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    8 Congresso LUSOCOM 1957

    Literacia dos Media e Biblioteca Escolar

    Cassia FurtadoUniversidade de Aveiro/Portugal

    ResumoCom o avano vertiginoso das reas de comunicao e da informtica, o mundo presenciao surgimento de uma nova sociedade, onde a tecnologia de informao e comunicao sefaz omnipresente, mudando nossa forma de pensar e agir. A Sociedade do Conhecimentono s um fenmeno tecnolgico, tem repercusso poltica, econmica, educacional ecultural.Destacamos a convergncia dos media, pois a partir desse processo temos importantesaspectos na educao e na cultura que devem ser prioridades nas polticas sociais dos

    pases, especialmente os em fase de desenvolvimento. A literacia dos media (medialiteracy) deve ser vista com um aprimoramento da literacia tradicional, sendo assim deresponsabilidade das instituies educacionais, como a biblioteca escolar. O artigo temcomo objetivo fazer um recorte na literatura sobre o papel da biblioteca escolar, nacultura da convergncia, enfatizando seu carcter educacional na Sociedade daInformao.

    Introduo

    O final do Sculo XX marcado pelo imenso avano tecnolgico, especialmentepelo desenvolvimento das telecomunicaes e informtica, acarretando mudanas na

    sociedade, transformando os sistemas sociais e afetando todos as reas do conhecimento,

    em vrios nveis. A informao e a comunicao, com destaque para os media, ocupam

    lugar central nas nossas vidas.

    Sendo assim, torna-se fundamental os cidados adquirirem habilidade e

    competncias para viverem nesse mundo, marcado por mudanas e transformaes na

    forma de produzir e consumir informaes.

    As instituies educacionais, em especial, a escola e a biblioteca, trabalham agora

    nesse cenrio e com isso encontram novas responsabilidades, como exemplo: preparar

    crianas e jovens para a literacia.

    Uma vez que a literacia dos media um complemento a literacia tradicional

    (Wing, 2004), e estando inserida nos campos do conhecimento da educao e cincia da

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    informao, deve ser objeto de estudo compartilhado de educadores e bibliotecrios, num

    ambiente formal e informal de aprendizado.

    Este artigo faz um recorte na literatura e destaca o papel da biblioteca escolar,

    junto a crianas e jovens, na formao da literacia dos media.

    Sociedade da Informao e Educao

    Analisando a histria mundial, percebe-se que transformaes fazem parte da

    humanidade. Os homens pr-histricos viveram da caa de animais selvagens e da coletade plantas e frutas durante muito tempo. Uma grande transformao veio mudar esse

    panorama pr-histrico: o desenvolvimento da agricultura. Comida abundante e segura

    permitiu a populao crescer e fixar-se. Como conseqncia, as mudanas resultantes

    desse processo foram profundas, dentre elas destacam-se: o aumento do volume de terras

    cultivadas, rendimento de colheitas, fixao do homem em aldeias e a domesticao de

    animais. Esta ltima teve um significado essencialmente importante: o deslocamento

    humano por longas distncias foi facilitado, aumentando assim a velocidade da

    propagao de informaes.

    A revoluo agrcola ainda se propagava pelo mundo quando eclodiu a segunda

    grande revoluo: a revoluo industrial. O advento das mquinas a vapor e, um pouco

    mais tarde, dos trens e, em seguida, dos automveis consolidou o domnio dos homens

    sobre as mquinas, tendo incio assim a produo em massa. Um pouco mais tarde,

    desvendado o eletromagnetismo, a velocidade de propagao de informaes atingiu

    nveis impressionantes graas, sobretudo, ao telgrafo e ao telefone. Mais recentemente,

    o surgimento de computadores e de redes de comunicao globais, como a Internet,

    coloca a humanidade frente a uma nova onda de transformaes.

    No h atividade humana que resista a esse perodo de transio; o impacto da

    informtica, das telecomunicaes, das redes de computadores total; pode ser sentido

    no trabalho, na educao, no entretenimento e nas artes. O homem segue como parte

    integrante e atuante neste cenrio de singularidade e de intensas mudanas tecnolgicas.

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    A sociedade agora ps - industrial e vivemos no que chamado de Sociedade da

    Informao.

    A sociedade da informao baseia-se em um modelo de sociedade onde a

    informao encontra-se presente de maneira intensa na vida social dos povos de todos os

    pases, independente do seu nvel de desenvolvimento, tamanho ou filosofia poltica,

    desempenhando um papel central em todas as atividades. Porm, um dos mais

    importantes aspectos dessa realidade a educao.

    Com a presena constante das tecnologias de informao nos mais variados

    ambientes, o homem passa a contar com uma diversidade de espaos educacionais e aeducao passa a ter sua abordagem ampliada, ultrapassando os limites da educao

    sistematizada, visando agora formao integral do indivduo.

    Ensinar no mais transmitir conhecimentos, o professor no detm mais todas as

    informaes e o aluno deixa sua posio passiva de aprendiz, onde somente acumulava

    informaes, na maioria das situaes sem compreenso e contextualizao com a

    realidade.

    Delors e outros, no Relatrio sobre Educao para o Sculo XXI(1999),

    estabelecem quatro pilares do conhecimento, os quais devem ser objeto de referncia

    para a educao: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e

    aprender a ser.

    Os autores alertam que aprender a conhecer visa no tanto aquisio de um

    repertrio de saberes codificados, mas antes o domnio dos prprios instrumentos do

    conhecimento (o que) supe, antes de tudo, aprender a aprender, exercitando a ateno, a

    memria e o pensamento, isto , aprender a prestar ateno s coisas, fatos e pessoas; ser

    seletivo nos dados a aprender, refletir sobre a aprendizagem, exercitar o encadeamento do

    pensamento na combinao dos fatos e ter conscincia do modo pessoal de aprender.

    A escola deixa de ser o nico espao de educao, devendo assim, considerar

    relevante a variedade e a quantidade de informaes recebidas pelas crianas, advinda

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    dos media, mesmo antes destes chegarem ao ambiente escolar, e que continuaram a

    adquiri-las, durante toda a vida.

    Nesse contexto o professor perde o monoplio na transmisso de conhecimento,

    passando a ter o papel de guia ou consultor do sistema de auto aprendizado. Estes sero

    facilitadores da aprendizagem, no sentido de abrir caminhos, ser o intermedirio da

    informao, preparar para o confronto com novos problemas, exercitar a ousadia do saber

    no educando e incentivar o esprito criativo e crtico dos jovens.

    O novo modelo de educao substitui a aprendizagem uniforme e homognea pela

    aprendizagem centrada na individualidade de cada estudante, em um contexto coletivo,interativo e cooperativo, onde professores e alunos constroem o conhecimento.

    A escola deve fazer dos media parte integrante desse contexto de aprendizagem

    cooperativa, uma vez que, com a interatividade permitida pelos media, o indivduo passa

    de mero consumidor para produtor de informaes.

    as pessoas tomaram a mdia em suas prprias mos e passaram a explorar elas mesmas

    novas ferramentas e plataformas que lhes permitam criar e veicular os seus prprios

    contedos. Por trs da cultura da convergncia, est uma outra: a participativa (Jenkins,2008).

    A cultura participativa possibilita a comunidade escolar formao de redes

    sociais, onde professores e alunos podem se unir em torno de uma temtica comum,

    tendo como meio um suporte digital.

    importante atentamos para o fato de as tecnologias de informao e

    comunicao permitem no s produo e acesso informao, mas tambm

    classificao e organizao da mesma pelos indivduos. Levando isto em considerao,

    percebemos que os media oferecem a possibilidade de aprender a fazer, o que contribui

    para construo de mais um pilar da educao, na verso de Delors (1999), ou seja,

    aprender com base na experincia, no resolver, decifrar.

    A sociedade da informao tem como uma de suas ferramentas a educao

    permanente, o fato da aprendizagem no estar mais atrelada somente educao formal,

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    esta se consistiu numa permanente aquisio de conhecimentos, nos mais variados

    espaos educacionais que a sociedade da informao oferece. Se preciso educar-se ao

    longo da toda a vida, ento todos alunos [sempre] (Tedesco, 2006).

    Outro fator que impulsiona a educao contnua o fato de que, na Sociedade da

    Informao, a quantidade e o tempo til da informao mudam de maneira radical. A

    verdade de hoje pode no ser a verdade de amanh e o que suficiente agora, mais tarde

    pode deixar de satisfazer. O aprendizado ao longo da vida o elemento chave na

    construo de uma sociedade baseada no conhecimento e pode diminuir de forma

    considervel o desnvel entre indivduos e regies (IBICT, 2000: 25).

    Tendo em vista os aspectos observados, percebe-se que a educao, na Sociedade

    da Informao, consiste num processo contnuo de transformao, que tem como objetivo

    o desenvolvimento integral do homem; desenvolvimento espiritual, intelectual, moral,

    individual e social.

    Dessa forma, a transformao social que ocorrer com a Sociedade da Informao

    deve ser resultado de uma poltica complexa que encontra na educao seu insumo

    principal.

    Literacia dos Media

    Uma vez que a educao deve incorporar as transformaes inerentes poca e

    preparar os futuros cidados para compreenderem e atuarem na realidade em que vivem,

    a educao, na adoo dos novos cenrios educacionais, deve ter a literacia como um dos

    principais objetivos da escola.

    O termo information literacy foi usado pela primeira vez, em 1974, pelo

    bibliotecrio Paul Zurkowsk, no texto The information service environment

    relationships and priorities, como tcnicas e habilidades de utilizao de ferramentas de

    informao no ambiente de trabalho. Desde ento, information literacy vem recebendo

    tradues diversas; alfabetizao tecnolgica, alfabetizao informacional, letramento e

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    outros. Porm, damos destaque competncia informacional, termo usado no Brasil e

    literacia usado em Portugal.

    Em evento na Universidade de Texas, em 1976, a literacia foi novamente

    discutida, agora com maior abrangncia, envolvendo a localizao e uso da informao.

    No mesmo ano, o termo foi associao emancipao poltica. Trs anos depois, Taylor

    e Garfield estabeleceram uma relao entre literacia e tecnologias de informao.

    Dudziak (2003: 24) enfatiza que a dcada de 70 se caracterizou pela admisso de que a

    informao essencial sociedade.

    J com relao dcada de 80, a autora afirma que foi decisiva para estabelecero papel educacional das bibliotecas acadmicas e a importncia dos programas

    educacionais em information literacy para a capacitao de estudantes Dudziak (2003:

    26).

    Porm, no trabalho de Carol Kuhlthau, Information skills for a information

    society: a review of research, que data de 1989, a bibliotecria enfatiza a necessidade da

    literacia est inserida na educao formal, sendo foco das bibliotecas escolares, e alerta

    para a busca de informaes, atravs das tecnologias de informao e comunicao,especialmente por parte dos estudantes (Kuhlthau,1989).

    Merece nfase, devido a grande aceitao pela comunidade acadmica, a

    definio dada pela American Library Assocition - ALA, em 1989, que acentua que o

    indivduo deve;

    to be information literate, a person must be able to recognize when information is

    needed and have the ability to locate, evaluate, and use effectively the needed

    information information literate person are those who have learned how to learn

    (ALA, 1989: 1).

    Os anos 90 foram marcados pela busca de uma fundamentao terica e

    metodolgica sobre a information literacy (onde os) modelos incorporam as atividades

    bsicas de identificao, acesso, avaliao e uso da informao (Dudziak, 2003: 26).

    Cristine Bruce, em 1997, estabelece as fases da literacia:

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    1. the IT experience information;2. the info sources experience;3. the info process experience;4. the info-control experience;5. the knowledge construction experience;6. the knowledge extension experience;7. the wisdom experience.

    A autora sugere assim um aprofundamento da literacia iniciando por dados,

    informao, conhecimento, entendimento, assimilao e inteligncia. Com vrias

    publicaes sobre o tema, o trabalho de Bruce se destaca por tratar a literacia como um

    fenmeno, dependente das experincias pessoais e do contexto.

    Dudziak, em dissertao apresentada a Universidade de So Paulo, em 2001,

    aborda trs concepes para literacia:

    1. Nvel da informao nfase nas habilidades de operao datecnologia da informao;

    2. Nvel do conhecimento nfase nos processos cognitivos de busca dainformao para construo do conhecimento;

    3. Nvel da inteligncia onde h agregao de valor a informao, combase no contexto social de cada individuo. Este seria, ainda segundo a autora, o

    nvel mais fiel a literacia, onde o aprendizado visto como fenmeno social.

    O Relatrio Learning for the 21st century (2008), que identifica competnciaspara o aprendizado, aponta competncia de literacia para a informao e para os media,

    como necessidade dos alunos aprenderem a selecionar e criar informaes, onde est

    incluso, no somente textos, mas tambm imagens, udio e animao.

    Portanto, a educao, especialmente a educao bsica, desempenha um papel de

    destaque no sentido de assegurar e atualizar as competncias necessrias aos indivduos,

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    para identificar as informaes relevantes e cognitivas, nesse novo panorama com

    abundncia de informaes.

    O Office of Communications OFCOM (2006) inclui como componentes da

    literacia dos media o acesso, a compreenso e a criao de informaes em vrios

    contextos.

    O acesso aos media, especialmente nos pases em desenvolvimento, um grave

    problema, haja vista que a grande maioria da populao no utiliza as chamadas novas

    tecnologias de informao e comunicao. Merece preocupao a realidade brasileira,

    que ainda no teve grandes avanos com relao incluso nas tecnologias deinformao e comunicao no sistema educacional, especialmente na formao inicial de

    seus professores. Em tese de Doutorado, pela UNESP, Barros (2005: 160) analisou os

    professores e percebeu que 57% deles na formao inicial e 77,1%, na formao

    continuada, embora tenham interesse, no sabem manusear bem o computador.

    A compreenso da informao, como componente da literacia dos media, envolve

    a atitude crtica do seu contedo, passando pela reflexo, anlise e avaliao. Percebemos

    que as crianas e jovens no esto sendo preparados no ambiente escolar e familiar paraesse contexto. competncia da escola e da famlia orient-los para selecionar e usar as

    informaes de maneira correta, desenvolvendo o esprito crtico e senso de cidadania,

    incluindo aqui, direito e deveres com relao s fontes (Bind, 2007).

    A criao de contedos est relacionada participao, a produo e a

    disseminao de informaes em ambientes de media. A interatividade, sendo uma das

    caractersticas da convergncia dos media, possibilita a participao ativa do cidado

    enquanto membro de uma comunidade. Direito informao e a liberdade de expresso,hoje envolvem, tambm, crianas e jovens (Pereira, 2008).

    A escola no deve ficar a margem da sociedade atual, ser omissa a essa realidade

    e ao papel que os media desempenham na formao dos seus alunos. As crianas e jovens

    tem acesso a uma enorme variedade e quantidade de informaes, que recebem,

    principalmente fora do ambiente escolar, e a escola deve prepar-los para indagaes

    como: fonte, pertinncia, relevncia, atualidade e segurana dessas informaes.

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    Biblioteca e Literacia

    Dentre as inovaes ocorridas nas instituies educacionais com a Sociedade da

    Informao, considera-se que a biblioteca ser uma das mais atingidas, haja vista que

    sofrer transformaes significativas no seu papel dentro do sistema educacional, para

    tanto precisa encarar o desafio de abandonar o paradigma custodial, de organizao e

    preservao de livros, para se tornar numa rede multimdia de aprendizagem. Data de

    1980, por ocasio da primeira edio, o Manifesto da UNESCO sobre as Mediatecas

    Escolares, esse conceito ligado educao.

    Autores como Silva (1995)8, Calixto (1996)9 e Campelo (2005)10 j enfatizavam,

    h algum tempo, que com base no paradigma da Sociedade da Informao, a biblioteca

    da escolar deve funcionar como um ncleo do sistema escolar.

    A biblioteca sendo uma instituio que faz parte do sistema de informao e de

    educao de um pas deve ser um centro dinmico de informao, organizando e

    fornecendo a informao nos mais variados formatos e espaos, permitindo assim, a

    formao de uma rede de conhecimentos, ou seja, funcionando em parceria com outras

    bibliotecas, em especial com a biblioteca pblica, e instituies educacionais e culturais,

    para criar um ambiente educacional e ldico em torno do universo informacional.

    Numa abordagem sistmica, a biblioteca deve extrapolar sua dimenso fsicainfluenciando e sendo influenciada pelo meio em que est inserida. Alm de instrumentode apoio pedaggico - cultural da escola, cabe tambm a ela ampliar suas limitaes deatuao, subsidiando o desenvolvimento de uma educao no formal Barros (1998:17).

    Lembrando que a literacia nasceu no mbito da Biblioteconomia e que ainformao o cerne das bibliotecas, acreditamos que as mesmas tm como principal

    8SILVA, Waldeck Carneiro - Misria da biblioteca escolar. So Paulo; Cortez, 1995. 118p.

    9CALIXTO, Jos Antnio - A biblioteca escolar e a sociedade de informao. Lisboa: Caminhos daeducao, 1996.

    10CAMPELLO, Bernadete Santos - A biblioteca escolar: temas para uma prtica pedaggica. 2. ed. BeloHorizonte: Autntica, 2005. 64 p.

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    desafio no sculo XXI preparar os indivduos para literacia. Nesse aspecto, a biblioteca

    escolar tem extrema relevncia, pois a sua atuao ter reflexos decisivos por toda a vida

    das crianas e jovens.

    A literatura destaca, com muita nfase, a responsabilidade da escola e da

    biblioteca em preparar a comunidade escolar, especialmente os professores e alunos, para

    compreender os contextos sociais, culturais, econmicos e polticos da convergncia dos

    media.

    A literacia dos media est sendo implantada, com muita timidez, em alguns

    pases, como uma disciplina curricular, especialmente nos cursos de ensino superior.Podemos citar como exemplo, alguns modelos criados por cientistas da rea: Marland,

    em 1981, desenvolveu os nove passos para serem realizados no momento de uma

    pesquisa; Herring, com o modelo PLUS, em 1996, prope como etapas da pesquisa:

    propsito, localizao, utilizao e auto-avaliao e, tambm temos o BIG 6, com seis

    etapas, desenvolvido nos Estados Unidos (Calixto, 2008). Vale citar tambm o exemplo

    da Inglaterra, que desde 1983, introduziu a temtica na disciplina Ingls, para crianas a

    partir dos cinco anos (Santos, 2003).

    Damos destaque especial ao modelo Kuhlthau's Model of the Stages of the

    Information Process, desenvolvido em 1993 por Carol Kuhlthau, com as etapas de: Task

    Initiation, Topic Selection, Prefocus Exploration, Focus Formulation, Information

    Collection e Search Closure, onde a autora enfatiza a participao da biblioteca escolar

    nesse processo (Kuhlthau, 2008).

    Deste modo, consideramos que a literacia dos media deve fazer parte da educao,

    tendo incio na educao bsica, no como uma disciplina isolada, mas sim, inclusa emtodas as disciplinas atravs de currculo interdisciplinar e projetos comuns, com a

    participao efetiva da biblioteca escolar.

    Consideramos que a fragmentao do currculo em disciplinas estanques provoca

    a fragmentao do conhecimento, dificultando por parte dos estudantes o elo entre os

    contedos. Enquanto a adoo de um currculo interdisciplinar pode ser o caminho para a

    literacia, uma vez que o mesmo tem por base a pesquisa e o uso da informao.

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    O que se estimula nos alunos no a memorizao passiva de dados e sim ainvestigao e compreenso dos problemas, melhor dizendo, a construo de seu prprioconhecimento atravs da participao ativa neste processo. So indubitveis os avanos

    em termos pedaggicos que se realizam atravs da elaborao de um currculo porassuntos ou interdisciplinar (Davini, 2009).

    O currculo interdisciplinar valoriza a adoo de projetos em torno de temticas,

    possibilitando a interao dos alunos, atravs de trabalho conjunto, tendo como

    facilitadores o professor e o bibliotecrio. A aprendizagem envolvendo projetos temticos

    deve ser centrada no contexto dos alunos, o que justifica a incluso dos media, pois na

    realidade atual os mesmos tm presena permanente na rotina de crianas e jovem.

    Alm do que, este processo requer que a criao do conhecimento seja uma

    conseqncia da pesquisa. O que subentendemos como investigao em fontes, autores,

    idias e formatos diversos, desta forma a presena dos media evidente.

    Nesse contexto, a biblioteca escolar aparece como pilar do processo de

    aprendizagem e da literacia, j que sua essncia a informao.

    A biblioteca por concentrar informaes diversas e ser um ambiente de

    aprendizagem mais informal que a sala de aula, pode explorar toda a cultura dos media,

    que o educando carrega a chegar escola, e trabalhar a literacia, abordando temticas de

    interesse comuns, desenvolvendo a anlise crtica e comparativa desses contedos,

    formando grupos de participao e aumentando a interao social na comunidade escolar.

    Consideraes Finais

    Com base nos estudos realizados, percebemos que a sociedade est em processo

    permanente de mudanas, tendo conseqncias decisivas no papel da escola e da

    biblioteca.

    Consideramos ser urgente uma reflexo nos modelos atuais que dominam no

    sistema educacional, pois, grande parte das informaes e conhecimentos que o educando

    recebe hoje tem origem fora do ambiente escolar. Nesse contexto, a biblioteca fica

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    excluda, pois os mesmos tm como principal fonte de informao os media, os quais no

    fazem parte dos recursos da biblioteca.

    Drabenstott, Burman e Macedo, desde 1997, sugerem que as bibliotecas devem:

    o formular polticas que visem cooperao para tomar o acesso cada vez maisaberto e levado aos locais longnquos;

    o no centrar-se em si mesma como uma instituio, mas como provedora dainformao;

    o usar novas tecnologias de informtica no apenas para automatizaratividades bibliotecrias, dentro de quatro paredes, mas fazendo uso delas para oaumento de acesso a informao (grifo nosso);

    o tornar a rede local de bibliotecas em rede de reas para todos os tipos de fontesprovedoras de informao.

    Em consonncia com essas iniciativas, acrescentamos que para coloc-las em

    prtica, torna-se relevante e urgente estudar o uso das tecnologias de informao e

    comunicao na biblioteca escolar, para ultrapassar o estgio bsico em que as mesmas se

    encontram, uma vez que s utilizam as tecnologias para o tratamento, organizao e

    recuperao dos seus acervos bibliogrficos.

    Colocar a literacia dos media como um dos objetivos da biblioteca representa umainovao educacional no sistema educativo, o que certamente contribuir para aumentar

    sua eficcia, alm de que, numa atuao pro ativa a biblioteca estar diminuindo o fosso

    que a separa do mundo das crianas e jovens.

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