LONA 419- 19/08/2008

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Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008 | Ano IX | nº 419| [email protected]| Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo | DIÁRIO d o B R A S I L No dia do aniversário da fotografia, o LONA traz uma re- portagem especial sobre a história, a evolução e todas as dis- cussões que existem em torno do intenso crescimento do li- vre acesso à imagem no mundo. Fotografia completa hoje 169 anos De 2004 até 2006, a propor- ção de alunos com renda de até três salários mínimos no ensi- no superior aumentou em 49%. O índice resulta da Pesquisa Nacional por Amostra de Domi- cílios (Pnad). Para a porcentagem ter au- mentado dessa forma, o Progra- Página 3 Peça de teatro carrega crítica à abordagem da mídia no Brasil A Companhia de Teatro “Os melhores do Mundo” apresentou na sexta e no sábado o espetácu- lo “Notícias Populares” no Teatro Positivo. O grupo, com o famoso personagem Joseph Klimber, fez adaptações que contextualiza- ram Curitiba ao enredo da histó- ria do espetáculo. Página 3 O seu primeiro livro, “Memórias de uma moça bem comportada” (foto ao lado), é uma crítica ferrenha aos valo- res burgueses. A escritora causou mui- ta polêmica na época graças às relações que mantinha com mulheres, geral- mente antigas alunas, e também pela sua vida amorosa, que foi estruturada em torno de um trio, e não de um casal. Páginas 4 e 5 Divulgação Escritora Simone de Beauvoir faria cem anos em 2008 Página 7 ma Universidade para todos (Prouni) do Governo Federal teve grande importância. Po- rém, o número de estudantes de baixa renda no ensino superior ainda pode ser superado, já que quase 40% das vagas disponí- veis não são preenchidas. O que também ajudou a ele- var o índice foi o fato de o nú- mero de vagas na universidade ter quase quadruplicado nos úl- timos anos. E foram as institui- ções que mais ampliaram seus quadros de alunos, geralmente com mensalidades mais baixas. Cresce número de alunos de baixa renda no ensino superior Perfil: adolescente que se descobriu fotógrafo Roberto Pitella/ LONA Roberto Pitella é psicólogo e um apaixonado pela fotografia - Página 6

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JORNAL- LABORATÓRIO DIÁRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE POSITIVO.

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Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008 | Ano IX | nº 419| [email protected]|Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo |

DIÁRIO

do

BRASIL

No dia do aniversário da fotografia, o LONA traz uma re-portagem especial sobre a história, a evolução e todas as dis-cussões que existem em torno do intenso crescimento do li-vre acesso à imagem no mundo.

Fotografia completa hoje 169 anos

De 2004 até 2006, a propor-ção de alunos com renda de atétrês salários mínimos no ensi-no superior aumentou em 49%.O índice resulta da PesquisaNacional por Amostra de Domi-cílios (Pnad).

Para a porcentagem ter au-mentado dessa forma, o Progra- Página 3

Peça de teatro carregacrítica à abordagemda mídia no Brasil

A Companhia de Teatro “Osmelhores do Mundo” apresentouna sexta e no sábado o espetácu-lo “Notícias Populares” no TeatroPositivo. O grupo, com o famosopersonagem Joseph Klimber, fezadaptações que contextualiza-ram Curitiba ao enredo da histó-ria do espetáculo.

Página 3

O seu primeiro livro, “Memórias deuma moça bem comportada” (foto aolado), é uma crítica ferrenha aos valo-res burgueses. A escritora causou mui-ta polêmica na época graças às relaçõesque mantinha com mulheres, geral-mente antigas alunas, e também pelasua vida amorosa, que foi estruturadaem torno de um trio, e não de um casal.

Páginas 4 e 5

Divulgação

Escritora Simone de Beauvoirfaria cem anos em 2008

Página 7

ma Universidade para todos(Prouni) do Governo Federalteve grande importância. Po-rém, o número de estudantes debaixa renda no ensino superiorainda pode ser superado, já quequase 40% das vagas disponí-veis não são preenchidas.

O que também ajudou a ele-

var o índice foi o fato de o nú-mero de vagas na universidadeter quase quadruplicado nos úl-timos anos. E foram as institui-ções que mais ampliaram seusquadros de alunos, geralmentecom mensalidades mais baixas.

Cresce número de alunos debaixa renda no ensino superior

Perfil: adolescente que se descobriu fotógrafoRoberto Pitella/ LONA

Roberto Pitella é psicólogo e um apaixonado pela fotografia - Página 6

Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 200822222

O LONA é o jornal-laboratório diário do Curso de Jornalismo daUniversidade Positivo – UP

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“Formar jornalistas com abrangentes conhecimentos ge-rais e humanísticos, capacitação técnica, espírito criativo eempreendedor, sólidos princípios éticos e responsabilidade so-cial que contribuam com seu trabalho para o enriquecimentocultural, social, político e econômico da sociedade”.

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Reitor de Planejamento eReitor de Planejamento eReitor de Planejamento eReitor de Planejamento eReitor de Planejamento eAAAAAvaliação Institucional:valiação Institucional:valiação Institucional:valiação Institucional:valiação Institucional:Renato Casagrande; Coorde-Coorde-Coorde-Coorde-Coorde-nador do Curso de Jorna-nador do Curso de Jorna-nador do Curso de Jorna-nador do Curso de Jorna-nador do Curso de Jorna-lismo: lismo: lismo: lismo: lismo: Carlos Alexandre Gru-ber de Castro; Professores-Professores-Professores-Professores-Professores-orientadores:orientadores:orientadores:orientadores:orientadores: Ana Mira,Elza de Oliveira e MarceloLima; Editores-chefes:Editores-chefes:Editores-chefes:Editores-chefes:Editores-chefes: An-tonio Carlos Senkovski e Ka-rollyna Krambeck

O Brasil deve renegociar o Tratado de Itaipu com o novo governo paraguaio?

Hendryo André

O maior equívoco do Para-guai aconteceu em 1973, quan-do resolveu negociar a honra detoda uma nação. Talvez o moti-vo tenha sido o tempo, pois eleé, sem dúvida, um divisor deáguas. Um século antes, brasi-leiros, uruguaios e argentinosinvadiram as planícies do ou-tro lado da Ponte da Amizade(que obviamente não existia,apesar da relação estreita en-tre os dois países) por conside-rar aquela nação perigosa.Quem venceu a Guerra do Pa-raguai? O imperialismo inglês,que desfrutou de águas calmase de algumas libras esterlinasdo endividado Brasil vitorioso deguerra.

E algumas gerações de pa-raguaios odiaram os brasileiros,que desfrutavam com gosto deanedotas dos vizinhos. Tornou-se o Paraguai um “cavalo para-guaio”, daquele que demonstragrande potencial (para o desen-volvimento econômico), masque sucumbe no imponderável– não foi por conta própria, ca-ríssimo leitor, o que contraria oditado popular oriundo das ter-ras a leste de Itaipu.

E eis que em 2008 o Para-guai retoma coragem e põe empauta, por meio da posse de Fer-nando Lugo, o assunto lá da

Sim década de 1970. O país, deten-tor de 50% da energia gerada porItaipu, repassa quase toda a suaparcela de direito ao gigante daAmérica do Sul, detentor “real”de 95% do que é produzido. En-quanto isso, os paraguaios es-tão cada vez mais próximos doescuro, apesar de ser um dospoucos países no planeta comexcedente de energia.

Isso porque não há infra-es-trutura suficiente para distri-buir a energia dentro do próprioterritório. O motivo? A dinastiado Partido Colorado, correntepolítica voltada à política exter-na e a interesses particulares,e que comandou o barco para-guaio por seis décadas. Os da-nos poderiam ser piores, masfelizmente não há mar!

O fato é que os paraguaiospagam um valor abaixo do pre-ço de custo na energia retiradade parte da natureza pertencen-te àquela nação, algo em tornode U$ 100 milhões anuais,quando o preço de mercado ga-rantiria cifras equivalentes a U$11 bilhões. Não fosse apenas obom senso em readmitir umacordo, pois fica clara a pirata-ria dos Colorados, há a eternadívida social que o Brasil temcom os vizinhos, pois como omais legítimo dos “cavalos pa-raguaios” – há de considerar quea expressão é posterior a Guer-ra – quis ser império e ficou al-guns nós atrás das potênciaseconômicas. É hora de o Brasiltentar negociar a sua honra,mas dessa vez sem equívocos.Do resto, o tempo – velho divi-sor de águas – cuida.

Expediente

Marcos Lemos

1500 - ano do Descobrimen-to do Brasil. Não demoroumuito para que as duas potên-cias na exploração marítima,Portugal e Espanha, se unis-sem para dividir as conquis-tas. O Tratado de Tordesilhasestabeleceu que as terras daAmérica do Sul ao leste per-tenceriam aos portugueses ea oeste aos espanhóis.

Somente em 1750 foi res-peitado o princípio do uti pos-sidetis, em que a terra devepertencer a quem de fato aocupa, e estabelecido um novoacordo, o Tratado de Madri.Dessa forma, os limites natu-rais, rios, montanhas e cordi-lheiras passaram a delimitaras nações que se emancipa-ram e buscavam a auto-sufi-ciência.

A construção de usinas hi-drelétricas foi uma das alter-

Não nativas para promover a evolu-ção dos países. Algumas dessas,por estarem nas divisas, foramconstruídas em parcerias bina-cionais como o caso de Itaipu eYacyretá. Por envolverem paí-ses com legislações e necessida-des diferentes, além de altosinvestimentos, ficam regula-mentadas por acordos muitobem feitos e analisados em queas alterações só podem ser rea-lizadas se ambos os lados esti-verem de acordo, ou com o tér-mino do contrato.

Apesar disso, o atual presi-dente do Paraguai, FernandoLugo, utilizou como slogan decampanha eleitoral a renegoci-ação da energia comercializadacom o Brasil. Isto, porque loshermanos consomem somente5% da energia produzida porItaipu e são obrigados a comer-cializar o restante com o Bra-sil, por um “preço justo” esta-belecido mundialmente.

Atualmente é pago ao Para-guai US$ 45,31 por MWh, va-lor que gera impactos diferen-tes de acordo com o câmbio dodólar no bolso da dona-de-casaque paga a conta de luz. Estevalor pode ser comparado com

o preço da energia que será co-mercializada pela usina deSanto Antônio, no rio Madei-ra, que foi leiloada em dezem-bro e será vendida a R$ 78,87o MWh.

Vantagem para nós, brasi-leiros, que apesar de termosum dos maiores potenciais hi-drelétricos, torcemos todos osinvernos para que chova, a fimde ocultar o risco constante doapagão.Assim, utilizamos 95%da energia produzida por Itai-pu, mas pagamos os royalties,o excedente paraguaio e as par-celas do financiamento para aconstrução da usina que ter-minam somente em 2023.

De fato somos dependentesde Itaipu, uma vez que a usi-na fornece 20% da energiaconsumida no país, abaste-cendo todas as regiões brasi-leiras. Cabe ao governo para-guaio esperar até o términodo Tratado de Itaipu em 2023,ou se satisfazer com o finan-ciamento concedido para oprojeto de linhas de transmis-são de energia de até Assun-ção e um possível emprésti-mo de US$ 200 milhões paraa execução da obra.

Carlos Guilherme Rabitz

Somos uma nação sem he-róis. Somos uma nação semmuita coisa para se comemo-rar. Mas o brasileiro é criati-vo, não perde a oportunidadede se divertir, seja com vitóri-as, derrotas ou perdas.

Nesta semana lembramosum dos ícones de uma gera-ção que, além de não perderadeptos, agrega, a cada dia,mais seguidores. No dia 21 deagosto deste ano faz 19 anosda morte de Raul Seixas. Emvez de chorar a perda, legiõesde fãs homenageiam o ídolo,com encontros, festas, showse eventos. É uma semana emque vários tributos acontecempelo Brasil inteiro. Em Curi-tiba, além do encontro anualdo fã-clube Geração Alternati-va, teremos a presença domais famoso cover do músico,João Elias, ou Raulzito, deApucarana. Elias teve sua car-reira alavancada por uma apa-rição no Domingão do Faus-

Raul está vivo!tão, há cerca de um ano. O fã-clube e o cover se encontrarãono evento promovido pelo pri-meiro, em um churrasco queinicia às 10h dopróximo sábado ecostumeiramentetermina na ma-nhã do domingo,sempre ao som detodas as músicasdo ídolo.

Em um paísonde ícones não seformam da noitepara o dia, a lem-brança é a melhorforma de se home-nagear àqueles quetêm ou fazem al-gum sentido para avida de alguns.Mesmo sendo pou-cos os seguidoresde Raul Seixas,pelo menos em Cu-ritiba, há semprequem possa criarum motivo paratrazê-lo à vida, sejaem espírito, músi-

cas, ou até mesmo passando odia com os amigos para contare recontar histórias vividas emsintonia com o ídolo.

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Geral

ProUni ajuda na redução da desigualdadesocial sobre número de universitários

Estudantes beneficiados pelo programa ganham chances no mercado de trabalho

A vida é uma caixinha de surpresas

Guylherme Custódio

“Já parô pra refreti quantoserro de português nóis falanum dia? Bastantão, né? Se umseqüestrador aficionado pela lín-gua portuguesa estivesse lendoesse texto alguns dos seus re-féns já estariam mortos”. Issoparece muito trágico. Parece.Se não fosse uma montagem daCia de Teatro Os Melhores doMundo.Eles já estiveram em ju-lho no Teatro Positivo apresen-tando a montagem “Hermano-teu na Terra de Godah”. Destavez, na sexta e no sábado, apre-sentaram a sua mais famosacriação:Joseph Klimber e a suavida, que é uma caixinha desurpresas. Além de Klimber,foram apresentados ao públicocuritibano o grupo de rap Repe-tentes, o militar BrasileiroDeny, o candidato Alfredo Gus-mão-trabalho e dedicação e opolicial Saraiva.

Como em Hermanoteu naTerra de Godah, as “Notícias

Populares” também estiveramrepletas de referências à capi-tal do Paraná. Curitiba apare-cia sempre que possível em meioàs cenas. Uma dessas ocasiõesfoi logo no início da peça, quan-do o seqüestrador fazia as suasexigências: “Eu quero toda a im-prensa aqui. Quer dizer, toda aimprensa não. O Alborghettinão precisa!”. A polícia da cida-de também foi contempladacom uma das piadas: “Se o car-ro tivé som nóis tá levando.Nóis é pior que polícia de Curi-tiba”. As construções da capi-tal também tiveram uma pon-ta: “Isso é a construção maisescrota que eu já vi. Ah é? E ohotel Bristol? Tá, tá, ta, é a se-gunda construção mais escro-ta. E a praça do homem nu? Tá,ta, ta, é a terceira construçãomais escrota.” Para SandraGaldolfi, que conheceu o grupoapenas nesta sexta-feira, as re-ferências de Curitiba na peçafazem com que o público se apro-xime ainda mais da montagem.Diferente de Sandra, o profes-

sor Éder da Costa já tinha vis-to a peça e também a outra, eveio à apresentação para tra-zer um amigo seu. Sobre aaproximação da peça com a ci-dade Éder tem a mesma opi-nião que Sandra: “isso é o queabrilhanta mais ainda a peça”.

O nome da peça, “Notíci-as Populares”, é uma críticaaos veículos de comunicação.Em forma de telejornal, apeça mostra como a televisãoretrata a realidade, seja umassalto, um debate político ouaté mesmo o “exemplo vivo dehoje”. A forma mais clara emque a peça mostra isso é nodebate político em que um doscandidatos é claramente favo-recido pelo apresentador deTV. O grupo satirizou até ocandidato à prefeitura de Cu-ritiba, Lauro Rodrigues, doPT do B. Para Éder, a críticaà televisão é válida: “Isso que-bra um pouco o mito da im-parcialidade, de que eles sãomediadores. É uma sátira quetem seu fundo de verdade”.

Leonardo Barroso

Em 2007, a estudante Cá-tia Boock, na época com 17anos, estudava em Santa Iza-bel do Oeste, cidade no interiordo Paraná, para passar no ves-tibular e garantir seu lugar emuma faculdade. Mas ela nãopodia pagar pela mensalidadede nenhum dos cursos univer-sitários particulares que pre-tendia fazer. Se não fosse o Pro-grama Universidade para To-dos, o ProUni, Catia teria deesperar até conseguir umavaga em instituição pública, oque poderia deixá-la mais de umano fora do ensino superior.

Atualmente, Catia cursa oprimeiro ano do curso de Siste-mas de Informação da Universi-dade Positivo (UP), onde conse-guiu entrar comuma bolsa de es-tudos, conquis-tada com umaboa nota no Exa-me Nacional doEnsino Médio, oEnem. Com ocurso, Catiatem mais chan-ces de conseguirum bom empre-go dentro daárea em que re-almente deseja,“depois de ter-minar a facul-dade, eu vou ten-tar trabalharcomo analista desistemas ou pro-g r a m a d o r a .Mas há muitas opções que eu pos-so fazer com esse curso”, conta.

Segundo a professora de so-ciologia Eliane Basílio de Olivei-ra, da Universidade Positivo, oaumento de 49% de estudantescom renda de até três saláriosmínimos no ensino superior,ocorrido entre 2004 e 2006, é umexemplo de redução da desigual-dade econômica no país: “Comacesso a um diploma universi-tário, uma pessoa com baixa

renda tem maior possibilidadede competir em igualdade compessoas de classes mais altaspor uma posição no mercado detrabalho”. Eliane também res-salta que os cursos superioresainda não são prioridade no país.“A única educação obrigatória noBrasil é a do ensino fundamen-tal, que dificilmente possibilitauma melhora de renda por si só”.

Apesar das melhorias, o ProU-ni não pode manter todos que pre-cisam dentro da universidade.Cerca de 39% das bolsas em uni-versidades particulares estão oci-osas, ou seja, não estão sendo usa-das. Segundo o sociólogo Alexsan-dro Eugênio Pereira, isso pode serresultado de muitas complicaçõeseconômicas. “Apesar da universi-dade ser gratuita com a bolsa, oestudante ainda tem outros cus-tos, como a alimentação, o trans-

porte, materialdidático etc.Além disso, oaluno muitasvezes precisas u s t e n t a rmais pessoasalém de simesmo, tendoque trabalhar,o que pode difi-cultar a manu-tenção do cur-so.”

Ainda as-sim, Pereiraafirma que oProUni, ape-sar de não re-solver toda aquestão educa-cional do país,

é uma medida válida. “Ele não ata-ca a raiz do problema, que seria agrande deficiência no sistema deeducação. Mas minimiza os efei-tos dessa deficiência”. O fato é quemesmo sendo uma ação de com-pensação, o ProUni pode ajudar amudar a vida de várias pessoasque passam por dificuldades. Cá-tia, que fez parte desta compensa-ção, está um passo mais perto derealizar seus desejos dentro do mer-cado de trabalho.

Divulgação

“Apesar de a uni-versidade sergratuita com abolsa, o estudanteainda tem outroscustos. Ele muitasvezes precisasustentar mais pes-soas além de simesmo, tendo quetrabalhar”ALEXSANDRO EUGÊNIOPEREIRA - SOCIÓLOGO

Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 200844444

Especial No Dia Mundial da Fotografia, fotógrafos comentam a relação e o acesso das pessoas à imagem

A democratização da memóriaBárbara Pombo

169 anos. Essa é a idade devida da “photographia” (do gre-go, escrever na luz). “Eu nãosei. Por que o 19 de agosto é odia mundial dela?”, questionao fotógrafo curitibano João Ur-ban. Nesta data, o francêsLouis Daguerre apresentou oDaguerreótipo, na Academia deCiências em Paris. Este proces-so fotográfico se utilizava deuma placa revestida de pratacomo material sensível a luz e,depois da exposição, a imagemera revelada com vapor de mer-cúrio aquecido. Imagem forma-da dentro das três tonalidadespossíveis - negra nos locaisonde a prata recebe intensaquantidade de luz, cinzentaonde a intensidade é média ebranca (ou inalterada) ondenenhuma luz a atinge.

“O Daguerre foi o financia-dor das pesquisas do JosephNicéphore Niépce. Ele morreuem 1839. O filho do Niépce as-sumiu as pesquisas e o Da-guerre bancava. Levou o títu-lo de inventor da fotografia.Mas, na verdade, ele foi ogrande patrocinador”, opinaUrban diante da sua antiga ebem conservada casa na RuaBrigadeiro Franco, onde moracom a irmã, ajornalista Te-resa Urban.

“A técnicajá vinha sendoestudada hátempos. Só nãosabiam comofixar a ima-gem, e o Niép-ce conseguiu ofeito. Conti-nuou a pesqui-sa até chegarao daguerreóti-po. Hoje, isso éjóia, materialúnico. Comprei um daguerreó-tipo na Argentina, mas ficoucom minha ex-mulher. Não tivecoragem de pedir de volta”,brinca o fotógrafo, autor de li-vros como “Tropeiros”, “Apare-cidas” e “Tu i Tam” - ensaio so-bre a imigração polonesa no Pa-raná.

Simultaneamente aos doisfranceses, o escritor e cientis-ta inglês William Henry Fox-Talbot lançou a talbotipia naInglaterra, dando início à mul-tiplicação da fotografia. “Essatécnica tinha qualidade maismoderna comparada ao da-guerreótipo. Talbot dizia queera uma invenção que deline-ava as formas sem a utiliza-ção do lápis. Porque antes sevia a figura na câmera escu-ra, colocava um papel vegetale com o lápis delineava a ima-gem que aparecia na câmera.Com o sistema que ele inven-tou, o uso do lápis foi descar-tado”, explica.

Logo após o governo fran-cês ter anunciado o invento deDaguérre, Talbot reclamou aprioridade de seu invento numinforme à Royal Society, cha-mado: “Alguns informes sobrea arte do Desenho Fotogênico,o processo mediante o qualpode-se conseguir que os obje-tos naturais reproduzam-sepor si só”. Ao contrário da apre-sentação de Daguerre em 1839,a publicação desse informe fi-cou restrita aos colegas cien-tistas da Academia.

Anos mais tarde, durante aGuerra Fria, o programa espaci-al americano desenvolveu a tec-nologia fotográfica digital. As pri-

meiras ima-gens captura-das sem filmeforam registra-das pela sondaMariner 4, em1965, e grava-ram 22 ima-gens em preto ebranco da su-perfície de Mar-te. Mas a pri-meira câmeradigital popularfoi lançada bemdepois, em1990. O mode-

lo Dycam I tirava fotos em bran-co e preto com resolução de 320 x240 pixels e podia armazenar até32 imagens em 1 MB de memó-ria interna.

A transiçãoO processo de adaptação dos

fotógrafos ao sistema digital le-

vou algum tempo. Mas nãopara os fotojornalistas. NaGazeta do Povo, por exemplo,as câmeras digitais foram im-plantadas no caderno de verãode 1995. “Não houve resistên-cia de nenhum profissional dojornal. Nossa rotina de traba-lho foi modificada, mas paramelhor. Além de trazer agili-dade ao processo de captura epublicação, distribuição dessaimagem”, afirma o repórterfotográfico Marcelo Elias.

Carlos Roberto Zanello deAguiar, o Macaxeira, fotógra-fo da Secretaria de Estado daCultura desde a década de 70,seguiu o caminho contrário.Trabalha até hoje com o filmefotográfico. “Depois da captu-ra, há a revelação. A partir dafolha contato, observo com alupa o negativo. É até umaprendizado, pois vejo o queerrei, o que podia ter feito me-lhor, que ângulo seria maisinteressante. Escolho e editoo material pela lupa, depoismando ampliar. Dois, trêsdias é o tempo que leva entrefotografar e ter as ampliaçõesprontas”, explica o autor do li-vro Fandango do Paraná:Olhares, lançado em 2005.

Mas, segundo ele, houvepressão para a digitalização.Na época, teve que persuadiro então diretor da SEEC parapermanecer com o filme foto-gráfico. “Lidamos com acervohistórico, registro momentosque devem ser preservados eexpostos daqui a trinta, cin-qüenta, noventa anos. E a vidaútil de um CD, onde se podemarmazenar as imagens, é deapenas dez anos”, aponta Ma-caxeira. “A visão da fotografiahoje é a mesma do grego Íca-ro. É efêmera. Após a quedade Ícaro (Na mitologia grega,ele morreu ao cair no Egeu,quando a cera que seguravasuas asas artificiais derreteu),o olhar ficou fragmentado enômade. Temos hoje a estéti-ca do aqui/ agora”.

A democratizaçãoCom a diminuição de pre-

ços das câmeras digitais, como avanço da tecnologia que pro-porcionou tirar fotos pelo ce-lular e pelo computador, alia-do à facilidade da transmissãode dados e imagens seja pelainternet ou pelas agências denotícia, o ver e o congelar mo-mentos foram democratizados.

“Essa democratização comovocê chama, esse uso maisampliado da fotografia já ha-via começado com o desenvol-vimento das câmaras de umtoque, mais simplificadas emque não era necessário teruma cultura, um conhecimen-to técnico e apurado. A pessoanão precisava aprender a me-xer no diafragma, no tempo dacâmara, quando pedia maisluz o flash funcionava automa-ticamente porque tudo era in-corporado”, esclarece Urban.

Ele conta ainda que o fácilacesso a câmeras começou noJapão, onde sempre se fotogra-fou muito. Em paralelo, os la-boratórios e as máquinas defazer as reproduções se torna-ram cada vez mais sofistica-das. “A pessoa entregava o fil-me na loja e recebia as cópiasem questão de horas. Na mi-nha opinião, o filme seguravaa massificação da fotografia”.

“Com o surgimento da di-gital, simplesmente substitu-íram a película pelo sensor ea colocação daquela coisa ma-ravilhosa de poder enxergar afoto logo após a captura. O fil-me acabava sendo sempre otropeço, porque tinha que pa-

Avelina e Lídia Marszal, foto de 86 na região do Rio do Banho, Cruz Machado/PR

João Urban/ LONA

“É a pré-alfabetização dapopulação queaprendeu a usar aimagem. Tem genteque não sabeescrever e sabefotografar”JOÃO URBAN,FOTÓGRAFO

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gar. Hoje só se paga pelas có-pias, e isso se quiser, senãoarmazena no computador oupublica em páginas na inter-net”, aponta Urban. O fotó-grafo húngaro Lazló Moholy-Nagy já afirmava, em 1936,que “no futuro não serão con-siderados analfabetos apenasaqueles que não souberem ler,mas também quem não enten-der o funcio-namento deuma máqui-na fotográfi-ca”.

“Isso éuma pré-alfa-betização dap o p u l a ç ã oque aprendeua usar a ima-gem. Temgente quenão sabe es-crever e sabefotografar”,sugere Ur-ban. Estedescendentede polonesesjá é conheci-do como fotógrafo documenta-rista, mas hoje atua aindacom fotografia publicitária.“Na parte comercial, fotogra-fo 100% com digital. Agora es-tou utilizando a digital paraprojetos pessoais. Não sei sealgum dia voltarei a usar a pe-lícula. Mas tenho a fantasia depedir para alguém me trazer

de outro país chapas para fa-zer fotos com película. Mas teconfesso que é uma fantasia”,revela Urban que deve lançar,ainda este ano, o livro “Mar eMata”, parceria com a irmãTereza, sobre a questão sócio-ambiental que envolve a regiãoda serra, da floresta e do lito-ral do Paraná.

A manipulação e a falta deeducação sãoa p o n t a d a scomo possíveisproblemas doacesso a umacâmera no bol-so e um com-putador comconexão. “Nãohá uma preo-cupação jurídi-ca em relação àmanipulaçãoda imagem. Ehoje, com o sis-tema digital,isso é muito fá-cil. Mexer nasimagens seriap e r m i s s í v e lpara fotos pu-

blicitárias e propagandas quevocê tira o fundo, mas para fo-tojornalismo é o fim do mun-do”, acredita Aguiar. Para ele,nunca se fotografou tantoquanto hoje. Mas o ato de cap-turar momentos se tornou umtanto quanto obsessivo e in-truso. “Em shows, teatros, háavisos de que é proibido filmar,

fotografar. É a mesma coisa dedizer: Olha, faça o que quise-rem! É um absurdo total eatrapalha. Você não vai maisao cinema e ao teatro para ver,aprender, curtir. Agora o en-tretenimento é comer, jogarpipoca, usar o celular e tirarfoto. O espetáculo em si ficaem segundo plano”.

Outro aspecto prejudicial éo da dificuldade de fotógrafosprofissionais se estabeleceremno mercado de trabalho. Deacordo com Irany Carlos Mag-no, presidente da Associação deRepórteres Fotográficos e Ci-nematográficos do Paraná(ARFOC), a digitalização be-neficiou a produção de ima-gens na imprensa, mas nãoessencialmente aos profissio-nais da área. “O repórter qua-lificado perdeu espaço porquequalquer um (mesmo sem serfotógrafo) pode fazer o mesmoserviço, já que a digital per-mite. Assim, o pagamento portrabalhos fotográficos freelascaiu bruscamente. O fotógra-fo de qualidade deve estar pre-parado para o momento deci-sivo, carece de um olhar apu-rado. Mas o contratante nãoquer pagar por esse ‘a mais’”,diz Magno. Ele conta aindaque alguns fotógrafos sem for-mação aceitam fazer o traba-lho por R$200, mas os profis-sionais não aceitam. “A câme-ra digital tirou muito o ganhodo profissional. O piso conti-nua o mesmo, mas o preço dofrila baixou”.

Na era da imagem, fica adúvida se os momentos capta-dos são simplesmente des-membrados e fixados ou pas-sam pelo crivo do olhar dequem fotografa. Para o presi-dente da ARFOC, a fotografiaapreende a realidade. “Elatransmite uma imagem gra-vada, o momento que não vol-ta mais. Depois eu vou questi-onar o que ela reflete. A pelí-cula e a fotografia são eternas,ao contrário do vídeo, em queo processo para armazenagemé maior. A fotografia bem tra-balhada nunca se perde”, opi-na Magno.

Já para Urban, que cresceuna casa da Brigadeiro Francoao lado do tio fotógrafo amador,a história da técnica é iguala qualquer uma. Pode servirpuramente como um registro,uma reprodução ou pode serusada em um retrato que pre-

tenda ser interpretativo, opina-tivo, de comentário da realida-de. Segundo ele, já existe dis-cussão em torno dos fotógrafosque “usam” a realidade pararealizar sua expressão pessoal,e daqueles que pretendem serfiéis interpretes da realidade.

“Mas a técnica pode ser usa-da ainda como vertente artís-tica, hoje é comum que artis-tas plásticos se tornem fotógra-fos-artistas. A fotografia é efoi usada por todos e para tudo.Com o efetivo surgimento e apli-cação da digital, o uso do pro-cesso fotográfico tradicional serestringe, cada vez mais, a umgrupo menor de usuários quecontinuarão a honrar a pelícu-la enquanto ela for produzida.Hoje já encontramos inclusivegrupos especializados em ensi-nar a produzir o daguerreótipoe outras técnicas artesanais”,diz.

Interpretar ou captar a realidade?

Urban complementa que,antigamente, uma pessoa comuma câmera simples de baixocusto não conseguia resultadostão bons quanto hoje. “Atual-mente, existem grandes faci-litadores, as máquinas incor-poradas a telefones têm pro-cessadores que otimizam aimagem”, esclarece.

“A ARFOC é uma associa-ção que encaminha fotógrafospara empregos fixos ou tem-porários. Funciona como agen-ciador de contatos. Porém, hápouco pedido de indicação hojeem dia, pois todos fazemigual”, afirma Magno, que jáfoi cinegrafista do Canal 12 elaboratorista.

A comemoração169 anos de idade, quase

uma semana inteira de come-morações. “Não sou chegadoem festividades, mas existemalguns fotógrafos que fazemum grande evento de fotogra-fia da coisa mais simples, queé a fotografia da câmera de ori-fício (câmera de furinho). En-quanto ficamos pensando nadigital, nas sofisticações, essaspessoas tomam o caminho in-verso da câmera escura paraproduzir imagens com as deorifício”, descreve Urban, quese entendeu pela primeira vezcomo fotógrafo na década de60, após o Golpe Militar, quan-do fotografava os grupos doTeatro do Estudante Univer-sitário. “Comecei a acompa-nhar as movimentações da

“A escolha entrePB e coloridasempre meperseguiu e metrouxe dúvidas.Para quase todos osmeus trabalhostenho uma coleçãoem cores e outraem preto-e-branco.”JOÃO URBAN,FOTÓGRAFO

resistência à ditadura, do mo-vimento estudantil. Certa vez,registrei os agentes da repres-são que estavam espionando osestudantes. Quiseram apreen-der os filmes, foi uma confu-são! Dias desses procurei osfilmes, mas não encontrei.Acho que escondi tão bem quenão acho mais”, relembra.

Já Macaxeira acredita quea data mereça uma exposiçãode suportes antigos, com o car-lótipo, andrótipo, daguerreóti-po, fotos em preto e branco.“Justamente para as pessoasverem outros tipos de supor-te, diferentes do digital que do-mina hoje”, sugere.

A fotografia em PB aindadesperta a curiosidade das pes-soas, seja por serem antigasou por causar o mistério domomento captado. “Prefiro aPB. Parece que ela dá mais vo-lume à foto, tem um segredo,sabe Deus! Ela prende o olhar,e eu fico mais interessado pelaimagem. Além disso, PB é luz.Percorre um mapa geográfico,é uma viagem através da luzou a própria viagem da luz”,conceitua Macaxeira.

“A escolha entre PB e colo-rida sempre me perseguiu eme trouxe dúvidas. Para qua-se todos os meus trabalhos te-nho uma coleção em cores eoutra em preto-e-branco. Ásvezes até parecem dois traba-lhos diferentes, são leiturasdistintas e duas maneiras di-ferentes de contar a mesmahistória”, defende Urban.

Fotografia de 1996 em Paranaguá, trabalho para o livro “Fandango do Paraná: Olhares”

Carlos Roberto de Aguiar/ LONA

Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 200866666

Perfil Ele só queria mostrar para o filho que tudo é possível

A ditadura, uma máquina fotográfica,um garoto e suas maravilhosas histórias

Em meio ao corre-corre, um garoto de

apenas 16 anos esua máquina

fotográfica iniciamuma longa história

Ensaio Belém – PA

Ensaio na Serra do Mar

Isadora Hofstaetter

Estudantes em uma passea-ta reivindicando melhorias nasescolas públicas. O dia, o moti-vo, ninguém lembra. Só ficou namemória o ano: 1975. Sabe-setambém que era um grupo for-mado só por adolescentes comseus 14, 16 anos. O presidenteGeisel já começara com políticasrumo à democracia, mas os pro-cessos eram lentos. O AI-5 só cai-ria em 1978, e a repressão aindaera dura. Naquele dia, nenhumrepórter achou que a passeata das“crianças” viraria notícia. Esta-vam enganados. Um bando de po-liciais montados em seus cava-los começa a “descer o cacete”.Em meio ao corre-corre, um ga-roto de apenas 16 anos e suamáquina fotográfica iniciamuma longa histó-ria.

Roberto An-tônio Pitella Jú-nior é fotógrafodesde aquelemomento. Pelaprimeira vez,notou que pode-ria ganhar di-nheiro com seuhobby: tirar fotografias. Depoisdo episódio, já que nenhum jor-

nalista estava presente, algunsjornais procuraram Júnior, comoera chamado na infância, para aobtenção das imagens. Um pou-co apreensiva, a família de des-centes de italianos desconfiou.“Ninguém sabia se aqueles carasque chegaram lá em casa erammesmo repórteres. Vivíamos commedo, já que a ditadura aindacomplicava nossa vida”.

Oito anos antes, sentado nacozinha de sua casa em frente aofogão a lenha, Júnior admiravaas revistas que seu tio mostrava.Na casa, em Curitiba, moravamtodos juntos: tio, avô, avó, mãe,primos. E a maior alegria para omenino era ver as fotografiasimpressas naquelas revistas ecomer as invenções gastronômi-cas preparadas pelo tio, que iamde tatu a cobra. Do tio Duca, ape-lido de Ducastel Nicz, ficariam

muitas coisas emRoberto: o gostopela culinária eimagens, o fogãoa lenha e a pro-fissão fotógrafo.Naquela casa, to-das as criançasvendiam jornaisusados para mer-cearias da redon-

deza para ganhar um dinheiri-nho. Os jornais velhos serviam

de embrulho para as mercadori-as e, para as crianças eram apossibilidade de comprar algo quequeriam. Enquanto seus primoscompravam bolas de futebol e do-ces, Júnior economizou e assimque conseguiu, comprou umamáquina fotográfica. “Eu brin-cava de fotógrafo. Queria tirarfotos iguais as das revistas demeu tio”.

Fotógrafo, cozinheiro,amante

Mercado Municipal, 15 ho-ras. Vestindo camisa xadrez emtons azul, camiseta estampadae calça jeans, Roberto Pitellapassa despercebido pela maioriadas pessoas que cruzam seu ca-minho. Porém, volta e meia des-perta olhares femininos nadaingênuos. Na lista de compras,sushis e artefatos para o jantarque vai realizar na casa de suanamorada.

A culinária é uma das outraspaixões. É chef de cozinha e so-nha em abrir um bistrô ou qual-quer coisa do gênero. Com 49

anos, uma das dúvidas que o dei-xa preocupado é: “mantenho o sí-tio em Colombo, abro meu negó-cio, ou invisto o dinheiro?” E Gra-ce, a namorada, diz logo em se-guida: “Só lembre que com o di-nheiro investido não temos fogãoa lenha!”, sabendo o quanto éimportante para ele tomar umcafé em algum lugar afastado dacidade que faça com que lembreda infância.

Por formação, Pitella é psicó-logo. “Fiz o curso por fazer, con-fesso. Só que no último ano dafaculdade resolvi que seria real-mente um psicólogo. Larguei afotografia, vendi tudo”. Durantecinco anos, o atual professor daEscola de Música e Belas Artesdo Paraná (EMBAP) clinicou,deixou a barba crescer e como elemesmo diz, se transformou noestereótipo do psicólogo. “Até queminha segunda mulher ficou grá-vida”. Saber que seria pai mu-dou sua vida.

Para registrar os momentosque viriam com o herdeiro, nova-mente comprou uma máquina

fotográfica, mas sem intenções devoltar a fotografar algo que nãofosse seu filho. Aos poucos osamigos retomaram os pedidosde favores ligados à fotografia,como fotos para o novo catálogoda loja de móveis, ou então umcasamento. “E a fotografia, paramim, é como uma cachaça. Pas-sou um tempo e eu vendi um ter-reno que tinha comprado comminha mulher em São Francis-co do Sul, voei direto para SãoPaulo e torrei o dinheiro com-prando tudo o que precisava paravoltar a fotografar de verdade,fotografar para viver”.

Quando chegou a Curitiba ou-viu que estava louco. Mas paraele, era a melhor coisa que tinhafeito: “Queria poder dizer algumdia para o meu filho que ele temque ir atrás dos sonhos dele, in-dependente do que acham. Foi oque eu fiz”. Hoje, quando questi-onado sobre o que pretende fazerno futuro, enche o peito e comoum bom amante da vida diz:“Não sei, mas quero morrer tran-sando e fotografando”.

Fotos: Roberto Pitella

77777Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008

História

Silvia Henz

Neste ano, é comemorado ocentenário do nascimento da es-critora Simone de Beauvoir(1908-1986), eterna companhei-ra de Jean-Paul Sartre (1905-1980), autora de livros polêmi-cos que marcaram décadas. Elanasceu em Paris, em 9 de ja-neiro de 1908 e morreu na mes-ma cidade em 14 de abril de1986. Seu verdadeiro nome eraJeanne Marie Bertrand deBeauvoir.

O seu primeiro livro, “Me-mórias de uma moça bem com-portada”, é uma crítica ferrenhaaos valores burgueses. Sua reu-nião com o filósofo Jean-PaulSartre, em 1929, chocava a so-ciedade da época, por se tratarde uma relação aberta, em queambos tinham relações comoutros parceiros. Simone deBeauvoir teve relações commulheres, geralmente suas an-tigas alunas. Sua vida amoro-sa foi estruturada ao redor deum trio, e não de um casal. Umtrio que compreendia de um ladoum “amor necessário”, com Sar-tre, e o que ela chamava de“amores contingentes”, commulheres e outros homens.

Da sua obra, talvez a maispolêmica seja “O segundo sexo”(1949), análise da vida e do pa-pel da mulher na sociedade, con-siderado um dos mais profun-dos estudos sobre o tema. Esselivro é também um marco dofeminismo. No livro, Beauvoirdefende a idéia de que as carac-terísticas femininas não sãodadas pela biologia, mas se de-senvolvem por meio de um pro-cesso histórico e cultural.

“Não nascemos mulheres;tornamo-nos mulheres”, diziaela, referindo-se ao processo deaprendizagem da mulher na so-ciedade ocidental que lhe impôsuma série de limitações. ParaBeauvoir, era necessário que amulher reescrevesse sua pró-pria história, buscando umaposição melhor na sociedadedominada pelos homens.

PolêmicasPor sua obra e comporta-

mento, Simone de Beauvoir étida como uma das principais

Furacão BeauvoirSimone de Beauvoir, que teve uma vida produtiva e polêmica, teria completado 100 anos

autoras do feminismo no sécu-lo XX. Ao lado de autoras comoa inglesa Virginia Woolf (1882-1941), ela integra a segundaonda do feminismo, que buscaum espaço de atuação das mu-lheres na sociedade igual ao ocu-pado pelos homens.

No ano de 1971, Simone deBeauvoir assinava o Manifestodas 343, que exigia o direito àcontracepção e ao aborto legale seguro. No documento, Beau-voir e mais 342 mulheres ad-mitiam terem feito aborto ile-gal (na verdade, muitas delas,incluindo Simone, estavammentindo). Em 1975, o abortoera legalizado na França.

Graças ao movimento femi-nista, cuja primeira onda se ini-ciou ainda no século XVIII, asmulheres conquistaram o direi-to ao voto, o direito ao divórcio,melhores condições de trabalhoe salários mais próximos aosdos homens. Hoje, o movimen-to não tem tanta visibilidadequanto nos anos 70, principal-mente porque sua maior pro-dução se concentra no meio aca-dêmico.

Há críticos que dizem que ofeminismo prega o ódio contraos homens, a visualização dohomem como ser inferior, mi-nimizando assim um conjuntode idéias e argumentos ao seuestágio mais básico. Algumascríticas culpam o feminismo,devido à “contra-opressão sobreo sexo masculino” pelo aumen-to no número de suicídios dehomens nos Estados Unidos,que tem crescido desde a déca-da de 70. Obviamente, o femi-nismo não é culpado pelo au-mento dessa taxa.

A maioria das críticas aomovimento parte de grupos con-servadores que não conseguemaceitar o remanejamento dospapéis tradicionais e dos valoresde família, pois acreditam que,quando homem e mulher traba-lham, não sobra ninguém paracuidar bem das crianças. Os con-servadores que pregam a famí-lia nuclear estão buscando a vol-ta da sociedade patriarcal.

ConquistasA partir do lançamento do

livro “O segundo sexo”, que tra-tava de assuntos considerados

polêmicos até hoje, o feminis-mo foi ganhando força. Nosanos 60, houve um aumento nonúmero de mulheres que in-gressavam na universidade,principalmente nos EstadosUnidos. Em vários lugares domundo mulheres protestavamqueimando seus sutiãs, atosimbólico da negação do mode-lo de comportamento impostopela sociedade.

No Brasil, a atriz Leila Di-niz desafiou as normas sociaisao praticar amor livre e a inde-pendência feminina. O ano de

1975 foi declarado pela ONU oAno Internacional da Mulher.Depois em 1979, Margaret Tha-tcher foi a primeira mulher aocupar o cargo de chefe de go-verno do Reino Unido.

Em 1980, o feminismo sedestaca na televisão brasileira,programas como Malu Mulhere TV Mulher (de Marta Supli-cy). A partir daí a figura femi-nina fica cada vez mais presen-te no cenário político: MicheleBachelet, na presidência doChile; Angela Merkel, comochanceler alemã; Cristina Kir-

chner, presidente da Argentina;e Hillary Clinton, que disputoua prévia das eleições nos Esta-dos Unidos.

A polêmica vida e obra de Si-mone de Beauvoir foi importan-te para construção e desconstru-ção do que a mulher representa,e do que ela é hoje. Mesmo quepolêmica, mesmo que controver-sa, Simone inspira sentimentose pensamentos que farão suaobra permanecer viva até, quemsabe um dia, que a história nossurpreenda acabando com anti-gos e tão atuais tabus.

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Sol, areia e água salgada.Uma combinação que dificilmen-te desagrada as pessoas. Surfis-tas, crianças, famílias, vendedo-res ambulantes e muitas vezesaté cachorros contracenam coma paisagem para a formação deum retrato de pura felicidade.

Sorriso no rosto de todo mundo,e quando mal se percebe a praiaestá lotada. Entrar no mar, ficarembaixo da sombra ou torrandono sol, tanto faz. O que vale mes-mo é o espírito de diversão e sos-sego que está estampado nessesorriso das pessoas.

Texto e Fotos: Daniel Mocellin

Ilha do Mel