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O Processo de Avaliação e Intervenção em Psicopedagogia 1 Shiderlene Vieira de Almeida Lopes Shiderlene Vieira de Almeida Lopes Shiderlene Vieira de Almeida Lopes Shiderlene Vieira de Almeida Lopes Shiderlene Vieira de Almeida Lopes O Processo de Avaliação e Intervenção em Psicopedagogia Curitiba, 2008

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O Processo de Avaliação e Intervenção em Psicopedagogia 1

Shiderlene Vieira de Almeida LopesShiderlene Vieira de Almeida LopesShiderlene Vieira de Almeida LopesShiderlene Vieira de Almeida LopesShiderlene Vieira de Almeida Lopes

O Processo deAvaliação e Intervenção

em Psicopedagogia

Curitiba, 2008

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Sumário

1 INTRODUÇÃO 13

2 FUNDAMENTANDO A PSICOPEDAGOGIA 15

3 A AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA CLÍNICA 17

3.1 ENTREVISTA OPERATIVA CENTRADANA APRENDIZAGEM – E.O.C.A. 21

3.2 SESSÃO LÚDICA OU OBSERVAÇÃO LÚDICA 23

3.3 PROVAS OPERATÓRIAS 24

3.4 PROVAS PROJETIVAS PSICOPEDAGÓGICAS 28

3.5 PROVAS PEDAGÓGICAS 31

3.6 ANAMNESE 34

3.7 ENTREVISTA COM A ESCOLA 35

3.8 PROVAS E TESTES COMPLEMENTARES 37

4 A ANÁLISE DOS RESULTADOS E A CONCLUSÃODIAGNÓSTICA 39

5 A PROPOSTA DE INTERVENÇÃOPSICOPEDAGÓGICA CLÍNICA 41

5.1 A SITUAÇÃO-PROBLEMA 42

5.2 O JOGO COMO ESPAÇO PARA PENSAR 44

5.3 A TOMADA DE CONSCIÊNCIA DO ERRO 46

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 49

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Shiderlene Vieira de Almeida Lopes4

Nota sobre a autoraNota sobre a autoraNota sobre a autoraNota sobre a autoraNota sobre a autora

Shiderlene Vieira de Almeida Lopes é paranaensede Borrazópolis. Graduada em Pedagogia pela Univer-sidade Estadual de Maringá – UEM, possui Mestradoem Educação na área de Psicologia Educacional pelaUniversidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Dou-torou-se em Educação na área de DesenvolvimentoHumano, Psicologia e Educação no ano de 2002, tam-bém pela Universidade Estadual de Campinas. Desdeentão trabalha com ensino superior e pesquisas na áreade Psicopedagogia.

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Plano de CursoPlano de CursoPlano de CursoPlano de CursoPlano de Curso

Especificidade: PsicopedagogiaMódulo: O Processo de Avaliação e Intervenção em PsicopedagogiaAutora: Dr.ª Shiderlene Vieira de Almeida LopesCarga Horária: 60 horas

APRESENTAÇÃO

O presente módulo tem como meta contribuir para o delineamento do cam-po de atuação psicopedagógica no que diz respeito ao processo de avaliaçãoe intervenção clínica.

Sabemos que atualmente são constantes as discussões acerca daPsicopedagogia, seu objeto de estudo e suas áreas de confluência. Contudo, hámuito para se pesquisar e discutir uma vez que essa área de conhecimento,no contexto brasileiro, encontra-se, ainda, em processo de construção.

Dessa forma, nossa finalidade é apresentar os principais instrumentos deavaliação psicopedagógica clínica bem como indicar possíveis caminhos paraas medidas de intervenção no âmbito clínico.

Esperamos contribuir significativamente com seu processo de formação pro-fissional.

Felicidades e bom trabalho!

OBJETIVOS

Objetivo Geral• Compreender a importância da atuação psicopedagógica, sua fundamen-

tação teórica e suas aplicações práticas no âmbito da avaliaçãodiagnóstica clínica e do processo de intervenção.

Objetivos Específicos• Relacionar o campo de atuação da Psicopedagogia com outras áreas de

conhecimento;• Identificar os principais instrumentos de avaliação psicopedagógica clí-

nica, aplicando-os de forma coerente em seu campo específico de atu-ação;

• Conhecer as medidas e estratégias de intervenção psicopedagógica clí-nica, fundamentando a construção de procedimentos próprios de medi-ação;

• Estabelecer relações entre o processo de avaliação diagnóstica e as me-didas de intervenção psicopedagógica.

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METODOLOGIA E ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM

Esse módulo terá uma carga horária total de 60 horas e será desenvolvidoatravés de um sistema on-line. Teremos, portanto, encontros virtuais/presenciaise o restante da carga horária deve ser distribuída de acordo com os seguintescritérios:

• Leitura e análise do material didático impresso;• Pesquisa dos temas complementares;• Desenvolvimento e elaboração escrita das atividades propostas.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

1 Introdução2 Fundamentando a Psicopedagogia3 A avaliação psicopedagógica clínica3.1 Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem – E.O.C.A.3.2 Sessão Lúdica ou Observação Lúdica3.3 Provas Operatórias3.4 Provas Projetivas Psicopedagógicas3.5 Provas Pedagógicas3.6 Anamnese3.7 Entrevista com a Escola3.8 Provas e Testes Complementares4 A análise dos resultados e a conclusão diagnóstica5 A proposta de intervenção psicopedagógica clínica5.1 A situação-problema5.2 O jogo como espaço para pensar5.3 A tomada de consciência do erro6 Considerações Finais

AVALIAÇÃO

Ao longo de todo o texto elaboramos situações que suscitam momentos deauto-avaliação. Para tanto, faz-se necessária a interação com os colegas bemcomo a troca de idéias com os professores tutores. Além disso, faremos umaavaliação escrita final, individual e sem consulta.

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BIBLIOGRAFIAS

BOSSA, Nadia A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da práti-ca. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

BRENELLI, Rosely Palermo. O jogo como espaço para pensar. Campinas, SP:Papirus, 1996.

FLAVELL, J. A Psicologia de Desenvolvimento de Jean Piaget. 4. ed. São Pau-lo: Pioneira, 1992.

LUQUET, G. H. O desenho infantil. Coleção Ponte, 1969.

MACEDO, Lino. Para uma psicopedagogia construtivista. In: ALENCAR, E. M.S. Soriano (Org.). 3. ed. São Paulo: Cortez, 1995.

______. Aprender com jogos e situações problema. Porto Alegre: Artes Médi-cas, 2002.

______; PETTY, Ana L. S.; PASSOS, Norimar C. Quatro cores, senha e dominó.São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997.

MONTANGERO, J.; NAVILLE, D. M. Piaget ou a Inteligência em Evolução.Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

PIAGET, Jean. A tomada de consciência. São Paulo: Melhoramentos, 1977.

______. Fazer e compreender. São Paulo: Melhoramentos, 1978.

RUBINSTEIN, E. A intervenção psicopedagógica clínica. In SCOZ, B. J. L. &col. Psicopedagogia: contextualização formação e atuação profissional. PortoAlegre: Artes médicas, 1991.

SOUZA, Maria Thereza C. Intervenção psicopedagógica clínica: como e o queplanejar. In: SISTO, F. (Org.) Atuação psicopedagógica e aprendizagem esco-lar. Rio de Janeiro: Vozes, 1996.

VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica. Epistemologia Convergente. Porto Ale-gre: Artes Médicas, 1987.

______. Psicopedagogia: Contribuições. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.

WEISS, Maria L. L. Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos proble-mas de aprendizagem. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 1997.

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Não existem caminhos;Os caminhos se fazem ao andar...

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Introdução1Escrever sobre o processo de avaliação e inter-

venção em Psicopedagogia não é uma tarefa fáciluma vez que a discussão estabelecida entre os pro-fissionais da área acerca do referido tema, aindaé uma constante, tratando-se, portanto, de um as-sunto que não se esgotou em si mesmo. De minhaparte, enquanto pesquisadora da área, gosto daidéia de participar de uma discussão que requernovos debates, novos entraves e que, de certamaneira, nos torna atuantes e agentes de um pro-cesso de construção coletiva e, porque não dizer,de “aprendizagem participativa”.

Neste sentido, o presente trabalho, ou melhor,o atual diálogo, com você/aluno, não tem a pre-tensão de apresentar tudo sobre o tema, mas sim,de delinear possíveis caminhos de atuaçãopsicopedagógica para um profissional preocupadoe consciente de sua prática.

Convido você, então, a iniciar uma viagem,partindo da fundamentação da Psicopedagogia,passando pelas pesquisas já realizadas sobre otema de nossa aula e tendo como ponto de che-gada a construção de procedimentos de avaliaçãoe intervenção. Procedimentos, esses, coerentescom a sua ação, com o seu contexto específico deatuação.

Ah! Apenas para lembrá-lo de que por se tratarde uma viagem... Coloque em sua bagagem todoseu conhecimento já construído, já elaborado e tam-bém toda a sua experiência de professor, de pesqui-sador, enfim, de cidadão atuante na sociedade. Cha-mo sua atenção, ainda, para o seu “olhar” durantenosso itinerário. Deve ser um “olhar psicopedagó-gico”, um “olhar” destituído de preconceitos, imbu-ído de consistência teórica e repleto de conheci-mento vivenciado na prática. Não se esqueça dis-so durante toda nossa jornada. Vamos lá?

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Certamente você já deve ter construído umaidéia inicial acerca do objeto de estudo da Psicope-dagogia e, neste momento, cabe relembrá-la.

A Psicopedagogia desenvolve-se no contextobrasileiro no final da década de 1970 e traz con-sigo o objetivo emergente de complementar a for-mação de profissionais envolvidos com a Educaçãoe preocupados com o fracasso escolar. A grandeproblemática, então, estaria em entender porquetantos alunos não eram capazes de aprender, recu-sando, portanto, explicações de caráter puramen-te organicista. Neste contexto, nosso objeto de es-tudo se caracteriza, uma vez que estamos nos re-ferindo aqui, às questões relativas à aprendizagembem como às suas dificuldades. Você deve estar seperguntando se apenas as questões relativas àaprendizagem e suas dificuldades fazem parte donosso objeto de estudo. Ora, se estamos falandoem “aprender”, logo, também precisamos voltarnossa atenção para outros fatores tais como: o de-senvolvimento e o ato de ensinar. A Psicopeda-gogia fundamenta-se, assim, no processo de apren-dizagem, nas suas dificuldades, suas relações como processo de desenvolvimento e nas questões re-lativas ao ensinar.

Para entender todas estas questões, a Psicope-dagogia não opera sozinha, de maneira estanquee isolada, mas sim, recorre a outras áreas do co-nhecimento tais como: Pedagogia, Psicologia,Psicolingüística e também à área médica. Dessaforma, podemos nos referir a um trabalho multidis-ciplinar, isto é, uma ação conjunta de vários pro-

Você já parou para pensar no objeto de estudo da Psicopedagogia? Vocêsaberia defini-lo? Pense um pouco e escreva sobre suas idéias.

Fundamentando aPsicopedagogia2

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fissionais envolvidos com o processo de aprendiza-gem, respeitando, obviamente, o campo de atua-ção de cada especificidade.

O psicopedagogo é, portanto, um profissionalque atua, no campo clínico e institucional, no sen-tido de investigar as causas relativas ao fato de nãoaprender, tanto em seu caráter diagnóstico quantopreventivo.

Gostaríamos de, nesse momento, chamar suaatenção para alguns aspectos essenciais para a for-mação do psicopedagogo. Nunca se esqueça de:

• Ter claro qual o seu objeto de estudo;• Saber qual o seu campo de atuação, respei-

tando as especificidades de outros profissio-nais;

• Trabalhar de maneira multidisciplinar; dialo-gar e trocar idéias com profissionais de áre-as afins;

• Estudar e investigar – sempre – sobre o pro-cesso de aprendizagem bem como suas di-ficuldades;Manter-se atualizado.

Para aprofundar esta questão, você poderiaconsultar outras fontes. Uma sugestão: BOSSA,Nadia A. A psicopedagogia no Brasil: contri-buições a partir da prática. 2. ed. Porto Alegre:Artes Médicas Sul, 2000.

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A AvaliaçãoPsicopedagógica Clínica13

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Se nosso trabalho se desenvolve a partir do pro-cesso de aprendizagem e todos os seus determi-nantes, chegamos, enfim, em um ponto importan-tíssimo para nossa prática psicopedagógica que éa investigação de porque uma criança, um adoles-cente não está aprendendo dentro dos padrões es-tabelecidos pela escola, pela família e até mesmopela sociedade.

Você percebeu que a palavra investigação estáem negrito? Você imagina por quê?

Investigar, no sentido aqui empregado, diz res-peito à avaliação que o psicopedagogo deve de-senvolver no intuito de penetrar nas razões queimpedem um sujeito de aprender. Portanto, avalia-ção = investigação. E por onde será que devemosiniciar nossa investigação, ou melhor, nossa avali-ação?

Partiremos da queixa. Mas o que é uma queixa?A queixa constitui-se de uma reclamação, de

um sintoma, de algo que não vai bem com o su-jeito, neste caso, com seu processo de aprendiza-gem. Esta queixa deve ser investigada pelopsicopedagogo com o intuito de esclarecer o por-que da não-aprendizagem, o motivo da reclamação– seja esta da família, da escola e até mesmo dopróprio sujeito. Ressaltamos, então, que o psicope-dagogo precisa “ouvir” esta queixa, analisá-la,interpretá-la e, assim, seguir no seu processo deinvestigação/avaliação.

Aposto que você durante seu trabalho no con-texto escolar, seja como professor, coordenadoretc., já se queixou a respeito de algum aluno, de

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alguma turma, não é mesmo? Que tipo de comen-tários você teceu? Você se lembra? Anote suas im-pressões.

Nesse sentido, vemos que é comum comentá-rios do tipo: “Não sei o que fazer com este aluno,eu explico, explico e ele não assimila nada.” “Estealuno não presta atenção na aula, só vai bem emPortuguês.” “Este aluno não vai bem na escola e afamília também não ajuda em nada.”

Acho que conseguiríamos listar, facilmente,uma infinidade de queixas apresentadas pelos pro-fessores acerca de seus alunos. E quanto a família?Bem, a família também reclama. É comum encon-trar famílias que procuram o psicopedagogo porqueacreditam que seu filho precisa da ajuda de umprofissional. Portanto, a família também tem umposicionamento, uma visão a respeito da nãoaprendizagem do filho. Além disso, cabe aopsicopedagogo ouvir o sujeito, ou seja, qual a quei-xa que o sujeito faz de si mesmo? E neste caso,destacamos que é comum o sujeito argumentarque: “não consigo aprender, acho que não sou ca-paz”; “não consigo entender o que o professorfala”; “sou relaxado, não presto atenção na aula”.

Lembre-se que esta “escuta” é muito importan-te uma vez que sua investigação tem como pon-to de partida a queixa apresentada pela escola,pela família e pelo sujeito.

Nessa etapa de nosso estudo, você deve estarse perguntando: após a análise da queixa, qualserá o próximo encaminhamento no processo deavaliação psicopedagógica clínica?

A nossa próxima etapa consiste em estudar so-bre o conceito e a aplicação dos instrumentos deavaliação mais utilizados no contexto psicopeda-gógico clínico. Vale salientar que não existe ummodelo pronto e acabado de avaliação psicope-dagógica. Não há como dizer a você que bastaaplicar estes ou aqueles instrumentos e pronto –descobriu-se e resolveu-se a dificuldade de apren-

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dizagem do sujeito. Que bom se assim o fosse!Portanto, apresentaremos alguns instrumentos for-mais que são utilizados em sessões diagnósticasmas, desde já, destacando que estes são apenasreferenciais. Lembre-se que cada caso é um casoem particular. O que pode dar certo com um su-jeito, pode não surtir o mesmo efeito com outro. Oque você não pode perder de vista é que seu su-jeito é acima de tudo:

• Cognitivo;• Afetivo;• Social;• Pedagógico;• Corporal.O que queremos dizer com isto? Que o sujei-

to faz parte de um todo e não podemos identificá-lo por partes. Este é o olhar que você precisa terao aplicar um instrumento de avaliação. Faz-senecessário perceber que o sujeito que está a suafrente possui conhecimentos, afetos, se relacionacom os outros, faz parte de um contexto escolar,se organiza de uma determinada maneira. Enfim,este é o sujeito que o psicopedagogo precisa per-ceber. Para tanto, há instrumentos formais, porém,ouse ser criativo, pesquise e vá além dos que aquiiremos trabalhar.

Vamos, então, conhecer alguns instrumentos deavaliação que o psicopedagogo pode utilizar duran-te as sessões diagnósticas?

• Entrevista Operativa Centrada na Aprendiza-gem – E.O.C.A.

• Sessão Lúdica ou Observação Lúdica• Provas Operatórias• Provas Projetivas Psicopedagógicas• Provas Pedagógicas• Anamnese• Entrevista com a Escola• Provas e Testes Complementares

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Antes de esclarecermos sobre cada um dos ins-trumentos de avaliação elencados, convém discu-tirmos um pouco no tocante a postura dopsicopedagogo quando da aplicação das provas edesenvolvimento das entrevistas.

– Controle sua ansiedade diante do sujeito. Fi-que calmo e comece a estabelecer um vínculocom ele. Isto é essencial para o desenvolvimentode sua avaliação diagnóstica.

– Evite usar expressões como: muito bem, pa-rabéns, você está fazendo direitinho a tarefa. Es-sas expressões acabam por reforçar atitudes no su-jeito. O que o sujeito pensará quando você nãoutilizar estas palavras? Cuidado até mesmo comsua entonação de voz.

– Evite fazer “caras e bocas”. Isto é, expres-sões faciais que denotam aprovação ou reprovaçãodiante do sujeito. Ao olhar nossa expressão o su-jeito perceberá se o que está fazendo está certo ouerrado. O importante na avaliação psicopedagógi-ca é o que o sujeito sabe fazer, o que ele pode econsegue executar, não o que queremos que elefaça. Tente, então, ficar com “cara de paisagem”.(Que tal treinar um pouquinho?)

– Seja verdadeiro, não invente desculpas e/ouhistórias se o sujeito lhe fizer questões quanto aotrabalho que está sendo realizado. “Jogo aberto”nesse momento.

– Trabalhe com a ansiedade e angústias dospais e da escola. Explique acerca do trabalho quevem realizando, mas não deixe que isto atrapalheo desenvolvimento de suas atividades.

– Você pode optar por se sentar de frente ouao lado do sujeito durante a aplicação das provas.Veja como fica melhor para você.

– Estude sobre o instrumento a ser aplicado.

Você já ouviu falar a respeito desses instrumentos? Quais você conhe-ce? O que sabe sobre eles? Registre suas idéias.

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Treine diante do espelho como se estivesse dian-te do sujeito. Corrija possíveis falhas.

– Atenção quanto ao vocabulário utilizado.Evite usar termos complexos, faça uso dos sinôni-mos.

– Você pode fazer anotações durante a aplica-ção das provas. Apenas não se desespere diante dosujeito como se quisesse anotar até mesmo sua res-piração. Você também pode fazer uso do gravador,porém, desde que haja autorização do sujeito eisto não sirva como um inibidor.

– Use termos como: “me explique melhor”,“como assim”.

– Escolha um ambiente tranqüilo, calmo, seminterferências de outros. Escolha um local onde fi-que apenas você e o sujeito.

– Preste atenção em tudo. Qualquer comentá-rio, qualquer conduta, qualquer produção do sujeitoé importante para o diagnóstico psicopedagógico.

– Seja você e perceba que a sua frente existeum “ser humano”.

Sugiro, nesse momento, que você faça uma análise do que acabamosde expor. Reflita sobre a atuação do psicopedagogo bem como o seu graude responsabilidade, consciência e complexidade. Apenas temos a inten-ção de desencadear um processo de tomada de consciência de sua ação.Pense nisso e anote suas idéias!

3.1 ENTREVISTA OPERATIVA CENTRADA NAAPRENDIZAGEM

A Entrevista Operativa Centrada na Aprendiza-gem – E.O.C.A. foi elaborada por Jorge Visca(1987) com o intuito de “permitir ao sujeito cons-truir a entrevista de maneira espontânea, porémdirigida de forma experimental” (p. 72). O autorsugere que a E.O.C.A. seja desenvolvida comouma forma de primeiro contato com o sujeito, umaprimeira entrevista. A proposta de atividades e

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também os materiais podem variar de acordo como sujeito a ser avaliado. Use o bom senso.

Em geral, a lista de materiais utilizada duran-te a entrevista é composta de: folhas brancas, pa-pel pautado, folhas coloridas, lápis preto novo semponta, apontador, borracha, régua, tesoura, cola,revistas e livros.

O procedimento consiste em apresentar osmateriais ao sujeito e solicitar que este mostre oque sabe fazer, o que aprendeu, o que tem vonta-de de fazer. Para tanto, o psicopedagogo pode fa-zer uso de inúmeras consignas, tais como:

Aberta: Gostaria que você me mostrasse o quesabe fazer. Esse material é para você utilizarcomo quiser.

Fechada: Gostaria que você me mostrasse ou-tra coisa que não seja... Me mostre algo diferen-te do que você já mostrou.

Direta: Gostaria que você me mostrasse algode matemática, escrita, leitura etc.

Múltipla: Você pode ler, escrever, pintar, dese-nhar, recortar etc.

Pesquisa: Para que serve isto, o que você fez,que horas são, que cor você está utilizando etc.

Durante a E.O.C.A. preste atenção no que osujeito diz, no que o sujeito faz e na produçãodesenvolvida por ele. As atitudes, os conhecimen-tos que demonstra, enfim, atente-se aos aspectosrelevantes e que possam requerer aprofundamentodurante as próximas sessões. Ah! Não esqueça defazer uso de suas anotações durante todo o proces-so de entrevista.

Visca (1987) propõe que a partir desta análiseseja possível desenvolver o Primeiro Sistema deHipóteses e assim dar continuidade ao processodiagnóstico uma vez que este estabelece quais aslinhas de investigação que o psicopedagogo deveinvestir seus esforços. Lembre-se que as hipótesessão levantadas de acordo com as observações eintervenções desenvolvidas durante a E.O.C.A.

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Você quer saber mais a respeito deste ins-trumento? Pesquise o material do próprio autor:VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica.Epistemologia Convergente. Porto Alegre: ArtesMédicas, 1987 / VISCA, Jorge. Psicopedagogia:Contribuições. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,1991.

3.2 SESSÃO LÚDICA OU OBSERVAÇÃO LÚDICA

A Sessão Lúdica ou Observação Lúdica, comoo próprio nome já sugere, envolve o brincar, olúdico no diagnóstico psicopedagógico. O brincarconsiste em uma forma de expressão e, neste sen-tido, pode contribuir com o processo de avaliaçãodiagnóstica, uma vez que ao brincar o sujeito reve-la pensamentos, ações, atitudes, e que talvez nãopudessem ser observados em outras entrevistas.

Quem já não brincou um dia? Você se re-corda de suas brincadeiras? Vamos relembrar?

Questões afetivas e sociais podem emergir namedida em que brincamos. Certa vez, em umaSessão Lúdica, uma criança disse: “Eu vou brincarde uma coisa. Só que não vou brincar do que euestou pensando, porque senão você (opsicopedagogo) vai descobrir coisas sobre mim”.Esse comentário nos mostra o quanto esse instru-mento de avaliação pode nos auxiliar no diagnós-tico psicopedagógico.

A Sessão Lúdica também pode ser utilizadacomo uma primeira forma de contato com o sujei-to. Sua aplicação consiste em selecionar jogos emateriais lúdicos, de acordo com a faixa etária dosujeito, e solicitar que este brinque e faça aquiloque desejar.

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Atenção com os materiais selecionados. Prefi-ra coisas mais simples, mais baratas e menos so-fisticadas. Exemplo de materiais: jogos comerciais(dominó, damas, memória etc.), materiais de artes,sucata, fantoches, brinquedos de “casinha”, brin-quedos de “escolinha” etc. Não esqueça da faixaetária a que se destinam os materiais.

Durante o desenvolvimento da sessão observeo brincar do sujeito, suas atitudes, suas expressões,suas criações, suas fantasias, seus desejos. Se osujeito solicitar, brinque com ele, participe ativa-mente do processo. Preste atenção em como o su-jeito brinca, que tipo de material escolhe e qualsua relação com você, psicopedagogo.

Ao terminar a sessão, anote suas impressões,suas hipóteses. Se julgar necessário, a Sessão Lúdi-ca pode ser realizada em outros momentos, elapode não se restringir em apenas uma sessão daavaliação diagnóstica.

Que tal exercitar um pouco os instrumentos de avaliação expostos atéaqui? Se preferir, faça um trabalho em grupo. Discuta sobre o assunto e co-loque em prática o que foi visto até agora.

3.3 PROVAS OPERATÓRIAS

As provas operatórias são essenciais no processode avaliação psicopedagógica clínica na medida emque elas possibilitam investigar o nível de desenvol-vimento cognitivo já construído pelo sujeito.

Ao nos referirmos às provas operatórias, nãopodemos deixar de falar nos extensos trabalhosdesenvolvidos por Piaget e seus colaboradores emGenebra, Suíça.

A preocupação essencial de Jean Piaget, bió-logo por formação, era a de investigar acerca daconstrução do conhecimento, isto é, em como umsujeito passava de um estado menor de conheci-mento para um estado de conhecimento cada vez

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mais rico, mais elaborado e mais complexo.Segundo a teoria piagetiana o conhecimento é

construído a partir da interação do sujeito com seumeio físico e social. Portanto, trata-se de uma cons-trução gradual e contínua do conhecimento, a qualconduz o sujeito a patamares de desenvolvimentocada vez melhores. Essa construção gradual doconhecimento é explicada por Piaget por meio deestágios de desenvolvimento.

Ao discutir acerca dos estágios de desenvolvi-mento Piaget, apud Montangero e Naville (1998)estabelece que

no terreno da inteligência, falaremos (...) de estágiosquando as condições seguintes são preenchidas: 1.que a sucessão das condutas seja constante, inde-pendentemente das acelerações ou dos retardos quepossam modificar as idades cronológicas médias emfunção da experiência adquirida pelo meio social(como as aptidões individuais); 2. que cada estágioseja definido não por uma propriedade simplesmentedominante, mas por uma estrutura de conjunto quecaracteriza todas as condutas novas, próprias a esseestágio; 3. que essas estruturas apresentem um pro-cesso de integração tal que cada uma seja prepara-da pela precedente e se integre na seguinte (p. 173).

Nesse sentido, ao fazermos uma avaliação clí-nica do nível de desenvolvimento cognitivoconstruído pelo sujeito não podemos nos basearapenas pela sua idade cronológica uma vez que,segundo Piaget, podem ocorrer avanços e atrasosno que diz respeito ao desenvolvimento de deter-minadas noções. Portanto, falaremos em termos deidades médias, aproximadas.

Você se lembra quais os estágios de desenvolvimento descritos porPiaget? Você deve ter visto alguma coisa no curso de graduação na disci-plina de Psicologia Educacional e no módulo que você já cursou em suaespecialização: Teorias Cognitivas da Aprendizagem. Seria interessante quevocê retomasse esse assunto antes de prosseguirmos.

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Vamos relembrar?• Estágio Sensório-Motor – 0 – 18/24 meses –

Inteligência Prática• Estágio Pré-Operatório – 2 – 7/8 anos – Iní-

cio da Representação• Estágio Operatório Concreto – 7/8 anos – 11/

12 anos – Início das Operações• Estágio Operatório Formal – 11/12 anos –

Pensamento Hipotético Dedutivo

Quer saber mais sobre o assunto?Consulte: FLAVELL, J. A Psicologia de De-

senvolvimento de Jean Piaget. 4. ed. São Pau-lo: Pioneira, 1992.

Você, nesse momento, deve estar tomandoconsciência da importância de conhecer bem esseassunto para que um bom diagnóstico seja realiza-do. Sendo assim, daremos continuidade ao estudodas Provas Operatórias discutindo um pouco acer-ca do método a ser empregado pelo psicopedagogono momento da avaliação.

Jean Piaget (1926), quando dos estudos sobre aconstrução das crenças infantis, preocupou-se emempregar um método de pesquisa “especial”. Se-gundo o autor, os testes de inteligência são insu-ficientes uma vez que estes apresentam sempre asmesmas condições e as mesmas perguntas paratodos os sujeitos. Ou como o próprio Piaget (1926)justifica “operando sempre em condições idênticas,se obtém resultados brutos, interessantes para a prá-tica, mas, com freqüência, inúteis para teorizar,por insuficiência de contexto” (p. 13).

Sendo assim, Piaget propõe um novo método oqual viria a reunir os recursos dos testes e os recur-sos da observação direta descartando obviamente,seus inconvenientes. Esta opção seria o “métodoclínico”.

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No método clínico piagetiano não são apresen-tadas aos sujeitos questões com vocabulário fixo.O experimentador é quem ajusta o seu vocabulá-rio ao do sujeito. Neste contexto, parte-se de idéiase diretrizes que são adaptadas às necessidades doindivíduo. O experimentador desta forma, deveatentar-se para o fato de saber controlar suas hipó-teses no contato com as reações provocadas pelaconversa. Cabe, portanto, ao psicopedagogo iradaptando suas questões em função das respostase atitudes do sujeito que está sendo avaliado. En-tão, faz-se necessário estudar cada prova operató-ria, cada noção que estará sendo avaliada.

E você deve estar se perguntando: quais as pro-vas operatórias que eu devo utilizar em uma ava-liação psicopedagógica?

De início ressaltamos que o psicopedagogodeve fazer uso de pelo menos três provas operató-rias durante uma avaliação diagnóstica. Se após aaplicação você estiver indeciso quanto ao diagnós-tico... Sugestão – aplique novas provas ou repitaaquelas que você já utilizou. Isto é possível! A se-guir apresentaremos as provas mais comuns ao di-agnóstico operatório.

• Conservação de pequenos conjuntos discre-tos de elementos;

• Conservação de líquido;• Conservação de quantidade de matéria;• Conservação de comprimento;• Conservação de peso;• Conservação de volume;• Seriação;• Inclusão de classes;• Dicotomia;Salientamos que não há uma receita pronta e

acabada para aplicação das provas. Estude cadauma delas, faça uma escolha criteriosa daquelasque você considera importante para o caso queestá sendo avaliado. Pense na queixa que vocêtem, reúna os dados coletados durante as provascom os outros instrumentos de avaliação.

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Você obterá mais informações sobre as pro-vas operatórias consultando os livros de JeanPiaget e seus colaboradores. Outro material re-comendado é o livro: Psicopedagogia Clínica:uma visão diagnóstica dos problemas de apren-dizagem, Maria Lúcia Weiss, DP&A Editora,1997. Outra dica é o material escrito que seráenviado para as telessalas, o qual refere-se auma coletânea de instrumentos de avaliação.Nele você encontrará os materiais necessários,roteiros de aplicação das provas e como enca-minhar o diagnóstico. Vamos dar uma boa es-tudada nesses materiais?

3.4 PROVAS PROJETIVAS PSICOPEDAGÓGICAS

O desenho é uma forma de expressão e porisso corrobora significativamente com opsicopedagogo ao longo do processo de avaliação.Por meio do desenho, o sujeito exprime sentimen-tos e revela atitudes concernentes ao seu desenvol-vimento cognitivo.

Quantos e quantos desenhos já nos foram soli-citados ao longo de nossa vida escolar? Você não selembra de suas produções artísticas? Até hoje essaatividade continua em evidência, principalmente naeducação infantil. Porém, ressaltamos que nessemomento nosso intuito é ter um olhar psicopeda-gógico, ou seja, nossa avaliação deverá considerarcada indivíduo como sendo único e particular, comtodas as suas explicações e revelações.

Atenção para análises precipitadas. Analise ocontexto geral do ser humano que está com você.

Isto nos reporta a um caso específico que nosdeparamos ao longo de nossa prática docente: umacriança por volta de 7 anos efetuou um desenhode um quadrado bem ao centro da folha de sulfite.Este quadrado foi colorido com o lápis amarelo,bem forte. A pintura extrapolava os limites do qua-

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drado e a força com que a criança havia coloca-do no lápis amarelo chamava a atenção. Ao fina-lizar o desenho começamos a dialogar sobre o quetinha sido feito. Devemos confessar que a princí-pio achamos que o desenho não era compatívelpara o desenvolvimento da criança, isto é, deixa-va a desejar. Contudo, a criança nos explicou:“Olha, veja bem, aqui eu fiz uma caixa transpa-rente. Você não sabe o que tem dentro dela?” – acriança interpelou com uma certa indignação, econtinuou: “É uma caixa transparente com ummonte de ouro dentro e esse ouro brilha muito,muito. É uma luz muito forte do ouro que sai dacaixa transparente”.

Você consegue perceber o cuidado que preci-samos ter ao aplicar uma técnica que envolve odesenho como foco principal de avaliação? Use,portanto, seus conhecimentos e o bom senso.

Nesse sentido, as provas projetivas psicopeda-gógicas, também formuladas por Jorge Visca, vêmcontribuir com nosso trabalho na medida em queobjetiva verificar a rede de vínculos que o sujei-to possui diante de três domínios distintos: famili-ar, escolar e consigo mesmo.

O material utilizado consiste em folhas de pa-pel sulfite, lápis preto e borracha. Cabe aopsicopedagogo solicitar do sujeito que efetue odesenho a partir das seguintes técnicas projetivasespecíficas:

Domínio familiar• Planta da casa: solicita-se o desenho do

campo geográfico do lugar onde mora e queainda nomeie cada ambiente e quem fazparte dele.

• Quatro momentos do dia: o psicopedagogo do-bra a folha em quatro partes iguais e solicitaque o sujeito faça a mesma coisa com umaoutra folha. Só então se pede para que dese-nhe quatro momentos do seu dia – desde a

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hora que acorda até a hora que vai dormir.• Família educativa: solicita-se o desenho da

família enfatizando o que cada integrantedela sabe fazer.

Domínio escolar• Par educativo: solicita-se o desenho de “um

que aprende e um que ensina”.• Eu e meus companheiros: solicita-se o dese-

nho do sujeito com seus companheiros declasse.

• Planta da sala de aula: solicita-se o desenhodo campo geográfico da sala de aula pedin-do, ainda, que o sujeito faça um “X” no lo-cal em que senta.

Consigo mesmo• Desenho em episódios: o psicopedagogo

deve dobrar a folha em seis partes e solici-tar para que o sujeito desenhe o dia de des-canso de uma criança.

• O dia do meu aniversário: solicita-se o de-senho do dia do seu aniversário.

• Minhas férias: solicita-se o desenho do quefez durante as férias escolares.

• Fazendo o que mais gosto: Solicita-se o de-senho do sujeito fazendo o que ele maisgosta.

Dicas importantes:• Peça explicações para a criança;• Solicite o relato dos desenhos;• Quem faz parte do desenho, qual a idade,

qual o nome;• Que atividade está desenvolvendo;• Faça perguntas complementares quando jul-

gar necessário.

Durante a avaliação escolha as provasprojetivas que melhor atendam seus objetivos. Nãoé necessário aplicar todas elas. Pense na queixa

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levantada pela escola, pela família e nas hipóte-ses de trabalho que você já conseguiu formular atéeste momento da avaliação clínica.

Lembre-se que a análise das Provas ProjetivasPsicopedagógicas depende também dos resultadosobtidos em outros instrumentos de avaliação, istoé, não se trata de uma análise pura e isolada.Analise com cuidado os dados coletados e se forpreciso discuta com outros profissionais, trocar idéi-as, nesse caso, é essencial.

Quer saber mais sobre o desenho infantil?Leitura Complementar:DI LEO, J. A interpretação do desenho infan-til. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.LUQUET, G. H. O desenho infantil. ColeçãoPonte, 1969.

3.5 PROVAS PEDAGÓGICAS

As provas pedagógicas no contexto da avalia-ção diagnóstica têm como foco principal de inves-tigação a análise do avaliando no tocante ao seudesempenho nos conteúdos escolares. Obviamen-te que não se trata de uma análise isolada, ao con-trário, ela sempre deverá estar fundamentada e in-tegrada aos outros instrumentos de avaliação jáaplicados pelo psicopedagogo.

Ou como afirma Weiss (1997):

é necessário que se pesquise o que o paciente jáaprendeu, como articula os diferentes conteúdos entresi, como faz uso desses conhecimentos nas diferentessituações escolares e sociais, como os usa no proces-so de assimilação de novos conhecimentos (p. 93).

O fato de investigar esses aspectos não signi-fica que o psicopedagogo deva fazer uso de ati-vidades puramente didáticas, aquelas repassadas

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rotineiramente no contexto escolar. O que quere-mos enfatizar é que essa etapa não tem como ob-jetivo reproduzir os conteúdos escolares mas enten-der como esses são elaborados e sistematizadospelo sujeito.

Dessa forma, se estamos falando a respeito donível pedagógico do sujeito, devemos considerarque a avaliação diagnóstica deverá versar nos se-guintes aspectos:

• Nível de leitura – observar: leitura incorre-ta das palavras e frases; leitura correta; ní-vel de compreensão da leitura realizada;interpretação de leitura; ritmo de leitura;respeito ou não pela pontuação; acréscimode palavras durante a leitura; invenção depalavras; tom de voz etc.

• Nível de escrita – observar: nível de aqui-sição – pré-silábico, silábico, silábico alfa-bético, alfabético; estruturação de texto –coerência, coesão, temática, criatividade;estruturação gramatical; ortografia; pontua-ção etc.

• Conhecimento matemático – observar: com-preensão das operações aritméticas elemen-tares; procedimentos de resolução de proble-mas; formulação de problemas escritos; re-solução de cálculos mentais; resolução decálculos escritos etc.

O fato de citarmos esses aspectos como sendoessenciais durante o processo de avaliação nãoexclui a possibilidade do psicopedagogo investigaroutras áreas de conhecimento do avaliando – His-tória, Geografia, Biologia etc.

O mais importante nesse contexto é o comoessas situações devem ser apresentadas aos sujei-tos. Para tanto, sugerimos o uso de jogos e ativi-dades lúdicas os quais contemplem as situaçõesque objetivamos investigar.

Vejamos alguns exemplos:

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Leitura e Escrita• Estruturação de histórias por meio de se-

qüências de gravuras, aproveitando o con-texto social do avaliando;

• Leitura de livros e textos solicitados pelo su-jeito e, portanto, de seu interesse;

• Dramatizações seguidas de estruturação detextos e leitura dos mesmos;

• Caça-palavras, palavras cruzadas;• Histórias em quadrinhos;• Estruturação escrita de regras de jogos;• Elaboração de enunciados de problemas do

dia-a-dia – compra, venda, troca.

Conhecimento Matemático• Explicações de procedimentos elaborados

pelo sujeito quando da utilização de jogosde regras: boliche, dominó, damas, xadrezetc;

• Resolução de problemas a partir de situa-ções do cotidiano do sujeito;

• Elaboração de enunciados de problemas dodia-a-dia – compra, venda, troca.

• Elaboração e resolução de cálculos mentaise escritos a partir de procedimentos desen-volvidos pelo sujeito quando da utilizaçãode jogos de regras.

Salientamos que as atividades citadas devemservir como um referencial, cabendo aopsicopedagogo adaptar e criar novas situaçõesquando necessário. Não se esqueça de formular asatividades de acordo com a faixa etária do avali-ando, a série que está cursando e a queixa apre-sentada inicialmente pela família e pela escola.

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Que tal mais sugestões de atividades paraavaliar o nível pedagógico?

Consulte:

MACEDO, Lino. Aprender com jogos e situa-ções problema. Porto Alegre: Artes Médicas,2002.

BRENELLI, Rosely Palermo. O jogo como espa-ço para pensar. Campinas: Papirus, 1996.

E por que não elaborar suas próprias ativi-dades? Vamos tentar?

3.6 ANAMNESE

Você já ouviu falar em anamnese? Este nomelhe é familiar? Provavelmente você deve ter ouvidoesta expressão quando da visita a um médico oua um dentista. Embora seja desconhecida para al-guns, anamnese nada mais é do que uma palavraque evoca recordação, lembrança.

No contexto médico, anamnese abrange as in-formações concernentes ao aparecimento e à evo-lução de uma determinada doença.

No âmbito da Psicopedagogia, a anamnese re-fere-se a uma entrevista realizada com os pais como intuito de investigar e reunir dados que dizemrespeito à história de vida do sujeito que está sen-do avaliado. História de vida que engloba desde omomento da concepção até os dias atuais. Trata-se, portanto, de uma recordação, de uma lembran-ça de dados importantes acerca do sujeito de nossaação.

Existem inúmeros “modelos” de roteiros deanamnese, porém, salientamos que se tratam dereferenciais. As perguntas são apenas norteadoras,podendo, o psicopedagogo acrescentar questões ediscussões que achar conveniente para sua inves-tigação.

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A anamnese aborda os seguintes pontos de in-vestigação:

• Dados de identificação;• Antecedentes Natais – gestação, nascimen-

to;• Doenças e atendimentos médicos;• Desenvolvimento – social, afetivo,

cognitivo, corporal;• Atividades da vida diária;• Histórico escolar.

Durante a realização da anamnese é importan-te atentar para a dinâmica dos pais, ou seja, comose expressam, como interagem no momento daentrevista. Além disso, tente resgatar todos os da-dos que puder, tudo é relevante para uma boa ava-liação psicopedagógica clínica e lembre-se que,nesse momento, você está em busca da história devida de um sujeito que ora apresenta uma queixade que não está aprendendo.

Quer saber mais sobre a anamnese?Pesquise:

WEISS, Maria L. L. A Psicopedagogia Clínica:uma visão diagnóstica dos problemas de apren-dizagem. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 1997.

Vamos praticar um pouco?Por que você não desenvolve um roteiro de Anamnese juntamente com

seus colegas de sala? Sugerimos que você elabore o roteiro de questões eque em seguida desenvolva a entrevista de Anamnese com alguém. É umótimo exercício! Vamos tentar?

3.7 ENTREVISTA COM A ESCOLA

A avaliação psicopedagógica clínica não pres-supõe um trabalho isolado e solitário dopsicopedagogo com o sujeito. Ao contrário, durantetodo esse processo de avaliação é mister que opsicopedagogo mantenha contato com a escola no

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intuito de reunir informações acerca do desempe-nho escolar do avaliando.

Para tanto, você pode agendar entrevistas coma coordenação pedagógica da escola e com o(s)professor(es). Essas entrevistas não se resumem emsimples conversas informais mas em diálogos queobjetivam investigar aspectos específicos do ava-liando. E quais seriam esses aspectos?

Desempenho do avaliando em sala de aula:Organização; responsabilidade; atenção; moti-

vação; ritmo de trabalho; disciplinas em que apre-senta dificuldades e como e quando essas se ma-nifestam; interação com os colegas; relaciona-mento com o(s) professor(es).

Também se constitui importante analisar a par-ticipação da família, o relacionamento dessa coma escola e com o(s) professor(es).

As entrevistas com a escola podem ser grava-das em áudio, mas lembre-se que nesse caso faz-se necessária a permissão por parte dos profissio-nais entrevistados. Se o psicopedagogo, por algummotivo, não puder comparecer na escola, essepode enviar suas solicitações por meio de um ques-tionário. Ressaltamos que as perguntas contidas nomesmo devem ser claras, objetivas e com um vo-cabulário acessível.

A entrevista com a equipe da escola durante oprocesso de avaliação psicopedagógica clínicapode contribuir significativamente no sentido deobter informações que o psicopedagogo não teriaacesso nas sessões realizadas com o avaliando.

Você poderia, nesse momento, investigar qual a visão da escola acercadas dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos alunos. Como é feitoo diagnóstico e se há algum tipo de encaminhamento. Você pode levantaresses dados na sua própria instituição ou, se não tiver contato com o con-texto escolar, que tal visitar a escola de um colega de curso? Com isso vocêestará reunindo informações essenciais para a elaboração de seu questioná-rio ou desenvolvimento de sua entrevista.

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3.8 PROVAS E TESTES COMPLEMENTARES

O objetivo das provas e dos testes complemen-tares é o de responder questões concernentes aodiagnóstico clínico que o psicopedagogo ainda estáem dúvida e por isso julga ser essencial um apro-fundamento para conclusão do seu trabalho.

Nesse sentido, não há um roteiro pronto acer-ca de quais seriam os testes e provas complemen-tares indispensáveis à conclusão do diagnóstico.Salientamos que esse trabalho dependerá da quei-xa inicialmente levantada pela escola e pela fa-mília, além dos dados já reunidos pelo psicopeda-gogo a partir de todo o processo de avaliação re-alizado até o momento.

Assim, dependendo do resultado dos instrumen-tos aplicados anteriormente, o psicopedagogo aindapode pesquisar mais dados referentes a:

• Provas de leitura, escrita, matemática e deoutras áreas de conhecimento;

• Exames clínicos: neurológico, oftalmológico,fonoaudiológico etc;

• Análise dos materiais escolares do avaliando;• Exame motor;• Teste de audibilização;• Entrevistas complementares com a família e

a equipe da escola;• Testes Psicológicos (uso exclusivo do psicó-

logo).

Portanto, o psicopedagogo, nesse momento,precisa fazer uso de seu bom senso e ética no sen-tido de não ultrapassar os limites de sua prática,ou seja, se existirem casos nos quais o diagnósti-co necessite da ajuda de outros profissionais, opsicopedagogo deverá fazê-lo. Isso significa traba-lhar de maneira multidisciplinar: discutindo, pes-quisando e interagindo com as diversas áreas deconhecimento que envolvem o trabalho psicope-dagógico.

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A análise dos resultados e aconclusão diagnóstica4

Ao final do processo de avaliação psicopedagó-gica clínica, o psicopedagogo, certamente, deve-rá já ter constituído uma visão geral acerca do su-jeito de sua ação. Dito de outra forma, o psicope-dagogo terá que ter claro o que vem acontecendocom o avaliando do ponto de vista de sua apren-dizagem e seus intervenientes.

Para tanto, faz-se necessário que, nesse mo-mento, o psicopedagogo reúna os dados coletados,analise-os e elabore sua conclusão diagnóstica.

A conclusão diagnóstica refere-se a uma des-crição a qual deve englobar aspectos como:

• Análise do nível pedagógico;• Análise do nível cognitivo;• Análise das questões relativas ao desenvol-

vimento social;• Análise das questões relativas ao desenvol-

vimento afetivo.

Você pode estar se perguntando: é o momen-to de sintetizar tudo que aconteceu durante o pro-cesso de avaliação? A resposta a essa pergunta éafirmativa.

Sendo assim, elabore sua síntese, seu textodescritivo, relatando todos os aspectos que julgarnecessário para esclarecer as dificuldades deaprendizagem apresentadas pelo avaliando.

Vale ressaltar também que é a hora de dar suadevolutiva para a família e para a escola, afinal,eles estão ansiosos por esse momento. Marque umaentrevista com os pais, explique acerca do traba-lho realizado e delineie sua conclusão diagnóstica.Faça o mesmo com a equipe da escola.

Não se esqueça que nessa etapa você já deveter em mente quais deveriam ser as medidas de in-tervenção que você adotaria para o caso, portanto,

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sugerimos que continue a leitura desse materialpois a seguir abordaremos a proposta de interven-ção psicopedagógica clínica.

Vamos lá?

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A proposta de intervençãopsicopedagógica clínica5

Antes de explicitarmos em que consiste a in-tervenção psicopedagógica clínica devemos escla-recer a respeito das relações intrínsecas entre di-agnóstico e intervenção.

Objetivamos, portanto, explicar que um bomdiagnóstico conduz a medidas de intervenção efi-cazes.

Nesse sentido, a relação mútua existente entreo processo de investigação e intervenção nos fazcompreender o quanto é importante a análise detodos os dados coletados durante a avaliaçãopsicopedagógica na medida em que será por meiodessa que o psicopedagogo obterá subsídios parafundamentar sua prática no momento específico deintervenção.

No contexto da Psicopedagogia, o tema – in-tervenção psicopedagógica clínica – ainda conduza indagações e debates que nos remete, sobrema-neira, à idéia de que precisamos estudar e pesqui-sar cada vez mais.

Segundo o dicionário Aurélio, intervenção sig-nifica: “ato de intervir; interferência”. Para aPsicopedagogia intervir é o mesmo que mediar, deoutro modo, intervenção = mediação. Mas medi-ação de quê? Mediação entre o sujeito e seu pro-cesso de aprendizagem e desenvolvimento. Opsicopedagogo, nesse caso, assume o papel demediador, ou seja, aquele que servirá de ponteentre o sujeito e sua aprendizagem.

Rubinstein (1991) afirma que “a intervençãopsicopedagógica tem como principal meta contri-buir para que o aprendiz consiga ser um protago-

Você já parou para pensar em que consiste a intervenção psicopedagó-gica? Reflita um pouco e anote suas idéias.

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nista não só no espaço educacional, mas na vidaem geral” (p. 104).

Portanto, ao ser o mediador, o psicopedagogoprecisa ter claro que ele deverá auxiliar seu sujei-to a refletir sobre sua ação, seus pensamentos bemcomo ir em busca de caminhos possíveis para mo-dificação dos mesmos.

Mas quais diretrizes seguir? Quais as possibili-dades de mediação entre o sujeito e seu processode aprendizagem?

São inúmeros os pesquisadores que com seustrabalhos colaboram para a prática dopsicopedagogo no tocante às estratégias utilizadasno processo de intervenção psicopedagógica clíni-ca. A seguir, apresentaremos três propostas que, aonosso ver, são essenciais para as atividades dopsicopedagogo.

5.1 A SITUAÇÃO-PROBLEMA

Lino de Macedo (1995, 1997, 2002) sugere quea intervenção psicopedagógica pode se dar pormeio de situações-problema as quais aparecemfreqüentemente nos jogos de regras.

Mas o que seria a situação-problema?Para entendermos o que o autor tem a nos di-

zer a respeito, precisamos, acima de tudo, resga-tar o referencial teórico por ele utilizado. Macedofundamenta-se em uma visão construtivista daPsicopedagogia e portanto, estabelece que o co-nhecimento é construído gradativamente na medi-da em que o sujeito interage com seu meio. E éexatamente a partir dessa interação contínua queo sujeito irá se deparar com situações-problemaque irão requerer do mesmo o desenvolvimento deprocedimentos e estratégias com o objetivo deresolvê-las e ultrapassá-las.

Nessa perspectiva, a situação-problema susci-ta um desequilíbrio, uma perturbação, que “obri-ga” o sujeito a buscar meios, respostas, estratégias

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de ação, sempre com a intenção de solucionar oproblema proposto.

Para Macedo, o jogo de regras são ótimos re-cursos para a intervenção psicopedagógica umavez que estão repletos de situações-problema. Istoé, a cada jogada o sujeito é convidado a pensar,a refletir sobre o que está fazendo e a buscar mei-os possíveis de cumprir seu objetivo final que évencer o jogo, superar o desafio.

Um exemplo de situação-problema1

Vamos ver se você consegue ordenar as linhasembaralhadas desse texto. Numere-as de 1 a 12,aproveitando as dicas2:

( ) O arco-íris (ou na linguagem( ) tem origem na mitologia( ) deusa Hera e também de Zeus,( ) na literatura, no cinema, na pintura( ) grega: Íris, a mensageira da( ) pelo arco das cores. Ela ligava( ) popular, “arco-da-velha”, “arco-celeste”,( ) e no folclore de todos os povos( ) descia do céu caminhando( ) através dos tempos. Seu nome( ) “arco-da-aliança”) é presença constante( ) o mundo das divindades ao dos mortais.

E então, o que achou do desafio? Gostou?Este é apenas um exemplo de como o desafio,

a situação-problema nos convida a pensar, a refletirsobre a atividade proposta.

Vale ressaltar que durante a intervençãopsicopedagógica, não basta somente passar a ati-vidade, mas faz-se necessário questionar o sujeito,argumentar com ele, impor possíveis contradições,� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � ! � � " # � � � � � $ " % � � � " � � � � � � � � ! � � � � & � � � � " � � ' � % � � ( ) * + *, * - . / 0 . 1 2 , . ( 3 4 5 6 * 1 + 5 , 2 , * 7 + 0 2 , / 2 8 , * 9 : . ; 2 / 8 . < = 4 + 0 5 0 / 0 . , * ; + 5 > . 8 . ? 5 2 < @ A A B (C D * + E . + 0 2 F G 2 1 > . H I 1 5 + J . / 4 2 8 5 4 ? / 2 ? * K E . E / 8 2 1 < L 2 1 > . H , 2 H 6 * 8 M 2 N < L 2 1 > . H > * 8 * + 0 * N < L 2 1 > . H , 2 H 2 8 5 2 4 O 2 N P Q E 1 * + * 4 O 2 > . 4 + 0 2 4 0 * 4 2 8 5 0 * 1 2 H0 / 1 2 < 4 . > 5 4 * K 2 < 4 2 E 5 4 0 / 1 2 * 4 . R . 8 > 8 . 1 * , * 0 . , . + . + E . 6 . + 2 0 1 2 6 Q + , . + 0 * K E . + ( 9 * / 4 . K * 0 * K . 1 5 ? * K 4 2 K 5 0 . 8 . ? 5 2 ? 1 * ? 2 S T 1 5 + < 2 K * 4 H+ 2 ? * 5 1 2 , 2 , * / + 2 U * 1 2 * 0 2 K V Q K , * W * / + < , * + > 5 2 , . > Q / > 2 K 5 4 M 2 4 , . E * 8 . 2 1 > . , 2 + > . 1 * + ( 7 8 2 8 5 ? 2 6 2 . K / 4 , . , 2 + , 5 6 5 4 , 2 , * + 2 . , . +K . 1 0 2 5 + (

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ou seja, fazer com que o sujeito aja e compreen-da as conseqüências e os limites de suas ações.

Macedo assinala ainda que qualquer resposta éimportante uma vez que as situações-problemapermitem a análise dos erros e das estratégias uti-lizadas pelo sujeito.

Vamos praticar mais um pouco? Aqui está outro exemplo, ou melhor,outra situação-problema3 para você resolver.

Quatro amigas, Bia, Raquel, Gabriela e Juliana, moram num mesmoprédio de quatro andares. Cada uma delas mora num andar diferente. Biamora abaixo de Raquel. Gabriela mora acima de Juliana. Raquel moraabaixo de Juliana. Será que você consegue descobrir em que andar cadauma das meninas mora?

Que tal, nesse momento, elaborar suas pró-prias situações-problema? Exercite um pouco eanote tudo o que desenvolver. Quer saber arespeito da situação-problema? Consulte:

MACEDO, Lino; PETTY, Ana L. S.; PASSOS,Norimar C. Quatro cores, senha e dominó. SãoPaulo: Casa do Psicólogo, 1997.

MACEDO, Lino. Aprender com jogos e situa-ções-problema. Porto Alegre: Artes Médicas,2002.

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Brenelli (1996) destaca os jogos como uma es-tratégia de intervenção tanto no contexto escolarquanto na Psicopedagogia. A autora estabeleceque a idéia da utilização dos jogos como forma depromover a aprendizagem é bem antiga, porém, aomesmo tempo, chama a atenção dos profissionaisquanto ao uso de jogos apenas como forma de di-vertimento.

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Do ponto de vista da autora, o jogo, no con-texto pedagógico e psicopedagógico, deveria serutilizado no sentido de resgatar nos sujeitos queapresentam dificuldades de aprendizagem, suamotivação, sua auto-estima, seu interesse e, poroutro lado, proporcionar o aprimoramento e a cons-trução do conhecimento.

Ao propor as atividades de intervenção pormeio de jogos de regras Brenelli (1996), quando desuas pesquisas, elaborou o seguinte roteiro:

• Aprendizagem do jogo: engloba a explica-ção das regras do jogo e a observação, porparte do psicopedagogo, de como o sujeitoefetua suas jogadas, sem, contudo, intervirnesse processo.

• Conhecimento das peças: nesse momento ésolicitado ao sujeito que explique o materi-al que compõe o jogo, que compare as pe-ças do jogo e que as classifique. O impor-tante nessa fase é a exploração do material,bem como as diferentes formas de organizá-lo.

• O “jogar”: essa etapa abrange o jogar propri-amente dito; há intervenção por parte dopsicopedagogo uma vez que esse solicita aosujeito a construção de diferentes estratégias eprocedimentos durante as jogadas efetuadas.

• Invenção de novos jogos: nesse momento ésolicitado ao sujeito que invente novas regrase assim, formas diferentes de jogar. O sujei-to estabelece e constrói suas próprias regras.

• Representações gráficas: nessa etapa é pe-dido ao sujeito o registro escrito das jogadasefetuadas e a representação gráfica dos jo-gos inventados. Portanto, esse procedimentopermeia todo o processo de intervenção pormeio de jogos na medida em que solicita oregistro e a representação daquilo que foidesenvolvido pelo sujeito no plano da ação.

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Após a realização de inúmeras pesquisas, ten-do o jogo como estratégia de intervenção, Brenelli(1996) conclui que: “as situações-problema engen-dradas pelo jogo durante a intervenção (...) cons-tituíram um ‘espaço para pensar’, no qual o pen-samento da criança foi desafiado e sua atividadeespontânea, responsável pelo desenvolvimento dainteligência, foi desencadeada da maneira a cons-truir novos esquemas que ampliaram as suas pos-sibilidades adaptativas. (...) a criança foi solicita-da a agir, e suas ações desencadearam os meca-nismos responsáveis pela construção do conheci-mento” (p. 172).

Nesse sentido, o jogo de regras corrobora como trabalho do psicopedagogo, em seu processo demediação, na medida em que promove aprendiza-gem e desenvolvimento. Sem contar os aspectosafetivos que também estão envolvidos uma vezque o sujeito precisa lidar com a frustração da per-da, do fracasso e a empolgação e o sucesso doganhar.

Quer saber mais sobre o trabalho realizadopela autora? Consulte: BRENELLI, RoselyPalermo. O jogo como espaço para pensar.Campinas, SP: Papirus, 1996.

Vamos exercitar um pouco?Que tal escolher um jogo e elaborar todas essas atividades de interven-

ção propostas por Brenelli (1996)? Você pode fazer esse trabalho juntamentecom seus colegas de sala, em pequenos grupos.

5.3 A TOMADA DE CONSCIÊNCIA DO ERRO

Vinh-Bang (1990) ao propor a intervençãopsicopedagógica baseia-se no método clínicopiagetiano.

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Lembra-se do método clínico proposto porPiaget? Esse assunto foi exposto quando dialogamosacerca do diagnóstico operatório. Sugerimos retomara leitura daquele item antes de prosseguirmos.

Tendo em vista o aporte teórico adotado,Vinh-Bang (1990) destaca que um dos aspectosmais importantes durante a intervençãopsicopedagógica consiste na análise dos erros nasproduções elaboradas pelos sujeitos. Segundo oautor, os erros apresentados pelos sujeitos indicamquais procedimentos devem ser alterados, corrigi-dos, e, nesse sentido, assinala que:

• Toda resposta é significativa;• Toda resposta é válida.

A intervenção psicopedagógica, diante desseponto de vista, deveria, portanto, privilegiar areconstituição do procedimento que deu origem àresposta, o que levaria o sujeito a constatação doseu erro, bem como sua correção.

Nesse contexto, não há um roteiro fechado dequestões para delinear o trabalho durante o proces-so de intervenção, apenas faz-se necessário articu-lar e elaborar situações que provoquem a apariçãodos erros e que solicitem do sujeito um procedi-mento corretor.

Cabe ao psicopedagogo mediar o processo detomada de consciência do sujeito. Mas em queconsiste essa tomada de consciência?

Para Piaget (1977), não se trata de uma simplesincorporação ou iluminação, mas que englobauma construção gradual. A tomada de consciência,assim, se caracteriza “(...) pela conceituação deuma ação, ou de outra maneira, refere-se à passa-gem de uma forma prática de conhecimento, deum ‘saber fazer’, em direção ao compreender. Aação constituindo um conhecimento autônomo, um‘saber-fazer’, que a princípio não depende do com-preender. A conceituação engendrando o ‘compre-ender’, ou seja, constituindo uma compreensão das

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razões que levam o sujeito ao êxito ou ao fracas-so” (LOPES, 2002, p. 12).

É nesse sentido que a tomada de consciênciatorna-se essencial quando nos referimos ao processode intervenção psicopedagógica clínica. Porém,ressaltamos que cabe ao psicopedagogo reunir ati-vidades que solicitem do sujeito a reconstituiçãode seus procedimentos bem como a compreensãodos mesmos.

Deseja saber mais sobre os temas discuti-dos nesse item? Consulte:

SOUZA, Maria Thereza C. Intervençãopsicopedagógica clínica: como e o que plane-jar. In: SISTO, F. (org.) Atuação psicopedagó-gica e aprendizagem escolar. Rio de Janeiro:Vozes, 1996.PIAGET, Jean. A tomada de consciência. SãoPaulo: Melhoramentos, 1977.PIAGET, Jean. Fazer e compreender. São Pau-lo: Melhoramentos, 1978.

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Considerações finais6Como dissemos no início desse trabalho, não

era nossa intenção esgotar a discussão acerca dotema proposto – O Processo de Avaliação e Inter-venção em Psicopedagogia. Ao contrário, nossoobjetivo consistiu, durante todo o desenvolvimen-to desse diálogo, em suscitar sua curiosidade emotivá-lo para o estudo e a pesquisa acerca doassunto em questão.

Esperamos ter cumprido nosso objetivo!De nossa parte, ainda temos a acrescentar:“Por quantas estradas, entre as estrelas, preci-

sa o homem mover-se em busca do segredo final?A jornada é difícil, infinita, às vezes impossível, noentanto, isto não impede que alguns de nós a ten-temos...

Poder-se-ia dizer que nos reunimos à caravanaem um certo ponto: viajaremos até onde for pos-sível; mas não podemos, durante uma vida, vertudo que gostaríamos de observar ou aprender tudoque desejaríamos saber”. (Loren Eisely, The imensejourney)

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REFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIAS

BOSSA, Nadia A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da práti-ca. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

BRENELLI, Rosely Palermo. O jogo como espaço para pensar. Campinas, SP:Papirus, 1996.

DI LEO, J. A interpretação do desenho infantil. Porto Alegre: Artes Médicas,1985.

FLAVELL, J. A Psicologia de Desenvolvimento de Jean Piaget. 4. ed. São Pau-lo: Pioneira, 1992.

LOPES, Shiderlene V. de A. A construção dialética da adição e subtração e aresolução de problemas aditivos. Tese (Doutorado). Universidade Estadual deCampinas. Faculdade de Educação, 2002.

LUQUET, G. H. O desenho infantil. Coleção Ponte, 1969.

MACEDO, Lino. Para uma psicopedagogia construtivista. In: ALENCAR, E. M.S. Soriano (Org.) 3. ed. São Paulo: Cortez, 1995.

______. Aprender com jogos e situações problema. Porto Alegre: Artes Médi-cas, 2002.

______. PETTY, Ana L. S.; PASSOS, Norimar C. Quatro cores, senha e dominó.São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997.

MONTANGERO, J.; NAVILLE, D. M. Piaget ou a Inteligência em Evolução.Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

PIAGET, Jean. A representação do mundo na criança. São Paulo: Melhoramentos,1977.

______. A tomada de consciência. São Paulo: Melhoramentos, 1977.

______. Fazer e compreender. São Paulo: Melhoramentos, 1978.

RUBINSTEIN, E. A intervenção psicopedagógica clínica. In: SCOZ, B. J. L. etal. Psicopedagogia: contextualização formação e atuação profissional. PortoAlegre: Artes médicas, 1991.

SOUZA, Maria Thereza C. Intervenção psicopedagógica clínica: como e o queplanejar. In: Sisto, F. (Org.). Atuação psicopedagógica e aprendizagem escolar.Rio de Janeiro: Vozes, 1996.

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TORRES, Marcia Zampieri. Processos de desenvolvimento e aprendizagem deadolescentes em oficina de jogos. Tese de Doutorado. Universidade Estadualde São Paulo, Instituto de Psicologia, 2001.

VINH-BANG. L’intervention psychopédagogique. Archives de Psychologie, n.58,p. 123-135. 1990.

VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica. Epistemologia Convergente. Porto Ale-gre: Artes Médicas, 1987.

______. Psicopedagogia: contribuições. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.

WEISS, Maria L. L. Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos proble-mas de aprendizagem. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 1997.

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O Processo de Avaliação e Intervenção em Psicopedagogia 53

INTRODUÇÃO

Há algumas décadas que profissionais de dife-rentes áreas se preocupam com a questão do fra-casso escolar e as dificuldades de aprendizagemapresentadas pelos alunos; e é este contexto quenos impulsiona a buscar alternativas para comba-ter essa situação que não é só escolar, familiar,mas também social.

Na tentativa de uma compreensão integradorado processo de aprendizagem é que se desenvol-ve a Psicopedagogia, área de conhecimento espe-cífica que recorre a outros campos de atuação epesquisa – psicologia, pedagogia, sociologia, antro-pologia, lingüística, neurologia – não desviando,porém, de seu objeto de estudo que diz respeito àaprendizagem e suas dificuldades.

De acordo com Scoz (1994), a Psicopedagogiavem ganhando espaço no contexto educacional bra-sileiro e despertando cada vez mais, o interesse deinúmeros profissionais. Embora a Psicopedagogiatenha nascido com o objetivo de promover uma re-educação das crianças com problemas de aprendi-zagem, atualmente ela se preocupa também com aprevenção do fracasso escolar.

A formação do Psicopedagogo se estabelece apartir da integração entre teoria e prática, por meiode um processo dialético, possibilitando a aquisi-ção de um perfil de atuação que relacione os co-nhecimentos teóricos a uma postura profissionalconsciente, não esquecendo do caráter multidis-ciplinar que envolve este trabalho.

Manual de EstágioSupervisionado emPsicopedagogia Clínica*

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Convém ressaltar, nesse momento, as palavras deVisca (1991): “(...) eu comecei com a Psicope-dagogia Clínica, clínica num sentido mal utilizadoda palavra, querendo dizer que é trabalhado, noconsultório; porque clínica não significa isto deforma nenhuma. Na escola se faz clínica, na co-munidade se faz clínica, no sentido de perceber osujeito como ele é” (p. 14-15).

Nesse sentido, podemos observar que a Psico-pedagogia é a integração de diferentes ciências,que aponta como centro de sua ação e reflexão,a área pedagógica, sublinhando fatores psicológi-cos, propondo-se a compreender o indivíduo en-quanto aprendiz – suas potencialidades, dificulda-des e modalidades de aprendizagem – tendo emvista os padrões evolutivos normais e patológicos.

Portanto, a proposta de Estágio SupervisionadoClínico tem como objetivo aliar a teoria ao exer-cício da prática psicopedagógica possibilitando aoestagiário um aquecimento para o desenvolvimentodo papel profissional de “psicopedagogo”.

OBJETIVOS DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO EMPSICOPEDAGOGIA CLÍNICA

Possibilitar ao estagiário:• a articulação entre teoria e prática;• a vivência da avaliação diagnóstica em

psicopedagogia clínica.

O ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM PSICOPEDA-GOGIA CLÍNICA

Onde realizar o estágio?Em escolas ou em clínicas psicopedagógicas.

Com quem realizar o estágio?Com uma criança ou adolescente – faixa etária

entre 7 e 14 anos – que esteja apresentando umadificuldade de aprendizagem. Vale ressaltar que oaluno deverá se abster de realizar a avaliação

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O Processo de Avaliação e Intervenção em Psicopedagogia 55

diagnóstica com crianças/adolescentes que este-jam fazendo parte de seu quadro de alunos nasinstituições em que trabalhem ou que lhes sejamparentes próximos ou pessoas de sua intimidade.

O estágio é individual?Ele pode ser realizado individualmente ou em

duplas.

O estágio é opcional?Sim, o aluno pode optar não fazê-lo.

Qual é a carga horária?O estágio compreende uma carga horária total

de 160h.

A carga horária total do estágio corresponde aquais atividades?

As 160h do estágio supervisionado clínico de-verão ser distribuídas entre as seguintes atividades:

• Leituras, pesquisa e estudo sobre o tema.• Elaboração e confecção de materiais de

avaliação.• Sessões realizadas com o sujeito, com a fa-

mília e a escola.• Elaboração e redação do relatório de estágio.

Deve-se considerar aqui qualquer outra ativida-de que o aluno tenha desenvolvido e que, de al-guma maneira, contribua para a execução do seuestágio. O aluno deverá fazer o registro destas ob-servações para que possam ser consideradas.

Quantas sessões o estagiário deve realizarcom o sujeito que está sendo avaliado?

Sugere-se um mínimo de 8 sessões e um má-ximo de 15 sessões.

Quanto tempo dura cada sessão?Em média, uma sessão de avaliação requer em

torno de 50 minutos a uma hora.

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Quantas sessões devem-se fazer durante asemana?

Sugere-se de 2 (duas) a 3 (três) sessões semanais.

Como se dá a aprovação do aluno-estagiário?Cabe ao aluno desenvolver todas as atividades

propostas e redigir seu relatório de estágio, o qualserá avaliado e deverá obter nota mínima de 7.0(sete) ou conceito C. Ao aluno que não alcançaro conceito mencionado, a Supervisão de estágioconcederá menção de Insuficiente na referida dis-ciplina. Desta forma, o aluno poderá realizar novoEstágio Supervisionado em uma nova turma.

Quais são os critérios de avaliação?Serão analisados os seguintes aspectos:• Desempenho nas atividades teórico-práticas

promovidas durante a realização do estágio.• Apresentação do relatório dentro das normas

técnico-científicas previamente estabelecidas.• Capacidade de aplicação teórico-prática dos

conteúdos formativos na área da Psicopeda-gogia pertinentes ao estudo de caso clínico.

• Capacidade analítica, crítica e contextuali-zada na abordagem textual do relatório.

Quais os documentos que o estagiário precisa?• O estagiário de Psicopedagogia Clínica apre-

sentará na instituição a Carta de Apresenta-ção, devidamente assinada pelo tutor datelessala, para que possa realizar o estágio.

• O responsável pela instituição deverá assi-nar a ficha de Declaração, autorizando o es-tagiário a realizar seu trabalho. Esta fichadeverá ser devolvida pelo estagiário junta-mente com o relatório final.

• O estagiário deverá preencher a Ficha deIdentificação do Estagiário, devidamenteassinada pelo tutor da telessala e esta fichaserá anexada ao relatório final.

• Preencher a Ficha de Acompanhamento de Es-tágio, assinada pelo responsável da instituição

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em que o trabalho se realizou, e esta fichaserá anexada ao relatório final.

Qual o roteiro para elaboração e redação dorelatório de estágio?

1) Capa (conforme Anexo I)2) Folha de rosto (conforme Anexo II)3) Termo de Aprovação (conforme Anexo III)4) Sumário5) Introdução6) Dados da Instituição (onde se realizou o es-

tágio)7) Dados do Avaliando8) Registro da Queixa (escolar e familiar)9) Registro descritivo dos encontros realizados

para aplicação dos testes e provas (com asanálises e hipóteses levantadas), seguindo aordem estabelecida para a avaliaçãodiagnóstica

10) Parecer Diagnóstico11) Proposta de Intervenção (com detalhamen-

to das atividades)12) Considerações Finais (relatar a experiência

pessoal vivenciada pelo estagiário)13) Referências14) Anexos

Como deve ser a apresentação do relatório deestágio?

Cabe ao aluno redigir seu relatório a partir dosseguintes critérios:

• Texto normalizado segundo as normas daABNT.

• O texto deve ser redigido com um mínimode 30 e um máximo de 50 páginas, não in-cluídas as demais páginas que compõem orelatório (capa, folha de rosto, sumário, re-ferências, anexos).

• O relatório deverá ser encaminhado aos tu-tores das telessalas para que estes sejam en-viados para a CEAD – Coordenadoria deEducação a Distância/Facinter.

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ANEXO I � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � ! � � � � � � " � � � � � � # � � � � � � � $ � � � � � � � �� � # � � � % � � � � � � � � � � � ! � ! � � � & � � � � � # � � � ! � ! � �

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ANEXO II� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �

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ANEXO III

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Impresso em maio de 2008 pela Reproset Indústria Gráfica, sobre offset 75 g/m2