, eles são responsáveis por renovar o ar acima da superfície
evaporante. Desse modo ele contribui com o processo no seguinte quesito, o aumento da sua
velocidade faz com que aumente a turbulência superficial da água, ocasionando a
transferência mais rápida das moléculas de água para regiões mais altas da atmosfera,
acarretando a queda de umidade nas proximidades com a superfície e dessa forma
favorecendo a evaporação da região.
O outro fator que implica no fenômeno de evaporação de corpos de água é a umidade
do ar. Esta representa a quantidade de água presente no ar como forma de vapor. Desta forma
quanto menor a umidade do ar próximo a um reservatório, por exemplo, maior será a
evaporação do local.
Dentre os métodos de estimativa de evaporação tem-se: o método da transferência de
massa, do balanço de energia, do balanço hídrico, os evaporímetros e as equações empíricas.
Os evaporímetros são instrumentos que possibilitam uma medida direta do poder
evaporativo da atmosfera, estando sujeitos aos efeitos de radiação, temperatura, vento e
umidade. Os mais conhecidos são os atmômetros e os tanques de evaporação (TUCCI, 2001).
Na categoria dos tanques de evaporação, encontra-se o Tanque Classe A. Este é um
tipo de tanque de evaporação que possui algumas especificidades, entre elas estão, o requisito
de ele ser de forma circular com o diâmetro aproximado de 121 cm e profundidade de 25,5
cm em aço ou ferro galvanizado, com seu nível de água variando de 5 a 7,5 cm da sua borda
superior. Sua medição consiste em uma ponta linimétrica e deve estar apoiado sobre
plataforma de madeira a 15 cm do solo. A sua utilização pode acarretar em alguns
inconvenientes para medição da evaporação. A turbidez superficial decorrente de partículas
de poeira ou de outros materiais levados pelo vento causa a turbidez da superfície evaporante,
provocando uma diminuição do potencial evaporativo do tanque (TUCCI, 2001). O grande
aquecimento das suas paredes laterais em virtude do material usado permite uma maior
evaporação da água ali contida acarretando uma diferença, por exemplo, da medição de um
reservatório. Outro inconveniente que leva a erros é a perda de água decorrente de elementos
externos, animais que alcance o tanque, por exemplo, mascarando assim a real perda de água
por evaporação.
O local em que o tanque será instalado, também pode disfarçar a medição da
superfície evaporante daquela região. Por exemplo, se um tanque for colocado em uma região
com alta concentração de árvores seu potencial evaporativo será menor do que se for colocado
em um ambiente com vegetação rasteira.
Em consequência disso e também por apresentar pequeno volume de água
armazenada, grande superfície em relação à pequena profundidade, e devido à localização
onde se encontra, em detrimento do balanço de energia e o transporte de massa que ocorre em
um reservatório, deve-se aplicar um fator de redução do potencial evaporativo do Tanque
Classe A, que situa-se entre 0,6 e 0,8, sendo mais utilizado o valor de 0,7. Desse modo a
equação é dada por:
Ereservatório = Ft × Etanque (1)
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Em que: 𝐸𝑟𝑒𝑠𝑒𝑟𝑣𝑎𝑡ó𝑟𝑖𝑜 é a evaporação obtida para o reservatório em m/dia; 𝐹𝑡 é fator de
redução; e 𝐸𝑡𝑎𝑛𝑞𝑢𝑒 é a evaporação medida para o Tanque Classe A em m/dia.
As equações empíricas, por sua vez, são equações criadas que levam em consideração
a região e suas condições específicas. Em sua maioria são obtidas por meio de ajuste por
regressão linear das variáveis envolvidas.
Um desses métodos empíricos é o método de evaporação desenvolvido pelos
pesquisadores Jensen e Haise em 1963, no oeste dos Estados Unidos. Na ocasião, os
pesquisadores usaram mais de 3000 observações de variação de evapotranspiração,
determinada por amostras de solo estatisticamente relacionadas, colhidas durante 35 anos.
Majidi et al. (2015), estimou a evaporação do reservatório da barragem de Doosti,
localizado na região semiárida do Irã, através de vários métodos convencionais para encontrar
os métodos mais precisos para condições de dados limitadas. No resultado do estudo o
modelo de Jensen e Haise (1963) era o que apresentava as mais precisas estimativas de
evaporação dentre os 19 modelos analisados. E também que, apesar da sua simplicidade,
apresentou estimativas de evaporação mais confiáveis do que outros métodos mais onerosos e
complexos.
Essa simplicidade deve-se ao cálculo da evaporação diária depender apenas da
radiação solar e da temperatura do ar, firmando-se assim como um método bastante simples e
com uma boa confiabilidade dos dados, principalmente em locais semiárido onde sua precisão
é maior. A equação é dada pela fórmula a seguir:
E = 0,03523Rs(0,014Ta − 0,37) (2)
Em que: 𝑅𝑠 é a radiação solar em W/m², 𝑇𝑎 é a temperatura do ar em °F e E é a
evaporação diária em mm/dia.
3. METODOLOGIA
3.1 Área de estudo
A área de estudo escolhida foi a bacia hidrográfica do rio Piranhas-Açu, que possui
uma área total de 43.580 km², segundo dados extraídos do site da Agência Nacional de Águas
(ANA, 2015). Esta bacia abrange 100 municípios paraibanos e 47 municípios potiguares. A
bacia do Piranhas-Açu possui um regime de chuvas distribuídas nos meses de fevereiro a
maio com média anual menor que 800 mm.
Os reservatórios escolhidos para a realização desse estudo estão situados dentro da
bacia hidrográfica do rio Piranhas-Açu, sendo eles o açude Cruzeta e a barragem engenheiro
Armando Ribeiro Gonçalves (ARG).
O açude Cruzeta foi um projeto desenvolvido em 1910 e concluído em 1929, sob
responsabilidade do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). O
reservatório se localiza na cidade de Cruzeta (Figura 1) (RN), e foi construído com um
barramento de solo compactado com seção homogênea de 880 m de extensão e com altura
máxima de 15 m. Este açude apresenta uma área de bacia hidráulica de 616,11 hectares, com
capacidade máxima de seu reservatório de 23.545.745,33 m³ e um volume de reserva
intangível, mais conhecido como “volume morto”, de 1.179.186,00 m³ (DNOCS, 2017;
SEMARH/RN, 2014).
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Figura 1 – Localização do Açude Cruzeta no município de Cruzeta-RN
Com relação à barragem engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves, esta teve seu
projeto concluído em 1983, também sob incumbência do DNOCS. Ela se localiza no distrito
de Oiticica II, a 2 km de Itajá e 13 km de Assu (Figura 3). O reservatório possui uma
barragem do tipo zoneada com 2.540 m de extensão e altura máxima de 40 m. Sua bacia
Fonte: MEDEIROS, 2016
Fonte: SAMPAIO, 2017
Figura 2 – Vista do açude Cruzeta/RN
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hidráulica possui uma área de 19.200 ha, com capacidade máxima de 2.400.000.000 m³ e seu
volume de reserva intangível são de 236.000.000 m³ (DNOCS, 2017; SEMARH/RN, 2014).
Figura 3 – Localização da Barragem Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves
Figura 4 – Vista da Barragem Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves/RN
3.2 Estimativa da evaporação
Fonte: MEDEIROS, 2016
Fonte: BARBOSA, 2015
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Os dados de monitoramento dos reservatórios, sendo eles: o nível d’água, a área do
espelho d’água e o volume do açude foram cedidos pela SEMARH/RN.
Os dados de monitoramento referente ao açude Cruzeta compreende os anos de 2010 a
2015, enquanto que os dados referentes ao reservatório Armando Ribeiro Gonçalves (ARG)
datam do ano de 1985 até o ano de 2013. É importante enfatizar que o intervalo de tempo que
compreende estes valores não são unificados, ele perfaz de períodos de dias, meses e, no caso
da ARG, até a ano sem um dado de monitoramento. Neste trabalho, os dados foram
readequados ao período diário.
Os métodos utilizados de estimativa de evaporação da água dos reservatórios foram o
método de evaporação pelo Tanque Classe A e o método de Jensen-Haise.
As informações referentes à temperatura foram coletadas do Banco de Dados
Meteorológicos para Ensino e Pesquisa (BDMEP) do Instituto Nacional de Meteorologia
(INMET). Para o reservatório de Cruzeta foram utilizados os dados da estação meteorológica
de Cruzeta referente aos anos 1985 a 2015. Já no caso do reservatório ARG, existe uma
estação meteorológica mais próxima que seria a de Macau (no caso do monitoramento pelo
INMET) e ainda existe outra mais próxima do reservatório, que seria a estação de Assú sob
responsabilidade da EMPARN, porém em ambas a série histórica é bastante defasada. Desse
modo optou-se também pelos dados da estação de Cruzeta.
Os dados obtidos foram mensais e foi realizada uma média para cada mês dos anos
monitorados. Outro fator importante a ser citado é que a temperatura foi fornecida em Celsius
(°C) e, por causa do método utilizado, foi transformada em Fahrenheit (°F) pela seguinte
equação (Tabela 1).
°F = (°C × 1,8) + 32 (3)
Tabela 1 – Médias históricas de temperatura na estação meteorológica de Cruzeta
Temperatura- Série histórica (1985-2015)
Unid. JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
°C 28,32 27,97 27,54 27,00 26,74 25,88 25,78 26,25 27,19 28,07 28,53 28,66
°F 82,98 82,35 81,57 80,60 80,13 78,58 78,40 79,25 80,94 82,53 83,35 83,59
Fonte: INMET (BDMEP 1985-2015)
Com relação à radiação, os dados não foram obtidos da estação climatológica usada,
pois a série estava curta e incompleta. Diante desse entrave, a radiação solar foi obtida por
meio do Atlas Solarimétrico do Brasil, documento produzido pelo Departamento de Energia
Nuclear da Universidade Federal de Pernambuco.
As cartas de radiação solar global diária fornecem a média mensal das radiações ao
longo do território nacional. As cartas são compostas por isolinhas que separam as regiões
com radiação solar aproximada. Os valores são dados em MJ/m²dia, sendo assim convertidos
em W/m² como requer o método de Jensen-Haise.
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Tabela 2 – Médias históricas de radiação na estação de Cruzeta
Radiação – Série histórica
Unid. JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
MJ/m²dia 20,00 20,00 20,00 18,00 16,00 16,00 16,00 20,00 20,00 22,00 22,00 22,00
W/m² 231 231 231 208 185 185 185 231 231 255 255 255
Fonte: Atlas Solarimétrico do Brasil, UFPE, 2000
Esses dois parâmetros foram utilizados no método de evaporação de Jensen-Haise
(equação 2), e multiplicados pela diferença do tempo de medição, ou seja, a data de medição
que se deseja menos a data de medição anterior, obtendo assim a evaporação em mm por
período. Após a quantificação desta, foi transformada para metros por dia e multiplicada pela
área correspondente ao dia da medição, resultando nos volumes evaporados em metros
cúbicos.
Com relação ao outro método analisado, os dados de evaporação mensal do Tanque
Classe A foram cedidos por Medeiros (2016). Os dados que compõem as médias mensais de
evaporação, tanto para o açude de Cruzeta como para a barragem Engenheiro Armando
Ribeiro Gonçalves, são referentes à estação meteorológica de Cruzeta, pelo mesmo motivo
apresentado para médias de temperatura. Estes foram multiplicados por um fator de redução
de 0,7, comum a regiões semiáridas, e alterados de mm/mês para m/dia (Tabela 3).
Tabela 3 – Médias históricas de evaporação do Tanque Classe A na estação de Cruzeta
Evaporação – Série histórica
Unid. JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
mm/mês 316,9 256,6 244,6 218,7 197,2 214,7 242,2 290,9 321,3 346,8 340,6 333,2
m/dia 0,007 0,006 0,006 0,005 0,004 0,005 0,005 0,007 0,007 0,008 0,008 0,008
Fonte: MEDEIROS, 2016
Assim como no método de Jensen e Haise, os valores obtidos da equação 1 foram
convertidos para o período diário e multiplicados pela respectiva área para se obter os
volumes evaporados.
Figura 5 – Carta de isolinhas do mês de outubro
Fonte: Atlas Solarimétrico do Brasil, UFPE, 2000
12
3.3 Precipitação
Outro parâmetro utilizado neste trabalho foi o dado de precipitação mensal. Este foi
obtido do BDMEP da estação de Cruzeta, para cada reservatório dentro da sua série histórica
em cada ano de monitoramento (Tabelas 4 e 5).
Tabela 4 – Série histórica da precipitação do açude Cruzeta
Precipitação – Série histórica
Unid Ano Meses
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
mm
/mês
2010 199,9 44,5 128,9 82,7 25,3 118,1 7,8 0,1 1,9 91,8 0,1 39,5
2011 116,1 106,8 121,7 242,7 214,1 29,6 74,0 4,7 0,0 2,2 7,2 3,2
2012 16,6 103,1 44,9 3,8 8,9 17,6 0,9 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
2013 24,4 32,8 67,0 55,0 22,7 54,4 27,2 28,6 3,1 2,9 13,4 55,4
2014 30,0 28,3 193,1 245,7 103,8 12,0 3,1 0,0 1,3 0,2 6,7 32,8
2015 6,2 48,1 83,0 150,5 25,7 7,3 22,4 0,1 0,0 0,0 0,0 5,4
Fonte: INMET (BDMEP 2010-2015), estação meteorológica de Cruzeta/RN
Tabela 5 – Série histórica da precipitação do reservatório Eng. Armando Ribeiro Gonçalves
Precipitação – Série histórica
Unid Ano Meses
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
mm
/mês
1985 99,5 285,0 119,6 357,5 63,1 67,2 84,1 2,2 0,2 0,0 5,9 115,4
1986 90,0 166,8 1,6 141,1 50,5 30,6 11,8 41,7 36,5 0,2 2,8 0,1
1987 57,1 157,2 207,6 52,0 0,0 19,3 16,8 0,0 0,1 0,0 0,0 0,0
1988 38,5 67,9 171,9 209,8 45,2 28,4 13,6 15,1 1,6 0,7 0,0 20,1
1989 48,3 67,7 98,6 346,5 51,1 10,5 57,4 2,4 0,0 1,5 48,6 127,1
1990 0,6 62,2 64,2 0,0 - 16,5 12,5 16,7 0,0 0,1 1,4 0,1
1991 0,0 - - - - - - - - - - -
1992 - - - - - - - - - - - -
1993 - - - - - - - - - - 13,2 0,0
1994 113,7 96,2 227,0 101,3 87,5 129,2 7,7 8,9 0,1 0,0 0,0 157,9
1995 25,6 140,2 177,6 142,5 237,7 35,1 20,2 0,9 0,0 0,1 1,6 54,5
1996 29,4 89,6 238,1 352,1 84,5 7,3 14,0 5,5 12,4 8,4 1,3 0,0
1997 137,5 9,1 160,9 160,0 43,2 1,1 3,2 1,6 0,0 0,0 0,1 43,5
1998 170,9 83,3 98,8 21,2 0,3 2,6 11,6 11,7 0,0 0,0 0,0 4,8
1999 145,1 4,1 165,8 55,9 98,8 4,8 3,7 0,0 0,1 0,5 0,3 36,5
2000 89,0 202,2 94,9 89,1 24,8 29,7 52,0 65,2 24,0 0,5 1,3 15,1
2001 2,2 28,6 174,3 65,6 24,7 25,5 7,8 4,9 0,0 1,8 0,0 0,7
2002 207,8 133,8 187,6 127,9 131,0 28,0 4,2 0,2 0,0 0,0 1,0 38,4
2003 68,5 44,3 109,8 114,9 101,7 65,0 8,4 15,8 0,0 0,0 0,0 5,1
2004 409,2 243,9 98,3 51,7 81,1 81,5 20,4 1,5 4,1 0,0 0,5 26,0
2005 73,4 60,4 187,5 52,4 42,3 34,2 1,5 1,3 0,0 0,0 0,0 32,6
2006 0,5 105,4 92,2 264,1 114,1 130,4 9,7 10,2 0,0 0,0 9,5 2,5
2007 4,3 118,0 106,8 190,9 66,5 16,6 4,3 4,4 3,6 0,0 0,0 2,1
2008 42,2 47,5 375,9 122,9 66,6 61,0 23,5 16,9 12,3 0,0 3,9 23,2
2009 32,2 152,6 158,9 349,7 201,7 43,0 37,5 56,7 0,0 0,0 4,5 16,8
2010 199,9 44,5 128,9 82,7 25,3 118,1 7,8 0,1 1,9 91,8 0,1 39,5
13
2011 116,1 106,8 121,7 242,7 214,1 29,6 74,0 4,7 0,0 2,2 7,2 3,2
2012 16,6 103,1 44,9 3,8 8,9 17,6 0,9 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
2013 24,4 32,8 67,0 55,0 22,7 54,4 27,2 28,6 3,1 2,9 13,4 55,4
Fonte: INMET (BDMEP 1985-2013), estação meteorológica de Cruzeta/RN
Os dados iniciais foram dados em mm/mês e foram convertidos para m/mês. Após
isso, foram multiplicados pela média das áreas de cada mês do período monitorado,
resultando assim no volume precipitado em metros cúbicos.
3.4 Usos outorgados
Outro ponto analisado pelo estudo foi as demandas associadas aos reservatórios. Os
dados estudados foram retirados do cadastro de outorgas da ANA (2016). Numa série
histórica que compreende o período de 2001 a 2015.
Os usos registrados do açude de Cruzeta são referentes ao abastecimento público e a
irrigação, sendo, respectivamente, administrados pela Companhia de Águas e Esgotos do Rio
Grande do Norte (CAERN) e pela Associação dos Irrigantes do Perímetro Irrigado Cruzeta –
APICRUZ. Eles dão um montante anual de 2.373.573 m³/ano (Tabela 6), que corresponde a
10,08% da capacidade máxima do açude.
Tabela 6 – Usos outorgados do açude Cruzeta
Identificação Corpo Hídrico Finalidade Principal Volume anual (m³)
%
Usos/
Volume
Total
CAERN Açude Cruzeta Abastecimento Público 674.520 2,86
APICRUZ Açude Cruzeta Irrigação 1.699.053 7,22
TOTAL - - 2.373.573 10,08
Fonte: Adaptado de MEDEIROS, 2016
Com relação aos usos praticados na Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, tem-se
um leque maior de retiradas, dada a dimensão do reservatório. Por se caracterizar como o
maior do Estado, ele abastece várias regiões por meio de adutoras, além disso, existem
demandas associadas à irrigação, pesca, derivação de água para o canal do Pataxó, lazer,
culturas de vazante, entre outros. Todas as atividades outorgadas que necessitam de água da
barragem resultam em um montante anual de 289.114.851 m³/ano, correspondendo a 12,05%
do volume total do reservatório (Tabela 7).
Tabela 7 - Usos outorgados do reservatório Eng. Armando Ribeiro Gonçalves
Tipo de Uso Volume anual (m³) % Usos/ Volume Total
Abastecimento Público (ABP) 27.822.373 1,16
Irrigação (IRR) 96.166.852 4,01
Aquicultura (AQU) 109.639.704 4,57
Indústria (IND) 4.760.482 0,20
Mineração (MIN) 1.752.000 0,07
Usina Termoelétrica (TER) 8.760.000 0,37
Outros (OUT) 40.213.440 1,68
TOTAL 289.114.851 12,05
Fonte: Adaptado de MEDEIROS, 2016
14
4. RESULTADOS
Os gráficos abaixo (Figuras 6 e 7) apresentam os resultados referentes aos volumes
evaporados pelo método de Jensen-Haise e pelo Tanque Classe A. É importante ressaltar que
as lacunas presentes, tanto nestes como em outros gráficos a seguir, refletem os períodos em
que não há informações de monitoramento.
Nota-se que, os resultados obtidos os métodos são coerentes para a região estudada
(semiárido), pois eles não são discrepantes entre si.
Figura 6 – Comparação entre os volumes evaporados pelo método de Jensen-Haise e pelo
método do Tanque Classe A do açude Cruzeta
Fonte: Autor
Figura 7 – Comparação entre os volumes evaporados pelo método de Jensen-Haise e pelo
método do Tanque Classe A da Barragem Eng. Armando Ribeiro Gonçalves
Fonte: Autor
0.00
200,000.00
400,000.00
600,000.00
800,000.00
1,000,000.00
1,200,000.00
1,400,000.00
1,600,000.00
JAN
MA
R
MA
I
JUL
SE
T
NO
V
JAN
MA
R
MA
I
JUL
SE
T
NO
V
JAN
MA
R
MA
I
JUL
SE
T
NO
V
JAN
MA
R
MA
I
JUL
SE
T
NO
V
JAN
MA
R
MA
I
JUL
SE
T
NO
V
JAN
MA
R
2010 2011 2012 2013 2014 2015
Jensen-Haise x Tanque Classe A
Jensen - Haise (m³) Tanque Classe A (m³)
0.00
10,000,000.00
20,000,000.00
30,000,000.00
40,000,000.00
50,000,000.00
60,000,000.00
70,000,000.00
80,000,000.00
90,000,000.00
100,000,000.00
198
5
198
6
198
7
198
8
198
9
199
0
199
1
199
2
199
3
199
4
199
5
199
6
199
7
199
8
199
9
200
0
200
1
200
2
200
3
200
4
200
5
200
6
200
7
200
8
200
9
201
0
201
1
201
2
201
3
Jensen-Haise x Tanque Classe A
Jensen - Haise (m³) Tanque Classe A (m³)
15
Além disso, os volumes evaporados pelos métodos expostos, em ambos os
reservatórios, apresentaram resultados próximos, porém diferindo um pouco mais no caso de
Cruzeta, no período que compreende os anos de 2010 a 2012.
Outra análise realizada foi o comparativo do volume evaporado, precipitado e do
reservatório de cada mês do período monitorado (Figura 8 e 9).
Figura 8 - Comparação entre os volumes evaporados pelo Tanque Classe A e por Jensen-
Haise, o volume precipitado e o volume do reservatório do açude Cruzeta
Fonte: Autor
Figura 9 - Comparação entre os volumes evaporados pelo Tanque Classe A e por Jensen-
Haise, o volume precipitado e o volume do reservatório Eng. Armando Ribeiro Gonçalves
Fonte: Autor
Percebe-se que o volume evaporado supera o volume precipitado, com exceção no
reservatório ARG - nos meses de janeiro a abril de 1985, abril de 1989, março de 1994, maio
de 1995, abril de 2006, março de 2008, abril de 2009, abril e maio de 2011; e no reservatório
0.00
200,000.00
400,000.00
600,000.00
800,000.00
1,000,000.00
1,200,000.00
1,400,000.00
1,600,000.00
0.00
5,000,000.00
10,000,000.00
15,000,000.00
20,000,000.00
25,000,000.00
JAN
AB
R
JUL
OU
T
JAN
AB
R
JUL
OU
T
JAN
AB
R
JUL
OU
T
JAN
AB
R
JUL
OU
T
JAN
AB
R
JUL
OU
T
JAN
2010 2011 2012 2013 2014 2015
Vo
lum
e e
va
p.
e p
recip
. (m
³)
Vo
lum
e d
o a
çud
e (m
³)
Evaporação x Precipitação x VolumeVolume Precipitado (m³) Evaporação Tanque Classe A (m³)
Evaporação Jensen-Haise (m³) Volume Reservatório (m³)
0.00
20,000,000.00
40,000,000.00
60,000,000.00
80,000,000.00
100,000,000.00
0.00
500,000,000.00
1,000,000,000.00
1,500,000,000.00
2,000,000,000.00
2,500,000,000.00
3,000,000,000.00
198
51
98
61
98
71
98
81
98
91
99
01
99
11
99
21
99
31
99
41
99
51
99
61
99
71
99
81
99
92
00
02
00
12
00
22
00
32
00
42
00
52
00
62
00
72
00
82
00
92
01
02
01
12
01
22
01
3
Vo
lum
e ev
ap
. e
pre
cip
. (m
³)
Vo
lum
e d
o a
çud
e (m
³)
Evaporação x Precipitação x Volume
Volume Precipitado (m³) Evaporação Tanque Classe A (m³)
Evaporação Jensen-Haise (m³) Volume Reservatório (m³)
16
Cruzeta - abril e maio de 2011 e abril de 2014. Com relação ao volume de cada açude, no
Cruzeta observa-se que o alto poder evaporativo associado aos seus usos promove uma
redução expressiva de seu volume (agosto de 2011 a abril de 2014). No ARG, observa-se
também um período de queda significativa do volume deste (entre 1997 e 2004 e após 2011).
O outro parâmetro que foi avaliado é a relação entre os usos outorgados e evaporação
do reservatório. Neste caso, o último ano de cada série não foi avaliado por não apresentar
dados de monitoramento suficientes. Observando os gráficos (Figuras 10 e 11), percebe-se
que a taxa de evaporação supera, em ambos os reservatórios, a retirada para atender os usos,
exceto no reservatório Armando Ribeiro Gonçalves o período entre 1999 e 2003 e após 2012.
Figura 10 - Comparação entre os usos outorgados e a evaporação pelo método do Tanque
Classe A do açude Cruzeta
Fonte: Autor
Figura 11 - Comparação entre os usos outorgados e a evaporação pelo método do Tanque
Classe A do reservatório Eng. Armando Ribeiro Gonçalves
Fonte: Autor
10.08 10.08 10.08 10.08 10.08
42.52
53.42
33.80
15.05 16.11
0.00
10.00
20.00
30.00
40.00
50.00
60.00
2010 2011 2012 2013 2014
Usos x Evaporação
Usos (%) Evaporação Tanque Classe A (%)
17
.77
17
.53
16
.98
17
.35
17
.72
16
.91
17
.12
17
.49
14
.32
15
.81
15
.39
16
.40
13
.43
11
.80
11
.70
11
.24
12
.04
11
.54
16
.65
15
.45
16
.58
17
.79
16
.77
17
.62
15
.06
16
.74
13
.57
0.00
2.00
4.00
6.00
8.00
10.00
12.00
14.00
16.00
18.00
20.00
198
5
198
6
198
7
198
8
198
9
199
0
199
1
199
2
199
3
199
4
199
5
199
7
199
8
199
9
200
0
200
1
200
2
200
3
200
4
200
5
200
6
200
7
200
8
200
9
201
0
201
1
201
2
Usos x Evaporação
Usos (%) Evaporação Tanque Classe A (%)
12
,05
17
5. DISCUSSÃO
Na análise dos métodos evaporativos usados (Figuras 6 e 7). Percebe-se que ambos os
métodos apresentaram valores aproximados, indicando certa homogeneidade do poder
evaporativo quando aplicado a regiões semiáridas. Majidi et al. (2016) relata: “Os resultados
mostraram que os métodos de radiação-temperatura (Jensen-Haise e Makkink) têm precisão
apropriada, especialmente na base mensal.”. Assim como Majidi et al. (2016), a base mensal
ao qual está embasada a análise contribuiu para resultados representativos para a região.
A outra análise realizada compreendeu os volumes evaporado, precipitado e do
reservatório (Figuras 8 e 9). Pôde-se aferir que no açude Cruzeta os volumes evaporados são
elevados fazendo com que haja uma perda significativa de água por evaporação. Os volumes
evaporados de 2010 a 2012 alcançam o patamar de 30% a 50% do volume do açude,
consolidando ao que se tem na literatura, onde Suassuna (2002) declara: “A evapotranspiração
elevada é fator importante a ser levado em consideração. Trabalhos nessa área estimam que os
pequenos e médios açudes perdem cerca de 40% da água acumulada, através desse
fenômeno.”. O período compreendido entre janeiro de 2013 a abril de 2014 apresenta os
menores volumes evaporados em função da redução do volume de água dos açudes e, por
conseguinte, da área do seu espelho d’água. Esse período, em que o volume estava muito
baixo foi interpretado por Medeiros (2016) como um período de seca. “Nota-se ainda que no
final do ano de 2012 se inicia a seca atual, que já dura cerca de três anos [...]”. Ainda
podemos constatar que o período de 2011 foi o que apresentou maior taxa de evaporação e foi
quando o açude atingiu sua capacidade máxima, confirmada também pelos estudos de
Medeiros (2016): “Nos anos de 2004, 2008, 2009 e 2011, quando o açude Cruzeta atingiu sua
capacidade máxima (23,54 hm³), não foram registrados eventos de seca hidrológica, apesar de
nesses períodos as perdas por evaporação serem maiores”.
No que se diz respeito ao Armando Ribeiro Gonçalves, por se tratar de um
reservatório de grande porte tem seus índices de evaporação atingindo os níveis anuais de
10% a 18%. Os reservatórios maiores como o ARG com valores percentuais menores de
demanda e evaporação resistem por mais tempo às secas prolongadas, em comparação com
reservatórios onde a boa parte do seu volume de água está comprometido com o processo de
evaporação como Cruzeta. Verificado também por Medeiros (2016).
A comparação entre os reservatórios de características distintas demonstrou que
aquele com maior capacidade de acumulação foi mais eficiente e tem maior
capacidade de suporte aos eventos de seca do que o reservatório menor, uma vez que
no primeiro as perdas por evaporação são percentualmente menores (MEDEIROS,
2016).
Medeiros (2016) constata, também, para o reservatório ARG: “[...] são detectados
eventos de déficit hídrico, nos anos 2001 e 2003, quando o volume do reservatório estava em
45% da sua capacidade máxima.”, o que confirma um período de seca, onde observa-se um
decaimento do volume do reservatório ocorrido entre janeiro de 1998 e janeiro de 2004, sendo
o período crítico de 2001 a 2003.
Quanto ao índice pluviométrico, este se apresenta na região estudada, com chuvas
concentradas no primeiro semestre anual, para ambos os açudes (Figuras 8 e 9). Confirmando
o apresentado por Fontes et al. (2003).
O clima semiárido é caracterizado pela insuficiência de precipitações com extrema
irregularidade quanto à sua distribuição temporal, concentradas em uma estação de 3
a 5 meses de duração e uma variação em torno de 30% dos totais pluviométricos
anuais[...] (FONTES ET AL., 2003).
18
Ainda falando sobre as taxas de precipitação pode-se perceber que, principalmente no
açude Cruzeta (reservatório de menor porte), o volume precipitado é superado em quase todo
período analisado pelo volume evaporado, fato este constatado também no açude Encanto
(RN), açude também de pequeno porte, por Oliveira (2017): “O volume evaporado
correspondeu ao dobro do volume precipitado em praticamente todos os anos [...]”.
No que se refere aos usos outorgados e as taxas de evaporação, aferiu-se que o
reservatório de Cruzeta encontra-se mal aproveitado se comparado a sua evaporação. Apesar
de não possuir um grande volume armazenado, dever-se-ia utilizar melhor o potencial
disponível para reduzir a discrepância entre seus usos e sua evaporação. Além disso, é
importante instaurar políticas de reuso de águas para a irrigação, tendo em vista que esse é o
maior consumo do açude. No caso do ARG, esse aproveitamento das águas é mais satisfatório
em virtude dos volumes extraídos serem próximos aos volumes evaporados.
6. CONCLUSÃO
Os resultados dos açudes estudados mostram que a taxa de evaporação ainda é alta e
necessita de políticas que promovam o melhor aproveitamento da água reservada, a fim de
criar condições sociais e econômicas melhores para o entorno do mesmo.
Comprovou-se também que o açude Cruzeta se encontra com volumes evaporados
altos em relação a sua demanda, necessitando de uma forma mais eficaz de aproveitamento de
suas águas, com regras de operação específicas para o mesmo. No caso de reservatório
Armando Ribeiro Gonçalves, o seu volume supre bem as necessidades da região, e até mesmo
de outras regiões por meio de adutora. Além disso, não se encontra com volumes retirados e
evaporados discrepantes entre si. Diante do panorama é necessário compreender o fenômeno da evaporação para que se
possa prever o local adequado de instalação de novos reservatórios e para gerenciar de
maneira eficiente os reservatórios, aproveitando da melhor forma os recursos hídricos
escassos da região. Como sugestão, poderia implantar placas solares na superfície espelhada
dos açudes, o que melhoraria o problema da alta evaporação no semiárido e geraria uma
energia limpa e de grande disponibilidade na região.
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