LivroDigital_Amorim2009

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ISBN digital: 978-85-7713-112-9 Elizabeth Macedo Roberto Sidnei Macedo Antonio Carlos Amorim (Organizadores) FE 2009

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ISBN digital: 978-85-7713-112-9 Elizabeth Macedo Roberto Sidnei Macedo Antonio Carlos Amorim(Organizadores) FE 2009 Copyleft - Organizadores,2009 Elaborao da ficha catalogrficaImpresso e acabamento Gildenir Carolino Santos (Bibliotecrio) FE/UNICAMP - Campinas (SP) Tel: (19) 3521-5571 Apoio Disponvel em: http://www.posgrad.fae.unicamp.br/gtcurriculoanped/publicacoes.htmlFaculdade de Educao UNICAMPAv. Bertrand Russell, 801 Cid. Universitria 13083-970 Campinas SP Tel: 19-3521-5584 / 3521-5576 Tiragem digitalApoio logstico Roberta Pozzuto (Disponibilizao digital) Gildenir Carolino Santos (capa, formatao) Conselho Editorial 2009 Antonio Carlos Amorim, Carmen Teresa Gabriel, Carlos Eduardo Ferrao Coleo: E-book GT Currculo Catalogao na Publicao (CIP) elaborada por Gildenir Carolino Santos CRB-8/5447 D631 Discurso, texto, narrativa nas pesquisas em currculo / Elizabeth Macedo, Roberto Sidnei Macedo, Antonio Carlos Amorim (organizadores).--Campinas, SP:FE/UNICAMP, 2009. (E-book GT Currculo)

ISBN: 978-85-7713-112-9 1.Currculos.2. Pesquisa educacional.3. Metodologia.4.Prtica docente.I. Macedo, Elizabeth.II. Macedo, Roberto Sidnei.III. Rodrigues, Antonio Carlo Amorim.IV. Srie. 09-0453-BFE20a CDD -375 ndice para catlogo sistemtico: 1. Currculos3752. Pesquisa educacional370.783. Metodologia001.424. Prtica docente371.102 Todos direitos reservados Permitida a reproduo em qualquer meio, desde que citada a fonte. Produzido digitalmente no BrasilDezembro - 2009 ISBN: 978-85-7713-112-9 ISBN digital: 978-85-7713-112-9(E-book) 2 SUMRIO Discurso, texto e narrativa nas pesquisas em Currculo ................................................ 01 Carlos Eduardo Ferrao e Carmen Teresa Gabriel Anlise sobre currculo como discurso, texto e narrativa ............................................. 16 LauraCristinaVieiraPizzi,JarbasSantosVieira,MariaManuelaAlvesGarcia,lvaro Moreira Hypolito, Maria Ceclia Lorea Leite e Madalena Klein Discursos como conversaes, narrativas e imagens nas pesquisas em currculo ......................30 Janete Magalhes Carvalho Discursos e textos nas polticas de currculo .............................................................................. 40 Alice Casimiro Lopes e Rosanne Evangelista Dias Currculo (des)figura, diagrama da linguagem .......................................................................... 51 AC Amorim A significao da prtica atravs do discurso ..........................................................................60 Arlete Pereira Moura Currculo como enunciao: discurso e produo curricular ..................................................... 66 Dbora Raquel Alves Barreiros e Rita de Cssia Prazeres Frangella OBSERVATRIODECULTURAESCOLAR:investigaessobreascondiesdeproduo de discursos pedaggicos diante da incluso escolar ................................................................. 77 Fabiany de Cssia Tavares Silva As noes de textos, discursos e narrativas nas pesquisas nos/dos/com os cotidianos: polissemia, relaes de poder e interdiscursividade ...................................................................................... 84 Ins Barbosa de Oliveira e Alexandra Garcia Currculoenarrativa:potencialidadesdasmnadasparaumaoutracompreensodos acontecimentos educativos ......................................................................................................... 90 Maria Ins Petrucci Rosa Sobre conversas ..........................................................................................................................97 Aristteles de Paula Berino, Carlos Roberto de Carvalho, Mailsa Passos, Nilda Alves e Paulo Sgarbi EstudosepesquisasemcurrculoeformaonosmbitosdoFORMACCEFACED/UFBA:a centralidade da narrativa implicada ......................................................................................... 107 Roberto Sidnei Macedo Currculo, discurso e discursos................................................................................................. 114 Maria Zuleide da Costa Pereira 3 Apresentao

Dandocontinuidadecriaoinauguradanoanode2005,oTrabalho EncomendadodoGTCurrculo,tambmnesteanode2009,configura-seapartirdo debate de textosescritos por pesquisadores que participam de grupos de pesquisa sobre currculo no Brasil e que, aps convidados, interessaram-se em dialogar a respeito da temticaDiscurso,texto,narrativanaspesquisasemCurrculo. OdebatedoTrabalhoEncomendadofoiproporcionadopeloProf.Dr.Carlos EduardoFerrao(UFES)epelaProfa.Dra.CarmenTeresaGabriel,apartirdaleitura prviadostextos,edaapresentaodosmesmosnaformadepsteresdurantea32 Reunio Anual da ANPEd,com a produo de uma apreciao escrita, todos constantes na publicao desta coletnea.

Elizabeth Macedo e Roberto Sidnei Macedo Coordenao do GT Currculo (Binio nov.2007- out.2009) 4 Discurso, texto e narrativa nas pesquisas em Currculo1 Carlos Eduardo Ferrao (PPGE/UFES) Carmen Teresa Gabriel (PPGE/UFRJ) (...)lertextoscomopretenderammuitos,lerindcios como pretendeu Ginzburg (1989), ler, ler... O mundo um imenso texto, escrito em muitas lnguas, passvel de muitas leituras. (texto 8) Chego,agora,aoinefvelcentrodomeurelato; comeaaquimeudesesperodeescritor.Toda linguagemumalfabetodesmboloscujoexerccio pressupeumpassadoqueosinterlocutores compartem;comotransmitiraosoutrosoinfinito Aleph,queminhatemerosamemriamalemal abarca? [...] O que viram meus olhos foi simultneo; o quetranscreverei,sucessivo.Poisalinguagemo. Algo, entretanto, registrarei. (Borges 2001, p. 169, apud texto2). No falaremos do ponto de vista da lua. No queremos. No podemos. Lemos ostextos.Osdozetextosquenosforamenviados.Apostamosquecomasnossas leituraspudssemospotencializarconversasentreospesquisadoresquesefizeram representarcomostextos,eentreosoutrostantosgruposdepesquisanoBrasilsobre currculoquenoparticiparamdopresentetrabalhoencomendado,masque,dealgum modo, esto virtualmente envolvidos nas discusses do GT. 1Os12textosrecebidosforam:1.ANLISESOBRECURRCULOCOMODISCURSO,TEXTOE NARRATIVA(UFAL;UFPel);2.DISCURSOSCOMOCONVERSAES,NARRATIVASE IMAGENSNASPESQUISASEMCURRCULO(PPGE/UFES);3.DISCURSOSETEXTOSNAS POLTICAS DE CURRCULO (PROPED- UERJ) 4. CURRCULO (DES)FIGURA, DIAGRAMA DA LINGUAGEM(UNICAMP);5.ASIGNIFICAODAPRTICAATRAVSDODISCURSO (GEPPC/UFPB)6.CURRCULOCOMOENUNCIAO:DISCURSOEPRODUO CURRICULAR-(PROPED-UERJ);7.OBSERVATRIODECULTURAESCOLAR:investigaes sobreascondiesdeproduodediscursospedaggicosdiantedainclusoescolar(UFMS/ OCE/PPGEdu)8.ASNOESDETEXTOS,DISCURSOSENARRATIVASNASPESQUISAS NOS/DOS/COMOSCOTIDIANOS:POLISSEMIA,RELAESDEPODERE INTERDISCURSIVIDADE(PROPED-UERJ);9.CURRCULOENARRATIVA: POTENCIALIDADESDASMNADASPARAUMAOUTRACOMPREENSODOS ACONTECIMENTOS EDUCATIVOS(UNICAMP); 10. SOBRE CONVERSAS (PROPED-UERJ); 11. ESTUDOSEPESQUISASEMCURRCULOEFORMAONOSMBITOSDOFORMACC FACED/UFBA:ACENTRALIDADEDANARRATIVAIMPLICADAUFBAe12.CURRCULO, DISCURS0 E DISCURSOS (UFPB) 5 Certeau(1994)nosajudaasustentaressaidiaquandovasartesdelereas artes de conversar como processos que se inter-relacionam e que no so passividades, mas invenes annimas. Como defende o autor, Asretricasdaconversaordinriasoprticastransformadorasde situaes de palavra, de produes verbais onde o entrelaamento das posieslocutorasinstauraumtecidooralsemproprietrios individuais,ascriaesdeumacomunicaoquenopertencea ningum.Aconversaumefeitoprovisrioecoletivode competnciasnaartedemanipularlugarescomunsejogarcomo inevitveldosacontecimentosparatorn-loshabitveis.(CERTEAU, 1994, p. 50). Lemosassimcomoseestivssemosentrandoemumarededeconversaes, tentandoentrelaaralgunsfiosdediferentesposieslocutorascomotentativade instaurar outros tecidos oraisescritos, isto chegando a [...]umpontodeencontroparaondeconvergeme divergemdiversosidiomas[...]seencontram diferentesuniversosdediscurso,reconhecem-seum aooutroegozamdeumarelaoindiretaque nenhum dos dois pede ou prev ao ser assimilado ao outro. (MichaelOakesh1950,p.10,apudPinar,2007,p.293-294, apud texto 2) Conversas que envolvem discursos, textos, narrativas, imagens, sons, encontros, silncios e silenciamentos (texto 2) e que j vm acontecendo muito antes de todas essas escritasseremproduzidas.Escritasquelemosassim,comopausa,comoumrecurso disponvelparaestancarprovisoriamenteosfluxosdensoseintensosdesentidosque essaconversaomobiliza.Umapausaparapensarsobreoquedizemos,eaodizer comosignificamosaspalavrasqueutilizamos,sobreoporqudeutilizarmos/fixarmos essessentidosnessaspalavrasparadiz-lasesobreosefeitosdoquedizemosnas nossas pesquisas. Uma pausa para entendermos como essas palavras foram se tornando personagens conceituais para as reflexes do campo, isto (...)aquelasfiguras,argumentosouartefatosque entramcomoooutro-aquelecomquesedialogae quepermanecepresentemuitotempoparase acumularidias,faze-lasmudar.Atmqueestar, paraqueopensamentosedesenvolvaeparaque conhecimentos sejam criados. (texto 10) Com esse texto, aproveitando-nos da pausa, entramos na conversa. Uma entrada diferenciadanamedidaemquetivemospreviamenteacessosdemaisescritas.Mas 6 uma entrada que nos coloca em uma posio no, necessariamente, cmoda. Tentamos lutarcontraalgumastentaesbviasqueemergemcomforanessassituaes: apresentar uma sntese das idias apresentadas, dos temas mais recorrentes, Ou ainda, aproveitardafluidezprovisoriamenteestancadaeproduzirumtextofechado, pretensamente conclusivo. Transformar a pausa em final, se possvel, feliz. Pensamosento,parafugirdessetipodetentao,naidiadatranscriode umarededeconversaopossvel,isto,nainstauraodeumtecidoescritosem proprietriosindividuais(CERTEAU,1994),alinhavadocomfiosdefragmentosde idias que nos chamaram ateno nas leituras. Um textotecido que se preocupasse mais emtranscreveralinhavar,tentandofazerconversar,oqueosdiferentestextosdiziam. Masumatranscrioalinhavocomautoriapartilhada.Texto-transcrio-alinhavo-autoria-partilhada no sentido de tentar trazer - para essa segunda rodada de conversao, ps-pausa-questes,tensespresentesnosdiferentestextos,sendo,cadaumdeles, muitos textos. Afinal, Osresultadosdesseesforosoapropriaes distintas, composies com filiaes mais delimitadas aumcampotericooumaishbridas(...) Experimentamosaprodutividadedessesnovos olharesnapesquisaenaconstituiodenossos objetosdeinvestigaoepotencializamosnovos discursoseolharessobreosfenmenosque estudamos,buscandoasuperaodecerto reducionismoeeconomicismoquenossasanlises talvez tenham tido em outros tempos. (texto1). Texto-transcrio-alinhavo-autoria-partilhadasempretensodecpiafieloude sermosexaustivosnosentidodeesgotarasdiscussesdaroda.Umaconversatecida, comselees,recortes,reatualizaesdesentidos.Umtexto-leitura-conversaapartir daquilo que queramos trazer paraa roda. E o que trazer para a roda? Com as leituras, fomosdestacandofragmentosdeidiasquenospareciampromissorasparaodebate. Idiasqueexplicitavammodosdeabordageme/outratamentoterico-metodolgico-epistemolgicodostemasenvolvidosnotrabalhoencomendado.Idiasnospareceram potentes medida que iam sendo tecidas (in)voluntariamente com as leituras dos textos, ouseja,idiasquesecolocavamapartirdasconversasquefomosestabelecendo virtualmente entre os textos dos Grupos de Pesquisa. Assim,emumprimeiromomento,interessou-nosentenderaformade incorporaodostermostextoenarrativa,discursopelosgrupos.Oqueouso 7 dessaspalavrasnosfalavasobreasdiscussespresentesnocampodocurrculo. Concordando que []umapalavrasesituaantesdetudo.Apalavra essencialmenteummeiodeserreconhecido.Elaesta antesdequalquercoisaquehajaatrs.E,porisso, ambivalente e absolutamente insondvel. O que ela diz, ser verdade?Serquenoverdade?umamiragem.essa primeira miragem que lhes assegura que est no domnio da palavra. [...] A palavra institui-se como tal na estrutura do mundo semntico que o da linguagem. A palavra no tem um nico sentido, o termo, um nico emprego. Toda palavra tem sempre um mais-alm, sustenta muitas funes, envolve muitos sentidos. Atrs do que diz um discurso, h o que ele querdizer,e,atrsdoquequerdizer,haindaumoutro querer-dizer, e nada ser nunca esgotado (Lacan, 1986 p. 273-275, apud texto 6). Seremostambmautores,enunciadores.Entramos,poisnaredede conversaes com mais um texto, e ComoemBabel,essamultiplicidadedetextosede leituras possveis (...) faz com que muitos dos debates emquenosengajamosgiremmaisemtornodagiremmaisemtornodagiremmaisemtornodagiremmaisemtornoda possibilidadedeconstituiodeumcampodepossibilidadedeconstituiodeumcampodepossibilidadedeconstituiodeumcampodepossibilidadedeconstituiodeumcampode inteligibilidadeentreosinterlocutores inteligibilidadeentreosinterlocutores inteligibilidadeentreosinterlocutores inteligibilidadeentreosinterlocutoresdoque, propriamente,emtornodasidiasdostextos (in)compreendidos de uns e outros. (Texto 8). Paraalgunsgruposessapossibilidadeinvestenaidiadequeaspalavrastexto, narrativaediscurso,aoevocaremmultiplicidades,pluralidades,fluidez,mobilidades, entre outras idias expressas nas noes de polifonia, polissemia, complexidade, multiplicidadedesignificados,redesdesentidos,processosdesignificao, diffrance,multirreferencialidade,heterogeneidadesdiscursivas,implicao, multiplicidadepartilhada,fluxosdemovimentos,redesdeconversaeseaes complexas, abertura einacabamento, intertextualidade, partilha de significados, bricolagens,zonasdeescape,entreoutrasnoestrazidasparasustentaros argumentos,pressupenaimpossibilidadedesetomaressaspalavrascomosinnimas de determinao, fechamento e/ou fixao de sentidos. 8 Para outros essa possibilidade assume outros encaminhamentos quanto aos usos (CERTEAU) de textos, narrativas e discursos em suas pesquisas quando ,por exemplo, operam com a idia que, (...)mesmoparapoderdiferenciar,subverter significados,temdehaverumsignificado.[...]Todo discursoconstitudocomoumatentativade dominarocampodadiscursividade,deprendero fluxo das diferenas, de construir um centro. s (Laclau e Mouffe, 2001, p. 112, apud texto 1). Outros movimentos, partilhando dasnoes de hermenutica diatpica e teoria da traduo em Boaventura de Souza Santos (2004), advogam tambm que (...) os diferentes falantes e produtores de discursos [ao atriburemsentidos]aosconceitosenoesdeque lanammonaproduodosseusconhecimentose discursos,[ofazem]pormeiodatransformaode topoiemargumentos,enfrentandodificuldadesque lhesoinerentes(...)parapensarapossibilidade efetivadatraduo,considerandoaindelvele inevitvel polissemia das palavras. (Texto 8). H,ainda,movimentosqueapostamemumpermanenteprocessodetessitura das redes como potncia de uso dos textos, discursos e narrativas.Assim,naconversao,aparticipaodlugar pluralidadeepolifonia,assumindoumestado descentrado, de tal modo que a pluralidade e no o Eu ou o Outro que ser o foco do encontro. (Texto 2). Textos-fragmentos-transcries-propostas,entretantasoutraspossveis,de constituiodeumcampodeinteligibilidadeentremuitosinterlocutores.Inteligvele hbrido.Hibridodematrizestericas,hbridodeapropriaespolticas,hbridode sentidos de currculo que sustentam o debate.E como texto transcrio proposta hibrido no est sujeito a(...)umanicaleitura.Desenvolvemos,assim,oque consideramosumapossvelleituradessestextos, tendoemvistaastradies(Mouffe,1996) curriculares quenorteiamnossos modos deler. (texto 3) 9 Umainteligibilidadequenopressuponhaumatraduoanuladorada heterogeneidadeedaambivalnciadossentidos,umatraduoque(...)nopodeser total nem absoluta pois (...)elasempreseconfrontacomoseuduplo,como intraduzvel,tensoquedmargemaincerteza perturbadora.Traduzir,nosdizeresdeDerrida (2001a), negociar, compartilhar, transitar e ocupar espaos de ambivalncia.(texto 6) Umainteligibilidadequeseconstitua,comotal,nacontingnciadodebates travados.Umainteligibilidadeproduzidanaconversao.Pluralidademanifestana presenademuitosconvidadostantodeforacomodedentrodoCampodoCurrculo. Maisatdeforadocampo(casoaindaalgumafronteirapossaouinteresseser delineada)como,porexemplo,Foucault;Elias;Certeau;Laclau;Mouffe;Bauman; Bakhtin;Derrida;Maturana;Ginzburg;Canevaci;Habermas;Leibniz;Ardoino; Castoriadis;Wittgenstein;Lacan;Freire;Benjamim;Santos;Marx;Bernstein; Bourdieu;Atlan;Bhabha;Appadurai;Hall;Fairclough;Deleuze;Canclini;Howarth; Guattari; Ngri.Muitos desses interlocutores foram trazidos para essas redes de conversaes por maisdeumgruposemnecessariamentequeassuasrespectivascontribuiestericas tenhamsidoapropriadas,recontextualizadas,significadasdamesmaforma.Nem tampouco utilizadas para sustentar o mesmo tipo de argumentao.So muitos os quadros tericos dessas redes de conversaes. Falamos de muitos lugaresdiferentes:dosEstudosCulturais,dosEstudosPs-Coloniais,doPsEstruturalismo,doEstruturalismo,daFilosofiadaLinguagem,daFilosofiada Diferena, da Teoria do Discurso, da Anlise do Discurso, dos Estudos Enunciativos, do Marxismo,doPs-Marxismo,dosEstudosdoCinema,dosEstudosdaFotografiaede tantosoutros.Desseslugaresfecham-sesentidosdecurrculo.Criam-semetforas curriculares.Nomeia-seocurrculo.Inventam-senoesdecurrculo.Mesmosabendo provisriosessessentidos,metforas,noes,nomesnossonecessrios,assimcomo umpersonagemconceitual.Maisum.Efomosencontrando...Currculos-palavras-conceitos... 10 Atos do currculo; Currculo como artefato;Currculo (des)figura; Currculo como discurso, texto e narrativa; Currculo como entre-lugar; Currculo como enunciao; Currculo como inveno; Currculo como processo;Currculo como produo cultural;Currculo como redes de conversaes; Currculo como redes de significaes; Currculo como significante vazio;Currculo cultural;Currculo especializado; Currculo flexvel; Currculo hbrido;Currculo interpretado; Currculo narrativo; Currculo praticado; Currculo prescrito; Currculo programa; Currculo vivido;Mnadas que narram currculos; E mais e mais e mais...(Extrado dos diferentes textos). Aidentificaodessestermos,expresses,idias,noes,conceitos...nos colocou,emumprimeiromomento,odesafiodeimaginar/pensarsobreas aproximaes e/ou distanciamentos que existem entre as produes dos integrantes dos gruposdepesquisa,isto,sobreaspresenase/ouausnciasderefernciasquenos permitissem ver como esses grupos estabelecem ou no dilogos entre si. Opodernegociadopodeampliarosespaosdiscursivosde todos (Texto 12). Emumsegundomomento,essaidentificaodemltiplasnoesdecurrculo noscolocouanecessidadedeproblematizarsobreosdiferentesusosquesofeitosde ummesmoautore/outeoriaresultandonoesdecurrculoquenonecessariamente partilham dos mesmos princpios e/ou interesses. Qual a potncia dessasaproximaes e/oudistanciamentosparaocampodocurrculoe,porefeito,paraaeducao?Que desdobramentos essa discusso traz para os grupos de pesquisa? 11 Nestamesmalinhadeargumentao,ouseja,na articulaoentreacentralidadedaculturanosestudosde currculonoBrasildosltimosanoseoqueemminhas pesquisasquerodialogarcomestecampo,aescolhapor rasurarasidiasdeidentidade,diferena,corpoe representaomostra-sesensvelesignificativamente interessanteparaproporoplanodesensaoede composio para o currculo. A proposta de constituio de um plano, em uma geografia dassensaese composio, desafiodepensarsemrepresentar:novamenteaqui enfrentaropoderdaspalavras,imagenseobjetosparece-me um compromisso poltico a ser assumido (...)(Texto 4). Mas, ao propormos uma noo para o currculo, possvel escaparmosda lgica representacional?Com toda essa produo discursiva e suas tentativa de nomear currculo , nos fomos nos dando conta de (...)comoafluidezestancadaquandoaestrutura descentradamomentaneamentefixadaemtorno deumcentroprovisrioeumtextoespecfico construdo ( texto 6) Do mesmo jeito, essa escrita tambm constitui certos modos de endereamento. Um texto rasura. Em nossas leituras, enxergamos alguns outros eixos/endereamentos porondepropomosestancarprovisoriamenteosfluxosdossentidospresentesna conversa.Endereamentosessesvistoscomoportadoresdetensesdenossa contemporaneidadequeperpassameconstituemocampodocurrculojustificando,de certaforma,aincorporaoeousodessestermos.Tensesnasquaisosfluxosde sentidosqueasconstituemtendemaserfixadoscomocrises:criseparadigmtica; criserepresentacional,crisedosujeito,crisedautopia,crisedatotalidade. Incorporarnouniversosemnticodocampodocurrculotermoscomonarrativa, texto e discurso para nomear o que se quer nomear pode ser entendido como formas de buscar enfrentar desafios, epistemolgicos e at mesmo verdadeiras aporias que essas crises provocam em termos de possibilidade de inteligibilidade do mundo. A inteno aqui no a de classificar os textos/grupos tendo como critrio esses enderaamentos.Emprimeirolugarporqueissonoseriapossvelnamedidaemque eles(eixos)noseapresentamestanques,nemisolados.Osfluxosdesentidosde 12 razo,cultura,verdade;realidade,sujeito,poder,emancipao, hegemonia,totalidade,subjetividadequeconfiguramequalificamessascrises estoempermanenteprocessodehibridizaoerecontextualizaonosendo facilmente capturveis.Emseguidanoestamosnospropondofazerumaclassificao,nemmesmo cartografias. Nossa proposta ler e dar a ler outros sentidos, discursos, narrativas e,textosqueentramemjogoquandonomeamosediscutimossobrecurrculo operandocomessestermos.Termos(discursoetexto)queoraaparecemconfundidos, comosinnimo,eoraaparecemcomsignificadosdistintos.Omesmoocorrecom discursoenarrativa:algunsgruposutilizamnarrativascomodiscursosoudiscurso como mltipas possibilidades de narrar jeitos de ser e de ver.Outros tratam esses termos de forma diferenciada, por exemplo, quando textos enarrativassosignificadoscomofontesdediscursos.Poderamoscontinuaresse jogo de distanciamento e aproximao entre os termos, mas no isso que nos interessa trazer para essa roda. No estamos atrs de uma definio unvoca e correta Instiga-nos entendernessejogodelinguagemosefeitosdeverdadequeoempregodessestermos produznocampodocurrculoparapensarporexemplooqueosgruposemquesto vm elegendo como objeto de investigao de suas pesquisas: Discursospedaggicos;discursoseducacionais; polticaseducacionais,produodeidentidades, culturaescolar;histriadocurrculo;polticas curriculares,alteridade,identidadedocente; literaturainfantil,adiferena;espaosescolares; prticasdocentes;discursosdeconhecimento; currculocomum;Cultura;cotidianoescolar; aprendizagememdiferentescontextos;gesto democrtica;trabalhodocente;inclusoescolar (extrado dos diferentes textos) Outromovimentocomoqualpropomoscontinuarnossasconversas corresponde s discusses que enfatizam a questo da prpria inteligibilidade do mundo pautadanosignificadodeumarazomodernasoberana,transparentecentradaemum sujeitouniversal,conscientedarealidade.Associadaaoprojetohegemnicoda modernidadeessetipodeinteligibilidadetorna-separaalgunsintelectuais contemporneos e estudiosos do campo do Currculo insatisfatria para a compreenso e significao de nossa contemporaneidade. 13 A produo do conhecimento cientficoconfigurador de teoriasexplicativas, os mecanismosacionadosnessesquadrostericosparaoestabelecimentodaverdade passamaseralvosdeproblematizaesequestionamentos.Nocampodocurrculo,o usodotermonarrativa(nessecasousadocomosinnimodediscurso)temsidoum recurso retrico mobilizado por diferentes textos/grupos para dar conta da busca de uma alternativaparanomearconhecimento,teoria,jnoenfrentamentodacriseda razomodernailuminista.Narrativacomono-teoria.Narrativaparafixarfluidez, incerteza.Assim,maisqueclassificarcoisasefenmenosou analis-losapartirdofechamentotericoem campos gravitacionais, importa manter a abertura paraaincerteza,advida,aproblematizao constante,aocontrriodeumaperspectiva orientadaporguiastericoscomseuspercursos repetitivos,envolvendoumadomesticao disciplinada de itinerrios de pesquisa. ( texto1) Narrativas/discursosverdadeirosdentroeapenasdentroderegimesde verdadeconstrudoshistoricamentenosdiferentescamposdisciplinares.Nesse movimentoanalticodesestabilizarumaidiadeverdadesignificadesestabilizaruma idiadecentroqueparamuitostinhasetornadoopontodepartidaoudechegada para o pensamento moderno e suas teorias. Centro no sentido de origem das coisas, deessnciaprimeira,defundamento.Assim,otermonarrativa,quando empregadonocampodocurrculo,carregatambm,emboranemsempre,sentidosde descentramento.Enosdaverdade.Descentramentosdosujeito,darealidade abrindoespaoparaqueumsentidodelinguagemassumaumpapel(central?)no quadrodeinteligibilidadedomundo,oumelhoracondiomesmadaprpria inteligibilidade.Osefeitosdesseacontecimentocomearama produziradesestabilizaodascertezassobreo conhecimento,osujeito,aconscincia...aeducao. Naausnciadeumcentro,deumanaturezada coisa,odiscursoinvadeateorizaosocial,no maiscomosinnimodelinguagemneutrae transparente,querepresentaobjetivamentea realidade,mascomoconstituidordaprpria realidade. ( texto1) 14 Temposdeviradacultural,deviradalingstica.Temposdebuscar alternativasparasecolocaroutrosenovospersonagensconceituaisparanosajudara compreender e explicar. Tempo de textos, narrativas e discursos. Relacionadoaodescentramentodaverdadeabsolutaecentralidadedacultura comoespaodeenunciaoedisputasdesentidos,umoutropontodeendereamento dessetextopodeserdadopelasdiscussesqueperpassamosgruposcarregando posicionamentos sobre o que tem sido fixado como crise do sujeito.Constatandoofatodequeassociedadesliberaisde consumoproduzemindivduostriviais,Atlan vislumbraumcaminho,que,segundoeleestreito, maspossvelparaformao.Essecaminhose encontranamodificaodanossarelaocoma verdade e o fundamento. (texto11) Paraunsnomaispensaremtermosdeumsujeitoauto-centrado,portadorde uma identidade nica e engessada, autnomo, consciente e conscientizvel(...)quepartilhamdaideiadequetemosuma natureza,umaessncia,umfundamento,umaf, uma razo, uma identidade. Conceitos esses que tem negcioscomadialticahegelianae,dealguma forma,comomonotesmosocial,comapalavra nica. (texto1) Paraoutros,umsujeito-agenteaindaumacategoriadeanliseimportantee decisiva no entendimento e na produo do conhecimento permitindo assim(...)captarsaspotencialidadesdahomogeneidadee daheterogeneidadedosdiscursos,dasculturas escolares[entendendoque]osindivduossosempre determinadossocialmente,sosempreagentes.( texto 7) Paramuitos,importaenfatizarnessadiscussoofatodelapotencializar irrupodassubjetividadesmltiplas.Osujeitoantesuniversalsedesdobraem diferentes vozes posicionadas em relaes assimtricas. Neste caso, emprega-se o termo narrativasparadarcontadapolissemia,dapolifoniadosdiscursos.Narrativas implicadas,currculosnarrativos,narrativasdooutro,dosubalterno,dosvencidos,das minorias. 15 Os trabalhos de pesquisas realizados com narrativas tmtrazido,paraoconhecimentomaisamplo, histriasdesconhecidasouignoradas,tantode perodos anteriores, como da contemporaneidade, ou seja,tmpermitidotecerumaoutrahistriados currculosnasescolas,pois,conhecendodados diferentes,possvelescreverhistriasdiferentes (ALVES, 2005, apud texto2) Assim,ocampodocurrculoabreespaosparaoutrasnarrativas,outras subjetividades.Um discurso alternativo, no oficial, degruposespecficos, emgeral, gruposdominados,silenciados,negados.Narrativasqueaoseremditas,lidas, produzidas empoderam, contribuindo para o reposicionamento desses sujeitos nas lutas hegemnicas. Narrativas implicadas que narram aexperinciahumanaquesepassadepessoapara pessoaporumatradiooralequesetransmitede inmerosnarradoresannimosquenoscontam histrias enquanto as fazem ( texto 10). Perpassadasporfluxosdoindividualismo,ossentidosdessassubjetividades podemserfixadasparareforaroestilhaamento,afragmentaoparalisantede qualquer ao poltica. Contra essa possibilidade os discursos sobre as subjetividades se hibridizam,nessasconversascomosdiscursosdatotalidade,dauniversalidade.Assim vosetecendoossentidosdemnadas,derodasdeconversao,deencontro intercriticoquetmemcomumafirmarapluralidadedesubjetividadesenarrativas sem abrir mo da possibilidade de pensar um sentido , outro, de totalidade. Sentidos de totalidadequeseentrecruzamcomdiscursossobretemporalidades.Narrativas mnadas, centelhas de sentido quepossibilitamestilhaarformaslinearesde pensamento.(...)[Mnadasso]Partes-todoeno apenaspartesdeumtodo,noconceitodemnadas podemosreuniraperceptibilidade,sensibilidadee receptividade, constituindo, segundo Leibniz, em seu estadopresentenoapenasoqueoprecedeu,maso queestprenhedefuturo.Asmnadaspodemser entendidascomopequenosfragmentosdehistrias quejuntas exibem acapacidadedecontar sobreum 16 todo, muito que pode tambm ser contado por um de seus fragmentos. (GALZERANI, 2002, apud texto 9) Sentidosdetotalidadequesehibridizamcomaidiadecoletivoquecarregaotermo agenciamento . (...)Inscrevemos[assim]asnarrativaseasimagens paraalmdoprocessodeindividualizao,ouseja, concebidascomoagenciamentos(redesde conversaeseaescomplexas)quepotencializam acontecimentosinscritosnosmodoscoletivos. Denominamoscoletivooplanoquepermitesuperar adicotomiaindivduo-sociedade,tomandocoletivo no como totalizao, mas como agenciamento ( texto 2) Ou ainda totalidade articulada com a idia de multireferencialidade Aqui,anarrativa,suacondioeemergncia heterogneas,comorefernciadepossibilidade formativa,apanhadaemobilizadanasua configurao dialgica e dialtica, nos seus processos coalizionais,naproduodeconsensosno resignadosedegeneralizaesanalticas.(...)Sua pertinnciaerelevncianascemdoencontro intercrticodasreferncias.Doqueseproduzno encontro, no entre-ns, no trabalhar com. ( texto 11) Continuandoaconversasobreacrisedosujeito,emoutrsogruposencontra-mos sadas tericas com o prprio entendimento de discurso como constituinte da realidade.Compreenderaculturacomoenunciao considerarqueossujeitoseossignificadosdas prticassoelaboradosnamedidaemqueso mencionados,posicionadoserepresentados discursivamente.Nessesentido,assumiracultura comoatodeenunciaoabalaraconcepodo culturalcomotradioreificada,sistemaestvel, modelo fixo(...). (Texto 6) Esse emprego do termo discurso aponta tambm para um outro movimento de endereamentodasdiscusses,maisumavez,emtornodacriserepresentacional.O debateaquienvolvesentidosderealidade.Oqueestemjogoosentidode objetividadeeosefeitospolticosdesseentendimentonoapenasnocampodo 17 currculo.Pesquisardentrodealgunsquadrostericosqueproduzemsentidosnestecampo significa(...) ressaltar que, assim como Laclau e Mouffe (1998), nofazemosdistinoentreprticasdiscursivase nodiscursivas,nementrediscursoetexto.A justificativaestcentradaemduasquestes:a)que todooobjetoconstitudocomoumobjetode discurso,namedidaemquenenhumobjetodado foradassuascondiesdeemergncia;b)que qualquerdistinoentreosusualmentechamados aspectos lingsticos ou comportamentais da prtica social,ouumadistinoincorreta,ounecessita acharseulugarcomodiferenciaodentroda produosocialdesentido,queestruturadasoba forma de totalidades discursivas (Laclau; Mouffe 1998p. 107apud,texto 6)) Nessemesmoquadrodesignificaoobjetividadeediscursonosovistos como plos contrrios, como se o primeiro fosse do domnio do real eo segundo do domnio do mental. namedidaemqueodiscursonosereduz linguagem,eleabarcaoconjuntodavidahumana socialsignificativa,incluindoamaterialidadedas instituies,prticaseprodueseconmicas, polticas e lingsticas. Ainda que seja possvel falar daexistnciadeobjetosextralingsticos,oque concebidocomorealidadedependedasignificao discursiva desses objetos em dadas aes. ( texto ) Paraoutrosgruposquenooperamnessequadro,importasublinharadiferenaentre prticas discursivas e no discursivas.Consideraimportanteacompreensodarelao dialticaentrediscursoeestruturasocialpara evitarerrosdenfaseindevida.[Entendendo]de um lado, a determinao social do discurso, ou seja, o discursocomomeroreflexodarealidadesocial;e, de outro lado, a construo do social no discurso, ou seja,o discurso representado idealizadamente como fonte do social.(...) A representao da realidade do mundocomoseamesmaemanassedacabeadas pessoas,oerromaisfreqente,nosdebates contemporneos. (texto5) 18 Jnosaproximandodemaisumapausadenossasconversas,trazemoscomo maisummovimentodeendereamentoaincorporaopelocampodosdebatesem tornodopoltico.Nessemovimentoossentidosdisputadossoosdehegemonia totalidadeeemancipao.Sejacomoferramentadeanlise,sejacomoquadro tericootermodiscursoapropriadoporalgunsgruposcomopossibilidadeparaavanarnessasdiscussesnocampodocurrculo.Comoferramenta,discursonos posiciona de outra maneira no jogo poltico. Discursos so intrinsecamente polticos. Polticas como discurso. Resignificarhegemonia,totalidadeeemancipaofazpartedessemovimento analtico. Novos e outros personagensconceituais so convidados paraa roda: pontos nodais,prticasarticulatrias,lgicadadiferena,lgicadaequivalncia, significantevazionatentativadeexplicarosprocessosdelutashegemnicasque ocorremnocampodadiscursividade,permitindoassimsignificaraspolticas curricularese o jogopoltico da produo da diferena no campo do currculo.Nesseprocesso,umadadaidentidade (particularidade)esvaziadadeseusignificado passando a ser o significante vazio no qual deslizam significadosdasmltiplasidentidadesdiferenciais. Emsntese,naproduodeprticasarticulatrias hnecessidadedeumaequivalncianuncauma igualdade entre elementos diferentes. ( texto3) (...)oGT-CurrculodaANPEd,nosltimosanos investe na perspectiva de dar visibilidades formas deinvestigaoassumidaspelos/pelaspesquisadores/asdosGruposdeCurrculodas InstituiesdeEnsinoSuperior.Entende-sequeno setratadedirecionarodesenvolvimentotericodo GT (...) (texto 5) Acreditamosqueavisibilidadedadamultiplicidadedeabordagensexpostas, suscitapossibilidadesdecomunicaoedearticulaointer-grupalnecessriasao campo do currculo. Foi a nossa inteno com esse trabalho encomendado 19 Anlise sobre Currculo como Discurso, Texto e Narrativa Laura Cristina Vieira Pizzi (UFAL) Jarbas Santos Vieira (UFPel) Maria Manuela Alves Garcia(UFPel) lvaro Moreira Hypolito (UFPel) Maria Ceclia Lorea Leite (UFPel) Madalena Klein (UFPel) Nestetextoapresentamoscomoasnoesdediscurso,textoenarrativavem sendo compreendidas e aplicadas em nossos grupos de pesquisa Currculo, Cultura e Atividade Docente (UFAL), Processo de Trabalho Docente (UFPel) e Gesto, Currculo e Polticas Educativas (UFPel) em suas anlises sobre educao e currculo. Emboranossadiversidadedeformao,histrias,interessestemticos, referncias e perspectivas de anlise, temos em comum a sensibilidade e a tentativa de incorporar em nossas investigaes aportes tericos e conceituais do campo dos estudos culturais,dops-estruturalismoedafilosofiadadiferena,taiscomodiscurso, dispositivo,governamentalidade,diferena,etc.Osresultadosdesseesforoso apropriaes distintas, composies com filiaes mais delimitadas a um campo terico oumaishbridas,queretrabalhamourenovamnoesoriundasdasteoriascrticas, como o caso do conceito de ideologia ou hegemonia. Experimentamos a produtividade desses novos olhares na pesquisa e na constituio de nossos objetos de investigao e potencializamosnovosdiscursoseolharessobreosfenmenosqueestudamos, buscando evitar certo reducionismo e economicismo que nossas anlises talvez tenham tido em outros tempos. Tornarnossaspesquisaseinvestigaescurricularesmaiscomplexasum aprendizado obtido atravs do estudo da chamada virada lingstica, que marcou uma progressivamudananasanlisesatentopredominantementemarxistasparaautores que,ounomaisbuscavamnestereferencialseuspontosdeapoioanalticosouo consideravam insuficiente. Para nossos grupos de pesquisa trata-se de problematizar os aportes tericos que, valendo-se de uma forte crtica s polticas e teorias educacionais conservadoras,tambmacabampartilhandodasconcepesdeumsujeitosoberanoe auto-centrado.ParaessesaportestericostpicosdopensamentoModerno,caberia educao esclarecer as pessoas, torn-las conscientes da realidade histrica (capitalista) e assim contribuir para a transformao da sociedade, formando sujeitos participativos e crticos da moderna democracia ocidental. 20 Nos anos noventa passados j comevamos a desconfiar desse discurso, de sua inefvel linearidade e da estrutura que lhe sustentava. Aprendamos com Derrida (1995) queessasnoesmodernasprincipalmenteaquelasquepartilhavamdaidiadeum sujeitoauto-centradoacabavamporsetornarparalisantes,poisnopermitiam qualquer processo de transformao ou de permuta dos elementos da estrutura que lhes sustentava, cujo centro era determinado a priori. ConcordvamoscomDerridaqueoestabelecimentodeumcentrotornou-seo ponto de partida ou de chegada para o pensamento moderno e suas teorias. Com efeito, adescobertaoucaracterizaodaessnciadacoisa,doseuprincpioprimeiro,nessa perspectiva,umagarantiadeobjetividadeparacompreendereintervirnarealidade. Entretanto,nomomentoqueocentrocomeaaserpensadoeproblematizadocomo centro,comoorigem;nomomentoqueocentrocomeaaserpercebidocomosendo umaestruturaqueescapaestruturalidade(Derrida,1995,p.231),ocorreo acontecimento de ruptura, a disrupo. E assim: [...] deve ter sido pensada a lei que comandava de algum modo o desejo do centro naconstituiodaestrutura,eoprocessodasignificaoordenandoosseus deslocamentoseassuassubstituiesaessaleidapresenacentral;masdeuma presena central que nunca foi ela prpria, que sempre j foi deportada para fora de sinoseusubstituto.Osubstitutonosesubstituianadaquelhetenhadecerto modo pr-existido. Desde ento deve-se sem dvida ter comeado a pensar que no haviacentro,queocentro nopodia ser pensadonaformadeumsendo-presente, queocentronotinhaumlugarnatural,quenoeraumlugarfixomasuma funo, uma espcie de no-lugar no qual se faziam indefinidamente substituies designos.Foientoomomentoemquealinguageminvadiuocampo problemtico universal; foi ento o momento em que, na ausncia de centro ou de origem,tudosetornadiscurso,comacondiodenosentendermossobreesta palavra,isto ,sistemano qual osignificadocentral, originrioou transcendental, nunca est absolutamente presente fora de um sistema de diferenas. A ausncia de significadotranscendentalampliaindefinidamenteocampoeojogode significao. (Op. cit., 1995, p. 231-232) Osefeitosdesseacontecimentofoiadesestabilizaodascertezassobreo conhecimento, o sujeito, a conscincia... a educao. Na ausncia de um centro, de uma natureza da coisa, o discurso invade a teorizao social, no mais como sinnimo de linguagemneutraetransparente,querepresentaobjetivamentearealidade,mascomo constituidor da prpria realidade. nessemovimentoanalticoqueoconceitodediscursotemassumidogrande importnciacomoferramentadetrabalhoemnossaspesquisas.Odiscursotorna-se ento uma forma de nomear a realidade, institu-la da maneira que os enunciadores em relaescomplexasafabricam.Nohneutralidadenoenunciado,comonohno 21 olhar.Odiscursonopodeserreduzidoaumconjuntodecrenascoerentesqueso enunciadas e defendidas por um falante. O discurso uma relao material, polifnica, conflitante, na qual muitas pessoas falam ao mesmo tempo e o tempo todo. O discurso assimumaprtica,umaatitude,uminstitutoqueinstituiumaconduta,quenomeiaa realidade como realidade, a verdade como verdade. Comtalcompreenso(ferramenta)enfrentamosoutroconceitoemblemtico paraateoriacrtica:odeideologia.Umenfrentamentoquenoslevoualeiturade Foucaultedeseusinterpretes.SegundoHowarth(2001),Foucaultfoiumdosautores quemaiscontribuiuparaquestionaroconceitodeideologiaem,aomenos,trs aspectos.Primeiro,oconceitodeideologiaerafreqentementeusadoemoposio virtualaalgoquesupostamenteseriaverdade.ParaFoucault,oimportantenoseriao queseestabelecenoplanodoverdadeirooufalso,masemperceberhistoricamente comoosefeitosdeverdadeeramproduzidosatravsdediscursosque,emsimesmos, noeramfalsosenemverdadeiros.Emsegundolugar,oconceitodeideologia pressupeumaconcepodesubjetividadehumanaunificadaetransparente,quepode sertantorendidapelaaoideolgicaquantocapazdequebrarasfalsascrenaspara chegar emancipao. Para Foucault, o alvo desta crtica era o de descentrar o sujeito, mostrandosuadependnciaderelaesediscursosqueoprecedem.Porltimo, ideologia ocupava um espao secundrio em relao a algo que estaria na base material econmica, que seria sempre, em ltima anlise, dominante. Foucault buscou sair dessa anliseconsideradaumtantoreducionista,argumentandoqueseriaimportantemostrar tanto a materialidade quanto a positividade dos discursos. Assumindoestepontodepartida,seriapossvelproporumaarqueologiado discurso poltico e analisar certos arranjos polticos e ideolgicos contemporneos sob o pontodevistadeseusefeitosdiscursivosdeproduodesignificados,verdadesede poderes,permitindoquestionarosmitospresentesnasinterpretaesideolgicas dominantes e suas articulaes. Nessesentido,aprendemosquediscursossointrinsecamentepolticos,na medidaemqueconstroemedelimitamasfronteirasinstitucionaisentreosque pertencemeosquenopertencemadeterminadosgrupos,afetandodiferentes sujeitos.Outroaspectoimportanteocartercontingenteehistricodosdiscursos. Estestraosapontamsuadependnciaevulnerabilidadeaosjogosdepodereseus deslocamentosqueestonabasedesuaproduo(HOWARTH;STAVRAKAKIS, 2000). Dessa forma, discursos no so totalmente fixveis ou fixados em uma essncia. 22 De fato os discursos expressam diferentes significados que podem ser produzidos sobre ocurrculoeconstituem,portanto,umcampodedisputapolticaeidentitria envolvendovriossujeitos,oquerepercutesobreaformacomoesteartefatocultural vem sendo desenvolvido nas escolas. Da a importncia do conceito de articulao que nospermiteumaanlisecomplexasobreosarranjospolticos,aglutinaeserupturas dentrediferentesgruposeclassessociaisnoprocessodedefiniodaspolticas educativas ou de lutas de contestao dessas polticas2 Estudossobrepolticascurriculares,gestoedemocraciaparticipativavem sendo desenvolvidos a partir dessa abordagem. Nessa direo Stephen Ball (1994) um dosautoresqueestbastantepresenteemnossasanlises,principalmenteporsua compreensodaspolticascomointervenestextuaisnaprtica,paraasquaisele propeumaanlisequecontempletrscontextos:odeinfluncia,emqueaspolticas sogestadas,elaboradaserearticuladas;odeproduodapolticacomotexto,que inclui o processo de disseminao e de construo discursiva das polticas; e o contexto daprtica,queondeocorremosprocessosderecontextualizao.Essasanlises permitem-nos uma compreenso mais dinmica e contextualizada das polticas em ao, evitando,assim,abordagensmaistradicionaiselinearesdeinvestigaodosprocessos polticos e permite-nos uma compreenso dos hibridismos que caracterizam as polticas curriculares (HYPOLITO et al., 2008). Analisar as polticas curriculares a partir desta perspectiva tem sido um caminho produtivo para uma percepo mais aprofundada dos limites das reformas educacionais que vm buscando gerenciar a educao com base em discursos relativos qualidade da educao no pas. Namesmadireo,conceitoscomoodediscursopedaggicoe governamentalidadetemsidoferramentasdepesquisasetrabalhosdeorientaona Ps-Graduao(PPGE)emEducaodaUniversidadeFederaldePelotasnosltimos anos(Garcia,2000a,b;2008,2009).Sejatentandoconstruirumobjetodepesquisa,a pedagogia,comotentandoentenderolugardaeducao,docurrculo,dapedagogiae dotrabalhodocente,emparticular,nasmudanasculturais,sociais,econmicase polticascontemporneas,asrelaesentrediscursoegovernamentalidadetemsido fundamental em nossos estudos. 2 Este tipo de abordagem pode ser encontrado em Hypolito, Leite, Dall'Igna e Marcolla (2008). 23 Anoodediscurso,cujainspirao,comojfoidito,busca-seemuma perspectivafoucaultianaesociolgicadalinguagem,tempossibilitado problematizaessobreascaractersticasdapedagogiacomodiscursoetecnologia cultural e humana e caracterizar seu envolvimento em formas de governo da conduta em determinadas regies ou campos da prtica social. A pedagogia, como saber com efeitos de verdade e como tecnologia cultural e humana, est envolvida com a moralizao do comportamento humano.Umexemplodessamaneiradepensarasrelaeseducacionaisecurriculares pode ser feito tomando como referncia os discursos das pedagogias crticas no Brasil, aps a redemocratizao da sociedade brasileirano final da dcada de 1980 e o fim da DitaduraMilitar.Essemomentohistricoservedeanlisedecomonossascrenasem tornodeumapedagogiaconscientizadoraecrticaestorelacionadascomformasde redenoeexpiaocaractersticasdeumethoscristo(Garcia,2000).Tambmo professorcrtico,materializadonafiguradointelectualeducacionalcrtico,exerceum tipo de pastorado dasconscincias e da aoengajada a partir de critrios dicotmicos como bom e mau, crtico e no-crtico, consciente e ingnuo etc. A noo dediscursonaanlisedaspedagogiasdooprimido,libertadora,daautonomia,crtico-socialdoscontedos,oudaspedagogiasoficiais,implicouotrabalhocomosveculos dessesdiscursos,naformadelivrosimpressosoutextos,legislaeseoutros documentosoficiaise/ounarrativasdossujeitospedaggicos,comomaterialidadese veculos possveis desses discursos. Maisrecentemente,notrabalhocomtextoseducacionaislegislativose curriculares de fontes oficiais, a noo de discurso tem guiado o olhar para os efeitos de verdadeeasformasdesubjetividadeestimuladaspelapedagogiaoficial, especificamenteemrelaosformasdesubjetividadeetrabalhoinstitudaspara normalizaroensinoeotrabalhodocente.Dostextosaosdiscursos,ou,dostextosaos efeitosperformativosdosmesmos,nadescriodasrelaesdepodereprticas discursivasqueconstituemestilosdevida,saberesverdadeiroseoufalsos,formasde conscincia e sensibilidades. Norumodegenealogiasdapedagogiadenossotempo,oudaspedagogiasque nosproduzem,tenta-seperseguirastransformaesnaidentidadedosdocentesenos modoscomoaspedagogiasoficiaisatuamnogovernodossistemaseducacionais,dos currculosedosprofessores(Lawn,2001).Tomam-seostextosououtrosenunciados oficiaisquecirculamnainternet,nosprogramaseducacionaisounasfalasoficiais,ou 24 tomamos as narrativas que coletamos junto a professores e outros agentes educacionais, do ponto de vista das regras e dos sistemas de classificao que regem esses ditos e das prticasdiscursivasquepromovemnaproduodesaberesqueemsimesmosno so verdadeiros nem falsos e das formas de subjetivao e identidades no sentido que jfoiacentuadoantesnestadiscusso.Agenealogiacolocacentralmenteasrelaes entre saber, poder e corpo, diz Ewald (1993, p.28) comentando o pensamento e o curso dasinvestigaesdeMichelFoucault.Perseguem-seasracionalidadesaplicadasa humanosemnomedaautonomia,daconscientizaoeemancipao,darazo,da flexibilidade,damelhoriadesuaperformance,daauto-disciplina,daempregabilidade, do rendimento, etc. Aprende-seaolharcomFoucaulteoutrosfilsofosdalinguagem,paraos aspectos sociais e epistemolgicos implicados em uma anlise dos saberes e das prticas educacionais.Anoodediscursoabarcaessesdoisaspectosdalinguagem:signose efeitosdeverdade.TalvezsejaissoquePopkewitz(1994)denominadeuma epistemologia social do currculo e das prticas educacionais: a elaborao de um mapa conceitualquedescrevemudanasnaformacomoosobjetosdavidasocialso discursivamenteconstrudos(idem,p.180).Noatodefalarouescreveresto implicadasformasderaciocnioqueinstituemumageografiadoespaosocial,que divide e capacita diferentemente os sujeitos para a ao e a participao no mundo. Os textossotomadosnocomoelementosreaisepositivosqueafirmamintenes, propsitos e vontades dos sujeitos, mas como materializaes de padresdiscursivos e designificaoqueestoimbricadosemsistemasdeclassificaoquesoculturaise histricos.Issoimplicaodescentramentodosujeitocomofontedossignificados,ea descriodosdiscursoseducacionaiscomoformasderaciocniosobreaescola,que promovemsistemasdeinclusoeexcluso,permitindodistines,categoriase diferenciaes aplicadas aos objetos e aos sujeitos educacionais. Governamentalidade(Foucault,1979,2008)tambmumacategoriaque acompanha de perto essas investigaes. Esse termo aparece em Foucault, na aula de 1 de fevereiro de 1978, no Collge de France, como um conceito que permite recortar um domnio especfico de relaes e prticas de poder referidas ao Estado, tal como este se constitui a partir de meados do sculo XVIII, ou seja, enquanto um Estado de governo. Demodoampliado,governamentalidadefazrefernciaaumcampoestratgicodas relaesdepoderimplicadasnamaneiracomoseconduzacondutadosoutrosedesi prprio. 25 Aproduodapedagogiaedaspolticascurricularessitua-senombitoda moldurainstitucionalquetomacomoobjetodepoderaproduodapopulaoeda condutahumanaemseusentidobiopoltico.Apedagogiaeasprticaseducacionais escolares situam-se no cruzamento das tecnologias do governo dos outros e do governo de si. So dispositivos heterogneos atravs dos quais criam-se as regras e as condies para o funcionamento da sociedade e a fabricao dos sujeitos.Amaterialidadehistricadosdiscursoseducacionaisepedaggicosquenos interpelam presentemente a partir da pedagogia oficial e de suas reformas, suas regras e condies de produo em diferentes esferas da ao educacional e escolar, a posio e olugarsocialepedaggicoquereservamespecialmenteaosdocentes,soofocodos estudosquenosestimulamnaatualidade.Aproduodaspolticasdecurrculoem contextos globais e locais, as relaes e os grupos de poder e saber que disputam o jogo dasignificao,osorganismoseestratgiasquemovimentamnaregulaodaprtica social,seusimpactosnaformaoenaprofissionalizaodocentesooseixosde nossos esforos de descrio e compreenso. Textosenarrativassecomplementamcomofontesdasanlisesquefazemos sobre o discurso educacional contemporneo inscrito em uma racionalidade de governo neoliberal.Asnarrativasqueanalisamossotomadascomorelatosprovisriose divididos,atravsdosquaisosindivduosremontamedocoernciaassuas experincias. As narrativas coletadas nas pesquisas so princpios de inteligibilidade da experinciasensveleexistencialqueosindivduosconstroemdandosentidoaoque lhesacontece.Essesrelatosganhammaterialidadeapartirdeumconjuntode refernciasdiscursivas,quecirculamnomundodacultura,dascincias,daeconomia, dapoltica.Ordenadasdemodolgicoounemtolgicoassim,esempreapartirde situaescontingentes,soemsimesmassistemasdeclassificaoeordenaoda prtica social que podem ser objetivamente descritos em suas regras e efeitos de poder. Textosenarrativassoveculosdodiscurso,amatriabrutacomaqual trabalhamosocorpusdasinvestigaes.Discursoegovernamentalidadeso operadoresanalticosquenosaproximamdessamaterialidadediscursivadesdeoseu exterior. Odiscursovistocomoumaprticaquenomeiaarealidadecomorealidade remete a outra noo que se tornou importante em nossas pesquisas. Trata-se da noo de dispositivo, compreendido como aes (discursos) que interferem na disposio das relaessociais,prescrevendo,ordenando,normalizandoasformaseoscontedosde 26 comoessasrelaesdevemocorrer,ouseremestabelecidase/oumantidas.Um dispositivoentoumaespciedenormaprtica,depreceitoqueatuanasdiferentes partes de um aparelho social, desempenhando uma funo especial com vistas a um fim determinado.Essasaesfuncionamdeformapoucocoordenadanoseiodasrelaes institucionais,buscandotantoaprofundarcomoprevenir/interromperdesviose/ou rupturas do grupo social (Vieira, Hypolito & Duarte, 2009). Osdispositivosocorremsobvariadosformatos,esuaduraopermaneceo tempoqueforconvenienteparamanter,garantir,impedirouproduzirumaao desviante.Portanto,seusefeitossomentepodemsersentidosquandopostosemao, prescindindo, a princpio, da necessidade de regulao legal, embora possam se valer de normaspreestabelecidas:asleiseashierarquiasdecomandoporelasestabelecidas dentro e entre instituies (Vieira, Hypolito & Duarte, 2009). Osdispositivos,porsuanaturezaumtantossmica(Deleuze,1990),no garantem,deantemo,acoesodogruposocialnosaparelhosinstitucionais.Nessa medida, o dispositivo, ao mesmo tempo em que busca produzir sujeitos conformados tradio da instituio, por exemplo, tambm pode provocar (fabricar) fissuras, fraturas irremediveis(Deleuze,1990),podendogerarrespostasimpensadas,linhas intempestivasquevodesdeaexclusododesvianteatoaprofundamentodaruptura do grupo. nestefluxoquenossasinvestigaesproblematizamasregrasquegovernam osdiscursoseducacionais,oslimitesdoscamposdesabere,aomesmotempo,os enunciadosquepodemequenopodemserditosnasdiferentesdimenses educacionais. Nombitodainvestigaocurricular,aperspectivadesenhadaacimatem ajudadoapensarepraticarocurrculocomoinvenohistrica,contingentee, portanto, transitria, fugidia, provisria. O currculo como inveno no rejeita a histria de lutas e as relaes de poder queenvolvemaeducao,poisestatentojustamenteparaaquiloqueele:uma inveno,umarespostaprovisria,contingente,transitria,fugidiadosignificadodo quesejaconhecimento.Assim,abrem-seoutraspossibilidadespolticaseeducativas que, mesmo arriscadas, talvez permitam maiorespotencialidadesanalticas, certamente desconfiandodealgunsconceitoslargamenteempregadosemeducao:autonomia, independnciaeconscientizao,porexemplo.Conceitosessesquepartilhamdaideia dequetemosumanatureza,umaessncia,umfundamento,umaf,umarazo,uma 27 identidade.Conceitosessesquetemnegcioscomadialticahegelianae,dealguma forma, com o monotesmo social, com a palavra nica. Pensarapartirdasnoesdediscursoededispositivonoscolocaemoutra posiopoltica.Posioqueafirmaosefeitosperversosdalgicabinriaedesuas tecnologias de poder. Essas tecnologias que colocam fora da crtica a cincia, a razo e nossoegobranco,cristoemasculino;tecnologiasqueignoramoutratamdedomar as diferenas. Direcionaroolharaosdiscursossobreadiferenanostextosdaspolticas educacionaisenasnarrativasdaliteraturainfantiltambmsecolocacomoprtica possvel em nossas investigaes. Perguntar sobre os efeitos desses discursos nos jeitos deserenosjeitosdeverdo/oOutronosremetemaspossibilidadesdedes-naturalizar narrativas que vm fixando sujeitos e grupos em redes de in/excluso. QuandopesquisamosemEducao,comofoconocurrculo,naformaoe prticas docentes, queremos compartilhar com Foucault da inquietao diante do que o discurso em sua realidade material de coisa pronunciada ou escrita; inquietao diante dessa existncia transitria destinada a se apagar sem dvida, mas segundo uma durao que no nos pertence (Foucault, 1996, p. 8). Nocampodaeducao,atemticado/sobreoOutroadiferenaganha diferentescontornos,tramadosemjogosdesaber/poderdecorrentesdastrajetriasde inmerosgrupossociaisedeumconjuntodeexpertisesenvolvidasemorganizaes governamentaisouno-governamentais,interferindodiretamentenasdiretrizesdas polticaseducacionais.Exemplosquepodemosenumerar,semdarmoscontada diversidadedeproposiesnessecampo,soasaesafirmativas,aspolticasde acessibilidade,asredefiniesdaspolticasdeeducaoespecialnaperspectivada educaoinclusiva,entreoutras,quenoseuconjuntoapontamparaummomentode visibilidade e dizibilidade sobre o Outro. Encontramosnaliteraturaacadmicaalgunsautoresqueproblematizamos discursos da igualdade de oportunidades, do respeito diversidade e da incluso social discursosessesqueseinstalamemumaregularidadediscursivaemquepareceno haverpossibilidadesdesedizeroupensardeoutrasformas.Soelesnovosemais sofisticadosmodosdenormalizaodaquelessujeitosinventados3poressesmesmos 3Emumaperspectivafoucaultiana,argumentamosqueidentidadesediferenasnoexistemporsis. Elas se constituem nas relaes de poder-saber em que os sujeitos so nomeados e narrados em referncia 28 discursosdaModernidadeenomeadosdediferentesformascomoosoutros,os anormais, os estranhos, os diferentes (Klein, 2003). Assim, segundo Popkewitz (2001), aproximandoestadiscussodoespaodaformaodocente,essasnormasdiscursivas constroem distines, diferenciaes por meio das quais professores/as e educadores/as passam a narrar crianas e adolescentes envolvidos nos programas educacionais. Em uma investigao que se debruou sobre distintas polticas pblicas voltadas saesafirmativaseinclusosocial/educacional(Zucchetti;Klein;Sabat,2007,p. 78)perguntamossobrequemosujeitocontempladopelaspolticas;quaisas estratgiasprevistasnaspolticasnosentidodepromoverainclusosocialeemque medidaessesdocumentoscontemplamprescriesaofazerdocente,convocandoos educadores como agentes de efetivao das prerrogativas que permeiam essas leis. Nasanlisesaosditosnosdocumentos,identificamosrecorrnciasdiscursivas nosentidodeprescreveratitudesdesejveisaosdocentesenvolvidoscomaeducao dossujeitosnarradoscomoexcludos,vulnerveis,marginalizados.Asmarcas salientadasnessestextosoficiaisdiziamrespeitosdiferenasderaa/etnia,gneroe deficincia.Oprofessorerachamado/convocadoaseragentedaspolticas,nosentido de efetivar a cidadania. Osdiscursossobreacidadaniaforamfocoempesquisasobreaspolticasde formaoprofissionaldirecionadasspopulaesvulnerveispobrezaeexcluso (KLEIN,2003).Aliceradosnaperspectivadaigualdadedeoportunidades,doacesso contnuoedaparticipaoautnomanosespaoseducacionais,produtivosedemais espaossociais,acidadaniaformaumbinmiocomincluso,estabelecendo-seuma relaodiretaenecessriaentreambas.ComoargumentaCruikshank(1999,p.23), estabelecem-sedefiniesnormativasquecolocamsobsuspeitaasrelaes participao versus excluso, igualdade versus diferena, ideologia versus realidade, o polticoversusosocial,liberdadeversusdominao,poderversusimpotncia, autonomia versus dependncia, pblico versus privado, entre outros. AaproximaoaosEstudosCulturaisemEducaodirecionounossoolhar tambmaostextoseimagensdashistriasinfantis(KLEIN,2008),entendidoscomo artefatos culturais que se inserem nos espaos escolares, somando-se a tantos outros, na atualidade, interferindo nas prticas docentes e servindo de normativas para as relaes entre os diferentes sujeitos da educao. umanorma,tambmelaconstitudanessasrelaes.Assim,cadagrupo,emtemposeespaos historicamente demarcados, inventam seus diferentes anormais. 29 Naquelapesquisa,oobjetivofoiselecionarosttulosqueapontassempara enredosemqueospersonagensfossemidentificadoscomopertencentesagrupos nomeados, nas polticas pblicas, a partir da diversidade/diferena, segundo recortes de raa/etnia,gnero/sexualidade,necessidadeseducacionaisespeciais/deficincias,entre outros. Seguindo uma perspectiva foucaultiana, Silva (1999) ressalta que os discursos se tornamimportantesparaasanlisesdasrepresentaes,umavezquecriamsentidos, produzindoefeitosdeverdade.Podemosdizerqueosdiscursossobreaalteridade,o outro/diferente, que perpassam os espaos sociais vm constituindo realidades sobre o seujeitodeviveredeseconduzir.Assim,tambmvmconformandoasprticas educacionais em relao a esses sujeitos. Atravs da anlise das formas como os outros vm sendo narrados na literatura infantil, pretendeu-se problematizar as naturalizaes osefeitosdeverdadeproduzidosnessesdiscursos.Naperspectivaemquese inscreveuestaanlise,entendemosqueessasverdadesnosoinventadas propositalmentepelosautoresdashistriasequeaquestonosedetmemprocurar desvendarasintenesdoseditoresoudasinstituiesenvolvidasnaproliferaode saberes sobre os outros/diferentes. Como argumenta Foucault (1996, p. 17), essavontadedeverdade(...)apia-sesobreumsuporteinstitucional;ao mesmotemporeforadaereconduzidaportodoumcompactoconjuntode prticas como a pedagogia, claro, como o sistema dos livros, da educao, dasbibliotecas,comoassociedadesdesbiosdeoutrora,oslaboratrios hoje. Mas ele tambm reconduzido, mais profundamente sem dvida, pelo modocomoosaberaplicadoemumasociedade,comovalorizado, distribudo, repartido e de certo modo atribudo. Essessignificadosseproduzem,proliferam,seconjugamaoutrostantos significados.Otextoescapa,possibilitandomltiplasleituras:(...)noexisteum significadofixonicoe,conseqentemente,nuncapoderexistirumaleiturafixa, baseada na noo de um conjunto de posies ideais-tpicas (HALL, 2003, p. 370). Dessaforma,aonosaproximarmosdosespaosescolares,dasprticasque envolvemprofessorasealunos,nopretendamosacolherossentidosmais verdadeirossobreooutro/diferente.Oquenosmobilizaacolher,nessacadeia comunicativa,a emergncia de mltiplos discursos, mltiplas possibilidades de narrar jeitosdeserejeitosdever.Ouseja,procuramosentenderquenarrativasso 30 potencializadas, cruzadas, excludas na emergncia de uma trama discursiva que coloca a diferena como foco nas atuais polticas sociais. Referncias BALL,Stephen.J.Educationreform:acriticalandpost-structuralapproach. Buckingham: Open University Press, 1994. CRUIKSHANK, Brbara. The will to empower: democratic citizens and other subjects. Nova York: Cornell University Press, 1999. DELEUZE, Gilles. Qus s um dispositivo? In: BALBIER, E. et. al. Michel Foucault, filosofo. Barcelona : Gedisa, 1990. p. 155-161. DERRIDA,Jacques.Aescrituraeadiferena.2.ed.SoPaulo:EditoraPerspectiva, 1995. 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Janete Magalhes Carvalho (PPGE/UFES)4 [email protected] Falar de pesquisas em currculo remete a falar de processos de subjetivao que so engendrados no cenrio social e educacional, como meios de sujeio, no sentido de submissoaoutros,pelocontroleedependncia,assimcomopelosentidodo conhecimento de si mesmo e autonomia possibilitado pelas prticas discursivas em sua formao correspondente. No mbito da formao scio-histrica discursiva, so engendrados regimes de verdade nos quais se incluem os processos de produo de subjetividade,5 assim como asprticasdiscursivasenodiscursivasqueincidemnaproduodapesquisaem currculo.Em recente artigo, Santos (2008) debate sobre a questo da douta ignorncia em sua relao com o academicismo e, nesse sentido, cita o srio Luciano de Samsata (ano 165DC)eseudilogoAvendadefilosofiasque,quelapoca,jquestionavao subjetivismoeabaixaconexocomaproblematizaoeaqualidadedasrespostas dadassquestesprticodiscursivasdavida,ouseja,respostasacadmicaspara problemasacadmicos,redutoreseafastadosdaproblemticaexistencialconcreta. Concordando com Santos (2008, p. 19), ao falar de como concebemos as narrativas e as imagensnapesquisacomocurrculo,pretendemos[...]Identificar complementaridadesecumplicidadesondeasteoriasedisciplinasvemrivalidadese contradies. Procuramos,enfim,noefetivarnossoposicionamentopelocritriodeadeso excludente,pormbuscandoprivilegiarasnarrativaseimagenscomoinseridasem fluxosdemovimentos,conversaeseaes(CARVALHO,2008,2009)que, transformandoaculturadaescolaeasimesmas,naperspectivadeatualizaode 4DoutoraemEducao;professoradoDepartamentodeEducao,PolticaeSociedadeedoPrograma dePs-GraduaoemEducaodaUniversidadeFederaldoEspritoSanto.GrupodePesquisa cadastrado no CNPq: Currculos, cotidianos, culturas e redes de conhecimentos. Trabalho GT-Currculo - 32. Reunio Anual da ANPEd, out. 2009. 5SegundoGuattari,aproduodesubjetividadenodeveserencaradacomocoisaemsi,essncia imutvel.Paraele,existeestaouaquelasubjetividade,dependendodeumagenciamentodeenunciao produzi-laouno.Exemplo:ocapitalismomodernoatravsdamdiaedosequipamentoscoletivos produz,emgrandeescala,umnovotipodesubjetividade(GUATTARI,1986,apudGUATTARI; ROLNIK, 1986, p. 322). 34 virtualidadesdocotidiano,renadimensespessoaisesociais,fortalecendooslaos relacionais e a criatividade coletiva e individual, para alm dos [...] modos de produo capitalsticos(GUATTARI;ROLNIK,1993,p.15),ummododeproduoquese define tanto pela fabricao de mercadorias e valores, quanto pela fabricao de sujeitos normalizados,serializados,emqueareproduodemodelos(individualizao)opera nomesmonveldaproduodebens.Trata-sedecriarsadasmedianteprocessosde singularizao e de agenciamentos que os tornem possveis (1993).Considerandoindividualidadecomoresultadodeumaproduodemassa,pois [...]oindivduoserializado,registrado,modelado,[distintodesubjetividade,que] no passvel de totalizao ou de centralizao (GUATTARI; ROLNIK, 1993, p. 31), estamosnosantpodasdasubjetividadefechadacartesiana,deideiasclarasedistintas, para apontar que a subjetividade formada, [...] essencialmente fabricada e modelada no registro do social (1993, p. 31).Osprocessosdesingularizaobuscamefetuarosagenciamentoscoletivosde subjetividadequeesto[...]emcirculaonosconjuntossociaisdediferentes tamanhos;elaessencialmentesocial,assumidaevividaporindivduosemsuas existnciasparticulares(1993,p.33).Oprocessodesingularizaotambmobjetiva rompercomaformaserializadaemqueosindivduosvivemparaadotaruma subjetividadeexpressiva,abertaeconectadaaprocessosdecriaoeemredesde subjetividades singularizao. Nesse sentido, inscrevemos as narrativas e as imagens para alm do processo de individualizao,ouseja,concebidascomoagenciamentos(redesdeconversaese aescomplexas)quepotencializamacontecimentosinscritosnosmodoscoletivos. Denominamoscoletivooplanoquepermitesuperaradicotomiaindivduo-sociedade, tomandocoletivonocomototalizao,mascomoagenciamento:[...]arelao, entendidacomoagenciamento,omododefuncionamentodeumplanocoletivo,que surgecomoplanodecriao,deco-engendramentodosseres(ESCOSSIA; KASTRUP,2005,p.303).Coletivocomomultiplicidade,paraalmdoindivduo, aqumdapessoa,[...]juntoaintensidadespr-verbais,derivandodeumalgicados afetos mais do que de uma lgica de conjuntos bem circunscritos (p. 303).Dessaforma,toimportantequantotercapacidadedeteorizaoparaproduzir conhecimento,considerandoqueteoriaeprticasosemprecoengendradas,deve-se assumiroquadrotericoprticodapesquisademodoflexvel,crticoe 35 descomprometidocomasformasbeticasereificadasdeproduodoconhecimento (CERTEAU, 2001). Aoagruparem-seemescolas,asteoriasconfiguram-secomocampos gravitacionais (PAIS, 2003), entretanto, por si ss, no garantem a produo de novos conhecimentoscientficos.Assim,maisqueclassificarcoisasefenmenosouanalis-losapartirdofechamentotericoemcamposgravitacionais,importamantera aberturaparaaincerteza,advida,aproblematizaoconstante,aocontrriodeuma perspectivaorientadaporguiastericoscomseuspercursosrepetitivos,envolvendo uma domesticao disciplinada de itinerrios de pesquisa.Para a pesquisa em currculo, um grande desafio vem a ser o estabelecimento de ligaesentreosgrandesdispositivossociaiseosdispositivosmicrossociaisque regulamouinformamavidasocial,vistoque[...]oindivduofixa,muitasvezes, setoresdavidacotidianaquetranscendemoseualcanceefetivo,enquantoextensoe durao.Arealidadedavidacotidiananoseesgotanaspresenasimediatas(PAIS, 2003, p. 86). No entanto, como chegar s experincias vividas, quando elas nos so dadas em palavras?Qualopapeldodiscurso,dasconversaes,dasnarrativaseimagensque perpassamocurrculovivido/praticadonocotidianoescolar?Qualafunoda linguagemnaproduodocurrculocomoumadimensodotrabalhoimaterialque realizamos nos currculos vividos/praticados?A noo de trabalho imaterial refere-se s formas e foras de trabalho que criam produtosimateriais,taiscomo:saber,informao,comunicao,relaesou,ainda, reaes emocionais (HARDT, 2003). Asdimensesdotrabalhoimaterialseriam:trabalhocognitivo,lingusticoe trabalhoafetivo(produoemanipulaodeafetos).Namaiorpartedostrabalhos imateriais, essas duas dimenses esto associadas. Alm disso, o trabalho imaterial est quase sempre misturado a formas de trabalho material.Comoessarelaorecproca,deumlado,ospoderessingularesdotrabalho continuamentecriamnovasconstruescomunse,deoutro,oquecomumsetorna singularizado,numacomunalidadeexpansiva,naqualasaescomunsdetrabalho, linguagem e afeto configuram um poder constituinte (NEGRI, 2003). 36 Se o poder de agir constri valor de baixo para cima, se ele transforma o valor deacordocomoritmodaquiloquecomumatodoseseeleseapropria constitutivamente das condies materiais de sua prpria realizao,ento bvio que neleresideumaforaexpansivaalmdamedidae,nessesentido,quepropomos pensar os processos de produo e pesquisa inseridos no cotidiano escolar como redes deconversaes(oqueressaltasuadimensodeumarededetrabalhocognitivo, lingusticoeafetivo),isto,aprpriaproduoderedessociais,decomunidades,de formas de vida e de produo de subjetividade (CARVALHO 2009). Mas o que vem a ser uma rede de conversaes?Umarededeconversaesenvolvediscursos,textos,narrativas,imagens,sons, encontros, silncios e silenciamentos. Abordando o conceito de conversaesrecursivas, Maturana (1997) aponta que a linguagem, como processo, no tem lugar no sistema nervoso, no corpo orgnico, mas no espao das coordenaes consensuais de conduta que se constituem no fluir de seus encontros corporais recorrentes.Compreender que ns, seres humanos, existimos como tal no entrelaamento de muitas conversaes em muitos domnios operacionais distintos, que configuram muitos domniosderealidadesdiferentes,particularmentesignificativo,porquenospermite recuperaroemocionalcomoummbitofundamentaldoshumanos,nofluirdo coemocionar dos membros de um grupo particular.Asconversaes,assim,seestabelecememdiferentessistemasdeconvivncia. Cabe, desse modo, destacar que o currculo se enreda com uma cultura visto que umaculturaumarededeconversaesquedefineummododeviver,ummodode estarorientadonoexistirtantonombitohumano,quantononohumano,eenvolve ummododeatuar,ummododeemocionareummododecrescernoatuareno emocionar, assim como sistemas sociais so sistemas de convivncia constitudos sob a emoo do amor, que a emoo que constitui o espao de aes, de aceitao do outro na convivncia (MATURANA, 1997) Sendo assim, numa rede de conversaes, insere-se tanto a luta pelo discurso, o silnciorepressivo,comoapassagemdodilogoparaamultiplicidadeea heterologicidade.Odeslocamentododilogooudosilncioparaamultiplicidade refere-seaodiscursoaoladododiscurso,ouseja,nonecessariamentecontraoua favor. 37 Assim,naconversao,aparticipaodlugarpluralidadeepolifonia, assumindoumestadodescentrado,detalmodoqueapluralidadeenooEuouo Outro que ser o foco do encontro. Entretantoaconversaonoacontecesemsercriadaesustentadapela participaoativa,quecombinaemsiduasdimenses:apoticadaparticipaoea sociabilidade, articulando vozes, assuntos, em participao criativa de modo que tornem possvel a multiplicidade partilhada conversao recriadamente aberta e inacabada. Desse modo, quanto mais uma conversao o , menos a sua conduo depende da vontade de um ou outro parceiro e, mais, do enredamento produzido.Nacenacontempornea,inegvelasensaodeinquietudeedeestranheza, sobretudonocampodaproduodoconhecimento.Perceboosefeitosdeuma inquietudeprofunda,osentimentodefaltadelugar,eleoueu,cadaumporsi. Estamosemfilaindianaporcausadaexigidadedoslugaresondepodemosescutare nos fazer entender (DELEUZE, 1991, p. 106). Parececontribuirparaessesentimentoavisodacinciacomoumdiscurso sacrossantopartedosassuntoshumanosdocotidiano,aoinvsdeserconsiderada como uma forma de participao nesses assuntos. Como o funcionamento do discurso inseparvel dos dispositivos materiais em queseproduzaestruturaeofuncionamentodasprticassociaisnasquaissefalaese fazfalaresefazemcoisascomoquesedizesefazdizer,ascondiesmateriaise objetivasdeexistnciatendemaproduzircurrculoscentradosemcompetnciase habilidades tomadas em si mesmas. Sendoassim,nopodemosestarconfiantessobreoquetraraconversao;a transformao, o devir enigmtico, contraditrio, incalculvel. Entretanto, o currculo, comoconversaocomplexa,aotransformaropresente,noofar,certamente,em funodasagendasnointeresseprpriodospolticosedoseducadorescomo intelectuais profissionais.Dessemodo,produzimoscurrculoemmeioaagenciamentoscoletivosde enunciaoe,sendoassim,osdocumentosepropostascurricularesdevemser visualizados como textos que se entrelaam a outros textos (escritos, orais, imagticos, sonoros)enocomopontodechegadaparaorientarasmudanaseducativas.A supervalorizaodosresultadosmensurveisedasreformaseducativasignorao coletivoe/ouosmovimentossociaisqueestonabasedaproduodasmudanas educativascurriculares.Dessemodo,sugerimosquetaistextossejamlidoscomo 38 possveis pontos a serem considerados na materializao de um longo processo relativo aoutrotipodemudana,especificamenteaquelasquesereferemaosprocessosde alteridade, singularidade, problematizao e experimentao dos educadores e alunos no cotidiano escolar. Dessepontodevista,aconversaonoolugarondeasubjetividadeest depositada,olugarondeosujeitoguardaeexpressaosentidomaisoumenos transparente ou oculto de si mesmo, mas o mecanismo no qual o sujeito se constitui nas prpriasregrasdodiscursoquelheimpeumadireo,naprpriaoperaoqueo submeteaumprincpiodetotalizaoeunificao,demodoqueasubjetividadedas crianas,dosalunosadultosoudosprofessoresestseconstruindopelaimposiode certos padres, assim como de resistncia a eles. Compreendidacomoaeducaodopblico,aconversaocomplexaa nossa prtica, e o currculo mais que uma conversao, pois uma esfera de ao. Nessesentido,poderamosafirmar,comoPinar,queOcurrculouma conversao extraordinariamente complexa (PINAR at al., 1995, p. 848). Michael Oakeshott (1959, p. 10, apud PINAR, 2007, p. 293-294) dizia: [...]a conversao seria como um ponto de encontro para onde convergemedivergemdiversosidiomas[...]impossvelna ausnciadeumadiversidadedevozes:nelaseencontram diferentesuniversosdediscurso,reconhecem-seumaooutro e gozamdeumarelaoindiretaquenenhumdosdoispedeou prev ao ser assimilado ao outro. Ao aprender a nomear-se, ao fabricar um duplo discurso mais ou menos estvel, a pessoa reduz sua prpria indeterminao e aprende a saber o que lhe acontece, dando umaorigem,umatrama,umsentidoexistencial,tornando-se,portanto,onarraruma formadoconversar,numconjuntoderelaesconsigomesmoecomosoutros.A experinciaoqueocorreentreoqueconstituietransformaosenvolvidosem processos de conversaes e aes complexas. Assim, em nossas pesquisas sobre a produo docurrculo no cotidiano escolar emredesdeconversaes,tomamoscomocampodepossibilidadesaprodutividade heterolgicae,nessesentido,aproblematizaodeumespaotemposingularizadoe tecido com os fios da experincia coletiva.Entreasquestesterico-metodolgicas,asnarrativas,originadasde conversas, depoimentos ou escritos pessoais, formando um tipo especial de texto, 39 vm permitindo desenvolver tanto as metodologias prprias da histria oral e da histria devida,comoumahistriadebiografiasdepessoascomuns,acumulandodadosde carterantropolgico,etnogrficoesociolgico,oquefazressaltaraposio transdisciplinaretransversaldaeducao,bemcomoaimportnciadosdadosassim obtidos para esse tipo de pesquisa. Os trabalhos de pesquisas realizados com narrativas tmtrazido,paraoconhecimentomaisamplo,histriasdesconhecidasouignoradas, tanto de perodos anteriores, como da contemporaneidade, ou seja, tm permitido tecer umaoutrahistriadoscurrculosnasescolas,pois,conhecendodadosdiferentes, possvel escrever histrias diferentes (ALVES, 2005). Manguel(2001)destacaqueimagemenarrativaremetemumaoutra, incessantemente,emprocessoscoengendrados,compreendendoqueaspesquisasvm indicandotantoaspossibilidadesdeusodanarrativaedaimagem,comomostrando, necessariamente, os limites desse modo de desenvolver o trabalho cientfico.Nessaperspectivaqueassumimosaimportnciadouso(CERTEAU,2001) das narrativas, das imagens e dos sons como fonte de pesquisa, o que significa perceb-las/loscomodadosproduzidoseregistrados/documentados,dandopistassobre possibilidadesterico-metodolgicasapropriadasaosestudoscomospraticantesdo currculo no cotidiano (OLIVEIRA, 2007). Entendemos,entretanto,quenoprocedeaideiadequeasnarrativasnosaem do particular. Partimos do pressuposto inverso, ou seja, de que as imagens e narrativas tmavercomasmarcascriadas,conscientesouno,easuasuperao,noconfronto com outras tantas prticas, contm em si as questes coletivas (ALVES, 2005). Sendoassim,considerandoacomplexidadeeosatravessamentosnosquais estudos desse tipo se movem e produzem movimentaes como novas experimentaes, queasnarrativaseasimagensconstituemprocedimentosnecessriosparaanossa proposta de trabalho. 40 Trata-se, pois, de dar espaotempo a narrativas e conversas, a partir de imagens esonstrazidosemcriaesdospraticantesordinriosdocurrculo.Essauma abordagem comnfase nas conversaes recursivas, narrativase imagens, mas a partir dacompreensodequevivemosemculturashbridas,oquesignificaque, necessariamente,hespaotempoparaalinguagemverbal,imagticaesonorade diversos tipos.Nesse sentido, cumpre registrar que as conversaes, as narrativas e as imagens nosoconcebidascomomododemediaodialgica,mascomofluxosdeformas-forasemodosexistenciais,competindoaopesquisador,naproduodosdados,a compreensodesuapotncia.Dessamaneira,passadoepresentefundem-sena atualizao(eatualidade)dopensarequebramarigidezdoconceitodecultura.As infinidades dos jogos operados em zonas de fronteiras so colocadas no primeiro plano: o trabalho fronteirio da cultura exige um encontro com o novo que no seja parte do continuum de passadoepresente, isto , o novocompreendido comoatoinsurgente de traduocultural.[...]Opassado-presentetorna-separtedanecessidade,enoda nostalgia, de viver (BHABHA, 1998, p. 36).Conversar,narrar,olhar,ouvir,assim,devemserconcebidoscomoencontros quepossibilitamoaumentodapotnciadeagirecompreender.Narrarno precisamente domesticar o caos, mas reduzir as capacidades de escolha envolvidas nos jogosculturais.Sealgoestforadocontrole,nopodeseratualizadocomorelato fechado; ainda assim, faz-se necessrio discorrer sobre o que os homens fazem de suas vidas, como na passagem de Borges (2001, p. 169):

Chego,agora,aoinefvelcentrodomeurelato;comeaaqui meudesesperodeescritor.Todalinguagemumalfabetode smboloscujoexercciopressupeumpassadoqueos interlocutores compartem; como transmitir aos outros o infinito Aleph,queminhatemerosamemriamalemalabarca?[...]O quevirammeusolhosfoisimultneo;oquetranscreverei, sucessivo. Pois a linguagem o . Algo, entretanto, registrarei.

Mesmodiantedoabismodalinguagem,onarradornoabdicadoimpulsode relataroinenarrvelalgo,entretanto,registrarei,apresentandoumadimensotica evidente,asaber,anegaodapossibilidadedeconstruodacoernciaapartirdo diverso.Aosertransformadaemrelatofechado,dotadodesentidopleno,avivncia moralizada e domesticada. Assim, buscamos fugir do didatismo que marca as narrativas 41 (verbaiseimagticas)coesas;daanecessidadededestacaroformar-sedeumaideia, movimento pleno de vazios insurgentes. Essa recusa possui uma dupla dimenso: trata-setantodadesobrigaodeurdirumaexposiofechadadavivncia,comodacrtica epistemolgicaconcernenteconstruoderelatosunidimensionaisenvolvendo estilhaos de realidade. Enfim,compreendemosconversaese,nelas,narrativaseimagens,comouma enormecomposiomacrocsmica,quefomosacostumadosadecomporem apreciaes disciplinadas. A vida, no entanto, multissensorial e, desse modo, o sentido queatribumoscomonecessriopesquisacomnarrativaseimagensnocurrculo vividoenredaumaartistagemqueenvolvaosnossosmultissentidos,assimcomoos mltiplos espaostempos compartilhados em redes de saberes, fazeres, poderes e afetos. Referncias ALVES,Nilda.Artefatostecnolgicosrelacionadosimagemeaosomnaexpresso daculturadeafro-brasileiroseseuusoemprocessoscurricularesdeformaode professorasnaEducaoSuperior:ocasodocursodePedagogiadaUERJ/Campus Maracan. Projeto incorporado ao PROCINCIA, agosto de 2005. BHABHA, Homi. O local da cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998. BORGES, Jorge Luis. O Aleph. So Paulo: Globo. 2001. CARVALHO,JaneteMagalhes.Ocotidianoescolarcomocomunidadedeafetos. Petrpolis: DP et Alii; Braslia: CNPq, 2009.CARVALHO,JaneteMagalhes.Redesdeconversaescomoummodosingularde realizao da formao contnua de professores no cotidiano escolar. In: CONGRESSO INTERNACIONAL COTIDIANO DILOGOS SOBRE DILOGOS, 2., 2008, Rio de Janeiro. 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Revista Crtica de Cincias Sociais, n. 80, p. 11-43, mar.2008. 43 Discursos e textos nas polticas de currculo6 Alice Casimiro Lopes (UERJ)7 Rosanne Evangelista Dias(UFRJ)8 Emnossaspesquisassobrepolticasdecurrculo,temostrabalhadocomas noesdetextoediscursodesdeasprimeirasinvestigaes,mas,comopassardo tempo,fomosaprofundandoemodificandoessasnoesemfunodasquestes terico-metodolgicasgeradasnasprpriaspesquisas.Nosdoisprimeirosprojetos desenvolvidos9,discutamosaorganizaodoconhecimentoescolarprincipalmente combasenoconceitoderecontextualizaodeBernstein.Buscvamosentenderos deslocamentosdesentidosdeumcontextoaoutrodeproduodaspolticasdo contextoacadmicoaooficiale/oudocampointernacionalaocamponacional,sua inter-relaocomoutrostextos,comfoconosnovossignificadosefinssociais constitudos, muitas vezes, em direo oposta ao que inicialmente se definiu.Considervamos a recontextualizao como reposicionamento e refocalizao de textos(Bernstein,1996;1998).Nessaperspectiva,ostextossoselecionadosde diversasformas,condensadosereelaborados,propiciandoqueidiasinicialmente propostassejaminseridasemcontextosoutros,geradoresdemudanasemseus significados originais.Inicialmente h uma descontextualizao, pois alguns textos so selecionadosemdetrimentodeoutros,bemcomosotrazidosdeumcontextode questeserelaessociaisdistintasparaoutro.Essadescontextualizaomudaa posiodotextoemrelaoaoutrostextos,prticasesituaes.Simultaneamenteh 6Textoelaboradocombaseemtrabalhosanterioresdasduasautoras,nombitodogrupodepesquisa sobrePolticasdecurrculo,quecontaaindacomosseguintesintegrantes:AlineMartinelli(Licenciada em Pedagogia pela UERJ), Ana de Oliveira (Doutoranda em Educao UERJ e professora de Histria no ColgioPedroII),AndriaGomury(BolsistaProatecUerj/FaperjeLicenciadaemLetraspelaUERJ), DaianaFernandadeMendona(BolsistaIC/UERJeLicenciandaemMatemtica),DanielleMatheus (MestraemEducaopelaUERJeprofessoradosanosiniciaisdoColgioPedro II),FlviaGiovaninni Busnardo(MestrandaemEducaoUERJebolsistaCAPES),HugoHelenoCamiloG.Costa(Bolsista IC/CNPq e Licenciando em Geografia na UERJ), Josefina Carmen Diaz de Mello (Doutora em Educao pela UERJ e professora da UERJ/FEBF e UCB), Maria Eugenia Cubas Echauri (Mestranda em Educao da UERJ, bolsista PEC-PG/CNPq), Natlia Casco (Licencianda em Pedagogia, bolsista CNPq), Rozana Gomes de Abreu (Doutoranda em Educao UERJ e professora de Qumica do Colgio de Aplicao da UFRJ),SoledadAndreaCastilloTrittini(MestrandaemEducaoUERJ,bolsistaPEC-PG/CNPq) WagnerNbregaTorres(MestrandoemEducaoUERJeprofessordeHistriadaredemunicipaldo RJ). Maiores informaes em www.curriculo-uerj.pro.br 7 Professora do Programa de Ps-graduao em Educao (ProPEd) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. 8DoutoraemEducaopelaUniversidadedoEstadodoRiodeJaneiroeprofessoradaUniversidade Federal do Rio de Janeiro. 9 Organizao do conhecimento escolar no Novo ensino mdio, desenvolvido no perodo de 2000 - 2002 e Integrao curricular em textos de cincias para o ensino mdio no perodo de 2002 2004. 44 umreposicionamentoeumarefocalizao.Otextomodificadoporprocessosde simplificao,condensaoereelaborao,desenvolvidosemmeioaosconflitosentre osdiferentesinteressesqueestruturamocampoderecontextualizao.Porisso, Bernsteinafirmasernoprocessoderecontextualizao,quandoumtextomudade lugar, que se constitui um espao para atuao da ideologia.Nessaanlise,textoassumeosentidodequalquerrepresentaopedaggica expressa pela fala, pela escrita, visualmente, espacialmente, nas posturas assumidas, na maneira de vestir, viso que de certa forma ainda mantemos. O discurso, por sua vez, compreendidocomoconstitudopelasregrassociaisqueregulamaproduo, distribuio,reproduo,inter-relaoemudanadostextospedaggicoslegtimos, suasrelaessociaisdetransmissoeaquisioeaorganizaodeseuscontextos. Especificamente,odiscursopedaggicodefinido(Bernstein,1996;1998)comoum princpio de apropriao de outros discursos, um princpio recontextualizador. Trata-se dasregrasparaembutirerelacionardoisoutrosdiscursos:odiscursoinstrucional (discursoespecializadodascinciasderefernciaasertransmitidonaescola)eo discursoregulativo(discursoassociadoaosvaloreseaosprincpiospedaggicos). Comoodiscursoregulativoquedominaodiscursoinstrucional,pormeiodo discurso regulativo que a ideologia intervm no discurso pedaggico.AsmarcasestruturalistasdeBernsteinaindasemantinhammaisfortementeem nossaanlise,masjinicivamosseuquestionamentopelaincorporaodateorizao sobrehibridismodeGarcaCanclini(1998).Foicombasenoquestionamentoaesse estritoestruturalismoeslimitaesporelegeradasideologiacomonegativa, posicionamentofixodossujeitosnoscamposderecontextualizao,compreensodas mudanasapenasnointeriordasregrasdaestruturadiscursivaqueformulamoso projeto seguinte10. Nele, acentuamos a incorporao de Stephen Ball. Esse autor trabalha os textos como representaes das polticas e opera com a interpretao da poltica como texto e como discurso, bem como com a noo de recontextualizao. Trabalha sob inspirao deBernstein,masjdeformaarticuladaaohibridismo,aindaquesemdesenvolver 10Aproduodepolticasdecurrculoemcontextosdisciplinares,desenvolvidonoperodode2005a 2008. 45 comosedessarelaoentreconceitosestruturaiseps-estruturais,aspectodoqual tentamos dar conta11.Naanlisedosdocumentosdaspolticasdecurrculo,consideramosquetais produes,emanadasdoqueBall(1994;comBoweeGold,1992)denominacontexto deproduodetextos,sorepresentaesdosprocessosdearticulaodesenvolvidos nabuscadehegemonizardeterminadaorientaocurricular.Nelesseexpressam,de formahbrida,sentidosdasprticas,docontextodeinflunciaedasdiferentes demandastornadasequivalentesparaproduziroquepassaaserveiculadocomose fosseumadiretrizcurricularcomumatodos.AindaqueBallentendaocontextode influnciacomoaorigemdaspolticas,conferindomaiorcentralidadesuaanlise, procuramosinvestigardeformaarefutaressaprioridadeconferidaaessecontextona formulaodaspolticas.Tencionamos,diferentemente,acentuarocartercontnuoe interconectadodaabordagemdociclodepolticaspropostaporBall,bemcomoa constante negociao de sentidos que caracteriza os hbridos culturais.Assim,ostextosdaspolticassocodificadosedecodificadosdeforma complexa,comsentidosnofixos(Ball,1994).Tantopelaslutasinerentesaos processospolticosquantoporsuascaractersticastextuais,taisrepresentaesso bricolagens sujeitas a novas reinterpretaes nas mltiplas leituras as quais os textos so submetidos. H processos de negociao para elaborar a representao da poltica, como tambmparareconstruiredesconstruirseussentidosnocontextodaprtica.Nesses processos de traduo e recontextualizao, ressaltamos a importncia de considerarmos osdiferentescontextosemqueostextossoproduzidoseossujeitosegrupossociais quenelesparticipam.Pormaisqueexistammecanismosdiscursivosparadirecionar determinadaspossibilidadesdeleitura,semprehzonasdeescapequetornamtal direcionamento limitado e precrio. Talentendimentovisaasuperararestriodaprticaaumespaode implementaoereatividadefrenteaostextosdaspolticas,conferindo-lheuma dimensoprodutivadapoltica(BalleBowe,1992).Masigualmentecontribuiparao questionamentodaexpectat