Soneto Solene Mesmo que no céu não brilhe mais nenhuma estrela.
Luís Adolfo P. Walter De Vasconcelos - Institut for Engelsk...
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Nummer 69 November 1979
Luís Adolfo P. Walter De Vasconcelos
Três estudos portugueses
Romansk Institut K0benhavns Universitet
Njalsgade 78-80 2300 Kbh. S Gebyr 5,00 kr.
SUMARIO
I. Colocação dos pronomes átonos no português p.
europeu ........................... " ................. . Colocação enclítica ................................ 3
Colocação proclítica ............................... 5
Casos especiais ..........•......................... 8
II. Emprego do infinitivo em português .................... lo
O infinitivo português ............................. lo
Emprego da forma impessoal ......................... 11
Emprego da forma pessoal ........................... 15
Conclusão .......................................... 18
III. Análise estilística de um texto barroco:
"Fazer Cristandade" 20
3
COLOCAÇAO DOS PRONOMES ÁTONOS NO PORTUGUÊS EUROPEU
I. Colocação enclitica
- "O piano encontrava-~ na sala de visitas"
- "Opiano de Elvira encontrava-~ na sala de visitas"
- "Na sala de visitas encontrava-~ o piano"
- "Os amigos saudaram-ll9. com alegria"
- "Alguns amigos saudaram-ll9. com alegria" - "Os três amigos saudaram-ll9. com alegria"
1. :Q~f~!2~l:ª2:
Em orações principais ou independentes afirmativas, o pronome átono coloca-se normalmente em posição enclitica relativa
mente ao verbo, ao qual se une por um hifen. (Ressalvam-se,
evidentemente, os casos contemplados em II.).
2. ~~~IEE!2~:
a) - "Eles chegaram ontem .§. foram-~ embora hoje" b) - "As duas irmãs moravam longe uma da outra, .!!lli§. (porém,
todavia, contudo) reuniam-~ com frequência"
c) - "Tens sono? Pois deita-te cedo" "Lançaste-me o teu olhar Portanto devo-te a vida" (Popular)
2. :Q~f~!2~l:ª2:
Em orações coordenadas mantém-se a posição enclitica com as
seguintes conjunções: a) a copulativa .§., mas somente quando estabelece coordenação
com uma oração principal; b) as adversativas;
c) as conclusivas.
4
3. ~~::l!.!E!2ê:
A) Infinitivos:
- "A criança não sabe ler. Posso ensiná-la?"
- "As crianças não sabem ler, mas já estão .§: ensiná-las"
- "Ao encontrarmo-nos, perguntava sempre por ti"
- "Poder conhecê-la, que alegria!" (= "Podê-la conhecer, que alegria!")
B) Gerundivo:
- "Entrou silenciosamente, entregando-me a carta sem uma palavra"
3. 12::f~~~2~2:
O pronome átono pospõe-se normalmente às duas formas do in
finitivo e ao gerúndio, desde que estes não venham precedidos
de advérbio de negação au de preposição, como frequentemente
sucede. Das preposições, exceptua-se, porém, a preposição .§:,
somente usada com o infinitivo, a qual não provoca a antepo
sição do pronome (" estão.§: ensiná-Ias'I).
Quando dois infinitivos se combinam, o pronome coloca-se de
preferência depois do último ("poder conhecê-la"), mas também
se admite a segunda construção (vid.ex.).
- "Os filhos têm-vos custado a criar"
- "Passo a passo, dirigiu-se à aldeia. Haviam-lhe prometido
uma boa esmola"
4. 12::f~~~2~2:
Quando o predicado é formado por um tempo composto, o pronome átono coloca-se depois do auxiliar.
- "Visitar-te-ei, logo que tenha tempo"
- "Quando saíres aquela porta, ter-nos-emos visto pela última vez - exclamou melancolicamente o velho"
- "Se os pêssegos não fossem tão caros, comprá-Ios-ia todos"
o futuro do indicativo e o condicional constituem um caso à
parte quanto à colocação dos pronomes átonos. Estes não to-
mam posição enclítica, mas mesoclítica, fixando-se entre o
infinitivo e a forma contracta do verbo "haver" (dá-se a
chamada mes6clise ou tmesis).
II. Colocação Droclítica
1. ~~!':~E!~ê:
Grupo a):
"Nenhum piano se encontrava na sala de visitas"
- "Todos os amigos Q saudaram com alegria"
- "Quem lhe disse que eu estava aqui?"
- "Isto é uma profissão difícil. O ~ ~ tinha dito meu
pai"
- "Cada gual se governa como pode"
Grupo b):
- "Ambos te ajudaram na vida"
- "S6 tinhas duas moedas, e ambas ~ deste!"
Grupo c):
"Sempre te vejo contente"
- "Os dois amigos ainda se demoraram a conversar"
- "MaIos viu, logo os reconheceu"
"Facilmente, à noite, a criança ..ê.f. deixava adormecer"
- "Em vão lhe pedimos que não partisse"
5
"Era difícil de agarrar - respondeu a criada ainda a rir -
agui me foge, além me aparece!"
- "Decerto ~ contarás o segredo"
- "Os ladrões não :iS2.§. têm poupado a horta"
- "O homem afirmou conhecer-me, mas ~, em tempo algum,
~ encontráramos"
1. ~!':f~~~2ª~:
A anteposição do pronome ao predicado em orações principais
ou da mesma natureza (vid. 1=) verifica-se quando no início
da frase aparecem certas palavras que têm a faculdade de
"atrair" o pronome à posição proclítica. São estas palavras
de diversas categorias gramaticais, e podem, por isso mesmo,
desempenhar diversas funções, inclusivamente de sujeito. Se
guem-se as principais:
(As palavras com o sinal * somente atraem o pronome em certos casos, em geral para dar ênfase)
6
a) Pronomes: - Demonstrativos: outro*, mesmo*
- Interrogativos: quanto, qual, quem, que, o que (isto é, to-
dOs). - Indefinidos: todo, tudo, muito, pouco, alguém*, algum*,
tanto, qualquer; nenhum, nada, ninguém.
- Locuções indefinidas: cada um, cada qual.
b) O numeral "ambos"
c) Advérbios de:
- Tempo: já, sempre, nunca, jamais, logo, tarde, cedo, ainda.
Lugar: ali*, aí*, lá*, cá*, perto*, longe*, além*, aqui*,
acolá*.
- Medo: mal, melhor, pior, assim, depressa, devagar, quase,
de balde, em vão, facilmente, dificilmente.
(Em geral, os outros advérbios em -mente não exercem atracção sobre os pronomes átonos).-----
- Quantidade: pouco, menos, muito, mais, demasiado, tanto,
quanto, assás, bastante.
- Afirmação: decerto ("sim" não atrai).
- Negação: não, nem, nunca, jamais (todos atraem!).
- Dúvida: talvez, acaso, porventura*, qUiça* (desusado).
- Exclução: apenas, só, somente, unicamente.
- Inclusão: até, mesmo, também.
- Interrogação: onde, aonde, etc.; quando; como; por que?
2. §;~~~E~~~:
- "Esforçavam-se por .§!2. ~ livres do cão" (V. Cuesta)
- "Noutros tempos gosta,vas de te levantar cedo"
- "Correu até se cansar"
- "Nunca se deitava sem 2.§. ver a todos em casa"
- "Aproximou-se da janela para Q poder ver melhor"
(= " " " para poder vê-lo " - cL I.3.)
- "Em se lembrando do filho, começava a chorar"
2. !2~f~~~:iª:2:
O caso das preposições só se põe a propósito das formas in
finitivas do verbo. Assim, todas as preposições e locuções
prepositivas, excepto a preposição ~ (cf. 1.3.), provocam a
anteposição do pronome átono em relação às duas formas do in
finitivo e ao gerúndio.
7
3. ~~::!!!E!2~:
a) - "Quando eles chegaram.§. .§.!: sentaram à mesa, já nós tínha
mos almoçado" (cf. I.2.a)
b) - "Não nos amávamos, ~ QQ.§. compreendíamos"
c) - "Ou me pagas o livro ~ ill.§. compras outro"
("Pagas-me o livro ou compras-me outro"!) d) - "A amizade não era grande, não obstante se reunirem com
frequência"
3. ~!:::f~!?:1:zª2:
A parte o caso a) da copulativa .§.. que não atrai o pronome,
mas permite a influência da oração a que está coordenada, exer
cem essa atracção as seguintes conjunções coordenativas: b) Todas as outras copulativas;
c) as dijuntivas; d) certas locuções consideradas por alguns gramáticos como
adversativas.
- "Comovido, o orador declarou que lhe custava deixar uma
terra tão simpática"
- "O hotel ~ ~ destinou a agência, era mui to agradável"
- "Ireis onde vos conduzir a estrela, disse o anjo"
- "Fiz tudo como ( consoante) ill.§. recomendaste"
"Já não vereis a festa, pois (porque) .Y.Q..ê. ides embora
amanhã" - "Ainda que (embora) te pareça estranho, não gosto do Verão"
4. ~!:::f~!?:~zª2:
Todas as partículas ou locuções que introduzem orações subor
dinadas, chamam os pronomes átonos à posição proclítica.
N.B. - Nas orações subordinadas negativas, o pronome tanto pode colocar-se antes como depois do advérbio não.
Ex.: "As crianças brincam na rua, embora os pais lho
não consintam" I ... embora os pais não lho consintam".
8
III. Casos especiais
Além das regras apontadas em II., há outros factores, de ordem eu
f6nica, rítmica, estilística, e até psico16gica, que podem provo
car a anteposição dos átonos ou, ao contrário, pospô-los ao verbo.
E difícil sistematizar esses factores - se não impossível -, mas
os principais parece-me serem dois: 1. Motivos estilísticos, que conduzem à alteração da ordem
normal de certos membros da frase, antepondo-os ao predicado. No
entanto, s6 a deslocação de determinadas categorias de complemen
tos se reflecte na posição do pronome. Com efeito, grande número
de complementos adverbiais, com os quais correntemente em portugués
se começa o período, não interferem com a posição enclítica. Por
tanto, não produzem a ênfase desejada. Relembro o ex. de 1.1.:
"Na sala de visitas encontrava-.§2. o piano"
E, pois, necessária uma inversão mais forte ou menos habitual,
o hipérbaton ou pr6ximo disso. Alguns exemplos de Cândido de Fi
gueiredo levam-me a concluir que se trata - porventura entre outros
- do objecto directo e de complementos adverbiais regidos pela pre
posição ,2;:
- "Um soneto ~ pediste" - "Trinta libras me custou"
- "Ao templo me dirigi"
Posteriormente, verifiquei que o mesmo se passa com o ob,jecto
indirecto (regido também pela preposição ,2;) :
"Ao pai .2. ofereceram no seu aniversário"
2. A circunstância de se fazer ou não fazer pausa entre uma certa
palavra e o predicado. A esté respeito, nota Cândido de Figueiredo: "A intenção de quem escreve, e a respectiva entoação de quem fala
'bu lê, podem de facto influir na disposição dos pronomes de uma
"frase ou período". (Vid. bibliogr.). E dá os seguintes exemplos:
A) 1. "Provou-se que dois e dois são quatro, e dagui .§2. conclui
que o sr. Tibdrcio deve ir para a escola."
2. "Esta sua nova carta deixa-me às aranhas (= desorientado):
da primeira, concluía-se uma coisa; e dagui ... conclui-se
o contrário."
B) 1. "Foge à discussão, e com ~ Ii§. mostra pusilânime." 2. "Quis alardear coragem, e deu às de Vila-Diogo (= fugiu);
mas, com isto ... , mostrou-Ii§. cobarde."
C) 1. "Ficaram apavorados e instintivamente Ii§. esconderam."
2. "Ficaram apavorados e, instintivamente, esconderam-Ii§.."
9
Estamos, portanto, num domínio gramatical em que, à semelhança do emprego das duas formas do infinitivo, as excepções são qua
se tantas como as regras.
Bibliografia
DUNN (Joseph), A Grammar of Portuguese Language, la o ed., London
1930. FIGUEIREDO (Cândido de), O problema da Colocação de Pronomes,
Livraria Clássica, Lisboa. VAZQUEZ CUESTA (Pilar) e LUZ (Maria A. Mendes da), Gramática Por
tuguesa, 3°. ed. Editorial Gredos, Madrid 1971.
lo
EMPREGO DO INFINITIVO EM PORTUGUÊS
- FORMA IMPESSOAL E FORMA PESSOAL -
O. Infinitivo português
Diz-se habitualmente que a língua portuguesa tem dois infinitivos:
o infinitivo impessoal e o infinitivo pessoal. E uma maneira có
moda de express~o - adoptada aliás por grandes gramáticos -, mas
n~o rigorosa. O infinitivo é só um, evidentemente, só que apresenta
em português duas formas: a forma impessoal e a forma pessoal. Quer
dizer, a cada forma n~o correspondem fun9ões diferentes. E tanto
assim que, em grandíssimo número de casos, quem fala ou escreve tem
a faculdade de optar por uma ou outra. O emprego da forma pode ser,
muitas vezes, uma questão subjectiva, e n~o a sujei9ão a qualquer
imperativo gramatical.
Se esta liberdade de escolha fosse permanente, ent~o n~o ha
veria problemas. Ora, acontece que o uso ou tradi9ão da língua esta
beleceu situa9ões em que, tendo embora o infinitivo sujeito pró
prio, é ~~~~~~!~~~~ a forma impessoal (e mesmo aqui surgem excep-
9ões). Teoricamente, não há casos obrigatórios para o emprego da
forma pessoal, mas na prática, sobretudo no português moderno, o
infinitivo flexionado é quase inevitável em certas circunstâncias.
Daí a vantagem de codificar algumas regras, sem esquecer, porém,
que neste domínio quase todas as regras são falíveis. Convém, a
prooósito, transcrever aqui a justa advertência de Celso Cunha:
"O emprego das formas flexionada e não flexionada do INFINI
TIVO é uma das questões mais controvertidas da sintaxe portuguê
sa. Numerosas têm sido as regras propostas pelos gramáticos pa
ra orientar com precis~o o uso selectivo das duas formas. QuaSe
tôôas, porém, submetidas a um exame mais acurado, revelaram-se
insuficientes ou irreais. Em verdade, os escritores das diversas
fases da língua portuguêsa nunca se pautaram, no caso, por ex
clusivas razões de lógica gramatical, mas se viram, no ato da
escolha, influenciados por ponderáveis motivos de ordem estilís
tica, tais como o ritmo da frase, a ênfase do enunciado, a cla
reza da expressão.
11
Por tudo isso, parece-nos mais acertado falar não de regras,
mas de tendências que se observam no emprêgo de uma e de outra
forma do INFINITIVO."
Sem deixar de aproveitar um pouco de todos os autores citados
na bibliografia, baseio-me essencialmente em Said Ali, dando-lhe,
porém, uma arrumação diferente. Preferi também, na maior parte das
definições, manterou adaptar a linguagem deste prestigioso gramá
tico, servindo-me outrossim de grande número dos seus exemplos.
Sob o ponto de vista didáctico, pareceu-me vantajoso começar
pelo emprego da forma impessoal, já que aí se encontram os tais
casos obrigat6rios,ou quase ...
I. Emprego da forma impessoal
1. ~~~~12!!:2~:
- "Se ~ é criar-se,jcantar é~" (Emílio Moura).
- "E bom ter uma casa, dormir, sonhar." (Cecília Meireles).
1. !2~f~!}~2ª2:
O infinitivo conserva a forma impessoal quando não se refere
a nenhum sujeito. (Celso Cunha)
2. ~~~~12!!:2~:
Grupo a): - "Os culpados deviam pagar a multa"
Grupo b):
- "Podíamos respirar uma viração mais pura"
"As crinaças não queriam obedecer"
"As crianças estão entretidas a brincar no jardim"
- "Avistaram então os camponeses, que vinham a cantar
alegremente"
- "Tiveram, nesse dia, de contentar-se com frutos sil
vestres"
"Este humilde pastor veio a ser o grande rei David"
Grupo c): - "As reflexões de Frei Lourenço começavam a secar
(aborrecer) sofrivelmente"
- "Continuaram a ficar enraizados no solo português"
- "Os senhores costumavam residir nas terras a eles
sujeitas"
"Acabamos de examinar a sua figura e vestuário"
12
"Em chegando a Primavera, precisais urgentemente de
reparar esse telhado"
- "Havia um livro que fazia o que nunca souberam fa
zer os comentários de cada um deles" (Herculano)
- "Debalde os almogaures tentavam suster a corrida"
- "Ousavam ofender esses desgra9ados"
2. !2~f~:2~~ª~:
O infinitivo toma a forma impessoal "nas combina9ões em que
lhe cabe exprimir a n09ão predicativa principal, competindo
ao verbo precedente denotar, além das n09ões de pessoa, núme
ro, tempo e modo, certas modalidades" (Said Ali). Essas mo
dalidades expressam-se através de:
a) verbos modais (dever, poder, guerer);
b) a chamada conjuga9ão perifrástica, formada tradicional
mente com os auxiliares estar, ter e haver; andar, ir, vir,
ligados ao infinitivo com preposi9ão;
c) verbos que indicam início da aC9ão (come9ar a, p6r-se a),
dura9ão ou continuidade (continuar a), repeti9ão (costu
mar, tornar a), termina9ão (acabar de, deixar de, cessar
de), necessidade (precisar de), faculdade ou capacidade
(saber), esfor90 ou tentativa (tentar, ~, buscar, pre
tender, atrevar-se a).
(Os verbos da alínea c) que se ligam por preposi9ão ao in
finitivo, pouco se distinguem, quanto a mim, dos auxilia
res tradicionalmente consagrados para a forma9ão da peri
frástica. Talvez por esse motivo, Said Ali não fez a divi
são que eu estabele90 aqui, mas também é certo que não dá
um lugar à parte aos verbos modais. Acredito que seja mais
científico, mas parp efeitos didácticos pareceu-me melhor
agrupá-los nas três categorias).
2. ~~~~:e!!ª~:
"Há uma excep9ão possível à regra relativa ao infinitivo de
pendente de poder, dever, querer, come9ar, costumar, deixar
de e respectivos sinónimos. E quando ele vem tão afastado do
verbo subsidiário que ficaria obscuro o sentido se o agente
não fôsse novamente lembrado pela flexão do infinitivo". (Said
Ali) .
Exemplos: "Mas a selva come9a a rarear, e os ginetes .§; :f;;~~-
13
~~é~~g~~l1J com mais violência" (Herculano) - "Parece que não podiam tirar nada deles, nem eles é~:;;-g~~l1J mais" (Lobo) - "Deviam-no trazer todos vocês nas palmas, dar mil
graças aos céus, e acabarem de crer" (Castilho). ========
3. ~!:S~~12t~~:
Grupo a): - "Isto dizendo, l1Jg~@g os diligentes ministros amos~ as armaduras" (Camões).
- "Entretanto @~~~g andar os homens nesta vida semelhantes aos brutos" (Arrais).
- "Um brado súbito .Q.§, ~~~ parar" (Herculano). Grupo b): - "Apenas :;;-~gg~l1J flutuar ( ..• ) os estandartes" (Her
culano).
3. º~f~g~zª~:
"Não ~)J:;;-~ falar as pedras, bradar as inscrições, levantar-se as estátuas dos túmulos" (Garrett).
Nas combinações de mandar, deixar ou fazer + !Df., pode encontrar-se na frase "um termo que exerça a dupla função de objecto do verbo regente e sujeito do inf. regido". Nesse caso, o inf., "indiferente ao número e pessoa do seu sujeito, continuará a usar-se com a forma impessoal" (S. Ali). A mesma regra se aplica às combinações de ~ ou ouvir + inf., normalmente "quando os dous verbos, regente e regido vêm próximos um do outro." (S. Ali).
3. ~!:S!::~12zª~:
Se o sujeito do inf. é indeterminado, este toma a forma pessoal (3a . pessoa pl.); esta regra prevalece mesmo quando o inf. é dependente dos verbos ~ e ouvir.
Exemplo: "Foi então que ~ gg~~~~l1J na porta" (Lins do Rego).
- "Discursos fáceis de escrever" - "Homens difíceis de contentar" - "Estão para morrer" - "Coisas muito para lastimar" - "Os castigos de Deus são para temer" - "As obras estavam por fazer"
14
"Conserva-se impessoal o infinitivo usado com sentido passivo
e forma activa, e bem assim o infinitivo preposicionado que
supre o supino e formas gerundivas latinas" (S. Ali).
"A presença de um complemento e a necessidade de pór em evi
dência um sujeito novo podem contudo determinar o emprego da
forma pessoal na construção é para + inf." (Id.). Exemplo: "Advertiu os filhos de que o livro era para o lerem,
e não para o guardarem na gaveta."
- "Apontar! Fogo!"
- "Para quaisquer informações telefonar para o , " numero ... - "E Deus responde - Marchar!" (Castro Alves).
Emprega-se a forma impessoal quando o infinitivo tem valor de
imperativo, "em ordens rápidas ou dirigidas a um público in
definido e vago" (Celso Cunha - Vázquez Cuesta).
6. ~~~~E~~~:
- "Encontrei-as em casa a chorar" (= chorando)
- "Passavam o tempo a estudar" (= estudando)
E preferida a forma impessoal quando o infinitivo vem prece
dido da preposição ~, em .construção eguivalente ao gerundivo (adaptação de Vázquez Cuesta).
- "Acostumados a ganhar, não sabiam perder"
- "Impedidos de ir ao cinema, voltaram para casa"
Também se usa com mais frequência a forma impessoal "quando o
sujeito não está expresso em nenhuma oração anterior ao infi
nitivo, mas vem indicado de alguma maneira" (id.).
15
"Enfim, chegámos! Mas ninguém nos veio esperar ... Que ~?" - "Perplexos, não sabem onde ficar"
8. 12~f~!:!~2ª~:
Emprega-se a forma impessoal, quando o infinitivo tem valor
interrogativo-deliberativo em orações tanto independentes co
mo subordinadas.
II. Emprego da forma pessoal
"O infini ti vo em português tem a particularidade de poder referir a
acção a um sujeito determinado e expressar esse facto por meio das
terminações -~ (2a • do sing.), -!!!2.§., -des, -~ (para as 3 pessoas do pl.), faltando à la. e 3a . do sing. desinências que as distin
gam do infinitivo impessoal." (S. Ali). Por outras palavras, o in
finitivo português tem a possibilidade de realçar o seu sujeito.
Assim, quando o infinitivo se refere a um sujeito, expresso
ou elíptico, pode, em grande número de casos, tomar a forma pesso
al, quer esse sujeito seja o ~do outro verbo com o qual o infi
nitivo está relacionado, quer diferente.
Exemplos: - "Dize o segredo tantas vezes até ficares aliviado desse pe
so." - "Ao chegarem os viajantes, ninguém lhes apareceu."
- "Antes de entrarem, eles já nos tinham visto à janela." - "Dali vira surgirem, dilatarem-se, avançarem as tempesta-
des de fogo." (Aires de Gouveia).
1. ~~~I!!E~~~:
- "E preferível ~ ambos pelo mesmo livro" - "Daí resultou ~ castigados o Ant6nio e o José"
1. 12~f~!:!~2ª~:
Quando o sujeito do infinitivo vem expresso, torna-se difícil
evitar a construção pessoal. Ressalvam-se os casos expostos
em I. e especialmente em 1.3. Mas mesmo na circunstância par
ticualr de I.3b, o sujeito se impõe frequentemente. Exemplos:
- "Os pastores viram os nosssos cavaleiros ~~g~ggg~~~ o Sá-lia." (Herculano).
16
"Nada mais delicioso para o coração do que ouvir estes dois
irmãos ~g~g~~ID dela." (Catilho).
2. ~~~I,!lE!2~:
- "Se não fosse conhecermos o homem, acreditaríamos na hist6-
ria" - "Poucas probabilidades havia de ganharem a questão"
2. º~f~::!~zª2: Ao contrário de 1., a forma pessoal serve aqui para revelar
o sujeito oculto, evitando a ambiguidade. (Caso mencionado por
V. Cuesta).
- "l!: triste morrerem tantas crianças"
- "l!: forçoso partires para Lisboa"
- "Pode acontecer quererdes sair hoje"
3. º~f~::!~zª2: Emprega-se a forma pessoal quando o infinitivo é o sujeito
do verbo finito da oração anterior. (Tavares e V. Cuesta).
- "Vim depressa para não me apanharem"
- "Calou-se por não o acreditarem"
4. º~g::!~zª2:
Quando o sujeito do inf. não se quer ou não se pode nomear,
usa-se a forma pessoal na 3a . pessoa pI. (Tavares e V. Cuesta). (Cf. 1.3. Excepção).
- "Terem morrido tantos homens de valor e ele continuar neste
mundo!"
- "E ousares tu, ladrão, caluniar tal santo!" (Castilho)
- "Morreres?! Oh não!" (Herculano)
- "Assassinares uma fraca mulher, ~~~~~~~::?:~!::!~ a ti pr6prio e renegares da vida eterna!" (Herculano)
17
5. !2~!!~!s:~S2:
Neste caso, a construção pessoal dá relevo ao sujeito não por
razões de clareza, "mas por ênfase, o que é muito frequente em
expressões de assombro e em frases irónicas" (V. Cuesta).
N.B. - No último exemplo, achou o escritor desnecessário "a
crescentar novamente a flexão ao repetir o verbo em assassi
nar-te a ti próprio" (Said Ali).
- "Ao aproximarem-se, os dois exércitos de nuvens prolongaram-se" (Herculano).
"A forma pessoal é regularmente usada na combinação de ~ inf., servindo de equivalente Q uma oração temporal explíci
ta iniciada pela conjunção quando" (S. Ali). CCL 7.c).
7. !2~f!~!s:ªS2:
"Nas orações reduzidas em que se usa o infinitivo regido de
qualquer das preposições ( ... ), emprega-se ora a forma impessoal, ora o infinitivo flexionado" (3. Ali).
Modernamente,prefere-se a forma pessoal, sobretudo quando o
sujeito do infinitivo é diferente do verbo na forma finita.
Este infinitivo regido de preposição ou locução prepositiva indica várias circunstâncias:
a) Causa:
- "Perdemos o comboio por nos termos levantado tarde" b) Fim:
- "Corri, para não me alcançarem"
c) Tempo: - "Ao entrarem, reconheci os dois viajantes"
- "Abrimos-lhes a porta, depois de os termos reconhecido" d) Condição:
- "A correres dessa maneira, acabarás por cair" e) Concessão:
- "Cansais-vos depressa, apesar de serdes jovens!"
Com outras preposições ou locuções:
- "Persegui-o até o encontrardes"
"Os dois irmãos, além de (sobre) ~ jovens e sadios, eram alegres e bons rapazes"
13
"Em vez de te queixares da má sorte, seria melhor tabalha
res IT
Etc.
No entanto, quando se pretende realçar a acção, usa-se a for
ma impessoal:
- "Vamos com ele, sem nos apartar um ponto" (Vieira).
- "Esperaram seu império ou consentimento para vingar suas
injlJrias" (Vieira).
- "Ao p6r do sol, gépidas, ostrogodos ( •.. ) preparavam-se
para morrer" (Herculano).
§:::~TEE~~~:
- "Os quais lhe ~g~~~~hl c'irigirem-se para o lado do célebre
mosteiro" (Herculano).
(= Os auais lhe Rg~~~~~gID dirigir-se ... )
- "Q~~~hl;~~ estalarem os foguetes"
(= Qhl~~~ºID;~~ estalar os foguetes)
- ";{~;~~ correrem os animais"
(= ;{~~ID;~~ correr os animais)
l. ~~f~~~:i:~~:
Com os verbos parecer, ouvir, ~, sentir e outros, quando
estes se empregam impessoalmente, segue-se-lhes infinitivo
pessoal; quando, pelo contrári~ esses verbos se empregam pes
soalmente, o infinitivo toma a forma impessoal. (Tavares e
V. Cuesta).
Vázquez C1lesta observa que esta última construção é a mais
freqt:.ente. Na minha opinão é também a mais correcta no que
respeita aos verbos ver, ouvir, sentir. Aliás, Tavares e
Saic Ali só incluem na ,regra o verbo parecer, isto é, somen
te atribuem a este verbo a possibilidade de dupla construção
- impessoal ou pessoal. Na verdade, a construção impessoal
com o verbo parecer ocorre com frequência, resultando muito
elegante, como se vê no exemplo de Herculano, ao contrário
do que sucede com os outros três verbos.
Concl~são
Toc'.as estas regras e ainda outras menos importantes, que omiti,
podem sofrer numerosas excepções. Já atrás observei que a constru
ção com infinitivo pessoal ou impessoal pode, em muitos casos, fi-
19
car ao arbítrio de quem fala ou escreve. Todavia, as excepções
que se verificam obedecem normalmente a dois princípios:
1. Quando o infinitivo que exprime a noção predicativa prin
cipal, vem muito afastado do verbo subsidiário, toma ge
ralmente a forma pessoal: "Deviam-no traz ar todos vocês nas palmas, dar mil graças aos céus e g~ggg;r~lli de crer" (Castilho). Algumas vezes essa distância nem precisa de
ser grande. Note-se o seguinte exemplo de Herculano: "Al
guns mancebos mais destros fingiam acometer-se, ~~é~jg;r~lli'
~~º~~;r~lli' g~;r~lli=~~º~~g~g"·
2. Quando se pretende pór a acção em realce, usa-se o infiniti vo pessoal; quando se quer pór em evidência o sU,jei to,
emprega-se a forma pessoal. Em geral, não se trata de uma
escolha consciente, mas de pura intuição da língua. No seguinte passo de Vieira, essa escolha, porém, deve ter
sido bem consciente: "Parece que havia de dizer: os Anjos
ouvem a palavra de Deus para a fazerem, e não os Anjos fa
zem a pa12vra de Deus para a ouvirem ... Pois porque diz
que fazem para ouvir, e não ouvem para ~?" (Cit. por
Said Ali).
A fechar, transcrevo mais um comentário de Celso Cunha acerca do emprego das duas formas do infinitivo: "Trata-se, pois, de
um emprego selectivo, mais do terreno da estilística do que, pro
priamente, da gramática". (Op,cit., p. 333).
Bibliografia
ALI (M. Said) , Gramática Histórica da Língua Portuguesa, 7a . ed. Edições Melhoramentos, Rio de Janeiro 1971.
(Esta Gramática, apesar de histórica, abrange o português moderno).
CUNHA (Celso Ferreira da), Gramática do Português Contemporâneo. Belo Horizonte 1969.
STEN (Holger), L'infinitivo impessoal et l'infinitivo pessoal en
portugais moderne. "Bol.de Filologia", XIII, fase.
1-2, 3-4. Lisboa 1952. TAVARES (José Pereira), Gramática Portuguesa, 2a • ed. Coimbra Edi
tora, Lda. Coimbra 1957. VÁZQUEZ CUESTA (Pilar) e LUZ (M: A. MENDES da), Gramática Portu
guesa, 2 vols., 3a . ed. Editorial Gredos, Madrid
1971.
20
ANÁLISE ESTILÍSTICA DE UM T'EXTO BARROCO
FAZER CRISTANDADE
Se, para guardar ovelhas mansas, é necessário amor e
muito amor, que será para ir tirar das brenhas ovelhas fe
ras, para as amansar e afeiçoar aos novos pastos, para as
acostumar à voz do pastor e à obediência do cajado, e, so-
5 bretudo, para desprezar os perigos de confiar de suas gar
ras e dentes enquanto são ainda feras e não ovelhas? Se é
necessário amor, para ser pastor de ovelhas que comem no
prado e bebem no rio, que amor será necessário para ser
pastor de ovelhas, que talvez comem os pastores e lhes be-
lo bem o sangue? E ninguém se escuse (como escusam alguns)
com a rudeza da gente, e com dizer que são pedras, que são
troncos, que são brutos animais, porque, ainda que verda
deiramente alguns o sejam ou o pareçam, a indústria e a
graça tudo vence; e, de brutos, e de troncos, e de pedras
15 os fará homens. Dizei-me: qual é mais poderosa, a graça,
ou a natureza? a graça, ou a arte? Pois o que faz a arte
e 8. natureza, porque havemos de desconfiar que o faça a
graça de Deus, acompanhada da vossa indústria? Concedo
-vos que esse índio bárbaro e rude seja uma pedra; vede
20 o que faz em uma pedra, a arte: Arranca o estatuário uma
nedra dessas montanhas, tosca, bruta, dura, informe; e,
depois que desbastou o mais grosso, toma o maço e o cin
zel na mão e começa a formar um homen, primeiro membro a
membro, e depois feição por feição até a mais miúda: on-
25 deia-lhe os cabelos, alisa-lhe a testa, rasga-lhe os olhos,
afila-lhe o nariz, abre-lhe a boca, avulta-lhe as faces,
torneia-lhe o pescoço, estende-lhe os braços, espalma-lhe
as mãos, divide-lhe os dedos, lança-lhe os vestidos; aqui
desprega, ali arruga, acolá recama; e fica um homem per-
30 feito e talvez um santo que se pode pór no altar.
o mesmo será cá, se a vossa indústria não faltar à
graça divina. E uma pedra, como dizeis, esse índio rude?
Pois trabalhai e continuai com ele (que nada se faz sem
trabalho e perseverança), aplicai o cinzel um dia e outro
35 dia, dai uma martelada e outra martelada, e v6s vereis
como, dessa pedra tosca e informe, fazeis não s6 um ho
mem, senão um cristão e pode ser que um santo.
p e . Ant6nio Vieira
Dos Sermões
A.NÁLISE ESTILÍSTICA DO TEXTO "FAZER CRISTANDADE"
1. Apresentação do texto
a) Género: prosa - orat6ria sagrada.
b) Assunto: incitamento à acção missionária junto dos
índios do Brasil.
c) Epoca: século XVII.
d) Fragmento de um sermão.
2. Composição do texto
a) Apresentação tipográfica: normal, sem nada a assinalar.
Ortografia e pontuação actualizadas.
b) Considero o texto dividido em três partes:
1. "Se ... indústria" (linhas 1-18) - dificuldades da e
vangelização, mas que podem ser vencidas com a ajuda
da graça de Deus, acompanhada da "indústria" humana.
2. "Concedo-vos ... altar" (linhas 18-30) - o estatuário
e a pedra tosca. Comparação.
21
3. "O mesmo ..• santo" (linhas 31-37) - remate: lição que
o missionário pode tirar do trabalho do estatuário.
3. Comentário
A) Ligação das proposições
a) Predominam as orações secundárias, de extensão média.
22
b) Orações adverbiais: ca. 10; orações adjectivas: ca. 5; orações substantivas: ca. 5. Aparecem numerosas frases
de infinitivo, mas nenhum gerundivo.
c) De uma maneira geral, nenhum outro elemento da oração
antecede o sujeito e o predicado (abstraindo dos prono
mes pessoais átonos, quando proclíticos). Aponto apenas
o caso do advérbio "verdadeiramente" (linha 12-13). Embora raramente, aparece também a inversão do sujeito,
como em "Arranca o estatuário" (linha 20). d) Predomina a hipotaxe. E notável uma série de orações
assindéticas, muito curtas, em que estão expressos a
penas o predicado, o complemento indirecto (pronominal)
e o complemento directo (linha 24-29). e) O hipérbaton aparece apenas uma vez "vede o que faz em
uma pedra, a arte" (linha 19-20).
B) Vocabulário e escolha de palavras
a) Relação entre as diversas categorias de palavras:
Substantivos: ca. 86 (ca. 62 concretos + ca. 24 ab
stractos).
Adjectivos: ca. 17; verbos: ca. 69; advérbios: oa. 14 (excluí o advérbio "não"; dos 14 contados alguns
são repetidos e meramente funcionais, como "mais",
por ex.).
b) Pelos números indicados na alínea anterior, vemos que
predominam os substantivos concretos.
c) Ora empregadas metaforicamente, ora comparativamente,
ora no sentido rea~, as palavras estão adaptadas ao
tema de maneira perfeita e admirável.
Não aparecem palavras conotativas.
d) Não se encontram estrangeirismos, nem arcaísmos, nem
termos de gíria. Também não podemos falar de termos
técnicos, mas de vocábulos adequados a um sermão.
e) Os tempos predominantes são o presente do indicativo,
o infinitivo impessoal e o futuro do indicativo. Tam
bém são de notar alguns imperativos, próprios de quem
se dirige, com fins didácticos, a uma assistência. Em
cerca de 69 formas verbais apenas 5 estão no conjunti
vo (pres.): "escuse" (linha lo), "pareçam" (linha 13), "faça" (linha 17), "seja" (linha 19). Há mesmo dois
23
verbos no presente indicativo não obstante estarem ante
cedidos do advérbio talvez: "comem" (linha 9) e "bebem"
(linha 9-10). Esta construção já se não aceita no português moderno.
Não há formas da passiva. Formas da perifrástica há duas:
"havemos de desconfiar" (linha 17) e "começa a formar"
(linha 23).
c) Figuras e tropas
a) ~~~~~~~_~~_~g!~g~~f~~~2ª2_~~E~~~~~~~
1) Sinonímia: "tosca, bruta ( ... ), informe" (linha 21),
"tosca e informe" (linha 36).
2) Repetições: - Anáfora (= repetição da mesma palavra ou de um
membro da frase no princípio das frases ou versos seguintes):
"para" (linhas 1-9), "que são" (linha 11). - D~ácope (= emprego da mesma ou de semelhante pala
vra, intercalada outra ou outras de permeia):
"amor e muito amor" (linha 1-2), "um dia e ou
tro dia" (linha 34-35), "uma martelada e outra
martelada" (linha 35). - Anadiplose (= figura que consiste no emprego de
uma palavra ou expressão de um período no começo do período segUinte):
"Se ( .•. ) é necessário/ Se é necessário" (linhas
1 e 6-7). - Clímax (= gradação, escala):
"que são pedras, que são troncos, que são brutos
animais" (linha 11-12), "e de brutos, e de tron
cos, e de pedras" (linha 14), "Tosca, bruta, dura, informe" (linha 21).
- Assíndeton: "que são pedras, etc." (linha 11).
"ondeia-lhe os cabelos ... acolá recama" (linha 24-
29) .
- Elipse: "que um santo" (linha 37).
Desnecessário se torna dar exemplos, pois quase todo
24
o texto se serve de comparações e metáforas, desde as
ovelhas e respectivo pastor, até à célebre comparação
com o estatuário.
'T. Conclusão
3) Mo~fologia e estilo
Os artigos, tanto o definido como o indefinido, são usa
dos com grande sobriedade, e tão discretamente que pouco
se nota o seu emprego ou a sua omissão.
A abundância de substantivos concretos impregna todo o
texto de visualidade, reforçada pelo grande número de for
mas varbais, que imprimem movimento à exposição. O predo
mínio do presente do indicativo mais contribui ainda pa
ra isso, dando maior vivacidade ao assunto e tornando-o
mais próximo do leitor ou do ouvinte.
Adjectivos e advérbios são usados com bastante parcimónia,
se exceptuarmos os quatros epítetos - "tosca, bruta, dura,
informe" - aplicados a um único substantivo - "pedra" , na
linha 20-21. Neste caso, porém, o autor pretende sobre
tudo criar o clímax.
b) Sintaxe e estilo
Já vimos que predomina a hipotaxe, orações secundárias
de extensão média. Apesar da subordinação, por vezes em
períodos relativamente extensos, como o primeiro e o ter
ceiro, por ex., os membros da frase estão dispostos com
tal harmonia e encadeamento lógico que o sentido nunca se
torna obscuro. Aliás, a subordinação não é densa ou ex
cessiva, porque alterna frequentemente com ligações sin
déticas ou assindéticas, de que o autor sabe tirar gran
de partido estilístico, como se verifica, por ex., nas
linhas 11-12, l~, 24-29.
c) Impressões gerais
Não obstante as figuras de estilo já apontadas, o"texto
dá a impressão de grande sobriedade. Com efeito, o voca
bulário é corrente, não rebuscado, e a adjectivação es
cassa, mas compensada pela grande precisão do substan
tivo e do verbo. Também não se verifica o cultismo e con
ceptismo tão característicos dessa época: não encontramos
25
jogos de palavras, nem preciosismos, nem conceitos artificiosos e subtis. O barroco, aqui, consiste na sábia disposi9ão dos membros da frase, na sua simetria e ritmo, além das diversas figuras e tropos já atrás mencionados. Mesmo as perguntas retóricas não são inteiramente gratuitas, porquanto apresentam um nitido carácter didáctico, para maior clareza da exposi9ão. E como se Vieira empregasse um barroco de linhas rectas, fugindo às curvas, que, nas artes plásticas, são de facto uma das marcas notórias desse estilo. Pela sintaxe e pelo aspecto da expressão, o texto não pode considerar-se tipicamente barroco, sem todavia deixar de ser muito caracteristico do periodo. Quanto ao ritmo, convém notar a existência de verdadeiras frases métricas. Vejamos os seguintes exemplos:
1. "p(a)ra guardar ovelhas !!@gsas" (linha 1) - 7 silabas métricas (redondilha maior)
2. "é necessário amor e muito a.!!!.Qf: (linha 1-2) - 10 silabas métricas (decassilabo sáfico)
3. "p(a)ra as aman~ e afei90ar aos novos pastos" (linha 3) - 12 silabas métricas (alexandrino)
Ainda ligado ao aspecto ritmico, podemos notar a interessante constru9ão de certos periodos, em que, a unidades frásicas relativamente curtas, se sucede uma longa frase a rematar o periodo. Metaforicamente, poderiamos comparar a um rio que, descendo rápido a montanha de degrau em degrau, de repente se espalha solene e vagarosamente na planicie.
Exemplos: 1. "que será e não ovelhas?" (linha 2-6) 2. "Dizei-me indústria?" (linha 15-18) 3. ','ondeia-lhe os cabelos .•. altar." (linha 24-30)
Graficamente:
~'-----ou:
(descendente)
(ascendente)
26
Em resumo, podemos dizer que este texto apresenta, entre ou
tras, as seguintes qualidades principais: grande precisão do vo
cabulário; sobriedade, simplicidade (embora aparente) e clareza;
simetria e ritmo frásicos. Com estes predicados, o estilo corre
fluentemente e é de agradável leitura, tudo sem prejuízo do seu
notável 'iigor expressivo, destinado a impressionar vivamente a
queles a quem era dirigido.
De seneste numre af R1DS
49. Hanne Korzen: Snak om sffitningsknuder. (udsolgt)
50. 1- Eva Dam Jensen: Kommunikation i fremmedsprogsundervisningen. (udsolgt)
11- ------------ : Allé tú 1-4. Appendix til Komm~~ikation i fremmedsprogsundervisningen.
51. Aase Lagoni Danstrup: Fantastisk litteraturs dialektiske forhold til samfundet: D1NO BUZZAT1.
52. Karen Landschultz og Lilian Stage: T0vemekanismer i fransk.
53. Alain Henry et Hilde Olrik: Le texte alternatif. Les antagonismes du récit dans l'Histoire des 'l'reize de Balzac.
54. Michele Simonsen: Eros et Thanatos. Une lecture de la Vénus d'1lle.
55. Hans Boll-Johansen: Skyldig? 1kke-Skyldig? Om Camus' : La Chute.
56. Ghani Merad: Traduction du passif danois en fran9ais.
57. Henning N01ke: Problemer ved opstilling af en typologi for de franske adverbialled.
58. Daniela Quarta: Gramsci e iI futurismo.
59. Ole Hjordt-Vetlesen: Romanske ethnica: Derivation og dissimilation. I deI, 1talien.
60. Brynja Svane: Politisk engagement og ideologi i Eugene Sue: Les Mysteres de Paris (1842-43).
61. I0rn Korzen: Substantiv + substantivsammensffitninger pa moderne italiensk. I: Aflednings- og verbalsammensffitninger.
62. José Ma. Alegre peyrón: Semblanza de Carlomagno en la Vita Karoli Magni 1mperatoris deI cronista Eginardo. ----
63 - I0rn Korzen : Substantiv + substantiv-sammensffitninger pa moderne italiensk. 11- " Ad-Hoc" sammensffitninger.
64 - Kirsten Grubb Jensen: Amore romantico e amore neoclas-sico.
65 - Ole M0rdrup : Trffik af de franske verbers morfologi.
66. Hans Peter Lund: Eléments du voyage romantique.
67. Steen Jansen: A quoi pourra servir une sémiotique des textes littéraires?
68. Marcel Hénaff: Les Âges de la lecture sadielLne. 69. Luís Adolfo P. Walter De Vasconcelos: Três estudos portu
gueses.
Nffiste nummer: Ole Posander: Frie prffidikater og le participe présent.
.\IL1\5 BOGTRYK.OFFSET K~flf_NHAV" Un 44·2