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LINGUAGEM

" JURIDICA

SÃO PAU LO 2008

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~p IDik Brownel

iJII LENDO O TEXTO

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o humor do texto de Dik Browne liga-se diretamente a uma oposição entre a visão do monge que observa Hãgar e sua família e o sonho do próprio Hagar, que revela os ver­dadeiros pensamentos e sentimentos do bárbaro.

Para o monge, a personagem, dormindo um sono tranqüilo com um sorriso de bea ti ­tude nos lábios, seria prova de que um viking vive em paz com a natureza, mansamente próximo aos seus. No entanto, nós, leitores dessa história, conhecemos também o sonho da personagem e sabemos que o sorriso de Hagar advém da lembrança de seu dia-a-dia e de seu prazer em saquear, atacar, pilhar.

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o monge menciona a "reputação injusta" dos vikings, que eles não seriam horríveis, e sim "verdadeiros cordeirinhos". O fim da história, porém, apenas reafirma a fama de Hãgar e do povo que ele representa.

Embora se trate de uma história em quadrinhos e, portanto, não tenha a pretensão de ser um retrato fiel da realidade, podemos dizer que o autor aborda uma questão impor­tante e facilmente comprovável: cada povo tem sua maneira de ser, de ver o mundo. Cada povo possui seus próprios valores, suas criações. Cada povo possui sua cultura e uma língua própria para traduzi-Ia.

"Cultura pressupõe uma consciência grupal operosa e operante que desentranha da vida presente os planos para o futuro." (Alf redo Sosi)'

E como se desenvolve uma cultura? Vejamos.

o hom.e1Ill ser social O homem, como ser social , precisa se comunicar e viver em comunidade, que é onde

troca seus conhecimentos e suas experiênc ias. Estes, por sua vez, irão levá· lo a assimilar e compreender o mundo em éjue vive, dando-lhe meios para transformá-lo,

Ao acumular as e:;"l'eriê",:i:.: ~~ SUá comunidade, o homem vai construindo uma cul­tura própria que é transmitida de geração para geração. Para transmitir sua cultura e para suprir a necessidade de buscar a melhor expressão de suas emoções, suas sensações e seus sentimentos, o homem se viu diante de certos desafios: um deles foi o de criar e desenvolver uma maneira de comunicar-se com seus semelhantes.

Distanciou-se, então, ainda mais dos outros animais, pois foi o único que conseguiu criar símbolos e signos de vários tipos (lingüísticos, picturais e gráficos) com o intuito de comunicar-se.

Linguagem, língua e fala Para comunicar-se o homem emprega símbolos, gestos, desenhos .. . Mas o meio mais

eficiente que conhece e de que dispõe é a linguagem. Linguagem humana é a capacidade do homem de comunicar-se por meio de uma

língua,

A linguagem verbal não é a única for ma de o ser humano transmitir informações. Como mostram as fotos. o desenho e formas geométricas também têm essa característica e são usados. por exemplo, em placas de sinalização de trânsito e placas em geral,

• 60SI, Alfredo. D,alética da colomzação. Sào ?awo. Compannra aas Le~ras. 1992. p. i6

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Língua "( ... ) é a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, que, por si só, não pode nem criá-la nem modificá-la; ela não existe senão em virtude duma espécie de con­trato estabelecido entre os membros da comunidade. Por outro lado , o indivíduo tem necessidade de uma aprendizagem para conhecer-lhe o funcionamento ; somente pouco a pouco a criança a assimila . ( ... )" (Ferdinand Saussure)·

Língua ou idioma é um código, ou seja, um conjunto de elementos e de regras combi­natórias que possibilita a troca de infinitas informações. Conhecida e utilizada por todo um grupo social a todo momento, a língua, embora constitua um sistema praticamente fechado , pernlite a transmissão de qualquer mensagem desejada. Portanto, seu emprego é ilimitado.

Segundo Ferdinand Saussure, a língua é uma concepção abstrata, que só se realiza quando empregada concretamente em um momento de comunicação.

Ch;:;ffia-se fala a realização concreta de uma língua, feita por um indivíduo de uma comunidade num determinado ato de comunicação.

Para comunicar-se, cada indivíduo utiliza o código lingüístico do modo que julga mais apro;;riado . No entanto, para que a comunicação se dê de maneira bem-sucedida, faz-.w nec,:ssiirio que a lingua - que constitui o código lingüístico - seja respeitada em sua; regra, n:ternas. Assim, podemos dizer que uma língua é comum a todós os indivià~'Js ..: '­uma ,~e t ~ r!Oinada comunidade lingüística e que a fala é um ato individual, efetuado pOI um mer.:bro da comunidade.

Variedades lingüísticas EnJ.prega:';.;, p0T tib grande quantidade de indivíduos, em situações tão difercméS c "

todo momento, é de se esperar que a língua não se apresente estát icã . vu seja, condicIO­nantes sociais, regionais e as diversas situações em que se realiza déerminam a ocorrên· cia de variações em uma língua.

Dino Preti .. subordina o estudo das variedades lingüísticas a dois amplos campos:

1. Variedades geográficas

• Falares regionais ou dialetos • Linguagem urbana x linguagem rural.

2. Variedades socioculturais _

• Variedades devidas ao falante - Dialetos sociais - Grau de escolaridade, profissão, idade, sexo etc.

• Variedades devidas à situação - Níveis de fala ou registros (formal/coloquial) - Tema, ambien te, intimidade ou não entre os falantes, estado emocional do

falante .

• SAUSSURE, Ferdlnand Curso de Imgulsflca geral. 20' ed. São Paulo: Cuhrix, 1995. p. 22 . •• PRETI. Dlno SOCIOJif1gülsilca. Os níveiS da fa la 7· ed. São Paulo: Edusp, 1994 , páginas 24-25

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-,'- , i,ê'.' ': ': ' :.:. . q' ''', .' • o homem, a linguagem e a comunicação ;;:J~.j-.·~f - ~ ,- • • >,.

Variedades geográficas

(19C Anu~flo de Criação)

o anúncio faz um trocadilho entre 'bichas' (filas), marca típica da sOé ·edade lIrb"o" '" bu,~'~~alizada, e 'bichos', símbolo de natureza e vida natural. O texto, no entanto, ta lvez soe estranho ao falante da língua portuguesa que mora no Brasil. Pa ra nós, as pessoas f0r .... ,õ .... , :::3S (e não hichas) quando aguardam sua vez de serem atendidas em um banco, em uma bilheteria de cinema etc.

Pode-se perceber facilmente que a maneira como o português é empregado no Brasil e em Portugal não é exatamente a mesma, assim como tambél!! é diferente nas regiões geográficas brasileiras e até numa mesma região. Tomemos como exemplo o Sudeste: os falares de Minas Gerais e do ruo de Janeiro apresentam suas peculiaridades e distinções.

Do mesmo modo, as regiões urbanas e as regiões rurais também possuem vocabulário e pronúncia diferentes, bem ~omo e:Kp;essões típicas.

Portanto, há variações na língua condicionadas a aspectos geográíicos.

Variedades socioculturais Variedades devidas ao falante a) Grupos culturais

Uma pessoa que conhece a língua que emprega apenas "de ouvido", que não teve a oportunidade de tomar conhecimento das regras internas que a compõem, domina essa língua de cujas realizações participa de forma diversa de uma pessoa que tem contato com esse código lingüístico por meio de livros, periódicos, dicionários ou ainda por inter­médio da convivência com pessoas de boa formação intelect'Jal.

Atenção: não se quer dizer que um fale melhor ou pior que o outro. Deseja-se apenas registrar o fato de que a formação escolar de um indivíduo, por exemplo, suas ativi­dades profissionais, seu nível cultural podem determinar um domínio diferente da língua.

Cada classe social - econômica mas sobretudo culturalmente falando - emprega a língua de uma maneira especia l.

b) O jargão (uma variação social)

Observe os diversos grupos profissionais: cada um deles faz uso de um vocabulário e expressões que são típicos de seu trabalho. O jargão - essa linguagem técnica que alguns profissionais dominam - é empregado por um grupo restrito e muitas vezes é inacessí­vel a outros falantes da língua.

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l ]j , Int-roduçãO à lingüística . " , •• ,' >:' ~ ' .'.; , :' 0,."",, ~".:.' .• ' ... ~, 't- .• ->,:~,~_

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Se pensarmos, por exemplo, na linguagem da economia, da informática.,. Quantos de nós estamos preparados para entendê-las?

Variedades devidas à situação

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e:r~4z N/éU MAcHADO",

o GR.A.NDl!.

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(Oik 8rownel

o humor da tira é determinado pelo 'eX2"SSC U'õ Informa: ,dade' por parte do namorado que acaba de ser apresentado aos pais da garota. Como uma norma de boa educação, espera-se que a pessoa estranha seja gentil, dirija-se aos donos da casa com respeilO e manifeste a::}J'na cerimônia, como um pedido de licença. Cabe a pessoa visitada dispensar as formalidadc3 8 '"zar com que o estranho se sinta bem. Nesse caso, observe que o namorado nem nl3smo cumprimenta a garota e se dirige aos pais dela com tanta grosseria que Hagar toma uma pos;çé,) 'defensiva", ameaçando o rapaz com um machado,

A ilustração nos mostra o emprego de uma linguagem pouco adequada à situação que envolve as personagens.

Analisando nos,a própria ma:1e>" de :~~ lar, cada um de nós ê capaz de perceber que dominamos vário ' "línguas", ou seja, temos vária~ maneiras de "registrar" a língüá. A cada momento fazemos uso de um desses registros.~

Observe: uma criança de dois anos, quando cai, pode dizer que machucou o hum­bum. Sua mãe, ao agradá-la, pergunta: "O nenê machucou a bundinha?", Ocorrendo um problema mais grave, ao levá-Ia ao médico, os pais provavelmente diriam que o problema ê nas nádegas . E o médico? Bem, ele poderia anotar que a dor é na região glútea.,.

Veja que todas essas expressões são de nosso conhecimento e sabemos, quase intuiti­vamente, qual é o momento mais adequado para empregar uma ou outra.

A variação de m.aior prestígio: a norDla culta

Falamos genericamente sobre variações da linguagem, mas seria conveniente destacar ao menos três delas: a linguagem coloquial, a norma culta e a linguagem literária,

Linguagem coloquial ou norma popular É a linguagem que empregamos em nosso cotidiano, em situações sem formalidade, com

interlocutores que consideramos "iguais" a nós no que diz respeito ao domínio da língua.

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" " , '" , O homem, a linguagem e a comunicação _ ;"_1 : " . '." ' .. :, ' . , . , " , ' ~, .

Na linguagem coloquial, não há preocupação no tocante a um falar "certo" ou "erra, do", uma vez que não nos sent imos pressionados pela necessidade de usar regras e damos prioridade à expressividade, à transmissão da informação por si.

'.~: ,'>, "Osptúlcípios da norma popular compõem umà ,yerdâd.eir~ 'iramátic~popular , f imp:r.~ci(iíi.~ :: , "~ simplificação considerável da gramática' cuHa, 'nUm 'hiO"4íiito grariàe "de elementos ~fê­!'(tivos; ntim:a pronúncia menos çuidada, num abund~te vocabulário gírio' e outros 'elementos,:;: c;:í'fetivos da língua e, em geral, revelam uma menor dose de- reflexão na escolha das formas l ' "lingüÍsticas pelo usuário.- :;Jf:..')~:':·

fOlno Pretr)-

Norma culta ou nOrIna padrão Se há tantas variações em uma língua, qual delas é a ensinada na escola? Por que essa

e não as demai s" "Quem" faz essa escolha?", Essas perguntas apenas refletem um fato: de todas as variações, uma tem mais prestí­

gio que as demais e acaba por ser escolhida como padrão a todos os fa lantes,

~~i;' "Óia1é~(. -padrã .. ; !;~~;;~~~~~~~~~~il~~~i~~iiii! ~~ó~JfaJJ!~. '?);:;.h c~ 'a' !J'!b'~;rêln' ~'" dclo·:.;.·'lW 'it ' W~~i~~~Mruàd~, ~I~" laçã,~~e~4~o. ~ " f1p ~"" " , ' ' , ~:~I,i,é1ip}a,do nos m~Qs , " ~ " etc!r. ensUlado n~ escola,!! cod$cado nas ,:.>,,,:. ,",' ~i~fqu~ ,56.0 ?ialeto padrão pode t~r uma gramática,guan~oHuatCJ.~,~r" v;:t}~,~,d,~ l,.i ·11' !gü,,!~,\jl<,l p'~,,'~ ";.:, il:~;;r:a sua): B ainda, fundamentalinente, o dialeto u~ado qu~4Q~~, escreve,(há,n,~ttll, r,!!I!lente,; : i:_~qi(r:rençasformajs, que decorrem das condições específicas de' produção da língua " :, exemplo, de sua descontextualização), Excetuadas diferenças de pronúncia e pequenas diferen: r '~s de i/':;cabllIáric, o dta!eto padrão sobrepõe-se aos dialetos regionai ~, e é c mesmo, em.,toda " C a'e'lctensão do país." . ' , , " , ,', -<: .; \- :;- -;.-:!':T_" ,.::~.

iMagda Soares) ··

Linguagem literária Chamamos de linguagem literária aquela que é empregada por poetas e prosadores

da língua dos mais diversos períodos que compõem uma literatura, Muitas vezes, o padrão que os escritores empregam segue a norma culta; não raro,

porém, apresentam desvios desse padrão, buscando maior expressividade, maior reflexão por parte do leitor.

Assim, os desvios da norma culta passíveis de serem encontrados em um texto literário diferenciam-se de um desvio de um falante comum , distraído ou não conhece­dor das variações da língua basicamente por este dado: são desvios intencionais, de quem conhece muitas \'ariações e faz escolha ("passeia") entre elas para atender a algum obje­tivo específico ou obter um recurso express ivo,

As grarn.áticas o texto de Magda Soares citado anteriormente nos permilt' perceber que a palavra

gramática pode ser entendida em sentidos diferentes, a saber:

• Op. clr. São Paulo Ed \... SP, 1994, página 56

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• • SOAR ES. Magda. Lmguagem e escola. Uma perspectIVa socla/.JedSene r- undam f.!n:Qs. S30 PaulO At:::a. 1986, ;;D 82·3 I 1 '-

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.,,-:.: . Intr~d~çao a 1 !'1)~,Ulstl~a , : ,;'1; " . '.' ", \t,' '~.,' _; ' .;'.. ., ,,:Yr

1. Gramática da língua lou gramática descritiva) - é a que estabelece os elementos e as regras de funcionamento de uma língua. Gramáticas dessa natureza existem mais na teoria do que na prática, ou seja, sabemos de que se trata , mas sua concretização em livros se dá apenas parcialmente, quando um lingüista se propõe a estudar fatos da língua portuguesa, por exemplo, a estrutura das frases.

2. Gramática normativa - é a que procura registrar o padrão da norma culta de uma língua, determinando o que é certo ou o que é errado , tomando como criiério o padrão culto (e não as demais variedades da língua).

Vale observar também que um gramático pode seguir mais tradicionalmente a norma culta que outro; um autor pode .aceitar variações consideradas impróprias por outro, o u seja , mesmo entre as gramáticas da norma culta muitas vezes encontnlC'lOS informações que estão em desacordo.

As gramáticas escolares, além de descreverem o dialeto padrão, trazcn . exe rcícios e atividades que procuram auxiliar a assimilação de estruturas e que pretende m que o estudante aprenda a empregar construções e modelos específicos da ["yrna ..:," ta.

o que é NGB? Trata-se de um trabalho que visou a simplificação e uniformizJç::~ Mo (,10men;;!3tura

Gramatical Brasileira. Foi e laborada como 'anteprojeto' em 1957, por uma comissão constituída p'l!CC: professores

Antenor Nascentes, Clóvis do Rego Monteiro, Cândido Jucá (filho). Carlos He1)rique da Rocha Lima e Celso Ferreira da Cunha, e fixou como Normas Preliminares do Trabalho: a) a exatidão científica do termo;

b) a s ua vulgarização internacional; c) a sua tradição na vida escolar brasileira.

Pela Portaria nO 36, de 28 de março de 1959, a NGB foi 'recomendada' S 3 Sl'ô :igência, a partir do ano letivo de 1 gtiD, 'aconselhada'.

Linguagelll oral e linguagelll escrita

Por abranger todas as relações cotidianas do homem, a língua precisa de certos cuida· dos para que desempenhe o importante papel da comunicação.

Convém, p or isso, notar que entre a língua ora l ou falada e a escrita há diferenças bem acentuadas. Escrever uma história , por mais simples que ela seja, é diferente do ato de contá· la oralmente. Cada uma dessas modalidades de expressão tem suas características, seus fundamentos, suas necessidades e suas realizações.

Veja como Jê Soares faz essa distinção com humor:

~~l~~).~~r§guês é fácil de aprender porque 'é uma língua que .. se ~screve . .: t ~·~~}F$.~'t'~:·i'ljo<?'-;,~-;·.... exatamente como . s~ fala;~~'~ e.:.:, ,\'~ >. )~'/{'.r~l.:n l~r~l ':'"S.1,l~r

:;. ~~'-:/~ ... •• ~ ... -$ ~ ~ r .. ~. ;;J.~!C" ff ot-~ -~."""·n ·'-~ . fi:~t?is~' l!' purtuguêis é muÍDto fáciu di aprender"purq'!:Í1é'.]~~, líõgiía~~~~$llf!.~~:::,; " ~~enti curou si fala. Num é cumu inglêis qui dá até vont!ldi di ri quandu ~ genti dlScobri ' :~$$!!~i,iscrevi algumas palavras. Im purtuguêis n~o . E só yrestátenção: U alemão pur t\ rfe~p!u., Qué coisa mais doida? Num bate nada cum nada. Até nu espanhoLqui é pareddu;csil :j .. )sêr~ muinto díferenti. Qui bom qui a minha língua é u purtuguêis. Quem soubé falá sabi . fr~eyê ~ .. ·~';!··· " . ~, ,,: ~....cr.J.W ~ ..... :J •.. "

Uê· Soares

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Nesse trecho, podemos observar que o humorista tentou uma aproximação entre a lín­gua falada e a escrita e pôde, até, "copiá-la"; porém, "essa cópia é sempr e uma trans­posição ou uma deformação'" da fala.

Atualmente, alguns escri tores modernos - uns com certo exagero -, como afirma Evanildo Bechara, têm procurado diminuir a distância entre a língua falada e a escrita."

Para melhor entender o assunto, veja algumas das características de cada uma:

• Numa situação de comunicação, a mensa­gem é transmitida de forma imediata.

• Em geral, o emissor e o receptor devem conhecer bem a situação e as circunstâncias que os rodeiam. Se, por qualquer motivo, : isso não acontecer, pode haver problemas de I comunicação ou, simplesmente, não haver mensagem.

• Numa situação de comunicação, a mensa­gem é transmitida de forma não imediata.

~ r'.?c~J..llOr ilov precisa conhecer de forma direta a situação do emissor nem o contexto da mensagem.

-,--'" .---.-------------11 • A mensagem costuma ser transmitida de I • São empregadas construções mais com-

forma mais breve, notando-se nitlda te r.:31:'::! ~'P:<3S , mais planejadas, pois subentende-se de economizar palavras. qc;e o emissor teve mais tempo para elaborar

• Com a presença de um interlocutor, que por.e, ê mensagem, repensando-a, modificando-a. a qualquer momento, interromper a conversa, i E, por ISSO, mais comum o uso de orações é comum o emprego de construções mais ' mais complexas, subordinadas, que exigem simples, frases incompletas, com ênfase nas I mais esforço de memória ou de raciocínio. orações coordenadas, 'mais espontâneas e i mais livres, menos reflexivas'.·.. I

, " • Há elementos prosódicos. como entona- I

ção, pausa, ritmo e gestcs, que enfatlza fl ' o significado dos vocábulos e das frases. I

C::>mo não é possivel, na língua escrita, a uti­J:zaçs.o do.5 clementos prosódicos c:~ lir'gua falada, o emprego dos sinais de pGrHua~ão tenta reconstruir alguns desses elementos.

Eis um exemplo: um curioso registro escrito de uma linguagem radiofônica, portanto, falada:

(Homenagem da Radio Aménca a um c~s precursores do nosso Radlo. Jornal da Taroe - adapta do)

• BECHARA. Evani ldo. Modema gramática panuguesê São Paulc. Companr·ja Editora NaCional. 1983 o 24 •• Cf. idem. ibidem. p. 24

••• BORBA, FranCISco da Silva Imrodução aos estudos j-nguiS !ICOS São Paulo. Com:::>anhla Editora NaCional. 1975 .... 262

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2 :;lfrodução à Lingüística

Pág. 11- 23

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José Luiz Fiorin(org.)

Introducao , Lingüística I. Objetos teóricos

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Linguagem, língua, lingüística

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E t.>cu~ d,~"!: I ~ ~I'\:O;I lu, .. E a IU7, "'li~liu E Deus viu que:1 IUl_c ra boa: c sep:lflm a IlU. da,

trc va,. E ,ha.) ... ,u li !t,., di:o . ..: ;" ItC\':l ' ""i.... E rt!1. -se tarde e manhã, (e fui) 1i prilllelNl lha 0;/1('.\1.1,1, / -5

É notável a semelhança observada nas explicaçõcs em epígrafe' sobre a origem do mundo: embora formuladas em épocas remol;:l$ por sociedades bem diversas, associam a palavr:J - a linguagem verbal - ao poder mágico de criar. O fascínio que a linguagem sempre- exen,:ClI sobre o homem vem desse poder q ue pcnnite não s6 nornearlcriar/trans­fonnar o universo real. mas lambém possibilita trocar experiências, falar fobre o que existiu , podcr;Í vir a exisl ir, e mé mesmo imaginar o que não precisa nem poUe existir, A lingu.lgt; m verbal é. então. a Itlaténa do pensamento c o veículo da comur:licação social. Assim (Otll{1 nij'l Id socitdade ~cm linguagem, não há sociedade sem comun icação, Tudo \.) i.1\H' ~ :1IOd .l 1 li ttl~l I'Jl g~~::,!';n ocorTe em sociedade. para ser comunicado, e, como tal,

con';(': I UIll;) jc:d td,'dc. 1ll, lh 'lI al que se relaciona com o que lhe ~ exterior, com o que

n;i"!I' i .'tr p'~fll..: <_ ntCtllC'lt l,_ ,b Ihlguagcm. Como realidade material- organização de sons. pal avt~::. ir<l"'" a liLlgllagem é relativamente autônoma; como expres!;ão de .emoções. id·=j il~ .. \'''''j"''·,i l O~, no (~:1l.an(O , ela é orientada pela visão de mundo, pelas in~unçõcs da f".;.llit l..uk SCt'lal, ! llSIÔt le ... to: cultural de seu fa lante.

1\ c(.lInplcxidadc do fenômeno lingürstico vem há muito desafiando a compreen­são úus estudiosos . Retraçaremos, inicialmente, a história dessa busca para entender co­mo o objeto de estudo - linguagem. língua - foi aos poucos se delineando e assumindo as configurações que hoje possui I\OS estudos lingüísticos.

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12 I"I,odv<;õo Ó li/l9Ui ~IICQ

Uma breve história do estudo do linguagem

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;11' ' I "~ Ulll J\ a.(' o ... pl imeiro, 1~\tlldo\ 11I 1l'i;rll11ente , tOI';1I11 la/Cleo.; rl'li~io";:ls quI.: k\;\r:t1ll o .. IHOdu ... :1 l',I\ld,lr ,\1:1 IInl-'ll :1. p:rr;1 qtll' o ... k\to\ .. d/;!r;ldp\ n'Ull ldlh !lO \h/u n:lo ... otll'''':-'l'lll 111<1,111'11';1\'\-'1'\ 111 ) 1l1l1tlll'nl0 d,' "'1'1 IH oktldn. M:u ... 1:lltk o .. t!ralll:tlll"ll'; hindu .... l'lltn: o,

1111.11'- 1';1111111 " l:Ur!O IV;I ( 'I. dedlGll<lIH "'L' ,I d<':~lfl'\1.: 1 11I1IIHl"ill:-,;ullelllc ... u:! !ill~\l:l. prndu· /111' I.' I lItllk'h lo.; dt.: ai I .. íI!<;(' lIlll' tiH ,1111 Ilc.,ll 'lll·III .... IIl' h I (kidl'lllt.: IIP li n:11 du "I.;,·uh . X\·J1J.

( h yt C-).!tl'" prl'Ol"llpar;lIl1 -"'c . 11I1IIl" lp:tltllelllt.' . 1'111 ddinir ;1 ... rl'1.1\·(J\':--' CIIll '-o il Cll!ll'l'l -11 11.':1 p:II:1\1'<I qUl' (J dc-sign:l. ou 0.;,--j:J.Il·III;I\:1I111(' .. pOtl~kr il pl'rgllt1l:c haver:i ut\1a Id"''1';'I\1

Ih'I'\''<\;íli:1 ('nln';1 1';II:lVI:I l' o ~I.:U :-.iJ;IH!"tGIt!o·' I'I:lt:io di ... clI1C Illuito bl'llll'ssa qUl'St;}O t10 (·,. lIdll. {\li"IÚldt."; lk'sell\'IJlvl'l! l' .. ludo ... Il!lllll<1 d1l"l,\·;}O. tt.: llt:tndo pnll"l'del:r Ull1a ;\lüili .. ~· pl \'\ 1\:\ 11:1 ~' ... Inltura lingüÍ:-,ticl. chq;ou;( d.thot:11 IIltla leoli" d"Ir;"l', ,I di:--.!in!,!uir:1:--' pat -

1,'\ dOI dl :-.cllr ... ol.: a l'lllllllcrar ao.; Caic1!l1n" ... )!t;lI11al ll"< lI o.; f) .. : II!l e \" 1;11111\1" . (kst,Il':t -sc Van:io qU I.:, lia (' ... teira do--; gn·go,. lkdicoLl-:--'c ;1 !!,ra

111;111\':1. l! ... l o !(;; tllll()- ~c por ddmi la COIllI ) ll(IICI<l C (OI11U arte

Na Idade "kdia. ,)0.; lIIo(b\fa.\" nlll ... idt'III'1I11 qUI' il e,tlutur:.l gral1Huil·allbo.; lín~ua ... ~. 1I1l;! e U1l1\Cr\al. e que, cm consl'qliêllcIOI. :I ... Il'J.! l<l o.; lla gratll;ítica .,?io independentes da..;, líll!'lI:to.; etllljuc .... 1.: lt.:alil.i.ltH.

Nc) ~el: ulo XVI. a fl.:lJ;;imilkldc atl \ ;1\1;) pe la Rcf trina pf'o\'oca a traduçJo dm \iVIO:-.

:-':I!,' lado\ t'lll llut1lcroSUs Iín!!u<I''- "pl'''':1I Lk 111;rI1tl·r· ... \ o pn="tígio do lali11l l:011l0 linglr:t 11111\ \'1'\;1 1. Vi:ljant eo.;. CIl1l1l! rl:;;1IJ{l.:s c dipI< l11r;11:t ... trazem de o.;lIas experiênclao.; no e ... lr:lllgei­lI' II lonlredlllelltll Jc língua ... ;1113 e.lI:lo de\! t11\I1l'Cld,!<;. Em 1502 :-. urgl' {) IIlai., <1tlligil di li' 'll.i l10 poliglota, do ilaliano Arnlml:--.iu ( ·;dq1it1\J.

Ih séculos XVII e XViii vão dai cUlltlnlli(klde i\~ prcocup,lçôcs (lns :lntigus . Eltl I ('(If). a Gmll1/J/oire {,(:/Jémk ('I R(/i.\/J/JI/{:/' dI.: 1'0 11 RoyaL ou CilOllllÍtiC(I de Pon RnYl/l,

J l' I atll'clot c Arnaud. Illodclo p:lI:1 gl:llllll t\lill1CIO de gr:ullál1t'<ls UO M~nrln XVII. (r,I'­

!lH I I1~tla quc a lingllagem se funda 11:1 r;J/ ;iu. é a illlUgC 1l1 do pensamento e qllL'" port:J11IP.

1'\ pl ll1l'íplOS de análise estabelecido\ n~() "'L' pn::11dem a utlla língua particular, m;lo.; Sl'r­\ l'nl a toda c qualquer língua.

O conhccim\:nto de um número maiOI dt: línguas vai rrovocar. 110 !'.t.!L:ulü XIX, (1 in· tt· lt· ... \e pelas línguas vivas. pelo estudo comparat ivo dos falares , em dctrimento de um ra­l.'II, .. inio mais abstrato soblc a linguagem, (ll)\t~ rvado no !'éçulo anterior. É nesse período que ,<" desenvolve um método hi :--. tórico. mt, ttumento importantc para o norescirnento da" J:mmótlws ("ompamda.\· e da Lingl/Isr;m Hnlátlt'tl . O pensamento lingüístico comcmpo· rfinc(.l. mesmo qUI:: em novas hase!'., formou se a p.lnlr dos princípios metodológ icos ela· bpr:tdoo.; nessa época. que preCOni73\am J análise do!'. fat os observados. O estudo compa­

lado das línguas v;Ji evidenciar C) lato de 4Ul.: as línguas se transformam com o tcmpo. lJ ld epend~ntemente da vontade d{)s homens. se.guindo uma necess idade própria da língua (! ttt,utifestando·se de forma reguülr

Fran?: Bapp é o estudioso que ~e dest;Kil nC'isa época. A publicação, em 1816, de­sua obra sobre o sistema de conjugaçãu do sânscnto, comparado ao grego, ao latim, ao plT~a e ao gennànico é considerada li lI1:lI"((1 do surgi mento da Lingüfstica Histórica. A dt' s('ohcrta de semelhanças entre es~as 1it1gtta~ e gra ndt! parte das línguas européias vai

linguagem, lingun, l.ngui5tiCO 13

cvidclH:i:tr que CXi~h! enhe ~las um~ rclaCj;illllc J'(/}~'Jlf(' \nl, que da .. cunstituem. pun:mlll. IlIIlafÍlmília, a illt/O·t'/IIt1I,éill. t.:ujo" membros 1l:1I1 IIlIIa ungem t:otJwm, \) indo'('um'll'l l ,

ao (IUal se IXldc chegar por meio do 111':lodo hi",túr H':I"l"IlIllparaIIVt).

() graml!: pro!!rC:"I' na in\'cslig:l\,Jo lIo d C"L'Il\'ol\'ItlIl:1I111 fu", 'uICIJ Lia .. lillgu:I\ IX'OI­

fujO li!! "énllll >..IX roi .tclllllpalllwdo IXlr uma dC\l"\lhe na lundallh';l1l;d qw: ,-,c io ;1 ahl..'wr.

1l1\ltklfl;IIIICIIIl:, 11 prúprill OOJI.:IO de ;lO:íli:-c UI'" C ... III\lI'" '.obre a linl!LI:ll!l 'rn -1i1lt:'II(1li/(·nj.

//11 <tIl: l'lll:;o ()... c ... ludiO\\I:-, \""U ltlprl'CIHkralll II'dlHIJ dn qllç \~'I~' P~\'dl'U':"''''C;H'''' quI' ,,\

II1tH!.III\ :'''' t ,b"l'l \';ld;l:-. 11\1:-' tC\tll\ C:-'1.:1 ill):-' CUI I c:-,pl)lJ(knll'\ :1\ '''' dl\l·!\\I., pClli.dil:-' quc !ev:t.

1:1111. pur l'xl·mp!o. () latim li tr an\fO! Illal'· .... e. dcpoi', lk algun., .,~nr!(),. cln pllll1lt!uê .... c:-.I1:I' 1111,)1. il:rliallo. frallcl:";, POdCli:lIl1 Ser cxp! ic:u!a ... por IllUd;Hl\·a .... qlh.: {cli;1I11 :Icolllcódo na IIII~II(/ filiada correspondente, A Lingliístic:1 JllIH.kflla, cmhol:1 t;llIllhilll ... e Of.:lIpC da l.!X· prc.,o.;:lo escrit;t. considera a rriOl idade Jo estudo da lín!!u:r fal;td,t 1.'01110 um de scu ... prind­pil'''' rUIH.t;lI11ClIl;lis.

I~ 110 inkill do século XX_ t:OIll a divulgaçiio do:-. trab;tlho:-. lll.: FerJit l:tml de Satl:-.su· te. protes",ol d:r Univt.'rsld:lI.k de Genebra. quc a il1vco.;tig;I(,,-fio sohre ;.I Itnt!\la)!CIll _ a LIIl ­

;;iJi:-.tica - pa ... ,a a o.;cr rl'conhct'ida como estlldo ("ir'lII~li("o. EIl1 11) 16_ doi ... aluno:-. lll.! Saus· 'tire, a parlrr de ;lIlot;I(,;ÕCS lll: aula, publicam o Cur.H' de' I JlIgiií.\IÍw g('/"ol. obra flllldndorn da nova ciê nóa.

AtUif'.:ulIellle. ~I LinglifstiGl n50 era autúnlllllu. ~lJhlll~li;t·~e ;, ... exigências de ou­tiOS e\ludo\, como a ló!!it.·a. a filosofia, a rctórit.·õl. ól hi slória, (lU a critica ·I itc rárta. O sé­

culu x;.. 0fH..'rou llll1<t lIludança Cf ntral e total dessa alitude. que sc expressa no car{Íter eiclltífi~o dm /tI·vo" eSlUdo<; lin !.! .iísticos. que e~tarã{) ccnlrac!o, na oll',ervação dos fatos de !il1;!u·r gcllI.

í 11 1\:\(>(1,1 t:ic11Iifl('O <;UpÕf que a ObSCI'Viu;Jo dos f:Jlos o.;c-j'I :1Il\c ri or ao l.!\tahcleci. :nen! ,~ ti: 1)11U ["11\':':,\,; C '-Illl' W I,ltos observados sejam cxaminauo:-. ~i\IC lllaliearnentc l11('dl;l,~k cxpc-rin1'·ht.lç;i(J t.: tilll;, teoria adcquJda. O trabalho cientifico consiste em ob­~l'r\';H c tk':-.crc\'l'r n" fatm a p,lrti<" de dc tennin~,dos pressupostos teóricos fo rmulados pe_ la Li r,l'U"'l!ç:!. ou ~ . Cj;l, o lingüista aproxilll:J -.<;c dos fatos orienlado por um quadro teórico c ... pt.:l·it"illJ. LII o.;l~t possível que p na o Int:"1Il0 fcntmleno haja dife rentes descrições e ex. plJca~·ô<"::",. uepci1dlênd(l do rerl.:lelH ial teórico escolhido pelo pesqui:-.ador.

Antes de cxplicitar melhor o que é a I ,ingüístiça e çomo eia dcsenvolve sua pes­quisa convé m definir seu objeto.

2. O que é o linguagem?

Esl;Í implícito na fomlUlação dcssa pergunta o reconhecimen to de que as línguas naturais. nOladamente diversas, são manifestações de :lIgo mais geral. a linguagem. Ta.l cOflo.;ta!aç;io fil:<I mais patente se pensa.rmos em tli.llluzi-la par'l o Inglês, que possui um ún ico tenllO -lulIguage r para os dois conceitos [["gua e linguagem. É neccssário, en­tão. que se procure distinguir essas duas noçõcs.

O ucscnvolvimcnlo dos estudos lingüísticos levou muitos cswdiosos a proporem definiçües da linguagem. próximas em muitos po ntos e diversas na ênfase atribuída a di­ferentes aspeclos cons iderados cenlrais pelo seu aulor. Neste capítulo introdutório serão

1 t1 Introdução ó lingvis1ico

;lpn~ M! lltildas duas propo~la~. a de Sau'isure c a de Chol1lsky. que prcssupt,cm LIma I~ori:t

!!1'I,tl 11.1 linguagem c da :m:íll'C IlIlgüístk·a. . . .." ", SaU ..... llll·I..·'lIl ... fUL' fIlU a Imguageul "hctcmdll:'I e lllult,racet;Jda . pol1- abl'iJllgc V;IIII1" d,)·

111111111'0: é ao 111(' ... 1110 tempo fi,i!,,",!. li~ioll'igica c p"íqllica; pertence <.10 dOlllímo individual e '0_

naL "'0:1" SI' tkix<J d:I"'Jlkm t'm ncnhuma C~lIl!gori<l de f<Jto~ humanos. JX1i:-; Il~O se ,,;11'11,: COllln

inh'nt 'ua unlu.ltk" (19(,1.)"17). i\ lingu;tgcm envolve uma compll!xidade c uma tliwr"id:uk dI'

,'1 111 1!t'1l1a .. '1111' "1'0,"11:1111 a atl;íll"l." (k I)utr:" ('j~ll(Ía..;. L'llllltl a psicologia.;, allll'llplllllgl;ll'!I' ;Iklll d,l ill\ e ... II!!:K:H) IJlltlllf"lica, Il:lt, ~I.' p 'l'~I:lIld(), IXIr1:lI1lo. p:Ua \)hjch) dI' l'-;Iudl 1 dl'~",ll'Il'll \'1,1 1';II,ll'''l' li~lI. · Sau~"';lIl' ... cp;L1a IIl11a p:1I1c dl1todo linguagcl1l. a lillgl/(I -- 11111 lIhi\'!t1 ttnirtt';1 du ~' "'IN'L'tl vd ue l'la\"ilic:u, .. ijo;\ líllgua l( UIII:I p;1I1e l.:"st'llcial dH lingu'lt!\.'llI: '\: um pltl<.lUlll

... 1,,'1;11 ,LI l:ll'III,I:ttk' ..1,1 IlnguagL:11l c tllll l"illljlllll() dc l.."lIlVerlç(>Cs nl!I..·l!ssária .... 'IOIH:"I: , ... !)o,'111 l"i 'I" ' .... 1 .. \ lI.'i,11 1':11 a pl.'rtnitil \1 C\C fc íci() (.l~s .. a I;u,.'ultbdc 111IS indivíduos" ( I t)('j\); 17)

;\ lillt:lla C P;II:1 S:w'\ ... url.· "1I1ll Si.\lC llla de sig!lo .... - lllll «mj\lllllllk lttlld:ldl" quI.'

~l' 11'1:f(:ionalll nrg:tIlI/:ldalllcll!c dt'lI!ro dc um (n(lo. E "a parte soei;!1 dalinguagl..· fll"'. 1..''(ll'

ri "!':ln indivíduo: 11;10 pmlt! ~er lllodiliL'ada pl..'1o 1''11:1111<.' e obedece llS ICI" do L'onlr:lto \I' riall, .. tahcll·l'idu pt'lm 1Ilemhr(l~ da t'olllunida<k

() conjunto Ilngu:JgcJI1 lin,g,ua COltl':llI ainda um OUI IO ele menlo. L'unhlrmc S:III\\II-

1(.'. " ,!tla. /\ laia é 11111 alo individual: resulta da .. combinuções rc:ita .. pelo sujeito falatllL' IIldl /;lJIdn (I c\)dlgo di! língu~: expressa- .. c pdo:<õ llIecilni:-.mos p .. icofí~inb (alll\ d\." IIl1I:!

\·;U,III\·CI..· .... :í ,IO ... :1 P' ot.!u\·ào de."s"" combrna\'ÜI..'s.

1\ di'IIIII,;JO Iln~uagclll/língua/rab ~itu:ll) objcto da UngUísticõr para SaUVqrrl'. De. I:! lknllTt' ,I div i,,;I'1 ,h, (· .. rlull' d::tlillguap.(,tlll'!ll duas p:õrtco;: unw qUI! ill vcsl iga a línguH I'

OUI!;l qUt' ,lIlalt''';t ';11:1. A.' duas partes são inseparávcÊs , visto que são itHcnjcpcndcFlll'~. :

;l Im~ua t3 ((l!ldiçJ() par;r 'c produzir a fab, milS não h:í língua sem o excldcio da rala . Iltí nl.'cl,,> ... idadc. pO/t;l1Ito, dl' duas lingüísticas: a lingüística da língua e a lingüísti ca da laia.

Sau'~llIl~ foc:tlizol1 t'm ~eU Irabalho a lingüística da língua, "produ lo social depositado no

cérdml de cada UI11". sislcma supra- individual que a sociedade impõe ao falante.

Pal;1 () Ilwslre gc nebrinú, "a Lingüística tetn por único e verdadeiro objeto a língu:.t con ... idcraJa l..'tlI si Itlesma, e po r si mesma". Os seguidores dos princípios saussurc.UlO:-; c~!tJ/\"i.lralll-se por explicar a língua por ela pr6pria. examinando as relações quI.' UIl\:lIl os eIL'IIIcnto<"!lo di."L'u r .. o e huscandn determinar o va lor runcional desses direrl'nle~ tIpOS dc

Jt'I;l\·lle ... /\ língu:l t.: cOII,ider;lda uma estrulura clln~tjtuída por urna rede de clCllll'nlOl>.

cm quI' rada clemenlu lem um vulor runCi{)II;ll determinado. A tcoria de análise lingüísti ­

C:t qllt' dC:-l'tlvohcram, herdeira das idéia\; dl: Saussurc, foi denominLld;r CSfrulflra!i<i1l1O

O ... I'ntl(:ipio~ tcürico'lIll'todológicos dt:<.,sa t(~oria ultrapassar:un as fronteiras da LingüÍ'i ­

tiL;t c a lllJiualll"t'it'nn<l piloto" enlre a .. dcmais ciências. humanas, até o 1.1 1 0l~lenIO em

que se t nou maj, LOIHundcntc a críli ca .. o c.;aráter excessivamente rormal e d,<;lanle da reí.J!idad socwl da IIlclodologla cstnHuraltst:1 desenvolvido pela Lingüística

Em I1tc:JJo~ do "t'culo xx, li nortC-:l IllCI icallo Noam C homsky trouxe pala 0<; l':-III J O\ lingüístICos uma nova onda de transformação, Em se u li vro Syll/acllc Slrtlcll/n'.\" (I °57: I J). aftrma' "Doravanle considerarei uma linguagem como um conjunto (finito 011

iltfiullo) d(> ~e lltença~. cada uma finita em compri mento e constJUída a panir de: um rOIl­

juntu finito de ClcIllClI!O'''. Essa definição abrange muho mais do quc a~ Iíngu:l s naHtf<IIS 1lI;1~, c()nrorme ~e\l autor, todas as língu<ls naturaiS são. seja na rorma r:t1ad<t. ~cja na escri­ta, liltguilge" ... no sentido de sua definição, vi sto que:

linguagem, língua, lingüístico 15

toda língua nalural JlOssui UIll ntímcro finilo de s(lns (c um númcro finito de s i­nai~ gráficos quc os representam. se ror c'\crita):

mesmo que as scn tcnçu~ disll lllas d<4 língua sejam em número infinito. cada sen­

tença só pode ser rCJlrc~entada COl1llluma seqüência linilu desses sons (ou letras).

Cahe ao Jingiiista quI.' t1cscrc\'c qualtjuer uma das línguas nalmais de te rminar

quai'\ dl' ...... :I .. '\eqOênci .... tini!;.!.' dI' l'Il' IlICnlo\ ... :'in "l!lItl'nça .. , t' qllai ... nfio ... ;-111. i .. to é, reco­Ilhcccr ~I que '\c di, e fi que 11 .10 "I.: di" n;tquc1a língua./\ ;1II:ilisl! ôas Iíllpt:\S nalurai s deve /11.'1 millr dl.' ll.'rll1i nar a ... pfOprit'dadc~ e:-tHl lur"i .. quc dr~lin gucrll a língua natural de outras Iingnngl·lls. Cltoltl'il\y acredlla 41H: i;tis proprit·uade:-. sijo I~n ahstrata .... L"omplex:.ts e ('spc­d!kil"~ ql, C !I:IO poderiam ~el ~ll'n'ndida .. a partir do n:tda por ulIla criallça em fa se de aqui­~Ü;;'ill da lt'lgu~li:e lll . I::-.S;I.\ proplletLJde .. j;j dc\'em :-'I'f "I'onhecidas" da niança antes de

.. cu COI!! 11' (\1.11 qll:dquCI lin :_ua 11;1I\11;d e d('vem ser ac i(Illadas duran te o processo de

;('1 i <"\:;I. tI;1 íingtJil!!l'l1l. 1".1: f 'r" .m'-. ky, pOltallll). a linguagcm é ullla capacidade inata e

C:'I':.:..:t'lit 1 da Cq~l~U " i ... H''':. ; r;l'l~:ln i tida gCJ1(:licamentl' c prúpria da espécie humana, As­

'11il ... \.!nc(), ':.'I.i"II'1l1 I'ropriciJade" IJlliwr .. ai<., ti .. ltnguagem. seg undo (,holl1~ky e os que

compartilha!)' Jl' "MS idéia,. E~",cs pcsqtli~adorc' dedicam-se à busca de tais proprieda. dt's, na 11..'llt,lt>v:: de l:ollslruir um:.! Icoria geral da lillgu:tgelll rund:lmcntada nesses princí­pio ... Es,, :t !I'ori ", ê 1.:l)nhccida como j!craliv i"'11I0.

,\ ... :-;ill1 como Sall~sllrc - que ~CJmra lillglW I.Jcjúlcl. ou o 4uC é lingüístico do que nfio é - Cholll~ky di .. tinguc ("()/11IU'lêtl<.'ia de d<'.\elll!JcIl1IO, A competência lingüística é a porç;10 do conhecimento do s is temali llgiií:-.Ii<.:o do falante que lhe pt!rmilc produzir o con­junto úe sentenças de sua língua: é um conjull!(' de regras que o fa lanle cunstruiu em sua

mente pela <lplicação de ~UJ capacidade inata para a aquisição da linguagem aos dados

lingüísticos que ouv iu uunm tl! a infância . O c/('sell/pellho corresponde ao comportamento

lingüístico, que resu lta não somenle da competência lingüística do falante, mas lambém

dc fatores nJ.o lingüísticos de o rdem variada, COI11O: cOI1VençlX:s sociais, crenças, lItitudes cmocionais do ralante cm rclação ao que diz., pressupostos sobre as atitudes do interlocu­

tor etc ., de um lado; c. de outro. o runcionamento dos mecan ismos psicológicos e fisioló­gicos envolvidos na produçrio dos enl1nci'ldo~ . O desempenho pressupõe a competência.

ao passo quc a competência nfio pressupõe desempenho. A tarefa do li ngüista é descrever a competência, que é puramente lingüística. subjacente ao desempenho.

A língua - sistema lingüíst ico sociali7.ado - de Saussu re aproxima a LingiHstica

da Sociologia ou da Psicologia Socia l; a compelénda - conhecimento lingü fstico intcma­

lizado - aproxima a Lingüística da Psicologia Cognitiva ou da Biologia.

3 . Existe linguagem animal?

Um estudo c1ássicu sobre o si~tcl11a dc COUllIIlIC:IÇão usado pelas abelhas. publica­do em 1959 por Karl von Frisch, revela que a abelha-obreira, ao encontrar uma fonte de alimento. regressa à co lméia c transmite a inrormaç<io às companheiras por lIle~o de dois tipos de dança: circular. Iraç ,lIldo círcu los hori/um::i:- da direita para a csquerda e vice­

vers .. , ou em fonna de oito, em que a abelha conllai o abdome, segue em linha reta, de­

pois faz uma volta completa à esquerda. de novo corre em linha reta e raz um giro para a direita, c assim sucessiv'lInentc. Se o alimerllQ c;;tá próximo, a menos de cem metros, a

::l1 .. ".' lha t'Xl!ruta uma u.lllça c ircular: :.c l~:.la dl"tLllltC, re:all /,:I 1I1ll<l dançJ \'111 Imm,llk 011\1 .

A III L' Il ... aj.;l'llI tlan ... llul ida pda d<lnça enl fOrlna tI~ oit\l é milito pH:Li ... a, porqUt' indi..:;: a tl l,I,IIILhl em meIUl" . para uma dr ... tfincl:J tle relU melro .... a at", .. lha perl'OIH' nll \": rIU l.kl \ \'!<" t ' lll I C; "cgU1 IUO'" LI linh ... rela que fal parle da tlança . Ouantn lIlíUur u U, ... I.IiI\.' i;l, 111\' -

1l0~ )!.11fl\ lal a abelha (para 500 metro ... h" "'CI' glro'i em 15 ... e)!undo\). A tltrn;fHI:t ~er "C

~ lIid;1 é J ;HJa pela dilcçà() di! linha rt·ta em rcli!çãlJ ~ p()~i\ã\l tio "oi (h tll U' tlpll~ dI,' dança aprc'cnl:tnH;L' l'\IIllO \el"datkll a ... IIll.'tl',I~ (' lh que: ;IlII1I1Ci;1II1

.1 d,'"olll.' ll " I',lr;\ a (,pln1o...·1;1" ao IlCll'c!x:r (I lldor d.1 nhn..'lfa tlU all'\()I \\'n<lo ti II\.:t t,1I '111\' d .1

dq: lu h'. ;1\ ahL'lha' ' L' d:io conta da n;l!un,'/a tio alnncnto: ;10 ohsCI \;l" .1 Jall~'a, a\ :.1)\'111;\ .... dl''.,Ilhn:lll o loral onde "l' CIlt"orllra a fonte: do alullclllo.

O ... e ... Hldo..; d,) 7oôl\lg.n .!lC'll.il) fazem uma IIllIXlrlanlt· rcvc1a~JlI \ uhlc (I lum: ioll:l­

Olt·" tll d..- lIIH ,1 " lill gu:l~t:'III" animal. 4ue pernll!c avaliar pelo ,,:ollfnmlo a !'oin~ularid:uJe da 111l)' lngl'llI hlJt1l:JTla, cOllfonne ass1IlaI:J Rcnvcni ... te (1976). [ruhor:. seJ<I hCIl1 pIL'ci~('I o sis­

tl·III. Ik' ( nl1'lInrCa~'U(1 da ... ahclha:. - ou de qual4tJcr nutru ;.IIlimall'uja ftlrrllillk comunica \ ;\0 I; ! 11'l1ha ' Ido :mali ... ada clt..· não constItui urna lingu:lgclll, no .... cntitltl CIl14Ul' () termo c: l'IlII'1tT;ldtl quando se trata de lil1 ~u:lgem hUllwna, ..:ornV 'c prelendc dt'flll1llQrar a '\'~lIir.

,\ ... ahl'lha ... são capJ7..es dc: (;tll'omprcendc r uma rnell~agcl1l com Illuitos dados e de reter n,. mellll.rii! iufor-

11I:l~'ües sohlt' a po'iição l' a distânciu, e (h) pllldu7ir uln" IllellsagcllI s irn bolil.:llldo replcsellt:mdo (k 111 .. 1111: ir :1 CIII1\cm:io­

r.al -- cs:.es dados por divC1 SOS comportamentus somáticos . E"~a<" cunstal:lI;üe:. evidenciam que es .... e sistema de comunicaç:'io cum!' .... : a, um­

dl\; IIL". IIccc, ... :íria'i:J e1.istência de uma li nguagem: há 'iimbolismo. ou "eja . cap;lCidade de 11111l1l1l..r e interpretar um "signo" (4u<.ilquer elemento que rcprt! .... cn1c a. lgo de for ma con­H'm' \lHwl); h:í l1lt:mória da e:-:pcriência c aptidãu para analisá-Ia. A ... ~im C0l110 a lingua­

~tll1 hUlllana, e~se si!'tcmil é válido no interiol de lima comunidade c tOOo<; os seus I11CII1-

hrrl <; , :io apto .... a empregá lo e compreendê-lo da mesma forma,

No ('Iltanto, as diferenças entre o sistema de comunicação das abelhas e a Iingua­

gelll Imrnnna s50 considcr:íve:is: (:t) ri mensagem se Iraduz pela dança exclusivamente. sem intervenção de um

":.Lparelho vocal". condição essencial para a linguag.em: (o) n mensagem da abelha não provoca uma resposla . mas apenas uma condu ta, 0Ç'l

que significa que não há diálogo; (t:) a ,,:olllun icação se refere a um dado objetivo. fruto da expcri~nc ia. A abdha não

constrói uma mensagem a partir de outra mensagem.;\ linguagl'm humana ca­

rac teriza-se por ftferccer um substituto ~l experiência. apto a S('I" transmitido in­

finitamente no lcrnpo e no espaço; (d) o conteúdo da mensagem é único - o alimento. a única variaç50 pos"h el refe­

re-se à distância e à direção; o conteúdo da linguagem humana é ilimitado: e

(e) a mensagem das abelhas não se deixa analisar, decompor em clementos meno­res,

É esse último aspecto a caracterrstica mais marcante que opõe a ('otllunic3e3o das abelha, ti. linguagem humana, Num enunc iado lingüístico como "Quelo água" é Ix, ... sível identificar três elementos portadores de signifi cado: quer- (radical 'Ierb~1) + -o (desinên­

cia mimem-pessoal). ágllo. denominados morfemas, Prosseguindo a decompo .... i~· :l o. po-

, '

linguog em, linguo, linguishco 17

IJ.- .". , l I j! :11 "Ch.:ll1~' f1ln ... 111,,;11\-1\"\ :1 lnd:L No e:l1llnci;\dl) "Quero á,~/ltl". a mcno. Unidade. I , ... :,c~ nh 1: 1\'s MlUI, IO"' , th:n,.,:; ,I!l .I' ! O~ f Oj/ t! IIIU,\, pCfnutl'l1\ distinguir signllicóldu. como se P()( h: (Jh~l' l \.11 li ,. suh ... . n .llç :'ill de l a) por I rl cm flSIlCII (Nlm, Essa é a prupricdadc da ani­lul:l, ;m, 1m' I IUnd ,unclIlal na Imgll:.gern human:l, poi ... permltc proour.rr uma inlinidadc

dc I11cn...a~cm !lUva"';1 p:ullf de: UII\l1lill1cl'o Iilllll.ldu dc elcmcnlos sonoros di'lll1t1VOS.

hn " .l llcsc, a L(lllHll11Ca~' :'i11 da ... ahelha ... não é uma linguagem, é um códLgn de si -

11 ;11 ... . n ll lll ' \I: p(~k Oh'l'f\'ar 1')\.' 1." ' lias (,::11 :rUCI í'itlt':1\ conll.:tido fixo, lIl1.!n\~l!cm 11\\';1-

It:'" ,c!, ",: I.u; ;ü,;. U11I:1 "í "'ltua~' i1\l, llilll"1I1i ..... :'i1l unLlalcr:d C enunc iado inucctlllLPonível.

BClI\'l'nl·.t1.! ll1 .. II1:1 a :tlcnç:io. :111 .<1:., p:lra o falO de que: essa rnrrna dc çOllluniçação tcnha

sido oh,crv:HJ;t enllC IIl set()s 4uI.' vivcl11 em soc iedade c é <l sociedadc a condição para ::I

lillguagcFI1

4. O que é Lingüíslica 2

Como () Icr lIlolillglJugt!/II pode ter um u'o l1:in ~ ... pl.'ciali7.adn h:lstantc exte nso, po­dendo relclIl -:'C dç~d1.! a l/IIgulIgt!/11 dos (lIIil/l/li.\· :lt0 outras IlIIguogt!/ls - rnüsicn, onnça,

pintura, míl.lICll·tc, - convém cnl'atiznr que a Linguístic:l detém-se somente na investiga­

ção cicntílka da 11n~uagcl1l verh:1I humana, No cnl:mlu. é de se not~r que t od~IS as Ii"Kllo­gel/.I' (Vl'l h;lis ou não-vcl bais) çompm lilham lima eal "clcl ISlica importante - são sis temas de signo ... usados p~la a comunicl.Ição, Esse: aspecto comum tornou possfvel COOl.:cbcr-sc uma ciênc ia que c ... tuda lodo e qualquer sistelTl:J de signos. Saussure a denominou S~mio­logia; PClrcc a chamou dc Semiõrico. A Lingufstica é, pnrlanlo, um:l partc dessa ciência

geral: estuda a principallnodalidmk dos s istemas síg,n icos, ~s lítlguas naturais. CJue s;i,o ~I

forma dc <:olllun icaç:io l1Iais altamentc de:senvolvid:l c Je l11ílio r uso,

Urna pintura. uma dança, um geslo podem expf\!ssar. mesmo que sob formas di­

versas, um Ille:SIl10 conteúdo b:ísico, mas só a linguagem verba l é c~\paz. dc traduzir com

maior cficic;ncia qualquer um desses SiSlem<lS semióticos, As línguas naturais situam-se

numa posição de destaque enlrc os sistemas sfgnicos porque possuem, entre outras. as propricdade .. de Jlt'dbilidade c mh'prabilidode. que permilcm expressar conteúdos bas­tante divcrsllicndos : emoções, Sen lllncnlOS, ordens. perguntas, alirmações, como também

possibilitam falar do presente. passado ou f UlUlO. Os estudos linguistlcos n50 se confundem com o nprendizado de muitas Hnguas: o

Imguistu de,"e c,>l:\r apto a falar "~oblc" urna ou mais línguas, conhecer seus pnncfpios de

funclOna .m:nto, sua:. scrnclhan~'a~ c d lferençns , A LingUística não se compara ;10 estudo

trad iciollJI d:\ gr<Hllálica; ao obse:rvar a IínguJ em uso o linguisla procura descrevereex­

pllcar o'. :, ~t U'i : O'i padrõcs sonoros, g.ranwticai~ e Iclticais que estão sendo usados, se m

avaliar ,:' p dc 'hO emttlmos de um outro padriio: moral, e~\lético ou crItico. ,\., ~: lI t · i l'nça :. dI' pl(\nÚl1Cia , de vocabul;íri o e de- sin taxe observadas por um habi­

' 3 111e ~L ~ ,I' () 11 1. \, I r '· -.:cmpJ <,. 10 comp:.lrar sua c,pre~são verbal li dos falantes de ou­q., ... ft.:Ç ~. ':UIll" Rh' ~ !e j n;.~' I'(', S;,lvador. I(ecife, til' lo Horiz.onte. muitas .... ez.es o fa­ICli ·I~· i,I" ; U' '1\ 1/ i\ ;" ,. Vl t ~qUC dI.! al(l.uma~ dc~sas rcgiões; "csqu isito" seu

\ .".:;ibu'.'; :} \" ' \'l" i:d'," !iH:': "tOIH.' E~ses julgamenlos ni\o sfio levados em conla pelo lin­güista. L"J ,I i"UIl ' ;io I ' ( <:!lIJ :lr toei;) t: qualquer expressão lingt1íslica como um falo merece­

dor d: ",'''':n~'i (, e .::-:.ul l' <lç ~ Il d,' ntro de um quadro cien tífico adequado.

~ 8 Inrrodução o lingüislico ,r ' ,

o lingüista procura descobrir como a linguagem funciona por meio do c~tudo de IíI1l..:tHI" c"pcdricas. cOlIsidcr:mdo:l língua um objeto dI! estudo que deve ser examinado en;Prril.:alllcnlc, dentro de seus próprios lermos. como a Física, a Biologia elc. A melodo­logw dI.! análi se lingüblic<.l rocalila. principalmente, a fala das comunidades 1:, em segun­da instflnc ia, a c!:>crita.

A prioridade alribllída pelo lingüista ao eslwJo d" língua falada explica-se pela ne­ccs"id~Hk de corrigir o .... procedimentos de análise da gnlmálica tradicional. que se prcü­cupa\:l 4t1;J .... C l:xclu"ivanH:I1IC com u língua literária. C0ll10 lIlodelo tínil.:o para qUillquer

forma de cxprcs .... iio c .... rrita ou falada. O prestígio c a autoridade da língua escrita em nos · ", ;j "uclI.'lbdc. muitas Vt..'/.t..'S. "iill ub .... t,kulos para os principiantes nos cstudos da Liu gi.iíst i­ca, <[m' 1l'1ll difit:uld:tdl' em perceber c aceitar;t possibilidade dc considerar a língua fó..lla ­da irHk:pt..'lItkntelllcntt..' de sua rcprcse rltó..lção gr.ílica. É comum ouvir di7.cr dc uma crian<.;a ;JiJl(b 11:10 all:"bdi/.ada, qUI! prunlllll.:ic mola pur mora. por exemplo. que "ela troca lefra".

quallJ u lia realidade da cstá suh<"lI tuindu um '\"011/ por outro. Os critérios de co leta, organizaç50. sclcç50 e análise dus dados lingüísticos obedt..' ­

cem ;\0\ pnncípio ... dl' 1111\:1 teoria lingüíslica expressamente formulada para essc fim . Os re",ull <ldo", oulitlus ",;]0 wrrclacionados às inl"ornmções disponíveis sobre outras línguas com () (lbjctivo de clalx)rar urna teoria gcral da linguagem. Distinguem-se. aqui, dois call1-pos til' cswdos: a Lingtii:-.tic<.l geral e :.J descritiva . A Lingüístiça geral oferece os conceitos t! moddos que fund:unt'ntarão a análise das línguas: a Lingüística descritiva fomece os da­dos que confirmam ou refutam as teorias fonlluladas pcla Lingüística geral. São duas tare­fa" illl l' ltlqh:núcnlcs: IlflO pode haver LingüíslÍ\"'3 geral ou teórica sem a base empírica da LingU h lica descritiva (~possível. entretanto. que uma descrição lingüfst ica tenha outros ohjellH'''' akm UC okJeccr elementos para a análise da Lingüística geral: o trabalho de descrição de uma língua pm.!e estar preocupado em produzir uma gramática ou UI11 dicio­nári u. com o ohjetivo de do\,í -Ia de instrumentos para sua difusão na forma escrita. como no caso de línguas indígenas. africanas ou outras quc ainda não circulem no meio cscrito.

No séL'ulo XIX 0" lingüistas preocuparam-se com o estudo das u'ansfunmçõcs plJr que passavam as línguas. II:.J tentativa de explicar as mudanças lingüísticas. A LingüfstÍl:a era hh lúriCtou diaClün;cCl. Saussun:, no início do século xx. introduziu um novo ponlo de visti.l no est du das língua~. u pontu de vista .'Iiflcrónico, segundo o qual as línguas eram anali<;ada ... oh a forma que Se encontravam num detenninaúo momento histórico. num ponto do tempo. A de .. triçiio lingüística observaria "a rchlção entre coisas coexi.!:. tentcs", que constitUi riam o JÚlfWW linglií!--lico. Emhora defendesse a perspectiva s incrônica no es­tudo das línguas, Saul\sure reconhecia a importância e a complementaridade das duas abordagens: a sincrôllil.."i.l c: a diacrônica. Em sim;ronia os fatos lingüísticos são ohservados quanto ao seu funci onamento, num determinado momento. Em diacronia os falOS são ana­lisados qU3nto às suas tr:msfornwçôcs. pcla~ relações que estabelecem com os faloS que o prcccd~l :lm ou succdclarn.

A descrição sincrônica analisa as relações exist~ntes cnt.re os fatos lingüísticos num I.: stado de Hugu:!; os estudos diacrônicos são feitos com base na análise de sucessivo~ estados de Ifngu3. O estudo sinclôlllco scmpre precede o diacrônico, Para explicar. por e~crnpI0. como o pronome de tralamento Vossa Mercê se transfonnou até assumir a for­ma iltua l Você, pronome pessoal. é necessário comparar diferentes estados dc língua pre·

l inguagem. linguo, lingühlico 19

viamcnte (ara~teri1..ados como tais c obs.crvar as lIludança .. que ocorreram Tli.! ex.prcssão sonora c no liSO.

Muitos lingüistas tomam:.l separação sJrKfOllia/diill.."fOlli:.J como um rigoroso prin­cipio metodológico: ou se investiga um c ... tauo de hnJ.!ua (lU se investig" a história da lín­gll<l. Temos, então, Juis ramos da Lingüí:-.lica: li 'iincrônicu C a hi~túrica. Modernamcnte. a Lingüística sincrônica vcm sendo denominada Lin);lHslica !córicu, prcoL'upaua mais com ti cnn"trução de modelos tcóriços UO que com a dcsl:rição de estauo'i de língua,

COIllO Illuitas :írcas dc estudo se." ilItCre""11II pel;, linguag.clll, (I cstudo uo fcnúl1lc­no lingliistil..'o na interface COIII uutras disciplina" 1.:1"1 011 v:írias :írea .. intcrdisóplinarcs: a c'fllolill).:iií.\"f/("(/, que trabalha no :imbilo da rcla~' :io \,.·nlrc líugu :.J c cultusa: a .HwiofillgiiíSfi­

("a, que se detém no exame da intcraçno enll'l.! lingua c sociedatle: a f'sicolillgiiíslica, que estud<l o comportamento do indivíduu como p<..Jrticipantc uo processo de ó..Il.juisição da lin­guagem e da apre ndi7.ngem de lInl<l segunda língua.

5. Gramática: o ponto de vista normativo/descritivo

A grandtiea tradicional. ao fundamentar sua an,ílisc na língua escrita. difundiu falsos com:eilos sohre a naturez.a da linguagem. Ao não reconhecer a dift!rença entre Ifn­gua escrita e língua f'lladó..l passou a considcrar a expressão escrita como modelo de corre­ção para loda e qualquer foml;\ de exprcssão lingüi~tica . A gramáticl.l tradicional assumiu desde SUêI origem um ponto de vista prcscritivo, normativo em relação à língua. A esse respeito é significativo lembrai que a primeira descrição lingüística de que se tem notíc ia, a do s:mscrito, kitJ pdo gr<lm.ítico hindu Pmlini (sécu lo IV a.c.) - em que pese seu pro­pós ito de asscgllrar a conser ...... ção lileral dos tCJl.tos sagrados c a pronúncia correta das preces - su rg iu n("l momento ell que 3 língua s~ nsc rita culta (blaslta) precisava l'er c!õtabi­lizada para dcfc ;:da-sc da "imasão" dos falarl!s populares (prácritos). portanto num mo­mepto em IllC UH': ! :\(:Ie: 11Ilna<:.' v.tricdade lingüística deveria ser valorizada e difundida,

C'J ra' gr::rlllati ... :as 31l1ig ~ como as tio ;írabc. grego c latim, também eram prescri­I!\'.:l~ e pcdagóg,kas: ahllcjavulll :ie~crever êI língua cuid:H.losamcnte. mas também pres­creviam o US0 .... m/eIO. Essa tr:.t ;'ção nOITnalÍva serve de modelo ainda hoje, principal­mente nos paíse:, onde há a pre.,cul'ação em desenvolver e fortalecer uma língua padrão; ela fOfllCCC (jr~ lir,cntl).'" par(j se "lcrcclitar qlrc exi~tc uma única maneira corrcta de se usar a língua VI"iU que :~ lIomla d: . corre\;ão é presclila por lima fontc de autoridade. as de­Ill(jis varieu'.IIJes s50 cun~iucr-,das inferiores e incorretas. Por out~ lado. nas so{:ie.dades contemporâneas expressar-se segundo a 'IOr/llO , falar certo conunua sendo valoflzado. porque a cvrrc~'ão da Iinguagl!tn está associada ils classes altas e instruídas. é uma das marca .. distintivas das classes sociais dominantes.

A tarefa do gramático se desdobra em diz.er o que é u língua, descrevê-la. e ao pri­vilegiar alguns usos, dizer como deve ser (l língua. Na verdade, a conjunção do descritivo c do nonnativo efetuada pcla gramática lntdicional opera uma redução do objeto de análi­sc que. de intrinsecamente heterogêneo, assume um~ só forma: a do uso considerado cor­reIO da língua. Na maioria dos casos, é esse uso o único que vai ser estudado e difundido pela esçola, em detrimento de um conhecimento ma is amplo da diversidade e variedade dos uso5I ingi.Hsticos.

20 !'ll,...du{ÕO Ó l ingui~rlca

5 . 1 Normativo: falsos noções

"oord,lr:I lingua exclusiv3111ellle sob uma perspectiva normati va contribui para ge­LU UfII,t .... érie Lle fahm conceitos e :llé preconceitos, que vêm sendo desmi",ilicado~ pela Lln~jií"tl(a Em primciro lugar, está suficientemente demonstrado quc a líllgu;] c .... crit:l não

I'l)(k' "l'l lIloddll para a língua falada, Além do I:Ito histórico de a fula ter prcccuido \,.~ con. IIJIII:II I'len'dendn a e"cril:! em quah . .juer snl'ie-I!adc, a dIferença entre essa .... dua .... lorllla'- UI.! np1t' .... ·dl l \l'I"ilira- .... e dl'sdC' sua nrgani/.a~· ;i(l ;I{\,.' o seu LISO ~(I(: ial. 1: ..... I:í t:unlx:IH \.I:HO P:II,t

lodp nIIIU IOo;O da linguagt!1ll qlle IlJo hiÍ língu:l " ma i ..... lúgicu" , melhor (\11 pior, ri ra ( lU po­

hl t.: 1I'\I ;I .... :r .... línguao; Ilaturais possuem os fl'CHro;{l o; neec"sários p;;ra ,I Ctllllllllicll,Jio enlre o;l'U" 1,11;l llll'\ S~ t1tll;1 Ilrrglt:lllJo possui UIlI voc;lhul;írio \"'xtcnso num dl'lcllllirr;ldo ,I(unj.

Itil'. '-1.~'1I1 ri"a que (h o;cu ..... I~dalltc:-. tlJo nccessitam des .. as ~);Jlavras: CU'ill contr ;íno. aI> 1l1l1WI ("\ lllta\ll c~ UII 1II >\ as IC'alid:rdes, novas tecnolog ias, (lO; falantes dessa 1 íngua o;CI ;tIl f:rtalmentl' IC\;ldd~;1 criar IHl\"O'" h:rrllOS ou atol1l,j·los cmpr~stado. SUu ba'itilllle conh eCido:» o .... exem­plo" d.l Jlrofu~ão oe !L'flnoS para ucs ignar a t'a~'a C:l pesca, pnr cxctllplo, q ue ro,,"uC'1ll Út'.

tn 11Iin;ld,Io; ltl1~lIas falada .. por povos quc se d~d jcmll a es .. as atividadc'i e dc!:.t .... dl' l'e lH.1t:1l1

p;!I;r '-1,1111.'\ i \I:: r. 0:0; (;hay<i , l'il~'aúorcs, cOleIOI\':O; l' cultivadores da RepühlH.:a Ct.·nlm-Afri­

<:ana 1\'01 lll.!lHlIllinaçi:io para 82 espéc ies de lag,H1él .... . da'i quai .. 59 sào cOmeo;ll\ CI ....

\0 comparaI ao; línguas em qualquer que scja o aspt>c lo ob~crv;)do, fonolog ia, sino la>.:(' 011 k;\, ICO, o lingüista conSI<lta que elao; não são melhores ncm piores. o;;io. "imrlcs. UH'll\(' lidei entes. T:ullpouco encontram-se evidências de urna língua que e'itcja próx ima do pr ind pio de uma escal:.. evolutiva. que pos ~a ser considerada primitil '(I elH n:l aç;io ;r

OU 11.1 .... ,.; ('m/ll ida.I·. Todao; as línguas até hoje e:-tuuadas const ituem um Si .... lt'l1la de cnll1U ­

rllca~dn ,·\IIUf/f l(/d(J . f"fl fIIl'/enl (' (l!rall/t'lIft' de.\·{' lll'o/lIido . NenhuElllraçO Uél c .... tllllura lin ­gUI\I!L! podl.! o;l.! r atribuído a um rencxo da estnJlura diferenciada de uma soc ieuadc a!!rí. ('o i" (111 de uma sociedõ..!de moderna industrialii'"ad;.1. ~

6. lillgüística: O ponto de visto descritivo/explicativo

i\ pcsqui sa lingüística desenvolvida no sécu lo XIX levou a separar cada vez mais o ctlllhl'l imcnto científico da !fngua da determinação de sua norma. A Lingüística histórica, cSHll!:uldo em profundidade as transformações da linguagem, mostrou que as mudanças lingüí.....tic:l" freqüentemente têm sua origem na fala popular: muitas veze .. o erradn de uma ép(}(,;~ passa a se r consagrado como a fonna correta da época seguinte.

t\1cs mo se observannos alguns fatos do ponuguês contemporâneo verificaremos que as fOOllas consideradas "erradas" são freqüentes, mesmo na fala de pessoas cultas, (X'OITCIIIJO de fonna bastante variável em alguns casos, como nos exemplos a c;egui r:

,'-'

"

( I) " Fui no lbirapuera." (2) "Ela foi na feira," O) "Quero ir a Bahia", ( ~ ) " Nunca fui ao Maracanã." ('1) "Vá já para casa."

linguagem, linguo, lingvil1ica 2 1

Nesses casos. segundo i.l triJdição gramatical. o verbo "ir dt! movil1lcnlU" deve ser emprcg;ldo apeni.lS t:lltll as preposições (I e pOrtl, uhservando-se para a escolha uma di!'e­rt!m;a ~util de sentidu: fi introdu? nUlllero~jJs ,:irt:unstãnt:ias. como movimellto ou cXlcn­

'ião; parti indica llIovimento, direção para um lugar com a idéia act!ssória de demura ou destino, No enwnto, ti uso 11lai~ frcljücnte prct'e re li preposição em, com verl){)~ de movi ­mentu, cujo emprego é cOIl'iid\"'wdn pelo~ gr;umítÍl"vs n0rll1ativisti\~ ,WftT;.\"It/(/ dI' n 'Ké/l ' da, que ucvc :.er evitado

OhSerV<lIIllI .... , então, In: .... pO .... 'iihi lidadc:. dI.! usu : duas vari:rntes at:citas pelo p:ldrão

culln (excmploo; 1. 4. S) e UUla h.:rcci ra V;u·iõ..!llte (exemplus 1.2) rejeil:lda por esse mesmo paorJo. COllvém Je~(;ICõ..!f quc I.!~ ."":l f(\flll;1 e~ti gJHa tii'":ld:I j:í tinha ocorrido IH) passado, cm textos :lIcüi'-.·Oo; c em tl;.\to~ do sél'l llo XIX.

A vls;jn pn;s(.·ri,iva da linguagem nuo admite mais de um;;l forma l'OlTela, ncm ;\ccita:1 possibilid:.1dc de e .... l'olha, quc ullla forma ~cja mai s adeLjuudõ..! p:lm um uso do que para Olltr~l. í,.'('ll\\l scri;t (' l·;t .... O de um:! cxpress:1o mais apropriada à língua escrita do que ~I falada , ao liSO coluqulal do que 11 Ulllil 'ii tuaçfio formal uc eomunicaçfio.

i\ ;})\JiL;Jg.:':!I! ·Ic,,~ t ! tl\a a .... stI:niJa pela Lingüístiça entende que as variedades não

f"Idrão Ju português . PU! cXl'mpi), cclral.:t t.!ri7:1Il1·SC por um conjunto de regras grarnati·

l ;.i s que sl tnplcSII H..' lltc d l1t:re lll uaqul'las do português p:1drão, O tenno "gramatical" é lisado aqui com UIn v.dOl dc .... critivo: :1 gramá1ica de um:! língua ou de um dialeto é a des· crição da~ n:gularidade~ ljuc :o;uo;tcntam a sua estrutura. Assim sendo, os exemplos (I, 2) adma ~Uo seilll'n~';1'" gralll:ltlc:m dcn tru da variedade (dialeto) coloquial. A Lingüística, portantu, como qualqucr ciência, dcscre"e seu ohjeto como ele é, não especula nem faz afirmaçocs .... obre COlHO a língua deveria St~r.

Com o objetivo Lle <.Iesul'vçr u língua. a Lingüística desenvolveu uma metodologia que visa analisar as flase~ cfcliva rnclllc realizadas reuniuas num corpus representativo

(conjunto de dados urganizados com ullla finalidade de investigação). O corpus não é constituído apenas pelas frases "correias" (como a gram:ítica nonnativa). também inclui as expressões "erradas", desdc que apareçam na fala dos locutores nativos da língua sob

análise. A descrição dos fatos assim organizados não tem nenhuma in tenção normativa ou histórica, pretende tâo· somente depreender a estrutu~'a das frases, dos morfemas, dos fo· nemas e as regras que pcnnitem a combinação destes.

Dessa postura teórico· metodológica diante da língua decorre o cará.ter cientifico da Lingüística, que se fundamenta em dois princípios: o empirismo e a objelividade. A

Lingüística é empírica porque trabalha com dados verificáveis por meio de observação: é objetiva porque examina a língua de fomla independente. livre de preconceitos sociais ou culturais associados a uma visão leiga da linguagem.

As aná.lises lingüísticas efetuadéls, até os anos 1950, pelos seguidores de Saussure, na Europa, e dos none·americanos Bloornfield e Barris conformavam·se à teoria descri ti· vista, que julgava a descrição dos fatos suficiente para explicá·los. Chomsky. a partir do final dos anos 1950, propõe que a análise lingi.Hstic~ prenda·se menos aos dados e preo. eupe-se mais com a teoria.

Para Chomsky não basta apenas ohservar e classificar os dados, é necessária urna teoria explicativa que preceda os dados e que possa explicar não só as frases realizadas, mas também as que potencialmente seriam produzidas pe.lo falante, Para esse autor e seus seguidores. um fenômeno só é explicadO quando se pode deduzi-lo de leis gerais. Deno-

22 Intloduçõo Ó lingüístico

mina de Kramálica (;!'sa teoria . A teoria da f!.rlll1uít;w. como é conhecida. trata de todas as fra~c ... gram:uicais. i!'lo é. todas as frases que pertencem à língua: não se confunde com a gral1l;\tica nonnativa porque n50 d ita regra~. ape nas explica as frases realilmlas e poten­cialmente realizáveis na língua. proposta . A intuição do fa lante é o único critério da xra­matkalidade Oll o[.:rtlm(/fjcalidade da frase - conceitos que n50 se confunde m com a gfa­fT\áti l.·~t normativa . É a competência do falante que vai organ izar os elementos lingüfsticos que I.·n nqituelll lima sentença. conferindo- Ihe~ g/(/f//aticalidade. Uma seqüência de pa la­vr~ls l: agr;lInatical ('f;) quando ntio respeita a~ regra~ gramett;cais do sis tcma lingOí. ... ti ;::p .

do conhecimento intcnwli/,aJll de que disr(k () falante, co rno: (01') Prohfell/(/ este mui'o S('/I (!tfieil (;. 1\ gramálica é gcrativn. porque de um lH"unero limitado de rcgra~ permite gerar UIlI

rH'nlll'l() infin ito de st:lltcnças. Renetc o cornpOrlarlli::nto do locutor que, a partir de um,] expe ri ênc ia finita e acidental d ... língua, pode pwJullr e compreender um número infinito de fr ... ..,~ ... rlUvas.

{h gc r:,ti v i sta~ c~tão preocupado... e lll depreender rt:l análise da.'" línguas proprie­dadl'" \.·tHlIlI ll ~. universais lI;t linguael'lIl. que con~[ 'hH!11l a gramtílicil /llli\'t!r.\C.d (CU). As prupricd; rdt: ... formais da .. língua~ e il Ililturl' la da ... regral:i ex igidas para descrevê- Ias suo çon ... idcradw.; mais imponantes do que a in \'c~tj g,ação das rC!;lçôes entre a linguagem e o Illund().

Uutra proposta de explicaç;jo do rato lingüí:,t ico é apresentada pe la gramática run­ci ('n,!I . fu nJ~I i1len1ada nos princípios dofulldollClliJmo, que não separa o sistema lingüís­ticn das fu nções que M! US e1emclllOs preenche m. A gramátic~1 runcionalleva em conside­raçrlo o uso$as expressücs lingüísticas na irlleração verbal: inclui na análise d~ cs trulura !!w lllaticall xl:! a situação comunicat iva: o prl.1pó<; lto do evento da fala, os p<trlicipalllcs e () l·ont .... xto i .. cursivo.

E~tão relaciOl1ados à Esco la Lingüística de Praga os mais representat ivos desen­vol viuwntos da teori a fUllcionnlista. 1\ E.\·("olu di' IJraga leve origem no C írc ulo Lingüísti­co de I'raga. fundado em 192(;. No que se refen: à estrutu ra gramatical das línguas. os lin­güistas da Escola de Praga detiverallH.e na delinição da perspectiva funcional da .\I'l!ft'I1\ c/. COlIsII.kmnd<J-se :l~ ~entc nça~:

(I) José sai u onlem à noite c (2) Ontem à noite José saiu

podr-se afinnar que (1) e (2) sâo versões direre nt es da mesma sentença. mas pode-se di­zer que a OIdem das palavras é determinada pela ~i tuaçfio de comunicação em que os enunciados são proferidos e. em particular. pelo que j:í é aceito ou dado como infomlação conhecida, e pelo que é apreselllatlo COIllO 1101'0 para o ouvinte, verdade iramente infor­mativo, ponanto. Dentro da perspectiva lunClonal da sentença considera-se que a eSlrulu­ra dos enunciados é dctenninada pelo u~o e pl.'l\) conte.-:to comunicativo em que ocorrem.

Os diversos desdobramentos que O funcrnna li smo apresenw. na atualidade concor­dam com o fato de que 3. língua é. antes dI! IlIdo. in<:tl UII\t!nto de interação soc ia l. usaJo para estabelecer relações comunicativa .. entre os usuários. Nesse aspecto" ap roximam-se do ponto de vista do sociolingüista ao inclui r O I.'omponamcnto lingüístico na noçã(l mais ampla de interação social.

As possibilidades explicativas cxpo~tas n:io sãu <IS únicas; con espondem 2. dife ­re ntes abordagens da língua. que não se exduC'lTl. mas contribuem para compreellGf' r rne-

'.-<.

t inguogem, lingue, lingúi1tico 23

Ihor o COITll'lc:xo fenômeno linKuagem, que não se esgota no estudo das carac terísticas in­t~rnas à língua, em temlOS de propriedades formais do sistem:J lingüísti co, m:Js se abre p:ara outr~ ... 'Ibodagcns que considerem o contc~to. a sociedade. a hi st6ria.

Bibliog,ufia

1\1 ,"'''''1'''''''. 11I '1\. [ . lnl~ll:' g":l1\ 1111111.111..1 c cOlllunk:u.;iin ;tnim:,! rrubl,.tnlH d,. 11Ilf.:liíI/H(/ }:cml. S:ill Pau til: N;U:I' 'Ilatfl:du\f t lrauuç50 UI' Ir:U\cê~ l. 1 IJ7t>.

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Sugestões de leitura

As indicações <lprcsentadas tl?m O objetivo de oferecer ao leitor a poss ibilidade de formar uma visfio gera l da Lingüístic'l. visto que os capít.llos seguintes desta obra aprofunda­rão o desenvolvimento das questões aqui apenas introduzidas.

SAUSSURE. Ferdinand. Curso de lillgiiístira geral. São Paulo: Cultrix , 1969. É a obra cI:í!>sic!l. que fundou a nova ciência. Sua leitu ra sempre esclarece c provoca novos

questionamentos sobre o objeto "heterócli to e multifacetado" que é a linguagem.

nEN VENtSTE. Emile . Problemas de lingüístÚ"u geral. São Paulo: Nacional. 1976. A obra rClíne estudos imponantes sobre os mais diferentes aspectos uos es tuJ o~ lingüfsti ­

coso

KRISTEVA. Jl1lia. História da linguagem, Lisboa: Ponugal, 1969. A autora apresenta a história da re ficxão sobre a linguagem, destacando as concepções c

representações que permitiram à Lingüís tic<l constituir-se como ciência I

QRLANnt. Eni Puccinelli. O que é lillgiiística? 41• ed., São Paulo: Brasilicnse, 1990.

A autora faz uma apresentação geral das questões pensadas pela Lingiiística e destaca as tendências atuais que se voltam para o estudo da heterogeneidade e diversidade, ob­servadas no uso concreto da linguagem, por fa lantes s ituados num determinado con­texto sócio-hi stórico.

A consulta de manuais introdutórios fi Lingüísti ca é interessante por mostrar uma visão de conjunto e para esclarecer as noções fundamentais da área. As três obras selec iona­daI:; apfCl:;entam a Lingüíst ica sob diferentes enfoques complementares:

LorES. Edw.lJd. Fundame"tos da Jj'lgiiíslica c:onremporânea. São Paulo: Cultrix, 1991 .

&OKij /\ Fr2S1Ci'i'J) da Silva. IlIIrodução aos estudoslingii(sricos. 9~. ed. São Paulo: Nacio­n"l. 19::~

Introdução à Lingüística

pácg. ~5 - 74 ~ Curso de português jurídic o

41-47

' o L

REGINA TOLEDO DAMIÃO

ANTONIO HENRlQUES

CURSO DE PORTUGUÊS

JURÍDICO

9ª Edição

siio PAULO EIJITOHA tmAS S.A. - 2004

2

VOCABULÁRIO

2.1 LÉXiiCO E vOCAnuLÁl,,,)

I,.ls ~l r ~\ll1.íltl"(lS \.:O.;;IUlll:ILll 11 : 1(J l's(,ll l C-!t:C{'1 diferenças entre as palavras lé­xico, vowindário c diôo//(ÍrirJ. (OnIOI I11C ~e \'t'r ifiGI no {,l1sin;1I1H'Tlto de Sousa da Silveira, em /.lr6c:s de l )j)rlllg!f(;.~ ( 1972:2 1):

"O léxico de um ,1 lill ~'.lIõl é (I nl11illlllO d:\" p;d;lvn,~ <.I<.'S '>: I líll~ua : é o seu

vocaou\;ít lO. (1 "('U dicion;"IIO "

Para os lingüistas. porém, hA difclCllças s<.'lIl<lnticas entre os vocábu los­aliás, vale a afirmação de que incxi <; lC' ., sinollímin perfeita .

Léxico reserva -se ;', língll<l COnlO U11I « l1ljUlllo sistêmico posto ao usuá·

rio; é um inventário aberto, com IllllllCI O inrillito lIe palavras, podendo ser sem­pre acrescido e enriquecido n50 só pelo surgi!1)(,llto de novos vod:bu los, mas tam­bém por mudanças de sentido~ dos jt.i cx istentes na língua .

Esse conjunto de pabvr<l lõ pode ~tr organi7.aJo, por ordem alfabética, indi· (;'indo nos verbetcs o significado. Doi se a ele I) nome de dicionário: é o elemen­to concreto dn língua e poss\1i g/<lnd e nlnb ilicl:!df' , <1pesar de não regist rar ele to­

das as possibilidil.des lexicais. Vocabulário, por SI1" vez, é () liSO di) hl;lIlte, é a scleçilo e o emprego de

pnJavras penencentes <la léxk:o paltl rl',lIi7.;1I ,,('oJll unicaçi'io humana.

Expl ica-se: João é ur;lsileiro, IlClturíll do Hin Gmnde do Sul, Cldvogado,José é também brasileiro, n"tural do Rio Gr:ln(\c do Norte, médico. Ambos partilham

42 VQC...\JjtJIARIO Jurumco

o mesmo li"<ico pOl"(uguês (lingua), mas cada qual possu i seu vocabulário própl io, um r~penório fechado , sujf'iw a uma série de indicadores socioculturuis_

Sendo o vocabulário expressão da personalidade do homem e til' seus (,'0-nhec illlentos lill güís(ico~, c..~ de c,lpitíll importância, ao usuário de lIll\;l !i!1

hlld, o

enri quecimento cOlHinu:ldo dt, Sf'U invctHário vocabu/w , f,lCilililndt ), a"'~;Hl "na t;lfcfilconllllliciltiv;:t, priIl Cl I':J lnw!\lc fl'u<lciol1<Jl, por '!lllpli;\! () I('quc r;l!;~,~ ""Si:O

lha da palavril lll':IlS <Iucqu; ldíl , Para !;Into .• 1 consulta Irf'qüc lll .... ti dJ cion:i: ic)." (' ,t leiluf'J de autorf'S rell0l11ac! os '<;:1 0 <Jtividad ... ·s imprescindíveis p!íb fi Ilt ltt('za VO«lhlfb r e , por COllS t'tjltl' lH"ia, i! produ<.; .io (' cornpreCJl:>:lo d;;IS il1l;J~; e Il S \'('rb:tis.

CjU ' rn St' alguns dICioJl ,irios, Illuito úteis <I qUf'1Il Illilit,l n ;1 ,he.'l j tlrí~lic:J: ele Dirciw (PI;kido c Si/V~l e Pedro Nu llL's); de deji"niçôcs (C~lclas-AIII('{e , í.ilUlh'li no Freire, Aurélio); tle crill1 o/C/).!ia (Amenor Nascel1lcs, José Pedro Macl1<ldo) ; de si.

llônil/ws e arllúnimus (Francisco Fernandes, Amenor Nascentes) ; tle Filo$oJia (I\.ndré Lalande , Régis Johvet); de Lingiir'stica (Dubois, Zélio dos Santos Jota) c Dicionán'u Analógico da Lfnglla Portuguesa (Francisco dos Santos Azevedo), além dos dicionários especializados do vocabulário jurídico.

2 .2 O SENTIDO DAS PALAVRAS: DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO

Ao se pesquisar o sentido da palavra denotação, encontra-se ü conc..:eito realista de significtldo: é a represelllaçno de objeto OupCllSameflto por meio de um sinal concreto.

Quando alguém diz t.lue sua casa está situada no centro comercial do bairro, lem·se, nesta comunicação, UI1l'l frase denotativa e o sentido encontr<:HJo nos di­cion;írios aponta uma família ideológica ampla - "morada", "residência". "habita. ç;io", "domicílio", que, "Iene-se, possui distinções semânticas no vocabubrio ju. rídico,

Todavia, quando tlnw pessoa diz: Esta escola é minha casa, tem-se a pala­vra casa em sentido conotativo, A Similaridade é um dos processos para obler.se o sf'lltido conotativo - de valur afeLivo, Escola/ casa aproxima os grupos prinlários que se incumbem da Edllca~'ã o. Acoflligiildade é Outro processo, designand'J o rodo pela parte, e. g,: Maria tem bom coração, A palavra coração representa o conjunto de elementos caracl e ri z<ldore~ da personalidade de Maria, Este pr c <::"'S$O é meronhnico; o outro, merafúrico,

!t o caráter po/u.sêllll((l (li ma palavra possuir vários significado~) da lingu<l que amplia a definição de um vocábulo; na ausência de uma relação direta pal':l vra/ coisa, vai-se alargando o v:Jk)l semântico dos signo~ , tomando .se eles um rt'/ xr. de significados,

An/ostra:

"Cr.m minh<1s (r:lgeis c Irias mãos (.' \ '('j um poço IH rU;lPO do hono d' 'oltdào"

fi J..;,! iqlll.'l3 1,i c.!)'I;:)

VOC,AI\U,ARJO 43

I .,. \ , '1 chro ao leitor que J signiriG](;~o nOlllinall'uço 1\ I.·JLII:: {\)S VelS( l:\ 1. t',X , , I ~ ~'í. foi J: 'si! I( <1d:1 tlr- um a replcst"ntaçâo sin~bólicíl. Pílrl"dooJ{! ~l .• Na~ ti r~~llpe:\~e~r~ I:~:c.

~ . . , :' de o cometido forlllíl e etcrmlllJ vcl lal ()("()JfCIlr1<t em !;JI'.dO . . -I-d- d' A llalavrtr poço no

teúdo da nova 1I11CnCIOn(l I ;j c, y' ~ , s .... lltnr iHWhlgi:1 com o :011 'd ", d vazio do escuro, sem nenhuma caracteri. contexto, él plf':;enra ·se (01110 t ela e ,

za<.;Jo r .... al. ':, _ Quando se diz: l\.1ar;0 acordou ~ar?? vida, eVIdentemente, IldO se preten

1c dizer que r ia despertou do sono fiS101ogICo, . .

< Manuel Bandeira , evocando os pílrentes mortos (Evocação do Recife), diZ:

"- Estão todos dormindo r:";;tão todos deitados Dormindo Prorundamente,"

Na !in ua em populJr, dormir é morrer a prestações, Camões (Lus{ad~s ,X, 9) nos fala dogrio gdo "elerno sono", lembrando-se do papa"":, sopor de Horaclo_

Outros exemplos mostram que a palavrél nfio é m0110SSCllllca, vale lembrar, não possui apenas um semido, .

'd d Olauvo (cognitivo) e Vejam·se os casos abaixo, em que ~ s~nu o cn conotíltivo (figurado) revestem um mesmo slgmllc3me:

1. Vamos dnnçar a quadrillta? . A polícia prendeu ° chefe da quminlha

2, Costumo lavar minhas roupas, , É praxe lavar ° dinheiro do narcotrafico, Consegui lavar a barra no tribunal.

Os dois sentidos podem ocorrer, ao mesmo tempo, com~ s~ vê n~ ex~n~ pio de Millôr Fernandes (Isca É/SenhoT, ,14.3-92): "Se a se!,araça~a~:g:iV~:ciOae

d- ' c- lodos sabem Mas uma cOisa: a outra, que nao se c ma Ivor 10. "

n;io PSlá na lei, ê muito mnis legal ,"

Agora, um exemplo de Alencar:

"Col'cinu:\rnm a caminlldr e com cl(' ~ ((fIIH II/ICII '11 a noite

, d' - .\) C::\'ll iftwoo r a carga emocional : C "I!ie determma a g;lOlll e vnnaçao l ( "'("o '.' á-" k 'y 'íri us selllidos denrro de \lm;l perspectrva p<lr.tdlgm IIca :! pJ1a111 I V;11 FhSUII\II,( ) < • ,

____ -.- .. .--.---.. _ .. ..L ____

, ) ,

·11

dt, modo que um significa11te pode remC' ler o leitor a UIll sigllificadu i. c a outro. quc podei ia chamar de s ignificado 2, sendo possível lima numeração maior, ;, flledida que ()~ contextos vão indicando nQvtls dimensões significativils às p<1iavras.

1\ par di"..,o, <1 Illcsm;l pal<lvla, e. g., 11!()/'le, tem significado diferente para u 11Inljeo, pal;1 () iur iSI<I ou parfl o pot'HI. E p.ni' (tida indivíduo (bs CIaSSl~<; sociais

;1([111 L'l1!1!ICiatl;ls h<t\'l:'J;í. talllbém. vilriações de viJlore~ sellltHllicos, confurme <I

;1'~"Clt·i;lt.;;H) dv iLldas lllilllifc'itar-sp 11 ;1'> d\l'lldas e expel i('llcias IXHliL'ularcs.

1':; 1 IIH'''l1lí} r:lIg;} t'l11ocillll:l! que produ7.. ('111 UIll COllll'XlO li!1~uísti('o, pil

1:1\ 1;1<' "iIl1I','ltll';1",lIltip;ítiríl 'i, soll'Ill':.'vulg<lll'S. enfim, iI dir('çfln p."icolúgica "111 -

1'1t'''LI dinlpll,,:ill i'lJllotmiva aoS n)cihulos e, ainda, c~tabelece relaçiío de v,dol

1 "',~IIIl' l' '>l' nc!:wim c,,"" /""'W'" '1'''/''' ''''. ,, 'su lt;lIIdo. di"o, " r1il'l'I<id'lLlc VO(:I

1,,11:11 (I' um;! lill,\!u.1.

I!ln H' ';t', corno ("H'ill pi o. ;\ p:II,'\'1 <I I/wtlms/Q_ Além d ll seIH ido denotativo, 1:1/',1' I'Lj ;1t'ol1!Jldnh;n de UIll:! t'a1wr 'i("Il'[,lllh:;:\ pe,iotat iv.l. A vid:l, Chil11l(l-" di' In,J, lI , I ',I" \l;I1tltl'll~;IHd('ild "0 pOel11;1 "Cíl lH.:ao pala lI1il1l1;1 1110It!'''

"l.,,'j qll' I' :~I;lfllk Ilt<l,,':HLI

"\('11(1,1111" IIHIIH'll'l

1,llI,llld" 1"l!'''' ... t'I\'ltl:.

~"'lll IILli(""S S,l lllbdl""

11""':1 tlld,I!:I':LI \111:1,

1,1"" , .. ,1., i,I ; 111 lI'i. '

( OH1 II IIu11 do \('11111(1_ 1t',dlilir.1I1I Sl' ,d~lIt1l;IS p;,Ln 1;\0,;. F 01.';1.,0 de tllll<iI!

I, , :11':nt'l t' Il 1,'111\1) ('111 'i('lllldo plnpl ill que ;lIl1a - nl) reJmil11Cl' S,'lI/ul/"{/ de José til' r\kllt' ,lt, ',IIIr!'\'1l1 II() 1\1"ulIll'''I)(} dv f\.loli\'l e t' Clll (;'I11(-'I'S, Irl, l'111<;1')dio dI.' l11t'S

ti, , '1',11", "t'lIl qUirlqU(! rOllPI,H"::h) (';1111;:11.

!':IIILrII!r.llllt.'llI~', :1<;~"t:iClll-o,;(';1 dI1l0H'<; ilícitos (il ,llll;l1l!l' (' 1:1 :1 "l,)! tJl,dit,::

Iili:rl); j: ', : 1~!PI:l Il'llJ(':\ le;ldql1ilir Juros cll' lC'~ilimjd;,dl', ;I]K'S;II (Iv a p;I1<1'.'r;\

(l"ICllh/llll ,ro.;>;lI l 11ir f) r;lpel de 0111<1 ctl1l1pat1!wira Lh:' vida conjugal de !dIO, Illítl" ,lo qll(' n \,tl(';·1111110 11! IlIl/lIl ', [ah~'7. 1'('1 ;1 ;t ~'no dl'pleci;lti\-;r que fi 1',~ rl1pn Ihl' 11lrllCllU,

{>LIlI,\S [1;11;1\'1\'\ ~Of[t'l ;:1111 des~astc t' ('1l\' i! f'C lI1lCnto Cltl "c'lI :-.t'lltido , A!t'

\,Hld l ( Ilell"lII,1110 11 ':i: I , mllll1;r!IIl('l1t(', a pal;r\T;! mari(('ho <]tr " SI' clq:l;\t!U\!. p"';; 11 !!.'1]{)',; IH)":; dl'! 1\ lltlo\ /11(//[(1'1';0 t:' ({ /IH/licc/nu, cor renl PS I1rr ~íl('a jUI íJica Ll111 ô r',

os:, ('\c!u/'I ffl;, {l.usÍlld"." \'1. 7~~) [lO \{' lItid{\ latino de drl/((/(ff'S, e"qut'cido l' lli

J1' l!It1 ~~Ul'S (' 111 ;Ull ido, I' ,!: .. 110 fl;l1ll"l'o..; «('xqlli~ ) P 110 ingl r '>; (n'IIf1\J!l) Cil \'ic(~tJ!e I' (, Padlt' Vi('II :1 l'tllf111'g:rJl' IJ \{'Ih() I,or;/" CII) I cl,H;[io;'1 m5e dl' !J('llS. C:lloiinil. '\ lIdr ;l(' !j '; d,' \;t""OIH"'!o ... cil;r (<.;. d.::l.a J) uma C<lIllig;:r popul:11 :rrc:lit';r ;

1.)11<'1\) l' ;1 d""p"".td,l: \ \ i, ~('I!l ~,lgl dd.,

t)W'll1l' ,I qU e pa i i:,'l \ \'i" , I" ~LlI i,l '

\ ()I .... ntIIAHIO 45

Corresã Na apenas a dama da corte, it que assistia 11<1 corte; assumiu, de· pois o sentido de rmstitLIt<1 como no filme de Misoguchi: Ollar/I, n vida de tlma cnrtrsã_

o termo latino te/llflt'sras r<t~soll pOl vá rios s i gnific(ldb~ suc(',,~ivament~:

"molllento do db", "cSI<!do ;I!!ll()~réricf)" (tCIIlPO bom ou n?ío) 11;\1':1';(' fi\;IJ' "tll

"tempo bOr! ascoso", tempC><;I:1c!C, Na área jurídir'il , nwntém-st' (l !'('1l1 ido 1'1 Im il i ­

vo nas formtls " tempestivo" (em tempo devido, oportuno, ílci('qllílclf!\ e "i "lf'nl

pcstivo" (em tempo n;1o dev ido, oportuno, adequi,do) .

2 .3 O SENTIDO DAS PALAVRAS NA LINGUAGEM JURÍDICA

A d;1I(,7íl das id éias l':>l;l illlillli.IIIlCIlH' lt'bt' ioll(lCI:l com il <.:!;Ir{'za e preci ­

s;"io das r .. ,I<1vrt1s COnSO<1l1le il:>sevcnr Olhol1 Gi11l'iil (1975: 13S)_ No l)irei~o. é nin­

díl mais illlponalllc o sC11Iiclo cI:ls pllbvl<1s porqul' qUíllquC'J' Si"ICIll<1 jUl íc\ico, piJf::1 'lIillgit plcn<1mellt<~ seus rins, devl' cuidílf do \'1.1101 nodon<11 do vocahuljrio técni, co e es tnbC"lecr'r fe!;rç<lf..'s se mflnli co-.<;inlc'lIirôls hil1lllÔnicílS e Sf'gtll"ílS 11;"\ organiza­

ção do pensamPllto,

'rI Cos ,,;10 oSlipos d~' \ '()(,;II'llliÍriojlllíclicn: lI11ívoco~, C't]llí\oco" (' nnálogos,

Un ívocos: ~i-IO O'i quc l"IJllIt'tll um S(') "cmido_ f\ codific(lç;lo v.rlr-se deles f);II~ dcscIl'''l'r delito~ P :lSs!'gllral dileit()", c. ~ :/I/,.,n (,111. 1 :':-'. rI> - :-:u htrilir, p<lra si l1\.t P;IIi1 ClulrPIll, COiSíl' ,direi;) Inúwl): muho (al I 1 .ri7, CP - "UIHI .. jl. pa r<1 si Oll p;lr;1 otltr '~m, coisa 111.)\('1 alheiil llH'di;l1ll(' W:1\(' ;1/ IH:'1(;i.l ou \ iol t'lId:l, depois de It'duzir ti 1t'<;is tél1 l.: ii' da pes<;oíl): /I!/ítlHI (éttt. 586, CC clllpr6stil1lo oneroso de coisas fll!l :!Í'''(' : ~): (f )/ll'ldtllo) (iHI S79, CC ·· t'rnplc-slimo gríltuilO dI' coisas n<lo fUlIgívc'Í': )

11 :\ 1 i'; ':;t:';, ,Hml"l, \' ;\" I', I":1S rcrtctlCCllI(.'S <lO jmg,10 do plofjssionill do PI'''iIO, f : . ab-""<!('I" (r('\og;~r if-tnlmcnlC lIlJlalei); derrogar (Icvogar parcia lmen­f' unw h':);'I,l"'rl,"'.(lI" ( C'-);1 ;I(IPOI Unl<1 IPi ;l OIlU'(1); rqH'i<; fil1 (f/" (r('\'o~ar uma lei

r'~\'OR;H.l1 '1: 1,:

F;o!O d ' 1·,'mhri11 que a rt'/,I"I'iril/açâo 11,10 é :l 111 O 111 (H ir:J, pois 11,10 se restau ­j-ir por t(l r :1 h'i I f'\ ()~~i1dl 1I;t perdido" \igi>/lcia !lO~ le! mos do <In. :2:", ~ 3", da LICC.

p ·)( It-, "t' di/('1. ;r~;,i1ll, tjUl ' a IIlli\tll'id:ldt' r('prc'''r'111.1 {lo.; {('I1110" técnicos do

\ oCílhul<i1 io espcci'1!i 7.ildo .

Equí vocos: siío os \'odhltlos Vlul issignificalltes, possuindo nlilis de UIlI sP!lIicin f' "endtl icleutificOlclos no t'onlCXlo.

F"f'mplos:

.:lp/(.'cnt!rr judici<llmrllle h('1II em lill~ ic)

plivlIr alguém de "lt;l hhenladc de Im'(llnOção,

eXC'rccr f<lsdnio sobrc :llgut'rIl para hi'nefkin próprlll,

manter lonjul1\50 l:lrl1<11 UJilI Illufhcr ' ,,, ~r!ll, rnCIlOl de dC7.0ito :HlOS (' l1l:lior de C<l­lO! ~t', aproveit,mdo·s(' dr' "tia incxpcricncia ou ,fllsrifid\"d t'Onfial1\[I

() Jlroli,,' iou:d do Dirclto de\c ('tlIPIP('nder ba<;tarlle t'"fol(o <;('I11,'\III;lO ;10

11';;1\- ,1<; p'lhl\l;I'; plllri<;~;tglliriGlIiV:l<;. P~lra lan 0, n50 de\c clIlprt'g:l1 ;H:cp(;l>es (jU(>

!l,"jo pr'!1(>nç;lIl1 <10 .ial"J,:~no jurídico, ou, se o f')rem, mas liverel1lll ,HUI('Z:l equivo-1"<1, de\·t'lll ',('I :H"om]1ó1llh:l<..hs de p<;peciric:l{f ores qltt' rcsgll:ln\('llI o "('ntido pl: ... ·

tl'ndidp

J\n':tlogos; ~jl) 0<; qUl'. IIj(J possuinJo élimo comum. pCllcllcem í"I uma 1l1(,~lll<l f,lIll11i:l ideológrcn. sendo ~illi\nim(Js. ilpesar de dislin~'úe<; ~t'1l\~II1(k;l';; por­q\le <l SillOIlt!lJi it pCI rClIíl itlexi~te,

EXClllll\OS;

(di~~oluç;io de 11m contrato. illordo. ,rio iur idr('t))

(di<;<;ol udio pda von tlldc dos l'Olllr;}(,Ill(,<:')

(di,,~nILlçfin por Ics;io do crmtratn)

Ve.i'j·<;(' t]IIC p<l\:1\ I ,1" élllrilog<lS s;io comumente conlu:>rida" rutilO p:lli1vms '-rnú llilll;lS.

!ndi)\'I;I. ;I~ p:11avt"íl<; 11;)0 rl'I1ll'Xí.lW lll Clll(, o 111e~tllO S('llticlo, rodendo <;1"'1"

I'~r rql:rd"" 1)(>1 um pOlllO l'm rOlllllll1. 1l1:llltendo SU,lS si~llif lC;II./K·" l'<;pf'dfic;lS.

r Jt) 1'\\'111plo dtíldn, n \ (W;'Il11I!O I t·~1l1!l((i(J é p01110 comUlll ()~ên(', t\) ebs I ,li;!, Ih II ,i/ilr/o (' '1';lj\tin

I"~f) ('11I1IIlII. IC'onlll\JItl I: p;d .H la equí...-m:a. 1"0111 clhTrso" ."i)~nifkéld()~·. (-!l'

q'I;Plf(! I t· ... ili,:;in (' /p<.;t·jo.;ii" <in p;d:!'. In." lInh-tlt"óls.

\U, \1'1 l;\llIO 47

do anteriormente foi lembrada a univoddaue uas palavras flJrto e roubo, b~~:~ esc1~<lrcct'r, élgot éI, "rI em el~<; ílJ1;ílog;\~ ('Ill rl'laç50 ao tipo Cf IlIlCS contra

() patrimônio. , ..... . I . "Ninguém "C' ;tPOde.I<1 d" língua l' de!" LI7 liSO exclusIvo, ,)rn'." <1 COn1

IO,O

.. ~ . .~" •. ·( 199J · 12).S(,;I;r::;:<;N,;v;l~·'\T ~.\.l f'I;I. I ; HI\)I'tll qU('llc\aH.onaldoC,,!dclr,tX,)VICI '.. ". 1 It""'llItIIIH 1:1

o é o fato de a precisfio voc,lhll!;11 COlllllhtllr 11,\1:1 ; 11 ' 1 11 11111 LI < ,

vO jurídico.

José Luiz Fiorin(org .}

Introducao , Lingüística I. Objetos teóricos

, a

CbDNTEXiO

Teoria dos signos

Joxé Llli~ Fiori"

" 1 .~k t~O;·., ....... 1 1I 1~I"tl !'t· ··. Ilmnuu!tlU I'cllo,;.)II V. II I ... II I\:. ··""d..: a \ ,,",," lI; I( " e'"IIOm..: ' ··. I .. 11a l.k~v;ule;lIl .

d o ,Ic-" a !1I;,l ll"i ra lIualll.h> l'hq:OIl;i CI\II;I\I., do h""l'w. 4"": p.u n la !1IUltO úmldo~' ' IImhri". " Bom. tk

qu .' lqu..: c n l , ~I \l r: 11111 alívio". di~sc .... 'K.l u all1n "v;m\ ava ..: ,,, 11 1C10;" iÍ r" .. ,..:,. "111:1" ,1\ de 1;11110 ..:alor, entrar dl'l1tm UIL. ik nttll ik- q uê "!" ESlava a,~umhr:túa do; não IM.II-I kmhr;" \I 00111 .... ·' Bom. , ~ III é. estar dcbai · \ 11 UJs ... J l'! la t'-t ' d a .. .. . debail.Q dis:o.O aqUI. ('I ra ". u i~."": I..1 .lt lt:a IlJo . ;, rn:" . 1t • • I I I 'IK:U ti:, ,irV\lrc . "C\IOlO essa ú,isa se .. :lIam .. " É hcm capaz de não ter no m.: n.:nhulIl ma , l'lIlIl ee rt.:,.a nâll lcm mesmo!"'

Fiú 'u calada durante um minuto. pcn~anJ\I . Elllâo. de repentc . cld ... muu Ah . então isso temlinou aconte .... endo ! E agora quem sou cu? Eu qUCrtl me Ic,l,hral . ~ pud .... ,

rl.cw" C;lIn ,II.I980:165· 1(6)

o St:glllldo rrojclo era repre~lltado por um rlao\) de aho ltr Ctlll1ph:I<llI lCnlt: l oc.la~ as r'llavras. fossem da" quais f05~m I ... ). &11 vi .. ta disso. prllPC,S-SC que. '-<: n,lu a ~ p;.!.,vra' apenas !I(lIlICS para as coisas. sCrla mai ~ conveniente que todos os homens IrouJ(CS~1II \'Ort ~ ig(l a, CO!\lI ' de q ue precisasscm falar ao di~colTer sobre delcnnin:xlo a..c;sunlO. ( ... 1 ... muitos e rud ito, co ~:ibm~ aderiram ao nnV(l plhno de ~ e .. ·

prt~ssarem por meio de coisas: cujo unico inco nvcllIc nlr: rc:.idia em que. ~ um homem lives"e que ralar sobre longos assuntos e de vária espécie. ver-se · i:1 obngado. em proporção. a c:lIl'egar nas costas um gmnde fardo de coisas, a menos de poder pagar UIII 011 dO I ~ criado~ robuslos p3la 3companhá· lo I ... ). OUlra grJnde vantagem oferecida pela invenção conSI\IC C'm que ela "Crmla de língua universal. com. preendida em 1000S as nações civilizadas. cujos ulcn~lhus c OtJjclOS "ào gl'rillmentc da mesma espécie. ou tão parecidos que o seu emprego pode ser facilrnelllc Ilt:fcrbidu

(Jonath:1Ii Swift. 1998: 194-195)

O primeiro desses telttos, retirado da obra Atra vrs do espel"o e o que Alice encon­tmu lá. mostra que Alice. quando atravessa o bosque onde as coisas não têm nome, é inca­paz de apreender os objetos em tomo dela. não satx: li que eles s;1o Isso significa que a rea­lidade só tem existência para os homens quando é nomead,t . Os signos são, assim, uma fonna de apreender a realidade. S6 percebemos no mundo o que nossa língua nomeia.

No entanto, poder-se-ia pensar que os signos são etiquetas que são colocadas nas coisas. Assim pensavam os sábios de Balbinarbi, na<; Viagens de Gulliva. como mostra o segundo texto . Eles propõem substituir as palavras, que, segundo eles , têm o inconve­niente de variar de língua para língua, por objetos de que se serviriam para comunicar-se . Quando quisessem falar de um livro. mostrariam o livro. e assim por diante. A narração de Swifl é uma ironia sobre as concepções vulgares que imaginam que a comprec::nsão da realidade independc dos signos criados para nomeá-Ia. que a língua é lima nomenclatura que se aplica a uma realidade preellistcnte e não uma forma de categori7..ar. organizar e in­terpretar o mundo.

56 Introdução õ lingüístico

A il1lpos'\ib ihdade de funcionamento do sislema imaginado pelos sábio:- de Halni­barhi Ilara ~lths [ituir::l'~·-p .. htvr.ls""'n!t(}f u Inconveniente prático (]t: que é prcci':-{) l:.Jffl'~ar muita COi'iil para !':lIM. O sistcmn nih:Tpode--ftmdon~rqtre\J'1')bjmn n;j() dCSI!!n~1 Iliu\)!I que uma lill);ua pode cxprc"o;ar, Ele nno eXptilllC tis prupricdãclcs de 111l1;Il'Olsa. () ~Ií ,-l'fil,­Il{I-.-.iI1ilid:ldc de eOIl<.,truir IllCttifOrJ.5 C-m~[t'5níI11ías. Qi..iãildOScu~ct{)Ilílllí:i--:;;::-::di.l'" ~in['ram ('1<; mares", n'la,<; têm o;:;entittrrdClTIlvio~c: lia 1.lla, (lSil -sC ãp;lrll.! I~ Iluminar fi Indo. Mo~lrnr um otljt!TrrTI!\O c.\pTiItli.!.I pcw,:n\'a do obJeto:..t lIlll:! dell'rlllinad;1 L'l:t \ ' l ' No I<''I\ICO dL' uma língua, agnrpnmm nnmc~c~s. v/(}u-uí.IÚ\(I~IiIl-;lg(l';d(/ !'ClkllU'II!;1 da-,sl' (1;1\ 1l',Jrl'\ . !\1tlstrar Ullla Illarg-:'uidn n~O- eli:primiriai\c.:1a\-;::-l'})(/~ EXThir IIHI IIhjdo nflo rxpnll1c as c,tct!orias gr:lInatica i ~. conio n do !'ing1.lIarm,Ído rlur;"A~

gll,l nJu l' um ""tem:l de lllo!'lrnç50 de objctos. pois' ri Ilngurlgcmimrrr:tfl;i j')(,t!1: ralai'-(JI: objelo, pll:Sl'lllCS ou rlu<;ente:-: da ~iIU;IÇ;lO Je cOlllunicuç50,r\h;í:o;:-n-objCh'n'l1'1II Ifreei\;! exi slil, par .. que (;:"emo ... delt.:, pois a língua pode criar universós de coisas inl"XI\'l'lllI:S

,\ ;tllVldadl; linglií<;licu é ulna :ltividaJc simbólicú', O que signl~que:1\ -palavr<" l: n;lI\I COllCl:ltO\ l' e,,;co.; cOIIl . .'eitos ordenam a realidade. categorizam o Inundo. 1'01' cxelll­pln. lri,UllO\ I,) conn' ito de pôr-dn-soL Sabl..'mos que, do ponto de vi'ita cientí liclJ, n~lo t.:.\i~\\' púr-do-:..ol, uma VCI ljUl' é J Terra que gira em tomo do Sol. No entanto. l.'sse con­l'l.'I! Ol l iado pela IínL~ua dctt:rmina uma rcalidaJe que encanta a todos nú:... Uma nov(j rea · IId"lk . 1111101 I\O\'~I il\\c.:nção. ullla nova idl!ia l'xigclll novas palavras. ma:- é ~U<l (h!nomtn;l­

,;'iu qlll' lhe:.. l'Onfl' tl' existência, Apagar uma coisa no computador é lima atividade Jiklclltl" (k apag:tr o que foi escrito a hípis, ;1 máquina ou à caneta, Por isso, "urge ullla rh1 \;t palavra para dl'\ign<Jr e:-sa nova realidade, delerar. No ent;;tnto, se C-'\;I nova palavra I1ftl ) Ol\ t!"\l', n;lO Sl' perceheria a ativid:tde de apagar no computador como UIll:1 eoi~a dt ­h:rcllh:. lJi:ria Saussufl' :

P\ i ~"!\l::lt' allll'nrl', ap,traç51l kna dt: sua c"pre~<i\) pm meio das palavras, nos!oO pcn,,1I1lt'nh' n5n pa"a lI.: UIlI,\ mil",] ;!IIh,.ra c jlll.li~rintJ, Filôsofl)~ t: lillgOista~ sempre concurdaram em ft:l'UlIIICl'cr l,j1Jl'. ,em OIt:ú)I'O d\\~ ~ignlls, scri;lInos iIlCapa7.C~ de distinguir duôls idéias de modo claro c nmstallle. Tom,ldo I!!II s., o pc"';uncn!tJ é como orna nebu losa linde nada está necessanilmen!c ut:t.mi!ado. Não Cxt~t(,1ll ldt< ia, rrc(,~I ;llxlcc ida" c nada é distinto antes do aparccimcllIo da língua. ( 1969 110)

A'i pnlavr:l" formam lIlll sistema ~uttH1orno que independe do que elas nomeiam. ° quc \igllifica que cada língua pode catcgorizar o mundo dc fonna diversa. Os signo ... dcti-1I1.!1ll-Se UIl<; em rdaç;io ao::, outros. O inglês tem duas palavras, sheep c lll1lf{(m, para eX: ' IHeS\ar o que exprimimos COlIIlJ palavra cameiro. O primeiro significa o :Inimal , o sc,!!un· do lima porç;io de c:tme do animal preparada e servida à mesa. Em português, dizelllo,> () camcilV é gordo c O carneiro está delicioso. Em inglês, no primeiro GISO, cmprcga-'it: .\h{·/'fJ e, 110 segundo, milHO/L A mesma rC41lidade é calegorizada de modo direrente em por­tuguê<; c inglês. Ncslt,:. o animal e o alimellto feito com o animal são vi "tos como dn,,'" rea­lidades complet3Tllellle diferentes. sem qualquer relação entre si. 1.'150 sigllific3ljue ti Icali ­d:l(k é rc!.:ortaúa difcrenlemente nas duas línguas e que um signo delimila o outro. O I'o!"r de unI signo é dado por outro signo, Além disso, um signo é semprc intcrpl Cl<lvcl fX ,r Otltro sigilO: IlU illlcnor do mesmo sistema pelo sinônimos, pelas paráfrases, l'k'las definiçõc ,, : em outro Si'itcm3, em ou Ira língua. por c~cmplo, pela tradução. A dificuldade ue trad1l7.ir indICa que não h:\ univocidade na relação entre os nomes e as coisas.

Expliquemo.c; melhor o que significa dizer que a linguagem categori7.;J () mUlldo. I'ar :\ ! \ ~Il, tOlHetllO<; 11m ex.emplo de Hayakllwa (1963:175- 176), modilicandoo UIIl POII­

)

I " ,

Teorio dos signos 57

co. 1~i!'!!U~~s que as oilo liguras iloai;l;.o representem oito animais, qualro grandes e quatro peQ~ s. qU~.!.~1 a caheça quadrada c quatro com a cabeça redonda. quatro com a eautin reta e qU:ltro com a cauda enrolada.

Im<lginemos ainda que esses animais alldem por uma região onde morem lrês po­vos dif"êrentes, ITllClalrnentc, as pcsstílis'Timfl'Cp!if.ifllllelés. É como se nao eX:Isusscrn, De­poiS dI! uma colheua, o povo A perCebe qUê os que t~mmrpõ pequeno comem cereaiS c os que tt:: m corpo grande nau o iãzdil , I 'ãl-~c. clHao, ao!a!j\iao daS demaiS diferenças entre eles e prOduz-se uma calegor17...açao dessa rcabdade.1Js illllmillS A, S, C e D são chamados gogvs e os ammals ET.(jC'l'f""Sliõôi!nomnláuos glg lS. O puvo fi tem outra expenencla com esses ammals:·Verifica quc·o5'dc·c:\beçJ quadrada mordem e que os de cabêça redon· da 1150 o raz.em. Cãtcgorizrrdc mimeira distinta ::t'lncsnlJ" re:l1tdilde:-Os-n~ H são chamados dubas, enqliallio os anlnlalS A, l. E~ao denonHllaaos dobos, A expe­riência do vo C com es~c!' animaiS c ainda distinta. Percebe que os all1malS dc cauda en­rolada matílIll serpentes e os e cau a rc a nao o lazem. Cau!gortz:a de JIIanelra diversa a

~~csma realidade, Cha~ã os ammalS A, B. E e FVIIS(H e denulllhm os .mlmaIs C. 0, G c H de bu,wmas, A mesma realidade. a panin:re-cxpeliêlicias cuhutais di9ClSas, é categoilzuda diferentemente. Nenhum ser do mundo pertence a uma dctenninada categoria. os homens é que criam as catcgorias c põem nelas os seres. Isso nao acontece 50 com os seres concre­tos, hnagincmos que uma pessoa mala outra, Essa açao pode ser categorrzada como assas-

. sinato, como aCIdente, COIllO cumprimento do dever, como ato de heroísmo, como rda tcmpor:uia da razão. ·ssa calegon7.ação etermina nossas atitudes: prendemos o assassi­no; pcnlõ5"nms quernlOi vHII lla das clrcmRtâii'elas; clogiãlhos o poliCiai que matou o se­

'gUestf:idõrque' i'TÚmtii1ha pçssoas·conio· reféns: j)orqüe-cumpnü-Seü·dever; damos uma me­dalha ilQ. tleró(q~l~ guerra, matou o inimigo. Como dissemos. a língua não é uma !!9.!!!.':!lçl ~ ~u r;I .. '.!P!.le.<~1? li ~ma re~!~a_d.e cuja categorização preexiste à significação.

O ~~~iil~~~~.f.c~!1p~:; t.o {k_~.raços funcionais, como morde/não morde, mala yer­Ih 'lI!d t:â, m.a!a serl't!lI te, ('fl/Jj ~' caeais/lli1o come cereais, e qualificacionais, como com

';'(.'(Irpo f:!2;';de/cÇ!m-cC!..~~.eqilf~n(l; com cabeça quadrada/com cabeça redonda; com cau· dã enro1oda/c.?t1I c(wda reJn, .. - . __ .. _,--_._~--- ----- ~ _. _- _ ...• , _ .. _----

58 IIl!rodução à lingüístico

Composição e valor dos signos

No período llle.:Ji~v<l1. dizi.H.e que o -;igno era (diqllitl"ro llliquo (alguma coisa em lugal Je.: OlJlra) . Es"a definição mostra que.: o signo não é a re"llilh.1de . Saus\ure vai prcci ... ar hl'In l'\",: fat l). 4U<lIlJ() Ji?4uC o signo jinglií~ li co não une um nome a ulHa coisa. ma ... um I'IHIU'I!O a um:1 illla!,:clIl acú-:tica. O que () IllC:-.1 I I.: gcrlchl il10 quer mostrar-Ilos é que o s igno 11:1(1 (' tl lllClllljUllto de \ons. cujo signillrudo \;-io:.l" CO":lS do 1IIII11JO. O signo é a união ti \! IIl1ll\~I\lei to t.:l11l\ um:1 imag\!llI :Jclist;ca. quI.: n i'io ({ o som Illalcrial. n\ieo. Illa~ a impress[io [1\'-qlli,';\ dns o;O I1 S. pcn,,'l'ptíwl quando pl'n"alllos numa palavra, lHas niin a rabmlls, ü sk­IItll' UI11;\ cntidadc de duas f:lces, uma rc.:d:lJlla a oulra. :l llIanc ira tio vcrso c do anverso dI> UHI,I lo lha dc papel. Pcrcehem-sc as duas f<l<:c\ , ma'i clas ,iio insepar:íveis,

Ao conceito Saussure chama .l'i~l/ijit'lId() e ;1 imagem acústica, ,üKllijinlll!e. Não l',\I\ll' ... igllitil·anle se m signi li cado: nel11 significado scm 'iignificante. pois o signifít"anh.> \ l'IIl!'ll' l"VOC:l um s ign ifil.::.Ido. enquan to o :o. igllilkado não cx istt, fora dos sono; qut! o vci

cul~IJl:, 1\ ~Jllil~e n,1 a~'~:o.~ica Iga,tu/ l ~;Jo ~.\'o:a um galO pa r~ic ldar" JIIas a ~déia geral dl' galO, qUI: tlJll ue \ alol cI:.t"'ilficõJtóno. Na CII:.JÇilO dc .. sc conceltu, a lIngua nau Icv" t'm conta:l , 1111,'1\,11\('\ r:Ii,:a" o .. tamanhos divcrsos, ao; corcs várias etc. F~lz ahstraç50 das caractcrí:-. II C:I \ partil' ld ar..;:-. de cada gato. pura instaurar a categ{)/ia da Ifi.::linidade/. O , igniliGldo nJ.o l; ~ll l·:t1 IJ~Hle tjuc d e designa, III;]S a sua rcprc\cnlaç50. É o que quem emprega o s igno en­h'lHk por elt.: .

1\ linguagclIl verhal não é a única linguagem e:<i o; tcnte. lU t;lInhé m lingl'agen 'i pKlIlril';to;, gesluais etc, Não se pode falar em Image:n'i acü"ilcas qU:l1IJo se Irahalh:t COIII

\lulJ(~\ ... iste llla\ dc s ignos. Por isso, é IIccc\",írio :lllIp1iar a dcfini ção dl' " it!l1Ili c;l ntC', pa ra q1U' \'1:1 !l\ Io;S:t ser u<'ada em lod<\5 ns lin!!u ~l);!.l'I\S, Pl>dl'l ·~e- i:t cnl50 d i/.e r que () significl1IlC (' tl \i'Íl'It!n do significado, quc é o que se entende qual Ido se usa o sigil O. é :-ua parte intc li 1'l\\'1

A ddiniçno de signu dada por Salls~ulC é substancial istn, pois elc trata d,~ :-.igno l'll! ~I, CO lIJO união de um s ignificante e um s ignifi cado, N,) cntallto , 110 Cllrso de {h/M/ú'­

tini ,l'eral. etc im,i ste 110 falo de que na língua n[io hJ senão diferenças, ou scja, dc que CI­(b dcmcnto lingüístico deve ser diferente do:-. outros elemçntos com os quais co ntmi rel a· ,;rio. I 'or ISSO, é preciso considerar o s igno não mais em sua compos içi'io, Illas cm seus C\lll lfl llHlS, uados por suas relações com us ou tros signos. P(.\r isso" Saussurc cria a noção J(' ralv/', que já foi mencionada acima, Com ela, dá -se uma definição negati va do signo: UIll , Igno é o que os outros não são , O v:llor provém da situação recíproca das peças na 11I1!,1I~I, pois importa menos o que existe de conceito c de matéria fônica num signo do que o que há ao seu redo r. A significação é, enliio, lima diferença entre um signo e outro sig­no. pois o que existe na língua são a produ~::io e a ir.terpretação de diferenças, No interior d~ uma língua, as palavras que exprimem idéias próximas delimilam·~e umas às outras . 1'01 exemplo. os sinô nimos como receio, medo, pavor s6 têm valor própl io pela oposição, Eles recobrem -se parcialmente, mas lambém se o~m uns ao outros . Se um deles não cx.i-.{i..,~e, seu conteúdo iria para os oulroS, Em português. alugar significa dar ou tomar em aluguel , enquanto, em alemão, há dois verbos distinto"! para isso, mieterl e vermieten O 1'.lego tem três números. o singular, o dual e ° plural. Assim, o plural nessa língua tem UIII va lor diferente do plural em poltuguês. Nesta língua, o plural rdaciona-sc apenas ao

""l s1ll~ula r e, portanto , scu valor é de "mais de um", enquanto em grego, como se relaciona

Teoria dos signos 59

eom O singular e o dual. seu valor é de mais de doi" , Com o conceito de valor. Saus:-urc mostra que () que import;'1 na língua siio a .. tli Cercnç,," exi<;tenles entre conceitos e .. nn\.

HjcJmslcv, jins.üista dinam:uquês, vai incorporar a noção de valor ao concei to de .-Ji!.gnn. Comeca por di zer que o s igno é l.I união tle um piano de cOnll!údo a UIIl p~ de

eXPTessijp NfjUJi0Gl1j! .IQui de uma simples substituição terminológica, em que piam) de contclÍdo eSIiUl~.t~~r de signili c:ldo e plano de expre .. s:lo suhstÜui {) sig!Jit.i.gl.!J.k..JJ:at.a.,: se na ven.l.il<.!~ .. .1Íç-lli!}a mulIança de cOlu.:q)(,:âo. Para II :clms!ev, l:ada plano (\llllpreemk ill.Wi.Jú.\:Cis:..a.1urnlli..c. ~~ _'iuhstnncia. Assim, há uma forma do contcúdo c. uma suh" t:ll)cia iJ~tlu.JUna_fuDl!a li" expressão e ullla subst:lllcia d'l expressão ..

_.LurnCCCtllu:i..PDLlIelinir o que é forma e ~e é substância. A form;U;_illrC;iponde .iJ.il.1l11.C-S'III'S llftl chama \'0101', ou seja, é um conjunto de diferenCíls Pam cswbcleCCLUU1a .. _

~ldiniçrio f<lnllal de um sutn ou de. um sen ti do, é precise! estabelecer -ºrrQ~i.Ç5->e~cn1rc .cJes por tra~"o.~,po is os S~~I~" t?~~~_tidos não se 0pÔClIl em h!ocu. Assim, quando lalll'lOlos OJ,;-­St)flS plh! _vs.!:.ificall1o~!l~ ~elc:.~J:'~_yJ?Qcm. porguç _!LpOlllcim ..apcese.ul4.o traço '"urde?),

. ~yu~m~o o~~Eundo contém .o ~~) Isonoriclade/. No entanto UIll;;l.J.w-uMÇãu.!ió se eons­._tró i sobre. lima jdcntidade~s..dol!:i sons são oclusivos c.bilabiais-V.eriliCd-hC-, cntào.-que a-. oposição en~~ .~~e~~.!!~o é feila em bloco. mf!JiJ);QLU~ã.o.é...a.ultrili4tde-tkt-/pJ.que-­

se o~~:i_.t~!~~li~~I~~~y fbl.:. A_lllesm3 ~i~aocorre nu âmbitu lI.9.JiCllÜÜo....Em.purtuguê.\ •. há-­tJ1l\<l_~~iç~.o en!!~J!.~!!l!!'~muJ{~e~ :. ~Inbo~ _~~!n o traço /humano/, mas sC .. distinguern.

_fX?rq~~~. primeiro apr~sellta _o tfilÇ:O Imasculinidade/, enquanto o segundo C9_n~éJpsu.raÇD __ .

_/fel11l11l.!.t.d~~,.~~.':~l~I~~C!.:.~omo o português n:io tem um tcnn~ para indica~~~ no ("111 g(,I<I).!..~_~~..IT'.!] t~ ' do reCaI no termo /WIllt' III. Assim. a rc!a~e..as...plIlruaasJ1O ...

. lllf!lIU: I.1lll ilta d,:'H:r.m.in.;.l.Q.Uc_o lcrnlO 1/01l!C'w lcnln dois valaD'S djfc!"nles ' "ser bll!D:lO O'::""- .

_ fL"scrJ1.!.IIlt;!I1J; 11" <,;c~Ul1~1:.!'.J,Ih:l() " . EI\I l íll!'U jl~ Ç(IIIlU oJaUm.illLo..grcgu_ i'i!>UJlãu (X,:one. _l':'~IE~f~('J:'~ ~':.~~ ... ~ll: ~ ':li'\llll ll)- ~ ': em lalim, aparecem 1101/10 (se r humano), lIir (ser hUlllu­

_"':s do~ ' t:.~'.Jll!l'if.!!i!!!.:!.Ú .. k7~ilt -J~~;:::-T:li nilno do sexo feminino): em g[ÇIIQ s;;o reSpel.:l(-~ ... _._..':<~ l l~Ql_C J!ill!U..f!J"i\',..i.!.!i.!lI~ _!:" ~~ j,_l~,: lll Jis 'io, os sons e os sentidos S:IO c.olllbinados de ___ ~:fi)rllo ~~~I.!!.!~.:~;L:'~.!.I,1.i!!.tU c~;trita ~da !:llgW.l. Por exemplo, o som Inh/ não p..Q.de, OC!IP;;;-cru.. ~ _J.)~ . ..iL!2~·lç;10 inicial de palavra. Por isso o!líwdo CmprrS!:lUlOS 11'11'\ p11.wra de ----1!.ll~1JjLh.;Db~ge i ra que H!Pl u 111111 em posição inicial pronunciamos C;iSC vocábulo­

at:rçsrc~Hmdu U:" li! antes do mhl, para que este fique enl'posição mediaI : Inhoouel em Port~gtll'S VIn\ hnlJoque/, Da 11Icsma fonna. não sc diz A pedra viu Q mpnjll0-JlOIque O sentIdo de \'I'r ex ige que o sujeito seja animado.

A ~ubslí1ncia da e:<p:essão são os sons e a substância do 'contclído os concejtos 50[1<; (' concrjlG) ;iãn gerad(,s nela (nona e n10 prcexis'em 1 ela o conceito dg 119't/t'ff'r.erTI··

português, "ser humano" e "ser humano do sexo masculino" é criado pelo falo de __ de Sf.-_

.Q!)Dr " ","lbere 010 se opor 1 um !ereeiro lemo como em !tJ1;m em que f)I'OOCci'o de "o­mo é apenas o de ser humano. Os sons plh surgem da existência da oposjcijo Surdo/soooro

Assim o signo. para I Ijehnslev. une uma fomlQ. da expressão a uma forma de con­teúdo, Essas duas formas geram duas substâneias, Unlíl da expressão e uma do conteúdo, A forma da expressão süo diCerenças fônieas e sua.<;-regIas combinatórias; a Corma do con­teúdo são diCerenças semãntlcas e suas regras comblnat6Ôas' ª s"bsttincí;i-da exprcss;;o são os sons; a substância do conteúdo, os conceitos .

Para Ifjelmslev, o que a LingUística deve estudar é a forma tanto da ex pressão quanto do conteÚJo. O signo seria representado como ERC (expressão em relaçào com o

60 tntrodvçõo Ó lingiJí~ticu

conteúdo) e uniria duas formas. que se manifestam por duas substãn<.:ias. Quundo se lê a ex.plicação que Suussure dá do signo, pensa-se que ele é UIllU p<.lla­

vra. ou mai". rigorosamente, um lllorfcl1'1a, ou seja. ti menor unidade dotiJda de forma fô­!lit.'a l' de signirlL"ildn. A~ ... im. na pal<lvril amtÍ.\"s('Ino.\', temos qU<ltro morfemas: Clm-. o radi­caI. qlll.: <.:onll.!m tl 'iignificado rcl:ltivo ao alo de amar: o a, vogallemálica. que indica que tl verho pertence;1 primeilil conjugação: o -X.H', que exprime o tempo e o 1I10do du forma

A \l!fhal: tl -/1/0.\, que L""pre .... ":I;I pe ....... oa l: (l I1llmcro da limna verb<.ll. Apre .... cnlandll li .... igu(l. COfllO fi resultado tia ... emio!-c. un i:io de "Oll~ C conceitos, que se e r~lutl no alo de lingu;l­).!l'lll. Iljelmslev 1II0<,,(ra qUl: (l morh:nw tE apenas o signo mínilllo. poi" a dinH':lIs:i(J lbs unidad(' ... tlc mtllllh.: stação Iliill é pertinente l);Ira a ddini,:iio tios signos. Em oull; .. " 11<.1I :L­\ ra~. 110 :ItO lk falar. prndlll i mO-" sign ifit.:açiio, n:io ~ó, yU<llldu enunciamos os signos mí­

nimos. Ol' seja. os mOrreLII;'''. ma ... talllbéLn quantlo produzimos frases ou textos. Assllll, as Inl\c -;;io sigilOS, o~ k·"to ... são signCl.\. IjILalquel produção humana dotad:.t de sentido ~ lIlH

' 1).!1I0

Características do signo lingüístico

A OI bilrariedadc do signo

- !'oi, hem - C~l't!l:ou I' gJIO - . UIIl ~;t~hm1U lU~na quando ~slã conl raiva e balança a cauda tl\latldo C~· lá contenLe. ('omprccndc'! Enq\!:IIILO t'u ro~no wwndo eslOu salisf~ito e bOI lanço ., clluda quando esLOU

("' !In r;LÍ\'LI. c~I:i Clllcnderu.lo·/ l'orWIIIO cu " lU louco - Não ("h:IIIIO" i'~1I ru~n:)[. ma, ronn'llar

- Chame LOlll(l quiser - di~,r o (1:11\1

(I.l·wis Carrol!. 1{}I!.o:X.\)

Para S<lUS";Ufl: . o signo lingtií ... tico tl'lll duas características principais: a arbitrarie­dadl' dll ~ ig[lu e a linearidade do signilicante.

Dcsde a Antif!.uidade ("specula·,!!: sobre a relação existente entre o significado c o significante. No Crârilo. de Platão, discute-se' a respeito dela, Crátilo diz que o significan­te é unido no !:'ignificado por "h\'Jei (por natureza). Hermógenes afirma quc cssa relação é por ,/róci (por cOl1venção). Sócrate~ inclilla-se a reconhecer que a relação entre o !>ignifi­t: ;lIlh.: l: o siguificado feita por semcllwnça é superior àquela feita arbitrariamente. mas <1LI(' . em geral. essa relação é leita por començ::io.

Para Saussurc, o ~ igno lillgüístico é arbitrário e, portanto, cultural. Arbitr{trio é o contr:írir) de motivado. o que ... ignifica que. quando ele afinna que o signo lingüístico tE <lr­bitrário, estiÍ querendo dizer que ele não é motivado, 011 seja, que não há nenhuma relação ncccs'i:'lria entre o som e o sentido. que nflo h;í nada no sign ificante que lembre o signifi­c<.ld(,. quc nào há qu .. 14Ut:r ncccssid<.ldl! lIatlllal que del(!nuine a unifio de um significante c de um significndo. Isso é comprovado pcl;) diversidade das Hnguas. A palavra mar é Sf!t.l

em inglb: a pal"vra boi é ox ern inglês. Verifi<.:a-se, portanto. que, nos sons mar ou sel1 ,

U:I\I há 1101da que lembre o signilicado "miJS'i:ts de águas salgadas do globo terrestre" . Mar pudcria ser chamado estut1qllc. se os homens convencionassem que esse deveria ser seu Ilt1llle.

Algumas pcs ... oas (" I itlcaram a concepção da arbitrariedade do signo, mostrando quc ac; onomatopéi:1'i. C0ll10 ai . oh. oh. são motivadas. No ent.an~o, é preci .. o dizer que. em

Teorio do, $ignos 61

primeiro lugar. as onomatopéias ocupnm um lugar m<lrginiJ l na língua e, depois. que Iam. bém elas são submetidas às coerções fonológicas de !.:,uJa lílll!ua o nue expljl'j! que os sons produzidos pelos animais. por exemplo. varial!1..J!.c.J.ínguu..pa(jl líogw! AHi~ português. o gato ronrona c o c<l!.:horro ro ... na; em inglê~! as vQz.ç.!l_dt~s jUJimais 510 de signadas, respectivamente. pelos verbos pur, c .\I/(Ir/, I ~so nã\!..lLU~.uliz.CL.i..l'le !lOS ES"I­

d()s!:JI.~~o~ ou Iltl !l2g~lerrfh.9_~a.t!d:~~caL"JlOr.fQs fOllrDI1ClIll.IUsllcm..diCcrcniemsftte-d&.r !!a!,!.~ l: dos ~a(,'hor~~.~l Hrasi!....2.u de Portllg~ ,..!.l!a ... yl.Jç ... J11..Ui1WDiJlupéi.a.s. n10 imi'lmJ.ào 11:1turallll\!nte O~ sons. como nos Queo'lJ) lazer 1'u..:.L-

O n lrol::írio d,1 arbitrariedade é a l'OIl VC IH;ãe). Di/, Sausslln: llllc alirll1;tr qUI! o signo é :trbitr ,í l ill riJo signilica que o signilicado depende da li vre cswlha do falante (1969:83). pois nflo e-q,í nas mã(ls do indivíduo a capacidade.: de Illudm nada num ~igno lingüí~lico, jd que l~lc i ~;oci;d . Em Afice, encontramos ri sc~uintc pa""agem:

~. ·".U V II< ,atl\111..:'111f':l!':)\:d,u pJra \ I":C"

~ ,:l ' "~L\i i,l' 115:, \Igml:l·.,· ,IIU ar~Ul11entll ;,rr;"auo(' . "htC1olIl\tiu:.

- Qu:uuJo \1:.0 11m:! pahiWJ -. diss.e Jlurnp'y DlI1llpl y t: IIII1H)) c~~·"rnillh\l - t'I:, ,i~lIitica ~'ia'amenle

;\1111: 111 '1 1 .' 'lueu ' que dOI si~n,tiqll'! .. t'lCm 111:11\ 1It:1ll lIlt:tI'" 1\ 411<" !:' \" . r(.t!th!mu Atire - é saber se II ).(.'nhnl pOld..: lal.l·[ ;I~ p.davrIl\ di7.l'fcm l'tl isas t1ircfcnle~ .

- t\ '1'1"'1;0" ,n:plil,'ou I tunlply OUll1pty - I: ,atlCl qWIII i3 lII'c IIlantla f: \,', i,'IJ, ( 191)0; 196)

.l lumpty DUI~p-,xrc~~~~~~e ~~:~a~ .~~~~~e~.Q~~ .. ~~J~~~~<!.t;!l1..!'l..~_USO da lingua­gem. cs tabch,:cl! suas próprias convenções e .. p_~~r i~so'.!'_ii2...Q.~rtnile que a com!!niçação

--ocoiTã.·~queei~se efetue. é pn:ciso que os falalgg",,') c.s.ttiam 'IvjdaS por rIm cOq"çPSQ,

que constitui uma comunidade ling jiística A arbitrariedade da relação significante c !>ignilicarlo quer dizer que ela é conven­

cionaI. isto é, repousa numa espécie de acordo coletivo entre m; f"lantes. O próprio Saussure vai atenuar o princípio da arbitrariedade do signo, fazendo lima

distinção entre o que é absolutamente arbitrário e o yue é relativamente arbitrário. Um sig· no como mar é absolutamente arbitrário. porque ni",() h;í nenhuma motivação no liame que une o significante e o significado. Já um signo como (/(':.('1101 '1: lembra os dois signos que o cumpõem, dez e nOl'e. Como o significado de de-:enof'(': é "dez + nove" e o significante é composto dos signos dez e nove, ele é relativamente motivado. Os signos dez e !love são nbsolutamente arbitrários. A mesma coisa acontece com pereira. De um I<ldo, esse tenno evoca o signo pêra; de outro, o sufixo ·eira, que :lpMCCe em nomes de :irvores como cere­jeira. macieira. ameixeira etc. A relativa motivaç~n aparece !la formação de palavras por composição ou por derivação. A limitação relativa d;1 arbitrariedade estabelece um princf­pio de ordem e de regularidade na língua. Ao longo da história da língua. certas motiva­,'{)es relntivas vão perdendo-se. Assim, ninguém l11"i" lemhr'l que ('olldirlmo é fonnado da piJlavra cafldidus, que. em latim. signilica '·br;.IIlco". () candidato vestia uma toga branca, daí seu nome. Também ninguém mais sabe que ministro é formado da palavra latina mi ... nus, que significa "menos", pois. na sua origem, ttllll;\'tn significava "criado".

A arbitrariedade do signo não se aplica a tntlJ:- as linguagens, pois há linguagens que têm signos, em que a relação entre significan1!> e.: significado é motivada. Por exem­plo, nas linguagens visuais, A foto de uma paisagem é um signo. em que significado e significante estão unidos por semelhança. No~ símbolos. a relação entre o significado e o

67 l!lhonl/çoo a lingl)i~tlco

,iglllliGUlIC pode ... cr motivada. Ullla mulher com o lhus vl'nd.ldo" e com 11111:1 11;(1.111\'" !la 111:101..' \imtlolo da jU~liça. O :-ignilicanle 1cmhra O significadu da JUS! IÇ;.' LI "quiI!Jitlllllad.: I..' lL'lnIHaU.1 Pl'to tloi ... pratos da halanç;J 4t1c pn:c.:isi.un c:-tar na mesma altl~r:ll' pdv .. olho\ \l..'lldddO\, qm' indicam que () JUI7. di:-'Iribui a jusli~'a ~cm olhar quem é {\ dL'lIlanuallle."

lrtl/ 1,.' () {JIlOUIO Jo cri\tiniani"lHo, O s i~nit; c: alHc lembra Cll sto c sua lJlorte. A jOH':c' I' Ii

111 :11 \Clll ç tl/:ldo<; <;;111 () "imhulo uo cUlllllni"IlHI. A fujçl' kmhl a () c:lmpl, ... inatll: 11 1Il.ukl, '.

ti "1, '1.\1 I, do; li CllI/.llllCllln UO\ t1oi~ indicl :I limito da ... duas cla:- ... c:-.

1,1"1 ,Ih. In ( 1 q(II):t)X-1 17) IllO\tr<l 4ul.:. L'lllbora e ... ,ivcssc corn'ta a alirlll.I~·:I\1 <;:HI ... :-.\II

H:,LI!.I ,k qlll' li'" .... it:l1o.~ liLlgiii ... iiros s~o adúll'~L lOS. ela d~vl'ria sn jliãlii.~Ld;L, 110i\,l' lI1 lll\Lilu\ ,.:\ .• (\ .... ,'11\ (l)(ju ... 0\ !Lí ve is da 1iíigliJãr"'ír~êelIl1iitllivaçõc\. 0" ~ims p:\I'L'l'e1ll In lLLIl \illlho­

I i \! L 1(' UHI Vl'r\al. i\ (11 H I ... i(;;l(') (];:rõ/icnla .... -gr:Lvl·\. t:\;Jllll-O h"J,-C'7litIJüS, l'nl1lo {) Ii/, é capaI de: ~lI\'\"1 il .1 iUlagl!11l Jp l'laru é J(,êst:-üru~ do p~lllllJJO C J()';lrrednntE1Jo, do fino e do gro\"o. dl l li;· ... iro l' dl) tll<ll"I\'Ô, P()r·i .... so:qiITír'Wu s~\ali l iUic:.iI', lias JlIslon;is em quaJrinhil, () ri ... \) d, I'" !l, 1111l'I\\ t' Ja\ 1lI1t111êr~s, u"~IlI':Se:r'~\iX:'::I~v:miell!~ ~ii(i-."iü·l-:-jlll t: iú. 11i. hi.-Ãimla na ... hi ... -

Itll i.l'- l'111 qU:I(I~i!!]HI, ;~~~(f~ª~ii:i.;(I Ü~;~§~0I~-ü1~r2,~ SOIIS brujais l! rl:l )C~liinu!'., COlHO 11.Ll1l"' lda,. CtUIIC\:'''UII SC lnpr," por cOllsoanle .... ot.:lu!:. ivas, qUI! s:io mOlllcnt:lneas, C(lIlll) tllll g,)I­j;l' (p/h. I/J;7JZTg): "tilll, 1"', rlcr~o- n:i("ilCOrTC. segundo Jakobsori, :LiX:nas ôã.., uuomatu Ik;ld ' llii It:gi~s do }~_xico, c..'.!!...9.uc conjuntos de palavra\ apresentam ,~nt i~~) ... .!'l.milarl'''' ;1 ~ ." .. i.IIII!'- . a '011' \i~llilales, Em inglês. telllOS bOJ" . .. go]pe'':.~uJ'', "miqura"; .\m(l.\lI,

"rn1p .. , OU](\": nas", "flagor, desmoronamento": das", "choque"; lasll. "chicotada"; Iwsh,

"l'lllllu<io" : IlI.~h, '\:IIII>Ç~~::;- b~'~!~~~..i!las·:: ('§Y:'~'cr~~~ .~I,oten_to": tnl.\"h. "repelcntc"; 1'llIlh "Ilwlullll~'",; :,,,las~l: ~'.~~lb).i~~'~~~~,_:r~lnt~go",

I..\aplr, Illlguist3 Horle-amcricallo. fez uma experiênc ia . Di'isC a uma ~él lt: de pe ... ~ "'1.\ qUl' L11l\a língu .. i t"iiiÍlil as pa l,tvras l/i7fcmãTê""que uJlIa slgmtt cava "mc~olla' ; c uuir~, "1\U:,ll1 ll:J". Pcrguiif:I~, qualCIü'S pal:lvras slgmll cava cada !..IIll3 das ems;ls. In vada­wlmo.'!lIc, a~ pC$soas rcspmrdi::rrrTIp.TC!"1711f"c'm-me-sinlr.re ma[,""i""fie"Sõna'. As pessoas enllJl lc­\"ad~\" :1l:S"l:'" \;gmficados-pe lo glJU dc-:::lhmU7[Oas voga is. ---

Nn. !-:ilm:D:~ c 11:l.-nml'ftJtugt!í.lJ11f'iifCíj"j io leOlHeo apareec muitas vezes, ()ualldo um ,>\fll'III), pOI exemplo. é composto peJa designação de jdu<l s pessoas hicrarqll icalllen le di!,­tlnl.I .... 1Iormalmenle, a palavra que indica a pessoa de hierarquia m~,ior <lp;Jrecc em pri-1t1~'I!O lugar. A ordem dos termos rellet!.! a diferença de posição entre as pessoas. Normal­IIICPI '': di/-s..:: () 11/"1'\'idel1fr e o minisrro I'h'ram jalltar e não O ministro /' li pl"e.údellfe \'/1"111111 j Wlrllr.

Na murfologia, algum:l'> língua!' fazem. sinteticamente. t) comparativo c o ~uperb~

ti\ o (k IlIuilOS adjetivos, Quando i!'>so ocorre, os graus de comparaçnQ apreSenl;Jllllllll all­Illl'll ln L!1;lt..IU~" 110 número de fonemas , O cn:scimcnto d\) signi licante rerlete a grudaçfio t!t l \1!! II~ri cado. Em blim, o :.ldjetivo n!tus !em o comparativo {I/rim e o superldli\'o Illrissi,

1111/\ riu 11Il!lê", o adjeti\u Illglr tem o comp;lralivo higltere o sUI>C llati v11 ItiglU's! , O plu­

Lll d,, __ líll~IIl!" é feitO t.:orn o acréscimo de um morfema, como no t.::ISO do P(l!lllgUC'~, l'!1l

qut' ,: kiln ('\)111 o acrést:imo de um -s, o u por alternância, em que Se alternam \UllS dentlo dtl I;!(bell, como no inglêsfoor1t't'I, Nunca o plural é reito com <l subtfJçIio dI.: -"í..HlS. () slj.!!lilkarHc do plural tende a rcOetir, por meio de um acréscimo. ('I signilic:Jdo de um ;111 '

/lh'!tl ') Illllnérico.

Há outros fcnômenos que indicam a exístência da tnotivaçilo na língua . Uni é o Ja ctllllulogia popular, c m que o falante , eom base em certas semelhanças (únicas, ligü \I~a

Teoria dos ~i9nos 63

c!:;ll:l f~\f!r.: a 11lll; J . 1.:0111 que clt .1;,0 ~t!1Il Ill.: IIhUl1l par~ntesco g.enético. É o C3"'0 de ((''-1'(1-

/,flIl1fH!.'·" I li "rrup!l'I:'I,Ii/'I1' (;';..1-\( a lorma a plflllO. a ItInlfll' "Iallo, e n50 ao 010 111' 1'11'

,[/CI", ~Ul' l'\:i. lia ha'-c til' 11'.',·III,luUlt.:,t'nI. UlIla \'C/. que 1',,'lwgel/l vcm do verl)t) btino 1," '('1' . qllt: ~ 1-'1'lri~: ;1 \'Ilt:!JCr), (H';\/! 11/('\'1' por (11';\11 préL·/o. Pela mesma raliio. e"t:rcvc·,c

dl'.\/i.\l1f r· H,il' ,I, ·sli::{//'. porque ."l' rl'l a, lon:trO ;I\(l de ddii'al" ao que é li"o, NI' iO;:11 Jl' dWIIIl1;IIIO, .. 'Lll qUl' \l' InVl!IHalll dt.:!lniçõ..:, para palavras dl!sctmhet:i­

da ... diJS j ' l!:!\ll)I:,-, II "l'II!ldlll' lLull1 ,L !lóulir ti .. ,:., "11lI." tlU:t pólrlir dc fllfllló.lS l'otlhl'cida, com quc :-'l' ~\t"hl'k'l't: 1I1 Il':~u,;flt:~, Em AI;f C,'I Illenina lê o pilem:.! Ja!!uaJart('. cuj 'l tradu­ç:io Clll pllrlll,!;llt'" h:1ll a ~,-Irlllllla gl<UlIJIH,:a l Llu I.'o rlll ~ues. lIl"IS:.!S palavms são I'nv~nt:t -

0:1". Quando '-lulIlpty J hllllply vaI o plLl'iII" tJ ~ell llLlo das pabvr:..ls, proccde como no .I{'J;0 d~ dic ion:írio:

Er.1 hnlul /\~ 1(',m"II~.I\ I'I\JV~\

RollJJvam c rcll'l,Utllll l' palluho\ E~I'H"IH 1I11111\IC;'" ,1\ pllu.,I"ll l.j ' F o~ !1Ill111HT:lhl\ .1,,\,111) t:nh, ...

- 0'''1..1. pra C(lI)}C,;" - lI11Cl l"I IIP':\I I tum"l)' !)1I11l[11)' 1 ';i lima rx'fi,:ão de fl:.13vra~ lnlfincada~ alju" "Blilu/' ~i!:=-lIir;l'a li hulho .i;, IUI ;,~ \lu.llm hnra .. d,l lartle . IIU.u,do ~e fla~~a oI n~n;J dC."I.:nla no~ \'cr .. ,,~

- Agora fil:uu claro - tI",c Allcc - E'!c\IIKII",a,"')

- Or .. ~lgnifi[a "h,a~ como k'm.l''' . Vcj.j OCm. ê um3 pala ... ra,valise: dois ~ig"ific3dos embrulhados

numa róllal'r:. ~ó

- AI!, e~\1l1J cnlendClldu - Clllncn\tlu Alice pt'",allvamen;,' - E (l (Iue são "Ioul'a~""

- I3cm. a:. "tQUla~" tl:m J! ~{) IIc loupClIa\. 31~tI de lagana~ e algo de saca·rolha~. c têm pelos e!ipeI3du~ cumo escova~.

- OCVCIll ser bichos ha~l;mtc C~q!ll~lltJ' - E são - di~sc lIumpt y Dumply. _ F:ve:ITl r;,nho\ nu,~ rd,."Iglll" de: ~o l e se: alimentolln de queijo. - E 114ue: é "mldavam" e: ",c!vlam'''1

_ "Rll ld:ll';Jm" signiliçol qur o~ blcho~ rOOi1v;)m em rold.:io e "relviam" que ele~ se revolviam na relv3.

"Roldar"' t3mbém pU<le ~er girar tomo urna roldana. - E "grarnilvlls", "p(l~tll. devem ~r tufo\ de gr:lIlla planlado~ em lomo dos relógios de sol. onde se ou­

vem os silvos da~ ~crpl!ntc~ dj\\.C A hee c'pJnt.:u.!a com sua própria ~agacidaJe, - EX3lamente. é b~o. Quanlo a "ITllmsicaif' significa "mImosas e musicais" (c aí lelll você oUlra pal:l '

vTa-valise). E "pin13Iou\ a~" \ão 3\e~ CanOfa~ meio pinta~5ilgos e meio louva-a,deus. f "m\)rnrrr.ltn~". Ilue: ê? pcrgunLnU Alice. - Elõpc:ru que nfio eSleja lhe dando muito trabalho.

- Bom, "ratos" nâ(l prcci~a exphcar M3.S "rnumi" nio sei bem o que é. Talvez venha de "momlces". is-

10 é, C3fe\3~ e trqeito\. E lembra também as feslM de momo, o carnaval. As~im. "momllT3tos" lalve1-sejam ratu~ C3"Clelro~ ou ~·am,jv;.dc~'os. li que vem a dar no mesmo. - 1:: \I que quer dri'.('f "gtll\'t'J~"'! - I enso qUI' del'e .~CI uma ml\tura de l!'ntl)~ etlm ~il\'os bem agudos, com algo parecido com o chilro

(!II\~rilm ( 1980:11.)1'11111)

E r a ]l>X"sia, nu cntanto. que a motivação do signo aparece em toda sua força, O pil·~lJ. h!F( <.J [I,'T'ar ;1 !cb.ç50 entre o sign ificanlc e o significado, Essa motivação não (lp1; ~.:ce n ' Ilh-d un :, iplO mínimo. ma~ no do signo-texto. Por isso, no tC:<.to poético, o p\ Ir'l!) d:l í !;i'~'I!.s$iír. ::u \I~' 11;"10 ,t DC:I\~\S rara veicular conteúdos, mas para recriá-los em sua organizaçilo. O material ~onj)ft) t.:on tri hui 'para produl.ir significação, o plano da cll:pres­s:1o é colocaàç, ('m funçâl) do contctido. 0-" elementos da cadeia sonora lembram, de al­gum modi), () ~' i r:lli tÍçado prescllte no plano do conteúdo. As aliteraçõe!'>, as assonâncias.

64 Introdução õ lingüístico

0\ ritmos imita.m aquilo de que fala () poema. pois ele é. na frase do poeta Valéry. "ullla hc'\itação prolongada entre o som e o sentido". Os sons na poesia são escolhidos em razão til- "l!U poder imitativo. Nos ver~()\ ab ... i~o de O.f Lus(ada.f. a repetição de cons~nlm. od u.;;iva ... especialmenle do 11/. iUllla as c~plosõcs que íltempestade produzia:

Em tempo de Ionnc:nl" e \c:nlo e~U,\I\l. 1 >c l("mpt~\la,lc: C~U'.I C li i ~l(' pr;Ulhl (V. I!( . ! 4 )

No poema "baixo de Manuel Bandt.:ira. Ika muito clam a mOlivaç;io do "gO\' 11" p\lC' la:

n~bll!i. ... ;y

P:lra cá. para l;í 1'.1, :, d. p:!ra lá . . Um 1I0IICII'I.lI1ho de linh:.

P"IJ cá. para t,i P:lr:. c.i. par.l IL

(hnla nO:lI pela mão de un". 1'!I;UlÇ;1

(\'COle: \ai.,.)

Q~ delic.ad:unentc: c: qU3~ a adOf"Tl1«cr o balanç:t - PSIO .. -

!'ata d. para l:i Para cá e.

O no\'clor.inho caiu (/'tl"'ada .iJa III/tlra . 4' c:d Rmdc bnClrtI: Jo,éOI)"mp;o. Iln3. p 1)4 )

o poeta v;li acompanhando o mOVillll!llto pcndular de alguma t.:oi sa . Os ,crso". Cl)4 1110 um Illctrônolllo. tem um rilmo que ac.:o mp:lIlha li movimento: para cá. pura lei.

Esse rilmo é interrompido e explica4se o que estava osc ilando: uln noveluI.inho de IlIIha. Deve4se IIOlar, no entanto. quc. depois de anunciar o objeto, as rcticêndas inter4

rompcm a comullicação. É como se o pot: ta esti vesse a contemplar a criança que Csl:Jv.( pala adormecer e parasse o que ia di zcr para comemplnr nov:unenlf: () novelozinhn na !lI:1n dn criança: para cá.pora lá ...

Diz que o no .... clozinho U!H:ilu 1/0 ar pellJ Imio de IImCl criança! (.o.) ql/e delicaJ(l4

fIIt' IUI..' i' quas~ a adanfle(.·I..'ro balal1ça. Entre os dois versos da fala do poeta. há um Vt.!(W, QllC aparct.:e entre parêmcses, a indic~lr que. enquanto o poela fala. o movimento do nove­lo continua. Ele mostra que seu vaivém prossef!lle sempre igual : primeiro para cá (vem) c depois para l:í (vai). As ret icência'! revelam que o movimento é contínuo.

Depois de ter-nos infonnadu que es!'e rara cá. para lei (contínuo como mostmm a!\ reticências) é o movimento de um novelo7inho de linha que oscila no ar pela mão de uma criança que delicadamente e quase a adonneccr o balança. o poeLa impede nosS:-t ma4 11 i restaç50 com um psio, para não acordall1h)3 J cridnça quase atJonnecida

O ritmo do verso continua a recriar o ri:mo do balanço. A interrupção do verso se· gU tntc. que mostra o movimento apenas numa direç:1o. significa que a criança donniu e. portanto. dcrrubuu o novelo. O úhimo verso reItera esse significado para n6s.

O título do poema é o nome do composi tor fnmcês Dcbussy, que. ligadl.l aos movi­mentos simbolista e impressionista. abriu um universo sonoro inteiramente novo, em que :l .s ugestão ocupou o lugar de uma construção temática bem definida. Uma de suas obras é ClJildn:n 's comer (Recanto das crianças). coletânea de peças infantis que c1c dedicou à '1.

lh a! fi. peça mai ~ wnhecida dessa obra é "A menina de cabelos de linho". <.:omposta de movimentos descendentes (vai) e ascendentes (vem). A cadé!ncia harmônica rinal lem um

movimento melódico descendente (caiu) .

A linearidade do significante

r) cadler :Juditivo do signilicantc lingliíslico 1':1/. com que d e 'c uc'\envolva no lempo. Ek reprl!"cntJ ullla cxlens;)o c C"':;J cliítcnsào é mens ur~vcl numa ... ú dlm<.~n ... ão. é ullIa linha. A escrita. ao reprcsenlar a lal3. representa es~a linearuJallt.: no e ... paço.

A linearidade é uma c:lr<.Icterfstica das línguas natura i .... "'l!gundo a <lu .. 1 os signo .... uma VCI produ7.ido". dispõem-se uns dl!pois dos outros numa suces~ão tempora l ou espa· cia!. Por l'~IU ... a des ... a caracterbtic .... não ~e pode prwul.ir mais de UIH demento lingüí .. tico de cada VCi'.: um som tem de vir depois do outro, t.ma palavra depoi ... da outra. e não se podem produzir doi~ sons an mesmo tempo ou duas palavras ao mesmo tempo.

lIá linguagens. como a pintura. cujos significnntes n:1o são lincare .. e. portanto. e les se aprcscntilm símultancnmente para quem vê um quadro.

Denotação e conotação

A Imguagcm autoriza toda sorte dl! alteraçõcs de signiricado. de viu lações semân· t; C.I\ . qU~lIldo!'c uhmpassam as frontt!ira.~ estabelecidas entre o animado e o inanimado. o hUITI ~lIlo e o não humano, o concreto c o abst rato etc.

\)0.' fl·I":IIIC. na ahurn . OI; lTIanhã gargolhou. um hando de ma itacas palo .. a\':l. linindo gUl7Q(. panindo vi·

dltJ~. c.~l!akj:\llti{) d~ \;1. (Gui lIarãc:~ RO~.I. SIlXdI"OIW )

Na or:.Jçãt"'l (! manhã grrga/hou. terno'! a allibuição de um sujeito n50 animado a UIIl "t;lhn qile C'll plin::ípio. de veria cx igir sujeito animado. Empregamo ... , a todo 1110-1I1l'nlO, \ . ... ' .. \ IIIUd;IIIÇ:I .. Se Jll;1 I t iC:l~' cair das nuvens. sorriso J1llarelo. matar utempo, ma­t;\I U !0Jl1<. qu('b~:'Ir o ga lho,). t i lnar a palavra . Como eltplicar esse mecanismo?

J:i .. c vi .1 q I': o signo f a união de um plano da expressão a um plano do conteúdo: t::RC. Por eX" " 1 110. n ~cntido ca palavra olho é "globo colocado na pane anterior da cabeça c que !>t'rvc d-: \'Irl ~o da vi~:o": o sentido do termo gato é "pequeno mamífero carnívoro, domé .. ti '';iJ. d.:l fJllnia dos fdídcos". Portanto. o significado da expressão olho de gato é "globo colocado lia parte eIL.". No entanto, em português. oflw-de-gaw significa também "chapmha colocaJa em pequenos postes. instalados ao longo das estradas de rodagem. que renelc a luz do~ laróis dos automóveis. para marcar os limites do leil0 da estrada". No pri­meiro ca~o. tenll's um signo denotado; no segundo, um signo conotado. Como se compõe um signo denOla{:o? É o signo cujo plano de e~prcssão é um signo. Assim, temos um signo denotado ERC. 3< qual se acrescenta um novo plano de conteúdo (ERe) R c. No caso de ol­ho-de-gato acre~cenlou-se um segundo conteúdo ao eontt;:11do do signo denutado: "globo colocado na par e anterior da cabeça e que serve de órgão da visão para UIlI animal felino etc.". Ora, poder4se-ia perguntar por que dar essa explicação compl icada para o signo C04 notado c não siflplesrncnte aftnnar que ocorreu Ulll3 mudança de sentido. Porque, se afir­mássemos apem.s que ocorreu uma mudança de sentido, tcriamos de admitir que qualquer

M lWd"'ãO Ó [,00""'''0

mudança lk ),CI1lIUIl poderia lK:orrl'r na língua c que. ponanln. o ... :O;Clllldo ... Illultiplicar· ... l· 1.1111 ~Ik~ltlll la c t:OIoIICiIIllCllIl' , No 1.'11Ian10. nft" é i ... ,o que oco rre . Pura l.'ri~lr um ,il!no I.:onl )·

I.ldu. c pcnl\U qUl' h,lla unI:! n: lilçfln I.'mn: (I ... ignilk;u..Io que se .. h.:n:).I,.'cn\.t c I) "gmlic'HJu '" Pll'\CIIIC Ihl ... i)!IIO dctlolado () t1i .. po ... tlivo que indica J.lS margem, tia ... c"'lrada\,cccOc c"ç

1111111,,', pmqlll' , a"o)\ 1.01110 o OUlll do," galo ... d ... · telll a prnpllct!alk' tle t"l'lklir;, !tu .. I~nlh'

lI, 11,l1" "}.!ll. IiLHII'''', h,í l"IlIJlIlUll ti ;I~' ll (,.'01 1It11 11 .

(h lI,I', I Ilt'\'dlH\nUI'" [llllleip.u ... do.: C\llln l,I\';'O ... :-to :llllc t;í rOI:l c i tlllL' !tUlílUl :l A 1111

l,d-II,I" ",1,,11,.;'1.111111 dI' um ... 1~IH11l";IIJI1;1 (IUI IO. ljU;lIltlu l 'lItn: t..'k ... l'\I ,II.' UII1;, ,d;t~;'tll I,

"'I II\'II1<1IH,:1, dI' 1111<'1 ~I'l~. ,lO 1 ':~ ... a 1\.: 1:1(,::111 IIIdll.:;I l\tll' h:í tla~o ... \'01 IllI 11 '" 1.,.' 1111 \..' \ " d 4\1 ....... 1:111

1ll'.ld. "

C I UI.lI I M'I '1Ih' "., .. "1''';.''''

( ".1 ~"I'l\'"I,' ,k 11"" "',,'" 1',' 1.'11111.1111" '_h" '''~II.I1. 1

I{·""h"\h,·,, 11.1).:,'<1,., I'" 111.,,"1

t \ I"Il!11I "".!!11I 1 il..'il ··l'IlIlIina .... ·; /'I/JO/I/(/ quel Ji/.\:I "1I 1 ~III:: rial 1I "';ldo para \..' 11 tlllll,lf .

1//(/1/111. •· ... lIpl' 11 in\''': IU// uill. " ";1\ 10 ncgl l'i ro" . Tl.:llIo.., Illct,ilú l a:.. porque. l!ll trl' n ... do ....

'I)Cl llrILldo ... lI:i lImll:H~:\ l comum. 1'01 ('\l'lIlplo.l.!lltl'e IIIl11/(O e .\lIlw1.'1/I'i(', lI;i l' lH ('\l lllllIll I i

tla~'o//'O"f' nh li/li /. l'/I"Il I 'II: l'l lt n.' tlll(I'-:CII l' f '/i lllil/(/I, hõí a ... ell ll.' llI:lII,:1 dI) tra~u /111/'''''1-

,,1,01

A IlIl'lonillUíI ~ o aClé"'1..'111l0 de 11111 .. i~llifiç"do a outro. quando l'll!rl' l'k· ... h;;í 1Il1l:1

11'1:1,;!I) dI..' ÇOIlII):UllI:H.I(". dl' CIlc' l ... tênn,1. de intcrdC:I)cluJência. \ \}-'''' éW) IIJudll1 " 11111 (',',(" de [ ... ·'''1.1. UI1I n:'1I 1 I.h: IImp.l . 11m rr~lo de nome SJI .... r:t kl' N:\I', õI hum',' '1'1111''''

~\ ,m,.II.,I)(.·I.' r \Im li .. \klld\:,. Mo,lc' cI" "',,u,,')

, , c

/- il/III' .... ;! llIlint, IlO l~ ),h.). ··u ... Illi ... ~r;.Í\l!i:.". Temos uma Illctonilllia. It(Ir< IuC UrlU

plopnl'ditJ..: do "'l'r dl'..,r!!na o 'icr. lllll;t vez que cntre OS dois !.ignific:tdos há uma rl'1:tçDIl Ik nX'xI ... It:m;i .l, dado que o 'ier coex l'iIC com ~uas propriedades.

A sinédoquc c uni tipO de metonímia. em que J relação entre o:. dois signi licauus é uma relação de indu'ião. que não deixa de se r um tipo de contigü idade. de cocxistêm: ia . E ...... a rdação o<.:orrc quando U1l1 ... ignilicado indica a pane e o oUlro, o todo, um cxpressa o COIlI('udll C o outro. o continl'n te etc. Com efeito. a parte está incluída 110 IOdo; o conteúdo (" ... t;í incluído no continente.

Mal'i de um rapa7. cOIl .. umiu o lempo em se faz.er visto e atraído delêJ. Mai ... de 1:1tIa

gravata. mais d(' lima bengab. mais de uma luneta levaram-lhe as cores, os ges tos e 0 :-' VI­

lIros. sem ohter oulra coi"<l que a atenção cortês e acaso uma palavra sem va lor. (Mach;\ du de A..,:-'IS. Ohms comph'las. RIO de Janeiro. Nova Aguilar, 1979. \'011. p. 1036)

Nu lexlo.l:talara. bet1l-lala e lI/neta significam os rapazes quc se aproxilllílva ill da

llIt}(;a Tom,, ·.;c UI11 aces~lirio da vestimenta p<..lo todo. a pessoa. Temos sinédoques .. .\ mesma cOisa ,Kuntece com cores, 8eslos e vidros, que são propriedades dos acc\?9my... que apa recem nu lugar deles , que, por sua ve7_, querem indil:ar a pessua.

N:I lingu:lgem poéuca. explora-se toda a força da conotação para cri ar efeito:-. (k

"'C' lIlido.

(:" va1d<l .. k:. F~hIH.11C,la vid ....

RO\3. que Ih mallhã h ~{l1lJeada ,

l'uqlUra~ mil, COlO :llllbiçào(lourada. AnO .... 1 roml'~. arrasta prl"slImidil

(: rl.II"a. que d.: :.hnl faVlln."Cllb ,

r llf malC' oJc "ll"1\:lh;, de",, ; ... I.I .

Honda g:lknla Cml'l:I\·c~ad".

Suk:. uf:ma . nHh'g:, dc,Iclllill<l

E nau cnlim. que l'l1I hlcve Iigl·in.'I"'.

('0111 rre~lnll,'àu Je 1'\:111\ gCIl\:I"':I.

(;.llh;, n.1 I'" "1'II"I·'la. ,.lcnh" firO.,

M." 'er pla!!IJ. 'l'r r,".1. lIau V,,1I1',I.

De ' 1"<: 111I['Il1rla. ~ '1)!II,uJa .... ·111 Jdl"'1

t\·nh.l a 11 , 1\1 . kfln:) pl<ll1la. lanlo.- 11 fi " .,'}

Tcoflo do) sIgnos 67

G.\"1:"" i .. Ih: "''''u, lu : (''' .... 11M I. A ·1">11111 " r '" 11 lJ o. JII...c AJcl.IIJn, 1·n.'I<·II~ fi .(fI II//"Iu/llra ',rali/t'i ­rol Sa..l l',ml·. lll h".,,, Eu"'I' • .'I.,u. , li 'ru.I~7'-\,,1 1",7\.1<1,

Ne:»se Ic \ to. O poeta vai l'xpliear iI hJhio o que t: a vaidade. No prillleiro quarteto. Ullnllil 411~ ela c mIo: UI) :-...:~undo, qUt" l: pllfllW; '10 pnmeiro tcn:elll , que é~llIl1 . Essas três p :l i: i\ r :lS "i ~Ilil :.: ,lI l L 1111 '01]('10 . "\ "idadl' ''. f'ara cltle () leitor clltclll}a'por que rosa, pIamo

)I, I1 .em ' ..... t" Sl·IlIIi..lu no i;.:\U :1 I "~'W v ai cXI'!rl:Ut a rd:lç~o 4ue c!' lnhclecc entre o sig­nifl t; at!(I d, (".Ida w'llil"S',..;S 1 '~l inU\ e O dn \'llC;íholo midadc'.

No prilllu!I' qll;trtl'lll. jil.lJtll: a vaidade é ro'a , 111<1:-' não qualquer U11I:1. É aquela li. :-,olljcJdo. p'..: l::! Illanll~, ou :-.eja. a lo~a rccclI1 -ahcna (' que. pol1anto. c ~tá em lodo seu es­plendor. O que u poew quer (\i7cr. ('1I1<1u. é que a \',lIdade é a hclcza :lpalente, que se exibe, hri lha c sedu!. {/ ' 1;'7J11/{1~ miJ, ('0111 fIIl/hiriío dOlllllcl(l1 Aim.WI mmJl(', (1"1'0.5((1 presumida). No :.eguncln qUõ\ilI..!IO, o poeta iJlirma que ;1 v:lidatle é pl:lI1ta. mas em pleno c'iplcndor da primavera, j:í quc é dt' obr;1 fm'vrt'cida (abril t! o mê ... em que. no hemisfério norte, a pri­l1lavc.ra está em seu apogeu). A vaidade é. cnlJu. esplendor (p/ama de abril favorecida) e ornalllentos (!latida ga/pota l'mfJollt'soda) que se exibem pela vida (por mareJ de sobe,.ba de.,urada) com orgulho (su/cu. ufana) e an'ojo (mll 'ego desfemida). No primeiro tercelo, ao dizer que a vaidade é nau, o poetJ mo"tra que o 'ler humallo vaidoso é aquele que. apesar de lcr a presunção da perpetuidade (Fênix é a ave que renascia das próprias cinzas), valori­za os brilhos exteriores (gallwrdiaJ aprclUl) e rnomer.tâneos (lI/eu(as preza). A relação que se eslabelece entre os significados da .. p.davra:-. 10m. plorl/(I. nau e do termo vaidade é que existem traços comuns de sentidu entre ele .. , é que existe uma relação de intersecção entre seus significados: o homem vaidoso exibe sua .. belezas. como a rosa recém-aberta; mostra apenas seus esplendores, como il planta na primavera. valoriza o que é ei\terior e momentâneo, emoont tenha a presunção de perpetuidade, como a nau. Traia-se, então. de três metáforas para dar concretude ao lenno abstl'al<.' midade.

No último terceto, o temlO p(,lIha (:::: penha ... co, r~)Çhedo) signi fica o "naufrágio" do navio. Como penha pode ter esse scnt ido'! O penhasco é a c<lusa do naufrágio, que é seu efeito. Dá-se à causa o significado do efeilO. Enlre esses dois sentidos há uma relação de contigüidade (:::;: de união, proximidade. adjacênl..' ia, Vizinhança e. por conseguinte, de coexistência, de interdependência, de implicação), iMO é, um efeito aparece unido. rela­cionado a uma causa. O voc:1bu lofum significa () "("I\rt(':" da planla . Aqui a alteração do significado se faz em duas etap:ls. Ferro é o material de que é fcito o machado;ferro quer, pois. dizer "machado". No caso, o material de que um objeto é feito está designando o

68 lntroduçõo o Ungvislica

prüprio ohjcto. Entre os dois signifiç:u..los há uma relação de implicação, Em seguiu ... , lIIa­

dl/ldo pa"' '':l a ~ignjfil:ar "cOrle", Uti li z.a-se. portanto, o instrumento çum que ullla ;.u,Jo é klla para dt.! ... ignar .. ,.-.,'50, Entre a ação e () ill'ilrumento, há também uma Ielaçfltl de itllpli. ca~·fio. pois o segundo está rclaciun.adn:1 primeira . A pahlvríl (urde signili l.:õl () "fcm;t:/:r", li "murchar" da rosa. Usa-se, pois. u momento pelo evento que nele ocorre, Eul\!: os J\.li~; ""gnificado'i. h~í lima rdaçiio de impliCilç50. pois n evento ~'itá inlrin"'I.'Calllt'/ih: unido .1 IIIH dado momento, Temos. então. três IlH!tollfmias . No entanto. COIIIO 1/(1//. ,"mIJa I.' I • .' .' ,;

n;"il) c ... t.i'io no SIHH:to usadas no seu scntidu próprio, mas signifiC<l1n {l "hOIl1t.' lll \ilid~),,()",

o ... "'Ignilil"ado!'o "naufr:ígio", "corle" c "klleómcn to". contaminados pelo v;dor ,cnt:lnti\:o da ... três p;davras <':olltíg,uas, passam .1 significar "mortc··. Entre os Si~llifkad()s "u,lufrü I:io··. "cmll'" c "knccimcnto", de umlauo. c "morte", de outro, h,í 1111l't rcl aljJo UC SCIllC­

Ihança. ou de inlcrsccç5o, já que loUOS contêm o traço seIll5nt ico/ac;lhamcnlo/./lim/. As

t! ~ , 1llI . .:to!1ímias em contato com as Illct:iforas se Illctaforiz:ull () que o poeta p~rgllllta.

JlOI'. 110 ,c-gundo Icr<.:eto. é: d~ que vale SI.!I vaidoso, se a mortc é illt.!xorClv~1 (.\(' agllorda

\/ '111 d/ '/('.m/ fhllIC/ a IIflU. farv (I "Iutlte,. tardl' CI msu), O sondo trata, cntiio. tI~ tcma~ !!!ultu carus ao harro<.:o: o canílCf passageiro da vida e;1 incvitabilidüde da mortc.

Nu entanto, ni'io J l!vcmos pensar que a metáfora e a mctonímia ap"rccem apenas 11:1 lingua~em poética. Ao I:untrário, a linguagem corrente eSllí repleta de conotaçõcs: aJo­':!./I/"_ .\{' /11/111 ("O!'O d'água, forçar u barra. guerra cOlltra u úl./lução, /)flfullw dos preços Nl'lll mai, prestarllus atençãu ao valor conotado dessas expressõcs . Quando se ohse rva :\ Ii'\lória da língu:l. por exemplo, nota-se que quase todas as palavras têm sen tidos miml' dw. de r01HHaçõ~s . Arxumertto provém da W;7 urgll, que aparece tamb~m IlJ palavra w··

r:hlf(,() (-: prateado) e que significa "cintilar", Na origem, ar1-:lIIllttllto era o que raz.ial.:inti lar ullla idéia. E~~a rai 7. ocorre também em ar1-:"(o e arglÍcw. que se relacionam :, 111tcl igêllcia bri lIulIl te. Aliás, IIsar a palavra brilhonte para refcrir-se a um indivíduo Oll a suas açõc.:s é também uma conotação. Não percebemos mai s as palavras conotadas em I1m,a língua, mas. quando aprendemos uma língua estrangeira $omos bastante scnsíveis à CIJIlOtllÇ:iO. que os falantes dcssa língua não percebem mais. Numa língua melalltisi~. c:\­klo é expres!-.o por uma palavra quc significa. literalmente, "erva qu e c resce na c;\ocça" l.' lll estrangciro, que n50 esteja acostumado às expressões conotadas e c ri stalizadas UI.!

llllla determinada língua, faz rir ao substiw ir um de seus componentes por um sinônimu:

ror exemplo. di/er assassinar a fome em lugar de ma/ar a fome : harbarl{(, vocal em vel

dI.! corda \"(wol . C'lda língua conOla diferentemente c. por isso, a maneira de ver o munO\) \;\1 ia til' língua para língua.

Mostrou-se acima que o signo pode tl!r diferentes dilllen~ões, do signo lIlínirn(' r '.

lIlorttma. ao !c:\to, Signo é toda produção humana dowda de scntido. Por çonsegujnt~. a l1I('t:) or:! t: a metonímia, s ignos co notados, podem ter a dimcmão de uma palavra, de UHIJ.

Ilil~e. de um lexto. O texto VIII upóloga, de Machado de Assis, é um textu metafórico. Portanto, em

... "a integralid:uj!', é um sigilO conotado. Nesse texto, o narrador con ll~rt: 11 linha e à agulha ti aljOS humanos: elas convcrSám, dão-se um trat:-Imento próprio do" Sel"l'<; humanos (I'Uré,

\I' /lhO/,I). atribuem-se verbos que inJicmn ações humanas (por exe mplo, (iH!:ir). A(l me:;-

1\IU II.'l!lpU. a narrativa relata :ttivid:tdes que são próprias d~ uma linha c (lo! uma ;:l~~ li lil a' ((J,\"(.'r:Jllmr () !'(lIIO, prnldN. ligar. ajuntar etc , O lJuc se ObSCl \'a , potlanto. é tjue ao sig ·;­r lC.l(jo habitual dos lerll10S agulha c 1/II1,tI se acrescenta um scguOlh) pl<tllo de scnlldú: o

Teoria dos signos 69

humano, [);Li se condul que esse IcXIO ni'io rala propriamente de agulhas c linhas, mas de seres IHl1l\.',nO\ Se () narrador tivesse usado personagens humanas, () texto não teria a Illl'sma Ç';I fl: !-.:i:v it.!adc , Quando se mostra que h:í pessoas com papel UI! <lgullla c outras CUtn rl:nç;. ) dl~ IlIlha. aprove it;lIll~sC Ira~'os próprios desses objct() ~. para projetá-los nas pl:s'\oas. r Ilr(' ;1, a!,!ullla:--. c ccrt,lS I',, :." ,-;oa<; há uma série de traços comuns:

;1) : liha ... luralll o j1: : r ,.~ , i ... III~ . :.lbrt!11l caminho para ()~ outros: [:): Illb.l' \',111 "di;IIH'.:, puxando: carregando o que vem atrás: cl '1.11h.l. t:lIl!rn trahalho (IOSl.:Uro:

d ) .11 Ilha , 1l:il1 papel suhallcrno; c ) :1I11oa ; 11:11' dl.! ... rrutalll do prazer du seu Irabalho.

/\glfllll/ ,ignilica. nc ... sc textu, "pessoa que abre caminho para outros c não re(;ebc

qualquer rl.!conllccil1lclllo por isso". Unlla quer dizer "pcs.<;oa que desfruta do csfurço dil­quclcs qu e lhe '--lhrimm caminho c lhe CI'Í<lralll oportunidadc". As relaçucs en tre a linha c

agulha são as mesmas (11Ie se e ... wbdc.celll entre õl cos tureira e a baronesa, os batedures e o imperador. A pari ir dai, todo" O~ termus referente s ~s atividudes próprias du linhil e du agullw devem se r lidos l'omo atividades humanas : filrar u pano = "abrir caminho" etc.

O tíltimo parágrafo cun linlla. com a ffase Tamhém eu lellho servido de aRldlw a muita linha ordinária. es!-.a intcrprclaçlio dada ao texlo: na vida social. há os que reali7..am o verdadeiro trahalho c os que desfrulam do traba lho alheio.

Podc''ie di".er que o texto abaixo é rnetonímico. porque ele fala de uma parte. de um excmplo. para significar () todo. rala da água, para fal;Jr da ciência e da litt~ralllra,

l,içàn ~()hrc ;:r ;igua

Esle liquido é :irll:l

Qu,mduflul:I é inooOTil. Insípida e incnlor

Redutida a V:lf'O!.

sob tcus:!o e;:r alUi tempt:I'-Ilura, move os êmbol()~ da~ máquln'-l~. que. por isso.

~e denOll1lnam m,í4Uini1~ de vapur.

É um bom J)\~uhcnh::.

Embor" com c~ce~'\1C5 ma ... lk uni mudo geral, di s~olvc ludo bem, ;kióo\. h:I),C~ c ~3i~ .

Congcl3 J 7.ero gr;:rll~ cenlc~im3is c rcrve li 100, qu;mdo a rre~<lll Ilonnal.

Foi nesse Iiqul<Jo quI.' numa 1I011t: dlrda de Verão, ~()b um luar gOlllh!>() e brdnco de camélia, ap;ueceu" ooi;u (l c,llI:hcr de OréHa CO Ill 11m Ilcnul:u 11,\ mão. 1,\ mónio Gedc;lu /'Ot',ÜII' { ()mfJ'~uH (l956·1967J. Lisboa' Ponugália. t972. p. 244·245)

70 Introduçón à lingüístico

À plim\'ila V;"I:I, lem() .. a imprc:-,s:lo de quc .. e tmta de um texto denotado, 011 "l'ja, \,:UII1 UIlI ,,6 plano de ICltura. Fala sohre li :ígua. Ainda mais: temos a !'cnsilção. lla" dU:I,

pl illlc ir;", ('strole ... de estar diantc I.il: um tcxto n!"tirado th.' um livro de ciêm.:iu!' da." .. éric-" I.:klllelllarcs. t'llq\l~lIIto. na última cstrofe. p:IrCCC quc estamos diante de um tCXHl poético.

( '\)111 l'fi.'IIO. "" titia" primeira" estrofi: .. !"a1:ull da..; propriedaúl.!s físico-química..; da á~ua (:I'I"l'ltCl:1 dt' Ct)l. dll'll"o l' s"hor, 1.'111 CS1:ldl I de pute/a: prorricd~de stl l vcn tc <luast: uoivt'f­.·d. pUl " dl~"'lIh .. "uh~t:IIH..·Ia\, 1>\'IIL·I1C.'I1"" ao" três !;'.tallt.k:-; grupn" de ekmcnh)" (jll"lIi­

\'ir,. jnd()". ha .. i.' '' L' .. :lI .. : !l0llltl de nJll.l!i.'I,ulll'nto L' dt: fervura, erll ple ... s~o BOllUall t' 1:11:1111 l.llllh';m ~k- ..;ua utllllbdc (mover lllaquHI;I', l' 'l'rvir dt: solvt:llte). Como se disSl·. (l'Il\O,;l

llllprcs,:iu dc qUi.":1 p:II;lvra ":ít'ua" tCtll Ullt valol tl1:lIo[<1livo c de que ti poeta cst:í t'; ii'.cwlll

UII!;) CXI)(1,i,J.(,. que tiC:II"i:1 melhor nUIll \..·()tHpêl1i.lio cicntflico. sohrt: ;1:-; propril.!dadl·:-; l'

rlllH.;i)j.!.~ til' uma dmb .,uh..;ltlllcia . No entanto. na 11.!f(;cim estrofe. o tOIl1 muda: UIIl rilmo il'nt\l t' 1ll:\jI.!SttNl ..;ull' .. tillli o I ilmo ql1a,c pro,aico dns du:!..; primeiras e~{rofes: as CtJll­

'11:111IC'i ll :iU Il\{)II11' nliillca" prCdCllllin<lln: ti" voc:íhulos selecionado..; pareCClll nlais sugc..;· ll\(l'. p:I1CCelll "llIc r:ínos" .

('Ollll.!Ct!llHI'i:l :lI1:ílisc ror t;ssa eslroft.!. O que chama a :\tcnçUo é n lltili7.nç:iü de at! J ~'t]\o:-: n ~\J pertinentes Jo ponto de vi .,t:l d'l comunicaçJo: noite cúlida de Verão, lu"'l

hT:ll1l:o dt: C:ulll'!ta. Es\cs adjet ivos nflo ",fio pcninentes do ponto de vista da cOl11unil'aç:lc. pl 'rqlle introdu/cln lIlIla redundância, quc , cOlllunicaeionalmcntc, se ria viciosa, já qu~ ullla noilt.! de verão é Ilcce'\\ariaIllCnle cálida, quente. e o luar é, por definição. branco. as­

~illl como a C:lllll'lia. No entanto, o quI.! é redundante do ponto de vis ta da m':n~af!.C'm utili­

l.íria pode ser o elemento b{jsico d~l COIlSIIIl~'ão poética. Temos. pois. de um lado a rci{cra­ç;10 da qllellll1ra e. de outro. da brancura. Vc'rtio, grafado com m~iúscula, n5u (h~r,(ll i!

apcn~:- :1 t:'\laç5o !.lo ano. 111;:\'" evoca () calor c. por associação. cOflola a vidfl. Isso suge rt· " tcmpo dos j()g()~ de amor. Luar é o clima dno; enamorados. É definido como de 1IIlH1)?rar}­l"llr<l intell'ia, pois "'de citmóli:-\" rcfor~~a "branco". A br~ncura cono[:I a purei.a. Além dis­

:-:0. o verso stl~e rl' um clima arrebatador, pois g0!l10S0 significa v iscoso, é o que prende, caliva c sedu7 . O terceiro verso introduz a idéia da morte, da podrid;lo do cad;'ivcr, da frie­

i';L Ali agora mantivemo-no ... na análi'ic de I1lcc:l.nislllos internos dc produção do sCllt itlp.

~() cnt;mto. é prcci'\o \t"f a relação do texto com out ros textos. Ofélia, cujo i.:<1cl;ívcr apare­ce hoi:'.IIldo. evoca Ofélia. personagem d:! tragédia Hamlel, de ShJkespe:..tre. Esta am:lV:I

f lanllct e. enlouquccida de dor. porqw' () próprio amado matara seu pai, IIIOITell afogad~l.

j\ evocação dI! uma personagem da Ir:'l);l;dia d:íso;Íç '\ introduz no puemJ iodos ()S conf!i­

Im que pcrpa"s<llll a Ha!,:édia. <.:up' per~onag.clI\ sãc- dilaceradas por sentimento<; CIlIllr:l tlillírio .... No quarto VL'r:-;o. :lp<lrCeC o teimo "'tlcmífu. ". pluntu nquútie:1 tia famílw (\:1-; lIin­

k:.íccas . FS!'<1 palav ra traz. ü mente as ninra .... c\'ocar,do beleza, juventude e. também, vid,l

No meio dc um conjunto de si~ml:' que suge rem a vida, il\lrollllz-~e a TlIorte; no iu ­tcrior da brancura de c~ltllélia do luar, ins .... ·rc ~c a putreração (o cad:í"cr) A água é lllH lli­gar de vida (é onde crescem os I1crnífarcs): é tamhém o lugar de scu contraditório , a morte

(é onde bói<l o cadáver). Estamos no plano do mito, pois todo mito reúne elementos se-1lIf1lllicos contrários en tre si. A .ígU3 ganha a dimen~ão do mito. Ao mesmo tempo, Ofélia lança-no'i no llomínio da litcrzl.Iura.

A nitidn dos reCllC'WS poéticos da terceira estrofe obriga-no,; a reler a!' duas pri­loeiras. p:Uil pc rccner () significado global do poema. q\le, ,Ité agora. apre"enta -se como d(1is blocos de significação sem aparente relação entre si.

Teoria do~ ~jgno~ 71

E,,,l" pOL'll1a 1I:"'in fala da :íglla. N:io é. 1 )(1l~. dcnol:II .. ItI. r ;d,1 ú" ciêm:ia L' li" IÚef<ltu-1:1. II ;í dUil' gl <llldt:s Ill:lIIL'iru, ÚC COllllct:cr \) tllunl!I ). U111:! é a da (ll·I1\..·i,l. '1Ilt: é delltllillivOl. de,c n.':\'l· ,I n..:alid"dc t:Hl SUiI' plOpl it:dalk-s c fUlll.;tics. Ela ddillc. llt'tlllcue. tl;11I adnutL' a l'Iltlll:ldil.,":l(l. l'llr i ..;",. é uma vis:lo da t'l':.tllu;tdc ";CllI dlclnl. 'Clll c/lrc ,e;ll s"h\ll. E:>.tú VIIl­

cul,u!:t ;llllllllll!JO uo 11":lh:1Iho e do, ncgú( i o~ ('"'movI.' \1" ~lllholos da' lHiiqllin:ls",. Pllis );1-.'.

1:1 1I11l;t tL'cnoll)gla . Nel:t. i1 rc:rlidade é vi,t;'1 (,'IIIlllI 11111 .... • ... p;II .. 11 elll quc lillhl c,t:.i ci.l talngfldt)

\. "\'p.llddl'. ,\ ill1;íli,L' da L'i':'llL'i;1 é sc m p'(' piuL'I\II. ' l'!llpIL' lllllltllplcta. 1)\li, 11:111 kV:1 el1l

(' llIlla d Cllll tl"dillll"lCllatk hum:11l:l. t'\pre"'a ]lcl\, llli'l) A leitura Iltcl.itia di) Illtll1dt) é o

pl:ul() dI) L'lItL'ndill1l..'llltl Inítico, que aprt:elHk ~iIlHlh<llh'illlll'lltl' .1' ulIltrildlllJ! iL:d"dl..:s in~-11'lIle, .10 1 L': ' I. CllllJllt.! i\11l0rtC é a l:ol1trafat:e ti" vida: iI jllldrídiio. dói PIIIO;I: \I frio, do ca·

lor .. l'tll i,,(). é IImil vís~() Com (ores intL'llsa.\ ("0 luar hranco d"(; C:IIIl{>l ia") c sensações t;it\..~I" muito vivas . Est;í vincul:lda ao mundo tios 'ientimentos. fundindo o ... eklllcntos, cn­quanto conserva suas propriedades. A sub" titui\' ilo do 1 itmo e i.I prcuomin:IIIl:Í:l das ÇOI\­

,oanll:, Il~O Illolllcntúneas rccri:'~lll. no plano ua cxpre"fi\l. a idéia <1:1 ilw<l,;jo do milo quc

nUl pd(, 11ltL'1"IOr L1:1 re:didadc . E a únic:1 le itura UI . IIHlllllo que apn:emk li:-. ,entilllenltlS cOlllradihírio:-: 4ue movcm os homcll:>..

O poeta mostrou essas duas Ic illlr:ls do IIlUlHlo, ni:IllJo em scu texto :>.imul;lcros

do dl:-cur,o ciclltítico c do discurso literário. a Jlartir dL' ";l'US traço" lI1:1i..; C\ identcs ~ IllLli s

dt: :Icordo com o sen"o comum. Com efeito, no ~CllSO Clllllum. ~l'. Il'Ll - Se que existem ma~ téria'\ litcl,'u-ia >; e n50-lilerilrias e palavras literárias e n,t()-likrária>; . A morte c o luar s~­I i ;lI 11 lemas literários. Cllmélia,I/t!lIIíjt/l', uilido se ri am termo..; literários . cnqu:ulIo ácidos. Im.li''\" c sois n;1o o seriam. Por isso, temos LI impres!':tu, nas !.luas primeiras eSlrofes. de cs· lar di;'lIl1e de Ilmtc,;to rclirauo de um livro de ciém:ias das sé ric ... elt'lIlcslIal'cs e. na última.

de c-.ta r diante de um texto literário. Pode-!'c dizer que I.!sse texto C mctonímico. porque fahl do todo. o discurso literário c O discurso científico. a p:ulir de lIm exemplo si ngular. III1l dado discurso sobre a Ílgua.

Classificação das signos

DlhTl1lt'" '1\llores j,í buscaram classificar os signm das diferentes linguagens. Va~ I1lI) S tUr.l: ' · :, \ L.' . .:"ifIClt;:a1 feita plJl Adarn Schaff (19Cl8: 158-193). Essa classificação

;\hl,:Il!'e II lu tqK (,k signo. ou Sl.:j;\, unIdade em que há uma rel::.ição enlre uma expressão .~ Ul l, l'l11l ( lido. (. ;I r) llleS1l1. 1 !("IIIP(' procura respeitoU as noç()('s corrente .. do..; te rmos utili· /;a lo', p:l fi l J; ; j" I;' ' 1:1":>' :.10 11j'"" de signo:>.. C0l110 símt:HII(I. ~ill:tI ctc .

ll".;lIld ";11\ cont3 O critério da intençãu comunicall\a pre,clltc nos signos, ele5

pl:dem cl : ",,!!i ~,( r- :,e em signos IfCJ/umis e .\igllos onijicia;s (ou sipws pmpriamel/le di­/0\). O') pnlllçlro~ silo os fe!lômenos da nalurCl..a que servelll de veículo pari:! nos fazer pcn:cbcl Jill outro fenômeno natural. São expressões de um dado conteúdo. São denomi·

llJUOS tamb~m indices ou simomm. Assim, a fumaça (exprcssã~) indica a existência de

fogo (conteúdo), ntJvens negras mostram que vai chover; o congelamento da água de um lago assinala o abaixamento da temperatura; a febre é um sintoma de problemas de saúde. Os signos artificiais ou propriamente ditos são os produzidos para fins de comunicação. São signos artificiais as palavras, os sinais de trânsito, enfim, os signos presentes em to­das as linguagens. como o cinema, a pintura, a cseulturd. Esses signos são resultado de

72 lntroduçõo Ó lingüi~lica

UIII acordo deliberado. como no caso dos sinais de trâns ito. em que urna convenção ~sta ­

hckceu os signos que orientariam a circulação de veículos e pedestre .... ou da prática hls túricH, como no caso das palavras. em que a e)(periências uns homens as cria e as púc t:w

c irculação. Con"iJ.~nndo a função que os signos artificiais têm na interpretação da". dif..;r~·n

tI: ' lillf'lIagen'>. eles podem ser divididos em siXtlos verbais t! .\'i.~IIOJ WfII expreJ.wIo dnl'

I'minl. Os "i1'I\OS verbais sãu intcrprelantes de todas as linguagen". enquanto tIS signos da." outras linguagens nem sempre podcm interpretar os signos lingüísticos. O 411e l; C;I;' prc<.;so ... i~l!a1rll(,llle. um!ilmc, por exemplo, potlc sercont:\do por meio Jc ~igno<; v(·rb~: ;'.;:

IlO CILr . .Hlto. nem ludo o que se cxprinl(' verbalmente por ser dito visualmente. Num S('I1"IO

de CIlIIÔt.'~ h~i o verso Amor ti fl'rida qru: c/di e IIÜO se sellfe. Não se pode di/el' V;SU<I!1IICI1-

!\' que lIllla CO;"" dói ~. ao mesmo tempo. é indolor. Pela funçJo interpn.:lantc univen.d t.lo ... ,";g rlos verbais. eles classificam-se separadamente dos outro" signos anific'lai <;, que ..,;JO chamados ~ignos com expressão derivativa.

(h, "gnus com expressão deriv.ltiv"l distinguem-se, pela SIJi.1 !unçü\) na comunic~l­,;'iu. l'm .ç;mli\ t' signos .wbslilllli\'()s. I\queh::s sãu "causados' ou uliliz:HIIl'>; c ... pccialmclHl.:

p~lra susci tar ullla reação pré-l.'ornbinaJ.l e acordada. quer em grupo, quer indiviJualmen­

!I!. snb a forma de manifestações definidas da atividade hUIll,ma" (p. 181). Os ~inais Sãll

o .. \lgnm que Jcvam os homens a uma rrção.lev:lm-nos.1 fazer 011 nflo f:ller alguma coisa. () apito do juiz num jogo de futebol paralisa o jogo: o vermelho do semafom f;;z I,.,rar : () \ erde leva a pôr o carro em Illovirncn lu: o toque de uma si rene f:l'/ !.:(llIlt'\j:l r (lU par;li' {I 'I a­

halho e te. O sinal é Icsultado de acordo explícito, vá lido para um cello gtUP" de p\!s"t'a:-: "cu prnp0,i to é {} til' modificar. inil'iar ou Sll~l<lr uma ação; só é lI"~td{) quanch\ ~e pt ctcnd~ prl)"lll'af o (omport~lmenlU humano que ele deve suscitar. (h sigllo:-, :-.uh:-.tilutivo\ :-.:1 0

u~ttos rara n:prc,>cntar algum:! nl;sa. ~ma fot~) ~e uma paisageHllep!csclHa a pai~agem, Itlrft maquetl.',urna cnnqruçfio; a bandeira. a pí.Hna: ctr.; .

De acordo com a nalurC7.a do .,ignificado, os signos suhstitulivo~ distillgul'rn-.\c L' 1ll

li~II(1.1 .\Hhslrtrllr\'OS .micro senw c símholu.\·. Naqueles. o signitic:.JIItc expressa um signifi ­l; ldo concreto: por l!xClI1plo. um auto~rctrato, cuj'J significado é "pessoa que pintoll o qua­di ()", ulna plal1l:l de uma casa. cujo ~ignjlicado "uma determinada con.,truí;ào" . O símbolo l; UlLL eh:1Ilenl{) concreto que represcnta um abstrato (religiões, sislernas stx:iais, noções): a

l rlJ/. gamada slgni lica " nazismo"; a bandeira nacional significa a "pátria". A representação

... il1ll)\:llica pot le ba.scar~se na convenção: por exemplo, no Ocidente a cor preta simboliw () luto. l: rltju<llll (), em algumas soc iedade ... orientais. é o bmnco que c)(ercc CSS'I funryão. Em·

l\ora li repre';C' llw,ão simbólica po<;.S<t ser convencional. como se nota quando se observa o , ullbultsmo das cores, tcm ela certo fundamcnlo ic6nico, ou seja, há uma relação de '·..:rI1C­l\rança ('lItre () Significante e o signifli.:ado (por c)(cmplo. a balança é símbolo da jU'õliça. pOlquc os dois pratos na mesma altura traduzem a idéia da cquanim i dad~), ou indici::! t~;to

é , há uma relação de contigüidade, de inclusão, entre o !;ignificame e o significado (por e)((:ll1p lo. a nUlo é () símbolo do cristianismo. porque ela é uma pane do todo, que a illla­gt:1Il J~ ClISto morto). Existe uma mitologia do símbolo. quando ele é objeto de uma alie­nação específica. por sc tomar independente do que ele representa, e passa a ser oojel u r:tc Ulll culto em si mesmo. É o que acontece, às .... ezes. com os símbolos nacionais, Q ',.;;: rns~ ,alll a valer por s i mesmos e não pelo que representam.

A classificação de SehafT poderia ser esquernatiz:ida da seguinte maneira:

Teoria dos signos 73

.~ ignos sub~titutivo,;

SII';( ' ((J Si'II.HI

Cone! JSê0

í .... "' t.:.....:.. .J~

;· ... AlIVrJ\lAC'

No pr,!lT lIlI livrd , I;. Bihl i. l, ( Géllt!.\is. há doi~ rclatos da cri'lção. No primeiro, Deus c'Ía o nll!nd~ LlIillldo. No iníci J. n i10 havia nada. Depois. h:í o caos. No princípio,

criou LJ('I.'.'. 111 éu e (I lerm. A lerra. '(JII /IUlo, I'Slm'(/ vazia t! w1Xa e as Irevas cobriam () lIhismo t' o E.~/'(r i l(} de f h'//\' r(///'{/I'o whn~ as tÍgtUls. (I. 1-2). A pass:lgclll do caos à or­

dem (= ~()SnHl) fa/. se por meiu de un . ,110 de linguage m . É estaque dá sentido ao mundo. O poder criador da divindade é exercido pela linguagem, já que fiei:] e por ela se ordena o mundo. Del/.~ ,f,U(': Farl.! '.\'(' (I luz. r:: (/ 111:' foi feitd. E virl Dells que (l luz era !ma: e sepa­rou a luz e as Il'el'(/.\'. DeuS chamou (/ IlIz dia e os trevas noite: fez-se limo tarde e uma ma­

IIluI, primeiro dia. (1, 3·5). O mito quer mos trar o po~e.r criador da Ii~gltagcmj, que dá ~o homem a capaddade dl' ordenar u mundo. de categorrza-lo. Com os signos. o Homem cria universos de sentido. As língua ') não são nomenclaturas que se aplicam a uma realidade pré~ordenada. mas são modos de interpretar o mundo. Por isso. estudar a linguagem é a forma de entender a cultura, de compreender o homem em sua marcha sobre a Terra .

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/ ,1 InIIQ'!vçõo à I tngui~IIC'1

Sugestões de leitura

11'11 \1"'11 \. I.IHI!', "llIlq.:fIIl/nu/\ 11 1111111 1\/lI/(/ do IllIgUtI,l.:f 'lI/ S:III Paulo 1\:t"'Ih.'l' II \.I. 1'>71

() ~ .IPlllllo \UI Ilal.l d.1 ll'tln.L hjdm ... h'\ 1:111:1 dLI "'1~tll'

I lU 111'(1'\, RIIIIl:IH I il/~II"llrlll' I "111111111111,'/" \:1\. 11.1 111 ., (·Idll' .... Il}olJ

() 1.Ij'II III\1 IlIlilol,.,!!1 "t\ 1'111 ... '111:1 d ,1 ... ·"t·tltl .• d;1 hll~'lla~nll' dl'l'Llk "\,ItI-.!II:ItIll'lIh' , I

q1l1"1:ill lb IIU '11\:1\,:10 dll ' 1!.'1t0 1111).:111'.111 (I

... \I ',",j I{I 1 ~ldillalld d!.:, ('111111 dI' 111It:/III/11 fi ,'.U'}"t" \:111 1':11110: ('111111\ / Edu'I', 19h1)

(h \;11'111110' I .... 2 da jllilllt'II:1 p:Uh.' IIpIL'''''111<l1I1 all'lIll;t .... III"IIIL .. III;I!l1I 'lglIIl Itll,~ui'llt'o; ; 1 l ,IP i t IIln ,f da 'L'gU 1Il1:t p'lI h: .... \ pllt, ,I Il'IHI:1 dlJ \ aI! II , o (.' apII 11 lo fl d 1'L.'IIIt' :1 ljllL' q;io dI'

qliL' l; ,lh,oltl[ ,IUK'III\' ; 11 IH[I :1110 I' dn qlH': ,; I dall\:tIllI'lIh: , li hltl :i[ il'

'\ [I \lI, AtI,U H Il/flfltlt/l,riUIIH'/IItil/lI' 11

1'\,1' J1;i~!II I :I' I."'X-JI}l, 1II!'olUIl'-'l'.1 q"L',I:lO ti" 'Ignu L' t''' I'I\ll'-'t' a l'l:t"ilil':\,':ltI "-lU \..' lell .11'1l'''I'III.ttJa I1l'\ll' Glpítuhl.

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