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    Literatura Portuguesa 2

    TROL

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    Fabio Rodrigues de Souza

    2edio

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    DIREO SUPERIORChanceler Joaquim de Oliveira

    Reitora Marlene Salgado de Oliveira

    Presidente da Mantenedora Wellington Salgado de Oliveira

    Pr-Reitor de Planejamento e Finanas Wellington Salgado de Oliveira

    Pr-Reitor de Organizao e Desenvolvimento Jefferson Salgado de Oliveira

    Pr-Reitor Administrativo Wallace Salgado de Oliveira

    Pr-Reitora Acadmica Jaina dos Santos Mello Ferreira

    Pr-Reitor de Extenso Manuel de Souza Esteves

    DEPARTAMENTO DE ENSINO A DISTNCIADiretor Charleston Jose de Sousa Assis

    Assessora Andrea Jardim

    FICHA TCNICATexto:Fabio Rodrigues de Souza

    Reviso Ortogrfica:Tatiane Rodrigues de Souza e Walter P. Valverde Jnior

    Projeto Grfico e Editorao: Andreza Nacif, Antonia Machado, Eduardo Bordoni , Fabrcio Ramos, Marcos

    Antonio Lima da Silva e Ruan Carlos Vieira Fausto

    Superviso de Materiais Instrucionais:Janaina Gonalves de Jesus

    Ilustrao:Eduardo Bordoni e Fabrcio Ramos

    Capa:Eduardo Bordoni e Fabrcio Ramos

    COORDENAO GERAL:Departamento de Ensino a Distncia

    Rua Marechal Deodoro 217, Centro, Niteri, RJ, CEP 24020-420 www.universo.edu.br

    Ficha catalogrfica elaborada pela Biblioteca Universo Campus Niteri

    Bibliotecria: ELIZABETH FRANCO MARTINS CRB 7/4990

    Informamos que de nica e exclusiva responsabilidade do autor a originalidade desta obra, no se responsabilizando a ASOEC

    pelo contedo do texto formulado

    Departamento de Ensino a Distncia - Universidade Salgado de Oliveira

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicao pode ser reproduzida, arquivada ou transmitida de nenhuma forma

    ou por nenhum meio sem permisso expressa e por escrito da Associao Salgado de Oliveira de Educao e Cultura, mantenedora

    da Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO).

    S729l Souza, Fabio Rodrigues.Literatura portuguesa 2 / Fbio Rodrigues de Souza ;

    reviso de Tatiane Rodrigues de Souza e Walter P. Valverde

    Jnior . 2. ed. Niteri, RJ: EAD/ UNIVERSO, 2011.241 p. : il.

    1. Literatura portuguesa. 2. Literatura barroca. 3.Arcadismo (Literatura). 4. Romantismo. I. Souza, TatianeRodrigues de. II. Valverde Jnior, Walter P. III. Ttulo.

    CDD 869

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    Palavra da Reitora

    Acompanhando as necessidades de um mundo cada vez mais complexo,

    exigente e necessitado de aprendizagem contnua, a Universidade Salgado de

    Oliveira (UNIVERSO) apresenta a UNIVERSO Virtual, que rene os diferentes

    segmentos do ensino a distncia na universidade. Nosso programa foi

    desenvolvido segundo as diretrizes do MEC e baseado em experincias do gnero

    bem-sucedidas mundialmente.

    So inmeras as vantagens de se estudar a distncia e somente por meio

    dessa modalidade de ensino so sanadas as dificuldades de tempo e espao

    presentes nos dias de hoje. O aluno tem a possibilidade de administrar seu prprio

    tempo e gerenciar seu estudo de acordo com sua disponibilidade, tornando-se

    responsvel pela prpria aprendizagem.

    O ensino a distncia complementa os estudos presenciais medida que

    permite que alunos e professores, fisicamente distanciados, possam estar a todo

    momento ligados por ferramentas de interao presentes na Internet atravs denossa plataforma.

    Alm disso, nosso material didtico foi desenvolvido por professores

    especializados nessa modalidade de ensino, em que a clareza e objetividade so

    fundamentais para a perfeita compreenso dos contedos.

    A UNIVERSO tem uma histria de sucesso no que diz respeito educao a

    distncia. Nossa experincia nos remete ao final da dcada de 80, com o bem-

    sucedido projeto Novo Saber. Hoje, oferece uma estrutura em constante processo

    de atualizao, ampliando as possibilidades de acesso a cursos de atualizao,

    graduao ou ps-graduao.

    Reafirmando seu compromisso com a excelncia no ensino e compartilhando

    as novas tendncias em educao, a UNIVERSO convida seu alunado a conhecer o

    programa e usufruir das vantagens que o estudar a distncia proporciona.

    Seja bem-vindo UNIVERSO Virtual!Professora Marlene Salgado de Oliveira

    Reitora

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    Sumrio

    1. Apresentao da disciplina................................................................................................... 07

    2. Plano da disciplina.................................................................................................................... 08

    3. Unidade 1 Panorama Portugus do Sculo XIX......................................................... 12

    4. Unidade 2 O Simbolismo.................................................................................................... 40

    5. Unidade 3 O Saudosismo: uma Esttica de Transio ........................................... 606. Unidade 4 .O Modernismo ................................................................................................ 787. Unidade 5 O Neo-realismo................................................................................................ 1428. Unidade 6 O Existencialismo ............................................................................................ 1849. Consideraes finais ................................................................................................................ 229

    10. Conhecendo o autor................................................................................................................ 230

    11. Referncias .................................................................................................................................. 232

    12. Anexos........................................................................................................................................... 236

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    Apresentao da Disciplina

    Caros discentes!

    bom estarmos juntos para uma nova etapa de desafios e ganhos de saber.

    A Literatura Portuguesa II tratar de uma fase distinta para a arte literria em

    Portugal, para tanto estudaremos uma poca em que dados polticos e

    econmicos modificaro a forma da sociedade se interpretar.

    Iniciaremos pelo Realismo sublinhando a Questo Coimbr e a Gerao de 70

    no intuito de identificar a esttica realista, em seguida perceberemos a poesiarealista de Antero de Quental e a poesia do cotidiano de Cesrio Verde para

    avanarmos para a prosa realista de Ea de Queirs, e por fim o chamado romance

    de tese. E, mais uma vez experimentamos a tenso da arte literria entre o

    aproximar-se e afastar-se do plano real com as perspectivas do Impressionismo e a

    esttica simbolista, com destaque para a poesia simbolista de Eugnio de Castro e

    de Antnio Nobre, at atingirmos o refinamento esttico do decadentismo de

    Camilo de Almeida Pessanha.Nossa disciplina prossegue verificando a ideologia panfletria da Renascena

    portuguesa e as produes de Teixeira de Pascoais e atinge o prenncio da

    modernidade com os movimentos de vanguarda e suas variaes. Adiante

    trataremos da Revista Orpheu e seus principais representantes, bem como da

    Revista Presena. Fernando Pessoa e seus heternimos tambm sero observados

    para finalizarmos com as produes contemporneas.

    Com abordagens oscilando entre eixos diacrnicos e sincrnicosvalorizaremos a construo do raciocnio de perspectiva dialtica, e poderemos

    contar com os fruns e exerccios para a edificao de nossos conhecimentos.

    Para melhorar seus resultados utilize do nosso ambiente para o

    desenvolvimento de sua autonomia intelectual. Assim, lembramos que a presente

    disciplina foi elaborada de maneira a contemplar os princpios bsicos da Literatura

    Portuguesa II e estaremos sempre presentes no sentido de orient-lo em suas

    tarefas!Portanto, no se esquea de que o ensino distncia, o estudo, no.

    Bons estudos!

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    Plano da Disciplina

    A disciplina Literatura Portuguesa II foi elaborada para projetar o discente ao

    estudo das modificaes advindas do modelo liberal de economia e os reflexos de

    tal prtica no cenrio literrio portugus.

    Foca-se a esttica realista e a reao denominada Simbolismo, contrape-se o

    papel panfletrio da Renascena com a vanguarda adotada em Portugal, at

    chegarmos ao existencialismo e os autores contemporneos.

    A estratgia pedaggica consubstancia a viso de que o aluno capaz de

    construir seu prprio conhecimento e sedimenta-lo por meio das ferramentas

    disponibilizadas: contedo, sugestes de leitura, exerccios, tutoria e aferies de

    conhecimento.

    Unidade 1 - Panorama Portugus do Sculo XIX

    Em nossa primeira unidade continuaremos nossos estudos de Literatura

    Portuguesa, retomaremos conhecimentos anteriores e acrescentaremos novos

    conceitos.

    Objetivos da unidade:

    Revisar a relao entre as revolues liberais e o novo modelo cultural.

    Conhecer as perspectivas crticas da intelectualidade portuguesa ao

    modelo liberal manifestadas na literatura.

    Unidade 2: O Simbolismo Portugus

    Em nossa segunda unidade avanaremos em nossos estudos tratando dos

    conhecimentos sobre o simbolismo.

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    Objetivos da unidade:

    Reconhecer a relao entre as perspectivas do simbolismo e as

    produes portuguesas.

    Inovaes poticas e permanncias temticas.

    Unidade 3 O Saudosismo: uma esttica de transio

    Em nossa terceira unidade estudaremos o contexto scio-histrico portugus,bem como o movimento de Renascena e o Saudosismo.

    Objetivos da unidade:

    Estudar a Renascena portuguesa e refletir sobre a proposta artstica e

    social deste momento histrico.

    Conhecer e compreender as bases do Saudosismo.

    Angariar subsdios para formar opinio sobre o processo de construo da

    Arte Moderna.

    Unidade 4 O Modernismo

    Nossa quarta unidade ser essencial para a soluo das questes levantadas

    nas unidades anteriores e para a comparao entre as propostas dos movimentosliterrios do final do sculo XIX com as dos escritores ditos modernos.

    Privilegiaremos a anlise de textos para que voc note como se deu a

    construo da literatura modernista e o dilogo evolutivo entre as geraes ou

    momentos modernistas.

    Veremos a relao entre o modelo de vida burgus e a arte literria.

    Verificaremos que os autores se libertaram de modelos artsticos pr-

    estabelecidos, como foi comum at o sculo XIX.

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    Objetivos da unidade:

    Compreender os valores estticos dos momentos do ModernismoPortugus.

    Relacionar os momentos do Modernismo.

    Familiarizar-se com autores e obras significativas do Modernismo.

    Refletir sobre a produo literria da primeira metade do sculo XX.

    Analisar criticamente obras literrias.

    Formar opinio sobre o processo de construo da Arte Moderna.

    Unidade 5 O Neo-realismo

    Em nossa quinta unidade estudaremos o Neo-realismo, movimento literrio

    que sucedeu ao Presencismo.

    Objetivos da unidade:

    Refletir sobre a produo literria da segunda metade do sculo XX.

    Conhecer e compreender o momento histrico responsvel pelo

    surgimento da esttica Neo-realista;

    Compreender os valores estticos do Neo-realismo.

    Refletir sobre a relao sociedade literatura;

    Familiarizar-se com autores e obras significativas do Neo-realismo

    portugus.

    Analisar criticamente obras literrias.

    Formar opinio sobre o processo de construo da Arte Neo-realista. Comparar o Neo-realismo ao Presencismo.

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    Unidade 6 O Existencialismo

    E para finalizar em nossa ltima unidade voc conhecer um pouco da atual

    Literatura portuguesa

    Objetivos da Unidade:

    Compreender os conceitos que envolvem a literatura existencialista.

    Familiarizar-se com a obra existencialista de Verglio Ferreira.

    Analisar e refletir sobre a proposta literria do Existencialismo.

    Refletir sobre a produo literria da segunda metade do sculo XX.

    Ter contato com a literatura contempornea e com a obra de alguns

    escritores atuais.

    Estabelecer pontos de contato e de afastamento entre a literatura

    contempornea e os perodos que a antecedem.

    Refletir sobre os rumos possveis para a literatura atual.

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    Panorama Portugus doSculo XIX

    Reviso de conceitos

    Preliminares: a Questo Coimbr e a Gerao de 70

    A esttica realista

    A poesia realista: Antero de Quental

    A poesia do cotidiano: Cesrio Verde

    A prosa realista: Ea de Queirs

    O romance de tese

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    Caro discente,

    Continuaremos nossos estudos de Literatura Portuguesa, retomaremos

    conhecimentos anteriores e acrescentaremos novos conceitos.

    Objetivos da unidade:

    Revisar a relao entre as revolues liberais e o novo modelo cultural.

    Conhecer as perspectivas crticas da intelectualidade portuguesa ao

    modelo liberal manifestadas na literatura.

    Plano da Unidade:

    Reviso de conceitos

    Preliminares: a Questo Coimbr e a Gerao de 70

    A esttica realista

    A poesia realista: Antero de Quental

    A poesia do cotidiano: Cesrio Verde

    A prosa realista: Ea de Queirs

    O romance de tese

    Bem vindo a primeira unidade de estudo

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    Reviso de conceitos

    Estamos rumando a novos conhecimentos na Literatura Portuguesa.

    Para uma melhor assimilao nos cabe um breve retorno quilo que foi

    sedimentado em nosso estudo dos perodos fundadores.

    Em momentos anteriores

    Convm que voc revisite as pginas da Literatura Portuguesa I, reforce osconceitos bsicos sobre os principais tpicos. Observe o Humanismo, o

    Classicismo, o Renascimento, o Barroco, o Arcadismo e o Romantismo. O perodo

    que estudaremos depender de muitos conceitos vistos antes, como voc

    perceber ao longo das unidades.

    Fomos levados a conhecer a evoluo literria portuguesa. Fizemos estudos

    atravs do contexto histrico de Portugal e a forma como a modalidade de

    representao cultural conhecida por Literatura configurou o imbricamento daeconomia e da ideologia.

    As divises em escolas estticas agrupam sinergias em torno de temas e

    formas de representao esttica. E, permitem a fragmentao para fins didticos.

    Pois, h vrias maneiras de se estudar a Cincia Literria. Um deles a visualizao

    por perodos cronolgicos, outro modo muito utilizado aquele que visualiza e

    analisa como uma mesma temtica tratada em escolas estticas diferentes.

    Assim, podemos perceber a partir do processo de unificao da pennsula ibrica,

    do mercantilismo, do processo das grandes navegaes, do advento do

    sebastianismo, a retomada da autonomia poltica de Portugal, a vinda da famlia

    Real para a colnia sul-americana - e posterior retorno com o fim da ameaa

    napolenica, uma melhor noo de conjunto, assim que construiremos as

    melhores perspectivas de entendimento para nossa Literatura Portuguesa II. Tais

    conhecimentos so imprescindveis para entendermos a literatura lusa. E, ajuda a

    esclarecer dvidas diversas, por exemplo: por que um pas to prspero poca

    das grandes navegaes no foi um dos precursores da Revoluo Industrial?

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    IMPORTANTE!

    No se esquea: a Literatura um todo cultural.

    preciso que consideremos o registro literrio como repositrio de

    pensamentos, como dados que embasam reflexes acerca das aes humanas e

    suas consequncias. Para assimilarmos que a literatura faz-se ferramenta, faz-se

    corpus para vindouras decises.

    De forma que, quando a gerao de escritores a ser estudada surgiu para o

    mundo literrio e artstico, a ligao de Portugal com outros pases do continente,atravs das ferrovias, j era um conforto que em muito facilitava a interao de

    ideias e o intercmbio de experincias.

    Imagine-se sem a possibilidade de uso da rede mundial de computadores,

    voc consegue? O implemento das ferrovias foi uma das melhorias materiais

    solidificadas pelo xito das revolues liberais. As revolues industriais j

    trilhavam a perspectiva de transformar tudo em objeto de consumo, os meios de

    transporte no escaparam da mquina capitalista.

    Nunca deu importncia para isso? Releia A carta de Pero Vaz de Caminha e

    calcule quanto tempo uma informao demorava a sair do Brasil, chegar a Portugal

    e retornar para a colnia.

    VAMOS REFLETIR:

    Qual a influncia dos meios de transporte no seu desenvolvimento

    intelectual e pessoal?

    Por que as pessoas necessitam se deslocar ao longo de sua existncia?

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    Preliminares: a Questo Coimbr e a Gerao de 70

    Neste processo de reviso e insero de novas informaes citamos a Questo

    Coimbr. Iniciada por Antero de Quental com a polmica aberta endereada a

    Antnio Feliciano de Castilho, ento indigitado chefe e decano da escola literria

    romntica em Portugal.

    Informa a crtica literria que Castilho, no posfcio de Poema da mocidade, do

    autor Pinheiro Chagas, censurou os temas e o estilo potico da escola coimbr.

    Ao que se contrapem os conhecidos folhetos Bom Senso e Bom Gosto e A

    Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais. A polmica agremiou simpatizantes

    para ambos os lados, todavia a perspectiva de conceber o fazer literrio como

    reflexo dos problemas sociais do pas, tal qual j concebia a Europa, saiu vitoriosa.

    Sabemos que Castilho, Garret e Herculano formaram o esteio do romantismo

    portugus, nascido da reao ao domnio desptico do classicismo at o limiar do

    sculo XIX. Castilho, desencadeador involuntrio da polmica estabelecida frente

    escola de Coimbra, era o nico representante ativo do movimento romntico e

    Antero reclamava no menos que a liberdade, a independncia ideolgica e

    artstica.

    Os velhos cnones j estavam esgotados era mister mudar. Registramos que a

    mudana se deu muito mais pelas influncias externas, pela evoluo dos tempos,

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    do que pela pujana de princpios de uma nova corrente ideolgica autnoma,

    capaz de suplantar a virtuosidade de Almeida Garret e Alexandre Herculano.

    Tal gerao acadmica introduziu novos mtodos, novas ideias, ainda que

    abeberados em autores franceses. Oxigenaram um ambiente literrio marcado pela

    estagnao, sufocado por autores que ignoravam tudo que eles mesmos no

    haviam produzido.

    Em suma, o crescente desuso da potica romntica se deve muito mais aos

    novos modelos de pensamento externos do que aos mritos do grupo capitaneado

    por Antero de Quental durante a Questo Coimbre, em seguida nas Confernciasdo Casino Lisbonense.

    A chamada GERAO DE 70 nomeava um virtuoso grupo de intelectuais

    engajados. So significativos desse grupo: Antero de Quental, Ea de Queirs,

    Oliveira Martins, Tefilo Braga, Manuel de Arriaga, Guerra Junqueiro. Tal grupo ir

    dispersar-se no decorrer da dcada de 70, mas cada escritor vai realizar suas

    melhores produes neste perodo e na dcada posterior.

    Dado curioso sinaliza a reflexo efetuada por eles, tal fato que por volta de

    1887, 1888 voltaro a se reunir e formaro o grupo Vencidos na Vida, pois apesar do

    reconhecimento social, sentiam-se vencidos, visto que a ideologia que propunham

    havia se distanciado do povo.

    DICA

    Realize uma pesquisa sobre o que cada um desses nomes representou

    para o panorama poltico portugus. H entre eles: ministro, diplomata,

    chefe do poder executivo. Reflita e tire suas concluses.

    A Esttica Realista

    Os novos mtodos de criao artstica e literria que em meados do sculo XIX,passaram a ameaar a paz e os cnones aceitos, at ento pelos romnticos

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    portugueses, se implementam da mesma forma como o romantismo tinha sido

    uma reao aos mtodos de criao desgastados do perodo denominado clssico.

    O evento acima descrito servir, mais uma vez, de exemplo para demonstrar que os

    vetores economia-ideologia e cultura funcionam numa simbiose de foras. Ora, se

    Portugal no conseguia gerir sua economia com plenitude, se era influenciado

    pelas perspectivas polticas de outras naes tal qual a racionalidade subjetiva

    europeia - como deflagraria uma ideologia autntica, originria de uma cultura

    significativa e por meio de uma arte caracterstica, especificamente, de uma

    literatura prpria?

    Pesquise as aes prticas do Marqus de Pombal e tire suas prpriasconcluses.

    vazia qualquer anlise sobre a literatura se desconsiderarmos os aspectos

    polticos e histricos. A melhor vista de olhos aquela que coteja elementos

    econmicos, culturais e ideolgicos expressos nas produes artsticas. A literatura

    uma representao cultural, um extrato de dados de pessoas que frente a algo

    manifestaram sentimentos, impresses, ideias etc. Atravs de processos e

    procedimentos legveis e passveis de serem interpretados pelo analista atento.

    Logo, s podemos pensar em uma literatura prpria se percebermos e avaliarmos

    tal conjunto de dados, preliminarmente.

    O progresso cientfico e tcnico modificava rapidamente o ritmo e as

    condies da vida material; trazia uma prosperidade crescente e, por conseguinte,

    imenso acrscimo das populaes urbanas. Tal cenrio conferia Europa e aos

    pases europeus, e principalmente Frana a hegemonia mundial; trazia tambm a

    dominao mais ou menos manifesta da burguesia capitalista, vale dizer, da parte

    da populao que alcanara, pela sua inteligncia, esprito empreendedor,

    aplicao ao trabalho, e amide tambm pelos acasos das flutuaes econmicas,

    a dominar a indstria, o comrcio e as organizaes de crdito. Circunstncias, na

    maior parte, advindas do enfraquecimento do teocentrismo-feudalismo.

    A rapidez vertiginosa do desenvolvimento material, cientfico e tcnico se

    acelerava cada vez mais e criava problemas de adaptao mais urgentes. As crisesprovocadas por formas polticas retrgradas, pela ambio e pela concorrncia das

    grandes potncias, pelas aspiraes nacionais de pequenos povos europeus.

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    suprimidos ou ameaados por uma dominao estrangeira, ou pela

    superpopulao. J em alguns pases, mais latente a disputa de poder entre as

    religies, e, sobretudo, as diferenas do nvel material de vida entre as classes

    sociais, portanto, fileiras de questes se sucediam umas s outras e se combinavam

    de maneira frequentemente inextricvel. Percebe-se tal situao potencializada

    com a imprensa, pois a mesma exerce papel de divulgadora, aceleradora e

    alimentadora de tais debates, visto que dava s massas a possibilidade de

    conscincia dos problemas, e com isso aumentava o alcance destes.

    Alguns representantes literrios do perodo focado acima so considerados

    seminais, na primeira oportunidade trate de conhecer as obras por elesdesenvolvidas. Os principais escritores dessa literatura de combate na Frana

    foram, inicialmente, Honor de Balzac (1799-1850) e Stendhal (pseudnimo de

    Henry Beyle; 1783-1842) que vieram do Romantismo. Suas produes tm um

    carter menos mecanicista, mais dialtico: a realidade representada de maneira

    mais problemtica, se mostrava ambgua. Trata-se de um prenncio da nova

    esttica, menos idealizao e mais realidade. Em Gustave Flaubert (1821-1880) e

    em mile Zola (1840-1902), escritores que produziram posteriormente, j aparecemde forma mais evidente o mecanismo positivista que impulsionou essa literatura

    social.

    Tais autores so as grandes fontes da escola literria que estamos conhecendo.No descarte a oportunidade de l-los de maneira mais aprofundada.

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    Retrataram literariamente:

    a) o inchao das cidades,

    b) as relaes sociais que se estabelecem com a sada do teocentrismo e a

    chegada do antropocentrismo,

    c) a mutao de um poder absolutista em um poder regido por leis,

    d) o descortinar de muitos dos processos de dominao,

    e) o papel da mulher na nova organizao social,

    f) a efemeridade das relaes diante dos novos parmetros,

    E, como nossa vida hoje? Eles acertaram em seus prognsticos?

    Enfim, esses quatro senhores so precursores dos novos paradigmas. E, por

    isso tornam-se cnones do que vir a se chamar modernidade. Plantam sementes

    das estruturas de raciocnio de desconstruo das verdades absolutas

    disseminadas pelos iluministas e compradas e defendidas pelos liberais para a

    sustentao ideolgica do processo capitalista.

    A poesia realista: Antero de Quental

    Antero de Quental (1842-1891), de origem aristocrtica, foi o principal lder do

    Realismo portugus. A sua obra revela as prprias atividades polticas e as

    contradies do movimento em Portugal, ou seja: uma teoria, adquiridaintelectualmente dos pases mais desenvolvidos, mas desconectada do momento

    histrico de um Portugal perifrico e repleto de analfabetos.

    O descompasso apontado pela crtica se deve ao fato do poeta ter uma poesia

    de cunho romntico, onde predomina uma ideologia sentimentalista. Somada ao

    propsito de substituir uma viso crist do mundo pela santificao de valores

    como a liberdade, a igualdade e a fraternidade.

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    Utopia no alcanada torna-se frustrao, por isso, ao no conseguir a fuso

    entre as prprias ideias e a forma adequada de propag-las opta por deixar a vida

    pblica e deprimido comete o suicdio.

    Bom exemplo para se observar a tenso que Antero de Quental explora entre

    o ideal e o real o poema Tormento do Ideal. Pesquise-o e retire suas prprias

    concluses.

    A ttulo de ilustrao, vejamos:

    ODE III

    Como o vento s sementes do pinheiroPelos campos atira e vai levando...

    E, a um e um, at ao derradeiro,

    Vai na costa do monte semeando:

    Tal o vento dos tempos leva a Ideia

    A pouco e pouco, sem se ver fugir...

    E nos campos da Vida assim semeia

    As imensas florestas do porvir!

    1864.

    QUENTAL, Antero de. Antologia. Organizao de Jos Lino Grunewald. Rio deJaneiro : Nova Fronteira, 1991. (Poesia de todos os tempos).

    A poesia do cotidiano: Cesrio Verde

    Cesrio Verde foca as tenses sociais do processo de urbanizao em Portugal.Trata o poema de forma artesanal e o encara como um objeto esttico edificado a

    partir de uma multiplicidade de perspectivas, tal conjunto de caractersticas o situa

    prximo s estticas de vanguarda, como tambm da literatura a ele

    contempornea. O que o transforma em fonte para o decadentismo-simbolismo e

    o sensacionismo de Fernando Pessoa, por exemplo.

    Comea a produzir sob a gide parnasiana, mas logo migra para o realismo de

    carter dialtico. Registra, ento, imagens do cotidiano citadino em oposio ao

    campo. Exibindo a sensibilidade de registrar as condies que o desenvolvimento

    urbano impe aos campesinos que saem do campo para se tornarem operrios e

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    so aviltados em seus valores humanos, uma vez que so transformados em

    animais. Outro destaque que a crtica atribui a Cesrio Verde a tcnica atravs da

    qual registra o sofrimento citadino, onde a populao da cidade fixada emprocesso com ntida fundamentao sociolgica, sem se ater ao psicologismo ou a

    devaneios metafsicos. Diante de tal perspectiva, fixa a alma popular ressaltando

    tradies culturais em embate com a vertente da alienao social imposta pelo

    capitalismo.

    Repleto de imagens fragmentrias e mltiplas, deixa-nos poemas em que a

    noo de progresso e de decadncia se confundem, na contradio de valores que

    ainda hoje a ps-modernidade nos oferta.

    A ttulo de ilustrao, observemos:

    Manias

    O mundo velha cena ensanguentada.

    Coberta de remendos, picaresca;

    A vida chula farsa assobiada,Ou selvagem tragdia romanesca.

    Eu sei um bom rapaz, hoje uma ossada ,

    Que amava certa dama pedantesca,

    Perversssima, esqulida e chagada,

    Mas cheia de jactncia, quixotesca.

    Aos domingos a dia, j rugosa,

    Concedia-lhe o brao, com preguia,

    E o dengue, em atitude receosa,Na sujeio canina mais submissa,

    Levava na tremente mo nervosa,

    O livro com que a amante ia ouvir missa!

    VERDE, Cesrio. Poesias Completas de Cesrio Verde. Rio de Janeiro : Ediouro,1987.

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    A prosa realista: Ea de Queirs

    Rotineiro processo de organizao mental elencarmos alguns nomes de

    destaque em determinada rea, assim aparecem a lista dos mais vendidos, dos

    mais populares, das mais belas etc. Duvida? Basta observarmos a nossa volta.

    Exemplo: em nosso pas o esporte coletivo mais prestigiado o futebol, agora,

    responda: o atacante vence algum jogo sozinho? E a mdia no acaba criando um

    heri? E, ele mais tarde no aparece atrelando sua imagem venda de algum

    produto?

    Com a Literatura no

    diferente. A crtica literria

    sempre elege seus prediletos.

    De forma que, segundo os

    estudiosos, Ea de Queirs

    (1845-1900) um autor basilar.

    Um dos cones do sculo XIX

    para a expresso literria em

    Lngua Portuguesa. Caso voc

    ainda no tenha dado a devida

    importncia, Ea de Queirs

    destaque em todo o mundo

    lusfono. Referncia

    obrigatria para quem se

    prope a conhecer um pouco

    de literatura.

    Justifica-se tal status pela

    combinao de dois aspectos:

    1 - Constituiu a obra mais

    representativa das tensesideolgicas do Realismo em

    Portugal.

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    2 Elaborou o conjunto mais importante, do ponto de vista da organizao

    artstica.

    Ea de Queirs, nem por isso, foi poupado de comentrios menores, sua obra e

    sua vida exibem muitos pontos de tangncia,

    segundo a crtica biogrfica.

    Por esse vis, h uma analogia entre a

    biografia do escritor e o sentido da construo

    de seus romances: a distncia. A histria do

    autor indica que na vida, Ea foi maisobservador do que ator das situaes que mais despertaram a sua ateno:

    a famlia;

    a realidade concreta do seu pas.

    Logo, do ponto de vista artstico, refere-se s personagens e aos fatos

    representados na maior parte de suas narrativas, de forma crtica e distanciada. Na

    vida do autor, instaurou-se um trauma. A referida crtica afirma que a distncia desua famlia deveu-se s circunstancias de seu nascimento: seus pais, pertencentes

    burguesia letrada, s se casaram quatro anos depois e tentaram oculta-lo por

    muito tempo. Assim, a criana passou a infncia e a adolescncia distante de seus

    irmos em casa de uma ama e depois na casa de avs paternos. Ficou,

    posteriormente, em colgio interno e ingressou na Universidade de Coimbra,

    sempre longe dos pais. Atentemos que nessa poca as

    exegeses j podiam se utilizar dos conhecimentossistematizados por Freud, de forma que as

    idiossincrasias de infncia teriam definido o calibre do

    olhar crtico de Ea.

    A crtica biogrfica d continuidade pesquisa e

    afirma que na universidade, ele permanece margem:

    aprecia apenas de longe Questo Coimbr(1865).

    Quando Ea estreou como escritor nas Notas Marginais, ele ainda no seligara ao grupo realista, o que veio a acontecer em 1870. Ou seja, a primeira obra

    publicada no busca defender a posio do grupo. O trmino do curso

    Crtica biogrfica:Trata-se de uma escola

    crtica que visa entender a obra literria

    estudando a biografia do autor. Voc obter

    melhores informaes sobre tal modalidade

    crtica na disciplina que aborda as

    perspectivas tericas sobre a literatura.

    Questo Coimbr: Celeumaem que Antero de Quental e

    Tefilo Braga torpedeavam o

    Romantismo, segundo eles

    ultrapassado. E, de outro lado

    Antnio Feliciano de Castilho

    defendia o cnone vigente.

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    universitrio muito importante na vida do autor. Aps formar-se advogado, o

    escritor vai finalmente residir com os pais em Lisboa. E, a caracterstica do

    distanciamento tende a diminuir. Parece que a ampuleta foi virada.

    Inicia um perodo de aproximaes: alm da convivncia familiar vai participar

    do jornalismo, das discusses dos problemas polticos nacionais. Dirige, por curto

    perodo, um jornal de oposio ao governo da cidade de vora, mergulhando na

    realidade de seu pas. Retornando a Lisboa, no final de 1867, participa do grupo do

    Cenculo, onde estuda e discute as teorias do Realismo-Naturalismo. Nos artigos

    de jornal, comea a aparecer o grande escritor realista.

    DICA

    Observe como o hbito do estudo, da pesquisa e o exerccio dirio da

    escrita forjam o artista.

    Em 1870, publica, ao regressar a Lisboa de uma viagem ao Oriente, uma novela

    policial: O mistrio da estrada de Sintra, em colaborao com seu amigo e colega de

    escola Ramalho Ortigo. Tal nome de grande relevncia para o estudo da obra de

    Ea de Queirs, dos anos a servio da diplomacia, Ea trocar vrias

    correspondncias com Ortigo, que servir tambm de crtico literrio. Por

    exemplo, quanto a Lusa, que comete adultrio em O primo Baslio, Ortigo acha

    que a punio dada por Ea personagem adltera foi branda demais.

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    As perspectivas do deslocamento e da distnciavoltam tona. A sina de estar

    longe permanece, pois, em seguida, desloca-se, por seis meses, para Leiria, como

    estgio para a carreira diplomtica que pretendia seguir. Caracterizando-as,novamente.

    Retornando para Lisboa, Ea de Queirs profere uma entusistica palestra A

    Nova Literatura ou O Realismo como Nova Expresso da Arte (1871), dentro das

    Conferncias Democrticas do Casino Lisboense, organizadas pelo grupo

    Cenculo. Entretanto, os contatos mais frequentes com a realidade portuguesa vo

    terminar: logo aps a proibio das conferncias do Cassino, Ea nomeado cnsul

    em Havana (Cuba).

    Na carreira diplomtica, distante do pas, diminui a irreverncia do cidado e

    acentua-se a do escritor. Observe como a trajetria de vida o encaminha

    novamente para o distanciamento, o diplomata representa os interesses de um

    pas, estando longe dele. Note como o cidado portugus, tal qual nas grandes

    navegaes, lana-se para fora de sua terra. Contraponha tal perspectiva com uma

    leitura e posteriores reflexes sobre a obra Viagens na minha terra, de Almeida

    Garret. Transferido para Inglaterra, em 1874 publica a primeira verso de O crime do

    Padre Amaro.

    Distante da ptria colabora em vrios jornais de Portugal e do Brasil e se

    prope a realizar atravs de romances, um vasto inqurito da sociedade

    portuguesa da poca. Tal desejo fruto da perspectiva ideolgica positivista:

    observar, experimentar, comprovar. O projeto realizado apenas parcialmente,

    visto que lhe faltava a verificao prpria do Realismo-Naturalismo, conformedefiniu em sua conferncia no Casino. Publica O primo Baslio (1878), mesmo

    estando distante daquilo que pode ser considerado seu laboratrio de observao,

    a sociedade burguesa de Portugal. Sobre a referida postura, a ttulo de reflexo,

    mais a frente veremos o trecho de A ilustre casa de Ramires, atente que o

    personagem Gonalo tem o objeto de anlise ao alcance de suas vistas,

    metodologia de que Ea no dispe.

    Em 1886, aos 41 anos, casa-se com a filha de seu antigo colega de viagem aoOriente, o conde de Resende. Atenua-se agora a irreverncia do escritor,

    sintonizado com o grupo dos Vencidos da Vida. Tal grupo era formado por

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    escritores e intelectuais que na juventude incio do Realismo lutaram por causas

    sociais, mas que passadas algumas dcadas as abandonaram e tornaram-se bem

    sucedidos financeiramente, todavia malsucedidos no campo ideolgico, foramvencidos pela ideologia liberal.

    As narrativas A relquia e Os Maias escritas nos anos anteriores ao seu

    casamento so publicadas em 1887 e 1888. Na atmosfera do vencidismo, mas com

    uma perspectiva mais patritica do perodo ps-Ultimato, surgiro A ilustre casa de

    Ramires(1900) e A cidade e as serras(1901). Este ltimo, um timo material para se

    exercitar reflexes sobre a perspectiva de Rousseau de que todo o bem est na

    Natureza, e a de Baudelaire de que a busca do bem est na vida em sociedade.

    Leia o trecho que segue:

    Desde as quatro horas da tarde, no calor e silncio do domingo

    de junho, o Fidalgo da Torre, em chinelos, com uma quinzena de

    linho envergada sobre a camisa de chita cor-de-rosa, trabalhava.

    Gonalo Mendes Ramires (que naquela sua velha aldeia de Santa

    Ireneia, e na vila vizinha, a asseada e vistosa Vila-Clara, e mesmo na

    cidade, em Oliveira, todos conheciam pelo "Fidalgo da Torre")

    trabalhava numa Novela Histrica, A Torre de D. Ramires, destinada

    ao primeiro nmero dos Anais de Literatura e de Histria, revista

    nova, fundada por Jos Lcio Castanheiro, seu antigo camarada de

    Coimbra, nos tempos do Cenculo Patritico, em casa das

    Severinas.

    A livraria, clara e larga, escaiolada de azul, com pesadas

    estantes de pau-preto onde repousavam no p e na gravidade das

    lombadas de carneira, grossos flios de convento e de foro,

    respirava para o pomar por duas janelas, uma de peitoril e poiais de

    pedra almofadados de veludo, outra mais rasgada, de varanda,

    frescamente perfumada pela madressilva que se enroscava nas

    grades.

    Gonalo Mendes Ramires (como confessava esse severo

    genealogista, o morgado de Cidadelhe) era certamente o mais

    genuno e antigo Fidalgo de Portugal. Raras famlias, mesmo

    coevas, poderiam traar a sua ascendncia, por linha varonil esempre pura, at aos vagos Senhores que entre Douro e Minho

    mantinham castelo e terra murada quando os bares francos

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    desceram, com pendo e caldeira, na hoste do Borguinho. E os

    Ramires entroncavam limpidamente a sua casa, por linha pura e

    sempre varonil, no filho do Conde Nuno Mendes, aquele

    agigantado Ordonho Mendes, senhor de Treixedo e de Santa

    Ireneia, que casou em 967 com Dona Elduara, Condessa de Carrion,

    filha de Bermudo, o Gotoso, Rei de Leo.

    Tal fragmento pertence ao Romance de Ea de Queirs, A ilustre casa de

    Ramires. Perfaz o primeiro captulo e busca delimitar o lugar social de Gonalo

    Mendes Ramires. Observe que os autores do perodo buscaro aperfeioar o

    romance com a utilizao de tcnicas e metodologias, tal qual estivessemescrevendo uma monografia ou uma tese. Para ilustrar melhor seu entendimento

    em relao ao corte que selecionamos busque no dicionrio as palavras que o

    significado lhe proporcionam neste momento alguma dvida.

    Uma vez realizada a pesquisa no dicionrio e feita uma terceira leitura.

    Partamos para uma anlise do trecho. Algumas reflexes precisam ser feitas,

    acompanhe a linha de raciocnio.

    a.1) Ora, por que algum comea um romance

    IMPORTANTE!

    No custa lembrar que romance significa uma modalidade narrativa, e

    no sinnimo de romantismo. O que ocorreu que durante o romantismo

    os autores muito se afeioaram a esta tipologia textual. Visite sua disciplina de

    Filologia Portuguesa que voc ter melhores explicaes sobre o assunto.

    Querendo situar o personagem dentro de uma rvore genealgica de nobreza?

    a.2) Situando tal personagem em uma atividade nobre que a elaborao de

    umaNovela Histrica?

    a.3) Caracterizando-o como morgado, que o vnculo dado a certos bens que

    deveriam ser transmitidos ao primognito, sem que este os pudesse vender.

    Retome a questo do celibato e coteje a preocupao em torno da transmisso de

    bens. No esquea que, nas tradicionais famlias portuguesas, o filho que era

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    destinado-vocacionado Padre era o caula, que s herdaria algo com a morte dos

    irmos mais velhos.

    Sabendo que o determinismo pauta-se na herana, meio e o momento.

    Atente, a ttulo de esclarecimento, que a herana citada por Taine no

    relacionada a bens materiais, entendidos como dinheiro, terras, obras de arte e

    outros haveres com valor econmico na sociedade. A herana postulada por Taine

    biolgica,ou seja, pouco provvel que voc mude os fatos de sua existncia,

    pois eles j esto determinados.O meio deve ser entendido como as condiesdo ambiente influenciam as escolhas individuais, ou seja, se voc nasceu em um

    determinado ambiente, nada do que voc vier a fazer lhe retirar tal predestinao

    de certa forma, tal condio abre uma linha de embate frente ao livre-arbtrio. E, o

    momento, na teoria em tela, sugere que voc no tomar outra atitude seno

    aquela que previsvel devido a sua herana gentica e o ambiente que te cerca,

    tal condio deve ser interpretada e vista como a circunstncia.

    DICA

    Pesquise sobre o estudos a respeito do DNA, sobre o conceito de

    tica, a essncia do preconceito e a concepo de pr-julgamento. Em

    seguida, coteje com a proposta de Hippolite Taine. E, agora com a sua forma de

    pensar sobre as coisas.

    O Romance de Tese

    Influncia das bases cientficas e filosficas

    As teorias positivistas do sculo XIX surgiram em decorrncia das solicitaes

    materiais ou ideolgicas da Revoluo Industrial. Dado perceptvel nos pases maisdesenvolvidos, todavia no era o caso de Portugal, pas possuidor, ainda, de formas

    capitalistas primrias, associadas sobrevivncia de modelo feudal. O Realismo vai

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    chegar ao pas por importao e podemos depreender que foi mais uma imposio

    intelectual de grupos reformistas minoritrios do que uma esttica autntica.

    Contudo, sua influncia ser bastante importante em setores burgueses maisprogressistas.

    A ausncia de uma base social similar a da Frana, condicionar uma

    atualizao do mecanicismo positivista. A interferncia ideolgica da situao

    portuguesa atenuar a contundncia que o Realismo obteve, por exemplo, na

    Frana. As produes literrias portuguesas sero mais tmidas e mesmo os

    escritores mais radicais mostram em suas obras traos ideolgicos do Romantismo

    que tanto combatiam. Podemos sintetizar o sentido ideolgico de construo da

    escrita do Realismo-Naturalismo portugus nos seguintes pontos:

    1. Crtica ao tradicionalismo vazio da sociedade portuguesa, produto, segundo

    eles, da educao romntica, muito convencional e distante da realidade.

    H um compromisso tico do escritor em relao realidade, a ser

    representada com toda a veracidade e o seu papel semelhante de um

    profeta, com uma misso a cumprir;

    2. Crtica ao conservadorismo da Igreja, uma instituio voltada para o

    passado e que impedia o desenvolvimento natural da sociedade, tema

    muito desenvolvido em face da importncia dessa instituio no pas;

    3. Viso objetiva e natural da realidade: o escritor deveria construir suas

    personagens atravs dos tipos concretos existentes na vida social,observando suas relaes com o meio. A personalidade desses tipos seria

    definida sobretudo pelos caracteres psicossociais, isto pela influncia do

    meio ambiente; em menor escala, pelos seus componentes

    psicofisiolgicos, isto , pela influncia dos rgos e glndulas do corpo

    humano em sua conduta;

    4. Preocupao com a reforma e no com a revoluo da sociedade, com oobjetivo de democratizar(sobretudo numa perspectiva republicana) o

    poder poltico e de instituir amplas reformas sociais. Procuravam

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    diagnosticar os problemas da vida social e apontar solues reformistas, de

    carter s vezes socialistas, mas mantendo-se a estrutura do sistema

    capitalista;

    5. Representao da vida contempornea, procurando mostrar todos os seus

    detalhes significativos. H a preocupao de se estabelecer conexes

    rigorosas de causa e efeito entre os fenmenos observados, j que as leis

    naturais so equivalentes na fsica, qumica e biologia.

    O que ratifica tais proposies a declarao de Ea de Queirs de que o

    Realismo uma reao contra o Romantismo. Parafraseando Ea, percebemos que

    ele entendia que o Romantismo era a apoteose do sentimento e o Realismo se

    propunha a realizar a anatomia do carter, a crtica do homem, a arte que pinta os

    homens a seus prprios olhos no objetivo de condenar o que houver de mau na

    nossa sociedade.

    Esperamos que voc tenha entendido a presena e os efeitos cientfico-filosficos

    em voga no sculo XIX e observado como tais efeitos ditaram paradigmas para a

    representao cultural portuguesa daquela poca. De forma que lhe foram

    fornecidos ndices da literatura de tese atravs dos quais, voc pode avaliar os

    efeitos do cientificismo. E, com isso pudesse refletir sobre a dependncia da cultura

    portuguesa em relao a outros pases europeus e sobre os pontos principais dasbases cientficas e filosficas.

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    Perspectivas do romance de tese

    De uma forma geral, as produes literrias de Ea de Queirs podem serexplicadas a partir de dois plos de tenses ideolgicas:

    a) O de sentido mais conservador, que se enraza em sua origem social,

    b) O reformista, prprio das reivindicaes pequeno-burgueses de sua

    poca, propsito adquirido, sobretudo atravs de leituras e debates

    intelectuais por volta de 1870.

    No podemos descartar que a iniciao literria de Ea se faz dentro do

    Romantismo. Afasta-se, entretanto, dos esquematismos ultra-romnticos e

    introduz o romantismo social, utilizando referncias europeias no lusas, isto ,

    francesas. Percebe-se a influncia da pica popular de Victor-Marie Hugo (1802-

    1885), a historiografia apaixonada dos movimentos populares de Jules Michelet

    (1798-1874) e o lirismo irnico e satrico do poeta alemo Heinrich Heine (1797-

    1856). A perspectiva de Ea, filtrada por causa dessas influncias mostra-sedilacerante e cinza.

    O conjunto da obra perfaz um perfil pedaggico, pois pretende criticar para

    corrigir. Da o entendimento da crtica ao classificar as produes realistas de

    romances de tese, pois havia sempre a inteno de conduzir o leitor por algum

    raciocnio e apresentar-lhe uma verdade irrefutvel. Logo, interessa ao escritor o

    caso tpico da vida social, seu significado coletivo, e no a particularidade

    individual. So produes dessa fase naturalista: O crime do Padre Amaro(1875), Oprimo Baslio(1878), O mandarim(1879), A relquia(1887), Os Maias(1888),A capital

    (1925) eA tragdia da rua das Flores(1980).

    Esses romances constituem parte do pretendido inqurito da sociedade

    portuguesa, em todos os seus aspectos, projeto que no se complementou.

    A parte mais fraca dessa investigao social deveu-se ao pouco conhecimento

    do povo pelo escritor. A fortuna crtica sobre Ea revela que personagens

    populares, com exceo da criada Juliana (O primo Baslio) s aparecem de forma

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    rpida ou formando a paisagem social, sem uma funo mais importante na trama

    desenvolvida. E mesmo Juliana, talvez a melhor representao desse segmento

    social, difcil de ser entendida no quadro da vida portuguesa, faltando-lhe a

    tipicidade pretendida pela esttica realista-naturalista.

    As diretrizes da orientao ideolgica desse inqurito social so:

    A ideia de conscincia, de onde vem, a busca da igualdade;

    A ideia de evoluo, como realizao da igualdade entre os homens;

    A ideia de que o homem produto do meio e no um absoluto;

    A ideia de que a gnese e a funo da arte devem ser consideradas dentro

    do grupo social e no dentro do indivduo absoluto e divino

    Agora, visite os romances de Ea, deleite-se, e tire suas prprias concluses.

    Nesta Unidade voc estudou a formao do contexto histrico-cultural do

    Realismo portugus e as principais influncias por ele recebidas.

    SUGESTO DE FILME

    Pegue seu caderno de anotaes, sente-se e assista ao filme ele

    contextualizar melhor ainda o contedo que voc acabou de estudar.

    Madame Bovary - (1991). Frana - Direo: Claude Chabrol -Drama -140

    minutos

    LEITURA COMPLEMENTAR

    Aprofunde seus conhecimentos lendo a seguinte obra:

    SARAIVA Antnio Jos. Para a histria da cultura em Portugal. Lisboa:

    Europa - Amrica, 1976.

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    HORA DE SE AVALIAR!

    No se esquea de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas

    iro ajud-lo a fixar o contedo, alm de proporcionar sua autonomia no processo

    de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as

    envie atravs do nosso Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

    Na prxima, unidade estudaremos o impressionismo e as pginas que novos

    autores imprimiram ao sistema da literatura portuguesa.

    At l!

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    Exerccios da Unidade 1

    1. Assinale a opo incorreta:

    a) O movimento realista est ligado ascenso da pequena burguesia citadina,

    na segunda metade do sculo XIX.

    b) A baixa burguesia portuguesa era despreocupada com os rumos do pas.

    c) A alta burguesia era interessada no jogo vazio das formas artsticas a artepela arte.

    d) O perodo motiva uma arte engajada, de compromisso, voltada para a soluo

    dos problemas sociais.

    e) Ocorre uma arte em confronto com o tradicionalismo romntico e que

    procura incorporar os descobrimentos cientficos de seu tempo.

    2. Analise se as afirmativas abaixo esto corretas ou incorretas e marque aalternativa adequada.

    1. O Realismo evolui gradativamente para o Naturalismo; ou melhor, a tendncia

    artstica que marca a segunda metade do sculo XIX , na verdade o

    Naturalismo, entendido como uma forma histrica do Realismo, de carter

    mecanicista e positivista.

    2. O Realismo existe como tendncia, dominante ou no, em todas as pocashistricas: mais atitude do artista diante da representao da realidade.

    3. Teremos realismo se houver nfase na caracterizao da realidade concreta

    referida pelo texto artstico. Pois, a literatura uma representao cultural, e

    quanto mais inserida na realidade o autor se deseja, maior ser o grau de

    realismo.

    4. Quanto menos inserido na realidade o autor se deseja, menor ser o grau de

    realismo e maior ser a utilizao de ferramentas relacionadas ao escapismo.

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    a) Esto corretas as afirmativas 1 e 2.

    b) Esto corretas as afirmativas 1, 2, e 4.

    c) Esto corretas as afirmativas 1, 2 e 3.

    d) Esto corretas as afirmativas 2, 3, 4.

    e) Esto corretas as afirmativas 1, 2, 3, 4.

    3. Estudamos que no Naturalismo temos um ponto de vista tecnolgico. Marque a

    opo que no colabora com tal entendimento.

    a) A realidade deve ser representada a partir da observao emprica.

    b) Todos os detalhes devem ser vistos e o artista deve ser neutro, impassvel,

    objetivo.

    c) A neutralidade sua principal caracterstica.

    d) Os artistas aparecem, de forma explcita ou implcita, como defensores dos

    valores ideolgicos de sua poca.

    e) O relacionamento da arte com a vida deve ser total, assim entende o corolrioNaturalista.

    4. As novas perspectivas de interpretao social configuram as principais teorias de

    apoio ideolgico literatura realista naturalista. Dentre as opes abaixo assinale a

    que apresenta um conceito equivocado:

    a) Determinismo: segundo Hippolite Taine, a obra de arte deveria negar assituaes condicionadas pela herana, pelo meio e pelo momento.

    b) Positivismo: segundo Auguste Comte, a reforma social deveria ocorrer atravsdo conhecimento obtido pela observao, a experimentao e a comparao.

    c) Socialismo utpico de Proudhon: as associaes de auxlio mtuo formadaspor pequenos produtores constitua a melhor soluo econmica.

    d) Evolucionismo: Charles Darwin prova cientificamente que as espciesevoluem, dando origem gradativamente s mais complexas.

    e) Fisiologismo: Claude Bernard prova que as doenas so anomalias do corpohumano e no do esprito;

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    5. Dentro do cenrio das bases cientficas desenvolvidas no perodo, h uma em

    especial que visa desconstruir o modelo ideolgico conhecido por teocentrismo.

    Assinale a alternativa que a exibe.

    a) Anticlericalismo.

    b) Positivismo.

    c) Capitalismo.

    d) Evolucionismo.

    e) Socialismo.

    6. Sobre as teorias positivistas do sculo XIX, correto afirmar que:

    a) Surgiram em decorrncia das solicitaes materiais ou ideolgicos da

    Revoluo Industrial.

    b) Foram desenvolvidas em Portugal.c) o esteio das formas capitalistas primrias.

    d) Esto associadas sobrevivncia feudal.

    e) Resolveram os problemas da humanidade.

    7. Sobre o Realismo incorreto afirmar que:

    a) Chegar ao pas por importao, como de costume.

    b) Foi uma imposio intelectual de grupos reformistas minoritrios.

    c) A influncia ser importante em setores burgueses mais progressistas.

    d) A base social similar a da Frana potencializar a atualizao do mecanicismo

    positivista.

    e) A ideologia portuguesa atenuar a contundncia que o Realismo teve na

    Frana.

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    8. Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas abaixo.

    Sabemos que as produes literrias, em geral, e as portuguesas no fogem disto,acabam retomando imagens, temas, linguagens, enfim, uma nova proposta

    _______ nunca totalmente nova. Por conta disso possvel encontramos nas

    obras do perodo em que estamos estudando, mesmo nos escritores mais radicais,

    trechos que mostram em suas obras traos ideolgicos do _________ , que tanto

    combatiam.

    a) literria, realista.

    b) artstica, naturalstica.

    c) modernista, feminista.

    d) capitalista, econmica.

    e) esttica, romantismo.

    9. O que significa a crtica ao tradicionalismo vazio da sociedade portuguesa?

    ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

    _____________________________________________________________________

    10. Qual o compromisso tico do escritor e seu papel em relao realidade,

    dentro da tica estudada?

    ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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    O Simbolismo Portugus

    O contexto histrico do movimento

    O prenncio da modernidade

    A ratificao burguesa

    Novos conceitos para a lrica

    A Poesia Simbolista: Eugnio de Castro e Antnio Nobre

    O Decadentismo de Camilo de Almeida Pessanha

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    Continuaremos nossos estudos de Literatura Portuguesa tratando dos

    conhecimentos sobre o simbolismo.

    Objetivos da unidade:

    Reconhecer a relao entre as perspectivas do simbolismo e as

    produes portuguesas.

    Plano da Unidade:

    O contexto histrico do movimento.

    O prenncio da modernidade.

    A Esttica Simbolista/A ratificao burguesa.

    Novos conceitos para a lrica.

    A Poesia Simbolista: Eugnio de Castro e Antnio Nobre

    O Decadentismo de Camilo de Almeida Pessanha

    Bons estudos!

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    O contexto histrico do movimento

    As influncias francesas e as novas propostas do gnero lrico estreitaram arelao entre as produes externas e as portuguesas, de forma que o

    Decadentismo em Portugal timo para refletirmos sobre o processo de

    ufanizao .que muito marcou os perodos anteriores da Literatura Portuguesa.

    Sobre tal conceito importante sedimentarmos algumas ideias. A primeira

    que o projeto ideolgico da construo portuguesa investiu em imagens

    grandiosas sobre si mesmo. A segunda que reescrevendo o prprio passado com

    a aderncia mtica do herosmo povoou em diversas pocas a imagem de um

    grande imprio. Os autores literrios de fulcro e alguns historiadores cunharam

    expresses e trechos que, uma vez disseminados pelo edifcio cultural luso,

    projetaram ideais de iluso sobre o sentido real do ser portugus.

    O episdio do Ultimato(1890) marca o incio da decadncia do regime liberal-

    conservador do perodo da Regenerao, at 1910, quando teremos a queda da

    monarquia. Em tal perodo histrico ocorrer um progressivo esfacelamento da

    base poltica desse regime e o fortalecimento continuo do Partido Republicano.

    A propaganda republicana baseou-se no anticlericalismo e no patriotismo.

    Com o Ultimato, ela chega s camadas populares. Explodem revoltas, emconsequncia, como a de 31 de janeiro no Porto, que foi violentamente reprimida.

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    A soluo procurada pela monarquia foi a da ditadura; no lhe interessa mais

    um regime democrtico.

    As tenses sociais, entretanto, cresceram. Nessas circunstncias, ocorreu o

    regicdio, em 1908: o rei D. Carlos e o prncipe herdeiro foram mortos por militares

    republicanos.

    PARA REFLETIR

    Compare tal evento com a Revoluo Francesa e a Queda da Bastilha.

    Tire suas prprias concluses.

    A situao poltica torna-se explosiva: o ditador Joo Franco demitido e o

    jovem rei D. Manuel procura acalmar os setores sociais insatisfeitos com a

    monarquia. No o conseguiu: o regime monrquico estava totalmente

    desacreditado.

    O governo republicano foi assumido provisoriamente por Tefilo Braga,

    enquanto procurava-se estabelecer um novo pacto das foras polticas

    portuguesas.

    Buscando acalmar os nimos, por decreto, so promulgadas as seguintes leis:

    do divrcio,

    da separao entre Igreja e Estado,

    da criao das Universidades de Lisboa e Porto

    do direito de greve dos trabalhadores.

    Passa, tambm, a vigorar uma nova Constituio, colocando o Congresso

    como rgo mximo da Repblica, inclusive com o poder de destituir o presidente

    do pas. Compare o cenrio apresentado com as referenciais histricas

    portuguesas.

    Observe que todas essas modificaes alteraram, tambm, o eixo de

    representao cultural.

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    Novas perspectivas literrias iro surgir em Portugal. A literatura tomar novos

    rumos e buscar interpretar a nova fase que se instala no antigo imprio luso. O

    decadentismo-simbolismo portugus est ligado ideologicamente decadnciado regime liberal-conservador da Regenerao. Aps o Ultimato, afirma-se uma

    reao idealista contra o realismo-naturalismo, identificado com o progressismo

    burgus, que s beneficiava o grande capital.

    A nova atmosfera literria no rompeu de forma violenta com essa corrente: o

    Realismo-Naturalismo portugus estava impregnado de formas neo-romnticas.

    Por isso era preciso intensificar o novo movimento, orientando-o no sentido de um

    maior esteticismo.

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    O Prenncio da Modernidade

    Em um plano geral, a atmosfera decadentista das produes artsticas dos fins

    do sculo XIX est associada ideia de decadncia da sociedade positivista

    burguesa.

    Constitui uma revolta dos intelectuais em favor de uma vitalidade de suas

    produes, que consideravam ameaadas pelo convencionalismo social.

    Decadente era, pois a sociedade, e no as suas produes artsticas. Estas, ao

    contrrio, deveriam ser bem construdas para servir de refgio para a criatividade

    do intelectual. Tratava-se de libertar a vida interior dos dogmas positivistas pela

    fora da criao, atravs da vontade individual.

    A elaborao dos poemas simbolistas, por outro lado, refletia ideologicamente

    a situao histrica vivenciada pelos artistas: a fugacidade e o esmorecimento das

    formas, com um mundo que fugia ao seu controle. A potica instintiva, mas

    distante do espontanesmo romntico, porque defendiam o uso da tcnica: opoema deveria ser bastante trabalhado. De um lado, temos, ento, um

    individualismo exaltado; de outro, a elaborao formal que mascara muitas das

    vezes a exploso individual. H similaridade ideolgica entre esse individualismo

    exaltado e a elaborao formal, que mascara muitas vezes a exploso individual. H

    similaridade ideolgica entre esse individualismo exaltado e o comportamento dos

    revolucionrios anarquistas.

    Charles Baudelaire definiu poeticamente o universo como um sistema decorrespondncia, entre o mundo material e o transcendental entre os seres vivos e

    os inanimados, entre o homem e a realidade exterior. Assim a noo de

    correspondncia fundamental para explicar as produes artsticas finisseculares.

    H correspondncia entre a msica, a pintura, a literatura etc. correspondncias

    sensoriais. As correspondncias ocorrem tambm nos smbolos, que unificariam os

    fatos materiais com os espirituais.

    A arte impressionista coloca-se contra a estandartizao e revela as tenses deum moderno homem citadino. Logo, a realidade vista como um processo, onde

    todas as coisas esto em movimento contnuo. uma artesensorial, isto , procura

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    registrar os objetos atravs de impresses, normalmente pictricas. S que as cores

    parecem estar desligadas do prprio objeto que o artista reproduziu em sua

    produo: elas ganham relativa autonomia.

    O impressionismo surgiu dentro da esttica naturalista. uma reao que

    surge dentro dele, de carter mais elitista. Havia por parte de muitos artistas a

    inteno de se transformar a arte em algo to precioso quanto intil.

    Esse refgio dos artistas no se desvincula da realidade e reproduz, conforme

    o pensamento do grande terico Walter Benjamim, uma atitude ideolgica de uma

    poca daqueles que recusavam os padres positivistas ou mecanicistas. A tcnica,

    entretanto era exaltada. Para Baudelaire, ao contrrio de Rousseau, o mal

    espontneo, e o bem artificial.

    VAMOS REFLETIR

    Tal questo nos remete ao mito do bom selvagem e j foi trabalhada

    no romantismo brasileiro.

    Paul Verlaine, poeta francs (1844-1896), dentro da teoria das

    correspondncias, procurou fazer versos associando-os msica e recomendou a

    associao entre o indeciso e o preciso, segundo a tcnica impressionista. Essaperspectiva musical pode ser observada no poema Um sonho de Eugnio de

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    Castro, o poeta portugus trouxe uma tcnica j desenvolvida pelos artistas

    parisienses. Claude Debussy (1862-1918), por exemplo, musicou poemas de

    Baudelaire, Verlaine e de Mallarm.

    As correspondncias procuradas pelos decadentistas-simbolistas tornam

    inevitvel o surgimento de produes ambguas. Nada direto. A ambiguidade

    passa a ser, dessa forma, um fator inerente linguagem potica. E a conscincia

    desse fato por parte dos escritores vai lev-los sua incorporao de forma

    progressiva. A ambiguidade, como sabemos, um dos fatores bsicos da

    modernidade artstica.

    Os poemas satnicos de Charles Baudelaire (1821-1867) de As flores do mal,

    que desencadearam o decadentismo-simbolismo francs, foram lidos e assimilados

    pela gerao de 45, em escritores como Antero de Quental e Ea de Queirs.

    Cesrio Verde ser, entretanto, o mais baudelairiano dos poetas portugueses:

    apura a tcnica impressionista com uma literatura de nfase sociolgica.

    Perceba, enfim, que as modificaes econmicas, culturais e ideolgicas

    promovem novas maneiras ao fazer literrio.

    A Esttica Simbolista/ A ratificao burguesa

    Antes observamos que a atmosfera decadentista originou o denominado

    movimento decadente, para fins didticos ela pode ser vista esquematicamente,

    em dois momentos: o impressionismo e o simbolismo.

    Assim, o decadentismo leva gradativamente o intelectual europeu a afastar-se

    do sensualismo e a adquirir um ponto de vista tradicionalista e espiritualista.

    O smbolo, portanto, deveria ento estabelecer uma ponte entre os fatos

    matrias e o mundo espiritual, e com isso, procuravam seus cultores - atingir

    atravs do smbolo, um absoluto, de natureza espiritual, imperecvel e pleno.

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    O smbolo sempre existiu na literatura: a diferena

    que nesse perodo temos o uso repetido de metforas e

    smbolos polivalentes, ambguos. E, permaneciam

    intelectualistas quanto ao tratamento da linguagem

    potica conforme orientao de Edgar Alan Poe

    (1808-1849).

    A evaso da realidade, de fundo romntico, constitui

    um tpico do decadentismo. Podemos observ-lo, por

    exemplo, em Jules Laforgue (1860-1887), poeta francs, em cuja produo artstica

    os sentimentos melanclicos do decadentismo so mesclados de ironia crtica. Seutom ntimo e coloquial ter um correspondente portugus em Antnio Nobre.

    A viso decadentista possui pontos em comum com trs teorias filosficas de

    sua poca, que questionavam o cientificismo positivista:

    o irracionalismo de Arthur Schopenhauer (1788-1860), com sua

    filosofia pessimista, mas que considerava a esttica como a maior

    manifestao do homem;

    o intuicionismo de Henri Brgson (1859-1941), que colocava a

    intuio como forma de se chegar ao absoluto;

    o monismo de Edward von Hartmann (1842-1906), que procurava o

    absoluto que estaria subjacente aos fatos naturais em um

    inconsciente (realidade incondicionada e inexplicvel que deveria

    satisfazer s exigncias da razo e s necessidades do sentimento).

    Novos Conceitos para a Lrica

    O conjunto de tais vetores produzem novos conceitos para o fazer potico.

    Perceba que o novo cenrio poltico e social de Portugal influenciaro

    decisivamente o plano cultural.

    O neo-romantismo dessas teorias tem o seu contraponto na concepo

    artesanal do poema, que veio do Parnasianismo. O poeta francs Artur Rimbaud

    Edgar Alan Poe (1808-1849): Este

    autor americano, desconhecido e

    inexpressivo, traduzido para o

    francs por Charles Baudelaire e acaba

    por se tornar o pai do romance policial.

    Pesquise sobre sua obra, gostaria de

    destacar o conto O barril de

    amontilado. Boa leitura.

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    (1854-1891), por exemplo, j mostrava grande preocupao formal com a

    construo de seus poemas. E essa preocupao vai se intensificar cada vez mais

    dentro do decadentismo-simbolismo. O poeta Stphane Mallarm (1824-1898)preocupar-se obsessivamente com a coerncia interna de seus poemas. Com ele,

    o Simbolismo francs chega a seu desenvolvimento mximo.

    O que Lrica? Vale uma pesquisa aprofundada. Trata-se de saber

    indispensvel dentro da taxonomia das organizaes textuais. Portanto, revise os

    contedos de Teoria Literria. E, combine sua leitura com Poticade Aristteles e

    Conceitos fundamentais de poticade Emil Staiger. Por ser algo importante para o

    entendimento da nossa unidade, entenda as colocaes que seguem.

    Etimologicamente vem de Lira, instrumento de corda que, na Grcia Antiga

    era usado para acompanhar a voz no exerccio do canto lrico.

    Nasceu, ento, do encontro

    entre a palavra que a voz

    entoada e o som pausado de

    silncio. A melodia e o ritmoemergiam da palavra para desvelar

    a instabilidade entre som e sentido

    que originam a palavra potica. Na

    Grcia Antiga, fonte auroral da

    lrica, a composio estava ligada,

    entre outros temas, aos

    movimentos do corao, subjetividade reflexiva,

    contemplao do belo que se

    resolvia num erotismo encarnado

    na ideia, mais tarde chamado de

    platnico, e experincia do amor

    e do seu par inseparvel, a dor.

    A Lrica no Romantismo, ao

    fazer uso da liberdade formal,

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    deixa claro que os sentimentos mais ntimos no podem ser aprisionados por uma

    mtrica, submetidos a uma forma. Liberdade que, com Baudelaire, recebe o perfil

    das grandes cidades, com seus marginais, sua multido, e com a incorporao darelao de mercadoria e arte s discusses acerca desta.

    Modificao que com Mallarm, e sua preocupao com a coerncia interna

    do poema, eleva a palavra que agora considerada matria prima da poesia -,

    deixando-nos a ideia de que Poesia se faz com palavras e no com ideias. A palavra

    e sua tipografia, a pgina em branco, os intertextos de silncio, a busca de uma

    linguagem pura que chegue ao impronuncivel so o seu iderio.

    Rimbaud o poeta que leva a Lrica rumo ao desconhecido, criando um

    mundo imagem e a semelhana da poesia, com o seu postulado de que o eu o

    outro, desloca o sujeito lrico de seu lugar de fala; a voz lrica, quando no se

    ausenta, torna-se lugar de voz outra, desconhecida e fascinante. Vide Fernando

    Pessoa, talvez o seu melhor sucessor potico.

    A Poesia Simbolista: Eugnio de Castro e Antnio Nobre

    O movimento simbolista em Portugal ser oficialmente desencadeado com a

    publicao de Oaristos, de Eugnio de Castro (1869-1944), poeta de fraco valor

    artstico, mas de importncia histrica.

    Eugnio de Castro Diz-se simbolista no prefcio de Oaristos e define oprograma da nova corrente literria, baseando-se no manifesto do poeta francs

    Jean Moreas, j o ttulo Oaristos inspirado em Paul Verlaine (1844-1896), assim

    como a tcnica impressionista de composio:

    Um Sonho

    Na messe, que enlouquece, estremece a quermesse ...

    O Sol, o celestial girassol, esmorece ...

    E as cantilenas de serenos sons amenosFogem fluidas, fluindo fina flor dos fenos ...

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    O esteticismo de Eugnio de Castro indica-nos uma preocupao com a arte

    pura, sem qualquer compromisso a no ser com a sua prpria elaborao. So os

    poetas nefelibatas (que andam ou vivem nas nuvens) e o que pretendem um

    distanciamento da realidade cotidiana considerada burguesa. Ao colocarem-se

    contra o aviltamento comercial da arte, situam-se, entretanto, numa perspectiva

    oposta: a arte de elite, de uma aristrocracia de estetas. A tendncia de se afastar

    dos fatores polticos explcitos que caracterizam a produo de Eugnio de Castro

    encontra uma contrapartida nos escritores que incorporam o nacionalismo

    desencadeado pelo episdio do Ultimato.

    So as tendncias neo-romnticas que voltam a aflorar e entre elas esto oneogarretismo, de carter mais tradicional, e o saudosismo, mais progressista.

    Encontramos muito de neogarretismo em Antnio Nobre, escritor que vai

    influenciar um Ribeiro Couto, um Manuel Bandeira ou um Mrio Quintana no Brasil.

    IMPORTANTE!

    O principal escritor do saudosismo portugus Teixeira dos Pascoais

    (1877-1952), que pretendia um renascimento do pas, atravs do novo

    regime republicano. Sua perspectiva idealista: o saudosismo que defendia era

    uma forma de religiosidade mstica. O saudosismo serviu de aproximao entre o

    Simbolismo e o Modernismo portugus, representado pelo movimento da Revista

    Orpheu, isto , orfismo. Os principais escritores do perodo so Camilo Pessanha na

    poesia e Raul Brando, na prosa de fico.

    A principal contribuio da potica de Antnio Nobre (1867-1900) foi a

    utilizao do registro coloquial da linguagem, afastando-se do preciosismo

    vocabular de poetas como Antero de Quental. Em seus versos, confluem o tom

    coloquial que encontramos no poeta decadentista francs Jules Laforgue, mas

    sobretudo na tradio lrica portuguesa, em especial Almeida Garret. A poesia de

    Antnio Nobre volta-se para o passado, o paraso mtico de sua infncia. Obedece,

    assim, aos esquemas ideolgicos da burguesia rural do fim do sculo XIX, que se

    desloca para a cidade. Enquanto categoria social, ela se desestrutura: a perspectivaque tem agora o comrcio com o que ele tem de artificial. E, entretanto, os

    problemas no param em tal estgio. A decadncia do pas chega a todos os

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    setores da sociedade, da vida econmica e social e aparentemente no v soluo

    possvel; s o tdio da situao presente.

    O poeta, ento, procura afastar esse tdio decadente idealizando um passado

    mtico perdido, onde haveria a plenitude. A cidade que trazia em torno de si uma

    perspectiva utpica de paraso, de lcus apto a proporcionar as pessoas

    realizao de seus desejos e necessidades, deixa de ser retratada como panaceia da

    felicidade, deixa de ser o destino dos personagens para se tornar o ponto de

    partida, o local que deve ser deixado para trs, o ambiente a ser descartado.

    Isso no nos remete ao romantismo?

    Os ambientes provincianos e as recordaes da infncia so registrados em

    Antnio Nobre atravs de tcnicas do decadentismo-simbolismo, onde so

    frequentes as sinestesias e as atmosferas vagas ou nebulosas. um poeta que se

    insere mais no decadentismo, comum aos poetas crepusculares, do que

    propriamente no Simbolismo:

    Viagens na Minha Terra

    Virgens que passais, ao sol-poente,Pelas estradas ermas, a cantar!

    Eu quero ouvir uma cano ardente,

    Que me transporte ao meu perdido Lar.

    A essa atmosfera crepuscular, soma-se uma viso infantil do mundo, ele o v

    de acordo com uma perspectiva aparentemente mais ingnua. A seleo de

    palavras mais simples indica-nos uma aproximao do povo: est, nesse sentido,

    mais prximo dele do que o poeta socialista Antero de Quental. E, o pessimismo deseus versos no propriamente individual: a situao de misria que apresenta

    tem na verdade um sentido nacional de todo pas. A viso nostlgica do poeta

    volta-se tambm para a tradio literria portuguesa, Seu principal referente

    Garret, como podemos observar no fragmento do poema j transcrito, Viagens na

    Minha Terra Essa evaso do presente, quando os mitos ptrios so projetados na

    infncia, veio da moda neogarretista da poca. A atitude de evaso similar a do

    decadentismo francs. O poeta recusa a realidade presente, onde encontraria a

    supremacia dos ideais burgueses citadinos.Mais uma vez afirmamos que s possvel analisar Literatura se considerarmos

    o contexto em que produzida.

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    O Decadentismo de Camilo de Almeida Pessanha

    O decadentismo portugus tem em Camilo de Almeida Pessanha (1867-1926)o seu maior poeta. tambm o mais autenticamente simbolista e um grande

    inovador da escrita potica de seu pas, pois influenciar decisivamente os

    modernistas, inclusive Fernando Pessoa.

    Camilo Pessanha conseguiu afastar-se do discursivismo neo-romntico dos

    escritores de seu tempo. Inova a escrita potica ao incorporar procedimentos

    estticos similares aos do decadentismo de Verlaine, em especial no que se refere

    sua aproximao entre a palavra e a msica. Sua percepo de mundo

    fragmentria e apresenta-o atravs das sensaes que considera sem sentido. A

    articulao entre elas no se consuma. Resta ento a escrita potica e a

    desagregao, ou seja, a desagregao formal e desagregao do prprio poeta

    como um ser que no se encontra na sociedade, inspita e fragmentada, como

    tambm num moto contnuo de alteraes, infinitamente mais veloz que a esttica

    feudal que os alfabetizou.

    Os poemas de Camilo Pessanha aproximam-se de um rigor formal de

    Mallarm, mas est bastante distante de seu intelectualismo. Ao contrrio,apresenta uma viso melanclica que o afasta da determinao intelectual que

    encontramos no poeta francs, nos mostra o pessimismo de imagens

    crepusculares.

    A dor uma constante nos poemas de Camilo Pessanha. Ela vem do

    pessimismo, afim do decadentismo francs e do budismo que o poeta conheceu

    em Macau (China), onde trabalhou para o governo portugus. Parece que ele via o

    mundo como que formado apenas por iluso e dor:

    Iluso e dor

    A dor, deserto imenso,

    Branco deserto imenso,

    Resplandecente e imenso,

    Foi um deslumbramento,

    Todo o meu ser supremo,

    No sinto j, no penso,Pairo na luz, suspenso

    Num doce esvaimento.

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    A intelectualizao dos poemas de Camilo Pessanha veio de sua formao

    universitria. Talvez pelo fato de viver em uma sociedade que lhe parecia em

    degenerescncia, a adeso esttica decadentista-simbolista no vai ser para ele

    simples modismo era interior. Parecia que ele cumpria um fado existencial, um

    destino triste. Sentia-se um exilado do mundo, desintegrando-se como o mundo

    que observava e vivenciava.

    A obra potica de Camilo Pessanha foi reunida em Clpsidra.

    Assim terminamos nossa LITERATURA PORTUGUESA III e esperamos que voc

    tenha assimilado os tpicos principais. Como tambm se motivado a pesquisar as

    obras sugeridas nas unidades.

    LEITURA COMPLEMENTAR

    RODRIGUES, Urbano Tavares. Origens e precursores do simbolismo

    portugus.Coimbra: Centelha, 1978.

    COELHO, Jacinto do Prado. Panorama do simbolismo portugus. Porto:

    Porto, s.d.

    HORA DE SE AVALIAR!

    No se esquea de realizar as atividades desta unidade de estudo.

    Elas iro ajud-lo a fixar o contedo, alm de proporcionar sua autonomia

    no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno

    e depois as envie atravs do nosso Ambiente Virtual de Aprendizagem

    (AVA).Interaja conosco!

    Nesta Unidade voc estudou o simbolismo e o decadentismo portugus.

    Esperamos que voc tenha percebido que ao contrrio da realizao literria

    conhecida como conto, os autores do gnero lrico no buscaram o

    desenvolvimento de um projeto autntico, direcionaram-se pelo paradigma

    francs. Dado que nos remete aos contedos da Unidade I. E, ao aspecto cclico da

    disciplina como perspectiva do todo cultural que a literatura.

    Na prxima etapa continuaremos a estudar a literatura em Portugal.

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    Exerccios da Unidade 2

    1-Na Literatura Portuguesa comum encontrarmos um iderio conhecido porprocesso de ufanizao. Sobre tal conceito incorreto o que se afirma na opo:

    a) Trata-se de um sedimento de algumas ideias histricas que vo se

    reproduzindo em todos os momentos e sempre da mesma maneira, ao longo

    de todas as pocas de uma literatura, sempre com a mesma emoo e o

    mesmo sentido.

    b) Trata-se de um projeto ideolgico da construo portuguesa que investiu em

    imagens grandiosas sobre si mesmo.

    c) Trata-se da ideia de reescrever o prprio passado com a aderncia mtica do

    herosmo que povoou em diversas pocas a imagem de um grande imprio.

    d) Trata-se dos autores literrios de fulcro e alguns historiadores que cunharam

    expresses e trechos que, uma vez disseminados pelo edifcio cultural luso,

    projetaram ideais de iluso sobre o sentido real do ser portugus.

    e) Trata-se de um sentimento que muito marcou os perodos literrios da

    Literatura Portuguesa, anteriores ao Decadentismo.

    2-Sobre a atmosfera decadentista das produes artsticas dos fins do sculo XIX,

    incorreto o que se afirma na opo:

    a) Est associada ideia de decadncia da sociedade positivista burguesa.

    b) Constitui uma revolta dos intelectuais em favor de uma vitalidade de suas

    produes, que consideravam ameaadas pelo convencionalismo social.

    c) Entendia-se que decadente era a sociedade e, por reflexo, as suas produes

    artsticas.

    d) As obras decadentistas deveriam ser bem construdas para servir de refgio

    para a criatividade do intelectual.e) Tratava-se de libertar a vida interior dos dogmas positivistas pela fora da

    criao, atravs da vontade individual.

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    3-Avalie os itens abaixo e marque a opo correta:

    1. A elaborao dos poemas simbolistas, por outro lado, refletia ideologicamentea situao histrica vivenciada pelos artistas: a fugacidade e o esmorecimento

    das formas, com um mundo que fugia ao seu controle.

    2. A potica simbolista instintiva, mas distante do espontanesmo romntico,

    porque defendiam o uso da tcnica: o poema deveria ser bastante trabalhado.

    3. De um lado, temos, ento, um individualismo exaltado; de outro, a elaborao

    formal que mascara muitas das vezes a exploso individual.

    4. H similaridade ideolgica entre esse individualismo exaltado e a elaborao

    formal, que mascara muitas vezes a exploso individual.

    a) Todos esto incorretos.

    b) Todos esto corretos.

    c) 1 e 2 esto corretos.

    d) 3 e 4 esto corretos.

    e) 2 e 3 esto corretos.

    4-Sobre a arte impressionista incorreto afirmar que:

    a) Coloca-se contra a estandartizao e revela as tenses de um moderno

    homem citadino.

    b) V a realidade como um processo, onde todas as coisas esto em movimentocontnuo.

    c) uma arte sensorial que procura registrar os objetos atravs de impresses,

    normalmente pictricas.

    d) O impressionismo surgiu dentro da esttica naturalista. uma reao que

    surge dentro dele, de carter mais elitista. Havia por parte de muitos artistas a

    inteno de se transformar a arte em algo to precioso quanto intil.

    e) Nesse refgio os artistas se desvinculam da realidade e reproduzem um

    mundo perfeito, retomando a esttica rcade.

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    5-O esteticismo simbolista indica-nos uma preocupao com a arte pura, sem

    qualquer compromisso a no ser com a sua prpria elaborao. Diante de tal

    afirmativa e considerando que a Literatura uma representao cultural que

    conjuga um somatrio de foras, correto o que se afirma em:

    a) Repudiam-se, por parte dos simbolistas, os poetas nefelibatas, ou seja,

    aqueles que andam ou vivem nas nuvens.

    b) Repudiam-se aqueles que pretendem um distanciamento da realidade

    cotidiana, por ser considerada burguesa.

    c) Ao colocarem-se contra o aviltamento comercial da arte, situam-se,

    entretanto, numa perspectiva oposta arte de elite, em repdio a uma

    aristocracia de estetas.

    d) A tendncia de se afastar dos fatores polticos explcitos que caracterizam a

    produo da escola encontra uma contrapartida nos escritores que

    incorporam o nacionalismo desencadeado pelo episdio do Ultimato.

    e) Retoma-se a poca dos grandes descobrimentos para fundamentar o processo

    de ufanizao presente em tal escola literria.

    6-Sobre a potica de Antnio Nobre, i