Leticia Mono

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LETÍCIA DO CARMO SILVA A REPRESENTAÇÃO DE MARIA NA FORMAÇÃO DA CONDIÇÃO FEMININA NO SÉCULO XX Monografia apresentada ao curso de licenciatura plena em História, como avaliação final da disciplina prática de ensino para obtenção do grau de graduando, sob a orientação do Prof. Dr. André Luiz Caes. MORRINHOS 2008 Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only.

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LETÍCIA DO CARMO SILVA

A REPRESENTAÇÃO DE MARIA NA FORMAÇÃO DA CONDIÇÃO FEMININA NO SÉCULO XX

Monografia apresentada ao curso de licenciatura plena em História, como avaliação final da disciplina prática de ensino para obtenção do grau de graduando, sob a orientação do Prof. Dr. André Luiz Caes.

MORRINHOS 2008

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS - UEG

Biblioteca Professor Sebastião França Ficha Catalográfica na Fonte

Silva, Letícia do Carmo.

A representação de Maria na formação da condição feminina no século XX. Letícia do Carmo

Silva. Morrinhos, 2009. 69 f. Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade Estadual de Goiás – UEG, Unidade

de Morrinhos, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Licenciado no Curso de Licenciatura Plena em História.

Orientador: Professor Doutor. André Luiz Caes. 1. História. 2. Feminismo. 3. Trabalho de Conclusão de Curso. 4. TCC.

CDU: 94:396 CUTTER: S586r

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LETÍCIA DO CARMO SILVA

A REPRESENTAÇÃO DE MARIA NA FORMAÇÃO DA CONDIÇÃO FEMININA NO SÉCULO XX

Monografia apresentado à faculdade de História da

Universidade Estadual de Goiás para obtenção de

grau de graduando.

Banca examinadora:

Morrinhos - Go, 03 de Dezembro de 2008.

_______________________________________________________

Professor Doutor André Luiz Caes

_______________________________________________________

Professor Mestre Eron Meneses de Amorin

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Aos meus pais, Oscar Cesário e

Maria Aparecida, pelo amor

incondicional e dedicação

incansável.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primordialmente a Deus, por estar sempre comigo, me proporcionando

força e coragem para superar as dificuldades as quais, inúmeras e incansáveis vezes, me

deparei.

Aos meus amados pais, que sempre acreditaram em mim, estando ao meu lado e

me acompanhando com carinho e estímulo, torcendo sempre por meu sucesso. Papai e

mamãe, é para vocês que dedico está grande vitória de minha vida!

Aos meus queridos irmãos Wender e Lívia, que direto ou indiretamente,

contribuíram para esse grande momento de felicidade. E à minha cunhadinha,

Francielle, por ter sempre me encorajado e me proporcionado a mais linda flor: a minha

sobrinha Lalesca.

Agradeço também ao meu noivo Silvio, pela cumplicidade incondicional, por ter

sido o meu apoio, amparo e motivação. Que sonhou o meu sonho, e que juntos

delineamos uma história de dedicação e conquista. E em resposta a esse amor, ofereço a

minha gratidão e reconhecimento de que nos méritos dessa vitória a muito de sua

presença. Silvio, eu também te amo!

Ao meu professor orientador André Luiz, que mais do que dedicação, me

proporcionou o verdadeiro conhecimento. Meu eterno obrigado pela doação, dignidade

pessoal e profissional, carinho e amizade ao qual me transmitiu sempre. Você é o que

considero como um verdadeiro educador!

Agradeço também aos grandes Mestres ao qual tive a oportunidade de aprender

durante minha jornada. Pelo grande trabalho realizado, e por de alguma forma estar

sempre me fazendo pensar, refletir, e questionar verdades, me ensinado dessa forma a

ser uma profissional ética e comprometida.

Enfim, agradeço aos verdadeiros amigos que conquistei durante essa jornada de

estudo, que com certeza deixarão grandes saudades. Saudades dos risos, das

brincadeiras e até mesmo das chateações um com o outro, mas que acima de tudo

compartilharam juntos os prazeres e dificuldades de quatro anos árduos, que irão ficar

para sempre na lembrança.

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“Não é a consciência que determina a vida, é a vida que determina a consciência”.

Karl Marx

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RESUMO Durante a história do Catolicismo, Maria é entendida como modelo de mulher por sua

submissão, castidade, religiosidade entre outros, tornando-se assim um modelo

inatingível às mulheres e reforçando a inferioridade do gênero feminino. Assim,

conservou-se na Igreja católica e na própria sociedade o significado e o protótipo

feminino, sendo as boas qualidades de Maria, propostas às mulheres, resultando na

inconsciência de construção de sua própria identidade. Enfim, com a representação de

Maria, constitui-se um modelo de personificação do ideal feminino. Porém, várias

restrições impostas ás mulheres foram gradativamente superadas, através das lutas por

conquistas de autonomia, direito e liberdade. Com isso, pouco a pouco encontravam

maneiras de atuar no espaço publico, alargando suas possibilidades.

Palavras-chave: Identidade. Representação. Submissão.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................... 8

CAPÍTULO 1 - O ESPAÇO DAS MULHERES NUMA PERSPECTIVA

HISTÓRICA.................................................................................................................. 10

CAPÍTULO 2 - MARIA E AS MULHERES ........................................................... 23

CAPÍTULO 3 - PERMANÊNCIA OU TRANSFORMAÇÃO NA CONDIÇÃO

FEMININA ?........... .................................................................................................. 34

3.1 AS MULHERES DE HOJE E SUA RELAÇÃO COM OS VALORES CONTIDOS NA FIGURA DE MARIA .................................................................. 38 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 47

REFERÊNCIAS........................................................................................................ 49

APÊNDICE.................................................................................................................... 53

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INTRODUÇÃO

Este trabalho propõe realizar um estudo sobre “A representação de Maria na formação

da condição Feminina no Século XX”, demonstrando historicamente o cotidiano da mulher e

os seus conceitos dentro da Igreja Católica e na própria sociedade, evidenciados pela

desigualdade de gênero.

O primeiro capitulo apresenta um estudo referente à luta das mulheres por direitos mais

igualitários, se desligando dos padrões estabelecidos por uma sociedade patriarcal, e as suas

reais conquistas sociais, políticas, civis e trabalhistas. Descreve também as circunstâncias

históricas que possibilitaram a emergência do movimento feminista e as principais

contribuições desse movimento, além de contextualizar historicamente, desde os primórdios

da desigualdade feminina, justificada principalmente pela formação de uma sociedade

patriarcal e influenciadas pelas concepções cristãs, até a conquista da cidadania, cujo

procurou romper com hierarquias fundadas em concepções naturalistas que promoveram e

ainda promovem desigualdades.

O segundo Capitulo se destina a apresentar, teoricamente a ideologia fundada e

defendida nos primeiros séculos do cristianismo em relação à condição feminina, apresentada

a partir da representação promulgada de Maria, gerando a analogia de “Ser como Maria foi”.

Descreve também o surgimento da imagem e modelo de Maria em Contraposição a figura de

Eva, estabelecido ás mulheres como único protótipo a ser seguido, formado pela concepção

católica e aceito pela sociedade machista, reforçando a inferioridade feminina frente ao

masculino. A partir do modelo estabelecido, as mulheres vivenciaram durante anos uma

hierarquia cristã, que estabelecia a moral e a identidade de cada mulher, desfavorecendo

assim, a construção de sua própria personalidade.

O terceiro capitulo, realiza um discurso sobre as transformações no comportamento das

mulheres atuais, em relação aos valores de Maria estabelecidos e perpassados durante muitos

anos. Para evidenciar as reais transformações ou permanências no comportamento feminino

em relação ao protótipo de Maria, foram apresentadas algumas entrevistas a fim de discutir a

real influência do modelo feminino cristão nas particularidades de cada mulher, destacando os

valores permanentes e modificados, segundo o contexto das entrevistadas.

Contudo, o trabalho realizado busca objetivamente, a partir de todo contexto histórico

vivido pelas mulheres que reforçaram sua inferioridade de gênero assim com suas lutas e

conquistas por igualdade, apresentar um estudo sobre a condição feminina atual, seus

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pensamentos e valores adquiridos segundo as suas particularidades, em relação à

representação de Maria para a construção da identidade feminina.

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CAPÍTULO 1 - O ESPAÇO DAS MULHERES NUMA PERSPECTIVA

HISTÓRICA

Durante muito tempo, a história oficial foi retratada como a história dos homens, reconhecidos como os únicos representantes da sociedade. Ao se tratar de direitos, as mulheres não eram mencionadas, pelo simples fato de não serem sequer reconhecidas como sujeito de direito. (NEVES, 2005, p.1177).

As grandes mudanças na historiografia nas últimas décadas contribuíram para o

desenvolvimento de estudos sobre as mulheres, pois ao pluralizarem os temas da investigação

histórica alçaram as mulheres à condição de objeto e sujeito da própria história.

Com o desenvolvimento de novos campos como a história das mentalidades e

história cultural, houve o avanço na abordagem do feminino. Estes novos campos, ao

apoiarem-se em outras disciplinas tais como a Literatura, Lingüística, Psicanálise e,

principalmente, a Antropologia, puderam desenvolver as imensas dimensões desse objeto.

Assim, toda interdisciplinaridade exercida pelos historiadores, possibilitou uma importância

crescente nos estudos referentes à mulher. (SOIHET, 1997, p. 276)

O desenvolvimento da história das mulheres, articulado às inovações da

historiografia, tem dado lugar à pesquisa de inúmeros temas. Não mais apenas focalizam-se as

mulheres no exercício do trabalho, da política, no terreno da educação ou dos direitos civis,

mas também introduzem novos temas na análise, como a família, a maternidade, os gestos, o

sentimento e a sexualidade, entre outros.

O movimento feminista, ocorrido a partir dos anos 60, contribuiu para o

surgimento da história das mulheres, implicando não apenas uma ideologia, mas a emergência

de um movimento com o objetivo de redefinir o papel da mulher na sociedade em busca de

uma igualdade entre os sexos. (SOIHET, 1997, p. 276)

O movimento feminista implicava uma emergente mobilização social que tinha

como objetivo defender os interesses de gênero, questionando os sistemas culturais e políticos

construídos a partir dos papéis de gênero historicamente atribuídos aos homens e às mulheres

e redefinindo o papel da mulher na sociedade, incorporando idéias e um conjunto de críticas

às formas hierarquizadas que discriminam o sexo feminino. No entanto, com o decorrer da

história do movimento feminista, repercutiu em grande medida as problemáticas sociais

enfrentadas pelas mulheres tais como a da assimetria sexual que foi um dos pontos de partida

da instauração da discriminação contra a mulher. (BARSTED e ALVES, 1987, p. 206).

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Assim, o desafio de romper o esquema binário, em que masculino e feminino se

constrói na oposição um do outro, passou a ser desafiante para o movimento das mulheres a

proposta de desmontar um esquema construído numa lógica patriarcal.

Ainda que com características específicas de cada país, a influência da política feminista não se confinou às fronteiras nacionais. Uma articulação internacional foi formada no sentido de reforçar as lutas locais e dar visibilidade pública às causas feministas, o que favoreceu o aparecimento de uma sólida rede internacional de mulheres, contribuindo positivamente na conquista de várias reivindicações. (NEVES, 2005, p. 1183).

Nos Estados Unidos, onde se desencadeou o movimento feminista, assim como

também em outras partes do mundo, as reivindicações das mulheres provocaram uma forte

demanda de informações, pelos estudantes, sobre questões que estavam sendo discutidas.

Assim, docentes mobilizaram-se propondo a instauração de cursos dentro das universidades

que se dedicassem aos estudos das mulheres. E como resultado, surgiu nas universidades

francesas, às primeiras pesquisas ligadas à história das mulheres, que passava a ser um campo

relativamente reconhecido em nível institucional gerando a multiplicação de pesquisas em

torno desse tema.

As contribuições decorrentes da explosão do feminismo e das transformações na

historiografia, a partir da década de 1960, foram fundamentais na emergência da História das

Mulheres. Nesse sentido, ressaltam-se as contribuições da História Social, da História das

Mentalidades e, posteriormente, da História Cultural, articuladas ao crescimento da

Antropologia, que tiveram papel decisivo nesse processo. Fato relevante, se considerarmos a

despreocupação da historiografia dominante, herdeira do iluminismo, com a participação

diferenciada dos dois sexos, já que polarizada para um sujeito humano universal: “O Homem”

A emergência da história das mulheres como campo de estudo não só

acompanhou as campanhas femininas para a melhoria das condições profissionais, como

envolveu a expansão dos limites da história. Alguns historiadores sociais, em seus artigos,

acreditavam que as mulheres eram pessoas biologicamente femininas e que se moviam em

contextos e papéis diferentes, mas cuja essência enquanto mulher, não se alterava. Com isso,

contribuíram para o discurso da identidade coletiva favorecendo o movimento das mulheres

na década de 1970 e firmando o antagonismo homem versus mulher que proporcionou uma

mobilização política importante e disseminada.

No final da década, grandes tensões se instauraram no movimento político

questionando a viabilidade da categoria ‘mulheres’ e a ‘diferença’ como um problema a ser

analisado. Muitas foram às discussões acerca da passividade da mulher, frente à sua opressão,

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ou da sua reação apenas como resposta às restrições de uma sociedade patriarcal. (SOIHET,

1997, p. 207).

Para compreendermos o contexto mais amplo do debate sobre a mulher, convém

retornarmos um pouco no tempo e conferir alguns aspectos da visão histórica que existiu

sobre as mulheres.

Ao basear-se na crença de uma natureza feminina, o discurso sobre a mulher foi

estabelecido por meio da idéia dela ser biologicamente dotada para desempenhar as funções

da vida privada, consistindo em casar, gerar filhos para a pátria e modelar o caráter dos

futuros cidadãos. (MALUF e MOTT, 1998, p. 374) Pode-se considerar que partir dessa ótica,

não era possível para as mulheres uma realização fora do ambiente privado.

No século XVIII, os ideais iluministas influenciaram de forma definitiva as

concepções de direito das sociedades ocidentais. Alguns homens defensores do iluminismo,

com certa posição majoritária, acreditavam que o saber estragava as mulheres, distraindo-as

de seus deveres mais sagrados. Para eles o ideal de mulher era a ‘silenciosa, modesta, casta e

subserviente’. Aquelas que não se enquadrassem nesse padrão eram condenadas, tidas como

perniciosas. A filosofia iluminista, apesar de defender a idéia de igualdade de direitos e a

possibilidade de auto-realização advinda do acesso à razão para as mulheres tanto quanto para

os homens, na verdade reforçou mais a igualdade dos homens entre si que a igualdade entre os

seres humanos, isto é, entre o homem, a mulher e a criança. (NEVES, 2005, p.1179)

Essa mentalidade iluminista teve um papel essencial na formação do pensamento

moderno e na estruturação das novas sociedades que se organizaram no século XIX, tanto na

Europa como na América.

Na sociedade brasileira não foi diferente, à medida que, no século XIX, passou por

grandes transformações com a consolidação do capitalismo, com o desenvolvimento da vida

urbana, praticamente inexistente no país, e a ascensão de uma nova classe social vinculada a

uma nova mentalidade, a burguesa, que passaria a reorganizar as vivências familiares e

domésticas. (D’INCAO, 2004, p. 223) A partir dessa influência burguesa, surge uma nova

mulher marcada pela valorização da intimidade e maternidade, responsável pelo ambiente

acolhedor do lar, filhos educados e esposa dedicada, além de estar submetida às regras de

boas maneiras, aprendendo a comportar-se e conviver de maneira educada, diante do espaço

público.

A família modelo para a burguesia mantinha a mulher restrita às atividades domesticas. Mesmo quando esse modelo era alterado, por forças das necessidades de sobrevivência com o engajamento da mulher no mercado de trabalho, ideologicamente o ‘lugar’ da mulher era o espaço privado da família. (BARSTED e ALVES, 1987, p.207)

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Assim, com as transformações ocorridas pelo desenvolvimento do capitalismo e

com a consolidação do modelo burguês de família, provocando prejudiciais mudanças na

mentalidade referente à mulher, há o reforço do homem como único sujeito de direito. Por

esse motivo, mulheres que eram envolvidas nos negócios da família passavam a se dedicar

exclusivamente aos serviços domésticos, às mães recomendava-se que passassem a se dedicar

exclusivamente aos cuidados dos filhos, cabendo a elas o papel de produzir seres humanos

que se tornaria a riqueza do Estado.

Desta forma, é considerado por muitos autores, que o século XIX foi um século de retrocessos no que se refere às conquistas das mulheres, pois ao atender os ideais da família burguesa, a mulheres restringiram-se outra vez à esfera doméstica, reforçando-se as concepções tradicionais de inferioridade feminina. (NEVES, 2005, p.1183)

A ascensão da mentalidade burguesa reorganizava as vivências familiares e

domésticas, o tempo e as atividades femininas. Assim, a definição do papel da mulher, que se

impôs no Brasil, era a de mãe prendada e responsável pelo lar. Com isso, as mulheres da elite

eram ‘treinadas’ para desempenhar o papel de mãe, criar filhos, cozinhar, costurar e bordar. A

importância do amor familiar e do cuidado com o marido e filhos redefiniu o papel feminino

e, portanto, para educar as futuras gerações, a escolarização passou a fazer parte das

exigências sociais. Assim, foram criados cursos para mulheres no Liceu de Artes e Ofícios,

sob a justificativa de que a educação seria para a mulher uma forma de se tornar filha

obediente, esposa fiel e mulher exemplar. À mulher só estavam destinadas profissões

consideradas femininas, pois as concepções burguesas indicavam que a mulher não precisava

e nem devia ganhar dinheiro.

Entretanto, as mulheres pobres eram cercadas de uma moralidade oficial

completamente desligada de sua realidade, já que o baixo salário do marido não supria as

necessidades básicas da família. Com isso a mulher trabalhava arriscando-se a sofrer

discriminações, principalmente aquelas que eram operárias industriais, sendo sempre vistas

como mães relapsas. (NEVES, 2005, p.1193.)

Ao relacionar o movimento feminista com o contexto da Revolução Industrial,

aquele aparece como uma espécie de reação às conseqüências deste processo na vida das

mulheres, pois ao romper a unidade produtiva do sistema familiar rural, definiram-se com

maior clareza os limites dos papéis sociais designados para cada sexo. O desenvolvimento

progressivo da vida urbana, que provocou o enfraquecimento do modelo de família patriarcal

originário do mundo rural, diminuiu simultaneamente o sentido da dependência da mulher

com relação ao marido, passando a exercer algumas atividades fora do lar, além de oferecer à

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mulher condições mais adequadas para que ela tomasse consciência de seus direitos e se

empenhasse a defendê-los com mais intensidade.

O mundo da produção deslocou-se para fora do lar com os efeitos previsíveis

sobre a divisão social do trabalho. No entanto, à medida que o processo de acumulação de

capital rebaixou os salários ao nível da sobrevivência, a mulher ‘pobre’ foi forçada a adicionar

às suas funções domésticas o trabalho produtivo fora de casa, penetrando no mundo

capitalista, embora ideologicamente fosse mantida fora dele. Dessa forma, ao participar do

sistema de produção capitalista, a mulher tornou-se uma mão-de-obra explorada que tinha sua

participação na esfera pública como ilegítima, contribuindo para sua desvalorização.

A mulher ‘pobre’ vivia cercada de uma moralidade oficial desligada de sua

realidade, pois era dito que deveria cuidar do lar e da educação dos filhos, mas não eram

dadas condições materiais para que realizasse esse dever. Sendo obrigada a trabalhar devido

ao baixo salário do marido, ao invés de ser admirada por ajudá-lo a sustentar a família, a

mulher com trabalho assalariado tinha que defender sua reputação contra a poluição moral.

(FONSECA, 2004, p. 516). A entrada da mulher no mercado de trabalho, era entendida pela

sociedade burguesa como uma destruição do ambiente familiar, pois as mulheres deixariam de

ser mães dedicadas e esposas carinhosas além de grande parte dessas mulheres deixarem de se

interessar pelo casamento e pela maternidade.

Pode-se considerar, por esse motivo, que o Movimento Feminista foi um dos

produtos da Revolução Industrial, cujas reivindicações defendidas pelas mulheres nesta fase,

atingiram as raízes da cultura patriarcal, questionando a posição da mulher dentro da família e

denunciando a exploração na esfera produtiva. (BARSTED e ALVES, 1987, p. 209)

A exclusão da vida pública e da cidadania fez com que as mulheres reagissem

exigindo distintos direitos civis, jurídicos, políticos (direito ao voto), econômicos (direito ao

trabalho), e direito a educação. Dessa forma, atuando dentro dos movimentos sociais, as

mulheres configuraram um campo de reivindicações que se dirigiam à luta por seus direitos.

(BARSTED e ALVES, 1987, p. 208). Estas primeiras manifestações desafiaram a ordem

conservadora, que excluía a mulher do mundo público (do voto, dos direitos como cidadã) e

criaram propostas mais radicais que iam além da igualdade política, mas que abrangiam a

emancipação feminina, pautando-se na relação de dominação masculina sobre a feminina em

todos os aspectos da vida da mulher.

Os novos códigos de lei nacionais regulamentaram os papéis sociais e as relações

entre os sexos de maneira desfavorável às mulheres, considerando a submissão e a

dependência feminina como dados naturais. Realidades como a alemã e a francesa são

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exemplos nesse sentido. No Código Civil Prussiano (1794), as mulheres casadas podiam fazer

negócios em seu próprio nome mesmo sem a autorização de seu marido, e todos os ganhos

separados eram de sua propriedade. Sob o novo código, o marido tornou-se guardião da

esposa e dono de todas as propriedades. Esse Código tornou-se modelo jurídico que

influenciou vários países da Europa e fez com que as mulheres fossem a ele subjugadas,

restringindo mais uma vez seus direitos, sobretudo direitos civis antes conquistados. (NEVES,

2005, p.1183-1184)

As várias restrições impostas às mulheres foram sendo, na prática, superadas, pois

gradativamente encontravam maneiras de atuar no espaço público, alargando suas

possibilidades. Suas próprias atribuições, administração doméstica e criação de filhos,

consideradas uma missão feminina para melhorar a sociedade, exigiam que tivessem um

maior preparo educacional, o que serviria de justificativa para a saída da esfera doméstica,

para se inserirem na educação formal. E assim, o século XIX assiste a uma significativa

expansão do ensino acessível ás mulheres, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, o que

possibilitou a elas a abertura de novos horizontes. Porém, a luta pelo preparo profissional foi

árdua, pois a educação diferenciada para rapazes e moças não fornecia a elas os pré-requisitos

para o ingresso nos cursos superiores. (NEVES, 2005, p. 1184)

Na década de 1880, as reivindicações por direitos civis, políticos e trabalhistas

repercutiu com grande força em função dos movimentos feministas que buscavam desligar-se

da tutela jurídica e econômica do homem.

A conquista dos direitos civis pelas mulheres ocorreu de forma diferenciada nos

vários países ocidentais. Nos países germânicos, por exemplo, essas conquistas se deram

precocemente devido a ética protestante, protetora dos direitos dos indivíduos, que exerceu

grande influência. No entanto, nos países com maior influência católica, os direitos requeridos

pelas feministas tardaram muito a ser conquistados devido à moral pregada pela igreja.

(NEVES, 2005, p.1184-1185)

Uma das problemáticas enfocadas pelas feministas foi em relação à condição das

mulheres pobres. Uma característica que marca esse movimento é a associação entre a

pobreza feminina e maternidade, pois a maioria das mulheres pobres tinha que associar a sua

vida na esfera doméstica com o trabalho assalariado. Dessa forma, os movimentos das

mulheres ‘inspiraram’ e modelaram uma importante legislação sobre proteção social.

A idéia central que orientava a discussão sobre a maternidade era a defesa de que

as atividades que as mulheres realizavam como mães deveriam ser consideradas como uma

forma de trabalho, e a sociedade deveria reconhecer social, política e economicamente o

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trabalho doméstico. Várias feministas no ocidente procuraram defender a maternidade como a

principal função social e merecedora de subsídios por parte do Estado. Como conseqüência

dessas reivindicações, um novo tipo de legislação que visava à proteção das mães e das

crianças, foi promulgada na maioria dos países industrializados, considerando-se o primeiro

êxito político das mulheres. (NEVES, 2005, p.1186)

A idéia defendida pelas feministas de uma maternidade remunerada,

experimentou objeções no próprio movimento feminista, o que proporcionou desequilíbrio

diante da luta. Algumas feministas acreditavam ser uma reivindicação individualista que

poderia concorrer para o rompimento dos laços familiares, além de acreditarem que subsídios

de maternidade e os salários pelo trabalho doméstico seriam perniciosos, à medida que

libertariam os homens da sua responsabilidade pela mulher e filho, eliminando os incentivos

ao trabalho masculino e provocando certo ‘rompimento’ das responsabilidades dos homens na

manutenção e sustentação do lar. Uma outra objeção era de ser, o trabalho assalariado, mais

produtivo do que o trabalho doméstico, e que a dona de casa não empregada era apenas

consumidora e não teria valor para a economia nacional cuja idéia de uma legislação especial

para as mulheres poderia torná-las menos competitivas no mercado de trabalho, o que

reforçaria o preconceito e a fraqueza da mulher. Por fim, a remuneração das mães solteiras era

entendida como uma forma de incentivo à promiscuidade sexual e à gravidez indesejada.

(NEVES, 2005, p.1186-1187)

A legislação sobre a maternidade trouxe contribuições importantes, pois o Estado

assumiu, embora com relutância e de forma parcial, a tarefa de apoiar as mães. No entanto,

era considerado pelas feministas um ponto de partida para o reconhecimento da maternidade

como uma função social, o que contribuía para a conquista da cidadania plena das mulheres.

Um motivo importante que influenciou os legisladores diante das reivindicações

feministas foi a preocupação com o declínio da taxa de natalidade em vários países

industrializados e assim, as políticas de proteção materna, assegurariam a sobrevivência das

crianças que nasciam e garantiam futuramente taxas mais altas de natalidade. Em 1919, o

Departamento Internacional do Trabalho promulgou a convenção de Washington, que

recomendava para todas as trabalhadoras, uma licença de parto de seis semanas antes e depois

do parto. (NEVES, 2005, p.1187)

Historicamente as reivindicações por direitos sociais perpassaram a agenda do

movimento feminista, o que é entendido como grande progresso das mulheres. Entre as

grandes conquistas, destaca-se a de receber os salários por seu trabalho, o que significou

liberdade e capacidade em exercer qualquer profissão, embora não superando totalmente a

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discriminação em que os salários estejam equiparados aos dos homens. No entanto, o que se

percebe é que a ocupação do mercado de trabalho para as mulheres na sociedade capitalista

atual constitui um paradoxo, pois ao mesmo tempo em que se considera uma conquista por

romper com a esfera doméstica, reveste-se de exploração, pois estão submetidas a condição de

inferioridade em relação às condições impostas ao trabalhador do sexo masculino.

O padrão familiar dominante pautava-se na preservação da virgindade da mulher

solteira, pela autoridade masculina na família e pela idéia de que a função primordial da

mulher estaria na maternidade. Em função de combater este padrão familiar imposto às

mulheres, e buscar maior autonomia em sua sexualidade, o movimento feminista passou a

reivindicar, em particular, o controle da mulher em sua função reprodutiva, o fim do padrão

moral da virgindade, o direito do prazer sexual, desligando-se da idéia de que a relação sexual

deveria ser somente para reprodução, o fim da autoridade exclusiva do homem dentro da

família. (BARSTED e ALVES, 1987. p.218) O controle da sexualidade feminina, significava

quebrar toda a hierarquia de uma sociedade patriarcal e da própria Igreja Católica, que

admitiam primordialmente que a função da mulher era destinada apenas em gerar e educar

filhos baseados em uma ideologia natural da mulher.

Nos anos 1950, ocorreu uma das descobertas mais importantes em termos de

alteração do comportamento sexual, que foi o anticoncepcional, permitindo maior controle

das mulheres neste âmbito. Os direitos sexuais e reprodutivos destacaram-se nas conquistas

obtidas pelo avanço dos movimentos de mulheres, pois com o acesso aos métodos

contraceptivos, possibilitou à mulher uma maior autonomia na vivência de sua sexualidade e

na definição quanto à sua vida reprodutiva. (NEVES, 2005, p.1189)

As lutas por direitos políticos ocorreram associadas à luta pelos direitos sociais e

civis. Desde o início do século XX, em vários países, as mulheres já haviam obtido o direito

de votar, o que era importante na implementação de políticas favoráveis às causas femininas.

O caminho percorrido pelas mulheres brasileiras em busca do voto feminino foi

longo e penoso. Os primeiros registros de mulheres reclamando este direito datam da década

de 80 do século XIX, contrariando a mentalidade vigente na sociedade da época que

considerava incompatível com a “natureza feminina” as atividades políticas. Entretanto,

mesmo chocando homens e até mulheres, algumas pioneiras da emancipação feminina

consideravam plenamente possível conciliar os afazeres domésticos aos seus deveres

enquanto cidadãs.

Historicamente, o primeiro país a conferir o direito de voto às mulheres em termos

nacionais foi a Nova Zelândia, em 1893; o segundo foi a Finlândia, em 1906; e o terceiro foi a

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Noruega, em 1913. As duas grandes Guerras Mundiais tiveram grande importância ao que se

refere aos direitos políticos femininos, pois nestes momentos as mulheres foram convocadas

para substituir a mão-de-obra masculina no esforço de produção das indústrias,

principalmente a de armamentos, jogando por terra muitos argumentos centrados na natureza

que definiam, para as mulheres, a domesticidade e a maternidade como suas únicas virtudes.

(NEVES, 2005, p.1189- 1190)

A conquista do sufrágio feminino não ocorreu com uma completa aceitação pelos

homens que tradicionalmente habitam o poder. A entrada da mulher no mercado político

abalou a consciência masculina, que assistia a perda do monopólio e a ultrapassagem

numérica, existente em vários países, havendo mais eleitoras que eleitores. Entretanto, o

direito de voto não permitiu que as mulheres eliminassem as fronteiras da relação “natural”

hierarquizada, pois não é considerado, ainda nos dias atuais, que conquistaram a cidadania

plena, já que, em alguns países não se permite a participação política às mulheres e mesmo

naqueles em que há direito ao voto, as mulheres não ocupam equitativamente os mesmos

cargos que os homens. (NEVES, 2005, p. 1190). Alguns opositores do voto feminino

utilizavam de argumentos acerca da inferioridade mental das mulheres e de sua ‘natural’

fragilidade que não suportaria as lutas travadas fora do âmbito domestico.

As formas pré-capitalistas de trabalho existentes no Brasil na segunda década do

séc. XX cedem espaço ao trabalho assalariado, fato que gerou um nível maior de

escolarização e inserção das mulheres no mercado de trabalho, porém a necessidade de

reabsorver a mão-de-obra masculina provinda da agricultura, fez com que surgissem ações

que encorajavam as mulheres casadas a retornarem ao lar.

Assim, todos os aspectos negativos existentes referentes às crianças e às famílias,

desde a mortalidade infantil até a desagregação dos lares, eram atribuídos às mulheres por

trabalharem. Estas idéias receberam uma importante aliada, a Igreja Católica, que defendia

uma política familiarista, incentivando as mulheres casadas a assumirem pessoalmente a

criação dos filhos. (NEVES, 2005, p.1191). As barreiras enfrentadas pelas mulheres para

participar do mundo dos negócios eram sempre muito grandes independentemente da classe

social, principalmente por estar atribuído ideologicamente ao homem o trabalho assalariado.

Os incentivos de retorno do lar não poderiam ser efetivamente concretizados pelas

mulheres das classes subalternas, já que estavam historicamente vinculadas ao trabalho em

busca de uma remuneração para a sobrevivência da família. Sendo assim, permaneciam nas

fábricas, mesmo sendo consideradas inferiores aos homens, pois recebiam menores salários

por serem vistas como ‘trabalhadores incompletos’. Outro fator de desvalorização era o fato

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de não conseguirem se organizar e suas greves serem raras e desconsideradas. Essa realidade

começou a se alterar no final do século XIX, quando o grau de sindicalização foi aumentando

e as operárias foram aceitas nas bases dos sindicatos que antes eram somente de homens, com

o tempo algumas mulheres conseguiram lugar de destaque nas lutas proletárias e, assim,

conquistando um poder significativo na imprensa operária e nos partidos de esquerda.

(NEVES, 2005, p.1191- 1192)

De acordo com o código civil, as mulheres casadas precisavam de autorização do

marido para exercer qualquer profissão fora do lar, mesmo por necessidades de sobrevivência.

No entanto, a concepção machista esperava que as mulheres, antes mesmo de se dedicar ao

trabalho assalariado, deveriam ser boas donas de casa. (MALUF & MOTT, 1998, p. 402). É

importante ressaltar que o papel do marido em ser o provedor da família, com o direito de

autorizar ou não o trabalho assalariado das mulheres, levou à dependência econômica da

esposa, o que era bem visto pela sociedade, porém esse ‘privilégio’ nem sempre significou a

felicidade para as mulheres, que desejavam conquistar seu espaço.

O crescimento da indústria no Brasil, no final do século XIX e início do século

XX, ocorreram graças à exploração intensiva da força de trabalho feminina e infantil, sendo

grande o número de mulheres trabalhando nas indústrias de fiação e tecelagem, no entanto

conforme avançava a industrialização e aumentava a incorporação da força de trabalho

masculina, as mulheres foram sendo progressivamente expulsas das fábricas.

A jornada de trabalho nas fábricas era muito pesada, variando de 10 a 14 horas

diárias. Às mulheres cabiam as tarefas menos especializadas e mal remuneradas e os grandes

cargos estavam sob o domínio dos homens. As reclamações femininas em relação às

condições de trabalho eram inúmeras diante da falta de uma legislação trabalhista que as

pudesse proteger das condições de trabalho, contra a falta de higiene nas fábricas e contra o

controle disciplinar e o assedio sexual. (RAGO, 2004, p.584)

Mesmo que, gradativamente, as mulheres tenham conquistado o espaço público

independente de classe social, eram muito grandes as barreiras enfrentadas, a começar pela

diferença salarial, passando pela intimidação física, pela desqualificação intelectual e pelo

assedio sexual.

Com o avanço da modernização, as relações de trabalho se alteram e novas

exigências são definidas para a mulher. O trabalho fora do lar proporcionou um convívio

social que rompia o isolamento vivido por muitas mulheres, o que contribuiu para alterar a

imagem feminina diante do mundo e forçar a legislação a criar mecanismos de proteção de

trabalho feminino. Apesar da crescente organização e pressão do movimento operário em

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relação às condições de trabalho, foi somente em maio de 1932, que a legislação estabeleceu

proteção ao trabalho feminino, com igualdade salarial, sem distinção de sexo, licença

remunerada para gestantes, descanso diário para a amamentação, proibição do trabalho

noturno, proibição do trabalho feminino nos subterrâneos, proibição da trabalhadora gestante,

entre outros. No entanto, na constituição de 1937, sob a ditadura de Vargas, houve um

declínio no que se referem aos direitos trabalhistas, prejudicando diretamente os direitos das

mulheres onde foi abolida a igualdade de salários para mulheres e homens. (NEVES, 2005, p.

1194)

Ainda que venham ocorrendo transformações no mercado de trabalho, inclusive

com a abertura de novos postos para a mulher, pode-se considerar que está longe de ser

alcançada a desejada igualdade entre os sexos. No Brasil, o aumento significativo do numero

de mulheres chefes de família convive com as profissões tipicamente femininas, em que elas

desempenham funções de acolhimento assemelhadas ao trabalho doméstico, sendo

recepcionistas, secretárias, enfermeiras, professoras, etc.. Entretanto, os cargos de chefia em

geral são restritos aos homens. Por outro lado, o exercício de uma profissão não libera a

mulher da responsabilidade do trabalho doméstico. (PAIVA e MENDONÇA, 2005, p. 1141).

A maior dificuldade enfrentada pelas mulheres tem sido a conciliação do trabalho remunerado

com o trabalho doméstico, o que revela nitidamente que ainda estão marcadas por concepções

hierarquizadas, onde mesmo conquistando o seu espaço no mercado de trabalho, ainda não

conseguiram se libertar da responsabilidade do lar.

O Brasil, nos anos 1950, viveu um período de crescimento urbano em função da

crescente industrialização, conduzindo ao aumento das possibilidades educacionais para

homens e mulheres, diminuindo a distância entre eles e permitindo modificações na

intimidade familiar. Mesmo havendo no país certo acompanhamento das tendências

internacionais de modernização e emancipação da mulher, o fim da guerra pregava a volta das

mulheres ao lar e aos valores tradicionais da sociedade. (BASSANEZI, apud NEVES, 2005,

p. 1195)

Na década de 1960, o Estatuto Civil da mulher casada, define um novo

posicionamento sobre a mulher, colocando-a na condição de colaboradora do marido na

sociedade conjugal. Com isso homens e mulheres casados passaram a ter os mesmos

impedimentos para dar fiança, vender imóveis, oferecer bens em hipoteca, precisando ambos

de autorização do cônjuge.

As mudanças nas diversas esferas da sociedade conjugal contribuíram para que o

papel social da mulher sofresse alterações progressivas comparadas às décadas anteriores. O

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progresso científico proporcionou o desenvolvimento de técnicas de controle de natalidade,

surgindo os novos métodos anticoncepcionais, ampliando as possibilidades femininas na

atuação social. O movimento feminista colocou em pauta novos valores, e a partir disso a vida

sexual da mulher dissociou-se da procriação, quebrando a imagem da maternidade como sina

da mulher, aderindo à idéia da maternidade como uma escolha. (BRUSCHINI; SARTI, apud

NEVES, 2005, p.1195)

A lei do divórcio, em 1977, instituiu o fim da sociedade conjugal e a possibilidade

de novo casamento. Porém, somente com a constituição de 1988 a mulher adquire direitos

civis iguais aos homens, tanto na vida pública como na privada. A entidade familiar passa a

ser concebida de uma forma mais ampla, abrigando uniões estáveis entre homem e mulher. O

pai passa a ser responsabilizado legalmente por todos os filhos cuja comprovação de

paternidade seja realizada por meio de exame DNA.

As leis brasileiras estavam radicalmente marcadas pela hierarquia de gênero.

Assim, a conquista da cidadania feminina não implicou apenas um conjunto de regras que

governam a relação de indivíduos, ao contrário, a conquista de direitos implicou

transformações nas estruturas sociais e políticas que exigiam condições especificas na

construção de valores e acesso a riqueza material, além de alterarem as relações entre homens

e mulheres. Contudo, a cidadania plena não poderia ser conquistada sem a superação das

relações de dominação e submissão em todos os âmbitos da vida social, política e econômica.

(NEVES, 2005, p. 1196)

A luta pela cidadania procurou romper com hierarquias fundadas em concepções

naturalistas que promoveram e ainda promovem desigualdades. Os ideais preconizados pela

modernidade não asseguraram o reconhecimento de igualdade entre os sexos e, por isso, a luta

pela conquista da cidadania tem sido para as mulheres uma batalha à parte, que ainda não

conhece o fim.

Embora importantes conquistas tenham sido obtidas desde o século XVII até as

primeiras décadas do século XX, a relação hierárquica entre os sexos permaneceu intocada.

Somente com os Movimentos Feministas que emergiram na década de 50, que estruturas

hierarquizadas foram sendo questionadas e alteradas, abrindo possibilidades de mulheres

tornarem-se cidadãs repletas de direitos. (NEVES, 2005, p. 1197)

Nas ultimas três décadas, houve avanços significativos na construção dos direitos

civis e políticos das mulheres brasileiras. O papel dos movimentos feministas foi fundamental

nesse percurso. Com sua articulação e mobilização, eles foram decisivos para a elaboração de

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leis e políticas públicas voltadas a eliminar as desigualdades entre homens e mulheres, no

espaço público e privado.

Em 1988, a constituição brasileira fortaleceu e aprimorou a proteção dos direitos

políticos e estabeleceu, pela primeira vez, a igualdade entre os gêneros como direito

fundamental. Com sua promulgação, as conquistas das mulheres ganharam impulso. O Brasil

ratificou importantes tratados internacionais de direitos das mulheres. Porém, ainda persiste

uma ótica discriminatória. Apesar de mais da metade da população brasileira ser feminina, a

representatividade das mulheres nos quadros dos poderes públicos e nas instâncias decisórias

está muito longe dessa porcentagem. Para que as mulheres exerçam a cidadania em sua

plenitude e com dignidade, é fundamental inserir na sociedade os preceitos estabelecidos na

constituição e nos tratados internacionais.

Toda ideologia de mulher submissa, responsável pela harmonia e equilíbrio do lar

e marcada pela alta valorização da virgindade e maternidade, esteve altamente defendida pela

instituição católica, que mesmo observando as mudanças na sociedade, continuou contrária e

de modo expressivo diante das modificações sociais da mulher.

Durante toda a história do catolicismo, a igreja procurou relacionar, para com as

mulheres, o modelo de Maria, proposto no evangelho, destacando suas grandes qualidades,

tais como a submissão, a religiosidade, o recato, a virgindade e a maternidade, como

indispensáveis na formação feminina, reforçando assim a inferioridade de gênero. Assim, a

partir da representação de Maria se constituiu um modelo de personificação do ideal feminino

católico, o que gerou uma limitação à individualidade dessas mulheres, pois estavam cercadas

de valores contrários e se submetendo por séculos aos modelos de Maria.

As boas qualidades de Maria representaram um desenvolvimento psíquico

feminino cercado de longa inconsciência e reduzida formação de personalidade o que

dificultou plenamente na conquista da liberdade e individualidade das mulheres, as quais

viviam cercadas pela consciência masculina e moldadas em estruturas patriarcais. (KASSEL,

1983, p. 120)

Dessa forma, para compreendermos mais profundamente a influência do

catolicismo nas condições de vida da mulher e em relação às lutas feministas por direitos,

analisaremos a seguir a forma como a Igreja Católica se posicionou em relação a esses temas.

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CAPÍTULO 2 - MARIA E AS MULHERES

É especialmente na Bíblia, mais especificamente nos Evangelhos, que

encontramos a personagem Maria e as raízes de seu simbolismo. Porém, não é apenas a partir

dos Evangelhos que a figura de Maria adquire a força que vemos hoje, sua imagem foi

construída historicamente pela ideologia defendida pela Igreja Católica.

No texto Bíblico ela é a Mãe de Jesus de Nazaré, que para os evangelistas trata-se

do Messias. Sendo assim, ao reconhecer Maria como mãe de Jesus, com o tempo a Igreja

passou a venerá-la e cultuá-la como modelo de mulher e de mãe de família.

Nos primeiros séculos do Cristianismo, os padres da igreja sempre mantiveram

reservas em relação ao culto mariano, (BOFF 1998 apud LEMOS, 2006, p 94) tanto que ele

se desenvolveu tardiamente. Com o contato constante entre cristãos e pagãos, temia-se uma

contaminação da devoção Mariana pelas práticas religiosas das grandes deusas.

No século V, criaram-se santuários dedicados a Maria e assim a adoração se

propagou e encontrou acolhida particularmente pelas mulheres. (LEMOS, 2006, p. 94) Assim,

podemos perceber que a veneração mariana surgiu de forma cautelosa e foi disciplinada aos

poucos pelo magistério da Igreja, com a tentativa de diferenciar do culto pagão das deusas e

no decorrer dos séculos a concepção de maternidade sagrada de Maria foi lentamente

constituída.

Na visão que procuraremos transmitir nesse capítulo, a religião, enquanto

elemento de representação pode fornecer a simbologia necessária para contribuir com a

organização e manutenção da vida social e, no caso que analisamos, a simbologia presente na

tradição cristã subsidia a ênfase da função da maternidade na mulher, a partir da figura de

Maria. (LEMOS, 2006, p. 93)

Na tradição católica, a imagem de Maria, virgem e mãe, se tornaram um exemplo

e uma necessidade primordial para o ideal feminino. Assim, a ideologia é de que o feminino

primordial é experienciado de forma virginal-maternal. Devido a isso, a maternidade divina

de Maria é o dogma mais comum entre as igrejas cristãs em virtude da base bíblica.

De acordo com a concepção medieval do mundo, a maternidade era tão

importante como o casamento e dar á luz e criar filhos eram as tarefas principais das mulheres

casadas (LEMOS 2006, p. 96). Com isso, o oficio doméstico é destinado à mulher como

forma de aceitação social e a partir dessa imposição, pode se reconhecer melhor a submissão

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existente, já que esta era a única maneira possível de conviver socialmente. Assim foi gerada

a aceitação do papel de esposa e mãe como única possibilidade de existência.

O lugar mítico da Virgem Maria insere a mulher na maternidade, construindo o

consenso do instinto maternal. O ideal de Maria é a maternidade imaculada ou a des-

sexualização do corpo feminino. Podemos destacar então dois modelos que ao longo do

tempo, vêm enquadrando a percepção social das mulheres. Estes modelos são representados

por duas mulheres centrais na tradição católica, Eva e Maria, que possuem características

antagônicas.

Na Igreja Cristã, Eva foi feita a partir de uma costela de Adão para que o homem

não ficasse sozinho. No entanto, ela simboliza a tentação, o pecado da carne, o desejo de sexo,

responsável pela perda do paraíso terrestre. Em contrapartida, a Igreja constrói uma outra

identidade feminina mítica, a Virgem Maria – Mãe de Cristo, Mãe da Igreja, Mãe dos pobres

e infelizes. As mulheres irão alcançar a salvação ao acatar o ideal de feminilidade de Maria,

tendo apenas a função de procriar, assumindo o lugar da maternidade e o lugar de Mãe.

A narração relativa a Adão e Eva representa as origens do pecado, que é visto

como um mau uso da liberdade humana, enquanto que a graça e a virtude espelham o poder

de resistir ao pecado. Maria redime Eva através da sua obediência e através desta possibilita a

salvação do mundo.

No entanto, Maria foi exemplo único do seu tipo, pois, todas as outras mulheres

são consideradas filhas de Eva, tendo Maria um estatuto singularizado. Inevitavelmente, as

mulheres são identificadas com Eva, uma vez que a Mãe de Cristo, devido à sua natureza

imaculada (dar à luz uma criança continuando virgem) se afasta da experiência das mulheres,

daquilo com que podem ser identificadas. Assim, poderemos apontar Eva como aquilo que a

Igreja define que a mulher é, e Maria como um modelo de virtude que a mulher deveria ser. A

essência feminina está então ligada à primeira mulher, aos Mitos da Criação, e do pecado

original. A história da Criação então aparece ao longo do Cristianismo como justificadora da

submissão da mulher face ao homem.

De acordo com as concepções do cristianismo, as figuras de Eva e de Maria são

paradigmáticas de como a religião contrapõe as mulheres segundo a forma como elas

vivenciam sua sexualidade. Eva, por ter vontade própria, representa a perda do paraíso, e

Maria simboliza a submissão e a obediência, o que justifica ter se tornado detentora de todas

as graças divinas. Com isso, a ambigüidade destas construções teológicas sustenta

principalmente a repressão sexual das mulheres e assim definindo o lugar que elas devem

ocupar na sociedade e na Igreja. (TOMITA, 2006, p. 153)

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A opinião de Agostinho de que as mulheres se acham mais proximamente ligadas ao corpo corrompido do que os homens torna subordinação delas aos homens ao mesmo tempo natural e louvável. Em seu elogio da ordem atual, Agostinho trata as mulheres como existentes exclusivamente para os homens. (SCHOTT, 1996, apud LEMOS, 2006, p. 96)

O alicerce da teologia foi forjado nos primeiros séculos do cristianismo, tendo em

especial como principal referencia, os padres Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino, cujas

suas concepções teológicas foram muito influenciadas pela filosofia de Platão e nos cultos

órficos gregos da época, pela associação entre pureza e verdade, cuja nesta filosofia, a

imagem das mulheres estavam associadas ao corpo e à sexualidade, devido á sua função de

gerar vidas, alem de serem desprezadas por serem portadores dos perigos eróticos, e

consequentemente a desestabilizadora da razão. No entanto, as idéias da culpa feminina pela

desgraça da humanidade, no ato da criação são claramente enunciadas na teologia dos padres

da Igreja.

Santo Agostinho fez uma clara separação entre o corpo e a alma, embora não

considerasse a sexualidade como algo de imperfeição, adotando uma perspectiva hierárquica

ao afirmar a superioridade da alma espiritual em relação ao corpo, onde os homens,

identificados como alma, dominam as mulheres, identificadas como corpo, reforçando a

instituição de uma hierarquia de gênero. Já Tomás de Aquino, não se preocupou tanto com o

corpo, mas com o controle exercido pela razão, sendo o precursor do racionalismo e

desenvolvimento das ciências naturais no mundo cristão. (SCHOTT, 1996 apud TOMITA,

2006, P. 151-152). Em seu tempo, o ascetismo já era uma idéia amplamente difundida no

meio cristão e postulou aos poucos a afinidade das mulheres com a atividade racional e sua

natureza biológica inferior. De acordo com seu pensamento, a mulher é resultado de um

contratempo no momento da reprodução, ou seja, quando a força ativa que produz o ser

humano é atingido, um ser diferente é produzido, denominado como mulher, sendo

considerada um macho mal formado ou ocasionalmente defeituoso, porém necessárias para

atender a natureza reprodutiva.

(BORRESEN, 1979 apud TOMITA, 2006, P.152)

O pensamento de Santo Agostinho contribuiu para reforçar a idéia de

inferioridade feminina diante do masculino e que as mulheres existem exclusivamente para os

homens e em função deles. Esse preconceito de que as mulheres devem existir em função do

homem foi uma característica marcante de sua obra, e para os padrões medievais esse

pensamento foi fortemente aceito.

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Na história do cristianismo as mulheres eram consideradas importantes por causa

de seu poder de persuasão, mas ao mesmo tempo eram vistas como inferiores e deveriam ficar

submetidas à tutela masculina. Neste sentido, a representação mariana foi utilizada como

elemento estimulador da ação feminina, porém dentro dos parâmetros impostos pela Igreja

Católica.

Agostinho ao elaborar suas obras, conseguiu erigir argumentos que distanciassem

a mulher de suas capacidades intelectuais, sendo, portanto, passíveis de serem controladas

pelos homens, os quais eram considerados detentores legais do poder sócio-político

reforçando cada vez mais a subordinação e inferioridade do gênero feminino. (SCHOTT,

1996, apud LEMOS, 2006, p. 97)

A visão católica sobre a mulher estava ancorada na mitologia do Jardim do Éden,

na qual a mulher seria a responsável pela desobediência de Adão a Deus e, por isso,

culpabilizada pela queda da humanidade. Portanto, Eva simbolizaria a fraqueza feminina e

demonstraria a importância de manter as mulheres sob vigilância. Nesta percepção, as

mulheres deveriam pagar as penas de Eva assumindo as dores do parto e o seu papel

naturalmente secundário em relação ao homem.

A doutrina do pecado original e da graça foi elaborada por Santo Agostinho nas

primeiras décadas do século V e, segundo ela, embora Eva não seja responsável pela queda,

continua sendo a tentação ou veículo para o pecado. De acordo com sua concepção, se a

mulher tivesse devidamente permanecido subordinada ao homem, os seres humanos não

teriam sido excluídos do paraíso. Com isso, para ele, assim como a subordinação das

mulheres contribuiu para os homens conseguirem autocontrole, a insubordinação das

mulheres exprime o desejo dos homens de transgredir e necessitar de castigo. (LEMOS, 2006,

p. 97)

No processo da concepção e maternidade, Maria foi quase sempre recebendo

destaque em contraposição à figura de Eva. No século XII, observou-se um grande impulso de

elevação das virtudes de Maria mãe e virgem e, com isso, muitas foram às especulações

surgidas acerca da natureza, identidade e virtudes de Maria, desejando comprovar a

maternidade virgem da mesma.

Sobre a devoção do culto mariano, Tomás de Aquino idealizou o ascetismo tendo

como base a virgindade feminina, como um modelo de superação de sua natureza

pecaminosa. A partir desse contexto, aumenta gradativamente o culto a Maria, com a

glorificação da virgindade, elevando a posição das mulheres, embora aumentando as bases

para sua subordinação, pois o afastamento dos desejos carnais, atribuídos às mulheres, era

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uma forte arma contra o pecado de Eva. Como conseqüência dessa mentalidade, levou

definitivamente à compreensão de que o sexo era permitido, pelos representantes da igreja,

somente para a procriação. (LEMOS, 2006, p. 99)

De acordo com as concepções da maternidade de Maria, pode-se perceber que só

foi sagrada porque possibilitou a revelação de Deus, que é Pai ou Filho, portanto masculino.

Assim, essa concepção foi reforçada pelos dogmas marianos, dogmas estes criados à medida

que a Igreja Católica sentia necessidade de enfrentar algum problema de fé e de adesão à

doutrina.

No caso da maternidade de Maria, o fato da mulher ser uma criatura sujeita ao

pecado, tornava-se um obstáculo para a concepção de uma maternidade perfeita, o que

dificultava a adesão dos fiéis. Assim o problema foi resolvido pelo magistério da igreja,

quando o Papa Pio IX atestou em 8 de dezembro de 1854, que no momento de sua concepção,

a mãe de Jesus havia sido preservada e isenta de toda mancha do pecado original, surgindo

assim o dogma da Imaculada Conceição. (LEMOS, 2006, p. 100)

O dogma da Imaculada Conceição, declarado pelo Papa Pio IX, defendia a

doutrina segundo a qual a beatíssima virgem Maria, no primeiro instante de sua concepção,

por graça e privilégio de Deus, em vista dos méritos de Jesus Cristo, foi preservada imune de

qualquer mácula de culpa original, sendo revelada por Deus. (BINGEMER, 1991 p. 115) A

formulação dogmática deixa entrever um conceito de pessoa humana integrada e unificada.

Não é somente a alma de Maria que é preservada do pecado e da oposição ao desígnio de

Deus, mas toda sua pessoa é penetrada e animada pela vida divina, e sua corporeidade, que

abriga o espírito de Deus, sendo o fruto sem mácula da criação divina.

A corporeidade feminina que durante séculos foi entendida por muitos segmentos

da Igreja como causa do pecado original – relatado em Gênesis e sujeito a interpretações

ambíguas – é reabilitado pela Igreja católica ao declarar que o pecado não provinha

primeiramente da mulher, mas sendo de fato pecado de toda humanidade. Assim, através do

corpo feminino, o Deus Criador realizou e obteve realização da plenitude de suas maravilhas,

e a partir disso a humanidade pode perceber a vocação e o destino da mulher.

Maria, sendo uma fiel Israelita, que glorificava as maravilhas e obras do Senhor,

ao ser reconhecida, como produtora de vida, foi considerada o protótipo do povo de Deus,

demonstrando nitidamente sua gloriosa vocação.

Maria, nesse caso, passa a ser assimilada como protótipo de criatura feminina pela

Teologia Católica. Através de sua condição natural, pode anunciar a grandeza de sua vocação

e a possibilidade de sua plena realização. Assim, o milagre e o mistério de sua criação

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referem-se diretamente para quem a criou e que se revelou como Pai amoroso, criador do Céu

e da Terra e quem a revelou como Mãe que dá a luz ao filho de Deus. (BINGEMER, 1991, p.

116)

O papel da mulher se construiu socialmente através de toda concepção religiosa

pregada pela tradição cristã. Se Eva, pelo seu pecado, recebeu a penitência de sofrer dores e

de ser dominada pelo homem, a mulher que desobedeça às ordens humanas e de Deus

receberá o mesmo castigo; ao contrario do discurso de Maria, que a apresenta como serva de

Deus, humilde, boa mãe, esposa dedicada, será o exemplo a ser seguido por todas as

mulheres. Percebe-se entre a maior parte dos teólogos uma visão negativa do gênero

feminino, entendendo-o como de natureza perversa e mais propensa ao pecado do que o

gênero masculino. Sendo assim, era prescrito às mulheres permanecerem sob a tutela

masculina.

A passagem da criação na Bíblia, em especifico em Gênesis, mostra que Eva

nasceu de uma costela removida de Adão e nesta mesma história as mulheres foram

sacrificadas devido à desobediência de Eva. Este mito tem sido responsável pela

representação teológica das mulheres onde Eva simbolizaria a fraqueza feminina e

demonstraria a importância de manter as mulheres sob vigilância. Nesta percepção, as

mulheres deveriam pagar as penas de Eva assumindo as dores do parto e o seu papel

naturalmente secundário em relação ao homem.

O imaginário católico foi e é permeado por estas idéias provenientes deste mito

fundador o que colocou as mulheres dentro da instituição em lugares determinados e em

situação de submissão em relação à autoridade masculina. Entretanto, Eva não é a única

representação feminina no catolicismo, outras figuras são recorrentes, como Madalena e

Maria.

No caso de Madalena durante muito tempo a sua representação estava associada à

pecadora arrependida, o que reforçava a idéia de que as mulheres eram mais propensas ao

pecado. No caso de Maria encontramos a salvação do feminino colocando-a como co-

participante da redenção da Humanidade.

A expressão cristã da ‘Grande Mãe’ dada a Maria, manifesta a separação e

individualização entre duas tendências psíquicas correlatas, da figura de Eva e de Maria. Da

figura de Maria, foi separado o aspecto destrutivo da Grande Mãe, sendo Mãe bondosa,

providente e consoladora, cujo aspecto sombrio foi transferido para a figura de Eva. Assim,

modificaram-se as estruturas, passando Eva a ser pessoalmente responsabilizada pela sedução

do homem para o pecado. Dessa forma, o arquétipo de Eva submergiu no inconsciente dos

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cristãos e foi projetado rapidamente nas mulheres, onde a imagem de Eva estava baseada na

sedução sexual feita ao homem. Pode-se compreender nesta ideologia, o motivo pelo qual a

mulher foi considerada por muitos anos, pelos Padres e pelos homens de Igreja, como

armadilha do mal. (KASSEL, 1983, p. 115)

Eva, porém, foi suavizada por Maria e pode satisfazer o anseio masculino em se

amparar sem temor no feminino e Maria pode tornar-se a consoladora dos aflitos para as

mulheres desvalorizadas e mantidas na insignificância.

Todo o reconhecimento de Maria, como a Mãe de Jesus, tem sido uma figura

histórica de importância por ter suas raízes na Bíblia e, devido a isso, se tornou, também na

tradição da Igreja, a figura simbólica que representaria o ideal feminino. (HALKES, 1983, p.

100). Assim, Maria se torna para a Igreja uma figura do divino em imagem feminina marcada

pelo paradoxo de ser altamente valorizada, mas subordinada.

Através de gerações, perpassa um hábito psíquico na formação da mulher que tem

suas raízes baseadas em uma cultura patriarcal e teológica. O modelo de Maria esteve

fortemente presente na concepção de mulher cujas boas qualidades deste modelo constituíam

o ideal feminino na doutrina tradicional, no “catolicismo” e na própria sociedade.

As religiões de tradição judaico-cristã são conhecidas por exercerem uma moral sexual rígida, principalmente em relação às mulheres, cuja sexualidade tem sido dirigida ao serviço ao outro e à maternidade. O cunho patriarcal dessas religiões até hoje nos surpreende pela rigidez com que procurou controlar o corpo e a sexualidade das mulheres [...] (TOMITA, 2006, p. 150)

Durante a história do catolicismo, Maria é entendida como modelo de mulher por

sua submissão, religiosidade, virgindade e castidade que se torna um modelo e reforça a

inferioridade do gênero feminino, ou seja, devido a essa representação, a mulher se submeteu

por muito tempo a uma reduzida formação de personalidade já que estavam fortemente

marcadas pela doutrina Católica, pela consciência masculina e moldadas em estruturas

patriarcais.

Através de Maria, a Igreja explora a possibilidade de a mulher sair da sua

condição pecaminosa descendente de Eva. Esta possibilidade é dada através de um modelo

idealizado em que figura: a mulher como mãe, como esposa e como virgem, realçando a

maternidade e a virgindade. A “relevância destas duas características está bem presente no

modo como é nomeada a figura de Maria “Mãe de Jesus” e ” Virgem Maria” .

As questões da maternidade e procriação assumem em Maria particular

significado, o que leva à conseqüências práticas para as próprias mulheres no que diz respeito

aos seus papéis no lar e na sociedade. O discurso da Igreja Católica apresenta Maria realçando

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a possibilidade da maternidade e determinando assim, quais os papéis socialmente desejáveis:

mãe e esposa. O papel social da mulher identifica-se, pois, com a maternidade o que a remete

para o domínio do lar e do privado por oposição ao homem que se situa na esfera pública.

O mito de Maria, ao invés de promover a igualdade entre as mulheres e os

homens, impediu as mulheres de se tornarem plenamente independentes, como seres humanos

integrais. Assim como o mito de Maria esteve fortemente ligado pela concepção de ser “mãe

de Deus” e pela idéia de procriação, reduziram-se as mulheres somente à capacidade

biológica de gerar filhos. (TOMITA, 2006, p. 153)

A figura de Maria representa a ambigüidade da construção da identidade das

mulheres, pois foi mãe e virgem ao mesmo tempo. O sexo se tornou motivo de ocultamento e

que cai em ambigüidade na contraposição entre Eva, a pecadora, e Maria, virgem e mãe

redentora. (TOMITA, 2006, p. 153) Contudo, Maria era entendida como que uma antítese a

Eva, não era por acaso que muitos se referiam a Maria como a Segunda Eva, ou seja, a

renovação do elemento feminino na humanidade.

Não obstante a sua positividade como modelo feminino, Maria se configurava

como uma exceção sendo concebida sem a mácula do pecado original cuja sua maternidade

assexuada também é outro elemento que a poupou do destino das outras mulheres. Neste

sentido, Maria tornou-se um modelo inatingível às outras mulheres, ressaltando a

inferioridade do restante do gênero feminino. Assim a representação de Maria gerou a

ambigüidade no ocidente cristão, pois se Maria adquiriu as dimensões de mito, apesar de ser

mulher, a sua representação modelar reforçava a submissão e a inferioridade feminina.

Para TOMITA, Nossa Senhora era uma figura polivalente que se apresentava com

muitas aparências e se constituía em modelo feminino da Igreja, tornando-se, com o tempo, a

personificação do ideal feminino católico. Por isso, no decorrer dos séculos esta representação

sofreu mutações, adequando-se às novas circunstâncias impostas pela sociedade. Não obstante

a representação de Nossa Senhora ter sido apresentada pelos discursos religiosos como eterna

e imutável, despojando-a de seu caráter histórico, podemos perceber as mudanças de

significados e de interpretações no decorrer de sua existência. (2006, p.153-154)

Da mesma forma podemos observar a mensagem dúbia que este modelo

divulgava. Se, por um lado, Maria era uma das poucas figuras femininas que assumiu as

dimensões de mito no ocidente cristão, por outro, esta representação modelar reafirmava a

submissão e a inferioridade feminina, por lembrar às fiéis que era impossível alcançá-la. De

certa maneira, a representação de Nossa Senhora demonstrava, com propriedade, a relação

que a Igreja Católica mantinha com as suas fiéis.

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Todo contexto histórico referente à Maria, foi desenvolvido e mitificado desde

cedo pela tradição cristã. Criou-se para Maria, a imagem de mãe virginal repleta de

humildade, submissão, obediência a Deus e digna de ser escolhida como “Mãe de Deus”, e

sendo descrita principalmente na ênfase da “virgem pura” durante toda sua vida, sendo sua

virgindade declarada anterior, durante e pós-parto.

Com toda ideologia de Maria, gerou-se o ideal de mulher diante dos conceitos

cristãos. A maternidade se tornou a vocação de todas as mulheres, pois ao submeter a natureza

e o corpo à mente e ao espírito, fez com que as mulheres, devido a sua natureza, se

submetesse aos homens estando sempre a “serviço” deles. Assim, este critério de

subordinação, fez com que as mulheres não somente fossem dependentes dos homens, mas

também de sua natureza, não sendo permitido assumir o controle de seus processos

biológicos, como é nitidamente evidenciada na posição oficial da Igreja Católica em relação

ao controle da natalidade e ao aborto, e sim estar destinada a procriação e restringida aos

desejos e prazeres sexuais.

No entanto, todas as qualidades psicológicas associadas à maternidade, tais como

amor, nutrição, intuição, compaixão, cuidado, são associados a qualidades femininas, que as

levaram não apenas ao afastamento da vida pública, como também a uma privatização dos

valores cristãos. (TOMITA, 2006, p. 154).

A contraposição entre Eva e Maria, permite verificar que, apenas a mulher sem

libido, sem desejos, como Maria, possui lugar dentro da religião patriarcal, pois o desejo é

sempre ocasionado do pecado e de desobediências às normas patriarcais. Já que Eva, por ter

desejos e comer do fruto proibido, realizou a desobediência e por isso foi castigada, o papel

da religião cristã, seria de reprimir o desejo das mulheres. O sexo, para as mulheres, tornou-se

estreitamente ligado ao pecado, de forma que todas as atividades sexuais que não tivessem a

finalidade reprodutora fossem consideradas pecaminosas e, por fim, rotuladas como pecado

mortal. (TOMITA, 2006, p. 155)

No plano institucional, muito se observou o ideal feminino paralelo com Maria,

cujas mulheres deviam se identificar com o protótipo estabelecido pela Igreja e aprovado pela

sociedade machista. O afastamento dos desejos carnais atribuídos às mulheres, por exemplo,

seria uma forma de distanciar do pecado e aproximar as virtudes de Maria. Essa nova

mentalidade reforçou definitivamente sobre as mulheres a concepção de que o sexo era

permitido somente para a procriação gerando assim, a repressão ao desejo sexual e a devoção

das mulheres para com Maria. Pode-se dizer, portanto que figura feminina de Maria serviu

como uma estratégia da Igreja para manter o seu poder social. Neste sentido, a representação

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feminina foi construída como o esteio moral do lar e para isso a representação de Nossa

Senhora era modelar.

A concepção da maternidade se configurou ao longo dos anos e o modelo de mãe

exemplar se consolidou em uma ideologia que passou a exaltar o papel natural da mulher

como mãe, atribuindo todos os deveres e obrigações na criação dos filhos, limitando assim a

função social feminina à realização da maternidade. A representação de mãe perfeita,

carinhosa e generosa esteve fortemente reforçada no campo religioso, em específico, nas

crenças e práticas que ocorreram no espaço da tradição cristã e consequentemente na

formação da sociedade machista da época, cuja presença de Maria demonstrava o protótipo da

maternidade.

As mulheres, ao adotarem as boas qualidades de Maria, dando ênfase ao estado

virginal, submeteram-se a uma desvalorização de sua sexualidade, devendo viver o ‘eterno’

arquétipo da virginal ‘Grande Mãe’. O desenvolvimento psíquico feminino então, se fixou em

uma longa inconsciência e um reduzido desenvolvimento de sua personalidade. Ao viverem

nesta concepção dogmática do cristianismo, as mulheres passaram a formar sua mentalidade e

identidade em torno do modelo representativo de Maria. Assim, Maria passou a ser

claramente uma figura de identificação na qual deveriam se espelhar, onde a finalidade de ser

mulher era torna-se uma figura semelhante ao modelo estabelecido.

O cristianismo, ao pregar a idéia da renúncia e sacrifício como fundamentais para

a manifestação correta da fé, definiu o papel feminino em ser “seres para o outro”, para servir

tanto no sentido material como também sexual, gerando o comportamento ideal da mulher

diante da igreja e de uma sociedade marcada por traços ocidentais patriarcais. Diante disso,

toda a formação psíquica da mulher estava submetida aos padrões estabelecidos, cuja sua

identidade deveria estar ligada à imagem e representação de Maria. (MAECKELBERGHE,

1989, p.130)

A representação de Maria, presente na Igreja Católica reforçou o significado do

feminino para o desenvolvimento humano, sendo um fator positivo em uma Igreja marcada

pela consciência masculina e moldada por estruturas patriarcais, onde a psique masculina,

diante deste contexto, não perdeu a sua ligação com a origem do feminino primordial, sendo a

mulher importante, pois é a fonte que gera a vida.

Em relação ao pensamento masculino diante do feminino, observa-se o feminino

principalmente no arquétipo da Grande Mãe. Para os homens, Maria significa o ‘outro’ que

não tem semelhança com o homem e consequentemente não poderia ser uma figura de

identificação. Assim, na visão masculina, a imagem de Maria tornou-se normativa e

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apresentada às mulheres como modelo, seguindo as concepções de uma sociedade patriarcal

que pretendia dominar as mulheres até mesmo na capacidade de sentimento.

Assim, com essa ideologia baseada na imagem de Maria, a Igreja Católica

contribuiu para a manutenção do preconceito contra a emancipação da mulher, dificultando

ainda mais as lutas femininas que apresentamos no primeiro capítulo. Além de lutar pelos

seus direitos como cidadãs, as mulheres precisaram lutar para modificar sua imagem diante da

sociedade, contestando valores atribuídos tanto pelo pensamento iluminista e burguês como

pelo pensamento religioso.

Os conflitos daí surgidos marcaram profundamente a história das mulheres e se

tornaram temas de estudos históricos, cujo enfoque são as diversas formas de contestação

cultural e comportamental que a mulher desenvolveu para poder expressar livremente seu

pensamento, suas habilidades e sua sexualidade.

Nesse sentido é importante verificar (o que faremos no próximo capítulo), na

própria palavra das mulheres atuais, qual a importância que Maria ainda tem na vida das

mesmas e qual o significado das vitórias que as mulheres obtiveram em suas lutas por maior

autonomia e liberdade.

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CAPÍTULO 3 - PERMANÊNCIA OU TRANSFORMAÇÃO NA

CONDIÇÃO FEMININA ?

A concepção cristã, defendida pelo catolicismo, por muito tempo conservou

presente um protótipo de mulher, estando este diretamente ligado à representação de Maria,

que procurou impor às mulheres católicas a assimilação desse modelo, que as fazia sempre

submissas em relação ao comportamento do homem, evidenciando claramente as

desigualdades de gênero. Porém, muito têm se observado as grandes mudanças no

comportamento sócio-cultural da mulher nos dias atuais, as quais levantam muitas questões

tanto para os que estudam a teologia quanto para a sociedade.

A revolução no comportamento das mulheres tem sido uma grande temática, já

que muito se observa as alterações tanto em sua educação e profissionalização, como em seu

comportamento sexual. De fato, as mulheres têm buscado cada vez mais se igualar na escala

de posição de gênero, criando sua própria identidade, se tornando independente em relação

aos padrões sociais e vivendo com liberdade cada vez maior suas opções de vida.

Porém, nos perguntamos até que ponto ainda se encontra presente toda a

concepção de Maria nas particularidades do comportamento do sexo feminino?

A sociedade atual encontra-se em um processo de mudanças sócio-culturais,

principalmente na condição feminina, cuja alteração fundamental se dá na concepção da

maternidade, à qual esteve diretamente ligada, ao longo dos séculos, a exploração da mulher.

Essas mudanças atingem inclusive as relações que se dão nos espaços de intimidade.

As transformações pelas quais se desenvolvem os padrões de maternidade, nos

últimos trinta anos, devem ser pensadas em conexão com esses processos sociais e com a globalização econômica, a qual contribuiu para acelerar a difusão de novos padrões de comportamento e consumo. (LEMOS, 2006, p. 102)

Entre as mudanças ocorridas observa-se a maior explicitação de diferentes formas

de composição familiar, cujas configurações acompanharam também um crescente consumo

de tecnologias reprodutivas (contraceptivas e conceptivas), que ofereceram às mulheres, a

partir da década de 60 em diante, a possibilidade de escolher a realização da maternidade,

possibilitando maior autonomia em relação a como administrar seu corpo, sua sexualidade e

seus direitos reprodutivos.

A entrada da mulher no mercado de trabalho, o acesso à educação formal e à

formação profissional, também se encontraram associadas ao processo de transformações

sócio-culturais, no entanto, pouco se fala nas desvantagens representadas para as mulheres no

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que se refere às obrigações e responsabilidades concernentes ao papel social da maternidade,

já que, ao mesmo tempo em que as mulheres assumem as responsabilidades próprias dos

novos lugares e papéis sociais que desempenham, mantêm-se ainda na responsabilidade

incondicional da criação dos filhos. ( LEMOS, 2006, p. 103)

No Brasil destaca-se, diante do contexto de transformações, o grande impacto

causado pela entrada em cena dos diferentes métodos anticoncepcionais que causaram

modificações na família e no padrão vigente de maternidade, devido à diminuição abrupta da

natalidade, cujo numero de filhos por mulher passou de 4,5 em 1980 para 2,5 em 1996, por

meio de uma intensa política de controle demográfico e com a generalização da flexibilidade

na escolha pela maternidade. (MORAES, 1994; ROMANELLI, 2005; SORTI, 2005; apud

LEMOS, 2006, p .104)

Considerando os outros aspectos da família brasileira, pesquisas realizadas nos

últimos anos identificam novos arranjos familiares, tais como famílias menores e o aumento

significativo de mulheres que assumem o papel de ‘chefes de família’, porém participando

cada vez mais do mercado de trabalho, desafiando as convenções sociais e conciliando a vida

profissional com a vida familiar.

Com o avanço dos contraceptivos e até mesmo as desigualdades sociais que

vigoram no país, a experiência da maternidade na sociedade brasileira encontra-se em

processo de mudança, oferecendo uma diminuição na composição familiar, além da variedade

de tipos de mães, tais como mães dona de casa, mães chefe de família, mães ‘produção

independente’ e, até mesmo, as diversas soluções encontradas para os cuidados das crianças,

dentro os quais escolas com tempo integral, creches publicas, babás, escolinhas

especializadas, entre outras.

Percebe-se que a maternidade se transformou tanto nas pressões demográficas,

natalistas ou controlistas como nos diferentes desejos e opções de cada mulher. Contudo,

essas modificações da maternidade como escolha, abrem a possibilidade de se pensar na

questão familiar como passível de indagações e negociações, permitindo a emergência de uma

nova identidade marcada pela separação da sexualidade com a reprodução, desconstruindo a

equação elaborada durante muitos anos pela tradição católica: mulher = mãe. (LEMOS, 2006,

p. 105)

A Mariologia (estudos teológicos que tem como tema central a figura de Maria)

tradicional fala de Maria em termos femininos, idealizando-a a partir de certas qualidades

ditas femininas, porém vistas segundo a ótica masculina, sendo anunciada nos evangelhos

como a grande serva, sendo um forte instrumento ideológico de reverência ao papel da

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maternidade da mulher sujeita aos desejos masculinos. Assim, é importante considerar o

grande peso dado à figura de Maria na concepção da maternidade humana.

No entanto, a modernidade ofereceu às mulheres condições mais adequadas para

que tomassem consciência de seus direitos e se empenhassem também em defendê-los com

mais intensidade, fato que gerou maior autonomia em sua vida prática, mudando

consequentemente o modelo da maternidade pregado por muito tempo, através do protótipo

de Maria, pela concepção católica. (LEMOS, 2006, p. 109-110)

Ao considerar as transformações no modelo de maternidade devido à redução do

número de filhos e até mesmo pela flexibilidade de escolha em ser mãe, encontra-se a

ambigüidade nas transformações comportamentais femininas no aspecto profissional e

familiar, ou seja, ao saírem do âmbito familiar e assumirem sua vida profissional, o que

significou autonomia e liberdade diante da tradicional submissão vivida por elas, a mulher

precisou duplicar seu esforço para conseguir realizar suas atividades com igual eficiência. Por

outro lado, muitas mulheres, considerando essa situação, passaram a assumir a

responsabilidade de mulher na vida privada, aceitando cuidar dos filhos de maneira

indispensável e exclusiva, o que para as feministas significa um retrocesso em relação às

transformações antes acontecidas, já que se submetem aos padrões tradicionais pregados pela

ideologia católica e pela sociedade machista.

Contudo, devemos considerar que a mulher está ligada não somente a conceitos

sócio-culturais da maternidade, mas na simples questão natural e biológica de ser “a

progenitora”, não se desligando totalmente do protótipo de Maria.

A atuação da Igreja em relação às mulheres foi, por muito tempo, a de retrair a

sexualidade feminina, usando como contraponto a idéia do homem superior ao qual cabia o

exercício da autoridade. Todas as mulheres carregavam o peso do pecado original e, desta

forma, deveriam ser vigiadas de perto e por toda a vida. Tal pensamento, crença e “medo”

acompanharam, e talvez ainda acompanhem a evolução e o desenvolvimento feminino.

Assim, Até o século XVII, só se reconhecia um modelo de sexo, o masculino. A mulher era

concebida como um homem invertido e inferior, desta forma, entendida como um sujeito

menos desenvolvido na escala da perfeição metafísica. No século XIX a mulher passa de

homem invertido ao inverso do homem, ou sua forma complementar.

As questões da desigualdade de gênero, da hierarquia sexual e do lugar social da

mulher têm sido longamente debatidas no quadro do papel determinante da Igreja Católica e

do Cristianismo. É usual uma argumentação que tem por base a noção de que o Cristianismo terá

sido (ao longo dos tempos) fundamental na definição do lugar reservado à mulher, não apenas no

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interior da Igreja, mas no contexto mais vasto da sociedade e da cultura ocidentais. No entanto,

embora a Igreja Católica tenha reprimido as mulheres no patriarcado e sob o modelo feminino

impedindo-as de se desenvolver e de criar sua própria identidade se individualizando, o

surgimento dos movimentos feministas a partir da década de 1960, forneceu subsídios ao

gênero feminino que possibilitou uma autonomia em relação a como administrar seu corpo,

sua sexualidade e seus direitos reprodutivos, assim como também forneceu a busca pela

igualdade de gênero.

Referente ao campo religioso, este por sua vez não ficou imune às mudanças que

estão ocorrendo nas famílias com reflexos na concepção de maternidade. Segundo Geertz, a

religião “pode estabelecer poderosas disposições e motivações nos seres humanos através da

formulação de conceitos de uma ordem de existência geral” (GEERTZ 1989, apud LEMOS,

2006, p. 105), no caso das mulheres, ela permanece procurando desempenhar o seu papel,

buscando oferecer uma nova roupagem às concepções de maternidade humana que se

relacionem com a concepção de maternidade de Maria. Nesse sentido, a Igreja, procura estar

apta a intervir tanto na definição como nas orientações das praticas maternais.

Assim, a religião pode fornecer a explicação e a justificativa das relações sociais e

até construir um sistema de práticas destinadas a reproduzi-las através da produção Teológica

feminista sobre Maria. (LEMOS, 2006, p. 105)

A Igreja católica continua a tentar interferir de modo expressivo nas

transformações que ocorrem na sociedade brasileira, exercendo sua atuação nas

particularidades da mulher e da sexualidade de maneira marcante. Perdura ainda a imagem

muito forte de Maria, a qual representa a submissão, castidade, sexualidade contida e

maternidade, como elementos essenciais a serem assimilados pelas mulheres de hoje.

Porém, mantém-se ainda a dualidade da imagem da mulher, de um lado como

reprodução constante de Eva pecadora, por procurar seduzir o homem mediante a sua

sexualidade, fato que a desvia do protótipo estabelecido no qual a finalidade da sexualidade é

apenas para a reprodução, assim como ocorreu com Maria, e não para prazeres sexuais.

(AZZI, 1993, p. 112-113)

Portanto, a mulher contemporânea, possuindo grande autonomia sexual, entra em

conflito os valores do Catolicismo, principalmente quanto à figura de Maria, sendo capaz de

reinterpretar as questões referentes à sexualidade, aproximando seus conceitos aos valores da

modernidade.

Ao assumir as mudanças do mundo moderno, neste contexto, percebe-se que as

mulheres desligam-se do modelo pregado pela igreja e passam assimilar a sua sexualidade e a

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importância da virgindade como questões pessoais e não por um sentido teológico e cultural

pregado por muitos anos.

Nesse sentido, a teologia feminista representou um grande avanço nas reflexões

sobre a mulher no campo religioso em geral, e mais especifico no campo cristão, visando

destacar o papel da mulher e entender seus conflitos. No entanto, ainda poucas são as

reflexões sobre a possibilidade de uma nova concepção da maternidade, mesmo quando se

refere à de Maria. Com raras exceções, observa-se destacado em Maria a supervalorização do

‘serviço aos outros’, a disponibilidade ao Deus Pai, os sacrifícios feitos em função da

concretização da missão de Jesus, e a sensibilidade. Mesmo na teologia feminista, com

exceções, essses atributos tem sobrelevado outras características femininas de Maria e,

contudo, pouco se valoriza a sua genialidade como mulher, destacando então apenas o seu

papel funcional de servidão. (LEMOS, Pág.107)

Por outro lado, a teologia feminista também critica o passado e o presente da

Igreja patriarcal, como também colabora para recuperar hoje os mananciais de vida plena da

tradição cristã, influindo para o desenvolvimento de uma nova configuração histórica do

cristianismo. Deste modo, os caminhos bíblicos da Sabedoria, reapropriados numa

perspectiva feminista, são marcos teológicos referenciais de uma vida cristã mais integradora,

centrada em relações mais igualitárias e recíprocas.

A teologia feminista procura ver em Maria, sobretudo à dimensão humana. Em

Maria a mulher foi expropriada. Ao pôr-se na disponibilidade do ato criativo, Maria e com ela

a mulher, é libertada das correntes que a submetiam ao homem e à sociedade. Na sua

disposição ao espírito ela torna-se o protótipo da criação, da arte – o dar à luz em si. Maria

como todos os símbolos religiosos, pode ser vista das mais variadas perspectivas. Maria é ao

mesmo tempo submissa e insubordinada. O movimento das mulheres procura em Maria

marcas em que se apoiar. O feminismo radical, numa estratégia polarizante, procura

conquistar terreno vendo em Maria a deusa das origens.

3.1 As Mulheres de Hoje e sua Relação com os Valores Contidos na Figura de

Maria

Com a proposta de analisar a real influência da representação de Maria para as

mulheres da modernidade e levando em consideração as questões que são fundamentais hoje

em dia tais como a sexualidade e a liberdade feminina, foram realizadas algumas entrevistas

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que discutem a concepção das mulheres diante do modelo representativo de Maria,

evidenciando as permanências e alterações no papel feminino na sociedade e no meio privado.

No contexto da referida pesquisa, deve-se considerar um público de classe média,

com nível médio e superior de escolarização, inserida num contexto social urbano (a cidade

de Morrinhos), marcado pela conjunção de valores interioranos e metropolitanos (pela

proximidade da capital do Estado) e pela influência dos meios de comunicação de massa que

favorecem o comportamento individualista. Todas as participantes da pesquisa receberam

educação religiosa católica desde a primeira infância, sendo filhas de pais católicos, com a

primeira socialização mais conservadora, marcada pelos preceitos morais da sua religião,

ainda que numa segunda socialização tenham assumido uma postura mais liberal em suas

vidas.

Para evidenciar mais claramente a influência do protótipo de Maria nas mulheres,

as entrevistas foram realizadas de diferentes faixas etárias distribuídas em três grupos, sendo o

primeiro com mulheres acima de 50 anos, o segundo a partir de 30 até 50 anos e o terceiro de

15 até 30 anos.

Ao ser analisado o significado da representação de Maria, observa-se a grande

importância que Maria possui para a maioria das mulheres ao que se refere a fé, amparo e

confiança em sua imagem.

Maria representa tudo para mim... Confiança, força, fé... Eu creio muito mesmo nela. Sempre nos momentos difíceis é ela que tem que me socorrer... É como diz a frase: Quando você tá com dificuldade, vai à mãe que ela te socorre. (Entrevista com F. R. S, 53 anos, 10/09/2008)

De fato, A religião, enquanto referência que contribuí para a identificação do

“eu”, da pessoa que cada um é - uma vez que remete a uma origem, a um grupo e a uma

tradição – estrutura os pontos de vista das pessoas.

Na atualidade, mesmo com as mudanças na sociedade e nas concepções de cada

pessoa em relação em como elas vivenciam suas vidas, a Igreja continuou desempenhando

seu papel, embora com concepções mais modernas, como esforço para estruturar a sociedade,

transmitindo o imaginário social de como as mulheres devem vivenciar aspectos como a

sexualidade, maternidade, religiosidade, entre outros. Para isso, continuou de forma

expressiva a propagar a imagem de Maria como o grande modelo, influenciando as mulheres

do mundo pós-moderno.

Maria pela visão da Igreja foi uma pessoa santa, a mãe generosa cheia de amor, bondade e fraternidade. [...] A minha visão sobre Maria é basicamente a mesma, porque todas nós mulheres em nosso íntimo nos espelhamos em Maria para sermos mães e esposas mais perfeitas. (Entrevista com F.M.S, 23 anos, 12/09/2008)

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A globalização supõe mudanças estruturais que afetam a vida cotidiana em geral,

o que influencia a consciência de cada um ao questionar sobre mudanças de valores. Pode-se

observar, no entanto, que a influência das concepções contidas no protótipo de Maria está

mais expressivamente adotada por mulheres católicas que vivenciaram um modo de vida

ligado a concepções e ideologias mais conservadoras, tanto da sociedade como da própria

Igreja.

Eu sigo e considero os valores de Maria. Sempre tentei ser um pouquinho do que ela foi, e acho que as mulheres deveriam ser assim. Elas mesmas perderam o valor delas mesmas. As mulheres mudaram muito. A sexualidade delas virou comércio. Eu sempre tentei passar esses valores adiante. Ah quando eu tenho oportunidade de conversar com as menininhas mais novas eu falo mesmo. (Entrevista com A.G. S, 62 anos, 10/07/2008)

As mulheres viveram durante muitos anos um processo de aniquilação de sua

própria identidade. Os movimentos feministas ofereceram às mulheres uma nova ótica de

mundo, estabelecendo e reconhecendo seus próprios papéis e valores para a sociedade. Nesta

busca por igualdade de gênero, as mulheres além de adquirirem direitos sócio-políticos,

modificaram drasticamente seu comportamento no âmbito familiar e na maneira como

vivenciam sua sexualidade.

Ao analisar as entrevistas, considerando a grande revolução sexual das mulheres,

pode-se perceber que estas estão cada vez mais desligadas do modelo de Maria, pregado pela

Igreja Católica. As maneiras como elas vivenciam a sua sexualidade está mais relacionado

com os próprios valores que adquirem neste aspecto. A mulher segue sua vida segundo suas

particularidades e adotam valores que lhes são pertinentes, podendo então distanciar-se dos

valores passados pela Igreja. Isto pode ser claramente evidenciado pelas mulheres entre 15 e

30 anos que acompanham cada vez mais as mudanças de comportamento social.

Creio que para as mulheres no fundo de seu querer a castidade é importante para o seu ser, mas como são manipulados por uma sociedade que cobra uma atitude menos retraída para assim conquistarem o ‘amor da sua vida’, se entregam aos desejos do corpo e a pressão dos homens. (Entrevista com L.C. S, 23 anos, 15/09/2008).

Assim, percebe-se que valores transmitidos de Maria como a castidade e a pureza

estão cada vez mais extintas.

Hoje em dia a virgindade parece que não tem valor. É como se não valesse nada. Isso tá tão natural. Mas na minha opinião deveria ser valorizado. Hoje tá tudo muito mudado. Deve ser a época ou o pensamento moderno das pessoas. Antigamente os valores era outros. (Entrevista com M.A.C.S. O, 46 anos, 19/09/2008)

De acordo com a maioria das mulheres entrevistadas, a virgindade, considerando

as exceções, não possui o mesmo significado de antes, talvez pelas mudanças culturais que

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refletem na mentalidade de cada indivíduo, ou pela própria busca das mulheres em igualdade

de gênero.

Esses valores de castidade e virgindade não são tão importantes para o mundo de hoje, pois as pessoas vivem uma libertinagem demasiada, mas uma pequena minoria das mulheres, dependendo da família em que foi criada esses valores ainda são importantes, mas pouco preservados. (Entrevista com C.L.C., 29 anos, 15/09/2008)

Diante deste contexto, a maioria das entrevistadas acredita que a liberdade moral,

a falta de fé, a conquista da própria independência, a desestruturação da família e

principalmente a falta de seguimento de alguma religião foram fatores fundamentais para que

as mulheres se distanciassem das qualidades de Maria.

O que mudou para que as mulheres distanciasse dos valores de Maria foi a liberdade excessiva, a modernidade, a busca das mulheres em querer ser iguais aos homens ou até mais que o homem e daí distancia cada vez mais das qualidades de Maria. (Entrevista com M.A.C.S.O., 46 anos, 19/09/08)

Ao relacionar o contexto geral com o particular de cada mulher entrevistada,

percebe-se que a maioria delas busca, talvez por terem sido educadas dentro da religião

católica ou influenciadas pela ideologia cristã, seguir alguns valores que a Igreja prega,

considerando-os em sua própria vida, embora sejam valores assimilados pertinentes a sua

realidade e sua concepção de vida.

Eu acredito que todas as mulheres de certo modo seguem os conceitos de Maria, não todos mais pelo menos aquele que tá mais presente na nossa vida, tipo a maternidade. E o que aprendemos de bom com certeza a gente leva a diante. (Entrevista com F.M.S., 23 anos, 12/09/2008)

Embora as mulheres entrevistadas nas faixas etárias de 15 a 30 anos considerem

as qualidades de Maria em sua vida de acordo com a concepção e identidade que possuem, os

valores mais considerados e seguidos estão entre as mulheres a partir de 30 anos,

considerando os grandes valores de Maria em sua própria vida, como ser boa mãe, boa esposa

e mulher religiosa, e perpassando esses valores para seus filhos.

Eu sigo e considero os valores de Maria em minha vida. Tentei educar meus filhos igual a igreja falava. Procurei ser uma boa mãe, boa esposa, ser religiosa. Sempre procurei levar meus filhos na Igreja. Talvez o que falta é as mães de hoje ensinar seus filhos o caminho da igreja e seguir os caminhos de Maria. (Entrevista com M.F.R., 60 anos, 12/09/2008)

É interessante destacar que, de acordo com as mulheres entrevistadas, aspectos

como a submissão da mulher ao homem é algo que está bastante peculiar, e que tem sido cada

vez mais superada, pois a mulher está cada vez mais buscando sua autonomia objetivando

estar ao lado do homem e não por traz dele. A maioria delas não são mulheres que se

consideram “submissas” aos homens, fato este que é bastante relevante pois justifica que com

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a busca das mulheres por igualdade, as mudanças quebraram valores tradicionalmente

perpassados independente da idade ou dos valores recebidos. Isso significa que, de fato,

questões que colocavam a mulher sujeita ao homem foram quebradas, reforçando uma escala

mais igualitária.

[...] Não acho que a mulher tem que ser submissa, pois hoje em dia existe diálogo, então tem que ser companheiro um do outro. Não se trata de quem manda mais. (Entrevista com L.N.B., 31 anos, 29/09/2008)

Ao relacionar os valores de Maria com as mudanças que vem ocorrendo nos dias

atuais, cujas transformações estão alterando e distanciando as mulheres dos valores e modelos

transmitidos no passado, foram discutidas com as entrevistadas, qualidades que mesmo com

grandes modificações, ainda permanecem nas mulheres de hoje. Segundo a maioria das

entrevistadas, a maternidade é um aspecto, apesar das exceções, que mais prevalece nas

mulheres atuais, onde sentimentos como dedicação, amor, afeto e os valores de ser boa mãe,

buscando sempre assemelhar-se à maternidade de Maria, não perderam espaço mesmo diante

de uma sociedade tão modificada em virtude dos processos tecnológicos e modernos. O

desejo que mais aflora no íntimo de cada mulher é o de ser mãe, e isso faz com que elas

estejam inteiramente ligadas ao modelo de mãe que Maria representa.

Acho que o maior valor de Maria seguido até hoje é o amor de mãe, aquela que sofre, dá sua própria vida por eles, que luta para que eles sejam pessoas melhores e que amem uns aos outros. Que seja ao ser mãe um pouquinho do que Maria foi. (Entrevista com E.S.F., 17 anos, 18/09/2008)

Ao analisar as entrevistas segundo cada grupo de idade, pode-se perceber que para

as mulheres entre 15 à 30 anos, Maria ainda simboliza o exemplo de mulher fiel, companheira

e de boa mãe, porém seguidos de maneira peculiar por cada mulher. É interessante destacar

que a Igreja continuou, expressivamente, a perpassar a representação de Maria, cujas

entrevistadas ainda assimilam para si às concepções de mulher segundo o modelo

representativo.

Desde criança, vi em Maria o exemplo da pureza, da perfeição, o exemplo de mãe, a mulher que sofreu por ter seu filho pregado em uma cruz. Todos esses valores eu aprendi dentro da igreja e foi com essa visão que aprendi a confiar e acreditar nela. (Entrevista com E.S.F., 23 anos, 18/09/2008)

Dentre os valores de Maria, segundo as entrevistadas nesta delimitação de idade,

todos possuem significado especial, porém seguidos de acordo com a concepção de cada

mulher. Aspectos como a virgindade e a castidade já não são seguidas pela maioria das

mulheres em nossa sociedade atual, talvez pela liberdade que o mundo oferece ou pela

simples quebra de valores culturais de cada indivíduo, mas de fato a castidade deixou de ser

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algo ‘obrigatório’, imposto através de uma ideologia de boa conduta social e isso favoreceu

para que esses valores fossem quebrados.

É importante destacar que os processos de transformação alteraram valores, porém

segundo as entrevistadas, alguns valores ainda são seguidos e permanecem de forma

expressiva por elas, como ser religiosa, boa esposa e mãe.

Ao analisar as entrevistadas entre 30 a 50 anos, pode-se perceber grande

semelhança com as mulheres entre 15 a 30 anos em relação à representação de Maria. Muitas

delas acreditam no modelo de mulher pregado pela Igreja e tentam seguí-los em suas próprias

vidas de maneira particular e segundo os valores mais pertinentes. Em relação à castidade e

virgindade, é bastante lamentável para as entrevistadas que isso tenha se perdido no tempo e

no espaço, por uma sociedade nova que banalizou esses valores.

Neste sentido pode-se perceber que, para as entrevistadas, esses valores

permanecem de maneira ainda conservadora e que, segundo as suas concepções, deveriam ser

seguidos, mas que devido autonomia da sexualidade proporcionada à mulher moderna, foram

quebrados, distanciando cada vez mais da representação de Maria. Contudo, evidencia-se

nestas entrevistadas, uma grande conservação na concepção dos valores que a Igreja pregou,

mas que foram assimilados segundo a realidade social e imaginária de cada mulher.

Embora os processos sócio-culturais tenham sofrido modificações, os valores

mais preservados estão entre as mulheres a partir de 50 anos, que foram influenciadas tanto

pela sociedade conservadora quanto pela Igreja, por uma moral de conduta bastante rígida. Ao

entrevistá-las, podê-se perceber, o grande sentido que Maria representa em suas vidas e a

grande consideração dos valores, as quais estão sempre buscando seguir o modelo de mulher

tradicionalmente transmitido.

Maria é uma mãe amorosa, uma esposa companheira, uma mulher dedicada, religiosa, pura e que sempre fala ‘sim’. Na minha opinião eu conservo muito o que a Igreja diz a respeito de Maria e considero santa, sendo um modelo de santidade, onde a perfeição tá somente nela [...] Eu considero muito os valores dela, mas eu não sigo com tanta perfeição. Tem hora que a gente falha, mas sou fiel, companheira, humilde, religiosa, gosto de ajudar as pessoas e acima de tudo tento ser uma boa mãe, passando esses valores que a igreja me passa, para meus filhos. (Entrevista com M.A.S.S., 60 anos, 09/09/2008)

Dentre os valores de Maria, quase todos tem real importância para essas mulheres,

mas apenas a submissão perdeu espaço no imaginário de todas as mulheres. O modelo

patriarcal e o sistema machista da sociedade proporcionaram as mulheres de maneira geral,

uma busca por autonomia e independência, que foram historicamente conquistadas a partir os

primeiros movimentos feministas e que influenciou de maneira geral o imaginário das

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mulheres de todas as idades. Este aspecto é considerado, segundo todas as entrevistadas, em

todas as delimitações de idade, uma grande mudança e procuram incluir em suas vidas, porém

aspectos como a castidade, virgindade, fidelidade e religiosidade para as mulheres acima de

50 anos, deveriam ser incondicionalmente preservados e que tem perdido cada vez mais

espaço na sociedade.

Ao questionar as mudanças no comportamento feminino, percebe-se grande

indignação dessas entrevistadas sobre a sexualidade vivenciadas pelas mulheres atuais em

conseqüência da falta de uma religiosidade e do excesso de liberdade. Segundo elas, a

castidade deveria ser particularmente preservada, mas que infelizmente se modificou para a

grande maioria.

Eu queria que a virgindade tivesse significado para as mulheres. Queria mesmo. Não queria que tivesse mudado. Ao meu pensar a mulher tinha que ser mais pura e para a maioria isso se perdeu muito. A maioria das mulheres não liga mais para isso. Eu fico pensando às vezes. Que bom seria se as mulheres casassem virgem né? O mundo seria bem diferente. (entrevista com A.G.S., 62 anos, 10/09/2008)

Com bases nas entrevistas, pode-se perceber que as mudanças no comportamento

feminino estão associadas às oportunidades e flexibilidades proporcionadas por uma

sociedade cada vez mais moderna e pela busca incessante da mulher por igualdade de gênero.

Neste sentido, compreende-se o papel da mulher atual, na maneira como ela vivencia sua

sexualidade e ao mesmo tempo sua religiosidade. Embora ela acompanhe um processo

conflitante entre valores religiosos e morais, a fim de ampliar sua consciência e construir sua

própria identidade, procura integrar sua vida e sua sexualidade de forma saudável sem perder

sua identidade religiosa.

Ao relacionar as semelhanças nas faixas etárias estabelecidas nas entrevistas,

percebe-se que mulheres de 15 até 50 anos aplicam uma ideologia de conduta moral, social e

religiosa diferente da tradicional concepção católica, buscando seus valores próprios, mas não

se desligando dos valores cristãos. Dentro de um contexto de crise de identidade, da

“destradicionalização”, insegurança e falta de confiança, percebidos na modernidade, ainda

procuram viver suas vidas interligadas a valores próprios e a valores recebidos da Igreja. A

mulher católica atual realiza um processo de readaptação da religião, atribuindo novas

interpretações aos valores cristãos, permitindo experiências no campo da sexualidade

condizentes com sua realidade e reelaborando sua identidade católica.

Bom eu vivo sem pensar em seguir o papel de Maria, mas sem notar, a gente já segue porque se transformou em um padrão onde a mulher tem que casar virgem, ser submissa, ou seja, não ter vida própria. E este padrão, eu acredito que não foi criado por Deus, mas pelo homem. Não estou dizendo que a mulher tem que ser perdida na vida, só acho que a mulher tem que viver seu próprio papel sem estar presa ao

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padrão de Maria né? Ou seja, é a mulher ser sujeita de sua própria história. (Entrevista com P.B.F., 24 anos, 26/09/2008)

De modo geral, a presente pesquisa pode demonstrar que as mulheres católicas

nesta delimitação de idade, administram suas vidas pessoais e sua sexualidade de acordo com

sua consciência formada pelas descontinuidades de valores tradicionais, a partir da reflexão

pessoal e crítica sobre seus valores religiosos. O modelo de Maria continua a ser preservado

no imaginário feminino, porém seguido segundo a ótica peculiar de cada mulher.

Deve-se considerar, nesse contexto, que a visão das entrevistadas sobre Maria está

muito mais relacionada com a santidade que ela representa, na devoção e fé que possuem por

ela, além de estarem sempre classificando-a como a grande mãe e assumindo papéis maternais

mais próximos desse protótipo, do que pelos aspectos morais idealizados sobre Maria, como

submissão, castidade, etc.; que interferem diretamente nos aspectos mais íntimos e

particulares da vida pessoal ou social de cada mulher.

Ao contrário, as entrevistadas acima de 50 anos, procuram ideológica e

moralmente, preservar os valores católicos tradicionais. Acreditam que as concepções de

castidade, de virgindade e religiosidade, relacionadas com Maria, deveriam acompanhar,

incondicionalmente, a mulher atual. Não é aceitável, segundo a visão dessas entrevistadas, o

novo comportamento feminino, principalmente nos novos valores morais e sociais que

adotam para suas vidas, que pode ser justificado por elas, pela falta de religião e temor a Deus

e em seus ensinamentos. É interessante destacar que, embora conservem esses valores e

procurem perpassar em seu cotidiano, elas se desligam de aspectos como a submissão, que

inferiorizam a posição feminina.

Contudo, pode-se concluir que, de acordo com as entrevistas, as mulheres

católicas entre 15 a 50 anos possuem grande semelhança em como vivenciam seus valores

pessoais e religiosos. Essas mulheres participaram de um período de quebra de conceitos

tradicionais e a busca por identidade própria e isso pode justificar a posição que assumem

para suas vidas.

Nesta faixa etária, percebe-se que a representação de Maria como protótipo de

mulher é bastante considerável e religiosamente respeitada, porém seguidos segundo a

pertinência de cada mulher e dos valores peculiares que adotam para sua vida tais como a

maternidade, que ainda possuem grande significação. Entretanto os valores de Maria na

concepção da formação feminina, pouco influencia na condição da mulher, já que procuram

destacar em Maria apenas aspectos de Santidade, e não aspectos morais e de identidade, em

como a mulher deve ser e se comportar.

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Neste sentido, a representação de Maria, considerando a evolução cada vez maior

do comportamento das mulheres devido a modernidade, está perdendo sua influência na

formação da identidade e no imaginário feminino segundo aspetos morais de conduta, porém

sendo preservados apenas por aquelas mulheres que tradicionalmente vivenciaram um período

conservador de valores estabelecidos tanto pela igreja quanto pela sociedade, ao que se pode

claramente ser evidenciado nas mulheres entrevistadas a partir de 50 anos que buscam

considerar e viver os valores de Maria conforme as concepções recebidas..

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao término deste trabalho, pode se observar que durante toda a história do catolicismo,

Maria é entendida como Modelo de mulher, por sua submissão, castidade, religiosidade,

maternidade e entre outros, tornando-se um protótipo inatingível às mulheres, e

consequentemente reforçando a inferioridade de gênero por estabelecer uma estrutura de

feminilidade, onde a mulher se baseava no protótipo estabelecido para a formação de sua

identidade. Assim conservou-se presente, na concepção católica e na própria sociedade o

significado e modelo de mulher.

Por muito tempo, as mulheres se depararam com uma longa inconsciência de sua

personalidade ao se submeterem aos padrões estabelecidos pela Igreja, pelo homem e pela

sociedade, e isso permitiu uma inferioridade feminina, provocando a desigualdade de gênero,

cujo papel da mulher destinava-se apenas a dedicar a esfera privada.

O surgimento do Movimento feminista, que implicava uma emergente mobilização

social que tinha como objetivo defender os interesses femininos, questionando os sistemas

culturais e políticos construídos a partir dos papéis de gênero, contribuiu para redefinir o

papel da mulher na sociedade ao conquistar direitos de cidadania. Assim, a mulher foi

gradativamente conquistando seu espaço, se tornado mais independente e construindo sua

própria identidade, desligando-se, portanto dos modelos propostos pela concepção cristã.

No entanto, observa-se, que a pós-modernidade, possibilitou a busca das mulheres por

valores mais pertinentes a sua realidade de vida, provocando uma verdadeira transformação

nos papéis destinados ao gênero feminino. Assim, pode-se perceber que as mudanças no

comportamento feminino estão associadas às oportunidades e flexibilidades proporcionadas

por uma sociedade cada vez mais moderna e pela busca incessante da mulher por igualdade.

No entanto, a igreja continua a interferir nas transformações que ocorrem na sociedade

brasileira, principalmente nas particularidades das mulheres tais como a sexualidade e

maternidade, estando apta a intervir tanto na definição como nas orientações, valorizando de

forma bastante expressiva, a imagem de Maria e suas qualidades ditas femininas, a serem

assimilados pelas mulheres atuais.

Contudo, ao realizar as entrevistas, pode-se perceber que a influência do protótipo

feminino está mais expressiva nas mulheres que vivenciaram um período mais conservador de

valores morais e religiosos, preservando assim tradicionalmente, as concepções e valores da

Igreja Católica. Quanto às mulheres que acompanharam as transformações de valores e foram

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expressivamente influenciadas por uma sociedade mais moderna, observa-se que o modelo de

Maria é religiosamente respeitado, porém seguidos segundo as pertinências de cada mulher.

Assim, o imaginário e a condição feminina no mundo atual, têm sido pouco influenciados

pelo modelo de Maria, onde aspectos como sexualidade e maternidade têm sido vivenciadas

segundo as particularidades de cada mulher. A mulher atual, contudo, é construtora de sua

própria identidade, quebrando valores tradicionalmente perpassados no tempo, e vivenciando

suas vidas segundo os valores mais cabíveis a sua realidade moral e religiosa.

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SILVA, Maria Aparecida do Carmo. 12/09/2008, Morrinhos – Go

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SIMÕES, Aparecida Gonçalves. 10/09/2008, Morrinhos - Go.

SOUZA, Maria Ana de. 09/09/2008, Morrinhos - Go.

VIEIRA, Joana D’arc de Oliveira Lima. 20/09/2008, Morrinhos – Go.

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APÊNDICE

ENTREVISTA 01 ENTREVISTADA: Maria Aparecida da Silva Saran IDADE: 60 anos DATA: 09/09/08 CIDADE: Morrinhos ENTREVISTADORA: Letícia do Carmo Silva

Letícia: O que Maria representa para você? Maria: Maria representa tudo pra mim. Sou muito devota, tenho muita fé na pessoa que ela representa, de uma mulher exemplo mesmo e que temos que tentar a cada dia ser um pouco do que ela foi. É isso! Letícia: Qual a idéia que você obteve dentro da Igreja Católica sobre Maria? Maria: Ah... A Igreja ensinou muita coisa. Que Maria é uma pessoa cheia de fé, esposa dedicada, repleta de amor, compreensão e que continua sendo um exemplo de mulher. Mas onde eu morava a questão de Maria ainda era mais aprofundada. Se falava mais de Maria, hoje não é tanto mais assim. Talvez porque onde eu morava há muito tempo atrás à cidade era pequena e todos eram muito devotos e religiosos. Letícia: Qual a sua visão sobre Maria? Maria: Maria é uma mãe amorosa, uma esposa companheira, uma mulher dedicada, religiosa pura e que sempre fala sim. Na minha opinião, eu conservo muito o que a Igreja diz a respeito de Maria e considero santa, sendo um modelo de santidade onde a perfeição ta somente nela. Letícia: Quais os valores pregados sobre Maria que possui mais significado para você? Maria: A fé, a devoção a deus, o modelo de mãe, que não tem como mudar. Ah, Quase tudo nela é importante mais hoje quase ninguém segue. Eu por exemplo procuro seguir, menos ser submissa porque acho que isso não é certo. A mulher tem que ser companheira e não inferior. Já fui muito submissa mais hoje superei. Letícia: Você acredita que os valores de Maria, tais como a pureza e a castidade, possui significado para o mundo de hoje, em especial para as mulheres? Maria: Ah, hoje não tem significado para as mulheres não. Hoje é bem diferente, a mulher não preocupa mais com esses valores. Na minha época era bem restrito falar de sexo, ainda mais fazer né? (Risos) as mulheres de hoje casam sem ser puras e isso quer dizer que a castidade não tem valor. Letícia: Em sua opinião, o que mudou para que as mulheres distanciassem das qualidades de Maria? Maria: Eu acho que é porque elas tem mais liberdade e outra, a gente não quer que os filhos da gente fica preso como a gente ficou. Então a gente vai liberando. (Risos)

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Letícia: Você segue os valores de Maria e considera-os em sua própria vida? Maria: Eu considero muito os valores, mas eu não sigo com tanta perfeição. Tem hora que a gente falha, mas sou fiel, companheira, humilde, religiosa, gosto de ajudar as pessoas e acima de tudo tento ser uma boa mãe, passando esses valores que a igreja me passa para meus filhos. Letícia: Diante das qualidades de Maria, o que acha que ainda permanece nas mulheres? Maria: Apesar de ter mudado muito, muitas mulheres ainda tem as qualidades de Maria. Muitas são fieis, e tem muito companheirismo, muitas têm fé. Mas acho que o instinto e a força de ser mãe é o que mais prevalece. É a mãe que ta mais atenta às dificuldades do filho... Acho que é isso. ENTREVISTA 02

ENTREVISTADA: Maria Ana de Souza IDADE: 66 anos DATA: 09/09/08 CIDADE: Morrinhos ENTREVISTADORA: Letícia do Carmo Silva Letícia: O que Maria representa para você? Maria Ana: Maria representa tudo. Creio muito, muito mesmo nela. Tenho tanta fé que quando ponho os comprimidos para beber ponho em nome dela pois sei que ela vai me ajudar a melhorar. Letícia: Qual a idéia que você obteve dentro da Igreja Católica sobre Maria? Maria Ana: A Igreja fala que Maria é nossa mãe, que foi um modelo de mulher, que sofreu muito pelo seu filho, e que nos mulheres temos que seguir o modelo dela. Eu acho que a gente até segue, pois a gente sofre muito pelos filhos da gente. Letícia: Qual a sua visão sobre Maria? Maria Ana: A minha visão de Maria é tão grande que até os comprimidos que bebo é em nome dela. Tudo que eu faço é por ela. Maria, mãe de Jesus continua pra mim sendo um modelo de mulher perfeita que tento sempre seguir e a minha visão é igual a da igreja. Eu não mudei nada sobre ela, pois ela é perfeita. Letícia: Quais os valores pregados sobre Maria que possui mais significado para você? Maria Ana: O amor que ela tinha pelo seu filho é o que tem mais significado pra mim. E ser mãe já é grande coisa. Não trair né? Pois é pecado. Na minha opinião todas as mulheres deveriam também casar virgem e para vestir de noiva e representar Maria teria de ser virgem mas hoje em dia casar uma moça virgem é muito difícil. Letícia: Você acredita que os valores de Maria, tais como a pureza e a castidade, possui significado para o mundo de hoje, em especial para as mulheres? Maria Ana: Para o mundo de hoje não possui significado porque o mundo ta muito mudado. O mundo não né? As pessoas. Hoje as mulheres só quer saber de ser bonita e ir pras festas. Letícia: Em sua opinião, o que mudou para que as mulheres distanciassem das qualidades de Maria?

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Maria Ana: Ah, a liberdade que tá muito grande no mundo. A liberdade das próprias mães, dos pais né? Que dá liberdade, mais não concordo com essa liberdade porque se fosse como antigamente as coisas seriam bem melhor. Se todos seguisse os mandamentos de Maria e de Deus, seria todo mundo mais feliz. Letícia: Você segue os valores de Maria e considera-os em sua própria vida? Maria Ana: Eu sigo e considero os valores de Maria. Respeito Maria como minha protetora a todos os minutos. Continuo sendo uma mãe dedicada, e o que eu faço é pros meus filhos. Tenho muita fé e isso me mantém de pé. Eu procuro passar esses valores que recebi a diante pois sempre procurei ensinar só as coisas boas. Letícia: Diante das qualidades de Maria, o que acha que ainda permanece nas mulheres? Maria Ana: Ser mãe. A fidelidade e a submissão já se foi. Não existe isso mais, mas existe muita mulheres que procuram seguir o que Maria foi, fiel... Mas a maioria já deixou as qualidades de Maria de lado. As que não crê em Maria e que não ta seguindo a Igreja, por exemplo, é as mulheres que foge do modelo de Maria ENTREVISTA 03

ENTREVISTADA: Francisca Rodrigues da Silva IDADE: 53 anos DATA: 10/09/08 CIDADE: Morrinhos ENTREVISTADORA: Letícia do Carmo Silva Letícia: O que Maria representa para você? Francisca: Ela representa muita coisa. Confiança, força, fé. Eu creio muito mesmo nela. Sempre nos momentos difíceis e ela que me socorre. É como diz a frase: “Quando você ta com dificuldade, vai a mãe que ela te socorre”. Letícia: Qual a idéia que você obteve dentro da Igreja Católica sobre Maria? Francisca: A igreja me fala que Maria é um modelo de perfeição, que é exemplo de mulher que a gente tem que seguir e ser um pouquinho do que ela foi. Ser uma boa mãe, uma boa esposa. Na verdade Maria foi uma orientação pra gente. Letícia: Qual a sua visão sobre Maria? Francisca: Bom eu sigo o que a Igreja me falou de Maria. Talvez nem tudo que ela foi, mas a gente tenta seguir. Tento ser uma boa mãe, boa esposa, ajudar as pessoas, ser religiosa, ter fé... É isso! Letícia: Quais os valores pregados sobre Maria que possui mais significado para você? Francisca: Eu acho que todos os valores tem significado pra mim. Eu acho que temos que ser uma boa mãe em primeiro lugar, ser uma boa companheira, ter bastante fé, e compreensão. Letícia: Você acredita que os valores de Maria, tais como a pureza e a castidade, possui significado para o mundo de hoje, em especial para as mulheres?

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Francisca: Eu acho que tem significado sim, mas só que as vezes não segue, mas que significa sim. As mulheres sabem quem Maria foi, mas seguem se quiser. O problema é que as mulheres não dá valor a isso. Cada mulher hoje em dia tem a sua cabeça. Letícia: Em sua opinião, o que mudou para que as mulheres distanciassem das qualidades de Maria? Francisca: Eu acho que as mulheres distanciou das qualidades de Maria mas acho que o que mudou foi a falta de fé, de exemplo, de alguém para orientar. Falta de orientação e controle, porque a liberdade hoje em dia ta demais e se na tiver orientação elas distanciam mesmo. Letícia: Você segue os valores de Maria e considera-os em sua própria vida? Francisca: Eu considero e tento seguir algumas coisas, como seguir a religião, educar os filhos na religião, passar para eles o que Maria foi. Ser uma boa mãe é uma maneira de seguir as qualidades de Maria. Mas ser submissa é uma coisa que não existe em mim mas sou companheira. Letícia: Diante das qualidades de Maria, o que acha que ainda permanece nas mulheres? Francisca: Acho que é ser mãe. Isso nunca mudou e ninguém consegue mudar. Elas pode tentar matar os filhos, mas não muda o fato de serem as geradoras, de ser mãe. A questão da pureza, acho que cada um faz do jeito que quer. ENTREVISTA 04

ENTREVISTADA: Aparecida Gonçalves Simões IDADE: 62 anos DATA: 10/09/08 CIDADE: Morrinhos ENTREVISTADORA: Letícia do Carmo Silva Letícia: O que Maria representa para você? Aparecida: Maria é nossa mãe, que a gente considera e é tudo para mim. Quando eu preciso é só ela que peço socorro. Tenho muita crença no que ela representa. É a que eu mais acredito. Letícia: Qual a idéia que você obteve dentro da Igreja Católica sobre Maria? Aparecida: Maria é a mãe de Jesus que seguiu os passos do filho até o ultimo momento. Que ela é um modelo de mãe e de mulher que temos que seguir. Letícia: Qual a sua visão sobre Maria? Aparecida: Eu penso a mesma coisa que a igreja. O que eu aprendi eu nunca deixei de acreditar. Desde pequeninha sempre acreditei nela. Ela é um modelo que a gente deve seguir de mãe, de esposa... Tento seguir o exemplo dela um pouquinho claro, pois tá longe de ser igual a ela. Letícia: Quais os valores pregados sobre Maria que possui mais significado para você? Aparecida: Ser uma boa mãe é o que tem mais significado pra mim. Sempre penso se eu falhei se fiz certo. Procuro e tento ser religiosa, desapegada das coisas materiais. Às vezes deixo de fazer alguma coisa pra socorrer. Procuro ajudar sempre.

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Letícia: Você acredita que os valores de Maria, tais como a pureza e a castidade, possui significado para o mundo de hoje, em especial para as mulheres? Aparecida: Eu queria que a virgindade tivesse significado para as mulheres. Queria mesmo. Não queria que tivesse mudado. Ao meu pensar a mulher tinha que ser mais pura e para a maioria isso se perdeu muito. A maioria das mulheres não liga mais para isso. Eu fico pensando às vezes. Que bom seria se as mulheres casassem virgem né? O mundo seria bem diferente. Letícia: Em sua opinião, o que mudou para que as mulheres distanciassem das qualidades de Maria? Aparecida: As mulheres afastou muito dos valores de Maria. A gente vê mãe matando filho. Já pensou se a gente seguisse certinho no amor de mãe, na pureza...? O mundo seria bem melhor. Eu acho que o que mudou é a falta de amor ao seu próprio corpo. Liberdade e falta de amor com elas mesmas. Eu passei tudo que eu aprendi. Eu educava meus filhos. Procurei ensinar o caminho da religião, do amor eu exigi isto até certa idade de meus filhos e depois que eles foram estudar fora ai mudou mas enquanto eu pude eu ensinei. Hoje em dia as mulheres querem ser mais que o homem, e isso é a verdade. Letícia: Você segue os valores de Maria e considera-os em sua própria vida? Aparecida: Eu sigo e considero os valores de Maria. Sempre tentei ser um pouquinho do que ela foi, e acho que as mulheres deveriam ser assim. Elas mesmas perderam o valor delas mesmas. As mulheres mudaram muito. A sexualidade delas virou comércio. Eu sempre tentei passar esses valores adiante. Ah quando eu tenho oportunidade de conversar com as menininhas mais novas eu falo mesmo Letícia: Diante das qualidades de Maria, o que acha que ainda permanece nas mulheres? Aparecida: Ainda existe muita meninas puras, só que não é muito mais não. Existe nas meninas que são educadas dentro da Igreja e que ainda tem o exemplo dentro de casa. Ser mãe também permanece. Apesar de ter muita mãe que não dá amor nenhum, nem cuidados. Mais graças a deus e a nossa senhora que olha por nós, ser mãe é uma qualidade que ainda permanece. ENTREVISTA 05 ENTREVISTADA: Maria Fátima Ribeiro IDADE: 60 anos DATA: 12/09/08 LOCAL: Morrinhos ENTREVISTADORA: Letícia do Carmo Silva Letícia: O que Maria representa para você? Maria Fátima: Maria é a mãe ne? Acredito muito nela e representa muito para mim. Tenho fé, sempre penso nela, pois ela é a minha protetora. Letícia: Qual a idéia que você obteve dentro da Igreja Católica sobre Maria? Maria Fátima: Ah, a igreja me passou que ela é a mãe perfeita, foi a mulher perfeita, uma boa esposa, fiel e temos que seguir o que ela foi. Tentar a cada dia ser digna do que ela foi, mas ser igual a ela a gente não consegue, mas a gente luta pra ser igual.

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Letícia: Qual a sua visão sobre Maria? Maria Fátima: A gente acredita em Maria, mas a gente não consegue seguir o que ela foi, luto a cada dia ser uma boa mãe, assim como a igreja ensina, ser uma boa companheira, mas isso não é ser submissa ta? Que faz só o que o marido quer não. O que eu sei a Igreja me passou. Letícia: Quais os valores pregados sobre Maria que possui mais significado para você? Maria Fátima: Ser mãe, ser fiel, amar os filhos assim como ela amou o seu filho. Ah, pra mim todos os valores de Maria são importantes. Ter muita fé. Desde cedo minha mãe ensinou ser participante das coisas de Deus. Eu acho que todas as mulheres deveriam seguir esses valores más não segue. Mudou demais os ensinamentos de antigamente com os de agora. Para você ver, Maria engravidou virgem e hoje em dia a gravidez em meninas que não são casadas e novinhas ta comum. Menina de 11 anos grávida! Não tem cabimento. Eu acho que elas não valoriza a pureza e nem os exemplos que são passados. Letícia: Você acredita que os valores de Maria, tais como a pureza e a castidade, possui significado para o mundo de hoje, em especial para as mulheres? Maria Fátima: Não possui. Elas não tem a preocupação mais em casar virgem. Elas não quer saber de nada. Nem responsabilidade tem. Pode uma coisa dessa? Letícia: Em sua opinião, o que mudou para que as mulheres distanciassem das qualidades de Maria? Maria Fátima: Ta faltando fé em Maria. O povo deu e aceitou a liberdade. A Mãe aconselha mas os filhos não dá valor no que a gente fala. Eles tá dando mais valor na ilusão do que nas coisas de nossa senhora. Pensam mais em sexo do que nas coisas de Deus. As menininhas qué mais é atrair os homens. Muitas vezes até engravida pra prender o marido, ai o marido não qué e elas fica ai com o filho na barriga e sem marido e ainda por cima gandaiando. Letícia: Você segue os valores de Maria e considera-os em sua própria vida? Maria Fátima: Eu sigo e considero os valores de Maria em minha vida. Tentei educar meus filhos igual a igreja falava. Procurei ser uma boa mãe, boa esposa, ser religiosa... sempre procurei levar meus filhos na Igreja. Talvez o que falta é as mães de hoje ensinar seus filhos o caminho da igreja e seguir os caminhos de Maria. Letícia: Diante das qualidades de Maria, o que acha que ainda permanece nas mulheres? Maria Fátima: Que resposta difícil. Deixe eu pensar. Ah, ser mãe ainda permanece né? Elas ainda não perderam o dom de ser mãe e o amor, igual ao que Maria teve pelos eu filho. Ser mãe é muito importante. Apesar de muitas mulheres não ter amor pelos filhos, e nesse caso nossas senhora não significa nada pra elas mesmo, quando a gente é mãe a gente sente amor de mãe e lembra de Maria e do exemplo que a gente teve pra tentar seguir um pouquinho. Agora eu vou te falar uma coisa, pureza, fidelidade, esses valores pra mim já ta perdendo faz tempo. ENTREVISTA 06

ENTREVISTADA: Maria Aparecida do Carmo Silva IDADE: 44 anos DATA: 12/09/08 LOCAL: Morrinhos

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ENTREVISTADORA: Letícia do Carmo Silva Letícia: O que Maria representa para você? Maria Aparecida: Representa a estrutura da minha fé, da minha família, das súplicas ao pai às pessoas que necessitam de auxilio e a proteção de mãe inspirada na santidade divina. Letícia: Qual a idéia que você obteve dentro da Igreja Católica sobre Maria? Maria Aparecida: Eu obtive a visão de santidade, de exemplo de amor, caridade, intercessora, mãe inigualável, pureza e uma idealizada por nós mulheres. Letícia: Qual a sua visão sobre Maria? Maria A parecida: Se eu a tenho em alta consideração, procuro não desmistificar sua imagem porque assim eu poderia estar sendo contraditória a minha fé. Então a minha visão é de santidade, de exemplo de amor... Letícia: Quais os valores pregados sobre Maria que possui mais significado para você? Maria Aparecida: A de ser mãe incondicional, zelosa e amorosa, que ampara, protege e resguarda seus filhos. Não deixando de lado todos os outros valores né? Já que ela é incomparável como pessoa do bem Letícia: Você acredita que os valores de Maria, tais como a pureza e a castidade, possui significado para o mundo de hoje, em especial para as mulheres? Maria Aparecida: Em parte, porque existe as pessoas que procuram ter consigo a dignidade, amor ao próximo e levar a vida com retidão, mas em contrapartida valores de ética para muitos já são abstratos e bem distantes de suas realidades e a castidade então? São ultrapassados. Letícia: Em sua opinião, o que mudou para que as mulheres distanciassem das qualidades de Maria? Maria Aparecida: A religiosidade das pessoas, o temor a Deus, a fé. Sem falar do desenvolvimento da humanidade e avanços da tecnologia né? Letícia: Você segue os valores de Maria e considera-os em sua própria vida? Maria Aparecida: Dentro do meu tempo acho que sim. Procuro passar a fé, dignidade, amor para os outros. Sei que não tenho as ações de Maria, mas não fujo do seu ideal. Letícia: Diante das qualidades de Maria, o que acha que ainda permanece nas mulheres? Maria Aparecida: Diante da maioria eu diria que é a maternidade e do querer ser do bem, tendo fé em Deus. ENTREVISTA 07 ENTREVISTADA: Maria Alice Cândida da Silva Oliveira IDADE: 46 anos DATA: 19/09/08 LOCAL: Morrinhos ENTREVISTADORA: Letícia do Carmo Silva Letícia: O que Maria representa para você?

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Maria Alice: Maria é a mãe de Jesus, um exemplo de vida. Acredito muito nela e tenho a minha fé. Letícia: Qual a idéia que você obteve dentro da Igreja Católica sobre Maria? Maria Alice: Uai, Maria foi um exemplo de mulher, seguidora da palavra de Deus, pessoa de fé, uma mãe dedicada e um verdadeiro exemplo e que deve ser seguido. Tanto o exemplo de mãe, quanto de esposa companheira e dedicada. Letícia: Qual a sua visão sobre Maria? Maria Alice: Eu vou te falar uma coisa, eu tento seguir os passos certos de Maria. Não te falo que sigo certo, mas eu tento. Então o meu pensamento sobre ela é o mesmo que a Igreja coloca. Letícia: Quais os valores pregados sobre Maria que possui mais significado para você? Maria Alice: Eu acho que todas as qualidades que parte dela é importante e todas as qualidades tem significado para mim. Só questiono a submissão, pois acho que a mulher ganhou sua independência, apesar de quando a mulher casa, mesmo sem quere ela é submissa ao ter na consciência que tem que se dedicar ao marido, a cuidar da casa. Acaba que a gente tem que ser submissa até um certo ponto. Letícia: Você acredita que os valores de Maria, tais como a pureza e a castidade, possui significado para o mundo de hoje, em especial para as mulheres? Maria Alice: Hoje em dia a virgindade parece que não tem valor. É como se não valesse nada. Isso tá tão natural. Mas na minha opinião deveria ser valorizado. Hoje tá tudo muito mudado. Deve ser a época ou o pensamento moderno das pessoas. Antigamente os valores era outros. Letícia: Em sua opinião, o que mudou para que as mulheres distanciassem das qualidades de Maria? Maria Alice: O que mudou para que as mulheres distanciasse dos valores de Maria foi a liberdade excessiva, a modernidade, a busca das mulheres em querer ser iguais aos homens ou até mais que o homem e daí distancia cada vez mais das qualidades de Maria. Letícia: Você segue os valores de Maria e considera-os em sua própria vida? Maria Alice: Eu considero e tento seguir, apesar de não ser igual a ela a gente tenta ser a cada dia um pouco e ter as qualidade que ela teve. Letícia: Diante das qualidades de Maria, o que acha que ainda permanece nas mulheres? Maria Alice: O mundo mudou muito e isso é bem relativo. Quase não permanece nas mulheres de hoje as grandes virtude de Maria, más o amor maternal ainda permanece e a gente quando é mãe tenta seguir o modelo de Maria, companheira e dedicada, apesar de ter muita mãe matando filho por aí. ENTREVISTA 08

ENTREVISTADA: Luciene do Nascimento Borges IDADE: 31 anos DATA: 29/09/08 LOCAL: Morrinhos

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ENTREVISTADORA: Letícia do Carmo Silva Letícia: O que Maria representa para você? Luciene: Maria representa para mim o exemplo de boa mãe, dedicada, o que hoje as mulheres não são né? Um exemplo de mulher, mas eu acho que deveria seguir dela o amor, a dedicação, más não obedecer o marido em tudo. (Risos) Letícia: Qual a idéia que você obteve dentro da Igreja Católica sobre Maria? Luciene: Uai, A igreja me passou que ela foi um modelo inatingível de mulher que deveríamos tentar seguir o modelo de mãe, de companheira, de dedicação. Letícia: Qual a sua visão sobre Maria? Luciene: Eu acho que a mulher quando casa ela tem que ter consciência do seu papel, o papel de ser mãe, cuidar da casa, ser companheira e então a gente é influenciado pela visão que a Igreja nos passa. Letícia: Quais os valores pregados sobre Maria que possui mais significado para você? Luciene: Ser boa mãe, porque eu acho que a mãe tem que ser dedicada aos filhos, pois criança e sua formação depende dela. Passar e repassar os valores, a moral (Risos) é o papel de mãe. Ser companheira, ser religiosa, pois é muito importante. Não só a mulher como o homem também, a família em si. Não acho que a mulher tem que ser submissa, pois hoje em dia existe diálogo, então tem que ser companheiro um do outro. Não se trata de quem manda mais Letícia: Você acredita que os valores de Maria, tais como a pureza e a castidade, possui significado para o mundo de hoje, em especial para as mulheres? Luciene: Tem significado para poucas. Ainda existe família que cria os filhos no sentido da igreja, de estar pregando os valores. A sociedade banaliza essas coisas e faz com que a maioria não se preocupe com a pureza. Mas acho que as que não segue os valores de Maria é porque está cercado de liberdade moral, de um mundo moderno fora dos padrões religiosos. Eu acredito que o que mais contribui para essa despreocupação com a moral é a questão da família. Hoje em dia a família está muito desestruturada. As crianças que tem uma família estruturada é diferente e é passado valores pra ela. Letícia: Em sua opinião, o que mudou para que as mulheres distanciassem das qualidades de Maria? Luciene: a modernidade, a questão da família, da fé e da religiosidade. As pessoa vai na Igreja mas não segue o que é pregado e isso mudou muito pra que as mulheres distanciassem dos valores. Letícia: Você segue os valores de Maria e considera-os em sua própria vida? Luciene: eu não sigo muitos não. Alguns como o de tentar ser uma boa mãe, ser dedicada, ter minha religiosidade, pois tenho a minha fé e ensino meus filhos as orações. Tento ser uma boa esposa, fiel... (Risos) Letícia: Diante das qualidades de Maria, o que acha que ainda permanece nas mulheres? Luciene: O símbolo de Maria. Ela sabe que a mulher tem que ser fiel, dedicada, as vezes sem conhecer a representação de Maria. Talvez por ser transmitidas culturalmente, mas sem perceber

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seguem o modelo. Considerando as exceções, a maternidade é seguido e permanece, e é onde a mulher busca através do modelo ser uma boa mãe a cada dia.

ENTREVISTA 09

ENTREVISTADA: Maria Helena Ferreira da Silva IDADE: 48 anos DATA: 19/09/08 LOCAL: Morrinhos ENTREVISTADORA: Letícia do Carmo Silva Letícia: O que Maria representa para você? Maria Helena: Maria pra mim é a mãe de Jesus e nossa mãe intercessora junto a Deus né? Então eu tenho muita crença nela. Letícia: Qual a idéia que você obteve dentro da Igreja Católica sobre Maria? Maria Helena: Que Maria é um exemplo de vida, de amor, de fé, de solidariedade, de humildade, de mãe e de mulher. Letícia: Qual a sua visão sobre Maria? Maria Helena: É semelhante a da igreja sim, só que antes eu via Maria um ser divino, santa, e hoje vejo Maria santa sim mais também humana. Pra mim foi melhor porque me sinto mais perto e mais semelhante. Letícia: Quais os valores pregados sobre Maria que possui mais significado para você? Maria Helena: Pra mim os valores mais significativo é fé e maternidade. Letícia: Você acredita que os valores de Maria, tais como a pureza e a castidade, possui significado para o mundo de hoje, em especial para as mulheres? Maria Helena: Não. As mulheres, a maioria, não estão preocupadas com pureza e castidade. Talvez porque não são esses valores que torna a mulher mais mulher. Letícia: Em sua opinião, o que mudou para que as mulheres distanciassem das qualidades de Maria? Maria Helena: Há quem diz que foi o pecado, mas acho que não porque sempre existiu. Talvez seja o jeito de ver e viver a vida. Letícia: Você segue os valores de Maria e considera-os em sua própria vida? Maria Helena: Sim. Procuro viver da melhor maneira possível, vivendo bem com todos que se aproxima de mim, no trabalho, vizinhos, em casa. Procuro cuidar bem da casa, do meu esposo, dos meus filhos e faço com muito amor e carinho. Letícia: Diante das qualidades de Maria, o que acha que ainda permanece nas mulheres? Maria Helena: A fé e a maternidade. A maternidade é o dom e graça de Deus, e a fé porque por mais que os valores vão se perdendo, sempre brota a fé no coração da mulher e no coração da mãe. ENTREVISTA 10

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ENTREVISTADA: Joana D’arc de oliveira Lima Vieira IDADE: 31 anos DATA: 20/09/2008 LOCAL: Morrinhos ENTREVISTADORA: Letícia do Carmo Silva Letícia: O que Maria representa para você? Joana D’arc: Bom pra começo de conversa eu nunca nem parei pra imaginar sobre Maria representando minhas atitudes. (Risos) Então quando você me perguntou sobre a entrevista e me informou que eu fui parar pra pensar. Mas Maria tem muita fé, é um exemplo mesmo de mulher, submissa, dedicada ao marido, guerreira, devota. Guerreira porque agüentou todo sofrimento de ver seu filho crucificado. Acho que talvez por isso que ela é santa ne? Então acho que pra mim ela não é só a santidade, mas um exemplo mulher, de pureza, que todos deveriam ter seguido mais que ninguém segue. (Risos) Bom minha mãe seguia. Letícia: Qual a idéia que você obteve dentro da Igreja Católica sobre Maria? Joana D’arc: A igreja passou que Maria era uma mulher pura, virgem, que ficou grávida do Espírito Santo, que era uma mulher companheira, honesta, religiosa e um verdadeiro exemplo de mãe. Então ela foi uma pessoa de grandes e incomparáveis qualidades e um exemplo a ser seguido. Letícia: Qual a sua visão sobre Maria? Joana D’arc: A minha visão por enquanto é a mesma da Igreja, onde considero ela repleta de qualidades e um exemplo de mulher, más sigo minha vida independente das qualidades de Maria que a Igreja prega. Letícia: Quais os valores pregados sobre Maria que possui mais significado para você? Joana D’arc: Companheirismo, fidelidade. Mas submissão eu não considero porque nunca fui, não quero ser, e nunca serei. Deus me livre disso! (Risos) Letícia: Você acredita que os valores de Maria, tais como a pureza e a castidade, possui significado para o mundo de hoje, em especial para as mulheres? Joana D’arc: Hoje não tem valor nenhum, mas mesmo assim os pais tentam passar isso. Mesmo hoje em dia não tendo valor e muitas acreditando que virgindade é brega (Risos) a gente tenta passar isso. Eu acho que a modernidade ofereceu isso. As concepções de valores mais modernos que fez com que a mulher mudasse sua forma de pensar e comportar. Letícia: Em sua opinião, o que mudou para que as mulheres distanciassem das qualidades de Maria? Joana D’arc: Eu acho que foi a busca das mulheres por igualdade aos homens, a revolução feminina que persiste até hoje. Eu acho que a partir dessa revolução, as mulheres passaram a pensar no que elas querem e deixou de seguir valores perpassados no tempo e também a modernidade né? Que cada vez mais a gente busca valores propícios a nossa vida. Letícia: Você segue os valores de Maria e considera-os em sua própria vida? Joana D’arc: Considero alguns e os que eu sigo também são todos. Eu sigo a honestidade, a fidelidade, o companheirismo, mas a submissão é excluída da minha vida. Tenho a minha fé, mas sigo as qualidades de Maria que acho bom pra minha vida, como ser boa mãe e esposa dedicada.

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Letícia: Diante das qualidades de Maria, o que acha que ainda permanece nas mulheres? Joana D’arc: Esta questão é bem relativa. Teria que analisar o particular de cada mulher, mas numa visão geral o instinto de ser mãe não muda. As mulheres quando são mães, mesmo sem perceber, tenta ser o melhor e dar o melhor a seu filho e acabam representando o modelo que foi Maria. ENTREVISTA 11 ENTREVISTADA: Lívia do Carmo Silva IDADE: 23 Anos DATA: 12/09/08 LOCAL: Morrinhos ENTREVISTADORA: Letícia do Carmo Silva Letícia: O que Maria representa para você? Lívia: Maria pra mim é a mãe bondosa, exemplo de amor, de fé, de mulher, e é a intercessora, né? Letícia: Qual a idéia que você obteve dentro da Igreja Católica sobre Maria? Lívia: Bom, diante da visão cristã passada pela igreja, Maria foi uma mulher serva do senhor, mãe caridosa, fiel a seu filho e a seu marido. Letícia: Qual a sua visão sobre Maria? Lívia: Maria na minha visão assemelha à da Igreja. De uma mulher que espera em Deus, exemplo de fé, de amor único e de companheira. Letícia: Quais os valores pregados sobre Maria que possui mais significado para você? Lívia: Pra mim é o amor, a fé e esperança em Deus. Letícia: Você acredita que os valores de Maria, tais como a pureza e a castidade, possui significado para o mundo de hoje, em especial para as mulheres? Lívia: Creio que para as mulheres no fundo de seu querer a castidade é importante para o seu ser, mas como são manipulados por uma sociedade que cobra uma atitude menos retraída para assim conquistarem o ‘amor da sua vida’, se entregam aos desejos do corpo e a pressão dos homens. Letícia: Em sua opinião, o que mudou para que as mulheres distanciassem das qualidades de Maria? Lívia: A vontade de conquista da independência, a sociedade mais critica a necessidade de ajuda dentro de casa e a falta do seguimento de alguma religião. Letícia: Você segue os valores de Maria e considera-os em sua própria vida? Lívia: Não sigo todos. A fé e a caridade procuro colocar em minha vida. Agora a castidade, por exemplo, mesmo querendo ter seguido, fui desviada pela opinião da sociedade, que colocou isto como algo não existente, sem culpa. Letícia: Diante das qualidades de Maria, o que acha que ainda permanece nas mulheres?

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Lívia: Ah, acredito que seja o amor, que são seguidos por muitos hoje e o modelo de mãe, onde a mãe procura sempre ser o melhor. ENTREVISTA 12

ENTREVISTADA: Francielle Maria Silva IDADE: 23 anos DATA: 13/09/2008 LOCAL: Morrinhos ENTREVISTADORA: Letícia do Carmo Silva Letícia: O que Maria representa para você? Francielle: Maria representa pra mim a mãe perfeita, a esposa fiel, e pelo menos a maioria de nós acreditamos que Maria é o exemplo mais perfeito de mulher já existente. Letícia: Qual a idéia que você obteve dentro da Igreja Católica sobre Maria? Francielle: Maria pela visão da igreja foi uma pessoa santa, a mãe generosa, cheia de amor, bondade e fraternidade. Letícia: Qual a sua visão sobre Maria? Francielle: A minha visão sobre Maria é basicamente a mesma, porque todas nós mulheres em nosso íntimo nos espelhamos em Maria para sermos mães e esposas mais perfeitas. Letícia: Quais os valores pregados sobre Maria que possui mais significado para você? Francielle: Os valores de Maria mais marcantes pra mim sem dúvida é a bondade e fraternidade, porque ser bom e fraterno já nos purifica muito. Letícia: Você acredita que os valores de Maria, tais como a pureza e a castidade, possui significado para o mundo de hoje, em especial para as mulheres? Francielle: Pode ser que sim, mais eu acredito que nesses novos tempo as pessoas já não dão tanto valor a castidade. Letícia: Em sua opinião, o que mudou para que as mulheres distanciassem das qualidades de Maria? Francielle: Várias coisas, por exemplo, não ser submissa, ter sua própria vida, ser dona dos seus direitos. Eu acho que essas coisas influenciam bastante. Letícia: Você segue os valores de Maria e considera-os em sua própria vida? Francielle: Eu acredito que todas as mulheres de certo modo seguem os conceitos de Maria, não todos mais pelo menos aquele que tá mais presente na nossa vida, tipo a maternidade. E o que aprendemos de bom com certeza a gente leva a diante. Letícia: Diante das qualidades de Maria, o que acha que ainda permanece nas mulheres? Francielle: Não em todas, mas acho que a maternidade é o que ainda prevalece. E o desejo de ser boa mãe é o que mais nos incentiva como mulheres. ENTREVISTA 13

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ENTREVISTADA: Elaine da Silva Ferreira IDADE: 17 anos DATA: 18/09/08 LOCAL: Morrinhos ENTREVISTADORA: Letícia do Carmo Silva Letícia: O que Maria representa para você? Elaine: Tenho em Maria aquela que intercede por nós à Deus. Aquela que buscamos em horas difíceis e agradecemos nos momentos de alegria. A mãe de todos as pessoas que acreditam que ela exista. A mãezinha do céu. (Risos) Letícia: Qual a idéia que você obteve dentro da Igreja Católica sobre Maria? Elaine: Desde criança, vi em Maria o exemplo da pureza, da perfeição, o exemplo de mãe, a mulher que sofreu por ter seu filho pregado em uma cruz. Todos esses valores eu aprendi dentro da igreja e foi com essa visão que aprendi a confiar e acreditar nela. Letícia: Qual a sua visão sobre Maria? Elaine: Tenho em Maria a visão de uma mulher batalhadora. Aquela que acreditou no Divino Espírito Santo e viveu o impossível e aquela que viu seu filho sofrer e sofreu por ele. Letícia: Quais os valores pregados sobre Maria que possui mais significado para você? Elaine: O maior valor pra mim é o de confiar em Deus, pois assim que ela fez, onde segundo a igreja, ela recebeu um aviso do espírito santo no qual ela teria um filho mesmo sem ter nenhuma relação com homem. José que se casaria com ela não teve aceitação instantânea no momento que soube, porem Deus não deixou que ele abandonasse ela neste momento. Letícia: Você acredita que os valores de Maria, tais como a pureza e a castidade, possui significado para o mundo de hoje, em especial para as mulheres? Elaine: Atualmente valores como a pureza e castidade não possuem o mesmo significado que possuiu há muito tempo atrais. A castidade deixa de ser algo que moralmente era obrigatório entre as mulheres. Esse é um dos maiores valores que não são seguidos no mundo atual. Letícia: Em sua opinião, o que mudou para que as mulheres distanciassem das qualidades de Maria? Elaine: Acredito que o que distanciou as mulheres de Maria e de suas qualidades foi a falta de fé, não só nela mas em Deus também. As pessoas não acreditam que ela tenha sido realmente a mulher que a igreja prega. Letícia: Você segue os valores de Maria e considera-os em sua própria vida? Elaine: Creio e acredito em Deus, assim como ela fez. Procuro não questionar e nem me revoltar contra ele. Sou religiosa e acredito muito nela, tanto que meu aniversário é no dia da Santa Imaculada Conceição. Letícia: Diante das qualidades de Maria, o que acha que ainda permanece nas mulheres? Elaine: Acho que o maior valor de Maria seguido até hoje é o amor de mãe, aquela que sofre, dá sua própria vida por eles, que luta para que eles sejam pessoas melhores e que amem uns aos outros. Que seja ao ser mãe um pouquinho do que Maria foi. ENTREVISTA 14

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ENTREVISTADA: Carmem Lúcia Cabral IDADE: 29 anos DATA: 15/09/08 LOCAL: Morrinhos ENTREVISTADORA: Letícia do Carmo Silva Letícia: O que Maria representa para você? Carmem Lúcia: Ela representa pra mim um modelo de mãe, de auxiliadora, companheira e fiel. Eu creio muito nela, pois tenho a minha fé. Letícia: Qual a idéia que você obteve dentro da Igreja Católica sobre Maria? Carmem Lúcia: Ah, obtive a idéia de que Maria é nossa mãe, e a igreja tenta nos passa que Maria é um exemplo de mãe a ser seguido. Letícia: Qual a sua visão sobre Maria? Carmem Lúcia: Minha visão sobre Maria é bem semelhante a da igreja, porque tudo o que aprendi sobre sua vida foi dentro da igreja, a qual pertenço desde criança e essa visão é de mãe auxiliadora e que nós protege sempre. Letícia: Quais os valores pregados sobre Maria que possui mais significado para você? Carmem Lúcia: Todos, porque Maria é vista como um modelo a ser seguido. Creio que todos os valores sejam de suma importância, não só na vida cristã, mas na vida fora da religião. Letícia: Você acredita que os valores de Maria, tais como a pureza e a castidade, possui significado para o mundo de hoje, em especial para as mulheres? Carmem Lúcia: Esses valores de castidade e virgindade não são tão importantes para o mundo de hoje, pois as pessoas vivem uma libertinagem demasiada, mas uma pequena minoria das mulheres, dependendo da família em que foi criada esses valores ainda são importantes, mas pouco preservados. Letícia: Em sua opinião, o que mudou para que as mulheres distanciassem das qualidades de Maria? Carmem Lúcia: Os valores mudaram. As pessoas valorizam mais as coisas materiais e a busca por certos prestígios mundanos e fez com que as pessoas, principalmente as mulheres distanciassem, dos valores pregados. Até o fato de ser mãe não tem importância para certas mulheres, pois deixam seus filhos abandonados, totalmente o contrario de Maria, que esteve ao lado de seu filho até a morte. Letícia: Você segue os valores de Maria e considera-os em sua própria vida? Carmem Lúcia: Alguns como o de ser boa esposa, pois penso que sou e faço o que posso pra que eu seja. E também acho que serei uma boa mãe, pois em casa eu tive esse exemplo representado por minha mãe. Então todas as qualidades de Maria presentes em minha mãe, com certeza farei o possível pra seguir e repassar aos meus filhos. Letícia: Diante das qualidades de Maria, o que acha que ainda permanece nas mulheres? Carmem Lúcia: É difícil apontar uma qualidade de Maria que ainda permanece nas mulheres, pois os valores são tão diferentes. Em meu ponto de vista o que ainda permanece é

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somente o dom de ser mulher. Vou te falar uma verdade. Pra responder essa pergunta seria necessário conversar e entender cada mulher, o que é impossível. Dessa forma é bom deixar que cada um descubra essas qualidades em si mesma e se por acaso não tiver, paciência. ENTREVISTA 15

ENTREVISTADA: Poliana Barbosa Ferreira IDADE: 24 Anos DATA: 29/09/08 LOCAL: Morrinhos ENTREVISTADORA: Letícia do Carmo Silva Letícia: O que Maria representa para você? Poliana: Maria representa pra mim uma mulher que foi exemplo principalmente quando se fala em um padrão de família e conduta. Quando estudamos sua história, percebemos que ela foi uma mulher perfeita, onde ela cuida bem de sua família e é fiel ao seu companheiro e uma boa mãe. Letícia: Qual a idéia que você obteve dentro da Igreja Católica sobre Maria? Poliana: A visão que a igreja passa sobre Maria, que se tornou padrão, é de uma mulher submissa, que não tinha vida própria e seu papel foi somente ser dona de casa, servidora de seu marido e seus filhos. Então a igreja usa a imagem de Maria como se fosse um padrão, onde nós mulheres temos que seguir fielmente. Letícia: Qual a sua visão sobre Maria? Poliana: Minha visão sobre Maria foi que ela foi uma mulher sem igual, de um amor infinito, porque pra ela romper barreiras como ela fez que foi conceber um filho ainda virgem e solteira, que para o padrão da época era um escândalo, ela foi uma mulher que não se preocupou com o que as pessoas iam dizer ou pensar. Ela foi ela mesma, sem um padrão pra seguir e hoje sua história e representação sobreviveu até hoje na nossa cultura. Letícia: Quais os valores pregados sobre Maria que possui mais significado para você? Poliana: Bom eu vivo sem pensar em seguir o papel de Maria, mas sem notar, a gente já segue porque se transformou em um padrão onde a mulher tem que casar virgem, ser submissa, ou seja, não ter vida própria. E este padrão, eu acredito que não foi criado por Deus, mas pelo homem. Não estou dizendo que a mulher tem que ser perdida na vida, só acho que a mulher tem que viver seu próprio papel sem estar presa ao padrão de Maria né? Ou seja, é a mulher ser sujeita de sua própria história. Letícia: Você acredita que os valores de Maria, tais como a pureza e a castidade, possui significado para o mundo de hoje, em especial para as mulheres? Poliana: bom quanto aos valores de Maria, acredito sim existir até hoje, principalmente por famílias que se mantém tradicional dos valores da igreja, mais isso é uma questão variável, que pode ser determinado por vários fatores. Um deles é a modernidade, que trouxe para os homens a opção de decidir por sua vida e assim foi a mulher que no decorrer dos tempos ela vem transformando sua realidade e sua história. Letícia: Em sua opinião, o que mudou para que as mulheres distanciassem das qualidades de Maria? Poliana: O que fez a mulher distanciar do padrão de Maria foi suas conquistas obtidas em sua vida, tanto social, profissional e religiosa. E outra questão é a modernidade que vive transformando a mentalidade das pessoas e trazendo liberdade pra viver.

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Letícia: Você segue os valores de Maria e considera-os em sua própria vida? Poliana: Sim pensar no padrão de Maria eu acabo sendo pressionada a viver como Maria, principalmente pela sociedade, mas hoje eu vivo minha vida sem ser pressionada a casar, ter filhos, constituir uma família, ou seja, vivo em busca de minha identidade e de minha história. Letícia: Diante das qualidades de Maria, o que acha que ainda permanece nas mulheres? Poliana: Acredito que seja a maternidade, o matrimonio e o amor incondicional.

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