LOOS RA; SILVA DJH; FONTES PCR; PICANÇO MC. 2008. … · 2008-08-19 · ra e umidade, no entanto,...

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281 Hortic. bras., v. 26, n. 2, abr.-jun. 2008 A produção de tomate é considerada atividade de alto risco, principal- mente, devido a grande variedade de ambientes e sistemas nos quais é culti- vado, alta suscetibilidade a desordens fi- siológicas e ao ataque de pragas e doen- ças e exigência em insumos e serviços, acarretando elevado investimento de recursos financeiros por unidade de área. Desordens fisiológicas são provocadas por estresse fisiológico na planta, normalmente associado a uma condição desfavorável do ambiente jun- LOOS RA; SILVA DJH; FONTES PCR; PICANÇO MC. 2008. Identificação e quantificação dos componentes de perdas de produção do tomateiro em ambiente protegido. Horticultura Brasileira 26: 281-286. Identificação e quantificação dos componentes de perdas de produção do tomateiro em ambiente protegido 1 Rodolfo Araujo Loos 2 ; Derly José Henriques da Silva 2 ; Paulo Cezar Rezende Fontes 2 ; Marcelo Coutinho Picanço 3 2 UFV-Depto. Fitotecnia, 36571-000 Viçosa-MG; 3 UFV-Depto Biologia Animal; [email protected]; tamente com a manifestação de compo- nentes genéticos. Variações climáticas bruscas podem ser mais danosas que as condições desfavoráveis de temperatu- ra e umidade, no entanto, não são as causas exatas dos desequilíbrios fisio- lógicos, pois geralmente, um grupo de fatores estão envolvidos, como dispo- nibilidade de água e nutrientes no solo, práticas culturais (espaçamento, condu- ção, adubação, etc.), cultivares (fator genético), entre outros (Kinet & Peet, 1997). A podridão apical é uma das de- sordens fisiológicas mais importantes do tomateiro, considerada como um sinto- ma da deficiência de cálcio (Ca) nos fru- tos. Entretanto, o mecanismo pelo qual os fatores externos afetam a concentra- ção de Ca nos frutos e o desenvolvimen- to da podridão apical, nem o tipo de re- lação entre deficiência de Ca e podri- dão apical foram identificadas inequi- vocamente (Saure, 2001). Freqüentemente, a combinação de vários desses fatores supracitados oca- siona maior incidência de perdas. Des- RESUMO Procurou-se identificar e quantificar os componentes de perdas de produção do tomateiro em ambiente protegido, no período de verão-outono, evidenciando o componente crítico e o fator-chave de perdas da cultura, mediante a utilização da tabela de vida das culturas. O trabalho foi realizado na Horta de Pesquisa da UFV, de janeiro a junho de 2001, sob delineamento de blocos casualizados, com dois tratamentos (cultivar Santa Clara I 5300 e híbrido Débora Plus) e cinco repetições. Durante o ciclo de cultivo, foram avaliados o número de plantas mortas e as causas de morte, o número de flores e frutos/planta. Nas colheitas, os frutos sadios foram contados, pe- sados e classificados, sendo identificadas as causas de perda dos frutos danificados. Não houve diferença significativa entre produti- vidades comerciais de ‘Sta. Clara’ (40,18 t/ha) e ‘Débora Plus’ (54,98 t/ha). A produtividade classificada entre frutos graúdos A (‘Sta. Cla- ra’: 24,39 t/ha; ‘Débora Plus’: 32,32 t/ha) também não foram dife- rentes entre si. A produtividade de frutos médios extra (‘Sta. Clara’: 7,60 t/ha; ‘Débora Plus’: 10,77 t/ha) e a soma de frutos médios espe- ciais com pequenos (‘Sta. Clara’: 8,19 t/ha; ‘Débora Plus’: 11,90 t/ ha) foram baixas. Observou-se maior influência da perda de frutos (r = 0,89) (P<0,01) sobre as perdas totais sendo, consequentemente, frutos o componente crítico de perdas da cultura. Entre os vários fatores de perda dentro do componente crítico de produção, podri- dão apical foi o que mais influenciou as perdas totais (r = 0,97) (P<0,01), sendo considerado o fator-chave de perdas da cultura nes- sas condições. Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, tabela de vida das cul- turas, podridão apical, manejo integrado de pragas. ABSTRACT Identification and quantification of tomato yield loss components in unheated greenhouse The tomato production components of loss were identified and quantified in unheated greenhouse, in the summer-autumn period, evidencing the tomato critical production component and the loss key-factor, using the methodology of the crop life table. The experiment was conducted at the Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais State, Brazil, from January to June 2001 and consisted of two treatments (cultivar Santa Clara I 5300 and hybrid Débora Plus) in a randomized complete block design with 5 replications. During the tomato cycle, the number of dead plants, its causes and the number of flowers and fruits/plant were evaluated. At harvest, the healthy fruits were counted, weighted and classified; the causes of fruit damage were identified and the loss quantified. There was no significant difference between commercial yield of ‘Sta. Clara’ (40.18 t/ha) and ‘Débora Plus’ (54.98 t/ha). The classified yields between ‘graúdos A’ fruits (‘Sta. Clara’: 24.39 t/ha; ‘Débora Plus’: 32.32 t/ha) were not different either. The yield of ‘médio extra’ fruits (‘Sta. Clara’: 7.60 t/ha; ‘Débora Plus’: 10.77 t/ha) and the sum of ‘médio especial’ with ‘pequenos’ fruits (‘Sta. Clara’: 8.19 t/ha; ‘Débora Plus’: 11.90 t/ha) were low. Total losses were more influenced by fruits (r = 0.89) (P<0.01) than by any other production components. Consequently, fruits were considered the critical production component of tomato yield. Total fruit losses were more influenced by blossom-end rot (r = 0.97) (P<0.01) than by any other loss factors, being considered the loss key-factor in those conditions. Keywords: Lycopersicon esculentum, crop life table, blossom-end rot, integrated pest management. (Recebido para publicação em 6 de fevereiro de 2007; aceito em 29 de abril de 2008) 1 Parte da Dissertação de Mestrado em Fitotecnia do primeiro autor, área de concentração em Técnicas Culturais, pela Universidade Federal de Viçosa (UFV).

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281Hortic. bras., v. 26, n. 2, abr.-jun. 2008

A produção de tomate é consideradaatividade de alto risco, principal-

mente, devido a grande variedade deambientes e sistemas nos quais é culti-vado, alta suscetibilidade a desordens fi-siológicas e ao ataque de pragas e doen-ças e exigência em insumos e serviços,acarretando elevado investimento derecursos financeiros por unidade de área.

Desordens fisiológicas sãoprovocadas por estresse fisiológico naplanta, normalmente associado a umacondição desfavorável do ambiente jun-

LOOS RA; SILVA DJH; FONTES PCR; PICANÇO MC. 2008. Identificação e quantificação dos componentes de perdas de produção do tomateiro emambiente protegido. Horticultura Brasileira 26: 281-286.

Identificação e quantificação dos componentes de perdas de produçãodo tomateiro em ambiente protegido1

Rodolfo Araujo Loos2; Derly José Henriques da Silva2; Paulo Cezar Rezende Fontes2; Marcelo CoutinhoPicanço3

2 UFV-Depto. Fitotecnia, 36571-000 Viçosa-MG; 3UFV-Depto Biologia Animal; [email protected];

tamente com a manifestação de compo-nentes genéticos. Variações climáticasbruscas podem ser mais danosas que ascondições desfavoráveis de temperatu-ra e umidade, no entanto, não são ascausas exatas dos desequilíbrios fisio-lógicos, pois geralmente, um grupo defatores estão envolvidos, como dispo-nibilidade de água e nutrientes no solo,práticas culturais (espaçamento, condu-ção, adubação, etc.), cultivares (fatorgenético), entre outros (Kinet & Peet,1997). A podridão apical é uma das de-

sordens fisiológicas mais importantes dotomateiro, considerada como um sinto-ma da deficiência de cálcio (Ca) nos fru-tos. Entretanto, o mecanismo pelo qualos fatores externos afetam a concentra-ção de Ca nos frutos e o desenvolvimen-to da podridão apical, nem o tipo de re-lação entre deficiência de Ca e podri-dão apical foram identificadas inequi-vocamente (Saure, 2001).

Freqüentemente, a combinação devários desses fatores supracitados oca-siona maior incidência de perdas. Des-

RESUMOProcurou-se identificar e quantificar os componentes de perdas

de produção do tomateiro em ambiente protegido, no período deverão-outono, evidenciando o componente crítico e o fator-chavede perdas da cultura, mediante a utilização da tabela de vida dasculturas. O trabalho foi realizado na Horta de Pesquisa da UFV, dejaneiro a junho de 2001, sob delineamento de blocos casualizados,com dois tratamentos (cultivar Santa Clara I 5300 e híbrido DéboraPlus) e cinco repetições. Durante o ciclo de cultivo, foram avaliadoso número de plantas mortas e as causas de morte, o número de florese frutos/planta. Nas colheitas, os frutos sadios foram contados, pe-sados e classificados, sendo identificadas as causas de perda dosfrutos danificados. Não houve diferença significativa entre produti-vidades comerciais de ‘Sta. Clara’ (40,18 t/ha) e ‘Débora Plus’ (54,98t/ha). A produtividade classificada entre frutos graúdos A (‘Sta. Cla-ra’: 24,39 t/ha; ‘Débora Plus’: 32,32 t/ha) também não foram dife-rentes entre si. A produtividade de frutos médios extra (‘Sta. Clara’:7,60 t/ha; ‘Débora Plus’: 10,77 t/ha) e a soma de frutos médios espe-ciais com pequenos (‘Sta. Clara’: 8,19 t/ha; ‘Débora Plus’: 11,90 t/ha) foram baixas. Observou-se maior influência da perda de frutos(r = 0,89) (P<0,01) sobre as perdas totais sendo, consequentemente,frutos o componente crítico de perdas da cultura. Entre os váriosfatores de perda dentro do componente crítico de produção, podri-dão apical foi o que mais influenciou as perdas totais (r = 0,97)(P<0,01), sendo considerado o fator-chave de perdas da cultura nes-sas condições.

Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, tabela de vida das cul-turas, podridão apical, manejo integrado de pragas.

ABSTRACTIdentification and quantification of tomato yield loss

components in unheated greenhouse

The tomato production components of loss were identified andquantified in unheated greenhouse, in the summer-autumn period,evidencing the tomato critical production component and the losskey-factor, using the methodology of the crop life table. Theexperiment was conducted at the Universidade Federal de Viçosa,Minas Gerais State, Brazil, from January to June 2001 and consistedof two treatments (cultivar Santa Clara I 5300 and hybrid DéboraPlus) in a randomized complete block design with 5 replications.During the tomato cycle, the number of dead plants, its causes andthe number of flowers and fruits/plant were evaluated. At harvest,the healthy fruits were counted, weighted and classified; the causesof fruit damage were identified and the loss quantified. There wasno significant difference between commercial yield of ‘Sta. Clara’(40.18 t/ha) and ‘Débora Plus’ (54.98 t/ha). The classified yieldsbetween ‘graúdos A’ fruits (‘Sta. Clara’: 24.39 t/ha; ‘Débora Plus’:32.32 t/ha) were not different either. The yield of ‘médio extra’ fruits(‘Sta. Clara’: 7.60 t/ha; ‘Débora Plus’: 10.77 t/ha) and the sum of‘médio especial’ with ‘pequenos’ fruits (‘Sta. Clara’: 8.19 t/ha;‘Débora Plus’: 11.90 t/ha) were low. Total losses were moreinfluenced by fruits (r = 0.89) (P<0.01) than by any other productioncomponents. Consequently, fruits were considered the criticalproduction component of tomato yield. Total fruit losses were moreinfluenced by blossom-end rot (r = 0.97) (P<0.01) than by any otherloss factors, being considered the loss key-factor in those conditions.

Keywords: Lycopersicon esculentum, crop life table, blossom-endrot, integrated pest management.

(Recebido para publicação em 6 de fevereiro de 2007; aceito em 29 de abril de 2008)

1 Parte da Dissertação de Mestrado em Fitotecnia do primeiro autor, área de concentração em Técnicas Culturais, pela Universidade Federal de Viçosa (UFV).

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sa forma, é essencial identificar equantificar os fatores de perda na cultu-ra do tomateiro a fim de que se possaproduzir com menos riscos e alcançarmaior produtividade.

As tabelas de vida são instrumentosempregados em estudos de dinâmicapopulacional (Silveira Neto et al., 1976),sendo valiosos guias no planejamentodas estratégias do manejo de pragas.Quando utilizadas para culturas, confor-me Harcourt (1970), Chandler (1984) ePicanço et al. (1998), as tabelas de vidaincluem a identificação dos fatores deperdas e a associação destes com o es-tádio de desenvolvimento da cultura.

Um modelo de estimativa quantita-tiva das perdas por unidade de área paracada componente de produção foi de-senvolvido por Picanço (1992), possi-bilitando a determinação do componentecrítico de perdas de produção (aqueleque possui maior regulação sobre asperdas ocorridas na cultura) e o fator-chave de perdas (principal causa regu-ladora de perdas no componente críticode perdas). Para tanto, foi adaptado omodelo desenvolvido por Varley &Gradwell (1960), que considera comofator-chave aquele cuja variação de per-das específicas apresente maior corre-lação com a flutuação de perdas totais.

Dessa forma, o objetivo deste traba-lho foi identificar e quantificar os com-ponentes de perdas de produção do to-mateiro em ambiente protegido, eviden-ciando o componente crítico de perdasda cultura e o fator-chave de perdas pelautilização da tabela de vida das culturas.

MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho foi realizado na Hortade Pesquisa da Universidade Federal deViçosa, em Viçosa (MG), de janeiro a

junho de 2001. O ambiente protegido foiconstituído de proteção plástica de 0,1mm de espessura, tipo capela com di-mensões de 10 x 40 m e altura de 5 m,com cortinas retráteis laterais. O expe-rimento foi conduzido sob delineamen-to experimental de blocos casualizados,constando de dois tratamentos (varieda-de Santa Clara I 5300 e híbrido DéboraPlus) e cinco repetições. A área da par-cela experimental foi 4,8 m2, sendo com-posta por 8 plantas. A bordadura de ex-perimento constou de uma linha com‘Santa Clara’ e ‘Débora Plus’ em tornoda área total do experimento.

As mudas foram produzidas em ban-dejas de poliestireno expandido, medin-do 68 x 34 cm, com 128 células e otransplantio feito quando as mudas apre-sentaram, em média, quatro folhas de-finitivas, aos 29 dias após o semeio. Asmudas foram transplantadas noespaçamento de 1,0 x 0,6 m, sendotutoradas no sistema vertical com fitilho.As plantas foram conduzidas com umahaste e foram despontadas com três fo-lhas acima do sexto racimo (Oliveira,1993; Camargos, 1998).

O solo do experimento foi arado,gradeado e sulcado e a sua análise quí-mica apresentou: pH em água = 6,4 (re-lação 1:2,5); P = 144,0 mg/dm3; Na =5,0 mg/dm3; K = 47,0 mg/dm3 (P - Na -K: extrator Mehlich 1); Ca = 6,3 cmol

c/

dm3; Mg = 0,5 cmolc/dm3; Al = 2,0

cmolc/dm3 (Ca - Mg - Al = extrator KCl

1 mol/L); SB = 6,9 cmolc/dm3 (extrator

acetato de cálcio 0,5 mol/L - pH 7,0);CTC (t) = 6,9 cmol

c/dm3; CTC (T) = 8,9

cmolc/dm3 e V = 77,7 %. No sulco de

plantio foi feita a aplicação de 10 t/hade esterco de galinha, 10 kg/ha de ácidobórico, 200 g/ha de molibdato de sódioe 200 kg/ha de sulfato de magnésio. Aadubação de cobertura foi feita por

fertirrigação com 240 kg/ha de N, 400kg/ha de P

2O

5 e 500 kg/ha de K

2O, res-

pectivamente na forma de sulfato deamônio, superfosfato simples e cloretode potássio, divididos em oito parcelas,realizadas a cada duas semanas.

Para o controle de insetos-praga,Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera:Gelechiidae), Neoleucinodes elegantalis(Guennée) (Lepidoptera: Crambidae),Bemisia tabacci (Guennée)(Homoptera: Aleyrodidae) eFrankliniella schultzei (Trybom)(Thysonoptera: Thripidae), utilizou-se omanejo integrado, aplicando-se inseti-cidas, abamectin (dose: 1 mL/L e calda:1000 L/ha), permethrin (32,5 mL/100 Le calda: 800 L/ha), buprofezin (dose: 40mL/100 L e calda: 1000 L/ha) eimidaclorprid (dose: 50 mL/100 L e cal-da: 800 L/ha) respectivamente, somen-te quando as pragas atingiam o nível decontrole (1 vetor/ponteiro, 20% de fo-lhas minadas e 5% de frutos broquea-dos) (Sinigaglia et al., 2000). Para a pre-venção e controle de doenças, comoPhytophthora infestans (Mont.) De Barye Alternaria solani (Sorauer), foram fei-tas aplicações de fungicida, a cada duassemanas, com rotação dos produtoschlorothalonil (dose: 3 mL/L e calda:800 L/ha) e tebuconazole (dose: 1 L/hae calda: 400 L/ha).

Os elementos climáticos, tempera-tura, umidade relativa e pressão forammonitorados, diariamente, por estaçãoclimatológica instalada dentro da casade vegetação (GroWeather-DAVIS,EUA) (Tabela 1).

Foi feito o levantamento da seqüên-cia de mortalidade das plantas, realiza-do pela anotação semanal do número deplantas mortas, identificando-se suascausas, desde o início do períodovegetativo até o final do reprodutivo,

RA Loos et al.

Tabela 1. Dados de temperatura do ar, umidade relativa do ar e pressão atmosférica coletados durante o ciclo de cultivo do tomateiro emambiente protegido. Viçosa, UFV, 2001.

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adaptando-se para tanto, o método des-crito por Harcourt (1970). Para evitar atransmissão por contato de vírus, asplantas infectadas foram retiradas e ano-tadas como plantas mortas por virose.Foram avaliados o número de flores efrutos/planta, segundo a metodologiadesenvolvida por Chandler (1984). Nascolheitas, os frutos sadios foram conta-dos, pesados e classificados (maior diâ-metro transversal do fruto), segundonorma adaptada do Ministério da Agri-cultura (Brasil, 1995), considerando-seGraúdo AA (≥69,6 mm), Graúdo A(≥60,0 e <69,6 mm), Médio Extra (≥54,8e <60,0 mm), Médio Especial (≥50,0 e<54,8 mm), Pequeno (≥40,0 e <50,0mm) e Refugo (<40,0 mm). Foram con-siderados frutos comerciais aqueles comdiâmetro maior que 40 mm. Foram ain-da contados e pesados os frutos danifi-cados, segundo cada causa de perda(Picanço et al., 1997).

A tabela de vida foi feita para cadaparcela e construída a partir das médiasdas parcelas de cada tratamento, con-forme metodologia desenvolvida porPicanço (1992), contendo os componen-tes: x = componente de produção da

cultura do tomateiro (plantas, flores, fru-tos totais e frutos colhidos); Lx = esti-mativa de produtividade (kg/ha) de fru-tos no início de cada x; dxF = fator cau-sador de perdas na produtividade dacultura; dx = estimativa de perdas naprodução da cultura (kg/ha) de frutos;100 qx = perdas não acumulativas (%)e 100 rx = perdas acumulativas (%).

A estimativa dos Lx foi realizadacomo segue: Lx (planta) = Pl x Fl/Pl xPfr; Lx (flores) = Plc x Fl/Pl x Pfr; Lx(frutos totais) = Plc x Frt/Pl x Pfr; Lx(frutos colhidos) = Plc x Frc/Pl x Pfr;sendo: Pl = número médio de plantas/ha no início do cultivo; Fl/Pl = númerototal de flores/planta; Pfr = peso médiodos frutos em kg; Plc = número médiode plantas nas colheitas/ha; Frt/Pl = nú-mero médio de frutos totais/planta e Frc/Pl = número médio de frutos sadios co-lhidos/planta.

Para a determinação do componen-te crítico de perdas e do fator-chave deperdas para a cultura foi utilizado omodelo desenvolvido por Varley &Gradwell (1960), modificado porPicanço (1992), para estudo em tabelasde vida de culturas. Para tanto, foram

utilizados os dados provenientes das ta-belas de vida de cada parcela, contendoos componentes: x = componente deprodução da cultura; Lx = estimativa deprodutividade (kg/ha) de frutos no iní-cio de cada x; log (Lx) = logaritmo de-cimal dos valores de Lx; k = perdas es-pecíficas [obtidas por subtração de cadavalor de log (Lx), do valor que lhe pre-cede] e K = perdas totais (obtida pelosomatório dos valores de k).

Foram calculados os coeficientes decorrelação de Pearson entre as perdasespecíficas (k) e totais (K), sendo con-siderados como componentes críticos deperdas na produção aqueles cujasflutuações das perdas específicas apre-sentaram correlações significativas coma flutuação de perdas totais (Faleiro etal., 1995).

Para se determinar o fator-chave deperdas da cultura, foram utilizados oscomponentes: dxF = fator causador deperdas na produtividade da cultura; Lx= estimativa de produtividade (kg/ha)de frutos no início de cada x, subtraídaa perda causada por cada fator; log (Lx)= logaritmo decimal dos valores de Lx;k = perdas específicas; e K = perdas to-

Identificação e quantificação dos componentes de perdas de produção do tomateiro em ambiente protegido

Tabela 2. Tabela de vida do tomateiro Sta. Clara cultivado em ambiente protegido. Os valores representam as médias das repetições. Viçosa,UFV, 2001.

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tais do componente de produção emquestão (Picanço et al., 1998).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ambos tratamentos, ‘Sta. Clara’ e‘Débora Plus’, apresentaram altas per-das (80 e 104 t/ha, respectivamente),correspondendo às perdas cumulativastotais de 61,48 e 65,43%, respectiva-mente (Tabelas 2 e 3). Todavia, as pro-dutividades comerciais de ‘Sta. Clara’ e‘Débora Plus’ foram, respectivamente,equiparada e superior à produtividademédia nacional (45 t/ha) (IBGE, 2004).Esses dados evidenciam que apesar des-sas cultivares apresentarem alto poten-cial produtivo, o produtor depara-se comvários fatores de perda ao longo do ci-clo cultural, prejudicando severamentea produtividade do tomateiro.

Não houve diferença significativaentre tratamentos para produtividadescomercial (‘Sta. Clara’: 40,18 t/ha; ‘Dé-bora Plus’: 54,98 t/ha) e classificada defrutos, entretanto, a produtividade co-mercial de frutos ‘Santa Clara’ foi 15 t/ha inferior a ‘Débora Plus’ e a produti-vidade classificada de frutos graúdos‘Débora Plus’ (32,32 t/ha) foi 8 t/ha su-perior a ‘Sta. Clara’ (24,39 t/ha). As pro-dutividades de frutos ‘Santa Clara’ e

‘Débora Plus’ de classificação médioextra (7,60 t/ha e 10,77 t/ha, respectiva-mente), e as produtividades de frutosmédio especial e pequeno juntas (‘Sta.Clara’: 8,19 t/ha e ‘Débora Plus’: 11,90t/ha) foram baixas. A maior produçãode frutos graúdos é comercialmenteimportante, visto que frutos maiores têmmelhor preço no mercado.

Durante a fase vegetativa, a ocorrên-cia de Rhizoctonia solani em ‘Sta. Cla-ra’ causou morte de plantas, equivalen-do a 2,73 t/ha de perda na produtivida-de (Tabela 2). Na fase reprodutiva, aocorrência de tospovírus (TomatoSpotted Wilt Virus (TSWV)) ePseudomonas corrugata causou morta-lidade de plantas na variedade Sta. Cla-ra (Tabela 2), gerando perdas médias de28,38 t/ha e 3,26 t/ha, respectivamente,e 29,43 t/ha de perdas por TSWV nohíbrido Débora Plus (Tabela 3). O prin-cipal inseto-vetor desta virose é o tripesFrankliniella schultzei Trybom(Thysanoptera: Thripidae) pelas carac-terísticas de polifagia, facilidade de re-produção, número de ovos produzidose capacidade de difusão rápida no meioambiente (Riley & Pappu, 2000).

A perda no componente de produ-ção flores foi considerada comoabortamento (Tabelas 2 e 3), podendo

ter ocorrido pela não-fecundação dosóvulos (Kinet & Peet, 1997) (Tabela 1).

O componente de produção que re-gulou, significativamente, a flutuação deperdas totais foi frutos (r = 0,89;P<0,01), sendo considerado o compo-nente crítico de perdas (Figura 1). Osfatores de perda no componente de pro-dução frutos foram podridão apical,Neoleucinodes elegantalis, Erwiniacarotovora, rachamento, Tuta absoluta,Alternaria solani, TSWV, pássaros etamanho não-comercial dos frutos (re-fugo). Picanço et al. (1998), ao avalia-rem as perdas na produção do tomatei-ro cultivado com diferentesespaçamentos e aplicações de insetici-das, e Paula (1997), ao determinar osfatores de perdas no tomateiro, verifi-caram a ocorrência dos mesmos fatoressupracitados causadores de perdas nosfrutos, além de Helicoverpa zea e que-da de frutos. Os resultados demonstrama importância de se direcionar o mane-jo adequado para esses tipos de perdas.

Podridão apical ocasionou perdasmédias de 29,96 t/ha em ‘Sta. Clara’ e59,03 t/ha em ‘Débora Plus’, sendo con-siderada como fator-chave de perda daprodução por regular significativamen-te (r = 0,97; P<0,01) a flutuação de per-das totais (Figura 2). A diferença entre

Tabela 3. Tabela de vida do tomateiro Débora Plus cultivado em ambiente protegido. Os valores representam as médias das repetições.Viçosa, UFV, 2001.

RA Loos et al.

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285Hortic. bras., v. 26, n. 2, abr.-jun. 2008

Figura 1. Flutuações das perdas parciais (k) e totais (K) dos componentes de produção dacultura nas parcelas dos tratamentos de Débora Plus (Parcelas 1 a 5) e Sta. Clara (Parcelas 6a 10) em ambiente protegido (P<0,01). Viçosa, UFV, 2001.

Identificação e quantificação dos componentes de perdas de produção do tomateiro em ambiente protegido

perdas ocasionadas por podridão apicalnos tratamentos ‘Sta. Clara’ e ‘DéboraPlus’ (aproximadamente 30 t/ha) evi-dencia a maior suscetibilidade do híbri-do Débora Plus a esta desordem fisioló-gica. De acordo com Adams & Ho(1992) e Sperry et al. (1996), a causacentral de podridão apical é uma faltade coordenação entre o transporte deassimilados pelo floema e de cálcio peloxilema durante uma rápida expansão notecido placentário apical do fruto. Mu-danças bruscas no ambiente esuscetibilidade genética determinam aincidência de podridão apical, pois in-fluenciam a absorção, translocação eacúmulo de Ca nas plantas. Alta ou bai-xa umidade do solo (Shaykewich etal.,1971; Obreza et al., 1996), uso defontes de N amoniacal (Sandoval-Villaet al., 2001) e maior intensidade detranspiração foliar (Cho et al., 1997), sãoas principais causas dessa desordem. Aose optar pelo cultivo do híbrido DéboraPlus, deve-se atentar para práticas cul-turais adequadas como condições nosolo para crescimento da raiz; suprimen-to balanceado de nutrientes; suprimen-to apropriado de água e plantio em con-dição de temperaturas amenas (Fontes,2003).

O desenvolvimento de estratégiasótimas para controle de perdas na produ-tividade do tomateiro requer um reconhe-cimento seguro das ações e interações dosdiferentes fatores de perda da cultura.Uma ou duas tabelas de vida revelarãosomente que as perdas severas na produ-ção podem ocorrer em determinados in-tervalos do ciclo da planta, mas uma sé-rie de tabelas, repetidas apropriadamen-te no tempo e no local, fornecerá diretri-zes úteis ao planejamento de estratégiasde controle de perdas, particularmentequando acoplada com análises de custo-benefício.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq pela concessão da bolsade estudos de mestrado.

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