Longevidade

4
24 PLANO BRASÍLIA Correr para viver A prática de uma atividade física, além de ser fundamental para a saúde, pode prolongar a vida de uma pessoa em até seis anos. Paula Alvim e Raphaela Christina Capa Por: Djenane Arraes | Fotos: Victor Hugo Bonfim

description

Matéria sobre longevidade - revista Plano Brasília

Transcript of Longevidade

Page 1: Longevidade

24 PLANO BRASÍLIA

Correrparaviver

A prática de uma atividade física, além de ser fundamental para a saúde, pode prolongar a vida de uma pessoa em até seis anos.

Paul

a Al

vim

e R

apha

ela

Chris

tina

CapaPor: Djenane Arraes | Fotos: Victor Hugo Bonfim

Page 2: Longevidade

PLANO BRASÍLIA 25

O ser humano tem capacidade física para viver até 120 anos. É o que ga-rante a médica pneumologista Maria

Otávia Poti, que tem 71 anos bem vividos. Esta meta ainda parece ser um sonho distante. De acordo com o Instituto Bra-sileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida média do brasileiro é de 73,5 anos. A média sobe um pouco no Distrito Federal: 76 anos. Dos cerca de 2,5 milhões de brasilienses, pouco mais de 21 mil estão nesta faixa etária. Quanto aos seculares, os que mais se aproximaram no limite defendido pela doutora, existem menos de 200 indivíduos.

“É a gente que se mata com os vícios, como o alcoolismo, e uma vida pouco saudável”, defendeu Maria Otá-via. A doutora, que é uma pioneira em campanhas antitabagismo, afirmou que um fumante dificilmente viverá mais que 70 anos. “Na faixa dos 90, não tem quase nenhum”, garantiu. Há muitos outros fatores que contribuem para o abreviamento da vida de uma pessoa. O stress da cidade grande e a poluição são alguns deles.

Há formas de se combater os males gerados por uma vida atribulada. São coisas simples, bem conhecidas, mas nem sempre praticadas. A receita para a longevidade passa por uma dieta balanceada, uma consciência tranquila e a prática de exercícios. Movimentar o corpo regularmente pode aumentar a expectativa de vida em até seis anos, de acordo com a doutora Maria Otávia.

Os benefícios não param por aí. Segun-do o geriatra Einstein de Camargos, fazer uma atividade física com regularidade faz bem tanto para a prevenção quanto no tra-tamento de doenças. Ajuda na prevenção e no combate da diabete, da hipertenção, da osteoporose, do acidente vascular cerebral (o popular derrame), e outros. “O ideal é começar o mais cedo possível, mas nunca é tarde. Mesmo quando se começa a se exercitar regularmente na vida idosa, se melhora a massa muscular, a resistência e o equilíbrio, evitando assim as quedas”, comentou Camargos. “Também traz bene-fícios aos hormônios, que nesse momento da vida estão inconstantes e alterados”.

O geriatra também defende a ideia de que uma pessoa não deve se preo-cupar com a questão de longevidade quando entre na faixa dos 30 ou 40 anos de idade. O quão longe o indivíduo terá condições de viver é um fator que come-ça a ser definido ainda na gestação. “A mãe que teve uma gravidez boa, nutriti-va, sem estresse, com todos os cuidados de prevenção, tudo isso vai influenciar e muito a saúde do filho. Então, desde o útero da mãe começa-se a trabalhar na longevidade da pessoa”, advertiu.

Correria do bemEm Brasília, não é só o trânsito de

carros que se intensifica pela manhã ou no final da tarde. Nos parques, calçadas

e espaços verdes da cidade também há intensa movimentação de pessoas que aproveitam o tempo ameno para correr e se movimentar. No Parque da Cidade, às 5h, a jornalista e chefe de cozinha Vera Viana começa a corrida diária de 10 km. É provável que durante o trajeto ela cruze com o funcionário público Luiz Nogueira. O Parque da Cidade é uma das áreas do DF que ele utiliza para correr os cerca de 100 km mensais.

Luiz Nogueira também gosta de cor-rer no Parque Olhos d’Água, no Eixão, e no Pistão Norte de Taguatinga. Quem também gosta de fazer rodízios de locais para se exercitar pelo DF é o ex-atleta e atualmente treinador, o francês Laurent Migaire – pronuncia-se “Lorrã”. Ele

É a gente que se mata com

os vícios, como o alcoolismo, e uma vida pouco

saudável

O francês Laurent se apaixonou por Brasília

Page 3: Longevidade

26 PLANO BRASÍLIA

comanda uma equipe de aproximada-mente cem pessoas dos mais diferentes níveis de condicionamento físico. Disse que o parque que mais gosta, por ter mais verde, é o Olhos d’Água, localizado no final da Asa Norte. Foi ali, entre os aparelhos públicos de ginástica, que esta reportagem encontrou dona Florinda Lopes e o esposo.

Eles residem em Presidente Pru-dente, SP, e todas as vezes que vêm a Brasília para visitar a filha, aproveitam o espaço para se exercitar. “É ótimo aqui. Talvez vocês [brasilienses] não tenham noção do tanto que são privilegiados em ter lugares assim para recreação”, comentou Florinda. A ampla área verde também foi uma das razões que fizeram

o ex-atleta Laurent permanecer e adotar a cidade. “Viajava pela Europa quando conheci uma moça brasileira e começa-mos a namorar. Vim parar aqui”, contou. “Brasília tem muitos espaços abertos, gramados, tem o cerrado – e sou um apaixonado pelo cerrado. Descobri uma cidade maravilhosa para correr e decidi ficar. A corrida me fixou aqui.”

Quando estava em fim de carreira, algumas pessoas que conheciam Laurent propuseram que o francês os treinasse. O grupo aumen-tou com o passar do tempo. Hoje, o ex-atleta orienta tanto pessoas que têm am-bição de se profissionalizar quando aqueles que procu-ram vencer o sedentarismo. Os resultados não poderiam ser melhores. “Há atletas--alunos que terminam uma competição de 10 km em 1h20. Outros fazem o trajeto em 32 min.”

O resultado mais cele-brado por Laurent é quando ele percebe a satisfação de um aluno que recuperou a autoestima. “O lado mais gratificante do treinador não é apenas promover uma saúde física, mas também a alegria de viver do aluno”, pontuou Laurent. “Às vezes nem percebemos o quanto essas coisas fazem bem aos outros. Então ouvimos depoimentos de familiares dos alunos, que mostram a revolução que a prática de exercícios provocou na vida de uma pessoa.”

Luiz Nogueira começou a correr incentivado pelos

amigos. Era uma forma que encontrou para tentar combater o estresse. Disse que no início foi difícil, mas os benefí-cios da prática esportiva não tardaram a aparecer. “A corrida me proporcio-nou quilos a menos na balança, noites de sono bem dormidas, disposição no trabalho, e fome, muita fome”, co-mentou. “O que mais gosto na corrida

é que, mesmo que seja um esporte individual, ela permite a aproximação das pessoas por meio dos grupos de treinos e das corridas semanais.”

Hoje, o funcionário público Luiz tornou-se também um atleta amador. Ele participou de maratonas, meias ma-ratonas, e corridas de 10 km. O próximo desafio pessoal de Luiz é participar da tradicional maratona de Nova York já no próximo ano e também mudar de modalidade: agora ele quer se tornar um tri-atleta.

Corrida que salvaO depoimento comum das pessoas

que praticam exercícios, além da melho-ria da qualidade de vida, é a sensação de bem-estar. Existe uma explicação química para isso. “Fazer exercícios melhora a concentração e a capacidade de trabalho. Já a sensação de prazer é devida à liberação de endorfinas na corrente sanguínea”, explicou a doutora Maria Otávia. Mas há momentos em que a prática desportiva vai muito além da busca do bem-estar e do prazer: vidas são salvas. Como foi o caso da jornalista e chefe de cozinha Vera Viana.

Em 1977, quando morava na Ar-gélia, Vera havia contraído uma virose originária do continente daquele país. Procurou tratamento em Paris, França, mas o diagnóstico foi impreciso e che-gou a ser desenganada pelos médicos que seguiam a medicina tradicional. Ela tinha apenas 30 anos e pesava 40 kg. Ao voltar ao Brasil para morrer na terra natal, Vera se internou no sítio em Mariporã, interior de SP, onde recebeu a orientação do professor japonês Tomio Kikushi – renomado especialista em medicina oriental e introdutor da alimentação macrobiótica no País.

A recomendação para que sobrevi-vesse ao mal contraído na África era rela-tivamente simples: comida macrobiótica e exercícios físicos. Nada de academia ou de treinamentos sofisticados. “Foi aí que comecei devagarzinho a trabalhar na horta e mexer com a enxada”, disse. De paciente, Vera tornou-se uma das chefes de comida macrobiótica mais badaladas. Voltou a Brasília – onde havia morado uma vez – e montou um restaurante

Luiz Nogueira vai correr a maratona de Nova Iorque

Page 4: Longevidade

PLANO BRASÍLIA 27

dentro de casa. Era época do movimen-to da Constituinte e o restaurante dela recebia clientes como Luiz Inácio Lula da Silva e Luiz Gushiken.

“O problema é que aí eu comecei a ficar estressada de novo”, brincou Vera. “Comecei a ficar fraca novamente. A recomendação foi que intensificasse os exercícios físicos. Foi quando entrei para uma academia e comecei a correr”. Vera Viana disse que até hoje, no auge dos bons 64 anos, se exercita todos os dias. Só de corrida são 10 km diários. “Eu simplifiquei muito a minha vida. Se você comer bem e não fizer exercícios, não vai assimilar nada. Não existe um sem o outro”, opinou. A doença contraída na África que a afligiu não dá notícias há décadas e ela garante que faz mais de 30 anos que não sabe o que é tomar me-dicamentos da medicina tradicional. “A minha filha nunca soube o que é tomar remédio, e ela tem 31 anos.”

A relação entre alimentação e exer-cícios físicos é algo corroborado pelo geriatra Einstein de Camargos. Mas, na opinião do médico, a longevidade é uma equação complexa que inclui também a cultura de uma sociedade. Ele afirma que o melhor tipo de alimen-tação para uma pessoa vai depender da genética, dos hábitos e da cultura. “A culinária espanhola, por exemplo, por ser muito rica em azeite, é uma das mais interessantes no sentido da prevenção de doenças do coração”, exemplificou. “Mas se você pegar um sujeito que trabalha em Wall Street, em Nova York, e alimentá-lo apenas com pratos da cozinha mediterrânea, esse indivíduo vai morrer do coração do mesmo jeito.”

alta PerformanCe X atividade físiCa

Apesar desta matéria ter conversado com bons corredores, pessoas como o funcionário público Luiz Nogueira, que ambiciona a maratona de Nova York – ou mesmo um ex-atleta profissional como Laurent Migaire –, esta não é a única atividade física que contribui para a longevidade. É só uma das mais baratas e simples, sobretudo numa cidade com espaços variados, como Brasília. Todos os esportes ou formas de se exercitar

são válidos e vão trazer benefícios. Mas cuidado: não exagere.

Para Laurent, o esporte e a com-petição são apaixonantes, mas a busca pelo alto-rendimento pode criar um efeito reverso. “Todo esporte que busca o alto rendimento leva a uma prática excessiva”, explicou o ex-atleta. “Neste caso, ele ultrapassa o limite aceitável pelo organismo e do que é desejável pela própria saúde.” O corpo não raramente responde ao esforço acima dos limites com as famosas dores mus-culares. A continuidade da atividade física de alto rendimento pode trazer males piores, como desgastes precoces em articulações e contusões dos mais diversos tipos. São problemas que podem levar um atleta profissional a abreviar ainda mais a carreira com-petitiva dele, que já é curta. “Muitas vezes, um atleta profissional não é tão saudável quanto aquele que se exercita com moderação e que respeita os limi-tes do próprio corpo”, disse Laurent.

A prática de exercícios é funda-mental e a palavra de ordem é esta: com moderação. “Para a saúde, o mais importante é ter uma atividade con-trolada. É preciso respeitar o descanso, que é o prazo para a regeneração do corpo”, explicou Laurent. Também não existe uma mais adequada. “Fazer uma academia, natação, correr. Tudo é

ótimo. Porém, muito mais importante que isso é não ficar parado”, incen-tivou Einstein de Camargos. “Todo mundo tem condições de fazer uma atividade, nem que seja só um pouco. Basta querer”, incentivou Vera Viana. E aí? Vai continuar parado?

ServiçoEquipe Lo-Rã(61) 9963.7934

Clínica Vitallis Dr. Einstein de Domingos(61) 3349.2827

NãO tem temPO PARA ACAdemIA? NãO gOStA? Há ALteRNAtIvAS.

estacione o seu carro em um local um pouco mais distante do seu trabalho; usa transporte público? desça uma

ou duas paradas antes; suba e desça escadas: tantos

lances quanto conseguir; faça alongamento pelo menos uma

vez por dia; se tiver um cachorro de estimação,

leve-o para passear; Procure se alimentar bem. evite

comidas gordurosas; durma bem.

Florinda Lopes aproveita os espaços verdes sempre que vem a Brasília