MA13_U04
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Desigualdade Triangular
Sumário
4.1 A desigualdade triangular . . . . . . . . . . . . . . . 2
4.2 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Unidade 4 A desigualdade triangular
4.1 A desigualdade triangular
O objetivo principal desta breve seção é provar que, em todo triângulo, os
comprimentos dos lados guardam uma certa relação, descrita na Proposição 3).
Comecemos, contudo, estabelecendo uma relação entre os comprimentos dos
lados e as medidas dos ângulos a eles opostos, a qual tem interesse indepen-
dente.
Proposição 1 Se ABC é um triângulo tal que B > C, então AC > AB.
Demonstração Como B > C, podemos traçar (cf. Figura 4.1) a semirreta−→BX, inter-
sectando o interior de ABC e tal que CBX = 12(B− C). Sendo P o ponto de
interseção de−→BX com o lado AC, segue do teorema do ângulo externo que
APB = CBP +BCP =1
2(B − C) + C =
1
2(B + C).
Mas, como ABP = B − 12(B − C) = 1
2(B + C), segue que o triângulo ABP
B C
A
P X
Figura 4.1: ordem dos lados e ângulos de um triângulo.
é isósceles de base BP . Portanto,
AB = AP < AC.
Corolário 2 Se ABC é um triângulo tal que A ≥ 90◦, então BC é seu maior lado.
Em particular, num triângulo retângulo a hipotenusa é o maior lado.
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Unidade 4Desigualdade Triangular
DemonstraçãoBasta observar que, se A ≥ 90◦, então A é o maior ângulo de ABC, de
modo que BC é, pela proposição anterior, o maior lado.
A proposição a seguir é conhecida como a desigualdade triangular.
Proposição 3Em todo triângulo, cada lado tem comprimento menor que a soma dos
comprimentos dos outros dois lados.
DemonstraçãoSeja ABC um triângulo tal que AB = c, AC = b e BC = a. Mostremos
que a < b + c, sendo a prova das demais desigualdades totalmente análoga.
Marque (cf. Figura 4.2) o ponto D sobre a semirreta−→CA tal que A ∈ CD e
AD = AB.
B C
A
D
Figura 4.2: a desigualdade triangular.
Uma vez que
CD = AC + AD = AC + AB = b+ c,
pela Proposição 1 é su�ciente mostrarmos que BDC < DBC. Mas, desde que
BDA = DBA, basta observarmos que
BDC = BDA = DBA < DBA+ ABC = DBC.
Sendo a, b e c os comprimentos dos lados de um triângulo, segue da de-
sigualdade triangular que
a < b+ c, b < a+ c, c < a+ b.
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Unidade 4 A desigualdade triangular
Reciprocamente, dados segmentos cujos comprimentos a, b e c satisfazem as
desigualdades acima, não é difícil provar que é sempre possível construirmos um
triângulo tendo tais segmentos como lados.
Terminamos esta seção colecionando duas consequências interessantes da
desigualdade triangular.
Exemplo 4 Se P é um ponto situado no interior de um triângulo ABC, então:
(a) PB + PC < AB + AC.
(b) PA+ PB + PC < AB + AC + BC.
Demonstração(a) Prolongue a semirreta
−→BP até que a mesma encontre o lado AC no ponto
Q (cf. Figura 4.3). Aplicando a desigualdade triangular sucessivamente aos
triângulos CPQ e ABQ, obtemos
PB + PC < PB + (PQ+ CQ) = BQ+ CQ
< (AB + AQ) + CQ = AB + AC.
B C
A
QP
Figura 4.3: consequências da desigualdade triangular.
(b) Argumentando de modo análogo à prova do item (a), temos PA+ PB <
AC + BC e PA + PC < AB + BC. Somando ordenadamente essas duas
desigualdades com aquela do item (a), obtemos
2(PA+ PB + PC) < 2(AB + AC + BC).
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Unidade 4Desigualdade Triangular
Exemplo 5Na Figura 4.4, construa com régua e compasso o ponto P ∈ r para o qual
a soma PA+ PB seja a menor possível.
SoluçãoSe A′ é o simétrico de A em relação a r, a�rmamos que o ponto P desejado
é o ponto de interseção de A′B com r. Para provar este fato, seja Q outro
A
B
r
Figura 4.4: menor percurso que toca uma reta.
ponto qualquer de r. (Faça uma �gura para acompanhar o raciocínio.) O
fato de A′ ser o simétrico de A em relação a r garante que AQ = A′Q e,
analogamente, AP = A′P . (Prove isto!) Tais igualdades, juntamente com a
desigualdade triangular, fornecem sucessivamente
AP + BP = A′P + BP = A′B
< A′Q+ BQ = AQ+ BQ.
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Unidade 4 Problemas
4.2 Problemas
1. Se dois lados de um triângulo isósceles medem 38cm e 14cm, calcule seu
perímetro. (Sugestão: use a desigualdade triangular para mostrar que o
terceiro lado não pode medir 14cm.)
2. Encontre o intervalo de variação de x no conjunto dos reais, sabendo que
os lados de um triângulo são expressos em centímetros por x+10, 2x+4
e 20− 2x. (Sugestão: adapte a sugestão dada ao problema anterior.)
3. Em um triângulo ABC, o lado AB tem por comprimento um número
inteiro de centímetros. Calcule o maior valor possível para AB, sabendo
que AC = 27cm, BC = 16cm e que C < A < B. (Sugestão: use a
desigualdade triangular, em conjunção com o resultado da Proposição 1.)
4. Em um triângulo ABC, escolhemos aleatoriamente pontos P ∈ BC,
Q ∈ AC e R ∈ AB, todos diferentes dos vértices de ABC. Prove que
o perímetro do triângulo PQR é menor que o perímetro do triângulo
ABC. (Sugestão: aplique a desigualdade triangular aos triângulos AQR,
BPR e CPQ. Em seguida, some ordenadamente as desigualdades assim
obtidas.)
5. Se a, b e c são os comprimentos dos lados de um triângulo, prove que
|b− c| < a.
6. (Torneio das Cidades.) Se a, b, c são os comprimentos dos lados de um
triângulo, prove que a3 + b3 +3abc > c3. (Sugestão: fatore a3 + b3 e use
que a+ b > c duas vezes.)
7. Dado um quadrilátero convexo ABCD, prove que o ponto P do plano
para o qual a soma PA + PB + PC + PD é mínima é o ponto de
concurso das diagonais de ABCD. (Sugestão: aplique a desigualdade
triangular aos triângulos PAC e PBD.)
8. Seja n ≥ 3 um inteiro dado. Prove que, em todo n−ágono convexo,
o comprimento de cada lado é menor que a soma dos comprimentos de
n − 1 lados restantes. (Sugestão: argumente por indução sobre n ≥ 3.
O caso inicial é fornecido pela desigualdade triangular. Para o passo de
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Unidade 4Desigualdade Triangular
indução, seja dado um polígono convexo A1A2 . . . AkAk+1, com k ≥ 3;
aplique a hipótese de indução a A1A2 . . . Ak e a desigualdade triangular
a A1AkAk+1.)
9. Na �gura abaixo, as semirretas r e s são perpendiculares. Construa com
régua e compasso os pontos B ∈ r e C ∈ s para os quais a soma
AB + BC + CD seja a menor possível.
r
s
A
D
(Sugestão: se A′ e D′ denotam, respectivamente, os simétricos dos pon-
tos A e D com respeito às retas r e s, sejam B e C as interseções de
A′D′ com r e s, também respectivamente. Se B′ ∈ r e C ′ ∈ s são tais
que B′ 6= B ou C ′ 6= C, argumente de maneira análoga à solução do
Exemplo 5 para concluir que AB + BC + CD < AB′ + B′C ′ + C ′D.
Para tanto, utilize o resultado do problema anterior.)
10. Seja ABC um triângulo retângulo em B e tal que AB > BC. Dado um
ponto P no interior de ABC, prove que PA+ PB+ PC < AB+ AC.
(Sugestão: trace, por P , o segmento QR paralelo a BC, com Q ∈ AB
e R ∈ AC. Em seguida, use a Proposição 1 e a desigualdade triangular
para provar que AP < AR e BP + PC < BQ+ QR + CR.)
11. (União Soviética). Em um país, certo dia, um avião partiu de cada cidade
com destino à cidade mais próxima. Se as distâncias entre as cidades
são duas a duas distintas, prove que em nenhuma cidade aterrissaram
mais de cinco aviões. (Sugestão: se, na cidade A, aterrissaram aviões
provenientes das cidades B e C, use a Proposição 1 para concluir que
BAC > 60◦. Em seguida, use este fato para mostrar, por contradição,
que não podemos ter seis aviões aterrissando em uma mesma cidade.)
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Referências Bibliográ�cas
[1] AKOPYAN, A. V. e ZASLAVSKY A. A. (2007). Geometry of Conics. Amer-
ican Mathematical Society.
[2] DE BARROS, A. A. e ANDRADE, P. F. DE A. (2009). Introdução à Geo-
metria Projetiva. Sociedade Brasileira de Matemática.
[3] BARBOSA, J. L. M. (2004). Geometria Euclidiana Plana. Sociedade
Brasileira de Matemática.
[4] BARBOSA, J. L. M. (1995). Geometria Hiperbólica. Instituto Nacional de
Matemática Pura e Aplicada.
[5] CAMINHA, A. (2012). Temas de Matemática Elementar, Volume 1.
Números Reais. Sociedade Brasileira de Matemática.
[6] COXETER, H. S. M. e GREITZER, S. L. (1967). Geometry Revisited. The
Mathematical Association of America.
[7] HEATH, T. L. (1956). The Thirteen Books of Euclid's Elements. Dover.
[8] HONSBERGER, R. (1995). Episodes in Nineteenth and Twentieth Century
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[9] JOHNSON, R. (2007). Advanced Euclidean Geometry. Dover.
[10] YAGLOM, I. M. (1962). Geometric Transformations I. The Mathematical
Association of America.
[11] YAGLOM, I. M. (1968). Geometric Transformations II. The Mathematical
Association of America.
[12] YAGLOM, I. M. (1973). Geometric Transformations III. The Mathematical
Association of America.
[13] YAGLOM, I. M. e SHENITZER, A. (2009). Geometric Transformations IV.
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